Encarte DVD Kumarumã

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ste vídeo é fruto do diálogo entre uma antropóloga interessada em educação e os educadores Galibi-Marworno (pais, mães, parteiras e lideranças), interessados em divulgar e fazer respeitar seus conhecimentos sobre os processos de aprendizagem e de produção de pessoas saudáveis. A educação Galibi-Marworno segue princípios e estratégias para que as crianças criem um corpo saudável e adquiram autonomia. Mesmo que a aprendizagem ocorra no cotidiano das aldeias, não se trata de uma educação “informal” ou “espontânea”, como vem sendo definida a educação indígena em contraposição à educação escolar. É preciso desconstruir um olhar marcado pela experiência escolar para reconhecer os processos educativos indígenas. Através de cenas do cotidiano das crianças Galibi-Marworno da aldeia de Kumarumã, o vídeo apresenta as bases de uma pedagogia própria, que segue princípios e

orientações que também precisam ser aprendidos pelos adultos. Considerando que as crianças são agentes da sua aprendizagem e que esta decorre da iniciativa infantil, há um investimento dos adultos em lhes oferecer condições para que aprendam as habilidades necessárias para sua autonomia e para a criação de um corpo forte e saudável. As dietas e resguardos realizados pelos pais durante a gestação e o período da quarentena; as técnicas de “puxar a barriga” realizadas pelas parteiras durante a gestação; os conhecimentos das parteiras para o parto e o puerpério; as massagens para “chamar a carne” feitas pelas mães em seus bebês; as miniaturas de instrumentos de trabalho e facas com pouco corte para


o treino das crianças pequenas; o estímulo para deixa-las soltas na aldeia para que possam observar, experimentar, imitar e aprender por iniciativa própria; a resposta imediata dos adultos às tentativas de imitação das crianças, mostrando-lhes o jeito certo de fazer; são algumas das estratégias educativas Galibi-Marworno que o vídeo apresenta. Os processos indígenas de aprendizagem e transmissão da memória são principalmente per-

formativos, centrados nos gestos e imagens mais do que em discursos. O vídeo é um recurso importante para dar foco a esses pequenos fragmentos do cotidiano que muitas vezes se passam sob nossos olhos sem lhes darmos atenção e reconhecermos seu potencial na transmissão de um patrimônio cultural. Antonella Tassinari


Soltar para pegar o ritmo da comunidade Cacique Paulo Roberto da Silva e Nazarina Santos da Paix達o


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s crianças ind ígenas aprendem com os pais, na roça, com as mães, em casa, também trabalhando. Já crescem aprendendo as coisas, conforme a vivência na comunidade, a tradição de seu povo. Por exemplo, aqui no Kumarumã, a gente têm como trabalho: roça, pescaria... Cada pai de família leva seus filhos pra esse trabalho: pra roça, pescar, pra andar no campo, pra andar na mata. E as crianças já vêm com essa coisa de estar trabalhando, de estar andando na roça, na mata, no cerrado, na água, tomando banho ali na água, no porto e andando de canoa. E já sabe, desde criança, manusear o remo, a flecha, sabe pegar num facão, sabe plantar. Desde criancinha, quando eles vão pra roça, que eles não sabem fazer alguma coisa, mas eles estão ajudando, eles querem

Porque a diferença da criança não-índia para o indígena é que os pais soltam muito. Soltam pra andar, pra correr no chão, soltam pra tentar nadar por eles mesmos. Eles mandam pescar, em pequenas canoas lá no rio, ainda que eles não tragam nada, mas eles mandam. É diferente do branco, que não manda o filho, não tem como ir, não leva, tem medo. Então, a gente não. Mas é a mesma coisa, eu acho que o não-índio, por exemplo, na cidade, desde jovem, sabe manusear um carro, pegar uma bicicleta, uma moto. O indígena, aqui, é a mesma coisa, só que é diferente. Ele pega num terçado, numa flecha, numa canoa, sabe ir pra roça. Então, ele sabe, desde pequenino, fazer um fogo, assar um peixe, se virar pra comer. Os não-indígenas que vêm pra

ajudar, o importante é que eles estão lá, neste trabalho. Todo tempo, eles vão crescendo nessa cultura, vivendo junto com os pais. É assim que eles vão aprendendo. Todo o tempo, eles ficam colados, vendo os pais incentivando.

cá, eles ficam abismados de ver uma criança no chão, descalço, brincando com a terra, manuseando uma arma, por exemplo, tipo um facão, brincando com faca. E os não-indígenas dizem: “A criança vai se cortar, a criança vai cair.


Não deixa fazer isso, pode acontecer um acidente”. Mas só que o indígena deixa, ele deixa, pra ele ir se acostumando, sabe? A primeira filha nossa, Kátia, a gente estava cuidando dela porque a gente perdeu dois meninos antes. Depois, quando nasceu a terceira, que é a Kátia, aí a gente foi criar ela com muito cuidado, pra não ir no chão, pra não pegar uma gripe, uma pneumonia, uma coisa assim. Uma alimentação mais diferente. Aí ela

só vivia doente. Aí, os avós dela disseram: “Negativo, não faça isso não. Você tem que liberar as crianças pra entrar no meio das outras crianças, pra ela poder ficar forte”. Entrar no clima da comunidade. Pegar o ritmo da comunidade, o ritmo da criação dos meninos da comunidade. Então, a gente foi soltando ela. Não adoeceu mais, ficou bem sadia, bem forte, corria, brincava. É assim que nós criamos os nossos filhos. Aqui na comunidade é assim.


Cuidados durante a gestação e o parto Maria José Campos dos Santos

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uando a mulher está com três meses em diante já dá pra ver o local certo. Se a posição é a certa, ou não. Se está movimentando bem. Nessa hora que vamos observar se a criança está normal, se está crescendo bem, se a mulher está bem. É nessa hora que elas ficam observando tudo. A hora certa em que elas puxam a barriga, a partir dos três meses, é de manhã. É porque de manhã a mulher está com a barriga vazia, aí é bom ver tudinho: a cabeça, se está certa, na posição certa, se está transverso, ou não. Aí é nessa hora

gam um pouquinho de sal, colocam na mão, aí passam no cordão do umbigo, depois de uns segundos, a placenta cai. Depois que sai, agora que vão cortar o cordão. Isso também é diferente do branco, quando ganha bebê no hospital. Assim que nasce a criança, eles já cortam. Aqui não, não cortam, tem que esperar sair a placenta, depois que vão cortar o cordão, depois que cortam é que vão cuidar da criança. Pegam um fio, amarram bem o umbigo. Aí, eles pegam a placenta, colocam numa vasilha, num pano, enrolam, daí vão enterrar. Ainda tem que enterrar num lugar onde a

que elas observam tudo. Quando nasce o bebê, elas pe-

criança nasceu. Nasceu aqui, aí vai ter que enterrar aí do lado.


A importância da quarentena Ermelinda Zila dos Santos

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quarentena é uma coisa que a gente respeita muito. Depois do parto, a mulher tem que ficar quarenta dias sem fazer nada. Só come, bebe... aí tem uma pessoa que cuida dessa mulher. Lava a roupa dela, faz a comida dela, dá banho na criança.

Aí essa mulher não come essas comidas gordurosas. Ela não come manga, essas frutas. E também, a mulher fica parada, deitada, descansando. Ela não pode carregar peso. Ela fica mais deitada, ela não anda. Esse negócio de quarentena a gente respeita muito aqui na aldeia.


Chamar a carne, fazer o corpo da criança Manoel Severino dos Santos

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ntão, a criança quando nasce, no primeiro dia de nascido, a gente dá um banho nele; e depois de terminar de banhar todo, então a gente puxa aquele braço dele, fazendo assim: “ts, ts, ts, ts, ts”. Fazendo as costas dele. Está chamando a carne dele, pra ele cres-

cer, pra ele ficar bem grandinho. A bunda, está fazendo a bunda dele, pra ele ter bunda, porque ela fica bem chata, não tem bunda, tem de fazer a bunda dele. Tem de fazer o pescoço dele, a cara dele, tem que ajeitar ele todo, pra não andar assim, torto, pra ele andar bem direitinho.


Por isso a gente faz ele assim, a gente ajeita a perna dele, bem ajeitado. Passando uns três, quatro dias, depois que a criança já começou a mamar bem o peito da mãe, então a gente pega um fio de miçangas, a gente coloca na perna dele. Então, se está apertando, então a mãe está sabendo que está crescendo. Se ficar bem grande, aí não está crescendo, a criança está magra. Coloca no braço dele, também, a mesma coisa. Fica bem apertado, quando está apertado demais tem que desmanchar, pra emendar a miçanga, porque a criança está crescendo. Depois disso, quando a criança já está grande, com seis anos, sete anos, como eu falei um dia desses, a criança tá brincando na beira, igual porquinho. Então, a criança tá brincando igual bichinho, aí a mãe já não liga, não se preocupa nada com o filho. Está na beira do rio, então toma banho na lama. Até chegar de tarde e a mãe está

dizendo: “Onde é que você estava fulano?”. “Eu estava tomando banho, bem ali na beira.” Quando vai ver, estava tomando banho na lama, onde está muito feio. Quem agüentou, agüentou, quem não agüentou, também... O trabalho dele é brincar na beira e correr. Pra desenvolver o corpo dele, está amadurecendo o corpo dele. Aí as crianças vão crescendo, vão crescendo, até... Virando pra bola, correndo, indo para escola, brincando de bola na escola. Essas coisas que as crianças fazem. Então, a mãe não pode ralhar com ele, porque já está no trabalho dele. “Assim que eu estou gostando, mamãe. Assim que eu gosto de viver, eu gosto de correr”. Porque só ficando parado todo o tempo, todo dia, não faz desenvolvimento, nada. Mas as crianças gostam de correr, batendo bola, correndo pra cima e pra baixo. É assim que ele está amadurecendo o corpo dele.




Autonomia

Felizardo dos Santos e Maria Jovelina

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cultura indígena é desse jeito mesmo. Porque um menino, assim, com cinco, seis anos, vê que os pais, as mães, todos os dias trabalham na farinha. Então, aquela criança vai aprendendo, tem que aprender fazer a farinha. Pra ir pra roça, tem de saber pegar numa enxada, pra cavar. Saber como é pra cortar aquela maniva pra plantar. Se o índio deixar essas coisas, então um dia, se não tem emprego, aí é ruim

pra ele. Vamos passar pra outra: pescador. Tem índio que sabe flechar, pega sua flecha e não carece de arma de fogo, pega seu arco, sua flecha, pega sua canoinha e vai embora. Mais tarde, com duas horas de tempo, ele chega com quatro, cinco quilos de peixe, ele sabe flechar. Então, isso é uma cultura que nós temos, que nossos filhos estão vendo todos os dias. E ele não pode ficar sem esse cultura, esse costume. Então, tem que aprender.


Création du corps à Kumarumã Antonella Tassinari

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ette vidéo est le résultat d’un dialogue entre une anthropologue intéressée dans l’éducation et les éducateurs Galibi-Marworno (pères, mères, sages-femmes et dirigeants), désireux de rendre public et faire respecter leurs connaissances sur les processus d’apprentissage et la production de personnes en bonne santé. L’éducation Galibi-Marworno suit les principes et les stratégies qui puissent conduire les enfants à créer un corps sain et acquérir une autonomie. Bien que l’apprentissage se produise dans la vie quotidienne des villages, elle n’est pas une éducation «informelle» ou «spontanée», comme on a été défini l’éducation autochtone par opposition à l’éducation scolaire. Il faut déconstruire un regard marqué par l’expérience de l’école afin de reconnaître les processus éducatifs autochtones. À travers les scènes quotidiennes des enfants Galibi-Marworno, du village de Kumarumã, la vidéo présente la base de sa propre pédagogie, lequel suit les principes et les lignes directrices qui doivent également être appris par les adultes. Alors que les enfants sont des agents de leur apprentissage et que cela provient de l’initiative infantile, il y a un investissement des adultes de leur offrir des conditions pour qu’ils apprennent

les compétences nécessaires à leur autonomie et à la création d’un corps fort et sain. Les diètes et la période de surveillance faits par les parents pendant la grossesse et la quarantaine; les techniques de «étirer le ventre», réalisées par les sagesfemmes pendant la grossesse; leurs connaissances de l’accouchement et la période post-partum; les massages pour «appeller la chair» faits par les mères à leurs bébés; les outils de petite taille et des couteaux à petite coupure à l’usage des jeunes enfants; l’encouragement à les lâcher librement dans le village afin qu’ils puissent observer, pratiquer, imiter et apprendre de leur propre initiative; la réponse immédiate des adultes à des tentatives d’imitation des enfants en leur montrant la bonne façon de faire les choses sont quelques-unes des stratégies éducatives Galibi-Marworno que la vidéo nous présente. Les processus autochtones d’apprentissage et transmission de la mémoire sont essentiellement performatifs, plus centrés sur les gestes et les images que des discours. La vidéo est un ressource important pour donner le focus à ces petits fragments du quotidien qui passent souvent sous nos yeux sans leurs donner l’attention et reconnaissance de son potentiel dans la transmission d’un patrimoine culturel.


Laisser les enfants libres pour prendre le rythme de la communauté Chef Paulo Roberto da Silva et Nazarina Santos da Paixão

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es enfants autochtones apprennent en travaillant avec les parents, dans les champs, avec les mères à la maison. Ils grandissent en apprenant les choses, en vivant dans la communauté, les traditions du peuple. Par exemple, ici, à Kumarumã, notre travail, c’est l’agriculture et la pêche. Chaque chef de famille emmène ses enfants, dans les champs, à la pêche, quand il va dans la campagne et en forêt. Dès leur plus jeune âge, ils apprennent à travailler, vont dans les champs, marchent en forêt, dans la prairie ; apprennent à nager et se baignent dans l’eau du port ; et apprennent à utiliser une pirogue. Et ils savent, depuis tout petit, utiliser les rames, les flèches, se servir d’une machette et planter. Et les enfants vont aux champs, et même s’ils ne savent rien faire, ils aident, ils veulent aider. Le plus important, c’est qu’ils sont là avec nous au travail. Ils grandissent dans cette culture, en vivant avec leurs parents ; c’est comme ça qu’ils apprennent. Tout le temps, ils restent auprès de leurs parents qui les encouragent. Parce que la différence entre l’enfant autochtone et celui qui ne l’est pas, c’est que les parents autochtones laissent les enfants libres. Ils les laissent libres de marcher, de courir,

d’essayer d’apprendre à nager par euxmêmes. Ils les envoient pêcher dans de petites pirogues sur la rivière làbas, même pour rien rapporter, ils y vont quand même. C’est différent du blanc, qui n’envoie pas son fils quelque part faire quelque chose ; il ne le laisse pas y aller, il a peur. Nous, non. En fait, je pense que c’est la même chose ; le non- autochtone, par exemple, en ville, depuis tout jeune, il sait comment conduire une voiture, faire du vélo et de la moto. Pour l’autochtone, ici, c’est la même chose, mais c’est différent. Il sait depuis tout petit se servir d’une machette, d’une flèche, d’une pirogue, il sait aller aux champs. Il sait aussi comment faire un feu, faire cuire un poisson, se débrouiller pour manger. Les non-autochtones qui viennent ici, ils sont choqués de voir un enfant sur le sol, pieds nus, qui joue avec la terre ou qui utilise une arme, comme une machette, par exemple, et qui s’amuse avec. Et les non- autochtones disent : « cet enfant va se couper, cet enfant va tomber ! Ne le laissez pas faire ça, car un accident peut arriver ! » Mais les autochtones le laissent faire ; ils le laissent pour qu’il puisse s’y habituer, vous voyez ? Notre fille, Katya, on s’est bien occupé d’elle, car nous avons perdu deux


garçons avant elle. Après eux, quand la troisième, Katya, est née, on s’est beaucoup occupé d’elle, on l’a pas laissée jouer par terre, pour ne pas attraper la grippe, de pneumonie ou quelque chose comme ça. Et elle a eu une alimentation différente. Mais elle était tout le temps malade. Puis, ses grands-parents ont dit : « Non, ne faites pas ça ! Vous devez laisser les enfants vivre avec les autres enfants,

afin qu’ils puissent devenir forts, entrer dans l’atmosphère de la communauté, prendre le rythme de la communauté, le rythme de l’éducation des enfants de la communauté !». Donc, on l’a laissée. Elle n’est plus tombée malade, elle est devenue forte et en bonne santé ; elle courait, s’amusait... C’est ainsi que nous élevons nos enfants. Ici, dans notre communauté, c’est comme ça.

Les soins pendant la grossesse et l’accouchement Maria José Campos dos Santos

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uand une femme est enceinte de trois mois ou plus, on peut savoir si la position est bonne ou non. Si le bébé bouge bien. C’est à ce moment-là, qu’on voit si l’enfant est normal, s’il se développe bien, si la femme va bien. Donc, c’est à ce moment, qu’on fait très attention. Le bon moment pour étirer le ventre, c’est à partir du troisième mois, le matin. C’est parce que, le matin, l’estomac de la femme est vide. Donc, on peut tout sentir : la tête, si elle est dans la bonne position, si le bébé est en position transversale ou pas... Alors, c’est le moment où on fait attention. Quand le bébé naît, on prend un peu

de sel dans la main. Puis, on frictionne le cordon ombilical. Après quelques secondes, le placenta tombe. Après ça, on coupe le cordon. C’est différent du blanc quand il donne naissance à son bébé à l’hôpital. Dès que l’enfant est né, ils le coupent aussitôt. Ici, non, on ne le coupe pas avant que le placenta sorte. C’est qu’après ça qu’on coupe le cordon et, c’est qu’après l’avoir coupé, qu’on va prendre soin de l’enfant. On prend un fil et on attache bien le nombril. Ensuite, on prend le placenta, on le met dans un récipient, on l’enveloppe dans un linge, puis on va l’enterrer. De plus, il faut l’enterrer à l’endroit où l’enfant est né. Si c’est ici, on l’enterre là.


