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ECONOMIA Petrobras altera política de preços

Já é possível prever os impactos para o mercado?

ADiretoria Executiva da Petrobras aprovou, em 15 de maio, sua nova estratégia comercial para definição de preços de diesel e gasolina. A nova política encerra a vinculação dos valores ao preço de paridade de importação (PPI), que estava em vigor desde outubro de 2016.

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A partir de agora, as referências de mercado serão o custo alternativo do cliente como prioridade e o valor marginal para a Petrobras.

“A principal mudança anunciada pela Petrobras foi o fim do uso do PPI como mecanismo de controle dos preços dos combustíveis, passando a utilizar um novo parâmetro baseado na combinação dos custos internos de produção, mais custos externos e preços dos concorrentes. Com isso, o valor dos combustíveis nas refinarias deixará de ser exclusivamente baseado no valor do produto no mercado internacional”, explica a economista Viviam Ester de Souza, especialista em Economia Internacional e professora da Universidade Santa Cecília (Unisanta).

Segundo ela, com a nova regra, cada região produtora terá os próprios custos apurados conforme sua produtividade e custos logísticos no mercado interno, incorporando também os custos de insumos importados e a margem de ganho da empresa. “Aliado a isso, os preços dos concorrentes (importadores de combustíveis) também serão levados em conta para definir o preço final, aproveitando as oportunidades competitivas que a Petrobras deverá ter. Ou seja, se o valor final dos custos permitirem uma margem de negociação maior para a Petrobras, esta poderá praticar com seus clientes, independente do patamar do preço externo. Mas se os custos aumentarem internamente e internacionalmente, a Petrobras terá que repassar estes custos ao preço final, pois as margens precisarão ser mantidas para garantir a manutenção dos reinvestimentos na empresa”, escla- rece a economista. De acordo com nota emitida pela Petrobras à imprensa, os reajustes continuarão sendo feitos sem uma periodicidade definida e evitará repasses da volatilidade dos preços internacionais e do câmbio aos consumidores brasileiros. As decisões sobre os preços continuam sendo subordinadas ao Grupo Executivo de Mercado e Preço, composto pelo presidente da empresa, Jean Paul Prates, pelo diretor executivo de Logística, Comercialização e Mercados e pelo diretor Financeiro e de Relacionamento com Investidores.

“Para o governo, é muito bom, pois reduzindo os preços, abre espaço para aumentar os seus impostos, que ficam integralmente e de imediato para ele, enquanto a perda da Petrobras, ele divide com os outros acionistas”, opina Luiz Henrique Sanches, consultor na área de combustíveis, especializado em rede de postos.

“Para os revendedores, infelizmente, eu não vejo nada de bom, pois a redu- ção do preço da Petrobras, praticada em maio na gasolina, tem como pano de fundo compensar os impactos para não comprometer a inflação por conta do aumento da carga tributária”, afirma Sanches.

A economista Viviam Ester de Souza faz outra análise. “É possível apontar uma tendência de redução nos preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha, devido às condições atuais do mercado externo desta commodity, que apresenta redução no preço do barril de petróleo nos últimos meses. Segundo o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, o preço médio do litro da gasolina poderá cair de R$ 5,49 para R$ 5,20, enquanto o diesel deverá reduzir de R$ 5,57 para R$ 5,18. Além disso, a previsão é de que o gás de cozinha também apresente redução, chegando a baixar de R$100 reais o botijão de 13 kg."

À Postos & Serviços, o presidente da Fecombustíves, James Thorp Neto, disse preferir aguardar os próximos movimentos do mercado para emitir um posicionamento. Para ele, o comportamento da Petro- bras diante das oscilações do mercado externo ainda não está muito claro.

“Ainda não está muito clara a política da Petrobras e preferimos aguardar como o mercado vai se comportar. Sabemos que é importante para o mercado a questão da paridade, pois ainda temos necessidade de produto importado (diesel acima de 15% e a gasolina acima de 10%). Então continuaremos sofrendo influência do produto importado e seremos impactados por isso. Neste momento, estamos aguardando para ver como realmente será, na prática, o comportamento da Petrobras para fazermos uma avaliação melhor”, analisa James.

