Edição 224 - Revista Backstage

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Sumário Ano. 20 - julho / 2013 - Nº 224

Santa Teresa Bossa e Jazz

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Os festivais de jazz e blues definitivamente entraram para a agenda de dezenas de municípios do país. De norte a sul, os eventos têm como objetivo unir música de qualidade, cultura e boa gastronomia. A 11ª edição do Rio das Ostras Jazz&Blues Festival, em Rio das Ostras, mostrou que o festival, hoje um dos maiores do mundo, está de cara nova. Inovações no sistema e na forma de alinhar o som, nova iluminação e mais conforto para o público foram algumas das novidades. Também nesta edição, convidamos oito profisisonais de iluminação para falar sobre o mercado no Brasil.

Realizado pela segunda vez na cidade serrana do Espírito Santo, o festival veio para ficar no calendário. Durante três dias, músicos brasileiros e internacionais se apresentaram para um público que compareceu em busca de boa gastronomia e qualidade musical.

NESTA EDIÇÃO 12

Vitrine Um novo sistema portátil da Behringer permite ser instalado e ligado rapidamente em eventos pequenos e o sub da KArray, dipolo, com DSP interno.

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Rápidas e rasteiras Paul McCartney inicia nova turnê no Brasil com equipamentos de iluminação da Robe.

20 Gustavo Victorino

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A profissão deste mês é a de técnico de áudio de rodeios. O que faz e quais as atribuições deste profissional.

O Som da cada PA Nesta edição, confira os segredos que Claudio Coutinho e Vicente Hales empregam na hora de mixar o som.

34 Mombojó Depois de onze anos na estrada, o grupo pernambucano lança seu mais novo trabalho em nova gravadora.

90 Boas Novas Danielle Rizzutti grava primeiro clipe no novo álbum, Grupo Kainón divulga novo clipe e CD e Nani Azevedo entra em ritmo de finalização de seu novo trabalho.

Fique por dentro do que acontece nos bastidores do mercado de áudio.

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Vida de artista Frequentar o Beco das Garrafas, reduto boêmio em Copacabana, era uma das táticas do colunista para, quem sabe, “assim como quem não quer nada”, conhecer Elis Regina.


Expediente

Gravando voz

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Gravar uma voz com o máximo de qualidade e critério parece estar ao alcance de todos hoje em dia. O segredo pode estar em tirar o melhor dos cantores que entram nos estúdios a cada dia.

CADERNO TECNOLOGIA 52

56 Cubase

Tablets e áudio Nos estúdios, o iPad também mostra sua utilidade em dois segmentos principais: executando Apps e como hospedeiro de software.

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Logic

Uma das grandes novidades do Cubase 7, o Mixer. Nesta edição saiba mais sobre os recursos dessa ferramenta.

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Pro Tools O Master Fader é um recurso que vai muito além de ser apenas um lugar para abaixar ou aumentar o volume e colocar efeitos.

Continuando sobre as dicas de remixagem, nesta edição conheça a melhor forma de lidar com os diversos materiais gravados de diversas formas.

CADERNO ILUMINAÇÃO 74

Vitrine A ProLED lança novo painel de LED no mercado, ideal para eventos indoor, e a Equipo apresenta o novo moving light Chauvet Q-Beam 260 LED.

82 Iluminação no Brasil Profissionais que atuam em diversos segmentos da iluminação falam sobre novidades e mercado de trabalho no Brasil.

76 Iluminação cênica Depois de identificados todos os recursos e requisitos técnicos e financeiros, é hora de consolidar as etapas anteriores, ou seja, executar o evento a partir do planejamento operacional.

Diretor Nelson Cardoso nelson@backstage.com.br Gerente administrativa Stella Walliter stella@backstage.com.br Financeiro Rafael Pereira adm@backstage.com.br Coordenadora de redação Danielli Marinho redacao@backstage.com.br Revisão Heloisa Brum Revisão Técnica José Anselmo (Paulista) Tradução Fernando Castro Colunistas Cezar Galhart, Cristiano Moura, Gustavo Victorino, Jorge Pescara, Luciano Freitas, Luiz Carlos Sá, Marcello Dalla, Ricardo Mendes e Vera Medina Colaboraram nesta edição Alexandre Coelho, Miguel Sá, Ricardo Schott e Tatiana Castro Estagiária Karina Cardoso webmaster@backstage.com.br Edição de Arte / Diagramação Leandro J. Nazário arte@backstage.com.br Projeto Gráfico / Capa Leandro J. Nazário Foto: Jorge Ronald / Divulgação Publicidade: Hélder Brito da Silva PABX: (21) 3627-7945 publicidade@backstage.com.br Webdesigner / Multimídia Leonardo C. Costa multimidia@backstage.com.br Assinaturas Maristella Alves PABX: (21) 3627-7945 assinaturas@backstage.com.br Circulação Adilson Santiago, Ernani Matos ernani@backstage.com.br Crítica broncalivre@backstage.com.br Backstage é uma publicação da editora H.Sheldon Serviços de Marketing Ltda. Rua Iriquitiá, 392 - Taquara - Jacarepaguá Rio de Janeiro -RJ - CEP: 22730-150 Tel./fax:(21) 3627-7945 / 2440-4549 CNPJ. 29.418.852/0001-85 Distribuição exclusiva para todo o Brasil pela Fernando Chinaglia Distribuidora S.A. Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, 1678 - Sl. A Jardim Belmonte - Osasco - SP Cep. 06045-390 - Tel.: (11) 3789-1628 Disk-banca: A Distribuidora Fernando Chinaglia atenderá aos pedidos de números atrasados enquanto houver estoque, através do seu jornaleiro. Os artigos e matérias assinadas são de responsabilidade dos autores. É permitida a reprodução desde que seja citada a fonte e que nos seja enviada cópia do material. A revista não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios veiculados.


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CARTA AO LEITOR | www.backstage.com.br

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Entre o bom e o ótimo

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urante quatro meses do ano, o Brasil passa a viver a temporada dos festivais de Jazz em diversos municípios. De norte a sul, entre os meses de maio e agosto acontecem dezenas de eventos que privilegiam a música de qualidade, muitas vezes aliada à cultura e boa gastronomia. Além de ser uma oportunidade de promover a interação entre músicos brasileiros e estrangeiros e o público amante do gênero, uma das características desses eventos é a gratuidade, conferindo a esses festivais um desejo de democratizar a boa música. Há uma década, quando surgia o festival de Jazz & Blues de Rio das Ostras, assistir a uma apresentação de Kenny Brown ou Stanley Jordan, por exemplo, era privilégio de poucos que podiam pagar por um ingresso em casas de shows especializadas. Para aqueles que se aventuravam em produzir um evento deste porte e ineditismo naquela época, significava enfrentar a desconfiança e a dificuldade em conseguir patrocinadores. No entanto, quem apostou na ideia de alguns considerados “loucos”, conseguiu implementar um novo conceito e quebrar alguns paradigmas como os tão massificados “o público não gosta de música boa” e “ninguém valoriza o que é de graça”. O aumento e o prestígio do público nesses festivais provam exatamente o contrário: de que é possível, sim, fazer um festival de sucesso com retorno dos investimentos, mesmo oferecendo gratuidade. São projetos musicais como esses que conseguem difundir e tornar acessível a cultura, deixando um pouco de lado a visão 100% comprometida com o máximo lucro ou o preconceito de que o público não reconhece o que é bom. Que sejam bem-vindos outros projetos e festivais como esses.

Boa leitura. Danielli Marinho

siga: twitter.com/BackstageBr


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BEHRINGER ALLEN & HEATH www.allen-heath.com A Allen & Heath anuncia o GLD Remote para iPad ou iPad Mini. O produto conecta-se ao mixer GLD-80 em uma rede sem fio e dá ao usuário acesso instantâneo a qualquer dos canais de mixagem e faders DCA, além de controladores de imagem. Outros recursos exclusivos são um analisador de tempo real (RTA) para tocar, a facilidade de nome e faixas de canais de cores e uma vista mix.

www.proshows.com.br Os portáteis sistemas de PA EPA900, EPA300 e EPA150 da Behringer podem ser instalados e ligados rapidamente, dando-lhe um microfone e um préamplificador de microfones de alta qualidade, altofalantes compactos, presets de efeitos com 24-bits, antimicrofonia e muito mais. O equipamento é ideal para entretenimento, apresentações multimídia, conferências de imprensa etc.

YAMAHA www.br.yamaha.com A CVP-601 Clavinova, novidade da Yamaha, usa o gerador de som RGE com capacidade de expressão sem igual e o teclado GH3 para proporcionar o toque de um piano de cauda. Inclui várias funções essenciais que facilitam a verdadeira performance de piano. O acompanhamento automático lhe permite tocar juntamente com bandas virtuais em vários gêneros musicais. Basta mudar o estilo e você pode tocar a mesma música com uma disposição completamente diferente.

AKG www.harmandobrasil.com.br O microfone D7 foi desenvolvido pela AKG para oferecer um desempenho superior, além de potência na ressonância para estúdios e palcos. Ele proporciona sons mais abertos em todas as faixas de frequência, tem alto desempenho na captação da voz, altíssima supressão de feedback, bobina de compensação de zumbido, filtro metálico de pó, suspensão mecanopneumática e diafragma Varimotion de dupla espessura.


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LYCO www.lyco.com.br A Lyco está disponibilizando dois modelos de kits, compostos de três microfones cada um, que oferecem som de alta qualidade. Os microfones SML48 P3 e o SML58 P3 são ideais para aplicações de voz com grande captação, proporcionando qualidade na transmissão.

RADIAL www.radialeng.com Depois de reinventar o rack série 500 com seu Workhorse, agora a Radial oferece uma versão menor e mais portátil. Ela pode abrigar até três módulos de uma unidade ou um módulo de largura única e um de largura dupla. Foram retirados o amplificador de fones de ouvido, o summing e os trilhos guia.

WAVES ELEMENT www.waves.com O Waves Element é o sintetizador que se diferencia pelos seus sons e pela forma como rapidamente se pode chegar ao objetivo sem a necessidade de mudar janelas ou abrir páginas, comuns em outros sintetizadores deste tipo. Utilizando uma tecnologia própria, denominada Virtual Voltage, o Element é um instrumento polifônico, de estilo/sonoridade analógica, que traz maior flexibilidade.

YAMAHA www.br.yamaha.com O Workstation Arranjador PSR-S950 atenua efetivamente a linha que separa o som digital do som acústico. E o resultado irá alterar para sempre as suas percepções musicais. Outras características incríveis do PSR-S950 – incluindo o Vocal Harmony2 e a Super Articulation, para um suporte instrumental e vocal espantosos – adicionarão uma perspectiva completamente nova à sua criatividade e às suas apresentações.


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www.proshows.com.br Chegou às lojas as novas caixas passivas da Lexsen construídas com MDF de araucárias. Elas são perfeitas para uso profissional em eventos como shows em pubs, igrejas, auditórios, escolas, teatros e locais reservados. As caixas possuem os modelos LPX1015P, LPX2015P e LSB1018P, diferenciando-se em potência, sensibilidade e SPL máxima e resposta de frequência. Todos os modelos são forrados internamente com lã de vidro mineral de alta densidade.

K-ARRAY

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LEXSEN

www.gobos.com.br O KS4 da K-Array é um subgrave de alta tecnologia amplificado, dipolo, de alto desempenho, com DSP interno. Com apenas 37 Kg e 16 cm de profundidade, a sua estrutura em alumínio ultra compacta tem uma reserva incrível de poder sonoro, garantindo elevados níveis de pressão, com amplas e consistentes coberturas horizontal e vertical. Seu exclusivo padrão dipolo de cobertura elimina os graves que vêm das laterais da caixa. Este recurso torna o som mais confortável no palco, especialmente em configurações line array.

WALDMAN www.equipo.com.br A Equipo apresentou o Mixer 24 Canais Krystal Studio Live 24.4 UFX da Waldman. Dentre as excelentes características do produto destacam-se: 24 canais (KSL 24.4UFX), 4-Bus, Studio/Live Mixing Console, Krystal Preamps, DUAL Digital FX Processors, EQ gráfico de 9-bandas, Interface USB etc.

STUDIO R www.studior.com.br A Studio R apresentou ao mercado uma novidade chamada T6: um amplificador trifásico / bifásico / monofásico híbrido, capaz de operar em até 1,3 ohms com potência senoidal contínua, além de ser compatível com redes monofásicas convencionais.


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Início da turnê no Brasil com Robe

Foto: Divulgação

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Paul McCartney:

O ex-Beatle Paul McCartney escolheu o Brasil para a estreia de sua nova turnê mundial, intitulada Out There. Os três shows – a primeira apresentação foi em Belo Horizonte (Minas Gerais), a segunda em Goiânia (Goiás) e a última em Fortaleza (Ceará), contaram com um design de luz surpreendente

criado por Roy Bennet. Fornecido pela empresa brasileira de locação LPL Professional Lighting, o equipamento de iluminação incluía luminárias Robe ColorSpot e ColorWash. A produção usou 12 x Robe ColorWash 2500E AT localizados no chão, 09 x ColorSpot 2500E AT nos trusses sobre o palco, e 20 x ColorWash 1200E AT distribuídos nas trusses laterais e de followspots. O projeto de luzes criado para o show pelo lighting designer Roy Bennet teve início em fevereiro deste ano, e incluiu elementos clássicos do show presentes nos últimos anos, juntamente com diversas novidades, como o uso de mais vídeo.

MATANZA LANÇA NOVO CLIPE

A banda Matanza, uma das maiores de hardcore do Brasil, acaba de lançar seu mais novo clipe da música Mulher Diabo. A faixa faz parte do disco Thunder Dope

ENCONTRO GOSPEL DE BATERAS E PERCUSSIONISTAS EM MATO GROSSO No próximo dia 18 de julho acontece o 1º Brothers Drums, em Mato Grosso. O evento é um projeto Gospel organizado pelo músico Israel Bento, professor de bateria e percussionista, mais conhecido como Israel Batera,

(2012) da Deck. O vídeo, dirigido por Eduardo Kurt, é cheio de efeitos especiais e está disponível na página do Matanza no Youtube. líder do ministério de arte M.I.B.A (Ministério Internacional Batista do Avivamento), e que também é baterista e percussionista da banda Interligados. O objetivo do evento é promover o encontro de músicos bateristas e percussionistas gospel. O evento está programado para acontecer a partir das 19h30, no Amazon Centro de Eventos na cidade de Sinop - MT.

METEORO AMPLIFERS IMPLANTA SAC A empresa Meteoro Amplifiers agora conta com um sistema de serviço de atendimento ao cliente – o SAC Meteoro, criado para ser um canal de relacionamento e para solucionar as questões dos consumidores, entre elas dúvidas, reclamações, sugestões, rastreamento, consultas, solicitações e assistência técnica. Para entrar em contato, bastar ligar para (11) 2443-0088 / ramal 215 ou enviar um e-mail para: sac@amplificadoresmetero.com.br

ROBE NA SOUND:CHECK EXPO 2013 A empresa Robe lighting esteve presente na principal feira para tecnologia de entretenimento no México, a Sound:check Expo 2013, que apresentou as últimas inovações das indústrias de áudio, vídeo, iluminação e instrumentos musicais. Durante a exposição, realizada na Cidade do México, a Robe mostrou uma variedade de sua mais recente tecnologia – incluindo a nova luminária Pointe, lançada anteriormente na feira Prolight+Sound (realizada na Alemanha), e apresentada agora no estande do distribuidor mexicano Vari Internacional. Entre as luzes apresentadas, estavam também os modelos ROBIN MMX, ROBIN 100 LEDBeam, ROBIN 600 LEDWash, ROBIN 1200 LEDWash e ROBIN 300E Beam. A reação ao Pointe foi extremamente positiva – esta luminária multifunção pequena e muito brilhante pode ser usada como uma unidade beam, spot, wash ou de efeitos, que inclui dois discos de gobos estáticos e rotativos rotários, dois prismas, zoom variável em modo Beam e Spot, além de diversas outras características.


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imperceptível aos menos atentos. Tudo porque Hunter não utiliza os bordões de forma convencional como todos conhecem. O som é separado pelo sistema, e ganha contornos ainda mais curiosos pela construção da guitarra que tem os três primeiros trastes inclinados sabe-se lá para quê.

HOMENAGEM

Maior evento do gênero na América Latina, o Rio das Ostras Jazz & Blues parece ter superado seus próprios limites e em 2013 mostrou novidades de deixar os amantes desses clássicos estilos musicais de queixo literalmente caído. De inovações hightech à reestruturação do palco e demais dependências, tudo soou novo no evento desse ano. E melhor do que nunca...

A mega banda montada para homenagear Celso Blues Boy emocionou a todos. Tocando clássicos do bluseiro morto no ano passado, o grupo liderado pela guitarra de Big Joe Manfra e a poderosa voz de Ivo Pessoa arrasou no repertório do mestre do blues em português. No grupo, destaque também para Roberto Ly, o último dos grandes baixistas de rock do Brasil, parceiro de Celso e ex-integrante do grupo Herva Doce.

FALOU UM MESTRE A caminho de Rio das Ostras encontro no aeroporto um dos maiores técnicos do país e responsável pelas operações do festival. E o mestre Jerubal Liasch é taxativo... “Quando os músicos e técnicos vão aprender que os equipamentos precisam ser utilizados numa margem de conforto na sua potência? Não existe potência subaproveitada, a sobra é que garante a qualidade. E usar acima de 50% da potência de qualquer aparelho compromete essa qualidade”. Vindo desse profissional, virou lei para mim.

CRIATIVIDADE O guitarrista americano Charlie Hunter não escondia sua alegria em tocar ao lado do saxofonista brasileiro Leo Gandelman, mas a curiosidade da plateia procurando o baixista da banda foi engraçada nas primeiras músicas. Embora todos ouvissem ninguém via tal músico no palco. Leo foi ao microfone e explicou a técnica única de Hunter que toca com uma guitarra construída por ele e absolutamente original. São sete cordas, afinadas de forma incomum e amplificadas por captadores diferentes que se ligam a amplificadores também diferentes. Ele toca guitarra e baixo ao mesmo tempo e de forma quase

LÁGRIMAS Que o violonista Diego Figueiredo é um dos maiores instrumentistas do mundo não é novidade para quem conhece música, mas que ele provoca lágrimas com sua genialidade, confesso ser novidade também para mim. Tocando exclusivamente música brasileira, o instrumentista fez mais de vinte mil pessoas ficarem em um silêncio ensurdecedor na cidade do jazz. A interpretação da clássica Disparada, de Geraldo Vandré e Theo de Barros, lacrimejou dezenas de rostos e ao final provocou aplausos de mais de dois minutos.

HIGHTECH Uma pequena câmera conectada a um dispositivo aéreo operado por controle remoto fez o maior sucesso no evento. O brinquedinho mandava imagens ao vivo para os telões e captava cenas inacreditáveis. Do tamanho de uma caixa de sapatos e movido por quatro pequenos motores, a geringonça era motivo de festa sempre que levantava voo.

