Novembro 2013 Número 119 Ano X Tiragem 3.000 exemplares
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Time do camarão Mestre Orlando, o Xodó (segundo à direita) e a tripulação do camaroeiro Jambo se preparam para partir em mais uma viagem. Págs. 4 e 5 A poeta Regina Alonso lança o livro Haicai no Bentô em Santos. Pág. 7
Em Ilhabela, os pescadores Daniel e Patrícia ensinam os filhos a pescar desde pequenos. Pág. 8
Pescadores artesanais discutem Plano de Manejo das Apas Marinhas. Pág. 2
No Yacht Club Ilhabela as crianças aprendem a praticar o pesque e solte. Pág. 6
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APAS MARINHAS Três áreas de proteção ambiental (APAS) marinhas foram criadas em outubro de 2008 a partir de decretos assinados pelo governador José Serra (PSDB). O objetivo é disciplinar o uso de recursos ambientais, ordenar a pesca, o turismo recreativo e as atividades de pesquisa. Cada uma das três unidades de conservação tem seu próprio conselho
gestor, composto por 12 representantes do governo e 12 da sociedade civil. Desde sua criação em março, as reuniões têm sido mensais para debater temas relacionados a ordenamento pesqueiro, programas de educação ambiental, pesquisa, proteção e fiscalização. Além dos conselhos foram criadas Câmaras Temáticas nas áreas de Pesca, Planeja-
Artesanais discutem plano de manejo Cerca de 60 pescadores artesanais e demais pessoas ligadas a essa atividade estiveram presentes durante as discussões da segunda rodada das oficinas de diagnóstico participativo da Apa Marinha Litoral Centro. A reunião aconteceu dia 18 de novembro no auditório do Hotel Atlântico em Santos, para dar base ao Plano de Manejo da área. Foram discutidos os principais problemas enfrentados pela categoria na área da APAMLC que vai de Peruíbe a Bertioga (com exceção da Baía de Santos), e também as potencialidades para o bom desenvolvimento da atividade da pesca artesanal na área. No início da reunião, o pescador Paulo Magassy fez um pronunciamento a respeito de vários problemas que afetam a pesca, enfatizando os impactos ambientais causados pela dragagem. A seguir os participantes se dividiram em três oficinas de diagnóstico: pesca de arrasto, emalhe e diversificada costeira. Alguns dos problemas levantados nas oficinas incluíam: interferência de barcos de turismo, poluição dos emissários submarinos, conflito com a pesca industrial e amadora, dragagem, pesquisa, prospecção de petróleo, poluição no manguezal, lixo e esgoto proveniente da urbanização, poluição no cais. Dentre as potencialidades a serem desenvolvidas foram citados a presença do manguezal, presença de comércio local e de turistas
Pescadores artesanais discutem Plano de Manejo que absorvem a produção do pescado, aquicultura, criação de centro de referência para capacitação, formação e desenvolvimento de projetos de pesca, criação de centro de beneficiamento de pescado e fábrica de gelo, formação de monitores ambientais locais. Ao final das oficinas segmentadas, todos voltaram a se reunir para considerações finais. Nesse momento alguns pescadores ainda expressaram outros problemas. Os profissionais de arrasto de camarão disseram que este foi o pior ano para a categoria e se mostraram preocupados com os efeitos negativos do incêndio nos armazéns do Terminal Açucareiro Copersucar, no Porto de Santos, que causou grande mortandade de pescado. Como o camarão morto não flutua, dizem que será difícil avaliar a extensão da perda, e como o camarão-branco desova no estuário nesta época a falta deste
Pescadores de Bertioga, Marildo e Oscar, exibem painel com resultado das discussões EXPEDIENTE www.jornalmartimpescador.com.br
Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo Presidente Tsuneo Okida
pescado será sentida na próxima safra. Houve também queixas sobre a proibição da pesca de arrasto motorizado até 800 metros da linha de praia ou do costão rochoso na APAMLC, feita com Decreto nº 58.996, de 25 de março de 2013, que dispõe sobre o Zoneamento EcológicoEconômico do Setor da Baixada Santista. Na região de Peruíbe o problema é mais sentido, pois confronta com a proibição de pesca no entorno de mil metros da Ilha Tupiniquins, deixando uma estreita área de atuação. Ao final foram eleitos dois suplentes, os pescadores Paulo Magassy e Paulo Sérgio Graça, para complementar a lista de 18 representantes da pesca artesanal para as próximas reuniões. Em novembro ainda acontecem mais duas oficinas de diagnóstico. Dia 19, com o segmento 3, representado por órgãos públicos,instituições de ensino e pesquisa, ONGs ambientalistas, entre outros. Dia 21 acontece oficina com o segmento 2, com representantes da pesca industrial e amadora, aquicultura, entre outros. Estão programadas mais quatro reuniões, duas de zoneamento e duas de gestão. Ao final, o resultado será levado para votação no Conselho gestor da APAMLC. Além dos 20 representantes da categoria podem participar outros interessados, pois as reuniões das oficinas e do conselho gestor são abertas.
