O Movimento das águas

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O movimento das รกguas


C OMITÊ

DE

G ERENCIAMENTO DA B ACIA H IDROGRÁFICA DO R IO I TAJAÍ (CBH-I TAJAÍ ) FUNDAÇÃO A GÊNCIA DE Á GUA DO V ALE DO I TAJAÍ (F AAVI )

Maria Izabel Pinheiro Sandri PRESIDENTE

Jacir Pamplona VICE-PRESIDENTE

Beate Frank S E C R E T Á R I A E X E C U T I VA

FICHA

M935m

C ATA LO G R Á F I C A E L A B O R A DA P E L A

B I B L I OT E C A C E N T R A L

DA

FURB

O movimento das águas: a construção de uma política sustentável de proteção da água na bacia do Itajaí / Beate Frank, supervisão; Guarim Liberato Junior, Lourdes Sedlacek, redação e edição. - Blumenau: Fundação Agência de Água do Vale do Itajaí: FURB, 2008. 108 p. : il. Projeto Piava. Bibliografia: p. 106-107. 1. Água – Conservação – Itajaí-Açu, Rio, Vale (SC). 2. Educação ambiental – Santa Catarina. I. Frank, Beate. II. Liberato Junior, Guarim. III. Sedlacek, Lourdes. CDD: 304.2

Rua Antônio da Veiga, 140 – Sala T-210 CEP 89012-900 – Blumenau – SC Fone: (47) 3321-0547 – Fax (47) 3321-0629 www.comiteitajai.org.br comiteitajai@furb.br


O movimento das águas A construção de uma política sustentável de proteção da água na bacia do Itajaí

Beate Frank SUPERVISÃO

Guarim Liberato Junior REDAÇÃO

E

EDIÇÃO

Lourdes Sedlacek REDAÇÃO

Renato Rizzaro DESIGN



C A P Í T U L O

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Águas turbulentas As enchentes e seus ensinamentos

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O

POVO DAS ÁGUAS RESISTE ÀS TURBULÊNCIAS

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A

VOCAÇÃO INDUSTRIAL DA COLÔNIA ALEMÃ

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A

TURBULÊNCIA DAS ÁGUAS DEIXA SEU RASTRO

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ENCHENTE

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A

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A S/A CONTRA ENCHENTES

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BARRAGENS

23

AS

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ÁGUAS

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A

D E S P E R TA E S P Í R I TO D E S O L I D A R I E D A D E

BUSCA POR SOLUÇÕES E O USO POLÍTICO DAS ENCHENTES

S Ã O C O N S T R U Í D A S PA R A C O N T E R A S Á G U A S

GRANDES CHEIAS DE

1983

E

1984

E N C O N T R A M N OVAS C O N F LU Ê N C I A S

G E S T Ã O I N T E G R A D A E PA R T I C I PAT I VA D A B A C I A D O

C A P Í T U L O

2

O caminho das águas A bacia hidrográfica do Itajaí

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BACIA

31

AS

SUB-BACIAS DO

32

AS

NASCENTES DO

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UMA

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DIVISÃO

35

A

HIDROGRÁFICA DO

I TA J A Í

I TA J A Í I TA J A Í

B A C I A C O M UM M I L H Ã O D E H A B I T A N T E S A D M I N I S T R AT I VA

BACIA COMO UNIDADE DE GESTÃO

I TA J A Í


C A P Í T U L O

3

O movimento das águas A construção de uma política sustentável de proteção da água

38

MAIS

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P R O J E TO P I AVA

41

A

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OS

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VIVEIROS

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MOBILIZAÇÃO

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I N OVA Ç Ã O

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O

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UM

P R OT E Ç Ã O PA R A A Á G U A ENVOLVEU DIVERSOS GRUPOS SOCIAIS

P I AVA , S Í M B O LO D E R E S I S T Ê N C I A P E L A P R OT E Ç Ã O DA Á G UA PEQUENOS RIOS ESTÃO MAIS VERDES P R O D U Z E M M U D A S D E E S P É C I E S N AT I VA S S O C I A L E E D U C A Ç Ã O F O R TA L E C E M A A Ç Ã O E M R E D E

N A G E S T Ã O A M B I E N TA L É E S T I M U L A D A

CAMINHO DAS ÁGUAS É CADA VEZ MAIS CONHECIDO N O V O PA C T O P E L A Á G U A


C A P Í T U L O

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A magia das águas Um novo espírito de solidariedade que contagia a todos

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QUE

VO LT E M A S P I AVA S

62

UMA

N OVA

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AS

M U I TA S FA C E S D E U M A L I Ç Ã O

67

AS

VERDES MADEIXAS DE

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RECUPERAÇÃO

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ENTRE

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NO

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UMA

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FAÇA

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BANANAS

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UM

TIME CAMPEÃO

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UM

P O R TODOS E TODOS P O R UM

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A

NADADORA DO RIO

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O

CÔNSUL DAS ÁGUAS

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UM

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DIPLOMACIA

‘AURORA’

ONDE O RIO

PA R A O S R I O S

DONA EMMA

DA IDENTIDADE VERDE

NEGRO

ENCONTRA O

I TA J A Í

ÁRVORES , AVES E CURUMINS

M E I O D O C A M I N H O T I N H A U M A P R O F E S S O R A E M U I TO S PA R C E I R O S FA M Í L I A EM DEFESA DO M E I O AMBIENTE CHUVA O U FAÇA SOL , TUDO ESTÁ BEM C O M B I N A D O TA M B É M P R E C I S A M D E M ATA C I L I A R

I TA J A Í

POLÍTICO EM DEFESA DAS ÁGUAS DAS ÁGUAS

100

Pessoas que se envolveram em ações do Projeto Piava

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Equipe técnica e colaboradores

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Bibliografia


A

P

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E

N

T

A

Ç

Ã

O

Este livro reúne informações, histórias e

sensibilizaram com o apelo agonizante dos rios,

imagens que oferecem uma visão geral do

que foram contagiadas pela energia envolvente

Projeto Piava, uma iniciativa do Comitê do

das educadoras e educadores, ou dos

Itajaí implementado com o apoio da

mobilizadores regionais e coordenadores dos

Universidade Regional de Blumenau (FURB)

Grupos de Trabalho Municipal (GTMs).

e a participação de diversas instituições e

Pessoas que também se transformaram em

pessoas. O Projeto Piava integra o Programa

“piavinhas”, como carinhosamente são

Petrobras Ambiental.

chamados os multiplicadores e mobilizadores

O livro resgata momentos históricos que

do Projeto Piava. Pessoas que se envolveram

fazem parte da ‘cultura hídrica’ regional, mostra

nas atividades de educação ambiental, de

as diversas dimensões da bacia hidrográfica do

proteção de nascentes ou de recuperação de

rio Itajaí e apresenta os principais resultados

matas ciliares. Que atuaram na promoção da

do Projeto Piava, a capilaridade de suas ações

gestão ambiental municipal ou na construção

e a magia contagiante que reuniu uma multidão;

participativa do plano de recursos hídricos da

ou “só pra inticá” com as piavas, um grande

bacia do Itajaí.

“cardume” de pessoas na construção de uma

Este livro reflete o resultado da participação

política sustentável de proteção da água no Vale

ativa de uma parcela da população do Vale do

do Itajaí.

Itajaí na construção de uma política sustentável

Muito mais do que divulgar a natureza, a

de proteção da água, permitindo assim que seja

abrangência e os resultados do Projeto Piava,

concebido e implantado o gerenciamento

este livro pretende dar visibilidade às pessoas

integrado e participativo da bacia hidrográfica.

extraordinárias que dele participaram e foram

É evidente que muitas outras pessoas,

seus principais protagonistas. Pessoas que se

grupos e ações mereceriam destaque


semelhante, a quem pedimos desculpas pelas

cidadão das águas. Deixe-se contagiar pela

limitações desta publicação. As histórias aqui

magia das águas e contribua com a proteção

contadas são apenas uma pequena amostra da

desse recurso essencial para a vida. Só assim

capacidade de articulação da população do Vale

seus filhos e netos terão água com qualidade e

do Itajaí na promoção de ações conjuntas em

em quantidade suficiente para saciar a sede e

defesa do meio ambiente e das águas.

satisfazer suas necessidades no futuro. As

Para você que faz parte deste movimento

soluções não vão aparecer como num passe

das águas, uma boa leitura. Se você ainda não

de mágica, mas você vai se encantar com a

se envolveu com a turbulência das águas, mas se

energia de pessoas dispostas em fazer valer suas

vê diante de um caminho cheio de desafios, não

opiniões e interesses, mas, acima de tudo, de

perca tempo: entre nesse movimento de cidadania

compartilhar de forma sustentável o mais

pelas águas e seja também uma “piavinha”, um

precioso dos elementos da natureza, a água.

Beate Frank COORDENADORA

DO

P R O J E TO P I A VA

Maria Izabel Pinheiro Sandri PRESIDENTE

DO

COMITÊ

DO

I TA J A Í


A RQUIVO

DO

IPA/FURB


C A P Í T U L O

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Águas turbulentas As enchentes e seus ensinamentos

A água, por ser um dos elementos essenciais à vida, teve importância estratégica na organização das primeiras civilizações, situadas nas margens de grandes rios. Revestida por um vasto conteúdo simbólico, alimentou a geração de mitos e lendas em diversas culturas. Do mundo antigo e sacralizado, desembocamos no mundo moderno, secularizado e pluralista, baseado na cientificidade e no tecnicismo, em que a água continua sendo geradora de mitos, crenças e doenças, fonte de alimento, energia e abastecimento, meio de transporte e diluição de efluentes, opção de lazer e relaxamento, e ao mesmo tempo elemento causador de sérios conflitos sócio-ambientais, devido à sua degradação e escassez. A história do Vale do Itajaí também foi escrita com muitas águas. O território da bacia hidrográfica, ocupado inicialmente por povos nativos, como os índios guaranis ou xoclengues, foi disputado por imigrantes europeus que subiram o rio Itajaí e ocuparam suas margens e os fundos de vale. Os rios foram os caminhos naturais e a floresta, inicialmente vista como obstáculo, foi fonte de recursos para o desenvolvimento. As turbulências estavam apenas começando.

A cada ano as águas do rio Itajaí pareciam mais agitadas, como que reagindo com fúria à exploração dos recursos naturais de sua bacia hidrográfica. As enchentes marcaram profundamente a cultura regional, e, além da tragédia e dos prejuízos, trouxeram ensinamentos que podem nos indicar novas confluências, novos conceitos e paradigmas para se caminhar com mais segurança e sustentabilidade por essas águas que se renovam a todo instante.

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O

P O V O

D A S

Á G U A S

R E S I S T E

Quando os primeiros imigrantes europeus vieram se fixar nas terras junto às margens do rio Itajaí-açu, e a formar núcleos de colonização, a partir de 1850, algumass comunidades indígenas faziam frente à ocupação. Estes índios pertenciam ao povo xoclengue e logo passaram a ser chamados pelos imigrantes europeus de botocudos, por causa de um botoque de madeira que usavam no lábio inferior. Os carijós, primitivos guaranis que ocupavam o Litoral, já tinham sido praticamente exterminados àquela época. Os xoclengues formavam um povo único, com uma complexa estrutura social. Eles tinham cultura e língua própria, assim como um território, que os diferenciavam dos outros povos indígenas do Sul

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À S

T U R B U L Ê N C I A S

do Brasil. Explicavam a geração do homem a partir da água, como se observa em alguns mitos contados por anciões e resgatados por Nanblá Gakran, cientista social, lingüista e professor bilíngüe da comunidade indígena. Em um trecho do conto “A geração do homem”, contado pelo avô de Nanblá, pode-se observar essa relação: “E os Vãjeky (homens do povo xoclengue) saíram da água. Eles queriam sair e ficaram esperando do lado debaixo da água. Enquanto isso, Plándjug (líder do povo xoclengue) veio subindo, fazendo caminho. E quando terminou de fazer caminho, voltou para buscar os outros. Então vieram subindo com ele. Onde pisaram em terra firme, prepararam lugar e festejaram dançando”.


Os xoclengues viviam da coleta, da pesca e da caça. Confeccionavam armas e artesanato, e mantinham uma relação de interdependência com a natureza. No passado distante sofreram a competição de outros grupos indígenas, como os kaingangues, pelo domínio dos campos e bosques de pinheiros do Planalto. Depois, descendo as encostas do Planalto rumo aos vales, viram suas terras serem gradativamente ocupadas pelos imigrantes europeus. As florestas do Vale do Itajaí foram seu último reduto. A partir de 1850, essas terras passaram a ser disputadas também por imigrantes alemães e italianos. O contato entre os xoclengues e os

imigrantes europeus foi traumático. Travou-se uma disputa sangrenta que quase provocou o exter mínio dos índios. A pacificação e o aldeamento foi outra etapa de opressão do povo xoclengue, ag ravada pela exploração dos recursos naturais e pela construção de uma barragem para controle de enchentes na área de entorno da reserva indígena. Atualmente os xoclengues lutam pela redemarcação de suas terras. O Vale do Itajaí ainda vive o clima de tensão social, resultado de uma situação de conflito construída historicamente entre a comunidade indígena e a população nãoindígena.

Acampamento dos índios xoklengues na barragem norte. F OTO S ÍLVIO C OELHO P ÁGINA

DOS

AO LADO

Índias se banhando

S ANTOS , 1997

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V O C A Ç Ã O

I N D U S T R I A L

Os rios foram os primeiros caminhos naturais para a ocupação do ter ritório da bacia hidrográfica do Itajaí. O primeiro posseiro das margens do Itajaí-açu foi João Dias de Arzão, que em 1765 recebeu da coroa portuguesa uma sesmaria na região onde hoje está situada a localidade de Pocinho, entre Gaspar e Ilhota. Nesta época, a região da foz do rio Itajaí já era habitada. No entanto, a emancipação de Itajaí só ocorreu em 1860, quando foi instaurada a Villa do Santíssimo Sacramento do Itajaí.

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Ocupação do Vale do Itajaí se intensificou após a formação da Colônia Blumenau, em 1850. ARQUIVO H ISTÓRICO J OSÉ F ERREIRA

DA

S ILVA /F UND. CULTURAL

DE

B LUMENAU

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C O L Ô N I A

A L E M Ã

O processo de colonização que influenciou de modo determinante a conformação cultural e sócio-econômica da região se iniciou em 1850, com a instalação de uma colônia pelo químico alemão Hermann Bruno Otto Blumenau, nas margens do rio Itajaí-açu. Vários núcleos de imigrantes alemães se sucederam após a chegada de Dr. Blumenau. A colônia Príncipe D. Pedro, que tinha sede na atual cidade de Brusque, se formou a partir de 1860; a colônia Hansa-Hammonia, cuja sede gerou o atual município de Ibirama, se formou em 1897; e Bela Alliança, hoje Rio do Sul, em 1892. A partir de 1875 vieram os imigrantes italianos e log o em seguida uma leva de


imigrantes de toda a Europa subiu o rio Itajaí. Além de alemães e italianos também vieram belg as, r ussos, poloneses, ucranianos e austríacos. Desde sua orig em, esses núcleos de colonização européia se caracterizaram pela presença de camponeses e artesãos, que vieram na primeira onda de imigração; e de operários, comerciantes e industriais — na segunda onda de imigração — que já estavam contaminados pelo clima da Revolução Industrial. Os colonos recebiam ou compravam lotes de terra de 25 a 30 hectares, alinhados aos fundos de vale. Esse modo de povoamento e a diversidade de ofícios dos imigrantes europeus resultaram numa economia diversificada e permitiram a constituição de comunidades relativamente

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igualitárias, do ponto de vista econômico, e solidárias frente às dificuldades. O espírito de solidariedade e a ajuda mútua uniam os primeiros colonos na realização de obras comuns de infra-estrutura, como a derrubada da floresta e a construção de estradas, escolas e igrejas. Eles também se reuniam para a troca de informações sobre técnicas agrícolas e cooperavam na produção e comercialização dos produtos ou na importação de maquinários para a indústria. Esse espírito de solidariedade, aliado aos diferenciais da mão-de-obra livre, da diversidade de ofícios, da divisão do trabalho, bem como da abundância de água, contribuiu para a constituição da região num dos mais importantes pólos industriais do Sul do Brasil.

Á G U A S

As enchentes do rio Itajaí marcam profundamente a cultura regional e o seu processo de desenvolvimento. As enchentes são fenômenos naturais comuns ao Vale do Itajaí, devido ao formato da bacia hidrográfica e do seu relevo acentuado, que fazem com que o nível do rio Itajaíaçu suba muito após chuvas intensas. Esse fenômeno natural foi se transformando em desastre natural, à medida que mais e mais pessoas passaram a viver no Vale. Os primeiros registros de enchentes datam de 1852, apenas dois anos após a fundação da colônia alemã pelo químico Hermann Bruno Otto Blumenau. Existem relatos de enchentes feitos por navegadores que tentavam chegar nas minas de

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R A S T R O

prata, anteriores à chegada dos imigrantes europeus. Mas é certo que passaram a ocorrer com maior freqüência e intensidade na medida em que aumentava a ocupação do território e a exploração dos recursos naturais para suprir as necessidades da nova colônia e de seus colonizadores. De 1850 a 2006 foram registradas 69 enchentes, das quais 11 até 1900, 20 nos 50 anos subseqüentes e 38 entre 1951 e 2006. O modo com que a população das comunidades ribeirinhas de todo o Vale do Itajaí lidava com as enchentes foi-se modificando com a urbanização. A discussão e eventual adoção de medidas ocorriam sempre nos meses ou anos que sucediam as grandes enchentes, como as de 1911, 1927, 1948,

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1957, 1983 e 1984. O espírito de solidariedade e a ajuda mútua também despertavam com maior intensidade nos períodos de enchentes. Essas condições criaram uma cultura hídrica peculiar no Vale do Itajaí, na qual a água e os rios ora são vistos como motores do desenvolvimento e canais de ligação entre as comunidades, ora como causadores de tragédias que resultam em prejuízo para todos. O problema das enchentes, entretanto, é apenas a ponta do iceberg em que se aglutinam muitos outros problemas ambientais e sociais. O desmatamento da floresta Atlântica que cobria todo o vale, a destruição das matas ciliares ao longo dos rios para a instalação de pastagens

e culturas diversas; a poluição das águas por esgotos domésticos, efluentes industriais e agrotóxicos; a descaracterização da paisagem por aterros e ocupação urbana desordenada; as práticas agrícolas inadequadas; a ausência de arborização nas áreas urbanas; a ocupação irregular do solo gerando áreas de risco; e a invasão de Áreas de Preservação Permanentes (APPs) são as mais conhecidas.

A exploração dos recursos naturais e a ocupação desordenada no solo acarretaram diversos problemas ambientais no Vale do tajaí. A CERVO F OTO M ARZALL


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N C H E N T E

D E S P E R T A

E S P Í R I T O

Devido às perdas e aos prejuízos, os moradores do Vale do Itajaí aprenderam a conviver com as enchentes. O desespero de ver as águas invadirem as casas, a correria para salvar os bens materiais e ajudar as pessoas dos lugares mais baixos, também proporcionavam o reencontro de amigos e familiares. O sentimento de fragilidade e insignificância diante da fúria das águas despertava nas pessoas, a cada enchente, o espírito de solidariedade, a amizade e a ajuda mútua na recuperação dos prejuízos. Tornou-se tradição: com o baixar das águas todos se reúnem para limpar a cidade, recuperar os estragos e prejuízos, e renovar a alegria.

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S O L I D A R I E D A D E

As enchentes também possibilitaram um conhecimento maior a respeito da dinâmica dos rios, resultando no desenvolvimento técnico e científico. Elas também favoreceram o amadurecimento político e institucional para se lidar com o problema. Todos esses fatores constituem a cultura hídrica do Vale do Itajaí e o chamado capital social dessa região, fundamental para a compreensão e desenvolvimento da

Corrente de solidariedade para ajudar flagelados das enchentes de 1983 e 1984 envolveu todo o país. A RQUIVO

DO

IPA/FURB

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proposta de gestão integrada e participativa da água que surgiu com a criação do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí, em 1997. Essa cultura hídrica e esse capital social construído na convivência com as enchentes, possibilitaram a mobilização de forças sociais, políticas e econômicas, e a reunião de diversas instituições e pessoas na articulação necessária para a criação do Comitê do Itajaí. Foram essas A

B U S C A

P O R

S O L U Ç Õ E S

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A enchente de 1880, a maior de que se tem registro (quando o rio atingiu o nível de 17,10 metros em Blumenau), foi a primeira a ensejar ações dos governos da Província e do Império, que pr ovidenciar am a distrib uição de alimentos, a execução de obras de emergência e a liberação de recursos financeiros para socorro às vítimas. Na época, a bacia do Itajaí

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condições que credenciaram o Comitê do Itajaí e sua secretaria executiva - a Fundação Agência de Água do Vale do Itajaí - a elaborar e encaminhar o Projeto Piava à primeira consulta pública do Programa Petrobras Ambiental. É por isso que, ao relatar os resultados de dois anos do Projeto Piava, se faz necessário resgatar um pouco da história de luta contra as enchentes no Vale do Itajaí, destacando suas lições e ensinamentos. U S O

P O L Í T I C O

D A S

E N C H E N T E S

era ocupada somente por 3 municípios: Itajaí, Blumenau e Brusque. Em 1911 repetiu-se a catástrofe (16,90 metros em Blumenau). Aos relatos dramáticos seguiram-se discussões sobre soluções para o problema. Diversas foram as sugestões de obras de proteção para Blumenau, carecendo, porém, de estudos que lhes servissem de base.


A primeira obra sugerida foi a construção de um muro de arrimo nas margens do rio Itajaí-açu, no centro de Blumenau, que passou a ser pleito da população durante longos anos. Em 1923 ocorreu nova enchente que, embora não atingisse os níveis de 1880 e 1911, encontrou, de certo modo, uma população já habituada com o fenômeno. A cheia seguinte ocorreu em 1925. Já na enchente de novembro de 1927 um serviço de informações sobre os níveis dos rios funcionava satisfatoriamente. Após a enchente de 1948, os moradores da região central de Blumenau, nesta época já bastante urbanizada, cobraram novamente a construção do muro de arrimo, mas nada foi feito. O debate sobre o muro de arrimo voltou com força após a enchente de agosto de 1957, por conta dos desbarrancamentos que ocorreram nas margens do rio ao longo da rua XV de Novembro. A obra finalmente foi levada a cabo na década de 1960 e surgiu então a Avenida Beira Rio.