PRECOCE No show do espetacular Stanley Clarke, um menino de apenas 18 anos roubou a


GUSTAVO VICTORINO | VICTORINO@BACKSTAGE.COM.BR cena na bateria. Com uma dinâmica inacreditável e precisão absoluta o menino parece ter nascido em cima de uma bateria. Na apresentação dos músicos o garoto recebeu tantos aplausos quanto o mestre que ele acompanhava. Stanley fez o melhor show de 2013.

plateia o momento certo de participar. Com o conceito de levar virtuosismo com entretenimento, o músico brindou o público com malabarismos no baixo e uma banda de primeira linha com destaque para o ex-baixista do emblemático grupo Lynyrd Skynyrd, Steve Bayley.

BRASIL Num evento em que predominou a presença de grandes baixistas, o brasileiríssimo Arthur Maia encheu de orgulho a plateia brasileira. O carioca exibiu o conhecido swing e a competência que o qualificam como um dos maiores baixistas brasileiros de todos os tempos.

CURIOSIDADE O “instrumento” mais visto nos palcos do festival foi o indefectível IBook, da Apple. Passada a curiosidade vem uma convicção de que os não puristas se multiplicam e a utilização de processadores de sinal avançados no formato plug-in é uma realidade inevitável. Num futuro muito próximo os floor controllers farão parte dos set lists de palco com a mesma frequência que os simplórios microfones. É esperar para ver.

EXPERIMENTALISMO Ex-integrante do grupo Living Color, o guitarrista Vernon Reid parece ter mergulhado fundo no experimentalismo sonoro. A busca de timbres alucinógenos e o foco na inovação provocaram curiosidade no trabalho do artista que sempre esteve na vanguarda da guitarra. Com uma apresentação pragmática ao lado da cantora Maya Azucena, Vernon mostrou a clara intenção de buscar novos limites para a guitarra.

BAILÃO Fechando o sábado de espetáculos, Lucky Peterson e sua mulher, Tamara Peterson, fizeram um dos mais longos shows da história do evento, mas nem por isso menos divertido. Auxiliados por uma banda discreta, mas competente, o casal fez um verdadeiro bailão de blues para mais de 20 mil pessoas que lotavam a cidade do jazz. Sem esperar pedidos de bis, o cantor que tem a cara do Jamelão e a barriga do Genival Lacerda emendava uma música em outra e fazia da energia sua principal fonte de vibração com o público. Só não dançou quem já morreu.

ENTUSIASTA E SINCERO Criador do Rio das Ostras Jazz & Blues há 11 anos ao lado do produtor Stênio Mattos, o prefeito Alcebíades Sabino não escondeu sua alegria e entusiasmo na entrevista coletiva. Entusiasta da cultura como fonte de desenvolvimento social, o mandatário foi sucinto e direto nas respostas a ponto de surpreender os próprios jornalistas com sua sinceridade e pragmatismo. Ao receber a pergunta tabu que há mais de uma década cerca de mistério o real custo do evento, o prefeito não titubeou e deu na lata... “Três milhões de reais ”. E todos foram para suas casas felizes para sempre.

ENTRETENIMENTO O baixista Victor Wooten não é apenas um excelente instrumentista, mas também sabe tirar da

BUSINESS O comércio dentro e fora da cidade do jazz comemorou o resultado re-

corde. Vendas na ordem de 12 milhões de reais estimadas pelas autoridades municipais aqueceram o evento e aumentaram a convicção de que o festival é também um grande negócio.

MAIOR O que parecia impossível aconteceu e a capacidade do encontro anual foi atingida. Com uma média diária superior a 25 mil expectadores nos quatro palcos do evento, a visibilidade aos patrocinadores abre um novo horizonte de financiamento para o festival. Apesar do apoio ainda tímido do governo do Rio de Janeiro e do governo federal, o Rio das Ostras Jazz & Blues vem atropelando o preconceito e mostrando que música boa não é coisa de rico. É coisa de quem tem consciência social. Lá tudo é grátis.

VISUAL A ideia de um pórtico reproduzindo as ruas de New Orleans deu um ar ainda mais clássico e visualmente deslumbrante ao festival. A iluminação futurista e a abundância de cores completaram o ar de renovação e nova plasticidade de 2013.

190 Outra agradável surpresa foi uma banda formada por policias militares do estado do Rio de Janeiro. Tocando standars de jazz com competência e simplicidade, o grupo conquistou o público pela sobriedade e correção na apresentação.

DÚVIDA As pedaleiras digitais voltaram a rivalizar com os pequenos pedais analógicos entre os guitarristas e baixistas. Sinal dos tempos ou aprenderam a mexer nas mo dernas e complexas geringonças programáveis?

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Profissões do

‘backstage’ J O VA N E P U C I N E L L I ÁUDIO PARA L OCUT OR DE R ODEIO Continuando a série de entrevistas, buscando ampliar o conceito de backstage, dos bastidores dos shows para os bastidores das produções que têm profissionais que mesmo nós do ramo sequer sonhamos que existam, mas que direta ou indiretamente estão ligados ao dia a dia do entretenimento, neste mês, a profissão é a de técnico de áudio para locutor de rodeio e o entrevistado é Jovane Pucinelli.

redacao@backstage.com.br Fotos: Arquivo pessoal / Divulgação

J

ovane, conte como você veio parar no mercado do show business. Comecei bem cedo nessa profissão, antes mesmo dos 15 anos, e, por ter começado a trabalhar com áudio cedo, fiz dela meu ganha-pão. Logo que completei a


maioridade não tive tempo para viajar para estudar, já que em minha cidade não existem cursos superiores para nosso ramo. Então, já fui logo trabalhar para empresas, onde fui conhecendo ainda mais sobre equipamentos e aplicações e também, direta e indiretamente, os profissionais experientes. Onde você trabalhou e quais as pessoas que marcaram ou fizeram a diferença na sua carreira até hoje? Jesus em primeiro lugar fez toda a diferença em minha vida e, em segundo, minha família. No final dos 18 anos fui trabalhar na empresa Stick Som, onde obtive espaço pra aperfeiçoar a minha pouca experiência anterior com equipamentos de alto nível. Outra pessoa que marcou muito minha história foi o Adalberto Laerte Scotton, que, mesmo eu sendo um novato na empresa, me dava oportunidades de fazer trabalhos de alta responsabilidade e muitas vezes sozi-

nho; além de Marcus Cezar Scotton e Max Scotton, que também fizeram parte dessa minha história. Amigos como Nico, Buxexa, Paulinho, Sidney Brega e muitos outros que estiveram presentes nessa fase da minha carreira. Pouco tempo depois tive oportunidades de trabalhar como freelancer em outras empresas como a Piaf, Laser Som e muitas outras, e se eu for citar vai virar uma lista enorme. Meu muito obrigado a todos. Para que todos entendam melhor: o que um técnico de áudio de um locutor de rodeio faz e como funciona o rodeio como um espetáculo? O rodeio é um esporte que ultimamente vem se destacando muito no País. É uma competição entre o homem e o animal em que o peão tem que se manter por oito segundos em cima do touro para ter sua nota. Essa competição necessita de um locutor que descreva toda a informação do ca-

Jovane e Almir Cambra, um dos locutores de rodeio mais requisitados atualmente

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O locutor se posiciona de frente para os Bretes, que é o local da saída do touro e peão, e porteiras

valeiro domando a montaria para o público presente, passando todos os detalhes da montaria. O locutor se posiciona de frente para os Bretes (local de saída do touro e peão) e porteiras, fi-

Jovane trabalha com um Avalon vt737

cando de frente para o PA. Para dar adrenalina e emoção ao rodeio, são usadas muitas músicas e trilhas sonoras. O meu trabalho como técnico de som é cuidar da qualidade da voz, que é repleta

Trabalho do técnico: cuidar da qualidade da voz


Você viaja com algum equipamento? Qual a estrutura que um locutor de rodeio utiliza? Desde que fui contratado, a equipe Almir Cambra (o Locutor) já possuía os seguintes equipamentos: 1-Yamaha 01v96; 1-Mixer Pioneer DJM 800; 1-Shure Beta UR-4 Dual; 1Shure Psm 600; 1-BBE 462, 1-Avalon vt737 e 1-Avalon vt747. Além de mi-

Para dar uma ideia de como funciona este mercado, qual a média de trabalho mensal? Atualmente o Almir Cambra é um dos locutores de rodeio mais requisitados do País. Em 2012, de janeiro a dezembro, foram 64 rodeios narrados entre 1 e 5 dias no mesmo evento, o que dá uma média mensal de 16 apresentações. Quais as inovações tecnológicas que estão sendo usadas nos rodeios que você considera mais interessantes? O rodeio geralmente tem equipamentos separados do show por uma peculiaridade do próprio mercado de

de efeitos, assim como o nível da música que é comandada por nosso DJ. Além de cuidar dessa mix do PA, também cuido da mix do in-ear, que exige um cuidado especial devido ao SPL do PA.

Para trabalhar numa empresa, você tem que atender os técnicos e os riders solicitados, além de elaborar uma boa montagem para o local

crofones e fones com antenas de transmissão direcional Shure. O equipamento foi montado por Marcinho, da Veritas, e a VitóriaSom. Quais as principais diferenças entre trabalhar numa empresa e o seu atual trabalho? Para trabalhar numa empresa, você tem que atender os técnicos e os riders solicitados, além de elaborar uma boa montagem para o local e para o evento. Hoje sou contratado para uma das atrações, digamos que sou cliente para a locadora. O trabalho de um locutor de rodeio é um show à parte, mas quem produz as trilhas e efeitos especiais? Em nossa equipe temos o Dj Mamute, encarregado das músicas e trilhas que dão o clima e ênfase na locução.

rodeios, onde a valorização do serviço é muito baixa, e, por consequência disso, os sistemas são um pouco atrasados e inferiores, tecnologicamente falando. Mas uma inovação interessante tem sido o uso de processadores e consoles digitais, que dão mais opções e são mais precisos para correções. O locutor geralmente está no meio da arena, com um PA falando alto, então como é feita a monitoração e como você lida com o atraso do PA no caso do uso de in-ears? Como ele anda e corre o tempo todo pela arena não há muito o que fazer, geralmente em cada ponto da arena existe uma soma e resposta diferente no seu in-ear; tenho trabalhado um pouco a fase e tem soado melhor com esse recurso.

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Almir: 64 rodeios narrados

Já vi muitas pessoas que não sabem muita coisa faltarem com o respeito e menosprezar o próximo; isso me deixa triste por ser um ramo onde cada dia aprendemos mais com os outros

O que falta para que os profissionais do mercado de entretenimento sejam organizados como uma classe, como as demais profissões? Falta valorização profissional das empresas em relação aos seus funcionários (deixo a ressalva que não são todas, mas algumas abusam nesse aspecto). Mas entenda o raciocínio: quando uma empresa passa a tratar seu funcionário como técnico, ou seja lá qual a função, tudo facilita, ele não é uma peça ou um equipamento e, em muitos casos, os equipamentos são mais bem tratados que os próprios funcionários. E os seus planos para o futuro, o que pretende estar fazendo daqui a 10 anos, tanto nos planos profissional, quanto no pessoal? Meus planos para o futuro são o de me especializar mais em outras áreas do áudio, como gerenciamento e otimização de sistemas, e atuar um pouco mais em gravações ao vivo. Daqui a 10 anos espero estar bem de saúde e mais próximo da minha família. Quais as dicas que você daria para aqueles que se interessam em entrar no mercado do show business?

Jovane quer se especializar em outras áreas do áudio

Já vi muitas pessoas que não sabem muita coisa faltarem com o respeito e menosprezar o próximo; isso me deixa triste por ser um ramo onde cada dia aprendemos mais com os outros. Digo isso por que amanhã você não sabe onde estará e pode precisar daquela humilde pessoa. Essa é a lição que gosto de passar. Humildade e respeito por qualquer pessoa.

Para saber online

www.almircambra.com.br

Este espaço é de responsabilidade da Comunidade Gigplace. Envie críticas ou sugestões para contato@gigplace.com.br ou redacao@backstage.com.br. E visite o site: http://gigplace.com.br.


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REPORTAGEM| www.backstage.com.br 28 Claudio Coutinho estuda a sonoridade do trabalho do artista

A série de reportagens sobre a busca do profissional de áudio por uma sonoridade que seja sua marca registrada traz, nessa edição, as experiências dos técnicos Claudio Coutinho e Vicente Hales. Alexandre Coelho redacao@backstage.com.br Fotos: Arquivo Pessoal / Divulgação

O som DE CADA PA PARTE 10

o

técnico Cláudio Coutinho trabalhou nos últimos quatro anos com o já saudoso cantor Emílio Santiago. Ele conta que, para sonorizar os shows de um dos mais conceituados intérpretes da MPB, fez de sua marca

pessoal a pesquisa, sempre buscando levar, com a maior fidelidade possível, o disco para o palco. E foi justamente essa característica que o manteve por tanto tempo com o artista. “Quando faço o PA, gosto de estudar


Vicente Hale procura deixar a voz sempre em primeiro plano

mero um em toda mix, independentemente do estilo musical”, sentencia. Mesmo com todos os cuidados, nem sempre o técnico acerta o gosto do artista e precisa se adequar às exigências de cada show. Foi o que aconteceu com Cláudio Coutinho alguns anos atrás, quando estava

“Naquele trabalho, ela resolveu fazer algo diferente, mais impactante, e eu estava mixando com um foco bem bossa nova, bem cool. Depois de algumas músicas passadas, ela saiu do palco, veio à house mix e pediu para ouvir a banda. Estava tudo certo, mas longe do que ela queria. Ela achou tudo meio frou-

bastante a sonoridade do trabalho do artista. Ouço os discos e se possível os “ao vivo”. Isto me dá uma boa base para começar. A partir daí, junto com o artista, desenvolvemos o som final. Depois de estudar bastante o som do artista tento ser o mais transparente possível. Tenho sempre como objetivo fazer uma mix clara, com pressão, e fiel ao projeto. E pressão poucas vezes se traduz em alto SPL”, ensina. Quem também trabalha com um grande nome da MPB é Vicente Hales, da empresa Lang Brothers Sonorização, técnico do cantor e compositor Raimundo Fagner. Para ele, o essencial – e o que diferencia na profissão – é colocar a voz do cantor sempre em destaque, com um bom timbre, qualquer que seja o artista com o qual se esteja trabalhando. “É uma definição: a voz sempre em primeiro plano. É a regra nú-

É uma definição: a voz sempre em primeiro plano. É a regra número um em toda mix, independentemente do estilo musical (Vicente Hales) começando a trabalhar com a cantora Simone, àquela altura, já uma artista consagrada e com uma sólida discografia.

xo. Tive que equalizar tudo de novo, desta vez com uma pegada de rock. Aí ela gostou e, felizmente, a tour foi um sucesso”, conta.

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Sou de uma geração de técnicos formados na Mac Áudio. Naquela época o Roldão decidiu contratar apenas engenheiros ou técnicos de eletrônica. (Claudio Coutinho)

Tecnicamente, Cláudio Coutinho acha que se diferencia da maioria dos demais profissionais que atuam atualmente no mercado brasileiro por fazer parte de uma geração de técnicos que já tinham experiência em eletrônica antes de se tornarem engenheiros de áudio. Segundo ele, essa noção de como funciona todo o sistema é muito útil na hora de pensar uma mix. “Sou de uma geração de técnicos formados na Mac Áudio. Naquela época o Roldão decidiu contratar apenas engenheiros ou técnicos de eletrônica, o que era o meu caso, com o objetivo de formar novos operadores. Deste jeito, eu penso no caminho que o som percorre até chegar ao público e como ele faz isto. Penso sempre em aperfeiçoar o uso de cada parte do equipamento, evitando distorções e desperdícios de energia. Assim, tenho mais pressão sonora com um som mais limpo”, revela. Vicente Hales também tem os seus se-

gredos quando o assunto são os aspectos técnicos que fazem parte da sonorização de um show. Ele diz que o fundamental é ter uma boa cobertura do local a ser sonorizado, usando os equipamentos certos para cada ocasião. E, claro, ter sempre bastante cuidado, especialmente no que diz respeito ao alinhamento do sistema e à escolha de profissionais responsáveis. Para atingir seus objetivos na sonorização de uma apresentação ao vivo, Vicente Hales não abre mão de dois aliados. Primeiro, um bom microfone para o cantor que, na atualidade, tem sido um Sennheiser E935. E, segundo, um sistema de PA confiável, como o JBL VT4889, que ele cita como exemplo. Além desses equipamentos, o técnico considera o alinhamento do PA como uma etapa crucial para o sucesso de qualquer empreitada. “É sempre bom começar ouvindo o sistema como um todo, subs, graves, mé-


dio-graves, médio-altas e altas, uma de cada vez, fazendo comparações entre elas mesmas, verificando a fase de cada banda, parte principal no alinhamento. Atualmente, temos o S.M.A.R.T. que é uma ferramenta muito poderosa e ajuda muito”, garante. Com relação aos modelos usados que favoreçam seu trabalho como técnico de áudio, Cláudio Coutinho pensa que o equipamento, como um todo, precisa ser equilibrado. Ele acredita que de nada adianta contar com um console que custe R$ 300 mil se o sistema de AC é deficiente. Da mesma forma, uma elétrica perfeita, um bom PA e bons microfones de nada servirão se o console for ruim. “Mais do que marcas, nacionais ou importadas, o que vale é o equilíbrio do equipamento. Lembrando sempre que ele será tão bom quanto

sua parte mais frágil. Pessoalmente, busco sempre um analisador de espectro, compressores e gates de qualidade. E, se possível um console Neve ou Midas”, exemplifica. Para o alinhamento do PA, Cláudio Coutinho se vale sempre de um bom tocador de mídia e um analisador de espectro com microfone adequado. Antes de qualquer coisa, o técnico percorre a sala e procura sentir suas reflexões e áreas cegas. Depois, confere o posicionamento dos módulos do PA, corrigindo alguma coisa que esteja mal posicionada. “Esta etapa é função da locadora, mas os vícios de técnico de empresa não desaparecem, né? Com a parte física acertada, partimos para o alinhamento do sistema, ouvindo banda por banda de cada lado, comparando e ajustando possíveis diferenças. Com o sistema alinhado, es-

cuto alguns temas, avalio o resultado e faço a equalização. Depois disso, dou um novo passeio pela sala, para confirmar que o equipamento atende da melhor forma possível a todo o ambiente”, esmiúça. Com o PA alinhado, Vicente Hales tem a sua trilha sonora certa para conferir como ficou o equipamento depois desse alinhamento. “Boto para tocar o CD The Best of Sting 1984-94, com músicas como If You Love Somebody Set Them Free, Fields of Gold e Englishman in New York”, destaca. A passagem de som é outra etapa fundamental, na visão de Vicente Hales. Ele diz que, primeiro, faz um check line com a empresa. Em seguida, faz uma passagem com os roadies e, por fim, outra passagem com os músicos. E, dependendo do lugar, ainda tem um ensaio com o artista. Tudo para que o som

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ao show ao vivo”, aponta. Em suas andanças por shows Brasil afora, Cláudio Coutinho conta uma história que ilustra bem um dos aspectos mais importantes para o sucesso de um show: a afinidade entre o técnico e o artista. “Antes de começar a trabalhar com a Isabella Taviani, convidei-a a assistir um show do Adelmo Case, que eu estava operando, no Canecão, no Rio. Ao final do show, que foi bastante elogiado, ela me disse que não poderíamos trabalhar juntos. ‘Por quê?!’, eu perguntei. E ela respondeu: ‘Você é muito calmo, eu sou muito agitada, isso não vai dar certo’. Logicamente, era uma brincadeira, e nós ficamos muito tempo juntos”, diverte-se. Vicente Hales também conta uma história boa, sobre os percalços por que passam os técnicos na estrada. “Certa vez, assim que comecei a fazer PA, fui fazer uma apresentação em uma casa de shows em Belo Horizonte que tinha uma fama de ser muito ruim acusticamente, com muita reflexão, vidros... Ainda tinha uma arquibancada enorme na lateral. Era muito difícil de tirar um som bom naquele lugar. Ainda por cima, o console ficava lá no fundo. O show estava lotado e o jeito foi fazer lá de trás, onde o som não tinha nada a ver com o som do meio da casa. Então, pedi ao técnico de monitor que ficasse na mesa, no meu lugar, e fui para o meio da sala fazer a mix através de gestos, na hora da passagem. Evitei usar muito sub, para não ficar aquela coisa muito embolada, trabalhei com muita cobertura no local (delay, front, lateral etc.) e valorizei bastante a voz do cantor, com certa clareza nas altas, rezando para dar certo. No dia seguinte, a crítica no jornal dizia: ‘Até que em fim espantaram os fantasmas da casa. Dava para ouvir perfeitamente tudo o que o cantor falava’”, orgulha-se.

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fique perfeito na hora do show. Se Vicente Hales conta com o pop sofisticado de Sting para checar o PA antes e depois de alinhado, Cláudio Coutinho lança mão do jazz fusion da banda americana Steely Dan, preferencialmente o álbum Gaucho. Já no que diz respeito à passagem de som, para Coutinho, cada turnê tem sua particularidade. Ele lembra que, com certos artistas, é difícil fazer uma passagem de som e, em casos como esses, o soundcheck virtual é uma “mão na roda”. “Eu prefiro, sempre que possível, passar com a banda e com o artista junto. A música não é um processo mecânico. Está sujeita a várias interferências, sejam do ambiente, físicas e até psicológicas,

Nossos roadies são ótimos, o sistema virtual é muito bom, mas existem diferenças de pegada, de técnica, e um show nunca é igual ao outro (Claudio) Nossos roadies são ótimos, o sistema virtual é muito bom, mas existem diferenças de pegada, de técnica, e um show nunca é igual ao outro. A melhor maneira de se fazer bem é ter todos os envolvidos no show passando o som”, assegura. Peculiaridades técnicas à parte, Cláudio Coutinho acha fundamental o técnico prosseguir buscando sua marca pessoal em cada trabalho. Ele acredita que um bom ouvido sempre vai distinguir o trabalho de um bom profissional de áudio. “Você sempre sabe quando escuta os grandes operadores trabalhando. Vavá Furquim, Paulo Farah, Vanius Marques... São apenas três exemplos. Os três são geniais e têm sons bem diferentes. Como já disse, eu persigo o som do disco. A referência que o público tem do trabalho é o que está registrado, é isto que ele espera quando assiste


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O SALTO DO INDEPENDENTE Mombojó chama a galera

Grupo lança CD 11º aniversário e leva amigos do Recife para o estúdio Ricardo Schott redacao@backstage.com.br Foto: Olivia Leite / Divulgação

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uas semanas de gravação, em esquema quase ao vivo, no badalado estúdio Trama, em São Paulo - lugar já acostumado com sessões boas e rápidas, geralmente transmitidas direto por web tv. O grupo pernambucano Mombojó comemorou seus onze anos de trabalho com um disco ágil e repleto de lembranças de toda a carreira da banda. O CD 11º aniversário, na verdade, saiu com certo

atraso - o grupo soprou as onze velinhas em 2011 e só pôs o álbum nas lojas no fim do ano passado, assim que deixou momentaneamente a independência e conseguiu pouso na Som Livre. Felipe S (vocal, guitarra), Marcelo Machado (guitarra e vocal), Samuel (baixo), Chiquinho Moreira (teclados) e Vicente Machado (bateria) passaram um bom tempo pertencendo ao elenco da grava-


Esse disco foi fundamental para a gente ter noção de que já temos uma boa bagagem pra administrar todas as partes do processo de gravação

dora Trama - atualmente sua parceira - e experimentaram lançar o álbum Amigo do tempo por conta própria em 2010, com direito a download gratuito em seu site. "Esse disco foi fundamental para a gente ter noção de que já temos uma boa bagagem pra administrar todas as partes do processo de gravação dos nossos discos. Aprendemos muito, desde as gravações até lances mais burocráticos de finalização etc.", recorda Chiquinho Moreira. "Por outro lado, acreditamos que a parada pode ir mais longe quando nos associamos a uma gravadora como a

- ninguém da banda anfitriã participa. "Como a proposta do disco não é tão original, nós ficamos pensando em como poderíamos fugir um pouco da estética de coletânea. Foi aí que surgiu a ideia mirabolante de convidar a Nação pra gravar uma música nossa", diz o guitarrista Marcelo Machado. Nesses doze anos, o grupo teve duas perdas significativas. Responsável por boa parte da personalidade do Mombojó, o flautista e trombonista O Rafa morreu em 2007. "Perdemos um grande amigo que tinha a nossa idade e convivia intensamente com a gente", diz Chiquinho. A banda sequer resolveu colocar outro músico em seu lugar. Recentemente, o compositor e multi-instrumentista Marcelo Campello também deixou a formação - e apesar do caráter antológico do novo disco, todos optaram por não chamá-lo para participar de alguma música (como os Titãs fizeram com o exvocalista Arnaldo Antunes em seu Acústico, de 1997). "Nos damos bem, mas nossos caminhos musicais estão muito distantes". Hoje vivendo em São Paulo, o grupo divide seu tempo entre o próprio Mombojó e o projeto Del Rey, que faz releituras de Roberto Carlos. "O Del Rey ajuda muito a pagar as contas, claro. E nos dá mais tranquilidade pra continuar nossos investimentos com o Mombojó, que tem uma carreira que vai se fortalecendo cada vez mais. É assim que funciona quando se pensa na longevidade do nosso trabalho. O Del Rey também nos deu muito mais liberdade no palco, nos deixou mais à vontade em relação ao espetáculo que é fazer um show", diz Marcelo.

Som Livre. Significa ter mais gente pensando junto para obter um bom resultado final”. O repertório inclui apenas uma inédita, Procure saber, misturada a canções de todos os álbuns, como Vazio e momento, Amigo do tempo, Deixe-se acreditar e Faaca. E traz amigos do Recife como Cannibal (Devotos) nos vocais berrados de Realismo convincente, China em Estático e o pianista Vitor Araújo no arranjo quase erudito da abertura de Baú. Uma novidade é o fato de que a Nação Zumbi faz uma releitura de Justamente, do Mombojó, e ganha a faixa só para si

Para saber online http://www.mombojo.com.br/

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RIO DAS OSTRAS JAZZ & BLUES FESTIVAL | CAPA | www.backstage.com.br 36

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O evento chega à sua 11ª edição consolidado e com mais prestígio do que nunca. Aclamado pelas mídias especializadas como um dos maiores festivais de jazz e blues do planeta, o Rio das Ostras Jazz e Blues Festival tem agora como desafio se reinventar a cada ano sem perder a qualidade tanto musical quanto estrutural de hoje. Neste ano, a previsão era de que a cidade receberia uma injeção de cerca de R$ 12 milhões na economia local e público de 30 mil pessoas por dia. Danielli Marinho redacao@backstage.com.br Fotos: Ernani Matos / Divulgação

Durante cinco dias, a pequena cidade do norte fluminense (RJ) se transforma em capital mundial do jazz e recebe turistas que lotam pousadas e hotéis e aquecem a eco-

nomia da cidade. A fama, que já atravessou o continente, chegando à Europa, rende frutos. Só esse ano, mais de dez municípios brasileiros realizam festivais de jazz.


SONORIZAÇÃO Para dar conta da grandiosidade do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival, é necessário montar toda uma estrutura de som, luz, palco, áreas de alimentação, imprensa e camarins no palco principal e nos outros três palcos (Lagoa de Iriry, Praia da Tartaruga e Praça São Pedro). Do áudio ao piso do evento, o Rio das Ostras Jazz & Blues Festival

deste ano teve mudanças. Quem foi ao primeiro festival, há 11 anos, poderia até mesmo dizer que não era a mesma Costazul. Uma das maiores mudanças ficou por conta do piso do local, que ganhou uma cobertura especial emborrachada, oferecendo mais conforto ao público, inclusive permitindo o acesso aos portadores de necessidades especiais. Um investimento de R$ 150 mil, segundo valor divulgado

pelo prefeito Alcebíades Sabino, idealizador do festival. “Sempre entendemos que o festival, pelo seu conteúdo musical e cultural, tratia uma grande contribuição ao desenvolvimento economico da cidade”, disse, acrescentando que só na Cidade do Jazz, em Costazul, foram gerados cerca de 500 empregos diretos. Para sonorizar os palcos de Costazul, Lagoa de Iriry e Praia da Tartaruga foi escolhido o sistema da FZ Áudio.

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RIO DAS OSTRAS JAZZ & BLUES FESTIVAL | CAPA | www.backstage.com.br 38 Torre de delay com caixas da FZ Audio

Embora tenha sido o mesmo usado ano passado no palco principal, o sistema nesta edição recebeu mais caixas de subs e de médios graves, como explicou o técnico de som responsável pelo festival Jerubal Liasch. “Estou trabalhando este ano com sub auxiliar, que é o meu gosto de trabalhar. Acontece que como estou trabalhando em auxiliar, o sub está mono. E como ele não tem L&R, está centralizado. Nunca tinha pedido aqui porque alguns técnicos que trabalham não gostam disso. Como esse ano vieram menos técnicos de fora, eu preferi deixar no auxiliar”, destaca. Outra novidade foram as torres de delay, que esse ano foram com os modelos J08, da FZ Áudio. “Ano passado tínhamos uma torre mono atrás da house mix. Agora eu tenho um L&R de delay e o exponencial dessa caixa pode varrer todo o local”, completa Jerubal, que planeja fazer um sub com grave na próxima edição do festival. “Para o ano que vem, estou pensando em fazer um delay com sub, porque se potencializar muito o sub na frente, ele não vai alcançar lá atrás, e queria trabalhar com o sub um pouco mais baixo na frente para poder trabalhar com outro sub lá


Jerubal Liasch (à esq.) e Stenio Mattos

Digidesign foi usada nos palcos Tartaruga e Costazul. Acima, SC 48, no palco Tartaruga

Augusto Santos - fez o monitor em Iriry

Claudio Marchi operou o PA em Iriry

atrás”, calcula. Para Hélio Junior, da HGA, empresa contratada pela PRO-3 (atual vencedora da licitação para fazer o som e a iluminação do evento) e que fez o som e a iluminação dos palcos Costazul e Tartaruga, a estreia do multicabo digital no palco principal foi outra novidade. “Já tinha usado em outros eventos, mas no Jazz é a primeira vez”, afirma. Uma das grandes vantagens, segundo Junior, é a possibilidade de eliminar o multicabo analógico. “O som vem bem mais limpo, vem um som digital, que é mais rápido, preciso, então tem essa diferença. Por ser o PA semi-digital, então eu mando sinais para o palco e do palco distribuo para o sistema. Ele é controlado pelo computador e você faz todo o patch pelo multicabo e não pela mesa”, enfatiza. Além do sistema de PA – foram

usados os modelos 218 para o sub, 212 para médio grave e J08 para as altas – para Costazul e Tartaruga, a HGA, que tem a experiência de sonorizar o evento até ano passado, também forneceu os equipamentos de iluminação para esses palcos. De acordo com Renan Lopes, técnico de iluminação da HGA, foram usados, mesa Avolites Pearl 2010, Giottos 400 wash, Beam 300, Neo 700, além de um rack dimmer da HPL, attom, Strobo e elipsoidais. No palco Tartaruga também foi usada uma Pérola, Avolites, movings e Par LED. Para o PA, as consoles foram os modelos da Digidesign SC 48, no Costazul; e Mix Rack, no Tartaruga.

Renan Lopes, técnico de iluminação no Costazul

Marcio Pinho, Gustavo, David Deniz, Marcio Amaro e Marquinho

BACKLINE Big Joe Manfra, um dos responsáveis pela organização do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival, falou que esse ano as maiores exigências

Big Joe Manfra

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contabiliza Manfra. Outra curiosidade ficou por conta dos equipamentos colocados para atender diversas situações, com os dois sets de baixo GK e Hartke, além de três Twins e um Fender Base, e um equipamento de pelo menos 88 teclas que poderia ser usado em qualquer lugar. Para Manfra, Scott Henderson foi, de longe, o mais exigente em termos de amplificadores de todos os tempos do festival. “Ele coloca no contrato dele: ‘sem amp, sem show. Sem o gabinete que eu quero, sem show’. Ele pede Marshalls, JCM 2000, que até é uma coisa comum, mas ele pede em perfeito estado de funcionamento e revisado por um técnico. En-

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ficaram por conta dos baixistas. Stanley Clarke, por exemplo, mudou o setup três vezes, além de ter pedido equipamentos bastante diferentes. O músico incluiu no rider dois SVTs, Ampeg 54 Pro, duas caixas de 10” e uma de 15”, um Fender Twin Reverb, além de uma pedaleira. “E tivemos um show que foi o mais diferente aqui, que eram quatro baixistas ao mesmo tempo. Um pediu um Aguilar, o outro pediu Hartke, o outro pediu qualquer um dos três e outro pediu um Warwick”, enumera Manfra. A produção também teve que trabalhar com baterias bem específicas. A Mei Pack, por exemplo, mandou bateria para Will Calhoun, Mike Mitchell, que toca com Stanley Clark, e Deric Watson, um dos músicos do Victor Hoten. “Trabalhamos muito com Twin Reverb, mas o Vernon Reid pede sempre alguma coisa muito específica, que são os mesa boogies, três na verdade. Tivemos um Hammond só para um show, do Lucky Peterson, uma variedade razoável de teclados, mas nada como no ano passado,

E tivemos um show que foi o mais diferente aqui, que eram quatro baixistas ao mesmo tempo. (Big Joe Manfra) que foi muita coisa. Então, foi um caminhão de treze metros da Só Palco totalmente lotado de equipamentos”,


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Acho que Rio das Ostras está sendo pioneira nesses 12 anos em dar exemplo de que pode haver evento sustentável. (Stenio Mattos)

tão a gente tem que recomendar à Só Palco o melhor técnico de amps que é o Roberto Lage para ele revisar os amps dele antes de vir. E o gabinete também. Ele quer o gabinete mono, de 16 ohms, da Marshall, de forma que não pode ter sido trocado o alto falante, que também é checado por um técnico. Então, além dos dois que ele

pede, ainda pede outro de backup para não ter problema. Esse foi o pedido mais especial”, informa o produtor.

PRODUÇÃO Com um aumento de cerca de 40% de público em relação ao ano passado, o Festival de Jazz & Blues de Rio das Ostras definitivamente já faz parte da


Mais caixas de subs nesta edição, em Costazul

Harmmond usado por Lucky Peterson

Iluminação ganhou mais equipamentos

agenda cultural mundial. Reconhecido internacionalmente, músicos e artistas já não precisam que a produção apresente tantas credenciais para fechar contratos. “Quando fazemos contato, num primeiro momento, com os artistas, passamos todo o material do festival, fotos de palcos, todo o rider que temos e eles se preocupam em saber se nós vamos atender as exigências de-

les com relação ao som, por exemplo. Mas a maioria já sabe, porque já conhece o evento por outros músicos”, reforça o produtor Stenio Mattos, da Azul Produções, empresa responsável pelo festival. O line up, que é fechado com meses de antecedência, incluiu nomes como Lucky Peterson, John Primer, Arthur Maia, Christian Scott, Leo Gandelman, Diego

Figueiredo, Stanley Clarke, Vernon Reid, entre outros, na edição de 2013. De acordo com Stenio, o sucesso do festival vem encorajando outras cidades de outros estados a realizarem eventos nos moldes de Rio das Ostras. “Acho que Rio das Ostras está sendo pioneira nesses 12 anos em dar exemplo de que pode haver evento sustentável, que

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não seja apenas para fazer um show, que possa trazer efetivamente retorno para a cidade, tanto social como econômico e cultural”, comenta. O legado deixado para a cidade ao fim de cada evento vai desde o incremento da economia durante os dias de evento até a consolidação de projetos sociais, com oficinas de música e luthieria e formação de músicos. Para os próximos anos, o desafio é continuar man-

tendo o nível das apresentações e criar um espaço com mais conforto para o público que cresce a cada ano. No entanto, mudar o local do palco principal ainda está fora dos planos. “Existe um espaço que é bem maior na cidade, mas é meio afastado, aí tira um pouco o charme do festival. Então já estamos trabalhando nisso de como ganhar mais espaço ali mesmo em Costazul para ter mais gente”, completa Stenio.