Av. Dino Bueno, 114 Santos - SP CEP: 11030-350 Fone: (013) 3261-2992
mento & Pesquisa, e Educação & Comunicação. As APAS pertencem ao grupo de Unidades de Uso Sustentável do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza-SNUC. Além das três APAS Marinhas também foi criado o Mosaico das Ilhas e Áreas Protegidas que reúne as três novas unidades de conservação e outras já existentes.
Concurso fotográfico sobre a Laje de Santos O Parque Estadual Marinho Laje de Santos, criado através do Decreto 37.537 de 27 de setembro de 1993, promoverá o 2° Concurso Fotográfico com o tema “20 anos de criação do Parque Estadual Marinho da Laje de Santos – 1993 – 2013”, A iniciativa faz parte das comemorações e tem a finalidade de estimular a produção fotográfica e incentivar as artes, convocando fotógrafos – profissionais, amadores e iniciantes. O concurso se divide em três categorias: foto subaquática – macro, foto subaquática - grande angular, foto em superfície. A premiação será composta de: uma medalha, um exemplar do Livro “Laje de Santos, Laje dos Sonhos” e um exemplar do documentário em DVD “Laje de Santos, Laje dos Sonhos”. O interessado em participar do 2º Concurso Fotográfico do Parque Estadual Marinho Laje de Santos deverá enviar nome, e-mail e telefone para o e-mail do PEMLS (pem.lajedesantos@ fflorestal.sp.gov.br) até o dia 27 de janeiro de 2014, solicitando ficha de inscrição do Concurso. Mais informações em http://fflorestal.sp.gov. br/2013/10/31/2-concurso-fotografico-20-anos-de-criacao-do-parqueestadual-marinho-laje-de-santos-1993-2013/ Como fica a pesca com o Decreto nº 58.996, de 25 de março de 2013, que dispõe sobre o Zoneamento Ecológico-Econômico do Setor da Baixada Santista. ZONAS MARINHAS Z2M: até aproximadamente 7 km da costa (média de distância da isóbata de 15 metros) - permitido embarcações de até 12 metros; Z3M: a partir da Z2M – embarcações acima de 12 metros (embarcações menores podem atuardesde que obedecendo a autonomia de navegação das mesmas); Z2ME e Z3ME: até 800 metros da costa - proibido arrasto motorizado.
Defesos
Caranguejo-uçá (Ucides cordatus) 01/10 a 30/11 (machos e fêmeas) 01/12 a 31/12 (fêmeas) Caranguejo guaiamum (Cardisoma guanhumi) 01/10 a 31/03 Mexilhão (Perna perna) 01/09 a 31/12 Sardinha (Sardinella brasiliensis)-15/06 a 31/07/12 - 01/11/12 a 15/02/13 Piracema na Bacia Hidrográfica do Rio Paraná (IN 25 do Ibama) de 1/11/2012 a 28/02/2013 Proteção à reprodução natural dos peixes, nas áreas de abrangência das bacias hidrográficas do Sudeste (IN 195) de 1/11/12 a 28/02/13
Moratórias
Cherne-poveiro (Polyprion americanus) 06/10/2005 a 6/10/2015 Mero (Epinephelus itajara) 16/10/2012 a 16/10/2015
Troca da carteira de pescador artesanal:
-A partir da data de seu aniversário você tem 30 (trinta) dias para solicitar a troca de sua carteira de pescador (RGP-Registro Geral de Pesca). -Procure a Colônia de Pescadores mais próxima, ou o escritório do Ministério de Pesca Aquicultura-MPA para mais informações. -Se perder o prazo, deve comparecer ao escritório do MPA para fazer o registro. Se até 60 (sessenta dias) após a data de seu aniversário a solicitação de troca de carteira não tiver sido feita, sua licença ficará suspensa por 2 (dois) anos. Mais informações no escritório do MPA em Santos: (13) 3261.3278/ ou em São Paulo: (011) 3541-1380 ou 3541-1383.