P ÁGINA

AO LADO

Enchente de 1927, porto de Blumenau onde hoje fica a Praça Hercílio Luz (e o Museu da Cerveja). A RQUIVO

DO

IPA/FURB

A CIMA

Enchente de 1928, centro de Blumenau. Aos fundos, Casa Husadel e antiga igreja católica. A RQUIVO

DO

IPA/FURB

Muro de arrimo que deu origem à Avenida Beira Rio foi a primeira grande obra para conter as cheias no centro de Blumenau. ARQUIVO H ISTÓRICO J OSÉ F ERREIRA

DA

S ILVA/F UND. C ULTURAL

DE

BLUMENAU

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A gravidade da enchente de 1927 ensejou ainda outras preocupações. Além do serviço de informações, a comunidade exigia medidas de controle e gerenciamento das enchentes. O assunto se intensificou com a proposta de criação de uma S/A Contra Enchentes, feita pelo então cônsul da Alemanha em Blumenau, o engenheiro Otto Rohkohl, publicada em artigo no Blumenauer Zeitung, no dia 17 de outubro de 1929. Dizia ele: “É inútil esperar por uma solução por parte dos governos estadual ou federal. Tal como em tantos outros casos é necessário começarmos pela auto-ajuda. A título de sugestão, a execução financeira é possível do seguinte modo. Cria-se uma sociedade anônima – S/A Contra

Silésia, Alemanha, e faleceu em 4 de agosto de 1969, em Blumenau. Casou-se com Edith e teve duas filhas: Renata Luiza e Else Sigrid. Era engenheiro e foi o técnico responsável pela construção de trecho da Estrada de Ferro Santa Catarina, especificamente da Ponte de Ferro que liga a Ponta Aguda ao centro de Blumenau, batizada de Ponte Aldo Pereira de Andrade. Foi também cônsul da Alemanha em Blumenau e em 1929 lançou a proposta de criação de uma “S/A Contra Cheias”, que seria uma instituição regional para gerenciar o problema das cheias. Em sua homenagem, o Comitê do Itajaí criou o Prêmio Otto Rohkohl de

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ARQUIVO H ISTÓRICO J OSÉ F ERREIRA

DA

S ILVA/F UND . CULTURAL

DE

B LUMENAU

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Enchentes – com um capital de cerca de 100 contos. Devem ser acionistas dessa sociedade: a empresa Força e Luz, a Caixa Agrícola de Blumenau, a Câmara Municipal, a Associação Comercial, e tanto empresas como indivíduos que sempre demonstraram interesse pelas questões da coletividade”. A proposta de se criar uma instituição regional para o gerenciamento das cheias foi amplamente debatida, mas somente 72 anos após sua formulação por Otto Rohkohl esta idéia encontrou terreno fértil e resultou na criação do Comitê do Itajaí, em 1997, como um fórum regional para a gestão integrada, participativa e descentralizada dos recursos hídricos, e da sua Agência de Água, em 2001.

Otto Rohkohl nasceu em janeiro de 1881, em Rackschuetz,

Conservação da Água.

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A R R A G E N S

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C O N S T R U Í D A S

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C O N T E R

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Á G U A S

A etapa seguinte na luta por medidas de controle de cheias teve inicio em 1957, quando ocorreram quatro enchentes. Nesse ano, o presidente da República, Juscelino Kubitschek, baixou o decreto nº 42.423, nomeando um grupo de trabalho para estudar a situação econômica da bacia hidrográfica do rio Itajaí e propor as medidas necessárias ao seu desenvolvimento e à proteção contra cheias. Os estudos de usos múltiplos dos recursos hídricos resultaram, preliminarmente, na proposta de construção de sete barragens. Em 1961, novas enchentes assolaram o Vale do Itajaí, causando mortes e muitas perdas materiais, o que mobilizou novamente a opinião pública na cobrança de solução. A retificação do rio Itajaí Mirim foi iniciada em 1963, a barragem Oeste em 1964 e a barragem Sul em 1966. A conclusão das obras levou muito mais tempo do que fora inicialmente previsto. Várias enchentes ocorridas no período voltaram a mobilizar a opinião pública e a classe política em torno das obras. A barragem Oeste foi concluída em 1973, com capacidade de reter 110 milhões de metros cúbicos (m3) de água, e em 1975 a barragem Sul, com capacidade de reter 85 milhões de m3 de água. As obras da barragem Norte, iniciadas em

De cima para baixo, vistas das barragens Oeste (em Taió), Sul (Ituporanga) e Norte (José Boiteux), concluídas respectivamente em 1973, 1975 e 1992. A RQUIVO

DO

IPA/FURB

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1976, tiveram muitos obstáculos, mas foram concluídas, em 1992, graças a uma significativa mobilização popular. Essa terceira barragem tem capacidade de armazenamento de 357 milhões de m3 de água. Durante a construção das barragens surgiram novos problemas. Nas comunidades indígenas, cuja

reserva seria temporariamente tomada pelo lago, o empreendimento contribuiu fortemente para a degradação social. A possibilidade de “inundação” da reserva indígena também gerou uma imensa especulação no setor madeireiro e os problemas causados às comunidades indígenas se arrastam até os dias atuais.


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A enchente de 1983 assumiu dimensão avassaladora. As águas subiram ao nível de 15,34 metros em Blumenau e mantiveram-se em nível elevado durante dez dias. No Vale do Itajaí, mais de 150 mil pessoas foram desalojadas de suas casas e os prejuízos atingiram a soma de U$ 1,1 bilhão. A experiência acumulada no convívio com as enchentes pouco serviu para amenizar a tragédia.

Equipe do Projeto Crise em 1985, Jussara Cabral Cruz, Geraldo Silveira, Cláudio Loesch, Marcel Siebert, André Silveira, Hélio Santos Silva, Osiris Turnes e Beate Frank. A RQUIVO P ÁGINA

DO

IPA/FURB

AO LADO

Enchente de 1983 pegou a população de surpresa e foi a mais trágica da história do Vale do Itajaí. Vista da antiga Casa Moellmann no centro de Blumenau. A RQUIVO

DO

IPA/FURB

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Em 1984, uma nova enchente atingiu o nível de 15,46 metros, em Blumenau, e agravou ainda mais a situação crítica que vivia o Vale do Itajaí. Após as inundações catastróficas de 1983 e 1984, surgiram novas iniciativas que buscavam “resolver” o problema, como o Projeto Nova Blumenau, a Secretaria Extraordinária da Reconstrução do Governo do Estado e seu Plano Global e Integrado de Defesa contra as Enchentes (Plade ou Projeto JICA), a campanha da Associação Comercial e Industrial de Blumena (ACIB): “Enchentes – a solução não cai do céu”, entre outras iniciativas. As soluções apresentadas tinham como base obras estruturais de grande impacto, que passaram a ser questionadas, ou então apenas mobilização ou ainda melhorias locais. Todas essas iniciativas careciam de uma visão integrada da bacia hidrográfica.

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No final de 1983, a Universidade Regional de Blumenau (FURB) criou o “Projeto Crise”, com o objetivo de desenvolver as chamadas medidas não-estruturais para proteção de enchentes, englobando monitoração do tempo, monitoração de níveis dos rios, modelos de previsão hidrológica e cartas de risco de inundação. Uma rede telemétrica de cinco estações de chuva e nível foi instalada em 1984 pelo então Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (Dnaee) e as tarefas de monitoração e previsão realizadas com os dados dessa rede foram repassadas ao Projeto Crise. O Projeto Crise foi sucedido pelo Instituto de Pesquisas Ambientais da FURB (IPA) que até hoje

presta informações meteorológicas, pluviométricas e linimétricas (níveis dos rios), por meio do Centro de Operações do Sistema de Alerta da bacia do Itajaí (Ceops). Com a extinção do Dnaee e a criação da Agência Nacional de Águas (ANA), em 2001, esta assumiu a responsabilidade pela manutenção da rede, e repassou ao Estado as tarefas operativas inerentes. Mas só em 2006 foi firmada a cooperação para o gerenciamento integrado e a manutenção do Sistema de Alerta e do Sistema de Contenção de Cheias (barragens), estabelecendo atribuições e competências às instituições envolvidas. Nesta oportunidade foi também criada a Câmara Técnica de Cheias do Comitê do Itajaí.

Em primeiro de agosto de 1984 é inaugurado o Centro de Operações do Sistema de Alerta, na FURB, na presença do reitor Arlindo Bernart e do Secretário Extraordinário da Reconstrução Antônio Carlos Konder Reis.

João Paulo Kleinubing, Milton Hobus e Adilson Schmitt, prefeitos de Blumenau, Rio do Sul e Gaspar, assinam o termo de cooperação técnica para o gerenciamento integrado de prevenção e controle de cheias, organizado pela assessora jurídica do Comitê do Itajaí, Noemia Bohn, professora da FURB, em 2006.

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A gestão oficial do controle das enchentes sempre foi inercial e aleatória, dependendo da disposição momentânea dos governos. Essa prática começou a ser superada com o surgimento da proposta de gestão integrada e participativa dos recursos hídricos, introduzida no Brasil pela da Lei Federal nº 9433/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. No Vale do Itajaí a idéia de gestão integrada ganhou

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força com a decisão de criar o Comitê do Itajaí, em março de 1996. A criação do Comitê do Itajaí, com o devido suporte legal, marcou uma nova fase na abordagem do problema das enchentes e no desenvolvimento de uma concepção mais abrangente de gestão integrada de recursos hídricos. A prevenção e o controle de enchentes são suas metas, assim como o gerenciamento de todos os usos da água da bacia hidrográfica.

F OTO J ULIANO A LBANO

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A idéia fundamental da gestão integrada de recursos hídricos é que os diferentes usos da água são interdependentes e precisam ser gerenciados de forma compartilhada. Consiste num processo sistêmico de planejamento e controle dos usos da água, de acordo com objetivos sociais, econômicos e ambientais, que buscam o desenvolvimento sustentável. Como exemplo da interdependência entre os

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diversos usos da água, podemos dizer que a grande demanda de água para irrigação na agricultura significa menos água doce para o abastecimento humano ou para usos industriais. Ou que a poluição das águas por efluentes domésticos e industriais poluem os rios e ameaça a vida nos diversos ecossistemas. Por outro lado, a decisão sobre a quantidade de água que se deve deixar em um rio para proteger os ecossistemas


pode afetar a quantidade de água necessária para se cultivar. Por isso, para se promover o uso adequado da água em todas as atividades humanas é necessário que se leve em consideração todos os usos de forma integrada e todos os usuários de forma coletiva. E para que haja um espaço apropriado para o diálogo entre os diversos usuários da água é que foi necessária a

construção de novas estruturas de gestão, como o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí. O Comitê do Itajaí é o colegiado responsável pela promoção da gestão integrada e participativa da água na bacia hidrográfica. Ele é um fórum deliberativo, um “parlamento das águas”, onde são tomadas as decisões sobre os usos da água na bacia do Itajaí.

Câmara Técnica de Planejamento inicia busca de soluções por meio de grupos temáticos, em outubro de 2006. A CIMA ,

DA ESQUERDA PARA A DIREITA

Tratamento de esgoto de pequena comunidade, tratamento de efluente industrial, rafting, criação de animais, serviços portuários, piscicultura, abastecimento público e fábrica de papel. AO

CENTRO

Semana da Água difunde a importância da proteção da água. P ÁGINA

AO LADO

Maria Izabel reeleita presidente do Comitê do Itajaí em 2006, junto com Jacir Pamplona, vice-presidente. A RQUIVO

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O caminho das águas A bacia hidrográfica do Itajaí

As águas do rio Itajaí - que nasce em gotas cristalinas nas escarpas da Serra Geral e se transforma num gigante turvo ao caminho do mar drenam um território de aproximadamente 15 mil quilômetros quadrados, que é chamado de bacia hidrográfica do rio Itajaí. Essas águas correm ligeiras pelo leito de riachos, caem como véus em formosas cachoeiras, cortam morros e seguem turbulentas por ribeirões e rios. As características físicas e naturais da bacia do Itajaí começaram a ser moldadas há mais de 65 milhões de anos, a partir de movimentos tectônicos e derrames basálticos que deram origem às formações da Serra Geral. Com o passar do tempo, a umidade vinda do litoral possibilitou o surgimento da vegetação, criando um clima mais úmido. A umidade sofria evaporação,

gerando as chuvas que contribuíram para a formação dos rios. As águas foram desgastando o relevo, fazendo desmoronar rochas, receberam a contribuição de águas subterrâneas e formaram um caminho de muitas vias que hoje se constitui na densa trama hídrica da bacia hidrográfica do rio Itajaí. A bacia do Itajaí tem uma densidade hídrica muito alta. Por aqui, se costuma dizer que ao pular um ribeirão você cai dentro de outro, tamanha a quantidade de nascentes, riachos, ribeirões e rios.

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A bacia do rio Itajaí localiza-se entre as unidades fisiográficas do litoral e encostas da Serra Geral, na região hidrográfica da vertente Atlântica, entre as coordenadas 26°27' e 27°53' de latitude Sul e 48°38' e 50°29' de longitude Oeste. É a maior bacia da vertente atlântica no território catarinense e seus divisores de água encontram-se, a Oeste nas serras Geral e dos Espigões; ao Sul nas serras da Boa Vista, dos Faxinais e de Tijucas; e ao Norte na Serra da Moema. O maior curso d’água da bacia é o rio Itajaí-açu, que percorre 300 quilômetros desde suas nascentes até à foz no oceano Atlântico, localizada entre as cidades de Itajaí e Navegantes.

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Bacia hidrográfica é uma área geológica, um

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território delimitado por topos de morros e serras, que naturalmente drena a água para um rio, desde as nascentes até a foz, onde desemboca num rio principal ou no mar. O contorno da bacia é formado por uma linha imaginária que une os pontos mais altos do relevo. Este divisor de águas separa as águas que escoam para um rio das que escoam para os rios vizinhos. O divisor é o limite entre as bacias. Para se entender melhor a noção de bacia hidrográfica pode-se compará-la ao telhado de uma casa, em que a cumeeira é o divisor de águas, uma parte do telhado é a bacia propriamente dita e a calha de chuva é o rio principal.

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A bacia do Itajaí é formada por sete sub-bacias hidrográficas, que são as bacias dos principais tributários do rio Itajaí: os rios Itajaí do Oeste e do Sul, que se encontram no município de Rio do Sul formando o rio Itajaí-açu; o rio Itajaí do Norte, que desemboca no rio Itajaí-açu em Ibirama; o rio Benedito, que desemboca no rio Itajaí-açu em Indaial; o rio Luiz Alves, que desemboca no rio Itajaí-açu em Ilhota; e o rio Itajaí Mirim, que alcança o rio Itajaí-açu em Itajaí. Após receber as águas do rio Itajaí Mirim, o rio passa a chamar-se simplesmente de Itajaí, até desaguar no Oceano

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Atlântico, entre os municípios de Itajaí e Navegantes. Assim, a sétima sub-bacia, a do Itajaíaçu, se estende de Rio do Sul até Itajaí. As áreas dessas sub-bacias são: • bacia do rio Itajaí do Sul, com 2.309 km²; • bacia do rio Itajaí do Oeste, com 2.928 km². • bacia do rio Itajaí do Norte ou Hercílio, com 3.315 km²; • bacia do rio Benedito, com 1.398 km²; • bacia do rio Luiz Alves, com 583 km²; • bacia do rio Itajaí Mirim, com 1.673 km²; • bacia do rio Itajaí-açu, com 2.794 km².

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As águas que formam o grande rio Itajaí brotam por todas as partes. A nascente mais distante da foz está situada no município de Papanduva, a 1100 metros de altitude, na Serra Geral. É a nascente do Rio Bonito, tributário do rio Itajaí do Norte, e suas águas percorrem

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334 quilômetros até desaguar no oceano Atlântico. Acompanhe as principais informações sobre as nascentes e sub-bacias no mapa abaixo e percorra o caminho das águas imaginando-se dentro de um barquinho de papel solto na nascente e navegando até atingir o mar.

Foto vencedora do Concurso “O verde da minha terra”, de 2006. A CERVO

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A bacia do Itajaí possui aproximadamente 15.000 km² de área (16,15% do território catarinense e 0,6% do território nacional), abrangendo 53 municípios, dos quais 47 têm sua sede dentro da bacia. No conjunto desses municípios vivem aproximadamente um milhão de habitantes. De acordo com o censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrado em agosto de 2000, a população da bacia do Itajaí era de 995.727 habitantes, representando 18,67% da população de Santa Catarina, que neste censo era de 5.333.284. A paisagem da bacia do Itajaí é dividida em três compartimentos naturais, que também influenciam a cultura e a economia regional: o Alto Vale, o Médio Vale e o Baixo Vale. O Alto Vale é caracterizado geomorfologicamente por patamares que permitem a agricultura semi-intensiva em grandes extensões. O Médio Vale tem relevo fortemente ondulado e por isso pouco propício à agricultura; a região da foz apresenta extensas áreas de várzeas e planícies, propícias à lavoura de arroz.

O município de Alfredo Wagner, no Alto Vale, abriga as nascentes do Itajaí do Sul. F OTO R ENATO R IZZARO

Em Apiúna, no Médio Vale, por causa do terreno montanhoso, muitas propriedades têm grandes áreas de florestas. F OTO J ANDYR N ASCIMENTO

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Planície da foz do rio Itajaí, tendo em primeiro plano a desembocadura do rio Luis Alves. A RQUIVO

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Dos 47 municípios localizados integralmente na bacia, 29 estão situados no Alto Vale e, destes, 28 integram a Associação dos Municípios do Alto Vale (Amavi); 14 integram a Associação dos Municípios do Médio Vale (Ammvi); e quatro estão situados no Baixo Vale e integram a Associação da Foz do Rio Itajaí (Amfri). Além desses, outros seis municípios têm parte do seu território localizado na bacia hidrográfica do rio Itajaí. Em 2003, o Governo do Estado de Santa Catarina implementou uma ampla reforma administrativa, criando as secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs), das quais atualmente oito abrangem os municípios da bacia do Itajaí: são as SDRs de Itajaí, de Brusque, de Blumenau, de Timbó, de Ibirama, de Rio do Sul, Taió e de Ituporanga. O mapa abaixo mostra os territórios das associações e das SDRs.

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Para compreensão da bacia hidrográfica como unidade de gestão, devemos considerar diversos componentes da realidade dessa bacia. A base é o sistema natural, a área de drenagem da bacia e todos os seus atributos naturais: relevo, ecossistemas e recursos naturais, principalmente os hídricos. É nessa área que ocorre a ocupação humana e o desenvolvimento econômico, responsável por uma gama de problemas

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ambientais decorrentes do uso dos recursos. Para regular o uso dos recursos naturais, bem como as atividades sociais e econômicas, a sociedade cria políticas e instituições diversas. Constitui-se assim o sistema político-institucional. Todos esses componentes precisam ser conhecidos e levados em conta para decidir como fazer o melhor uso possível da água, ou seja, a gestão integrada de recursos hídricos.

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O movimento das águas A construção de uma política sustentável de proteção da água

As águas turbulentas do rio Itajaí, que irrigaram a formação de uma cultura hídrica peculiar, baseada na convivência com as enchentes e na solidariedade das águas, também propiciaram movimentos de renovação de antigos conceitos, que convergem para uma visão mais ampla e integrada sobre a bacia hidrográfica, expondo conexões até então ocultas no caminho das águas. Ao sabor das correntes, os ventos agora apontam para novas direções. Não importa muito a sua velocidade, mas sim o controle firme e forte, desempenhado de forma participativa, sobre o leme que conduzirá essa grande bacia para o caminho da sustentabilidade. O movimento de cidadania pela água no Vale do Itajaí, que foi institucionalizado com a criação do Comitê do Itajaí, em 1997, e ganhou força com a promoção da Semana da Água, a partir de 1999, se espalhou por toda a bacia hidrográfica do rio Itajaí com as ações do Projeto Piava, a partir de 2005. A criação do Comitê do Itajaí como um fórum democrático para a promoção da gestão integrada e participativa da água do Vale do Itajaí e as ações do Projeto Piava, que impulsionaram com mais energia a construção de uma política sustentável de proteção da água, representam o embrião de uma nova

forma de se relacionar e de conviver com a água, em que todos os usos são considerados de forma integrada e a responsabilidade por sua gestão é compartilhada pelos usuários, pela população da bacia e pelo poder público. A piava é um peixe pequeno e frágil. O desafio que a sobrevivência dela representa exige a união de todos que compartilham as águas da bacia do rio Itajaí. A união faz a força, e foi assim, com a soma das qualidades e capacidades de muitas pessoas que o Projeto Piava foi proposto pelo Comitê do Itajaí e implementado com recursos do Programa Petrobras Ambiental.

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O Projeto Piava surgiu como uma iniciativa do Comitê do Itajaí, promovido com o intuito de implementar uma política de proteção da água nos municípios do Vale do Itajaí. Para este fim foram desenvolvidas ações educativas e de mobilização social, ações de reversão da degradação física das nascentes e dos pequenos rios. Ao mesmo tempo estimulou-se o processo participativo de gestão integrada da água na bacia hidrográfica. O Projeto Piava foi elaborado e implementado por diversas pessoas e instituições reunidas pelo Comitê do Itajaí. Passou a integrar o Programa Petrobras Ambiental ao ser selecionado na primeira consulta pública promovida pela Petrobras, em 2004. Foi aprovado entre 1680 inscritos de todo o Brasil. Foi administrado pela Fundação Agência de Água do Vale do Itajaí (Faavi), órgão executivo do Comitê do Itajaí, e conduzido de forma colegiada pelas organizações parceiras, por meio de uma Câmara Técnica. A FURB exerceu a função

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de coordenação geral do Projeto Piava, por meio do IPA, contribuindo com o conhecimento técnico e científico nas questões relativas ao gerenciamento da bacia hidrográfica. Nos últimos dois anos, de maio de 2005 a maio de 2007, a Petrobras investiu R$ 3 milhões nas ações desenvolvidas pelo Projeto Piava no Vale do Itajaí, com uma contrapartida de R$ 569.882,56 da FURB e outras instituições parceiras. Nesse período foram desenvolvidas atividades de capacitação e formação de multiplicadores de educação ambiental; de fortalecimento da capacidade política dos conselhos municipais de meio ambiente; de fomento e execução de projetos locais de recuperação e preservação de nascentes e matas ciliares; de produção de mudas de espécies nativas adaptadas aos diversos ambientes fluviais da bacia; a organização e operacionalização do Sistema de Informações da Bacia do Itajaí (SIBI); e o aparelhamento institucional da Faavi.


