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A amamentação reduz riscos de doenças e traz benefícios tanto ao bebê quanto à mãe
Entre os dias 1º e 7 de agosto é celebrada a Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM) criada para a realização de atividades que buscam promover o leite materno como alimento exclusivo até o sexto mês de vida, se estendendo até os dois anos ou mais.
A campanha é comemorada no Brasil desde 1999 e faz parte das ações do Agosto Dourado, criado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em 1991 com o objetivo de prover, incentivar e dar informações acerca da importância do aleitamento materno.
A cor dourada foi escolhida para representar a campanha pois o leite materno é considerado por especialistas padrão ouro de qualidade. Além dos benefícios à saúde da criança e da mulher, é fundamental para o desenvolvimento intelectual, cognitivo, social e emocional da criança, fortalecendo o vínculo entre mãe e filho para toda a vida.
São inúmeros os benefícios para a mãe e para o bebê. Inclusive, recente pesquisa realizada pelo Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil – ENANI-2019, reforça o papel protetor da amamentação contra doenças infecciosas e crônicas da infância, e ainda conclui que mais de 820 mil mortes de crianças menores de cinco anos por ano no mundo poderiam ser evitadas com o ato de amamentar. “O aleitamento materno é principal arma no combate à desnutrição e mortalidade infantil, é rico em imunoglobulinas, anticorpos e várias proteínas, lípides e carboidratos adequados para nutrição do recém-nascido. Assim, previne contra as principais doenças do recém-nascido e da infância”, alerta a obstetra Dra. Silva Regina Piza, presidente da Comissão Nacional Especializada em Aleitamento Materno da Febrasgo.
A pesquisa ainda revela que aumentou a taxa de adesão das mulheres que promovem a amamentação exclusiva. Os dados mostram que, em 2019, a prevalência foi de 60% no Brasil, Ainda assim, as taxas globais de aleitamento materno permanecem baixas, com apenas 43% dos recém-nascidos iniciando o aleitamento materno dentro da primeira hora após o parto e 41% dos bebês com menos de seis meses de idade exclusivamente amamentados. Embora 70% das mulheres continuem amamentando por pelo menos um ano, as taxas de aleitamento materno caem para 45% aos dois anos de idade.
O Brasil é referência internacional em doação de leite materno, e possui a maior rede de Banco de Leite Humano (BLH), com 225 pontos de coleta, espalhados em todos os estados, que recebem anualmente cerca de 160 mil litros. “O projeto foi desenvolvido por cientistas e médicos brasileiros, dentro do SUS, e ajuda a salvar milhares de vidas todos os anos”, conta Dra. Silvia, que também complementa: “sempre promovemos ações de proteção e apoio ao aleitamento materno, junto as equipes de saúde e sociedade. Nosso objetivo é conscientizar
tanto as mães quanto à sociedade como um todo sobre a importância de incentivar e apoiar as mulheres a amamentarem”.
Aleitamento materno em época de pandemia
A pandemia da COVID-19 apresentou desafios em várias áreas da saúde e uma delas foi em relação à mulher gestante e lactante. A orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde) é de manter o aleitamento materno, tanto para gestantes e lactantes que adquiriam a Covid-19, bem como para aquelas que foram imunizadas por meio de vacinas.
Um estudo recente publicado na revista científica JAMA Pediatrics revela que mulheres infectadas e que foram imunizadas podem transferir anticorpos protetores para os bebês de forma eficiente, especialmente, no início da gravidez.
De acordo com a recomendação do Programa Nacional de Imunizações, a vacina ainda é a maior arma no combate contra a COVID-19, sendo o benefício da imunização muito maior que o risco de se contrair o coronavírus na gestação e no pós-parto.
O problema da mastite
A amamentação é fundamental para o desenvolvimento dos bebês, e comprovadamente benéfica à mulher na proteção contra o câncer de mama. Mas durante a amamentação é preciso que a mãe fique atenta
Pexels / Icaro Mendes
à saúde da mama, pois há mulheres que podem sofrer intercorrências e ter problemas para amamentar, como, por exemplo, fissuras, dor e ingurgitamento (retenção e acúmulo de leite nas mamas).
Um dos problemas que pode surgir e é uma das principais causas de desmame é a mastite lactacional, puerperal ou da lactação, uma inflamação da glândula que ocorre em mulheres em fase de aleitamento materno.