Jornalista responsável: Christina Amorim MTb: 10.678/SP christinamorim@gmail.com Fotos e ilustração: Christina Amorim; Diagramação: cassiobueno.com.br; Projeto gráfico: Isabela Carrari - belacarrari@hotmail.com Impressão: Impressão:Diário Diáriodo do Litoral: Litoral Fone.: Fone.:(013) (013)3226-2051 3226-2051 Os artigos e reportagens assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal ou da colônia
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O gosto amargo do açúcar Incêndio no Terminal Açucareiro da Copersucar causa mortandade de toneladas de peixes Os caranguejos e mariscos podem ter morrido, mas permanecido em seu hábitat natural, não sendo possível visualizá-los e contabilizar a quantidade que morreu. Segundo o parecer técnico da Secretaria do Meio Ambiente do Guarujá, em razão do acidente o oxigênio dissolvido em águas estuarinas chegou a zero o que certamente causou a mortandade do pescado por asfixia. Serão agendadas reuniões com a Copersucar, CETESB, Ibama, Instituto de Pesca, Secretaria do Meio Ambiente de Santos e de Guarujá, para avaliar a extensão do acidente e discutir como os pescadores poderão ser ressarcidos do prejuízo. Lideres se reúnem com Ministério da Pesca No dia 24 de outubro, Edson dos Santos Claudio também esteve reunido com o deputado Sebastião Santos (PRB), membro da Frente Parlamentar de Pesca e Aquicultura e o superintendente do Ministério da Pesca e Aquicultura-MPA, Marcos
Alves Pereira para discutir o problema. “Na próxima semana vou apresentar o problema à comissão e à frente parlamentar e formaremos um grupo de estudos para apurar os danos ao ecossistema local”, assegurou o deputado. O superintendente do MPA prometeu levar informações e as dificuldades da região para o ministro Marcelo Crivella, para a tomada de uma posição emergencial. No entanto, até o momento o presidente da Z-3 não foi comunicado de nenhuma ação posterior do Ministério da Pesca ou da Frente Parlamentar relativa ao caso.
Arquivo DL
Líderes das comunidades de pesca prejudicadas com o acidente procuraram o Ministério Público do Meio Ambiente de Santos para tentar obter ressarcimento dos prejuízos trazidos pela mortandade de peixes. Dia 14 de novembro, o promotor da justiça Dr. Daury de Paula Júnior, recebeu na Diretoria da Regional do Ministério Público do Meio Ambiente comitiva composta pelo presidente da Federação de Pescadores, Tsuneo Okida, presidente da Colônia Z-3 de Vicente de Carvalho, Edson dos Santos Cláudio, pescador Rubens de Morais da Z-3 e o pesquisador científico do Instituto de Pesca de Santos, Alberto Amorim. Segundo relato do pescador, o cenário de mortandade atingiu a área entre Monte Cabrão, o terminal da Petrobras na Alemoa e a boca da barra de Santos. Também existe preocupação com o reflexo do acidente em três outras espécies presentes no estuário que são os camarões-brancos, os caranguejos e os mariscos bico-de-ouro. O primeiro está em período de desova, assim a próxima safra poderá ter sido afetada.
O incêndio ocorrido no Terminal Açucareiro da Copersucar (TAC) dia 18 de outubro foi considerado o pior da história do Porto de Santos. Seis armazéns, usados como principais instalações de exportação de açúcar foram destruídos atingindo 180 mil toneladas do produto que é inflamável. Além disso, havia nos galpões ao menos dois tanques de óleo hidráulico, que também foram atingidos. O açúcar derretido que caiu no estuário consumiu o oxigênio da água matando toneladas de peixes por asfixia. Foram observados peixes mortos desde o cais santista, chegando a Guarujá e Monte Cabrão. Segundo o pescador Jair Amorim, associado da Colônia Z-3 de Vicente de Carvalho, em 40 anos de pesca nunca viu uma mortandade tão grande. Ele contou que chegou a navegar mais de 18 quilômetros e encontrou no mar muitos peixes mortos, entre eles mais de 50 meros, espécie ameaçada de extinção.
