Multiplicidade
O estudante
da crônica
universitário
Laboratório para o estilo
Newton Luís Mamede
Raul Osório Vargas
Belo Horizonte. Sobre o tema, Drummond disse: “Eu faço crônicas profissionalmente, Crônica é o símbolo personificado do e não reflito muito sobre o gênero, sua tempo vivido e relatado. No início, ela que é evolução, etc. Cada cronista brasileiro tem o rio da memória humana, só pretendia fazer sua feição própria e não há receitas para o narração cronológica; com o passar dos gênero. (Considero insuperável, até agora, séculos, se faz relato histórico, para virar o velho Machado). Certamente há uma ficção literária e depois se configurar em texto diferença enorme entre a crônica-folhetim, jornalístico. Ela nos ajuda a preservar o de Alencar e França Júnior, e a crônica de passado e flagrar o presente. hoje, mais curta e mais ágil, como os tempos Mas é no final do século 19, em 1885, foram impondo.” quando começa a mexer com o mundo moO cronista encontra nas coisas simples a derno, que ela se transforma. Na América essência do viver e, com seu ângulo perspicaz Hispânica, os inida observação, faz ciadores do chaa crônica em que mado Modernis- O cronista encontra nas coisas estão presentes os mo – José Martí e simples a essência do viver e, com habitantes das ciRubén Darío – dades. O desenseu ângulo perspicaz da observação, contro, o silêncio, fizeram deste gênero novo seu ins- faz a crônica em que estão presentes a tristeza, a contrumento para re- os habitantes das cidades fusão, a alegria, as descobrir os aconsombras, mas, sotecimentos do mobretudo, as contramento. É assim que ela transforma a escrita dições do ser humano, nas novas condições e, portanto, os modos de percepção da sociais, marcam a pauta que o cronista se realidade, convertendo o jornalismo no impõe. E seu estilo não está restrito na veículo dos primeiros textos verdadeiramente fórmula de um gênero fechado e puro, já próprios na América Latina. que a humanidade se carateriza pela De 1892 a 1890, Machado de Assis, outro mestiçagem. grande cronista do século 19, também gera É precisamente essa miscigenação que faz uma transformação da escrita, com suas tanto da crônica, como da reportagem crônicas da série A Semana, publicadas na “espécies” de uma narrativa livre, fora dos Gazeta do Rio de Janeiro. Machado dá voz padrões dos “gêneros maiores”, permitindo aos esquecidos, fazendo uma leitura dos fatos o aparecimento de uma nova forma de abordar sociais e, através do acontecimento apa- o trabalho de captação e recriação da realidade rentemente simples, revela as contradições da dos jovens repórteres. época. A presente edição do Jornal Revelação Nesta linha, Carlos Drummond de publica um conjunto de crônicas dos alunos Andrade, nascido em Itabira, Minas Gerais, de jornalismo. Crônicas que vão da glosa ao em 31 de outubro de 1902, aos 16 anos já relato, do perfil à crítica, da sátira à paródia. tinha começado a escrever “espécies” de Enfim, crônicas livres, laboratório para o crônicas na Aurora Colegial de Nova estilo jornalístico. Friburgo. Na década de 20, escreve crônicas para as revistas Ilustração Brasileira e Para Raul Osório Vargas é Coordenador Todos, e para o jornal Diário de Minas, de da habilitação em Jornalismo
Já é se tornou um chavão ou frase feita o versitário: estudo, espírito científico, preparo conceito de que a razão de ser de uma escola é teórico e prático para o exercício profissional, o aluno. Nada mais real – para usar de outro e mais participação comunitária, atuação social chavão. Entendida como simples empresa que e política, formação de consciência esclarecida presta serviço a um cliente, ou, em amplitude sobre os problemas que a sociedade vive e que taxionômica, como instituição de educação, de reclamam solução. Nos estudos acadêmicos, em sala de aula, formação moral, intelectual, cultural e científica de jovens, de pessoas, a escola visa ao nos chamados “bancos de escola”, o universialuno, gira em torno dele, tem-no como centro tário se distingue pela superioridade e profune rumo de todas as suas atenções e ações. Por didade dos conteúdos estudados. Essa distinisso, a escola é uma instituição que surgiu para ção amplia-se e avoluma-se à medida que a o aluno. Qualquer que seja o nível de ensino e aplicação de cada aluno se faz presente, de fora categoria da escola. A universidade inclusive. ma responsável e com a consciência de aprenA universidade! Já refletimos, com der para a vida, e não para a escola. De aprenfreqüência, a respeito da necessidade, da im- der para solidificar conhecimentos que irão fundamentar os portância e do procedimentos sentido da uniNenhum esforço de remodelação, de trabalho proversidade no contexto social, atualização e modernização da universidade, fissional e de construção da principalmente porém, tem sentido ou surte efeito se não sociedade. E não de sua partici- contar com a participação e a dedicação de aprender apepação e atuação nas para a obno progresso e dos estudantes, dos universitários tenção de notas. no desenvolviEssa é a postura ideal do estudante univermento da sociedade. E, nessa linha de progresso e de avanço, exige-se dela um per- sitário. Mas será que é isso que acontece, de manente esforço de atualização e de moder- fato, ao menos com a maioria de nossos estunidade, de constante adaptação às tendências dantes? Com os estudantes de hoje? A conduta e às exigências do momento histórico em que que ostentam revela, de fato, superioridade ela vive. Principalmente se se considerar que de estudos? Estão realmente se preparando a universidade é escola de formação de com seriedade e competência para a vida de profissionais de nível e de conduta científica. profissionais de nível superior? Com verPor isso, a modernidade no ensino é condição dadeiro espírito científico, de estudos e de sine qua non para a sobrevivência da uni- pesquisas? O grau de conhecimento que versidade. Modernidade que combata a crise adquirem e possuem é compatível com a série por que ela passa, tanto em âmbito nacional, ou período que estão cursando na universiquanto mundial. A estagnação de conheci- dade? Ou é um grau igual ou inferior ao nível mentos significa retrocesso e atraso, e a univer- de curso médio? Os estudantes universitários sidade é centro de estudos e de pesquisas que de hoje estudam, mesmo? São questionamentos que se fazem e que ampliam, geram, produzem conhecimento. Nenhum esforço de remodelação, atua- incomodam, ou angustiam. O mau desempelização e modernização da universidade, nho dos estudantes prejudica toda a instiporém, tem sentido ou surte efeito se não tuição universidade. Mas eles serão, indiscontar com a participação e a dedicação dos cutivelmente, os mais prejudicados. Agora e estudantes, dos universitários. Isto é, do alvo, no futuro. do centro e do fim da universidade. Participação ativa e dedicação responsável em todos Newton Luís Mamede é Ombudsman da os atos que constituem a vida do estudante uni- Universidade de Uberaba
Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social, produzido e editado pelos alunos de Jornalismo e Publicidade & Propaganda da Universidade de Uberaba (revelacao@uniube.br) Supervisora da Central de Produção: Alzira Borges Silva (alzira.silva@uniube.br) • • • Edição: Alunos do curso de Comunicação Social • • • Projeto gráfico: André Azevedo (andre.azevedo@uniube.br) Diretor do Curso de Comunicação Social: Edvaldo Pereira Lima (edpl@uol.com.br) • • • Coordenador da habilitação em Jornalismo: Raul Osório Vargas (raul.vargas@uniube.br) • • • Coordenadora da habilitação em Publicidade e Propaganda: Karla Borges (karla.borges@uniube.br) • • • Professoras Orientadores: Norah Shallyamar Gamboa Vela (norah.vela@uniube.br), Neirimar de Castilho Ferreira (neiri.ferreira@uniube.br) • • • Técnica do Laboratório de Fotografia: Neuza das Graças da Silva • • • Analista de Sistemas: Tatiane Oliveira Alves (mac-l@uniube.br) • • • Reitor: Marcelo Palmério • • • Ombudsman da Universidade de Uberaba: Newton Mamede • • • Jornalista e Assessor de Imprensa: Ricardo Aidar • • • Impressão: Gráfica Imprima Fale conosco: Universidade de Uberaba - Curso de Comunicação Social - Jornal Revelação - Sala L 18 - Av. Nenê Sabino, 1801 - Uberaba/MG - CEP 38055-500 • • • Tel: (34)3319-8953 http:/www.revelacaoonline.uniube.br • • • Escreva para o painel do leitor: paineldoleitor@uniube.br - As opiniões emitidas em artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores
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Especial Crônica
O assassino ameaçado (detalhe) - Óleo de René Magritte - reprodução
Está certo porque
sou doutor! abstrações e se vê diante a ameaça de prestar a atenção ao interlocutor boçal, interrompe com um meio-sorriso, diz “muito bem” ou Nesses diversos congressos, seminários e “que ótimo!”, finge que o celular vibrou e simpósios que tenho participado pelo país, escapole daquela situação em contorções observei alguns comportamentos muito impossíveis. Sofre náuseas, labirintite, falta curiosos de determinada estirpe de intelectual de ar, e só melhora quando repete para si: acadêmico. Evidentemente, anotei algumas razão consciência e hermenêutica, sou peculiaridades para compor um personagem Prof. Dr.; razão consciência e hermeencantador. nêutica, sou Prof. Dr.! Diploma de 1º grau, de 2º grau, graduação, Na verdade, o Prof. Dr. tem até alguma pós-graduação, MBA, mestrado, doutorado, simpatia por iletrados que gostam de admiráPhD e upa, upa, lá vem o Prof. Dr.! Ele não lo; porém, nunca dirige mais do que duas ou vem sozinho. Carrega consigo uma maletinha três palavras a eles, pois sabe que não vão onde guarda sua coleção de diplomas para o entender mesmo. Quando ouve uma pergunta, caso de emergência: desconversa dizendo “é nunca se sabe quando isso mesmo”. Depois precisará de um. O Prof. Dr. detestava conversar sai de fininho. Prudência e uma com pessoas que se recusam a O Prof. Dr. invariacitação qualquer de ficar imediatamente fascinadas velmente se aborrece Wittgenstein não faquando participa de com seus comentários zem mal a ninguém. simpósios, pois sempre O Prof. Dr. deaparece um retrógrado testa conversar com pessoas que se recusam que contesta suas afirmações incontestáveis, a ficar imediatamente fascinadas com seus especialmente aquelas baseadas nos dogmas comentários. Considera estúpido qualquer da nova ciência. Mas ele não se intimida. indivíduo incapaz de perceber que, por trás Acaricia sua pasta de diplomas e, quando se de seu bom dia, há anos e anos de estudo. sente encurralado no meio da argumentação, Acha indecente colegas que, em sua presença, fuzila: escute rapaz, isso que você diz é tratam de assuntos que não dizem respeito à ridículo, você está errado, pois sou Dr.! Com sua tese. Um desperdício de tempo inadmis- um argumento desses, de fato, encerra-se a sível para um PhD como ele. discussão. Irrita-se profundamente quando uma O Prof. Dr. tem várias cartas na manga balconista, um taxista ou um garçom dirige- para vencer pelejas acadêmicas. Quando lhe qualquer comentário, ou mesmo uma alguém expõe um assunto que ele não domina, pergunta. Ouvir a voz de pessoas estúpidas o Prof. Dr. diz que isso não tem a mínima (sem um diploma, como o sujeito vai provar relevância. Quando apontam nele falhas de que não é um deficiente mental?) pode raciocínio, O Prof. Dr. atribui a um pensador intoxicar sua consciência, da mesma forma consagrado na bibliografia e exime-se da que comida estragada intoxicaria seu responsabilidade da argumentação. Quando organismo. percebe que o interlocutor está prestes a fazer Porém, o Prof. Dr. não demonstra mau- uma conclusão perspicaz, o Prof. Dr. humor, por entender que todos os seres vivos interrompe bruscamente, expõe objeções merecem considefictícias, faz rodeio e ração. Por isso, desenconclui, triunfante, exaConsidera estúpido qualquer volveu uma técnica tamente aquilo que o pantomímica que si- indivíduo incapaz de perceber interlocutor estava presmula expressão facial que, por trás de seu bom dia, há tes a concluir. de intenso interesse O Prof. Dr. esforça-se anos e anos de estudo em qualquer circunsde forma sobre-humana tância. Enquanto o para exibir-se em socieignorante fala, ele procura dispersar o dade como um ser humano igual a qualquer pensamento, ou direcioná-lo para a reflexão um. Treina no espelho um olhar que pareça, de conceitos abstratos. Só fica atento na ao mesmo tempo, cúmplice e superior, sincero movimentação da boca do sujeito. Quando e blasé, atento e descontraído. Cultiva uma eventualmente o intelectual se distrai de suas extravagância inofensiva porque entende que André Azevedo da Fonseca 4º período de Jornalismo
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é de bom-tom ter estilo. Amante da sociologia preciso sentir emoções de vez em quando. O e da antropologia, idealiza e diz amar, com Prof. Dr. não gosta muito de sexo, mas não se sente incomodado, porque alma terna, a ingenuidade também não gostava. da sabedoria popular. Não Não perde a oportunidade Kant De qualquer maneira, faz perde a oportunidade de para cumprir obrigações demostrar afeto aos ile- de demostrar afeto aos trados quando o tema é iletrados quando o tema é conjugais, quando necesdebatido na universidade. debatido na universidade sário. O Prof. Dr., evidenAmante da música, obrigase a ouvir os clássicos por temente, odeia autodidatas. pelo menos vinte minutos na semana. Tem uma ofensa na ponta da língua para esses Quando falha, na semana seguinte ouve atrevidos, citando Mário Quintana: autoquarenta minutos. didata é um ignorante por conta própria. O Admite que ser doutor não significa, Prof. Dr. prefere ser um pós-graduado, um necessariamente, ser sempre racional: é mestre, um doutor.
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Especial Crônica
Crianças na praia (detalhe) - óleo de mary cassat - reprodução
O prazer de
não fazer nada para outros, permite uma compreensão inteira e pessoal. Fitar o céu por horas a fio é uma tentativa de buscar o diferencial no que parece Atarefados ou ‘importunados’ com o balé, igual para todos, mas não é. o inglês , a natação , o caratê, as crianças são Estender-se sobre a relva para sentir a brisa privadas do eventual ócio. tocar-lhe suavemente a pele Isso porque os pais acreditam é como respirar por todos os que estão fazendo sempre o O ato de não fazer nada poros uma sensação de leideal para os filhos.Mas muitas vezes pode dar veza e ao mesmo tempo, a sonhar não é importante? das coisas. A margem à imaginação simplicidade Deixar que eles mesmos proximidade com a natureza criem suas brincadeiras é tão ou mais importante livremente não faz despertar idéias novas? O quanto o convívio com a sociedade. ato de não fazer nada muitas vezes pode dar Contemplar o sol se por, nascer e se por margem à imaginação. novamente. Belezas que estão a disposição E uma chance de quebrar o tédio de quem sabe valorizar sonhos essenciais. É cotidiano, mas os pais não deixam que as gostoso sentir o tempo passar, fazendo o que crianças fiquem sozinhas receando, talvez, é novo, fazendo o que é simples demais para que elas saiam perambulando por aí e se não ser realizado durante a existência. O percam por não terem mundo não vai acabar se prontificiado se a estar de as crianças forem conguarda sempre. Isso acaba Esse tempo, de ócio para frontadas com um dia por inibir a liberdade, uns, de sonhos para outros, sem nada para fazer. reduzindo-a ao repertório O céu está no mesmo permite uma compreensão ultrapassado de brincalugar, as flores, o veninteira e pessoal deiras velhas. to…o mundo não muda, Por que não deixá-las mas cada um pode encostadas por horas a um tronco de árvore mudar. Pode-se permitir que as crianças observando as nuvens e suas formas no céu? brinquem na praça, no quintal, na fazenda, Ou permitir que se deitem na grama para que elas parem, respirem, sintam e pensem, contar estrelas e encontrar as constelações? abrindo espaço em suas vidas para não fazer Correr por campos floridos em plena nada. Às vezes isso é mais significativo que primavera perseguindo as coloridas bor- inúmeras atividades cotidianas que não boletas? acrescentam o que é realmente essencial em Esse tempo, de ócio para uns, de sonhos nossa vivência. Gelza Lima 4º período de Jornalismo
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Especial Crônica
Um retrato da vida dos brasileiros imagens: reprodução (http://cidadedoshomens.globo.com)
Ana Márcia Dorça de Lima 4º período de Jornalismo Na minissérie transmitida pela Rede Globo, Cidade dos Homens, os enredos e personagens são algo muito próximo da vida real. A minissérie surgiu a partir do filme Cidade de Deus, um dos melhores filmes brasileiros. As aventuras de Laranjinha e Acerola dentro e fora da favela são o retrato da realidade brasileira. Pense e faça uma compararação com uma novela. A maioria delas mostra pessoas bem de vida, bem vestidas, mesmo os núcleos dos personagens mais pobres são um tanto fantasia para os nossos olhos com suas casas cheias de conforto. Mas, infelizmente, o povo brasileiro prefere ver a fantasia, adora ver as festas dos ricos, nas quais eles bebem champanhe e Laranjinha e Acerola são os personagens da série Cidade dos Homens exibem jóias em seus pescoços. Um dos episódios mais interessantes de Cidade dos Homens foi aquele em que os não aprova a atitude. Quando se dão conta, meninos Laranjinha e Acerola, já olham para trás e vêem o resultado da adolescentes, fazem amizade com garotos brincadeira: um deles foi pego pelos seguricos. Eles passaram um tempo juntos, o ranças, acusado de roubo. Adivinha quem? Centro e a Periferia O garoto pobre e unidos na diversão. negro, é claro. Só Um dos programas Essas notícias que os jornais nos podia ser ele, não é foi um passeio ao trazem são a prova de que o crime verdade? shopping. Quando não está necessariamente ligado E a arte não entram em uma loja, imita a vida? Quanjá fica bem óbvia a aos moradores da periferia tas vezes nos pegamos fazendo juldesconfiança da moça da loja diante daqueles garotos negros gamento de pessoas que mal conhecemos. e pobres. Eles ficam um pouco lá dentro e Julgamos pela aparência. Temos preconceito. logo saem. Do lado de fora, um dos garotos É difícil, é doloroso, muita gente não admite. ricos mostra para Acerola um objeto tirado Mas, todos nós temos um pouco de preda loja. Para ele, era uma brincadeira. Acerola conceito. Já vimos crimes brutais cometidos
