Volume 6 COMUNICAÇÃO: reflexões, experiências, ensino

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Volume 6 - NĂşmero 6 - 2Âş Semestre 2013


Expediente Publicação semestral - Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade Positivo Reitor José Pio Martins Pró-Reitor Administrativo Arno Antonio Gnoatto Pró-Reitora Acadêmica Márcia Sebastiani Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa João Batista Machado Coordenadora do Curso de Comunicação Social - Jornalismo Maria Zaclis Veiga Coordenadora do Curso de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda Christiane Monteiro Machado Coordenador Adjunto do Curso de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda Ricardo Pedrosa Macedo

Conselho Editorial Integrantes externos Adolpho Queiroz Eduardo Túlio Baggio João Carrascoza Jorge Pedro Souza José Marques de Mello Luciana Panke Marcelo Fernando de Lima Maria José Baldassar Marialva Carlos Barbosa Mônica Cristine Fort Integrantes da UP André Tezza Consentino Celso Rogério Klammer Emerson Castro Elza Aparecida de Oliveira Filha Hilton A. Marques Castelo Marcos Araújo Rosiane Correia de Freitas Sandra Nodari Revisão Susan Blum Pessôa de Moura Coordenação Editorial Christiane Monteiro Machado Maria Zaclis Veiga Ricardo Pedrosa Macedo Projeto Gráfico e Diagramação Cristiane Pedrosa Macedo Ricardo Pedrosa Macedo

Dados internacionais de catalogação na Publicação (CIP) - Biblioteca da Universidade Positivo COMUNICAÇÃO : reflexões, experiências, ensino ; Revista dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda / Universidade Positivo. v. 6 - n. 6 - 2º semestre 2013 - Curitiba : Universidade Positivo, 2013 Periodicidade semestral ISSN 2175-5132 1. Jornalismo - Periódicos. Publicidade - Periódicos. I. Universidade Positivo. CDU 070:659


Sumário ADORNO LEITOR DE NIETZSCHE

07

André Tezza

PELO RETROVISOR: O OLHAR DOS EGRESSOS COMO FERRAMENTA DE AVALIAÇÃO DE UM CURSO DE GRADUAÇÃO: RELATO SOBRE O CURSO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA DA UNIVERSIDADE POSITIVO

17

SENADO FEDERAL EM TOUR VIRTUAL 360° INOVAÇÃO E GESTÃO DE AMBIENTES VIRTUAIS

29

ALUNOS CONECTADOS

45

JORNALISMO CULTURAL NA WEB

59

Christiane Monteiro Machado

Ricardo Pedrosa Macedo, Carla Susana da Encarnação Marques, Vania Ribas Ulbrich

Toni André Scharlau Vieira

Franciane Bubniak, Leticia Mueller, Eugenio Vincir


A POLIS EM PERIGO

71

A VOZ EMBUTIDA COMO PRODUÇÃO DE SENTIDO

85

O COMPORTAMENTO DE COMPRA E CONSUMO DE LEITURA NÃO ACADÊMICA

95

A UTILIZAÇÃO DAS IMAGENS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA MÍDIA

105

JORNALISMO INVESTIGATIVO

113

Sérgio Roberto Trein

Sandra Nodari

Bruna Pinto, Carlos Ardigó

Gabriela Junqueira, Jessica Leite, Sandra Nodari

Felipe Harmata e Gustavo Panacioni


Apresentação

Este sexto volume da revista Comunicação: reflexões, experiências, ensino traz mais uma vez uma amostra relevante da produção em Comunicação Social no país. O desafio de manter atuante uma publicação como esta é essencial para os cursos de Publicidade e Propaganda e de Jornalismo da Universidade Positivo, que buscam consolidar um espaço para o debate plural, oxigenando a realidade da instituição com olhares de autores de fora dela. Assim, abrir portas para autores de diferentes instituições, com diferentes olhares para os temas relacionados à comunicação, faz parte da essência desta revista. Sendo vários dos autores também docentes, temas relacionados à prática em sala de aula e às relações entre professor e aluno estão presentes neste volume. Mas a diversidade mais uma vez se faz presente nesta publicação: há estudos e análises de práticas profissionais e há ainda textos mais teóricos e reflexivos e análises históricas. Agradecemos mais uma vez a todos os autores e aos membros do Conselho Editorial, e desejamos a todos uma boa leitura.

Christiane Monteiro Machado, Maria Zaclis Veiga e Ricardo Pedrosa Macedo Organizadores

Curitiba, dezembro de 2013.


BREVES APONTAMENTOS DA MORAL MÍNIMA: ADORNO LEITOR DE NIETZSCHE André Tezza1

Universidade Positivo

RESUMO Em vida, Adorno declarou que o pensador mais influente sobre sua obra havia sido Nietzsche — mais, inclusive, do que Hegel. Este artigo pretende analisar, sem a pretensão da exaustão, alguns aspectos relevantes do pensamento de Nietzsche, sobretudo na crítica da razão e da verdade, presentes na Minima Moralia de Adorno. O objetivo, num primeiro momento, é demonstrar as semelhanças (bem como as diferenças) entre a dialética negativa de Adorno, sem síntese e sem a pretensão de uma verdade positiva sobre o mundo, com a crítica da vontade de verdade nietzschiana. Num segundo momento, o artigo revela como a preocupação sobre a vida boa, na perspectiva do amor ao destino, amor fati, de Nietzsche, é apresentada e criticada na Minima Moralia. Palavras-chave: Teorias da Comunicação, Adorno, Nietzsche.

ABSTRACT In life, Adorno declared that the most influential thinker of his work was Nietzsche - more even than Hegel. This article aims to analyze, without the requirement of exhaustion, some aspects of Nietzsche’s thought, especially in the criticism of reason and truth present in Adorno’s Minima Moralia. The goal, at first, is to demonstrate the similarities (and differences) between Adorno’s negative dialectics without synthesis and without the pretense of a positive truth about the world, with a critique of Nietzschean will to truth. Secondly, the article shows how concerns about the good life from the perspective of the love of fate, amor fati, Nietzsche, is presented and criticized in Minima Moralia. Keywords: Communication Theories, Adorno, Nietzsche.

1 André Tezza graduou-se em Comunicação Social pela UFPR e é mestrando em Filosofia, também pela UFPR. Atualmente, é professor do curso de graduação em Publicidade e Propaganda da Universidade Positivo e coordena duas especializações na mesma instituição. atconsentino@gmail.com


ADORNO LEITOR DE NIETZSCHE

1. Introdução Obra fundamental de Adorno, Minima Moralia foi escrita em paralelo e na mesma época que outros dois marcos da Escola de Frankfurt: A Dialética do Esclarecimento e Eclipse da Razão. Esta trilogia, elaborada nos anos 40 e, em parte, nos anos da guerra, é o cerne privilegiado das ideias de Adorno e Horkheimer — de certo modo, há nestes textos uma crítica tão profunda e radical da sociedade que tudo o que foi escrito depois pelos autores pode ser considerado somente uma “aclaração adicional”2. O que nos interessa analisar aqui é um recorte possível da Minima Moralia: suas interlocuções com a filosofia de Nietzsche. Antes de qualquer tentativa de investigação mais profunda, mesmo sabendo que Nietzsche não é a referência exclusiva de Minima Moralia (grosso modo, também Kant, Freud, Hegel, Schopenhauer e Marx estão na mesma primazia3), convém de início sublinhar alguns aspectos formais e temáticos que aproximam este texto frankfurtiano do genealogista da moral. De começo, Minima Moralia é, não por acaso, um conjunto de aforismos; é a negação de qualquer sistematização última da verdade; é também uma tentativa de restabelecer, como indica Adorno nas primeiras linhas da dedicatória (a Max Horkheimer), uma tradição dos antigos que interessava a Nietzsche: “a doutrina da vida certa4”; Aliás, nas mesmas primeiras linhas da dedicatória, Adorno faz um jogo de palavras com a ciência alegre, A Gaia Ciência: “A triste ciência da qual ofereço algo ao meu amigo concerne a um domínio que por tempos imemoriais contou como específico da Filosofia, mas que desde a transformação desta em método foi relegada ao menosprezo intelectual, ao arbítrio sentencioso e, finalmente, ao esquecimento: a doutrina da vida certa”5. O título do livro é outro jogo de palavras, desta vez, com a Magna Moralia, de Aristóteles, mas é também, naturalmente, uma referência possível ao pensador que acusou o ideal moral como o ideal fundador da filosofia.6 Finalmente, mencione-se a epígrafe da primeira parte da obra, uma citação do escritor austríaco Ferdinand Kürnberger (1821-1879), que vale tanto como a marca inconfundível do niilismo oitocentista quanto para a leitura tipicamente negativa (e dialética) de Adorno sobre um mundo novo, um mundo de horror, de vida sem sujeitos, de vida lesada, de vida pós-Auschwitz: “A vida não vive”. 2 JAY, Martin. A Imaginação Dialética: história da Escola de Frankfurt e do Instituto de Pesquisa Sociais, 1923-1950. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008. p. 320. Apesar da observação ser de Jay, um notório comentarista da Teoria Crítica, é importante ressaltar que, sobretudo na obra de Horkheimer, há uma inflexão em seus últimos escritos, com uma abordagem bastante distinta de Eclipse da Razão e Dialética do Esclarecimento. 3 Cf. resenha de Minima Moralia em DUARTE, Rodrigo. Adornos: nove ensaios sobre o filósofo frankfurtiano. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1997. p. 146. Ainda sobre a influência de Nietzsche, o próprio Adorno comenta: “de todos os assim chamados grandes filósofos é a ele [Nietzsche] que eu devo mais – na verdade, mais, talvez, do que a Hegel”. Sobre este comentário e as relações da filosofia moral de Adorno e Nietzsche, cf.: ALVES JUNIOR, Douglas G. Razão e Expressão. O problema da moral em Adorno. Tese de doutoramento defendida na UFMG, 2003 4 ADORNO, Theodor. Minima Moralia: reflexões a partir da vida lesada. Trad. Gabriel Cohn. Rio de Janeiro: Beco do Azougue Editorial, 2008. p. 9. Gabriel Cohn, no final desta edição, no artigo “Alguns Problemas de Leitura e Tradução de Minima Moralia”, aponta que uma das dificuldades primeiras é justamente a tradução desta doutrina da “vida certa” (rightig). Luiz Bicca e Guido Almeida, em outra tradução, preferiram “vida reta”. Já o filósofo norte-americano J.M. Bernstein preferiu, assumindo o gosto pela antiguidade, a expressão “vida boa”. Sobre esta questão, cf. o comentário de Cohn, p. 251 e 252. 5 ADORNO, Theodor. Op. Cit., p. 9. 6 Sobre a análise nietzschiana da moral como fundadora da filosofia, cf. RIBEIRO DE MOURA, Carlos Alberto. Nietzsche: civilização e cultura. São Paulo: Martins Fontes, 2005. pp. 57-85.

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ANDRÉ TEZZA

Para além de Minima Moralia, cabem também duas outras observações pertinentes no diálogo com Nietzsche. Primeiro, uma das teses centrais de Adorno e Horkheimer, o uso da razão como instrumento de dominação, que, naturalmente, tem paralelos com a filosofia nietzschiana, não será abordada integralmente aqui, uma vez que este argumento aparece com força e nitidez em A Dialética do Esclarecimento, mas de maneira fragmentada e rarefeita em Minima Moralia. Segundo, Nietzsche e Adorno são filósofos músicos. São também filósofos que, na análise estética, igualmente privilegiaram tanto o discurso musical quanto a interpretação de alguns de seus contemporâneos mais expressivos: Wagner e Schoenberg. Se o discurso musical é decisivo ou não na obra de ambos não é tarefa deste texto — até porque, comparativamente, entre as obras de Adorno, Minima Moralia é econômica nas observações musicais —, mas convém salientar que a problemática não é secundária e já suscitou investigações de relevo7.

2. Sobre a concepção de verdade frankfurtiana e a crítica da vontade de verdade em Nietzsche No aforismo 44, com o provocativo (e nietzschiano...) título “Para póssocráticos”, Adorno comenta o constrangimento da razão: Nada é mais constrangedor para o intelectual que se propõe fazer aquilo que antes se chamava filosofia do que procurar estar com a razão na discussão, quase se diria na condução da prova. A própria busca de manter-se certo exprime, até nas suas formas de reflexão lógicas mais sutis, aquele espírito de auto-preservação que precisamente à filosofia cabe dissolver. Conheci alguém que convidava pela ordem todas as sumidades da teoria do conhecimento, das ciências naturais ou do espírito, discutia com cada um o seu sistema e, quando nenhum deles ousava mais propor algum argumento contra o seu formalismo, considerou seu ponto como válido sem mais. Onde quer que a filosofia se assemelhe ainda que longinquamente ao gesto da persuasão se encontrará algo desta ingenuidade. Na sua base encontra-se o pressuposto de uma universitas literarum, de um consenso prévio de espíritos capazes de comunicar-se entre si, e com isso já o conformismo inteiro8.

Poderia ser, palavra por palavra, um aforismo de Nietzsche. É a crítica a um ideal de verdade e, mais do que isto, ao conformismo que o ideal de verdade inevitavelmente leva. Acreditar neste princípio de razão seria acreditar no reino dos fins, na pureza de um mundo inteligível, estável, verdadeiro, tão profundamente platônico-socrático. Provavelmente, considerando o título do aforismo, Adorno levasse em mente O Problema de Sócrates, no Crepúsculo dos Ídolos. É ali que Nietzsche mostra a sua crítica à filosofia socrática do convencimento, da demonstração, da suposta honestidade: “pouco valioso é o que tem de ser provado” 9. Mas, nestes termos, é possível classificar Adorno como um herdeiro fiel do 7 Por exemplo, cf. em especial a primeira parte de DUARTE, Rodrigo. Adorno e Nietzsche: Aproximações. In: Olímpio José Pimenta Neto; Miguel Angel Barrenechea. (Org.). Assim falou Nietzsche. 1 ed. Rio de Janeiro/ Ouro Preto: Sette Letras/UFOP, 1999, v. , p. 81-94. 8 ADORNO, op. cit., p. 66. 9 NIETZSCHE, Friedrich. O crepúsculo dos ídolos. Lisboa: Guimarães Editores. p. 28.

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perspectivismo de Nietzsche? A resposta não é tão simples, porque a Teoria Crítica, ao contrário de Nietzsche, e ao contrário de O Problema de Sócrates, paradoxalmente é também herdeira da dialética — não a dos antigos, mas a de Hegel. O mesmo aforismo 44 termina reconhecendo os limites da filosofia hegeliana, que “são também os limites da verdade desta, a saber, os remanescentes da prima philosophia na suposição do sujeito como algo ‘primeiro’ apesar de tudo. Entre as tarefas da lógica dialética está a remoção dos últimos traços do sistema dedutivo, junto com os últimos gestos advocatícios do pensamento”10. A perspectiva frankfurtiana, ou pelo menos a perspectiva que aparece em Adorno e Horkheimer, apostou no estabelecimento de uma crítica negativa da cultura, porém sem propor a solução positiva. Em outras palavras, é uma inspiração da dialética hegeliana, porém, sem síntese (e eis a aparente proximidade com Nietzsche), uma vez que depois de Hitler, na era de anulação dos sujeitos, não é mais possível qualquer esperança para uma filosofia da história: Tivesse a filosofia da história de Hegel se estendido até este tempo, então as bombas-robô de Hitler teriam encontrado o seu lugar, junto com a morte precoce de Alexandre e imagens semelhantes, entre fatos empíricos selecionados nos quais o estado do espírito do mundo diretamente se exprime no registro simbólico. Assim como o próprio fascismo, os robôs são ao mesmo tempo lançados e sem sujeitos. Como ele, associam a mais extrema perfeição técnica à completa cegueira. Como ele, provocam terror mortal e são inteiramente em vão. — “Eu vi o espírito do mundo”, não a cavalo, mas com asas e sem cabeça, e isso no mesmo passo refuta a filosofia da história de Hegel.11

Sobre a dialética sem síntese, e contra a dialética socrática, ao término de Minima Moralia, Adorno afirma que “A desgraça se dá no que se põe à prova: servir-se da dialética ao invés de perder-se nela. Então o pensamento soberanamente dialético retrai ao estágio pré-dialético: a pachorrenta constatação de que cada coisa tem seus dois lados”12. Perder-se na dialética, como quer Adorno, leva a alguma verdade? Para Martin Jay, a questão da verdade materialista (e dos dogmas do materialismo) sempre foi uma preocupação primordial desde o início dos trabalhos de Adorno e Horkheimer. Neste sentido, a saída encontrada pela Escola de Frankfurt se afasta, entre outros, do marxismo vulgar e mesmo de alguns pontos do marxismo que se autoproclamou ortodoxo. Para Jay, o materialismo frankfurtiano não era o materialismo que partia da hegemonia da infraestrutura econômica da sociedade, não era o antônimo do espiritualismo (uma espécie de negação da transcendência) e não comprava o ideal das certezas absolutas — em outras palavras, o marxismo frankfurtiano é um marxismo singular: Horkheimer também criticava a tendência dos marxistas vulgares de elevar o materialismo a uma teoria do conhecimento que afirmava uma certeza absoluta, tal como fizera o idealismo no passado. Dizer que uma epistemologia materialista 10 ADORNO, op. cit., p. 67. 11 Idem, p. 55. 12 Ibidem, p. 245.

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era capaz de explicar exaustivamente a realidade equivalia a incentivar a ânsia de dominar o mundo, o que fora exibido claramente pelo idealismo de Fichte. (...) Apesar da impossibilidade de atingir o conhecimento absoluto, Horkheimer afirmava que o materialismo não devia conduzir a uma resignação relativista. A epistemologia materialista monista do marxismo vulgar havia sido passiva demais. Fazendo eco à crítica de Marx a Feuerbach, quase cem anos antes, Horkheimer frisou o componente ativo do conhecimento, que o idealismo havia afirmado acertadamente. Os objetos da percepção, disse, resultam das ações do homem, embora a relação tendesse a ser mascarada pela reificação. A própria natureza tinha um componente histórico, no duplo sentido de que os homens a concebiam de maneiras diferentes e trabalhavam ativamente no sentido de modificá-la. Por isso, Horkheimer sustentou que o verdadeiro materialismo era dialético, envolvendo um processo contínuo de interação de sujeito e objeto. (...) Tal como Marx, mas ao contrário de muitos autoproclamados marxistas, Horkheimer se recusou a fazer da dialética um fetiche, como um processo objetivo fora do controle humano. (...) A dialética sondava o ‘campo de força’, para usar uma expressão de Adorno, entre a consciência e o ser, o sujeito e o objeto13.

Mas, mesmo que consciente da impossibilidade de um conhecimento último sobre o mundo, é possível afirmar que a Escola de Frankfurt não foi dogmática em nenhuma instância? E, portanto, em resposta afirmativa, é impossível conceber um discurso verdadeiro frankfurtiano? Ainda que os próprios frankfurtianos buscassem um modelo dialético sem síntese para a análise da cultura (e por isto, recusavam dogmas definitivos e modelos prontos), ainda que preferissem os ensaios curtos e aforismos (próprios para as tentativas) aos grandes volumes (próprios para a definição de um sistema fechado, típicos da tradição idealista alemã), ainda que fossem conscientes de que, depois de Nietzsche, a razão se eclipsou na associação entre razão, virtude e verdade, está claro que há inequívocas convicções racionais entre eles. Em Adorno, especialmente, há um caráter tão pessimista e crítico na avaliação da Indústria Cultural que, por tal investida, o autor inúmeras vezes foi acusado de elitista. Mais do que isto, Adorno, para alguns dos críticos contemporâneos, também pode ser considerado um dogmático às avessas: seu dogma não estava nas verdades de proposição positiva ou de busca de uma síntese, mas, por exemplo, no rechaço virulento de toda a estética veiculada pelos meios de comunicação de massa, que será, na interpretação dele, invariavelmente subordinada à lógica fascista. Deste modo, diz Vattimo: Quando Adorno nega que a arte possa realmente (ou deva) perder a aura que a isola da quotidianidade, defende certamente o poder crítico da obra em relação à realidade existente; mas adopta também, e mantém, a concepção da arte como lugar de conciliação e de perfeição que se exprime em toda tradição metafísica ocidental, de Aristóteles a Hegel. Que a conciliação seja utópica, e esteja no domínio da aparência, como Adorno sublinha retomando oportunamente Kant contra Hegel, não significa porém uma verdadeira essência, mas apenas a sua colocação num futuro indefinido, que lhes conserva o papel de ideal regulador14. 13 JAY, Martin. A Imaginação Dialética. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008, p. 96-97. 14 VATTIMO, Gianni. A Sociedade Transparente. Lisboa: Relógio D´Água, 1992.

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Mesmo que façamos a objeção de que, para Adorno, a aura, na contemporaneidade, aparentemente, é algo mais próxima da Indústria Cultural do que da arte séria (afinal, a arte da vanguarda do século XX, a arte válida de Adorno, está longe de um ideal aurático), Vattimo chama a atenção para uma questão da estética Kantiana que não passa despercebida na Dialética do Esclarecimento: a finalidade sem fim. Se este princípio não se constitui numa essência última na Dialética do Esclarecimento, mas como lugar indefinido, de qualquer modo, há um fundo autoral e verdadeiro que permite a Adorno diferenciar (e aprovar) Beethoven da (contra a) Indústria Cultural15. Na diferenciação entre as proposições de Nietzsche sobre a razão e a perspectiva frankfurtiana da dialética, é o próprio Adorno quem dá pistas do que está em jogo e revela as semelhanças (livrar-se da questão verdadeiro/falso; a generalidade dominante tem suas proporções de doença) e distinções (não deter-se nos conceitos sadio/doente; ajudar na verdade dos tolos):

Contra a razão dominante a razão dialética é a não-razão: é apenas ao ultrapassar e por em suspenso aquela que ela própria se torna racional. (...) Como não montou às avessas Nietzsche todos os cavalos com que fez suas investidas, como não falsificaram com viés a imagem do mundo Karl Kraus, Kafka, mesmo Proust cada qual ao seu modo, para livrar-se da falsidade e do viés. Não cabe à dialética deter-se em conceitos como sadio e doente ou mesmo nos que lhe são aparentados, como racional e irracional. Uma vez tendo reconhecido a generalidade dominante e suas proporções como doente — no sentido mais literal, afim ao da paranóia, de ‘projeção pática’ —, então para ela só se torna célula de cura aquilo que na medida dessa ordem se apresenta como doente, extraviado, paranóide, ‘louco’ mesmo; e vale hoje como nos tempo medievais que só os tolos dizem a verdade aos poderosos. Sob esse aspecto seria dever do dialético ajudar tais verdades do tolo a ganhar consciência da sua própria razão, sem a qual certamente teria que se abismar naquela doença que o sadio bom senso dos outros decreta sem piedade.16

Para fechar este tema, um aforismo inteiro contra Nietzsche: instância de apelação (aforismo 61). Nele, num movimento típico de Minima Moralia, Adorno parte aceitando pressupostos nietzschianos, mostrando a força do argumento, para depois revelar seus possíveis pontos falhos. Aqui, na defesa positiva do argumento, a questão é a da associação entre verdade e esperança: “Nietzsche proferiu no Anticristo o mais forte argumento não somente contra a teologia como também contra a metafísica: o de que se confundia a esperança com a verdade; que a impossibilidade de pensar sem um absoluto, de viver feliz ou de simplesmente viver em nada atesta a legitimidade daquela ideia. Ele refuta a ‘prova de força’ cristã, de que a crença seja verdadeira porque torna feliz”17. Após a citação de parte do aforismo 50 de Anticristo, que mostra como Nietzsche ataca a associação entre felicidade e verdade, Adorno, 15 HORKHEIMER, Max e ADORNO, Theodor. Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985, p. 147, 148. 16 ADORNO, Op. Cit., p.68-69. 17 Idem, p. 93.

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na contra-argumentação, revela uma perspectiva em que o frankfurtiano não está sozinho18: a pregação do amor fati, o amor ao destino nietzschiano, não é também uma pregação de felicidade? Se sim, porque ela é mais válida, mais lícita de que a pregação de verdade teológica? Na instância de apelação, Adorno mostra o conservadorismo, inclusive com implicações políticas, que está por detrás do amor fati: O próprio Nietzche, porém, pregou o amor fati, “deves amar teu destino”. Nisso, diz o epílogo do Crepúsculo dos deuses, consiste sua natureza mais íntima. E seria o caso de perguntar se alguém teria mais fundamento para amar o que lhe ocorre, de aceitar o estado de coisas dado porque existe, do que para considerar verdadeiro aquilo em que deposita esperança. Não haverá a mesma conclusão falaciosa quando se passa da existência dos fatos brutos à sua instalação como valor supremo, como o que ele detecta na passagem da esperança à verdade? Se ele relega ao hospício a ‘felicidade por uma única ideia’, então poderíamos procurar na prisão a origem do amor fati. Tomba amoroso por muros e grades quem nada mais vê ou tem para amar. (...) Não menos do que no ‘creio porque é absurdo’ a resignação ao amor fati, a sacralização do mais absurdo de tudo, submete-se à cruz perante a dominação. (...) Em uma das passagens mais poderosas [do Anticristo] ele censurou o cristianismo como mitológico: ‘O sacrifício por culpa e, na sua forma mais bárbara e repugnante, o sacrifício do inocente pelos pecados dos culpados! Que paganismo assustador!’ (Aforismo 41). O amor ao destino não passa, porém, da sanção absoluta à perenidade desse sacrifício. O mito separa da verdade a crítica de Nietzsche aos mitos.19

Adorno é consciente de que a aventura da verdade, para além de constituir um tema fundamental da história da filosofia, é algo que tem um viés particular na cultura germânica. Num momento de humor de Minima Moralia, um microaforismo resume alguns séculos de tradição: “Um alemão é uma pessoa que não consegue dizer uma mentira sem acreditar nela” 20. Com estas perspectivas frankfurtianas sobre a razão e a verdade, em parte semelhantes às de Nietzsche, em parte distintas, podemos avançar para outro ponto de convergência: a não-identidade entre sujeito e objeto.

3. Sujeito e objeto em Nietzsche e Adorno: princípio da não-identidade A perspectiva de Nietzsche da linguagem é a de crítica do conceito: ele é a transformação do desigual ao igual — não há como existir identidade entre sujeito e objeto. Sim, porque na observação do mundo, os objetos alinhados posteriormente em um mesmo conceito não são idênticos a si mesmos. A linguagem não é a expressão de verdade de mundo, mas a expressão necessariamente retórica, em que as metáforas (aquilo que expressa de outro modo o objeto) são condição inicial para a existência do conceito: 18 Atacar Nietzsche como pensador conservador, sobretudo no âmbito político, por conta da resignação ao amor fati, é um argumento típico da nova filosofia francesa, em especial Luc Ferry e Andre Comte-Sponville. Para uma defesa de Nietzsche contra os novos franceses, entendendo que a filosofia nietzschiana pensa a política de forma agonística e não conservadora, cf.: SCHRIFT, Alan. A disputa de Nietzsche: Nietzsche e as guerras culturais. In: Cadernos Nietzsche 7. São Paulo: GEN, 1999, P. 3-26 19 Ibidem, p. 93-94. 20 Idem, p. 106.

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Este [o conceito] nasce no momento em que a palavra não deve designar mais a vivência primitiva e individual que estava na origem, mas sim inúmeros casos semelhantes, quer dizer, casos rigorosamente desiguais. O conceito é a igualação do não-igual, que passará a designar certos universais que nunca existiram na natureza. E será a partir dessa volatização da imagem singular em um conceito que se iniciará a construção da grande pirâmide dos gêneros e espécies, com a qual se pensará em regular o mundo intuitivo. Mas os homens se esquecerão de que seus conceitos são apenas resíduos de metáforas; e o jogo de dados do conceito nos ensinará que devemos chamar de ‘verdade’ o uso de cada dado como ele é designado, assim como o respeito às classes hierárquicas dos conceitos21.

Nestes termos, para Nietzsche, o que será a verdade? Naturalmente, há ilusão nesta busca baseada em conceitos, pois a verdade é apenas “um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gastas e sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas”22. Em Adorno, o princípio da não-identidade irá ser aprofundado sobretudo na Dialética Negativa 23. Novamente, Adorno parte das ideias de Nietzsche para depois complementá-las tanto com Hegel quanto com Marx. Neste caso em particular, o ponto frankfurtiano é que, em parte, a não reconciliação entre sujeito e objeto está não só na linguagem: é a consequência do processo de reificação. Neste caso, até pode existir a coincidência entre sujeito e objeto, mas no sentido de anulação do sujeito: Em termos filosóficos, a cultura do consumo é, para Adorno, exatamente um aspecto daquele “pensar a identidade” que permeia a consciência moderna. Como noções similares em Lukács e Marcuse, essa expressão remonta ao problema hegeliano original de sujeitos e objetos. A cultura do consumo promove a falsa sensação de que sujeito e objeto, indivíduo e bem de consumo, público e cultura são pares perfeitos e reconciliados agora, nas condições sociais presentes. Na verdade, essa identificação é verdadeira na medida em que os indivíduos foram, eles próprios, reduzidos de fato a objetos, a unidades funcionais, administrativas, no interior dos sistemas de produção e consumo. Nesse sentido, a cultura de massa e a cultura do consumo refletem ambas (ou “têm uma relação homóloga com”) a realidade e desempenham um papel crucial na reprodução dessa realidade. Mas são falsas no sentido de que as coisas não têm de ser assim e, no entanto, a cultura do consumo — sendo idêntica ao sistema em vez de distanciada dele criticamente — exclui qualquer visão e até mesmo qualquer desejo de uma alternativa. O atrito e a insatisfação crítica reduzem-se a zero24. 21 RIBEIRO DE MOURA, Carlos Alberto. Op. Cit., p. 49. 22 NIETZSCHE, Friedrich. Sobre verdade e mentira no sentido extramoral, Obras incompletas, apud RIBEIRO DE MOURA, Carlos Alberto. Op. Cit., p. 49. 23 Sobre esta aproximação entre a Dialética Negativa e Nietzsche, cf.: DUARTE, Rodrigo. Adorno e Nietzsche: Aproximações. Op. Cit. 24 SLATER, Don. Cultura do consumo e modernidade. São Paulo: Nobel, 2002, p. 121

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ANDRÉ TEZZA

Na Minima Moralia, a impossibilidade da identidade entre sujeito e objeto aparece em muitos aforismos. Em geral, no sentido de apontar o não sujeito, o sujeito não mais em si que surge depois do campo de concentração, como Adorno expressa nesta passagem da dedicatória: (...) resta muito de falso nas considerações feitas a partir do sujeito sobre a vida como mera aparência. Pois, como na fase contemporânea do movimento histórico a esmagadora objetividade deste consiste em primeiro lugar na dissolução do sujeito sem que por ora tivesse surgido um novo, necessariamente a experiência individual se apoia no antigo sujeito condenado historicamente, que ainda é para si embora não mais em si. Embora ele ainda se imagine seguro de sua autonomia, a demonstração de nulidade que lhe foi imposta pelo campo de concentração já atinge a própria forma de subjetividade25.

Por fim, no final de Minima Moralia, a conclusão a que se pode chegar num mundo sem sujeitos. Ao contrário do que pregou certa tradição das leituras de Adorno, sua filosofia não é sem saída, não é a recusa do pensamento. A conclusão é uma defesa da construção das perspectivas de mundo (novamente, algo similar a Nietzsche) e daquilo que podemos entender como a tarefa lícita da filosofia, o ponto de vista da redenção (e estamos novamente longe de Nietzsche26): Da filosofia só cabe esperar, na presença do desespero, a tentativa de ver todas as coisas tal como se apresentam do ponto de vista da redenção. Não tem luz o conhecimento senão aquela que se irradia sobre o mundo a partir da redenção: tudo mais se esgota na reprodução e se limita a peça da técnica. Caberia construir perspectivas nas quais o mundo se ponha, alheado, com suas fendas e fissuras à mostra tal como alguma vez se exporá indigente e desfigurado à luz messiânica. É na capacidade de obter essas perspectivas sem arbítrio e violência, inteiramente a partir do sentimento dos objetos, que, só nela, consiste a tarefa do pensamento27.

25 ADORNO, Op. Cit., p. 10. 26 Ainda que certa leitura crítica de Nietzsche possa defender que o “além do homem” é um projeto de redenção. 27 Idem, p. 245.

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ADORNO LEITOR DE NIETZSCHE

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PELO RETROVISOR: O OLHAR DOS EGRESSOS COMO FERRAMENTA DE AVALIAÇÃO DE UM CURSO DE GRADUAÇÃO: RELATO SOBRE O CURSO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA DA UNIVERSIDADE POSITIVO Christiane Monteiro Machado1 Universidade Positivo

RESUMO O olhar dos egressos contribui para repensar a estrutura de um curso de graduação para que ela atenda, nos conteúdos que abordam aspectos técnicos, às demandas do mercado. Com isso em mente, egressos do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Positivo são ouvidos em uma pesquisa quantitativa contínua, com duas etapas já realizadas: 2010 e 2012. As respostas, sobre a inserção profissional, cursos realizados após a graduação, experiências no exterior e empreendedorismo, mostram um número expressivo de egressos atuando em publicidade (agências, fornecedores, veículos) e em empresas anunciantes (marketing). Mostram também uma grande afinidade com a área de gestão. De posse desses dados, é proposta a continuidade da pesquisa, com uma terceira etapa em 2014, e aprofundamento com pesquisa qualitativa, que permita fomentar discussões sobre a adequação do ensino à realidade do mercado. PALAVRAS-CHAVE: Curso de Publicidade e Propaganda; graduação; egressos.

ABSTRACT The alumni view of the undergraduate course they attended contributes to rethink the course structure as to what extent it meets market demands with respect to those contents that address the more technical issues being taught. With this in mind, alumni who graduated in Advertising at Positivo University have been heard on an ongoing quantitative research, with two sets of data already collected, in 2010 and 2012. The responses on issues such as occupational integration, courses taken after graduation, overseas experiences and entrepreneurship show a significant number of the respondents working either in advertising as such (agencies, hired services, media sector) or at the marketing department in companies. The answers also point to great affinity with the professional area of management. Based on this data, the article suggests further developments for the research, with a third data collection in 2014 and a deepening of the aforementioned issues through qualitative research, which should foster discussions about the relevance of higher education in our field to the market reality. Keywords: Undergratuate course in Advertising; alumni. 1 Bacharel em Publicidade e Propaganda, Mestre em Comunicação de Marketing. Coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Positivo, Curitiba, PR. e-mail: cmonteiro@up.com.br.


PELO RETROVISOR: O OLHAR DOS EGRESSOS COMO FERRAMENTA DE AVALIAÇÃO DE UM CURSO DE GRADUAÇÃO: RELATO SOBRE O CURSO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA DA UNIVERSIDADE POSITIVO

Introdução O contato com egressos é um olhar em retrospectiva para a qualidade de um curso de graduação. Partindo desse pressuposto, desde 2010 foram identificados egressos do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade Positivo – UP, com o objetivo de convidá-los a participar de uma pesquisa que mostrasse sua trajetória profissional desde a conclusão da graduação. Inicialmente, a pesquisa foi apenas quantitativa, contando com um questionário aplicado via internet. Essa compreensão traria possibilidades de repensar o curso, tanto em termos de matriz curricular como na oferta de cursos e atividades de extensão, além de cursos de pós-graduação. O objetivo da presente pesquisa é gerar elementos que permitam a avaliação constante da matriz curricular do curso– especialmente seus conteúdos de caráter técnico – e subsidiem a tomada de decisão para alterações na oferta, especialmente no que diz respeito aos Tópicos Especiais, cuja proposta é trazer conteúdo relevante e prático, que só pode ser definido a partir do entendimento das reais necessidades do mercado de trabalho. De forma específica, o objetivo é criar um método que permita estabelecer de maneira contínua uma pesquisa quantitativa que avalie a relação entre egressos e mercado. A partir dela, será possível estabelecer uma segunda pesquisa, qualitativa, que permita avaliar, sob o olhar dos egressos, o curso de Publicidade e Propaganda da UP. O embasamento teórico deste estudo foi feito a partir da leitura de autores que discutem a evolução e a estruturação de cursos de Comunicação Social, especialmente os da habilitação Publicidade e Propaganda, no Brasil. A pesquisa de campo foi realizada de forma quantitativa, como uma série contínua com duas etapas já aplicadas: 2010 e 2012. O questionário abordava temas como a inserção profissional, outros cursos realizados após o término da graduação, experiências no exterior e empreendedorismo. Em 2010, participaram da pesquisa 336 egressos. Na segunda etapa da coleta de dados, em 2012, participaram 412 egressos. Nessa segunda etapa, foram iniciados esforços com vistas à realização de uma pesquisa qualitativa, abordando temas referentes ao curso de graduação em Publicidade e Propaganda da UP – mas essa segunda fase da pesquisa não foi finalizada. Este texto é, portanto, um trabalho em andamento, que se justifica pela necessidade de organizar de forma científica a pesquisa com egressos, preparando uma terceira etapa para o início de 2014.

Contexto atual do curso de Publicidade e Propaganda da UP A Universidade Positivo existe, como universidade, desde 2008. A instituição iniciou suas atividades em 1988, como Faculdades Positivo. Em 2000, foi transformada em centro universitário e rebatizada de UnicenP – Centro Universitário Positivo. Nessa ocasião, foi criado o curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade, que teve sua primeira turma funcionando de 1999 a 2002. O curso formou em 2012 sua 11ª turma, tendo mais de mil egressos.

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Observando o mercado de publicidade que absorve – ou que se espera que absorva – esses egressos, percebe-se que o ambiente é de intensa competitividade, inclusive com outros mercados. O principal centro da produção publicitária do país é São Paulo, onde se concentram as principais agências de comunicação, para onde migram muitos dos grandes anunciantes e muitos dos profissionais da publicidade que atuam em Curitiba. O cenário local, por sua vez, tem amadurecido com iniciativas como a organização dos profissionais em associações de classe, como o Clube de Criação do Paraná, o Grupo de Mídia de Curitiba e o Grupo de Planejamento e Atendimento do Paraná. Essas instituições buscam valorizar os profissionais e o mercado local (MACHADO, 2013). Para tanto, oferecem espaços para debates, promovem cursos, palestras, premiações e outros eventos que se propõem a melhorar a qualidade do que se produz localmente. Esse é o mercado que recebe os egressos dos dez cursos de graduação em Publicidade e Propaganda de Curitiba. É importante ressaltar o aumento, na procura e na oferta de cursos na área, ocorrido desde a criação do curso da UP. No Paraná, os cursos de graduação são cerca de 25, e há, ainda, buscando contribuir na formação desses profissionais, cursos de pós-graduação em áreas relacionadas à publicidade, como Branding, Marketing Digital, Criatividade e inovação, Marketing promocional, Comunicação empresarial e outras. Em alguma medida, todos esses cursos buscam proporcionar ao estudante, além das competências teóricas para a reflexão sobre a própria prática, uma formação capaz de auxiliar na inserção do egresso no mercado de trabalho e na manutenção dos espaços profissionais, mesmo com as mudanças no ambiente que se verificam. Considerando o contexto de uma instituição privada, laica, o curso de Publicidade e Propaganda da UP foi concebido para atender a duas grandes demandas: a formação reflexiva, que estimule alunos à valorização do pensamento crítico e dos conteúdos humanísticos, à produção científica e à formação continuada, e a formação técnica, que auxilie a colocação profissional do aluno e do egresso. Para atender a esse segundo objetivo e grupo de conteúdos, o curso tem em sua estrutura curricular um nível de flexibilidade que permite manter a atualização necessária para ser coerente com a velocidade das mudanças e inovações do mercado: são três disciplinas, de 80 horas cada, de Tópicos Especiais. A proposta desses Tópicos é trazer conteúdo relevante e prático, que só pode ser definido a partir do entendimento das reais necessidades do mercado de trabalho. De acordo com o Projeto Pedagógico do Curso, a oferta dos Tópicos Especiais é estruturada em quatro eixos: Repertório, Atendimento e Gestão, Criação e Branding. Desta forma, o aluno pode escolher cursar três disciplinas dentro de um mesmo eixo, se desejar, aprofundando conhecimentos naquele tema. Caso opte por uma formação mais generalista, pode escolher cursar disciplinas em eixos diferentes. As disciplinas oferecidas como Tópicos Especiais são alteradas a cada ano, de forma a garantir pluralidade de oferta, já que cada aluno, durante o curso, deverá cursar três disciplinas (UNIVERSIDADE POSITIVO, 2013).

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Sendo assim, é imprescindível a avaliação constante das exigências que o mercado de trabalho faz aos profissionais atuais e aos futuros publicitários. Nesse contexto, a pesquisa com egressos é uma ferramenta que pode ser utilizada como base para a melhor compreensão da relação entre academia e mercado e para a consequente tomada de decisões referentes à estrutura do curso. Os estudos quantitativos feitos em 2010 e 2012, divulgados em eventos do curso e disponíveis em documentos online, apresentados a seguir, já permitem algumas interpretações de resultados, além de servirem de base para a continuidade que se pretende desenvolver. Os resultados dessas pesquisas indicam que os egressos de Publicidade e Propaganda da Universidade Positivo (e UnicenP, anteriormente) atuam nas mais diversas áreas da comunicação de marcas: em diferentes funções em agências de comunicação, em empresas anunciantes, em fornecedores e veículos de comunicação. Comparando os resultados das duas etapas da pesquisa, percebe-se um aumento, na edição de 2012, dos profissionais em atuação nas áreas relacionadas à comunicação digital – mais uma prova de que o cenário profissional atual é de muitas mudanças em muitos aspectos. E é nesse cenário que atuam os egressos dos cursos de publicidade. Cabe, então, compreender a evolução da formação que eles oferecem. A habilitação em Publicidade e Propaganda só existe nos cursos de Comunicação Social a partir de 1973, como afirma Borges (2002, p. 93): “A partir daí, houve uma grande expansão e consequente demanda de vagas por todo o País”, com aumento crescente na procura pelos estudantes nas décadas seguintes. Publicitários formados em cursos superiores até o final do século XX passaram por um ensino travado pelo Currículo Mínimo do MEC, com muitas disciplinas obrigatórias que, nas palavras de Peruzzo (2007, p. 94), faziam parte de “um modelo curricular formatado em dois blocos de disciplinas: um, denominado ciclo básico, constituído de disciplinas de fundamentação geral e humanística, e o outro, chamado de ciclo profissionalizante, composto por disciplinas técnicas da área profissional de cada habilitação”. A autora comenta que a discussão sobre o que traria melhores resultados, se a formação mais voltada para o mercado ou se a formação teórica, cede espaço para o entendimento de que os dois tipos de conhecimento se completam, o que se reflete nas propostas curriculares dos cursos atuais. Borges (2002, p. 93) complementa: “No início, o mercado via o surgimento das escolas de propaganda com uma certa desconfiança. Havia um claro preconceito em relação ao graduado na habilitação”. O que se percebe atualmente, a partir dos discursos dos egressos já ouvidos, é que o mercado vem valorizando a formação universitária em Publicidade. Além disso, ele influencia, ainda que indiretamente, o planejamento e a oferta de conteúdos dos cursos: tanto as decisões de mudanças curriculares como a criação de projetos e cursos de extensão levam em conta as ocasiões em que se verifica a carência de determinados conhecimentos ou a demanda por formações específicas.

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Os resultados obtidos nos dois primeiros contatos É importante considerar que a quantidade de respondentes reflete a dificuldade no contato com eles. Buscou-se localizar a maior quantidade possível de egressos – idealmente, ambas as etapas da pesquisa seriam censos. Foram cedidas, pela Universidade Positivo, listas de emails desses egressos. No entanto, principalmente nos casos dos egressos formados nas primeiras turmas, esses emails estavam muito desatualizados, e o primeiro contato para o questionário de 2010 gerou poucas respostas. Foram buscadas outras formas de contato, usando as redes sociais disponíveis em cada época: o Orkut e o Twitter em 2010, e o Facebook em 2012. Contatos pessoais da pesquisadora, ex-professora de todos os egressos, foram o ponto de partida para o sucesso no convite à participação da pesquisa. Percebeu-se, com isso, a necessidade de incluir uma questão que solicitasse o email atualizado dos respondentes, de forma a possibilitar futuros contatos. Nas duas etapas já aplicadas da pesquisa, cerca de 40% do total de egressos do curso responderam aos questionários: foram 336 egressos em 2010, e 412 egressos em 2012. A distribuição dos egressos segundo o ano de formatura ficou distribuído de forma equilibrada: Gráfico 1 – Total de egressos do curso de Publicidade e Propaganda da UP e total de egressos localizados, por ano de formatura – respostas em 2010 e em 2012.

Fonte: elaborado pela autora.

Os dados apresentados a seguir dizem respeito, principalmente, à etapa mais recente da pesquisa, realizada em 2012. Para fins de comparação, serão citados os dados da primeira etapa, de 2010, quando isso puder contribuir para o entendimento do cenário. Após a questão sobre o ano de graduação, que permite separar, para análise, as respostas das questões seguintes, a primeira informação solicitada aos respondentes

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era sobre a área de atuação. Entende-se que um curso universitário não deva ter a obrigatoriedade de colocar 100% de seus egressos trabalhando na área específica da graduação: a formação superior não é restrita à aquisição de conhecimentos específicos em determinada área; ela inclui, além da técnica, outras dimensões, como a formação científica, filosófica, ética, política e social. Sendo assim, esses cursos não apresentam a seus egressos uma única possibilidade profissional, permitindo que eles busquem variados espaços de trabalho. Ainda assim, há uma expressiva quantidade de egressos do curso de Publicidade e Propaganda da UP trabalhando em agências de publicidade e em áreas muito próximas a ela: eram 69% entre os participantes da primeira etapa, em 2010, e 67% entre os de 2012. Esses últimos se distribuem da seguinte maneira: Gráfico 2 – Distribuição dos egressos do curso de Publicidade e Propaganda da UP por área de atuação – respostas em 2012.

Fonte: elaborado pela autora.

Os 34% que trabalhavam na área mais centralmente relacionada à graduação cursada – agências de publicidade – estavam distribuídos conforme o Gráfico 3, a seguir. A área Digital, que não havia aparecido em 2010, inclui SEM (search engine marketing), SEO (search engine optimization), gerenciamento de mídias sociais e produção de conteúdo. A perspectiva, a julgar pelas áreas em que os graduandos fazem estágio, é que nas próximas pesquisas esse percentual aumente.

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Gráfico 3 – Distribuição dos egressos do curso de Publicidade e Propaganda da UP trabalhando em agência de comunicação – respostas em 2012.

Fonte: elaborado pela autora.

Ao se comparar a distribuição dos egressos por área de atuação, percebese que há mais formados nos últimos anos trabalhando na área de formação em relação aos formados em anos anteriores. Para essa análise, foram considerados três grandes grupos de profissionais trabalhando em áreas da comunicação: 1) agência de comunicação, 2) empresa nas áreas de marketing e comunicação, 3) veículo ou fornecedor de comunicação, e um quarto grupo, que atua em outras áreas. Os egressos que se encontram nesse quarto grupo – ou seja, trabalhando em outras áreas que não a comunicação – vêm diminuindo nos últimos anos. A evolução pode ser vista no Gráfico 4, a seguir. Em relação ao tempo na função atual, as respostas dos egressos que trabalham na área (considerando-se os três grupos analisados no item anterior, excetuando-se apenas a resposta “outros”) demonstram o quão dinâmico é o mercado em que atuam. Os cargos em agências de comunicação parecem oferecer mais estabilidade do que as funções em empresas anunciantes – os clientes das agências: dos participantes da etapa de 2012, 37% dos que atuavam em agências e 41% dos que trabalhavam em empresas nas áreas de comunicação e marketing exerciam suas funções havia menos de um ano; somente 12% dos publicitários em agências e 3% dos que atuam em empresas estavam na função havia mais de 5 anos.

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Gráfico 4 – Distribuição dos egressos do curso de Publicidade e Propaganda da UP por área de atuação, conforme o ano de graduação – respostas em 2012.

Fonte: elaborado pela autora.

Outra questão buscou diagnosticar o crescimento profissional dos egressos: 24% deles tiveram promoção na empresa em que atuavam, e 18% mudaram de empresa em função de promoção de cargo e salário. Outras movimentações aconteceram, como aqueles que abriram suas próprias empresas (15%), os que mudaram de área (22%) e os que mudaram de empresa, mas mantiveram as mesmas condições de cargo e salário (6%). Apenas 12% não tiveram nenhuma alteração de cargo e nem de salário nos dois anos anteriores à aplicação da pesquisa. Uma importante comparação pode ser feita em relação a essa questão: os números de pessoas que tiveram alterações com promoções e aumento de salários são mais expressivos entre os egressos que atuavam em áreas relacionadas à comunicação do que entre os que atuavam em outras áreas. A questão seguinte identificou as iniciativas de empreendedorismo dos egressos. Aproximadamente um quarto deles, na ocasião da aplicação da pesquisa de 2012, era dono de seus próprios negócios. Eram empreendimentos em áreas diversas, com uma maioria em atividades relacionadas à comunicação, incluindo 39 agências de comunicação de pequeno porte e 25 fornecedores de comunicação (principalmente nas áreas de fotografia e vídeo). Os empreendedores em outras áreas atuavam nos mais diversos mercados, com destaque para a indústria, gastronomia, web (em áreas diversas), educação, varejo e moda, entre outros. Em seguida, foi perguntado aos egressos se eles haviam tido, desde a formatura,

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alguma experiência de estudo ou trabalho no exterior. Os 35% que tiveram alguma experiência fora do país são distribuídos conforme o Gráfico 5. Durante o curso de Publicidade e Propaganda da UP, são oferecidas oportunidades aos alunos para contatos com culturas estrangeiras e vivências no exterior, como viagens organizadas pelo curso e intercâmbios internacionais, o que esta pesquisa demonstra estar alinhado aos interesses dos egressos. Gráfico 5 – Experiência dos egressos do curso de Publicidade e Propaganda da UP no exterior – respostas em 2012.

Fonte: elaborado pela autora. Finalmente, a pesquisa buscou levantar dados sobre a formação continuada dos egressos do curso. Uma expressiva maioria fez cursos, em todos os níveis, após o término da graduação em Publicidade e Propaganda. Muitos deles foram em áreas como gestão, marketing e comunicação – áreas afins às atividades profissionais desenvolvidas pela maior parte deles. A distribuição dos cursos conforme o nível pode ser vista no Gráfico 6. Dos 27 egressos que cursaram nova graduação, as áreas mais frequentes foram Administração e Direito; dos 171 que fizeram cursos de especialização, uma expressiva maioria cursou Marketing, seguida por Gestão; e dentre os 15 que cursaram mestrado, a área de mais ocorrências foi, novamente, Marketing, demonstrando novamente a inclinação para áreas relacionadas aos negócios.

Gráfico 6 – Distribuição dos egressos do curso de Publicidade e Propaganda da UP quanto aos cursos realizados após a graduação – respostas em 2012.

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Fonte: elaborado pela autora.

A etapa da pesquisa quantitativa realizada em 2012 foi complementada com um início de pesquisa qualitativa, que servirá como base para o estudo que será realizado em 2014. Nessa pesquisa, foram realizadas entrevistas por e-mail, com questões abertas que solicitavam que o respondente refletisse sobre sua trajetória profissional, relacionando-a ao curso de graduação em Publicidade e Propaganda na UP, e também solicitavam que refletisse sobre o curso (estrutura de disciplinas, conteúdos, projetos de extensão etc.). Ainda que seja um estudo preliminar, já foi possível elaborar algumas hipóteses que apenas a pesquisa quantitativa não permitiria compreender. A principal dessas hipóteses é a relação entre a área de atuação e a formação após a graduação, especialmente entre os egressos que tiveram iniciativas de empreendedorismo.

A continuidade da pesquisa É relevante considerar que todas as habilitações da Comunicação Social vêm sendo foco de discussões cruciais, com alterações nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Jornalismo, que deixará de ser habilitação da Comunicação Social e passará a ser Bacharelado em Jornalismo. As discussões a respeito da habilitação em Publicidade e Propaganda vêm acontecendo e uma decisão semelhante pode ser tomada em breve. Portanto, a realidade que os egressos são convidados a avaliar, muitas vezes, já é diferente daquela que está sendo praticada no curso no momento da aplicação da pesquisa – e, caso as Diretrizes Curriculares sejam realmente alteradas, essa distância tende a aumentar. Ainda assim, o olhar dos egressos é um elemento importante de análise do curso. Quanto à pesquisa de campo, pretende-se, em 2014, realizar um estudo descritivo que consiste no levantamento quantitativo da atuação dos egressos, semelhante às duas etapas anteriores da pesquisa. Esse levantamento continuará sendo feito por meio de um formulário, enviado por email ou por redes sociais aos egressos. Isso permitirá fazer uma análise comparativa dos resultados dos três anos de aplicação, com respostas que, após analisadas, permitem uma avaliação continuada. A intenção, nessa terceira etapa da pesquisa, é a mesma das duas primeiras: o contato com a totalidade dos egressos para a realização de um censo. Na impossibilidade de serem localizados todos, serão convidados a participar tantos egressos quantos forem identificados nas redes sociais e a partir de indicação de seus colegas.

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Haverá ainda uma nova pesquisa, que consistirá em um estudo de caráter exploratório sobre como o egresso de Publicidade e Propaganda da UP, atuante no mercado de publicidade nas suas diversas áreas, percebe a graduação que cursou. Serão realizadas entrevistas não estruturadas, gravadas em vídeo ou áudio, e/ou grupos focais, abordando aspectos referentes ao curso, o mercado de trabalho e sugestões de mudanças. A amostra para as entrevistas em profundidade será definida considerandose o princípio de saturação – situação na qual “o pesquisador julga que os últimos documentos, entrevistas ou observações não trazem mais informações suficientemente novas, ou diferentes, para justificar uma ampliação do material empírico” (PIRES, 2008, p. 198). As entrevistas serão encerradas, então, à medida que as respostas forem se repetindo. Para os grupos focais, serão convidados grupos de doze egressos, e realizados os encontros com no mínimo oito participantes, com duração em torno de uma hora e meia a duas horas, como orienta Malhotra (2001, p. 157): “Este lapso de tempo é necessário para estabelecer uma relação com os participantes e explorar, em profundidade, suas crenças, sensações, ideias, atitudes e introspecção sobre os tópicos de interesse”. Quanto à análise, os dados coletados na pesquisa qualitativa serão agrupados em categorias, que permitirão observar as diferentes nuances de percepções em relação aos temas discutidos, conforme indica Bardin (1977, p. 119). Essas categorias serão definidas a partir do discurso dos entrevistados.

Considerações finais As duas etapas já realizadas da pesquisa permitiram compreender o encaminhamento profissional dos egressos que puderam ser localizados. Alguns aspectos merecem destaque, a julgar pelas respostas da pesquisa qualitativa que foi iniciada em 2010: a forte tendência ao empreendedorismo e ao olhar para a publicidade e a comunicação como ferramentas estratégicas e de gestão – fato demonstrado tanto pela colocação profissional de muitos dos egressos como pelas áreas dos cursos buscados após a graduação em Publicidade e Propaganda, e também confirmado pela pesquisa qualitativa. Essa pesquisa qualitativa, que será realizada de forma aprofundada, permitirá avaliar, sob o olhar dos egressos, o curso de Publicidade e Propaganda da UP. Os resultados serão usados como norteadores para as decisões sobre a oferta das disciplinas nos Tópicos Especiais. Além disso, a partir do contato estabelecido, será possível criar canais de comunicação entre o curso e os profissionais nele formados. Essa iniciativa beneficiará os alunos atuais, com a possibilidade de aumento da participação dos egressos em eventos do curso, como palestras e debates, como avaliadores em bancas de TCC, entre outros. O contato constante pode ainda estimular a formação continuada dos egressos, uma vez que suas demandas e interesses passarão a ser melhor compreendidos. O olhar dos egressos, que vê a graduação cursada pelo retrovisor, leva em conta, em sua avaliação, a vivência de cada um no mercado profissional. Sendo assim, é um importante ponto de vista a ser considerado na avaliação institucional de qualidade de seus cursos.

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SENADO FEDERAL EM TOUR VIRTUAL 360° INOVAÇÃO E GESTÃO DE AMBIENTES VIRTUAIS1 Ricardo Pedrosa Macedo2

Universidade Positivo, PR - Brasil

Carla Susana da Encarnação Marques3 UTAD, Vila Real - Portugal

Vania Ribas Ulbricht4 UFSC, SC - Brasil

RESUMO O artigo descreve as etapas da criação, inovação e gestão do tour virtual 360° do Senado Federal em Brasília - Brasil. O projeto foi desenvolvido em fevereiro de 2012 com a colaboração da Coordenadoria de Visitação Institucional do Senado Federal, abrangendo Marketing Digital, Design de Interface e Fotografia baseada em imagens 360°. O tour virtual é uma forma de democratizar o acesso de cidadãos a espaços que são patrimônio de todos os brasileiros. A relevância desta investigação tem duas contribuições principais: possibilitar as organizações a realizar um planejamento efetivo no marketing digital e contribuir com um modelo para favorecer a educação, bem como o desenvolvimento do turismo virtual ou presencial. Palavras-chave: Inovação e Gestão, Ambientes Virtuais, Design de interface.

ABSTRACT The article describes the stages of creation, innovation and management of 360 ° virtual tour of the Federal Senate in Brasilia - Brazil. The project was developed in February 2012 in collaboration with the Institutional Coordinator of Visitation of the Senate, including Digital Marketing, Interface Design and Photography based images 360°. Virtual Tour is a way to democratize access to public spaces that are the heritage of all Brazilians. The relevance of this research has two major contributions: enable organizations to conduct effective planning in digital marketing and contribute a model to promote education and tourism development. Key words: Innovation and Management, Virtual environments, interface design. 1 Artigo apresentado no congresso Nacional de Ambientes Hipermídia para Aprendizagem - Conahpa 2013 2 Prof. MsC. Ricardo Pedrosa Macedo coordenador-adjunto do curso de Publicidade e Propaganda e pesquisador da Universidade Positivo Curitiba – Brasil, ricardo@up.edu.br. 3 Profª. Doutora Carla Susana da Encarnação Marques Departamento de Economia, Sociologia e Gestão Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Vila Real – Portugal, smarques@utad.pt. 4 Profª. Doutora Vania Ribas Ulbricht, ulbricht@floripa.com.br.


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1. Introdução O estudo descreve as etapas da criação e gestão do tour virtual 360° do Senado Federal em Brasília - Brasil. O projeto foi desenvolvido em fevereiro de 2012 e teve a colaboração do Sr. Aguirre Estorilio - Coordenador de Visitação Institucional do Senado Federal | SECS | Secretaria de Relações Públicas | COVISI. Fica aqui registrado seu depoimento: A ideia de oferecer um Tour Virtual do Senado era antiga. Finalmente, neste ano de 2012 foi possível concretizá-la, com resultados muito positivos. É uma forma de democratizar o acesso de cidadãos a espaços que são patrimônio de todos os brasileiros. Penso que esse tipo de ferramenta cumpre uma função didática, pois pode ser usada por professores em sala de aula para ajudar na compreensão do que é o Poder legislativo do País. (ESTORILIO, 2012)

Este trabalho trata dos ambientes físicos que em si próprios contêm uma grande responsabilidade cultural e informação. A importância de um museu é incontestável, eles são responsáveis por guardar objetos que contam a história da humanidade, ou que demonstram a criatividade e a habilidade de importantes personagens que deixaram isso registrado através das mais diversas obras de arte. O arquiteto Oscar Niemeyer nos deixou seu grande trabalho de arquitetura em Brasília, seus prédios fazem parte de um museu ao ar livre que tem grande valor para a história do Brasil e da arquitetura mundial. O estudo visa demonstrar que organizações, como o Senado Federal, pode realizar um planejamento efetivo na gestão digital de seus ambientes físicos e virtualizá-los para favorecer a educação e cultura, bem como o desenvolvimento do turismo virtual ou presencial. Existe uma quantidade reduzida de estudos específicos sobre a gestão de ambientes virtuais baseados em imagens fotográficas 360°.

2. Inovação em Ambientes Virtuais A inovação em ambientes virtuais passa pela concepção da interface, que é efetivamente o lugar onde o usuário e o design se encontram e são capacitados a agir e a se comunicar graças a estas tecnologias. A implementação de interfaces na criação de ambientes virtuais baseados em imagens 360° busca criar uma conexão verdadeira entre usuários e criadores destes espaços, tornando possível uma verdadeira interatividade. O papel do designer é promover a boa comunicação entre os envolvidos facilitando futuras inovações. Segundo Pratschke (2002, p.77) “nesta área não há modelos, o que não deixa de ser instigante” Por outro lado, é forte e antigo o desejo de transcender o corpo físico, de controlar experiências sensoriais, de estar presente à distância, com os sentidos transportados por meio do novo mundo virtual que se apresenta”. O tour virtual baseado em imagens 360° abre uma nova fronteira para exploração ou até a “colonização” nestes novos ambientes (Pratschke, 2002; Haguenauer & Cordeiro, 2012). “Um ambiente virtual é algo que envolve indivíduos e objetos elevando de forma potencial o que existe, de fato, é o aqui e agora” (LEVY, 2003, p. 15). Para

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criar um novo mundo paralelo, a inovação passa pelo desafio de integrar vários campos do saber que estão adentrando no nosso cotidiano e mudando nossa relação com os ambientes virtuais. As novas tecnologias estão envolvendo suavemente nossos sentidos. Os mundos virtuais representam uma revolução “copernicianica”. “Antes girávamos em torno de imagens, agora dentro delas” (PRATSCHKE, 2003). Os mundos virtuais ocupam nosso córtex e impõem suas leis e regras. As imagens virtuais não são somente imagens, mas possuem profundidade, formam outros mundos conectados questionando de uma nova forma a nossa relação com a realidade. Nenhuma virtualidade tirará do ser humano a sensibilidade que nos exige contato, isto é, o exercício dos cinco sentidos. No entanto, nossa humanidade nos exige mais: impõe-nos as condições da possibilidade e oportunidade (DUVAL, 2011). Um desafio-chave desta inovação para os museus é que cada “mudança deve acontecer no seu ritmo, pois os museus não são homogêneos”, porque “todos os museus são produtos da sua particular experiência cultural e histórica” (CHHABRA, 2008). Um desafio é disponibilizar a todos a possibilidade de utilizar esta tecnologia. Nesta nova realidade SARKAR (2010) trás à tona que a inovação que implica dois elementos fundamentais: “criatividade e ideias novas. Mas, é mais que ter ideias, é necessário que a ideia seja implementada e tenha o seu impacto econômico positivo”. O desafio deste trabalho é fazer com que a inovação se transforme numa ideia que implementada com sucesso e sustentabilidade. Ainda para definir este desafio na gestão “inovar requer, acima de tudo, certa atitude que associe a criatividade, a vontade de empreender, o gosto e o controle do risco. Inovar exige, também, a capacidade de prever as necessidades e antecipar o futuro” (MARQUES, 2004). A inovação não é um fenômeno novo. Incontestavelmente o seu estudo é indiscutível, pois seu impacto social e econômico é bastante forte ao longo da história das sociedades. Na tentativa de definir um conceito, inovar pode ser: melhorar ou adaptar novas tecnologias, novos métodos de realizar novas tarefas, utilizar novas matérias primas, criar novos produtos e ou serviços, entrar em novos mercados, novos fornecedores ou clientes. Inovar não é arte, é um método nem sempre linear, é um processo que envolve diversos autores e fatores e muita informação tudo mergulhado em um ambiente complexo e interativo. (AMORIM, 2003; FAGERBERG, 2003; SILVA, 2003). A inovação é, claramente, identificada como fator-chave para que as organizações alcancem níveis de excelência e ganhem relativamente vantagem competitiva aos seus concorrentes diretos. A inovação do modelo de negócios está tornando-se o novo diferenciador estratégico. Este é um fator determinante para a capacidade de responder de forma mais eficaz às necessidades de um mercado cada vez mais exigente e globalizado, através de uma utilização eficiente dos recursos disponíveis (MARQUES, et al., 2011). Sem dúvida neste século as mídias sociais como blogs, Twitter, YouTube, Facebook, Fliker, entre outros de networking social vão dar o tom dos próximos anos do marketing e da inovação. Ambientes criados virtualmente não registram na íntegra os detalhes falhos ou não do mundo real. Não cabe aqui recriar ambientes totalmente COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 029-044| 2º Semestre 2013 | 31


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digitais tirando a legitimidade do que foi fotografado de um ambiente que teve sua existência em um determinado local físico e temporal. “As fotografias parecem ser o protótipo de mensagens visuais que são verdadeiras porque preenchem o critério semântico da correspondência aos fatos” (SANTAELLA, 2005). Dentro desta realidade virtual, ou não, os ambientes virtuais devem ter uma gestão focada no paradigma de mudanças e inovação. Porque inovar no setor dos serviços? Em uma perspectiva mais geral, “o conhecimento é um dos motores fundamentais do desenvolvimento econômico e social. A inovação alimenta esta economia do conhecimento” (SARKAR, 2010). O gestor de ambientes virtuais deve investir no Marketing Digital, pois “você não só estará abrindo mão de falar sobre sua empresa para seus consumidores como estará deixando abertas as portas para que todos falem sobre sua empresa sem que você tome conhecimento ou possa participar do processo” (TORRES, 2009). Ao contrário de outras mídias a internet pode afetar as organizações direta ou indiretamente, independente de sua vontade de participar ou não da web.

3. Modelos físicos e virtuais Este estudo pretende ainda, determinar quais os recursos e como devem ser utilizados para que o visitante virtual tenha o máximo de interatividade com o ambiente real registrado. Museus contemporâneos devem ter uma gestão diferenciada. “Museus contemporâneos são obrigados a agir como agentes de mudança social ao invés de serem apenas os pontos focais da atividade cultural em uma comunidade” (ANDERSON, 2005). A geração digital está deixando de lado antigos hábitos e explorando novas opções de uma forma que as outras gerações não tiveram acesso. “O período em que vivemos é de transição, de novas descobertas. A visão do convívio em comunidades está ultrapassada; ela não implica mais necessariamente o convívio, a intimidade no conhecimento mútuo” (TELLES, 2009). Cabe a geração imigrante digital fazer a relação do mundo real com o virtual.

4. Etapas da Criação e Gestão de Tour Virtual 360º do Senado Federal A execução e a implantação do Tour virtual 360° do Senado Federal foram divididas em 4 etapas principais que são descritas na figura 1. Primeiro, a captura das imagens fotográficas, segundo, os programas específicos, terceiro, a criação e a execução da interface e por último, a instalação e monitoramento do Tour Virtual. Todas as etapas no caso do Senado Federal foram terceirizadas. Na primeira etapa que é o registro das imagens, recomenda-se a aquisição dos equipamentos fotográficos para que as instituições culturais tenham autonomia no registro a qualquer tempo das imagens panorâmicas. É muito comum estas organizações terem um equipamento de fotografia digital profissional o que reduz o custo inicial, o uso deste equipamento não fica só destinado a esta função.

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Figura 1: Etapas da Gestão de Tour Virtual 360° e Interface Web Adaptativa (PDIWA). Fonte: Autoria própria.

O equipamento que seria de dedicação exclusiva para a captura das imagens 360º é a Lente Grande Angular (Fisheye), a qual pode ser de 8 a 10 mm (Sigma, Canon, Nikon). Caso a organização não tenha uma câmera profissional, se faz necessário o investimento neste equipamento, que pode ser da marca Nikon ou Canon. No projeto do Senado Federal foi utilizada uma câmera Nikon D7000 de 12 megapixels. Também foi utilizado um tripé adequado para a captura das imagens e um braço especial, o modelo utilizado foi um braço da Pano-MAXX (figura 2) existente no mercado e um de fabricação própria para o projeto.

Figura 2: Equipamento básico para captura de imagens esféricas Fonte: Autoria própria.

Na segunda etapa se faz necessário o uso de programas específicos – softwares. Esta etapa do processo é a mais crítica porque exige pessoal qualificado e se for executada dentro da organização deve haver um treinamento específico, recomendase a terceirização de profissionais da área. Os programas necessários são: manipulador de imagem e retoques (Adobe Photoshop®), software que costura e gera a imagem COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 029-044| 2º Semestre 2013 | 33


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esférica ou cúbica (Panoramic Stitching), programas específicos que criam o site com o tour virtual e programa para o monitoramento do site (Ex. Google Analytics). Para auxiliar o web designer o Gestor de ambientes virtuais deve seguir o Planejamento de design do Modelo e Diretrizes para Processo de Design de Interface Web Adaptativa (PDIWA). Nos protótipos são geradas imagens panorâmicas esféricas em alta definição, com tamanho original de 8000 x 4000 pixels, as quais poderão ser utilizadas também em impressos, como cartões postais, anúncios, cartazes entre outros. Para a web o tamanho e a qualidade destas imagens são reduzidos visando uma resposta mais rápida durante o downloading. A imagem fotográfica Panorâmica Esférica possibilita uma perfeita transformação para as imagens panorâmica cilíndrica ou cúbica quando necessário. O tripé é removido da imagem cúbica. O registro da fotografia panorâmica esférica é feito com um tripé nivelado, preferencialmente com o uso de uma base ou cabeçote com marcação de ângulos. No projeto do Senado Federal foi utilizado um tripé da Manfrotto modelo 190XB e lente de 8 mm com registro de quatro imagens tiradas em ângulos de 90°. É importante o enquadramento adequado, a imagem deve ser composta por quatro partes, sendo que os dois terços externos são usados como área de sobreposição e costura. O centro óptico da lente deve estar alinhado com o eixo de rotação do tripé. Na prática, o ponto nodal irá corresponder ao centro óptico da objetiva. Os níveis de navegação são feitos conforme o interesse do usuário. Ao acessar o Tour Virtual 360° do Senado Federal, o primeiro modo de navegação apresentado é o conduzido. O internauta pode simplesmente apreciar e ser conduzido por uma sequência de ambientes previamente gravados, esta condução é linear. A segunda maneira de navegar é pelo mapa local que é planta do Senado Federal, uma imagem em 3D da Praça dos Três Poderes, onde foram inseridos hotspots, que são links para outras imagens. Neste mapa estão dispostos 12 pontos de visitação, sendo 3 externos e 9 internos descritos na tabela 1.

Tabela 1 – Ponto com possibilidade de visitação 360°

01

02

03

VISTA 360° EXTERNA

Pontos com caixa de informação – Hotspot (Texto, Imagens ou PDF)

Praça dos Três Poderes

Palácio do Planalto; Panteão da Liberdade; Pira da Pátria; Espaço Lúcio Costa; Palácio do Supremo Tribunal Federal; Palácio do Congresso Nacional – Cúpula da Câmara; Palácio do Congresso Nacional – Anexos 1; Palácio do Congresso Nacional – Cúpula do Senado

Imagem do Congresso de frente para a da rampa

Esplanada dos Ministérios.

Seta indicando a entrada de visitantes

Ministérios; Alameda dos Estados

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VISTA 360° INTERNA

Pontos com caixa de informação

04

Interna do Salão Negro

Salão Negro; Entrada para o Salão Nobre/Museu do Senado; Tapeçaria de Burle Marx; Escada de acesso às galerias dos Plenários; Escada de acesso ao Salão Azul; Painel de Athos Bulcão

05

Interna Salão Nobre

Salão Nobre; Cadeiras onde os visitantes oficiais são recebidos; Quadro grande atrás das cadeiras; Museu do Senado

06

Vista 1 do Salão Azul

Parede espelhada; Entrada para o Gabinete da Presidência; Escada para o Salão Negro (Seta Indicativa); Entrada para o plenário.

07

Vista 2 do Salão Azul

Entrada para o Plenário; Elevadores; Escada em caracol; Seta apontando para a praça das bandeiras

08

Entrada para o Túnel do Tempo vista de ponto fixo do Salão Azul

Entrada para o Túnel com seta indicativa; Praça das Bandeiras; Setas indicam a localização das alas das comissões parlamentares e o Anexo 2.

09

Ponto fixo no átrio

Ala Tancredo Neves; Livraria do Senado; Túnel do Tempo com seta indicativa; Ala Teotônio Villela

10

Ponto próximo ao Plenarinho

Plenarinho; Entrada para o auditório Petrônio Portela; Ala Ruy Carneiro;

11

Imagem a partir do centro do plenário

Mesa Diretora; Mesas dos taquígrafos; Busto de Ruy Barbosa; Painéis eletrônicos; Tribunas laterais (púlpitos); Tribuna de Honra; Tribuna de Imprensa; Galeria; Placas de alumínio no teto

12

Imagem a partir da Mesa Diretora Fonte: Autoria própria, 2012.

A terceira possibilidade é a navegação por links (hotspots) inseridos dento da imagem esférica e a quarta forma é através de menus com imagens reduzidas (thumbnails) ou lista onde são descritos os ambientes. No modelo proposto, ao acessar o tour virtual, o usuário é automaticamente conduzido por uma navegação linear, mas a qualquer momento ele pode optar pela navegação não linear, utilizando para isto os links presentes no mapa local e dentro das imagens 360°. A condução por “listas de ambientes” não foi utilizada porque demanda tradução e domínio de leitura por parte do usuário, ao contrário da imagem e ícones que tem uma interpretação universal.

5. Design da interface O Modelo e Diretrizes para Processo de Design de Interface Web Adaptativa (PDIWA) de Claudia Regina Batista, visa orientar e auxiliar os designers. “Considerando que o processo de desenvolvimento de interface não é uma atividade top-down, propõe-se um modelo que descreve uma sequência interativa de etapas, de forma a guiar o projetista durante o Processo de Design de Interface Web Adaptativa” (BATISTA, 2008). A interface é uma das partes mais importantes de um website, pois concentra a relação visitante – sistema. O ideal é que a interface seja transparente, invisível, natural, intuitiva, prática. É o ambiente gráfico do produto digital, o canal de comunicação do COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 029-044| 2º Semestre 2013 | 35


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usuário final com o conteúdo de um sistema de computador. Em outras palavras, é onde tudo acontece (RADFAHRER, 2000). Todos os gráficos foram desenhados especialmente para este projeto. São três os grupos de gráficos desenvolvidos: botões do menu de navegação em preto e branco, botões hotspot de navegação nas imagens na cor azul que é parte integrante da identidade do Senado e botões para as janelas Pop up de informações e textos explicativos de cada ponto visitado, detalhes e mapa. Os botões tentam resgatar as curvas características dos projetos arquitetônicos de Oscar Niemeyer, como podemos ver na figura 3, a barra de ferramentas do menu. Nas janelas pop up usou-se a cor branca de fundo com transparência para que as imagens fossem vistas através das janelas.

Figura 3 - Detalhe dos botões de navegação. Fonte: Autoria própria, 2012.

A própria palavra interface evoca imagens de desenho animado, de ícones coloridos e lixeiras que se mexem, bem como os inevitáveis clichês da acessibilidade ao usuário (JOHNSON, 2001). A interface tem como objetivo principal fazer com que a experiência entre o sistema interativo tenha sua função de tradutor do sistema e que reflita as ações do usuário. É a parte mais importante do website, pois representa “a relação visitante-sistema” (RADFAHRER, 2000) e deve possibilitar uma visão panorâmica do sistema. No caso do Senado Federal, sua interface traz inicialmente a imagem de loading com a marca do Senado Federal e uma barra de carregamento ou progresso em porcentagem, enquanto carrega a primeira imagem esférica do Tour Virtual. Esta imagem possui um tamanho de 1 MB em média, o que em uma banda larga excede o tempo de 5 segundos e por isso é recomendado mostrar a barra de progresso ao usuário. Na figura 4 estão indicados e a seguir são descritos alguns dos recursos propostos neste modelo.

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Figura 4: Tela geral do tour virtual interface simples e integrada a navegação. Fonte: Autoria própria

1. Identificação da organização – marca do Senado Federal. 2. Ponto virtual: se caracteriza por uma imagem panorâmica esférica e permite a visualização 360° do ambiente. 3. Hotspot: significa ponto de acesso, ponto de extensão ou link de acesso para outra informação. Esses pontos são fixados na imagem panorâmica esférica e acompanham a perspectiva durante a visualização do tour virtual. No modelo, os hotsposts são utilizados para a abertura das obras e suas legendas, para conduzir a outras cenas e nos mapas de localização. 4. Estão subdivididos em três modelos: a) hotsposts utilizados para a abertura de imagens com legenda; b) textos explicativos com mouse over; c) arquivos em PDF com explicações mais complexas e detalhadas, como os painéis do Túnel do tempo. 5. Mapa em 3D para a localização no espaço físico. Este mapa traz o recurso de radar que possibilita ver graficamente o ângulo e a direção de visualização da imagem fotográfica 360°.

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6. Textos e imagens em Janelas Pop up: podem ser conectadas a qualquer tipo de imagem, botão ou hotspot e auxiliam em uma grande quantidade de informação. Todas as obras e ou objetos dentro de um tour Virtual 360° podem ser vistos de forma planificada. Estes hotspots fixados nas imagens esféricas abrem uma janela pop up com a imagem JPG e legenda da obra/objeto. Elas podem ser ativadas simultaneamente e ficam no espaço para comparações. Suas dimensões foram fixadas em 600px de largura ou altura conforme o formato da obra. Os seus tamanhos variam entre 25 a 70 Kb o que dá uma resposta rápida e não sobrecarrega o sistema. Em alguns casos pode ser utilizada a navegação em zoom na imagem quando a obra for grande ou rica em detalhes. Para orientar os usuários sobre a navegação por meio de botões e ou ícones, encontra-se o ícone ajuda representado pelo letra “i”. 7. Full screen ou tela cheia: o layout líquido é uma solução que promove a adaptação da diagramação à janela do browser utilizado pelo visitante. Pode adequar-se a qualquer formato de tela desde smartsphones, tablets, monitores, até TVs (plasma, LCD e LED) em alta definição com tecnologia Adobe® Flash® Player ou HTML 5.

Os layouts fixos ou congelados são muito comuns atualmente na web. Atribui-se a denominação fixo ou congelado, porque os elementos (textos, imagens, menus, entre outros) se mantém na mesma posição, mesmo que a janela/tela seja redimensionada. Grande parte dos desenvolvedores fixa a largura da interface em 800 pixels, para evitar a indesejada rolagem na horizontal (BATISTA, 2008). Atualmente os monitores widescreen (16:9”) estão no mercado e a resolução passou a ser Full HD (1920 x 1080 pixels), na outra ponta as telas de celulares tem formatos diferenciados. Entretanto BATISTA (2008), cita que com “a evolução da tecnologia e a consolidação da convergência entre a computação e telecomunicações, tem-se a disposição diferentes dispositivos para acesso a internet e vários formatos de telas e resoluções.” O modelo adotado para o Senado Federal suporta esta disposição diferenciada de telas. Sua resolução inicial é de 700 x 500 pixels, mas adapta-se aos diferentes navegadores. O limite de redução para a tela do browser é de 375 pixels, onde os botões de navegação são sobrepostos. O mapa local é oculto pelo usuário se assim o desejar. Os comandos de Menu, Mapa e navegação se adaptam ao tamanho da tela. A interface de interação com o usuário fica disposta nos quatro cantos da tela independente do formato ou proporção. Na figura 5, a opção full screen, projeta em diferentes navegadores a imagem em 100% da área útil do monitor.

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Figura 5: Telas adaptativas a tablets, smartsphones e computador pessoal. Fonte: Imagens do autor, 2013.

8. O sistema funciona no ambiente web ou multimídia e utiliza a plataforma Adobe® Flash®. Existe a possibilidade de gerar o tour em Java ou QuickTime® e mais recentemente está sendo gerado em HTML 5, neste caso com perda de algumas funções multimídia, mas compatível com os produtos da Appel®. Na home do site do Senado Federal existe um banner com um link direto que leva para o tour virtual, o qual funciona como um hotsite ou uma janela pop up, isto é, uma estrutura a parte do site do Senado Federal, porém com a mesma identidade visual. O tour virtual também pode ser inserido em telas de toque, oferecendo assim outra alternativa dinâmica de utilização e interação. 9. Para uma maior acessibilidade todos os textos das janelas Pop up foram narrados pelos locutores do Senado Federal. O usuário pode optar por ler o texto explicativo de cada ponto virtual ao desligar o áudio. Outra possibilidade que é possível no tour virtual e não foi utilizada neste projeto é a inserção de vídeos. Há dois modos de inseri-los: no primeiro, o vídeo fica sobre a imagem fotográfica esférica e no segundo, acompanha a perspectiva da imagem esférica, neste caso específico temos duas vantagens: a) o visitante tem a sensação do vídeo estar inserido no ambiente; b) O som acompanha com efeito de áudio 3D e dá a sensação de estar no ambiente virtual. À medida que o vídeo se desloca o som acompanha o efeito de som estéreo, ao sair do campo de visão o som é retirado da cena.

6. Monitoramento do Tour Virtual do Senado Federal Existem várias ferramentas que podem ser utilizadas para o monitoramento do site incluindo os dados do provedor de hospedagem. O gestor pode utilizar o Google Analytics que tem a vantagem de ser uma ferramenta gratuita e está on-line permitindo armazenar e visualizar de forma gráfica uma infinidade de dados. “Para iniciar o monitoramento você utiliza uma conta do Google, acessa o Google Analytics e configura uma conta com o endereço do site, o Google fornece um código, que deve ser implementado em todas as páginas do site” (TORRES, 2009, p.286). O código em

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HTML monitora cada página exibida e envia os dados para o Google Analytics, estas informações estão descritas na figura 6. No caso do Senado Federal só foi obtida a autorização para monitorar o tour virtual durante os três primeiros meses. Através da análise das informações detalhadas do tráfego é possível entender quais as contribuições para a visitação do site e qual a influência do marketing de conteúdo, das ferramentas de busca, das mídias, redes sociais, do e-mail marketing e de outras ações de marketing e publicidade. O detalhamento de conteúdo permite entender a relevância das páginas, qual a influência do conteúdo para o consumidor e as decisões que ele tomou durante a navegação. Em Inteligência pode-se colocar alertas personalizados de monitoramento e na seção Metas podem ser traçados objetivos para tornar a análise bem definida. O tour virtual do Senado Federal teve um número excelente de visitação no primeiro dia, foram 743 acessos feitos no dia 27 de abril de 2012. Durante o período analisado de 25/04 a 25/07/2012 foram registradas 3.540 visitações.

Figura 6: Gráfico de visitação nos três primeiros meses. Fonte: Google Analytics registrado pelo autor, 2013.

Figura 7: Gráfico com os navegadores mais utilizados. Fonte: Google Analytics registrado pelo autor, 2013.

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O site foi monitorado nos três primeiros meses pela ferramenta Google Analytics que enviou semanalmente relatórios para os gestores do projeto. As visitas tiveram em média 2 minutos e meio de duração durante os meses analisados. Os navegadores mais utilizados foram Internet Explorer (42,35%), Chrome (31,34%) e Firefox (20,92%), que juntos foram responsáveis por mais de 90% dos navegadores utilizados. (Figura7) Entre os dados analisados ficou registrado que 38,45% tiveram um acesso direto e ou link colocado no próprio site do Senado Federal. Em terceiro lugar já configuram as redes sociais representando 8,1% dos convites para visitar o site. Não foi feito nenhum planejamento de divulgação nas redes sociais. Vale lembrar que este tipo de visita virtual não tem como referência ser revisitado. Após a primeira visita as pessoas não retornam com uma constância para rever o que já foi visitado.

Conclusão Múltiplas questões se abrem e qualquer inovação que surja neste novo ambiente deve facilitar a co-criação entre usuários e criadores. A co-criação pode mostrar o mundo de uma nova maneira, configurando-o, mas também desconfigurando-o, é preciso tomar cuidado com os modelos a serem utilizados (PRAHALAD & RAMASWAMY, 2004). Esperar que o gestor de ambientes virtuais baseados em imagens 360° possua um perfil transdisciplinar para realizar essas tarefas com qualidade é pouco realista, é preciso oferecer novos caminhos. É necessário um esforço no sentido de construir discursos capazes de serem entendidos fora do próprio campo disciplinar. A nossa proposta5 interdisciplinar pretende combinar Gestão - Marketing Digital, Design de interface e Fotografia baseada em imagens 360°. A relevância desta investigação tem duas contribuições principais: possibilitar as organizações a realizar um planejamento efetivo no marketing digital e contribuir com um modelo para o marketing digital. E por fim favorecer a educação, bem como o desenvolvimento do turismo virtual ou presencial.

5 O link para visitar o Senado Federal é http://www.senado.gov.br/visitavirtual.


SENADO FEDERAL EM TOUR VIRTUAL 360° - INOVAÇÃO E GESTÃO DE AMBIENTES VIRTUAIS

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RICARDO MACEDO, CARLA MARQUES E VANIA ULBRICHT

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SENADO FEDERAL EM TOUR VIRTUAL 360° - INOVAÇÃO E GESTÃO DE AMBIENTES VIRTUAIS

Anexo http://www.senado.gov.br/senado/visitavirtual

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ALUNOS CONECTADOS: O USO DIDÁTICO DA INTERNET PARA O ENSINO DE REDAÇÃO JORNALÍSTICA. A EXPERIÊNCIA NA UFPR1 Toni André Scharlau Vieira2

Universidade Federal do Paraná - UFPR

Resumo Ensinar redação jornalística sem trabalhar o seu entrelaçamento com a internet não pode sequer ser imaginado nesse momento contemporâneo, mas como realizar isso sem fazer o ensino da técnica e da ética do jornalismo ficar subjacente? Experiências no curso de Jornalismo da UFPR apontam para necessidades que vão do conhecimento tecnológico ao entendimento de que o uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação não pode se sobrepor aos conceitos éticos. A internet precisa ser pensada como uma peça fundamental do ensino, mas o contato com as ruas não pode ser esquecido. Palavras-chave: Cibercultura, Ensino de Jornalismo, conectividade, tecnologias

ABSTRACT Teach journalistic writing without work your interlacing with the internet can not even be imagined in this contemporary moment, but how to accomplish this without making the teaching of technique and ethics of journalism get behind? Experiences in Journalism course UFPR point to needs ranging from technological knowledge to the understanding that the use of Information Technologies and Communication can not override the ethical concepts. The internet needs to be thought of as a fundamental part of education, but contact with the streets can not be forgotten. Keywords: Cyberculture, Journalism Education, connectivity technologies

1 Trabalho apresentado no GP de Conteúdos Digitais e Convergência Tecnológica, XXII Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Toni André Scharlau Vieira, Professor Adjunto do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná. Doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Pesquisador em Jornalismo impresso, Digital e Educomunicação.


ALUNOS CONECTADOS: O USO DIDÁTICO DA INTERNET PARA O ENSINO DE REDAÇÃO JORNALÍSTICA. A EXPERIÊNCIA NA UFPR

É quase que uma imposição começar falando a respeito do desafio que é ensinar novas tecnologias para alunos de Cursos de Comunicação Social. Esse é um dos aspectos que mais chama a atenção quando se faz um balanço das experiências realizadas até aqui. Em oferta há mais de quatro anos, as disciplinas do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que trabalham questões envolvendo novas tecnologias não são apenas do tipo “práticas” ou “teóricas”. Elas são um espaço de reflexão sobre os modos em que o profissional de Comunicação Social pode relacionar-se com as tecnologias e ampliar suas potencialidades “mercadológicas” a partir do uso delas. Em umas das disciplinas, por exemplo, o ensino de Redação Jornalística se dá de forma a dialogar com as tecnologias. Elas são pensadas como plataformas e não somente suportes para o exercício profissional (como uma máquina de escrever!). A proposta é fazer com que o aluno conheça e se interesse por dominar a linguagem e ampliar o conhecimento sobre equipamentos e suas interconexões com o Jornalismo. Assim, fazer uma matéria sobre a “televisão” que é vista pela Internet através de serviços como os do MegaCubo, faz o aluno não só compreender o sistema streamming (que possibilita a transmissão e a sintonia de canais de televisão que são enviados por satélite pagos ou não pagos do Brasil e do Exterior), mas a ver pautas que nascem no ciberespaço e se vinculam com as velhas preocupações de ouvir as pessoas e a partir dai realizar uma leitura social dos fenômenos contemporâneos. A pesquisa, realizada somente pela internet e em sala de aula, gera conhecimento e contribui para ampliar o debate sobre o uso das novas tecnologias no ensino de redação jornalística. A questão é como realizar esse trabalho sem contribuir para criar ou reforçar a idéia de que as novas tecnologias não podem ser pensadas como um fim, mas também já ultrapassaram a noção tradicional de meio. Aliado a isso existe a questão do comportamento de antigos professores que seguem uma linha de negação das novas tecnologias, não acompanhado-as e se negando a aprender a trabalhar com elas. Como ensinar a prática jornalística a moda antiga se todos os raciocínios recebem influência direta ou são fundados a partir das chamadas tecnologias da informação e da comunicação (TICs)? Para quem nasceu e cresceu com computadores por perto é quase um sacrilégio pensar uma atividade que não os contemplem. Assim, para os professores, é importante pensar atividades que envolvam o uso das tecnologias na produção de textos jornalísticos. Mas isso só será possível se houver desejo dos docentes para informar-se a respeito da oferta e funcionamento dos equipamentos disponíveis, bem como das suas potencialidades. Isso quer dizer que além de acompanhar o desenvolvimento dos hardwares (máquinas!), deve-se pesquisar e entender os softwares, e, acima de tudo, montar estratégias pedagógicas para envolver os alunos no aprendizado ético e técnico do trabalho jornalístico. E como se faz isso? Bem, os primeiros passos são as leituras de textos que relacionam as novas tecnologias com o exercício profissional. Autores como Marcos Palácios, Elias Machado, André Lemos, Alex Primo, Luciana Mielniczuk, Gerson Martins, José Antonio Meira, entre os brasileiros (lógico que aqui faltam muitos outros nomes!) e Nicholas Negroponte, Manuel Castells, Henry Jenkis, Pierre Levy,

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logicamente citando apenas alguns dos conhecidos mundialmente. Todos esses devem ser leitura obrigatória. Com relação a idéia de ética jornalística ou ética profissional, além do trabalho com o código de ética profissional adotado pela Federação Nacional dos Jornalistas, FENAJ, um dos principais parâmetros a ser levado em conta é o livro de Eugênio Bucci, sobre ética e imprensa. Bucci é o autor mais contundente pois sua obra faz análise de casos reais e trabalha com outros autores como Ciro Marcondes Filho, Paul Johnson, Claudio Abramo, Robert Darnton, Philip Meyer, Marilena Chauí, entre outros. Bucci trabalha com debates contemporâneos, sem deixar de dialogar com grandes teóricos. Através desse tipo de leitura e de debates, se realiza um convite ao aprofundamento de temas. Assim é possível aproximar os alunos de um domínio mínimo dos clássicos como Marshall Mc Luhan, Umberto Eco, Jürgen Habermas (...). Além disso, é importantíssima a leitura periódica de colunas e/ou sites/blogs de profissionais que acompanham as mudanças no cenário tecnológico, como http:// www.jornalistasdaweb.com.br, portal comunique-se, https://knightcenter.utexas.edu, sala de prensa, bocc, entre muitos outros, acadêmicos ou não. É através dessas leituras que se pode saber que a Google lançou um tablet que vai custar em torno de 200 dólares. E se em pouco tempo o uso de Tablets estará popularizado é urgente pensar um formato de texto e de layout jornalísticos para essas mídias (no caso específico do nosso jornal laboratório eletrônico o www.jornalcomunicacao.ufpr.br não existe previsão para o leitor em tablets. É lógico que nós (professores) não podemos nos abstrair de discussões básicas, como o próprio exercício profissional no ambiente das TICs. Cremilda Medina diz que “a entrevista internáutica se atém a idéias e conceitos, não capta ambientes, cheiros, cores, gestos, paladares” (MEDINA, 2008, p. 96). Está correta, embora não possamos dispensar nenhuma forma de obter informações quando da formação dos alunos. Também não é possível esquecer as reflexões bem materiais que ocorrem de forma pontual. Se não for possível uma entrevista presencial, ai sim, lança-se mão da alternativa mediada pelos aparatos tecnológicos, desde o telefone até o chat com audio e video em tempo real. Aqui só faltaria o uso do olfato e do tato para ter um conjunto próximo do ideal no que se refere aos sentidos humanos e sua “utilização” na produção jornalística. Mesmo levando em conta que já estão sendo feitos testes de aplicativos para televisores digitais com cheiro (no Brasil esses testes estão sendo feitos em empresas como HXD, de São Paulo), tudo ainda é muito incipiente para provocar mudanças significativas para a entrevista jornalística. Mesmo que essas experiências estejam disponíveis em pouco tempo, no trabalho de formação universitária elas ainda demorarão um pouco mais para terem aproveitamento didático pedagógico, quer seja pela questão dos custos, quer seja pela questão da lentidão da aquisição dos bens pelas instituições de ensino federais. Em uma obra mais recente Cremilda Medina continua o debate e lembra de forma enfática que o suporte não pode sobrepor-se a essência:

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Está bem: a tecnologia favorece contatos, mapeia rapidamente os espaços, traz a pauta informações preciosas que escapariam no tempo natural de pesquisa. No entanto, como menosprezar as viagens ao Outro com cinco sentidos ativos na percepção? (MEDINA, 2012, p. 172)

A pesquisadora já admite que diante de um avanço tecnológico que permitisse o uso simultâneo dos vários sentidos humanos seria aceitável a realização de, por exemplo, entrevistas através das TICs. Embora tudo ainda seja muito experimental ou fruto de projeções, Cremilda acredita que as tecnologias são “um precioso suporte dos sentidos que atribuímos ao mundo e da partilha democrática que se acelera e estreita nas redes inteligentes.” (MEDINA, 2012, p. 142) Humanizar o contato é função precípua do jornalista. E se é inexorável o uso das TICs no contexto que vivemos, que ele seja realizado dentro dos velhos princípios éticos e técnicos que devem nortear a produção de qualquer profissional que se considera um autêntico mediador social de sentidos. O compositor uruguaio Jorge Drexler fala em uma de suas canções que “la maquina la hace el hombre... Y es lo que el hombre hace con ella” (DREXLER, 2005). Nenhum trabalho jornalístico deve depender da tecnologia, e as máquinas não vão sobrepor-se a atuação humana no trabalho com as informações. O jornalista não pode fazer como o bancário que fica parado enquanto o sistema informático do banco não voltar a funcionar. Mas o impacto das novas tecnologias sobre o ensino e sobre o ensino de redação jornalística é evidente e até mesmo problemático. A técnica não pode ficar acima da preocupação ética! Essa sim é a principal preocupação na formação de um bom jornalista. Assim que a reflexão sobre experiências pedagógicas e o relato de atividades recentes é fundamental para ampliar o debate. No caso do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná o trabalho passa pelas conhecidas dificuldades administrativas e financeiras do ensino público para que se possa acompanhar o desenvolvimento tecnológico minimamente, chegando até ao despertar do desejo dos alunos para um investimento no desenvolvimento de múltiplas habilidades. E esse cenário é muito comum entre alunos de cursos de Comunicação Social brasileiros. Por exemplo, não fosse a dificuldade de compra de equipamentos, poderíamos ter uma webcam em cada computador de um laboratório e, assim, realizar uma entrevista coletiva a distância com uma fonte que conversaria em tempo real com os repórteres. Isso é possível se fizermos um hang up, gratuitamente, usando as ferramentas que a Google já disponibiliza no google talk ou no google mais. Sempre lembrando que essas ferramentas são de uso bem fácil, não requerendo uma ampla habilidade de informática. Existem professores que entendem a Internet como ferramenta apenas. Mas, entre tantas outras avaliações da grande rede de computadores, está a que vê a possibilidade de ampliar o desenvolvimento da leitura, por exemplo. No ensino de jornalismo é melhor pensar a partir da segunda idéia. Até porque fica difícil imaginar a formação de um repórter, de um jornalista contemporâneo sem pensá-lo conectado e interagindo o tempo todo. Mas, como em outros espaços letrados, o aluno/repórter do mundo digital necessita desenvolver competências leitoras e escritoras específicas, significativas 48 | COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 045-058| 2° Semestre 2013


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nessa forma de comunicação. Por isso os exercícios que trabalham diretamente com o universo da vida on-line são importantes. No trabalho de produção jornalística o que é mais significativo, além do domínio da língua, é o hábito de enxergar pautas, de ver os assuntos transformados em temas de interesse jornalístico. O chamado “faro jornalístico”. Essa habilidade pode ser despertada através do trabalho com a Internet. Assim como no exemplo da pauta/ matéria sobre o crescimento do Megacubo, atividades que utilizam a grande rede de computadores como fonte são fundamentais para ajudar os alunos a aproximarem o trabalho jornalístico do universo disponível na internet. Nessa linha de pensamento é fundamental entender e aproximar-se das redes sociais como Orkut, MSN, Twitter, Facebook, entre outras. O professor que está sintonizado com as “novas ondas” logo vai encontrar uma forma de dar a uma nova ferramenta da internet um uso didático pedagógico. Assim é possível tornar um hábito caseiro e pouco compartilhado publicamente em um trabalho de aula mais prazeroso. Em uma atividade de redação jornalística trabalhamos com o Twitter. Foi tanto uma chance de os alunos pensarem: “nossa, o professor não é toscão e parado no tempo, ele conhece o twitter!” como de aprofundar identidades muito próprias do texto jornalístico como a concisão. A tarefa consistiu em procurar na internet um tema contemporâneo e que pudesse ser publicado em nível local e regional. Logo após o aluno deveria compor uma mensagem e enviar a um colega pelo Twitter. Após todos terem terminado a tarefa cada aluno lia o texto que recebeu e explicava aquilo que havia entendido. O autor do texto comentava e discutia se era aquilo mesmo que ele queria que o receptor tivesse entendido. O professor e os demais alunos também interviram dando opiniões e tecendo comentários tanto sobre o texto, a pauta e a mídia utilizada, o Twitter, no caso. Mesmo que tenha havido algum mal estar, um aluno muito aficcionado nas novas mídias, mas pouco informado sobre o seu funcionamento, twittou uma pseudo crítica a atividade. Quando soube que o professor lia os twitts ficou meio sem jeito. Nada de mais! Até porque o aprendizado também é sobre a responsabilidade daquilo que publicamos através da internet. Na avaliação dos alunos presentes, a realização da tarefa foi muito positiva! Ela mostrou como uma simples ferramenta, que está nas mãos deles diariamente, facilmente se transforma em ferramenta jornalística. Também é interessante trabalhar ferramentas de uso livre e de fácil acesso (inclusive aos próprios alunos) como o Twitter. Isso pode ser feito propondo aos alunos que escrevam um texto informativo no limite dos 140 caracteres do aplicativo. Essa atividade pode ser realizada na rua entre os alunos que possuem tablets ou smart fones. A utilização das novas tecnologias para ampliar e aprofundar métodos e técnicas jornalísticas já é bastante conhecida. O pensamento que tem permanecido nos últimos anos é o de que as inovações permitem novos modos de trabalhar, mas a essência da atividade deve permanecer. Ensinar redação dentro do universo informático e tendo a Internet como principal ferramenta pode tornar a atividade muito tecnicista. Cremilda fala de “signo da relação” COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 045-048| 2° Semestre 2013 | 49


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como forma de superar a tentação do difusionismo unidirecional dos significados. (MEDINA, 2008, p. 98). Essa atividade envolvendo o Twitter caminha nessa direção. Ao escrever para o “consumo” de um colega que logo a seguir dá um retorno sobre o seu entendimento, o aluno pode perceber que o caminho cibernético não pode deixar de ser humanizado permanentemente. O debate gerado pela produção amplia as possibilidades de discussão sobre ética e técnica, algo já trabalhado anteriormente por Elias Machado. O que ocorre com o jornalismo digital é que a revolução cognitiva de nossa época começa a mudar os valores tradicionais da profissão, colocando em crise as normas básicas dos códigos de ética jornalística. (MACHADO, 2003, p. 119)

A revolução cognitiva de que fala Machado passa por um maior domínio do universo digital. A cada dia se apresentam novas descobertas e novos modos de interagir através da internet, da telefonia móvel e outras tecnologias. Os jornalistas precisam estar preparados para trabalhar dentro dessa realidade e isso quer dizer um permanente estudo sobre as inovações e seus impactos. Um exemplo disso é o conceito de convergência midiática. Segundo Jenkis, ele representa um cojunto de mudanças nas formas de relacionamento do público com os meios de comunicação. Ao invés [de um único aparelho], graças à proliferação dos canais e à natureza cada vez mais ubíqua da computação e das comunicações, nós estamos entrando numa era onde a mídia estará em toda parte, e nós usaremos todos os tipos dos meios de comunicação relacionando-os uns aos outros. Nós desenvolveremos novas habilidades para controlar a informação, novas estruturas para a transmissão por meio desses canais, e novos gêneros criativos para explorar os potenciais dessas estruturas emergentes. (JENKIS, 2012)

Quem vai escrever para os meios de comunicação contemporâneos precisa discutir essa realidade e aprender como interagir com ela. Escrever para os usuários dela! Os alunos de redação jornalística já estão trabalhando focados nessas “novas habilidades para controlar a informação” e nas “novas estruturas para a transmissão”, como destaca Jenkis. Como atividade de mergulho em realidades, periodicamente os alunos realizam “imersões” em comunidades. A idéia do professor José Carlos Fernandes33 é levar os alunos a lugares pouco freqüentados por eles, com equipe de televisão, rádio e impresso/on line. Assim foi realizada uma “imersão” na Vila das Torres (local não regularizado pela prefeitura e que sofre grande debate sobre posse de terras urbanas na cidade de Curitiba).44 O trabalho coletivo de reportagem foi batizado de “imerssão” em função da maneira como os alunos/repórteres se “contaminavam” com a pauta. A visita foi realizada em maio de 2010 com mais 15 alunos e compreendeu uma série de conteúdos trabalhados a partir de uma ida “in loco”, contando com as consequentes “descobertas” que os alunos faziam no local ao se depararem com as realidades e personagens do lugar. 3 Professor de Redação Jornalística na Universidade Federal do Paraná, UFPR, jornalista e colunista do jornal Gazeta do Povo, Curitiba - PR. 4 Ver em http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/views/naviladastorres

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Na linha do pensamento exposto por Cremilda, os alunos trabalham diretamente com a realidade e produzem conteúdos que serão veiculados on line. O Jornal Comunicação online também possui conteúdos de rádio e televisão disponibilizados ao público na internet! Claro que o aprendizado é bastante valioso para os alunos. O envolvimento é muito forte e os conteúdos demonstram que, independente da plataforma, o trabalho jornalístico tem valor quando se mostra humano e humanizador. Não se pode descolar das questões gerais que envolvem a vida social, a comunicação e as novas tecnologias. Ao mesmo tempo precisamos construir raciocínios humanizadores para reger o trabalho de formação de jornalistas que atuarão na mediação social de sentidos utilizando como principais ferramentas as chamadas TICs (Tecnologias da Informação e da Comunicação). Na UFPR o cotidiano aponta para uma pesquisa permanente e uma prática que permita um exercício profissional trabalhando com as técnicas, mas sem descuidar da ética. O fato dos alunos terem a possibilidade de publicarem seus textos em um site que tem uma grande visitação diária (o www.jornalcomunicacao.ufpr.br) deixa o aprendizado com uma importância social ampliada. Vejamos alguns números para compreender melhor essa importancia social:

Esse gráfico faz parte do relatório do Google Analytics do período de 24 de março até 16 de abril. Ele aponta um tráfego de mais de 36 mil visitantes no site do jornal comunicação. Dessas 36.093 pessoas, 28.521 chegaram ao site através de instrumentos de busca, como o próprio Google. Outras 5.530 visitas ao local se deram a partir de uma indicação de um outro site ou através das redes sociais. Os alunos e a própria equipe do site publica chamadas para matérias que foram recém colocadas on line. Um número bem menor, 2.042, se refere aos internautas que “digitaram” o endereço na barra do seu navegador. Esses são aqueles que REALMENTE queriam visitar a página, geralmente trata-se de alunos ou membros da comunidade acadêmica.

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O dia com maior número de acessos foi 1º de abril. Pode acreditar! Já os novos visitantes representaram 85,36% do total. Interessante que esse número é quase igual aos registrados no último relatório (de fevereiro e março de 2012). A taxa de rejeição ficou em 78,56%. Na prática isso significa que o internauta ficou menos de 1 minuto no site. O percentual, também, é quase igual ao encontrado no último relatório, 78,98%. A duração média das visitas é de 00:00:58. Aqui um fator para preocupar-se: são cinco segundos a menos que no último relatório. Isso pode ser atribuído a vários fatores, entre os mais relevantes estaria o fato de que o visitante que já conhece o site demorar, cada vez menos, para acessar o assunto de seu interesse. Quer dizer, o internauta já sabe o caminho! Um exemplo é o aluno que visita o site para saber qual o menu do restaurante universitário. A cada operação o tempo de permanência no site dimunui, em função da “experiência” adquirida e da intimidade com a arquitetura do site. São números robustos para uma experiência acadêmica! As oscilações de visitas acompanham as postagens de relevância e todos os números são analisados pelos alunos que compõem a equipe de trabalho. Os números do Google anaytics não falam por si, são, na verdade, são uma ferramenta interessante para medir a extensão da recepção ao trabalho. Mas como o foco do projeto é o público interno, alunos e comunidade da UFPR de uma maneira geral, costuma-se dar mais importância as pesquisas de comportamento dos leitores que são manifestadas voluntariamente (através dos e-mails enviados a redação!) ou por intermédio de consultas realizadas nos campi, quando os receptores do Comunicação respondem perguntas que auxiliam na escolha de pautas ou na oferta de novos produtos, assim como os insights da própria equipe. Psicopata, Sonambulismo, Estafa e Psicose Infantil ficaram entre as 10 palavraschave que mais trouxeram visitantes para o site. O ranking ficou assim: Psicopata: mente cruel em rosto agradável (2.694 visualizações), Cardápio (762), Sacolas oxibiodegradáveis (626), O vestibular UFPR 2011/2012 já está com as datas definidas (538), As faces do sonambulismo (446), Projetos de lei de iniciativa popular são raros no Brasil (421), Pouco conhecida, psicose infantil deve ser tratada desde cedo (401). Agora um quadro por editoria:

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Por editoria: UFPR: Agenda Federal: acabou a folga! (88 visitas) Jornal Comunicação errou (252) Agenda Federal: mês novo, eventos novos (89) RU s não oferecem mais copos descartáveis (155) Agenda Federal: chega de chocolate (52) Editora UFPR promove 3 Feirão de livros no centro politécnico (77 visitas) Projeto de inclusão da UFPR incentiva formação musical de crianças (39 visitas) Sem partir para a ignorância (68 visitas) Agenda Federal: para ou não para? (29 visitas)

Sociedade Educadores da Rede Pública querem criar casa do professor aposentado (51 visitas)

Política Vices assumem governo mas ficam no anonimato (134 visitas) Autoridades de Colombo conversam com a população sobre saúde pública (47) Série Pré-Candidatos: “Precisamos ter a humildade de ver que ainda há muito a ser melhorado em Curitiba” (56 visitas)

Ciência e Tecnologia Reciclar não basta, é preciso reutilizar (105 visitas) Análise mostra que LSD não combate alcoolismo (90 visitas) UFPR discute sobre propriedade intelectual (36 visitas)

Cultura Páscoa em Curitiba impulsiona teatro amador (48 visitas) Mostra de Arte Independente abre espaço para artistas do cenário alternativo (13 visitas) Do cinema para a literatura (32 visitas)

Comportamento As novas manias dos internautas (143 visitas) O motivo por trás dos tiros (61 visitas)

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Esportes Encantando o país do futebol (129 visitas) Curitibanas são futuro da patinação artística no Brasil (182 visitas)

Tubo de Ensaio Eles fazem a cena (83 visitas) Atrás da cortina vermelha (14 visitas)

Vestiba Sisu diversifica o perfil do estudante que entra na UTFPR (91 visitas) Curitibano que foi primeiro lugar no Enem escreve livro sobre técnicas de estudo (122 visitas) Estudantes do Ensino Médio dizem não ler livros para o vestibular (45 visitas)

Festival de Teatro Rir é o melhor remédio (19 visitas) Guritiba agrada pais e filhos (2 visitas) Quem sabe o príncipe é um idiota? (122 visitas) Clarice Lispector é inspiração para peças no Festival de Curitiba (101 visitas) De três é melhor (61 visitas) Centenário de Nelson Rodrigues é marcado por adaptações no festival (87 visitas) Atores escrevem, dirigem e atuam nas peças do Festival (23 visitas) “Assuma sua lepra!” (8 visitas) Gastronomix apresenta a arte da alta gastronomia (3 visitas) No Paraná teve ditadura? Sim, senhor! (5 visitas) O voo alto dos pássaros mortos (14 visitas) Festival de quem? (31 visitas) Top 10 (21 visitas) Um aspecto que comprova a idéia de que o principal seguidor do site é o público acadêmico da UFPR é o fato de que após deflagrada a greve (17 de maio), o Comunicação manteve as postagens apenas atualizando os assuntos sobre a paralisação dos professores e, depois, dos técnicos administrativos. No período de 17 a 30 de maio houve 40.759 visualizações realizadas por 25.305 pessoas. Em menos de 15 dias, o site teve mais acessos que em período semelhante no mês de março (toma-se por base o período de 24 de março até 16 de abril, 36.093). Da mesma maneira ampliou-se o tempo médio de permanência nas páginas do site. Deve-se destacar, também, o fato de conteúdos gerados e de interesse da comunidade acadêmica estarem entre os 10 mais bem posicionados no ranking de acessos:

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1.Greve na UTFPR já engloba professores e alunos www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/114441661 Visualizações de página: 2458 Visualizações de página única: 2215 Tempo médio na página: 00:03:46

2.Psicopata: mente cruel em rosto agradável (não podia faltar) www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/6665 Visualizações de página: 1872 Visualizações de página única: 1661 Tempo médio na página: 00:06:02

3.Página inicial www.jornalcomunicacao.ufpr.br/ Visualizações de página: 1.810 Visualizações de página única: 1.350 Tempo médio na página: 00:01:10

4.Estudantes da UFPR entram em greve http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/11475 Visualizações de página: 1.272 Visualizações de página única: 1.127 Tempo médio na página: 00:03:04

5.Página inicial (de novo) http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/index.php Visualizações de página: 1.178 Visualizações de página única: 739 Tempo médio na página: 00:01:40

6.Estudantes de Medicina da UFPR entram em greve pela primeira vez na história http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/11459 Visualizações de página: 871 Visualizações de página única: 774 Tempo médio na página: 00:02:49 COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 045-048| 2° Semestre 2013 | 55


ALUNOS CONECTADOS: O USO DIDÁTICO DA INTERNET PARA O ENSINO DE REDAÇÃO JORNALÍSTICA. A EXPERIÊNCIA NA UFPR

7.Falta ao trabalho devido à greve não pode ser descontada do empregado http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/10708 Visualizações de página: 867 Visualizações de página única: 803 Tempo médio na página: 00:03:17

8.Adesão dos professores da UFPR à greve ainda é parcial http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/11449 Visualizações de página: 734 Visualizações de página única: 609 Tempo médio na página: 00:03:44

9.Dúvidas que surgem durante a greve http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/11474 Visualizações de página: 644 Visualizações de página única: 600 Tempo médio na página: 00:04:08

10“A greve só termina quando o governo fizer uma proposta digna”, declara presidente da APUFPR http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/11433 Visualizações de página: 452 Visualizações de página única: 400 Tempo médio na página: 00:02:23 Perceba-se que a chamada página inicial (home page) tem dois lugares diferentes no ranking. É que o primeiro caso (terceiro lugar no ranking) é quando alguém digita o endereço do site e vai direto pra ele. A página inicial que está na quinta colocação, a que tem a URL com a expressão /index, é quando o usuário entra no site através de uma matéria específica, mas acaba clicando no índice, se remetendo para a página inicial, geralmente clicando na logo do jornal no alto da página.

Considerações finais Produzir conteúdo jornalístico em nível acadêmico, disponibilizando informações para um número cada vez maior de pessoas é um grande desafio. Na prática, liderar a equipe como professor de disciplina de redação jornalística significa assumir a responsabilidade por acompanhar os avanços tecnológicos e não descuidar

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da formação ética e técnica do grupo. Assim, a atuação como facilitador e provocador de atividades como a pauta do mega cubo, a tarefa utilizando a rede social Twitter ou quaisquer outras que já foram apresentadas ou estão sendo estruturadas, requer uma boa dose de pesquisa e próatividade para dar certo. Por isso lembro novamente da necessidade de ler conteúdos que atualizam informações sobre programas e novos aplicativos. A visibilidade dos textos por uma comunidade que está em crescimento5 é estimulante para os alunos escreverem e possibilita uma melhor compreensão sobre as responsabilidades técnicas e éticas dessa escrita. Por tudo isso as atividades de produção jornalística em jornalismo on line na UFPR podem ser consideradas coerentes com a preocupação de formar profissionais que estejam sempre buscando narrativas que contribuam para uma polissemia e uma polifonia que estimule atos relacionais onde a técnica não se sobreponha ao sujeito autoral, o jornalista responsável do século XXI.

5 O relatório parcial do Google Analytics de maio de 2012 aponta um número de acessos total do mês superior a 60 mil visitas.

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ALUNOS CONECTADOS: O USO DIDÁTICO DA INTERNET PARA O ENSINO DE REDAÇÃO JORNALÍSTICA. A EXPERIÊNCIA NA UFPR

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JORNALISMO CULTURAL NA WEB. O QUE É E COMO SE MANIFESTA Franciane Bubniak 1 Leticia Muller2 Eugênio Vinci3

Centro Universitário Uninter, Curitiba, PR

Resumo Com base no artigo sobre gênero discursivo de Bakhtin e de autores ligados à linguística textual e ao interacionismo sociodiscursivo, como Jean-Michel Adam, Jean-Paul Bronckart e Teresa Wachowicz, esta pesquisa busca, através da investigação dos campos temáticos, das estruturas composicionais e do estilo presentes nos textos do blog de Inácio Araújo, ligados à esfera do jornalismo cultural, levantar, descrever e analisar os gêneros textuais que ocorrem e/ou co-ocorrem nestes espaços do Webjornalismo. Com isso, pretende-se verificar de que forma os textos desse campo das práticas jornalísticas se manifestam nesse novo meio ou suporte, que é a internet. Nesse sentido, foi preciso ter em vista a descrição e os conceitos ligados ao campo do jornalismo cultural e dos gêneros jornalísticos (COELHO, 2006; MELO, 2010). O resultado alcançado mostrou que a nova tecnologia está transmutando os gêneros, adequando-os ao processo social. Palavras-chave: Jornalismo cultural; gêneros textuais; blog; novas mídias; webjornalismo.

Abstract Based on the article about discursive gender by Bakhtin and by authors related to textual linguistics and to socialdiscursive interacionism, as JeanMichel Adam, Jean-Paul Brinckart and Teresa Wachowicz, this research aims, through the investigation of thematic fields, compositional structures and styles present on the texts by Inácio Araújo on his blog, connected to cultural journalism field, gathering, describing and analyzing text genres that occur and co-occur on this areas of Webjournalism. With all this, it’s intended to verify in which way texts of this field of journalistic practices manifest in this new mean or support, which is the Internet. In this sense, it was necessary to focus on description and concepts associated with cultural journalism field and with journalistic genre. (COELHO, 2006; MELO, 2010) The result showed that the new technology is transmuting genres, suiting them to the social process. Keywords: Cultural journalism; text genres; blog; new media; webjournalism. 1 Estudante de Graduação 7º. período do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Uninter, email: franbnk@ yahoo.com.br 2 Estudante de Graduação 7º. período do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Uninter, email: leticiabmueller@gmail.com. 3 Orientador do trabalho realizado no Programa de Iniciação Científica da UNINTER. Professor do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Uninter, email: euvinci@gmail.com.


JORNALISMO CULTURAL NA WEB. O QUE É E COMO SE MANIFESTA

Introdução O jornalismo cultural já tem uma considerável tradição no Brasil. Ele se manifesta por meio de alguns gêneros textuais, como a resenha (crítica ou descritiva), sinopse, entre outros. Esses gêneros textuais/discursivos são escolhidos de acordo com as funções predominantes que seus autores selecionam para seus textos. Em geral, visam informar ou opinar, ou ambas as coisas. Portanto, essa pesquisa é basicamente uma análise linguística de um suposto novo gênero do webjornalismo, mais especificamente dos blogues jornalísticos. No universo digital, dada a ampliação que essa nova mídia vem dando ao jornalismo de forma geral, como explicado no artigo “Blogosfera x Campo Jornalístico”, de Feltrin Foletto, é preciso investigar de que modo esses gêneros são apropriados por seus autores e em que medida e grau vêm sendo recriados e transformados, pois eles parecem estar sofrendo um processo evolutivo devido ao novo jornalismo praticado nos suportes on-line, em que informação e opinião se fundem. (RÊGO; AMPHILO, 2010, p. 96) Foi escolhido um blog/coluna ligado a um portal criado genuinamente na Web, que é atualizado periodicamente por seu autor, além de possuir um número considerável de leitores. É ele: o Blog do Inácio Araújo4, do UOL, com textos de diversos gêneros destinados a temas do mundo cinematográfico. Inácio Araújo é crítico de cinema do jornal Folha de São Paulo e autor de dois livros sobre o assunto: “Hitchcock, o Mestre do Medo” e “Cinema, o Mundo em Movimento”. O espaço, criado em outubro de 2010, por abordar tanto críticas de filmes recém-lançados quanto notícias sobre o universo cinematográfico, se enquadra nas características da esfera do jornalismo cultural. Para investigar esse fenômeno do discurso jornalístico, levantou-se, descreveuse e analisou-se dez textos do blog/coluna selecionado para esta pesquisa. Cada um deles foi estudado de acordo com a sua temática, composição e estilo, conforme a proposta de Teresa Wachowicz; tendo em vista também a classificação de gêneros jornalísticos levada a cabo por pesquisadores dessa área (Luiz Beltrão, José Marques de Melo e Manuel Carlos Chaparro). Em relação ao gênero, foram usadas as teorias presentes principalmente nos conceito de gêneros discursivos de Bakhtin, propostos no artigo “Gêneros do Discurso”. Para auxiliar em uma análise linguística completa, esta pesquisa também foi embasada em teorias de outros autores, como Fiorin, Tereza Wachowicz e Rosângela Rodrigues, comentadores do teórico russo, uma vez que Bakhtin trata do gênero textual de um ponto de vista filosófico. Livros clássicos sobre gêneros como “Retórica e Poética” de Aristóteles e a “Introdução à retórica”, do Oliver Reboul, estão incluídos na pesquisa, assim como “Gêneros Jornalísticos no Brasil”, de José Marques de Melo.

4 http://inacio-a.blogosfera.uol.com.br/

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Jornalismo Cultural O jornalismo cultural se apresenta, como todo texto, diga-se, por meio da apropriação de gêneros de sua esfera. Como diz Bakhtin, falamos apenas através de determinados gêneros do discurso, isto é, todos os nossos enunciados possuem formas relativamente estáveis e típicas de construção do todo [BAKHTIN, 2003, p.282]. O gênero textual se apresenta, por um lado, estável na web, uma vez que é possível identificá-lo por meio de resenhas culturais, sinopses e até mesmo por meio de artigos de opinião (essa estabilidade é possível de ser flagrada, sobretudo por suas condições de produção – função social do autor e leitor, situação comunicativa, suporte etc., [WACHOWICZ, 2010, p. 44]) e, por outro, relativamente estável (BAKHTIN, 2003) na medida em que novas situações sociodiscursivas ou transformações dos meios sócio-históricos, principalmente no que se refere às novas tecnologias, podem provocar hibridizações, ou sobreposições de gêneros textuais. Assim como outras esferas do jornalismo, o jornalismo cultural migrou para o meio digital principalmente no formato de blogs e colunas, caracterizados, a princípio, pela preeminência e proeminência autorais e objetos culturais delimitados. A dúvida é: em que medida esse novo suporte ou meio digital reproduz ou transforma, em seus textos ou posts, os gêneros textuais próprios dessa esfera do jornalismo, tais como resenha, a sinopse e a crítica (ou artigo de opinião)? E, consequentemente, refletir sobre as implicações que essas transformações ou reproduções de gêneros tradicionalmente usados nesse campo poderão trazer para o âmbito do jornalismo cultural.

Teoria do Círculo de Bakthin O estudo dos gêneros jornalísticos é de grande relevância social pois, além de trazer subsídios para a formação e atuação profissional, auxilia na formação de cidadãos críticos e habilidosos no manejo das manifestações, já que toda a sociedade é afetada por elas (BONINI, 2005). Os gêneros agrupam textos com características e propriedades em comum. Ao contrário das antigas correntes que admitiam as características formais dos gêneros como propriedades fixas e com padrões inflexíveis, Bakhtin propõe um estudo da linguagem como atividade sociointeracional e coloca o enunciado como unidade mínima do estudo. Todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem. Compreende-se perfeitamente que o caráter e as formas desse uso sejam tão multiformes quanto os campos da atividade humana, o que é, claro, não contradiz a unidade nacional de uma língua. o emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) [e em outras semioses] concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana. Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua, mas, acima de tudo, por sua construção composicional. (BAKHTIN, 2003, p. 262) COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 059-070| 2º Semestre 2013 | 61


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Na teoria do Círculo de Bakthin (2003), os gêneros são produzidos dinamicamente e estão incluídos em determinadas atividades sociais. O enunciado tem conteúdo temático, organização composicional e estilos próprios relacionados às esferas de atividades de que se originam. À medida que essas atividades desenvolvem-se e ficam mais complexas, o repertório dos gêneros diferenciam-se e ampliam-se mutuamente. Nesse sentido, Bakhtin (2003) também afirma que diferentes gêneros se hibridizam continuamente devido a um processo social. Portanto, para o pensador russo, os gêneros são intrinsecamente ligados à atividade em que estão inseridos, às coordenadas espaço-tempo e a relações entre os interlocutores. Toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato que precede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda a palavra serve de expressão a um em relação ao outro. Através da palavra defino-me em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação à coletividade (BAKHTIN, 1999, p. 113).

Ciência jornalística Na visão de José Marques de Melo, jornalista que dedica sua carreira ao estudo dos gêneros jornalísticos, a classificação dos gêneros baseia-se mais em princípios funcionais de descrever ou ler o real, usados para os gêneros informativos e opinativos, respectivamente. Portanto, segundo esse ponto de vista, trata-se de analisar e avaliar o real, inserindo juízos de valor, baseado no desejo da coletividade de saber o que se pensa sobre o que se passa. O “opinar” carrega em si o propósito de informar, e, por extensão, o de interpretar, entre outros. O que importa é a intencionalidade e a natureza estrutural do relato. Incluem-se o editorial, comentário, artigo, resenha, coluna, crônica, caricatura e carta. (MELO, 2003). Segundo Chaparro (1998, p. 92), o gênero é uma convenção social para as formas fixas das mensagens jornalísticas que ordenam o que é apresentado diariamente ao leitor. Ou seja, certos traços de textos específicos se repetem bastante durante um período de tempo em que estão convencionados. A estrutura do gênero opinativo depende do controle, pela instituição, da autoria e angulagem (tempo e espaço) da narração. Os gêneros jornalísticos são um conjunto de parâmetros textuais selecionados em função de uma situação de interação e de expectativa dos agentes do fazer jornalístico, estruturado por um ou mais propósitos comunicativos que resulta em unidades autônomas, relativamente estáveis, identificáveis no todo do processo social de transmissão de informações por meio de uma mídia/suporte (MARQUES DE MELO & ASSIS, 2010, p. 247)

Possui uma parte estável (parâmetros) que indica ao agente em interação social (produtor e receptor) os propósitos comunicativos e os formatos textuais por eles suscitados, sendo que os propósitos são um conjunto de razoes para os gêneros (COSTA, 2010).

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Definição de blogs Quando surgiram, no início da década de 1990, numa época em que as ferramentas de buscas na internet eram muito precárias, os weblogs (“log” remete aos diários de navegação, enquanto “web” indica a transposição destes dados de navegação para a rede mundial de computadores) tinham como objetivo guardar um arquivo de referências interessantes. Por isso, ficaram conhecidos como uma espécie de filtro dos conteúdos da rede. Ao longo do tempo, quando surgiram ferramentas mais fáceis para o uso do software e com o aumento do número de pessoas conectadas à internet, os blogs acabaram ganhando outros usuários, que viram a oportunidade de mostrar na web o conteúdo que quisessem. Após os atentados terroristas aos Estados Unidos em setembro de 2001, os relatos pessoais postados em blogs passaram a ter certa relevância jornalística, influenciando também o jornalismo. Trasel (2009), que fez um apanhado das definições mais utilizadas para blogs, identifica os seguintes passos, que podem ser complementares ou concorrentes na ferramenta: • Website de cunho subjetivo ou não comercial, tipicamente produzido por um único indivíduo; • Formato de um diário organizado em ordem cronológica reversa, em geral atualizado todos os dias ou com bastante frequência; • Referências a outros sítios da web e excertos comentados de outras fontes e impressões pessoais; • Relatos da vida diária (aspecto mais associado ao conceito de blog no Brasil). Segundo Blood (2002), além das atualizações frequentes e datadas, em ordem cronológica reversa, outro fator que caracteriza o blog são espaços para comentários. No caso do Blog do Inácio Araújo, podem ser observadas claramente algumas destas características, enquanto outras não aparecem; nos posts analisados, Araújo não faz referências a outros sítios da web, por exemplo, mas atualiza sozinho o conteúdo da coluna, que não tem no seu conteúdo fatos da vida diária do autor.

Gêneros Opinativos Para Atorresi (1995), os gêneros são objetos em permanente transformação, pois tomam características definidas a partir da relação direta entre a língua e o uso concreto que se faz dela. É inegável que os gêneros se contaminem, tomem algumas características de outros gêneros, como a inserção de opinião em matérias informativas. A seguir, serão analisados os seguintes gêneros opinativos, sempre tendo em vista o viés da ciência jornalística: comentário, coluna, resenha, crítica e artigo.

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Comentário A ancoragem no imediato e tem como desafio ver e perceber o que transcende a aparência. São duas partes: A abertura, que dá uma síntese dos fatos e a enunciação do seu significado e o desenvolvimento da argumentação sugerindo o julgamento do fato. Confunde-se com o colunista devido aos espaços fixos e periodicidade similar. É o gênero opinativo sem o rigor da análise que caracteriza a crítica, sobre qualquer fato, evento ou assunto (RABAÇA;BARBOSA, 2001). É um texto mais próximo do artigo (analítico, temático, argumentativo e que encerra uma valoração de um fato, evento ou assunto) do que da coluna, sendo esta concebida com uma seção em que podem aparecer diversas modalidades de relatos, incluindo imagens, sobre fatos diversos agrupados pelo assunto geral que nomeia a coluna. O comentário explica as notícias, seu alcance, circunstâncias e consequências. Nem sempre emite uma opinião explícita. O julgamento dos fatos é percebido pelo raciocínio do comentarista, pelos rumos de sua argumentação. A característica inerente é a continuidade. Uma matéria que contém a apreciação de um fato articulase necessariamente com as que a antecederam e com as que virão.

Coluna Espaço fixo, periódico e claramente identificado, incluindo fotografias e textos. É um mosaico estruturado por unidades curtíssimas de informação e de opinião, caracterizando-se pela agilidade e abrangência. Cumpre a função de cobrir o furo. Tem como espaço privilegiado os bastidores da notícia, descobrindo fatos que estão por acontecer, pinçando opiniões que ainda não se expressaram, ou exercendo um trabalho sutil de orientação da opinião pública. Aparentemente tem caráter informativo, mas na prática é uma seção que emite juízos de valor, com sutileza ou de modo ostensivo.

Resenha e crítica A resenha e a crítica, segundo Melo (2003), são gêneros que ficaram conhecidos como uma apreciação das obras-de-arte ou dos produtos culturais com a finalidade de orientar a ação dos consumidores. É comum o emprego da palavra “crítica” como sinônimo de resenha. Mutações no jornalismo afastaram intelectuais que cumpriam o papel de critico e a prática foi sendo assumida por jornalistas. Enquanto a resenha jornalística cresce nos meios de comunicação, a crítica se refugia em suplementos especiais, revistas especializadas e produções acadêmicas. Segundo Coutinho (apud MELO, 2003), que classifica os gêneros de acordo com a categoria e público, a crítica seria um gênero literário voltado para acadêmicos, enquanto que a resenha seria um gênero jornalístico voltado para o consumo popular. A resenha é uma atividade jornalística denominada comentário sucinto, enquanto que a crítica já exige diferentes métodos e critérios que tornam o resultado incompatível com o exercício periódico e regular de um jornal diário.

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O texto crítico, além dos elementos de um texto jornalístico (clareza, coerência e agilidade), precisa de interpretação: Informar o que é a obra ou o tema em debate, resumindo sua história, suas linhas gerais, quem é o autor etc. Terceiro, deve analisar a obra de modo sintético, mas sutil, esclarecendo o peso relativo de qualidades e defeitos, evitando o tom de “balanço contábil” ou a mera atribuição de adjetivos. Até aqui, tem-se uma boa resenha. Mas há um quarto requisito, mais comum nos grandes críticos, que é a capacidade de ir além do objeto analisado, de usá-lo para uma leitura de algum aspecto da realidade, de ser ele mesmo, o crítico, um intérprete do mundo. (PIZA, 2004, p. 70)

Artigo O artigo, em contrapartida, é a matéria jornalística através da qual jornalistas e cidadãos desenvolvem ideias e apresentam opiniões. Democratiza a opinião no jornalismo, permitindo o acesso às lideranças emergentes na sociedade. (COSTA, 2010)

Análises A metodologia escolhida, de natureza empírica, foi realizada por meio de análises que pudessem indicar a flutuação dos gêneros, tais como campo temático, estilo, sequência textual e considerações de acordo com as características gerais. O campo temático informa se o autor está resenhando (falando sobre filme ou livro), opinando (tema polêmico) ou informando/expondo (evento); a sequência um artigo de opinião); enquanto que a sequência descritivo-narrativa é uma descrição ou narração do objeto (em geral usadas para resenha, para parafraseá-las). Já para o estilo, usou-se a classificação de Wachowicz (2010): estilo pessoal ou objetivo, sendo que o estilo pessoal mostra marcas de primeira pessoa, como pronomes pessoais e possessivos, verbos flexionados em primeira pessoa e marcas de coloquialidade, e o estilo objetivo faz uso de terceira pessoa ou primeira pessoa do plural, com ausência ou poucas marcas de informalidade. Em seguida, foi produzido um quadro analítico-comparativo entre os textos do próprio autor. Nesse sentido, foram levantadas as formas linguísticas mais relevantes.

Quadro 1 – Análise dos Gêneros no Blog de Inácio Araújo

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Tabela 1: Análise do Campo Temático Expondo

Opinando

Resenhando

Informando

Híbrido

3

4

1

0

2

Tabela 2: Análise da Sequência Argumentativa/ Descrito-narrativa Argumentativa

Descrito-narrativa

Híbrido

1

5

4

Tabela 3: Análise do Estilo Objetivo

Pessoal

Híbrido

9

1

0

Tabela 4: Análise dos Gêneros Comentário

Resenha

Artigo

Crítica

Híbrido

5

0

1

1

3

Os resultados mostraram algo curioso. Percebeu-se a predominância do campo temático opinativo, com quatro posts, seguido da exposição, com três, e do formato híbrido, com dois posts. A sequência descrito/narrativa foi a que mais apareceu, enquanto que a argumentativa foi usada em somente um post. O estilo objetivo e os comentários prevaleceram, características menos personalistas, como se espera de um blog. O gênero jornalístico cultural em Web parece estar sofrendo uma hibridação e apresenta diversas facetas de acordo com o campo temático. Notou-se que todos os gêneros aparecem de forma quase igualitária ou muitas vezes mista no discurso dos posts, misturando-se em um mesmo texto de forma que sua classificação se torna dificultosa. Percebe-se que a nova tecnologia está também transmutando o gênero, que está adequando-se ao processo social, não mais se limitando a emitir sua opinião, mas alternando o discurso com a transmissão dos fatos e a argumentação.

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Considerações Finais As análises dos posts mostraram um resultado contraditório com a classificação tradicional de que blogs apresentam marcas pessoais e opinativas em relação aos objetos temáticos, o que comprova a tese inicial de que os novos processos sociais e as novas mídias estão alterando os gêneros, antes bem caracterizados e de fácil identificação. Por fim, esta pesquisa se mostrou de grande relevância social, pois como Bonini (2005) afirma, ela traz subsídios para a formação e atuação profissional e auxilia na formação de cidadãos críticos e habilidosos no manejo das manifestações discursivas. Compreendendo os gêneros, o leitor se põe em uma posição de julgamento e pode analisar melhor os argumentos e a construção textual dos posts, podendo inclusive mudar de opinião em relação ao texto. Por exemplo, é diferente ler algo acreditando ser simplesmente uma sinopse neutra e descobrir que é uma resenha crítica. Existe uma tentativa maior de persuasão. O estudo também se mostra relevante no que se refere à influência tanto do público leitor quanto do relato jornalístico tradicional, já que cada vez mais os blogs vêm chamando a atenção dos jornalistas como fonte de informação credível e influente. Por ser um assunto recente, ainda é preciso mais estudos para chegar a uma conclusão mais sólida, ainda que fique relativamente claro que os gêneros opinativos estão se tornando mistos na estrutura do jornalismo cultural.

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FRANCIANE BUBNIAK, LETICIA MUELLER E EUGÊNIO VINCI

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JORNALISMO CULTURAL NA WEB. O QUE É E COMO SE MANIFESTA

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O COMPORTAMENTO DE COMPRA E CONSUMO DE LEITURA NÃO ACADÊMICA ENTRE OS FUTUROS PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO Bruna Michelin PINTO1 Carlos Marcelo ARDIGÓ2

Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, SC

RESUMO Considerando a importância da leitura para o futuro profissional de Comunicação, o presente estudo teve como objetivo conhecer os hábitos de consumo e leitura não acadêmica presentes entre os alunos de Comunicação Social da Univali – SC, bem como o comportamento de compra destes e as influências recebidas no processo de compra. Para isso realizou-se uma pesquisa quantitativa descritiva, através do procedimento survey, sendo o questionário a ferramenta de coleta de dados primários. A amostra definida foi a não probabilística por conveniência com 143 acadêmicos matriculados em agosto de 2012. Após a análise dos dados obtidos, verificou-se que há limitado interesse na leitura entre os acadêmicos de Comunicação, e que as ações de comunicação de marketing possuem pouco nível de impacto na decisão de compra dos mesmos. PALAVRAS-CHAVE: Consumo, Modelo de Estímulo e Resposta, Comunicação de marketing.

ABSTRACT Considering the importance of reading to the future professional of Communication, the present project had as objective to know the habits of consumption and not textbook reading found among the Social Communication academics of the Univali – SC, as well how the purchasing behavior of them and the influences received at the purchasing process. For that was executed a quantitative and qualitative research, using the procedure survey, in which the questionnaire was the primaries data collection tool. This research shows the result of a non-probability sampling, which was tested on 143 students enrolled at Univali college in august 2012. After the analysis of the data obtained, verified that there is a limited interesting of reading among the Communication academics and the actions of marketing communication have low or little impact on the purchase decision of the two groups. KEYWORDS: Consumer. Stimulus-Response Theory. Marketing Communications.

1 Estudante de Graduação do 6º período do Curso de Publicidade e Propaganda da Univali. E-mail: brunamichelin@live.com 2 Orientador do trabalho. Doutorando do Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (PPGEP) da UFSC e professor de Marketing e Logística da Univali. E-mail: marcelo.ardigo@univali.br


O COMPORTAMENTO DE COMPRA E CONSUMO DE LEITURA NÃO ACADÊMICA ENTRE OS FUTUROS PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO

1 INTRODUÇÃO A leitura proporciona o acesso a uma maior compreensão de mundo, mas nem todos têm acesso ou interesse a ela. Os desafios que se apresentam para o Brasil ainda são enormes, retrato da distância entre o número de livros lidos per capita no País e os lidos por portugueses e espanhóis, por exemplo, que chega a ser mais que o dobro. Essa situação também é refletida nos resultados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro (2011), que demonstra redução no hábito de leitura dos brasileiros considerados leitores, passando de 95,6 milhões para 88,2 milhões comparados os anos 2007 e 2011. Leitores, segundo o estudo, são aqueles que leram ao menos um livro nos últimos três meses da data anterior à pesquisa. De acordo com o estudo, um dos motivos para essa redução deve-se ao fato de as crianças não terem os exemplos de pais leitores e verem os livros como uma obrigação escolar e, não como uma atividade prazerosa, já que o hábito de leitura caiu da quarta para a sétima posição no ranking de hobbies do brasileiro nos últimos quatro anos. A leitura pode ser realizada por diferentes plataformas, e o acesso pode ser por meio da aquisição ou empréstimos em distintas fontes. A compra, portanto, é uma delas. Esse, inclusive, foi o principal elemento de interesse deste estudo, e que levou a definição do propósito do mesmo. Contudo, é nítida a dificuldade de separar a compra do ato da leitura, o que faz com que esses comportamentos muitas vezes estejam correlacionados, portanto, são aqui analisados conjuntamente. O estudo do comportamento do consumidor já é foco de estudos há cerca de 160 anos e diversas teorias que tentam explicar as relações de troca já foram lançadas. De forma contemporânea, Engel et al. (2005), Sheth, Mittal e Newman (2008), Solomon (2002), Kotler e Keller (2006), Limeira (2008) e Karsaklian (2004), (as duas últimas no contexto brasileiro), têm se dedicado ao tema. Solomon (2002, p.24) estabelece como conceito de comportamento do consumidor “o estudo dos processos envolvidos quando indivíduos ou grupos selecionam, compram, usam ou dispõem de produtos, serviços, ideias ou experiências para satisfazer necessidades e desejos”. Kotler e Keller (2006) ampliam o pensamento ao afirmar que o estudo do cliente auxilia na melhora ou no lançamento de produtos e serviços, no planejamento do preço e do canal de distribuição, na elaboração da mensagem, entre outros. Compreender o comportamento do consumidor possibilita aos profissionais de marketing a elaboração de estratégias que satisfaçam as necessidades do seu público. Justamente são nestes processos de escolha, compra e fatores de influência na aquisição de livros não acadêmicos que se estabelece o presente estudo e dirigem o objetivo geral para a condição de analisar o comportamento de compra de livros não acadêmicos, presentes entre os alunos dos cursos de Comunicação da Univali. Especificamente para atender a este propósito buscou-se descrever o perfil de leitura e compra de livros entre os acadêmicos; identificar os fatores de influência externa e características psicológicas, culturais, sociais e pessoais dos acadêmicos; e descrever

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ações do processo de decisão de compra. Para a coleta de dados, delimitou-se o universo de 175 acadêmicos dos cursos de graduação em Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda, Jornalismo e Relações Públicas da Universidade do Vale do Itajaí – SC (UNIVALI), do campus localizado na cidade de Itajaí, os quais cursam o período noturno no segundo semestre de 2012. Considera-se essa pesquisa como quantitativa descritiva e para a coleta de dados o instrumento adotado foi o questionário. A realização deste estudo encontrou justificativa na contribuição ao tema “comportamento do consumidor”, bem como no âmbito acadêmico de forma a investigar a qualidade do hábito de leitura dos mesmos, dado de suma importância para a área, servindo como possível direcionador a políticas pedagógicas, já que nos cursos de comunicação as interações aos diversos temas de leitura são um elemento enriquecedor da cultura e da formação do profissional da área. A organização deste artigo encontra-se estruturada inicialmente pela breve discussão do tema “comportamento do consumidor”, refletindo a área de conhecimento, os fatores de influência e o processo de decisão de compra. Posteriormente apresentam-se o delineamento metodológico, os resultados do estudo e, por último, as considerações finais.

2 NECESSIDADES, MOTIVAÇÕES E ESTÍMULOS Para entender o comportamento do consumidor é necessário, antes, compreender o conceito de consumidor. O conceito apresentado por Karsaklian (2004) é direto: ser consumidor é ser vivo. Para Limeira (2008, p.7), consumidor também pode ser chamado de cliente e possui a seguinte definição: “conjunto de indivíduos, grupos ou organizações que desempenham diferentes papéis ao longo do processo de compra e uso de produtos e serviços”. Assim, o consumo faz parte da natureza humana, e compreender como o indivíduo age nesse processo torna-se necessário para uma ação mais efetiva por parte das organizações. A compreensão inicial para entender o comportamento do consumidor parte, segundo Kotler e Keller (2006), do modelo de estímulo e resposta apresentado na Figura 1, que procura explicar e organizar o comportamento do consumidor e o processo de decisão, diante de diferentes fatores de influência. Parte-se do princípio que o indivíduo, dotado dos elementos psicológicos, junto a certas características pessoais, sociais e culturais, está sujeito a diferentes estímulos ambientais e de marketing, que o levará ao processo de decisão de compra, ou seja, dará uma resposta a essas combinações. O profissional de marketing deve perceber o que ocorre no consciente do consumidor quando ele recebe o estímulo externo e decide a compra. A partir disso pode também concluir diferentes formas de provocar esses estímulos.

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Figura 1: Modelo do comportamento do consumidor Fonte: Kotler e Keller (2006, p.183).

Diante do fato que o estudo do comportamento do consumidor requer uma compreensão do comportamento humano em geral, os pesquisadores da área se apoiam na psicologia e na sociologia, fato que leva à análise das influências sobre o comportamento de compra.

3 OS FATORES DE INFLUÊNCIA PESSOAIS, INTERPESSOAIS E EXTERNOS Em todas as questões na qual é preciso fazer uma escolha o indivíduo sofre influências, seja pelas pessoas que estão ao seu redor, seja pela bagagem que adquire ao longo da vida. Sendo assim analisam-se as influências pessoais, interpessoais e externas no comportamento do consumidor. Para Kotler e Keller (2006), o comportamento de compra do consumidor é influenciado por quatro fatores inerentes ao mesmo, descritos como: psicológicos (motivação, percepção, aprendizagem, memória, crenças e atitudes); pessoais (idade, estágio no ciclo de vida, ocupação, circunstâncias econômicas, estilo de vida, valores, personalidade e autoimagem); sociais (grupos de referência, família, papéis e status); e culturais (cultura, subcultura e classe social). Os fatores psicológicos influenciam na maneira como os consumidores percebem e interagem com o ambiente; dentre deles está a motivação, estabelecida à medida que “uma necessidade passa a ser um motivo quando alcança determinado nível de intensidade” (KOTLER; KELLER, 2006, p.183). Dentre os fatores psicológicos está a aprendizagem, que é a mudança no comportamento do consumidor de acordo com suas experiências, podendo ser imediata ou esperada. Além desse, inclui-se nos fatores psicológicos a percepção, descrita por Boone e Kurtz (1998) como o processo pelo qual as sensações são selecionadas, organizadas e interpretadas sobre as informações recebidas, criando uma imagem significativa do meio.

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Entre os fatores pessoais, há os valores, que “representam as crenças dos consumidores sobre a vida e os comportamentos aceitáveis” (ENGEL et al., 2005, p.223). Há também as influências recebidas em ambiente familiar e social, a partir das quais as pessoas formam sua personalidade. Karsaklian (2004, p.39) define personalidade como “a referência a um atributo ou característica da pessoa que causa alguma impressão nos outros”. Entre os culturais, a cultura é a que oferece maior influência no comportamento no consumidor e compreende, segundo Sheth, Mittal e Newman (2008, p.151), “tudo o que a pessoa aprende e compartilha com membros de uma sociedade, inclusive ideias, normas, moral, valores, conhecimentos, habilidades, tecnologia, ferramentas, objetos materiais e comportamentos”. Outra determinante são as influências sociais, a qual pertence os grupos de referência. Para os autores (p. 165) grupo pode ser definido como duas ou mais pessoas que compartilham de um interesse comum, e que podem se destacar com referência. O primeiro grupo de referência que uma criança participa é a sua família, que a orienta sobre religião, política, noção de ambição pessoal entre outros, exercendo influência direta em suas atitudes e comportamento. Todas essas experiências vividas e informações acumuladas pelas pessoas ao longo da vida podem ficar armazenadas em sua memória de longo prazo, essa definida por Limeira (2008, p.109), como “uma série de nós (representando conceitos) e ligações (que representam as associações sobre os conceitos). Quando combinados, têm-se unidades de conhecimento mais complexas”. Além dos fatores internos, que são intrínsecos, os consumidores sofrem influência dos fatores externos, que são forças globais e incontroláveis e alteram as necessidades e desejos dos mesmos. Kotler e Keller (2006) ressaltam a importância de monitorar seis forças: a sociocultural, a econômica, a tecnológica, a político-legal, a natural e a demográfica. A variável sociocultural representa os valores e as crenças que moldam a sociedade. Os principais valores culturais das pessoas são vistos em seu estilo de vida e a concepção que elas têm da sociedade, delas mesmo e do ambiente. Já a variável econômica diz respeito ao poder de compra dos consumidores e isso depende de tendências como inflação, disponibilidade de crédito, dentre outros. Outra força é a tecnológica, pois o avanço tecnológico permite aos consumidores mais controle sobre a informação, novas gerações de produtos e automação e transições para o cliente ter acesso a alguns produtos personalizados (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2008). A força político-legal, quarta força, é aquela em que “os profissionais devem trabalhar respeitando as muitas leis que regulamentam as práticas de negócio e em harmonia com os vários grupos de interesses sociais” (KOTLER; KELLER, 2006, p.93). Há também a variável natural, composta dos recursos naturais que influenciam diretamente no ramo da empresa, como escassez de matéria-prima, aumento da poluição, etc. Por fim, no ambiente demográfico obtém-se indicadores confiáveis em curto e médio prazo e analisa-se, dentre outras, as questões do crescimento populacional, distribuição da faixa etária e composição étnica, etc. Sujeito a essas movimentações, o consumidor pode alterar consciente ou inconscientemente seu comportamento de consumo.

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Sendo influenciado pelas características que moldam a pessoa, e também por forças externas e incontroláveis, o consumidor tomará suas decisões de compra. Tendo conhecimento da forma que cada fator atinge o consumidor, é possível direcionar o marketing para que atinja de maneira mais efetiva o público. Isso é o que as empresas fazem na medida em que direcionam seus esforços ao composto de marketing e influenciando a percepção e a escolha do consumidor (KOTLER; KELLER, 2006; SOLOMON, 2002).

4 FASES DO PROCESSO DE COMPRA Os modelos de processo de compra têm o intuito de explicar quais as fases que ocorrem no momento que se vai adquirir um produto/serviço. O processo se inicia com reconhecimento do problema ou necessidade. Segundo Sheth, Mittal e Newman (2008), o problema do consumidor é um estado de privação, físico ou emocional e o seu reconhecimento é o momento que ele nota que precisa comprar algo para voltar a seu estado normal. Para reconhecê-lo a pessoa sofre estímulos, sendo os internos as percepções de desconforto e os externos as informações que o mercado utiliza para que o cliente o perceba. O segundo estágio é a busca por informações, classificadas em: atenção elevada, que é quando a pessoa busca informações em nível moderado; e a outra, quando buscam ativamente informações em literaturas, opinião de amigos, pesquisas na internet e visitas às lojas. A quantidade de informação buscada varia de acordo com o tipo de produto ou serviço e também conforme as características do comprador (KOTLER; KELLER, 2006). A decisão de compra resulta da avaliação das alternativas encontradas na busca por informações novas, que comparadas às que já estão armazenadas na memória, induzirão à escolha do produto pretendido (ENGEL et al., 2005). O estágio seguinte é a compra propriamente dita, que na visão de Limeira (2008), implica na escolha de onde, quanto e quando comprar, ou seja, é a tomada de decisão. Depois de realizada a compra, o consumo pode ser de imediato ou não, conforme a sua categoria. A avaliação pós-compra transcorre em níveis de satisfação, pois essa deriva da proximidade entre suas expectativas e o desempenho percebido do produto. O último estágio do processo é o descarte, no qual o consumidor dispensa o produto comprado, seja trocando-o, revendendo-o ou descartando-o totalmente (ENGEL et al. 2005). A partir do momento que o consumidor se movimenta por esses estágios, os profissionais de marketing podem observar qual o melhor momento para influenciar e reagir com estratégias que afetam diretamente cada uma das etapas. Para a realização do presente estudo utilizou-se de processos metodológicos detalhados na sequência.

5 METODOLOGIA A presente etapa aborda os procedimentos necessários que estruturaram a fase de busca de dados empíricos pertinentes à pesquisa. Primeiramente quanto à natureza dos dados, o estudo é classificado como quantitativo. Essa escolha reflete os tipos de dados obtidos, passíveis de quantificação e análise estatística. Sua aplicação no contexto do estudo do comportamento do consumidor, segundo Karsaklian (2004, 76 | COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 071-084| 2° Semestre 2013


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p.20) é útil, já que “visam à compreensão de tais comportamentos a fim de contribuir de maneira eficaz com as decisões estratégicas empresarias”. Quanto aos objetivos a pesquisa assume a característica descritiva, pois busca determinar percepções e critérios sobre os hábitos de leitura e compra. Malhotra (2006, p.102) a conceitua como “um tipo de pesquisa conclusiva que tem como principal objetivo a descrição de algo – normalmente características ou funções do mercado”. Sendo assim, essa pesquisa estimou o comportamento de compra de livros não didáticos da população de acadêmicos de Comunicação Social da Univali, apresentando características sobre o hábito de leitura e associações feitas entre as variáveis pertinentes às descrições da amostra. Por fim, seu procedimento é o levantamento, ou survey, que de acordo com Gil (2002) aplica-se em estudos do comportamento do consumidor, já que levanta opiniões e atitudes. Para a coleta de dados, delimitou-se o universo dos acadêmicos dos cursos de graduação em Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda, Jornalismo e Relações Públicas da Universidade do Vale do Itajaí – SC (UNIVALI), do campus localizado na cidade de Itajaí, matrículados no período noturno no semestre II/2012. O estudo não considerou os acadêmicos do período matutino pelo fato de apenas o curso de Publicidade e Propaganda ter acadêmicos matriculados nesse período. Do total da população, 175 acadêmicos, a pesquisa foi realizada com uma amostra não probabilística por conveniência com os 143 acadêmicos entrevistados. Essa técnica de amostragem consiste em o pesquisador escolher de acordo com seus próprios critérios quais unidades entrevistar (MALHOTRA, 2006). Justifica-se essa técnica pela facilidade de alcance a esses acadêmicos no local em que a pesquisa foi aplicada. O tamanho da amostra representa 30% em relação ao total de matriculados. Para a coleta de dados primários foi utilizado o instrumento questionário, sendo utilizadas perguntas da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” (2011) como referência para sua construção. Após seu desenvolvimento, na fase de pré-testagem foram aplicados onze questionários para a identificação de problemas potenciais no instrumento de coleta (MATTAR, 2006). Após ajustes mínimos foi reaplicado a esses e aplicado aos demais integrantes da amostra. Para a análise utilizou-se a estatística descritiva por distribuição de frequência e tabulação cruzada, bem como medidas de tendência central por meio da média (AAKER; KUMAR; DAY, 2004, p. 449).

6 RESULTADOS DO ESTUDO Considerando o indivíduo como um ser consumidor (KARSAKLIAN, 2004), nas suas várias fases de seu ciclo de vida, diferentes produtos e serviços são considerados para satisfazer suas necessidades e desejos. O livro e o hábito da leitura certamente permeiam essas diferentes fases, contudo, é de se esperar que o momento em que o mesmo passa por um processo de formação acadêmica, a leitura e a compra de livros possam estar presentes em maior intensidade. Na Tabela 1 é apresentado sinteticamente o perfil do hábito de leitura do grupo

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estudado. Destaca-se que os respondentes poderiam citar mais de uma opção nas questões feitas, o que fez com que os resultados em alguns casos superassem os 100%. A média de livros lidos nos últimos seis meses entre os acadêmicos é 3,3. Biografia e históricos estão entre os gêneros mais lidos, seguido de romance e poesia, e a casa é o local de preferência para realização a leitura. A maioria declararou ler a mesma quantidade quando comparado ao que já leu no passado. A compra é o principal acesso aos livros e além desses, revistas e textos na internet são os principais materiais lidos. Tabela 1: Perfil do hábito de leitura da amostra

Média de livros não didáticos lidos nos últimos 6 meses

3,3 Biografias/históricos 54% Romance/poesia 53% Casa 80% Transporte 29%

Gêneros mais lidos Local de preferência para ler Grau de leitura comparado ao que já leu no passado Acesso aos livros Materiais lidos com frequência (além de livros)

Lê menos Comprado 58% Emprestado 45,5% Textos na internet 78% Revistas 77%

Fonte: Dados da Pesquisa.

Para compreender esse resultado, analisou-se no grupo as diferentes fases do processo de compra, incluindo os estímulos e o complexo sistema de fatores internos que podem influenciar este comportamento. Na sequência os resultados são organizados seguindo o modelo de estímulo e resposta apresentado por Kotler e Keller (2006). Inicialmente, considerando as forças macroambientais, a econômica e os fatores que afetam a renda e o poder de compra dos consumidores são determinantes (KOTLER; KELLER, 2006). Sendo assim, observou-se que entre o grupo entrevistado, a renda familiar mensal média é superior a R$ 3.589,00, condição que pode elevar a capacidade de compra para além do essencial, inclusive investindo em cultura e lazer. Analisando os avanços tecnológicos no campo do comércio de livros, observase que a internet é um canal de vendas importante, ampliando o acesso aos livros. Isso se confirma já que a mesma apresenta-se como o segundo canal mais utilizado pelos acadêmicos, citado por 47% do total de respondentes. Quanto ao e-book, boa parte dos entrevistados já teve acesso, sendo que 45,5% dos acadêmicos já leram no computador. Os que não tiveram acesso a ele representam 35% do total de respostas. Ainda, observa-se que o grupo de idade entre 15 e 19 anos que nunca tiveram acesso a essa plataforma de leitura representam 49% do total de respostas, porcetangem considerável vista a idade relativamente jovem dos entrevistados. A internet também é relevante à medida que 78% dos acadêmicos declaram ler com frequência textos por 78 | COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 071-084| 2° Semestre 2013


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meio dela e 54,5% a utilizam como atividade de lazer. Esses resultados demonstram que tanto no e-commerce quanto nos e-books, os respondentes estão significativamete sujeitos às influências dessas tecnologias. Além disso, a conexão em rede possibilitou o surgimento das mídias sociais, ambiente utilizado ocasionalmente (3,1 de média, em uma escala de cinco pontos) para a busca por informações sobre livros. Esses progressos no ambiente tecnológico podem ter possibilitado, portanto, o avanço das editoras em termos de desenvolvimento de produtos, de redução de preços, ampliação dos canais de vendas e de comunicação, ou seja, suas estratégias do composto mercadológico3 assumiram consistentemente esse meio. Porém, destaca-se que as ações de comunicação desenvolvidas por editoras e livrarias, como publicidade e anúncios, segundo a pesquisa, exercem influência de pouco ou baixo impacto na decisão da compra de livro. Dentre outras ações mensuradas no estudo estão a participação em promoções para ganhar livros, participação em eventos de lançamentos e feiras, recebimento de e-mail marketing com indicações de livros, divulgação em mídias massivas e ações de relançamentos de livros após terem sido adaptados ao cinema. Observou-se que em praticamente todas, a situação é de baixa incidência de influência no interesse dos acadêmicos relativas à compra de livros. Na distribuição, a livraria é o local de preferência para a compra entre o total de entrevistados com 74% das respostas. O consumidor é dotado de diferentes características psicológicas que o tornam um ser único e podem diferir dependendo do que está comprando e do momento que está vivendo. A leitura, a qual pode originar a compra de livros entre os acadêmicos, apesar de parecer o contrário, não é considerada uma atividade essencial como forma de lazer, já que a mesma ocupa apenas a quinta posição entre as atividades no total dos acadêmicos pesquisados. As atividades que se destacam como prioritárias são navegar na internet (54,5%) e ficar com os amigos e família (52%). Entre os aspectos sociais identificados que influenciam nesse hábito e que pode também levar ao consumo (compra), está a influência dos grupos de referência familiar, ou seja, os pais, sendo esses os principais indicados pelos acadêmicos com 38,5% do total de respostas. É no seio familiar que muitos dos comportamentos são assimilados e aprendidos, relacionando-se inclusive com o aspecto psicológico de aprendizagem (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2008). É importante também observar que muitos dos alunos entrevistados mencionaram que o hábito da leitura surgiu deles próprios (31%), e que amigos e professores pouco os influenciaram. Essa característica está inclusa nas influências socioculturais, indicativa aos grupos de referência. Esses também podem ser grupos indiretos, como é o caso das ocorridas em dicas e críticas em revistas expostas por especialistas, que se mostrou como de expressividade média (2,96 pontos de média). Entre os fatores psicológicos há a motivação, na qual se identifica pela compra de livros não didáticos a necessidade de uma atividade de lazer e distração. Cita-se ainda nesses fatores a percepção pelo fato de que as pessoas escolhem o que querem 3 O composto mercadológico são as ferramentas utilizadas pelos gestores de marketing com a intenção de satisfazer as necessidades e desejos dos consumidores além de auxiliar a empresa a atingir seus objetivos planejados (KOTLER; KELLER, 2006).

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ouvir, podendo assim não ser atingidas com as mensagens que a empresa quer passar. Entre a variável cultura, a classe social é uma das determinantes e é identificada entre os entrevistados como renda, ocupação e grau de instrução (KOTLER; KELLER, 2006). No grau de instrução familiar, mais de 80% possuem pais com ensino médio completo. Nas características pessoais observou-se a predominância de mulheres. A média de idade presente entre os acadêmicos é 22 anos, sendo que 61,5% estudam e trabalham, e 17% estudam e fazem estágio, ou seja, 78,5% do total de entrevistados desenvolvem alguma atividade além do curso. Reunindo-se os fatores externos e as características dos consumidores, esses dependendo do tipo de compra poderão passar por cinco diferentes fases chaves no processo de decisão de compra: o reconhecimento do problema, a busca de informações, a avaliação, a compra e o pós-compra (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2008; KOTLER; KELLER, 2006; LIMEIRA, 2008). O reconhecimento do problema é algo que ocorre tanto influenciado por fatores externos (marketing, macroambiente, outras pessoas) quanto do próprio consumidor. No estudo, isso estava presente em vários fatores já destacados e podem ter sido motivadores que levaram o consumidor à ação para atender as suas necessidades. Quanto à fase da busca por informações, oriundas da fonte pessoal (KOTLER; KELLER, 2006), está a influência das dicas de outras pessoas sendo a terceira mais citada para a escolha do livro no total de entrevistados, com 34%. Entre as fontes comerciais, a indicação do vendedor é pouco relevante, representando apenas 23% das respostas. Entre as avaliações das alternativas, incluindo a escolha do local de compra, os principais motivos levados em consideração são o preço mais barato (49%) e comodidade/variedade (47%). Na decisão de compra os fatores que mais influenciam na escolha do produto (livro) são tema e autor, com 66% e 42% do total de respostas respectivamente. Entre a escolha do revendedor os motivos que fazem os entrevistados decidir onde comprar é a disponibilidade dos lançamentos (45%), seguido pela exposição do livro na vitrine (37%) e as promoções (31%). Já na fase do comportamento pós-compra, 75% dos acadêmicos entrevistados costumam guardar seus livros. Há também situações em que emprestam seus livros, já que 47% do total afirmaram fazer isso esporadicamente. Outro tipo de comportamento presente é a dica sobre os livros aos amigos, referente às leituras que fizeram ou estão fazendo. Recuperando o modelo de estímulo e resposta mencionado por Kotler e Keller (2006), e inferindo neste os resultados do estudo discutidos até aqui concernentes aos estímulos externos, às características e ao processo de decisão de compra, na Figura 2 é proposto de forma sintética uma configuração do modelo que relaciona o comportamento dos acadêmicos dos cursos de comunicação da Univali. Importante destacar que essa análise está sendo desenvolvida na perspectiva do consumidor, incluindo elementos externos do macroambiente e do mix de marketing das empresas, os quais não estão sob seu controle, e que potencialmente podem influenciá-lo. 80 | COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 071-084| 2° Semestre 2013


BRUNA MICHELIN PINTO E CARLOS MARCELO ARDIGÓ

Figura 2: Modelo de estímulo e resposta conforme estudo realizado entre acadêmicos Fonte: Dados da Pesquisa.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Visto a necessidade de discorrer sobre o hábito de leitura ao estudar o comportamento de compra de livros não didáticos e considerando a importância desse hábito específico aos estudantes de Comunicação Social, foi possível identificar entre a a amostra estudada quais são os hábitos de leitura e consumo e quais as influências externas recebidas no processo de decisão. Primeiramente ao perfil do hábito de leitura, os acadêmicos declararam ler a mesma quantidade do que no passado, e a casa é o lugar de preferência para se realizar predominantemente a leitura de gêneros como biografias/históricos. Notou-se que a compra é a principal forma de acesso aos livros não didáticos e no que competem às influências nas diferen tes fases de compras, os fatores mais expressivos na escolha do livro são o tema, o autor e as dicas de outras pessoas, tendo sido pouco citada a influência da publicidade/anúncio. No perfil de compra, identificou-se que o preço mais barato, seguido da comodidade/variedade, são os principais decisores para a escolha do local. Os lançamentos também são predominantes na escolha da loja física, sendo a livraria o principal local de compra. Pelo fato da internet ter sido elencada em segundo lugar no local de compra e pelos acadêmicos optarem por lugares onde o preço seja mais em conta, infere-se que os mesmos talvez COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 071-084| 2º Semestre 2013 | 81


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prefiram a internet por essa facilitar a busca e comparação de preços. Em relação ao pós-consumo, os acadêmicos costumam guardar o livro após a leitura. Deduz-se por esses dados, que a busca por novidades e com preço acessível em livrarias com diversidade de títulos conduz a compra no ambiente físico. A qualidade na mercadoria, no atendimento, o preço praticado, a atmosfera, a publicidade e também as promoções são perceptíveis na escolha da loja. Ao analisar a influência da comunicação de marketing exercida sobre esses consumidores, observou-se que entre as ações mensuradas, a participação em feiras de livros, a divulgação de livros em mídias massivas e eventos de lançamentos, são as que menos influenciam na decisão de compra. A participação em promoções para ganhar livros, ações de relançamento de livros após esses terem ganhado versão cinematográfica e o recebimento de e-mail marketing com indicação acontecem raramente, tendo pouco efeito entre os acadêmicos. A busca por dicas e críticas em redes sociais ou revistas são as que aparecem como maiores influenciadoras. Constatou-se que as estratégias de marketing mensuradas no presente trabalho, incluindo as de comunicação, não atingem eficazmente o público estudado. Além disso, aparentemente supõe-se que as ações de marketing são direcionadas para a divulgação e venda de produtos, e pouco para expandir o público leitor e comprador, principalmente entre aqueles que não demonstram pré-disposição à procura desse produto, ampliando assim a base do mercado consumidor. Acredita-se que as estratégias de marketing devem explorar todos os canais de acesso a esses últimos, inserir o produto em situações inusitadas convidando-as a conhecerem mais sobre esse, possibilitando o acesso aos livros de forma interativa. Estimular os acadêmicos que por diversos motivos se mostram resistentes é a alternativa, pois a inovação estimula a mudança e a demanda por novos produtos. Pelo fato da publicidade e de anúncios terem influência pouco considerável comparado às dicas de outras pessoas conhecidas, mostra-se interessante o uso de estratégias nas mídias sociais, por essas terem se apresentado com forte presença na vida dos entrevistados. Essas devem estimular e incentivar o compartilhamento de ações relativas à compra de livros por aqueles que têm interesse e já buscam por isso, mas também devem ser direcionadas para aqueles que não se mostram predispostos à compra de livros, procurando evidenciar fatores de estímulo ao próprio hábito. Além disso, no ambiente acadêmico, inclusive, a leitura genérica aparentemente tem sido pouco estimulada pelos docentes. A cultura e a capacidade profissional devem ser ampliadas para além do texto acadêmico. Considerado, portanto, o propósito do estudo, conclui-se que de modo geral, há um limitado interesse por parte dos alunos dos cursos de Publicidade e Propaganda, Jornalismo e Relações Públicas da Univali em relação à leitura e o comportamento de compra de livros não acadêmicos. Apesar dos resultados não possibilitarem diretamente uma conclusão nesta linha de raciocínio, infere-se a isso o fato de mais da metade dos acadêmicos estarem

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concomitantemente trabalhando, implicando em menos tempo para a leitura como prazer. Ao descrever as limitações desta pesquisa, considera-se fato do instrumento de coleta ter sido aplicado no período de aula, levando-se em conta a distração por parte dos entrevistados ao responderem o mesmo, e a ausência de alguns alunos no dia da aplicação. Como sugestão para futuras pesquisas, aconselha-se ampliar a população da pesquisa, com a intenção de fazer um comparativo entre outros centros acadêmicos da Univali, bem como de outros cursos e instituições de ensino.


REFERÊNCIAS: AAKER, A. K.; KUMAR, V.; DAY, S. G. Pesquisa de marketing. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004. BARBETTA, P. A. Estatística aplicada às Ciências Sociais. 3. ed. Florianópolis: Ed. da UFSC,1999. BOONE, L. E.; KURTZ, D. L. Marketing contemporâneo. Rio de Janeiro: LTC, 1998. ENGEL, J. F.; BLACKWELL, R. D.; MINIARD, P. W. Comportamento do consumidor. 9. ed. Rio de Janeiro: Pioneira Thomson Learning, 2005. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991.

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A POLIS EM PERIGO: A CIDADE IMAGINADA PELOS INDIVÍDUOS E PELA MÍDIA Sérgio Roberto Trein1

Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), RS

RESUMO: O objetivo deste estudo é estabelecer uma discussão teórica, a partir de duas percepções, aparentemente, divergentes, sobre o papel da polis e o que ela significa, que, de algum modo, compromete a sua natural vocação política: de um lado, a cidade imaginada pelos cidadãos, com base nas experiências de cada um e no peso psicológico de suas vivências individuais e/ou coletivas; de outro lado, a cidade imaginada pela mídia e de como os meios de comunicação redefinem os limites e os espaços urbanos. Embora não sejam pontos de vista totalmente antagônicos entre si, a não combinação entre eles oferece o risco de uma certa deformação do conceito de polis e de seus fins políticos e sociais. Em nosso entender, apenas a intervenção de um agente mediador, como a comunicação política, pode superar este problema de compreensão. Palavras-Chave: Cidade. Mídia. Política.

ABSTRACT: The objective of this study is to establish a theoretical discussion, from two perceptions, apparently, divergent, about the role of the polis and what it means, that, in some way, commits itself to its natural vocation policy: on the one side, the city imagined by citizens, based on the experiences of each one and the weight of their experiences psychological individual and/or collective; on the other hand, the city imagined by the media and how the media redefine the limits and urban spaces. Keywords: City. Media. Policy.

1 Professor dos cursos de graduação e pós-graduação de Comunicação Social, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), Coordenador do curso de Publicidade e Propaganda, Doutor em Comunicação Social, e-mail: sergiotrein@uol.com.br.


A POLIS EM PERIGO: A CIDADE IMAGINADA PELOS INDIVÍDUOS E PELA MÍDIA

1. Introdução A construção e o gerenciamento de cidades sempre mexeram com a imaginação popular. Em todos os momentos da vida, seja na infância, na adolescência, na fase adulta e, mesmo na fase madura, em algum instante, de alguma forma, as pessoas criam relações emocionais e de raízes com as suas cidades e têm, guardadas em suas memórias, alguma lembrança especial do lugar onde moram ou moraram um dia. Segundo o psicanalista James Hillman (1993), que estuda as cidades sob o ponto de vista dos arquétipos, das imagens e dos símbolos, estas relações acontecem porque a cidade está na alma das pessoas. Conforme o autor, esta ligação entre alma e cidade pode ser identificada através de vários aspectos, ao longo de nossa vivência urbana. O primeiro deles se manifesta pela ideia de reflexão, que, segundo Hillman (1993), seria pelo fato de que a alma tem sido associada a uma parte reflexiva em nós ou com a função reflexiva. Isso está construído em nossas cidades sob a forma de piscinas, lagos, galerias, sombras e venezianas onde ocorrem reflexos. Ou seja, as pessoas precisam se enxergar nos espelhos da cidade e, assim, perceber a sua alma presente no espaço urbano. Um segundo aspecto, continua o autor, está ligado à ideia de profundidade. E isso não é novo, como afirma Hillman (1993), pois, desde os antigos gregos, a alma foi associada à profundidade. Precisamos de níveis, complementa o autor, tais como níveis de iluminação ou de materiais contrastantes, que também fornecem variedade de profundeza2, para que possamos nos perceber e nos localizar na cidade. Outro aspecto que evidencia esta ligação entre alma e cidade, na opinião de Hillman (1993), é que a alma tende a ser imaginada por meio de imagens e símbolos. Para o autor, sem imagens corremos o risco de perder o caminho. Isso acontece, por exemplo, nas estradas. Placas retangulares, de tamanho uniforme e todas pintadas de verde, com números e letras, não são imagens, mas conceitos verbais engrandecidos. Não sabemos onde estamos, a não ser por um processo abstrato de tê-las e pensar, lembrar e traduzir. No pensamento de Hillman (1993), a alma precisa de imagens e, quando não as encontra, elabora substitutos, como os cartazes de rua e os grafites, por exemplo. Porém, um dos aspectos mais importantes que explicam esta ligação da alma com as cidades é a ideia tradicional de que alma tem a ver com memória emotiva. De acordo com o autor, experiências emocionais são coisas que importaram para todos nós em nossas próprias vidas, coisas importantes para a comunidade, nossa história. Temos memórias emotivas em nossas cidades através de parques históricos, estátuas de personalidades, memoriais de guerra, a tradição dos fundadores. As cidades antigas foram originalmente construídas sobre o túmulo ou a sepultura do fundador da família, do clã ou da cidade. A cidade, então, é uma história que se conta para nós à medida que caminhamos por ela. Segundo o escritor galês Raymond Williams (1989), em sua obra, O campo e a 2 O termo profundeza e, não, profundidade, é utilizado pelo autor, em seu livro.

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cidade3, a cidade – em oposição ao campo, do qual todos nós, direta ou indiretamente, extraímos nossa subsistência – ganhou uma espécie de notoriedade, como se fosse uma forma distinta de civilização. A tal ponto, prossegue Williams (1989, p. 11), que “a cidade tornou-se um lugar de ambição, enquanto ao campo coube uma posição de atraso, ignorância e limitação”. E, neste cenário, complementa o autor, criou-se uma mentalidade urbana, a partir da ideia de que existiria uma gente diferente, que Williams (1989) denominou de gente da cidade. Consequentemente, as memórias emotivas, definidas por Hillman (1993), que essa gente da cidade guarda na lembrança são as experiências vividas na própria cidade. São histórias, conforme o autor, que vão sendo contadas à medida que os indivíduos caminham pelas ruas e avenidas e vivenciam, no ambiente urbano, coisas importantes em suas vidas. Para esta gente da cidade, o campo, afirma Williams (1989), assume apenas a condição de um lugar distante, cuja imagem remete ao passado. Porém, mesmo para esta gente urbana, em grande parte, a relação que as pessoas constroem com as cidades começa ainda bem longe das calçadas, dos parques e das ruas. Com base nos estudos do autor brasileiro, Fauze Najib Mattar – que, em seu livro, Pesquisa de Marketing (1993), defende o método de observação informal, sustentado pela ideia de que o ser humano tem a capacidade natural de observar os fatos ao seu redor – podemos aplicar esta técnica e afirmar que a presença das cidades na alma das pessoas é, também, fruto de uma série de fatores, que acabam influenciando cada indivíduo, em maior ou em menor grau. De acordo com o método, percebemos que um destes primeiros fatores de influência começa a aparecer logo nos primeiros anos de vida, quando as crianças aprendem a desenhar. Inicialmente, desenham a si próprias. Depois aprendem a desenhar a família. Mais tarde a casa, a rua onde moram e, por fim, tudo aquilo que compõe o cenário urbano, como a praça, a escola, a igreja etc. Ainda na infância, pode-se observar que boa parte dos livros voltados para as crianças contam histórias que se passam nas cidades. Na verdade, isso acontece não apenas na literatura infantil. As cidades são o cenário de quase todos os livros. É nelas que ocorre a maioria das histórias. Seja porque os personagens vivem situações que se passam na sua própria cidade ou quando estes mesmos personagens vivem o drama de ter que se afastar de suas cidades e morar longe delas, em lugares muito diferentes daqueles em que se criaram e se acostumaram a viver. Voltando à fase infantil, ainda com base no método de observação informal, definido por Mattar (1993), podemos encontrar, neste período, diversos jogos de montar para as crianças, com pequenos blocos que simbolizam prédios ou, em alguns casos, que representam parte deles, para que estas crianças possam exercitar sua imaginação e, assim, construir as suas próprias cidades. Já na adolescência, há uma série de outros jogos, cujo cenário principal também são as cidades e, nelas, se passa todo o contexto da brincadeira. Entre os jogos mais conhecidos, desse tipo, estão Banco Imobiliário e Jogo da Vida, por exemplo, em que as pessoas podem comprar 3 No livro, Raymond Williams aborda o crescimento da cidade de Londres e como esta foi se afastando do campo, por isso é que ele estabelece esta relação entre campo e cidade.

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ruas e avenidas ou decidir que tipo de vida gostariam de ter nestas cidades. De um tempo para cá, os jogos de tabuleiros ganharam a companhia dos jogos virtuais, disponibilizados tanto através dos aparelhos de videogame, como por meio dos computadores. E, também nestes ambientes virtuais, há uma grande variedade de jogos que se passam nas cidades. Há, até mesmo, diversas opções em que as pessoas têm a possibilidade de construir e gerenciar as suas próprias cidades. Em alguns casos, o jogador pode, inclusive, escolher a geografia em que ela será criada, além de decidir as ruas e seus traçados, que tipo de prédios quer construir4 ou quais serviços gostaria de oferecer em sua cidade. Com base tanto nesta metodologia mais empírica proposta por Mattar (1993), assim como nos fundamentos teóricos apresentados por Hillman (1993) e por Williams (1989), podemos perceber, portanto, que os indivíduos crescem, quase que o tempo todo, desenvolvendo em sua mente a ideia de cidade. Sendo assim, nada mais natural que seja nas cidades que as pessoas construam suas relações, construam seus laços sociais, sua trajetória profissional e decidam sobre os problemas e os rumos da comunidade. De certa forma, é como se tomássemos a liberdade de complementar o pensamento de James Hillman (1993) e dizer que não apenas a cidade está na alma das pessoas, mas, também, que as pessoas colocam a sua alma nas cidades. E, com isso, as constroem ou a imaginam sob seu ponto de vista particular. Desta maneira, a cidade passa a ser a cidade de cada indivíduo, ainda que muitos vivam nela. Cria-se, assim, segundo Girardi e Quadros (1975, p. 53), uma dimensão de pluralidade, pois o ser humano torna-se “um ser-com-os-outros e para-os-outros. Vive sua vida em comvivência”.

2. A cidade que também é do outro indivíduo A convivência, entretanto, acentua as diferenças e limita a liberdade de cada um. Para Aristóteles (1990), o homem, diferente dos outros animais, não pode viver senão em sociedade; é importante que os seres sejam unidos, assim como ocorre com o homem e a mulher, que não podem existir um sem o outro, devido à reprodução. Tal convivência, porém, cria a necessidade de algum tipo de organização do homem com o homem e do homem com o seu meio, que evite a anarquia e as injustiças. Afinal, como afirmou Hume (1973), muitos séculos depois de Aristóteles5, realmente o homem é um ser social, mas que nem sempre frui de companhia agradável e divertida. Como, com o passar do tempo, os agrupamentos humanos foram se tornando cada vez mais numerosos, as chances de usufruir de companhias agradáveis e divertidas foram diminuindo cada vez mais. Consequentemente, foram diminuindo, também, as possibilidades de encontrar ambientes sociais harmônicos. Na verdade, era até natural que essa quantidade maior de pessoas acabasse desequilibrando a harmonia, afinal de contas, como afirma Durkheim (1995), as sociedades sempre foram bem mais do que a simples soma de seus indivíduos constituintes. 4 Nestes jogos virtuais, as pessoas podem escolher se querem construir casas, edifícios ou prédios comerciais. 5 David Hume, considerado o “pai” do empirismo, viveu entre os anos de 1711 e 1776.

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Com o objetivo de administrar a vida coletiva, o ser humano precisou pensar melhor no seu meio e, principalmente, em instrumentos que fossem capazes de regular a convivência social e, assim, assegurar a solidez das estruturas sociais6. Um destes instrumentos foi a política. O termo, definido por Aristóteles (1990), era derivado do adjetivo de polis (politikós), segundo Bobbio (2000); ou seja, tudo aquilo que fosse relativo à cidade e ao cidadão. Tanto a origem do termo, como essa relação com a cidade e o cidadão tinham uma explicação. Em toda a sua produção, Aristóteles (1990) sempre se mostrou preocupado com o bem e, mesmo considerando a cidade como algo complexo, composto de elementos ou de partes, o autor deu grande destaque ao cidadão e a quem poderia usufruir desta condição de cidadão, uma vez que, acima de tudo, o bem, na política, era a justiça7. Aristóteles (1990) sempre defendeu a ideia de que o Estado deveria zelar pelo ideal de vida humana perfeita. E, para que isso fosse possível, o autor entendia que o Governo poderia ser dividido de três formas: através da Monarquia, em que apenas uma pessoa, de forma hereditária, preservaria o bem comum, com base nas leis e nas tradições; por meio da Aristocracia, quando o Estado fosse governado por um grupo de pessoas; e a Politeia, uma espécie de governo do povo, em que a maioria exerceria o respeito às leis e beneficiaria a todos os cidadãos. Para o autor, estas três formas eram consideradas puras, perfeitas ou normais, porque tinham como objetivo o bem da coletividade. Delas, entretanto, poderiam ser geradas distorções, desvios ou corrupções, não mais atendendo aos anseios de todos. Estas três formas, de acordo com Aristóteles (1990), seriam: a Tirania, uma forma distorcida de Monarquia, em que uma pessoa ascende ao poder por meios ilegais; a Oligarquia, governo de um grupo economicamente poderoso; e a Democracia, quando a maioria exerce o poder, mas favorecendo principalmente os pobres. É importante realçar aqui a ambiguidade do termo dêmos, que, segundo Finley (1985), de um lado significava o corpo de cidadãos como um todo; mas, por outro lado, significava o povo comum, os muitos, os pobres. Por isso, então, a definição aristotélica. Como uma forma de evitar qualquer possibilidade de abuso do poder, Montesquieu (2000)8 concluiu que a administração do Estado deveria ser distribuída de maneira a proporcionar um equilíbrio entre diversos poderes parciais, através daquilo que o autor definiu como uma tripartidação dos poderes. Ou seja, divididos em Legislativo, Executivo e Judiciário. Nascia, então, um pensamento que estava totalmente alinhado à ideia de Aristóteles (1990) e sua preocupação de que tudo que se relacionasse à 6 Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau foram os primeiros autores a formularem definições sobre o contrato social que deveria ser estabelecido entre os indivíduos, para evitar conflitos e regular os comportamentos. E, desta maneira, garantir a solidez das estruturas sociais. 7 Aqui entendida no sentido de justiça social. 8 Segundo Bobbio (2000), logo após a queda do Império Romano, houve um intervalo em termos de discussão política. De acordo com o autor, a Política, de Aristóteles, não era conhecida pelos escritores cristãos dos primeiros séculos. Para Sartori (1981, p. 167), “só com Althúsio, em 1603, surge um autor importante a empregar essa palavra num título: Política Metodice Digesta. Segue-lhe Spinoza, cujo Tractatus Politicus foi publicado, postumamente, em 1677, quase sem deixar rastro. Por fim, Bossuet escreveu Politique Tirée de l´Escriture Saint, em 1670, mas o livro só foi publicado em 1709”. Montesquieu vem depois destes autores.

