Edição 248 - Julho 2015

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Sumário Ano. 22 - julho / 2015 - Nº 248

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Ipiabas Jazz & Blues

Superando as expectativas de público do ano passado, o Ipiabas Blues & Jazz Festival, que aconteceu entre os dias 4 e 7 de junho, em Barra do Piraí, cidade ao sul do estado do Rio de Janeiro, vem se consolidando como um dos principais eventos da música instrumental.

NESTA EDIÇÃO

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Nesta edição, trazemos uma entrevista com Andreas Schmidt, Diretor Técnico que iniciou sua carreira há 23 anos no mercado de eventos, assinando a produção de grandes projetos e festivais. Em 2005, Schmidt criou a AUDIO BIZZ onde conseguiu trazer grandes profissionais para unir à sua expertise. Em seu portfólio, trabalhos como Lollapalooza e Tomorrowland.

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Vitrine O KW8 Owl, da Gobos, é um moving head de áudio ativo, com falante coaxial de 8" equipado com câmera que permite aos usuários controlar com precisão a diretividade do som. Batizado carinhosamente de Coruja (Owl), o KW8 fornece até 500W de potência.

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Rápidas e Rasteiras Durante a Convenção da AES Brasil, a Yamaha convidou alguns profissionais de áudio para a primeira demostração (ainda em protótipo) do console de mixagem digital Rivage.

22 Gustavo Victorino Confira as notícias mais quentes dos bastidores do mercado.

24 Play Rec A banda Vespas Mandarinas lança O Ovo Enjaulado, trabalho que conta com duas faixas para experimentar novas formações e estilos enquanto o grupo não grava novo álbum.

26 Digico S21 Usando novos componentes FPGA, a um menor custo, programado com os mesmos algoritmos de áudio, e combinado com uma nova forma de processador de controle, a S21 oferece os valores tecnológicos e um novo processador ARM QuadCore RISC.

28 Gigplace Nesta série de entrevistas em que conversamos com profissionais que atuam nos bastidores dos shows ou de produções, trazemos este mês a profissão de Drumtech, e o entrevistado é Léo Soares.

34 Casa da Música Estúdio Tenda da Raposa se destaca na produção de discos independentes e na criação de novas alternativas para gravações no Rio de Janeiro.

80 Vida de Artista Quem anda por essas estradas do pais já se deparou com pelo menos alguma cena que mais parecia ter saído de um quadro surrealista de Dalí. Foi o que aconteceu em mais uma aventura do colunista, dessa vez no sertão brasileiro.


Expediente

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Inventário de segredos

A produção teatral Inventário de Segredos, uniu no teatro Sesc Senac de Fortaleza um grupo heterogêneo de atores e profissionais do Brasil afora. Ao criar a concepção do design de luz, o objetivo era oferecer o máximo possível de área de controle e cores (mood) para o diretor, tendo em vista que o espaço não seria numa abordagem padrão de palco italiano.

CADERNO TECNOLOGIA 50 Tecnologia Com foco no segundo semestre de 2015, a Roland traz o JD-XA, mantendo a mesma abordagem empregada no JD-Xi, porém oferecendo muito mais poder sonoro que o encontrado em seu primogênito.

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Pro Tools Confira todos os estágios e técnicas relacionadas à gravação de áudio e MIDI e confirme se há algum recurso que pode ser incorporado para acelerar ou simplificar o seu trabalho.

58 Ableton A Ableton lançou o Live Suite acompanhado de “duas pérolas”, dois Sampler plug-ins que são realmente incríveis apesar do seu visual Low Profile. O Simpler é uma versão simples de Sampler Player que vem nos pacotes.

62 Estúdio Em uma mixagem, o objetivo, a princípio, é obter um som mais claro e nítido possível. Isso não quer dizer que o som tenha que ser “clean” sem nenhuma sujeira ou distorção.

CADERNO ILUMINAÇÃO 66 Vitrine A luminária LED RGB da ETC conta com um diferencial: a adição da cor lima, que proporciona uma paleta mais vibrante e rica em cores. Também é de fácil operação, com ferramentas de mistura de cores RGB simples e diretas. Confira esse e outros lançamentos.

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Design de iluminação Será que os projetos de iluminação cênica têm ‘Design’, de maneira a comunicarem as mensagens adequadamente? Primeiramente, veja o que os projetos proporcionam.

Diretor Nelson Cardoso nelson@backstage.com.br Gerente administrativa Stella Walliter stella@backstage.com.br Financeiro adm@backstage.com.br Coordenadora de redação Danielli Marinho redacao@backstage.com.br Revisão Heloisa Brum Tradução Fernando Castro Reportagem: Luiz de Urjaiis e Ricardo Schott Colunistas Cezar Galhart, Cristiano Moura, Gustavo Victorino, Jorge Pescara, Lika Meinberg, Luciano Freitas, Luiz Carlos Sá, Marcello Dalla, Ricardo Mendes e Vera Medina Edição de Arte / Diagramação Leandro J. Nazário arte@backstage.com.br Projeto Gráfico / Capa Leandro J. Nazário Foto: Ernani Matos / Divulgação Publicidade / Anúncios PABX: (21) 3627-7945 arte@backstage.com.br Webdesigner / Multimídia Leonardo C. Costa multimidia@backstage.com.br Assinaturas Maristella Alves PABX: (21) 3627-7945 assinaturas@backstage.com.br Coordenador de Circulação Ernani Matos ernani@backstage.com.br Assistente de Circulação Adilson Santiago Crítica broncalivre@backstage.com.br Backstage é uma publicação da editora H.Sheldon Serviços de Marketing Ltda. Rua Iriquitiá, 392 - Taquara - Jacarepaguá Rio de Janeiro -RJ - CEP: 22730-150 Tel./fax:(21) 3627-7945 / 2440-4549 CNPJ. 29.418.852/0001-85 Distribuída pela DINAP Ltda. Distribuidora Nacional de Publicações, Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, 1678 Cep. 06045-390 - São Paulo - SP Tel.: (11) 3789-1628 CNPJ. 03.555.225/0001-00 Os artigos e matérias assinadas são de responsabilidade dos autores. É permitida a reprodução desde que seja citada a fonte e que nos seja enviada cópia do material. A revista não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios veiculados.


Precisamos

atravessar o deserto sem perder as conquistas

N

o mês de junho foi publicado em um estudo uma informação da qual já se suspeitava. A economia do Brasil não deve crescer nas próximas décadas. De acordo com uma pesquisa da EIU, uma espécie de unidade inteligente da revista britânica The Economist, o Brasil deverá permanecer como sétima economia do mundo pelo menos até 2050. No entanto, ainda de acordo com a publicação, embora o país fique estagnado no ranking, o PIB passará de US$2 trilhões para um pouco mais de US$ 10 trilhões nesse período.

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CARTA AO LEITOR | www.backstage.com.br

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Essa é a tal da notícia boa e má ao mesmo tempo. Em quatro décadas deveremos estar exatamente no mesmo lugar em que estamos hoje, porém ainda como uma das grandes economias do mundo. A informação pode até soar como um paradoxo, tendo em vista que alguns países já começam a dar sinais de que estão saindo da crise e o Brasil parece ainda estar no começo dela. O ano de 2014 e começo de 2015, especialmente, mostraram que os ventos ainda provocam turbulências no mercado, sem previsão certa de quando vão se acalmar. Tal como no meio de uma tempestade de areia, o mercado ainda está sem conseguir enxergar adiante e a muralha de poeira continua avançando sobre os ânimos. No entanto, tal como qualquer tempestade, a certeza é que uma hora cessará. O que se deve estar atento é justamente na maneira como se vai atravessar essa tempestade e em que condições se chegará ao outro lado. O desafio é atravessar a crise com a menor perda possível do que já foi conquistado. E isso implica em se reinventar, em alguns casos. Nunca a criatividade foi tão bem-vinda e a adaptabilidade foi tão desejada às empresas como nos últimos anos e mais ainda nos últimos meses. E quando se diz criatividade está implícita a forma de se expressar para o seu públicoalvo. Pois mostrar certa mudança de rumo, por exemplo, não indica fraqueza, mas comunicar essa mudança é imprescindível para gerar conforto à outra parte. Boa leitura. Danielli Marinho

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AKG DMM8 U E DMM14 U www.harman.com Os novos modelos DMM8 U e DMM14 U são ideais para eventos como reuniões e conferências. Esses equipamentos oferecem um sistema funcional avançado de DSP, múltiplas opções de rotação e grande versatilidade. Os dois modelos possuem DSP interno que asseguram uma mixagem precisa para 80 e 140 canais, respectivamente. As saídas de áudio estéreo e as conexões USB oferecem opções de rotação para ambos os modelos. Numerosas funções como filtros EQ, compressores e limitadores fazem do DMM8 e DMM14 ideais para uma grande variedade de aplicações para vozes.

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KW8 OWL www.gobos.com.br O KW8 Owl é um moving head de áudio ativo, com falante coaxial de 8" equipado com câmera que permite aos usuários controlar com precisão a diretividade do som. Batizado carinhosamente de Coruja (Owl), o KW8 fornece até 500W de potência, 120dB SPL e faixa de frequência de 60Hz a 19kHz. É a solução perfeita para uma variedade de aplicações, incluindo monitoramento de palco ao vivo. Indicado para diversas instalações como parques temáticos, aeroportos, estações de trem, canais de segurança CCTV, efeitos de DJ, lojas, discotecas, cinemas, teatros e emissoras de TV, a flexibilidade da Coruja permite um número quase ilimitado de soluções e, em alguns casos, pode reduzir a quantidade de caixas acústicas necessárias para uma instalação.

X18 E XR18 www.proshows.com.br A Behringer mudou completamente o jogo ao repensar o que seria possível fazer a partir de um único mixer digital e apresentar a X32 ao mundo do áudio, um console do qual seus usuários estão desfrutando de seus benefícios até hoje. Agora a empresa alemã avança mais um passo, lançando a linha XAir. Essa linha consiste em pequenas unidades de mixagem que irão mudar para sempre a maneira como seus usuários gravam em seus estúdios e como tocam suas músicas ao vivo. Os consoles podem ser carregados até dentro de uma mochila. Pois é isso mesmo: a Behringer adicionou a praticidade aos detalhes principais destes consoles e os tornou portáteis. Mas o tamanho não é problema, porque mesmo sendo menores, eles integram todos os poderosos recursos de complexos sistemas como a própria X32. E agora os usuários também ganham a vantagem de poder controlá-los via tablets, notebooks ou seus smartphones.


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CONTROLADOR SAMSON MD13

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http://www.equipo.com.br O controlador Samson Graphite MD13 torna a produção musical e aplicações ao vivo acessível para qualquer um. O Graphite MD13 apresenta 13 pads sensíveis à velocidade e, além disso, oferece seis botões de parâmetros, um crossfader DJ e uma variedade de outros controles programáveis. Com sua operação plug and play e carregamento via USB, o MD13 torna mais fácil tirar o máximo proveito do seu software de produção musical no estúdio e ir mais além. Entre as características, podemos destacar: 8 Canais com Faders deslizantes, 8 Controles giratórios, 8 Botões Mute, Rec e Solo, 5 Botões de Função endereçáveis, 1 Crossfader deslizante e 5 Opções de programação pré definida ou personalizáveis.

AMPLIFICADORES 10D E 30D www.dbaudio.com Lançados na InfoComm 2015, os novos produtos da d&b audiotechnik, o 10D e 30D são os primeiros amplificadores adaptados para integração permanente. Eles oferecem resultados previsíveis, com características e custos sob medida para aplicações de instalação. O 10D e o 30D entregam 700 W e 1600 W por canal, respectivamente; compartilham da mesma plataforma Digital Signal Processing (DSP) e capacidades como o amplificador D20 e o D80. Estes amplificadores além de ter funções de filtro comutável, incorporam dois equalizadores de 16 bandas. Para garantir a perfeita integração com instalações permanentes existentes, o 10D e o 30D oferecem cinco pinos de entrada / saída programáveis, ou seja, dispositivos externos que podem ser usados para funções de controle ou de detecção. Eles fornecem quatro entradas AES / EBU digitais, as quais podem ser somadas e encaminhadas para qualquer uma das quatro saídas. Esta matriz de entrada estendida permite que todas as oito entradas possam ser usadas simultaneamente.


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TRÊS SISTEMAS ILIVE INSTALADOS EM IGREJA NA INDONÉSIA

A igreja GBI Gilgal PIK, localizada no norte de Jacarta, na Indonésia, instalou os sistemas Allen&Heath iLive-T112, iLiveT80 e iLive-R72 e um sistema de monitoramento personalizado ME. Kairos Multijaya, responsável pela instalação dos equipamentos de áudio, video e iluminação. Os 4 mil m2 do prédio incluem o santuário principal, com mil assentos; um hall para 400 pessoas, bem como outras salas. O iLive-T80 foi selecionado para o espaço de 400 lugares, enquanto o T112 e um sistema mix rack iDR-64 foram instalados no santuário principal, junto com 5 mixers ME-1. Um terceiro sistema iLive, o R72 ficou disponível para ser usado nas outras salas.

JBL VTX NA ARENA MONTERREY Um dos maiores nomes da música Latina, Romeo Santos, conhecido por seu esforço em popularizar o gênero latino, reunindo diversos representantes desse estilo de música em concertos pelos Estados Unidos e América Latina, teve recentemente a tour sonorizada pelo sistema VTX V25, da Harman, e os amplificadores Crown I-Tech HD Series, na Arena Monterrey, no Mexico. Foi um total de 48 JBL VTX V25 elementos de line array dispostos de ambos os lados em quatro clusters de oito cada. Além disso, 24 VTX G28 subwoofers foram dispostos em volta do palco e 12 alto-falantes VTX V20 usados para o front fill. Os altofalantes foram comandados por amplificadores incluindo 16 sistemas Crown Vrack.

RIVAGE NO BRASIL

No dia 27 de maio, durante a Convenção da AES Brasil, a Yamaha convidou alguns profissionais de áudio para a primeira demostração (ainda em protótipo) do console de mixagem digital Rivage. O evento aconteceu na sede da empresa, na Vila Olimpia (SP). Na foto, a primeira turma a conhecer o console: António Lazzaro, Marcio “Batata”, Bruno Campregher, Ricardo Sá e Cristhiano Andrade.

KUARUP REEDITA DOIS ÁLBUNS DE IVAN LINS Cantor, pianista e compositor, Ivan Lins comemora 70 anos em 2015, mesmo ano em que também são festejados seus 50 anos de música, 45 de carreira e 40 de parceria com Vitor Martins. É nesse momento ímpar que a gravadora Kuarup lança em CD dois discos do artista, que foram gravados na década de 70. Trata-se dos álbuns Modo Livre (1974) e Chama Acesa (1975), respectivamente, quarto e quinto registros da carreira do artista, ambos lançados pela RCA com produção assinada por Raymundo Bittencourt. O primeiro traz arranjos do maestro Arthur Verocai e no segundo, os arranjos são do próprio Ivan Lins, junto com a banda Modo Livre. Os trabalhos são registros memoráveis da sólida carreira de Ivan Lins e marcam uma época na qual o trabalho dos grandes intérpretes, tinha como cúmplice o talento dos arranjadores e o virtuosismo dos músicos no estúdio e no palco.


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SISTEMA SEM FIO SHURE NA LATIN MUSIC AWARD 2015 Com uma programação embalada com apresentações grandiosas e únicas, diversas estreias e colaborações especiais, o Billboard Latin Music Awards 2015 teve a transmissão pelo sistema sem fio Shure, o que incluiu um conjunto abrangente, inovador e à prova de falhas da rede de gerenciamento sem fio Axient e tecnologia sem fio UHF-R de primeira classe. Dezoito canais de sistemas pessoais Shure PSM cuidaram de forma exclusiva de todos os canais de monitoramento in-ear. Mais de 200 microfones Shure com fio também foram utilizados ao longo de toda a noite, entre eles: microfones SM, BETA, KSM e outros.

Sistema iLive na turnê de Morrissey

David Millward

A SSE, empresa de locação do Reino Unido, está fornecendo o sistema modular digital iLive, da Allen&Heath, para as turnês de verão dos artistas Paolo Nutrini e Morrissey. Este último vai se apresentar por 4 noites na Sydney Opera House. Já Paolo Nutrini faz shows em diversos locais e datas pela Europa. O sistema de monitor para a turnê de Nutrini é composto de um mix rack iDR10, uma iLive 112, com controles PL 10 adicionais, e ainda um ME-1 para controle remoto das funções. Nos shows de Morrissey, a iLive vai comandar tanto FOH quanto o monitor. O engenheiro de PA de Morrissey, David Millward vai contar com um mix rack iDR10 e uma iLive-80. www.allen-heath.com

O RETORNO D’A COR DO SOM A clássica banda A Cor do Som está preparando novo material e um novo show para marcar o retorno aos palcos. O grupo, que foi pioneiro na fusão de ritmos brasileiros, estará de volta à cena na sua formação original. Formado por Mú nos teclados, Dadi no baixo e guitarra, Armandinho na guitarra, bandolim e guitarra baiana, Gustavo Schroeter na bateria, e Ary Dias na percussão, o grupo nasceu em 1977 experimentando novos padrões de som, introduzindo instrumentos elétri-

cos na instrumentação tradicionalmente acústica do chorinho, além de misturar rock com ritmos regionais e música clássica. Desta vez, a banda conta com a produção executiva de Marcelo Reis, diretor da empresa MusicBuzz, que possui vasta experiência no mercado do entretenimento.


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Avid na AES Brasil 2015 Durante a AES Brasil Expo 2015, que aconteceu nos dias 26, 27 e 28 de maio, a Avid demonstrou no estande da Quanta Live e Quanta AV-Pro, marcas de unidade de negócios da Quanta Brasil – distribuidor da Avid no país –, a mais recente versão da DAW padrão da indústria, o Pro Tools Venue S6L 12, os sistemas de controle Pro Tools | S3, Pro Tools | S6 e Artist | Transport, a já conhecida interface Pro Tools | HDX, a nova interface de áudio Pro Tools | Quartet e os sistemas de mixagem de som ao vivo VENUE | Mix Rack, VENUE | S3L-X e VENUE | S6L o mais recente lançamento da empresa. Com demonstrações realizadas por especialistas de soluções da Avid e da Quanta, os visitantes, muitos já usuários dos produtos da empresa, puderam ver de perto como a Avid redefiniu a produção de áudio e iniciou de forma pioneira um novo patamar do som ao vivo. Um dos maiores destaques da Avid foi o mais recente lançamento da Técnicos de PA Marcelo Félix, Kalunga e Thiago empresa, o sistema de mixagem de som ao vivo VENUE | S6L com demonstrações de Robert Scovill, renomado engenheiro de som e especialista de mercado da Avid nos Estados Unidos, que além das apresentações no estande ministrou também uma palestra no Congresso AES. Nas demonstrações da S6L o público contou ainda com o suporte de Kalunga, engenheiro de som da cantora Ivete Sangalo e especialista de produto da Quanta Live; e de Ricardo “Rocoto” Mantini, especialista de soluções da Avid para América Latina. Para demonstrações das soluções de produção de áudio – como o sistema Pro Tools | S3 e Pro Tools | S6 –, os visitantes contaram com Raul Barroso, músico e especialista de produtos da Quanta; Eduardo Andrade, produtor e especialista de soluções da Avid; e um dos criadores do sistema Pro Tools | S6, Rich Nevens, produtor e especialista sênior de soluções da Avid.

GLD NO FESTIVAL SLAM DUNK Recentemente, o estúdio Reel Recording Studio usou o mixer digital Allen&Heath GLD Chrome para gravação do palco principal do Festival Slam Dunk, em Leeds. A mixer também foi usada para comandar da house o Festival Download, em Donington. Além da mixer, o Reel também levou os racks de expansão I/O AR 2412 e AR 84 com a banda Young Guns. O sistema também foi servido com uma rede protocolo Dante a fim e permitir as gravações multipistas. www.allen-heath.com


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GUSTAVO VICTORINO | www.backstage.com.br 22

deu ar sombrio e gótico aos seus discos e às suas participações como convidado em trabalhos de algumas das melhores bandas europeias. Foi assumidamente fã de rock pesado e ao mesmo idolatrado pelos artistas que fazem o gênero.

ENCRENCA

PRÊMIO AÇORIANOS

Quando alguém vai se movimentar e lutar pela redução da carga tributária sobre instrumentos musicais no Brasil? O segmento produz cultura de consumo massificado e é um dos mais diversificados e tecnicamente ricos do mundo. Propostas surgem de forma meteórica e do mesmo modo desaparecem sem que ninguém empunhe a bandeira dessa desoneração. Tá faltando o quê para os líderes do segmento se mexerem?

Novamente convocado para o júri da mais importante premiação musical do sul do país, me sinto particularmente um privilegiado pela indicação. Nessa hora vem a responsabilidade de avaliar centenas de trabalhos dos melhores artistas do RS, e tudo isso associado a um sentimento de orgulho e o desejo íntimo de fazer justiça a quem de direito. Que Deus me ilumine.

LIQUIDEZ A inadimplência e a falta de liquidez que atingem o mercado se tornaram motivo de preocupação para importadores e fabricantes. Alguns comerciantes menos cautelosos apostam em fatores subjetivos ou pressupostos históricos para peitar uma crise que está levando muita gente à recuperação judicial. E os dados estatísticos são devastadores. Apenas uma de cada cinco empresas consegue sair viva desse processo.

HEAVY METAL FOREVER O ator inglês Christopher Lee morreu no mês passado e deixou um interessante legado musical. O artista sempre foi aficionado por heavy metal e em 2014, aos 92 anos de idade, lançou o seu terceiro disco solo. Usando a voz grave e gutural que o notabilizou como o melhor Drácula de todos os tempos, Lee

Com a liberação pelo STF das biografias não autorizadas, o horizonte de médio prazo promete muita encrenca para alguns artistas. Uma enxurrada desses trabalhos que dormiam em algumas gavetas, por medo de ações judiciais, deve chegar ao mercado muito em breve. E nem todas são elogiosas ou seguem a linha da homenagem. As ações por danos morais vão proliferar, mas a exceção da verdade vai deixar muita gente de saia justa. Para traduzir o juridiquês, narrar fatos reais e comprovados não configura dano moral judicializável. E tá cheio de gente por aí com medo do seu passado.

RIO DAS OSTRAS 2015 Mais dois nomes confirmados para um dos maiores festivais de jazz e blues do mundo. Rio das Ostras recebe em agosto o baterista Omar Hakim, um dos atuais expoentes do instrumento que assina seu nome em discos de Anita Baker, Sting, Weather Report, Mariah Carey, Madonna, David Bowie, Miles Davis, Chic, Everything but the Girl, Marcus Miller, Kazumi Watanabe, Daft Punk e Dire Straits. Outra atração é o trumpetista Roy Hargrove, ganhador de dois Grammys e parceiro de astros do jazz como Wynton Marsalis e Herbie Hancock. O Rio das Ostras Jazz & Blues acontece no litoral norte fluminense entre os dias 20 e 23 de agosto na paradisíaca cidade que dá nome ao evento.

EFÊMERO Nunca o sucesso foi tão superficial e rápido quanto nos dias de hoje. A cada dia vejo novos artistas que gravaram o megassucesso “sei lá o quê” que é vali-


GUSTAVO VICTORINO | VICTORINO@BACKSTAGE.COM.BR

dado por um monte de mentiras que invariavelmente vem depois da “notícia”. O inacreditável é que muitos apostam e até investem nisso. Dia desses li que uma banda de baile de SP cobra 200 mil por show e “é o maior sucesso” a ponto de não ter mais agenda. Fiquei curioso e fui conferir na internet. Tudo baboseira e respeitosamente afirmo que a banda é até bem fraquinha.

lentos, por aqui ele também desabou. E o Prêmio Multishow virou festinha carioca recebendo amigos. A Globo precisa dar uma mexida urgente na direção artística musical dos seus núcleos. Enquanto isso, o canal BIS (também da Globo), apesar das escorregadelas, segue flanando na liderança musical televisiva. Deve ser porque apenas toca música...

PREÇOS SOM PESADO O heavy metal sempre foi mais forte na Europa, mas o cenário parece ter se amplificado ainda mais com a efervescência cultural do leste europeu e a proliferação de festivais voltados aos amantes do gênero. Bandas da Escandinávia, Alemanha, Bélgica e leste da Europa vêm ganhando mais aficcionados e dominando os festivais da região. Os dinossauros oriundos da Inglaterra e da Califórnia puxam os eventos, mas não estão mais sozinhos no quesito atração para puxar público.

NOVIDADE Vem aí as caixas amplificadas da Borne construídas em madeira. Como o plástico injetado domina esse segmento do mercado, a empresa de Guarulhos quer abrir espaço para um produto com perfil sonoro diferenciado. É curiosidade a conferir, mas pelo histórico da empresa, tem tudo para também fazer sucesso.

A boataria na internet e a indignação dos consumidores precisa ter apenas um endereço... o governo federal. Comparar preços dos produtos à venda no Brasil com as lojas dos EUA ou Japão é de uma má fé surpreendente. A imoral carga tributária e o custo Brasil dimensionado pela corrupção, burocracia e logística jurássica tem origem exclusivamente no poder central. Atacar lojistas, importadores ou fabricantes é diversionismo maldoso. A ganância no segmento é rara e tópica. Tal como o consumidor, a grande e esmagadora maioria é vítima e não vilão.

GLOBALIZAÇÃO Nem todo o produto Made In USA é fabricado nos Estados Unidos... Nem todo o produto Made In Japan é feito no Japão... E nem todo o produto Made In Brazil é feito no Brasil. A isso chamamos de globalização tributária.

Avisei que a coisa tava mal. Apesar da boa proposta e do sucesso inicial, o programa Superstar, da Globo, já perdeu quase metade da audiência conquistada quando lançado. Do The Voice eu nem falo mais. Enquanto lá fora o formato mantém o sucesso e mostra curiosidades e ta-

As sentenças oriundas dos tribunais do trabalho pelo Brasil voltaram a infernizar a vida dos artistas e contratantes. Músicos que procuram amparo na lei geral estão encontrando procedência nas suas demandas e arrancando fortunas pela interpretação equivocada da lei nos casos oriundos de uma atividade tão atípica quanto a de músico profissional. Enquanto ninguém se tocar com isso e buscar uma legislação específica para a categoria, a coisa vai ser um circo dos horrores como presenciamos hoje. Se fizeram uma lei para as domésticas, porque não para os músicos?

BUÁAAAAA Nada vai definir tão bem o cenário atual quanto a Expomusic 2015, em São Paulo. Alguns vão aparecer para chorar as pitangas... Outros vão vender lenços.

SUPERBANDA O inquieto e doidão Ozzy Osborne não sossega e acaba de montar uma banda de tirar o fôlego. Em parceria com o seu ex-colega do Black Sabbath, o baixista Geezer Butler, Ozzy convocou os guitarristas Slash e Tom Morello (do Rage Against the Machine), para formar um mega grupo de rock. A banda vai se apresentar no festival Voodoo Music Experience, em Nova Orleans, nos EUA, em outubro.

DÚVIDA FALANTES

AUDIÊNCIA

LEGISLAÇÃO

Apesar do ataque chinês, os fabricantes brasileiros de alto-falantes sempre colocaram o Brasil no mapa mundial da qualidade nos seus produtos. O aumento das importações de alto-falantes de marcas famosas pode ser um indicativo de que isso está mudando. Queria saber porquê...

No meu programa diário na TV Pampa, de Porto Alegre, recebi um e-mail curioso: “Quem recebe os direitos autorais sobre as trilhas compostas para telejornais e programas televisivos em geral?”. Confesso que não sei nem se alguém recebe direitos autorais por isso. Mas muito executadas certamente essas trilhas são...

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PRESENTE Ronald Valle

Foto: Rafâe Silva / Divulgação

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DANIELLI MARINHO | REDACAO@BACKSTAGE.COM.BR

Depois das aventuras vocais com o grupo Céu da Boca na década de 80, do qual faziam parte Veronica Sabino, Paula Morelenbaum, Paulo Malagute, Chico Adnet, Maúcha Adnet, Dalmo Medeiros, Paulo Brandão, Rosa Lobo e Marcia Ruiz, com o qual fez dois discos e centenas de shows pelo Brasil, o cantor e compositor Ronald Valle retoma agora sua carreira artística de mais de três décadas com o lançamento do CD Presente. O disco traz canções autorais e co-autorais, com parceiros como Alfredo Karam, Mu Chebabi e Ale xandre Lemos, que revelam o ritmo alegre, as letras inteligentes, a variedade de estilos e o extremo cuidado nos arranjos e na produção fonográfica do próprio músico com o parceiro Fernando Morello, do Estúdio Órbita, no Rio de Janeiro. Como cantor, Ronald já gravou com mestres como Milton Nascimento, Edu Lobo, Chico Buarque, Nara Leão, Joyce e Cesar Camargo Mariano, e como compositor trabalha com criação e produção de trilhas sonoras pra publicidade, TV e cinema, tendo composições e arranjos gravados por Milton Nascimento, Paula Morelenbaum, Fernanda Takai e Coral Maluquinho.

O OVO ENJAULADO Vespas Mandarinas

AMOR EM PAZ Daniel Guedes e Mario Ulloa O duo foi formado como fruto do feliz encontro entre Mario Ulloa e Daniel Guedes no Festival de Música de Santa Catarina, em 2009, onde ambos eram professores. Desde então se sucederam convites para várias apresentações pelo Brasil, e o repertório foi sendo criado, em parceria, seja nos arranjos de Ulloa, nas transcrições propostas por Guedes, ou na livre criação entre ambos sobre músicas do repertório. O duo é, nessa formação, pioneiro no tratamento de músicas populares brasileiras com alto grau de elaboração, aliado ao toque improvisatório característico da música popular. Em Amor em Paz, um disco de câmara, violão e violino muitas vezes soam como um só instrumento. Do choro do Rio de Janeiro às tavernas ciganas da Hungria e Transilvânia, passando por composições inéditas, clássicos da MPB e até uma da “Chiquinha Gonzaga mexicana”, são quase 150 anos de música em 12 faixas. Como duo, Mario Ulloa e Daniel Guedes amadureceram e gravam este segundo CD ampliando a escolha de repertório e viajando um pouco mais no espaço e no tempo. Abrem com um ícone, Noites Cariocas de Jacob do Bandolim, e fecham com outro, Czardas, do napolitano Vittorio Monti. No meio, uma festa refinada para os ouvidos: Johnny Alf, Noel Rosa, duas vezes Tom & Vinicius, duas inéditas do Mario Ulloa, e um hit de Maria Grever, a primeira mulher do México a fazer sucesso como compositora.

O novo compacto em vinil do Vespas Mandarinas, O Ovo Enjaulado (Polysom) conta com duas faixas: A Man Without Qualities e Estrada Escura. Esse trabalho é uma espécie de ‘janela’, enquanto a banda não grava o novo álbum, para experimentar novas formações e estilos dentro do amplo universo de referências do rock. O proto-punk e a psicodelia deram o tom nas gravações. A Man Without Qualities, a faixa do lado A, é uma versão em inglês para Um Homem Sem Qualidades. De autoria de Thadeu Meneghini e Adalberto Rabelo Filho, este também responsável pela versão em inglês. A faixa conta com a participação especialíssima de Mark Arm, vocalista da banda norte-americana Mudhoney, no vocal. Mark foi um dos responsáveis pelo embrião do movimento grunge, que teve seu ápice nos anos 90 e reconhecimento internacional através de bandas como Nirvana e Pearl Jam. Estrada Escura é uma canção escrita por Taciana Barros (Gang 90/Solano Star) e Michel Kuaker (Yo Ho Delic). A faixa evoca uma espécie de elo perdido no rock paulistano/brasileiro. A capa escolhida para o compacto é um capítulo à parte. O desenho criado pelo artista Theo Castilho - punk de nascença e criador de uma das casas de punk rock mais emblemáticas de São Paulo, o já extinto Carbono 14 - representa de maneira quase exata a intersecção dos dois universos citados no início: o proto-punk e a psicodelia. A direção de arte é assinada por Taciana Barros.


DANIELLI MARINHO | REDACAO@BACKSTAGE.COM.BR

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LEITURA DINÂMICA| www.backstage.com.br 26 Desde a sua fundação, em 2002, a DiGiCo vem buscando inovar e entregar para o usuário uma tecnologia que preze a flexibilidade e a qualidade de áudio. No entanto, duas inovações sempre vêm à mente quando nos referimos à marca: o fato da Digico ter sido o primeiro fabricante de console a usar a tecnologia TFT e a pioneira em abraçar a tecnologia FPGA, ou Stealth Processamento Digital, para substituir o DSP como o principal processador de áudio.

DiGi redacao@backstage.com.br Fotos: Divulgação

A

tecnologia SDP tem sido fundamental nos consoles da série SD. A crença de que o desenho da DiGiCo tem limitado a sua capacidade de lançar um produto introdutório acessível, fez com que a marca passasse a pensar em uma nova forma de projeto, sem seguir tendências, e entregar um produto carro-chefe e que mudasse as expectativas do mercado. Com a S21, a DiGiCo faz exatamente isso. Usando novos componentes FPGA, a um menor custo, programado com os mesmos algoritmos de áudio, e combinado com uma nova forma de pro-

cessador de controle, a S21 oferece os valores tecnológicos e um novo processador ARM QuadCore RISC. Com isso, o equipamento é capaz de entregar um processamento mais rápido com menor consumo de energia. Essa ferramenta eficiente, combinada com o núcleo de áudio, tem permitido o desenvolvimento de um custo eficaz. Usando a alta potência QuadCore SoC, associada à memória de alta largura de banda, a S21 se conecta a um baixo consumo de energia matriz FPGA 484-ball que, por sua vez, se conecta ao controle de quarta gera-


acontece sob a superfície de trabalho de poli carbonato.

DUAS TELAS As telas de toque agora fazem parte do cotidiano de qualquer técnico e a DiGiCo já vinha incorporado-as em projetos já em 1997. Com as vantagens de velocidade de controle e feedback do usuário, significa que a S21 tinha que flexibilizar as regras novamente. Nesse modelo, foram utilizadas as P-PAC - telas multi-touch para feedback com visual claro e controle por gestos. O design compacto de tela dupla da S21 fornece ainda 10 faixas de

quer momento, como permite que o usuário utilize um como uma configuração ou na tela principal, enquanto continua a operar com o outro. Na tela de toque do EQ é possível tocar e arrastar, ou para uma experiência mais tátil usar os encoders rotativos para ajustar as suas frequências, pressionando para mudar de função ou ligar / desligar. É a mesma filosofia para todas as outras funções de processamento dentro do console. A S21 vem ainda com o DMI (DiGiCo Interface multicanais), duplo slots para cartões de opção,

S21 Co ção SHARC DSP, capaz de não apenas controlar o FPGA, mas oferecer o potencial suficiente para processamento adicional no futuro. O tamanho compacto do S21, por exemplo, não tem nenhuma relação com a escala de poder de processamento que

canais, por tela, permitindo que o operador dê feedback instantâneo e controle em 20 canais simultâneos, proporcionando total confiança quando o engenheiro está fazendo a mix de grandes shows. O legal de ter duas telas é que não só dá para ver mais canais em qual-

perfeito para expansão, uma vez que pode fazer interface com formatos MADI, Dante, Optocore, Waves SoundGrid, ou Hydra 2 A Rede da Calrec. Quando o engenheiro de áudio está na frente de uma S21, ele sente-se extremamente atraído a controlar o áudio. A partir do alumínio aeroespacial, das sobreposições de poli carbonato durável, a tecnologia LED RGB embutida Til Lit juntamente com faders / encoders sensíveis ao toque e LED integrado à barra de luz, é possível saber que se trata de uma DiGiCo antes mesmo de ligar o PA. E a S21 redefine as expectativas da indústria.