L’importance de la quarantaine Ermelinda Zila dos Santos

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a quarantaine est une chose que nous respectons vraiment. Après l’accouchement, la mère doit rester pendant quarante jours sans rien faire. Seulement manger, boire... Il y a une personne qui prend soin d’elle, qui lave ses vêtements, cuisine et baigne l’enfant. De plus, la mère ne mange pas

d’aliments gras. Elle ne mange pas de mangue, ni de fruits de ce genre. En outre, elle doit rester tranquille, être couchée et se reposer. Elle ne peut pas faire d’efforts. Elle reste de préférence couchée, elle ne marche pas. Donc, ce truc-là de quarantaine, on le respecte beaucoup ici dans notre village.

Appeler la chair, faire le corps de l’enfant Manoel Severino dos Santos

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onc, quand l’enfant naît, le premier jour de naissance, nous lui donnons un bain ; et quand le bain est fini, on lui étire le bras, comme ça. On lui modèle le dos. On appele sa chair, pour le faire grandir, pour qu’il puisse devenir grand et fort. Les fesses, on les modèle, pour qu’il ait des fesses, parce que, pour l’instant, elles sont plates. Il n’a pas de fesses, il faut lui former les fesses. Il faut lui modeler le cou, son visage, il faut mettre tout en place, pour qu’il n’ait pas les jambes tordues, qu’il puisse bien marcher. C’est pour ça, qu’on fait de cette façon, on maintient ses jambes bien droites. Après trois, quatre jours, quand l’enfant a commencé à bien téter le sein

de sa mère, on prend un bracelet de graines et on le lui met à la jambe. Quand ça serre, la mère sait que l’enfant grandit. S’il y a beaucoup d’espace, ça veut dire qu’il ne grandit pas et que l’enfant est trop maigre. On lui en met aussi un autour du bras. On le maintien bien serré. Quand il est trop serré, on l’enlève pour ajouter d’autres graines. Ça signifie que l’enfant grandit. Après cela, quand il est déjà grand, à six, sept ans, comme j’ai dit l’autre jour, l’enfant joue déjà dans la rive comme un petit porc. Alors que l’enfant est en train de jouer comme une petite bête, sa mère ne s’en fait pas, elle n’est pas du tout inquiète pour son fils.


Il se baigne dans la boue, dans la rive. Alors, l’après-midi passe et sa mère lui dit: « - T’étais où ? » « - Je prenais un bain, là-bas, près de la rive !». Quand on va voir, on se rend compte qu’il prenait un bain dans la boue, où c’est très sale. Y’a ceux qui résistent et ceux qui résistent pas, hein... Son seul travail, c’est jouer sur la rive et courir. Pour développer son corps, pour que son corps devienne mature. Puis, les enfants vont grandir, grandir...en jouant au ballon, en courant,

en allant à l’école, en jouant au ballon à l’école. Ces choses, que les enfants font... Alors, la mère ne peut pas le gronder, puisque son travail c’est seulement ça. ««- C’est ça qui me plaît, maman, c’est comme ça que j’aime vivre ; j’aime courir ». Parce que si on reste sans rien faire, tout le temps, tous les jours, le corps ne se développe pas, c’est pas possible. Mais les enfants aiment courir, jouer au football, aller partout. Voilà comment son corps se développe.

Autonomie Felizardo dos Santos et Maria Jovelina

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a culture autochtone, elle fonctionne comme ça. L’enfant, à partir de cinq, six ans, voit tous les jours ses parents qui travaillent la farine. Alors, cet enfant va apprendre, doit apprendre à faire de la farine. Pour travailler aux champs, il faut qu’il apprenne à manier la pioche pour creuser. Il doit savoir comment couper la tige du manioc et la planter. Si les autochtones arrêtent de faire tout cela, un jour, s’il n’y a pas d’emploi, ce sera mauvais pour eux. Passons à

autre chose : parlons des pêcheurs. Les autochtones savent tirer à l’arc. Ils prennent leurs flèches et ils n’ont pas besoin d’arme à feu. Ils prennent leur arc, leurs flèches, leur petite pirogue et s’en vont. Deux heures plus tard, ils rentrent avec quatre, cinq kg de poisson. Ils savent se servir d’un arc. Donc, ça, c’est notre culture, celle que nos enfants voient tous les jours et ils ne peuvent pas vivre sans cette culture, sans cette tradition. Alors, il faut qu’ils l’apprennent.


Creating the Body in Kumarumã Antonella Tassinari

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his video is the fruit of a dialogue between an anthropologist interested in education and the Galibi-Marworno educators (fathers, mothers, midwives and leaders) interested in disseminating their knowledge of the processes of learning and producing healthy people, while gaining respect for it. Galibi-Marworno education follows principles and strategies for the children to form a healthy body and acquire autonomy. Even if the learning happens in the everyday life of the village, it is not an “informal” or “spontaneous” education, as indigenous education has been defined when compared to school education. It is necessary to rebuild the vision that has been prejudiced by the school experience to be able to recognize the indigenous educational process. Through scenes of daily life of the Galibi-Marworno children at the Kumarumã village, the video presents the basis for their own pedagogy, which follows principles and orientations that also need to be learned by adults. Considering that the children are agents of their own learning which results from the child’s initiative, there is an investment by the adults

in offering conditions for them to learn the necessary skills for their autonomy and for the creation of a strong and healthy body. The diets and safeguards made by the parents during pregnancy and the quarantine period; the techniques of “pushing the belly” done by the midwives during pregnancy; the midwives’ knowledge about the birth and postpartum; the massages for “calling the f lesh” given to the babies by their mothers; the miniatures of tools and dull knives for training small children; the encouragement to set children free in the village to observe, try, imitate and learn by their own efforts; the immediate response of the adults to the children’s attempts at imitation, showing them the correct ways; these are some of the Galibi-Marworno educational strategies presented in the video. Indigenous processes of learning and transmitting memory are mainly performative, centered on gestures and images more than speech. The video is an important resource for focusing on these small fragments of daily life that often pass us by without paying attention and giving recognition for their potential in transmitting a cultural heritage.


Give kids the freedom to get into the rhythm of the community Chef Paulo Roberto da Silva and Nazarina Santos da Paixão

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ative children learn with their parents, in the fields, with their mothers at home, and also working. They grow up learning things, depending on the life and traditions in the community. For example, here in Kumarumã, we are farmers and fishermen. Every father of a family takes his kids to this work, to the fields, fishing, to walk in the fields and forest. Kids are born ready and willing to work, to be walking in the fields, in the forest, in the overgrown fields, in the water, bathing over there in the water, in the port, and canoeing. They already know, from childhood, how to use an oar, an arrow, how to use a big knife, how to plant. When little ones go to the fields, even if they don’t know something, they are helping, they want to help, what’s important is they are there in this work. All the time they are growing in this culture, and this is the way they learn, alongside their parents. Always close by, they see their parents encourage them. The difference between the non-indigenous child and the indigenous is that the parents let them loose a lot. Let them walk free, to run on the ground, to try to swim on their own. The parents tell them to fish, in little canoes on the river, they might not bring anything but they are sent.

It’s different with the white man who doesn’t have the kids do things, there’s no way to let them do things on their own. The parents are afraid. Not us. But it’s the same thing. I think the non-indigenous child, for example, in his town and starting young, knows how to drive, ride a bicycle, a motorcycle. The native here is the same thing, only different. He takes a machete, an arrow, a canoe, knows gardening. So he knows early on how to make a fire, bake a fish, feed himself. The non-indigenous people that come here get shocked when they see a child on the ground, barefoot, playing with dirt, handling a weapon, for example, like a big knife, playing with a knife. And the non-indigenous say, “The child will cut himself, will fall. Don’t let him do that, there could be an accident.” But it’s just that the indigenous allows it, for him to get used to it, you know? We took care of our first daughter, Katia, because we lost two boys before. Then when the third was born, Katia, we raised her very carefully, not to get on the ground, not to get the flu or pneumonia, things like that. Even special food. And then she was always sick. Then her grandparents said, “No way, don’t do this. You have to give kids the free-


dom to be around other kids, for her to get strong.” Get into the spirit and the rhythm of the community, the rhythm of raising kids in the commu-

nity. So we let her loose. She didn’t get sick anymore, got real healthy, ran, played. This is how we raise our kids here in the community.

Pregnancy and childbirth care Maria José Campos dos Santos

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hen a woman is three months pregnant, from then on you can see if the position is right or not, if the baby is moving well. At this time we see if the child is normal, if he is growing well, if the woman is well, the midwives observe everything. Starting at 3 months, morning is the right time for them to “pull the belly”. Because in the morning the woman’s belly is empty so it is good for seeing everything: the head, if it is right, if it is lying crosswise, or not. This is when they observe everything. When the baby is born the midwives put a little salt in their hands,

put it on the umbilical cord and in a few seconds the placenta falls. After it comes out we cut the cord. This is also different from the whites, when childbirth is in the hospital. As soon as the child is born they cut the cord. Not here, we don’t cut it. We wait for the placenta to come out, then we cut the cord and take care of the baby. We take a thread, tie it well to the umbilical cord. Then we take the placenta, put it in a basin, wrap it in a cloth and bury it. It has to be buried in the place where the child was born. It was born here, so then it has to be buried right next to that place.

The importance of the quarantine Ermelinda Zila dos Santos

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uarantine is something we respect very much. After birth the woman has to spend 40 days doing nothing. Just eat, drink, so someone has to take care of this woman. Wash her clothes, cook her food, bathe the baby. This woman doesn’t eat fatty

foods. She doesn’t eat mango, fruits like that. And also she stays still, lying down, resting. She cannot carry weight. She spends more time lying down, she doesn’t walk. This thing about quarantine we respect a lot here in the village.


Call the flesh, make the child’s body Manoel Severino dos Santos

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hen the child is born, on the first day, we give him a bath. After the bath, then we pull on his arm, like this. Making his back. It is “calling” his flesh, for him to grow, for him to get real big. We make his buttocks, for him to have buttocks we have to make it because it is very flat, nothing is there. We have to make his neck, his face; we have to arrange all of him so he doesn’t walk crooked, for him to walk really well. That is why we arrange his leg very well. After 3 or 4 days, after the child has already started nursing well, then we take a string of beads and put it around his leg. So if it gets tight then the mother knows he is growing. If it gets really loose, then he’s not growing, he’s skinny. The same thing with his arm. It gets really tight, when it gets too tight we have to take it apart to add more beads because the child is growing. After this, when the child is already big, 6, 7 years old, like I said the other day, the child is playing on

the river bank, just like a pig – are you filming all of this? – so the child is playing like a pig, just like a little animal, then the mother doesn’t care, doesn’t worry at all about the child. So he’s on the river bank, taking a mud bath. At the end of the day the mother says, “Where have you been?” “I was taking a bath right there on the bank.” When you go to see he was taking a mud bath where it is really ugly. Who can tolerate it, tolerates; who can’t tolerate it as well…. His work is to play on the river bank and run. To develop his body, his body is maturing. This way the children grow, keep growing, until…. Get the ball, run to school, play ball at school, these are the things kids do. So the mother can’t be worried about him, because this is his job. “I like it like this, Mom. This is how I like to live, I like to run.” Because just staying still all the time, every day, he doesn’t develop, at all. Children like to run, kick a ball, run here and there. That is how they mature their bodies.


Autonomy Felizardo dos Santos and Maria Jovelina

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his is how the indigenous culture is. A 5 or 6-year-old child sees his parents making flour every day. To go to the fields you have to know how to use a hoe to dig, know how to cut manioc to plant. If an indigenous stops doing these things, then one day, if he is unemployed, it is bad for him. Let’s look at another: a fisherman. There are indigenous

people who know how to shoot an arrow and don’t need a gun. He takes his arch, his arrow, his canoe and goes. Some 2 hours later he comes with 4 or 5 kilos of fish, he knows how to use an arrow. So this is the culture we have, that our children are seeing every day and he can’t be without this culture, this custom. So he has to learn.



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vídeo é um dos resultados do projeto de pesquisa “Memória, Sociabilidade e Educação entre a população Galibi-Marworno”, desenvolvido no NEPI/UFSC e financiado pelo Instituto Brasil Plural/CNPq e PROEXT/MEC. O roteiro e as filmagens foram feitas em Kumarumã em 2010. O vídeo foi editado no Rio de

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Janeiro (INARRA/UERJ) em julho de 2013, em seguida apresentado para lideranças Galibi-Marworno e estudantes indígenas da UNIFAP em Oiapoque para obtenção da aprovação para exibição. Suas sugestões foram acrescentadas ao vídeo em Florianópolis (NEPI/UFSC) em outubro de 2013.

ette vidéo est l’un des résultats du projet de recherche “Mémoire, sociabilité et éducation chez la population Galibi-Marworno”, développé au NEPI / UFSC et

réalisé à Rio de Janeiro (INARRA / UERJ), en juillet 2013, puis présentée aux dirigeants Galibi-Marworno et les étudiants autochtones à l’UNIFAP, à Oiapoque, pour obtenir

financé par le Brésil Plural Institut / CNPq et PROEXT / MEC. Le scénario et le tournage ont été effectués dans le village Kumarumã, en 2010. Le montage de la vidéo a été

l’autorisation pour le rendre public. Leurs suggestions ont été ajoutées à cette vidéo, à Florianópolis, Santa Catarina (NEPI / UFSC), en octobre 2013.