As estratégias adotadas para se atingir os objetivos propostos foram o envolvimento das organizações públicas e privadas atuantes na bacia, a participação das comunidades e dos proprietários rurais e o fortalecimento da ação municipal. Os principais resultados são apresentados neste capítulo. Em síntese, eles refletem o fortalecimento das ações de educação ambiental no Vale do Itajaí, a discussão de diretrizes de proteção da água em todos os municípios e projetos locais bemsucedidos de recuperação da mata ciliar. Dessa forma, o Projeto Piava fortaleceu a atuação em rede e promoveu a integração das diversas pessoas e instituições envolvidas. A noção de rede de atores para a gestão da bacia hidrográfica vem P

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Três diferentes grupos de atores sociais tiveram envolvimento destacado nas ações do Projeto Piava. Os professores, com sua função educativa e de mobilização social; os conselhos municipais de meio ambiente (CMMAs), com função política nos municípios; e os grupos de trabalho municipal (GTMs), que foram criados para executar as ações locais de proteção de nascentes e recuperação da mata ciliar. A educação ambiental apóia as outras duas atividades porque educadores/professores podem integrar o CMMA e/ou o GTM. Da mesma forma, o fortalecimento dos CMMAs serve de apoio aos projetos locais de recuperação da mata ciliar e vice-versa. Com o Ação de recuperação da mata ciliar em Mirim Doce, 2002. A RQUIVO

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sendo utilizada desde a criação do Comitê do Itajaí, tendo recebido um grande impulso a partir da criação da Semana da Água, em 1999, e da Rede de Educação Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí (Reabri), no mesmo ano. O Projeto Piava envolveu, diretamente, cerca de 2.600 pessoas, e atingiu indiretamente boa parte da população do Vale do Itajaí. O “cardume de piavas” cresce continuamente num grande movimento para reunir cada vez mais pessoas e organizações públicas e privadas em torno de ações de proteção das fontes de água e matas ciliares. Só desta for ma, no futuro, serão encontrados novos cardumes de piavas povoando os rios da bacia do Itajaí. D I V E R S O S

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envolvimento destes diversos grupos de atores ampliou-se a oportunidade de tornar sustentáveis as ações de proteção e recuperação dos cursos da água. Para organizar o fluxo de trabalho e informações de todas essas pessoas e instituições, criou-se uma articulação específica, como detalhado no quadro na página seguinte.

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ARTICULAÇÃO

O UTRAS

INSTITUCIONAL DO

P R O J E TO P I AVA

ORGANIZAÇÕES

Associação Catarinense de Preservação da Natureza (Acaprena) Centro de Motivação Ecológica e Alternativas Rurais (Cemear) Fundação Praia Vermelha e Conservação da Natureza (Pra ver Natureza) Instituto Esquilo Verde (IEVE) Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri) Secretarias de Estado do Desenvolvimento Regional (SDRs do Vale do Itajaí) e suas Gerências de Educação e Inovação (Gereis)

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PIAVA

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SÍMBOLO

DE

RESISTÊNCIA

PELA

PROTEÇÃO

DA

ÁGUA

Com a multiplicação das ações do Projeto Piava,

organismos, mortos ou contaminados por

a piava (Astynax fasciatus) se tornou símbolo de

agrotóxicos ou produtos químicos da indústria.

um grande movimento de resistência pela

Na cadeia alimentar a piava é considerada uma

proteção da água no Vale do Itajaí. Outrora

espécie de base ou forrageira, ou seja, serve de

abundante nos riachos da região, hoje quase não

alimentos para outros peixes, serpentes, aves e

é mais encontrada. Este pequeno peixe empresta

m a m í f e r o s . Po r i s s o , a d i m i n u i ç ã o d a s u a

seu nome ao Projeto Piava por ser uma espécie

população acarreta grandes alterações nas outras

bio-indicadora da qualidade da água e das boas

espécies de animais, que dependem das piavas

condições de um curso d’água.

como seu alimento.

Na bacia do Itajaí já foram encontradas nove

Piava é o nome de fantasia do projeto e sua

espécies de piavas. É um peixe muito sensível aos

principal proposta é reunir um “cardume” de

poluentes, pois capta partículas pequenas,

pessoas

incluindo larvas, insetos e outros micro-

sustentável de uso da água no Vale do Itajaí.

na

construção

de

uma

política


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Os números do Projeto Piava ilustram bem a sua dimensão, a abrangência e a capilaridade de suas ações. Nestes dois anos foram plantadas quase 600 mil mudas de espécies nativas em 1627 áreas, localizadas ao redor de 938 nascentes e/ou nas margens de pequenos rios, somando 560 hectares de área plantada. As mudas para a recuperação dessas áreas vieram de 11 viveiros, montados ou reestruturados pelo Projeto Piava. As equipes destes viveiros foram capacitadas na coleta de sementes, marcação de matrizes e na produção de mudas de espécies nativas da região, o que garantiu a qualidade das mudas e a formação de um banco de sementes diversificado e com boa qualidade genética. O processo de reversão da degradação dos pequenos rios exigiu uma ação integrada. Foi necessário promover articulações entre os proprietários de áreas rurais e urbanas ribeirinhas, os municípios e suas organizações, integrando-as aos grupos de trabalho municipal (GTMs). Os reflexos dessas ações desencadeadas pelo Projeto Piava estão mudando a paisagem dos pequenos rios da bacia. Basta verificar os números de áreas em recuperação ou visitar áreas em que houve plantio para constatar que os pequenos rios da bacia estão mais verdes.

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Quase 600 mil mudas de espécies nativas foram plantadas perto de nascentes e ribeirões. A CERVO

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Para a coordenadora do subprojeto de Recuperação da Mata Ciliar, a bióloga Daisy da Silva Santos, além desses números representarem uma melhoria significativa nas condições ambientais das áreas em recuperação, o mais importante foi envolver as pessoas e conquistar a adesão, principalmente dos agricultores, para as ações de proteção da água. “Conseguimos mostrar que é possível sim fazer recuperação de nascentes e matas ciliares com a adesão voluntária dos proprietários dessas áreas e com o envolvimento das prefeituras, de ONGs, sindicatos e associações de agricultores”, observa Daisy.


DADOS

SOBRE

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pessoas capacitadas para a recuperação da mata ciliar Grupos de Trabalho Municipal (GTMs) formados pessoas capacitadas em coleta de sementes pessoas capacitadas em produção de mudas árvores matrizes marcadas tipos de sementes diferentes formam o banco de sementes

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1.627 560 938 588.000 15

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projetos de recuperação da mata ciliar aprovados hectares de área de mata ciliar em recuperação nascentes protegidas e em recuperação mudas distribuídas e plantadas municípios ultrapassaram a meta de 18 hectares de área recuperada

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As mudas de espécies nativas que estão recompondo as áreas de matas ciliares e protegendo as nascentes em todos os municípios da bacia do Itajaí foram produzidas em 11 viveiros, que se transformaram em parceiros do Projeto Piava e contribuíram para mudar para melhor a paisagem das matas ciliares do Vale do Itajaí nos últimos dois anos. Organizações a que pertencem: sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Taió e de Vidal Ramos; Associação Comunitária Indígena Xoclengue, em José Boiteux; Associação de Preservação do Meio

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Ambiente do Alto Vale (Apremavi), em Atalanta; Associação de Proteção Ambiental Mão d’Água, em Ituporanga; Associação José Valentim Cardoso (Ajovacar), em Vitor Meirelles; prefeituras de Blumenau, Timbó, Ibirama e José Boiteux; Departamento de Engenharia Florestal da FURB, em Gaspar. Os viveiros foram escolhidos em diferentes municípios a fim de permitir que se produzissem as espécies de acordo com as condições ecológicas e geográficas das áreas a serem recuperadas nos mais diferentes recônditos da


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bacia.Isso é necessário porque as matas naturais tem composição distinta nos diferentes lugares. O Projeto Piava possibilitou a instalação de uma estrutura adequada para a produção de mudas em 60% desses viveiros. O viveiro da Associação Comunitária Indígena Xoclengue foi criado pelo convênio com o Projeto Piava e integrou a comunidade indígena ao projeto. Desta forma, o município de José Boiteux acabou contribuindo na produção de mudas com dois viveiros.

Além de possibilitar a operacionalização dos viveiros, com a melhoria da infra-estrutura, o Pr ojeto Piava propiciou aos viveiristas capacitação técnica em coleta de sementes e marcação de árvores matrizes, e na produção correta de mudas de espécies nativas, na quantidade, qualidade e variedade necessárias para atender as demandas da recuperação de matas ciliares.


O grande diferencial do trabalho desenvolvido pelos viveiros associados ao Projeto Piava foi o de oferecer mudas nativas para os agricultores de todo o Vale do Itajaí, estimulando-os a reflorestarem suas propriedades com nativas e não mais com espécies exóticas. Na opinião da maioria dos viveiristas, a demanda pelas mudas de nativas cresceu significativamente entre agricultores e proprietários de terras depois do surgimento do Projeto Piava. Capacitar esses viveiros a produzir nativas mudou inclusive a atitude de alguns viveiristas em relação às nativas. Um exemplo é o senhor Baturité Lyra, que auxilia o filho Leandro nas atividades do viveiro do Sindicato dos Produtores Rurais de Vidal Ramos. Ele conta que não gostava de plantar algumas das espécies e que com o Projeto Piava passou a se interessar em cultivar e coletar sementes de espécies nativas. “De vez em quando vem alguém aqui e diz que em tal lugar tem semente pra coletar, então vou lá e busco. Às vezes eles trazem a semente prá gente, então muita coisa mudou no meu modo de pensar e de agir”, garante ele e conclui “Eu detestava tirar um pedaço do pasto pra plantar árvore e, agora, resolvemos cercar um pedaço e plantar. Já tem árvore grande e a gente notou que na nascente, onde não havia mais água, agora está brotando novamente”.

Projeto Piava capacitou viveiristas para produção de mudas de espécies nativas, inlcusive com técnicas de arvorismo para coletas de sementes. A CERVO

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O subprojeto de Educação Ambiental atuou no desenvolvimento de habilidades e competências para o uso sustentável da água. Para este fim foram capacitados multiplicadores de educação ambiental formal e não formal para implementação de projetos de educação ambiental continuados nas escolas e localidades da bacia do Itajaí. As atividades de Educação Ambiental tiveram início com a formação de 42 educadores num curso sobre conservação e uso sustentável da água. Estes educadores atuaram posteriormente como multiplicadores e foram responsáveis pela capacitação de 420 educadores, que elaboraram e desenvolveram 231 projetos de educação ambiental, envolvendo 150 escolas em 50 municípios da bacia. Para servir de material didático para este processo foram produzidas 1000 unidades do caderno do educador e 20 mil unidades de cartilhas, todas contextualizadas na realidade do Vale do Itajaí e voltadas para o público dos três primeiros estágios da educação formal: infantil, básico e fundamental. . A coordenadora de Educação Ambiental do

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Projeto Piava, a cientista social Katiuscia Wilhelm Kangerski explica que a ação das “piavinhas educadoras”, como carinhosamente passaram a ser conhecidas as educadoras e os educadores que atuaram como multiplicadores, despertou nos professores e alunos uma identificação e uma sensação de pertencimento ao lugar em que vivem, e possibilitou a compreensão sobre as várias dimensões (natural, sócio-econômica, institucional) e escalas (comunidade, município, micro-bacia, sub-bacia) de uma bacia hidrográfica. “A valorização da ação local e sua integração às escalas municipal, das sub-bacias, das regiões administrativas (SDRs), e da bacia como um todo, levou empoderamento para os educadores e atores sociais em suas comunidades”, salientou Katiuscia. Os programas de educação ambiental desenvolvidos nas escolas e comunidades integraram as mais diferentes atividades: 69 ações de plantio de mudas; 139 saídas a campo; 59 confecções de maquetes das bacias; 130 palestras; e 196 atividades com o uso do material didático do Projeto Piava.


Educação ambiental no Projeto Piava é sinônimo de capacitar professores, de envolver crianças em atividades educativas e em práticas de recuperação. As fotos mostram a confecção de maquete e saída de campo de professores em Blumenau, o trabalho em sala de aula em Aurora, e a ação de recuperação com alunos em Rio do Oeste e Taió. A CERVO

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educadores formados em “Conservação e uso sustentável da água” (especialização com 120h/aula)

420

educadores capacitados para a condução de programas de educação ambiental

231

projetos de educação ambiental executados, envolvendo 150 escolas de 50 municípios

1.000 20.000

cadernos do educador

unidades de cartilhas para educação formal: infantil, básica e fundamental

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ações de plantio de mudas envolvendo alunos de escolas

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saídas a campo com professores e alunos

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confecções de maquetes das microbacias

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palestras

196

atividades usaram o material didático distribuído


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O Projeto Piava também atuou no fortalecimento da capacidade dos municípios de fazerem gestão ambiental, com a idéia de estimular a construção de políticas públicas de proteção da água no âmbito local e sua integração ao processo de gestão da bacia hidrográfica. Estas ações foram promovidas pelo subprojeto de Políticas Ambientais Municipais, que atuou junto aos conselhos municipais de meio ambiente (CMMAs) e estruturas administrativas nas prefeituras, como secretarias, fundações ou assessorias relacionadas à gestão do meio ambiente. Sabe-se que a capacidade de gestão ambiental efetiva depende da articulação dos atores sociais em cada município e desses com os atores regionais. Portanto foi isso que o Projeto Piava procurou fazer: articular os CMMAs com o Comitê de Bacia Hidrográfica, com vistas à construção de uma gestão integrada de recursos naturais. As ações buscaram mobilizar e instrumentar os atores municipais para a gestão local e sua inserção na gestão da bacia hidrográfica.

Organização do Conselho Municipal do Meio Ambiente de Itajaí. A CERVO

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A análise da situação da gestão ambiental municipal apontou que, antes do Projeto Piava, apenas seis municípios possuíam um CMMA deliberativo, com paridade na composição entre poder público e a sociedade civil, exclusividade em meio ambiente e habilitado ao licenciamento ambiental. Para mudar essa realidade foram promovidos oito encontros regionais de inovação ambiental municipal, com a participação de 292 pessoas; 37 encontros de assessoria aos conselhos de meio ambiente, com a presença de 180 conselheiros e gestores ambientais; além da produção e distribuição de 1000 exemplares do Guia Prático para a Atuação de um CMMA. Pode-se dizer que a noção de gestão ambiental municipal foi amplamente disseminada, que os CMMAs estão em parte mobilizados e integrados à construção do plano de recursos hídricos da bacia do Itajaí. Sua principal motivação são as questões prioritárias do esgoto e das áreas de proteção permanente, mas ainda sem diretrizes aprovadas.


AÇÕES

PA R A O D E S E N V O LV I M E N T O D E

POLÍTICAS AMBIENTAIS M UNICIPAIS

50 municípios foram pesquisados para o diagnóstico da gestão ambiental municipal

292 pessoas participaram dos encontros de inovação ambiental municipal

180 conselheiros e gestores ambientais participaram dos encontros de assessoria

1.000 guias do gestor ambiental distribuídos 1.500 exemplares do documento de síntese da fase A do plano de bacia distribuídos

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Aumento de

7 para 24 conselhos municipais de meio ambiente qualificados

Redução de

13 para 2 municípios sem conselho municipal de meio ambiente

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8 para 3 conselhos municipais de meio ambiente não-qualificados

Redução de

17 para 16 conselhos inativos


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O Sistema de Informações da Bacia do Itajaí (SIBI) é um meio mais democrático para conhecer, cada vez mais, o caminho das águas do Itajaí, descrito no Capítulo 2. O SIBI foi desenvolvido como parte do Projeto Piava. Para o público em geral é um sítio na internet, pelo qual é possível obter informações sobre a bacia do Itajaí. Para os técnicos que trabalham diretamente com a gestão de recursos hídricos é um sistema que envolve a coleta, o tratamento, a organização e o armazenamento de dados e a geração de novas informações sobre o Projeto Piava e sobre a bacia hidrográfica. Dentro do SIBI os dados estão organizados em dez módulos: 1) Básico, que contém os mapas dos rios e dos municípios; 2) Recuperação da Mata Ciliar, que contém todas as informações sobre os projetos municipais de RMC; 3) Políticas Ambientais Municipais, que apresenta os dados dos CMMAs; 4) Educação Ambiental, que contém todos os projetos de EA; 5) Plano de Recursos Hídricos, que contém todos os documentos e mapas do plano; 6) Qualidade da água; 7) Cadastro de usuários, vinculado ao site www.aguas.sc.gov; 8) Cheias; 9) Cobertura Florestal; 10) Atlas. O SIBI é praticamente uma biblioteca, que cresce sempre, reunindo dados e informações sobre o caminho das águas. Por isso, nem todos os módulos estão preenchidos ainda.

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Todos os dados são apresentados em mapas. Um produto importante do SIBI é a integração de todos os mapas produzidos sobre a bacia do Itajaí. Outra função importante do SIBI é a de apoiar o Comitê do Itajaí nas suas decisões. Um exemplo disto é o apoio à Câmara Técnica de Planejamento na elaboração do Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Itajaí, na discussão dos critérios de outorga da água e na aplicação desses dados à questões específicas, como é o caso de conflitos por causa da escassez de água. Toda essa discussão ajuda o Comitê do itajaí a conhecer mais a bacia e a escolher as opções mais seguras para o desenvolvimento sustentável da água na região. O SIBI pode ser visitado através do endereço: www.comiteitajai.org.br/sibi.

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A bacia do rio Itajaí vive um momento histórico na busca de soluções para os problemas ambientais que afetam a água na região. Mais do que simplesmente reconhecer os problemas, o que vemos agora é a coragem para enfrentá-los e para planejar ações que viabilizem o uso múltiplo da água de forma sustentável. E o mais importante é que a população da bacia enfrenta esse desafio criando espaços de participação inéditos para a implementação de políticas públicas nos municípios e na região como um todo. A reunião dos estudos técnicos e científicos teve início em 2005, na Câmara Técnica de Planejamento, e o resultado de quase dois anos de trabalho ganhou uma versão de síntese e com linguagem popular, publicada em setembro de 2006, permitindo que este conhecimento fosse disseminado e alimentasse a discussão pública. As escolas e suas professoras foram grandes aliadas na construção e organização do saber popular por meio da realização dos diagnósticos

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participativos, mas a mobilização atingiu também as prefeituras, câmaras de vereadores, conselhos de meio ambiente, fóruns de Agenda 21, igrejas e movimentos sociais da bacia. Este trabalho envolveu milhares de pessoas e contou com a participação direta de 450 pessoas na síntese em diagnósticos municipais e por sub-bacias. O resultado dessa grande mobilização pôde ser assistido nas consultas públicas da Semana da Água, campanha permanente de Educação Ambiental, entre 22 e 29 de setembro de 2006. As principais ações indicadas pelos municípios para serem implementadas ficaram nesta ordem: estações de tratamento de esgoto, indicadas por 88% dos municípios; a recuperação de Áreas de Preservação Permanente (APPs), indicada por 83% dos municípios; o controle do uso e do comércio de agrotóxicos, indicada por 81% dos municípios; e a criação de unidades de conservação e a revitalização dos rios, ambas indicadas por 46% dos municípios. A segunda etapa do processo participativo de construção do plano da bacia foi realizada em 2007. As sugestões do diagnóstico participativo foram agrupadas em temas e para cada tema a Câmara Técnica de Planejamento criou um grupo de trabalho. Esses grupos, que contaram com a participação de representantes de todos os municípios da bacia, foram os responsáveis pela

Consulta pública: lideranças da bacia do Itajaí do Oeste, em Rio do Sul, discutem prioridades em 2006. A CERVO

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formulação das diretrizes, tarefa que exigiu o estudo da legislação correspondente, das competências institucionais e ainda a contribuição de especialistas nos temas específicos. As diretrizes vão orientar os usos futuros da água na bacia do Itajaí e estabelecer prioridades de ação para o CBH do Itajaí. As diretrizes assim formuladas foram alinhadas às propostas do Plano Nacional de Recursos Hídricos. Em agosto e setembro de 2007, elas foram discutidas amplamente pela sociedade, seja nos CMMAs, como em outros grupos e associações, e, finalmente, em mais uma rodada de consultas públicas, realizadas de 20 a 27 de setembro de 2007, durante a Semana da Água. Essas diretrizes serão aprovadas em assembléia geral do Comitê do Itajaí. Com base nessas diretrizes, as metas e os objetivos do plano de bacia devem buscar a compatibilização da disponibilidade com a demanda por água e apontar as medidas

mitigadoras para a redução dos impactos ambientais verificados na bacia, tendo como perspectiva as demandas atuais e projetadas de água. A expectativa é que o documento final do plano de bacia esteja concluído ao final de 2008. O movimento das águas pulsa com nova energia. A participação da população deu sangue novo e muitos significados para este processo de planejamento. Contribuiu na priorização das ações e na sistematização dos temas em grupos de trabalho, mas também enriqueceu o trabalho com histórias pessoais e de comunidades que manifestaram o sentimento de urgência por um novo pacto pela conservação e uso sustentável da água na bacia. Um pacto que está sendo concretizado por meio do Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Itajaí. Marcos Neves, do Ministério do Meio Ambiente, assessora o Comitê do Itajaí na formulação de cenários para a bacia, em julho de 2007. A CERVO

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A magia das águas Um novo espírito de solidariedade que contagia a todos

A água nos fascina há séculos. Ela sempre inspirou indagações e foi motivo de veneração em diferentes culturas. No poema bíblico da criação, o espírito pairava sobre as águas, como que incubando para fundir a vida. Os aztecas veneravam a deusa água, Chalchiuhtlicue, e o deus da chuva, Tlaloc. Para os incas, a deusa da água era Pachamama. Os egípcios adoravam Taueret, que tornava seu império uma dádiva do Nilo. Os Xoclengue acreditam que os homens surgiram das águas e muitos brasileiros, influenciados pelos cultos africanos, respeitam Yemanjá, a Rainha das Águas. Apesar dos apelos mágicos, religiosos e poéticos, o homem viu-se diante de situações e desafios concretos, que o forçaram a encarar a água de uma forma mais racional, buscando o seu domínio. Mesmo com a racionalidade científica dominante, a água não perdeu seu poder simbólico. Ao passo que foi se tornando, cada vez mais, elemento vital para o desenvolvimento econômico, o uso dos mitos como modelo explicativo e aglutinador social foi transformando-se, perdeu um pouco de sua força, mas continua permeando o imaginário de praticamente todos os povos. Esta magia contagiante, carregada de significados, de representações sociais, de

valores estéticos, religiosos, políticos, culturais e econômicos, é o que conecta as pessoas do Vale do Itajaí no movimento de cidadania pela água e na construção de uma política sustentável de proteção da água, no âmbito do Comitê do Itajaí, por meio do Projeto Piava. Estas pessoas foram contagiadas pela magia das águas e pela energia envolvente das educadoras e dos educadores, dos mobilizadores regionais ou coordenadores de GTMs do Projeto Piava. Pessoas que também se transformaram em “piavinhas”, e que conseguiram formar “cardumes”. Aqui vamos contar as histórias de algumas delas.

