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ISTO É UMA PANDEMIA, NÃO UM CONCURSO DE PRODUTIVIDADE

A pandemia que se começou a espalhar no início deste ano veio revolucionar muitos aspetos normais da rotina, desfigurando-os e obrigando à adoção de novos hábitos, aos quais ainda nos estamos a tentar adaptar. Mas o primeiro impacto que ela teve foi obrigar-nos a ficar em casa para evitar espalhar o vírus: o derradeiro isolamento social ou quarentena.

Toda esta situação gerou muitas emoções negativas, particularmente ansiedade, medo e tristeza. Uma forma clássica de evitar a angústia é encontrar novos desafios e dedicarmo-nos a projetos. Não foi por acaso que começaram a surgir fotos, vídeos e relatos de pessoas a “aproveitarem a pandemia” nas redes sociais. Estava na altura de agarrar os projetos que tinham sido esquecidos por causa do trabalho, aprender todas as línguas do mundo, treinar para ganhar uma estrela Michelin depois da quarentena, remodelar a casa, preparar o corpo de verão… Mas será que isso funciona para todos?

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Algo que define a nossa sociedade é a ideia que devemos ser produtivos, especialmente de forma útil à comunidade. O nosso nível de rentabilidade está intrinsecamente ligado ao valor que a sociedade nos dá e, consequentemente, ao valor que damos a nós próprios. Esta ideia também é cada vez mais transmitida pelas redes sociais. Mostrar que estamos bem e que temos uma vida digna de meter inveja está associado a ter uma boa vida social, passatempos produtivos, boa forma física e férias ainda melhores num lugar que dê para tirar fotos incríveis.

Algo importante a relembrar é que não somos todos iguais! Enquanto algumas pessoas se levantam cedíssimo para fazerem a sua corrida matinal antes do trabalho, outros estão a parar de ver as notícias porque isso os deixa demasiado ansiosos. Cada um tem o seu ritmo, e cada dia é diferente: o importante é encontrar o que funciona melhor para cada um. Apesar de “todo o tempo que se ganhou” por não se ter de sair de casa, muitos trabalhos não pararam e podem até necessitar de mais horas a concluir que o normal. Ver como os outros gerem o seu tempo pode ser muito instrutivo, e é uma excelente fonte de novas ideias e métodos, no entanto é preciso adaptá-las para o que nós conseguimos fazer.

É frequente termos muitos projetos que queremos fazer e que acabam ignorados porque há assuntos pendentes mais importantes. O facto de termos mais tempo livre para investir nestes, de forma repentina, pode parecer opressivo. É normal não ter motivação ao início, deve-se começar com calma. Fazer uma lista de tarefas pode ser um bom ponto de início para encontrar alguma organização. É importante ser-se realista naquilo que acrescentamos na lista. Colocar tarefas simples de fazer e alcançáveis, cumprindo-as ao longo do tempo, é muito compensador e pode ser a forma de recuperar a motivação que estava perdida.

Nem todos os dias serão produtivos ou considerados como tal por nós mesmos. Não nos podemos esquecer dos tempos em que vivemos. É perfeitamente natural sentirmo- -nos mais em baixo ou sem vontade de fazer nada. Por um lado, transformar essa ansiedade em motivação para fazer algo que nos dê prazer é saudável. Por outro lado, não parar de fazer coisas de forma a evitar pensar nos problemas poderá mascarar o facto de nos sentirmos, em baixo, a sofrer, ou, inclusivamente, a desenvolver um quadro de depressão. Nesses casos é necessário pedir ajuda, quer a amigos ou familiares, quer a profissionais, de forma a obter uma sensação de segurança e empatia nestes tempos difíceis.

É normal passar um dia sem fazer nada, é normal que a inspiração demore a chegar, tal como é normal sentirmo-nos preguiçosos. O importante é saber parar quando precisamos e ir ganhando gosto pelo que se faz. Não é necessário que o nosso passatempo seja rentável, desde que nos sintamos bem a fazê-lo e se goste do que se está a fazer. Mesmo com todo o tempo que a pandemia nos tem oferecido, devemos saber apreciar as nossas diferenças em relação aos outros e encontrar forma de nos sentirmos bem connosco próprios.

Tal como têm dito: isto é uma pandemia, não um concurso de produtividade!

Lúcia Heitor

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