Lista de equipamentos

Acho que Rio das Ostras está sendo pioneira nesses 12 anos em dar exemplo de que pode haver evento sustentável, que não seja apenas para fazer um show, que possa trazer efetivamente retorno para a cidade, tanto social como econômico e cultural (Stenio)

Palco Costa Azul (PA) 32 Altas J08a FZ Audio 12 Grave 212a FZ Audio 24 Sub 218a FZ Audio 04 Altas J08a Front Fill FZ Audio 08 Altas J08a Torre de Delay FZ Audio Side Fill 04 Altas Jo8a FZ Audio 02 Grave 212A FZ Audio 04 Sub 218A FZ Audio Console PA 01 Venue Profile Digidesign Console monitor 01 Venue Profile Digidesign Monitores 08 FZ 212A 08 SR300 IEM Sennheiser Microfones 02 Kit mic para baterias Sennheiser 02 Microfones sem fio Shure 02 C2000 AKG 04 C1000 AKG 04 AKG411 AKG 02 C3000 AKG 15 SM 58 Shure 15 SM 57 Shure Backline 01 HS5000 Hartke 01 LH1000Hartke 02 Fender Twin Reverb 03 Fender Twin Ampl 01 Bateria Catalina Maple Gretsch Palco Tartaruga (PA) 22 J08 FZ Audio 08 Sub 218 FZ Audio Potencia PA 02 Fp4300 Lab Gruppen 04 FP6400 Lab Gruppen Console PA 01 SC 48 Venue Console Monitor

01 Mix Rack 48 Rack de potência 02 FP 6000 Lab Gruppen Monitores 08 FZ 102 FZ Audio Microfones 01 Kit Mic Para Baterias Sennheiser 20 Mic Sennheiser Shure Backline 01 Gk 800 02 Fender The Twi 01 Bateria Stege Custon Yamaha Iluminação Costa Azul 12 Giotto Spot 400 12 Beam 300 12 Elipsoidal 10 Mini Bruts 30 Lampadas Par64 #5 30 Par Led 3w Rgbw 02 Fog Pro 2000 10 Strobo Atomic 3000 01 Mesa Avolites Perola 2010 Iluminação Tartaruga 24 Lâmpadas Par 64 Luz: 30 Par64 #5 24 Par Led 3w Rgbw 10 Minibrut 12 Elipsoidal ETC 64 Loco Light 02 Fog Com Ventilador 48 Canais Dimmer HPL 01 Console Pearl 2010 Avolites 02 Canhões DTS1500w 08 Pontos Intercom 12 Giotto Spot 400 12 Beam 300 10 Strobo Atomic 3000 01 Grid 10x8 01 Main Power 500a Cabos Para Todo Sistema


O futuro hoje

Um evento da magnitude do Rio das Ostras Jazz & Blues volta e meia se encontra diante de dilemas de solução de continuidade. Como crescer e melhorar o todo sem comprometer sua essência? Questões como essa parecem fazer parte da cabeça do mega produtor Stenio Mattos e das autoridades municipais da antiga vila de pescadores, hoje uma bela e próspera cidade do litoral norte do estado do Rio de Janeiro. O crescimento e a vitalidade mostrados em 2013 corrompem, no entanto, essa dicotomia e mostram que a criatividade, tal como a natureza, encontra sempre seus caminhos e soluções. Com o mundo a seus pés, o festival transcendeu o estigma de novidade e se consolidou como referência no mundo. A imprensa especializada mundo a fora o qualifica como o maior e melhor da América Latina e um dos cinco maiores do planeta. Então porque crescer? No entanto, tal como um dínamo, a força dessa celebração não pode mais ser contida. Nem mesmo por seus criadores. O Rio das Ostras Jazz & Blues ficou maior que seus próprios mentores, têm vida própria e um público único. Afinal como explicar uma plateia média de 20.000 espectadores por dia? E sem nenhum incidente ou fato relevante que mereça sequer um registro policial. Girar 12 milhões de reais na economia irrigando um sistema que ressona o ano inteiro em turismo e divulgação da imagem incrivelmente passou a ser apenas mais um subproduto de uma lógica que subverte qualquer conceito de gestão e transforma em emoção pura o espírito de uma cidade que encontrou um destino único e invejável. Crescendo sob o alicerce dessa emoção, a cidade não trata o festival como um evento e sim como parte do seu cotidiano de 365 dias. Cada morador daquela cidade é parte dessa celebração e ostenta no seu sorriso e no fundo do peito o orgulho de sentir que faz parte de algo que transcende a própria música. Para a pequena e paradisíaca cidade de Rio das Ostras o futuro já é hoje. ( por Gustavo Victorino)

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Repor tagem e Fotos: Danielli Marinho redacao@backstage.com.br

A segunda edição do Festival Jazz & Bossa transformou a pacata cidade de Santa Teresa, no Espírito Santo, em capital do Jazz, com músicos brasileiros e internacionais durante três dias do mês de maio. O bluseiro John Primer e a Orquestra Synthesis, da Filadélfia, foram algumas das atrações que subiram ao palco e encantaram um público diário de mais de 6 mil pessoas.

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nir boa música, gastronomia e arte em um mesmo local. A fórmula básica que parece permear a maioria dos festivais de jazz, fez sucesso também em Santa Teresa, cidade serrana a uma hora e meia da capital capixaba, Vitória. Cerca de 6 mil pessoas, por dia, passaram pelo Centro de Eventos da cidade

em busca de boa comida e repertório musical de alto nível. A qualidade musical foi garantida não só pelo seleto grupo de músicos que se apresentaram durante os dias 24, 25 e 26 de maio, mas também pelo empenho da equipe técnica de som, que teve que criar algumas soluções para sonorizar o


local do evento: uma quadra com chão de concreto e teto de zinco. Um dos problemas era a alta reverberação, como apontou o técnico de som responsável pelo PA, Jerubal Liacsh. “O sistema em si é bem dimensionado, está tudo certinho, eu teria problema com qualquer outro sistema aqui, porque o problema é o local e não o sistema”, analisa. Leonardo Luppi, técnico de monitor da Maff Sonorização, empresa locadora que atendeu o evento, também precisou redobrar a atenção na hora de mixar a Orquestra Synthesis, por exemplo. “O segredo é, como é orquestra, não usar muito o monitor. Deixar o mais acústico possível dentro do palco, por causa da acústica do local já que temos o teto de zinco atrapalhando e reverberando bas-

tante no palco. Então tentamos deixar o palco o mais limpo possível”, argumenta. O sistema usado no Festival de Jazz & Bossa foi um line array modelo VSH 210, da Vitória Som de Holambra. De acordo com José Mariano, proprietário da empresa, o sistema foi lançado no mercado há pouco tempo, e foi a segunda vez que a Maff utilizou no festival de jazz de Santa Teresa. “É um sistema da Vitória Som de Holambra lançado agora, tem pouco tempo no mercado, mas está aí batendo de frente com os sistemas nacionais e não tem nada a perder, não”, compara, acrescentando que este é o quinto evento que a companhia faz no estado do Espírito Santo. Especificamente no festival de Santa Teresa, Leonardo Luppi conta que, fora a atenção com a acústi-

ca, a equipe teve que se concentrar em atender os riders das várias bandas, algumas de fora. “Nós estamos trabalhando com o VSH 210 e no palco com um sistema KF, com 10 monitores EAW 400, mais o sub de bateria SB 450. Já a microfonação consiste em equipamento de marcas como Shure, AKG, e Seinnheiser, para atender os riders. Aqui no monitor temos que atender o pessoal que vai da bossa ao blues e ao rock”, completa Luppi, acrescentando ainda que no monitor, a opção foi por uma Yamaha M7CL. No PA, a equipe de sonorização escolheu uma Digidesign Mix Rack, que, segundo Jerubal, ajuda muito em situações complicadas como o problema da reverberação no local. “Vários inserts dela nos ajudam, porque é aquela gama de

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Equipe de sonorização, da esquerda para direita: Ronald, Mariano, Jerubal, Aderico Junior e Daniel

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PRODUÇÃO E PARCERIAS Inspirado no festival de jazz e blues de Rio das Ostras (RJ), o de Santa Teresa acontece uma semana antes do evento fluminense e antecipa algumas atrações no line up, como a participação de John Primer, Orquestra Synthesis e a dupla Leo Gandelman e Charles Hunter. “Fiz um contato com o Stenio Mattos, que faz o Rio das Ostras, falei do meu projeto e disse que queria tentar trazer algumas atrações e talvez pudesse aproveitar quem estava vindo para o Rio das Ostras Jazz & Blues, e assim fizemos, tanto é que faço uma semana antes de Rio das Ostras”, explica o produtor do festival José Olavo Medici, da Rota Eventos. No entanto, o objetivo não era produzir mais um festival de música. A concepção do projeto teria que envolver outros elementos como gastronomia, artesanato e agroturismo. José Olavo explica que a ideia é que a música nesse caso sirva apenas como atrativo e como forma de atrair um público específico, que esteja interessado também em culinária,

inserts, então você já tem cada coisa separada para não mexer no geral e isso ajuda muito nessa situação”, avalia. Outro cuidado, segundo Jerubal, foi o de tentar atender a diversas bandas no festival . “A compreensão dos artistas é muito importante nessa situação de festival. Os pedidos dos artistas são o de querer manter aquela originalidade de

Tivemos a sorte de encontrar um local com as características que a gente precisava para fazer o evento, numa área coberta para os shows (José Olavo) como eles tocam, ou seja, layout de palco, mapa de palco, e algumas vezes não podemos também disponibilizar isso, porque complicaria as trocas de palco. Mas quando se tratava de pedidos específicos, deixaram ao meu critério e confiaram no meu bom senso. Assim, todos foram muito bacanas, não teve nada absurdo e nenhuma frescura”, observa.


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Sistema VSH 210 foi o escolhido para o festival

Digidesign Mix Rack no PA

Leonardo Luppi, responsável pelo monitor

ecoturismo e arte, por exemplo. “O estado do Espírito Santo é uma região que tem um potencial fantástico para turismo e queríamos fazer um projeto que fosse um instrumento que ajudasse no desenvolvimento sustentável dessa região, induzindo o turismo de qualidade”, sintetiza. Definido o estilo musical e definindo o público-alvo, o próximo passo foi montar a infraestrutura. A grande preocupação era encontrar um local que não interferisse tanto na rotina da cidade e que permitisse ao mesmo tempo abrigar o público com conforto. “Tivemos a sorte de encontrar um local com as características que a gente precisava para fazer o evento, numa área coberta para os shows. Muita gente pergunta se não poderia fazer na cidade, mas acho que a cidade tem que estar intacta, para receber o turista. Se colocarmos um palco dentro da cidade, ainda mais em uma cidade pequena, sem a estrutura necessária, ia trazer um transtorno muito grande, então trouxemos um pedacinho da cidade para cá”, justificou José Olavo. Segundo Stenio Mattos, curador do festival, a infraestrutura desta edição evoluiu com relação ao ano passado. “Ano passado, eu vim pra cá e fiz a programação do festival, e o que me surpreendeu na primeira edição foi porque já tinha uma estrutura que eu demorei a adquirir em Rio das Ostras. Só fui conseguir uma estrutura igual a dele lá pelo quarto ano. O festival foi um su-

cesso e ali firmamos que eu seria o curador enquanto durasse o festival. Esse ano, programamos melhor, a estrutura dele melhorou mais ainda, e a programação é feita também de acordo com os músicos que trago para o Rio das Ostra”, explica. Além dos shows de graça, o público também pode curtir boa gastronomia e um dos dez restaurantes que se instalaram no parque de eventos da cidade. Para garantir um atendimento de excelência, além de contar com o apoio da prefeitura de Santa Teresa, foi firmada uma parceria com o Senac, que promoveu o treinamento dos garçons que trabalha-

riam durante o evento. “Fizemos uma parceria com o Senac, que proporcionou o curso de garçons para todos eles, fizemos dois dias de aula de vinho para o garçom saber oferecer um bom vinho, então preparamos o pessoal”, evidencia. “A única coisa que tenho de informação (mas não tenho os valores) é que a maior festa deles aqui é a festa do Imigrante, em que eles colocam num final de semana, 60 mil pessoas. No ano passado, estimamos que colocamos de 10 a 12 mil pessoas na primeira edição. Essas 10 mil pessoas deixaram na cidade o que as 60 mil pessoas deixam na festa do Imigrante”, completou o produtor.

Lista de equipamentos PA 12 elementos line array VSH 210 (Vitória Som de Holambra) 12 Subs SB 850 EAW Sistema de amplificação Machine linha PSL

Roland Jazz chorus 120 Fender Twin Reverb Fender Deluxe Amplificadores para contra-baixo: Hartke System Gallien Krueguer

Processamento DBX Console Digidesign Profile

Bateria Yamaha Stage Custom Pearl Export Gretch Catalina Maple

Monitor 4 KF 750 EAW para side fill 4 SB 850 EAW para side fill 10 monitores SM400 EAW Sistema de amplificação Machine linha PSL Console M7 CL Yamaha Backline Amplificadores para guitarra:

Microfonação Shure: SM 58, 58 Beta, SM 57, 57 Beta, SM 81, Beta 98B/S, SM 91, Beta 52 Sennheiser: MD 421, E609, E604,Sistema Wireless EW 300 Cápsulas E845 AKG:C1000, C519, D112


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da Pro Studio americana com formação em ‘full mastering’

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Luciano Freitas é técnico de áudio

No início de 2010, quando Steve Jobs apresentou ao mundo a primeira geração do tablet iPad sob o olhar cético de alguns propensos consumidores, certamente não imaginava que esta prancheta eletrônica viria a se tornar o “queridinho” dos entusiastas e dos profissionais do mercado musical.

TABLET E AUDIO: ÁUDIO:

OS PRIMEIROS PASSOS DE

UM CAMINHO SEM VOLTA O

equipamento apontou o caminho e a indústria do áudio o seguiu. Hoje, boa parte dos atuais consoles de mixagem digital oferece um aplicativo (um editor) para iPad que permite ao usuário controlá-lo de qualquer ponto da sala sonorizada por meio de uma rede de comunicação sem fios, possibilitando maior rapidez e precisão nos ajustes do sistema. São exemplos desses aplicativos o App Studio Live Remote da Presonus (controla os consoles Studio Live), o XiControl da Behringer (para o console X32) e o ViSi Remote da Soundcraft (para consoles das linhas Si Compact, Si Performer e Si Expression). Nos estúdios, o iPad também mostra sua

utilidade em dois segmentos principais: executando Apps que o transformam em “controle remoto” sem fios de uma DAW (Digital Audio Workstation), de forma análoga ao que ocorre nas sonorizações “ao vivo”, guardadas as suas particularidades, e como hospedeiro de softwares de gravação de áudio multipistas que passam a ser desenvolvidos exclusivamente para essas plataformas. Como controlador, substituindo equipamentos físicos que custam dezenas de vezes mais, o iPad e seus Apps possibilitam ter nas salas de captação total acesso às principais funções do software de áudio principal. Podemos tomar como exemplos desse tipo de aplicativo o Cubase IC Pro (da Steinberg),


o V-Control Pro (da Neyrink) e o DAW Remote HD (da EUM Lab), todos com versões também para iPhone. Já no que se refere a DAW´s para iPad, valendo-se do protocolo Audiobus (permite a conexão virtual de diversos Apps no mesmo iOS), começam a despontar no mercado opções bem interessantes capazes de suprir as necessidades de muitos proprietários de home studios, bem como auxiliar na captação de áudio em eventos externos. Conheçamos então algumas opções de programas de gravação de áudio multipistas que o mercado nos oferece atualmente:

AURIA (WAVE MACHINE LABS)

delays, além de ferramentas dedicadas para masterização (PSP Master Strip) e drum replacement (Drumagog), podendo ainda adquirir na Apple Store plug-ins de outros fabricantes (atualmente da PSP Audioware, Overloud e Fabfilter) compatíveis com o programa. O Auria gera arquivos nos formatos proprietário, WAV, MP3 e sessões AAF que podem ser compartilhadas com os programas Pro Tools, Logic, Nuendo e Digital Performer, podendo ainda entregar arquivos diretamente no iTunes, Soundcloud e no Dropbox. A Wave Machine também oferece uma versão light do programa (Auria Le), a qual, entre suas principais limitações, proporciona uma quantidade de canais reduzida (24 para reprodução e 8 para gravação simultânea) e a amostragem fixa em 44.1 kHz/24 Bits.

CUBASIS (STEINBERG)

Mesmo tendo sido lançado no início de 2012, o Auria se mantém como o mais poderoso software de gravação de áudio multipistas disponível atualmente no mercado para iOS. Capaz de reproduzir 48 pistas (mono/ estéreo) de áudio simultaneamente e gravar até 24 canais simultâneos (96 kHz/24 Bits, dependendo da interface de áudio utilizada), o programa oferece um conjunto completo de ferramentas de edição e processamento de sinal similares às presentes nas principais DAW’s de estúdio da atualidade. Seu processamento interno em 64 Bits (double precision) proporciona ampla margem de headroom em seus plug-ins e no summing mixer, prevenindo o sistema de distorções indesejadas. Cada uma das suas pistas de áudio traz uma instância do plug-in PSP Channel Strip, com equalizador de quatro bandas semi-paramétricas, filtros HPF e LPF e controladores de dinâmica (compressor e expander), quatro pontos de insert para plug-ins e duas mandadas para canais auxiliares. O software ainda conta com oito subgrupos, cada qual com quatro pontos de inserção de efeitos. Entre os plug-ins de efeitos nativos, o usuário encontrará processadores de reverb (digital e por convolução), chorus,

Versão simplificada do popular software Cubase desenvolvida para plataforma iOS que tem como objetivo oferecer, de maneira rápida e intuitiva, acesso às ferramentas de gravação, edição e mixagem que consagraram os produtos da Steinberg no mercado do áudio profissional. Proporcionando uma quantidade ilimitada de pistas de áudio (44.1 kHz/16 Bits) e pistas de conteúdo MIDI, o Cubasis vem equipado com mais de 70 timbres de instrumentos derivados do soft-synth HALion Sonic (polifonia de até 64 notas, dependendo do processador do iPad utilizado) e com 300 arquivos de loops (áudio e midi) que podem ser acessados em tempo real pelo seu teclado ou pelos seus pads virtuais. Em seu bloco de efeitos, o Cubasis possui uma coleção de processadores de sinal com doze diferentes algoritmos, entre eles equalizadores (paramétrico de quatro bandas, com curvas fixas e variáveis), compressores, reverbs, delays e simuladores de amplificador. Cada canal de áudio oferece

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três pontos de inserção de efeitos e mandadas para três barramentos (Send FX) que permitem o acesso aos efeitos globais. Todos os projetos criados no Cubasis (arquivos com extensão CBP) podem ser acessados no Cubase, esteja ele instalado em plataforma Windows ou Mac OS X, sendo que o programa também é compatível com arquivos de áudio no formato FLAC (Free Lossless Audio Codec), os quais ocupam 60% menos espaço em disco quando comparados com arquivos similares no padrão WAV sem que haja perda de qualidade sonora perceptível.

FL STUDIO MOBILE HD (IMAGE LINE) Entre as três sugestões aqui apresentadas, este é certamente o software mais indicado para quem quer trabalhar predominantemente com conteúdo MIDI. Traz uma coleção com mais de 130 diferentes timbres de instrumentos, os quais abrangem praticamente todos os estilos musicais, do rock ao jazz, do eletrônico ao clássico (possui também expansões de timbres em formato App). O

acesso a esses timbres pode se dar por meio de um teclado virtual (com o tamanho das teclas redimensionáveis), de um conjunto de pads virtuais, do seu Step Sequencer (até 99 pistas simultâneas) ou de um controlador externo (Line 6 Mobile Keys, Akai SynthStation 49 entre outros similares). Já quanto ao conteúdo de áudio, o FL Mobile HD aceita (importa) arquivos nos formatos WAV, MP3 e AAC, podendo ainda capturar até oito canais simultaneamente. Para edição do material gravado, encontra-se disponível no software um clássico Piano Roll, o Track Editor, um editor que permite, além de ajustes de volume e panorâmico, acessar o módulo processador de efeitos (Limiter, Reverb, Delay, Eq e Amp Simulator) e o Wave Editor, com as ferramentas básicas para a edição das waveforms (cut, trim, reverse, normalize, fade in/out). Seus projetos (formato FLM) podem ser carregados diretamente no software FL Studio (versão do software para PC), além de gerarem arquivos de saída nos formatos WAV (44.1 kHz/16 Bits) e MP3 (para rápido armazenamento “em nuvem”). O fabricante ainda oferece versões do software compatíveis com os smartphones da Apple (iPhone 4 ou superior – opera com algumas limitações) e com tablets que operam com sistema operacional Android (2.3 ou mais atual).

Para saber mais luciuspro@ig.com.br


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CUBASE7

MIXANDO NO CUBASE 7

O MIXER PARTE 2

Marcello Dalla é engenheiro, produtor musical e instrutor

Olá, amigos. Continuando o assunto da última edição, vamos seguir com os recursos do mixer do Cubase 7. Neste tutorial, exemplos e sugestões de formas de uso das funções.

U

ma das características mais interessantes do novo mixer é sua customização. Podemos configurar diferentes visualizações e acessá-las rapidamente. Isto proporciona agilidade no fluxo de trabalho, sobretudo em mixagens mais complexas de muitos canais com plug-ins nos inserts, efeitos a rodo nos sends, channel strips à vontade, canais de grupo, instrument tracks, MIDI etc., etc. As possibilidades são muitas. Vamos fazer um tutorial exemplificando e sugerindo formas de uso das funções, mas com a prática vocês irão notar que cada um pode configurar seu jeito de trabalhar com o mixer. Menu Save/Delete Configuration – Vamos continuar usando nosso exemplo do artigo anterior com uma sessão de trabalho de muitos canais incluindo canais de áudio, grupos, instrumentos, efeitos e MIDI. Na Figura 1 vemos em detalhe o menu “Save/Delete current Configuration” no canto superior es-


Figura 1 - Configuration Menu

querdo do mixer. O que determinamos de visualizações para a Channel Section (Visibility e Zone settings) e para a Rack Section (quais os racks visíveis) será armazenado em “cenas” que aparecem numeradas no painel logo à esquerda do menu. Vamos dizer que queremos fazer duas cenas distintas. A primeira exatamente

Section desabilitei a visibilidade dos canais de entrada. Feitos os ajustes, abro o menu mostrado na Figura 1 e clico na opção “Save Configuration”. A partir deste momento um botão de número “1” aparece no painel logo à esquerda do menu. Pronto, nossa primeira configuração de mixer está salva como número 1. Vamos agora customizar nossa segunda configuração. Vamos dizer que queremos ter uma visão detalhada apenas dos Channel Strips. O cursor no painel de configurações deve ser colocado sobre a próxima posição a ser armazenada. A Figura 3 mostra a posição de seleção da configuração e também o botão “Racks” pressionado com suas possibilidades de visualização. Desligamos todas as opções com exceção do botão Channel Strip. Utilizando a Zoom Palette para determinar as dimensões de nossa visualização, definimos a configuração conforme mostra a Figura 4. Reparem no painel de configurações que, ao clicarmos em “save Configuration”, já aparece o Número 2 sinalizando nossa nova configuração do mixer. Para alter-

Figura 2 - Inserts e Routings em destaque

como mostra a Figura 2, ou seja, com inserts e routing dos canais em destaque com os faders e meters em menor tamanho. Ajustei o zoom vertical da Rack Section aumentando seu tamanho através da Zoom Palette que descrevi no artigo passado (Parte1). Na Channel

nar as configurações, basta simplesmente clicar no botão correspondente no painel. Assim estaremos mixando e observando os Inserts e os Channel Strips com agilidade. Podemos seguir montando mais configurações da maneira que quisermos, aliás, sugiro isto

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Figura 3 - Somente Channel Strip aparente

como exercício neste momento. Reparem que, para mantermos coerência nos canais visualizados nas configurações, temos que atentar sempre em qual seção do mixer estamos selecionados. A tecla “Tab” permite selecionar as seções em sequência (Channel Section, Rack Section, Fader Section e Control Room). Com “Shift Tab” a sequência se inverte. Outro detalhe importante: quando salvamos a configuração, a Fader Section também salva os canais que estão sendo visualizados.

Exemplo: se salvamos a configuração 1 com o mixer mostrando do canal 6 ao 17, ele guardará esta posição sempre que clicarmos para visualizar a configuração 1. Se na Channel Section clicamos em algum canal abaixo de 6 ou acima de 17, o mixer mostra o canal. Mas se voltamos a clicar no botão 1 de configuração ele volta a exibir os canais de 6 a 17. Channel Strip – Faço aqui uma pausa no tema “customização” para falarmos um pouco desta sequência de plug-ins inserida no

mixer do Cubase 7. O Channel Strip possui 6 slots com os plugins: Gate (Noise gate), Compressor (3 tipos: Standard, Tube, Vintage), EQ position (desloca o Equalizador nativo para qualquer posição entre os estágios), Transient (Envelope Shaper), Saturation (2 tipos: Tube e Tape) e o Limiter (3 tipos: Brickwall, Maximizer e Standard). São plug-ins VST3. Alguns deles também podem ser inserts como os conhecemos na apresentação visual em que foram desenhados (Brickwall limiter, por exemplo). Na apresentação como Channel Strip se tornam de uso mais simples com comandos mais evidentes como numa mesa analógica. São intercambiáveis na sequência entre si, o que permite infinitas possibilidades. Na próxima edição continuaremos com a customização e os recursos do mixer do Cubase 7. Tem muito mais pra gente ver. Pratiquem este tutorial e não percam o próximo. Abraço!

Para saber online

Figura 4 - Segunda configuração. Channel Strip

dalla@ateliedosom.com.br www.ateliedosom.com.br Facebook: ateliedosom Twitter:@ateliedosom


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Continuando nossa conversa sobre remixagem, é muito importante saber trabalhar com as expectativas num primeiro momento. Começar a fazer remixes em concursos e sites é uma boa maneira de se pegar prática com um bom material. Para chegar em agências e nos músicos que você possa ter interesse é uma outra situação. Muitas pessoas não gostam de remixar e preferem somente produzir. Lembre-se que ao remixar você vai entrar em contato com material gravado de diversas formas, estilos etc. e isso pode levar você para outros caminhos interessantes, tanto como produtor quanto como músico.

REMIXAGEM NO

LOGIC PRO PARTE 02

Vera Medina é produtora, cantora, compositora e professora de canto e produção de áudio

G

eralmente são disponibilizados vários arquivos ou partes da música original para os remixers. É necessário, então, decidir se você vai usar somente o vocal e construir um remix que é quase uma produção ou se usará também outras partes. Se você estiver fazendo o remix de um concurso, há mais liberdade para se criar. Se você estiver sendo contratado para fazer um remix, o con-

tratante deve esperar que você venha a fazer um remix no gênero pelo qual você é conhecido. 1) Abrir as partes recebidas no Logic Pro. Pensando num crescente, geralmente o vocal é disponibilizado. Podem ser disponibilizadas outras partes individualizadas, tais como bumbo e baixo ou agrupadas (grupo de guitarras, outras partes de bateria etc.). Abrir a pasta Bin


Figura 2

Figura 1

> Audio File > Add ou arrastar os arquivos de áudio para a janela da

Tempo (Audio > Detect Tempo Figura 3), após selecionar o arquivo mais fácil de ter o tempo reconhecido, geralmente um bumbo ou partes de bateria. Ou escolha uma parte (geralmente bateria), selecione o plug-in Metering > BPM Counter, (Figura 4) coloque a parte para tocar (play) e espere até

Figura 3

Bin. (Figura 1) A pasta Audio Bin lista todos os arquivos do seu projeto com informações úteis, tais como tempo, taxa de amostragem e resolução, formato mono ou estéreo, tamanho do arquivo. O que eu geralmente faço imediatamente é uma cópia dos arquivos originais de áudio e arrasto os arquivos copiados para a Arrange Window. (Figura 2) 2) É necessário agora identificar o tom e o tempo da música original. Se for um remix contratado, geralmente essas informações são fornecidas. Em sites de competições também existem muitas informações. Caso contrário, você deve tentar as funções Detect

que o painel mostre um bpm mais constante. (Figura 4) No exemplo que está sendo apre-

sentado nas figuras, utilizei o material de um site de competições (www.indabamusic.com). O arquivo veio aberto em quatro "stems", que é o termo que você vai encontrar geralmente se referindo a grupos de partes, ou seja, todas as peças de bateria agrupadas, vocais etc. Neste caso, foram fornecidos os seguintes "stems": Drums (Bateria), Bass (Baixo), Keyboard (teclados) e Vocals (vocais). No site eles disponibilizam o tempo e tom da música. O tempo foi o mesmo encontrado pelo Logic, 95 BPM. Vamos agora ao tom. É possível transformar um arquivo de áudio para MIDI, mas mesmo assim será necessário um conhecimento de teoria musical para entender na janela Score as notas e acidentes e conseguir identificar o tom. De qualquer forma, pode ser útil, então vamos lá. Faça mais uma cópia do arquivo que tiver a maior parte dos acordes ou melodia. No exemplo, eu escolhi a parte Keyboards (teclados). Abra a janela do Sample Editor,

Figura 4

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Figura 5

Outra coisa que muitos esquecem é entender a letra da música. Uma música com uma letra triste num ritmo de house ou algo assim pode ser terrível para quem entende a letra. Imagine alguém pulando de alegria porque o apartamento pegou fogo

menu Factory > Audio to Score > Audio to Score novamente (Figura5). Escolha em Preset o tipo de arquivo de áudio de origem. No meu caso, estou tentando com Guitar Chords, o mais próximo dos presets. Poderia criar um preset nos bancos User #1 até #4 que estão disponíveis logo abaixo da tela. Em Minimum Quality, escolhi High. E é só clicar em Process (Figura 6). Pronto, a janela Score abriu com as notas e a armadura de clave já identificadas para possibilitar o reconhecimento do tom (Figura 7). Por prática, ao ouvir a música, dá para identificar que é um tom maior, e a armadura de clave mostra os dois acidentes do tom de Si bemol maior (acidentes Si bemol e Mi bemol). Nem sempre Figura 6 esta técnica funciona, mas vale a pena tentar. Lembre-se que esta técnica é destrutiva, por isso eu gerei um novo arquivo de áudio. Uma vez transformada em MIDI, não há função que desfaça

” Figura 7

o estrago. Então, cuidado! 3) Já sabemos a tonalidade e o tempo. Agora resta saber o que podemos realizar como remix! Nem sempre é possível se ater ao seu estilo preferido. É preciso

ouvir com atenção várias vezes até decidir se é possível obter um resultado mais rápido ou mais lento. No caso deste remix, com base no tempo de 95 bpm, tenho menos opções, pois um remix de


Figura 8

house hoje em dia está entre 120 a 128 bpm. O estilo da música que estou remixando é um reggae pop. Posso então procurar ritmos com o mesmo bpm que possam se encaixar, ou acelerar um pouco para ver se o vocal não fica muito estranho.

corrigir, pois cada vez fica pior. Use o bom senso e tente ver se o seu estilo ou gênero principal se encaixa no remix. Outra coisa que muitos esquecem é entender a letra da música. Uma música com uma letra triste num ritmo de house ou algo assim

Transport Bar estiver no padrão (Figura 8). Na janela que se abre, escolha Varispeed. No painel irá aparecer a opção de Speed Only (Figura 10). Se clicar com o mouse esquerdo, aparecerão várias opções de Varispeed (Figura 9). Vamos ficar por enquanto com Speed Only e depois podemos entender melhor esta função. Basta clicar sobre 0.0% e com o cursor para cima ou para baixo, diminuir ou aumentar o número. Ou clicar duas vezes e digitar o percentual. No meu caso, aumentei em 10%, ou seja, tinha 95 bpm, agora terei 104,5 bpm (95 + 9,5). 5) Se você tiver uma biblioteca de loops, pode usá-la, escolhendo ritmos que estejam no bpm aproximado. Também poderá utilizar os Loops que vem no Logic como ponto de partida. Vamos parar por aqui e testar tudo que foi dito. Caso esteja iniciando, procure na internet ou com amigos produtores algum material que possa ser disponibilizado para remixar. Procure também sites especializados, tais como www.acidplanet.com. Se você já é do ramo, espero que este artigo tenha utilidade, afinal não existe apenas uma maneira de se fazer uma remixagem. Cada produtor desenvolve sua técnica e aqui estão apresentadas somente algumas ideias e práticas que utilizo. Boa sorte e vamos continuar na próxima edição. Abraços!

Para saber online Figura 9

Aqui vale lembrar que existe um limite em que acelerar ou desacelerar uma música se torna inviável do ponto de vista de suas partes isoladas. Já ouvi vários remixes que são simplesmente horríveis, a voz fica num pitch intolerável, não adianta nem tentar

Figura 10

pode ser terrível para quem entende a letra. Imagine alguém pulando de alegria porque o apartamento pegou fogo. É por aí! 4) Clique com o mouse esquerdo no espaço ao lado direito da Transport Bar, ao lado do botão Record, se a

vera.medina@uol.com.br www.veramedina.com.br

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PRO TOOLS| www.backstage.com.br 64

Figura 02

Manter o sinal equilibrado durante todo o processo na produção de áudio é fundamental. Pouca gente sabe, mas o Master Fader vai muito além de ser apenas "um lugar pra abaixar/ aumentar o volume de tudo e colocar efeitos." Vamos conhecer um pouco mais sobre sua arquitetura e possibilidades de uso.

PRO TOOLS LIDANDO COM O MASTER FADER Cristiano Moura é produtor, engenheiro de som e ministra cursos na ProClass-RJ

FLUXO DO SINAL Diferente dos demais canais, no Master Fader os inserts atuam após o fader (Figura 1). Então é necessário tomar cuidado ao inserir compressores e limites, levando-se em conta que, caso o usuário resolva alterar a posição do fader, esta irá influenciar diretamente

nos processadores de dinâmica e outros plug-ins que estiverem no insert.

AJUSTAR NÍVEL DA MIXAGEM NO MASTER FADER. PODE OU NÃO PODE? Independente de poder ou não poder, ser capaz de realizar o equilíbrio e con-


Figura 01

Figura 03

acontece em valores negativos, ou seja, mesmo que o usuário esteja trabalhando com o Master Fader em 90dB, o sinal ainda estará protegido e livre de perdas. Para se confirmar este fato, podemos fazer um teste

trole do fluxo de sinal numa mesa de som é o processo mais elementar e que todo profissional de áudio é obrigado a saber fazer de forma eficiente. O ideal é que a mixagem seja suficientemente bem equilibrada a ponto de não precisar sequer de um ajuste no Master Fader. Dado este alerta, vamos entender mais sobre a arquitetura do mixer do Pro Tools. Na versão nativa (que roda na CPU), o mixer do Pro Tools trabalha em 32 ou 64-bit ponto flutuante (dependendo da versão), o que, em poucas palavras, significa que é possível abaixar ou aumentar o Master Fader para corrigir uma mixagem mal equilibrada sem nenhuma perda. Já no Pro Tools HD, o mixer trabalha em 48 bits fixos, o que na prática, significa que mesmo se o usuário deixar a mixagem "clipar" até +54dB acima do 0dB, ainda é possível corrigir a falha sem perdas no sinal. O mesmo

O ideal é que a mixagem seja suficientemente bem equilibrada a ponto de não precisar sequer de um ajuste no Master Fader. muito simples. Antes de tudo, abaixe as caixas de som. Novamente, abaixe as caixas de som. Agora,

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1- Crie um Master Fader; 2 - Crie um track de áudio mono e insira um plug-in Signal Generator com a configuração padrão (-20dB, 1kHz, sine wave); 3 - Duplique este track de áudio 20 vezes e veja que o Master Fader começa a clipar; (Figura 2) 4 Agora levante aos poucos o volume do seu setup de monitoração e ouça que claramente a senoide está sendo

trabalhado também na criação de subgrupos. Após criar um subgrupo de bateria enviando todos os outputs para um Bus, é possível através de um Master Fader de Bus controlar o nível de sinal que chega ao auxiliar. (Figura 3) E não teria que controlar no fader do próprio auxiliar? Não exatamente. Imagine que na Track auxiliar exista um processador que faça emulação de saturação de fita. Faz toda a diferença aumentar ou abaixar o nível de sinal no Master Fader (antes de atingir o plug-in) do que no fader

certifique-se que abaixou as caixas de som. Por último, não venha me dizer que eu não avisei para abaixar as caixas de som…

Ao fazer o roteamento de um send para um Bus, usuários de consoles tradicionais devem sentir falta de um Master Send distorcida. Ao invés de um sinal puro, ele está com um timbre "rasgado". Agora veja que como o Master Fader tem um headroom (margem de manobra), ao se abaixar o fader, você ouvirá a senoide parar de distorcer. Se não houvesse este headroom, você continuaria ouvindo o som distorcido, porém mais baixo. Resumindo, você pode até perder seu emprego se o seu chefe te vir mixando com o Master Fader em -90dB, mas não há perda na qualidade sonora.

do auxiliar (depois do plug-in). Mais que isso, usar um Master Fader para monitorar buses é a única maneira de se observar o nível de sinal somado no bus. Abraços e até a próxima!

Para saber online

MASTER FADER DE BUSES Ao fazer o roteamento de um send para um Bus, usuários de consoles tradicionais devem sentir falta de um Master Send, para que possam num número controle, ajustar o nível geral do send. No Pro Tools isso é feito com Master Faders, configurando com o bus apropriado. Este conceito pode ser muito bem

cmoura@proclass.com.br http://cristianomoura.com


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O TAMANHO DO SEU

ESTÚDIO PARTE 14

Ricardo Mendes é produtor, professor e autor de ‘Guitarra:

Temos falado sobre como se gravar uma voz com o máximo de qualidade e critério, mas tem um elemento na corrente que foge ao nosso controle: O cantor...

harmonia, técnica e improvisação’

N

os anos 70 e 80, a gravação de um disco alcançava, em valores de hoje, facilmente a casa de R$ 100 mil podendo chegar até R$ 250 mil. O fato é que a tecnologia digital democratizou o acesso à gravação para praticamente qualquer pessoa. E como quase tudo na vida, isso tem um lado bom e um lado ruim. O lado bom é que qualquer pessoa pode gravar, inclusive as pessoas com talento, que no passado, talvez jamais conseguiriam gravar um disco por conta do alto custo. É verdade que as gravadoras contrataram muitos artistas talentosos, mas com certeza muitos outros não tiveram a mesma oportunidade. O lado ruim é que artista sem talento também pode gravar. Antigamente, justamente pelo alto custo de gravação, e também das limitações tecnológicas, só entrava em estúdio quem era bom. Para um Nelson Gonçalves, Elis Regina, Frank Sinatra, Tina Turner, Tim Maia etc., é um take só e já está perfeito: afinação, interpretação, tempo etc. Com as possibilidades de edição na voz abriuse a perspectiva de pessoas comuns, com menos talento do que estes gênios, terem um resultado satisfatório.

Mas tenhamos um conceito claro em mente: uma edição, por mais perfeita que seja, JAMAIS substituirá um talento extraordinário. Como não temos um Luciano Pavarotti entrando todos os dias pela porta do estúdio, temos que tentar tirar o melhor dos cantores nossos de cada dia. Eu conheço basicamente duas maneiras de se gravar uma voz numa situação em que o cantor não é o Freddie Mercury: 1 - Vai se gravando linearmente e sempre que o cantor errar, desafinar etc., volta um pouquinho e refaz a parte onde ele errou até acertar e aí segue em frente. Meio tipo um videogame: a gente morre algumas vezes até descobrir o caminho e aí passa de fase. Esse método tem uma vantagem, que é o fato de, ao se chegar ao fim da música, o take já estar pronto. Não se tem mais o que mexer nele. E duas desvantagens: pode se tornar extremamente estressante, especialmente se houver um ou mais trechos difíceis onde seja necessário repetir inúmeras vezes. Isso acaba afetando a autoestima do cantor e deixando-o inseguro. A outra desvanta-


2 – Gravam-se vários takes de voz, do início até o fim, sem interromper, deixando o cantor mais livre. Mesmo que ele cometa pequenos erros, deixe fluir. Isso ajudará a não deixá-lo inseguro. A quantidade de takes depende da qualidade do cantor. Se o cantor é bom, de dois a três takes são o suficiente. Se ele não é tão bom assim, aumente a quantidade. Eu já cheguei até a 14 takes. As vantagens desse método é que não estressa tanto o cantor e as interpretações tendem a se manter mais coerentes. A desvantagem é que você terá o trabalho depois para fazer uma compilação

gem, justamente por conta desse processo picado, é que o cantor pode perder a linha de raciocínio da interpretação que vinha fazendo e mudar completamente essa linha, tornando o take de voz meio incoerente.

A quantidade de takes depende da qualidade do cantor. Se o cantor é bom, de dois a três takes são o suficiente. Se ele não é tão bom assim, aumente a quantidade dos melhores trechos de cada take. O princípio é bem básico: crie um canal para cada take e os coloque um acima do outro com a numeração dos takes: Depois crie um canal abaixo deles. Eu costumo chamar este canal de “Voz Edit” (costumo misturar inglês com português quando estou trabalhando). Neste ponto eu vou ouvindo cada frase de cada canal para escolher a

melhor. Não escuto o canal inteiro até o fim, mas sim a primeira frase de cada canal. Uma vez escolhida a melhor, passo para a frase seguinte. Escuto novamente cada frase de cada take e escolho a melhor e assim por diante. Dá um trabalho maior, mas costuma ficar bom. O ponto em que você tem que ficar atento, após a compilação de todas as frases em um novo canal, é em relação às emendas. Preste atenção

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PRODUÇÃO MUSICAL| www.backstage.com.br 70

Figura 1 - Takes

O canal marrom é o resultado final. Repare que ficaram “buracos” nos outros canais. Essas foram justamente as frases aproveitadas que foram deslocadas para o canal “Voz Edit”. E lembre-se: a edição não precisa ser necessariamente de uma frase inteira

Figura 2 – Voz Edit

se não está cortando uma respiração ou final de palavra, pois nem sempre o cantor canta exatamente a mesma métrica. E também na questão da interpretação. Preste atenção se a emenda que veio depois está com a mesma intenção, intensidade e sonoridade da anterior. Uma vez feito isso, a sua sessão deveria se parecer mais ou menos assim: O canal marrom é o resultado final. Repare que ficaram “buracos” nos outros canais. Essas foram justamente as frases aproveitadas que foram deslo-

cadas para o canal “Voz Edit”. E lembre-se: a edição não precisa ser necessariamente de uma frase inteira. Podemos escolher o início de uma frase como final de outra. Podemos até pegar somente uma palavra ou uma sílaba de outro take. Só temos que ficar atentos se a edição soa natural e não há nenhum “click” no corte. Não esqueça também de fazer os cross-fades entre cada emenda.

Para saber mais redacao@backstage.com.br


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REPORTAGEM| www.backstage.com.br 72

Zooey Deschanel e M. Ward falam sobre o novo disco, feito com muita confiança e muitas experimentações.

Ricardo Schott redacao@backstage.com.br Fotos: Divulgação

SHE & HIM A atriz e cantora Zooey Deschanel percebe hoje o quanto evoluiu à frente da dupla She & Him. “No primeiro disco, Volume one, eu era muito tímida. Uma grande parte do trabalho era dedicada a conseguir fazer os vocais. Fizemos as primeiras canções, eu e M. Ward (a outra parte da dupla) na casa de um amigo nosso, Mike Coykendall, porque precisava dos dois juntos”, lembra, por e-mail, a cantora, que acaba de lançar com o She & Him, Volume 3, editado aqui pela Lab344. A confiança de Zooey em sua própria voz e em sua capacidade de compor salta

aos ouvidos no novo disco. Muita coisa, ela afirma, saiu no terceiro lançamento da banda simplesmente porque a dupla resolveu se perguntar “por que não?”. O clima resvalou da composição para a produção do disco, realizada pelo próprio M. Ward. ”Pusemos 120 canais em algumas músicas, que necessitaram de muita produção. Meu gosto e o dele são bem variados, não gosto só de um tipo de música. Não focamos só num tipo de arranjo”, afirma ela, sem esconder que canções como Never wanted your love, Somebody sweet to talk to, Snow queen e Shadow of


love chamam bastante a atenção pelo clima melancólico. “Muitas canções são upbeat, mas têm letras tristes. É importante misturar essas coisas e colorir o disco de diferentes maneiras”. Os discos do She & Him, explica a cantora e atriz, não demoram muito tempo para serem terminados. “Entramos em estúdio por uma semana ou mais ou menos isso, trabalhamos no que já está composto e adicionamos outras coisas rapidamente. Estou sempre escrevendo canções. Algumas das do novo álbum são muito antigas e outras eu escrevi mais recentemente. Quando acabou a primeira temporada do meu show na TV, tivemos um hiato entre temporadas e em vez de fazer um filme ou algo parecido, decidimos que estava na hora de fazer um disco”, conta. Mais focado nos bastidores e na produção do disco, M. Ward aproveitou para, pela primeira vez na história do She & Him, trabalhar com metais, dentro dos arranjos de orquestra. “As cordas ganharam mais nuances dessa vez, e mais energia também. É complicado para explicar, mas quanto mais eu escrevo arranjos, mais percebo novas possibilidades. Foi a primeira vez que usamos metais e por ser a primeira vez que faço arranjos para esses instrumentos, deixei tudo bem simples. No disco, deixei a demo me mostrar aonde as músicas deveriam ir”. O processo de trabalho, ele explica que vem de uma larga base de canções que Zooey lhe envia. “Ouço a demo no repeat por meses e eventualmente vêm ideias a respeito de como levar aquilo adiante na produção. Para decidir o que entra no disco, se você quer fazer um disco com lados normais, é bom ter uma dezena de músicas terminadas. Quando você produz, é comum escolher as primeiras que te gritam

no ouvido que estão finalizadas. No processo de produção, uma grande parte do trabalho é trazer canções à luz”, enfatiza. Antes de começar tudo, Zooey envia uma série de demos para ele, com vocais e piano. “Ela costuma me enviar demos, basicamente de vocais e piano, e ukelelê, às vezes. Eu sento com essas demos e mexo nelas por meses e até por anos. Never wanted your love, Zooey escreveu há alguns anos e só encontrou seu caminho agora no disco, com uma visão diferente de trabalho”, indica. O disco ainda soma três covers ao repertório da dupla: Hold me, thrill me, kiss me, de Barry Noble; Baby, da compositora pop sessentista Ellie Greenwich; e Sunday girl, do repertório do Blondie. “Sugerimos ideias diferentes para os covers e colocamos as músicas que sentimos que poderiam ganhar nova vida”, diz Ward. O fato de terem tirado algum tem-

po para fazer experimentações em estúdio acabou gerando uma reprise de I could have been your girl, uma das faixas do disco, só com a parte de cordas e metais. “Quando o (técnico de som) Tom Schick isolou a orquestra para ver se toda a sonoridade estava coesa, pensamos: ‘isso está fantástico, soa realmente diferente’. Tem todo um componente rítmico que aparece quando você isola cordas e vocais, parece até outra música. Era um jeito diferente de ouvir a música, daí pusemos no disco”, completa.

Para saber online

http://www.sheandhim.com/

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PROLED www.proshows.com.br O PH-4,5mm é o mais novo painel indoor da Proled. Ideal para eventos indoor, principalmente em transmissões em tempo real. O PH-4,5 mostra todos os vídeos e eventos de modo uniforme na mais alta qualidade e resolução de 4,5mm, além de possuir configuração pixel de 1R, 1G e 1B.

PR LIGHTING www.proshows.com.br O recém-lançado XLED 3108 ZOOM da PR Lighting, possui 108 LEDs de 3W (RGBWA). Reconhecido como um dos moving heads de LED mais potentes do mundo, compacto e com zoom variável, é ideal para shows ao vivo, eventos televisivos, performances e concertos. Ele possui escurecimento suave e cintilação livre, strobe muito rápido, controle automático de velocidade do ventilador, bem como ângulo de facho de luz ajustável.

CHAUVET www.equipo.com.br A Equipo apresenta o Moving Light Q-Beam 260 LED da Chauvet. Dentre as excelentes características do equipamento, destacam-se: Moving Yoke LED com 9 ou 12 canais DMX-512, Pan 540° / tilt 270°, Disco de Cores de 8 cores + branco, Efeito rainbow color spin com velocidade variável, Disco de Gobo Indexado e com gobo shake - 7 gobos + aberto, dentre outras.

ROBE www.robe.cz O ROBIN LEDWash 600 da Robe apresenta 37 LEDs multichip RGBW de 10W com saída de cores variando desde pasteis suaves até a mais rica saturação. Dispostos em 3 anéis concêntricos, os LEDs oferecem possibilidades únicas para criar cores surpreendentes e modelos de efeitos cegantes para a audiência, bem como para fornecer cobertura wash ampla e perfeitamente uniforme.


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PROJETOS DE ILUMINAÇÃO

CÊNICA Finalmente, a viabilidade será analisada sob o ponto de vista operacional, com todas as variáveis e aspectos a serem considerados para a melhor realização de um show ou espetáculo.

PERCURSOS SEM PERCALÇOS PARTE 04 E FINAL Cezar Galhart é técnico em eletrônica, produtor de eventos, baixista e professor dos Cursos de Eventos, Design de Interiores e Design Gráfico do Unicuritiba. Pesquisador em Iluminação Cênica, atualmente cursa Pós-Graduação em Iluminação e Design de Interiores no IPOG.

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ma vez identificados todos os recursos e requisitos técnicos e financeiros, dimensionados e avaliados no escopo de um projeto de iluminação cênica, cabe à última etapa a consolidação dos elementos anteriores, traduzida na execução do evento a partir de um planejamento operacional. Essa parte se cerca de vários elementos que são imprescindíveis para cada projeto, cada show, cada espetáculo. De forma mais prática, é recomendável situar a execução do projeto em três momentos: a montagem da estrutura de iluminação com os respectivos ajustes e testes, a realização do evento e a desmontagem. Anterior à etapa de montagem, dois aspectos devem ser sempre considerados nas primeiras linhas e na conceituação principal: as normas e regras dos espaços, como também dos equipamentos e elementos técnicos do projeto, e as consequentes questões de segurança, para todos os públicos envolvidos.

Para o primeiro aspecto, uma ou mais visitas prévias ao espaço de realização se torna um elemento fundamental na identificação dos recursos disponíveis no ambiente, o dimensionamento de componentes a serem contratados/locados e, por fim, uma avaliação dos possíveis riscos e antecipação de problemas (com suas respectivas soluções). Conhecer um espaço é também se familiarizar com as normas e regras de operação dele; identificar as áreas de carga e descarga dos equipamentos; incluir a verificação dos possíveis locais de armazenamento de equipamentos, periféricos e outros recursos; dimensionar os serviços e estruturas disponíveis, que incluem a existência de elevadores monta-cargas, carrinhos de transporte, andaimes e escadas, entre outras facilidades; e mapear o espaço - do portão de acesso das equipes operacionais até o local exato de instalação da House Mix. Também, identifi-


Fonte: Maroon 5 Brasil/Seven Entretenimento

Figura 1: Aspectos da montagem do show do Maroon 5 – Expotrade Convention Center – Pinhais/PR

car as questões técnicas e restritivas, relacionadas ao pé-direito (para locais fechados) até o revestimento ou tipo de piso no qual será construído/ instalado o palco, e a localização do quadro de distribuição de energia elétrica (com a respectiva tensão e dimensionamento de carga elétrica – o limite de consumo do local). Eventualmente, geradores podem ser necessários à viabilidade de um evento, e também para esses recursos, a avaliação para a melhor forma e disposição desses equipamentos na estrutura do evento. Ainda nesse mesmo aspecto, alguns espaços (principalmente teatros e casas de espetáculos) possuem estruturas fixas, sendo ajustáveis e adaptáveis, cabendo ao Lighting Designer o melhor aproveitamento dos recursos disponíveis – e acréscimo de outros, caso a caso. Mas também deve estar atento às restrições, normas e regras de montagem (e desmontagem). Muitos espaços disponibilizam um Manual de Montagem e Operação de Eventos, com plantas, orientações e normas de utilização dos espaços. Eventualmente, a inviabilidade pode estar relacionada à dificuldade de adaptações/adequações em função das estru-

turas dos espaços – e impossibilidade de inclusão e/ou instalação de outros instrumentos/equipamentos. Para o segundo aspecto, no que se refere à estrutura de iluminação cênica, as condições de montagem e desmontagem, alinhadas especialmente com a Norma Regulamentadora NR 10 – Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade (emitida pelo Ministério do Trabalho e do Emprego do Governo Federal), e que devem considerar a obrigatoriedade para o uso de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual – no caso, cinto de segurança com talabarte para montagens em andaimes e estruturas verticais acima de 1,80m, capacetes de segurança com isolamento para eletricidade com aba frontal, botas de borracha isoladas, luvas de borracha isolantes BT e AT, luvas de raspa para estruturas, óculos de segurança incolor e com proteção contra raios ultravioletas) na instalação dos “ground supports”, traves, “grids” ou treliças para iluminação (que são as estruturas de Box-Truss), e mesmo a disposição de extintores com a classe adequada ao local e aos potenciais perigos. Para as instalações elétricas, a observância das normas

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Fonte: Último Segundo/IG

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No que se refere à qualificação, evidencia-se a necessidade cada vez mais intensa da inserção dos profissionais atuantes na produção de eventos, e especificamente na implantação de projetos de iluminação cênica, em programas de formação e capacitação profissional

gramação do evento). Aos recursos humanos, a contratação de profissionais capacitados, habilitados e disponíveis torna-se fundamental para o sucesso do evento. E isso deve ser considerado para todos os níveis de produção, independente da função ou atividade, para a máxima redução de falhas ou minimização total de possíveis probleFigura 2: Montagem de estrutura para o festival SWU 2010 (Itu/SP) – mas relacionados à monProfissionais com os EPIs tagem das estruturas, insNBR 5410:2008 - Instalações elétricas talação e ajustes das luminárias e instrude baixa tensão - e a NBR 13570:1996 mentos de iluminação cênica, operação Instalações elétricas em locais de afludos consoles e mesas de controle e, por ência de público - da ABNT (Associafim, desmontagem com zelo e preservação Brasileira de Normas Técnicas). ção da estrutura do evento. Também, a viabilidade operacional Nesse mesmo contexto, entretanto, compreende a correta documentação há uma constatação preocupante: a inerente ao evento, com a impressão de falta de profissionais qualificados. Por várias cópias do Lighting Plot (repremeio de uma enquete realizada no mês sentação gráfica abordada na coluna de janeiro de 2013 no site da Revista anterior) aprovado e disseminado enBackstage, 42,86% dos internautas que tre os responsáveis pela montagem da participaram consideraram que a maiestrutura (operários, supervisores, técor dificuldade na produção de eventos nicos e engenheiros); projeto/planta está na contratação de pessoas qualificom especificações do palco e respecticadas e comprometidas. No que se reva ART (Anotação de Responsabilidafere à qualificação, evidencia-se a nede Técnica) emitida por um profissiocessidade cada vez mais intensa da innal ou empresa registrada no Conselho serção dos profissionais atuantes na Regional de Engenharia e Agronomia produção de eventos, e especificamente (CREA); verificação do Alvará de na implantação de projetos de iluminaFuncionamento, e outros documenção cênica, em programas de formação tos, tais como a Certidão de “Habitee capacitação profissional. Cabe às emse” ou “Auto de Vistoria”, além do presas fornecedoras e produtoras conlaudo ou Auto de Vistoria do Corpo tratantes a implementação de planos de de Bombeiros (AVCB) que, com a qualificação para todos os envolvidos. ART, devem conter as comprovações Também é notória a necessidade de dos recolhimentos das respectivas taatualização profissional, em todos os xas inerentes ao processo, junto aos âmbitos, em todos os níveis. Em um órgãos competentes. cenário tão dinâmico, no qual se inseMesmo com todos esses elementos rem as várias áreas da produção de esalinhados e documentados, outros petáculos e shows, o contato com as dois tipos de recursos fazem parte do novas tecnologias – aplicadas a equipaestudo de viabilidade operacional: mentos, materiais e mesmo processos e humanos (profissionais atuantes em interações profissionais – e a busca de todas as etapas de produção de um novos conhecimentos no setor se torevento) e tempo (cronograma e pronam diferenciais competitivos.