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Um pequeno fio d’água ainda corre pela encosta e separa a lavoura de fumo de uma área de pastagem para o gado na propriedade do agricultor Túlio Ramos, 42 anos, na localidade de Pitangueiras, no município de Agrolândia, na sub-bacia do rio Itajaí do Sul. Nos tempos de sua infância, quando o morro ainda era coberto de vegetação nativa, corria ali um caudaloso riacho de águas cristalinas cheio de piavas. Para pescá-las não era necessário rede ou anzol. “Era só passar o balaio n’água que ele vinha cheinho”, lembra Túlio, com saudade dos tempos de moleque. O riacho, agora, tem existência fugidia, e chega a desaparecer nos períodos de seca prolongada. Foi assim em 2006, quando Túlio quase ficou sem água para dar de beber aos animais e começou a

Agricultor Túlio Ramos e sua filha querem pescar novamente piava de balaio.

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matutar sobre o que fazer para salvar o riacho que abastece sua casa. “Numa reunião com os agricultores da nossa comunidade, onde a equipe do Projeto Piava apresentou a proposta de recuperação da mata ciliar, eu passei a ter mais clareza sobre como recuperar o riacho e aderi ao projeto”, observa Túlio, que também é presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Agrolândia. Seguindo orientações do Grupo de Trabalho Municipal de Agrolândia, coordenado por Cláudio Prochnow, técnico da prefeitura, e com o apoio da equipe do Projeto Agroflorestas e da Souza Cruz, o fumicultor reservou e cercou uma área de dois hectares ao redor da nascente e ao longo do riacho. Nesta área Túlio plantou mais de três mil mudas


de árvores nativas, que estão crescendo e alimentando sua esperança de ver novamente um riacho com água e piavas saltando no balaio. “Eu ainda quero mostrar pros meus filhos como se pescava piava na minha época... vou trazer as piavas de volta”, diz, com uma ponta de culpa por ter contribuído com a destruição do riacho e com o conseqüente sumiço das piavas. “É pra garantir água pros meus filhos que eu estou recuperando aquela nascente e eles vão ver as piavas novamente”, aposta com o olhar no futuro. Não muito longe dali, na localidade de Pitangueiras, a agricultora Lúcia Neckel Doering e sua família rompeu com as formas convencionais de agricultura extensiva, preferindo a prática do plantio integrado à floresta, com uso de adubo orgânico e de outras técnicas da chamada agroecologia. A família de Lúcia é pioneira no município na modalidade de agricultura sustentável, preservando o solo e a água, o que no futuro dará uma nova chance as piavas e, que assim como Túlio, a guerreira Lúcia também quer ver saltitando nos riachos de Agrolândia. O município de Agrolândia é o maior produtor de peixes de água doce do Vale do Itajaí, com mais de 70 toneladas/ano, e quase não tem mais piavas em seus rios. Os peixes nativos, como a piava, o cará, o cascudo, a traíra e o jundiá deram lugar aos peixes exóticos, como tilápias, carpas e bagres europeus ou africanos que escapam das lagoas e são predadores dos nativos. Diante desta realidade, apenas a preservação da mata ciliar não será suficiente para trazer de volta as piavas, outras atitudes se fazem necessárias. A sensibilidade para observar o que acontece com a natureza, quando agredida pelo ser humano, deixa Lúcia preocupada com o futuro de sua comunidade

e do planeta, e faz dela uma pessoa conectada com o seu tempo. Lúcia mora com o marido, Rolf Doering, 43 anos, e dois filhos, no fim da estrada geral da localidade de Pitangueiras. É a última moradora de um lugar que já está isolado do mundo, mas sabe que o que faz no seu pedaço de chão vai se refletir na saúde de sua família, dos consumidores, e na saúde do planeta. Por isso, não usa uma dose sequer de defensivos agrícolas, que ela faz questão de chamar de venenos, e está recuperando o que três gerações passadas de sua família destruíram. “Meus antepassados, infelizmente, foram destruidores da natureza, talvez porque não sabiam direito o que estavam fazendo”, avalia. “Eu vi e senti o resultado dessa destruição e tenho obrigação de fazer diferente”, completa. O método de cultivo da família Doering é integrado à conservação da floresta. Lúcia explica que o plantio direto ou consorciado com a floresta auxilia no controle de pragas e na adubação do solo com matéria orgânica, seja da própria floresta ou das aves e dos animais que cria para a produção de leite. Rolf, que durante boa parte do dia trabalha em uma indústria da cidade, tem orgulho em mostrar a lavoura de arroz sequeiro orgânico que plantou numa encosta com a ajuda de Lúcia e de vizinhos. A produção ainda é pequena, mas dá para alimentar a família, trocar por outros produtos com os vizinhos que também aderiram à produção orgânica, e vender para consumidores exigentes com a procedência e modo de produção de alimentos. “Além de não usar venenos, não usamos água para irrigação, apenas a da chuva”, conta Rolf. Lucia e Rolf encontraram no Projeto Piava um aliado para seguir na luta por uma agricultura

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sustentável e para recuperar nascentes e áreas de mata ciliar degradadas em sua propriedade. O casal já plantou quase mil mudas de espécies nativas e tem esperança de que as ações não parem, e assim consiga fortalecer ainda mais os agricultores orgânicos da comunidade. Em Agrolândia, as práticas a favor do meio ambiente também contam com o apoio do poder público, que apostou na integração prefeitura, escola e comunidade. O estímulo à preservação da mata ciliar e à agricultura sustentável vem sendo feito por parte de alguns educadores, que participaram das capacitações do Projeto Piava e desenvolveram atividades em suas escolas e comunidades. A articulação entre as “piavinhas” do município contou com o apoio da secretária de educação do município, Cátia Regina Morangani Geremias, e foi desenvolvida pelas educadoras Poliana Kalinca Will Eger e Iliane Neubert da Silva. Elas foram as responsáveis por integrar as ações do Projeto Piava ao Programa de Educação para a Vida, instituído pela Lei Municipal 05/98, que obriga o município a promover ações continuadas de educação ambiental.

Lúcia encontrou no Projeto Piava um apoio para suas ações de proteção da água. A CERVO

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Família Doering planta arroz sequeiro sem agrotóxico. F OTO R ENATO R IZZARO P ÁGINA

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Alunos de Agrolândia realizam plantio nos fundos da escola e conseguem sensibilizar a comunidade para a proteção da água. F OTO P OLIANA K ALINCA

De acordo com Poliana, o Projeto Piava somouse às necessidades do município. “Precisávamos fortalecer o processo de implantação da educação ambiental no currículo escolar, de forma transversal, em todos os níveis e modalidades de ensino, e as capacitações do Projeto Piava facilitaram nosso trabalho e nos deram as ferramentas para sua implementação efetiva”. Praticamente todas as unidades de ensino passaram a desenvolver atividades integradas ao Projeto Piava e à Semana da Água. As quatro


escolas municipais, as duas estaduais e os sete centros de Educação Infantil atuaram de forma articulada com o GTM de Agrolândia. Diversas vivências e práticas de ensino foram desenvolvidas pelas educadoras, sendo que boa parte delas relacionadas ao tema água, mata ciliar, saneamento e cidadania ambiental, sempre buscando novos olhares sobre o meio ambiente. “Nosso município é eminentemente agrícola e o trabalho educativo desenvolvido com os alunos está se refletindo no comportamento dos pais e em suas práticas”, salienta Poliana. Hoje, os agricultores são parceiros na recuperação dos rios do município e aliados na

conservação do meio ambiente. “Os agricultores estão encarando a crise ambiental de uma forma diferente daquela de dez anos atrás, quando ocorreram sérios enfrentamentos com ambientalistas que queriam controlar a atividade agrícola, principalmente a criação de suínos e peixes”, lembra a professora. Agora, os agricultores Túlio e Lúcia já não precisam se sentir tão solitários nas práticas de recuperação da mata ciliar, de proteção de nascentes e do controle do uso de defensivos agrícolas, pois outros cidadãos de Agrolândia também querem deixar melhor para os seus filhos o chão de Agrolândia.


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A proteção de nascentes e a recuperação da mata ciliar de pequenos rios são as principais ações que unem as “piavinhas educadoras”. Mas as ações dos professores e professoras se estendem também à área da gestão ambiental municipal, com o apoio à criação e ao fortalecimento de conselhos municipais de meio ambiente, a estudos sobre hidrologia e biodiversidade, na mobilização por investimentos em saneamento e no uso sustentável da água, bem como nos diagnósticos participativos para a elaboração do Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Itajaí. Um exemplo dessa diversidade de atividades promovidas pelas professoras e professores é a ação coletiva que reuniu várias escolas do município de Aurora, na sub-bacia do rio Itajaí do Sul. Por conta de problemas decorrentes da degradação ambiental no município, educadores de várias escolas resolveram desenvolver seus projetos em parceria e levantar uma ampla discussão sobre os problemas ambientais constatados nas 17 comunidades do município. Entre os problemas percebidos e apontados em pesquisas feitas pelos educadores e no diagnóstico participativo do plano de recursos hídricos da bacia, destacaram-se a erosão fluvial provocada por enxurradas e enchentes, a redução da quantidade e da qualidade da água dos rios, e a proliferação de borrachudos. Para enfrentar esses problemas, cada professor adotou um tema e, com a participação dos alunos, promoveu ações integradas. A recuperação da mata ciliar foi a ação comum em todos os projetos de educação ambiental desenvolvidos em parceria

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com o Projeto Piava. A secretária municipal de Educação, Reguita Krueger da Cunha, estimulou a articulação entre os educadores, e destes com o GTM de Aurora. Os professores envolveram empresas, lideranças comunitárias, políticos e proprietários de áreas degradadas nas atividades educativas e de recuperação da mata ciliar. Além das atividades na escola, os educadores também promoveram palestras e reuniões com pais de alunos para conquistar a adesão a seus projetos de recuperação da mata ciliar, que tinham como tema: “nascente protegida, água para toda a vida”. Como o município não tem uma estrutura de meio ambiente forte, cada escola adotou uma nascente ou um trecho de ribeirão degradado e, para conseguir as mudas para a recuperação, somou esforços com o GTM, que inicialmente era composto apenas pelo secretário de Agricultura, Valdelir Antônio Bagio. Por conta dessa deficiência estrutural, algumas professoras reclamaram que não tinham o respaldo necessário do GTM e da prefeitura para promover as ações com maior efetividade. “Poderíamos avançar muito mais, só que faltou apoio na hora de implementar as ações de recuperação ambiental que planejamos com os alunos e com a comunidade”, reclama Joseane Martins Koerich, professora da Escola Básica Municipal Ana Galvan. O secretário Bagio revela um problema que se repete em vários municípios que têm na agricultura a base da economia. “Eu sou secretário da Agricultura e preciso atender os agricultores, o meio ambiente fica para as horas de folga, e como não tenho folga fico devendo atenção nesta área”.


A sorte de Aurora é que as professoras e professores resolveram fazer a diferença e pensar no amanhã, numa nova aurora para os rios do município. Um belo exemplo de articulação promovida pelas professoras de Aurora está na comunidade de Chapadão Nova Itália. A professora Marli Ribeiro Borges Saffier, com o apoio do vereador e agricultor Nicolau Kohn, morador da comunidade, conseguiu a adesão de praticamente todos os pais de alunos para as ações de recuperação de nascentes e matas ciliares. A sensibilização

começou pelos pequenos e alcançou os agricultores atingidos pela seca. “Com a pressão dos filhos e da estiagem foi mais fácil conseguir a adesão dos agricultores para proteger a água”, conta Marli. A música e a arte foram outras grandes aliadas da professora Marli para tocar o coração dos pais dos alunos. Várias músicas sobre a água e a mata ciliar, com paródias de sucessos de músicas Alunos da professora Marli plantam mudas em Aurora. A RQUIVO

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populares, foram escritas pelos alunos e ganharam a interpretação do coral da Escola Multisseriada Chapadão Nova Itália. Como pano de fundo para o coral, a merendeira e artista Jane pintou um painel com quase 10 metros, inspirada na música Planeta Água, de Guilherme Arantes. Nicolau Kohn diz que entrou na política para defender os pequenos agricultores e agora encontrou mais uma causa para defender no plenário da Câmara Municipal: o meio ambiente. “O pequeno agricultor não destrói a natureza e é esse modelo de agricultura familiar que defendo para nossa região”. Com esse discurso ele já conseguiu implantar uma cooperativa de produção agrícola na comunidade de Chapadão Nova Itália, que quer ser referência nacional na produção de frango caipira orgânico. A câmara também aprovou uma lei que obriga o município a distribuir mudas de árvores nativas para os alunos da rede de ensino

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Mara Schaade era estudante de Ecologia na Unidavi, em Ituporanga, quando começou a fazer estágio na secretaria de Agricultura de Braço do Trombudo, em 2001. Filha de agricultores, ela sabia que enfrentaria alguns obstáculos para aplicar, em seu novo trabalho, o que estava aprendendo na universidade. Mesmo assim topou o desafio e Na página ao lado, a professora Marli e a artista Jane com as crianças de Nova Itália. Acima, o vereador Nicolau Kohn, que apoia as ações do Projeto Piava. F OTOS R ENATO R IZZARO

do município. Uma iniciativa na educação ambiental, consolidou outra na área política, o que deve fazer com que as piavas em Aurora também possam sonhar com melhores águas.

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começou, aos poucos, a disseminar orientações ecológicas para os agricultores. Alguns não deram muita atenção para o que a estagiária falava, mas com seu jeito simpático e muita persistência, logo conseguiu fazer adeptos e grandes aliados no trabalho. A secretária municipal de Turismo, Carice Wosnievicks, é uma das aliadas de Mara na implantação de ações educativas, de proteção e recuperação ambiental. Juntas elas envolveram professores, agricultores, empresários e lideranças comunitárias na busca de soluções para os problemas ambientais do município. Muitas destas

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ações foram desenvolvidas no contexto da Semana da Água e no Programa de Recuperação da Mata Ciliar, ações estas promovidas pelo Comitê do Itajaí a partir de 1999 e 2001, respectivamente, e que tinham Mara como coordenadora municipal. Quando surgia oportunidade, Mara e Carice disseminavam a idéia de que era necessário adotar alternativas menos impactantes sobre o meio ambiente na promoção do desenvolvimento econômico do município, como o turismo ecológico, novas práticas rurais, controle ambiental da atividade industrial e planejamento urbano. E para discutir essas novas idéias criaram, no final de 2004, o Conselho Municipal de Meio Ambiente e Turismo. Era o espaço democrático que faltava para a discussão das alternativas viáveis para o desenvolvimento sustentável do município, mas ainda não sabiam como utilizar o potencial do novo espaço. Todas essas ações ainda estavam em estágio embrionário quando Mara e Carice conheceram o Projeto Piava e passaram a coordenar o Grupo de Trabalho Municipal. Mais do que se envolver apenas com as atividades de recuperação da mata ciliar, elas promoveram a integração entre os vários componentes do Projeto Piava no município de Braço do Trombudo, auxiliando nas ações educativas, de mobilização e de inovação na gestão ambiental municipal. Até o Conselho de Meio Ambiente e Turismo ganhou novo estímulo para funcionar como um verdadeiro espaço de promoção da política ambiental municipal e de discussão sobre o futuro das águas no município, principalmente das águas sulfurosas.

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Na localidade que leva este nome, Águas Sulforosas, o agricultor Lauro Niederhaus, descobriu recentemente a importância da floresta para a conservação da água. E quem lhe ensinou a lição foi a seca que deixou muitos municípios do Vale do Itajaí em estado de emergência em 2006. As nascentes de água que utiliza para abastecer a casa e para dar de beber aos animais praticamente secaram naquele ano. Até mesmo o caudaloso Rio Trombudo, que corta sua propriedade, transformou-se numa escadaria de pedras com um minguado fio d’água descendo seus degraus. “Eu sabia que a retirada da floresta era o que estava causando a redução da água e, quando soube do Projeto Piava, não perdi tempo. Estou devolvendo o que era do rio e acho que todos deveriam fazer o mesmo”. Lauro diante de sua área em recuperação. A CERVO

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Já o casal Osny e Jane Gieseler, que mora nas margens do rio Trombudo, na área central do município de Braço do Trombudo, sempre gostou de plantar árvores. Jane é professora do ensino básico e tem como hábito distribuir mudas de árvores frutíferas para os alunos no Dia da Árvore. Além de estimular os alunos a plantar árvores ela sempre pega a mão na enxada e sai plantando mudas ao redor da casa. O resultado é que hoje sua casa é cercada por um verdadeiro pomar. Porém, uma área nos fundos de sua casa que vai dar nas margens do Rio Trombudo, estava abandonada. “Eu sempre gostei de preservar a natureza, mas foi com o envolvimento no Projeto Piava que descobri a importância da mata ciliar e comecei a usar plantas nativas na sua recuperação”, conta Jane. Hoje, além das árvores frutíferas, ingás, tanheiros e outras plantas nativas começam a formar uma nova floresta ciliar. “As frutas desse bosque serão para as futuras gerações”, comenta Jane, ao comparar a floresta ciliar com seu bosque de árvores frutíferas.

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MADEIXAS DE

DONA EMMA

Dona Elza é uma daquelas professoras que carrega uma paixão enorme pela arte de educar. Mesmo aposentada, ela se dedica de forma voluntária às ações comunitárias e de educação ambiental no município de Dona Emma. Em 2006, deu aula para os pequeninos da Escola Básica Professora Maria Angélica Calazan, na Comunidade de Caminho Pinhal, onde mora, e onde aplicou as propostas educacionais sugeridas pelo Projeto Piava. Em 2007, reservou seu tempo para uma ação educativa voltada aos pais desses alunos, que, segundo ela, já estão sendo sensibilizados pelos filhos, mas que ainda precisam de uma atenção continuada para se tornarem fiéis da causa ambiental. “É preciso manter um trabalho de porta em porta, com aquela conversa rotineira, baseada na pedagogia da insistência e da paciência para que os adultos também passem pelo processo de transformação necessário para salvarmos os nossos rios”, ensina a professora Elza Riziere. E assim, com base nesta premissa e como uma missionária da verdade ambiental, dona Elza percorre longas distâncias pelas estradas de terra batida do município de Dona Emma na busca de novas almas para seu rebanho. Ou melhor, de novas “piavas” para o “cardume”. Quando vê um ribeirão com o barranco sem vegetação ou comido pela erosão, pára e vai conversar com o dono do terreno. Fala sobre a Mara Schaade (e), coordenadora do GTM de Braço do Trombudo, aprecia área recuperada nos fundos da casa da professora Jane (d). A CERVO

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importância da mata ciliar para a proteção da água e o convence de que ele precisa cuidar melhor da água que passa em sua propriedade, pois essa água ainda vai servir a outras espécies e a outros moradores. Usando essa estratégia, dona Elza já conquistou a adesão de 77 proprietários para as ações de recuperação de nascentes e matas ciliares no município. É claro que ela não faz tudo isso sozinha. A experiência e o espírito comunitário de dona Elza estão aliados à juventude e ao dinamismo de Agnaldo Alves de Souza, técnico de meio ambiente da prefeitura. Os dois formam o núcleo do GTM de Dona Emma, que conta com o apoio das professoras de toda a rede de ensino e também da prefeitura. Na sua ação e articulação com os demais educadores, Dona Elza vislumbra um futuro melhor para os rios, florestas e pessoas do município. Dona Emma era esposa de José Deeke, que foi diretor da Companhia de Colonização Hanseática, que a partir de 1897 trouxe imigrantes alemães para ocupar as terras do vale do rio Itajaí do Norte. Este rio também é conhecido como rio Hercílio, em homenagem ao filho do casal, Hercílio Caetano Deeke, o primeiro a nascer no local e que foi prefeito de Blumenau na década de 60. Para o afluente mais bonito do rio Krauel, que contribui para o Rio Hercílio, José Deeke deu o nome de sua esposa, dona Emma (nascida Rischbieter), que certa vez lhe disse considerar aquele o lugar mais bonito dos trópicos. As madeixas de Dona Emma eram verdes como estas de Itaiópolis, às margens do rio Hercílio. A CERVO

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Dona Elza quer fazer valer a opinião de dona Emma, e trabalha incansávelmente, até nos fins de semana, para resgatar a beleza e o esplendor do município, mesmo que essa seja apenas a parte mais aparente de seu trabalho. A beleza de Dona Emma estava em sua vasta cabeleira, que ostentava diversos arranjos e véus transparentes caindo sobre seus ombros largos. Ou melhor, na diversidade de espécies que formavam sua cobertura vegetal e nas cascatas de águas cristalinas que caiam de seus penhascos. O município, no entanto, foi um dos mais devastados durante o ciclo da madeira. Dona Emma ficou praticamente pelada. Restaram apenas pequenos trechos da Floresta Atlântica nos topos dos morros mais acidentados, onde a fúria e a ganância do homem encontraram uma barreira natural. Para esconder a vergonha de Dona Emma, os primeiros agricultores trataram logo de tornar produtivas as terras despidas, quase inertes e sem valor. Foi assim que o município se tornou um dos maiores produtores de fumo do Vale do Itajaí. Essa maquiagem, no entanto, caiu como um borrão disforme e não devolveu a beleza original de Dona Emma. De uns anos pra cá, coisa muito recente, alguns agricultores começaram a perceber que Dona Emma precisava mesmo era de uma cirurgia plástica. Passaram a trabalhar de forma mais integrada com a natureza, e a plantar mudas de espécies nativas para enriquecer os capoeirões e áreas degradadas. No lugar da maquiagem com produtos químicos, estão usando produtos naturais e adubo orgânico. Em vez de derrubar a floresta, plantam mudas de espécies nativas para recuperar mata ciliar que protege a água dos rios.

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Não dispor de uma das matérias-prima mais importante para essa cirurgia plástica foi a primeira dificuldade encontrada pelo agricultor Marcos Odorizzi em sua missão de recuperar o que as gerações passadas destruíram. Ele não encontrava mudas adaptadas à região e ainda não detinha a tecnologia da coleta e germinação de sementes de espécies nativas. Foi por meio do Projeto Piava que ele passou a dominar essa tecnologia e não perdeu mais tempo. Além de contar com as espécies produzidas nos viveiros de José Boiteux e Ibirama, tratou logo de montar um viveiro de espécies nativas e saiu plantando mudas pelos 50 hectares de sua propriedade rural. Com a ajuda da esposa, Jane, e dos 10 filhos, Marcos trabalha como um alucinado para recuperar o tempo perdido. O casal plantou mais de cinco mil mudas em menos de um ano. A vida de cirurgião da natureza está mudando completamente o relacionamento de Marcos Odorizzi com a terra e o modo de produção em sua lavoura. Ele, formado em agronomia, praticava uma agricultura convencional, voltada para a

produção em grande quantidade e baseada no uso de agrotóxicos, como aprendeu nos bancos escolares. Conta que aplicava o que aprendeu, mas percebeu que estava acabando com a terra, com a água e ainda envenenando seus filhos. “Foi quando me dei conta que precisava mudar e trabalhar junto com a natureza, respeitando seus ciclos, seus limites e todos os demais seres vivos” Sua conversão para uma nova for ma de relacionamento com a terra, com a natureza e com todos os seres vivos se deu há apenas oito anos. Hoje, Marcos é um daqueles devotos radicais da causa ambiental. Para quem ainda não se converteu ele até diz que as árvores vão render um bom dinheiro no futuro. E pra quem duvida, diz que está plantando sombra. “Devido ao aquecimento global, sombra será um negócio valioso”, brinca.

