5 minute read

no AIR Studio Sallaberry

Sallaberry se colocou

“Na Rota do Furacão”. Mas, aqui, essa rota é da arte e da técnica na música. Este é o título do livro que o produtor musical escreveu seguindo a história do AIR Studios

Advertisement

Montserrat, construído pelo produtor (não só) dos Beatles, George Martin, para abrigar a excelência artística e técnica da música no fim dos anos 1970.

Ao ver, há cerca de cinco anos, as fotos do estúdio em ruinas, Sallaberry– que reside no estado da Flórida, nos EUA - ficou com algumas perguntas em sua mente: o que levou aquele lugar a ser tão mágico? E como a mágica deu lugar ao abandono? Qual foi a realidade que fez aquele sonho se dissipar daquela forma? O músico começou a pesquisar e percebeu que não havia muito material a respeito do lugar, e o que havia não atendia a uma curiosidade mais específica, que envolve também a parte técnica, de equipamentos e acústica. No entanto, isso fez o baterista embarcar em uma viagem mais profunda sobre a mágica, a arte e a técnica do AIR Montserrat, que envolveu muita pesquisa e mais de 60 entrevistas. Com a ajuda da filha, Thais Sallaberry, o produtor conseguiu imagens recentes inéditas do estúdio hoje abandonado. O lançamento do livro, em edi ção limitada, ocorrerá em breve, em São Paulo. Sallaberry está em negociações com editoras opara lançamento de uma tiragem maior. Além do livro,o músicotambém prepara um vídeo documentário, com imagens da viagem e das dependências do estúdio, que deverá ser lançado em breve.

Como teve a ideia de fazer o livro?

Sempre fui aficionado por estúdios. Há uns cinco anos, aproximadamente, vi uma foto do AIR Montserrat em ruinas. Foi a partir de então que comecei a pesquisar mais sobre o estúdio, e como colaboro esporadicamente para jornais aqui da Flórida, pensei inicialmente em escrever um pequeno artigosobre oassunto. Como não encontrei nenhum material disponível, a opção foiprocurar obter conteúdo através dos artistas, produtores e funcionários que passaram por lá. Eu sabia que o The Police tinha gravado lá, bem como Dire Straits e Paul McCartney, dentre muitos outros. Quando o Yes separou, Jon Anderson montou um outro grupo com Rick Wakeman, Steve Howee Bill Bruford, o ABWH, que gravou um álbum em Montserrat, em 1989. Tentei falar com o Rick Wakeman, porque seria importante ter umas linhas dele no livro, e ele topou. Após a entrevista, pensei: isso ficou um sério demais para ser apenas uma matéria de jornal.

A reposta ficou boa e você viu que tinha material ali para mexer?

Isso! Passei a me dedicar ao trabalho de entrevistar outros que também estiveram lá. A partir do contato com as pessoas, comecei a montar um quebra-cabeça, e assim entender um pouco mais sobre a história do estúdio. Um dos gerentes do estúdio na primeira ges - tão, Steve Jackson, foi muito importante durante esse processo. Ele me ajudou muito, fornecendo informação sobre o período que trabalhou em Montserrat. Consegui muito sobre a história do estúdio e de álbuns gravados lá a partir das entrevistas com músicos, produtores, engenheiros de áudio e staffdo estúdio.

Considera o fato de dar o ponto de vista de um aficiona do em estúdio uma parte da riqueza do seu livro?

Sem dúvida! Aspectos técnicos, como as dimensões das salas e todos os detalhes sobre os equipamentos do estúdio, como o console Neve A4792, foram resgatados para fazer parte do livro. Paralelamente à parte técnica, o livro também traz muito da história de alguns dos álbuns gravados lá. Só foram citados aqueles os quais artistas, engenheiros de áudio, produtores e outros profissionais que tiveram relação com o álbum concederam entrevista ou enviaram depoimento. O álbum Behind The Sun, por exemplo, de Eric Clapton, não foi citado na obra, uma vez que nenhum músico ou profissional ligado à gravação concedeu entrevista. Eu não queria reescrever a para a enriquecer uma história como a do AIR Montserrat.

Após as entrevistas, o que pode perceber que tinha de diferente nesse estúdio?