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Em relação ao comprometimento profissional – também destacado na mesma pesquisa – vários aspectos podem ser analisados. A mesma necessidade de capacitação e atualização para as tecnologias deve também compreender conhecimentos e técnicas de gestão de pessoas, de forma a potencializar estratégias de liderança, méto- Figura 3: Montagem do palco para o show do Paul McCartney – Estádio Beira-Rio (Porto Alegre/RS) dos de relacionamento interpessoal e gestão de conflitos, na pes redimensionadas, e a identificaobtenção de melhores resultados. Soção de opções e alternativas para remados a isso, estímulos diversos, que cursos, inclusive físicos – no caso, a naturalmente incluem melhores repossibilidade de mudança do local do munerações e incentivos (como proevento. gramas de capacitação e eventos inforOutro fator fundamental para o memais de socialização, valorização e relhor planejamento do tempo está conhecimento profissional) devem vinculado à experiência profissional ser considerados e proporcionados. e constante observação das dinâmiO outro recurso destacado anteriorcas de operação de um evento. Se a mente, o tempo, requer a administrainstalação de uma determinada estrução dos prazos e das condições de tura de iluminação requer cinco homontagem, muitas vezes impostas ou ras em condições normais, o planejaescassamente disponíveis. De qualmento deverá considerar uma marquer forma, há sempre a necessidade gem de 20% a mais de tempo, mesmo de formalização dos prazos e datas em que isso represente, em uma análise contratos, para todas as etapas da inicial, certa ociosidade por parte dos operação de um show, espetáculo e técnicos e operadores de luz (de fato, festival (para o período de montagem, esse tempo será utilizado para testes e duração/realização do evento e tempo preparação extra para os eventos). de desmontagem). Neste sentido, todos os elementos Nem sempre o tempo pode ser uma destacados anteriormente se somam, variável controlável, e mesmo impois o dimensionamento do tempo previstos podem ocorrer, tanto também considerará a melhor conpara possíveis alterações/adaptadução das equipes operacionais, a ções, como eventuais atrasos, em deinteração entre os profissionais e os corrência de interferências externas equipamentos e instrumentos e a ene incontroláveis (trânsito, intempétrega do evento, para a melhor realiries, greves). A antecipação de potenzação possível e valorização dos taciais problemas está sempre relaciolentos de todos, no palco, na house nada à análise dos riscos e dos impacmix, no Backstage. tos que esses atrasos podem proporcionar. Assim, a criação de planos alAbraços e até a próxima conversa! ternativos (os chamados “Planos B”, ou com outras letras) deve tamPara saber mais bém ser considerada, com forneceredacao@backstage.com.br dores previamente contatados, equi-

Fonte: Diego Guichard/ClicRBS

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Profissionais atuantes em diversos segmentos da iluminação, desde projeto até fotografia para TV, falam sobre o profissional da área de iluminação, os avanços tecnológicos e a segurança nesse mercado.

BRASIL: oito pontos de vista T Miguel Sá / redacao@backstage.com.br / Fotos: Divulgação

ecnologia avançando, profissionais melhorando a postura, mais possibilidades de aprendizado formal... A iluminação vai bem, obrigado, mas ainda há o que melhorar. Principalmente na área da segurança. A Backstage fa-

lou com Césio Lima, Elson de Lucas Oliveira, Guilherme Bonfanti, Jamile Tormann, Luiz Nobre, Marcos Olívio, Naldo Bueno e Paulo Cesar Medeiros sobre os desafios e avanços desse mercado no Brasil.


Tenho o prazer de trabalhar com muita gente de primeira linha em todos os níveis - riggers, eletricistas, programadores (Césio Lima)

Em qualquer área de trabalho, o elemento mais importante é o profissional. Não adianta ter dinheiro ou equipamento se ele não for bom. O sócio da Lighting Productions LTDA, a LPL, e diretor de fotografia da Rede Globo, Césio Lima, começou a trabalhar com iluminação aos 14 anos, já viu muita água rolar por debaixo dessa ponte e percebe um movimento positivo na evolução deste profissional. “Tenho o prazer de trabalhar com muita gente de primeira linha em todos os níveis - riggers, eletricistas, programadores – e a consciência profissional do técnico cresceu muito. Há uma divisão de quem é quem. Cada um se especializa mais em uma área”, explica. Com a maior parte de sua experiência na área teatral, Guilherme Bonfanti, que também atua como lighting designer em teatro com os grupos TAPA, Teatro da Vertigem – no qual trabalha há mais de 20 anos com os diretores Oswaldo Gabrielli e Gabriel Villela -, percebe a versatilidade e o envolvimento do profissional brasileiro com a sua atividade como características positivas; no entanto, faz ressalvas quanto à informalidade. “Vejo muitas pessoas que sentem prazer em estar neste lugar, em se vestir de preto, com seu calçado técnico, luvas e ferramentas em punho e muita agilidade e habilidade no trabalho. Tenho encontrado excelentes profissionais na área técnica. No entanto, carregador senta à mesa, faxineiro vira técnico, namora-

do desenha luz pra namorada, o amigo que é artista plástico vem fazer luz etc. Precisamos investir na formação, só assim vamos qualificar e poder exigir profissionalismo”, ressalta.

FORMAÇÃO PROFISSIONAL Aí entra outro assunto importante. Afinal, para o profissional ser bom, ele tem que ser bem formado. Arquiteta, Jamile Tormann começou a trabalhar como iluminadora em Porto Alegre, com João Acir de Oliveira. Ela é projetista de iluminação com ampla atuação em teatro e música, com Ed Motta, Cassia Eller entre outros e também trabalha como professora de iluminação cênica no Instituto de Pós-Graduação (IPOG). “A formação do profissional pode ser basicamente classificada em dois tipos: nível técnico e pós-graduação. Na de nível técnico encontram-se mais ofertas de cursos na área elétrica-eletrônica. Na pós-graduação, o Brasil hoje forma profissionais assim como ocorre em países como a Espanha, Inglaterra, Argentina, Suécia, Alemanha e Estados Unidos. Falta, contudo, mão-de-obra qualificada de nível técnico para executar os projetos”, detalha a projetista. Workshops de fabricantes e distribuidores de equipamentos nas empresas de iluminação vêm sendo umas das soluções encontradas para o aperfeiçoamento do profissional técnico, assim como palestras em eventos dirigidos à iluminação. Elson de Lucas Oliveira, responsável da ProShows pelo

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O dia a dia sempre é e será uma grande escola, mas nem por isso devemos deixar de buscar novidades. Creio que sempre existe alguma coisa que possamos melhorar em nós mesmos. Ir atrás de treinamento e cursos é sempre bom, pois o mercado hoje está em uma grande evolução (Elson de Lucas)

Césio Lima

Elson de Lucas Oliveira

Guilherme Bonfanti

suporte técnico e treinamento nos equipamentos da Avolites, frisa que, além de alguns cursos bons, as importadoras estão sempre fazendo workshops para demonstrar os produtos e capacitar os seus futuros usuários “O dia a dia sempre é e será uma grande escola, mas nem por isso devemos deixar de buscar novidades. Creio que sempre existe alguma coisa que possamos melhorar em nós mesmos. Ir atrás de treinamento e cursos é sempre bom, pois o mercado hoje está em uma grande evolução”, observa. “Hoje em dia temos muitas empresas que não pensam em ter mão de obra qualificada, e sim a mais barata. Alguns técnicos sequer tentam procurar alguma informação sobre o produto”, completa. Às vezes são as empresas de iluminação que investem no aperfeiçoamento dos funcionários, como demonstra Naldo Bueno, sócio da KN Projetos e especialista em projetos de iluminação com LEDs e moving lights. “O investimento em novos profissionais e aprimoramento dos conhecimentos dos funcionários de cada empresa, vêm se tornando uma coisa cada vez mais comum. Em cada palestra de iluminação que faço, eu sempre pergunto pelo motivo deles se interessarem por uma palestra, e muitos estão em grupos de funcionários de empresas que estão investindo na prata da casa”, destaca. Este é, precisamente, o caso da LPL de Césio Lima. “Nós também organizamos oficinas. Quem está interessado, pode fazer workshops básicos, até o nível 3, de tudo: rigging, elétrica e até logística de carregar caminhão. Todo mundo pode fazer de tudo. Pra quem faz, a gente aumenta a remuneração. É um pouco, mas aumenta”, detalha. O mesmo acontece na Spectrun Design, de Marcos Olívio. “Na Spectrun Design e Iluminação procuramos fazer cursos e receber os representantes quando estamos adquirindo novos equipamentos”, expõe Olívio, que trabalha como diretor de fotografia em programas como Ídolos, da Record, e também foi coordenador técnico de ilu-


minação do Rock in Rio 2011. Ainda que os workshops sejam apontados como um bom caminho para a disseminação do conhecimento, ainda há críticas à informalidade na formação do profissional de iluminação, como a de Bonfanti, que coordena um curso na SP Escola de Teatro. “Continuamos sendo muito informais no aprendizado e ensino. Vejo muitas iniciativas de oficinas e workshops. Insisto na importância da formação continuada, não esta de oficinas de oito, 16 horas. Temos que investir em graduação. No curso que coordeno são dois anos com aulas de terça a sábado, com duração de quatro horas. Tento passar por todas as áreas de atuação da luz: teatro, shows, ópera, dança, eventos corporativos, arquitetura, exposição, mas me aprofundo mais no teatro. A partir do teatro, o aprendiz tem condições de transi-

tar em qualquer área”, avalia. Paulo César Medeiros, projetista com ampla atuação nos musicais de Charles Möeller, faz coro às críticas de Bonfanti e acredita que, embora existam ótimos cursos técnicos, tanto no Rio como em São Paulo, é preciso formalizar o ensino e criar uma grade mais acadêmica. “Um encontro entre esses profissionais poderia ser um começo. Acho o meio da iluminação cênica um dos mais éticos. Talvez isso aconteça porque todos aprenderam juntos, beberam da mesma fonte”, coloca Medeiros. “Os musicais são a ópera moderna. Eles te qualificam para tudo, pois dentro deles tem circo, drama, comédia, música, dança, tudo”, reforça. Levando em conta a própria experiência, Jamile considera a formação acadêmica um trunfo para o profissional. “A atuação acadêmica favorece a reciclagem e a

atualização dos conhecimentos, a troca de informação entre profissionais de várias origens, a produção de critérios para avaliar novos conceitos e novas tecnologias”, completa. Para Luiz Nobre, sócio da empresa Confraria da Luz e um dos fundadores da Associação Brasileira de Iluminação Cênica (Abric) ainda existe poucos cursos com credibilidade acima da média. “O forte continua sendo o trabalho do dia a dia, no manuseio com o equipamento”, opina.

A TECNOLOGIA O avanço tecnológico facilita a vida de quem não tem medo de correr atrás, como explica Jamile. “As novas tecnologias auxiliam como recurso e dinamização de tempo e espaço. Cada nova tecnologia estimulou a criação de novas soluções e novos conceitos. Elas influenciaram no surgimento de novas lin-

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Montagens de luz demoravam uma eternidade com as torres de catraca, varas soltas etc. Nos meus projetos para teatro não deixo de pensar, no mínimo, em usar moving lights, LEDs e uma Avolites sendo operada no modo teatro (Bonfanti)

Jamile Tormann

Luiz Nobre

” Marcos Olívio

guagens e novas possibilidades de interação com o público. As mudanças tecnológicas impulsionam novas formas de olhar, tanto do profissional de iluminação como do espectador”. Isto é verdade em várias áreas da iluminação. O High Definition (HD) na TV, por exemplo, poderia complicar a vida do diretor de fotografia por este novo formato detalhar possíveis falhas de acabamento em um cenário. No entanto, o trabalho do iluminador acabou ficando mais preciso. “Não vejo nenhuma desvantagem no HD. Para a captação ficou mais fácil. Antes, a cena dificilmente era reproduzida com fidelidade ao que o diretor de fotografia tinha imaginado. Hoje, se souber trabalhar cor e lente, reproduz exatamente o que pensou. Antes, tinha de ficar colocando gelatina de correção para chegar onde queria. Hoje se tem todo o espectro de cores em um simples deslizar de faders. Mesmo com alta tecnologia, dá para fazer um conceito de luz mais antigo, como quando gravei o Sérgio Groisman no Cirque du Soleil. Foram equipamentos de alta tecnologia usados como se fossem refletores dos anos 40”, comemora. Não foi só em TV que as novas tecnologias facilitaram o trabalho. Elson de Lucas assegura que, por causa das novas tecnologias, seu trabalho ficou melhor e mais rápido com uma precisão incrível. “Por exemplo, em alguns consoles temos a função de time code, ou até uma simples função de clonar o show. Isso pode te ajudar de uma forma muito efetiva. Pense só, não ter que ficar refazendo tudo sempre e o tempo que sobra você pode usar para criar novos efeitos para o seu show e novidades na forma de pensar e criar”, ressalta. Segundo Bonfanti, o digital foi uma mudança extraordinária e altamente positiva. “Montagens de luz demoravam uma eternidade com as torres de catraca, varas soltas etc. Nos meus projetos para teatro não deixo de pensar, no mínimo, em usar moving lights, LEDs e uma Avolites sendo operada no modo teatro. Esteticamente, passamos por


culo. Nós é que temos de controlar os aparelhos e não eles a nós”, completa.

PROBLEMAS Ainda que se comemore uma evolução sensível no mercado da ilu-

uma mudança brutal. Mudou a cor. O azul, o vermelho e o verde são muito mais saturados do que os dos filtros de cor. Não se consegue o azul do LED com filtro de cor, é outra profundidade”, detalha. A tecnologia também se tornou

A tecnologia das lâmpadas avançou muito. Temos lâmpadas como a Phillips Platinum 15R com consumo pequeno (Naldo Bueno) uma aliada em grandes eventos, otimizando o tempo do profissional. De acordo com Naldo Bueno, em um evento onde se usa centenas de equipamentos inteligentes é possível se pensar em efeitos que levariam quatro horas para serem programados sendo feitos em quatro minutos. “A tecnologia das lâmpadas avançou muito. Temos lâmpadas como a Phillips Platinum 15R com consumo pequeno e que entregam uma quantidade de luz absurda, principalmente as utilizadas em moving lights”, pondera. Luiz Nobre lembra que nos shows, a chegada dos moving lights também facilitou a criação e a economia de muitas lâmpadas, além do Ground e Q 30, que substituíram as torres de catraca e treliças. “Só quem montou estas coisas sabe como era complicado; portanto, bem vinda tecnologia!”. Sim, a tecnologia é bem-vinda, mas Paulo César Medeiros faz um lembrete importante: “É preciso pensar os LEDs e os moving lights como ferramentas múltiplas, mas que não sejam maiores do que a visão emocional sobre o espetá-

minação, ainda há problemas a serem superados. A disponibilidade e a qualidade dos equipamentos, às vezes, ainda é um problema, como aponta Elson. “Hoje, devido a algumas cópias de consoles e movings temos muitas empresas que dizem que podem atender qualquer rider técnico, mas isso não é verdade. Feliz de quem anda com o seu equipamento, pois assim é possível ter um equipamento 100% sempre”. Luiz Nobre concorda. “Como a concorrência está mais acirrada, na maioria das vezes as empresas te servem bem. A oferta está mais satisfatória com certeza, mas também continuamos tendo de nos adaptar em algumas situações porque em algumas localidades não há o equipamento que você pede no rider, como o velho truque de donos de firmas que, na hora de fechar o contrato, dizem ter tudo, mas na montagem falta mais da metade dos equipamentos”, denuncia. Marcos Olívio reforça o time dos céticos. “Ainda temos no país uma grande diferença entre empresas com diversas qualidades de equi-

pamento, principalmente após a chegada do equipamento chinês, que tem, às vezes, qualidade duvidosa quanto ao resultado. Hoje eu trabalho especificamente na área de vídeo e música, DVDs e programas de TV como Ídolos, ou em clipes. Para este segmento eu tenho conseguido levar equipamento onde preciso”. Guilherme Bonfanti cita ainda outro problema, causado por práticas nocivas no mercado: a prática do preço abaixo do mercado. “Indo pra questão financeira, quantos projetos perdi porque o dono da empresa X tinha um orçamento que englobava projeto, montagem, equipamento etc., por preço abaixo do que eu cobrava somente pelo projeto?”. No entanto, relembra um benefício trazido pelas montagens de musicais americanos no Brasil. “Os espetáculos ‘gringos’ trouxeram o aprendizado no que somos mais deficientes: produção, rigor, planejamento, cronograma que funciona, respeito ao horário e muita competência. Podemos até discordar do gênero, da estética, mas nunca da qualidade com que são executados e do respeito ao público que se tem neles”, pontua.

SEGURANÇA O calcanhar de Aquiles do mercado brasileiro continua sendo a segurança, ainda que tenha tido melhoras. “Mesmo depois de todos os problemas que já vimos, ainda há muitas pessoas que não ligam para a segurança”, afirma Elson. “Se não houver condições de trabalho seguras, em primeiro lugar, tem que se proteger para não sofrer um acidente; em segundo, procurar o seu produtor e explicar a situação”, enumera. Para minimizar os acidentes, Césio optou por contratar pessoas exclusivamente empenhadas em cuidar da segurança de seus funcionários.

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Naldo Bueno

Paulo César Medeiros

Hoje, vários teatros, principalmente em São Paulo, já exigem equipamento de segurança individual (Paulo Cesar)

“Contratamos gente para encher o saco para fazer tudo direito, e isso aprendi muito na Globo. Acidentes acontecem, mas não dá para dormir tranquilo trabalhando errado. No entanto, vejo por aí empresas que ainda não tiveram dinheiro para investir em segurança”, fala. Na visão de Luiz Nobre também ainda há muito a se fazer com relação à segurança. “Ainda temos de colocar na cabeça dos técnicos de montagem que é a vida deles que estão colocando em risco e, na cabeça dos donos de firma, que nada vale mais que uma vida, que estar trabalhando com luz é trabalhar com vida e não com morte”, enfatiza Luiz. Para Bonfanti, a área dos grandes eventos e shows é a que está mais bem posicionada neste assunto. “Na área dos eventos e dos shows grandes isso, com certeza, andou mais (que no teatro). Somos um país ainda subdesenvolvido em alguns setores e só cuidamos da segurança quando somos obrigados. Por conta própria, acho que contamos nos dedos os técnicos que são bem equipados”, estima. Marcos Olívio tem uma visão mais otimista a respeito do assunto. Para ele, melhorou muito, mas há muito a caminhar. “Esta consciência vem sendo aplicada pela maioria das empresas. Isto faz com que os profissionais já integrem equipamentos (de segurança) à sua utilização diária no trabalho. Os locais de realização de eventos também exigem o uso dos equipamentos para o trabalho nesta área. Em alguns, temos as brigadas de segurança que fiscalizam. Suspender o show em caso de falta de condições talvez não seja tarefa do profissional de luz, mas sim alertar a produção do evento do que está acontecendo ou da dificuldade encontrada para uma decisão conjunta e uma avaliação técnica de um profissional competente”, defende. Naldo Bueno já viu uma montagem ser interrompida por questões de segurança e adverte que vê mais problemas com estruturas de palco feitas por empresas sem fornecimento de ART (Análise de Risco do Trabalho). “O profissional nem sempre tem o conhecimento para


Conheça o perfil dos profissionais Césio Lima O projetista é sócio da Lighting Productions LTDA, a LPL, e projetista de iluminação. Começou fazendo shows com músicos como Moraes Moreira e Milton Nascimento e hoje é diretor de fotografia na Rede Globo.