T

he video is one of the results of the research project “Memory, Sociability and Education among the Galibi-Marworno population”, developed at NEPI/UFSC and financed by Instituto Brasil Plural/CNPq and PROEXT/MEC. The screenplay and filming were done in Kumarumã in 2010. The

video was edited in Rio de Janeiro (INARRA/UERJ) in July 2013, subsequently shown to Galibi-Marworno leaders and indigenous students at UNIFAP in Oiapoque to obtain approval for exhibition. Their suggestions were added to the video in Florianopolis (NEPI/UFSC) in October of 2013.


Para aprender a usar objetos cortantes, as crianças pequenas não usam lâminas afiadas e estão acompanhadas de adultos. Pour apprendre à utiliser des objets qui coupent, les petits enfants n’utilisent pas de lames aiguisées et sont accompagnés par des adultes. To learn how to use objects that cut, small children do not use sharp blades and are in the presence of an adult.


F

T

i c h a

é c n i c a

/

F

i c h e

T

/

e c h n i q u e

C

Produção, Imagem e Direção/Production,

D esign: Renato Rizzaro

Images

A poio

and

et

Réalisation/Production, Image

Direction: Antonella Tassinari

à

cherche /

pesquisa /

r e d i t s

A ssistants

de

re -

Research Support: Djarlene

Roteiro/Scénario/Screenplay: Antonella

Nunes Figueiredo, Fernando Groh

Tassinari, Paulo Roberto Silva, Felizar-

de Castro Moura, Luciana Landgraf

do dos Santos e Manuel Severino dos

Castelo Branco, João Carlos Corrêa

Santos

Neto.

Edição

e

Legendas/Montage

-titres/Editing

et

and subtitles:

Sous -

Marcos

Realização/ En

coproduction avec le /

E xecution: Núcleo de Estudos de Po-

Albuquerque

pulações Indígenas/NEPI/UFSC

E ntrevistas / Témoignages / Testimonies:

Suporte

Paulo Roberto da Silva, Maria José

Visual / Avec l’aide

Campos dos Santos, Ermelinda Zila

pology

dos Santos, Manuel Severino dos

LISA/UFSC, INARRA/UERJ

Santos, Felizardo dos Santos

English version: Virginia Klie

Participação/Avec

Version

la participation de /

dos

Núcleos de

de

A ntropologia

/ Visual A nthro -

Nucleus Support: NAVI/UFSC,

française:

Suzana Luz Cardo-

Participants: Clemiana Nunes dos

so et Benjamin Grenier

Santos, Gabriel dos Santos, Gerlinda

A poio/Avec le soutien de /Funding:

Zila dos Santos, Hugo dos Santos,

Instituto Brasil Plural/CNPq -

Igor dos Santos, Maria Iraídia Nunes,

PROEXT/MEC

Maria Jovelina, Narazina Santos da

Agradecimentos à Comunidade

Paixão, Ozenilda Nunes dos Santos,

Galibi-Marworno

Maria Petrolina dos Santos, Sheila

Remerciements à la Communauté

Maciel Campos dos Santos

Galibi - Marwono

D esenhos /D essins /D rawings: Aucele,

Acknowledgements to the

Aurilene, Eduardo, Garcielson, Klí-

Galibi-Marworno community

cia, Milena


“Os povos indígenas têm o direito de estabelecer e controlar seus sistemas e instituições educativos, que ofereçam educação em seus próprios idiomas, em consonância com seus métodos culturais de ensino e aprendizagem.” A rtigo 14 da D eclaração das Nações Unidas sobre os D ireitos dos Povos Indígenas, 2007

«Les peuples autochtones ont le droit d’établir et de contrôler leurs propres systèmes et établissements scolaires où l’enseignement est dispensé dans leur propre langue, d’une manière adaptée à leurs méthodes culturelles d’enseignement et d’apprentissage». L’article 14 de la D éclaration des Nations Unies sur les droits des peuples autochtones, 2007

“Indigenous peoples have the right to establish and control their educational systems and institutions providing education in their own languages, in a manner appropriate to their cultural methods of teaching and learning.” A rticle 14 of the United Nations D eclaration on the Rights of Indigenous Peoples, 2007


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