Segundo a Dra. Mayka Volpato, membro da Sociedade Brasileira de Mastologia Regional-SP, “estima-se que entre 3% a 20% das mulheres desenvolvem pelo menos um episódio de mastite durante o período de amamentação. Na maioria dos casos, a inflamação ocorre nos três primeiros meses de aleitamento, podendo ocorrer em qualquer fase da amamentação inclusive no desmame”.
Estes são alguns sintomas de mastite: inchaços ou aumento dos seios, vermelhidão, sensibilidade ou uma sensação de calor na mama, calafrios, pequenos cortes ou feridas no mamilo, febre, dor, endurecimento da mama.
Entre os vários fatores de risco da doença estão: mães de primeira viagem, mamilos planos e invertidos ou pouco elásticos, estresse materno e fadiga excessiva, tabagismo, doença autoimune em atividade, desnutrição e imunossupressão (incluindo diabetes), uso de hidratantes locais durante o pré-natal, excesso de higiene mamilar e corpo estranho como, por exemplo, implante de silicone e piercing no mamilo.
Se durante a amamentação, a mãe perceber alguma anormalidade, deve procurar um mastologista com experiência em aleitamento, que definirá o melhor tratamento evitando assim desmame precoce.
Rede de apoio à amamentação
A amamentação é, isoladamente, a estratégia que mais contribui para a diminuição da mortalidade infantil em todo o mundo, conforme a OMS (Organização Mundial da Saúde). Dados do Ministério da Saúde apontam que o leite materno pode reduzir até 13% a mortalidade por causas evitáveis em crianças menores de 5 anos. Além disso, os riscos de desenvolver um câncer de mama reduzem em 6% a cada ano que a mulher amamenta.
Para a enfermeira Rosimeire da Silva Criscuolo, supervisora do Programa Parto Seguro, gerenciado pelo CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, a campanha é importante para planejar, divulgar e executar ações para promoção da amamentação.
“Estas ações estão focadas na sobrevivência, proteção e no desenvolvimento da criança. Com o Agosto Dourado reforçamos, que apoiando o aleitamento materno, os benefícios são de curto, médio e longo prazo e levam a um impacto positivo na saúde, na economia e nas questões sociais.”
Neste ano, a campanha recebeu tema “Proteja amamentação: uma responsabilidade compartilhada” que, além conscientizar à sociedade acerca das vantagens do aleitamento materno, tem o objetivo de divulgar a importância da Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactantes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL), que protege as mulheres e suas famílias do marketing, não ético.
Por fim, outra bandeira importante que a campanha levanta é a necessidade de fortalecer a importância da rede de apoio à amamentação, que se trata de um grupo de pessoas que contribuem de alguma forma com a mãe lactante.
Segundo a enfermeira, essa rede pode ser composta por diferentes pessoas, desde o marido, um parente, um amigo próximo, um vizinho ou até uma instituição que dê suporte para mulher que esteja amamentando.
“À essas pessoas cabe o auxílio prático com os afazeres domésticos, compras no supermercado, cuidados com outros filhos, cuidar da alimentação, hidratação e repouso da mãe, além de respeitar e apoiar suas decisões. A mulher deve ser preparada, assim como as
pessoas à sua volta, pois elas devem atuar como sua rede de apoio”, explica a especialista.
Blues puerperal durante a amamentação
A enfermeira chama atenção para os riscos do blues puerperal, um estado efêmero que atinge cerca de 50% a 80% das mulheres no período do pós-parto, entre o quarto e quinto dia devido às alterações hormonais e de adaptação ao novo papel de mãe.
De acordo com Rose, isso
pode interferir na amamentação e nos cuidados com o bebê, pois a mulher passa por momentos de altos e baixos, com crises de choro, tristeza, euforia, frustração, ansiedade, exaustão e insônia, esquecendo até mesmo de si mesma em alguns casos.
“A mulher deve ser ajudada e tranquilizada por sua rede de apoio e pelos profissionais de saúde, pois essa trata-se de uma fase de adaptação.”
Segundo a enfermeira, para casos de blues puerperal não há necessidade de medicação, mas é necessário que a mãe seja observada e acompanhada.
Quando a mãe não consegue amamentar seu bebê
A Dra. Mariana Rosario, ginecologista, obstetra e mastologista, explica que muitas mulheres enfrentam o problema por medo da dor, despreparo ou até falta do filho também não é fácil. “Não é algo tão natural quando se pensa. O bebê não nasce sabendo mamar e a mãe também não consegue amamentar sem treino. Não podemos deduzir que será fácil para todo mundo. Por isso, existem profissionais que ensinam, acompanham, ajudam. E tudo bem, o importante é o resultado final”, garante a médica.