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Profissões do

‘backstage’ LÉO SOARES DRUMTECH Nesta série de entrevistas em que conversamos com profissionais que atuam nos bastidores dos shows ou de produções, trazemos este mês a profissão de Drumtech, e o entrevistado é Léo Soares.

redacao@backstage.com.br Fotos: Arquivo Pessoal / Divulgação

L

éo, o que você fazia antes de trabalhar com shows e qual a sua formação? Eu era um garoto que tinha como sonho ser o maior baterista do mundo, mas por ironia do destino acabei parando atrás dos melhores bateristas do mundo. Desde criança sempre fiquei envolvido com música, garimpava todos os discos de rock progressivo do meu pai e tentava saber através de revistas da época as suas histórias. Os únicos trabalhos que tive fora da música foram um aos 14 anos no McDonalds, que não durou nem 2 dias, e, em um período que estava desiludido com a música, de garçom em um barzi-

nho em Pinheiros. Claro que com meu charme me tornei gerente logo após o gerente ter pedido as contas (risos). Minha formação veio de poucas aulas teóricas de bateria e muito tempo gasto em uma fruteira somado a um sofá com um par de agulhas de tricô (autodidata mesmo). Com relação ao campo de shows, tive formação de áudio trabalhando por um curto período para a empresa Gabisom, onde tive uma dupla de grandes professores que me ensinaram tudo sobre áudio: Fernandão e José Luiz Carrato. Agora, com relação a ser Drumtech, o meu maior professor - que com


certeza nem imagina que sou um grande fã dele - foi o Kichi, exDrumtech do Sepultura e outros. Sempre pedimos aos nossos entrevistados que descrevam a sua profissão. O que faz um Drumtech e qual a diferença entre essa função e a de roadie como conhecemos em geral? Um bom Drumtech tem que ter conhecimento principalmente em afinação, luthieria, manutenção em geral, pois você nunca sabe em qual momento as suas habilidades serão testadas. A grande diferença entre ser Drumtech e ser Roadie é que o Roadie obrigatoriamente tem que saber lidar com todos os instrumentos e por ventura montá-los, enquanto o Drumtech é especializado somente em baterias. Existem muitos profissionais no mercado que são excelentes Roadies, mas que se auto denominam Drumtechs. É basicamente um erro de nomenclatura, pois no final das contas as duas funções acabam a noite empurrando cases. Como foi seu início no backstage e quais aquelas pessoas que fizeram a diferença quando você iniciou na área? Meu início foi como quase o de todos, foi mais amador do que tudo. Eu tinha de 14 para 15 anos quando comecei a trabalhar esporadicamente com o baterista Rubens Barsotti, e era uma grande fonte de ensino, pois ele praticamente me criou nesse meio. Me ensinou desde postura, metodologia de trabalho e, o principal, aparência do instrumento, até de como negociar um cachê. Mas o pagamento com ele era poder usufruir da sua bateria na qual eu ensaiava. Mas acho que ele não me ensinou tão bem assim a negociar cachê, não acham? (risos). As pessoas que fizeram diferença foram praticamente todas com as

quais trabalhei, é quase que humanamente impossível dizer quem foram e o diferencial que fizeram na minha carreira, pois eu continuo aprendendo e me espelhando até hoje em todos com quem trabalho. Ainda sobre o meu início de carreira, existe um fato que preciso dividir com vocês. Na primeira vez em que montei uma bateria para um show, o bumbo começou a andar e, como o novato aqui não sabia o que fazer, sentei na frente do bumbo e passei quase 20 minutos desfrutando do melhor Jazz na posição mais privilegiada, que é na frente do bumbo. Muitos podem achar estranho, o bumbo de um baterista de Jazz andar, mas tinham momentos e fraseados em que o Rubens sentava o pé no bumbo. Como foi o seu primeiro cachê, qual a sensação de receber para fazer algo que gosta? Foi naquele momento você entendeu que faria daquele trabalho o seu ganha-pão? Meu primeiro cachê não tem nem como esquecer, pois metade dele ficou com o cara que arrumou o show pra mim. Trágico, não? Foi com a banda Os Incríveis, que me pagou o equivalente hoje a R$ 30.

Desculpem-me, mas como sou velho não faço a mínima ideia de qual moeda era usada na época. E a sensação foi de alegria plena, pois eu tinha realizado um péssimo trabalho e ainda recebi por isso! Mas o mais legal de tudo foi poder saber que a partir daquele dia eu poderia cobrar mais caro cada vez que evoluísse. O mais engraçado era ver pessoas do nosso meio que ganhavam até 10 vezes mais do que eu, e eu tinha certeza que um dia chegaria no nível deles, e acho que cheguei, não? A partir do primeiro cachê, você deve ter trabalhado para vários artistas e bandas, sei que a lista deve ser grande. Mas quais foram mais marcantes para você e por quê? É necessária mesmo essa pergunta? (risos). Vai ter músico que vai ler isso e vai perguntar porque seu nome não está nessa resposta. Bom, acho que as bandas mais marcantes na minha vida foram Os Incríveis, pelo fato de eu trabalhar com uma lenda viva brasileira, que é o Netinho, e pelo fato de que foi onde tive as minhas primeiras roubadas! Agora, prazer de trabalhar, tive com quase todas,

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Meu primeiro trabalho como roadie de guitarra em nível profissional foi com o grande Luiz Carlini, imaginem quantos puxões de orelha eu tomei. E na minha lista de guitarristas, tenho vários outros nomes com os quais já trabalhei como técnico de guitarra, aliás poucas pessoas sabem, mas eu também fui roadie de cavaco na banda de pagode Katinguelé.

pois algumas me deixaram más lembranças, como a banda Gueto, na qual realizei alguns shows e eles nunca me pagaram, e pior: ainda emprestei dinheiro para eles. Uma outra banda que me marcou muito foi o Capital Inicial, não só por todos os anos que estive lá, mas também por ser a banda onde quase morri, quando um palco desabou sobre minha cabeça, ferindo outros companheiros que lá estavam. Caraca, só citei desgraça! (risos). Bom, vamos falar de coisa boa. Outra banda que tenho um grande carinho é o NX Zero, onde realizei a minha primeira tour fora do Brasil (foram só quatro shows, não é bem uma tour, mas para mim valeu como uma), e no momento o Motörhead, onde estou tendo experiências não só de trabalho, mas também de vida, e também pelo fato de ser fã dos caras! Sempre solicitamos ao entrevistado um resumo da carreira para elaborarmos as perguntas da entrevista, e neste resumo sempre aparecem surpresas. Você sempre trabalhou com baterias, mas como foi essa história de ser iluminador, e roadie de cordas por um tempo? Conte sobre essas fases. (Risos) Desenterrar passado é a mesma coisa que ligar para a ex-namorada. Nunca é legal, e sempre dá vergonha! (que meus amigos iluminadores não fiquem bravos). A história de ter sido iluminador foi muito breve, pois eu tinha ido com o José Luiz Carrato fazer um evento no finado bar Columbia para uma cantora estrangeira, estava indo como assistente dele, não me lembro como, mas em um certo momento eu estava dentro da cabine do iluminador operando as luzes do evento! O dono do Columbia, que na minha opinião devia estar mais chapado do que qualquer coisa, gostou do meu pisca-pisca de luzes e me contratou para fazer iluminação nos shows que haveriam no Columbia. Agora me façam uma pergunta: vocês acham que eu subia em escada e afinei alguma lâmpada PAR? Quem me co-

nhece sabe que eu odeio subir em escadas altas. Como roadie de cordas, este é um outro lado do qual gosto muito de praticar e, por incrível que pareça, meu primeiro instrumento não foi uma bateria e sim um contrabaixo, tenho uma certa fascinação por guitarras, apesar de não saber fazer uma nota sequer, eu toco do meu jeito. Meu primeiro trabalho como roadie de guitarra em nível profissional foi com o grande Luiz Carlini, imaginem quantos puxões de orelha eu tomei. E na minha lista de guitarristas, tenho vários outros nomes com os quais já trabalhei como técnico de guitarra, aliás poucas pessoas sabem, mas eu também fui roadie de cavaco na banda de pagode Katinguelé. Foi um bom aprendizado, apesar de eu não saber tocar nada de cavaco e muito menos de pagode! Ainda falando sobre trabalhos e bandas, como surgiram os primeiros trabalhos com bandas internacionais, e qual era o seu trabalho com elas? Meus primeiros trabalhos internacionais surgiram logo após o meu rompimento empregatício com a banda Capital Inicial, onde fiquei por 12 anos. Fui convidado pela dona da Só Palco a integrar a equipe dela, onde eu cuidava de todo backline de certos eventos. Meu primeiro show internacional pós Capital Inicial foi com a Jennifer Lopez, e logo na sequência começaram a pintar convites da produtora T4F para trabalhar com eles como intérprete. Se eu não me engano, meu primeiro show internacional com a T4F foi com o Justin Bieber, como intérprete. Após esses trabalhos com a Só Palco e a T4F, foram surgindo convites de médias e pequenas produtoras para trabalhar como Stage Manager e até mesmo como Tour Manager. Eu aproveitava esses trabalhos e fazia os serviços de Drumtech também. Como intérprete fiz trabalhos com Metallica, Guns and Roses, Dave Mathews Band, One Direction entre muitos outros (intérprete é aquela pessoa que faz a ponte entre a equipe internacional e a equipe local, como pessoal de áudio, luz e carregado-


Falando em metodologia de trabalho, quais as diferenças entre trabalhar com bandas nacionais e estrangeiras? Infelizmente sou obrigado a admitir que estamos muito atrasados em questão de mão de obra e postura. Quando você está numa turnê, por exemplo, na Europa, dificilmente você escuta berros no palco. Outra coisa que reparei é que normalmente as bandas e principalmente o Tour Manager tratam as suas equipes com dignidade e respeito. Normalmente nos shows e festivais existe o catering, que nada mais é que um restaurante montado para todos, eu disse “todos” co-

merem, e lá o horário de comida é sagrado, ainda mais se você for sindicalizado. Com relação a trabalhar com bandas internacionais, existe a dificuldade da língua, pois uma palavra mal colocada pode ge-

mais humildes com as suas equipes, pois sem elas o show deles não acontece. Um exemplo que posso dar de humildade foi agora no último Monsters of Rock, em São Paulo, aonde eu vi o Ozzy Osbourne

res); como Stage Manager, realizei trabalhos com bandas como: Paradise Lost, Stratovarius, Skillet, Marillion, Icona Pop, John Anderson, entre muitos outros.

Com relação a trabalhar com bandas internacionais, existe a dificuldade da língua, pois uma palavra mal colocada pode gerar um grande problema. rar um grande problema. De resto, acho que não existe tanta diferença. Agora, existem muitos músicos nacionais que deveriam descer dos seus respectivos pedestais e serem

agradecendo um a um dos seus músicos e equipe pelo trabalho. Aí você vem dizer, mas tem cantor brasileiro que faz isso, mas também existem muitos, e eu já trabalhei

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Há poucos meses, quando estava fazendo uma turnê pelo Nordeste com o Angra, foi marcado um show em Fortaleza. Chegando lá no local, dei de cara com um palco meia boca, com um PA montado dentro dele. Até aí, nada demais. Só que a surpresa foi ver uma bateria montada dentro de um aquário de vidro com arcondicionado...

com vários, que se achavam maiores que esse senhor. Outra coisa que é muito diferente é com relação a um cronograma de viagem. Normalmente as turnês vão seguindo por países próximos até o mais distante. Por exemplo, se você estiver com show agendado na Espanha, Grécia e Japão, você segue essa ordem e não: Grécia, Japão e Espanha no dia seguinte. Um exemplo clássico foi quando trabalhando para uma certa banda, foi marcado um show no Acre, no dia seguinte Rio de Janeiro e logo após, Peru e depois São Paulo. Acho que o empresário dessa banda nunca viu um Atlas.

queria ao colocar um riacho na frente de um palco, até agora não sei. E, detalhe, o guarda-corpo era de bambu. Ficamos mais de 4 horas esperando chegar o material para que montássemos uma estrutura para o PA em cima do riacho. E isso era num domingo, às quatro da tarde, quando a maioria das locadoras estavam fechadas. Para ajudar um pouco mais, as bandas de abertura começaram uma guerra de egos para saber quem tocaria antes ou depois. A solução que dei foi cancelar as duas. Mas isso não rolou, então deixei por conta da casa de shows a decisão. Sobre o praticável de bateria no palco, cobrimos o aquário com plástico preto. Só para completar, essa turnê no Nordeste me rendeu um grande inimigo, que ao contratar a banda novamente ligou para o empresário e pediu que eu não fosse mais em nenhum show contratado por ele.

Normalmente na nossa vida de estrada, temos muitas roubadas e sempre tem aquela que se torna inesquecível. Qual foi a sua “roubada” inesquecível? Há poucos meses, quando estava fazendo uma turnê pelo Nordeste com o Angra, foi marcado um show em Fortaleza. Chegando lá no local, dei de cara com um palco meia boca, com um PA montado dentro dele. Até aí, nada demais. Só que a surpresa foi ver uma bateria montada dentro de um aquário de vidro com ar-condicionado, leia-se ventilador, sendo que o praticável do mesmo estava chumbado no chão de cimento. Ou seja, ela não estava no centro do palco, e sim do lado direito como se você fosse montar uma percussão do lado esquerdo do palco. E ainda para ajudar um pouco, resolvemos descer o PA para a frente do palco, mas tinha um riacho em frente ao palco. O que o dono da casa

Como pintou o convite para ser o Drumtech da banda Motörhead e como é a estrutura interna de uma tour como a deles? O convite pintou através do Tour Manager da banda, que é brasileiro, e do Stage Manager, que também é brasileiro, e que conheço de muitos anos. A princípio eu estava indo somente como substituto para 6 shows na Europa, pois o Drumtech oficial já estava de saída, mas completaria a turnê, e nesses 6 shows ele estaria ocupado com a sua empresa de vídeo. Após o terceiro show que foi realizado em Londres junto com o Black Sabbath e com Faith no More, o baterista Mikkey Dee me chamou até a área de camarins pois precisava falar comigo. Eu fiquei sabendo através de outros integrantes da equipe que quando ele chamava para ir ao camarim era para dar bronca. Mas nesse dia fui convidado a


entrar em seu camarim e ele estava assistindo ao jogo Brasil x Colombia. No mesmo instante ele me falou que estava gostando do meu trabalho e principalmente das minhas afinações e de minha postura no palco, e me fez o convite de trabalhar fixo na banda, ao qual aceitei sem pensar duas vezes. E hoje vou para a segunda turnê mundial com eles. A estrutura do Motörhead é bem simples e muito organizada, desde a minha saída do Brasil até meu retorno. Viajamos normalmente em 10 pessoas na equipe, nas turnês de verão, e em 16 pessoas nas turnês de inverno. O trabalho em si é muito básico, pois a banda não usa de artifícios como painéis de LED e passarelas. É simplesmente o básico do básico, ou seja, amplificadores e bateria, nada mais no palco. Atualmente temos um iluminador brasileiro integrando a equipe. Hoje somos quatro brasileiros trabalhando no Motörhead, o que torna o trabalho um pouco mais fácil. Com as redes sociais, temos acompanhado um crescimento de discussões de cunho social para regulamentação das profissões do backstage, mas o que você acha deste tipo de iniciativa? O dia em que todos, eu disse todos se unirem e resolverem tirar o maldito ego da sua pasta de trabalho, talvez as coisas fiquem melhores. É um puxa tapete de todos os lados. Infelizmente não existe companheirismo no Brasil, eu sou totalmente a favor de existir um único sindicato, acho que falta uma voz ativa para ir até os maiorais da nossa política e exigir que a nossa categoria vire uma coisa real, pois é muito engraçado você ter que abrir uma empresa e não ter a sua profissão reconhecida. Se até as prostitutas são reconhecidas como trabalhadoras, por que nós não somos? O outro fato que me incomoda muito é o ‘diz que me diz’ de que a minha agenda é me-

lhor que a sua. Parece criança fazendo birra com o amiguinho. Na minha opinião, só vai dar certo quando os próprios profissionais começarem a ter mais respeito por eles mesmos. Digo isso com relação a acordos de cachês e condições de trabalho. Outra coisa que me incomoda muito é essa banalização da geração pendrive e da geração workshop de final de semana. Atualmente venho encontrando dificuldades em arrumar trabalho, pois não tenho um certificado do professor X do workshop de roadie, e vejo muitos colegas perdendo trabalhos para “chupadores de mixagem” que copiam em seu pendrive a melhor mix e dizem que foram eles que fizeram. Se temos que ter reconhecimento perante o Ministério do Trabalho, temos que começar por uma limpeza dentro do nosso meio de trabalho, a começar por essas pessoas que canibalizam o nosso ambiente profissional. Para finalizar, quais são os seus planos, o que planeja fazer daqui a 10 anos? Pelos meus cálculos e pelo aplicativo do Sebrae, tenho que trabalhar mais 13 anos e 2 meses para me aposentar por idade, então daqui a 10 anos estarei, com certeza, afinando alguma bateria, ou dando alguma bronca em algum palco por aí. Mas o meu grande sonho seria ter uma casa de shows que lembrasse o finado Palace, não tão grande, mas também não tão pequeno. Caso não consiga realizar esse sonho, vou comprar uma casa na praia e vou ficar de pé pra cima pro resto da vida. Até parece que eu consigo ficar num lugar assim parado.

Para saber online www.facebook.com/leodrumtech

Este espaço é de responsabilidade da Comunidade Gigplace. Envie críticas ou sugestões para contato@gigplace.com.br ou redacao@backstage.com.br. E visite o site: http://gigplace.com.br.

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REPORTAGEM| www.backstage.com.br 34

Estúdio Tenda da Raposa se destaca na produção de discos independentes e na criação de novas alternativas para gravações no Rio de Janeiro. Ricardo Schott redacao@backstage.com.br Fotos: Divulgação

A D A A CAS

A C I S MÚ

O

pianista Carlos Fuchs já tinha montado, lá por 1990, um estúdio rudimentar em casa, quando morava no bairro carioca de Vila Isabel. “Era de oito canais, dava para fazer trilhas sonoras, bem pequeno. Mas na época eu já procurava uma casa que pudesse transformar

em estúdio”, conta. O sonho de Fuchs foi realizado em 1998, quando achou uma casa em Santa Teresa, pertinho do Centro do Rio, e a transformou no estúdio Tenda da Raposa. De lá para cá, muita música rolou nas três pequenas salas de som do local e hoje a Tenda, além de


Carlos Fuchs e Brad

Mehldau

Tenho um piano Rhodes bem legal, um piano Yamaha...”, diz o músico. Até nomes internacionais, como o pianista americano de jazz Brad Mehldau, já experimentaram as máquinas do estúdio.

atender a vários músicos independentes, vem atraindo vários nomes já estabelecidos da MPB. Duvida? Enquanto várias produções independentes bacanas saem de lá - como álbuns de Valéria Lobão, mulher de Fuchs, e de Alfredo Del-Penho, além de muita coisa de artistas de choro da Lapa nomes como Joyce Moreno, Lenine, Dori Caymmi, Pedro Luís e Ivan Lins já usaram as mesas de som e os instrumentos da Tenda. Muitos atraídos pelo astral especial da Tenda, que fica no terceiro andar da residência de Valéria, Carlos e seus filhos. “Muita gente vem aqui só gravar um piano e grava um disco inteiro, ou mixando.

A casa tem dois belos terraços e de um deles, é possível ver o Corcovado, o Pão de Açúcar e até Niterói. Mas as salas de gravação são bem compactas. “Comparado com um estúdio lá de fora, é de pequeno porte. Digo sempre que é um mega home studio, um estúdio que cresceu além da conta. Queria algo pequeno, mas foi crescendo e atraindo gente”, conta Fuchs. Atraiu e atrai, mas sempre sujeito às flutuações do mercado, que anda estranho. “O independente não visava lucro porque disco para ele era um cartão de visitas. Eu não sentia a crise, mas hoje a crise é geral, não só na música”, conta. “O que vem dando um diferencial e ajudando na produção de discos é o crowdfunding (financiamento coletivo). Já que os editais estão restritos aos medalhões, os independentes estão fazendo seus dis-

AnalógicaNeve,modelo5088

Lenine gravando na Tenda

Analógico até quando a gravação digital é o padrão

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REPORTAGEM| www.backstage.com.br 36

Dori Caymmi e Valéria Lobão

cos assim. Um amigo até brinca que está fazendo um crowdfunding para pagar os crowdfundings dos amigos”, brinca.

ANALÓGICO

A minha casa era um ateliê, antes. Nada indicava que pudesse virar um estúdio, não era o perfil. E estava caindo aos pedaços. Mas comprei baratinho, numa época em que não havia tanta valorização dos imóveis em Santa Teresa

Fuchs é da antiga: prefere o analógico até para tarefas em que a gravação e mixagem no digital são o padrão. “Gosto de mixar sem plug-ins e aposto no analógico. Fiz até mixagem de DVD em 5.1 no analógico. É verdade que dá trabalho, não tem recall...”, diz, rindo. “Mas o som fica infinitamente melhor”. Um dos maiores diferenciais do estúdio é uma queridíssima mesa analógica Neve, modelo 5088. “Ela tem 48 inputs e 32 canais, totalmente analógica. Foi projetada ainda pelo próprio Rupert Neve (criador da marca) e é bem diferente das mesas recentes. Temos monitoração de áudio feita pela (marca alemã) Eve, também”, conta Fuchs, prometendo para breve voltar a gravar seus próprios discos. Ele já gravou álbuns ao lado de nomes como Marcos Sacramento e Ryta de Cássia. “Estou eternamente para lançar um novo disco, né? Vamos ver se consigo, após formalizar umas coisas na Tenda”, conta o músico, preparando-se para transformar de vez a marca Tenda da Raposa em selo musical.

PANOS NO TETO COMO MARCA Fica a lição para quem pretende montar um estúdio: do inesperado pode vir uma surpresa. “A minha casa era um ateliê, antes. Nada indicava que pudesse virar um estúdio, não era o perfil. E estava caindo aos pedaços!”, conta Fuchs. “Mas comprei baratinho, numa época em que não havia tanta valorização dos imóveis em Santa Teresa”.

Aos poucos, Fuchs foi arrumando as coisas. Partiu do improviso inicial, com um estudiozinho bem menor no térreo - onde, ainda assim, fez gravações com Suely Mesquita e Pedro Luis & A Parede. As atuais salas de gravação ficavam num depósito. “Quando consegui levá-las para o terceiro andar, eram com teto de amianto e chão de cimento. Mas montei lá e fiz do jeito que queria”. O nome Tenda da Raposa, conta Fuchs, vem dos panos que pôs no teto para diminuir o vazamento de som. “Dava um aspecto de tenda. Até hoje faço questão de manter esses panos lá. Virou marca”, diz.

O DISCO QUE GEROU DISCOS Parecia impossível, mas a mulher de Fuchs, a cantora Valéria Lobão, fez. Sonhando dar um tratamento de voz e piano para a obra de Noel Rosa, ela uniu 22 pianistas brasileiros — cada um numa faixa — no CD duplo Noel Rosa, Preto e Branco. O repertório vai de clássicos a obscuridades do poeta da vila, sempre com participações de vários pianistas: gente como Fuchs, João Donato, Cristóvão Bastos e Gabriel Geszti. O álbum foi gravado na Tenda, passou por um período de crowdfunding (para honrar os direitos autorais dos parceiros de Noel) e vem gerando outros produtos feitos no estúdio, já que para garantir a participação de “nomões” como Donato, foram oferecidos bônus de gravação/mixagem e outros serviços para os pianistas convidados. Trabalhos do próprio Donato (a mixagem do par de CDs ao vivo lançados recentemente pelo pianista), de Cliff Korman, Tomas Improta e Marcos Nimrichter já saíram das salas da Tenda. “Justamente por causa dessa crise, o negócio é usar a criatividade. Se ficar esperando as coisas acontecerem, não vai muito longe”, conta Carlos. Tem mais vindo aí. Carlos trabalha no DVD da nova cantora Julia Vargas e em discos novos de Danilo Caymmi e de Eduardo Gallotti, além de vários outros lançamentos. “Trabalho bastante com o som que eu gosto: MPB, samba, choro, trilhas sonoras”, diz.


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ANDREAS SCHMIDT|CAPA| www.backstage.com.br 38

Andreas

SCHM ELE ASSINA A Andreas Schmidt é Diretor Técnico e iniciou sua carreira há 23 anos, no mercado de eventos, assinando a produção de grandes projetos e festivais. De 1992 até hoje, é responsável por fazer a produção e técnica de som do cantor Toquinho. Desde então, seu trabalho vem se consolidando no showbusiness, trazendo em seu portfólio trabalhos com marcas e artistas nacionais e internacionais, como Lollapalooza e Tomorrowland. Em 2005, Schmidt criou a AUDIO BIZZ, onde conseguiu trazer grandes profissionais para unir à sua expertise. Nesta edição, conversamos com o empresário sobre sua carreira, mercado de entretenimento no Brasil e no mundo, e perspectivas para o mercado profissional brasileiro. redação@backstage.com.br Fotos: Ernani Matos / Divulgação


IDT

Os primeiros foram eventos onde acabei assumindo a coordenação de toda a Técnica mesmo antes de estar trabalhando com a Stage Braiz. Isto já acontecia com a Transasom, empresa locadora de equipamentos onde trabalhei durante alguns anos sob a supervisão de Eduardo Bastos Lemos, outro grande instrutor técnico na minha vida. Estamos falando de eventos como o carnaval de São Paulo e posteriormente os do Rio de Janeiro. Neste período posso di-

Esta responsabilidade surgiu justamente pela inciativa de tomar a frente para resolver questões técnicas que muitas vezes não estavam relacionadas tão somente ao áudio. Um grande amigo chamado Fred Rossi, que era empresário do Toquinho na época, usava a empresa Transasom para fazer os seus eventos. Muitos dos quais tinham shows do Toquinho. Ao ter feito vários shows com eles e estando o artista sem técnico, surgiu a oferta. A iniciativa de querer ajudar, de se

DIREÇÃO DO TOMORROWL AND

V

ocê começou na área de direção técnica há 23 anos. Conte um pouco sobre este início e quais foram as pessoas que tiveram grande importância nessa fase? Estamos na verdade falando de uma atividade que não existia na época com o título de Direção Técnica. Fazíamos de tudo que estava relacionado à técnica sem propriamente receber este título. A minha influência recebida na parte técnica vem desde o meu pai, que foi engenheiro eletrônico e nuclear; de meu irmão como engenheiro eletrônico, até a vivência ao lado do Pena Schmidt durante mais de 10 anos. O maior período de aprendizado foi ao lado do Pena na Stage Brainz, empresa em que tínhamos uma verdadeira associação de técnicos de todas as áreas. Começamos a dividir as fatias do bolo com pessoas específicas em cada área. Som, Luz, Video, Geradores, Broadcasting. Enfim, tudo entrava na empresa com uma gestão do Pena, e depois tudo ia sendo fatiado com atribuições para cada área, sem perder o controle da direção. Quais foram os primeiros principais eventos que você assumiu?

zer que fui adotado pelo Marcelo Salvador, grande técnico de áudio e amigo, dando suporte em projetos e ideias inovadoras. Como era o mercado de show business nessa época? O diretor técnico era uma figura reconhecida? Nesta época fazíamos a coordenação técnica sem termos o cargo de coordenação técnica. Éramos técnicos. Técnicos de áudio, de luz, de video. Todos exerciam este papel, sem ter o cargo propriamente reconhecido. Era tudo em prol do sucesso do evento. Com o passar dos anos, as especializações foram surgindo na prática. Com erros e acertos e com bases na Engenharia Eletrônica e Elétrica conseguimos nos posicionar no mercado como Coordenadores Técnicos e Diretores Técnicos. Sem uma base teórica, fica muito difícil seguir adiante. Você teve logo de início a “responsabilidade” de trabalhar nada mais do que com o Toquinho. Como foi esse início e como é até hoje? Isto é, muita coisa mudou em termos tecnológicos para que tivesse que se adaptar aos novos tempos?

inteirar em situações difíceis para tentar resolver os problemas, fez com que estas oportunidades fossem surgindo. Acredito que ninguém se torna algo sem a ajuda de outros, e devo muito da minha carreira bem sucedida ao Fred Rossi, depois ao Genildo Fonseca, que assumiu o empresariado do Toquinho, como também ao Alemão, que era o Iluminador do Toquinho, e com quem aprendi muito sobre iluminação. Cada mão estendida, cada oportunidade oferecida vai construindo a nossa vida. Muitas vezes somos adotados por alguém, como fui adotado pelo Toquinho, grande pai e amigo. Com informação teórica, creio que a tecnologia apenas chega para somar. Evidentemente que você precisa estudar. Entender como funcionam as ferramentas, mas a física não mudou tanto assim, nem tampouco a matemática aplicada na técnica. Quais são os desafios do mercado de show business no Brasil? Eles são os mesmos de 20 anos atrás? Os desafios sempre foram tornar qualquer projeto rentável. Sem o controle de um budget não conse-

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guimos que os trabalhos se tornem viáveis. A diferença hoje está na quantidade de elementos que temos em um show. O acréscimo tecnológico e a quantidade de equipamentos usados em shows e eventos por conta desta tecnologia, fazem com que tenhamos que ter um planejamento na pré- produção muito maior. Não podemos mais trabalhar resolvendo problemas, temos que trabalhar para que não tenhamos problemas. Estamos com um grande desafio pela frente no nosso país. Sem uma economia estável, a nossa situação só tende a piorar. Vão sobreviver as agências e empresas que souberem fazer os seus acordos e parcerias sem pensarem somente em si. Vamos ter de aprender a dividir. Pode ser um bom aprendizado. Tentar fazer mais com menos. Dentro do mercado de produção e direção técnica, quais as maiores dificuldades que já teve que contornar/solucionar? As maiores dificuldades para mim são sempre as questões políticas que temos entre clientes e fornecedores. O cliente em geral não sabe exatamente o que fazemos. Tampouco entende da área técnica e quer apenas as soluções para os problemas. O caminho entre o saber como resolver determinada situação e ter a aprovação do cliente para fazê-lo é um caminho árduo e cansativo de reuniões e explicações para que se entenda a real necessidade de determinado equipamento. Muitas vezes ainda padecemos do jeito brasileiro de deixar tudo ate a última hora, para ver se a coisa talvez se resolva com o tempo. Infelizmente com matérias exatas como a nossa, não existe meio termo. Sim ou Não são as palavras que temos como respostas. Um não nem sempre é bem vindo, mas temos como obrigação informar ao cliente a real situação. Não trabalhamos para resolver problemas, trabalhamos com antecedência para não termos problemas. Tendo produzido e dirigido grandes artistas nacionais e internacionais,


atrelado ao dólar, o que faz com que o nosso custo seja alto e, consequentemente, muitas vezes vale mais a pena trazer equipamentos de fora. Isto, claro, faz com que o mercado nacional não invista tanto em tecnologia quanto o mercado americano e europeu. Além disto, ainda padecemos muito de mão de obra qualificada por conta da falta de estudo. Nossa qualificação profissional está melhorando com o passar dos anos, mas ainda não temos a base educacional no país suficientemente bem estruturada para esta área. Recentemente você esteve envolvido com o Lollapalooza e agora está com o Tomorrow Land, então pergunto: as atrações/festivais interna-

acreditamos que tenha muitas histórias para contar. Existe alguma que seja marcante, que não dá para esquecer? Muitos shows e eventos, como muitas situações adversas e engraçadas. Desde equipamentos que não funcionaram, até cortinas subindo em teatros e levando junto para o teto o microfone do artista, que ao entrar, começou a rir e pediu para baixar a cortina para recuperar o microfone dele. Acho que deveríamos todos escrever um livro. Acabamos correndo tanto no dia a dia que não ficamos com estes registros. Já pedi para o Pena escrever um livro. Espero que ele esteja guardando isto para lançar no futuro. Mas o mais recente é o que

Com informação teórica, creio que a tecnologia apenas chega para somar. Evidentemente que você precisa estudar.

fica na memória. Muitas brigas com artistas para saírem no tempo certo do palco, até shows sem fim, como com o George Clinton no Free Jazz com 4 horas de show. Kraftwerk foi maravilhoso. Ainda com seus equipamentos todos analógicos, tínhamos que trabalhar com Geradores em 50Hz para que os instrumentos analógicos e digitais ficassem afinados em 440Hz. Falando sobre as diferenças entre produção nacional e internacional, quais as particularidades de cada uma? A diferença hoje está no dinheiro e o que você consegue comprar com ele. Existem muitas empresas no Brasil com capacidade técnica de realizar qualquer evento. Mas tudo nosso está

cionais são mais fáceis ou mais difíceis de fazer acontecer? Por quê? A complexidade de cada atracão está diretamente relacionada à quantidade de tecnologia envolvida no projeto, e com o EGO de cada atração e produção. Em geral, o EGO é o que menos nos traz problemas com as atracões internacionais e mais problemas com as nacionais. Em geral, quanto mais maduro o artista fica, menos problemas ele causa nesta área. Isto se deve muito ao fato de no passado realmente as bandas nacionais terem sido muito prejudicadas em festivais e eventos envolvendo atrações internacionais. Hoje isto está mais sob controle. Quanto à parte tecnológica, os projetos vindos de fora têm muito mais complexidade do que os nacionais. Realmente, eles estão sempre na vanguarda da

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Existem muitas empresas no Brasil com capacidade técnica de realizar qualquer evento. Mas tudo nosso está atrelado ao dólar, o que faz com que o nosso custo seja alto e, consequentemente, muitas vezes vale mais a pena trazer equipamentos de fora

tecnologia, e aprendemos sempre com eles sobre as novidades em uso. Quando criou a Audio Bizz, em 2005, o mercado estava em uma boa fase de shows e eventos, certo? Dez anos depois, como analisa esse cenário atual no Brasil? E no mundo? Em 2005 estávamos em pleno crescimento no país. Agora estamos em uma fase de “ou sobe ou desce”. Se não tomarmos cuidado, começarmos a planejar melhor as planilhas de despesas, teremos muitas empresas fechando as portas. O momento é de contenção de despesas. Este cenário se repete mundialmente. A abertura de capital na Bolsa para captação de recursos e tentativa de verticalização tem se mostrado um mau negócio. Empresas grandes do show business estão fechando no negativo vários anos seguidos. A criatividade e novas ideias vão fazer a diferença. Junções e

parecerias, projetos conjuntos e saber dividir podem representar o continuar de portas abertas ou fechar a empresa. A meu ver, este diferencial está profundamente relacionado com a qualificação da mão de obra. Equipamentos todos podem comprar, mas se não tivermos a mão de obra adequada, de nada adianta. O ideal é seguirmos o lema: o segredo é não ter segredo. Só assim a humanidade pode progredir, registrando o passado para no futuro não cometermos os mesmos erros. Quais são as características inerentes ao produtor / diretor técnico? O mais importante é o amor pelo que fazemos. Com amor, temos boa vontade, garra e energia para o aprendizado de novas tecnologias. Podemos estudar e adquirir o conhecimento técnico, que é o fundamento para esta função. Este processo de conhecimento e amor pelo trabalho têm de caminhar juntos.


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E Z JA Z S E U L B Superando as expectativas de público do ano passado, o Ipiabas Blues & Jazz Festival, que aconteceu entre os dias 4 e 7 de junho, em Barra do Piraí, cidade ao sul do estado do Rio de Janeiro, vem se consolidando como um dos principais eventos da música instrumental. A quinta edição levou aos palcos daquela cidade atrações internacionais como The Jig Jazz/ Soul Band e Vasti Jackson Blues Band, além de brasileiros como Izzy Gordon R&B Band, Carlos Malta, George Israel, Guto Goffi e Arnaldo Brandão. Luiz de Urjaiss redacao@backstage.com.br Fotos: Ernani Matos / Divulgação

ALIADOS À

SUSTENTABILIDADE S

egundo o diretor de turismo da Secretaria Municipal de Turismo e Cultura de Barra do Piraí, Sérgio Nóbrega, o público estimado deste ano atingiu cerca de 5 mil pessoas, fator que consolida o evento e o turismo na região – até então conhecido apenas por seu roteiro de aventuras. “Ipiabas existe antes e depois do Blues & Jazz Festival. O distrito não era tão conhecido como agora. Um evento como este gera muita

mídia espontânea e, além de turistas, a taxa de ocupação dos hotéis e pousadas cresce vertiginosamente”, observou. Para o secretário interino de Turismo, Cultura e Lazer de Barra do Piraí, Roberto Monzo Filho, a escolha do Blues e Jazz como identidade musical de Ipiabas foi uma estratégia em consonância com o clima e localidade. “Não se trata de um evento isolado, mas de uma série de ações de consolidação como destino tu-


Guto Goffi, George Israel e Stenio Matos vibram ao final do tributo a Beatles e Rolling Stones

Kleber Dias tocou ao lado do gaitista Jefferson

The Black Bullets foi uma das bandas de abertura

rístico. A escolha ‘a dedo’ do gênero musical é ligada ao tipo de público que queremos atingir neste projeto e que já costuma vir ao distrito, caracterizado por pessoas de um bom poder aquisitivo e faixa etária ampla. Fazendo um mapeamento das vocações de Ipiabas, temos a gastronomia, turismo de cultura e aventura. A estratégia da cidade é promover o desenvolvimento através da economia criati-

va. Nossas ações são em cima do patrimônio artístico local, mantendo o estilo de vida tranquilo da região, através da criatividade, e de uma indústria sem chaminés”, explica Filho, que define Ipiabas como a capital serrana do Blues e Jazz.

PRODUÇÃO Além de boa parte da verba ser oriunda da iniciativa pública, nesta quinta edição o festival repetiu a parceria público-privada de 2014 através do patrocínio da Light, companhia de distribuição de energia elétrica do Rio de Janeiro. Segundo o produtor do evento, Stenio Matos, da Azul Produções, o estado carece de eventos voltados para a

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Da direita para esquerda: Big Joe Manfra, Arnaldo Brandão, George Israel, Guto Goffi, Jefferson Golçalves e Roberto Lly

Nas redes sociais há burburinhos que destacam a relevância de mais um festival de jazz numa cidade do Rio. No Brasil, nos acostumamos um pouco em falar que a música instrumental – o jazz e o blues – é música de elite, o que é uma grande besteira (Manfra)

música instrumental, apesar do exemplo do Rio das Ostras Jazz Festival – também comandado pela produtora e hoje um dos maiores do gênero no mundo – ter impulsionado iniciativas públicas e privadas na realização de ações como esta, em Ipiabas. “Ano passado o público médio foi de duas mil pessoas. Neste ano, chegamos a cinco mil. Nosso trabalho de divulgação começou com cerca de dois meses de antecedência. E o fluxo econômico gerado com turismo, superlotação em pousadas e hotéis, restaurantes cheios, e toda infraestrutura utilizada na produção, composta por mão-de-obra local, concedem ao evento o caráter sustentável, que visa trazer renda e dar mídia espontânea para a cidade”, explica. Ainda de acordo com Stenio, algumas ações como a parceria com o setor hoteleiro local, que atua em consonância com a produção através da divulgação do festival nas mídias sociais e com seus clientes, são de suma importância para o sucesso do mesmo. “Temos apoio com quartos de hotéis para a produção, com alimentação em restaurantes. Todos vivem este período do festival, vestindo a camisa, unidos

pelo mesmo ideal”, completa. Trabalhando na produção executiva do Ipiabas Blues & Jazz, o guitarrista Big Joe Manfra, que encerrou o penúltimo dia de apresentações do festival realizando um tributo aos Rolling Stones e Beatles – ao lado de nomes do rock nacional como Guto Goffi, George Israel e Arnaldo Brandão –, chama a atenção para o aumento do público interessado no gênero blues e jazz, e como um evento como esse propicia trazer grandes nomes da música internacional. “Nas redes sociais há burburinhos que destacam a relevância de mais um festival de jazz numa cidade do Rio. No Brasil, nos acostumamos um pouco em falar que a música instrumental – o jazz e o blues – é música de elite, o que é uma grande besteira, pois na verdade as pessoas têm que ser expostas a este gênero, saber de sua existência e poder escolher sua apreciação. Conectar-se a isso em praça pública, com a presença de artistas como The Jig Jazz/ Soul Band e Vasti Jackson Blues Band, por exemplo, é dar a chance de não serem tão somente guiadas pela mídia, vítimas de modismos”, acentua.


Com relação às exigências de trabalhar num evento de gênero musical exclusivo, Manfra aponta o backline, como desafio de demanda sonora. “Para guitarras, por exemplo, na maioria das vezes, existe a necessidade de amplificadores valvulados. Não tivemos aqui, mas o uso do órgão Hammond, um instrumento específico, tem locação cara. Não há necessidade de subgraves para

todo lado. Aqui, o som é ‘direto ao assunto’”, explica. “Como artista, me agrada a limpeza visual

do palco, que não é enorme, mas no tamanho exato para um evento deste porte. Digo isso, pois às

Light e o Ipiabas Jazz & Blues Festival Todos os eventos gratuitos precisam de patrocínio. As empresas que investem em eventos culturais têm um ganho na sua imagem corporativa muito superior comparado ao investimento em outras formas de propaganda institucional. Nesta entrevista, Jordana Garcia, gerente de comunicação da Light (copatrocinadora do Ipiabas Jazz Festival na cidade de Barra do Pirai - RJ) fala sobre a política de patrocínio de eventos musicais da companhia de energia. A Light é uma empresa que promove diversas ações para a melhoria da qualidade de vida da população do Rio. Quais foram os principais motivos que levaram a Light a copatrocinar o Ipiabas Jazz & Blues Festival? A Light é a concessionária de energia que atende 31 municípios do estado do Rio de Janeiro. Estimular o crescimento do turismo, das atividades culturais e das oportunidades de geração de renda e de negócios nesta região é muito mais do que um compromisso da empresa. Por atuar em um mercado regulado, a Light cresce quando o Rio cresce também. Por isso, é tão importante ter uma política de investimento em projetos culturais, sociais e esportivos. A empresa investe anualmente mais de R$ 30 milhões em projetos patrocinados por meio de Leis de Incentivo e queremos continuar mantendo os investimentos porque sabemos o quanto o Rio merece e precisa desse estímulo. Apesar do crescimento, neste ano, o Festival de Ipiabas ainda é muito novo e pequeno em relação aos festivais nas outras cidades. O que a Light está disposta a disponibilizar para que o Festival de Ipiabas tenha uma projeção maior no cenário brasileiro? A Light patrocina pequenos e grandes eventos e torce muito para que estes projetos façam parte do calendário das cidades e se desenvolvam cada vez mais, como é o caso do Ipiabas Jazz & Blues Festival. Realizar um evento com música de quali-

dade para uma região com poucas atividades culturais é um presente para a população. E a Light quer poder estar ao lado dessas iniciativas, reforçando o desenvolvimento da companhia com toda a sua área de concessão. Entendemos que, com o sucesso do evento, novos patrocinadores estejam junto da Light nesta iniciativa. Quanto mais agentes envolvidos, mais um festival como este pode se estabelecer e crescer, atraindo turistas e movimentando a economia da região, colaborando para seu desenvolvimento financeiro e cultural. No Brasil, a grande maioria dos festivais de música é ao ar livre e gratuitos. Portanto, necessitam de granJordana Garcia des verbas de patrocínio. é gerente de Comunicação da Light As prefeituras estão com problemas sérios de caixa. A Petrobrás (umas das principais fontes de patrocínio) está com os cofres fechados. Existem planos de aumento das verbas de patrocínio da Light para poder melhorar este cenário? E como os interessados em contatar a Light podem fazer? Estamos sempre abertos a receber bons projetos, que são analisados pela Comissão de Patrocínios da Light. Quem desejar mandar o seu projeto, deve enviar e-mail para patrocínios@light.com.br . É importante, porém, reforçar que a empresa tem definida uma política de patrocínios que está publicada no seu site (www.light.com.br). Recomendo a leitura prévia para avaliar se o projeto é adequado à nossa política. Buscamos projetos que se adequem aos nossos desafios e desejos para fortalecer a nossa área de concessão.

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Console do P.A foi Yamaha CL5

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vezes coloca-se um palco lindo, cheio de detalhes, mas com erros de montagem no som”, coloca. Também se apresentaram no Ipiabas Blues & Jazz Festival: Road 145 Blues Band, Filipe Torres Band, Afro Jazz, The Black Bullets, Jefferson Gonçalves Blues Band com Laudir de Oliveira, Otryo e Dudu Lima Trio convida Carlos Malta.

SOM Técnico responsável pelo áudio do Ipiabas Blues & Jazz, Jerubal Liasch, explana que, para esta quinta edição, a diferença esteve na mudança de equipamento. “Trabalhamos com DAS aqui e subs KF-850, o que dentro deste espaço, a meu ver, resolve a demanda musical. Faço um gradio deles de sub e tudo no auxiliar, tiro do sistema e deixo no meu dedo. Já é um gosto particular trabalhar com sub em auxiliar. Criei intimidade com esta situação, colocando o sub exatamente onde quero, ao invés de estar no sistema e eu trabalhar com high pass. Não

Ipiabas Jazz teve público recorde e músico de primeira linha

Jerubal Liasch, técnico responsável pelo áudio do evento


Jerubal Liasch e Bruno Rebelo (Técnico de PA da Banda Afro Jazz Brasil)

consigo achar limpo passar um high pass num canal em que eu não quero o sub. Tem efeitos colaterais, harmônicos contínuos lá em cima no sistema, entre outros detalhes”, afirma. Ainda de acordo com Jerubal, um agravante para seu posicionamento é o espaço do show ter sido montado antes do sistema de som – que se adequou. “O tipo de ambiente está ao contrário. Ou seja, tenho ‘água’ do perfil do teto da tenda descendo na frente do P.A. Neste tipo de ambientação, que é totalmente disforme, e sem sentido lógico de reverberação e rebatimentos, tenho maiores razões para estar com todas as situações sonoras no meu controle”, avalia.

JAZZ & BLUES Ter a concepção e conceito musicais de cada gênero é imprescindível para um técnico de som, na opinião de Jerubal, uma vez que há uma concepção singular de mixagem para cada estilo. “Apontar desafios para trabalhar num festival de Blues e Jazz é falar do mínimo de cultura musical. Em primeiro lugar, o técnico precisa ter o conceito daquele segmento. Em segundo, a concepção técnica, para entender quais recursos necessitará, quais situações, ou se não precisará de tudo aquilo que o conceito exige. Daí em diante, entra o feeling do profissional mesclando entre ambos os conceitos”. Com relação às exigências artísticas, Jerubal explica que na área de jazz, rock e blues, não existe tamanha primazia de alguns segmentos musicais por marcas e modelos, por exemplo. Para ele, por vezes, peca-se no exagero da “finesse”. “Trabalho em festival e neste esquema não é show solo de artista. É delicado, mas com todo o pudor, tento negociar com o técnico o equipamento disponível, caso não seja compatível com seu rider, esperando um posicionamento maleável e compreensão que ele está num festival, não no show do seu artista”, diz. “Fui músico até 1981, quando larguei a carreira. Não quero causar desconforto com ninguém. Conheço tantos técnicos que pelo interesse de pesquisar e iniciativa de correr atrás, identificam características de cada gênero e conseguem imprimir em suas mixagens a identidade do trabalho em questão, sem maiores perplexidades”, completa.

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No início deste ano, a Roland apresentou ao mercado o JD-Xi, seu primeiro sintetizador a trazer o conceito batizado como “crossover”. Esta nova categoria de produto incorpora o melhor das tecnologias analógica e digital em um instrumento híbrido, capaz de oferecer novas possibilidades sonoras antes não acessíveis em um único equipamento.

ROLAND JD-XA O MELHOR DE DOIS MUNDOS

EM UM ÚNICO EQUIPAMENTO

Luciano Freitas é técnico

B

em recebido pelos amantes do puro som analógico e pelos atuais produtores de EDM (Electronic Dance Music), o equipamento veio como uma opção financeiramente viável aos músicos não satisfeitos com as simulações reproduzidas pelos soft-synths nem com as encontradas nos instrumentos que trabalham com a síntese analógica virtual. Agora, com foco no segundo semestre de 2015, a empresa expande esta categoria de produto trazendo o JD-XA, mantendo a mesma abordagem empre-

de áudio da Pro Studio americana com formação em ‘full mastering’

gada no JD-Xi, porém oferecendo muito mais poder sonoro que o encontrado em seu primogênito.

ROLAND JD-XA Equipado com dois geradores de sons distintos, que podem ser utilizados


JD-XA poderá baixar gratuitamente no site Roland AXIAL (http:// axial.roland.com) diversos timbres das bibliotecas sonoras produzidas para o INTEGRA-7, expandindo periodicamente sua coletânea de sons. Além dos osciladores analógicos e dos digitais, o JD-XA conta com uma entrada de microfone dedicada pela qual é possível usar a própria voz para alterar alguns parâmetros do instrumento (como a modulação e a abertura dos filtros aplicados nos timbres). Esta conexão (combo XLR) ainda permite ao usuário desfrutar do algoritmo de Vocoder disponível, controlando a afinação das notas digitadas no teclado por meio da voz. Como não poderia deixar de ser, o JD-XA vem equipado com um poderoso arsenal de efeitos digitais que lhe permite refinar as características de qualquer timbre selecionado. Cada uma das suas 8 partes multitimbrais (4 analógicas + 4 digitais) possui um processador de efeitos dedicado (MFX), com 67 di-

de forma independente ou em conjunto (interativa), o JD-XA proporciona o “calor” e a robustez sonora comumente encontrados nos lendários sintetizadores analógicos somados à toda versatilidade e transparência oferecida pela síntese digital. É como ter dois diferentes sintetizadores construídos em um único gabinete, proporcionando aos músicos, aos produtores e aos sound designers uma plataforma totalmente flexível e ilimitada de possibilidades sonoras. Na sua seção analógica, o JD-XA oferece quatro partes monofônicas, uma seção de amplificação e uma de filtros 100% analógicas e dois osciladores de baixas frequências (LFO). Cada uma dessas partes possui dois osciladores com 5 diferentes formas de onda (Saw, Square, Pulse/PWM, Triangle e Sine), os quais podem operar independentes ou no modo Poly Stack, somando as 4 partes analógicas em um potente timbre de 4 notas de polifonia.

Na sua seção analógica, o JD-XA oferece quatro partes monofônicas, uma seção de amplificação e uma de filtros 100% analógicas

Já na sua seção digital, também com 4 partes multitimbrais, o JDXA oferece um gerador sonoro compatível com o do módulo de sons INTEGRA-7 (synth engine), gerador este equipado com a aclamada tecnologia SuperNATURAL (com 64 notas de polifonia), trazendo alguns dos mais expressivos timbres já revelados nos sintetizadores digitais da Roland. Graças a essa compatibilidade, o usuário do

ferentes algoritmos de efeito e um equalizador que lhe permite esculpir criativamente os sons. Além dos efeitos individuais (aqueles disponíveis em cada canal), o equipamento oferece a possibilidade de inserir na saída-mestre um processador de reverb, um de delay, um equalizador e dois processadores TFX (com 29 diferentes algoritmos), todos operando simultaneamente. Agregando valor ao instrumento, o

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JD-XA conta com um sequenciador de padrões rítmicos com 16 pistas (8 internas e 8 exclusivas para fontes externas) que poderá auxiliar bastante no processo criativo do usuário. São três os seus modos de funcionamento: os clássicos step e real time recording (gravação em

passos ou em tempo real) e o novo TR-REC, que simula o modo de gravação encontrado nas baterias eletrônicas da linha TR do fabricante (padrões rítmicos e de arpejo programados pelo usuário são salvos como programas).

samento digital) e uma para o gerador de metrônomo. Construído para aproveitar o máximo do seu potencial sonoro sem perder pontos no quesito portabilidade (pesa apenas 6,5 kg), o JD-XA possui um teclado com 49 teclas sensíveis ao toque e aftertouch (mecanismo com ação moderada). Já no quesito controle, entre as opções disponíveis estão diversos controladores giratórios e diversos deslizantes, além da onipresente alavanca de pitch bend e modulation encontrada nos produtos da Roland (recursos também disponíveis no formato de rodas, como adotado por outros fabricantes); o equipamento conta com três entradas para pedais, sendo duas delas configuráveis pelo usuário. O equipamento vem configurado de fábrica com 256 programas, sendo possível armazenar em um dispositivo de memória flash externa (um pendrive, por exemplo) outros 256 produzidos pelo usuário.

formato P10 (TRS) e para fones de ouvido, contando ainda com uma saída dedicada para o gerador de sons analógicos (sem qualquer proces-

Para se comunicar com outros equipamentos musicais, o JD-XA conta com uma porta USB (transmite e recebe informações de áudio e de MIDI) Para se comunicar com outros equipamentos musicais, o JD-XA conta com uma porta USB (transmite e recebe informações de áudio e de MIDI) e com as tradicionais portas MIDI In e MIDI Out. Na seção de áudio estão presentes saídas analógicas no

Para saber online luciuspro@ig.com.br


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TÉCNICAS DE GRAVAÇÃO Quando alguém pensa em instalar uma ferramenta de produção de áudio no seu computador geralmente é porque está interessada em gravar suas ideias e registros sonoros. Tão logo o primeiro registro sonoro é feito, o usuário descobre que a parte de edição e mixagem é mais rica do que se imagina e, por conta disso, deixa de lado questões relacionadas à gravação.