Profissionais do Direito são homenageados em Cananeia
Homenageados em noite de comemoração
Uma série de profissionais, totalizando 12 pessoas, foram homenageados no último dia 12 de novembro pelos 30 anos da reinstalação da Comarca de Cananeia. Entre eles, o advogado Roberto Pugliese, o primeiro a protocolar processo no local, o juiz de Direito Jesus de Nazareth Lofrano, atual desembargador aposentado, Drª Fernanda Franco Bueno Cáceres, magistrada atual, e os advogados Dr. Boanerges Prado Vianna e Dr. Antonio Severino dos Santos. A solenidade foi realizada no restaurante Sambaqui, no centro de Cananeia, às 20h, e reconheceu o mérito daqueles que trouxeram de volta à cidade uma das mais antigas comarcas do estado de São Paulo. Instalada em 1892, a Comarca de Cananeia foi extinta em 27 de agosto de 1969, quando foi incorporada à Comarca de Jacupiranga. Como a insatisfação foi geral, lideranças locais a procurarem soluções para sua volta, realizando um trabalho incessante envolvendo representantes de diversas áreas, correntes e interesses. Enfim, o Tribunal de Justiça de São Paulo, à época presidido pelo desembargador Acácio Rebouças, incluiu em discussão na Assembleia Legislativa a proposta da reinstalação da Comarca em seu local de origem, o que acabou ocorrendo em 12 de novembro de 1983.
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Coluna
Embraport promove ação especial para caminhoneiros A iniciativa “Motorista Legal” ofereceu serviços de saúde e bem-estar aos motoristas
Mestre O Mestre de barco camaroneiro conta sua experiência de 40 anos na pesca Marione Maria da Silva é a proprietária do Jambo
Claudemir Salles dos Santos, o Satanás, ajuda a tirar lixo que se enrosca na hélice Entre os dias 4 e 8 de novembro, a Embraport promoveu a campanha Motorista Legal, ação voltada aos caminhoneiros que acessam o terminal. Mais de 300 deles participaram das atividades, que incluíam serviços de saúde e bem-estar, além de reforçar as boas práticas de segurança que devem ser seguidas na empresa. “Com essa iniciativa, destacamos a importância de uma conduta responsável dentro do terminal, além de proporcionar aos caminhoneiros momentos de cuidados com a saúde”, explica Luis Turbides, diretor de Operações da Embraport.
Durante toda a semana, os motoristas que chegaram para descarregar ou retirar cargas assistiram a uma palestra sobre a importância da segurança dentro da Embraport, com regras que devem ser praticadas. Em seguida, eles puderam fazer testes de colesterol, glicemia, visão, checar a pressão arterial e cortar o cabelo gratuitamente. Ao final, todos participaram de um quiz sobre segurança, concorrendo a prêmios oferecidos em parceria com a DPaschoal (alinhamento, balanceamento e check-up suspensão) e receberam ainda um folheto com dicas de segurança.
Ouvidoria Embraport: 0800 362-7276 faleconosco@terminalembraport.com.br www.terminalembraport.com.br
Valério da Silva Filho faz a comida com sabor catarinense
Francisco das Chagas Vieira Pinto é o contra-mestre
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Orlando, uma vida no mar
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rlando Laurenço, o Xodó, 58 anos, sorri ao lembrar que passou tão mal em sua primeira viagem ao mar que até pensou em nunca mais embarcar. Ao chegar a Santos em janeiro de 1973 sua experiência de trabalho era na olaria em Camboriu, Santa Catarina, sua terra natal. Vida dura carregando telhas e argila desde os 13 anos de idade. Depois da primeira viagem de duas semanas em um barco de pesca de camarão-sete-barbas, quis voltar para a terra natal, mas, sem dinheiro, acabou embarcando de novo. “Foi para minha sorte”, conclui Orlando, pois naquele momento iniciava sua longa carreira na pesca. Nessa longa jornada, um companheiro de trabalho, Vavá, lhe deu apelido de Xodó, pois Orlando vivia a cantar a música composta por Luiz Gonzaga. Em sua segunda viagem, na embarcação Multi I, também de camarão-sete-barbas, da Companhia Multipesca, de Bertioga, teve mais sorte. Já como contra-mestre e gelador, acostumou-se ao balanço do mar e ao cheiro de óleo diesel, e não enjoou mais. “Como contra-mestre eu remendava as redes, emendava cabos de aço e fazia as coisas do dia a dia, e como gelador cuidava do pescado no porão”, lembra-se. Depois foi trabalhar no Icaraí I em final de 73 até outubro de 74, e com o dono da companhia, Alberto José da Silva, já falecido, aprendeu quase tudo que sabe hoje. “Seu Alberto foi a minha formação na pesca, muita disciplina, aprendi quase tudo com ele, chegada e saída do barco tinha que ter pontualidade”, conta. Viajou para Itajai para trabalhar numa traineira de sardinha, mas em julho de 75 estava de volta a Santos. Embarcou no Icaraí II, da empresa de Alberto José da Silva, hoje dirigida pelas filhas Marione Maria e Marlene. Hoje é mestre do Jambo, barco de pesca de camarão-rosa da mesma companhia. Seus companheiros são Antonio da Silva, motorista (responsável pelo motor), Valério da Silva Filho, cozinheiro, Francisco das Chagas Vieira Pinto, contra-mestre e Natanael Pereira da Silva, gelador. Xodó e o cozinheiro são catarinenses, e os outros maranhenses. No cais, às vezes contam com a ajuda de Claudemir Salles dos Santos, o Satanás, mergulhador de fôlego, que tira todo tipo de lixo que às vezes se prende à hélice, como redes, cabos de aço e até pedaços de pano de sofás. “Só venho quando sou chamado”, explica Satanás, que ganhou o apelido ainda criança “porque bagunçava muito”. Na última viagem o barco ficou 44 dias no mar, e após cerca de uma semana para descarregar o camarão, abastecer e se preparar, saíram para o mar dia 12 novembro. “Agora voltamos só na véspera do Natal”, explica Xodó, época boa para vender o pescado. O barco é frigorífico e mantém o pescado a -20 graus centígrados, o que garante a sua qualidade. O local de pesca varia na região sul sudeste até o Rio Grande do Sul. Largam rede às 6 h da tarde e recolhem às 10h da noite. O barco pode trazer de 2 a 6 toneladas por viagem, no final do ano geralmente vem menos. Comem muito peixe fresco que vem na rede com o camarão na viagem. “Difícil comer camarão”, conta Xodó. “É como trabalhar na fábrica de bala, enjoa”. Gosta mesmo da comida feita pelo cozinheiro Valério, natural de Joinville. Como bom catarinense o feijão pode vir com diferentes legumes e verduras, como repolho, chuchu, abóbora, e ainda lingüiça, toucinho e carne seca. Gosta do bom peixe à moda catarinense com colorau. A esposa, dona Hega, nascida em Camboriu, também cozinha à moda catarinense e é especialista no preparo de frutos do mar. Casados desde 1979, tiveram duas filhas, Camila , 32 anos e Suelen, 26. Lembra-se da dificuldade de comunicação dos tempos de namoro, quando dona Hega ainda morava em Camboriu e ele em Santos. Como pouca gente tinha telefone, o jeito mais fácil que os pescadores tinham para se comunicar era através do programa de Eduardo Maccheri, Pesca é Notícia, na Radio Clube de Santos. Os pescadores enviavam as mensagens e o Eduardo lia no programa, avisando quando o barco ia chegar, ou quando o pescador iria depositar dinheiro para a família que estava longe, entre outras coisas. Xodó está aposentado há 14 anos, mas jura que não larga dessa vida. “Me dou bem no mar, aqui é saúde”. “Não tem lugar mais seguro que o mar, aqui vivo tranquilo”, acrescenta. Apesar de ter enfrentado grandes tempestades em toda sua vida no mar, é lá que se sente seguro. “O barco é firme e grande”, conta referindo-se à embarcação de 22 metros de comprimento e 6,15 metros de largura. “Estou aqui porque gosto”, conclui o pescador que construiu seu segundo lar nas ondas do mar.
Orlando Laurenço é o mestre do camaroneiro Jambo
Antonio da Silva cuida do motor
Natanael Pereira da Silva cuida do pescado no porão
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Um torneio infantil de pesque e solte agitou o fim de semana no Yacht Club Ilhabela-YCI dia 16 de novembro. Cerca de 50 crianças, de 2 a 12 anos de idade participaram. No mesmo dia, o campeonato de adultos tinha continuidade com a primeira etapa do Torneio de Pesca Oceânica Marque e Solte do YCI 2013-2014. As lanchas navegam mais de 70 milhas (cerca de 130 km) em busca dos grandes peixes de oceano. Os mais imponentes são os peixes-de-bico, marlim-azul, que chega a mais de 800 quilos, o marlimbranco 100 e o sailfish 50 quilos. A temporada de pesca oceânica teve início dia 9 de novembro com o 1º Torneio de Marlim Azul Marque e Solte do YCI 2013. A equipe da lancha Strike, do comandante Andres Morales, com o pescador Alex Malafaia liberando um marlim-azul, e a Twins do comandante Rodolfo Ergas, que também liberou um marlim-azul, ficaram em primeiro lugar, num empate técnico. Em terceiro veio a Maracangalha de Gustavo Oliva. Pescadores esportivos fazem parceria com o Projeto Marlim, e devolvem os peixes-de-bico ao mar com uma pequena marca numerada (tag em inglês) para estudos de migração e crescimento. O projeto é coordenado pelo professor Alberto Amorim,do Instituto de Pesca de Santos, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do ESP e pelo professor Eduardo Pimenta, da Universidade Veiga de Almeida-RJ, com apoio da fundação norte-americana de pesquisa TBF-The Billfish Foundation. Segundo o professor Amorim, uma marca colocada em um marlim-branco, no torneio do YCI, pelo pescador Luisinho de Morais em 1992 foi reencontrada em 1997 em frente ao Cabo de Santa Marta, SC por um barco atuneiro de São Paulo. Taguear ou marcar um peixe é colocar uma pequena marca numerada no animal antes da liberação, e preencher uma ficha com os dados do peixe, espécie, peso estimado, local da captura, entre outros. Se recapturado, a partir das informações da ficha registrada em computador, é possível estabelecer o quanto cresceu no período e sua rota de migração “Como os peixes-de-bico são devolvidos ao mar, a validação se dá por filmagem da captura e um bônus será adicionado por cada peixe tagueado”, explica Laurent Blaha, diretor de Pesca do YCI. A XXVI Temporada de Pesca Oceânica Marque e Solte do YCI tem o patrocínio principal da SEDNA Sport Fishing Boats, Pesca Pinheiros, Transbrasa, Santa Constância, Scala, Mazzaferro (Linhas Tournament IGFA Class), Toledo, Person Hélices Náuticas, Marina Igararecê, Art Vip Brasil, além do apoio da Prefeitura Municipal de Ilhabela, ANEPE, IGFA, Ministério da Pesca e Agricultura, Instituto de Pesca e Antena 1.
Pesque e solte em Ilhabela
Equipe da Lancha Twins mostra o vídeo da liberação do peixe
Equipe da lancha Maracangalha
Equipe da Strike
O comodoro do YCI, Marco Fanucchi, durante a premiação do torneio infantil
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Haicai no Bentô, celebrando a alimentação Quem foi ao lançamento de Haicai no Bentô, novo livro da poeta santista Regina Alonso, teve um raro privilégio. A artista plástica Rosa Elias embalava os livros um a um em delicado furoshiki, à moda tradicional dos japoneses carregarem sua marmita. O furoshiki em tecido branco, estampado pela artista com uma ilustração do livro, trouxe a forte simbologia presente no título. A palavra bentô, comida que se prepara em casa para ser comida fora, nos remete à dedicação da mulher
japonesa que a faz com primor. Usando a delicada forma de haicais, poemas japoneses em três linhas, Regina mostra a importância dos que se entregam no campo, ao cultivo e na cozinha, ao preparo dos alimentos com amor, isto é, com todos os sentidos despertos para saciar a fome física e espiritual do homem. A autora explica que o haicai é um poema em louvor a natureza, três versos de uma objetividade quase fotográfica. “No Brasil é comovente descobrir nosso bentô no cotidiano do boia-fria.
Alimentação de poucas cores e valor nutritivo contrastando com o bentô dos funcionários japoneses e de metrópoles europeias e americanas, inclusive brasileiras”, explica. O livro de poemas de Regina Alonso com ilustrações coloridas de Christina Amorim foi lançado dia 29 de outubro no Espaço Christina Amorim, Sociocultural Rolidei no Teatro Rosa Elias e Regina Alonso Municipal de Santos. O livro pode ser adquirido através do telefone: (13) 3261.4481email:orgone2011@gmail.com Rosa Elias embalou os livros Preço: R$35,00 (envio pelo no furoshiki correio).
Comercialização de pescado em feiras livres (II) As feiras surgiram há muitos anos com a finalidade dos comerciantes venderem à população mercadorias como frutas, legumes, ervas, entre outros. Esse comércio acontecia nas ruas e as mercadorias eram acomodadas em barracas, e em algumas feiras eram comercializados diferentes tipos de peixes. No Brasil existe um baixo consumo de pescado, motivado por razões culturais e socioeconômicas e falta de qualidade nos produtos de feiras livres e entrepostos. A feira livre desempenha um papel social e econômico para
pequenos produtores e pescadores. Existe uma crença popular que o pescado vendido em feiras livres é muito fresco, e isto poderia ser verdade se algumas normas fossem respeitadas pelo feirante, em relação à conservação, armazenamento e exposição deste produto para o consumo. O pescado é um alimento rico em nutrientes, porém altamente perecível e para ser comercializado fresco é importante que o feirante trate este alimento com muito cuidado. A higiene, o armazenamento e a exposição são
itens que devem ser levados em consideração. Para o pescado ser mantido fresco por um tempo maior, deve estar protegido por gelo distribuído por cima e por baixo de seu corpo, e a temperatura não pode ser superior a 5 graus Celsius. Pode ainda o feirante dispor de um balcão de aço inox para proteger o pescado do sol, do vento, insetos e poeira, e do próprio consumidor, que tem o péssimo hábito de manusear e cheirar o peixe, ato que também pode contaminar o alimento. A higiene diz respeito ao
asseio do vendedor, a limpeza da barraca, das facas e demais utensílios indispensáveis à rotina, pois quando estas normas são desrespeitadas, o ambiente torna-se favorável ao crescimento bacteriano que deteriora o pescado, dando odor forte de putrefação ou então o pescado pode se contaminar por outras bactérias como Salmonella, Staphilococcus, Listeria, que desencadeiam no consumidor problemas intestinais graves. É imprescindível que nas barracas tenha água potável, para lavagem das mãos e do próprio pescado.
Sendo o pescado uma alternativa de alimento completo, de fácil digestão, com alto teor de proteínas, gorduras insaturadas, Ômega 3, vitaminas e minerais se faz necessário evitar perda proteica, principalmente com o aumento de escassez de proteínas animal no mundo. Assim, no sentido de proteger o consumidor do pescado de má qualidade, ações da Vigilância Sanitária são importantes para coibir esta comercialização indesejada e por outro lado, orientar e conscientizar a população quanto à qualidade do produto.