George Martin queria construir o melhor estúdio do mundo, com os melhores profissionais e os melhores equipamentos que estivessem ao seu alcance. Em 1977 ele pediu a Rupert Neve que construísse um console baseado no modelo Neve 8078, mas que incluísse inúmeras melhorias. Para isso, Martin e o Geoff Emerick detalharam tudo aquilo que deveria fazer parte do console. Rupert já havia vendido a Neve Electronics e estava a frente de sua nova empresa, a Nevenco, e aceitou a encomenda, trabalhando em conjunto com a Neve Eletronics, George Martin e Geoff Emmerick. O novo console, único, customizado, conhecido pelo código A4792, se tornou o melhor cartão de visitas para que as história dos álbuns com base exclusivamente no que já foi dito.Sendo assim, só inclui conteúdo sobre os álbuns os quais obtive depoimentos, embora o livro traga citações de outras obras, o que é inevitável gravações fossem realizadas no AIR Montserrat. Músicos, produtores musicais e engenheiros de áudio que ‘pilotaram’ o A4792 reconhecem o console como o melhor já construído até hoje. O livro traz a história do console desde os tempos de AIR Montserrat até a atualidade, onde segue gravando no SubterraneanSoundStudios, em Toronto, Canadá. Para que os descritivos técnicos do console fossem traduzidos adequadamente, solicitei os serviços de Cesar Portela (restaurador de equipamentos analógicos e responsável pela coluna Áudio & Eletrônica, na Backstage) e Guilherme Canaes (engenheiro de áudio), que atuaram como revisores técnicos.

Aspectos técnicos, como as dimensões das salas e todos os detalhes sobre os equipamentos do estúdio, como o console Neve A4792, foram resgatados para fazer parte do livro.

E por que durou só dez anos?

O projeto de um novo estúdio começou porque George Martin queria sair de Londres, e a primeira ideia nessa direção foi a de construir um estúdio em um navio. Como a ideia foi imediatamente reprovada pelos sócios, Martin procurou alternativas até chegar à conclusão que o estúdio deveria ser construído na ilha de Montserrat. A ilha pertencia à Inglaterra e oferecia uma série de facilidades, como isenção de impostospor um grande período de tempo. A construção do estúdio começou em 1977 e em 1979o AIR Montserrat iniciou operação. Em 1989 o furacão Hugo atingiu Montserrat, destruindo muito pouco do estúdio, embora a ilha de Montserrat sofresse por anos a destruição causada pelo furacão. Como o cenário da indústria fonográfica em 1989era muito diferente ao do início da década, ou seja, pouco atraente para os negócios, George Martin decidiu dar por encerradas as operações em Montserrat.

Como a sua filha te ajudou?

A Thais foi comigopara que eu pudesse viabilizar a produção de material fotográfico para o livro e a gravação de vídeos. Portanto, ela foi a responsável por gravar as imagens do documentário gravado nas instalações do estú- dio, enquanto eu apresentava e comentava sobre o estúdio durante as filmagens. Esse material já foi editado e, como resultado, temos 38 minutos de gravações no AIR Montserrat e em Plymouth, a capital de Montserrat, que em 1997 foi soterrada pela lava do vulcão Soufrière Hills. O documentário, gravado com um iPhone 14 Pro, em resolução 4k, deverá ser exibido por ocasião do lançamento do livro, o que deverá acontecer em São Paulo,ainda no primeiro semestre de 2023. Além da gravação de vídeos e da produção de material fotográfico, eu não poderia deixar de gravar trechos de uma composição que nasceu na sala técnica do AIR Montserrat. Gravei vozes, palmas e outros sons que já estão em produção. Espero finalizar as gravações, com a participação de grandes músicos, muito em breve. Gravar no AIR Montserrat, mesmo em ruínas, foi indescritível!

E qual (ou quais) dos álbuns gravados lá, sobre os quais falou no livro, mais te chamou atenção?

São muitos, mas o Synchronicity, do The Police tem destaque especial. É um álbum clássico, com uma história incrível, que está entre os mais vendidos de todos os tempos. A impecável produção de Hugh Padgham‎ fez a diferença.Embora Stewart Copeland não pudesse ser entrevistado, Andy Summers cedeu gentilmente material fotográfico produzido por ele, e junto ao depoimento de Steve Jackson, a história do The Police em Montserrat pode fazer parte do livro.O álbum Brothers In Arms,do Dire Straits, é outro marco importante na indústria fonográfica. Conversei com o Omar Hakim, baterista, que substituiu o baterista do Dire Straits durante as gravações em Montserrat. O Earth Wind andFire ficou tanto tempo no AIR Montserrat que produziu um álbum duplo (Faces).

This article is from: