Backstage 303 - Abril 2022

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AINDA VALE A PENA TER equipamento analógico? Já há alguns anos, se fortaleceu uma “cultura do vintage”. Seja devido à alta qualidade de alguns equipamentos analógicos, seja devido a preconceitos ligados à baixa qualidade do áudio digital no início de seu uso em estúdios, equipamentos como os préamplificadores Neve 1073, máquinas Studer de fita de duas polegadas, microfones como o Neumann U-87 ou reverbs de placa, como os EMT, são tratados como verdadeiras preciosidades, com preços, em alguns casos, estratosféricos.

Reportagem: Miguel Sá | Fotos: FreePik.com (Pvproductions Wavebreakmedia - Osaba ) / Divulgação / Arquivo

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ara saber se, ainda hoje, no atual desenvolvimento dos equipamentos digitais, essa valorização dos vintage tem um pé na realidade ou é apenas uma “modinha” desnecessária, a Revista Backstage conversou com três engenheiros de som premiados e com experiência de alto nível em ambos os formatos: Flávio Senna, Maurício Gargel e Arthur Luna.

Mesmo com simuladores de todo o tipo de equipamento analógico, com bom custo-benefício, altas taxas de amostragem na gravação do som e toda a flexibilidade e facilidade para o trabalho, alguns equipamentos analógicos ainda despertam o desejo dos profissionais de som. Por que isto acontece? O som é mesmo melhor? Os simuladores ainda não chegam no mesmo resultado? O


Flávio Senna

preço compensa? Para saber a este respeito, a Backstage procurou três engenheiros de som premiados e com experiência de alto nível em ambos os formatos: Flávio Senna, Maurício Gargel e Arthur Luna. Flávio Sennaé engenheiro de som indicado e premiado com incontáveis Grammys e o nome nos créditos de vários álbuns fundamentais da MPB. Flávio também é sócio de um dos últimos grandes estúdios do Brasil: a Cia dos Técnicos, e atua no som ao vivo de alguns dos P.As mais exigentes do país, como Roberto Carlos e Ana Carolina.O engenheiro de masterização Maurício Gargel é ganhador de um Grammy latino com Emicida, no álbum AmarElo como engenheiro de masterização, além de ter trabalhos realizados com Arnaldo Antunes, Titãs, Karol Conka e Baiana System. Maurício hoje atua de olho no universo do áudio imersivo, em contato com as tecnologias mais recentes. Arthur Luna, filho do também engenheiro

de som William Luna Jr, é graduado pela Full Sail University, nos EUA. Já trabalhou com artistas como Carlinhos Brown e Nando Reis. Foi premiado no Grammy latinonas categoria de Melhor Álbum de Samba/Pagode pelo disco Amor e Música da cantora brasileira Maria Rita, em 2018; e na categoria de Melhor

Evolução para o digital Tendo iniciado a carreira nos anos 1970, Flávio Senna acompanhou toda a evolução do áudio desde esta época. O engenheiro de som utiliza as tecnologias hoje consideradas “vintage” e também os softwares de gravação e plug-ins das mixagens “in-the box”. “Paramim são coisas

Flávio Senna acompanhou toda a evolução do áudio desde esta época. O engenheiro de som utiliza as tecnologias hoje consideradas “vintage” e também os softwares de gravação e plug-ins das mixagens “in-the box”. Álbum de Rock/Música Alternativa com o disco AmarElo, do rapper brasileiro Emicida. Cresceu como engenheiro de som no estúdio Cia dos Tecnicos, no Rio de Janeiro, com amplo acesso a todo tipo de equipamento.

diferentes. Você abre um plugin (que simula) um Neve 1073, por exemplo, e abre ele sem ser o plugin, a sonoridade é completamente diferente. Não estou dizendoque é ruim ou que é boa. mas é muito diferente. O digital chegou para a gente poder editar, ter recall, e essas coisas 3


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todas são maravilhosas. Para mim tem som que faz muita diferença ser analógico, tem outros que não fazem. Em algumas circunstâncias eu não achei nada que me deixasse auditivamente tão feliz como o 1073, ou o compressor Neve 2554A. Nada

tais começaram a tomar conta no processo de trabalho. Mais precisamente na parte de gravação do áudio. “Eu lembro dos Alesis ADATs e TASCAM DA88… Não eram considerados melhores que a fita analógica mas tiveram uma

Eu lembro dos AlesisADATs e TASCAM DA88… Não eram considerados melhores que a fita analógica mas tiveram uma grande aceitação entre os estúdios. como um equalizador API, mas se eu faço uma mixagem toda inbox, e outra externa, tudo é diferente. Vai ter gente que vai gostar mais de uma, vai ter gente que vai gostar mais de outra” pontua. Maurício Gargel Recorda o momento em que equipamentos digi-

grande aceitação entre os estúdios. Do ponto de vista de viabilidade, nas gravações ao vivo de shows era mais simples utilizar gravadores digitais modulares. Logo após vieram workstations que também simplificavam a logistica das gravações ao vivo, além de dar opções

de mais canais de gravação sem dobrar o orçamento”. Aos 17 anos, Arthur Luna já tinha a carteira assinada como auxiliar de estúdio. Nessa época o digital já tomava conta de tudo, mas, por trabalhar em um estúdio grande e tradicional – a Cia dos Técnicos – teve contato com todo tipo de equipamento analógico e digital. Luna gosta de ambos e acha que dá para chegar a resultados bem próximos, ainda que, como Senna, os considere distintos, mesmo quando usa equipamentos digitais similares aos analógicos. “Em relação à mixagem “in-the-box” comparada à tradicional, com uma console Neve ou SSL, depende mais de você que das ferramentas. Dá para alcançar resultados bem parecidos nos dois. Pode ser que com a Neve ou SSL você leve menos tempo ou mais tempo, depende do seu tipo de experiência com consoles analógicas. É um pou-


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co difícil essa comparação, se é melhor ou pior”, pondera.

Fita de duas polegadas ainda pode ser “a boa”? Ainda hoje há uma certa aura em torno da gravação analógica em fita. Maurício Gargel não compartilha dessa visão, ainda que com cuidado. “É dificil generalizar pois há vários fatores envolvidos. Mas de forma geral eu diria que o uso de fita de duas polegadas não é o mais importante hoje em dia”, afirma o engenheiro de masterização. Flávio Senna detalha os motivos desta pouca importância da fita hoje em dia. “Gravandoem 96kHz/24bits (no Pro Tools) você tem uma qualidade bem bacana. Acabei de remixar, há uns três meses, o Samba Pras Moças (Disco de Zeca Pagodinho de 1995), que foi feito analógico. Era fita e eles me mandaram os tapes, eu

transcrevi, digitalizei e foi uma experiência maravilhosa. Era um nível de magnetização da fita bem grande, então já não tinha aquele hiss... Então, assim... era outro som também. A fita tem as suas particularidades, mas eu concordo que você colocar duas ou três músicas em duas fitas, com o preço que elas tem hoje é

bom. Eu já não sinto tanta saudade”. Quando Flávio Senna começou, havia uma busca incessante pela diminuição de ruídos como chiados, distorções e interferências diversas que equipamentos analógicos, incluindo as fitas, faziam no som. Mas quem começou depois, como Arthur Luna, acaba valorizando carac-