por adolescentes ricos, como aquele caso triste do índio queimado. E aquela garota que planejou o assassinato dos pais? Existem muitos exemplos. Essas notícias que os jornais nos trazem são a prova de que o crime não está necessariamente ligado aos moradores da periferia. No último episódio da minissérie um jovem envolvido com o tráfico decide dar um outro rumo à sua vida. Com a ajuda de amigos e da namorada, se dispõe a procurar um emprego. Quando chega a sua vez, depois de esperar muito tempo na fila, a decepção: as portas se fecham para ele porque ele não sabe ler. Esse é o nosso Brasil. Não dá condições básicas para as pessoas como saúde e educação e depois exige justamente aquilo de que eles foram privados. Não existem oportunidades para aqueles que merecem, que precisam.
Série de TV é baseada no filme Cidade de Deus
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reprodução
Especial Crônica
Sombras que falam - Água, água! - Decida, homem! É um trem, café ou água? Se você tiver tempo, um certo poder dedu- UM TREM DESCARRILOU! TONELAtivo, não precisa ser muito não, e um pouquinho DAS DE LIXO TÓXICO FORAM DESPEde paciência, e ler esse texto até o final, vai JADOS NO RIO MUTUMA! - soltou o grito, perceber que uma redação jornalística tem junto com a angústia de não conseguir articumuito do Mito da Caverna, uma dose cavalar lar as palavras. dos Sete Pecados Capitais. Duvida? Leia e verá. Depois da porteira aberta, o editor soltou a Tens duas opções. A primeira é ir direto à ex- boiada verbal. plicação, pulando o conto abaixo. Se fizer isso, - A água foi contaminada. você se encaixa na opção A. Dê uma rápida O engomadinho de palitó cuspiu a última olhada no final da página golada do seu café na tela 9. Deve ter percebido que do computador. existem duas opções em – Lá vem bomba – disse um - Contaminada? - grinegrito: A e B, ambas de jornalista veterano, tirando taram os dois repórteres. cabeça para baixo. Essa - Onde foi, e há quanto o velho cachimbo da boca duas opções revelam que tempo? - questionou o tipo de leitor você é. Se mais velho. optar por ler todo o texto, a começar pelo con- Nessa manhã, a dois quilômetros da capto, você se encaixa na opção A. Agora, se você tação - respondeu o editor. decidir pular o conto e ir direto para a explica- Será que deu tempo de chegar nas caixas ção da semelhança de uma redação jornalística d’água? com o Mito da Caverna, e também dos Sete - Acho que não. As explosões teriam acorPecados Capitais do jornalista, que está no meio dado o funcionário da captação - teorizou o da página 8, então você se encaixa na opção B. jornalista de terno. - Vocês são repórteres, descubram! - coO acidente brou o editor. A redação estava movimentada naquele dia. O mais velho olhou para o mais jovem e Um trem havia descarrilado, e despejado mais ambos viraram as costas para o editor e para a de 800 toneladas de produtos tóxicos dentro notícia. da única fonte de captação de água da pequena - Eu tenho que cobrir a final do campeonacidade de Mutuma, com pouco mais de 70 mil to de Torrinha. É hoje à tarde. Não vai dar habitantes. O editor de um jornal de 85 anos, justificou o mais velho. um sujeito alto, barriga exageradamente acen- Sem chance. O clube Jequis tem desfile tuada, perna finas e longas, voz de Pato Donald, de moda hoje. Se não tivesse assumido o comcalvície disfarçada com um penteado transver- promisso, até poderia ir. sal dos cabelos, alinhados da direita para esO editor ficou decepcionado com a covardia querda, e fixados com gel, entra com olhos ar- dos seus repórteres. Precisava da notícia e não regalados na redação. tinha quem mandar. Era perigoso. Nem o Corpo - Lá vem bomba - disse um jornalista vete- de Bombeiros se aproximou do local do acidenrano, tirando o velho cachimbo da boca. te, com medo da contaminação. Uma pira tóxica - Pelos olhos arregalados, boa coisa não é - iluminava os arredores do acidente, há mais de comentou o jornalista mais jovem, dentro do 10 horas. A violência das explosões carbonizou seu terno feito sob medida na alfaiataria mais animais da fauna do cerrado em segundos. Essas tradicional da cidade. eram as únicas inforOs lábios pequemações que cheganos da jovem estagi- – Estou te dando uma oportunidade ram até o editor. A ária não ousaram pro- única, menina. Espero que aproveite matéria não poderia ferir nenhum comen- e não me decepcione sair tão superficial. tário. Ficou quieta, no Precisava de alguém, canto da redação, premas quem? servando sua invisibilidade diante dos meda- Eu vou - sussurrou uma voz abafada e tímida lhões do jornal. - Você? – questionou, incrédulo, o editor. - Um trem - balbuciou o editor. O que fazer? Só tinha a estagiária. - O que tem o trem, homem de Deus? - re- Tudo bem, garota. Vou te dar uma chance – trucou o velho jornalista, antes de dar uma ba- disse, solene, como se tivesse uma outra opção. forada no seu cachimbo. - Estou te dando uma oportunidade única, - O trem virou. menina. Espero que aproveite e não me decep- Se for o bule de café, não fui eu. Deve ter cione - enquanto falava, o editor compridão sido a aprendiz - acusou o homem de terno. gesticulava e olhava com as sobrancelhas cerGilberto Lacerda 6º período de Jornalismo
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radas para a estagiária, e sopitavam gotículas mo, não assinara nenhuma delas, pois os dois de saliva da sua boca. Uma delas atingiu o olho jornalistas se apoderavam do seu trabalho de da jovem, que reprimiu sua sensação de asco. pesquisa, assinando as matérias no seu lugar. - Se a matéria ficar boa, eu posso até pen- Nunca tinha ido a campo, falado frente a frensar num aumento pra você. te com uma fonte. “Será que eu consigo, meu - Eu não recebo nada, senhor. Deus?”, questionou a jovem estagiária. Ela só - Ah não? Claro que não. Nós estamos te conhecia a realidade através de sombras, redando uma grande oportunidade aqui no jor- fletidas no telefone da redação. Os dois jornanal. Na sua faculdade, você jamais lidaria com listas também só conheciam a realidade atraessa pressão do dia a dia. Jornalismo literário. vés da invenção de Graham Bell. Era como se Lixo utópico de professores que vivem na Ilha todos escrevessem sobre o mundo, repleto de da Fantasia, cercados luzes, de dentro de de ilusões por todos uma caverna. A Só fazia matérias por telefone e, os lados. pequenina estagiária A estagiária ouvia assim mesmo, não assinara nenhuma caminhou com difitudo com os seus culdade, para fora da delas, pois os dois jornalistas olhinhos negros arrecaverna, em busca da galados. O editor es- se apoderavam do seu trabalho verdadeira luz. tava cuspindo em tudo que ela acreditaA observação participante va, inclusive nela. Mas não podia questionar No local do acidente, um cenário de guerou descordar do editor, afinal ele estava lhe dan- ra. Mais de 18 vagões tinham descarrilado. O do uma grande “chance”. fogo ainda brotava de dentro deles. O rio Mutuma se transformou num rio de lava. Com O mito da caverna seu bloco em mãos, a estagiária começou a Ela estava com medo de sair da redação. anotar o que estava diante dos seus olhos. Os Só fazia matérias por telefone e, assim mes- bombeiros corriam de um lado para outro, com 17 a 23 de fevereiro de 2003
Juliano Ubirajara
grandes e pesadas mangueiras, na tentativa desesperada de combater as chamas. Uma imagem medieval povoou sua excitada mente. Ela lembrou-se dos livros de cavaleiros combatendo dragões gigantescos com lanças, flechas e espadas. Enquanto seus colegas de imprensa se preocupavam apenas com as perguntas planas do Lead, a estagiária caminhou rumo a um casebre feito de barro e madeira, onde se encontrava um sertanejo de pele morena, pintada pelo sol do cerrado. A tonalidade da pele era binária. O rosto e o pescoço morenos contrastavam com o peito, a barriga e as pernas brancas. A divisão entre uma cor e outra era nítida. Entre o pescoço e o peito, uma gola rolê determinava o começo do branco e o fim do moreno. Nos braços, a pororoca epidérmica provocada por horas sob o sol escaldante do cerrado, também era nítida. Foi com o sertanejo que a estagiária conseguiu direcionar o seu foco narrativo. Ele presenciou o sono de dois homens que mudaram por completo a vida das pessoas da pequena cidade de Mutuma.