Marcos e Jane Odorizzi ao lado da muda plantada e junto com a família em ação. F OTOS R ENATO R IZZARO


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A floresta de imbuias que cobria a localidade de Chapadão Rio dos Bugres já não existe mais, e o rio dos Bugres também corre o risco de desaparecer. Chapadão Rio dos Bugres é o antigo nome da cidade de Imbuia, na sub-bacia do rio Itajaí do Sul. Os colonizadores alemães que por ali chegaram em 1930 trocaram o nome da localidade de Chapadão para Imbuia, numa clara referência à abundância dessa árvore na região. As imbuias, assim como todas as árvores nobres do lugar, foram dizimadas durante o ciclo da madeira, que se estendeu até a década de 1980 na região. E para fazer valer novamente o nome da cidade, alguns moradores estão plantando mudas dessa árvore em áreas degradadas. Uma dessas moradoras de Imbuia, que tem um verdadeiro fascínio pela árvore que dá nome à cidade, é Dulciane, 27 anos, coordenadora do Grupo de Trabalho Municipal. Pelo seu incentivo, cerca de 23 mil mudas de espécies nativas, entre as quais a imbuia, foram plantadas no município, em 180 áreas ao entorno de nascentes ou nas margens de rios, envolvendo mais de 150 agricultores, o que coloca o município entre os que têm a maior área em recuperação. Imbuia é a cidade que mais sofre com a seca no Vale do Itajaí, pois muitos de seus rios já secaram e as constantes quebras de safra nas lavouras de cebola, milho e fumo deram o sinal de alerta para os agricultores. Era necessário proteger as fontes de água.

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“O Projeto Piava veio em boa hora para iniciar uma reversão nesse processo”, constata Dulciane. A preocupação dos moradores com a situação de escassez de água é grande e por conta disso as ações ambientais no município avançaram bastante. O Conselho Municipal de Meio Ambiente, criado a partir das capacitações e assessorias do Projeto Piava, está em pleno funcionamento. “Antes do Projeto Piava o conselho não existia, a gente fez a capacitação e a partir dali montamos sua estrutura, arrumamos o regimento interno, e claro, ainda tem muita coisa pra fazer”, observa Dulciane. Dulciane coordenou os trabalhos de recuperação ambiental em Imbuia, levando 175 proprietários a aderirem ao Projeto Piava. A CERVO

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Ademar Hadlich, dono de uma padaria no centro do município, nas margens de um ribeirão, é um dos moradores da cidade que aderiu à recuperação da mata ciliar. “O primeiro plantio eu fiz por exigência do Ministério Público, porque construí em área de proteção permanente, mas já fiz outros plantios por minha vontade e acho que todas as pessoas deveriam recuperar áreas degradadas e plantar ár vores para melhorar a qualidade ambiental do município”, fala.

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A sede do município de Itaiópolis está fora da bacia do Itajaí. As águas que caem sobre os telhados de maior parte de sua população correm para o rio Negro e vão parar no rio Iguaçu, no limite com o estado do Paraná. A área que pertence à bacia do Itajaí é até maior em tamanho, mas menos povoada. Mesmo assim, as ações do Projeto

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Uma parte de Itaiópolis está na bacia do rio Negro, outra na do Itajaí. A CERVO

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Piava despertaram em seus moradores o sentimento de pertencimento ao Vale do Itajaí, que parecia adormecido. Por conta desse descompasso no espaço e no tempo, as ações do Projeto Piava começaram um pouco atrasadas em Itaiópolis. O município não participou da primeira rodada dos cursos de capacitação de educadores, mas logo em seguida recebeu um curso, extensivo aos municípios de Papanduva e Monte Castelo, que se encontram em situação semelhante. Talvez por isso, os professores de Itaiópolis resolveram não perder tempo e foram logo montando uma verdadeira linha de produção para implementar as ações sugeridas pelo Projeto Piava. Após os cursos de capacitação constataram que o município estava situado em uma região de transição no que diz respeito aos aspectos físicos e naturais, e até mesmo do ponto de vista sócioeconômico e cultural. Por isso precisava de uma atenção especial e uma abordagem específica nas ações de recuperação da mata ciliar. Colonizada por poloneses, ucranianos e alemães, Itaiópolis foi um dos focos de conflitos durante a Guerra do Contestado. Possivelmente o único município do Vale do Itajaí que tenha servido de campo de batalha entre as tropas do governo e os seguidores do monge João Maria. Recortado nitidamente pelo divisor de águas que separa as bacias do rio Itajaí e do rio Negro, e com uma vegetação de transição entre a floresta atlântica e os campos de altitude, a paisagem do município é, realmente, distinta das dos demais municípios do alto Vale do Itajaí. Respeitando essas especificidades, os professores do município perceberam que, para recuperar a vegetação ciliar da forma correta, seria necessário


coletar sementes e produzir as mudas no próprio município. E foi assim que começou o desafio de criar uma proposta local envolvendo a construção de uma política de uso da água com planejamento territorial do município. As professoras de Itaiópolis se organizaram em torno do Projeto Piava com uma missão: envolver todas as escolas do município nas atividades de proteção e recuperação de nascentes e matas ciliares, numa verdadeira ação em rede e com uma linha de produção bem estruturada. Foi assim que a professora Cleusa Hübner Kazmierczak assumiu o papel de estrategista, atuando como articuladora em todas as escolas, com o apoio de retaguarda da coordenadora pedagógica do município, Fabiana Hartinger Souza, e com carta branca da secretária de Educação, Ileuza Terezinha Hübner. Cleusa, com o apoio da professora Jane Engels, promoveu a articulação entre as escolas, criando assim uma força tarefa para cumprir todas as etapas do processo de sensibilização, educação ambiental, coleta de sementes, produção de mudas e o plantio dessas mudas para a recuperação das nascentes e matas ciliares. A articulação em rede ficou organizada dessa forma: todas as escolas desenvolvem atividades de sensibilização e educação ambiental com os alunos e pais; duas escolas estão trabalhando na coleta de sementes e produção de mudas (Escola de Educação Básica Bom Jesus e Escola de Educação Básica São João Batista); duas escolas, com apoio da Epagri, estão mobilizando as comunidades e os agricultores a participarem do projeto (Escola Estadual Básica Virgílio Várzea e Centro Educativo de Itaiópolis); e outras duas escolas ficaram responsáveis por organizar a distribuição e o

plantio das mudas (Escola Municipal Rio da Estiva e Escola de Educação Básica Odair Zanelatto). As ações ainda estão em estágio embrionário e a primeira grande mobilização foi promovida durante a Semana da Água 2006, quando juntas as escolas aplicaram o diagnóstico participativo dos rios nas comunidades onde estão sediadas. Como a maior parte das unidades de ensino está na bacia do Rio Negro, apenas o diagnóstico feito no rio Bispo foi apresentado na consulta pública do Plano de Recurso Hídricos da Bacia do Itajaí. O rio do Bispo também foi o escolhido para as primeiras ações de recuperação ambiental.

Cássio Bilicki conhece bem o rio Itajaí do Norte e é um aliado na recuperação. A CERVO

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A captação de água para abastecimento da população da cidade atualmente é feita na bacia do rio Negro, mas em função da escassez de quantidade e qualidade desse manancial, ficou definido pelo Plano Diretor Municipal que a captação será feita na bacia do Itajaí nos próximos anos. Aliás, o Plano Diretor de Itaiópolis, com a mobilização feita a partir da intervenção do Projeto Piava, contou com a participação da população, que conquistou mais proteção para o meio ambiente. “Conseguimos influenciar na construção do Plano Diretor Municipal e criar áreas de preservação permanente em torno dos futuros mananciais e manter a faixa de 30 metros de mata ciliar em todos os rios do município”, conta o professor Cássio Edmundo Bilicki, conhecido na cidade como Indiana Jones. É preciso perguntar por ele pelo seu codinome, assim qualquer morador sabe logo de quem se trata. “Ele mora naquela casa alí da esquina, mas

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O bando de tirivas, sabiás, gaturamos e coleiros fazem uma afinada trilha sonora, todas as manhãs, no quintal da casa de seu Gabriel Fonseca, que fica dentro da Reserva Indígena Duque de Caxias, no município de José Boiteux, na sub-bacia do rio Itajaí do Norte. É ali, ao lado de sua casa, que está instalado um dos 11 viveiros que produzem mudas de árvores nativas para o Projeto Piava e integra a comunidade indígena xoclengue ao projeto. O alvoroço dos pássaros nos pés de ingás, de pêras, palmeiras e figueiras, entre outras árvores frutíferas,

provavelmente está no meio do mato mostrando as cachoeiras para turistas”. Essa é a habitual informação repassada pelos funcionários da prefeitura e moradores de Itaiópolis. O professor Cássio é conhecido justamente pela sua paixão pelas florestas e rios da sub-bacia do Itajaí do Norte, que conhece como a palma da mão. Além de professor e aventureiro, Cássio participa dos movimentos sociais da cidade e já foi secretário municipal de Turismo, quando criou a rota das águas para a promoção do turismo de aventura e do ecoturismo na sub-bacia do Itajaí do Norte. Hoje ele atua como facilitador da integração das escolas com a comunidade na recuperação da mata ciliar por meio do Projeto Piava. Na sua avaliação, o Projeto Piava, mais do que recuperar nascentes e mata ciliares, está renovando a esperança de que é possível a sociedade civil influenciar na implantação de políticas públicas e nas definições de uso do solo e da água, assim como aconteceu com a elaboração do Plano Diretor de Itaiópolis.

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é para ele motivo de muito orgulho, porque ali, naquela pequena área, as aves, assim como as árvores, crescem à vontade e servem de banco de sementes para seu viveiro. É no quintal do seu Gabriel que as mudinhas de 20 espécies nativas estão se desenvolvendo e contribuindo para recompor a mata ciliar na sub-bacia do Itajaí do Norte. São mudas de que o seu Gabriel cuida com o maior carinho, num trabalho zeloso, de onde tem tirado lições de vida, que divide com sua família – dois filhos o auxiliam no viveiro - e com a comunidade indígena.


Gabriel é presidente da Associação de Desenvolvimento do Projeto Microbacias, que reúne representantes das sete aldeias dos xoclengue. Neste espaço, seu Gabriel também está fazendo sua defesa pelo meio ambiente e estimulando a comunidade indígena a fazer o mesmo. Um aliado de seu Gabriel, Namblá Gakran, é o diretor da escola La Klanõ, de onde já saíram três projetos de recuperação da mata ciliar. Seu Gabriel observa com muito prazer o crescimento das mudas no viveiro da comunidade indígena e se enche de orgulho ao dizer que cada uma daquelas plantinhas vai ajudar a reconstruir as florestas do Vale do Itajaí, que a ambição do homem branco e a ingenuidade do índio contribuíram para destruir. “Quando vem alguém aqui, a gente procura falar da importância da preservação da mata e o porquê do nosso trabalho”, argumenta seu Gabriel, informando que a Fundação Nacional do Índio quer levar esse exemplo para outras reservas do Brasil. Casado com uma índia e pai de seis filhos, seu Gabriel chegou à reserva, em 1980, durante a constr ução da barragem Norte, na época

pertencente ao município de Ibirama. Se apaixonou pela moça xoclengue e também pelo lugar. Mas a floresta, antes exuberante, e os ribeirões, cheios de água e de vida, naqueles tempos nem lhe chamavam a atenção. “Minha ficha só caiu quando passei um dia por um ribeirão e percebi que ele estava à mingua. Num trecho em que a água descia com força, agora a gente só vê pedra”, diz seu Gabriel, referindo-se aos ribeirões da Paca e da Traíra. O que mais lhe impressiona é que esta mudança ocorreu em menos de dez anos. Com esta percepção, seu Gabriel mudou suas opiniões e atitudes. Por isso dá graças a Deus quando os pássaros, alvoroçados, chegam até a atrapalhar a conversa e se sente imensamente feliz quando alguém da comunidade chega lá pedindo por mudas e nota a presença das aves fazendo a festa.

Educadores da comunidade indígena elaboraram diagnóstico da água, em que a sustentabilidade apareceu como prioridade. A CERVO

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Comunidade indígena integrou-se ao Projeto Piava por meio do viveiro coordenado por Gabriel. A CERVO

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Nas décadas de 70 e 80 a floresta da reserva indígena foi muito explorada pela indústria madeireira e o índio passou a ver na mata apenas um motivo para o corte. “O próprio governo incentivou a derrubada da floresta na época da construção da barragem e os índios foram usados como massa de manobra e mão de obra escrava para a derrubada”, lembra Gabriel. Esta é uma realidade ainda difícil de mudar. NO

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Caminho Helvécia, no município de Presidente Getúlio, é uma localidade rural, povoada por apenas 54 famílias, que têm seus filhos na escola municipal que leva o mesmo nome do lugar. Mais do que mandar os filhos para a escola, esta comunidade participa ativamente das atividades educativas e sociais promovidas pelos educadores. A professora Janilde Dirksen é uma das que acredita na integração dos moradores com a escola. Ela leciona há cinco anos na escola do Caminho Helvécia e sempre articulou, com as famílias, ações que pudessem trazer mais qualidade de vida aos alunos e a toda a comunidade. Por isso, quando participou da capacitação em educação ambiental do Projeto Piava e teve que desenvolver um projeto para a sua escola, imediatamente envolveu os pais dos alunos na proteção das nascentes da região. Acostumados a responder aos apelos da professora, as famílias não perderam tempo e, assim como Janilde, perceberam de imediato a urgência da questão. E mesmo após horas de labuta na lavoura, 15 proprietários de terras decidiram se

Seu Gabriel não se ilude e na sua simplicidade sabe que as mudanças comportamentais ainda vão demorar. Ele mesmo só agora se deu conta de que as sementinhas que cultiva ao lado de sua casa poderão fazer uma grande diferença no futuro das novas g er ações, seja da comunidade indígena, seja do homem branco, pois ambos já estão sofrendo a escassez da água em uma localidade onde a natureza literalmente dava um banho em recursos hídricos.

PROFESSORA

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reunir e em conjunto com a educadora começaram a discutir os problemas que estão afetando os recursos naturais, especialmente a escassez da água, e decidiram também agir para recuperar as áreas degradadas e proteger as nascentes. Sem ter o mapa da bacia do Ribeirão Helvécia, que permitia a confecção da maquete, Janilde improvisou. Solicitou aos pais que desenhassem sua propriedade, identificassem o trajeto do ribeirão e as nascentes. Assim nasceu, pelas mãos calejadas de homens e mulheres do campo, o mapa da bacia do ribeirão Helvécia e também uma constatação: pelo menos metade das mais de 100 nascentes identificadas na área estava desprotegida e algumas quase desapareceram naquela seca.

Além de educar as crianças, a professora Janilde elaborou um mapa da comunidade com ajuda dos pais, que contribuiu para o diagnóstico participativo do município. A CERVO P ÁGINA

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AO LADO

Seu Lindomar satisfeito com o crescimento das mudas. A CERVO

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Enquanto aos pais cabia a prática de proteger as nascentes e recuperar áreas degradadas da mata ciliar, na escola a professora falava aos alunos, entre três e seis anos, da importância da preservação da água e os motivava a amar o lugar em que vivem. “As cartilhas e todo o material didático do Projeto Piava foram preciosos para este trabalho”, assegura a educadora. Os problemas ambientais foram discutidos com os pais e com os alunos e mostrando a eles que são parte essencial da solução, Janilde transformou todos em grandes parceiros e defensores do meio ambiente. A seca, em 2006, não poupou nem a escola, abastecida com água por uma fonte próxima. Os 32 alunos ficaram sem ver a água sair das torneiras por dois meses. Os pais se revezavam e levavam a água para a escola em tonéis. A escassez da água foi então motivo de palestras, debates, reflexões, e conversas de filho para pai e vice-versa, de vizinho para vizinho, e chegou, enfim, aonde devia estar sempre: na escola, em casa, na cancha de bocha, nas rodas de amigos. “Acredito na educação ambiental desta forma, no dia a dia, integrada, cada um fazendo a sua parte, mas querendo alcançar o todo e a todos”, argumenta Janilde. Mesmo acostumada à parceria dos pais nos assuntos da escola, ela mesmo se surpreendeu com a participação de todos. A seca teve com certeza uma grande contribuição, mas a vontade de mudar o quadro da degradação e estimulados pela professora, as famílias da comunidade escolar do Caminho Helvécia botaram de fato a mão na massa, ou melhor, na terra, e estão recuperando trechos da mata ciliar e protegendo as nascentes naquela localidade. A professora Janilde credita também ao Grupo

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de Trabalho Municipal o sucesso do seu projeto, bem como o de outros projetos nas demais localidades do município. Para ela a dinâmica do Projeto Piava proporcionou a confiança dos agricultores. O coordenador do GTM de Presidente Getúlio, Vilmar Grimm, destaca que a demanda por projetos de recuperação é muito grande. “Os agricultores estão sentindo a necessidade, mas a sensibilização por meio dos educadores está fazendo toda a diferença, no sentido de que eles efetivamente venham a fazer a recuperação da mata ciliar e a proteção das nascentes”. Na opinião de Gerônimo Schmitt, outro integrante do GTM, as parcerias entre prefeitura, Epagri, Projeto Microbacias, associações de moradores, sindicatos e educadores, teve uma

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contribuição fundamental em todo o processo. “O trabalho conjunto somou forças e o agricultor percebeu que precisava fazer a sua parte”. Um dos agricultores do Caminho Helvécia, Geraldo Hoffmann, nem sequer esperou as mudas do Projeto Piava chegar. Foi pesquisando e buscou dentro da sua propriedade espécies para plantar ao redor de uma das nascentes, que há cerca de quatro anos deixou a família por dez dias sem água. Seu Geraldo conta que cortou os eucaliptos ao redor da fonte, e aos poucos a água voltou a brotar. Agora a nascente está protegida com espécies nativas. As demais fontes da propriedade já estavam naturalmente protegidas, mesmo assim seu Geraldo procurou o GTM para saber como ajudar a natureza a cumprir seu papel na conservação da água.


Com a ajuda da esposa Lorena e os filhos Fernando, 20 anos, e Júlia, 13, ele já plantou 250 mudas de espécies nativas, sendo 200 fornecidas pelo Projeto Piava e as outras 50 que seu Geraldo encontrou ao decidir antecipar o plantio. A família sabe que o caminho agora é o da preservação. “Quem cuidar vai ter água, quem não cuidar vai ficar sem”, ensina a esposa Lorena, lição que aprendeu com a escassez, e garante que os seus filhos já sabem de cor. Assim como a professora Janilde, a família do agricultor Geraldo Fonseca, os integrantes do GTM Vilmar e Gerônimo, existem muitos exemplos em Presidente Getúlio de pessoas comprometidas e dispostas a mudar a realidade ambiental do município para melhor. Alguns foram incentivados pelo Projeto Piava, outros sensibilizados pela própria natureza. Ver as mudas de plantas nativas crescerem nas margens dos ribeirões e nascentes que cortam sua propriedade é uma forma de redenção para Lindomar Spredeman, 45 anos, morador da localidade de Serra Vencida, não muito distante de Caminho Helvécia. Ele conta que explorou a natureza sem se dar conta de que estava destruindo uma preciosa fonte de saúde e bem estar. Plantava fumo, cortava árvores e caçava animais silvestres. Vivia contaminado pelo uso de agroquímicos e tinha sua mão de obra explorada pelas agroindústrias e empresas de fumo. Numa de suas caçadas acertou um desses periquitos barulhentos, muito comuns nas florestas da região, também conhecidos como tirivas. O tiro pegou de Gerônimo apóia Janilde nos projetos da comunidade do Caminho Helvécia. A CERVO

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raspão, mas quebrou-lhe a asa e o condenou à morte. O olhar penetrante de agonia e desespero daquele pássaro mudou a vida do agricultor. “Pelo olhar, senti que o bicho me chamava de assassino. Depois disso nunca mais dei um tiro e passei a enxergar os animais como seres superiores”, Assim, Lindomar percebeu que os pássaros mantém estreitas interações com as árvores, com a água, com os insetos, com as estações do ano e com todas as florestas. Viu que ao derrubar uma árvore deixava dezenas de pássaros sem abrigo, e que o veneno usado na lavoura não matava apenas a erva daninha. Fazendo essas conexões, que ele conheceu a agroecologia. Abandonou a monocultura de fumo e passou a cultivar hortaliças com adubo orgânico, incorporando ainda a apicultura com espécies de abelhas silvestres. Hoje, produz 80% do que consome e define a agroecologia como uma maneira de preservar o meio ambiente e levar uma vida saudável. Dos cinco hectares de mata nativa que derrubou, já recuperou dois com o apoio do Projeto Piava, e pretende recuperar mais. A experiência com a agroecologia, as mudanças de atitude em relação à natureza e a prática da recuperação da mata ciliar e de proteção de nascentes estão servindo de modelo e incentivo para outros agricultores. As 15 famílias de agricultores envolvidas com o projeto da professora Janilde, no Caminho Helvécia, já foram visitar a propriedade do seu Lindomar e trocaram experiências valiosas. Lindomar garante que, se pudesse, devolveria tudo que já retirou da natureza além do que precisava para viver. A esposa, Marlene, de 43 anos, compartilha das mesmas convicções do marido e tem certeza de que assim vai deixar um pedaço de terra bem melhor para seus três filhos.

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Se lançar ao ar pendurado no balanço sob o pé de jacarandá era a brincadeira favorita de Leandro Lyra quando criança. O vai e vem debaixo daquela árvore o lançava para o infinito. Com apenas um impulso ele ganhava asas e a velocidade do balanço lhe trazia uma agradável sensação de liberdade e de contato íntimo com a natureza. “Aquela árvore era a nossa nave espacial para um outro mundo e o balanço a cápsula de lançamento”, conta Leandro, que disputava o balanço com os irmãos, primos e colegas. As viagens de Leandro foram abruptamente interrrompidas quando seu pai, o madeireiro Baturité Lyra, resolveu cortar a árvore do balanço para transformá-la em tábuas. Certo dia, quando

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as crianças correram para brincar no balanço encontraram o jacarandá no chão, derrubado por violentas machadadas em seu tronco, desferidas por seu Baturité. Foi nesse momento, quando viu as crianças chorando ao redor do jacarandá, que seu Baturité descobriu o apego que as crianças tinham pela árvore e pelo balanço. O mais triste foi perceber que não tinha mais nenhuma árvore no quintal para pendurar o balanço. Ele já tinha cortado todas. Foi nesse dia que seu Baturité parou de cortar árvores e hoje o galpão de sua antiga serraria abriga um dos viveiros de produção de mudas de espécies nativas do Projeto Piava. O garoto Leandro Lyra continua sonhando com um outro mundo.