A fita tem as suas particularidades, mas eu concordo que você colocar duas ou três músicas em duas fitas, com o preço que elas tem hoje é complicado. complicado. Teve uma época, quando o Pro Tools era 16 bits, que eu jurei que jamais trabalharia com ele. O som era muito ruim. A fita era muito melhor. Hoje eu não vejo tanta vantagem em gravar em fita. O que tem no digital hoje é muito

terísticas sonoras que se perderam no digital, ainda que concorde que os benefícios trazidos pelo formato digital hoje sejam mesmo insuperáveis. “A diferença entre gravar em uma máquina com fita de duas polegadas é bem audível comparado


com o Pro Tools, mas (a gravação digital) é muito bem feita e soa muito bem. É perceptível o som melhor gravando em fita, gravando em máquina. Se fosse economicamente viável, tivéssemos os recursos de edição e conseguíssemos ter a agilidade do Pro Tools quando estivesse na fita seria o melhor dos mundos. Tem alguns sistemas, como o CLASP (siste-

Tools e fita. Mas, enfim... Continua sendo uma coisa com um preço altoe que acaba sempre encarecendo as produções e adicionando mais tempo de estúdio”., lamenta Arthur.

Inbox X Console Apesar de ser um adepto do uso de console. Arthur faz a grande maioria de seus trabalhos “in-the-box”.

Acho que é uma questão de costume. São casos específicos. O processo de captação, por exemplo, você consegue fazer as funções de um console usando um monte de pré neve, API, SSL. ma que integra a precisão de edição das DAW e fitas analógicas, transformando estas praticamente em um periférico ou um plug-in que insere as características sonoras da fita no som usando as fitas reais), que é um sistema de integração entre Pro

“Acho que é uma questão de costume. São casos específicos. O processo de captação, por exemplo, você consegue fazer as funções de um console usando um monte de pré neve, API, SSL. Mas em compensação, para mixar, eu mixo 90% das

coisas “in-the-box”. Em relação à mixagem “in-the-box” comparada à tradicional, com uma console Neve ou SSL, depende do som que você está procurando. Depende mais de você que das ferramentas. Dá para alcançar resultados bem parecidos nos dois. Pode ser que com a Neve ou SSL você leve menos tempo ou mais tempo, depende do seu tipo de experiência com consoles analógicas. É um pouco difícil essa comparação, se é melhor ou pior. Eu, por exemplo, acho que mixo melhor em console analógica do que “in-the-box”. Mas é raro ter um artista com orçamento e tempo de mixar em uma console tradicional”. Flávio Senna também gosta de usar console, ainda que faça também muitos trabalhos “in-the box”. “Quando você abre na console, é outro som. Eu curto muito a inbox. Nunca fiz a comparação (da mesma mix feita) na console porque já sei que vai ser uma coisa injusta. No ínicio do digital eu 7


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estava realmente preocupado porque certas mixes do Pro Tools eram muito ruins, mas agora é outra coisa. É muito bom. Maurício Gargel ainda vê o console fazendo diferença no processo de gravação por conta dos pré-amplificadores e endereçamentos de fone, favorecendo um fluxo de trabalho mais rápido. Mesmo usando uma superfície de controle do Pro Tools por exemplo, Gargel acha essencial o uso de bons pré-amplificadores, ainda que, para ele, já seja possível montar um bom estúdio sem consoles analógicas. “É importante avaliar qual tipo de trabalho será feito no estúdio para entender como substituir a console por outras opções modulares. Se não for gravar vários canais ao mesmo tempo, não precisa investir em muitos prés”.

Simuladores digitais: eles “chegam lá”? Antes de mais nada, Maurício Gargel ressalta que, em um vintage original, conta também o estado de conservação do equipamento. Feita a ressalva, ele coloca que não acredita em uma emulação perfeita. E nem acha que isto deve ser uma busca. “Pra mim o digital tem um potencial

muito maior e é, provavelmente, uma perda de tempo ficar tentando imitar o resultado de um processador analógico e atingir a perfeição. Quando falamos de equipamentos antigos, temos que entender que cada um tem um som memo sendo da mesma marca e modelo. Isso se deve à diferença que naturalmente existiu na manutenção desses equipamentos ao longo do tempo. Um LA2 soa diferente de outro LA2 que teve outra história”, aponta. Flávio Senna teve contato com boa parte dos objetos de desejo dos amantes do vintage. Ainda que não

480. “Eu tenho muita dificuldade no plug-incom o reverb... A densidade deles... Eu não tenho nada igual ao reverb na Lexicon 480 ou noTC 6000. O Nando( baixista do Roupa Nova) tem um estúdiomuito bem montado, que ele chama de “minha base de trabalho”. Ele tem os outboardporque quando cheguei para ele e falei “ouve aqui”, ele também chegou à conclusão que precisava dos reverbs (outboard) mesmo. Então ele comprou uma Lexicon 480, uma TC6000... Não consigo nenhum plugin de reverb parecido com isso. Nem o plug-in da Lexicon. É outra coisa. Não é queseja diferente não. É diferente muito melhor (risos). A não ser que você queira um efeito específico, uma automação... Fora isso não tem nem como chegar perto. Um reverb de plugin tem as vantagens de poder automatizar ele. O delay não. Todos (de plug-in) funcionam muito bem”. Já quanto aos reverbs analógicos vintage originais, Senna não hesita em dizer que só valem a pena, assim como os plug-ins digitais, com intenções específicas. “Ainda temos, no estúdio (Cia dos Técnicos),as EMT. A não ser que você queira uma gravação simulando os anos 60... eu acho que tem um nível muito baixo, muito ruido, não tem alta

Não consigo nenhum plug-in de reverb parecido com isso. Nem o plug-in da Lexicon. É outra coisa. Não é que seja diferente não. É diferente muito melhor. abra mão de um bom pré-amplificador, não deixa de usar plug-ins com simulações obtendo bons resultados. Mas, no caso dos reverbs, os plug-ins não chegam nem mesmo ao resultado, por exemplo, dos outboards digitais, como a Lexicon

frequência e o menor tempo de reverb que elas tem é muito grande. Assim, acaba tendo que colocar gate para diminuir esse tempo... então acho que, a não ser que seja uma coisa muito específica... Trabalhei muito com as EMT, É bacana usar um