Elson de Lucas Oliveira Elson é o responsável da ProShows pelo suporte técnico e treinamento nos equipamentos da Avolites. Há sete anos trabalha com eventos, além de trabalhar como lighting designer, principalmente para bandas. Os trabalhos atuais não permitem que se dedique em tempo integral a uma banda, mas, eventualmente, trabalha como técnico substituto para artistas como Luiza Possi, Tulipa Ruiz e Daniel Boaventura. Também deu suporte técnico ou trabalhou como programador em festivais como o Lolapalloza 2013, Planeta Atlântida e Curitiba Country Festival, entre outros.

e shows musicais, onde já trabalhou com bandas como Titãs, Otto e Marina Lima. Além da atuação como lighting designer, coordena o curso de iluminação da SP Escola de Teatro.

Jamile Tormann Arquiteta formada, Jamile começou a trabalhar como iluminadora em Porto Alegre, com João Acir de Oliveira. Ela é projetista de iluminação com ampla atuação tanto em teatro – com diretores como Wolf Maia e Aderbal Freire Filho – e música, com Ed Motta, Cassia Eller e outros. Sócia fundadora de entidades ligadas à iluminação profissional, Jamile também trabalha como professora de iluminação cênica no Instituto de Pós-Graduação (IPOG). Também colaborou como colunista para a Revista Backstage.

Marcos Olívio Trabalhou em shows durante muito tempo. Hoje é sócio da Spectrun Design com Danny Nolan e Ludmila Machado. Por meio da empresa, Marcos Olívio trabalha no projeto de iluminação ou é diretor de fotografia em programas como Ídolos e Got Talent, gravações de DVDs e videoclipes. Marcos também foi coordenador técnico de iluminação do Rock in Rio 2011.

Naldo Bueno Sócio da KN Projetos, especialista em projetos de iluminação com LEDs e moving lights, Naldo atua como projetista de vários eventos importantes, como o Réveillon de Copacabana (2008 a 2011), TIM Festival (2003 a 2008) e muitos outros.

Luiz Nobre Paulo César Medeiros

Guilherme Bonfanti tem ampla experiência como lighting designer em teatro com os grupos TAPA, Teatro da Vertigem – no qual trabalha há mais de 20 anos - e com os diretores Oswaldo Gabrielli e Gabriel Villela, entre outros. Também faz iluminação em ópera, balé

Há 28 anos Luiz Nobre atua na área de iluminação para teatro, dança, show e exposições. Ele é sócio da empresa Confraria da Luz e um dos fundadores da Associação Brasileira de Iluminação Cênica (Abric). Em Curitiba – sua base de atuação – é um dos produtores do Manhãs Iluminadas, encontro internacional de tecnologia teatral que acontece durante o Festival de Teatro de Curitiba.

saber se um local ou estrutura estão aptos a receber uma determinada carga de pessoas empurrando uma grade, ou se uma estrutura do teto de um palco ou estádio está em condições de receber pesos de equipamentos a serem pendurados. Mas muitos já têm boa formação e condições de falar, ‘não, aqui eu não vou montar isso’. Em 2011, o engenheiro que cuida do Ginásio do Ibirapuera, quase suspendeu o show da Sade e não autorizou a montagem da iluminação no teto do ginásio. Foi preciso montar uma estrutura que saía do chão para fixar todos os equipamentos. Somente assim ele autorizou a

montagem”, conta. Para Paulo Cesar Medeiros, a vida dos técnicos deve estar acima de qualquer cronograma ou horário apertado de trabalho. “Hoje, vários teatros, principalmente em São Paulo, já exigem equipamento de segurança individual (EPI), mas ainda falta muito para que vire uma regra entre os próprios técnicos”, considera. Outra questão importante é o dialogo e a escrita da experiência dos nossos profissionais que estão em atividade. Não se conversa, não se discute, não se troca. Existe uma disputa velada pra ver quem faz mais projetos. Neste sentido existe

sim uma desunião muito grande. Quem vai saber, no futuro, como Peter Gasper trabalhava, como o Maneco Quinderé resolvia certas questões? Quem vai ter acesso a estes projetos? Isto tudo vai se perder no pó e nós continuaremos a começar tudo do zero”(Bonfanti).

Guilherme Bonfanti

Com atuação profissional desde os anos 1980, formado em direção teatral pela Uni Rio, do Rio de Janeiro, Paulo César tem ampla atuação nos musicais de Charles Möeller e Cláudio Botelho. É parceiro constante nas realizações dos diretores Bibi Ferreira, Márcio Vianna e Gilberto Gawronski e também já fez shows musicais com Maria Bethânia, Raphael Rabello e outros.

Para saber online www.lpl.com.br www.proshows.com.br www.spescoladeteatro.org.br www.jamiletormann.com www.luznobre.blogspot.com.br www.spectrundesign.com www.knprojetos.com.br www.itaucultural.org.br

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KARINA CARDOSO | REDACAO@BACKSTAGE.COM.BR

Jonas Maciel participa de diversos eventos no sul O álbum Pra todo mundo ouvir, de Jonas Maciel, continua trazendo bons frutos ao cantor. Jonas foi ao estúdio da Rádio Gospel FM de Curitiba e cantou uma das canções mais pedidas da rádio, a famosa Música do telefone (Boas Notícias). O sertanejo ainda permaneceu na região sul para mais uma turnê. Ele ainda passará pelas cidades de Joinville e Balneário Camboriú, no estado de Santa Catarina.

RACHEL MALAFAIA NO CELULAR Os sons de chamada das músicas Me ensina a confiar e De fé em fé, de Rachel Malafaia, estão disponíveis em mais uma loja virtual. Agora, por meio do aplicativo do IdeiasMusik, é possível escolher a música que toca para seus amigos enquanto não atende a ligação. As duas canções fazem parte do terceiro CD da cantora pela Central Gospel Music. O álbum completo De fé em fé também já pode ser baixado na loja virtual.

PROJETO GRÁFICO DO CD DE NANI AZEVEDO EM FINALIZAÇÃO Nani Azevedo está em ritmo acelerado na produção de seu sexto CD pela Central Gospel Music. Após a sessão de fotos, produzidas por Vlad Aguiar, o projeto gráfico do álbum já está na Agência Excellence em fase de finalização. A responsabilidade pela confecção da capa e do encarte do seu trabalho inédito ficou por conta de David Cerqueira. O título do próximo CD de Nani ainda não foi revelado, mas o lançamento está previsto para o início do segundo semestre de 2013.

THALLES ATINGE A MARCA DE 75 MIL CÓPIAS VENDIDAS O novo trabalho do cantor Thalles é, sem dúvida, um dos produtos mais aguardados pelo mercado fonográfico. Desde que foi anunciado, Sejam Cheios do Espírito Santo tem apresentado excelentes resultados e, mesmo antes de chegar às lojas, alcançou mais uma marca impressionante: a venda antecipada de 75 mil cópias, o que já garante a certificação de Disco de Ouro, concedida quando um CD atinge a marca de 40 mil cópias vendidas. Quando anunciado para pré-venda no iTunes, o álbum alcançou o segundo lugar na lista dos mais vendidos. Ao ser lançado oficialmente na loja virtual, foi além e alcançou a liderança em poucas horas, ficando na frente de títulos de grandes nomes da música nacional e internacional. Sejam cheios do Espírito Santo, desde o dia 10 de junho, está à venda em todas as lojas do país.

Kainón divulga clipe e novo CD O grupo Kainón acaba de divulgar o nome de seu novo projeto: Vai ter virada. O título diz respeito às novidades que a banda trará, através dos diversos ritmos reunidos no CD. Zicri, Jazinho, Zery e Joel, que compõem o quarteto, decidiram ousar com canções que mesclam o forró com o frevo, sertanejo, funk e reggae, sem deixar de

fora o ritmo baiano. A produção é de Wagner Carvalho pela Central Gospel Music. O grupo também acaba de finalizar as gravações de mais um clipe, da canção Oiapoque, produzido na Assembleia de Deus Ministério Kainón, em Jardim Catarina, São Gonçalo (RJ). A direção do clipe é do produtor Vlad Aguiar.

DESCONTO PARA A COMPRA DA BIOGRAFIA DO CANTOR THALLES Em parceria com a Graça Editorial, a GMusic está concedendo um desconto de R$ 5 para os fãs de Thalles adquirirem a biografia Olha o que Ele fez comigo, que tem lançamento previsto para agosto. Ao comprar o novo CD do cantor, Sejam Cheios do Espírito Santo, o cliente encontra um vale desconto, que faz parte do encarte do álbum. Depois, basta apresentá-lo na hora da compra do livro, em uma das lojas participantes da promoção. No livro, Thalles destaca sua trajetória de vida e a transformação feita pelo poder de Deus. Thalles ainda fala sobre o tempo em que esteve longe do caminho de Deus.


LILIAN MINISTRA CANÇÃO DO CD COLETÂNEA MULHER VITORIOSA A cantora Lilian esteve no programa Espaço Feminino, onde ministrou a canção Preciso de Ti Aqui, versão inédita da música Need you here, da banda australiana Hillsong United. O louvor faz parte do álbum Coletânea Mulher Vitoriosa, projeto produzido em comemoração ao Dia das Mães. O CD, lançado pela Gospel Music, é uma coleção de louvores nas vozes de renomadas cantoras da gravadora, como Eyshila, Jozyanne, Raquel Mello, Danielle Cristina, entre outras.

CD “Pai, você é 10” já foi para a fábrica Pai, Você é 10. O CD reúne 10 canções nas vozes de Bruna Karla, Marina de Oliveira, Fernanda Brum, Wilian Nascimento, Cristina Mel, Beatriz, Léa Mendonça, Anderson Freire, Flordelis e Regis Danese. Um dos destaques é a gravação de Regis Danese ao lado de sua filha Brendinha, numa interpretação da canção Amor de Pai.

DANIELLE RIZZUTTI GRAVA O PRIMEIRO CLIPE DO ÁLBUM MINHAS CANÇÕES Durante recente turnê no Rio de Janeiro, Danielle Rizzutti gravou o clipe da música Filme que passou, o primeiro do álbum Minhas Canções na Voz de Danielle Rizzutti. As cenas foram gravadas no cinema do Espaço Quality, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Filme que passou foi escolhida para ser a primeira música de trabalho do CD Minhas Canções. Com letras de autoria do Missionário R. R. Soares, o álbum reúne 12 faixas no melhor estilo louvor, com uma pitada de pop rock.

Gisele Nascimento lança CD pela MK O primeiro CD de Gisele Nascimento, O sonho não acabou, pela MK Music, já chegou da fábrica, marcando uma nova etapa na carreira da cantora. As canções foram compostas também por cantores da gravadora, como Anderson Freire, Gislaine & Mylena e Sérgio Marques, da dupla Sérgio Marques & Marquinhos.

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Lançamentos redacao@backstage.com.br

Histórias e Bicicletas Oficina G3 Após cinco anos sem lançar um álbum com músicas inéditas, a banda Oficina G3 surpreende e lança o CD Histórias e Bicicletas – Reflexões, Encontros e Esperança. A pré-produção foi feita no Brasil e a gravação foi em Londres, na Rak Studios, onde personalidades como Paul McCartney, Radiohead, Muse, The Smiths, Simply Red e Adele gravaram.

Profetizando a vida Léa Mendonça Léa Mendonça, que está comemorando 27 anos de ministério, acaba de lançar seu mais novo CD ao vivo: Profetizando a vida, pela MK Music. O CD, produzido pelo amigo da cantora Rogério Vieira, vai do ritmo pentecostal até baladas. O álbum possui algumas parcerias como as de Marcelo Dias & Fabiana, Gislaine & Mylena, Flordelis, Wilian Nascimento e Jairo Bonfim & Beatriz.

Amo Você Volume 19 O tradicional álbum romântico da MK Music chega a sua 19º edição, com grandes nomes da música gospel. Em um único CD, cantores como Wilian Nascimento, Bruna Karla, Anderson Freire, Léa Mendonça, Arianne, Jairo Bonfim, Cristina Mel e Ariely Bonatti trazem canções que prometem emocionar a todos. A primeira música de trabalho Beijo ao Altar, na voz de Wilian Nascimento, já estreou nas rádios com uma ótima repercussão.


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LUIZ CARLOS SÁ | www.backstage.com.br

alguma alma caridosa que me pusesse pra dentro. Altas horas, estrategicamente sentado na mesa externa de um boteco que ficava bem na saída do beco, eu conseguia ver meus músicos favoritos saindo do último set. Lembro-me até hoje das gargalhadas homéricas de Edson Machado, da elegante figura de Luiz Carlos Vinhas, sempre vestido com apuro, do sorriso gentil e da atenção que Luizinho Eça pacientemente dispensava mesmo aos fãs mais inconvenientes, do tímido – mas divertido – Johnny Alf, e de... Elis? Eu nunca conseguira ver Elis por ali. Aquelas boatezinhas não dispunham de nenhuma outra saída que resguardasse suas estrelas do encontro direto que fatalmente ocorreria lá pelas tantas. Porque então eu não conseguia enxergar lá do meu esconderijo pé-sujo o sorrisão da Elis, talvez quem sabe um traço daquelas mágicas axilas que

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A noite das

garrafadas

E

u tinha meus dezesseis anos e mal sabia meia dúzia de acordes, mas já me achava: vez por outra pegava o Usina-Copacabana e me mandava pro Beco das Garrafas, uma travessinha na rua Duvivier, apertada entre prédios residenciais que devia seu nome à ira dos moradores que atiravam garrafas rumo às cabeças de agitados notívagos. Reduto de pequenas boates egressas do bas-fond de Copacabana e promovidas a templos de bossa nova – o Little Club, o Bottle’s Bar e o Baccarat - o Beco era "o" lugar onde se apresentavam todos os monstros sagrados da época, em geral produzidos pela dupla Miéle-Boscoli. Mas qual porteiro deixaria minha óbvia cara espinhuda de adolescente entrar para assistir os shows de Tamba Trio, Baden & Vinícius, Simonal, Leny Andrade, Pery Ribeiro, Bossa Três, Os Cariocas, Nara, Elis & Jair, Marcos Valle, Baden Powell e todos os meus ídolos musicais da época? Depois de algumas tentativas sem sucesso, resignei-me a ouvir pedaços de sons que escapavam de dentro das casas quando os clientes entravam ou saíam. E lá ficava eu, esperançoso de encontrar

ela mostrava com tanto gosto ao “nadar” interpretando o “Arrastão” de Edu e Vinicius no Festival da Record? Para meus sonhos de compositor, o mundo estava sendo injusto: eu não tinha Elis naquelas madrugadas do Beco. O ano passou e minha vida mudou, principalmente no quesito mobilidade: aprovado no vestibular de Direito, ganhei um Renault Dauphine novinho em folha. Confiante como sempre nas minhas habilidades, meu pai deu-me o carro antes mesmo da carteira de habilitação, com a condição explícita de não sair fora dos limites tijucanos, que no caso em questão iam da praça Saens Peña à esquina de Uruguai com Conde de Bonfim. Claro que no primeiro fim de semana disponível transgredi a ordem paterna, meti meus cinco companheiros da Nouvelle Vague – nossa banda de bailinhos tijucanos - no pequeno Dauphine e parti com eles para a então longínqua Copacabana, sardinhas zona-norte em lata, ansiosos por mostrar nossas lustrosas escamas na zona sul-maravilha. Era uma aventura e tanto para um motorista inexperiente


LUIZCARLOSSA@UOL.COM.BR | LUIZCARLOSSA.BLOGSPOT.COM Foto: divulgação/ Internet

Dauphine: Elis saíra do Bottle’s e desfilava seu sorriso escancarado Duvivier afora... foi a conta. Enlevado pela visão de minha musa, atolei-me na traseira de um táxi parado em fila dupla. O estrépito de vidros quebrados parou o Beco, numa comoção geral. Vi-me imediatamente cercado por vários taxistas, movidos por aquele fantástico esprit de corps da categoria: - Salta fora aí, garoto! - Você tem carteira? - Caramba, não para de sair gente daí de dentro? - Aí, bateu na traseira, tem que pagar! - Vê se ele não bebeu! Deve estar bêbado! De algum jeito, cresci naquela hora e mantive a moral. Saquei do cartão de visitas do Nouvelle que nosso empresário me dera, falei um monte na orelha do taxista e consegui me safar com a turma antes que a polícia desse as caras. No dia seguinte o telefone tocou. Meu pai atendeu e pela cara dele percebi que muita água iria passar debaixo da ponte antes que eu pudesse por as mãos de novo

como eu: o túnel Rebouças ainda estava no papel e o trânsito no Rio já era um tanto caótico nos fins de semana infestados de bebuns errantes. Mas de um jeito ou de outro conseguimos chegar sãos e salvos. Estacionei o Dauphine e fomos à luta. O Beco estava especialmente fascinante naquele sábado, parecendo aberto à tietagem explícita que nós, garotos moldados por horas sem fim de incansável audição bossanovística, não resistíamos a exercer diante da passagem de nossos maiores ídolos vocais e instrumentais. E assim, entre ohs e ahs, aquela noite acabou por realmente assumir algo de mágico: nosso batera, por exemplo, deu um jeito de espremerse num balcão entre duas lendas da época, Dom-Um Romão e o já citado Edson Machado - então parte do Bossa Três, trio instrumental de referência na história dos 60 – e conversar uma boa hora sobre baquetas, peles e tambores; enquanto isso eu não perdia tempo e tratava de convencer, no mesmo boteco, dois ídolos particulares, Paulo Moura e Pedro Paulo, a juntarem seu badaladíssimo e experiente duo sax-trumpete ao Nouvelle Vague num baile importante que nosso empresário nos arranjara num grande clube do Grajaú. Parênteses: para minha surpresa, eles foram, tocaram tudo e fizeram desse baile no Grajaú uma noite inesquecível para meu currículo.... Saímos de lá na alta madruga, flutuando em nuvens de sonhos musicais realizados, mal acreditando que tínhamos passado por tudo aquilo. Manobrei o Dauphine, que estava estacionado na praia, e resolvi dar mais uma passada na Duvivier, quem sabe não conseguiríamos ver os lendários e belíssimos joelhos de Nara Leão entrando num táxi... Mas quem “entrou” num táxi fui eu. Acontece que ao passarmos justo em frente ao Beco, Mariozinho Pires, nosso baixista, gritou: - A Elis! Quem? Como? Instaurou-se o pandemônio dentro do

Elis saíra do Bottle’s e desfilava seu sorriso escancarado Duvivier afora... foi a conta. Enlevado pela visão de minha musa, atolei-me na traseira de um táxi parado no volante plástico do meu amado Dauphine. Mas nada no mundo poderia ofuscar minha vitória: eu teria Paulo Moura e Pedro Paulo tocando comigo no baile do Grajaú; eu vira Elis passar por uns bons vinte segundos; eu conseguira dominar uma situação extremamente adversa pela qual jamais sonhara passar; e antes de tudo, eu vivera – e levara meus amigos a viver – uma noite de glória no cobiçado, distante e visceral Beco das Garrafas.

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