Três gerações de Lyras unidas em torno da recuperação ambiental. Leandro, à direita, coordena o plantio. A CERVO

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Formou-se em Ecologia, trabalha na Casan, participa de projetos sociais e ambientais na comunidade e é o coordenador do Grupo de Trabalho Municipal de Vidal Ramos, na sub-bacia do rio Itajaí Mirim. Se depender de Leandro não vai faltar árvore para a garotada da cidade pendurar um balanço. O município é o recordista em projetos e áreas em recuperação da mata ciliar pelo Projeto Piava. Só no viveiro que a família Lyra coordena em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Vidal Ramos, foram produzidas mais de 50 mil mudas de espécies nativas. A maior parte das mudas serviu para atender o próprio município, mas algumas também foram enviadas para municípios vizinhos. Como coordenador do GTM, Leandro entrou em contato com a maioria dos agricultores, conquistando a adesão de muitos para a recuperação da mata ciliar. Em 2006, envolveu praticamente todo o município no diagnóstico participativo do Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Itajaí, feito durante a Semana da Água, realizando entrevistas com moradores e levantando os problemas e as prioridades a serem trabalhadas no município. “Meu avô tinha serraria, meu pai tinha serraria e hoje me encanto quando os vejo colhendo e plantando sementes, falando das árvores que crescem na parte alta, na parte baixa e de madeiras que não encontravam aqui, só na Imbuia, e nos repassando o conhecimento para enriquecer áreas e recuperar as florestas, antes usado para explorar,” comemora Leandro. Izabel Lira, irmã de Leandro, é uma das educadoras do Projeto Piava que atua junto às crianças do município. Como professora de

música, atende crianças de toda a rede municipal, e procura valorizar e contextualizar a realidade de cada uma delas na relação com o meio ambiente. “Costumo dizer para as crianças que o lugar em que ela está é o cantinho dela, que aquela árvore é dela, o rio é dela, e que ela deve cuidar bem e cobrar isso dos pais”, conta Izabel. Para ela, o Projeto Piava veio para reforçar essa visão, pois tem foco de atuação na realidade local, integrada à bacia do rio Itajaí como um todo. A experiência com o Projeto Piava renovou em Leandro e em sua família o sonho de um novo mundo, mais justo, solidário e com sustentabilidade ambiental, social e econômica. Como o seu mundo está em Vidal Ramos, ele está fazendo a sua parte. “Muita coisa começou a acontecer a partir do Projeto Piava, coisas que saíram do discurso para a prática, envolvendo os aspectos naturais e sociais e que nos estimulam a continuar trabalhando em defesa do meio ambiente e por melhor qualidade de vida para todos”, reflete. Educadores e alunos envolvidos no Projeto Piava desfilam no dia 7 de Setembro. A RQUIVO

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Assim como diz a letra da música do Projeto Piava – “Faça chuva ou faça sol, não esqueço do combinado”, o técnico em agropecuária Sálvio José Barbetta, integrante do Grupo de Trabalho Municipal de Vitor Meirelles, cumpre fielmente a agenda com os proprietários que estão implementando projetos de recuperação da mata ciliar no município. Para ele combinou, está combinado. Por isso, Barbetta não pensou duas vezes quando precisou garantir a correta distribuição das mudas para os projetos de recuperação do município. Quando não tem carro à disposição ele sobe na bicicleta, com a qual vai todos os dias para o trabalho, na Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente.

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E foi assim, para cumprir o combinado, que ele se pôs a pedalar 13 quilômetros até a localidade de Salto Dolmann, a fim de concluir o que havia se proposto no dia anterior: distribuir as mudas de nativas para três proprietários, para que pudessem efetivar o plantio, pois o descarregamento das 600 mudas só pôde ser feito em uma propriedade. “Como as mudas eram para três proprietários e não havia ninguém para fazer isso ali, resolvi voltar no dia seguinte, e como não tinha transporte, a única opção foi a bicicleta”, explica. Antes do Projeto Piava, quando atendia os agricultores nas mais distantes regiões do município, Barbetta também costumava cumprir à risca o que combinava, fosse com as pessoas ou


com ele mesmo, ou seja, sempre dava um jeito de ter minar uma tarefa para qual havia se comprometido. Em uma ocasião, para atender a comunidade da Serra da Abelha II, nos pedidos de árvores frutíferas, Barbetta montou em seu cavalo e de propriedade em propriedade foi listando os agricultores que desejavam as mudas. Fez isso durante uma semana, mas não deixou ninguém de fora. Barbetta se admira que estas histórias possam ser usadas como exemplo de sua tenacidade, mas quem acompanha o seu trabalho, como a equipe do Projeto Piava que coordena os projetos de recuperação da mata ciliar, garante que os 58 projetos de recuperação da mata ciliar que estão sendo desenvolvidos no município são fruto de sua persistência e poder de convencimento. “A gente precisa dar valor para o produtor, acompanhar, mostrar interesse por aquilo que ele está fazendo. O produtor sente isso. Não podemos deixá-lo abandonado, senão ele desiste no meio do caminho”, diz. Barbetta também se surpreende, e se orgulha de que a sua meta inicial de 30 projetos, quase dobrou. Os 58 projetos no município significam mais de 20 hectares de áreas em recuperação e, deste total, 12 hectares já estão plantados. Com os resultados positivos alcançados, Barbetta se tornou um defensor do Projeto Piava e acha que é importante que ele tenha continuidade. Quando não consegue visitar os produtores periodicamente, procura engatar uma conversa quando os encontra na cidade ou em reuniões. Barbetta distribuiu mais de 21 mil mudas, boa parte usando sua bicicleta. A CERVO

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“Entre uma prosa e outra eu pergunto pelas mudas, como elas estão, se cresceram, e assim por diante. Acho que esta é uma maneira de dizer a esses produtores que eu não esqueci do que combinamos, do que a gente fez juntos e que precisa continuar”, conta. O agricultor Máximo Domingos Leite, da localidade da Serra da Abelha II, que periodicamente recebe a visita de Barbetta, durante muito tempo explorou a floresta da região com uma serraria da família. Uma comunidade se formou em torno da serraria, com escola e até igreja. A área foi explorada até o fim, não sobrou nada e a comunidade praticamente desapareceu, restando apenas alguns moradores. Estimulado pelo Projeto Piava, e aconselhado pelo técnico Barbetta, agora ele está fazendo a recuperação da área. B ANANAS

TAMBÉM PRECISAM DE MATA CILIAR

Na linha de frente das ações de recuperação da mata ciliar no município de Luiz Alves estão duas agrônomas: Ilhane Terezinha Marcon, 40 anos, funcionária da Epagri, e Cirlene Kluck Mendonça, 30, facilitadora do Projeto Microbacias. Inconformadas que o município havia ficado de fora das atividades do Projeto Piava, porque inicialmente o poder público não quis se compromenter com os trabalhos de recuperação ambiental, elas foram incentivar e agregar pessoas para que Luis Alves também pudesse fazer a sua parte na construção de uma política sustentável de proteção da água na bacia do Itajaí. O empenho e a dedicação destas duas profissionais fizeram a diferença para que o município aderisse ao Projeto Piava e despontasse

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na região da foz do rio Itajaí, com um número expressivo de áreas em recuperação. Somar forças, juntando pessoas e organizações, foi a estratégia usada por Ilhane e Cirlene, conscientes de que o trabalho em benefício do meio ambiente precisa necessariamente ser realizado em conjunto. Inicialmente as agrônomas se uniram à Cresol (Cooperativa de Crédito Solidário), a primeira entidade do município a mostrar interesse pelo Projeto Piava, e foram em busca de mais parceiros. Convenceram a prefeitura, conquistaram o sindicato rural, agregaram estudantes da FURB, e então conseguiram formar o Grupo Municipal de Trabalho.

Em seguida, a Associação dos Bananicultores se integrou à equipe. Luiz Alves é um dos maiores produtores de banana do Estado e a participação desse grupo acelerou os projetos de recuperação. Todos os 20 produtores de banana que participam do Plano de Produção Integrada estão participando do Projeto Piava, pois perceberam

Degradação dos ribeirões de Luiz Alves é tão séria que esta foto, publicada no Jornal do Comitê do Itajaí em dezembro de 2006, fez com que o Ministério Público intimasse a prefeitura a recuperar a área. A CERVO

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logo que não só piavas, mas também bananas precisam de matar ciliar. Cada grupo representado no GTM se responsabilizou por uma função e como uma mão foi se unindo a outra, o resultado são projetos exitosos de recuperação em diversas propriedades e ações de educação ambiental que estão integrando crianças e agricultores. Ilhane e Cirlene têm agora boas histórias para contar. Entre elas a do agricultor que foi convencido a fazer o plantio e contou com a ajuda de um grupo de 100 crianças. “Foi um dia muito lindo aquele. Fizemos uma roda e uma avaliação com as crianças, agradecemos ao proprietário. Ele ficou emocionado e pediu para que as crianças acompanhassem o desenvolvimento daquela área”, conta Cirlene. Tem outro caso de um agricultor que fez um mutirão com os vizinhos para o plantio, protegeu cada muda com uma cerca e depois resolveu juntar todos para comemorar o plantio com um jantar. O empenho das profissionais resultou na boa aceitação do Projeto Piava por parte dos produtores. “São eles que vêm à nossa procura. Nas reuniões a gente explica como o projeto

funciona e nem precisamos insistir, porque imediatamente eles se propõem a fazer a recuperação”, conta Ilhane. O meio ambiente é sempre um tema que assusta, porque as pessoas ligam os projetos de recuperação à fiscalização e punição. Mas aí novamente as agrônomas têm uma estratégia que não falha nunca: mostrar o amor pelo trabalho e valorizar a ação do agricultor. Por isso o acompanhamento das áreas em recuperação não é apenas uma visita técnica. Elas dedicam pelo menos meio dia para cada visita. Fazem o trajeto com o produtor, conversam sobre as espécies, mostram interesse pela história da propriedade, sobre as espécies que existiam ali, quais ainda podem ser encontradas, e aí as expectativas são as melhores,a ponto de comemorar a vinda das mudas, o plantio e abrir a propriedade para as ações de educação ambiental. “A gente sobe e desce morros, não são áreas pequenas, mas está valendo muito a pena”, diz Ilhane. Ambas garantem que cabe a elas, como profissionais, saber trilhar os melhores caminhos para vencer os obstáculos, valorizar as pessoas e

Ilhane e Cirlene promoveram a reversão da degradação dos ribeirões junto aos bananicultores. A CERVO

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incutir nelas as mudanças e as práticas que possam melhorar o meio ambiente, beneficiando a todos. “No começo o produtor achou que simplesmente íamos invadir a propriedade dele e iamos embora sem haver uma contrapartida. O acompanhamento, as vistorias, o envio das mudas provaram o contrário”, destaca Cirllene.

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O professor Josemir Trentini, de Rio do Oeste, filho de agricultores, tinha dois grandes sonhos. Um era o de ser educador e continuar no campo. O outro era por meio da sua profissão contribuir para que as pessoas tivessem uma nova percepção sobre o meio agrícola e sobre o ambiente natural. O primeiro já conseguiu realizar: formou-se em educação física e dá aulas na rede estadual e municipal de sua cidade natal. O segundo está realizando a cada dia, tanto junto de seus alunos, quanto de sua família, amigos, vizinhos e comunidade. O professor Josemir é um dos parceiros do Projeto Piava do município de Rio do Oeste. Como educador, ele multiplica idéias e ações em favor do meio ambiente, e quando não está em sala de aula, trabalha na propriedade dos pais, onde se dedica à organização e à conservação ambiental do local. Pensando e agindo para mudar atitudes em favor do meio ambiente, o professor Josemir já fez, ele mesmo, a proteção de três nascentes pelo modelo “caxambu”. Todas tiveram suas áreas de entorno protegidas com o plantio de espécies nativas fornecidas pelo Projeto Piava, que também deu acompanhamento técnico ao plantio.

Ilhane e Cirlene contribuíram para plantar uma semente, não apenas no chão de Luis Alves, mas também no coração daquelas pessoas que encontraram pelo caminho e que foram sensibilizadas para a prática da recuperação e para a participação nas ações de educação ambiental. A semente está germinando por todo o município.

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Segundo Josemir, o Projeto Piava veio ao encontro de suas intenções, que era o de recompor a floresta e proteger a água de sua propriedade. Ele até surpreendeu os técnicos responsáveis pela promoção da recuperação da mata ciliar ao derrubar uma plantação de pinus que ainda estava em fase de crescimento próximo de uma das nascentes e substituí-las por espécies nativas, num raio de 50 metros ao redor da fonte, seguindo exatamente a legislação florestal. Praticar educação ambiental nas ações desportivas, em Rio do Oeste, não é mérito apenas do professor Josemir Trentini. A integração de ações educativas, sociais, econômicas, esportivas e também religiosas foi uma estratégia muito usada pelo GTM. Além da prefeitura, de escolas, de empresas e da igreja, até o time de futebol da cidade entrou na onda de recuperar a mata ciliar. O Haiti Futebol Clube mobilizou seus diretores, jogadores e a torcida para a recuperação de uma área nas laterais do campo, situado na localidade de Toca Grande. A mata ciliar do ribeirão da Toca Grande, entre o arrozal e o campo, foi recuperada pelo Haiti Futebol Clube. F OTO

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O processo de erosão da margem esquerda do Rio Itajaí do Oeste, que margeia o campo de futebol, ameaçava derrubar o alambrado. A diretoria, os atletas e os torcedores do time realizaram a recuperação da área, fazendo o cercamento e o plantio de mudas, antes mesmo da início das atividades do Projeto Piava, que posteriormente auxiliou na manutenção da área, o que resultou numa rápida recuperação e estabilização do terreno. Por ser uma das primeiras áreas a apresentar resultado positivo, o projeto do Haiti se tornou projeto piloto do Projeto Piava no município, servindo de área de estudos para as

escolas e de exemplo para os demais projetos de recuperação. Agora, um troféu de cristal no formato de gota d’água se destaca na prateleira da sede do Haiti Futebol Clube. Trata-se do troféu conquistado na terceira edição do Prêmio Otto Rohkohl de Conservação da Água, concedido em 2006 pelo Comitê do Itajaí. Para conquistá-lo, o Haiti não precisou entrar em campo. O pequeno time do Alto Vale se transformou num timão e tomou uma decisão que muito time grande deveria imitar: mobilizou a comunidade para ações educativas e de recuperação da mata ciliar.


O município de Rio do Oeste foi um dos mais atuantes no Projeto Piava. De acordo com o diretor de Meio Ambiente do município e coordenador do GTM, Adelírio Heidemann, o trabalho integrado, cada um fazendo a sua parte, e todos pensando em preservar a água e focados nas ações de recuperação da mata ciliar foi o que deu resultado. U

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Para o coordenador de futebol do Haiti Futebol Clube, Marcos Piseta, também integrante do GTM, o exemplo do futebol realmente contagiou a todos e facilitou as ações de recuperação. “O futebol e a religião têm esse poder de envolver as pessoas em ações coletivas e aqui isso deu muito certo”, ressalta.

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Em algumas ações são as pessoas que fazem a diferença. Em outras, as instituições ditam o ritmo e chamam as pessoas para a ação. Em Taió, as duas coisas andaram juntas nas ações do Projeto Piava. A prefeitura municipal disponibilizou infraestrutura para a construção de um viveiro de mudas nativas, envolveu praticamente todas as secretarias e cedeu profissionais que fizeram a diferença nas ações de educação e recuperação da mata ciliar. A prefeitura de Taió apoiou efetivamente o GTM, viabilizando parcerias com o sindicato rural, secretarias municipais, Projeto Microbacias, Epagri, e os veículos de comunicação locais. Foram essas condições que colocaram o município de Taió como vice-campeão de áreas em estágio inicial de recuperação pelo Projeto Piava. O município superou em muito a meta inicial de 18 hectares, chegando a um total de 40 hectares de área que está sendo recuperada. A coordenadora do GTM de Taió, Janine Berri, da prefeitura, explica que além do grande respaldo do poder público municipal, o GTM contou com o apoio de empresas e teve uma boa receptividade por parte dos agricultores envolvidos. “Conseguimos sensibilizar e juntar vários setores e pessoas engajadas para promover as ações do Projeto Piava e o resultado a gente começa a perceber nas margens dos rios”. Janine destaca que os professores e os agricultores foram os principais aliados. “Hoje eles percebem a importância de manter e proteger as Janine, acima à direita, criou a ponte entre o GTM e as escolas. P ÁGINA

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Alunos de Taió participam de plantio de mudas. A RQUIVO P REFEITURA

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nascentes, pois a água é fundamental para a agricultura”, comenta. Quase todos os plantios de mudas nas propriedades rurais foram acompanhados ou feitos em parceria com as escolas, envolvendo os professores e alunos no processo de educação ambiental e recuperação da mata ciliar. Não é difícil encontrar em Taió agricultores satisfeitos com as ações do Projeto Piava e dispostos a levar a recuperação da mata ciliar adiante. Um dos que pensam assim é o agricultor Amarildo Murara, 43 anos. Desde que os 13,5 hectares de terra, no município de Taió, passaram definitivamente para as suas mãos, Amarildo, sua esposa Louise, e também os seus dois filhos, Rodrigo, 20, e Larissa, 18, sonham com uma floresta de árvores nativas em seu terreno. Em 2006, pelo Projeto Piava, e com o apoio do projeto de agroflorestas, da Apremavi, 20% da propriedade começou a ser recuperada com espécies nativas. A satisfação da família é tanta que os quatro costumam reservar algum tempinho por semana para ficar admirando as mudinhas que estão crescendo na beira do ribeirão, onde parte

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das arrozeiras deram lugar a elas, assim como ao redor da nascente e em outros pontos da propriedade. “A gente vem aqui e então fica comparando uma área com a outra, qual está se desenvolvendo melhor. É uma satisfação grande ver as plantas crescerem e pensar que daqui a alguns anos teremos nossa floresta nativa”, observa Amarildo. A propriedade pertence à família Murara há 40 anos, tendo sido de seus avós paternos e de seus pais. Para Amarildo a agricultura é a melhor opção de vida e ele garante que é perfeitamente possível viver da terra, respeitá-la, protegendo a água e a floresta. A família Murara cultiva milho, arroz e também mantém dez vacas para a produção de leite. Segundo ele, aproveitar o melhor da terra é apenas uma questão de organização e zelo. Opinião idêntica a do filho Rodrigo, que não se imagina fazendo outra coisa, que não seja trabalhar na agricultura e agora recuperar a mata ciliar da propriedade. Além de recompor a floresta ciliar, a família Murara optou pelo sistema agroflorestal, consorciando o plantio de espécies nativas com a

lavoura de milho, abóbora, melancia e pepino, e também está implementando o sistema de pastoreio “voizin”. Trata-se de um sistema de piqueteamento que permite colocar mais animais utilizando uma área menor para pastagem, onde o rodízio é diário. A área é dividida em 31 partes e em cada uma o gado só pasta uma vez por mês. O agricultor pretende incrementar a produção de leite com mais 50% de animais, reduzindo o espaço da área de pastoreio. Com estas inovações, que permitem uma exploração melhor do solo, a família Murara quer ampliar a área de recuperação. A intenção é plantar palmito e também cercar algumas áreas para que a natureza possa se encarregar da recomposição. A propriedade que durante quase 100 anos foi explorada sem cuidado com a natureza, agora está tendo a chance de ter de volta, pelo menos em parte, a mata exuberante de outrora e a água protegida. “Aos poucos vamos mudando essa paisagem”, diz Amarildo. Em uma das nascentes, quase desaparecida e rodeada de pinheirinhos (Pinus eliot), a família já modificou a paisagem. As exóticas, que dariam mais lucro se crescessem mais sete anos, foram cortadas e, em seu lugar, uma variedade de nativas ocupa a área, que, na certeza de Amarildo, trará a água de volta. A longo prazo, nos planos dos Murara, também está a construção de uma pousada. Que boa idéia! Assim eles poderão dividir com outras pessoas a rotina da vida rural, a beleza da mata e mostrar que sonhar com um mundo sustentável não é tão irreal. Pico do Taió, visível em grande parte da bacia do Itajaí do Oeste. A CERVO

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As últimas braçadas de Beate Frank nas águas do rio Itajaí-açu foram decisivas. Ela nadava alguns metros à frente de Roswita Müller quando se aproximava da corredeira que se formava junto a chamada “pedra da fome”, onde o Itajaí-açu, ainda cheirando a rio, descia um degrau e recebia as águas do Ribeirão Garcia. Costumava ser ali a reta final da tradicional prova de natação do Festival Aquático de Blumenau, que nas décadas de 60 e 70 reunia nadadores de todo o Estado e levava milhares de blumenauenses às margens do rio, sempre na semana do aniversário da cidade. O segredo para se dar bem na reta final da prova era entrar no ponto certo da corredeira e com isso se beneficiar da força das águas para ganhar mais velocidade nos últimos metros da competição. Roswita era a favorita da prova, campeã do ano anterior e costumava não errar nesse ponto. Beate, no entanto, nem olhou para trás. Tinha treinado o suficiente para reconhecer o ponto certo de entrar

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na corredeira de olhos fechados. E foi assim, apenas sentindo a água em contato com a pele que entrou na correnteza e seguiu firme para a vitória. Era a prova de 1970 e Blumenau comemorava 120 anos de fundação. Foi a penúltima competição de natação realizada no rio Itajaí-açu. A poluição do rio oferecia risco à saúde dos nadadores e a prova de natação foi retirada dos festivais aquáticos. A poluição aumentava a cada ano e, logo em seguida, até mesmo os festivais aquáticos não foram mais realizados. Beate então encontrou um outro motivo para manter seu contato com o rio: mobilizar as pessoas para recuperá-lo. Essa missão ficou adormecida durante algum tempo. Vieram os estudos, a graduação, o mestrado, as viagens. Só que, volta e meia, lá estava Beate sentada no tronco de árvore nas margens do rio Itajaí-açu, nos fundos de sua casa, onde deu seus primeiros saltos, e a passou a conhecer o rio. Em uma das enchentes o tronco foi arrancado