reverb de placa ou de mola em um piano, um violão... Mas com 130 canaisvocê não consegue mixar tudo (usando máquinas de reverb com menos controle de parâmetros). Eu tenho o setup que eu gosto muito: O TC, a 480 e a Lexicon 300. As três que ficam ligadas o tempo inteiro. Esse é o setup que eu uso e fica ligado no patch o tempo todo. Arthur Luna gosta dos resultados dos plug-ins da Universal Audio. “Tem coisas muito boas. Unison, as simulações de prés da Universal Audio (UAD) soam muito bem, mas vou até fazer de novo um teste cego... Fiz há um tempo atrás de um Neve 1073 de verdade com um UAD, mas é aquilo... uma simulação. Claro que quando vem o equipamento de verdade eu consigo distinguir. Apesar de ser muito boa a simulação, não e tão legal como a analógica. Entre as simulações de compressão de válvula, uso muito o Teletronics LA2A, da Universal Audio, e também o Fairchild 660 e 670. Tem muito fabricante legal de plugin. Waves é legal, Plugin Alliance, Sountoys, mas eu tenho uma facilidade usando os da UAD para alcançar os sons que eu imagino. Tem ainda outros tipos de compressores pluginda própria UAD qe eu uso muito, como o dbx 160, o Neve 2254... Tem até o Shadow Hills, que eu gosto bastante, que é um mastering compressor da Plugin Alliance. São representações muito boas que fazem com que eu alcance sempre o som que estou imaginando, mas por mais que eu tenha que entortar (os parâmetros do plug-in), sempre tenho a sensação que os equipamentos de verdade soam melhor. Mas me dou muito bem com plugin. Mixo 90% das minhas coisas “in-the-box” e me sinto satisfeito com o que eu alcanço”. Com relação a reverb, na Cia dos Técnicos, Arthur tem à disposição equipamentos reais de como as Lexicon 480L e o Harmonizer, da

Eventide e os EMT 140 e 250 entre outros, mas usa também os plug-ins. “As melhores representações de reverb que eu consigo imaginar são as da UAD”. Arthur Luna ainda comenta sobre os microfones com DSP que fazem simulação dos transdutores clássicos: “tem muito microfone de simulação barato mas quando você compara até com uns microfones não tão caros, como um Neumman U-87, um U-47, ou os mais caros, como um Sony C800G ou um ELA- 251, e compara com essas simulações, que tem um preço bem menor, até tem alguma coisa parecida sim, mas é audível a diferença. De verdade”.

O vintage indispensável Na hora de escolher o equipamento vintage indispensável, ainda que, entre analógicos e digitais, aponte o limiter Urei 1176 e o Harmonizer H3000 como equipamentos que marcaram seu trabalho, Maurício Gargel não se fez de rogado e respondeu que não há equipamentos vintage os quais considera indispensáveis para trabalhar. Já Arthur Lunaaponta o pré-amplificador da Neve: “O equipamento vintage analógico que eu não abro mão é o pré-amplificador Neve 1073. Por mais que as simulações sejam muito

boas acho que é o único 100% indispensável. O resto, os compressores e reverbs, eu vivo muito bem com as simulações. Mas esses ainda não tem substituição” diz Arthur. Mas e na hora de montar um estúdio hoje em dia, ainda vale a pena comprar esses objetos do desejo caríssimo? Eles ainda fazem diferença a ponto de receber investimento? “Depende do tamanho do dinheiro que você tem. Um Neve 1073 custa muito caro. De repente, um estúdio todo custa a mesma coisa. Então para que você vai ter um par desses? Vai do que você se propõe. Framklim Garrido diz que a qualidade final do seu áudio é resultado do pior componente que você tiver no sistema. Se o pré é Neve, a sala é maravilhosa, o músico é maravilhoso mas o cabo é ruim, vai ficar tudo com o som daquele cabo ruim... Não tem jeito. O que se está perdendo hoje colocando a culpa no digital é porque as pessoas estão fazendo de qualquer jeito. “É som de garagem mesmo”.Estamos falando de equipamento, mas esse equipamento tem que receber um sinal. Se esse sinal é ruim, pode ser digital ou analógico que vai ser ruim. Acho que o digital é importante, necessário, não tem volta.Ainda usamos o analógico não é para ser melhor. É para ser diferente”, diz Flávio Senna. 9


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COMO CONSEGUIR O VINTAGE PERFEITO

com o melhor rendimento? Cesar disseca para o leitor da Revista Backstage o caminho das pedras para conseguir o vintage perfeito com o melhor rendimento.

Reportagem: Miguel Sá | Fotos: Arquivo pessoal

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projetista, restaurador de equipamentos e colunista da Revista Backstage, Cesar Portela começou a carreira no final dos anos 80 fazendo manutenção em equipamentos de som em geral. Em meados dos 90 abriu uma empresa especializada em manutenção e projetos eletrônicos para dar suporte às empresas de sonorização ao vivo, estúdios de gravação e emissoras de radio e TV. Em 2010 passou a projetar os primeiros circuitos de pré-amplificaçãoque resultaram

no pré-amp Deep Blue Audio, hoje adotado como pré-amp principal por vários estúdios pelo país a fora. Em 2015 começou a atuar como restaurador de microfones históricos dos anos 50, 60,70 e 80, o que se tornou a atividade principal dele. Nestes anos, como a sua atividade mudou na medida em que os equipamentos digitais foram avançando na atividade do áudio? Na realidade minha atividade mudou muito


pouco. Foi mais uma questão de adaptação à mudança da tecnologia. Porque desde o final dos anos 80 nós convivemos com equipamentos analógico/digital. É fato que a balança foi pendendo bem mais para o lado do digital. Mesmo com o digital tomando conta de todos os estágios da atividade em áudio, ainda hoje há uma procura por equipamentos analógicos. A que você atribui isto? São modismos? Tem fundamento? Para uns é um “lance legal” puro modismo, para outros tem total fundamento. O equipamento analógico projetado para uso profissional tem característicaselétricas como distorções harmônicas, alto Headroom e elevado MOL que influi totalmente na “coloração do som”. Até onde eu sei, não conseguiram simular isso. Quando vale a pena obter um equipamento vintage? Vale a pena quando o equipamento realmente é de uso profissional e está em perfeito funcionamento. O resultado é sem igual. Diferente disso não compensa, só vai adicionar ruídos e chiados na gravação. Há equipamentos vintage mais e menos procurados? Por exemplo: as pessoas procuram mais pré-amplificadores que reverbs? Sim. As pessoas procuram mais préamps. Acho que todos querem “aquele” som com a identidade que só um clássico tem. Às vezes, ao se falar em “equipamentos vintage”, se esquece que isto também envolve todo um histórico do equipamento em termos de manutenção e forma de uso. Qual a importância destes fatores ao se procurar um equipamento vintage? Em minha opinião essessão osfatores mais importantes. Existem “marcas de

uso” que sãoirreversíveis. Deve-se tomar cuidado. O aspecto geral do equipamento já vai contar um pouco da história. Mas o interior é que vai revelar como ele foi tratado durante todos esses anos. Por muitas vezes serviços mal feitos comprometemo equipamento em definitivo. Na sua experiência, é possível chegar perto, com plugins digitais, dos originais analógicos como pré-amplificadores, compressores e efeitos de reverb físicos? Pelo que pode perceber, ainda haverá lugar para equipamentos analógicos em médio e longo prazo? Em se tratando de pré-ampsnão funciona... O microfone + Pre-amp é o primeiro elo do sinal de áudio numa gravação. Láécaptado e amplificado o som com todos os detalhes de um instrumento. Pode criar uma ilusão, mas não chega perto da realidade. Mas para outros periféricosé possível chegar perto. Porem não dá pra comparar no teste A/B. Para uma bela fatia do mercador acredito que o analógico vai durar por um longo tempo. Tem algum tipo de equipamento analógico que você considere um “modismo”? Que o custo-benefício não compensaria diante de um equipamento digital com funções similares? Talvez alguns modelos de reverbs... Rsrs Há muito que os investimentos e a pesquisa para se projetar equipamentos analógicos diminuiu bastante. Mas ainda há algum avanço possível de ser notado neste tipo de equipamento? Em reedições por exemplo. Ou na qualidade de componentes, como válvulas. Que avanços é possível acompanhar no terreno analógico? Sim. Existem reedições muito boas