NO PRO TOOLS MÚLTIPLAS OPÇÕES PARA AS DIVERSAS SITUAÇÕES EM UMA PRODUÇÃO Cristiano Moura é produtor, engenheiro de som e ministra cursos na ProClass-RJ

P

orém, existe mais de uma maneira de fazer uma gravação; todas elas igualmente importantes para garantir o melhor fluxo de trabalho nas mais diferentes situações. Neste artigo, vamos passar por todos os estágios e técnicas relacionadas à gravação de áudio e MIDI e confirmar se há algum recurso que pode ser incorporado para acelerar ou simplificar trabalho de cada um dos leitores. Gravando áudio da forma mais simples possível Se você está lendo o artigo procurando um passo a passo bem simples e direto, vamos lá! A preparação de gravação de áudio envolve quatro passos. Vamos fazer todos os processos pela janela de Mix, pelo menu Window > Mix. Passo 1: no menu Track > New vamos criar um áudio track mono; Passo 2: insira seu microfone em uma entrada da sua interface; Passo 3: configure a entrada do canal (fig. 1A) de acordo

Fig. 1 - configurações para gravação

com a entrada em que o microfone foi ligado; Passo 4: habilite o botão rec enable (fig. 1B) para monitorar o sinal, fale um pouco no microfone e regule o ganho de entrada na interface de forma a obter o sinal modulando entre -12dB e -6dB. Pronto. Com tudo configurado, podemos voltar para a janela de edição pelo menu Window > Edit e iniciar a gravação pelo atalho F12 ou pressionando o número 3 no teclado numérico. E quando o músico e o técnico são a mesma pessoa? Muito comum nos dias de hoje, o músico se grava sozinho e o problema começa quando ele precisa fazer emendas, ou seja, vir ouvindo o material gravado e continuar uma gravação a partir de um certo ponto. Neste caso, o músico/ técnico precisa programar o Pro Tools para vir tocando a música e iniciar uma gravação automaticamente, pois ele estará com as mãos ocupadas com a execução.


Fig. 2 - Pre-Roll habilitado e configurado no Transport

O componente essencial para fazer esta programação é o Pre Roll. Encontra-se na janela de transport, localizada no menu Window (fig. 2A). Primeiramente, vamos acionar o Pre Roll com um clique no nome da função e, ao lado, vamos configurar quanto tempo gostaríamos que o Pro Tools tocasse a sessão antes do início da gravação. Agora, basta colocar o cursor no local em que deseja que o Pro Tools inicie a gravação. Repare que à esquerda de onde foi posicionado o cursor, temos uma pequena bandeira laranja (fig. 3). Ela indica o Pre Roll, ou seja, de onde o Pro Tools vai vir tocando ao acionar o botão de gravação. Gravando múltiplos takes Solos, vozes, trechos complexos… estes são alguns casos em que fatalmente várias tentativas serão feitas, e ter o registro de todas estas tentativas é extremamente útil, pois podemos assim construir um take final com os melhores trechos de cada take. Criar vários tracks para receber cada um dos takes é a pior alternativa possível. O recurso para fazer este tipo de trabalho com conforto e eficiência são os chamados alternate playlists. Um recurso muito útil, que existe desde as primeiras versões do Pro Tools e curiosamente é pouquíssimo utilizado. Ao terminar a gravação do primeiro take, vamos criar um novo playlist (não uma nova pista) clicando na seta ao lado no nome da pista (fig. 4) e escolher a opção “new…”. Com isso, a pista fica livre para receber uma nova gravação, mas o primeiro take continua disponível clicando

no mesmo local indicado na figura 4. No meu exemplo, fiz 5 takes (fig. 5), cada take está na sua playlist e a grande vantagem é que agora eu posso criar uma sexta playlist, copiar trechos de qualquer playlist para ela, e assim compilar um “take final” com o melhor trecho de cada take. Gravando múltiplos takes sem perder a inspiração Pelo menu Options, temos a opção Loop Record que tem como objetivo criar automaticamente estes playlists a cada loop do trecho selecionado. Isso evita o processo de parar o Pro Tools, criar nova playlist e gravar de novo. Pode parecer bobagem, mas é o suficiente para desconcentrar uma mente criativa. Para colocar em ação, basta acionar a função, selecionar um trecho a ser gravado e habilitar a gravação. Simples assim, a cada loop, um novo playlist será criado. Encerrada a gravação, é possível abrir to-

dos os takes feitos em loop clicando com o botão direito no clip em questão e acessando a função Alternate takes > Create a new playlist per take. Ajuda na gravação de MIDI A produção MIDI não é apenas para tecladistas. Quase toda a produção hoje em dia conta com recursos MIDI e instrumentos virtuais. E, neste ambiente, nem sempre quem está produzindo tem o piano como formação, o que pode dificultar um pouco na hora de executar suas ideias. A seguir, vamos ver algumas possibilidades para facilitar o processo. Primeiramente, não custa lembrar que é possível diminuir o andamento do Pro Tools temporariamente para gravação MIDI sem nenhum tipo de perda na qualidade sonora, uma vez que o MIDI é sempre executado em tempo real. Então, se sua música está em 100bpm e o trecho é rápido demais para você, fique a

Fig. 3 - Pre-Roll habilitado na janela de edição

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Fig. 4 - gerenciamento de playlists

Encerrada a gravação, é possível abrir todos os takes feitos em loop clicando com o botão direito no clip em questão e acessando a função Alternate takes > Create a new playlist per take

Fig. 5 - lista de opções de takes

vontade para reduzir o BPM por exemplo para 50bpm e grave na metade da velocidade. Ao terminar, basta alterar novamente para 100bpm. Pelo Window > Transport podemos também ativar o recurso “MIDI Merge”. É usado quando precisamos gravar trechos que exigem coordenação com duas mãos, como por exemplo na criação de uma levada de bateria. Com ele, podemos gravar a performance aos poucos, em camadas, sem apagar o que já foi previamente gravado. Você poderia, então, primeiramente, gravar apenas uma levada no prato de hi-hat, parar a gravação e depois reiniciar a gravação para gravar o bumbo e caixa. Ou seja, as duas execuções serão somadas, ao invés da mais nova apagar a antiga como acontece com o áudio.

E com isso, vamos ficando por aqui. Estes recursos são importantes não apenas para ser prático e rápido, mas também para que seja possível alcançar o melhor rendimento do seu fluxo criativo. Abraços!

Para saber online

cmoura@proclass.com.br http://cristianomoura.com


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ABLETON LIVE “SIMPLER OU SAMPLER?!!” OS SAMPLE PL AYERS DO LIVE

O Ableton Live foi apresentado aqui nesses tutoriais como sendo um “Loop Based Workstantion”. Sendo assim, esse software é, por vocação, um “Sampler Player”. Ele gerência loops ou segmentos de áudio para serem tocados (disparados) em tempo real, não importando qual controlador (MIDI) se esteja usando.

Lika Meinberg é produtor, orquestrador, arranjador, compositor, sound designer, pianista/tecladista. Estudou direção de Orquestra, música para cinema e sound design na Berklee College of Music em Boston.

M

esmo assim a Ableton lançou o Live Suite acompanhado de “duas pérolas”, dois Sampler plug-ins que são realmente incríveis apesar do seu visual low profile. O Simpler é uma versão simples (perdoem-me a redundância) de Sampler Player que vem nos pacotes, edição limitada, do Ableton Live, e o Sampler é um Sampler software completo que vem acompanhando o Ableton Live Suite, mas pode ser comprado separadamente para as versões menores do Ableton Live. Vamos começar pelo Sampler, porque muitas respostas sobre o Simpler serão respondidas também.

Abrindo Sampler

ABRINDO O SAMPLER Abra o Ableton Live, vá ao Browser (triângulo cinza à esquerda em cima) > CATEGORIES >Instruments > Sampler. Arraste para um MIDI Track (como indica a seta amarela), ou dê duplo clique no ícone Sampler e será criado um novo MIDI Track (ou uma nova pista MIDI). Então o Sampler se revela com essa cara simplista. Mas não o subestime, Sampler é, sem dúvida, um excelente Sample Software, veremos isso no decorrer desse tutorial. Vamos então carregar algum Audio Sample no plug-in. Pode ser de qualquer diretório que você tenha configurado


Sampler

Sample for Sampler

para o Ableton Live, mas nesse caso vou abrir um do pacote original do Ableton Live Suite. Browser > CATEGORIES > **Samples... > Clapping Flamenco - 120bpm (umas palmas Flamencas) e arraste o áudio exatamente como indica essa seta lilás na imagem acima (**atenção não vá se confundir com “Sampler” do outro diretório) Pronto, nosso Sampler já tem Sample!!! (Ufa!) Nessa Janela, o Audio Sample pode ser editado para ser reproduzido ou tocado de muitas formas, e quem já trabalha com Sampler Machines sabe o quê esperar de uma boa interface. Eu diria que Sustain/Release Modes são um dos pontos que fazem a diferença!

Realçado por esse retângulo verde, temos três modos de Sustain: On (one shot - um tiro, ou o Sampler toca uma vez quando disparado), Loop (obviamente o Sample toca indefinidamente até você soltar a tecla ou botão de qualquer controlador) e Loop Back and Forth (Loop vai e volta, só para quando soltar a tecla ou Launch Botton). O Link quando habilitado, o Sample Start é igual ao Loop Start. Nesse mesmo realce verde, temos logo abaixo os modos de release que permitem que, se o Sustain estiver em On Mode, podemos aqui habilitar

Modes Sustem release

Interpolations

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Zones

“ ” Uma interpolação de melhor eficiência consome mais processamento da sua CPU, mas seu Sample tem uma resolução maior e de qualidade superior

uma porção extra de release do sampler para uma composição mais complexa de Sample playback. Os modos são: On/Off, Loop e Loop Back and Forth. Outra relevância aqui é sobre a Interpolação do Sample a ser reproduzido conforme a necessidade do evento! (realçado pelo retângulo amarelo na imagem abaixo). Uma interpolação de melhor eficiência consome mais processamento da sua CPU, mas seu Sample tem uma resolução maior e de qualidade superior. Acima do retângulo amarelo, destacado por esses check marks verde e vermelho, estão os presets do Display, que permitem que você habilite os canais do sample como Mono Left (esquedo), Right (direito) e Both (ambos,

Pitch Envelope e Mod Oscilattor

Filter e Global Settings

estéreo ou dois mo nos). Muito útil para edição e composição de Multisample. Se observarmos na imagem a seguir, temos um oval verde no ícone Zone. Basta clicar nele para que uma nova janela acima se revele. Aqui fazemos os ajustes e configurações nos Samples. A seta amarela mostra o Zone Editor (editor de Zona). Repare nesses três ícones: Key, Vel, Sel. Key: aqui você pode definir e editar a nota chave (Key zone) para cada Sample Layer (Camada). Vel: permite definir e editar os Velocities (intensidade de volume) do Sample por Zona. Sel: permite definir e editar as Zonas de seleção de cada Sample Layer. No mesmo lado esquerdo, em cima, (quadrado lilás) no ícone Lin, você pode alternar tipos de Crossfades. A grade laranja mostra a área do Sample layer list, onde os Samples unitários ou multi-samples são listados. Já temos alguns Samples aqui (selecionado em azul, por exemplo).


Modulations

Muito Simpler

Midi Routtings

No lado superior direito da imagem, onde mostra esse quadrado em vermelho, são as Zonas propriamente ditas. Essas barras podem ser arrastadas (posicionando o cursor do mouse nos cantos de cada barra) para editarmos a tessitura ou alcance (range) de cada Sample. Nessa outra barra bem pequena, paralela à maior, você pode editar o crossfades (fade-in e fadeout) de um sample com outro. Aliás, o comportamento dessas barras já foram extensivamente explicados em matérias anteriores. Pesquise nos outros tutoriais! Focando (e clicando) o cursor do seu mouse no ícone Pitch/Osc (indicado pela seta amarela abaixo, nessa parte do plug-in, um oscilador de modulação e um pitch envelope dedicados, podem ser habilitados. Seguindo essa seta em verde vamos chegar na janela Filter/Global. Aqui podemos configurar parâmetros dos filtros e volume de envelopes e outros parâmetros globais como pan, polifonia e afins. Em seguida, agora seguindo a seta em vermelho, temos o Tab Modulation. Essa janela contem três fontes de modulação (3 LFOs) e mais um envelope auxiliar. Na janela de Implementação MIDI (seta azul), o Sampler mostra todas as suas garras e complexidade. Temos aqui um verdadeiro MIDI Patch Bay, onde você poderá fazer configurações bem complexas e avançadas.

Bem, agora vamos falar do Simpler! Mas espera aí!!?? Você pode perguntar: depois de toda essa envergadura, ainda temos espaço para um Simpler, ??!! Eu respondo que sim. O Simpler é muito usado em formatação de Instruments Racks, ou quando você precisa montar texturas complexas ou um set de efeitos rapidamente, usando os Samples da sua Livraria. Esse plug-in é muito leve, não sobrecarrega sua máquina e é muito simples de ser trabalhado, basta jogar um áudio (qualquer) lá e sair tocando. Para Djs é uma mão na roda, sem suadeira. Pessoalmente estou sempre usando os dois, e mais ainda: quando você está trabalhando no Simpler ou no Sampler, basta um clique de mouse e você alterna entre um e outro. Clique com o mouse (botão direito - seta em vermelho). Nessa parte do plug-in (device Title Bar) aparece um submenu. Selecione Simpler>Sampler ou Sampler >Simpler. Boa sorte a todos!

Para saber online

Facebook - Lika Meinberg www.myspace.com/lmeinberg

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PRODUÇÃO MUSICAL| www.backstage.com.br 62

Em uma mixagem, o nosso objetivo, a princípio, é obter um som mais claro e nítido possível. Isso não quer dizer que o som tenha que ser “clean” sem nenhuma sujeira ou distorção. Isso quer dizer que a sujeira e a distorção possam estar presentes, desde que colocadas de forma consciente e por uma razão. O que não dá é termos um som com distorção porque não sabemos ajustar uma estrutura de ganhos corretamente. Fica então a pergunta: e o que seria uma estrutura de ganhos?

ESTRUTURA DE GANHO NA

MIXAGEM Ricardo Mendes é produtor, professor e autor de ‘Guitarra: harmonia, técnica e improvisação’

A

pesar do nome parecer algo complicado, ele nada mais é do que como estabelecer os níveis de cada canal corretamente em determinados estágios. Fomos ensinados que o áudio digital soa melhor quando gravado com um sinal mais alto. Sim, isso é verdade, pois assim a resolução dos bits é aproveitada da melhor forma, mas isso não quer dizer que tudo tenha que estar sempre beirando 0 dBFS. Como estamos falando do processo de mixagem, não será considerado o nível em que os áudios foram gravados. O que importa é que eles tenham sido gravados sem ruídos e que não tenham clipado durante a gravação. Independente do nível em que tenham sido gravados, o ideal é que eles estejam marcando aproximadamente 6dBFS quando o fader estiver ajustado em 0dB (unity gain). No entanto, o sinal original pode ter sido gravado com um nível abaixo ou acima de -6dBFS. No caso, na figura ao lado, temos um nível de sinal gravado marcando aproximadamente -2dBFS. Nesse caso, como fazer para o sinal chegar em -6dBFS com o fader marcando

0dB se o sinal não foi gravado neste nível? Simples. Usa-se o trim. Algumas DAWs tem o trim já diretamente como um parâmetro do canal, e noutras o trim tem que ser inserido como um plug-in. Com o trim ajustado em zero, ele reproduzirá o sinal exatamente com o mesmo

nível: Para nivelar um sinal que está em 2dBFS para -6dBFS, devemos subtrair 4

dBs no ajuste de ganho do trim: A razão de colocarmos os canais nivelados em -6dBFS é por que os plug-ins soam melhor desta maneira, devido aos algoritmos de sua estrutura de ganho interna. O mesmo raciocínio vale para o master bus. O ideal é que ele esteja marcando também por volta de -6dBFS, mas vamos deixar claro uma coisa: o “nível” de -6dBFS não é necessariamente o nível do pico mais alto, e sim um nível médio do canal.


Quando estou começando a nivelar uma mixagem, normalmente ao levantar a bateria inteira, deixo-a em um volume onde o master fader marcará aproximadamente -10dBFS, um pouco acima da metade do curso do meter (luz ou V.U.), porque, à medida em que se forem adicionando os outros elementos, o nível médio final ficará na casa de -6dBFS com picos que podem se aproximar até de 0dBFS. E por que é extremamente crucial que o seu master fader não clipe? Por que o master fader direcionado para a saída física da sua DAW reflete exatamente o que está acontecendo no seu conversor de saída (D/A). Se estiver clipando no seu master fader, estará clipando na saída da sua placa. E esse tipo de distorção não é nem um pouco agradável aos ouvidos. Para você fazer uma estrutura de ganhos correta, se certifique de ter feito estes três passos: 1 – Acertando os trims: coloque todos os faders no mínimo. Agora, levante o primeiro fader para 0dBFS e observe onde o meter está marcando. Se a média do sinal original estiver por volta de -6dBFS, você não precisa fazer nada. Se estiver acima, use o trim para abaixar o nível de modo que a média deste nível fique por volta de -6dBFS. Se o sinal original estiver abaixo de -6dBFS, use o trim para aumentar o sinal de modo que a média atinja a -6dBFS no meter. Levante o próximo fader em 0dBFS e repita o mesmo processo, um por um, em todos os canais. 2 – Equilibrando o rascunho da mixagem: sem colocar nenhum outro plug-in além dos trims, faça um rápido equilíbrio de todos os canais, para ter uma noção geral da música. Como sugestão comece pela bateria, ou algum outro instrumento bem forte, deixando o meter do master fader em aproximadamente -10dBFS. Ao terminar de levantar os faders dos outros canais, de modo que eles fiquem equilibrados com a bateria, o meter provavelmente marcará alguma coisa na casa de -6dBFS de nível médio. Dependendo do material gravado, pode ser que ao terminar este estágio, o master fader esteja com uma média acima ou abaixo de -6dBFS. Nesse caso, abaixe um pouco a bateria (ou o instrumento que você iniciou) e reequilibre a música. Não abaixe o master fader. O master fader em 0dBFS é a sua garantia de que você está “vendo” o que está saindo pelo conversor D/A da sua placa. 3 – Adicione os plug-ins necessários. Se você seguiu os dois passos anteriores, eles são uma garantia de que os plug-ins não cliparão internamente.

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LEITURA DINÂMICA| www.backstage.com.br 64

PROJETO DE SONORIZAÇÃO PRESERVA A TRADIÇÃO DE CULTOS MUSICAIS O santuário na Igreja Central em Charlotte, Carolina do Norte, nos EUA, é uma típica sala em forma de leque com uma varanda. Construído no início dos anos 80, o local tem capacidade para 1800 pessoas e é uma das mais originais megaigrejas dessa era.

Jerry Temple (à esquerda), Don Kendrick (ao centro) e David Seaford (à direita)

Igreja na Carolina do Norte recebeu sistema d&b redacao@backstage.com.br Fotos: Divulgação

D

e acordo com Jerry Temple, fundador da XLmediaworks Inc., empresa contratada para fazer a sonorização do local, quando o diretor de Media Service da igreja, Don Kendrick contatou a empresa, a princípio era apenas para “arrumar” uns fios no palco. “Aos poucos suspeitei que poderíamos refazer completamente o sistema de som com a V-Series, da d&b audiotechnik”, disse Jerry Temple.

Sistema de som da Igreja Central foi totalmente reformulado

Para instalar um novo e completo sistema em uma sala como esta foi uma operação delicada. Após o primeiro encontro, Kendrick iniciou as conversas com Temple sobre a reposição do sistema principal de áudio. “Foi a atenção aos detalhes que me despertou o interesse no trabalho deles”, disse Kendrick. “Antes de eu chamar o Jerry, ele tinha feito um trabalho em uma instalação em outra igreja. O responsável pelo áudio daquela


igreja me falou muito bem da empresa de Temple”, colocou. O curioso é que a XLmediaworks já havia sido uma revendedora dos sistemas d&b e, por coincidência, o escritório da d&b quase demonstrou o novo sistema V-Series no The Fox Theater, em Atlanta. “Quando Jerry me convidou para ouvir, fiquei intrigado. Eu havia ouvido falar muito bem sobre a d&b, mas nunca na verdade havia ouvido um dos sistemas”. Para moderar a experiência da audição, Kendrick também buscou convidar um terceiro ouvido. “Eu havia chamado Jim Brawley, da empresa James Brawley e Associados, um antigo colega meu. Jim e eu temos uma história profissional e não pude pensar em melhor nome para a audição”, ressaltou. Segundo Kendrick, o The Fox não é muito diferente da Igreja Central, em termos de tamanho, acomodações e acústica. “Eu estava muito impressionado pela cobertura e transparência do sistema, mas eu continuei a querer ouvi-lo ao vivo. Felizmente, o festival MerleFest, na Carolina do Norte, foi o lugar certo, tendo em vista que o sistema V-Series estava sendo usado no palco”, afirmou. “Instalado em uma rampa, a cobertura sonora pode pregar peças; então seria muito mais fácil ampliar a cobertura para parte da audiência. Mas quando andei em volta do local, fiquei surpreendido, de cima a baixo, do LF para HF, tudo estava lá. Isso ajudoume a decidir. Eu estou nesse negócio há bastante tempo, tenho 10 anos de experiência fazendo som para TV e no passado fiz meu próprio design de sistema para instalações, então sei exatamente o que é necessário: me decidi com um alto grau de certeza”, observa. Jim Brawley e Jerry acertaram sobre o design do sistema de instalação e fizeram o projeto de som do santuário usando a ferramenta ArrayCalc. “Determinamos por arranjos L/R de V-Tops, com V-Subs, e J-Infras para cada lado”, explicou Temple. “Ajustar a dispersão sonora dos V-Series para a sala foi relativamente fá-

cil. Os Infras já foram outra questão. O ponto é que a Central Church tem uma tremenda banda e ótimos cantores, e existe uma forte tradição de cultos com música aqui. Então os Infras foram essenciais”, explicou. O projeto de Brawley foi além, adicionando gabinetes T10 para o front fill. “Este é um dos mais pesados gabinetes em termos de potência de performance para um front fill”, comentou Temple. “No entanto, por causa da significância dessa grande tradição musical na Central Church, Don quis algo mais potente, embora os T10 sejam um pouco mais largos que um front fill típico. E apesar de termos alto-falantes em três distâncias diferentes a partir do palco, que era o ponto zero, programar o sistema com delay e EQ foi bem fácil: exportamos todos os programas direto do software de simulação para os amplificadores D80 e D12, da d&b assim que os ligamos”, exemplificou. Na opinião de Kendrick, Jerry é que fez isso parecer fácil. “A verdade é que a entrega e a instalação foram quase um empreendimento. Os pontos existentes dentro do santuário eram o local totalmente errado para os V-Series, e eu também queria os Infras e os sidefills escondidos dentro do proscênio. Era um grande problema para ser resolvido”, afirmou Kendrick. Para solucionar a questão, foi essencial fazer trabalhos estruturais no teto, e a inclusão do J-Infra dentro do proscênio - o que não foi de muito fácil execução. Jerry e seus ajudantes, em acordo com os engenheiros da igreja, tiveram apenas duas semanas, quando o santuário estava livre de compromissos, enquanto a congregação celebrava durante o Fall Festival, um evento externo. “Foi um desafio e o que eles realizaram deixou-me ainda mais impressionado. Colocar aqueles Infras levou oito horas cada, e não esqueçamos da estrutura principal do santuário: os ornamentos, a tapeçaria, tudo continuava nos seus lugares”, concluiu.

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VITRINE ILUMINAÇÃO| www.backstage.com.br

CADERNO ILUMINAÇÃO

ETC COLORSOURCE PAR www.telem.com.br A luminária LED RGB da ETC conta com um diferencial: a adição da cor lima, que proporciona uma paleta mais vibrante e rica em cores. Também é de fácil operação, com ferramentas de mistura de cores RGB simples e diretas, além de acesso a cenas pré-definidas e sequências com a interface de usuário embutida. A ColorSource PAR é projetada e construída para durar. Cada luminária tem calibração óptica, de modo a obter a mesma cor uniforme em todas os equipamentos. Usa os mesmos acessórios que as luminárias Selador Desire D40, permitindo combinações que tiram o máximo do set de iluminação.

CHAUVET HIVE http://www.equipo.com.br O Hive emite raios espessos e multicoloridos para dar à aplicação móvel aquele estilo visual “rock star”. LEDs vermelhos, verdes e azuis de alta potência emitem raios concentrados precisos a partir de seis lentes de ângulo fixo. Crie visuais personalizados em modo DMX, ou use os programas internos automatizados ou disparados por som para governar o show. Use em conjunto com uma máquina de fumaça ou neblina para criar atraentes efeitos no ar. O equipamento possui ainda 18 LEDs (6 vermelhas, 6 verdes e 6 azuis) de 3W cada, controlados via DMX, ativação sonora, automático ou master slave, além de 3 ou 20 canais DMX. O ângulo de cobertura é de 44 graus.

VARI*LITE VL 4000 BEAMWASH www.hotmachine.ind.br O VL4000 BeamWash combina a impressionante capacidade wash com a intensa funcionalidade beam, bem como a capacidade de produzir um poderoso feixe de luz. Agora, um único equipamento pode servir para múltiplos usos, sem alterar as lentes ou adicionar acessórios. Completo, com baixo ruído ambiente, alta saída de luz e óptica incrível, o VL4000 BeamWash é o equipamento ideal para wash, beam e feixe vistos de qualquer palco. Completamente compatível com uma ampla variedade de consoles DMX512, possui 46 canais DMX (Enhanced 16-Bit Mode), 41 Canais (16-Bit Mode), Controle RDM e é completamente compatível com uma ampla variedade de dispositivos de RDM.


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RÁPIDAS & RASTEIRAS| www.backstage.com.br

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MAC VIPER AIRFX NA RÚSSIA

ROBE NA FRANÇA

Os equipamentos Martin MAC Airfix foram os escolhidos para a casa noturna Batyr, na Rússia. O lighting designer responsável pelo estabelecimento, Artem Sagaidak, conheceu os movings durante um seminário em Moscou. Como fã de efeitos mid-air, ele imediatamente quis testar a novidade na boate. Sagaidak usou então um par de wash lights para o rig a fim de dar versatilidade, criando cenários mais dinâmicos.

SOLUÇÃO EM UM KIT A empresa Fisher Production, que fornece todo tipo de solução de iluminação, investiu recentemente mais de 5 milhões de libras em novos equipamentos de luz e controle. O evento L´Oreal Colour foi um dos primeiros que se beneficiaram dos novos investimentos da empresa, e o projeto de iluminação contou com um dot2 XL, mais um dot2 Node 4, além de equipamentos Clay Paky, Mythos, K10 B-EYE, entre outros.

ADLIB INVESTE MAIS DE UM MILHÃO A Adlib Iluminação investiu recentemente mais de 1 milhão de libras em equipamentos Martin Professional, aumentando seu número de MAC para mais de 200 unidades, incluindo o premiado MAC família Viper, MAC Quantum Wash, e MAC Aura. Mike Docksey, gerente geral de Iluminação e Vídeo na Adlib, afirma que esse investimento foi extremamente importante.

A Robe lançou oficialmente seus novos escritórios com uma festa que contou com a participação de cerca de 150 pessoas, incluindo grandes players de locação e designers de iluminação de todos os setores da indústria de produção francesa. A Robe Iluminação França é chefiada pelo CEO e CFO de Bruno Garros Elie Battah. A empresa está operando com sete funcionários no local, incluindo o assistente executivo Messaouda Belarbi, o pós-vendas e gerente de suporte técnico Jerome Lambeau e

o especialista em comunicações Jonathan Grimaux. Dois engenheiros de vendas técnicas, Kevin Migeon, cobrindo o norte da França, e Franck Huyhn que está cuidando do sul do país, também fazem parte do time. A Robe Iluminação França possui novos escritórios em Paris Nord 2, que são extremamente bem localizado em uma bela área verde arborizada, a apenas 10 minutos do Aeroporto Internacional Charles de Gaulle, em Roissy, e 20 minutos de Paris Porte de la Chapelle.

CHAUVET PARA HEAVY METAL A banda de heavy metal Montionless in White, famosa por suas apresentações teatrais no palco, tem como aliados os equipamentos de iluminação da Chauvet. O lighting designer do grupo, Freddy Thompson, da JDI Productions, tem como opções equipamentos como os movings Legend e os Vesuvio RBGA, da Chauvet Professional. Thompson usou 6 Legend 230SR Beams e 8 Legend 412 moving whashes.


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ILUMINAÇÃO Alexandre Wollner, pioneiro do Design no Brasil, definiu essa atividade como o dimensionamento de uma estrutura, onde todos os elementos visuais se inserem nos vários meios de comunicação a ela pertencentes. Com isso, fica a pergunta: será que os projetos de iluminação cênica têm ‘Design’, de maneira a comunicarem as mensagens adequadamente?

CÊNICA Cezar Galhart é técnico em eletrônica, produtor de eventos, baixista e professor dos Cursos de Eventos, Design de Interiores e Design Gráfico do Unicuritiba. Pesquisador em Iluminação Cênica, atualmente cursa Pós-Graduação em Iluminação e Design de Interiores no IPOG.

LIGHTING DESIG N L IÇÕES & DESIGN

P

ara responder essa questão, é importante também analisar e avaliar as lições que os projetos proporcionam. Nesta primeira conversa, o Design será abordado a partir de uma primeira e importante lição – envolvendo métodos, processos e comunicação. O palco se ilumina: elementos cênicos são revelados e o campo visual se amplifica, delimitado pela dimensão onde se configuram os personagens do espetáculo – musical, performático, teatral – ou por um conjunto de luzes, projetadas por instrumentos manualmente manipulados, ou controlados por equipamentos invisíveis aos olhos dos espectadores. Esse momento inicial pode proporcionar sensações e

- PARTE 1 -

emoções diversas ao público presente, mas para muitos profissionais representa uma sensação de alívio e satisfação incomparáveis. Independente da dimensão do evento – um pocket show ou um show de um artista, ou banda headliner de um festival - ou do local de realização – aberto ou fechado, adaptado ou projetado para tal fim -, todo projeto de iluminação cênica possui elementos comuns que são definidos na primeira conversa com os produtores, artistas ou profissionais diversos, integrantes das equipes técnicas, que são responsáveis pela realização de uma apresentação musical, um espetáculo teatral ou uma performance artística, e que são entregues aos espectadores de maneira a


Fonte: The Creators Project / Divulgação

Figura 1: Roy Bennett (LD) acerta os detalhes da turnê “Lights In The Sky Tour” (2008) com Trent Reznor – líder da banda Nine Inch Nails

conhecimento que será necessário ao profissional no sentido dele se inserir no contexto da iluminação e principalmente do Design. Mas, o que é mesmo “Design”?

livro Design - Uma Introdução), o Design é uma “visualização criativa e sistemática dos processos de interação e das mensagens de diferentes atores sociais”. Nesta definição,

transmitir mensagens, emoções, ideologias, entretenimento. Desde as primeiras realizações – para uma banda de amigos, um “apoio” a um festival de teatro no colégio do bairro ou outro evento em um espaço religioso mais próximo –, todo projeto é, antes de mais nada, “um projeto”. Profissionais renomados ou iniciantes têm em seus currículos e seus portfólios histórias de sucesso e também aquelas situações inesperadas, nas quais nada ocorreu como deveria. Muitos podem associar essas ocorrências aos insucessos. Seria mais interessante estimá-las como aprendizados, que devem fazer parte daquela cartilha de lições a não serem repetidas – mas que sempre serão revisitadas como conselhos e precauções. Talvez a primeira e mais singular lição será justamente aquela que formará o perfil profissional do lighting designer que se pretende ser: “ter sabedoria para conversar, compreender, entender”. E será justamente na junção desses três verbos que outros virão, em decorrência do auto-

O número de elementos a serem dispostos no cenário, as intenções, as formas, o ritmo (velocidade e sequência), são alguns dos elementos percebidos

Para uma mais correta análise sobre o tema – que é realmente complexo -, torna-se necessária uma definição que consiga traduzir, sucintamente, o que se consolida como “Design”. Para Beat Schneider (professor das disciplinas de História da Cultura e do Design e Teoria do Design na Escola Superior de Berna, presidente da Swiss Design Network, além de autor do

alguns elementos aplicados à iluminação se destacam: o profissional que desenvolve um projeto de iluminação deverá ser capaz de identificar as ações necessárias para a idealização e execução, e a maneira com as quais essas ações se completam, a partir das necessidades e requisitos dos clientes – aqueles mesmos produtores, artistas ou profissionais diversos – com criatividade.

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Eis que surge o primeiro verbo “mágico”: conversar. Esta ação pressupõe a presença de duas ou mais pessoas interagindo em um processo de comunicação onde há o envio e recebimento de mensagens e consequente alinhamento das informações recebidas e transmitidas. É neste contexto que surgem as ideias e os primeiros esboços de um projeto de iluminação, quando há correta identificação e percepção das necessidades e dos requisitos. O número de elementos a serem dispostos no cenário, as intenções, as formas, o ritmo (velocidade e sequência), são alguns dos elementos definidos. Em geral, a partir da primeira conversa, delineiam-se os primeiros rascunhos e as primeiras informações que farão parte dos processos de elaboração de um projeto. Para esta primeira etapa da lição, serão necessários diversos esboços, algumas conversas, uma ou duas propostas. E cabe salientar que o verbo “ouvir” poderia também se associar de maneira decisiva e mais enfaticamente para a melhor identificação dos recursos necessários ao êxito do projeto.

Organização evidencia qualificação. Um projeto de iluminação cênica que permite fácil compreensão dos recursos, equipamentos, instrumentos e efeitos propostos naturalmente demonstrará uma organização visual e textual das informações e, naturalmente, com os detalhes apresentados, uma qualificação diferenciada para os elementos apresentados – e isso será percebido por todos os profissionais envolvidos nas etapas de montagem, realização/operação e desmontagem do evento. Para o desenvolvimento desse projeto – desde o contato inicial com o cliente até a apresentação da proposta, de forma a aprová-la –, são diversos os métodos e condutas a serem adotados, com base em estudos produzidos nas mais multidisciplinares áreas do conhecimento. De maneira bem simplificada, e objetiva, pode-se adotar – com adaptações - um dos dois métodos de condução dos processos e desenvolvimento dos projetos criados pelo designer e professor John Chris Jones: o método ‘transparente’ e o método ‘caixa-pre-

Fonte: Ralph Larmann/Martin / Divulgação

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Figuras 2-3: Maquete e realização da turnê “Kiss Me Once Tour” (2015) da cantora australiana Kylie Minogue

Para o segundo verbo, “compreender”, entenda-se “desenvolvimento”. E quando se desenvolve algo, isso proporciona um ou mais resultados, carregados de significados e proposições, que no fim, poderão oferecer uma proposta única, singular, ou seja, personalizada ao cliente. Nesse contexto, incluem-se outros termos que deverão fazer parte do universo do lighting designer: organização, métodos e técnicas.

ta’. Normalmente, o primeiro acaba por ser o mais usual, pois envolve mais limitações: prazos reduzidos para a entrega dos resultados, restrições dos recursos financeiros disponíveis, área máxima disponível para o palco ou local a ser iluminado, número definido de personagens ou elementos cênicos, mínima quantidade de cores ou intenções a serem demonstradas ou mesmo estrutura fixa e já disponível


Fonte: U2 | Clube E / Divulgação

Figura 4: Apresentação em Milão da turnê “360º Tour” (2009) da banda irlandesa U2

no local para o desenvolvimento do projeto de iluminação. No método criativo associado a essa linha de condução, ajustes e adaptações serão constantes e inseridos em todos os parâmetros do projeto. Isso pode também permitir que o lighting designer complemente uma estrutura existente com a inclusão de instrumentos de iluminação adicionais (desde que o orçamento do projeto permita). Também todos os objetivos, variáveis e critérios são estabelecidos previamente, sendo a busca e avaliação de alternativas uma questão lógica e não experimental. Projetos nesse contexto se inserem em outros mais amplos, e são particularmente associados a uma produção seriada de resultados e tarefas já conhecidas ou repetitivas. Como exemplo, turnês e festivais. Para o método de desenvolvimento ‘caixa-preta’ (parte-se do princípio que, mesmo com naturais limitações para os itens anteriormente apresen-

tados, há uma maior envergadura de possibilidades e mais significativa abertura para inovações), o resultado final será naturalmente influenciado pelas necessidades e requisitos do cliente, e também pelas experiências anteriores, vinculadas a outros artistas e grupos/bandas. Como vantag e m e trunfo desse método, há mais flexibilidade para prazos, o que também diminui a pressão para os resultados propostos. Como consequência disso, a coerência entre o resultado e as necessidades/requisitos terá mais efetividade e mais promissora aceitação e consequente aprovação. Os projetos podem também se inserir em turnês; normalmente se configuram em eventos únicos, com apelo visual incomparável. Para as duas linhas, aplica-se o terceiro e último verbo da primeira lição: “entender”. E este, por sinal, acaba por sintetizar os anteriores, e ainda consegue conciliar quatro elementos que devem se inserir em qual-

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Figuras 5-6: Espetáculo “Hakanai - Brooklyn Academy of Music” (2015): video mapping, CGI e sensores

Fonte: Instagram – Twitter/Katy Perry / Divulgação

Fonte: Romain Etienne / AMCB-Hakanai / Virginie Serneels / Divulgação

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Figuras 7-8: Croqui original e maquete eletrônica – “Prismatic World Tour” (2015) da cantora Katy Perry

Somada à interpretação, a dedução também se torna um processo à parte, pois muitas vezes é necessária uma análise preliminar e dedutiva dos elementos coletados na conversa com o cliente...

quer projeto: interpretação, dedução, concepção e decisão.Na identificação das necessidades e requisitos do cliente, a interpretação se configura em elemento chave para o estudo preliminar de qualquer projeto. Por isso que o entendimento dos diversos recursos e efeitos que a iluminação cênica proporciona será fundamental para os esboços iniciais. Somada à interpretação, a dedução também se torna um processo à parte, pois muitas vezes é necessária uma análise preliminar e dedutiva dos elementos coletados na conversa com o cliente e que poderão resultar em um projeto compatível às expectativas formuladas. Finalmente, a concepção poderá ser desenvolvida com o uso de diversas ferramentas – como desenhos, maquetes (físicas ou eletrônicas) e outros – de forma a transformar ideias em imagens ou outras formas de representação – com as devidas técnicas relacionadas à execução do projeto. Com esses recursos, para con-

cluir, são realizadas as escolhas finais, no processo decisório que resultará no projeto preliminar (ou mesmo anteprojeto) que será apresentado ao cliente. Como diria um ditado popular, “a primeira impressão é a que fica”. Traduzindo para o lighting design, essa expressão nunca funcionará de verdade. Seja a impressão visual ou do projeto impresso, as alterações e modificações fazem parte de um processo de desenvolvimento dinâmico e evolutivo. Cabe a cada lighting designer identificar quais são os principais insumos – e também as principais lições - que fornecerão as melhores condições e soluções para a elaboração de um projeto a partir de um processo criativo – tema da segunda parte desta conversa – com êxito – e Design!!! Abraços e até a próxima!

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A produção teatral Inventário de Segredos, uniu no teatro Sesc Senac de Fortaleza um grupo heterogêneo de atores e profissionais do Brasil afora. Atores cearenses radicados no Rio e em São Paulo, uma cenógrafa do Rio Grande do Sul, um diretor carioca, e outros da Bahia, além de David Bosboom, carioca de coração e gringo por natueza, como ele mesmo se auto define, que foi o responsável pelo design de iluminação do espetáculo. David H. Bosboom david@backstage.com.br Fotos: Divulgação

A PLATEIA

DENTRO DO ESPETÁCULO

L

uzes cheias de surpresas, cores e gobos iluminaram o palco do teatro Sesc Senac Iracema em março de 2015. Dirigido por Bruce Gomlevsky, a experiência da produção e da luz foi diferente para todos, com a plateia dentro do cenário, da luz, da cenografia e da cidade imaginária de Urupeba, local onde se passa a história. Da conversa que David Bosboom teve com o diretor Bruce Gomlevsky sobre o projeto que gostaria de realizar com sua colaboração se passaram dois anos e, em 2015, recebeu o convite para participar de Inventário de Segredos e criar a iluminação para o espetáculo.

Segundo Bosboom, ao criar a concepção do design de luz, o objetivo era oferecer o máximo possível de área de controle e cores (mood) para o diretor, tendo em vista que o espaço não seria numa abordagem padrão de palco italiano. “Na verdade, o público foi colocado no centro participando como cidadão dessa cidade imaginária de Urupeba. As casas de cada personagem, criadas o redor da plateia pela cenógrafa Pati Faedo, fez com que fosse necessário iluminar cada peça cenográfica individualmente”, explicou. David procurou “oferecer” em cada casa todas as opções no controle de luz e mood. A ideia era que, quando as


casas não participassem da ação não ficassem num vazio escuro. “Quando o cenário não era utilizado na cena, simplesmente optei na iluminação com padrões de gobos esculpindo esses espaços negativos”, observou. Nas palavras de David, criar um design é uma questão de harmonia entre a sua criatividade e termos práticos, procurando equilibrar o equipamento que o profissional quer com o orçamento que lhe é dado. “Como estávamos num teatro SESC, tive uma quantidade suficiente de equipamentos de iluminação. No entanto, para me dar área e controle de cor, tive que solicitar mais dimmers da produção”, ressalta. Os elipsoidais, por

exemplo, David comenta que os usou para os seus próprios padrões de gobos na abertura, no convento, numa cena específica de dança

Pluralidade: equipe do teatro contou com profissionais de diversas regiões do Brasil

nar o espetáculo e atores. Como precisava de mais Fresnel usei um truque comum colocando um frost na lente do PC criando o efeito desejado suave e trabalhando junto com barndoor”, expõe. O Fresnel foi utilizado para dar variedades de tamanho do foco de luz, contorno suave, e também iluminou o cenário na maioria das vezes. Já os PC’s deram variedades de tamanho do foco de luz, contorno suave com frost, e iluminou as áreas de atuação. Os equipamentos PAR64, foco 1, 2 e 5, com múltiplo propósito, iluminaram as áreas de atuação. Os elipsoidais 26-50°, com donut e gobo, texturizaram cenário e cenas. O hazer foi usado na abertura do espetáculo. “Usei todos os instrumentos e cabeamentos que o teatro possuía; até mesmo o cabo da luz de serviço quando resolvi fazer um ajuste final. Devido a composição cenográfica ser em torno da plateia, optei por mais controle, de modo que os dimmers foram mais significativos do que os instrumentos adicionais. Teatro é uma arte colaborativa, saí feliz com o resultado”, conta. Para definir os equipamentos a fim de atingir o conceito traçado para a peça, David frisa que o primeiro elemento a ser levado em consideração são os seus olhos. “Só lendo o

Quando o cenário não era utilizado na cena, simplesmente optei na iluminação com padrões de gobos esculpindo esses espaços negativos. e para iluminar os espaços negativos. “Isso me deixou apenas com Fresnel, PAR64 do PC para ilumi-

script posso entender a história e as intenções do dramaturgo. Como estrangeiro, esse aspecto é impor-

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CADERNO ILUMINAÇÃO

Projeto foi pensando quanto ao ângulo e intensidade da luz, além das limitações do espaço de atuação

Os seres humanos têm três dimensões e minha iluminação reflete essa realidade, assegurando que os personagens se destaquem dos elementos cênicos

tante e exige um pouco mais do meu tempo e dedicação. Mas entendidos a história e os personagens, começo a pensar sobre as cores que usaria e procuro me colocar no clima que seria adequado para cada cena”. Ângulo e intensidade de cada luz são importantes, bem como as limitações do espaço de atuação. Outro fator importante para David é “esculpir” os corpos dos atores. “Os seres humanos têm três dimensões e minha iluminação reflete essa realidade, assegurando que os personagens se destaquem dos elementos cênicos”. Para o projeto de iluminação, Bosboom usou dois programas. Para a planta do design, o VectorWorks e para o paperwork o programa LightWright. “Gosto do VectorWorks pois é um programa mais fácil do que o AutoCAD, por ser escrito especificamente para designers de iluminação. O programa vem com uma grande variedade de ícones e aceita qualquer arquivo em DWG, colocando automaticamente o ícone do instrumento de iluminação em escala correta dentro do cenário enviado pela cenógrafa”, fala acrescentando que como o programa usa diferentes cortes, é possível separar o cenário das posições de iluminação. “Na verdade, você pode criar quantos cortes forem necessários para criação do seu desenho final, salvando em PDF e simplesmente imprimindo em qualquer impressora”, completa. Já para o paperwork do projeto como as listas de canais, dimmers, luzes e cor, e que devem ser precisas e legíveis para a equipe que vai executar a instalação, foi

utilizado o Lightwright. “Escrevi aqui na Revista Backstage, em abril de 2009, sobre este programa. A principal vantagem de Lightwright é a capacidade de verificar se cometi erros, economizando assim o meu tempo de trabalho”, avalia. Outro cuidado que David procurou ter foi o de antecipar possíveis situações. “Sabendo das variáveis com que teria que lidar, limite de tempo e financeiro, fiz contato com o teatro em Fortaleza, e tive acesso às plantas e listas de equipamentos. Chegamos na segunda feira à noite e tudo teria que estar pronto em 72 horas para um ensaio técnico geral. Com bom planejamento e equipe não tivemos gastos adicionais ou questões de última hora”, comenta. Até o momento, o Produtor de Fortaleza, William Mendonça, da WM Produção, tem a intenção de levar a peça para o Rio de Janeiro no segundo semestre de 2015. A ideia é adicionar novos elementos à produção que vai para a capital fluminense. “No entanto, não tivemos a oportunidade de conversar a respeito”, comenta David. Outro local que deve receber o espetáculo é Brasília, além de outras cidades no Nordeste. De acordo com David, o cenário foi criado com o objetivo de ser de fácil transporte, cabendo tudo em um único caminhão. “Claro, que a iluminação geralmente tem ajustes de acordo com cada local”, antecipa.

Lightwright O download gratuito para experimentar o Lightwright pode ser feito no site www.mckernon.com, onde é possível imprimir o documento final em qualquer impressora usando um Mac ou um PC.


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Sob o

Sol do Sertão D

epois de horas de sol e poeira avistamos finalmente um posto de gasolina. Precisávamos de combustível e algum descanso, pois tínhamos ainda muito chão pela frente e um show pra fazer à noite. Deixei o carro aos cuidados do frentista e entrei no bar. Triste bar. Prateleiras semivazias, mesas e cadeiras tortas sob dois inúteis ventiladores. As persianas quebradas faziam o possível para barrar o sol infernal de quase meio dia. Atrás do balcão, o atendente tentava escutar e traduzir os chiados de um minúsculo radinho de pilha que ocasionalmente fazia-se entender através dos berros desesperados de um locutor de futebol. Ah, era sábado, lembrei. Da pequena estante envidraçada acima dele, uma veneranda linguiça me olhava à moda do biscoito de Alice no País das Maravilhas. “Coma-me” – dizia ela. Mesmo com o estômago roncando, resisti heroicamente ao chamado da embutida, encostei no balcão e pedi uma cerveja. Se você está achando que eu devia procurar comida no meio do tabuleiro – areião que vigora numa vasta região às margens do São Francisco – engano seu. A cerveja por lá está sempre quase zero grau, enquanto a comida só é aconselhável – e muito aconselhável – nas cidades mais populosas, tipo cinco mil almas pra cima. Então repeti e dobrei a aposta: - Meu amigo, abre logo duas. O atendente me olhou, sorriu – decerto estimulado pelo acerto do pedido daquela figura abusivamente metropolitana – e levou uns dez minutos pra chegar ao freezer a seu lado. Diligentemente, tirou duas

noivas lá do fundão (Deus, elas deviam estar arrependidas de serem o que eram e ter que sair daquele friozinho gostoso!) e abriu ambas quase ao mesmo tempo, com uma maestria que não pude deixar de admirar. Serviu-nos com um sorriso cordial, que contrastava com sua camisa suada e a óbvia exaustão provocada pelo esforço de ouvir o inaudível. Peguei ambas com aquele infinito cuidado que não as deixa congelar e sentei pesadamente na cadeira que sobrava na nossa mesa, dividida com minha então cara metade, nossa querida amiga Martinha Strauch - que já nos deixou, mas que deve estar contando a São Pedro essa mesma história inusitada que eu conto agora a vocês – e uma outra pessoa, que não me lembro quem era. Foi só depois do primeiro e prolongado gole que percebi o Zumbido. Não era um zumbido qualquer, era “o” Zumbido. Um som surdo, mas potente, que entrava diretamente pelo cérebro adentro, detonando um alarme tipo “abelhas assassinas! ”, “besouros extraterrestres! ”, “tarântulas gigantes! ”, qualquer aberração, enfim, saída daqueles trash movies hollywoodianos dos anos 50. Virei-me alarmado na direção do Zumbido e fiquei estarrecido com o que vi. Havia outro freguês no bar. Ele estava na única sombra disponível, mas com o movimento do sol através das persianas apodrecidas bastaram cinco minutos para que pudesse enxergá-lo com alguma nitidez. Sentado de maneira estranhamente curva que o fazia parecer quase caído da cadeira, repousava o braço sobre a mesa.


LUIZCARLOSSA@UOL.COM.BR | LUIZCARLOSSA.BLOGSPOT.COM E no final daquele braço, saída da manga comprida da camisa, surgia uma mão inchada e negra, mão que parecia estar em movimento, variando sua forma de um jeito completamente absurdo, como se sob efeitos especiais de um filme de ficção científica. Minha primeira reação foi de definir qual droga havia sido posta na minha cerveja, hipótese imediatamente rejeitada pela impossibilidade do mínimo lapso de tempo transcorrido entre meu primeiro gole e aquela visão esotérica. Enquanto eu tentava desesperadamente entender o que estava acontecendo, o tal freguês endireitou-se subitamente, levantou o braço e desceu a mão com toda a força de encontro ao tampo da mesa. Aí o surreal impôs-se de vez: Esse movimento fez com que uma inacreditável quantidade de moscas decolasse daquele verdadeiro aeroporto humano. Mesmo de onde eu estava dava para vê-las em detalhes sob a luz brilhante do sol, que agora invadia de vez a mesa do sujeito: eram negras, verdes, azuis, de todos os tipos e cores, um verdadeiro paraíso entomológico concentrado naquele metro quadrado de brilho. E de repente, do mesmo jeito que subiram, desceram, como se aquela mão fosse sua casa. Ela enegreceu-se de novo, e o Zumbido retornou, grave, falsamente quieto, fazendo com que eu e minhas companheiras de mesa – já então participantes daquela situação – nos entreolhássemos como se estivéssemos todos sido transportados para uma dimensão alienígena. Enquanto tentávamos voltar à vida real, ele se levantou e começou a andar em direção à porta. Foi aí que eu reparei que alguma coisa pendia de sua mão, seguida incessantemente pela compacta nuvem de moscas coloridas. Caminhando com dificuldade, ele passou rente a nós, agora balançando o braço para livrar-se da miríade de “amigas’ que o acompanhavam. Pude ver então que ele carregava um pedaço de carne rosada entre os dedos, pedaço esse que acabou por revelar-se um passarinho depenado, levado pelas patas. Daí a ambição das moscas! E lá foi-se o cara, soleira afora. O atendente o seguiu com os olhos, indiferente. Sem poder me conter, fui até o balcão: - O que era aquilo?! - Um passarinho – respondeu ele, candidamente. – ele pega na armadilha e traz aqui pra cozinheira depenar. Vendo que a curta explicação não me satisfizera, ele continuou: - O problema é que ele demora tanto tempo bebendo que a moscaiada junta... -Ah... Tomamos mais algumas cervejas - fome interrompida... - e saímos de volta pro maçarico infernal que insistia em derreter o mundo lá fora. Sushi de passarinho depenado ao molho de moscas não era exatamente a nossa ideia de almoço. E partimos de novo, sob o sol do sertão.

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