à estação de captação de água primeiro do que ele. As possantes bombas bombearam o líquido amarelo para todas as casas da cidade. Apesar do acidente ter acontecido perto da estação de captação, o funcionário não ouviu nada. Sua surdez mudou a forma dos cidadãos de Mutuma enxergarem as sombras.
O relógio do sol Ha cerca de quatro mil anos antes de Cristo, os egípcios faziam uso do relógio do Sol. A sombra de um monumento corria lentamente por marcas no chão, indicando as horas graças Sombras que falam ao movimento do Astro Rei. Seis mil anos dee o jornalismo literário pois, o sertanejo entrevistado pela jovem estaNo caminho de volta à redação, a jovem giária também observava a sombra dos monu- estagiária começou a sentir tonturas. Moviamentos naturais e do movimento linear do sol se com dificuldade. Uma forte dor de cabeça para saber as horas. Foi graças à sombra de espantou a excitação que tinha minutos antes, um eucalipto que o sertanejo pode precisar o no local do acidente. Temeu que os produtos momento exato em que o maquinista passou tóxicos tivessem provocado o seu súbito mal ao seu lado. Eram 7h quando a serpente de fer- estar. Ela observou que a sombra de um velho ro, carregada de veneno no seu ventre, margeou cavalo não estava correspondendo aos seus o sertanejo, serpenteando sobre as curvas an- movimentos. Aparentemente, o animal não fagulosas dos trilhos de ferro. O maquinista não zia muito esforço para puxar a pesada carroça retribuiu o gesto do sertanejo, como fazia repleta de sacos de cimento. Mas a sombra procostumeiramente. Não pôde, estava dormindo. jetada no chão expressava toda a dor e o sofriUma curva a 100 metros do sertanejo mudou o mento do cavalo. Ela se movia aleatória aos destino do trem. As enormes rodas de ferro se movimentos do animal, tentando se libertar da levantaram lentamente, como se quisessem le- sela e da carroça, dando pulos e pinotes. A esvitar sobre os trilhos. Os primeiros vagões que- tagiária balançou a cabeça, tentando se livrar braram feito gravetos, e os demais saíram do da imagem surrealista que se desenhava à sua prumo, provocando um engavetamento. O dia frente. Aquilo não poderia estar acontecendo. azul ficou laranja. As explosões seqüenciais Com certeza devia ser efeito dos produtos tóarranharam as nuvens. O buquê de fogo desa- xicos inalados por ela no local do brochou pétalas fumegantes durante horas. O descarrilamento, teorizou. sertanejo sabia que os vagões continham proNa redação, a menina teve dificuldades para dutos tóxicos. O rio Mutuma corria para a cap- começar a escrever. Não sabia como lidar com tação de água da cidade. tanta informação e nem Enquanto o veneno líquicomo traduzir em palado descia pelas pedras do O próximo passo era descrever vras o que viu e ouviu, rio, o sertanejo açoitava o o que viu no local do acidente, para o leitor. Tentou falombo do seu cavalo, na zer o Lead convencional. tentativa de ser mais ligei- trazer ao leitor suas “Ontem, às 7h, um trem ro que as águas. Estava primeiras impressões carregado de produtos perto da estação de tratatóxicos descarrilou, desmento, mas teve que pegar um caminho mais pejando mais de oito toneladas de produtos tólongo, pois as chamas o impediam de chegar xicos no rio Mutuma...”. Não gostou. Tentou ao seu destino em poucos minutos. Quatro ho- de novo, mais uma vez, outra. Desistiu. Recoras depois, chegou à estação de tratamento. O meçou o texto pela décima vez. “Mais um dia único funcionário daquele horário estava dor- como outro qualquer, pensou o sertanejo. Lemindo pesadamente. As máquinas trabalhavam vantar cedo, ordenhar as vacas, consertar as sozinhas, enquanto ele descansava. O sertane- cercas e arar a terra. Mas um acidente mudou jo se desesperou ao ver que o veneno chegara a rotina. O cansaço de um maquinista, provo17 a 23 de fevereiro de 2003
cado por horas de trabalho, culminou no mai- estava contaminada. Depois de digitar o últior e mais trágico acidente da história de mo parágrafo, chamou o editor para ler a maMutuma. Um trem carregado com produtos téria. Ele mandou refazê-la. Não gostou do esaltamente tóxicos descarrilou, contaminando tilo literário. Contrariada, ela refez. Estava o rio Mutuma. A água contaminada chegou à muito ocupada, digitando, para perceber que a captação e foi bombeada para todas as caixas sombra de uma prostituta projetou-se ao seu d’água da cidade”. Pronto. Tinha conseguido. lado. Era assim que ela se sentia: prostituindo O próximo passo era descrever o que viu o seu texto. no local do acidente, trazer ao leitor suas priEnquanto a estagiária digitava, o editor fameiras impressões, traduzindo em palavras o lava com o prefeito ao telefone, avisando o calor, o cheiro e a devastação do local do chefe do Executivo de Mutuma da contaminadescarrilamento. ção da água. “O fogo podia ser visto a mais de 10 Km - Não vou fazer isso, senhor prefeito. Eu do local. Nos arredores, o céu perdeu o seu tom sou um jornalista, e não um cabo eleitoral azul, dando lugar ao rubro. As chamas alcan- gritou o editor ao telefone. çavam mais de 15 metros de altura. Os bomA estagiária viu a sombra do seu chefe probeiros tentavam inutilmente combater o fogo. jetar toda a sua preocupação e angústia na paA luta era injusta, assim como Davi e Golias, rede. só que desta vez, sem a atiradeira. Quanto mais O jornalista mais velho também viu. Pitou perto do acidente, mais forte o cheiro. O odor seu cachimbo de forma maliciosa, e ligou para penetrava pelas narinas e pelos poros. Ardên- o prefeito. Enquanto conversava com ele, sua cia nos olhos, lágrimas, dores de cabeça e náu- sombra caminhava para a sala do editor, local seas eram o primeiros sintomas após alguns da sua nova morada. A estagiária viu tudo e minutos no local. Dezenas de animais silves- correu para avisar o seu chefe. Já era tarde. Ele tres mortos. Carbonizados, expressando dor e havia sido demitido. O jornal pertencia ao preagonia, como se fossem esculturas de carvão. feito, que não queria alarmar a população quanTatus, tamanduás, papagaios... Nenhum deles to à “possível” contaminação. O velho jornateve chance de fugir do fogo, que consumiu a lista assumiu o cargo vago e mandou o repórfauna e a flora do local em segundos. No rio, ter de gravata e paletó engomado, editar o texcorpos de peixes boiavam por quilômetros”. to da estagiária. A parte da contaminação foi A descrição da jovem estagiária a deixou amputada. A dor na estagiária foi tão grande, emocionada. Na hora em que presenciou esses como se um membro seu estivesse sendo amfatos, não havia se dado conta da extensão dos putado. Sua sombra “gritou” na parede. estragos e do sofrimenA informação foi to dos animais, consuocultada, mas o fato já midos pelas chamas. Compenetrada nas amputações havia acontecido. Mais Sua sombra projetada na que ele fazia na sua matéria, a da metade da cidade já parede chorou copiosahavia ingerido a água mente. Ela deu um salto menina não se deu conta das contaminada. Enquanto da cadeira ao ver refle- intenções do jornalista o do terno “editava” a tidos na parede os seus matéria da estagiária, a sentimentos. Nesse momento, o editor entrou sombra do Jason da redação emoldurava sua na redação, querendo saber se a matéria estava fixação na universitária. A moldura preta em pronta. Ela controlou seus nervos, olhou no- movimento sodomizava o corpo de menina da vamente para a sombra, que reagia “normal- estudante de Jornalismo. Compenetrada nas mente”, virou-se para o editor e disse: amputações que ele fazia na sua matéria, a - Quase. menina não se deu conta das intenções do jorA última parte da matéria era um aviso à nalista todas projetadas na parede, sendo expopulação. Precisava dizer a todos que a água pressas por sua sombra. segue
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O rapaz responsável pela limpeza entrou pela paixão. A sombra dela ainda estava na redação. A sombra da estagiária percebeu beijando a do rapaz. O jornalista não a presença, e sorriu para ele. Enquanto varria acreditava no que estava diante dos seus e limpava, a sombra do faxineiro caminhou olhos. na direção da sombra da estagiária. O desejo - Acorda, menina. reprimido dos dois foi libertado, e as sombras - Estou acordada – respondeu, assustada. se beijaram e se abraçaram, intensamente. O rapaz recolheu o seu esfregão e saiu Tinham um pelo outro o carinho quente e constrangido da sala. terno dos namorados. De frente ao com- Ela é tão linda! É horrível desejá-la, sem putador, ela sentiu o gosto do tocar o seu corpo. Ver a sua beijo dele. Segurando o esboca e não beijá-la. Estou fregão, ele saboreou o gosto Depois da matéria querendo demais. Ela nem da sua boca. De costas um editada, a jovem sabe que eu existo. para o outro, ambos estavam A sombra do faxineiro estagiária ficou furiosa ficou cabisbaixa, assim como estáticos, em êxtase, como se o mundo em volta tivesse ele. Ambos saíram da parado por um instante. As sombras redação, melancólicos. Ela e sua sombra continuavam a se beijar. O jornalista viu a também murcharam, feito flores frágeis sob sombra dos amantes. Sua raiva se sobrepôs o sol de dezembro. ao susto de ver os espectros movimentandose aleatoriamente, desprendendo-se de A rebelião das sombras qualquer lei da natureza conhecida. Gritou Depois da matéria editada, a jovem com o rapaz: estagiária ficou furiosa. O resultado final era - Saia já daqui! E leve sua sombra com grotesco. Toda a sua sensibilidade, a apuração você! Quero dizer, leve esse esfregão com dos fatos e a busca da verdade foram você – completou, constrangido. sepultadas, dando lugar a uma caricatura de Não podia acreditar no que vira. Sombras notícia, feitas para satisfazer os anseios não falam. Mas aquelas duas fizeram muito políticos de um grupo, e não para informar a mais do que falar. Sentiu ciúmes do rapaz. população de Mutuma. Os gritos do jornalista não despertaram a O corpo da menina ficou arqueado, os estagiária da hipnose e dormência provocadas ombros subitamente ganharam o peso da
frustração, curvando ainda mais a jovem. A trancados a sete chaves por todos nós. Gula, sombra se negara a acompanhar a frustração ira, inveja... Os sete pecados capitais saíram da estagiária. Seus movimentos frenéticos ex- das páginas bíblicas e materializaram-se pressavam toda a revolta diante do durante os sete dias da semana. O caos tomou esfacelamento do trabalho da menina. conta de Mutuma. Gesticulava com a estagiária, como se A jovem estagiária decidiu sair da cidade. cobrasse dela uma atitude contra o que Desistiu de procurar sua sombra. Preferiu ir estavam fazendo com seu trabalho. Ela em busca dos seus ideais. Ali, seus sonhos continuava estática. Tinha medo de dizer não passavam de sombras inertes. Na estaalguma coisa, afinal era ção de trem, viu o faxineiro apenas uma estagiária. A pela última vez, que trabasombra não agüentou tanta Mesmo não tendo boca, lhava no seu novo emprego. submissão. Mesmo não cordas vocais e língua, Ele estava lá a varrer e tendo boca, cordas vocais e a sombra gritou limpar. Ela não disse nada, língua, a sombra gritou. Seu não fez nenhum gesto terno. grito mudo foi ouvido em toda a cidade. Subiu os degraus do vagão Finalmente a estagiária olhou na direção da sem olhar para trás. Vestida de adolescente, sua sombra. Ela não estava mais lá. ficou a olhar pela janela. A pele alva ficou Desprendeu-se do seu corpo. Não agüentou vermelha por causa do sol que iluminava seu tamanha submissão. rosto de menina. Algumas horas depois, uma Todos em Mutuma revoltaram-se. Os sensação maravilhosa tomou conta do seu índices de criminalidade aumentaram corpo. Seus olhos negros sorriram ao vertiginosamente. Assassinatos banais, vislumbrar pela janela sua sombra, originados de brigas de casais, brigas entre caminhando lado a lado com a sombra do irmãos, brigas entre amigos. Ninguém sabia faxineiro. Pareciam dois namorados, porque a violência explodiu na cidade. Apenas inebriados pela felicidade que só os amantes a estagiária sabia o que estava acontecendo. conhecem. A felicidade transformou-se em O líquido contaminado arrombou a porta do tristeza, ao perceber que o amor dos dois inconsciente coletivo da cidade. As sombras jamais seria vivenciado por eles. Ficando passaram a expressar todos os desejos, relegado para sempre no mundo das angústias e os sentimentos mais sórdidos, sombras.
Jornalismo e o mito da caverna No livro VII da República, Platão narra o Mito da Caverna, alegoria da teoria do conhecimento e da paidéia platônicas. O Mito da Caverna narrado por Platão é, talvez, uma das mais poderosas metáforas imaginadas pela filosofia, em qualquer tempo, para descrever a situação geral em que se encontra a humanidade. Para o filósofo, todos nós estamos condenados a ver sombras à nossa frente e tomá-las como verdadeiras. Essa poderosa crítica à condição dos homens, escrita há quase 2.500 anos, inspirou e ainda inspira inúmeras reflexões pelos tempos afora. A mais recente delas é o livro de José Saramago, A Caverna. O mito da caverna também pode ser aplicado a uma redação jornalística. Primeiro leia o mito. A comparação vem logo na seqüência.
seus olhos não estão acostumados; pouco a pouco, habitua-se à luz e começa ver o mundo. Encanta-se, deslumbra-se, tem a felicidade de, finalmente, ver as próprias coisas, descobrindo que, em sua prisão, vira apenas sombras. Deseja ficar longe da caverna e só voltará a ela se for obrigado, para contar o que viu e libertar os demais. Assim como a subida foi penosa, porque o caminho era íngreme e a luz ofuscante, também o retorno será penoso, pois será preciso habituar-se novamente às trevas, o que é muito mais difícil do que habituar-se à luz. De volta à caverna, o prisioneiro será desajeitado, não saberá mover-se nem falar de modo compreensível para os outros, não será acreditado por eles e correrá o risco de ser morto pelos que jamais abandonaram a caverna.
Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um alto muro, cuja entrada permite a passagem da luz exterior. Desde seu nascimento, geração após geração, seres humanos ali vivem acorrentados, sem poder mover a cabeça para a entrada, nem se locomover, forçados a olhar apenas a parede do fundo, e sem nunca terem visto o mundo exterior, nem a luz do Sol. Acima do muro, uma réstia de luz exterior ilumina o espaço habitado pelos prisioneiros, fazendo com que as coisas que se passam no mundo exterior
A caverna de Platão pode ser uma redação jornalística. Por que não? Acompanhe o meu raciocínio - adoro essa frase, dá uma certa importância ao que escrevemos. A réstia de luz que projeta as sombras na parede é um reflexo da luz verdadeira, que são os fatos do dia a dia, que, é claro, acontecem do lado de fora da redação. Os jornalistas que insistem em fazer tudo de dentro da redação são prisioneiros. As sombras são as matérias feitas por esses repórteres, cuja preguiça é o principal lema.
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sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo da caverna. Por trás do muro, pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras de homens, mulheres, animais cujas sombras são projetadas na parede da caverna. Os prisioneiros julgam que essas sombras são as próprias coisas externas,
e que os artefatos projetados são os seres vivos que se movem e falam. Um dos prisioneiros, tomado pela curiosidade, decide fugir da caverna. Fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões e escala o muro. Sai da caverna, e no primeiro instante fica totalmente cego pela luminosidade do Sol, com a qual
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Só que não vamos falar sobre preguiça agora. imprensa. Sabe-se lá por que, a coletiva é O último texto já trata dos sete pecados sempre precedida de alguns tira-gostos. Só jornalísticos. quem já participou de coletiva sabe o quanto Os grilhões são os nossos preconceitos, jornalista gosta de tira-gosto. Alguns esportes nossa confiança em nossos sentidos e opi- são praticados nesses momentos. Entre eles, niões. Ora, o jornalista deve sempre duvidar. arremesso de empada. As danadas sempre Duvidar de tudo, das fontes, da notícia e até estão longe da gente. A solicitude se faz de si mesmo. Caso contrário, será apenas um presente nesses momentos. É só acenar para mero marionete nas mãos dos manipuladores um colega mais afortunado, o qual teve a sorte da informação. de ficar ao lado das O instrumento que empadinhas, que ele quebra os grilhões e faz Os grilhões são os nossos arremessa uma ou duas a escalada do muro é a preconceitos, nossa confiança para você. Somos todos busca da verdade. O em nossos sentidos e opiniões solidários nesse moprisioneiro curioso que mento. A gula jornaescapa é o jornalista. A lística não se resume luz que ele vê é a luz da veracidade, o fato apenas à obsessão por empadinhas. A obsesainda em estado bruto, cabendo ao jornalista são pelo trabalho dos outros também é gula. lapidá-lo. O retorno à caverna é o retorno à Os estagiários que o digam. Numa redação redação. Você volta cheio de informações e de jornal, há sempre aqueles gulosos que se idéias. Já os seus colegas, que preferem apoderam dos textos e dos trabalhos de pescontinuar noticiando sombras, não enxergam quisa dos estagiários, quase sempre nãoisso com bons olhos. Preferem noticiar remunerados, se apoderando dos mesmos sombras. como se fossem seus.
poder, é claro). Enquanto isso, o editor queima as pestanas na redação, varando a madrugada em busca das informações que faltaram na matéria do “amigo” do chefe.
Inveja – Esse pecado é o pior de todos. Torcedor chato do Corinthians, hemorróida quando zanga e sujeito invejoso, não há nada que dê jeito. Por isso, é sempre bom ser amigo do invejoso. Caso contrário, se cuida, malandro! O jornalista invejoso tem inveja de tudo. Do seu texto, da sua roupa, das suas amizades e principalmente da sua mulher. Os comentários dos invejosos são sempre pejorativos. Se o seu editor chega satisfeito com a sua matéria na redação, ta lá o invejoso botando defeito: “É, ficou boa, mas se ele tivesse prestado um pouco mais de atenção na fonte, perceberia que foram desviados mais de Cobiça – É um dos piores. Na maioria R$ 800 mil e não R$ 8 mil”. O invejoso tem outro problema. Ele das vezes, o cobiçador sempre tem mais é muito ambicioso. tempo do que você. Está sempre cobiçando O jornalista invejoso tem preenchê-lo, o cargo de alguém. Se inveja de tudo. Do seu texto, da Para costuma falar horas e vai fazer uma coletiva horas ao pé-do-ouvido política, já se encosta sua roupa, das suas amizades dos seus colegas. ao senador, para falar o quanto ele é influente na região, principal- Quando você chega na redação, lá está ele, mente nas camadas C, D, E, F, G e H. O falando baixinho com alguém. Esse alguém assessor de imprensa de político, deve ficar olha para você e balança a cabeça, em sinal de com a pulga atrás da orelha com esse tipo de reprovação a alguma atitude sua, a qual nunca jornalista. O editor também precisa ficar com será revelada. Sempre fica aquela questão no um pé atrás. Principalmente se o repórter for ar: “o que foi que esse safado falou?”. A dúvida, amigo do chefão. O cobiçador sempre sai com muitas vezes, é pior do que a fofoca. os chefes para beber. É muito afável e sempre disposto a fazer um favor a alguém. Entre um aqui ó gole e outro, gosta de soltar essa: “Eu não sou do tipo de revelar o que os meus colegas dizem, mas o senhor é meu chefe, e acima de tudo meu amigo. Sabe o Alfredo, o editor? Pois é, ele me disse que o senhor é... Claro que eu não concordei, e ainda te defendi”. Os cobiçadores sempre defendem (quem tem Leitor tipo A – Parabéns! Você acaba de demonstrar que tem muita paciência para ler um texto tão grande e chato.
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Luxúria – Muito comum nas redações. Os mais experientes não podem ver carne nova no pedaço - perdão, não podem ver estagiárias no recinto. Todos ficam solícitos. Quando um estagiário do gênero masculino pede auxílio em algo em que tem dúvida, a resposta é sempre singela: “Tu é burro, hein, moleque? Deus me livre, como escolheu Jornalismo como profissão, hein?”. Quando a mesma pergunta é feita por uma bela estagiária, me perdoe a redundância, do gênero feminino, a resposta muda um pouquinho: “Ah, lindinha, parabéns! Dúvida é sinal de crescimento. Quem quer saber algo, geralmente está em busca de algo, já dizia o filósofo romano Arisclides!”, soltando uma mistura de filosofia de botequim, com cantada voluptuosa.
Leitor tipo B – Seu mala! Sabe quanto tempo eu demorei para digitar esse texto? Tem idéia de quantas noites de sono eu perdi? Volte lá no começo e leia desde o princípio, seu preguiçoso!
Os sete pecados capitais dos jornalistas Ira – Quando esse pecado acontece, das Orgulho – Alguns jornalistas, volto a duas, uma. Ou o editor cortou o seu texto ressaltar, alguns, têm uma elevada estima e onde não devia e acrescentou o que não soberba por si mesmos. Há casos que beiram devia, ou pior, seu colega foi assediado por a arrogância. Muitos têm orgulho de dizer que um político, o qual ofereceu uma certa pertencem a um determinado meio de quantia de faz-me-rir para aparecer quase comunicação. Os televisuais se encaixam bem sempre na coluna política do jornal, a qual nessa categoria. Gostam de mostrar o invariavelmente vem sem assinatura. Por microfone com a canopla da emissora por que isso é pior? Simples, quem escreve a onde passam. Chegam no local da notícia e a coluna é você. fazem em poucos minutos. O quê, quando e onde, já bastam para eles. Sempre vampirizam Preguiça - Esse pecado é terrível. Num os textos dos pauteiros, que na TV são jornal, poucas pessoas trabalham. chamados de produtores. Jamais chame um Geralmente uns quatro ou cinco. O fotógrapauteiro de pauteiro, é considerado crime fo, o editor, o revisor e os dois repórteres. hediondo. Produtor é a palavra certa. Os Esses ralam pra caramba. Os colunistas têm produtores invariavelmente são universitári- uma vida mais tranqüila. Escutam um os do curso de Jornalismo. São eles que fuxico aqui, outro ali, e já escrevem, sem levantam todas as informações sobre a sequer checar o outro lado da moeda. Aliás, matéria, conseguem os entrevistados e as colunas sempre mostram um único lado marcam as entrevistas, cabendo ao jornalista da moeda. Agora, repórter não tem como televisual segurar o microfone, fazer as “roubar” no serviço. Esse tem que ir para a p e rg u n t a s p r e rua todos os dias, viamente levane ai dele se não tadas pelo pau- O cobiçador sempre sai com os chefes voltar com cinco teiro - perdão, para beber. É muito afável e sempre ou seis matérias. p e l o p r o d u t o r. Há aqueles repórA o p r o d u t o r, disposto a fazer um favor a alguém teres mais indocabe também lentes, pra não ouvir todos os impropérios e frustrações dizer preguiçosos - esses fazem as matérias cotidianas dos televisuais. Quando a por telefone. Geralmente chegam no final matéria fica ótima, o mérito é todo do da tarde na redação, ligam para um colega t e l e v i s u a l . Q u a n d o a c o n t e c e a l g u m que já fez as matérias, ou para um assessor probleminha, a culpa é do pauteiro. Dessa de imprensa - o vírus que mais se dissemina vez, é pauteiro mesmo. O televisual gosta hoje em dia - e pegam tudo pronto. O de usar esse termo quando quer diminuir repórter “indolente” não pode ver um o produtor. release. Fica até meio afoito na redação. “Não chegou nada ainda?”, perguntam, Gula – A gula é muito freqüente no meio aflitos, aos responsáveis pelos e-mails. Os jornalístico. Não é de hoje que os operários repórteres indolentes têm uma característica da notícia recebem salários minguados. O comum. Sempre estão com bolsas nos chamado teto mais parece um fosso. Sempre olhos, dormir 10 horas por dia nunca é que um prefeito, um deputado ou qualquer suficiente. Todos são meio nosferatus, outro figurão da política pretende anunciar e detestam o sol - o que confere à pele aquela ressaltar os seus grandes feitos, reúne a tonalidade meio cinza.
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Sipat
Evento discute prevenção de acidentes Conscientização de funcionários garante saúde e segurança no desempenho de suas atividades No campus aeroporto existem 14 membros, no Hospital Universitário sete e, no campus centro, outros sete membros Parte desta comissão é indicada pelo empregador, que é a Sociedade Educacional Uberabense Na última semana, foi realizada a XIV e, a outra parte, é feita através de uma Semana Interna de Prevenção de Acidentes inscrição onde os outros colegas votam para de Trabalho -SIPAT -, nos Campus Aeroporto escolher o representante e Centro da Universidade de Uberaba. A “E não cuidamos apenas do corpo Comissão Interna de Prevenção de Acidentesacadêmico, há toda uma preocupação com a CIPA-, organizou o evento que começou no comunidade e com as empresas terceirizadas dia 24, abordando o tema dependência dentro da universidade”, enfatiza Wilson. Se química, com o palestrante, Roberto Lazarini, alguma pessoa do corpo acadêmico perceber além da discussão sobre o alcoolismo. algum problema que ofereça risco, é possível Também marcou presença a Orquestra do entrar em contato com a Cipa através da home Colégio Dr. José Ferreira. page da Uniube. No dia 25, o assunto discutido foi as Wilson acha que a semana de prevenção doenças causadas por animais e contou com correspondeu às expectativas. “A primeira as palestrantes, professora Flávia Esteves e palestra teve até que ser interrompida depois professora Anna Monteiro Lima. Nesse dia, de uma hora e meia, tamanho era o interesse houve a apresentação de dança Árabe. das pessoas”. A preocupação foi em fazer a Na quarta-feira, dia 26, foi realizada a semana da SIPAT voltada para os funúnica palestra no Campus Centro, sobre cionários, para que eles se conscientizassem humanização do trabalho. Os palestrantes Funcionários assistiram uma série de palestras sobre segurança no trabalho dos riscos que eles correm dentro da foram Giovanni Carlos e Heloísa Frizzo. Os Universidade. grupos do Hospital Universitário e Maria Sandra Bastos e Ralfh de Castro. O trabalho na Universidade de Uberaba e uma A CIPA Campus Centro foi instituída este Mensageiros da Alegria do Curso de Terapia curso de nutrição participou verificando o peça de teatro. ano. Para o presidente dessa comissão, Ocupacional também participaram. O evento peso e a altura dos participantes, e orientandoDe acordo com o presidente da CIPA Reginaldo Manhezzo, o trabalho está foi encerrado com uma apresentação da os quanto aos hábitos alimentares. E além Campus Aeroporto, Wilson Oliveira, a reletivamente bom, com a participação de Banda Studio 17. disso, houve uma campanha de vacinação. comissão busca preservar o funcionário de todos os membros. “Nossas principais metas Dia 27 foi o dia dedicado à saúde. A Para encerrar, a Associação de Deficientes qualquer acidente que possa vir ocorrer em são trabalhar com a prevensão e utilização de Unidade Básica de Saúde –UBS- do bairro Físicos de Uberaba –ADEFU- levou o Teatro seu local de trabalho. “Há hoje no campus equipamentos de segurança”, explica Alfredo Freire mostrou serviços prestados e e Dança Arte sobre Rodas. aeroporto quase 10 mil pessoas propensas a Reginaldo. práticas educativas em saúde. Foram Para ele, as metas também foram Fechando a semana, o palestrante João qualquer tipo de acidente”, comenta o discutidos assuntos como hipertensão, Eurípedes Sabino, falou sobre os acidentes, presidente. alcançadas e,a participação, foi acima do que diabetes e obesidade com os palestrantes mostrando estatísticas de acidentes de A CIPA é uma obrigatoriedade do eles esperavam para a primeira SIPAT Ministério do Trabalho, onde uma empresa realizada no Campus Centro. O presidente que possui um determinado número de comemora o fato de, nos três meses de gestão, funcionário é obrigado a criar essa comissão. não ter ocorrido nenhum acidente. “Nós temos Durante o ano, eles são solicitados em recebido um apoio muito grande para a diversos setores do campus, onde tentam segurança do trabalhador em primeiro lugar”, sanar possíveis problemas, como por exem- finaliza Reginaldo. O estudante plo, uma escada e funcionário que não possua “Não cuidamos apenas do corpo Herbet Campos, corrimão. acha que a seUma novidade acadêmico, há toda uma preocupação da SIPAT é será a implantacom a comunidade e com as empresas mana importante porção de uma exque visa a constensa sinalização terceirizadas dentro da universidade” cientização e de segurança dentro do campus. “Determinados laboratórios erradicação de acidentes. Além disso, se de diferentes áreas possuem riscos preocupa também com o bem estar de específicos. Assim, os riscos biológicos, funcionários e direção, promovendo uma radiológicos e físiológicos, serão amplamente humanização. “O bem comum é que é sinalizados, pois os visitantes e até mesmo importante nessas reuniões”, disse. Para o funcionário Alan Carlos da Silva, os alunos não têm noção dos riscos que eles podem estar propensos, então, com uma esse foi um momento muito importante, que sinalização eficaz poderemos orientá-los juntou todos os setores da Universidade, O professor Otaviano Mendonça (dir.) e sua banda sacodiram a Sipat com o bom e velho rock’n roll quanto aos possíveis perigos”, explica Wilson. possibilitando uma troca de experiências Fábio Luís da Costa 3º período de Jornalismo Graziela Christina de Oliveira 1º ano de Jornalismo
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extremamente importante. “Cada um dos preocupação com os possíveis riscos que os temas têm dado a oportunidade de cada um alunos da área de bioquímica podem sofrer. refletir dentro dos postos de trabalho”, disse. “A CIPA não pode ficar apenas no broche para Décio Bragança professor e velho enfeitar roupas, e nem tampouco pode-se funcionário da Universidade, também esteve cadidatar para garantir emprego, é muito mais presente nos eventos que foram propostos que isso” diz. pela SIPAT. Segundo o professor, o trabalho Na área química há muitos riscos, e é importante, mas estamos sempre não basta apenas o fazendo inspenção trabalho, é preciso Boas medidas seriam o controle para verificar se há ter uma segurança do peso, uma melhor alimentação, algum tipo risco inserida nos pospara os alunos. exercícios físicos e, o mais difícil, tos, para que todos Concluiu. os funcionários procurar uma diminuição do estresse não corram riscos. Palestras “ É imprescindível A palestrante um local 100% seguro, segurança total e de Maria Sandra Bastos, que falou sobre diabetes qualidade.” Explica. e hipertensão, disse que a grande maioria das pessoas que estavam no anfiteatro tinham Show no campus centro algum parente com uma dessas doenças. “São Cientes de extensiva participação dos pessoas que precisam de um acompafuncionários nas palestras, a comissão do nhameneto, de fazer exames pelo menos uma evento além de ter proporcionado aos vez ao ano”, explicou. funcionários e colaboradores da Universidade Maria Sandra falou que algumas medidas uma semana esclarecedora, eficaz e com precisam ser tomadas para minimizar os riscos grande repercussão, teve um grande show no de se ter essas doenças, já que elas também campus centro. são desencadiadas por fatores hereditários. O Professor Otaviano Mendonça, com sua Boas medidas seriam o controle do peso, uma banda de rock, melhor alimendeu um show a tação, exercícios parte, onde fez “A CIPA não pode ficar apenas no físicos e, o mais com que todos os difícil, procurar broche para enfeitar roupas, e nem presentes relemuma diminuição brassem os anti- tampouco pode-se cadidatar para do estresse. gos e marcantes garantir emprego. É muito mais que isso!” Ela ressalta o sucessos das détrabalho realizado cadas de 60 e 70. na UBS do AlSua multifuncionalidade e entusiasmo fredo Freire, destacando o papel do profissional sacudiu as janelas do Anfiteatro Cecília de saúde que é o de um aconselhador. Outras Palmério. informações, ou mesmo, atendimentos, pode Como docente da Universidade, o procurar Maria Sandra na própria UBS. O professor também tem uma grande telefone para contatos é o 3314 8802.
Reginaldo Manhezzo e Wilson Oliveira são os coordenadores da SIPAT
Campanha Natal Solidário
Em benefício do Acampamento Estrela da Vitória e creche comunitária
Faça sua doação! Roupas, calçados, alimentos e brinquedos Doações podem ser feitas no Bloco F, sala 2 (Curso de Ciências Aeronáuticas), até o dia 12 de dezembro Telefone de contato: Ana Carolina: 3076-4803 Promoção: Grupo de Jovens da Igreja Santa Maria 2 a 8 de dezembro de 2003
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Economia
Pesadelo sistêmico Os índices de desemprego assustam tanto os empregados como os desempregados Revelarte (Imagem de fundo: Operários, óleo de Tarsila do Amaral)
Sana Suzara 7º período de Jornalismo Os índices mostram que as taxas de desemprego crescem a cada dia. Um dos fatores é a escassez de moeda circulando pelo mercado e o fato das empresas estarem em um processo de contenção de gastos, reduzindo a oferta de trabalho. Esse fato é de nível nacional com 12,5%, dados do DIEESE. Mas um dos problemas que dificulta ainda mais essa situação é quanto ao perfil dos empregados que não satisfaz as exigências dos empregadores, como mão-de-obra qualificada e outros requisitos. Esse é um dos empecilhos enfrentado em Uberaba, que foi constatado pelo SINE (Sistema Nacional de Emprego) um órgão do governo mineiro criado em 1977 para incentivar a geração de emprego e de renda no Estado. Seu trabalho consiste em cadastrar tanto os futuros empregados, que serão qualificados e encaminhados como de empregadores, que recebem o benefício a linhas especiais de crédito oferecido pelo governo, mas 367 encaminhadas, 48 foram contratadas. Essa isso para aqueles que utilizam a mão-de-obra é uma estatística que assusta a todos; tanto os que estão empregados como os que não. indicada por essa entidade. Entretanto, essa é uma realidade nacional. O SINE possui um convênio com a Prefeitura Municipal e no Estado fica locado na Segundas as estatísticas as regiões Secretaria de Estado de Desenvolvimento metropolitanas tem um número crescente de Social e Esporte, SEDESEP, dentro da dire- desempregados: São Paulo região econômica toria de emprego e renda. Esse convênio exis- do país 19,7%; Porto Alegre 17,7%; a capital te desde 1991 tendo repassado ao município baiana entre as demais é a recordista com 28,9%, Recife com 23,9% e em Brasília a coordenação e o gerenciamento. Essa entidade facilita o contato entre o 22,7% (dados de junho, fonte DIEESE). Já a capital mineira, a taxa de desempreempregador e o futuro empregado, através do cadastramento desses trabalhadores que den- go aumentou pelo segundo mês consecutivo, passando de 19,7% tro das exigências em julho para 21% feitas pelas empreem agosto e, estima sas são selecio- A demanda está bem maior que o número de denados. Três são en- que a oferta de emprego e as sempregado seja de caminhados à soexigências do mercado de trabalho 482 mil pessoas, senlicitante para a sedo que a População leção e, fica a cri- crescem, exigindo e excluindo Economicamente tério desta utilizar o outros tantos trabalhadores Ativa (PEA) é de 2 espaço físico do milhões 296 mil pesSINE, uma sala para soas e o números de ocupados de 1 milhão entrevistas. Há pessoas que desconhecem os serviços 814 mil trabalhadores (também fornecido pelo deste setor. Esse é o caso do estudante DIEESE). A demanda está bem maior que a oferta de Alexandre Ribeiro, 18, que está desempregado a um ano. Foi ao SINE para emprego e as exigências do mercado de trabaacompanhar sua namorada que queria tirar a lho crescem, exigindo e excluindo outros tancarteira de trabalho, quando ficou sabendo tos trabalhadores. Segundo a Gerente do SINE desse serviço prestado à comunidade, de Uberaba Sonaly Pereira Souza, uma das dificuldades que o trabalhador encontra para declarou então, o interesse no usufruto. Mesmo assim, a oferta de trabalho é menor conseguir o emprego é a baixa escolaridade, a que a demandada. No mês de outubro foram falta de mão de obra especializada e em tercaptadas 125 vagas, 662 cadastradas, destas ceiro lugar a idade biológica.
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Muitas vezes um trabalhador deixa de ser culos de comunicação e, cartazes fixados ao contratado por não atender ao perfil do em- lado direito do balcão de informações. Esse pregador, entre elas está a aparência física, foi o percurso feito pelo senhor Luis Fernando higiene pessoal e linguajar, fala Silene Maria Queiroz da Costa, ficou sabendo de uma vaga Barone Educadora Social e graduada em que estava sendo anunciada pelo SINE, na Marketing, que trabalha no SINE e idealizou qual poderia se encaixar, pois já possuía uma o programa “sala de espera”, um serviço gra- experiência anterior. Dirigiu-se até o balcão tuito oferecido a toda a população interessa- de atendimento para cadastrar àquela vaga. da realizado às quintas-feiras na própria enti- O perfil do senhor Luis Fernando era o solicitado pela empresa, então, ele e mais dois, dade. Sendo oferecidas palestras sobre saúde, como é norma do SINE, foram encaminhado atualidade, desemprego, a importância da para uma entrevista. A procura pelos serviços do SINE cresqualificação contínua e serviço informal (free ce a cada dia, em–lance). Além da presas da região apresentação de grátambém anunciam ficos, matérias jorna- Muitas vezes um trabalhador as vagas em aberto lísticas e outros re- deixa de ser contratado por não no SINE - Uberaba. cursos para consciatender ao perfil do empregador, Esse é o caso do seentizar que essa é uma situação na- entre elas está a aparência física, nhor Artur Albanese Neto de Camcional, mas que eles higiene pessoal e linguajar po Florido. Ele é não podem desaproprietário de uma nimar. A procura por esse serviço é por pessoas oficina mecânica e precisava de um funcide diversos graus de escolaridade. Todos par- onário que tivesse qualificação. Contou a ticipam do programa “sala de espera”. E en- um conhecido e ele recomendou anunciar quanto os futuros empregados participam e no SINE, e assim fez. O empregador terá o se cadastram, empresas solicitam a entidade, empregado que atenda a seus requisitos e trabalhadores que atendam às necessidades e quanto à outra parte a suas necessidade e exigências; qualificação e experiência são um agrado. Essa mesma solicitação é feita por outras dos requisitos. Sendo que por dia o SINE atende cerca de 200 pessoas, armazenando um empresas diariamente. O SINE para hometotal de cerca de 5 mil pessoas cadastradas nagear as parceiras empregadoras, ofereceu no ano passado um prêmio a 15 empresas que no banco de dados da entidade. As vagas são anunciadas através dos veí- mais colaboraram com a entidade. 2 a 8 de dezembro de 2003