com componentes de alta qualidade. Falando dos componentes, houve um aumento na qualidade e variedade. Principalmente nos resistores e capacitores. Maso grande avanço tecnológico está na geração de analógicos digitalmente controlados. Eles combinam o melhor dos dois mundos com o som do analógico e a praticidade do digital. De uma forma bem simples, trata-se de um equipamentoanalógico com potenciômetros A/D que mudam o seu valor ôhmico por meio de informações digitais, não interferindo no sinal analógico. Onde o plug-iné apenas o controle remoto via USB. Pelo projeto, construção e qualidade, que equipamentos mais te chamam atenção? Quais você mais gosta? Gravadores Studer , Pre-amp/ Equalizador Neve 1081 e Genelec 1031A E qual as pessoas mais gostam, pelo que pode ver na sua atividade? Por que acha que este equipamento tem a preferência dos seus clientes? Desculpe, tenho que citar mais de um. Clássicos como Urei 1176, Pultec Eqp1,Teletronix LA-2A e os Neves dos anos 70 sãoos mais amados pelos meus clientes. Tenho certeza que a preferência vem pelo maravilhoso resultado sonoro de cada um deles. Algo mais que gostaria de acrescentar? A questão entre o analógico e digital não se trata de melhor ou pior. Cada um tem seus pros e contras, e cada um tem seu público. Acho que eles se complementam no universo da produção artística. Éverdade que é necessário um alto investimento financeiro para comprar e restaurar um equipamento vintage / histórico e nem todos estão dispostos a fazer isso. Por outro lado, não se discute que o uso de plugins é muito mais acessível e ágilna produção do áudio. 11


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Uma coisa sempre afasta o iniciante da profissão, a pouca inteligência emocional para se posicionar no ofício. Aquele ótimo aluno, aplicado, hábil no áudio, uma enciclopédia ambulante geralmente não terá muito acesso a trabalhos importantes se não conseguir entender qual parte lhe cabe na cadeira do fonograma. Fotos: FreePik / wavebreakmedia_micro

COMO CONSEGUIR

GRANDE RECONHECIMENTO

PELO SEU TRABALHO? José Carlos Pires Júnior é músico, produtor e coordenador do Curso de Produção Fonográfica da FAETECTATUÍ. Responsável pelo Núcleo de Técnicas de Gravação e pela Gravadora Experimental da Faetec Tatuí.

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ssa pergunta é, de fato, uma isca, porque todo mundo busca o sucesso na sua profissão. Em produção fonográfica o que a maioria dos jovens iniciantes querem é participar de trabalhos grandiosos, ter fama e su-

cesso no meio artístico e também na internet. A internet por outro lado está cheia de cursos ótimos sobre como realizar o trabalho no áudio, mas são raros os que se arriscam a falar sobre como é sobreviver na profissão, que dirá ter


Máquinas e processos técnicos estão ali para conectar a expectativa do ouvinte com o desejo do artista.

Inteligência emocional

grande sucesso. Essa escassez de informação sobre como encaminhar a profissão acontece por que no fim, olhamos para nosso passado e não conseguimos identificar os fatores reais que criaram nossas histórias. Porém, se por um lado não sabemos como identificar os fatores que nos guiaram para algum sucesso na carreira, por outro lado é simples identificar quais são os fatores que levarão ao fracasso.

fonograma. A ilusão gerada pelos grandes ícones do áudio é que “aparentemente” o áudio o centro do mercado fonográfico e isso não é nem de longe uma verdade. A indústria fonográfica trabalha com pessoas e desejos e não com máquinas e processos técnicos.

O conceito sobre inteligência emocional forjado por Daniel Goleman é muito amplo para ser tratado apenas nesse parágrafo, mas em resumo ele fala sobre as habilidades emocionais diversas que as pessoas possuem de acordo com suas características pessoais e que equilibrar essas diversas características é muito mais importante para sua vida pessoal e profissional do que seu conhecimento sobre as coisas. Em resumo, ainda que um jovem “aprendiz” seja muito habilidoso com projetos ele pode estragar tudo na relação com o artista ou um possível cliente. Já vi inúmeros jovens com problemas com recall de clientes. Sofrem, esperneiam, fazem cara feia e às vezes abandonam o projeto por não conseguir lidar com alguém que espera mais do que foi feito. Eu também fico irritado, confesso, mas por fim eu estou ali

Pessoas e expectativas Em setembro de 2002 entrei na primeira sala de aula de uma faculdade de música, como professor. Tive alunos brilhantes em todas as áreas e também muitos na produção fonográfica. Mas uma coisa sempre afasta o iniciante da profissão, a pouca inteligência emocional para se posicionar no ofício. Aquele ótimo aluno, aplicado, hábil no áudio, uma enciclopédia ambulante geralmente não terá muito acesso a trabalhos importantes se não conseguir entender qual parte lhe cabe na cadeira do 13


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sempre mediando expectativa das partes dentro do que é possível ser feito. Não dá para ser grosseiro e arrogante, não importa o quão certo você está.

De quem é a palavra final? Não é raro ver o novato querendo dar a palavra final sobre o áudio de uma música, e aí, invariavelmente, se frustra com um cliente que sabe o que quer mas não sabe como fazer. Nesse momento a relação fica complicada, pois o trabalho no áudio deixa de ser criação e passa a ser somente processo técnico, e isso não parece ser nada interessante para o novato. Poder se posicionar no processo criativo e ser ouvido é algo que está mais ligado a quem você é na cadeia do que ao quanto você é bom no áudio. Em geral as pessoas que são ouvidas num processo fonográfico são aquelas que têm maior poder econômico sobre o processo ou maior importância afetiva para o dono do projeto.

Em poucas palavras, se você não é o dono do projeto ou muito querido pelo dono, sua opinião só é importante se for solicitada. Não crie expectativas em se projetar sobre o trabalho do artista. Pelo contrário, você será lembrado se for aquela pessoa que ajudou a resolver todos os problemas e apro-

ximar a expectativa do artista ao resultado esperado. Por fim, uma orientação simples entre ser um profissional subserviente ou um arrogante: escolha o caminho do profissional atencioso e proativo que, no momento certo, a oportunidade de fazer a diferença vai aparecer para você.


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SOM NAS IGREJAS

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Por definição, acompanhar é caminhar junto. Em nosso contexto, é manter-se informado do andamento da equipe e dos processos envolvidos na produção. Os detalhes que diferenciam da mediocridade para a excelência requerem atenção e foco. Ignorá-los, quase que invariavelmente, conduzirá a uma queda de qualidade. Foto: efe_madrid Freepik.com

SOM NAS IGREJAS NINGUÉM NOTA O QUE FUNCIONA A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO

PARTE 5

David atua no som de igrejas e sonorização de congressos no Brasil e Estados Unidos há 40 anos. Recentemente, servido como diretor de mídia, liderou cerca de 70 voluntários nas equipes de produção de som, vídeo, iluminação, digital signage, transmissão e cenografia.

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aí poderíamos propor que o oposto de acompanhar seria ignorar. O acompanhamento tem importância tanto nos detalhes específicos essenciais à qualidade de uma produção ao vivo quanto, em um con-

texto mais geral, nas condições de trabalho, no estado dos equipamentos, bem-estar dos membros da equipe e no clima geral da equipe e organização. Precisamos de disciplina e bom senso para aplicar o nosso foco priorita-


riamente sem deixar de acompanhar o que é importante, em meio à enxurrada de informações que flui contra ele. Mas não é por isto que devemos fazer um vilão da tecnologia que temos em nossos smartphones, pois ela é uma aliada insubstituível, exatamente para acompanhar pessoas, processos e os detalhes que permitem alcançar uma produção de qualidade superior. Trocar mensagens com a equipe em um grupo dedicado simplifica o elemento importante da comunicação já abordada aqui, e evitar esquecer de incluir um ou outro elemento como destinatário de uma mensagem para a equipe na hora da pressa. É necessário estar consciente de que as mensagens de texto não transmitem o tom de voz e a percepção das expressões físicas (a linguagem corporal) das pessoas. Por isto é imprescindível

No contexto particular, as mensagens auxiliam a manter a comunicação à distância, servindo tanto para manter questões técnicas em dia quanto para dar um “oi” ou perguntar se está tudo bem com os membros menos comunicativos. Um recurso muito útil em eventos com vídeo, iluminação baixa ou iluminação dinâmica envolvendo o auditório é passar a programação e setlist para os membros da equipe em documentos formato pdf ou até por uma foto bem legível. Com a iluminação ambiente baixa ou variando intensamente com movingheads, nada melhor que pode rvisualizar estes detalhes na tela do celular com luminosidade ajustável! Em ambientes onde não se pode falar para não causar distração ou naqueles em que rádios não funcionam bem por transmitirem também o som captado do PA, mensa-

Sempre use os emojis para expressar sentimentos e dê ao seu companheiro de equipe o “benefício da dúvida” ao ler uma mensagem, não tirando conclusões apressadas se algo lhe parecer estranho. Na dúvida, pergunte antes de responder. usar de sensibilidade ao escolher palavras e lembrar de que alguma interpretação pode estar equivocada. Sempre use os emojis para expressar sentimentos e dê ao seu companheiro de equipe o “benefício da dúvida” ao ler uma mensagem, não tirando conclusões apressadas se algo lhe parecer estranho. Na dúvida, pergunte antes de responder. No caso do deslocamento para um evento, compartilhar a localização em tempo real permite à equipe saber onde estão os membros e, no caso de um imprevisto ou problemas no trânsito, ter ideia de quando chegarão.

gens breves por texto são essenciais. Inclusive, é por meio delas que tenho me comunicado com meus auxiliares locais quando faço mixagem remota. O uso da câmera é fantástico para trocar fotos ou vídeos no caso de dúvidas, assim como o recurso de lhes enviar diagramas das conexões para o caso específico em que estamos trabalhando. É quase desnecessário dizer que a tecnologia embarcada nos smartphones e tablets proporciona acesso a aplicativos que vão muito além dos de mensagens. Recursos fantásticos como sair da front of house e subir no palco

para acompanhar os ajustes que fazemos na equalização ou mix de retorno, em pessoa ao lado do músico, não tem preço! Poder monitorar (sinônimo de acompanhar) a temperatura e funcionamento de amplificadores e drivers, radiofrequências, níveis de pressão sonora, e conteúdo do espectro de frequências auxilia identificar potenciais problemas antes que ocorram. A esta lista se somam: fazer ajustes de parâmetros em processadores sem ter que sair da console; resolver um problema de conexão no palco tendo na mão um aplicativo para mutar o canal sem precisar pedir para alguém mutar ou voltar correndo para a front of house. Recursos como estes nos permitem visualizar (outro sinônimo de acompanhar) e atuar com maior informação e em menos tempo contornando problemas e agindo com maior informação e segurança. Estes recursos tecnológicos são maravilhosos, só não esqueçamos que o principal é ouvir o som e usar estas ferramentas sem ser distraídos por elas! É preciso priorizar, definindo as ferramentas que fornecerão as informações importantes conforme a necessidade, e lembrar que na dinâmica de mixagem na produção de um evento, esta necessidade pode variar de um momento para o outro. Ações como acompanhar, monitorar, visualizar nos levam a deslocar o nosso foco, a nossa atenção, de nós mesmos para outras coisas com o propósito de beneficiar aqueles que servimos e com quem servimos. Indo além do acompanhamento das variáveis técnicas, não podemos deixar de lado o essencial cuidado mútuo para com os membros da nossa equipe. Existe quem encara os desafios da produção com atitude de competitividade, querendo sempre se destacar por ser melhor que os de17


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mais na equipe. Esta atitude acaba sendo prejudicial para a moral da equipe e inclusive para a qualidade de produção. De que adianta apenas um membro se destacar quando a qualidade resulta de toda a equipe estar operando em nível compatível? Usando da analogia de membros do corpo, seria como um jogador de basquete focar apenas em arremessar, ignorando desenvolver a sua capacidade de correr para acompanhar a sua equipe. Se ele não conseguir voltar ao seu lado da quadra a tempo de participar da marcação do time adversário, o espaço deixado pela sua ausência na defesa facilitará ao outro time pontuar, reduzindo a suposta vantagem dos pontos que ele treina exclusivamente para marcar. Para quem tem um bom conhecimento técnico, pode ser possível identificar a origem de uma falha estando numa produçãocomo espectador. Mas para quem assiste um evento sem embasamento ou interesse técnico uma falha será uma distração, uma quebra no fluxo da qualidade, sendo indiferente identificar a origem. Por isto, de pouco adianta um membro se gabar de ter um desempenho superior na equipe senão usar da sua experiência para auxiliar os demais membros a desempenharem de forma semelhante. Uma ferramenta extremamente valiosa, que considero muito pouco aproveitada, é a das reuniões “Post Mortem”, desde que corretamente conduzidas. Estas são reuniões da equipe de produção, realizadas logo após o evento (demorar muito permitirá que detalhes importantes sejam esquecidos no cansaço pós-evento). Nelas a equipe faz uma autoanálise daquilo que funcionou muito bem, do que poderia ser melhor e daquilo que precisa de correção importante