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das margens pela força das águas. Semanas depois, ela, o pai e a irmã, o encontraram na areia da praia central de Balneário Camboriú, durante uma caminhada. “Foi a minha primeira lição prática sobre o caminho das águas na bacia hidrográfica”, conta. Acima, o tronco que serviu de trampolim foi carregado pelas cheias e reencontrado nas areias de Balneário Camboriú. Na página anterior, as últimas braçadas para a vitória nas águas do rio Itajaí. A RQUIVOS B EATE F RANK P ÁGINA

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Depois de muito nadar, Beate Frank, como professora da Furb, passou a ensinar a cuidar da bacia do Itajaí. A CERVO

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Nas enchentes de 1983 e 1984, agora já como professora da FURB, Beate se envolveu nas operações do sistema de alerta e foi uma das fundadoras do Projeto Crise, criado na universidade com o objetivo de desenvolver medidas não-estruturais para a proteção de enchentes. Essas medidas envolviam a monitoração do tempo, monitoração de níveis dos rios, modelos de previsão hidrológica e cartas de risco de inundação. Surgia ali o embrião do atual Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) da universidade e, porque não dizer, do próprio Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí. Durante alguns anos, na época de atleta, Beate nadou muito contra a corrente, treinou forte, e só


venceu a prova quando aprendeu a interagir com o rio, e a aproveitar a energia de seus fluxos e refluxos. Para coordenar o esforço coletivo em defesa do rio Itajaí e de sua bacia não foi diferente. Estudou muito, nadou contra correntes, encontrou pessoas solidárias e outras nem tanto, trilhou o caminho das pedras, descobriu o caminho das águas e foi aí que conseguiu reunir e unir uma bacia inteira em torno de uma proposta de gestão integrada e participativa de suas águas. Foi assim que surgiu o Comitê do Itajaí e o Projeto Piava. E se alguém lhe pergunta o motivo de tudo isso, não existe resposta simples, mas a mais pessoal ela responde de bate-pronto: “Eu quero voltar a nadar no rio Itajaí-açu!” O

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O empresário Hans Prayon, presidente do Conselho de Administração da Cia Hering, tinha apenas seis anos quando deixou o Brasil para ir morar com os pais na Alemanha, em 1938. A campanha de nacionalização do Estado Novo estava sendo implantada com mão de ferro e os imigrantes ou descendentes de alemães não podiam falar o idioma nato em território nacional. O controle e a repressão eram rigorosos e foi por não concordar com essa política que o pai de Hans, o industrial Kurt Prayon, imigrante alemão, decidiu retornar para a Europa com os filhos, nascidos no Brasil, e a esposa Annemaria Hering Prayon, nascida no Brasil, mas filha de pais alemães. Da infância em Blumenau, Prayon tem poucas recordações. Lembra apenas que deixou uma cidade verde, cercada por florestas e com rios de águas limpas para encontrar um país

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urbanizado e que se transformava na maior potência industrial da época. Antes de estourar a II Guerra Mundial, Prayon, ainda menino, morava com os pais nas margens do rio Reno. Chegou a pescar e a nadar em suas águas, nos primeiros anos, na estação quente. Mas as cidades e a indústria cresciam em ritmo acelerado e logo o Reno se tornou poluído. O saneamento básico e os cuidados com o meio ambiente não estavam entre as prioridades do governo alemão e os ribeirões e rios do país se transformaram em valas de esgoto, recebendo todo tipo de poluentes. Logo após a guerra, em 1948, Prayon retornou para Blumenau onde concluiu o curso científico e prestou o ser viço militar. Em 1952, a Alemanha ainda se recuperava dos estragos causados pela II Guerra Mundial e sua economia

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se restabelecia aos poucos. As indústrias retomavam suas atividades e as cidades voltavam a se organizar. E foi nesse clima que Prayon retornou para a Alemanha, onde até 1959 estudou na Universidade de Aachen, graduandose como engenheiro mecânico. Agora, o governo e o povo alemão tinham novas preocupações. Era necessário remover os destroços da guerra, apagar as imagens negativas do passado e tornar o espaço urbano novamente um lugar agradável para se viver. A limpeza dos rios e o saneamento básico passaram a ser uma obrigação em todos os projetos urbanísticos e de reconstrução. O país inteiro se mobilizou em torno de campanhas e de ações para salvar os seus rios, incorporando de forma pioneira as questões ambientais no planejamento, na gestão territorial e no desenvolvimento econômico. Ainda na Alemanha, Prayon gerenciou uma fábrica de embalagens de polietileno de 1960 até 1963. Em 1964 retornou ao Brasil para atuar como diretor técnico da Indústria Têxtil Companhia Hering, onde passou a ser o vicepresidente, a partir de 1983. Os laços com a Alemanha se mantiveram e, em 1975, Hans Prayon foi nomeado cônsul honorário da República Federativa da Alemanha em Blumenau. Nessa época, o Vale do Itajaí atravessava uma fase de expansão industrial e lançava as bases do que viria a ser o maior pólo têxtil da América Latina. O desenvolvimento econômico de Blumenau e do Vale do Itajaí foram conquistados à custa da exploração descontrolada dos recursos naturais e sem nenhuma preocupação com o meio ambiente. Como conseqüência, o impacto das enchentes

e enxurradas crescia a cada ano e os rios se tornavam cada vez mais poluídos e sem vida. “E o pior de tudo é que ninguém fazia nada para reverter essa situação”, conta Prayon. Existiam apenas algumas movimentações isoladas e sem continuidade e, mesmo assim, Prayon se entusiasmava com elas e participava ativamente. Foi assim que liderou a campanha “Enchente. A solução não cai do céu”, promovida pela ACIB; implantou o Sistema de Gestão Ambiental na Cia Hering, apoiou a campanha “Vamos Salvar o Rio Itajaí-açu”, promovida pelo Grupo RBS, e participou do movimento pró-criação do Comitê do Itajaí, sendo seu primeiro presidente logo após a Hans Prayon, 1º presidente do Comitê do Itajaí, de 1998 a 2004. C ENTRO

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criação dessa nova instituição colegiada, em 12 de março de 1998. “O Comitê do Itajaí surgiu com uma nova proposta de ação, a de gerenciar todos os usos da água de forma integrada e com a participação de todos”, destaca Prayon. “Desde o início percebi que esse modelo de gestão integrada da água era o mais apropriado para a região e seria o melhor caminho para recuperar os nossos rios”, conta. E foi com essa certeza que Prayon permaneceu por três gestões à frente do Comitê do Itajaí, U

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Com uma experiência de mais de 30 anos na vida pública, Tercílio Bonessi, uma liderança política no Alto Vale do Itajaí, começou a se interessar pelas questões ambientais quando era secretário de saúde do município de Pouso Redondo, em 1999. Antes disso, cumpriu três mandatos como vereador, eleito com o voto de produtores de arroz e pequenos agricultores do município. Sempre defendeu a agricultura familiar, a educação e a saúde pública de qualidade como bandeiras de campanha e de luta. Como vereador, acompanhando e auxiliando o trabalho das professoras do município, Tercílio ouviu delas o apelo para a necessidade de promover a educação ambiental e de se cuidar mais do meio ambiente. Mas foi como secretário de Saúde que enxergou com maior clareza que a saúde das pessoas passava pelo saneamento ambiental, ou seja, por um meio ambiente sadio. Desenvolvendo ações de mobilização social e educação sanitária com as professoras e as

sendo reconhecido por sua diplomacia como o cônsul das águas. Sob sua liderança o Comitê do Itajaí consolidou-se como uma instituição colegiada forte e atuante, e com credibilidade e competência, tanto para captar investimentos como também para promover as articulações políticas necessárias ao seu funcionamento como o “Parlamento das Águas do Vale do Itajaí”. Em 8 de julho de 2004, Prayon transferiu o cargo de presidente do Comitê do Itajaí para Maria Izabel Pinheiro Sandri.

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Tercílio Bonessi descobriu a necessidade de cuidar da água quando foi Secretário da Saúde em Pouso Redondo. Atualmente é liderança no Alto Vale do Itajaí, levando prefeitos a pensar no meio ambiente. A CERVO

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agentes de saúde, Tercílio descobriu uma outra bandeira política, a da proteção do meio ambiente. Foi nessa época que surgiu um conflito pelo uso da água do Rio das Pombas, em Pouso Redondo, onde a Casan tem seu manancial para abastecimento do município. A população de Pouso Redondo reclamava da qualidade da água distribuída pela Casan, e esta, por sua vez, jogava a culpa nos arrozeiros, pecuaristas e demais ag ricultores localizados à montante do manancial. Este impasse se arrastou por algum tempo, até a inter venção do Gr upo de Trabalho de Resolução de Conflitos pelo uso da água do Comitê do Itajaí, em 2006, que mediou a neg ociação do conflito e encaminhou as primeiras medidas para sua solução. “Como eu era secretário de Saúde, enxerguei primeiro o problema de saúde pública gerado pela má qualidade da água”, conta Tercílio. “Mas ao ouvir todos os envolvidos percebi que se tratava de um problema sócio-ambiental mais complexo e que o Comitê do Itajaí era o foro legítimo para promover a negociação do conflito”, completa. Tercílio então passou a ser um dos interlocutores políticos do Comitê do Itajaí no Alto Vale. Em 2001 começou a participar das assembléias e reuniões do Comitê do Itajaí, e, nesse mesmo ano, na condição de chefe de gabinete do então prefeito de Pouso Redondo, Hans Fritsche, representou a população do município na assembléia de instituição da Fundação Agência de Água do Vale do Itajaí. A partir daí tornou-se um voluntário das águas, participando ativamente de diversas ações, campanhas e capacitações do Comitê do Itajaí.

A partir de 2003 passou a ser o coordenador regional da Semana da Água para o Alto Vale do Itajaí, e em 2004 foi eleito membro do Comitê e integrante de sua diretoria. Atualmente, vê o Comitê do Itajaí como um grande espaço de articulação institucional para a promoção da gestão dos recursos hídricos na bacia. “A questão ambiental na bacia do Itajaí pode ser dividida entre antes e depois da criação do Comitê do Itajaí”, frisa. “Aprendemos muito com a participação no Comitê do Itajaí e avançamos muito na promoção de articulações institucionais necessárias para a gestão da água na bacia e para a promoção da gestão ambiental municipal”, completa. Como político, Tercílio incorporou o discurso do desenvolvimento sustentável e agregou a ação ambiental a todas as demais bandeiras que defende. “Eu continuo defendendo o pequeno agricultor, a educação e a saúde de qualidade, mas hoje sei que para ter isso tudo de forma sustentável é necessário cuidar do meio ambiente em primeiro lugar. A questão ambiental é transversal, ela permeia a educação, a saúde e a agricultura, bem como as demais atividades humanas”, discursa. Ex-gerente de Desenvolvimento Social Urbano e Meio Ambiente da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Regional de Rio do Sul e agora gerente de saúde na Secretaria de Desenvolvimento Regional de Taió, ele constata que o poder público está fazendo muito pouco pelo meio ambiente. A explicação de Tercílio para sua constatação é bem simples: “O político pensa em permanecer no poder e a questão ambiental ainda não traz os votos necessários para elegê-lo, então, quando está no poder, defende os interesses econômicos e classistas que o elegeram”.


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A empresária Maria Izabel Pinheiro Sandri sempre teve vocação para a diplomacia. Era assim desde os tempos da infância, quando, na condição de irmã mais velha, tinha que coordenar funções e distribuir tarefas aos cinco irmãos, todos meninos. Cabia a Bel o papel de fazer a divisão justa e manter a paz na família. Maria Izabel, presidente do Comitê do Itajaí nas gestões 2004/2006 e 2006/2008. A CERVO

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O desejo de ser professora também veio dessa experiência no lar. Chegou a se formar no magistério, mas não era bem isso que estava nos seus planos. Pensava nos tribunais, em grandes decisões e se formou em direito com o objetivo de advogar. Antes mesmo de pisar nos tribunais, apaixonou-se, casou-se, vieram os três filhos e a divisão de tarefas com o marido, no lar e na empresa atacadista da família. Foi aí que Bel se viu novamente num grupo de minoria: o das mulheres empresárias. A jornada dupla, no lar e na empresa, não era tarefa fácil, e, mesmo assim, Izabel achava tempo para mobilizar as mulheres empresárias de Itajaí para ações coletivas, sociais ou de negócios. Passou a integrar a Câmara Setorial da Mulher Empresária da Associação Empresarial de Itajaí (ACII) e logo sua habilidade para o diálogo a projetou como presidente da ACII, eleita em 2001, cargo que manteve até janeiro de 2006. Sua gestão foi marcada por inúmeras campanhas positivas, como o retorno da Petrobras para Santa Catarina, internacionalização do Aeroporto de Navegantes, coordenação do Movimento de Melhoria, Manutenção e Duplicação da BR-470 e participação ativa no Comitê do Itajaí. A facilidade para o diálogo e a articulação política mais uma vez conduziram Maria Izabel a uma função pública. Desta vez, até ela foi pega de surpresa com o convite e a eleição para a presidência do Comitê do Itajaí, em 2004. Como representante da ACII no Comitê do Itajaí, Maria Izabel foi convidada pelo ex-presidente Hans Prayon para assumir a liderança. “Eu não era

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especialista da área de recursos hídricos e só aceitei disputar a presidência do Comitê do Itajaí quando me convenci de que a função exigia mais diplomacia e articulação política do que conhecimento técnico”, conta. Por ironia do destino, pela primeira vez na história do Comitê do Itajaí, a direção foi disputada por duas chapas. Essa foi também a primeira eleição a cargo público em que Maria Izabel concorreu. A gestão foi construída com muita conversa. Assim que assumiu a presidência, convidou a outra chapa, até então adversária, para contribuir com o movimento das águas e na construção participativa da política sustentável de proteção de nascentes e matas ciliares na bacia do Itajaí, o Projeto Piava. Isso mesmo, o Projeto Piava foi construído e enviado para a Petrobras num período de transição, no final da gestão de Hans Prayon e no início da gestão de Maria Izabel. “Eu

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ainda estava me iniciando nos assuntos ambientais e das águas, mas já tinha sido contagiada pela energia de nossos rios e das pessoas que os defendem”, lembra. A diplomacia das águas já estava em seu sangue. Seu pai era marinheiro da marinha mercante e sua mãe nasceu na Ilha do Arvoredo. Os dois viveram boa parte da vida rodeados por água e ensinaram para Maria Izabel os perigos e segredos das águas. “Pra se lidar com água tem que se conhecer bem os seus segredos e acho que fui bem instruída”, brinca. Atualmente, Maria Izabel também é vicepresidente da Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc) e, seja como empresária ou como líder, sempre leva para a mesa de negociação um ensinamento que aprendeu com a diplomacia das águas: “A água nunca discute com os obstáculos, mas os contorna”.


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P E S S O AS

Q U E S E E N V O LV E R A M E M A Ç Õ E S D O

P R O J E T O P I AVA

E C O N T R I B U I R A M PA R A A C O N S T R U Ç Ã O D E

U M A P O L Í T I C A S U S T E N T Á V E L D E P R O T E Ç Ã O D E N A S C E N T E S E MATAS C I L I A R E S

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AGROLÂNDIA Agilã Zuleica Schmoegel Passing, Amarildo Michels, Claudinei Vicenzi, Cláudio Prochnow, Dirceu Leite, Iliane N. da Silva, Joriana da Costa, Lílian Knaul, Lúcia Doering, Maria B. Will, Nilva Vieira Weiers, Patrícia Leite, Poliana Kalinca W. Eger, Rômulo Adriano, Sigmar Riblim, Terezinha Daboit, Ursula Zwicker AGRONÔMICA Adriana Scoz, Adriani Erkmann, Bernadete Furlani da Rosa, Carlos Gaertner, Diana Passero, Eliane Sartorato Nazari, Felinto Bork, Janete Brignoli, Nilca Weiss, Nilton Nagel ALFREDO WAGNER Acácio Marian, Amélia Maria Schweitzer, Áquila Schneider, Gabriela Giovanka, Gilsonei Duarte, Irimar José da Silva, Izolde Seemann, Jaqueline Rabelo Maffei, Maria Goreti H. Wambemell, Marlete Hüntemann da Silva, Néli Schüller, Osmar Coelho, Quelen Marian Rodrigo N. da Silva, Renato Rizzaro, Sérgio B. Silvestri, Terezinha Solange G. Schutz APIUNA Adelíria S. A. Freitas, Adriano Eccel, Alôncio da Silva, Altino Jacinto, Antônio Bermo, Carlos Henrique Sedlacek, Eurico Lucas da Costa, Fabiano Coelho, Gilton Dauri, Gorete Pereira dos Santos, Jean Paulo Bezzani, Josemir Felipe, Márcio Uessler, Maria Salete Feuser Dalabeneta, Mário Dalri, Marise Cavalheriuna, Pedro Freitas ASCURRA Alessandra Zonta, André Felipe Beber, Daniela Dallabona, Fábia Chiste Volkmann, Fabiano Coelho, Gorete dos Santos, Heitor Fistarol, Marise Cavalheri, Moacir Pinho, Patrícia Agostini, Samira Braidi Valcanaia ATALANTA Ademar Nunes, Ademir Luiz, Águida Kohl Amelco, Alvino Schetter, Alzira Sieves, Antônio Pezenti, Áureo Hames, Carlos Pesente, Celito Faust, Davi Monn, Edela Scheffer, Edilaine Dick, Horácio J. Demarchi, Jackson Hadlich, Jaime Senen, João Franco, Juventino Steinheuser, Laércio L. França, Lauro Dela Justina, Leandro Casanova, Lourivaldo

Schell, Marcos Hoeltgebaum, Margarete Dalabeneta, Marizeti Antunes Pezeti, Nilton Sieves, Renato Esser, Roni Kirten, Teobaldo Sieves, Tereza S. da Silva. AURORA Ademar Grunfeld, Ademir Aurélio Leder, Adriania Krieger Strey, Aldo Freiberger, Anilore Roiwas, Artur Dumes, Augustinho Graft, Bernadete Tenfen, César Ranscozki, Claudete Slorz Lehmann, Cláudio Raimundo Bohn, Edina Laura Atock Martins, Eduardo Bernicker, Elizabeth Althoff Rodrigues, Fabiana Vandresen Lehmkuhl, Giovani Rocha, Hari Schutz, João Purim, Juliana Schotten, Liberto Krueguer, Lisete Schüssler, Lourival Schutze, Marcio Boing, Marcolino Petri, Marino Tenfen, Marli Ribeiro Borges Saffier, Moacir Blastus, Nelson Grunfeld, Nicolau Kohn, Nilo Warmeling, Nilson Blasius, Raul Rocha, Renato Jahre, Renato Schwabach, Ronaldo Gunther, Salvio Montibeller, Sigmar Strey, Soely Siwerdt Schutz, Suanir Blastus, Udo Grunfeld, Valdelir Bagio, Valdir Cipriani, Valmor Longen, Viland Wild, Vilmar Prees, Vilson Schoeninger, Volnei Lutz, Wilson Lehmkuhl. BENEDITO NOVO Carmen R. Koprowski, Claudete Sabrina Schmidt Buzzi, Cleide Giovana Muller, Eleana Hinsching Klug, Elfrida Erdmann Koepsel, Eva Maria Groni, Gebhart Groni, Glória M. Schrull, Heverson Thurn, Iduvirgem Devigili Langa, Ilse Schlu, Iria Campestrini, Ivete Ignez Girardi Demarchi, Juliana Adam, Leonida Bona, Macilde Ines Bertoldi Poltronieri, Margrit Draeger Giovanella, Maria Eunice Buzzi de Castilho, Maria Maristela Corrêa, Marli Poltronieri Lenzi, Marlize Konel Carlini, Monica Nau Hisching, Roseli Maria A. Bona, Rosilene Uber Bona, Sueli S. T. Schmidt, Tercílio L. Longo, Vanderléia Menestrin. BLUMENAU Adão Ademar, Adriana Weber Faust, Aline Tomazi, André L. Sedlacek, Antonio C.F. Neto, Antônio Schmidt, Carla C. Back, Carlos Cruz, Carolina Gomes, Cintia Uliano Reinert, Daniela Curtipassi, Denise Maas, Elen Cristina Fath, Elenita M. S. Silva,


Eliete Crestani, Elisa Ferreira, Esmeralda Silva, Felisberto J. Luciani, Gabriela Muller, Gilberto Raulino, Giovani Rafael Siebel, Ivan Burgonovo, Janaína Kelen Paulo de Mattos, Jorge Muller, Jorgeane Schaefer, José Constantino Sommer, Lourival Inácio de Oliveira, Lucia Pereira Muller, Luiz A. de Souza, Maicon dos S. Gonçalves, Major Jorge Luiz Heckert, Márcia Regina Tasca Puel, Maria Verônica Camelo, Marlene Dierchnabel da Silva, Odair A. da Silva, Patrícia Balistieri, Priscila Leite, Robson Tomasoni, Rosalene Zumach, Rose Cristiane Romualdo, Rosemari Bona, Sandra Regina Nau, Sérgio Mauricio Fillende, Suelen Grott, Tania Aparecida Paim, Tanice Kormann, Vanderlei Schmidt, Vera Krummenauer, Vivian Denise S. Silva, Wagner F. Farias, Walfredo Balistieri. BOTUVERA Eduardo Serpa, Lucie Herta Hilbert. BRAÇO DO TROMBUDO Carice E.L. Wolniewicz, Carlos Mathias, Dulce I. Larsen, Fábio Dalmarco, Irene H. Bertelli, Irene Maria Seibert, Jenice Pommerening, Joice M. C. Marangani, Juliana Meurer, Lígia Vogel, Mara Eliza Schaade, Naldi F. Muller, Pedro da Silva, Vera Lúcia Schaeffer, Zenaide Kniss Felga. BRUSQUE Aldonei da Silva Lopes, Beatriz B.B. Grisa, Cristina Zierke, Denize D. M. Ferreira, Estácio J. Odisi, Eveline Siqueira Teixera, Jorge Bonamente, Juliano Montibeller, Luiz Gianesini, Marcelo Amorim, Maria Helene Kormann, Neusa Roseli Soares Viguerani, Neusa Sapelli Teixeira, Pâmela Montibeller, Rosane Feltrin Brunildes da Silva. CHAPADÃO DO LAGEADO Adair Grach, Agenor Jasper, Eva A. Kempner Abreu, Glória G. Bill, Iure R. Martins, Ives Luis Lopes, Jaison Inácio, Kátia Telma Medeiros, Marciano Rode, Zilmar Ramos. DONA EMMA Agnaldo de Sousa, Alexandre da Costa, Elza S. Rizzieri, Genoir Schreiber, Ivo Adami, James A. Adam, Janete Pazzeto, Márcia Elert Silva, Marcos Odorizzi, Marlene Schmidt, Mirtes H. Stupp, Otanir Matiola, Sandra Hans, Sandra Jahn.