Augusto Pérez Montano - Médico Veterinário, membro da Comissão de Aquicultura do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo
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O grande branco africano
das Focas para essa atividade, com o pico da temporada entre os meses de junho e julho. “Entram duas pessoas por vez na jaula para o mergulho de observação, fazendo um revezamento, porque a água que é muito fria”, explica. O
barco leva no máximo 12 pessoas. Muitas não mergulham e preferem apenas observar os tubarões do barco. A Ilha das Focas (Seal Island), em False Bay, fica a cerca de 35 minutos de barco de Simonstown. “O local é conhecido mundial-
Tiago Rodrigues
O biólogo Tiago Rodrigues documentou a viagem à África
Tiago Rodrigues
A caçada começa com um grande salto, seguida do som do corpo do tubarão-branco caindo de volta na água. A presa é uma foca, excelente nadadora, que tenta fugir do ataque fazendo acrobacias no ar. No embate, muitas vezes a foca, mesmo ferida, consegue fugir. A descrição é do biólogo Tiago Rodrigues, que viajou a Simonstown, na África do Sul para conhecer e fotografar a magnífica espécie e seu comportamento na água. “É impressionante a agilidade que eles têm na água, mesmo com o grande porte e peso”, afirma Tiago, referindo-se ao animal que pode chegar a mais de 5 metros e 2 toneladas. O biólogo é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Aquicultura e Pesca, Instituto de Pesca, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do ESP. Para captar as imagens dos tubarões em seu hábitat, enfrentou 10 horas de voo até Joanesburgo, mais duas horas até a Cidade do Cabo e uma viagem de uma hora de carro até Simonstown, onde estão as operadoras que levam os turistas para avistagem desta bela espécie. Há três barcos em False Bay que saem diariamente para a Ilha
Tiago Rodrigues
Na África do Sul, o tubarão-branco pode ser observado em seu hábitat natural
mente pelos tubarões brancos que vão para lá no inverno caçar as focas”, explica Tiago. Ele acrescenta que a Ilha das Focas é o primeiro lugar onde os tubarões-brancos foram observados saltando para fora da água. Durante a estadia de
uma semana na África do Sul, Tiago que também aprecia fotografar a natureza, acompanhou o diretor de cinema inglês, Ricardo Lacombe, nas viagens para a realização de um documentário sobre os tubarões-brancos. A previsão
é que o filme esteja pronto em 2014 (www.ricardolacombe. co.uk). “O documentário busca tirar um pouco da imagem negativa desses animais, mostrando a beleza desses incríveis predadores e também a realidade das pessoas que trabalham e vivem desse tipo de ecoturismo”, afirma Tiago. A espécie é rara no Brasil, com poucos registros de ocorrência. Uma delas foi a captura em 1992 de um exemplar de 5,30m comprimento e 2,5 toneladas por um barco de pesca comercial em Cananeia, no litoral sul de São Paulo. Hoje está taxidermizado no museu da cidade. Embora pelo tamanho e peso pudesse ter sido considerado o maior exemplar capturado no mundo, não entrou para os registros, pois não havia uma balança grande o suficiente para pesá-lo. Assim teve que ser pesado em partes, o que invalidou o registro pelas autoridades internacionais. Mas, para os amantes dos animais marinhos, o bom mesmo é vê-los em seus saltos acrobáticos, ainda que a viagem à África do Sul seja tão longa.
Família que pesca unida
Em Ilhabela, Daniel e Patrícia ensinam cedo os filhos a arte de pescar Quando Daniel de Jesus Almeida sai cedo para pescar, vai em boa companhia. Além da esposa Patrícia, os filhos os acompanham na chatinha de quatro metros à propulsão de motor. Cauã, 10 anos, Guilherme, 12, e Miguel, 3, já vão pegando gosto pela arte que está na família há muitas gerações. “As crianças saem para pescar desde que nascem”, afirma Patrícia. O pai de Patrícia, Benedito Tenório, também é pescador, usando a rede-deemalhe para pegar peixes como carapau, sororoca, piranjica e
xarelete, entre outros. Benedito saiu ainda menino da Ilha de Vitória, no arquipélago de Ilhabela, para a ilha principal. Além da tradição na pesca, o pai de Daniel, Antonio Sacramento de Almeida, mantém a casa de farinha na praia de Furnas, produzindo a tradicional farinha de mandioca artesanal. O produto está sempre presente na mesa dos pescadores, desde o café da manhã até nos pratos mais elaborados como o peixe azul-marinho. Esse, Patrícia prepara de modo tradicional, com a banana nanica verde e o
peixe apenas cozidos na água, com o tempero típico caiçara, alfavaca e coentrão. Usa garoupa, tainha, anchova, pirangica, vermelho. O vermelho, que vem com frequência na rede, fica bom tanto assado na brasa como no peixe azul-marinho. Patrícia explica que o azul-marinho é chamado por muitos de pirão de banana, pois a base do pirão é a banana amassada no prato, acrescentando a farinha de mandioca por cima e depois o caldo quente do peixe. Patrícia aprecia o jeito tradicional de preparar o peixe e de pescar
Daniel explica que o vermelho fica bom assado ou no azul-marinho como faziam seus pais, e assim ajuda a manter viva a tradição caiçara de Ilhabela.
Daniel, Patrícia e o caçula Miguel