para não voltar a acontecer. O foco nestas reuniões não deve ser apontar pessoas que falharam. Isto dificilmente levará a um progresso sustentável, pois todos somos passíveis de errar. Inclusive, um certo nível de risco é componente essencial quando se busca alcançar níveis de desempenho. Em outras palavras, quem nunca se arrisca a sair do seguro e confortável não evolui. O importante é, conforme propôs John Maxwell, “falhar para frente”. Ou seja, arriscar e, se ocorrer uma falha, aproveitá-la como situação de aprendizado para avançar o nível de desempenho. Então, ao invés de atribuir culpa, o foco deve ser analisar como as falhas ocorreram e criar estruturas e processos para evitá-las, elevando, assim, o desempenho da equipe. É neste contexto que membros mais experientes podem usar da sua bagagem para auxiliar a equipe. Por outro lado, não se deve ignorar o valor potencial da contribuição dos membros menos experientes. Um membro recém-chegado pode fazer uma contribuição valiosa por estar chegando com “olhos frescos”, sem estar viciado em processos já existentes. Isto permite que ele ou ela contribua com uma análise mais objetiva,

menos polarizada, que requereria aos mais experientes o exercício de pensar “fora da caixa”, para avaliar o desempenho sem se prender à força das rotinas já implantadas. Colocando de lado a questão de valores monetários, grandes produções envolvem um investimento bastante significativo de tempo. Considerando o exemplo de um evento musical com coral, orquestra, encenação, coreografia e cenografia vamos supor um coral de 120 vozes, orquestra com 60 músicos, encenação com 20 integrantes entre atores, auxiliares de maquiagem e vestuário, equipe de coreografia com 15 participantes, além dos membros da equipe técnica composta por operadores de som, iluminação, câmeras, projeção, transmissão auxiliares de palco e sua direção chegando a superar facilmente 10 pessoas. Temos aí, por baixo, 225 pessoas. Se contarmos apenas três ensaios gerais com três horas de duração e a apresentação de duas horas, somam-se 2475 homens-horas, e isto sem contabilizar o tempo de deslocamento e os ensaios prévios deste grupo todo. Enfim, não é exagero afirmar que o evento realizado em duas horas veio a um custo huma-


no superior a cinco mil horas! O esforço, talento e custo pessoal acumulados dedicadosa uma realização como esta são imensos, sem nem pensar na área financeira. Terminar um evento deste porte sem conduzir ao menos uma reunião Post Mortem é permitir que uma grande porcentagem dos esforços e de percepção coletiva dos participantes, recursos valiosos adquiridos ao custo de tantas horas, escoe pelo ralo. Isto porque a maioria dos detalhes será rapidamente esquecida e no próximo evento, se estará sujeito à repetição dos mesmos erros! Para eventos deste porte, o mais produtivo, apesar do cansaço, é programar uma reunião breve e objetiva logo na sequência, em que os líderes de cada área capturam as impressões ou desafios das suas equipes antes que passem para o esquecimento. E, então, após um ou dois dias, estes

líderes se reúnem com os participantes da equipe técnica numa reunião mais detalhada, focada não em criticar, mas em avançar a qualidade para um novo patamar. Indo além de evitar falhas, o foco deve estar naquilo que funcionou bem paraplantar sementes de pensamento criativo que produzirão ideias para próximo evento ainda melhor. Liderar é conduzir pessoas de um nível de desempenho a outro superior. Ignorar a oportunidade incalculavelmente rica gerada pelo trabalho voluntário de centenas de pessoas e milhares de homens-hora é um desperdiço imperdoável que, no contexto pessoal, limita as oportunidades de os voluntários evoluírem. No contexto de grupo, simplesmente prolonga o status quo, limitando aos grandes esforços individuais as chances de o grupo alcançar uma qualidade de produção mais próxima à da gló-

ria que devemos refletir de Deus, sendo que o que vale para Deus não é o produto, mas, sim o processo. Embora no versículo abaixo esteja claro que o contexto se aplique a valores monetários, não se pode ignorar que se Deus atribui importância ao valor de animais, o valor das vidas humanas e dos seus esforços, representa algo muito superior. Cuide das suas ovelhas e do seu gado o melhor que puder porque tanto as riquezas como os governos não duram para sempre. (Pv27.23-24) Vamos dar a devida importância ao acompanhamento? Boas produções e até a próxima!


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Fundada em 2005, a AntelopeAudio - dirigida por seu CEO, o engenheiro eletrônico Igor Levin - já fazia uso de tecnologias inovadoras, um grande exemplo é um dos primeiros Master Word Clocks vendido como um produto autônomo capaz de integrar vários processadores digitais dentro de uma mesma assinatura de tempo - o Isochrone OCX.

ZEN GO SINERGY CORE,

DA ANTELOPE Reportagem: Tomáz Sá | Fotos: antelopeaudio.com

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ste equipamento trazia em si algo inédito em sua época: o oscilador de cristal controlado por estufa, ou OvenControlled Crystal Oscillator. A tecnologia consiste em encapsular o coração do Word Clock - o oscilador de

cristal - de modo que sua temperatura fique constante promovendo mais estabilidade e melhorando a performance do Jitter consideravelmente. Esta técnica aproximou a medida de tempo dos equipamentos digitais à de um relógio atômi-


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co e rendeu a Levin o apelido de “Mr. Word Clock”. Este histórico faz com que as interfaces da Antelope sejam alvo de altas expectativas entre seus usuários e a compacta e potente Zen Go Synergy Core não foge à regra.

Conectividade 22

Dois conectores combo XLR / P10 TRS oferecem flexibilidade na conexão. Eles podem ser usados para todos os tipos de microfone através dos preamps munidos com a opção de phantompower ou para instrumentos com a opção de nível de linha ou alta impedância chaveável. Duas saídas estéreo servem para a conexão de monitores sendo uma P10 e a outra RCA. A unidade também traz duas conexões S/PDIF de entrada e saída estéreo digital para expandir o número de canais ou mandar/receber a assinatura de tempo (time code) de outro equipamento digital. A primeira conexão USB-C serve para o fornecimento de energia da unidade de modo que ela não utilize a bateria do seu Laptop ao ser

plugada em um powerbank ou hub. A segunda é por onde a interface se comunica com o computador. Esta segunda conexão USB, se usada sozinha também fornece energia vinda do computador para a Zen Go. A parte inferior frontal possui duas conexões de headphones com controles de volume separados, o que é conveniente tanto no uso de dois headphones ao mesmo

frontal organizado em um display colorido de 2,8 polegadas, três botões e um grande encoder pressionável que controla as principais funções da Zen Go. Por aqui, em conjunto com o encoder, o usuário pode definir o ganho e acessar os medidores de nível através do botão “GAIN”, acessar e controlar os volumes das saídas de headphones e monitores através

A parte inferior frontal possui duas conexões de headphones com controles de volume separados, o que é conveniente tanto no uso de dois headphones ao mesmo tempo - para o técnico e para o músico - quanto na possibilidade de transformar o segundo headphone em mais uma saída estéreo se necessário. tempo - para o técnico e para o músico - quanto na possibilidade de transformar o segundo headphone em mais uma saída estéreo se necessário, sem interferir no volume de monitoração.