DOUTOR PEDRINHO Denny Heinzen, Evanir de Castilho, Joel R. Fronza, José Marcos C. dos Santos, Mansoelto Galkowski, Marli Aparecida Buzzi Stulzer, Moisés Kissner, Tânia T. Giovanella, Valdir Bagio. GASPAR Albertina Teresinha Karst, Camila Schreiber, Carla Rosana Ávila, Diego M. Moser, Fernanda Eberhard, Janice Albano, José Carlos Spengler, Josi R. Prestes, Marcos J. Schmitt, Norma Rosa, Rodolfo Dias Probst, Rosana Fey Probst, Rosani da Silva. GUABIRUBA Amarildo Haag, Cezar C. Rosa, Cíntia Hinsching, Haroldo Kormann, Juliano Piske. IBIRAMA Ademir Piske, Adriana Meneghelli dos Santos, Alex Wellington dos Santos, Claúdia Regina, Jalmir C. G. de Araújo, Jaqueline Menegom Blum, Nara Schroeder Franzói, Priscila Regina Dallabona, Rafael C. Reinicke, Rita Piske, Rogério Eslolsen, Silvio Murilo Cristóvão da Silva, Valdira Hoepers Buss, Venceslau Voss. ILHOTA Adelaide Terezinha Bleichuwel, Arno Roberto, Cristiane Bittencourt, Davina R. da Silva, Egon Budag, Jean C. A . Medeiros, Johnny Pereira, Manuel P. Bittencurt, Márcio N. Polhano, Marcos Túlio de Oliveira, Renato Cerqueira, Tatiana R. Reichert, Vanessa Simon. IMBUIA Adenisio Allein, Adriano da Cunha, Águida Capistrano Boll, Alexsandro da Cunha, Alonir da Silva, Clóvis Marcelo da Cunha, Dulciani Terezinha Allein Schlickmann, Edson C. de Quadro, Evandro Regel, Evanildo Soares, Helena Matilde Bogo, João Schwammbach, Josiane Petri da Silva, Leonete Aparecida Heinz, Lucinéia Marquez Capistrano, Mario Schwarz, Neusa Koerich, Neusa S. Esser, Nilberto Sezerino, Nilson Guckert, Rômulo de Menezes Veiga, Rosane Cristina Hoffmann Gesser, Sandro E. Buttenbender, Silvelise Hoegen, Sônia M. M. Ferreira, Vanderlei V. Lucinéia M. Capistrano, Vanusa Lopes. INDAIAL Alberto Sell, Anilse M.R. Jacobsen, Beatriz F. C. Cartagena, Carlos R. Grippa, Celso dos Santos, Fabrício J. Barbosa, Hieno Bayer, Janete Pandini

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Clasen, Janete Pedrinha Fink dos Santos, José V. Brassiani, Karen Fonseca Lose Britto, Leonara Rudiger, Lore Loes, Lourdes Poltronieri, Márcia M. Pfuetzenreiter, Márcio Oliveira Silva, Marileusa T. dos Santos, Priscila Kannenberg, Rosane Reinhold Zanella, Sérgio Feuser, Werner Alexandre Tkotz. ITAIÓPOLIS Cássio Edmundo Blick, Cleusa Hubner Kazmierczak, Fabiana Hartinger Souza, Fábio Dias, Jair Kozak, Jane Maria C. Engel, Janete Veiga, Jucélia Cezelinski Aeslinski, Maria Ines Chupel. ITAJAÍ Abílio M. dos Santos Filho, Alexandra Goede, Ana Cláudia Junges, Ana L. Silva, Ana Teresa de Britto, Antônio H. dos Santos, Bruno Galo, Bruno Minard, Caio F. dos Santos, Carina C. Toppa, Cláudia Fernandes, Clóvis Pereira, Cristina Rejane Marangoni, Daniela Cristiana da Silva Toniazzo, Edicléia P. Guollo, Élcio Giorgi, Eliane Renata Steuck, Ênio R. Salles, Fábio Alexandre da Silva Toniazzo, Fabrício E. da Silva, Golda G. Mette, Isabel Regina Depiné Poffo, João Vequi, José Fernandes Filho, José Matarezi, José S. Mello, Juliano M. da Silva, Kamile Josy Ribeiro, Karoline Fendel, Katiúscia Rebelo, Laura Schühli, Márcia Regina Martins, Maria Izabel Pinheiro Sandri, Marina Heusser, Marli Scheuer, Mateus E. Kuhn, Maurina Voltolini, Médelin P. dos Santos, Mylene Mariani Kleis, Nádia R. M. Fagundes, Neusa Simas da Silva, Oswaldo Ribeiro Jr., Raquel Orsi, Renato Valente, Rodrigo Medeiros, Rogério Gregório, Sâmira M. Aceti, Sérgio Selke, Sheila D. Borges, Susana Beatriz da Costa da Cunha, Thamy Reiser, Tilyan Kaestner Enriquez. ITUPORANGA Acácio Clasen, Arno Zimmermann, Aúrea C. Guckert, Bernadete H. Guckert, Deise Bennert, Derli Ana Bezerra, Edison Almeida, Elmo Pisetta, Ernildo Rowe, Juliano Bittencourt, Márcia Aparecida Melcher, Mônica Kratz Pobenga, Priscila de Souza, Rose Martendal. JOSÉ BOITEUX Alexandre Dunke, Claudia Fusitaro, Dozila Gonçalves, Ergídio Fusinato, Josnei Cássio da Cunha, Juliano Leite, Júlio Bagatolli, Mara A. Pedri, Márcia Fusinatto, Marcia N. da Fonseca, Márcia Possamai, Maria A.C. Vinci, Maria Vendrami,

Marize R.B. Schwartz, Nádia Buzzi, Natalina Bona, Ricardo Weber, Rosana Bonetti, Sílvia Jacinto. LAURENTINO Adilson da Rocha, Edenir Borgonha, Judite M. Becker, Maria Inês Klock, Maria T. Avi, Marilene Dietrich, Merli T. M. Renzi, Rejane Zanis, Robson C. Avi, Rose Mare Marcos, Sandro C. Filagrana, Sérgio Campestrini, Valdemiro Avi, Valdirene Renzi, Wilson Eger. LONTRAS Alaídes Kahl, Ângela Weiss, Edla Millnitz, Ivani Sasse Hinsching, Ivonete W. Machado, Jefferson R. Aragão, Mario Bini. LUIS ALVES Ademir da Silva, Cirlene Kluck, Cláudio S. Muller, Ilhane Marcon, James Tiedt, Marcos Pedro Weber, Marilene C. Komer, Nélio Luciani, Noêmia Isabel Schmitz, Raquel Kraisch, Rogério J. da Rocha, Vânia G. Corrêa. MIRIM DOCE Adriana Schell, Amarildo Custódio Maciel, Ammyrena S. de Barros, André Roberto Roloff, Dirceu Schwarz, Elaine T. C. Borghesan, Emerita Borghesan, Fabiana Gutknecht, Heinz H. M. Haake, Maria Geciani Bechtold, Marineis Volpi Borghesan, Nerci S. de Souza, Paulo C. Schichting, Solandia M. Olsen. MONTE CASTELO Almira B. Pereira, André L. Dombrouski, Cleide R.Bopko, Darana K. T. da Silva, João R. Fianci, José de Oliveira, Maria Luiza Prestes, Ricardo Costa, Selma Cardoso Ribeiro, Vera L. Wengue. NAVEGANTES Alexandre D. Schmidt, Ana Isabel Mafra, Ana M. da Silva, Ditmar, Elenir C. Deschamps, Eliza Aurélia Romão, Fabiano G. de Carvalho, Gisele Toledo, Katiuscia Freitas, Larissa Mosini de Castro, Leonardo Viana, Lílian Simone Costa, Maria Rosaime Cabral, Roberta Flores Dutra, Rosilene I. de Oliveira, Vilma Bernardes da Silva. PAPANDUVA Adilson B. dos Passos, Alberto Banchelini, Alexandre Grabowski, André L. Jaskiw, Angela Marcia Oczkovski, Kamile Josy Ribeiro, Kátia Bagattim, Lúcia Kurceszki, Octavio Wünsche, Paulo B. Jungles, Rosicler Chupel, Sandra Maria Kuiaski Gruber, Silvana Melnek, Vendelino Skomeski.


PENHA Cláudia Angioletti, Cleber Neumann, Costabille Andrea Silva, Dalva Maria Flores, Diane Ivanise Fiamoncini, Edevilson Nascimento, Elisabete Sueli Vicente Costa, Fernando Schweger de Souza, Gilberto Manzonni, Ivo S. Radaelli, José C. Mello, Katiuscia Wilhelm Kangerski, Ledair Regina dos Santos Mathioli, Lenara Serpa Schmitz, Lenir Vitorino, Maria do Carmo, Mauricio Duarte, Nicélio A. Veloso, Patrícia Zeni de Sá, Regiane A. Severino, Sérgio Mello, Sirlei M. de Souza, Vanja Rebello dos Santos de Souza. PETROLÂNDIA Andréa Weber, Gisele Muller, Jacinto José Melo, Kátia Denise Mohr Henkemaier, Marleide Brito, Olindia Anthero de Freitas, Olinto Alves de Moraes, Silvia Alice Scheidt, Simone Krause Klauberg. PIÇARRAS Climárcio L. de Araújo, Eremir R. de França, Gisele C. Rochenbach, João N. de Souza, Rodrigo S. Terra, Tânia Mara dos Santos Linhares. POMERODE André Luís Amorim, Cláudio M. Kruger, Dieter K. Weege, Iran de Oliveira, Jaime E. Jensen, Joseane Drews, Lodemar Krueger, Marcelo Passold, Marilu Antunes, Rosa Maria Landeira Beck, Rosane Boss Gomes, Susana A. Gattringer, Wandréia Silva. POUSO REDONDO Adílio Sardo, Cléia Demarch, Cleuzenir de Liz, Cristiane Amâncio, Dirce Garbatri, Graziella Schneider, Ivan Cleitom Bini, Ivete Maria Peters, Jerusa Schiochet, Jonas Reis, Leonice S. Martins, Luciana Alvarenga Blasius, Lucilene Eliane Foster Panoch, Marlisete Campestrini, Rafael Rodrigues, Rosane Amâncio dos Santos, Rosane Aparecida dos Santos, Rosimeri Feltrin Bini, Valdirene da Silva, Vilde Kurt. PRESIDENTE GETÚLIO Ana Lúcia Bittencourt, Bruno Loch, Cláudio Schmidt, Clóvis W. Pauli, Eliseu Balem, Eveline Borges Araújo, Fernando Scheffer, Geraldo Hoffmann, Janilde F. Dirksen, Jerônimo Schmit, Joari Beltrame, Lindomar Spredeman, Marcos Fillagrana, Margareth Schmidt, Maria Solange Coral Pereira, Maria T. Marold, Roseli Henkel, Silvana Neumann, Valdira Hoepers, Vilmar Jacques Grimm.

PRESIDENTE NEREU Amilton Petry, Eliane Aparecida Gilli Cadilhac, Glauco H. Lindner, Izamar de Melo, Jairo Formentin, Marlon Kaio Bunn, Nei Feuzer, Valdemiro Cadilhac. RIO DO CAMPO Adelina Cecília Berns, Adilson Deretti, Andréia C. Pereira, Claudenir Irineu da Silva, Clóvis Wajszczyk, Eugenio Haveroth, Fernando Borinelli, Jefferson Cardoso, José C. Corbani, Leila Cristina Espíndola Corbani, Luciana Kaleski, Maristela Estevão, Priscila Stocco, Reinoldo Kannenberg, Rodrigo Preis, Roseli Augusto Bornelli. RIO DO OESTE Adelírio Heidemann, Augustinho Kafka, Cristiane Círico, Débora Tatiane Vieira Moser, Eliane Dalmarco, Josemir Trentini, Luciana da Silva, Marcos Pisetta, Natalina R. Mantoanelli, Rosane Adami, Rosangela Cecília R. Negherban, Valdenir Hellmann. RIO DO SUL Adeline Schaffer, Alécio Pereira, Andréia de Christo Avi da Rosa, Antônio Celso Silveira, Arlete do Nascimento Jacinto, Carolina Petry, Catiane Regina Luiz, César L. Cunha, Clóvis Hoffmann, Daniela R. Köpp, Denise M. do Prado Wilvert, Dirce Bertoldi Heinz, Edson L. Fronza, Eliete Baccardi da Silva, Elisandra Dias, Ereni Fátima Belino André, Ernani Dutra, Erwin Ressel Filho, Gertrud Kindel Trentini, Harry Dorow, Ivo Sehnem, Jeane dos Reis Rodrigues de Abreu, Joel Fronza, Jorge Luis Araújo Campos, Kleide M. T. Fiamoncini, Lübke, Luciane Neves, Maria Sueli Pamplona Boehme, Marilise Grabner Schmidt, Marilize Torquato Luiz, Mário Sérgio Stramosk, Maristela M. Poleza, Mateus de Andrade, Mauro Esser, M. Camila Luciane Neves, Neide Machado Hinckel, Neusa Teresinha Girardi, Olegário Daroldt, Rosimara França Steinbach, Rubens Lima, Sandra Cristiane Iatzac, Sérgio P. Sales, Simone Alessandra L. Muller, Simone Miranda, Simone Muller Mafezzolli, Sonia Mara Blanche, Talita D. Ern, Viviane Knihs Brandt, Wilando Kurth. RIO DOS CEDROS Arno Depin, Carlos L. Zanella, Claudia Maria Prade Jansen, Fábio Aurélio Castilho, Hideraldo J. Giampiccolo, Jaime Busarello, Jéssica Figurski,

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Marilene Giovanella, Marluci Giovanella, Pedro C. dos Santos, Ronaldo Martins, Silvana Moser, Wilmar Kleschmidt. RODEIO Ana L. N. Ricardo, Antônio Ferrari, Cleusa Margarete Neves, Fabiana Fachini, Ivanor Scoz, Kátia Girardi, Marcelo Bucci, Moacir Baldessari, Neivane Marize V. Grava. SALETE Alcides Pivatto, Angela Pereira Wilhelm, Carlos Nunes, Carmen Adair Koch Kniess, Cornélio Schmitz, Elenir Sora, Elenira Wener Schimitz, Eliane Weber Loch, Guido Koch, Hugo Lembeck, Izabel Marcos Pandini, José A. Gonçalves, Juares Locks, Julio A. Molin, Márcia M. R. Socreppa, Pedro Hellman, Pedro Hoffman, Renério F. Nunes, Rosa M. K. Rohden, Silvinha Maria Alfen Cucco, Teresinha Marcos. SANTA TEREZINHA Alcir Z. da Silva, Alzerino V. dos Santos, Ambrozio Bencz, Ana C. S. Fernandes, Carmeli C. de Jesus, Cleston Jean Pavoski, Deoclécio Henzen, Elias Bencz, Eliel Savitski, Elisângela Poleza, Evanir Blonkowski, Evanir S. Blonrouski, Fausto N. Godinho, Germano Schvitler, Giana Carolini Oieczarka, Gilmar Schwether, Haguiar Klock, Inácio Monczeuski, Ivan C. Wieczorkiewicz, Jovita S. Wollinger, Maria E. Melo, Maria Marlene M. Nicolai, Osmar da Rosa, Paulino Korben, Pedro Berri, Roney Schweicerski, Sidnei Arendartchuk, Sônia Maria Ressel, Teresinha Clingmeyer. TAIÓ Ademar R. Dalfovo, Araci Vogel, Elfi Botzan, Eliane Fantin, Flávia L. Bonin, Iara M. Bonin, Janine Berri, João Ricardo Mees, Luize Murara, Maria Madalena Gramkow, Marta Izidoro Klem, Sérgio Bagatoli, Sérgio V. Chicato, Suyan Vicente Yaeda. TIMBÓ Alexandre W. Tanes, Ariana K. Brandt Knop, Nilton Barella, Carla Soraya Groni, David César G. Vieira, Elenise Pisetta, Fabiana Machado, Fábio Castilho, Fabrício Dalcataqui, Jonhatan Prochnow, Kátia, Lenice L. V. Heinig, Marcos Kaestner, Marise Rosa Floriani Holderbaum, Marlise Brehmer, Michelle Schuster, Noemia Faria, Rita Fiamoncini Valcanaia, Roberto Agostini, Sandra, Sandro Fritz, Sérgio.

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TROMBUDO CENTRAL Alda I. Vignoli, Edson Steuck, Eduardo Brand, Egídio Hübner, Elias C. Silva, Elisangela A. da Silva, Eni da Silva, Ezenilda Krambeck, Fritz Goede, Ivo Büchling, Joacir Fernandes, Mariany Uhlendorf, Rainer Prochnow, Raquel L. Almeida, Reny Hadlich, Rosi da Silva, Sandra J. Poffo, Siegfried Kolm, Solene Aparecida Noveleto, Telícia Brand Alves, Vivien Erica Fronza Krüeger, Zenilda Pereira. VIDAL RAMOS Andréia Doerner, Camilo R. C. Bastos, Carmen Lucia Lunelli, Celso Eler, Cristian Stoltenberg, Daniel da Cruz, Dilson Leandro, Fabrício Heymanns, Fernanda Schlichting Haas, Flavio José Majolo, Guísela Backes Burg, Isabel Regina Lyra Finck, Izonete S. Hamm, Joyce Sabrina May, Terezinha Eyng, Juliana Aparecida Barni, Leandro Gerônimo Lyra, Lúcia Helena Lopes Filippi, Marcelo Laurentino, Márcia Kuneski, Márcia Lopes, Marise Lyra, Nelson Back, Terezinha Fing, Valdirene dos A. R. de Lima, Vilson dos Anjos, Viviam A. de Souza, Zenir S. Boing. VITOR MEIRELLES Anildo Francim, Dirceu Wagner de Andrade, Edson A. Fistarol, Fausto Fistarol, Gerson Fereira, Iliani Ferreira de Souza, Ivanor Boing, Lourival Lunelli, Marcelino Alberton, Marcos Leandro, Maria Chechelera, Maridélia Cardoso, Odirlei Jeremias, Osmarildo Cardoso, Sálvio Barbetta, Simone Sartor, Telmo Luiz Koerich, Thais H. Vigano, Vanderlei Cardoso, Vilásio J. Moretti, Zenita Ignaczuk Waldrich. WITMARSUM Ari Schramm, Arlete Boos, Claudete Mayer Borges, Elenir Terezinha da Silva Wagradt, Eromi Weingaertner, Giovana B. D. Hillesheim, Greice Dietrich, Janeide Winter, Lorena Siewert da Costa, Márcia Aparecida, Maria Bernadete Benzi, Paulo Roberto Senem, Pedro Wodolon, Robert Lang, Rosane Luisa S. de Melo, Zulmira Warmelling.


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Ademar João Maiochi, Anja Meder Steinbach, Beate Frank, Camila Schreiber, Cleci Terezinha Noara, Daisy da Silva Santos, Dominique Pires Ibbotson, Eduardo Adenesky Filho, Francieli Stano, Graciane Regina Pereira, Graziela da Silva Firmo, Guarim Liberato Martins Junior, Ivanor Böing, Juliano Albano, Julio César Refosco, Katiuscia Wilhelm Kangerski, Lauri A m â n d i o S c h o r n , L o u r d e s M a r i a Pe r e i r a Sedlacek, Lucia Sevegnani, Maria Amélia

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Pellizzetti, Mauricí Imroth, Nádia Michael, Nicolau Cardoso Neto, Odirlei Fistarol, RoseMary Grether, Sandra Irene Momm Schult e Sheila Mafra Ghoddosi. C O L A B O R A D O R E S : Aline Chojnicki, Ana Gloria Nunes da Silva, Carolina Cirilo, Cássia Vinci, Cristiane Andrade, Débora Vanessa Lingner, Guilherme Armênio, Juliana Canabate, Luana B u b l i t z , M a r c i o Ve r d i , R a f a e l a T â m a r a Marquardt, Tatiane Avancini.

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B

I

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BERRI, Aléssio. Imigrantes italianos, criadores de riquezas. Fundação Casa Dr. Blumenau: Blumenau, 1993. BOHN, Noemia & FRANK, Beate. 2000. Contribuições do Instituto de Pesquisas Ambientais da Furb para uma reflexão sobre a condução do processo de gestão dos recursos hídricos na Bacia do Itajaí. IN.: THEIS, TOMIO & MATTEDI. Novos Olhares sobre Blumenau: contribuições críticas sobre seu desenvolvimento recente. Blumenau : Edifurb. BRASIL. 1997. Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. Política Nacional de Recursos Hídricos. Secretaria dos Recursos Hídricos. Brasília. CAMINHO DAS ÁGUAS. A Construção de Uma Política Sustentável de Proteção às Nascentes e Matas Ciliares na Bacia do Itajaí. Direção e Roteiro: Guarim Liberato Junior. Produção: Guarim Liberato Junior; Lourdes Sedlacek; Nádia Michael. Supervisão Geral: Beate Frank. Edição: Márcio Horstet; Wilian Marcel Batista; Guarim Liberato Junior. Blumenau: Free Comunicação, 2007. 1 DVD (35 mim). CAMINHO DAS ÁGUAS. A Gestão de Recursos Hídricos na Bacia do Itajaí. Direção e Roteiro: Guarim Liberato Junior. Produção: Guarim Liberato Junior; Lourdes Sedlacek; Nádia Michael. Supervisão Geral: Beate Frank. Edição: Márcio Horstet; Wilian Marcel Batista; Guarim Liberato Junior. Blumenau. D’AVILA, Edison. 1982. Pequena historia de Itajai. Itajai: Prefeitura Municipal de Itajai; Fundação Genesio Miranda Lins. 155p. DEEKE, José. 1995. O município de Blumenau e a história de seu desenvolvimento. Blumenau, Nova Letra, 295 p. FRANK, B. (Org.) ; PINHEIRO, A. (Org.) . Enchentes na bacia do Itajaí: 20 anos de experiências. 1. ed. Blumenau: Editora da FURB, 2003. v. 1. 237 p. FRANK, B. (Org.) Concepção do Projeto e das suas Atividades. Coleção Projeto Piava série nº 3, outubro, 2005.

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FRANK, B. et al. Diagnóstico participativo dos recursos hídricos da Bacia do Itajaí (Parte integrante do Plano de Recursos Hídricos). Programa: Campanha de Cidadania Pela Água no Vale do Itajaí (Semana da Água 2006).

G

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I

A

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Assessoria de edição, design e tratamento de imagens elaborados de novembro de 2007 a fevereiro de 2008 na Reserva Rio das Furnas, São Leonardo, AW, SC. www.riodasfurnas.org.br






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