SALVADOR, SÁBADO, 23 DE AGOSTO DE 2014
Paranauê, paranauê, paraná
Fotos: Dadá Jaques/ Divulgação
Educação se faz no jogo de roda O Agosto da Capoeira é uma iniciativa do Projeto Mandinga, criado pelo mestre Sabiá. O projeto também ensina a construir instrumentos musicais, como o berimbau, e a falar outras idiomas, como o inglês.
Na capoeira, todos se sentem mais confiantes porque trabalham em conjunto. É assim: “O alto joga com o baixo, o rico joga com o pobre, o mais novo, com o mais velho”, contou mestre Sabiá. César Marle, 12, já sabe
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o que pretende fazer com o que aprendeu. “Quero me tornar mestre de capoeira e ensinar sobre samba de roda, maculelê e sobre os instrumentos musicais que fazem parte da nossa cultura da capoeiragem”.
RENATA FREIRE
“
Capoeira é luta, é dança, capoeira é arte, é magia. Eu jogo a capoeira, pois ela é minha alegria”. Assim começa uma das músicas mais famosas para entrar na roda e começar a jogar. Criada pelo mestre Barrão, a canção resume bem o que a capoeira significa. “A capoeiragem é um estilo de vida, é a nossa cultura”, explicou o professor Juan Menezes. Não é só Juan que pensa assim. Para celebrar a importância da luta, está sendo comemorado, em Salvador, o Agosto da Capoeira. O evento, que vai durar até o dia 30 deste mês, teve sessões especiais para crianças. Quem foi aprendeu cantigas, a tocar instrumentos, como o agogô, e a descobrir passos de luta. Para ensinar tudo isso, mais de 25 artistas e historiadores foram convidados. Eles estão discutindo os aspectos culturais da capoeira, no bairro Santo Antônio Além do Carmo.
Criança que entra na roda de capoeira não aprende só a lutar, mas vive a nossa cultura
Momentos de capoeiragem do projeto Mandinga, no Centro Histórico de Salvador. À direita, mestre Sabiá toca berimbau
Da África para o Brasil As características da capoeira foram herdadas das danças guerreiras de tribos africanas, explicou o historiador Jair Moura. Elas vieram para o Brasil junto com os escravos. A dança ganhou um pouco o jeito de briga por causa das violências que os escravos sofriam nas cidades. Marcelo André, 12, aprendeu essa história no Mandinga: “Eles fingiam que estavam dançando para poder praticar a capoeira sem serem chateados pela polícia”. Até 1940, a lei proibia essa forma de expressão. Somente com o trabalho de alguns mestres, como os baianos
Pastinha (1889-1981) e Bimba (1900-1974), é que essa arte passou a ser aceita e respeitada. Pastinha recuperou elementos tradicionais das lutas antigas e fundou o Centro Esportivo de Capoeira de Angola. Ícaro Santos, 12, admira esse mestre. “Ele ensinava sobre a capoeira de Angola, um estilo mais próximo das raízes africanas”, disse. Já mestre Bimba foi o criador do estilo regional, que é mais próximo de outras artes marciais. “Ele mostrou que a capoeira é luta, arte e socialização, tudo junto”, disse mestre Lua Rasta.
Arquivo A TARDE
Mestre Bimba mostrou que a capoeira regional se aproxima de outras artes marciais. Já o mestre Pastinha recuperou elementos de lutas antigas na capoeira Angola
Arestides Baptista/ Ag. A TARDE
Mestres e mestras
Margarida Neide/ Ag. A TARDE
O título de mestre é a máxima valorização que alguém pode ter no mundo da capoeiragem. “Não existe uma fórmula. Quem dá esse título é a sociedade, que reconhece o trabalho de cada um”, contou mestre Nenél, que faz parte da Associação Filhos de Bimba. E capoeira é para homens e mulheres. “Existem muitas garotas na capoeira. Não tem preconceito. As dificuldades vêm com a vida adulta. Muitas deixam de lutar para criar filhos e trabalhar”, disse mestra Janja, uma das mais ativas do Brasil. Dandara Silverman (esq.) em ação na sede do Bloco Apache, onde acontecem as rodas do Mandinga