O leite materno continua sendo o melhor alimento do mundo. “É o único alimento completo, que não precisa de absolutamente nada
Reprodução / Campanha USDA
de apoio familiar. “Amamentar não é fácil. É demorado, pode machucar, se a pega do bebê for incorreta, acontece muitas vezes ao dia e, quando o bebê dorme, a mulher precisa de descanso. Se ela não tiver uma rede de apoio familiar, até se adaptar completamente, não conseguirá levar o processo adiante”, alerta.
E a adaptação da mãe e para sustentar o bebê de até seis meses de vida – nem de água”, diz ela. E, como ele é repleto de anticorpos, fundamentais para a saúde e a resistência do bebê a doenças, é fundamental que a criança o receba, como única fonte de alimento, até essa idade.
Como existem muitas questões relacionadas à amamentação que precisam
ser esclarecidas, Dra. Mariana elenca as principais dúvidas que normalmente chegam até ela, em seu consultório ou até pelas redes sociais:
A importância da suplementação
Segundo a Dra. Mariana, é necessário a suplementação durante a gestação e amamentação. A mulher recebe uma série de suplementos alimentares para que seu corpo enfrente todo o período adequadamente o aporte necessário de nutrientes para o completo desenvolvimento do feto sem a depleção do organismo materno. Da mesma forma, durante o puerpério e após esses 45 dias, na amamentação, o obstetra faz o ajuste suplementar para que a mulher continue amamentando, dando ao seu organismo todas as condições necessárias para esse importante momento. “Atualmente, é praticamente impossível que uma mulher amamente adequadamente sem estar suplementada, porque não conseguimos adquirir, apenas pela alimentação, todos os nutrientes necessários para uma boa saúde. Para produzir o leite, o organismo pode esgotar o corpo da mulher, de forma a deixá-la fraca.
Mas, é possível observar que mesmo as mulheres subnutridas conseguem amamentar – o que é algo prejudicial à saúde delas, porque não são bem alimentadas e suplementadas”, explica Dra. Mariana.
Os benefícios da amamentação
Uma das maiores preocupações de Dra. Mariana Rosario, em seu consultório é que: “A cada dia, percebo que as mães, principalmente as de alta renda, têm a tendência de desistir da amamentação com muita facilidade. Realmente, este pode não ser um processo fácil, porque há muitos bebês que demoram a pegar o peito, sendo um ato que demanda paciente e dedicação. Mas, a amamentação é tão importante que eu insisto para que as gestantes tentem o tempo que for necessário para que se crie esse vínculo entre mãe e filho e a amamentação aconteça”, diz a médica, que faz parte do corpo clínico do hospital Albert Einstein.
Recentemente, uma pesquisa divulgada no periódico The Lancet afirma que a amamentação está associada a uma redução de 13% na probabilidade de ocorrência do sobrepeso e/ ou obesidade e também a uma queda de 35% na incidência do diabetes tipo 2. A mesma análise diz que o leite materno contribui para um aumento médio de três pontos no quociente de inteligência (QI). Outra evidência científica mostra que crianças amamentadas por um período superior a 12 meses em áreas urbanas do Brasil completaram um ano a mais de atividades educacionais em comparação com as amamentadas por menos de 12 meses. Ambas as conclusões indicam que o aleitamento contribui com o cumprimento do ODS 4 (Qualidade na educação). Esses e outros dados demonstram a importância do aleitamento na infância e os efeitos que esse ato gera ao longo da vida.
É importante lembrar que a amamentação também faz bem para a mãe, porque o aleitamento permite que o útero volte ao tamanho normal rapidamente, previne a anemia materna, já que reduz o sangramento, e ainda previne o risco de câncer de mama e de ovário, além de ajudar na manutenção do peso corporal.
Fontes:
- Dra. Silva Regina Piza, Obstreta, presidente da Comissão Nacional Especializada em Aleitamento Materno da Febrasgo.
- Dra. Mayka Volpato, Ginecologista e Obstetra, membro da Sociedade Brasileira de Mastologia Regional-SP.
- Dra. Mariana Rosario, Ginecologista, Obstetra e Mastologista, membro da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP).