SALVADOR, SÁBADO, 21 DE MARÇO DE 2015 Fotos Pierre Verger
RENATA FREIRE
“Não sei o que quero, mas com certeza não é isto”. A frase foi dita pelo fotógrafo Pierre Verger (1902-1996) quando decidiu viajar pelo mundo sem planos de voltar. Ele tinha alma de passarinho e não queria passar a vida parado. Verger percorreu os cinco continentes registrando povos que se tornaram eternos através das suas lentes. A exposição As Aventuras de Pierre Verger mostra essas andanças. Algumas das viagens do fotógrafo estão expostas em 270 imagens feitas por ele, que foi da Polinésia até Salvador, passando pela Argélia, China e Peru. Antes de partir, passamos por Paris, onde nasceu. É que somente após fazer 30 anos Verger começou a aventura. Apesar de ter tido uma boa vida na França e vir de uma família rica, era infeliz e queria ir embora. “Era desejo do seu espírito livre ir o mais longe possível”, contou o curador da exposição Alex Baradel. Angela Luhnning, autora do livro Fotografando Verger, ensinou que o fotógrafo lia sobre outras culturas e isso o encantava. Ele rejeitou uma vida onde o que importava era o dinheiro para buscar coisas belas. “Verger sabia olhar o outro com admiração e respeito. Isso era um dos traços da sua obra”, disse Alex. Prontos para conhecer os caminhos de Verger?
Verger é uma viagem As muitas jornadas do francês que cruzou continentes, pesquisando e fotografando pessoas, em exposição no MAM-BA
Primeira parada (1932): Polinésia Francesa – Ocea nia
Terceira parada (1937): China – Ásia
Foi onde tudo começou. Influenciado pelo quadro do pintor Paul Gauguin (1848-1942 ), Verger queria ter uma vida bem diferente da europeia. Por isso, mo rou em barracas e conheceu nativ os que sobrevivem da pesca em águas cristalinas. Ficou um ano por lá.
A pedido da agência Alliance Photo, Verger rumou para a Ásia com a intenção de registrar a guerra entre China e Japão. As fotos mostram o sofrimento da população local enquanto os estrangeiros que estavam por lá permaneciam seguros.
4e5 Entre o Brasil e a África O fotógrafo estudava culturas e etnias. “Ele usava a câmera como ferramenta de pesquisa”, disse a artista plástica Silvia Novais. Um dos temas favoritos de estudo eram as religiões de raízes africanas. Não por acaso, quando chegou à Bahia, Verger ficou. Ele morou 23 anos aqui e revezava o tempo com visitas à Africa, principalmente ao Benin e à Nigéria. Ganhou o nome de Fatumbi, dado pelos sacerdotes e autoridades do candomblé da Bahia. SEM ELH ANÇ AS
Segunda parada (1934): Deserto do Saara – África Foi a primeira vez que pisou na África. Lá, ele conviveu com a população tuaregue e aprendeu sobre as condições do deserto. Em 1936 a revista francesa “Voilà” publicou uma foto dessa viagem em sua capa, onde aparecem meninos montados em um camelo.
Quarta parada (2ª Guerra Mundial): Peru – América do Sul O fotógrafo morou no Peru por quatro anos. Ele clicou a população andin a e, principalmente, as festas que aconteciam na região de Cusco. Contam que, nessa época, Verge r passou a ter um grande interesse sobre os costumes de cada povo.
Para ele, o candomblé permitia que as pessoas fossem verdadeiras. “Era assim também que ele via o povo de Salvador, cidade que ele amou até a morte”, disse Silvia. Verger era um grande admirador da cultura africana. Na exposição, há muitas fotos de negros baianos que se misturam a imagens dos negros do Benin e da Nigéria. A nossa cultura é tão semelhante à deles, em alguns momentos, que fica até difícil saber onde as fotos foram tiradas. África ou Salvador?
[ vá lá ] Aventuras de Pierre Verger | MAM-BA | Terça a sexta, das 13h às 19h | sábados, domingos e feriados, das 14h às 19h | Entrada grátis | até 31 de maio