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O INSTITUTO ENTREVISTA
from Revista 440Hz Ed. 9
by comlimone
Por Felipe Ricco
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ROBERTO REALI
Fala Roberto, muito obrigado por topar a entrevista. Primeiro gostaria que você falasse um pouco sobre você.
Obrigado pelo convite, é um prazer bater um papo com vocês. Sou formado em design de produto. Depois da faculdade, trabalhei com a fabricação de equipamentos, acessórios e conteúdo de skate e wakeskate. A paixão pela guitarra e pela música falou mais alto e, desde 2014, atuo somente com luthieria e fabricação de guitarras.
Como você começou na luthieria?
Assim que ganhei minha primeira guitarra já estava desmontando ela com as ferramentas de meu pai, tentando aprender como tudo funcionava, e fui me interessando cada vez mais. Comprava sempre revistas GuitarPlayer, Cover Guitarra, Total Guitar… e tudo que achava sobre guitarras à procura de informação. De tanto mexer na minha guitarra, fui aprendendo e logo já estava regulando as guitarras de meus amigos. Quando tentei construir uma guitarra, percebi que não conseguiria fazer sozinho, que tinha muita a aprender. Cursei a B&H Escola de Luthieria e, desde então, não parei mais de estudar o assunto.
Os instrumentos que você constrói tem o design bastante autoral num mercado onde os desenhos são replicados à exaustão. Qual a importância de criar os seus próprios modelos?
Sendo formado em design, gosto e valorizo novas ideias. O mercado ainda é um pouco fechado para coisas novas. A maioria ainda procura pelos desenhos mais “clássicos”, pois são o que seus ídolos tocavam… Mas, atualmente, a procura recai cada vez maior sobre novos shapes e venho recebendo muitos comentários positivos sobre meus modelos, o que me incentiva a querer criar mais.
Fala sobre o seu processo de construção e sua escolha de fazer tudo de forma artesanal. Qual a motivação para construir dessa forma?
Faço todos os meus instrumentos de forma totalmente artesanal, utilizando basicamente as mesmas técnicas de luthieria de antigamente, construindo poucos instrumentos ao mesmo tempo, podendo assim focar em cada detalhe da fabricação de cada um deles, desde a escolha das madeiras até o acabamento.
Como você vê o mercado da luthieria hoje em dia, com o advento da pandemia?
Como todas as áreas, a pandemia afetou o mercado de luthieria. Mas nada melhor do que tocar guitarra para enfrentar a quarentena, não acha?
Falando em pandemia, por conta da quarentena as pessoas andam buscando cursos online, qual sua opinião sobre aprender luthieria online?
Acho que todo acesso a boa informação é sempre válido e bem-vindo. Cursos focados em regulagem e manutenção acho super válidos, assim como os voltados em construção, porém para este acho que o aluno já deva ter alguma experiência prática com madeira, ferramentas e algumas máquinas, por questões de segurança.
Sobre aulas, você já pensou em ensinar luthieria?
Sinceramente nunca pensei, mas porque não?!
Quais as maiores dificuldades você teve ao montar a Reali Guitars?
A maior dificuldade foi começar, dar o primeiro passo. Montar a oficina, aquisição de máquinas, ferramentas, conhecimento e experiência, são coisas que levam tempo e cada uma delas tem a sua dificuldade.
E realizações? Pode dizer coisas que te deixaram orgulhoso à frente da sua luthieria?
Cada guitarra construída é um motivo de grande orgulho, cada novo passo conquistado, etapa de fabricação otimizada, cada cliente satisfeito é motivo de muito orgulho.
Quais conselhos daria para quem está começando no ramo?
Meu conselho é dedicação e sempre dar o seu melhor. Querer sempre aprender mais, estudar, ter persistência e paciência. Aprender com seus erros e acertos, e principalmente acreditar no que faz.
Fazendo um exercício de futurologia, quais são os planos para a Reali daqui pra frente?
Construir mais, novos modelos, e guitarras cada vez melhores.
Pra finalizar, manda um recado para os leitores.
Agradecer a todos do Instituto pelo convite e poder falar um pouco sobre meu trabalho. Convido todos para acompanhar meu trabalho através do Instagram @realiguitars.
Por Érico Malagoli
José Mário Malagoli foi um dos guitarristas do “The Thicks”, banda do bairro da Pompéia que experimentou sucesso regional em São Paulo. Na época, os instrumentos musicais, em especial a guitarra elétrica, eram caros e difíceis de achar. Na época, a demanda crescente não encontrava oferta em um mercado que havia se especializado em violões para Bossa Nova. Foi por isso que José e Carlos Alberto Malagoli (irmão e membro da banda) acabaram por fazer, eles mesmos, seus próprios instrumentos “do zero”. Eram instrumentos 100% artesanais, incluindo as pontes e os captadores. Foi o começo da Malagoli, nos anos 60. A genialidade e criatividade de José, que desde criança desenvolvia seus primeiros equipamentos eletrônicos, enquanto a meninada jogava bola, foi decisiva para o pontapé inicial e sucesso da empresa. A Sound e a música brasileira passaram a se confundir. Suas guitarras passaram pelas mãos de muitos músicos. Os cavaquinhos viajaram o mundo. O famoso pedal com sirene esteve sob tantos pés (e hoje é cobiçado pelos colecionadores vintage). E os captadores, que hoje transformam qualquer guitarra em uma máquina de timbres, passando por uma loja na Rua General Osório, onde comecei a trabalhar. Com certeza, uma grande perda para a família, amigos e para a empresa. Jose M. Malagoli deve estar solando Jet Blacks junto de seu irmão, Duílio, em algum lugar do céu. Descanse em paz, meu tio.