“São muitas as variáveis (que compõem os preços no setor de combustíveis). A medida que o mercado internacional vai dando uma sinalização (nos preços), seja de alta ou de baixa, e como a Petrobras irá se comportar é que ficará mais claro como será o comportamento definitivo da companhia”, completa o presidente da federação.

Entrevista

Em entrevista à Revista Postos & Serviços, a economista Viviam Ester de Souza, especializada em Economia Internacional e Mestre em Administração na área de Economia das Organizações (FEA/USP) fala sobre os impactos da mudança na política de preços da Petrobras.

Revista Postos & Serviços - Quais os pontos positivos da nova política?

Viviam - O principal ponto positivo é que os reajustes dos combustíveis deverão ser mais graduais e menos constantes do que era observado com o PPI. Além disso, espera-se que ao considerar os custos domésticos (internos) de produção dos combustíveis, o preço final possa ser mais justo, pois a Petrobrás apresenta custos de produção competitivos no mercado. Com isso, não deverá existir o repasse automático ao mercado interno da volatilidade conjuntural dos preços internacionais e da variação cambial.

Revista Postos & Serviços - E quais os pontos negativos?

Viviam - O ponto negativo é que se trata de uma política mais complexa de ser entendida pelo mercado, gerando especulação sobre a interferência do governo no controle dos preços dos combustíveis e consequentemente, a desconfiança dos investidores na empresa fica maior.

Revista Postos & Serviços - O que o dono de posto de combustíveis e o consumidor podem esperar para os próximos meses no que diz respeito a preços nas bombas?

Viviam - A mudança na política de preços da Petrobras poderá não gerar reduções expressivas nos preços dos combustíveis, pois ainda existirá o poder dos distribuidores de manter os preços da gasolina e do diesel em um mercado que sempre tem demanda (é um produto inelástico, ou seja, essencial e que as pessoas não deixam de consumir). Ainda assim, as condições de repasse de redução de preços são melhores, pois o Brasil tem custos competitivos na extração de petróleo e na produção de combustíveis. Contudo, o refinamento ainda não é suficiente para atender toda a demanda interna, sendo necessária a importação de combustíveis. Mas é possível apontar uma tendência de redução nos preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha, devido as condições atuais do mercado externo desta commodity. Ainda assim, o repasse da queda dos preços dos combustíveis nos postos é sempre mais lento e parcial do que o repasse de aumento dos preços, ou seja, o consumidor final acaba assumindo este aumento de custo mais rapidamente do que se beneficiando da redução.

Revista Postos & Serviços - Essa mudança deve impactar no cálculo da inflação e juros?

Viviam - Se a redução de preços anunciada nas refinarias se mantiver, os preços nas bombas de gasolina também terão que cair, mas isso não é uma certeza, somente se a tendência de redução de custos internos e externos permanecerem por um período maior (hoje o preço do barril do petróleo está em torno de US$76 dólares, o que demonstra uma queda expressiva frente aos US$126 dólares de julho de 2022). E o dólar também ficou mais barato, o que reduz os custos dos produtos importados (hoje o dólar está em média R$5,00, mas chegou a custar em média

R$5,40 em 2022). Nestas

condições os preços dos produtos no mercado consumidor deverão ser impactados com redução, ou ao menos, com um ritmo menor de reajustes gerando uma tendência de queda da taxa de inflação, se este cenário permanecer. Quanto aos juros, este também dependerá da combinação do controle da inflação com um balanço equilibrado das contas públicas. Neste caso, a política monetária executada pelo Banco Central e a Política Fiscal do Governo Federal é que poderão promover a redução dos juros. No último dia 23 de maio, o Congresso apro- vou o texto do Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 93/2023 que define o novo regime fiscal do governo federal, substituindo o regime do Teto de Gastos Públicos (implementado em 2016 no governo do Michel Temer e mantido no governo de Bolsonaro até 2022).

