4 minute read
Flash de Preenchimento
Uma das dúvidas mais recorrentes entre os fotógrafos iniciantes é com relação ao “flash de preenchimento”. Primeiramente, não se trata de um equipamento específico mas sim uma técnica de utilização do flash. Apesar de parecer complicado, na verdade é um recurso simples se for executado com método.
Para que serve o flash de preenchimento?
Advertisement
Basicamente, o flash de preenchimento é utilizado para iluminar o primeiro plano de uma cena e é eficaz em diversas situações corriqueiras. A mais comum e mais simples de resolver é quando tentamos fazer um retrato em condições de contraluz.
Imagine um céu da tarde especialmente belo e você quer fotografar uma pessoa com este céu ao fundo. Você fotometra o céu para captar suas cores e texturas. Infelizmente, pelo céu estar muito iluminado, a pessoa em contraluz acaba ficando escura na foto. Por outro lado, se você fotometra no rosto da pessoa, ela fica perfeita na foto mas o céu fica “estourado” (sem as belas cores e texturas). Temos um dilema, pois eu quero uma foto onde o céu preserve suas cores e, ao mesmo tempo, que o rosto da pessoa fique vibrante e bem iluminado. Uma maneira de conseguir isto é utilizando o flash de preenchimento.
Como proceder?
Lembre-se de que iremos usar o flash. Isso, de cara, nos impõe algumas limitações. Precisaremos respeitar o limite de velocidade de sincronismo de sua câmera com o flash caso não tenha a função Hi-Speed-Sync disponível (consulte o manual da sua câmera). Por isso, vamos evitar usar velocidades maiores que s250. Outra preocupação é não usar aberturas de diafragma muito pequenas pois, se for assim, você terá dificuldades em captar a luz do flash. Minha sugestão é usar um diafragma f5.6 como ponto de partida. Supondo também que estamos em um dia claro, vamos usar ISO 100. Com essas premissas em mente, o primeiro passo é fotometrar o céu buscando não ultrapassar os limites de velocidade e abertura. Supondo um dia de céu azul ou parcialmente nublado, você deverá chegar em algo próximo a f5.6 e s200 com ISO 100 (dependendo das condições do tempo). Para dias muito claros, um filtro ND ajudará a manter velocidade e abertura dentro de nossos limites.
Uma vez fotometrado o céu, vamos posicionar a pessoa que queremos retratar. Neste exemplo vamos usar um flash montado sobre a câmera. Em seguida, vamos nos posicionar cerca de 2m de distância da pessoa e utilizar o flash em modo manual. Como queremos iluminar apenas o assunto em primeiro plano, podemos usar o flash em 1/4 de sua potência como ponto de partida. Dependendo da potência do flash, isso poderá ser suficiente ou não.
O primeiro clique servirá de referência para os próximos ajustes. Mesmo com o uso do flash, o céu permanecerá inalterado (pois está fora do alcance do flash) mas a pessoa poderá ainda estar sub-exposta, ou super-exposta ou ainda, no melhor dos casos, perfeita.
Se estiver sub-exposta, você poderá aumentar a potência do flash ou, simplesmente, dar um pequeno passo à frente (ou a combinação dos dois). Caso contrário, se estiver super-exposta, você poderá diminuir a potência do flash ou dar um pequeno passo para trás.
Finalmente, para ajustes finos, você poderá regular a abertura e velocidade ideais. Aqui temos um macete: Sabendo que a velocidade não interfere na captação da luz do flash, devemos aumentar ou diminuir a abertura (para aumentar ou diminuir a captação do flash) sempre compensando com uma igual diminuição ou aumento da velocidade (para não modificar a fotometria do céu). Isso te dá independência entre a captação da luz do flash e da luz do céu. Não sei se este macete tem um nome mas, como terei de me referir a ele mais tarde, vou usar o nome que repito mentalmente, “vem-cáneném”, enquanto trago a fotometria para seu ponto ideal.
Se você usa o flash em um tripé fora da câmera, os mesmos princípios se aplicam. A única diferença é que, neste caso, aproximar ou afastar a câmera do assunto não fará diferença. Será necessário aproximar ou afastar o flash propriamente dito (ou ajustar sua potência).
Esta técnica também se aplica em outra situação muito comum em eventos: o uso de telões e TVs no ambiente. Se usarmos o flash em TTL, a tendência é esmaecer (ou até apagar) as imagens projetadas nos telões ou TVs ao fundo. Para fotografar sem perder as cores das projeções e do ambiente (que, muitas vezes, dão contexto à cena) sem perder o brilho dos convidados, será necessário usar o flash de preenchimento.
Em locais fechados teremos uma importante dificuldade adicional: o primeiro plano e o fundo, muitas vezes, estão próximos um do outro. Além disso, freqüentemente o ambiente estará em penumbra (para realçar as projeções).
Levando em conta estes aspectos, será necessário ajustar o ISO no sentido de permitir que a câmera capte parte significativa da luz ambiente (o flash será apenas para preenchimento e não iluminará o ambiente). Use como base uma abertura próxima de f5.6 e uma velocidade relativamente baixa (s60) pois o flash ajudará para que a cena não fique tremida
Uma vez estabelecido o ISO para o ambiente, você poderá fotometrar o telão. Lembrese de que queremos evitar diafragmas muito fechados (f8 ou mais). Se isso acontecer, será necessário aumentar a velocidade. Finalmente, vamos ajustar a potência do flash para o primeiro plano. Repita o procedimento já descrito quando usamos o céu como fundo.
Com a prática você notará que, quanto menor a distância entre o primeiro plano e o fundo, menor deverá ser a potência do flash. Os limites práticos variam com o ambiente mas arrisco dizer que distâncias menores que 2m se tornam extremamente desafiadoras. O uso do “vem-cá-neném”, se torna cada vez mais necessário e decisivo. Isto significa que a fase de experimentação poderá levar alguns minutos que te manterão fora de ação. Treine em casa. Bem treinado, esse processo não levará mais do que 1 minuto. Se for durante uma palestra, por exemplo, certamente haverá tempo suficiente para todos os ajustes. Siga os 3 passos: 1) Determine o melhor ISO para o ambiente; 2) Fotometre o telão; 3) Ajuste o flash para o primeiro plano em modo manual. Não existe “receita de bolo” na fotografia. Cada situação terá sua própria solução. Este artigo visa lhe dar um plano de ação, um método objetivo para abordar um problema específico e chegar num resultado. As informações EXIF em cada foto servem apenas como referência. Infelizmente, não preservei os dados relativos ao flash em cada foto mas as potências empregadas, de qualquer modo, dependerão de cada equipamento utilizado.
Enfim, é uma técnica que requer prática mas que vale a pena ser dominada pois é muito útil em várias situações. Desde um céu vibrante até delicadas luzes de Natal, todas podem ser realçadas pelo uso correto do flash de preenchimento.
P.S. Enquanto escrevia este artigo, tomei conhecimento do falecimento do fotógrafo multi-premiado Wander Rocha no dia 23 de março de 2023. Amigo e colega, também colaborador desta revista, partiu cedo demais. Haviam ainda muitas fotos por fazer. Registro aqui meu grande pesar.
17 INFOTO