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ALUNOS VOLUNTÁRIOS EM ÉPOCA DE PANDEMIA

No dia 30 de janeiro de 2020 o diretor geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Dr Tedros Adhanom, declara o surto de COVID-19 (Coronavirus Disease 2019) uma emergência de saúde pública a nível internacional. Esta doença infeciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2 (Severe Acute Respiratory Syndrome CoronaVirus 2) tem como sintomas mais prevalentes: febre, tosse seca e astenia. Apesar de cerca de 80% dos casos desenvolver apenas sintomas ligeiros, a elevada taxa de infeção do vírus faz com que o número de pessoas que necessitam hospitalização, incluindo cuidados intensivos, seja de tal maneira elevado podendo saturar os sistemas de saúde.

No mundo inteiro foram desenvolvidas várias estratégias para combater a propagação deste vírus, que no dia 11 de março de 2020, a OMS classificou como uma pandemia mundial. Em Portugal, em antecipação da situação presente em Itália e Espanha, foi decretado o Estado de Emergência, onde foi pedido a todos os que podiam, para permanecerem em casa e minimizar interações sociais com o intuito de diminuir as cadeias de contágio, uma vez que o vírus se propaga por gotículas respiratórias. Mas uma vez que o vírus já se encontrava em território nacional, havia a necessidade de testar a população para avaliar a progressão da infeção, não só em pessoas com sintomas clínicos, mas também em populações de risco e trabalhadores na primeira linha de combate ao vírus. Num esforço concertado entre o Instituto Ricardo Jorge (INSA), universidades e centros de investigação, foi criada uma rede nacional de testes moleculares de rastreio ao SARS-CoV-2, para auxiliar o sistema nacional de saúde.

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Na região na Beira Baixa, o Centro de Investigação em Ciências da Saúde (CICS), sediado na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (FCS- -UBI), aliado às Camaras Municipais da Covilhã, Fundão e Belmonte, desenvolveu em cooperação com o Centro Hospitalar e Universitário da Cova da Beira (CHUCB) um laboratório para realizar testes de rastreio ao SARS-CoV-2, seguindo as recomendações da OMS e da Direção Geral da Saúde, com a ajuda de voluntários de todas as instituições envolvidas.

O teste molecular de deteção do vírus é feito em várias etapas. Inicialmente pessoas a título individual ou em grupo, recebem uma orientação médica para se dirigir a um ponto de recolha de amostras. Nestes pontos de recolha, trabalhadores da saúde, com o auxílio de zaragatoas, recolhem uma amostra de exsudado nasal e da orofaringe. Estas amostras são transportadas para o laboratório do CICS-UBI no CHUCB, onde são catalogadas e registadas na base de dados do hospital. No laboratório, as amostras passam por três fases de processamento: 1 – inativação viral; 2 – extração do RNA viral; 3 – identificação de genes virais através da metodologia de PCR (polymerase chain reaction). As condições técnicas e metodológicas do laboratório do CICS-UBI estão aprovadas pelo INSA, sendo os resultados duplamente validados pelo laboratório de patologia clínica do CHUCB, que os regista na plataforma SINAVE e transmite às autoridades competentes.

Este tipo de iniciativa foi recentemente alvo de atenção pela imprensa britânica (The Telegraph - Covid19 Portugal testing), que elogia a estratégia como um dos fortes motivos de sucesso de Portugal no controle da infeção da COVID-19. Ao identificar novos focos de infeção, é possível mais precocemente tomar medidas de prevenção e isolamento mais apertadas, mesmo em casos sem sintomas clínicos.

A nível pessoal, esta tem sido uma experiência muito enriquecedora. Apesar de ser agora finalista em Medicina, a minha participação neste projeto, está relacionada com experiência prévia em Biologia Molecular. Durante a minha formação anterior tive a oportunidade de trabalhar em mecanismos de regulação de tradução de RNAs. Logo, quando a faculdade contactou os alunos na procura de voluntários para participar em diversos projetos para combater a progressão do vírus, este foi onde poderia ser de maior utilidade. Durante o meu voluntariado, consegui o que nunca tinha acontecido em cin-

co anos na FCS-UBI: tive a oportunidade de interagir e falar com elementos de várias equipas do CICS-UBI. Apesar de o trabalho ser técnica e fisicamente muito exigente, pois trabalhamos com amostras potencialmente infeciosas e com todo o material de proteção individual, temos sempre a oportunidade de partilhar experiências académicas e pessoais, discutir sobre os diferentes projetos em que os outros elementos estão a trabalhar, assim como refletir sobre ambições de uma carreira científica em Portugal.

Como é referido no artigo do The Telegraph, é impressionante como um país que em muitos aspetos está na retaguarda da Europa, conseguiu em tempo recorde desenvolver uma estratégia altamente especializada e competente para combater uma pandemia de proporções mundiais, com resultados que estão a surpreender e motivar o mundo inteiro.

João Martins 6º Ano

O meu nome é Pedro Rosa Rodrigues, sou estudante de Medicina na UBI, mas também sou enfermeiro num serviço de Urgência. Quando foi anunciada a “Pandemia”, percebi que as próximas semanas, e talvez os próximos meses, seriam tempos de profunda mudança. E não me enganei… Como profissional de saúde, e como um profissional de saúde na linha da frente, não pude viver esta fase da mesma forma que a maioria das pessoas. Tive que sair de casa constantemente, porque tinha uma missão. O receio… o receio não, o medo era emoção constante, mas tinha que continuar – o serviço não podia dispensar nenhum elemento, era necessário seguir em frente, todos éramos cruciais e a comunidade precisava de nós.

Houve momentos e situações que me marcaram: O cansaço devido ao excesso de trabalho, devido aos turnos extraordinários, devido ao equipamento de proteção individual que deixou cicatrizes na nossa cara e na nossa alma e que nos sufocava durante horas; O medo de sermos vetores de contagio para os nossos familiares e amigos, provocando em nós a decisão de um isolamento voluntário, transformando o distanciamento no gesto mais bonito de afeto. Contudo, foram os olhares… foram os olhares que me transformaram e emocionaram: Os olhares de medo, mas de profunda gratidão dos doentes; Os olhares de saudade e preocupação da nossa família e amigos; Os olhares dos médicos, técnicos de diagnóstico, assistentes operacionais e técnicos e pessoal de limpeza – éramos (finalmente) uma verdadeira equipa; E os olhares dos meus colegas enfermeiros, com quem partilhei “trincheiras”, olhares que refletiam medo, mas sobre tudo, refletiam CORAGEM. Aquela coragem inabalável, quase sobre-humana…

Jonathan Borba Unsplash

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