Agora, o texto vai para o Senado e espera-se que para o segundo semestre deste ano a nova regra possa começar efetivamente a funcionar, estabelecendo controles mais transparentes e previsíveis sobre os gastos públicos. Se isso acontecer, mais a permanência da taxa de inflação em torno de 6% em 2023, as taxas de juros poderão cair e chegar até o final deste ano no patamar de 12,5% e assim, iniciar uma trajetória de queda a partir de 2024, com previsão de chegar a 10% ao ano.

Revista Postos & Serviços - Na sua opinião, a mudança é bem-vinda?

Viviam - Acredito que sim, pois a política do PPI prejudicou excessivamente os consumidores e os trabalhadores do segmento de transporte, devido aos aumentos diários dos preços do diesel e da gasolina, além do gás de cozinha. Estes aumentos também contribuíram para a pressão inflacionária, pois sempre que os combustíveis acumulam aumentos de preços, estes custos são transferidos para toda a cadeia produtiva, elevando os preços dos produtos para o consumidor final. Quando o PPI foi implantado em outubro de 2016, a Petrobras conseguiu recuperar aos poucos seu fluxo de caixa com os reajustes dos combustíveis atrelados às variações do preço internacional do barril do petróleo, mais a desvalorização cambial que favorece a exportação, e mais a venda de ativos menos interessantes que reduziram custos para a empresa. Mas a partir de abril de 2020 a julho de 2022, o preço do barril do petróleo passou de um valor médio de US$30 dólares para US$130 dólares, o que gerou uma escalada de aumento de preços nos postos de combustíveis e do gás de cozinha. Ou seja, a volatilidade do mercado gera riscos de pico de preços que afetam diretamente o mercado interno. Com a nova política de preços da Petrobras, espera-se que os repasses de aumento de preços seja mais suave e com intervalos maiores, o que poderá aliviar um pouco a pressão sobre a inflação. Mas é claro que a Petrobrás também não poderá internalizar prejuízos para não repassar aumento de preços. A empresa deverá buscar manter suas margens e assim, aumen-

Economista e professora universitária

tos de custos internacionais serão repassados aos preços dos combustíveis. É por isso que deverá existir momentos em que a queda de preços deverá ser pequena e talvez nem sentida pelo consumidor final, caso os custos internacionais aumentem. Ainda assim, me parece mais coerente a proposta atual que combina custos internos e custos externos como parâmetro para definir o preço final dos combustíveis nas refinarias. Revista Postos & Serviços - Como ficarão os biocombustíveis?

Viviam - O segmento dos biocombustíveis se apresenta como uma oportunidade relevante na diversificação da matriz energética do país, além de ser um produto mais sustentável em relação aos combustíveis derivados do petróleo. O consumo no mercado externo dos biocombustíveis está em expansão, especialmente em razão da crise energética gerada, inicialmente, pela pandemia da Covid-19, e depois pela guerra entre Rússia e Ucrânia, o que afetou fortemente o abastecimento de energia na Europa, abrindo espaço no mercado para fontes energéticas alternativas. No ano de 2022, o Brasil exportou 2,533 bilhões de litros de etanol, o que representou um aumento de 29% em relação a 2021. Ainda segundo o Ministério de Minas e Energia, em março deste ano foi aprovada a Resolução nº 16 do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que estabeleceu o aumento da mistura de biodiesel no diesel, passando de 10% para 12% em 2023, e ampliando para 13% em 2024, e 14% em 2025, até atingir 15% em 2026. Isso aponta uma tendência de oportunidades de crescimento para a produção de biocombustíveis. Por outro lado, com a continuidade e até ampliação de projetos voltados à exploração das reservas de pré-sal da Petrobras e da liberação da importação de gasolina e diesel para o mercado brasileiro, os investimentos no setor de biocombustíveis encontrarão barreiras para se expandir, indicando que uma mudança estrutural para a matriz energética sustentável será bem gradual.

Associados participam de palestras durante evento em Santos

Revenda recebeu orientações sobre diversos temas

Conhecimento. Esse foi o objetivo da realização do 1º Metanet Day by Plumas realizado dia 19 de maio em Santos. O evento, que contou com o apoio do Sindicombustíveis Resan, trouxe à Baixada Santista palestrantes renomados do setor de com - bustíveis, que transmitiram conteúdo importante e atual para os revendedores da região.

Dentre os temas apresentados, a importância da gestão, da liderança, da capacitação, da análise comportamental, da eletromobilidade e do marketing para postos e lojas de conveniência.

“Entendemos que, para o nosso cliente crescer, a gente precisa colaborar não só com nossos produtos e serviços, mas também trazendo conhecimento. Esse evento foi feito para o revendedor, para os colaboradores, de uma forma para evoluir, colocando o conhecimento em prática para que possam crescer no mercado”, afirmou Célio

Vinícius Leme, diretor comercial da Metanet, empresa de Gestão em tempo real para posto de combustível e idealizadora do evento.

O Metanet Day teve início em 2022 em Londrina e já passou pelos estados de Maranhão, Goiás, Bahia e agora São Paulo. Cerca de 800 revendedores e colaboradores da revenda já se capacitaram através das palestras. Em sua palestra, Célio falou da importância do bom uso da tecnologia para a gestão dos negócios. “A tecnologia é um dos fatores que vai te ajudar a não perder tempo com coisas que não precisa. Os sistemas hoje podem ser acessados de qualquer dispositivo, em qualquer lugar, te ajudando a tomar decisões de forma mais ágil. É possível receber gráficos comparando os dados do dia com os dados do dia anterior”, mostrou o diretor da Metanet.

Consultora e treinadora para postos de combustíveis, Agleibe Ferreira concordou. “Não adianta ter um software atualizado no posto e não saber utilizá-lo de forma adequada a atingir seus objetivos. Isso depende do nível de maturidade da gestão”, falou em sua palestra, direcionada ao treinamento de gestores.

“Para balancear lucratividade com qualidade de vida, sem virar refém da sua própria empre - sa, o revendedor precisa ter um gerente que seja profissional, que tenha processo e pessoas para atingir lucratividade. É fundamental estabelecer processos, a fim de dar liberdade ao revendedor”, disse ela, acrescentando: “Todo mundo nasce com competências, mas há aquelas que precisam ser desenvolvidas e aquelas que são natas. Mas é possível desenvolver aquelas habilidades para se atingir competências gerenciais. É possível mapear as competências do gerente e desenvolver o que ele precisa ter para ser um gerente profissional”, afirmou a consultora.

Trabalhar o lado comportamental dos colaboradores foi tema também do consultor Diogo Locatelli. “É preciso entender o comportamento individual dos funcionários e, a partir disso, conseguir resultados extraordinários, massivos e duradouros. É possível mudar a partir do momento que eu sei o que motiva o funcionário, de que forma ele recebe uma informação, como ele interage com seus colegas de equipe e tudo isso é possível fazer através de uma análise comportamental, ou seja, uma observação um pouco mais clínica, ficar na pista observando, vendo como seu funcionário se comporta, como ele reage a determinado tipo de abordagem. E então é possível alocar meu funcionário numa posição mais assertiva, onde ele irá desempenhar o melhor papel sem precisar que a gente mude ele”, ensinou Locatelli.

“A mudança começa na nossa maneira de pensar. Se eu pensar mais no meu cliente interno, que são meus funcionários, mais resultado terei, mais lucro terei com meus clientes externos. Isso reflete totalmente nos negócios. O frentista é hoje nossa linha de frente, é preciso capacitar e orientar bem o funcionário, extrair dele as melhores habilidades”, concluiu o especialista.

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