Operação O equipamento tem um painel

do botão “HP/MON” e, através do botão com o antílope desenhado, sair dos menus e ajustar o brilho do display. Segurando o botão “GAIN” se acessa o Menu de Controle onde é possível navegar por opções como a origem do Clock (interno, via S/ PDIF ou USB), o sample rate do


equipamento (32kHz - 192kHz) e os ganhos das saídas da interface - perfeito para relacionar o volume percebido entre dois pares diferentes de monitores por exemplo. Segurando o botão “HP/MON” se acessa o Menu de Sistema onde estão as informações sobre o equipamento, seleciona o tempo de ação do protetor de tela e volta as configurações para o estado inicial (factory reset). Outra função interessante da Zen Go é a possibilidade de escolher um preset operacional para o hardware e poder defini-lo e salvá-lo, poupando tempo de trabalho na mudança de uma configuração para outra.

Por dentro do hardware A AntelopeAudio continua inovando ao fazer uso de chips FPGA em conjunto com chips DSP na emulação digital de equipamentos

analógicos, por ser mais flexível em sua programação. Controlados por um algoritmo exclusivo de 64bit, a tecnologia AFC (Acoustically Focused Clocking) - herdada dos premiados Master Clocks da Antelope e o gerenciador de jitter operam juntos fornecendo incríveis 127dB de headroom em sua conversão AD/ DA de até 192 kHz e 24 Bits.

Efeitos incluídos A Zen Go não pára por aí e ainda oferece ao usuário acesso instantâneo a 37 plugins exclusivos cuidadosamente selecionados que vão de emulações de preamps clássicos a diferentes sabores de processadores de dinâmica, passando por uma coleção de amplificadores virtuais e cabeçotes para a satisfação dos guitarristas mais exigentes. Tudo isso processado den-

tro da interface, aliviando o CPU, e sem latência perceptível mesmo quando usada ao vivo. Ainda assim, se o comprador quiser, é possível expandir a biblioteca de plugins acessando o site da loja dos efeitos Synergy Core e escolher entre a enorme variedade de ferramentas oferecidas que incluem emulações dos mais famosos processadores analógicos além de itens especiais como a versão exclusiva para a Antelope do Auto-Tune. A Zen Go Synergy Pro é oferecida no Brasil através da GBS áudio e vídeo pelo preço sugerido de R$ 5.990,00.

MAIS INFORMAÇÕES www.gsbproaudio.com.br/ produtos/antelope-zen-go/

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ILUMINAÇÃO |

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CADERNO ILUMINAÇÃO

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Determinados artistas são eternizados por suas obras, pela inspiração a incontáveis pessoas, pela referência que em alguns casos ultrapassa o campo das artes. Em um início de ano já marcado por significativas perdas nesse âmbito, esta conversa pretende fazer uma singela e dupla homenagem com aspectos da vida e obra de duas estrelas de magnitudes imensuráveis, que emprestaram suas vozes e atitudes para transformar suas vidas e de outras pessoas, e que brilhavam para além dos palcos, mesmo quando todas as luzes estavam apagadas.

ELZA & RONNIE: MAGNITUDE MÁXIMA NOS PALCOS E NA VIDA

Cezar Galhart é técnico em eletrônica, produtor de eventos, baixista e professor dos Cursos de Eventos, Design de Interiores e Design Gráfico do Unicuritiba e pesquisador em Iluminação Cênica.

E

ste início de 2022 já marca, com tristeza e uma incipiente e saudosa memória, a despedida a duas vozes notabilizadas por diversas virtudes e qualidades, como também pela dor e superação. Torna-se fundamental abordar sobre elas, como uma simples e despretensiosa homenagem e, principalmente, por des-

tacar alguns aspectos de duas vidas e obras que ainda serão contadas com mais detalhes e merecidas reverências. Elza Gomes da Conceição nasceu no Rio de Janeiro em 23 de junho de 1930 em uma família muito humilde. Desde sua infância, passou por mudanças, de endereço e de vida, com seus dez ir-


Elza Soares durante o IV Festival de Música Popular Brasileira da TV Record (10/12/1969). Fonte: Arquivo / Estadão

mãos, com quem brincava e já cantarolava os primeiros versos e melodias,dividindo um cotidiano de extrema pobreza em que a fome era uma constante. Viúva aos 21 anos, de um casamento forçado, com filhos e trabalhando como faxineira, inscreveuse no ano de 1953 em um concurso musical do programa “Calouros em Desfile” apresentado pelo renomado compositor mineiro Ary Barroso (1903-1964) na Rádio Tupi, em busca do prêmio em dinheiro. No entanto, ao ganhar a nota máxima cantando “Lama” (composição de Paulo Marques e Alice Chaves), conquistava o seu local de destaque como estrela absoluta no palco. Mas essa conquista não proporcionou oportunidades. Fez um teste para crooner de orquestra, o que lhe propiciou alguns trabalhos, como também o preconceito e o racismo. Somente a partir de 1960, após participar de mais um concurso de rádio, e gra-

var seu primeiro disco pela gravadora Odeon, intitulado “Se Acaso Você Chegasse”, já conhecida como Elza Soares, conseguiu contratos semanais, o que lhe possibilitou atingir um considerável sucesso, sendo convidada a participar de um programa na TV Tupi. Diversos foram os fatos que marcaram sua trajetória profissional e de vida na década de 1960. De

(1901-1971) e a cantora também americana Ella Fitzgerald (19171996), a quem substituiu em uma turnê europeia no período em que esteve exilada com os filhos e seu esposo, o genial jogador de futebol Garrincha (1933-1983). Após voltar desse período de exílio, decorrente da ditatura militar no Brasil, passou as décadas de 1970 e 1980 entre gravações de

Viúva aos 21 anos, de um casamento forçado, com filhos e trabalhando como faxineira, inscreveu-se no ano de 1953 em um concurso musical do programa “Calouros em Desfile” apresentado pelo renomado compositor mineiro Ary Barroso. madrinha da Seleção Brasileira bicampeã no Chile em 1962, segundo lugar do Festival da Música Popular Brasileira (1966), o prestígio junto ao público e jazzistas renomados, como o cantor e músico americano Louis Armstrong

discos (pelas gravadoras Odeon, Tapecar, CBS, Som Livre e RGE) e turnês, no Brasil e Estados Unidos. Nos anos de 1980, além do Samba, Bossa-Nova, Jazz, MPB e Soul, que a acompanharam até então, Elza Soares gravou Rock’n’Roll 25


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Elza Soares no palco do Paradiso em Amsterdam (Holanda) (2004).Fonte: Frans Schellekens/Redferns

com artistas como Cazuza e Lobão. Nos anos de 1990, de um início com irregulares idas aos Estados Unidos, culminou aquela década com o título de "Melhor Cantora do Milênio" pela BBC em Londres (Inglaterra) no ano 2000. Nos últimos vinte anos, gravou oito álbuns (de um total de 35 na carreira, excetuando-se as coletâneas e DVDs), destacando-se “A Mulher do Fim do Mundo” (2015) aclamado pelo jornal The New York Times e vencedor do Grammy Latino - e teve, enfim significativo reconhecimento como artista ímpar, expoente de diversas formas de Samba e como vanguardista na busca de experimentações sonoras e musicais inusitadas. Foi também uma corajosa ativista pelos direitos das mulheres e contra o racismo. Descansou, aos 91 anos, dois dias após gravar seu último DVD, no dia 20 de janeiro de 2022. Veronica Yvette Bennett nasceu em Nova Iorque no dia 10 de agosto de 1943 também de uma família humilde. Filha de mãe negra e descendente de índios cherokee e pai e origem irlandesa, começou a cantar ainda criança com sua irmã mais velha, Estelle (1941-2009), para agradar a família. Na adolescência, Veronica foi ma-

triculada na Startime, uma escola de dança popular na década de 1950, que permitiu que ela se desenvolvesse também nas coreografias, inspirada no grupo vocal Frankie Lymon and the Teenagers.Com sua prima Nedra Telley (n. 1946) formaram um grupo vocal “The Darling Sisters”, complementado ainda por três outros primos (Diane, Elaine e Ira). Se inscreveram para um festival amador no Apollo Theatre que rendeu um protagonismo inesperado para Veronica, pois teve que assumir os vocais principais, que eram de Ira, já quando estavam no palco. A partir dali surgia um novo trio

“Ronnie and the Relatives", com Veronica assumindo seu apelido familiar, Ronnie, e junto com Estelle e Nedra começou a ter aulas de canto. Com mais sofisticação vocal e harmonias marcantes, fizeram uma audição com a Colpix Records e assinaram um contrato, resultando nas primeiras gravações. Após uma pitoresca tentativa de buscar uma oportunidade, tornaram-se atração permanente no The Peppermint Lounge de Nova York em 1961, o que projetou significativamente o trio. Já com o nome “The Ronettes”, gravaram os singles " Silhouettes " e "I'm Gonna Quit While I'm Ahead" pela Colpix Records, em 1962. No entanto, nenhum dos singles conseguiu entrar nas paradas, o que estimulou Estelle – que por ser a mais velha assumia a direção e o visual do grupo – a buscar uma audição com o produtor americano Phil Spector (19392021) da Philles Records. Spector ficou impressionado e assinou um contrato com “The Ronettes” no início de 1963. Tendo suas primeiras gravações creditadas a outro grupo (The Crystals), foi com o single “Be May Baby” que “The Ronettes” seriam transformadas em superestrelas e

Elza Soares na Casa Natura Musicalem São Paulo na turnê “A Voz e a Máquina” (20/03/2018). Fonte: Eduardo Martins/AgNews


Apresentação de “The Ronettes” no programa “The Big T.N.T. Show” (1966). Fonte: Associated Press / LA Times

influência estética (sonora e visual) para gerações. Ainda naquele ano gravaram outro emblemático single, "Baby, I Love You" e participaram do aclamado álbum “A Christmas Gift for You”, de Phil Spector, que projetou o “Wall Of Sound”, técnica de gravação e produção que seria uma das mais importantes do século XX. Ainda em 1963 participaram como atração de abertura da turnê “Caravan Of Stars” do apresentador americano Dick Clark (1929-2012) e no ano seguinte, além de turnê na Inglaterra tendo The Rolling Stones como banda de abertura, apareceram em vários programas de televisão, como “Shindig!”, “American Bandstand”, “Hullabaloo” e no programa de TV britânico “Ready, Steady, Go!”. Do auge para uma certa inconstância, depois de algumas gravações que não atingiram a expectativa, “The Ronettes” foram convi-

dadas para abrirem os shows de uma turnê que The Beatles realizou em 1966. Ronnie, no entanto, foi impedida por Spector (por ciúme obsessivo), Estelle e Nedra se revezaram nos vocais principais e a prima Elaine, que já havia participado do grupo “The Darling

gravaram backing vocals para a canção "Earth Blues" de Jimi Hendrix. Em 1971, gravou "Try Some, Buy Some", canção de George Harrison pela Apple Records, mas com mínimo sucesso comercial. Em 1972, após um complicado processo de divórcio e mantendo

The Ronettes foram convidadas para abrirem os shows de uma turnê que The Beatles realizou em 1966. Sisters” complementou o trio. Após uma turnê na Alemanha no início de 1967, Ronnie se casou com Spector e saiu do grupo. Dois anos depois, gravou "You Came, You Saw, You Conquered!", sem muito sucesso comercial, e com sua irmã,

o sobrenome do ex-esposo, formou um novo trio e uma reedição chamada “Ronnie Spector & The Ronettes”, sem sucesso. Passou a década de 1970 lançando alguns singles e gravandobacking vocals para alguns artistas. Realizou tam21 27


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Apresentação de Ronnie Spector em um especial da TV CBS (1987). Fonte: CBS Photo Archive / Getty Images

bém algumas esporádicas apresentações até metade do decênio seguinte, quando gravou a canção “Take Me Home Tonight” com o cantor americano Eddie Money

palco, uma vez que Estelle faleceu em 2009. Após o reconhecimento nessa cerimônia, Ronnie participou de documentários (inclusive, em homenagem a Amy

Elza Soares e Ronnie Spector são exemplos de resiliência, vitalidade, superação e talento imensurável, iluminadas nos palcos e na vida. (1949-2019), com relativo sucesso. Lançou no ano de 1990 sua autobiografia, “Be My Baby”, na qual relata toda a sua trajetória (até então) e a tortura psicológica que passou ao lado de Phil Spector. No fim da década de 1990, gravou um EP intitulado “She Talks to Rainbows” com participação e produção do vocalista Joey Ramone (1951-2001), com ótima recepção e reconhecimento das novas gerações de público e bandas, algumas das quais lhe renderam homenagens e participações em gravações. Em 2007, “The Ronettes” foram incluídas no Rock & Roll Hall of Fame. Foi a última vez em que o trio original se reencontrou no

Winehouse, fã declarada do grupo vocal), gravou um EP de canções natalinas e seu último álbum, “English Heart”, lançado em 2016, chegou à sexta posição em uma categoria da Billboard. De 2016 a 2019, manteve uma agenda significativa, com mais de sessenta shows em três anos (quase o mesmo número de apresentações oficiais de 1977 a 2015). Faleceu aos 78 anos, vítima de câncer, no dia 12 de janeiro de 2022. Elza Soares e Ronnie Spector são exemplos de resiliência, vitalidade, superação e talento imensurável, iluminadas nos palcos e na vida, mesmo que nesta última, determinadas sombras produziram marcas e ocultaram seus brilhos estelares em determinados momentos de ostracismo, preconceito e desvalor. Vítimas de violência doméstica e ações discriminatórias, trouxeram sua música e importantes questões à luz da sociedade, como referências fundamentais, inspirações únicas e magnitude artística como legados a serem reverenciados, com eterna gratidão. Abraços e até a próxima conversa!!!

Estelle Bennett (esquerda), Ronnie Spector (centro) e Nedra Talley Ross (direita) na cerimônia de inclusão no Rock and Roll Hall of Fameem Nova Iorque (2007). Fonte: Scott Gries / Getty Images




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