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cidade deveria proporcionar o bem. A divisão dos poderes seria, em síntese, uma forma de evitar o arbítrio e a violência e, desta maneira, gerar o tão pretendido bem. Porém, como afirma Krishna (2002), a mera existência de instituições democráticas criadas de cima para baixo não seria suficiente para que os cidadãos se envolvessem na política e, nem mesmo, soubessem o que estava sendo feito. Em função disso, segundo Baquero (2003), cada vez mais, como forma de incentivar a participação coletiva nas decisões públicas, são adotados modelos de gestão participativa, juntamente com o conceito de accountability9, termo de origem inglesa que, na língua portuguesa, vem sendo utilizado como responsabilização ou fiscalização. Tais iniciativas, de acordo com o autor – que estuda a desconfiança dos indivíduos em relação às instituições democráticas – têm o poder de diminuir este sentimento. Na prática, conforme Schedler (1999), accountability significa que quem governa deve explicar o que está fazendo, como está fazendo, porque está fazendo, quanto está gastando e quais os objetivos e resultados pretendidos.

3. A cidade construída pela mídia Nos dias de hoje, esta função de esclarecer os cidadãos e zelar pelo bem, como era a preocupação de Aristóteles (1990), tem sido, em grande parte, desempenhada pela mídia. Entretanto, como afirma a escritora argentina Rosalba Campra, as cidades também são construídas na imaginação das pessoas, de acordo com a maneira com que os meios de comunicação – especialmente a imprensa, o rádio e o jornal – constroem os espaços físicos e sociais das áreas urbanas, assim como sua ordem e sua desordem cotidiana. Segundo Campra (1994 apud CANCLINI, 2002), uma consequência desta interferência dos meios de comunicação sobre as cidades, é que os meios redefinem os limites urbanos, aumentando-os ou diminuindo-os; distinguem, claramente, o interior e o exterior da cidade imaginada; e deixam claro o que está dentro e o que está fora dela. Uma ideia bastante próxima do pensamento de Raymond Williams (1989), que afirma que a cidade ganhou uma forma distinta de civilização. Na opinião de Canclini (2002), o jornal foi o primeiro recurso tecnológico que os cidadãos tiveram para se informar sobre a cidade. A imprensa, como complementa o autor, contribui para mostrar a imagem de uma cidade massiva e complexa; por isso, com maior frequência, mostra cenários facilmente identificáveis. De maneira esporádica e com ares de reportagem especial, às vezes, até mostra lugares pouco conhecidos da grande maioria, como se fosse um lugar jamais imaginado que existisse. Este papel de pensar a cidade é, facilmente, percebido nos jornais, através de cadernos especiais, colunas específicas, editorias da cidade e das seções de cartas. Outro veículo, o rádio, de forma mais instantânea que a imprensa, também se torna importante neste processo de cidade imaginada porque, ao dar voz aos cidadãos, possibilita expressar os sentimentos da vida urbana. A razão para esta afirmação, conforme Canclini (2002, p. 46), é que “centenas de ligações buscam diariamente amplificar reclamações, pedir a solidariedade dos próprios locutores ou, ainda, de 9 Accountability é um termo utilizado nas Ciências Sociais, sem uma tradução exata para a língua portuguesa.

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outros ouvintes”. O rádio cumpre, assim, na opinião do autor, um papel de informar sobre a ordem das cidades, falando do tempo, do trânsito, de manifestações de rua, além de alertar as próprias administrações públicas sobre instituições que não estão funcionando como deveriam, funcionários que não atendem direito ou outros problemas existentes na prestação dos serviços. Da mesma maneira que o rádio, a televisão desenvolve estas funções. A vantagem da TV, em relação ao rádio, é que ela tira proveito das imagens, como ressalta Canclini (2002), que – através do auxílio de helicópteros – percorre o espaço urbano, coloca câmeras no “lugar dos fatos”, entrevista pessoas que viveram determinadas situações. O grande problema das cidades intermediadas pela comunicação de massa, segundo o autor, é que, ao invés de oferecer informações que orientem os indivíduos na crescente complexidade de interações urbanas, os meios de comunicação ajudariam a imaginar uma cidade diferente. Ou seja, os indivíduos poderiam ter uma visão distorcida do próprio ambiente em que vivem. Uma possível consequência direta disso seria uma perda da dimensão exata do contrato social, uma vez que a mídia tem o poder de criar cidades e comunidades virtuais no imaginário das pessoas. O efeito desta nova construção faria com que as comunidades organizadas pela mídia substituíssem, então, os encontros nas praças, os salões de baile e os estádios pelos não-lugares das redes audiovisuais (CANCLINI, 2002). As comunidades criadas pelos meios de comunicação, segundo o autor, poderiam pressupor um contrato social também imaginário, principalmente pelo fato de que não haveria apenas cidadãos imaginados pelos meios, mas cidadãos imaginados pelos próprios cidadãos. Essa nova forma de pensar as relações entre os cidadãos, as cidades, o poder e a mídia, na verdade, decorre do fato de que a comunicação de massa introduziu uma nova área interdisciplinar, que seria uma fusão de conhecimentos advindos da Ciência Política, da Sociologia e da própria Comunicação – ferramenta essencial para a construção política da polis. Para Wolton (1998), entretanto, a novidade mesmo neste pensamento seriam os meios de comunicação de massa, pois a política seria inseparável da comunicação na história da democracia, uma vez que toda política é um objeto constante de debates e de comunicação entre os participantes. O interesse maior pela aproximação entre a política e a comunicação vem ocorrendo, em especial, a partir do desenvolvimento dos meios de comunicação de massa, ainda no século XIX. E, de forma mais atenta e preocupada, com base nos efeitos de persuasão verificados em função destes meios. Na opinião de Moragas (1985, p. 10), “uma primeira série de estudos sobre comunicação e política se refere às práticas de dois movimentos: o nazismo e o leninismo”. Em torno destes movimentos e de sua grande transcendência, complementa o autor, gerou-se uma grande reflexão teórica que, junto com a História, intervieram outras disciplinas, como a Psicologia e, em especial, a Psicologia das Massas. Mais tarde, na década de 1970, esse estudo voltou a ser aprofundado, por causa da crescente utilização das técnicas de comunicação nos períodos de campanhas eleitorais. Por causa disso, de acordo com Gingras (1998), a relação entre a política e a comunicação ganhou uma nova dimensão, em função do impacto causado pelas COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 085-094| 2º Semestre 2013 | 91


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técnicas persuasivas, que modificaram, consideravelmente, as práticas políticas. Como afirma a autora, esse aspecto determinou, inclusive, uma visão distorcida do conceito de comunicação política, comparando-o a um conjunto de receitas, que traria maior ou menor êxito àquele que pretendesse passar no teste midiático. O que é certo, porém, é que a comunicação política é o instrumento que liga a ação e o pensamento dos políticos com a sociedade civil. Segundo Wolton (1999, p. 177), “a política é inseparável da comunicação, sobretudo em democracia, onde os políticos devem explicar suas propostas para ganhar as eleições ou assegurar a reeleição”. Na verdade, este é um caminho de duplo sentido: enquanto as instâncias políticas informam o seu trabalho, também a sociedade informa as suas opiniões e necessidades. Em especial, a partir da acumulação da idéia de cidade imaginada. Ainda assim, conforme acrescenta Lemieux (1998), não é uma tarefa tão fácil assim, esta aproximação entre comunicação e política; pois, na visão do autor, tanto os modelos teóricos que sustentam a esfera política, como os que sustentam a esfera da comunicação, não coincidem.

4. Considerações finais Para que a polis não se sinta ameaçada e nem corra nenhum risco, em termos da compreensão do seu papel e do papel de seus atores sociais, Ochoa (1999, p. 4) afirma que “a comunicação política desempenha um papel fundamental no funcionamento dos sistemas políticos”. Incluem-se nestes assuntos de comunicação política, complementa o autor, todos aqueles aspectos da comunicação, cujo propósito seja fixar regras, normas, princípios, ordens e que sirva para legitimar as relações entre os participantes daquela mesma comunicação. Para tanto, Ochoa (1999) classificou uma série de gêneros e formatos que podem se transformar em canais de comunicação política para a população: as petições, documentos e certidões solicitadas pelos indivíduos; os serviços de reclamações, através dos quais os cidadãos podem recorrer para demonstrar seu descontentamento ou insatisfação com determinada situação ou serviço público; os boletins de imprensa, emitidos pelo poder público sobre suas atividades; as charges políticas; as histórias políticas em quadrinhos; os boatos; o humor político; o teatro político; os editoriais; as colunas diárias dos veículos sobre política; as entrevistas políticas; as cartas à redação ou correio de voz nas emissoras; as declarações e discursos; os debates; os materiais promocionais; os cartazes de rua; a publicidade externa; os spots de rádio; os spots de televisão; os sites e páginas pessoais na internet; os panfletos; os monumentos; as canções; os anuários estatísticos, sociais ou políticos. Através de cada um destes gêneros e formatos, os indivíduos estão expostos às informações, acontecimentos e fatos sobre a política e os políticos, independente de seu maior ou menor interesse pelo tema. E, como consequência disso, vão formando suas opiniões, sejam elas com alguma base concreta ou distorcidas. Entretanto, Fagen (1971) afirma que, apesar de sua importância na consolidação das sociedades, a informação política chega ao cidadão em meio a notícias de crimes, esportes e uma porção bastante grande de entretenimento. Sendo assim, os 92 | COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 085-094| 2° Semestre 2013


SÉRGIO ROBERTO TREIN

indivíduos acabam tendo um contato muito rápido com o mundo político, o que incide, consequentemente, na qualidade das mensagens a serem absorvidas pelas pessoas. Para Izurieta (2003), esse é um fator muito importante a ser considerado pelos governantes e pela própria polis, pois se um governo ou os administradores da polis não dizem nada ou dizem muito pouco, passam a impressão de que também não fazem nada ou, ainda, põem em risco a função e a importância social e política da polis. É preciso, portanto, levar em consideração o pensamento de Canclini (2002), sobre a forma de como se constrói o imaginário das pessoas em relação a suas cidades, para saber se os meios e as mensagens utilizadas são suficientemente capazes de sustentar essa mediação entre os indivíduos e os governos. Este é o principal desafio de qualquer administração pública e de qualquer governante, saber que a política é inseparável da comunicação. Porém, não basta apenas comunicar, no sentido de informar. É necessário convencer, persuadir, assumir que a comunicação política cumpre, também, uma função propagandística de vital importância.

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A VOZ EMBUTIDA COMO PRODUÇÃO DE SENTIDO: UM ESTUDO DE ÔNIBUS 174 Sandra Nodari1

Universidade Positivo

RESUMO: Este artigo pretende analisar a produção de sentido no documentário por meio das vozes que compõem a narrativa de Ônibus 174 (José Padilha 2002). Discutimos a questão de que mesmo sem utilizar a narração, o documentarista pode implicitar seu ponto de vista no filme por meio da montagem. A voz subjetiva do realizador torna-se objetiva nas falas de personagens que analisam, descrevem, discorrem e julgam a história. Embora não use a locução, este filme contemporâneo utiliza-se da estrutura clássica de três atos em sua construção. O argumento defendido por ele não aparece na narrativa como “voz de Deus”, mas é diluído na estruturação dos elementos que compõem cada cena. Palavras-chave: Televisão; Documentário; Voz fora de campo;

ABSTRACT: This article aims to analyze the production of meaning through the voices that make up the narrative in the documentary Ônibus 174 (José Padilha 2002). Discusses the fact that even without using narration, the documentarist can implicitly states his point of view in the film through the editing. Director´s subjective voice becomes objective within characters´ speech which analyzes, describes, discourses, and judges the story. Although it does not use the speech, this contemporary film uses the classical three-act structure in its construction. Advocated argument does not appear in the narrative as the “voice of God”, but it is melted in each scene´s structuring elements. Key-words: Television; Documentary; Voice-over;

1 Sandra Nodari é jornalista, mestre em Comunicação e Linguagens e professora TI da Universidade Positivo, onde coordena a especialização em Produção Audiovisual em Multiplataformas. Contato: sandranodari@gmail. com.


A VOZ EMBUTIDA COMO PRODUÇÃO DE SENTIDO: UM ESTUDO DE ÔNIBUS 174

Corpo do texto: Ao analisarmos o documentário Ônibus 174 podemos perceber a intenção explícita do filme de parecer-ser uma janela transparente para o mundo, de apresentar a verdade do episódio (sequestro) e do personagem (Sandro, o sequestrador) numa busca pela verossimilhança. Embora não possua um locutor que nos mostre seu ponto de vista por meio da fala, o argumento e a voz do documentário são apresentados por meio da montagem, da música, dos efeitos sonoros e das falas dos personagens. No gênero documentário, a voz de um locutor oficial tende a ser compreendida como uma voz autoritária, onisciente e que determina o que deve ser entendido pelo público (STAM, 2000: 63). No entanto, a montagem do filme tende a interferir no conteúdo objetivo de uma história tanto quanto a narração, a diferença é que a locução apresenta claramente um ponto de vista, enquanto a montagem tende a ocultá-lo. O fato de não haver um narrador oficial para nos contar a história não impede que o ponto de vista do filme seja visível na escolha dos personagens e na edição. Não dispor da locução, no Ônibus 174 pode ter sido uma opção estética usada para desviar a atenção do espectador e deixar o ponto de vista do realizador dissolvido na narrativa. Se é certo que a voz do locutor pode contaminar a forma como o espectador vê a imagem, uma vez que ele a traduz - de forma explícita - é certo também que todos a ouvimos e sabemos que tal voz nos diz algo. Entretanto, quando essa voz está embutida não sabemos exatamente o que é dito pelo filme e o que é dito pelo personagem. Para Bill Nichols (2001: 46-48), alguns documentários fogem ao que ele chama de franqueza para com o público quando sugerem e dão a entender algo diferente daquilo que declaram ou explanam sobre o assunto por meio da locução. O argumento e a voz do filme, segundo ele, tendem a mentir quando estão embutidos nos meios de representação disponíveis para o realizador fora da forma de comentário explícito. No Ônibus 174 a locução que tende a funcionar como uma interpretação e apresenta-se embutida principalmente na voz de dois personagens: a assistente social (Ivone Bezerra) e o sociólogo (Luis Eduardo), suas falas conferem o juízo de valor ao filme, por isso, tornam-se hierarquicamente (STAM, 2003) mais importantes que as outras. Para Bill Nichols (2001: 46-48), o documentarista pode tornar mais ou menos explícito o argumento ou o ponto de vista carregado pelo documentário se não se utilizar apenas de palavras, mas dos meios disponíveis pelo cinema (montagem, voz, movimentos de câmera, cor, som, efeitos visuais e sonoros, entre outros). A forma mais explícita é a voz por meio da fala ou da palavra escrita (subtítulos), tipicamente chamada de “voz de Deus” ou “voz de autoridade”. Para o teórico, alguns documentários fogem ao que ele chama de franqueza para com o público quando sugerem e dão a entender algo mais do que aquilo que declaram ou explanam sobre o assunto por meio da voz fora de campo. O argumento e a voz do filme, segundo ele, tendem a “mentir” ao estar embutidos nos meios de representação disponíveis para o realizador fora da forma de comentário explícito. Nichols entende ser mais ético apresentar explicitamente o ponto de vista por meio da locução que 96 | COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 095-104| 2° Semestre 2013


SANDRA NODARI

deixá-lo dissolvido na edição e na montagem do documentário. De outra forma, nós temos que deduzir qual é de fato o ponto de vista do realizador. “O efeito é menos ‘Veja deste modo’ que ‘Veja por você mesmo’ ”2 (pág. 48). No documentário Ônibus 1743 (José Padilha, 2002) é possível perceber a intenção do argumento de parecer-ser uma janela transparente para o mundo, de apresentar a verdade daquele episódio (sequestro) e daquele personagem (Sandro, o sequestrador) numa busca pela verossimilhança. Embora o filme não possua um locutor que nos mostre seu ponto de vista por meio da sua fala, o argumento e a voz do documentário são apresentados por meio da montagem, da música dramática (que acompanha quase toda a narrativa) e das falas dos personagens. Nesse trabalho vamos analisar essas vozes como produção de sentido no documentário. O longa-metragem, que se utiliza de imagens produzidas por emissoras de televisão brasileiras como a Rede Globo, a Rede Record e a TV Bandeirantes, tenta propor um tom realista para um fato histórico, tal qual uma reportagem que tenta provar ser imparcial. O filme, entretanto, tenta deixar evidente a intenção de contar o episódio de forma diferente daquela contada pela televisão (que mostrou Sandro como bandido). O longa tenta apontar uma outra face do sequestrador, a de vítima da sociedade. Para provar este ponto de vista, utiliza-se principalmente da justaposição de várias entrevistas. A voz de um locutor oficial tende a ser analisada no gênero documentário como a voz autoritária, onisciente (STAM, 2000: 63), que determina o que deve ser entendido pelo público. José Padilha afirma que “De fato, a narração pode interferir no conteúdo objetivo de um filme, e quem opta por utilizá-la (e se importa com a noção de verdade) tem que checar se o que ela diz de objetivo corresponde aos fatos” (2003: 63). No entanto, a montagem tende a interferir no conteúdo objetivo de uma história tanto quanto a narração. A diferença é que a narração claramente apresenta uma visão, enquanto a montagem tende a deixá-la oculta. No documentário clássico, a voz fora de campo tinha o intuito de expor uma situação, de ensinar algo, de propor uma visão única sobre um momento histórico. Quando os realizadores do cinema direto resolveram romper com a estética clássica e banir a voz fora de campo de seus filmes, usaram como argumento a não intervenção do cineasta sobre a “realidade” registrada pelo filme. Para o cinema direto, não usar um locutor oficial tende a propor ao público uma visão mais democrática sobre o conteúdo abordado pelo documentário. No entanto, os argumentos dos realizadores do direto foram rebatidos veementemente quando foram questionados sobre a intervenção do cineasta na montagem do filme, já que toda a autoridade e a onisciência da voz fora de campo podem ser embutidas nas diversas outras vozes presentes no filme no momento da edição. O fato de não haver um narrador oficial para nos contar a história no Ônibus 174 não impede que o ponto de vista do filme seja visível na montagem (áudio e vídeo) e na 2 “The effect is less ‘See in this way’ than ‘See for yourself’ ” 3 Há pelo menos 3 versões do filme: a primeira foi lançada em 2002 nos cinemas brasileiros sem legenda; a segunda foi lançada no exterior e tem legendas em inglês e a terceira é a versão em DVD (lançado em 2005), tem legenda apenas nas telas iniciais. Vamos utilizar o DVD para realizar este estudo.

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escolha dos personagens. Não usar um locutor oficial que nos fala diretamente, neste caso, pode ter sido uma opção estética usada para desviar a atenção do espectador e deixar o ponto de vista do realizador dissolvido na edição e na montagem do documentário. A voz do filme tenta nos apontar provas que garantam a veracidade do que está sendo dito. Padilha afirma que a opção por não usar a voz fora de campo tem o sentido de conferir mais realidade ao filme, “Um documentarista não precisa se incluir no filme, não precisa abdicar da música e dos efeitos sonoros, pode montar com flash-backs, usar narração, etc, e mesmo assim criar uma representação verdadeira da realidade” (idem, 64). Evaldo Mocarzel também entende que “O documentário é um espaço de resistência contra a tirania dos textos em off das lacrimogêneas reportagens televisivas, quase sempre reiterando de maneira óbvia o conteúdo de suas imagens” (2003: 74). Embora esses dois realizadores entendam a locução como uma voz de autoridade, podemos perceber que só o fato dela estar ausente não retira a tirania de um ponto de vista, só o torna camuflado. Se é certo que a voz do locutor pode contaminar a forma como o espectador vê a imagem, uma vez que ele a traduz - de forma explícita - é certo também que todos a ouvimos e sabemos que tal voz nos diz algo. Entretanto, quando essa voz está embutida não sabemos exatamente o que é dito pelo filme e o que é dito pelo personagem. Como propõe Nichols, esta seria a opção menos ética, principalmente quando se busca a representação da verdade, situação expressa Padilha. No Ônibus 174, a locução que funcionaria como uma interpretação dos fatos apresenta-se embutida principalmente na voz dos tradutores. Especificamente dois personagens: a assistente social (Ivone Bezerra) e o sociólogo (Luis Eduardo) não estavam presentes durante o sequestro e são talhados a propor uma análise especializada. As falas deles conferem o juízo de valor ao filme, por isso, tornam-se hierarquicamente (BERNARDET, 2003: 52) mais importantes que as outras. Ivone mantinha um relacionamento profissional antigo com Sandro e diz que foi procurada por ele dias antes do episódio. A assistente social explica como foi a conversa com Sandro: Mas eu tive contato com ele dois meses antes do episódio do ônibus, quando ele veio me pedir um emprego. Ele disse para mim: ‘Olha, tia Ivone, eu tô cansado dessa vida, não agüento mais. Eu queria trabalhar, mas quem vai me dar emprego? A senhora olha pra mim e vê se alguém vai me dar um emprego. Eu não sei ler, não sei escrever, eu não tenho carteira de trabalho. Eu vou fazer o quê da minha vida, a não ser isso que eu faço? Quem é que vai me dar uma chance?’ Ninguém. Ninguém nunca deu. (trecho do filme)

A inclusão desta fala no filme parece ter a intenção de provar que Sandro não queria assaltar, seqüestrar ou matar ninguém. Falar sobre a intenção do sequestrador de mudar de vida pode soar como verdade, como se ele estivesse prestes a tomar um novo rumo. Especialmente, a última frase merece ser destacada pelo seu sentido ambíguo: “Ninguém. Ninguém nunca deu” A quem pertence essa fala? Pode ser atribuída tanto a Sandro como à assistente social. Se a fala for uma resposta de Ivone 98 | COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 095-104| 2° Semestre 2013


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à pergunta de Sandro “Quem é que vai me dar uma chance?” tende a soar como uma confirmação de que a sociedade é injusta e nunca dá chance a pessoas como Sandro. Se apenas a fala “Ninguém nunca deu” for atribuída a ela, pode funcionar como uma confirmação da fala de Sandro. Sandro teria dito que ninguém nunca lhe deu uma chance, Ivone estaria concordando com ele e confirmando seu pensamento para nós. De qualquer forma o significado parede ser de reiterar o fato de que ninguém dá chance aos excluídos. A voz do sociólogo, que não conhecia Sandro, nem presenciou o sequestro, soa como a voz maior de autoridade. Ele é o especialista que sabe muito sobre o assunto e que é consultado para explicá-lo de forma simples e clara, em tom pedagógico, como um professor durante uma aula. Por isso, a interpretação feita por Luiz Eduardo pode ser comparada à fala do locutor oficial. Ele opina, mas sua opinião, por ser a de uma autoridade, soa como verdade e não como mera contribuição. Nós não tínhamos resolvido a tragédia da Candelária e já estávamos vivendo outra tragédia, que era em certo sentido uma extensão daquela primeira. Sandro, que é vítima da Candelária, agora se converte em algoz do novo drama. Quase que nos acordando para o fato de que nós precisamos resolver essa questão, que é maior. Maior que a Candelária, maior que Vigário Geral, que as nossas tragédias cotidianas. (trecho do filme)

O papel do sociólogo pode ser encarado como o da “Voz de Deus”, só que escondida pela montagem. Todavia, as vozes dos personagens não parecem estar tão camufladas como outros recursos dentro o filme: os efeitos sonoros e a música presentes nas cenas. Em algumas cenas, a trilha sonora do filme assinada por João Nabuco e Sacha Amback, lembra as músicas que compõem os thrillers de suspense ou de aventura. A música está presente em toda a narrativa e já é apresentada na primeira cena do filme: um plano-sequência4 aéreo, em alta velocidade, num enquadramento de cima para baixo, que sai de alto mar e segue até o continente. A música que acompanha essa cena é instrumental, lenta, pesada e remete ao sentimento de opressão, tristeza, dor, incômodo, melancolia. A música é sobreposta aos primeiros depoimentos que estão em voz fora de campo e tratam de como é viver na rua, como no trecho a seguir: Eu posso contar da minha vontade, da minha felicidade, legal? Minha felicidade? Acho que não tem mais jeito de eu ser feliz, não. Não tenho mais pai, não tenho mãe, não tenho porra (sic) nenhuma. Só tenho meus filhos. Não tem mais jeito de eu ser feliz, não. (trecho do filme: a fala de uma garota de rua, chamada Luciana)

Quando as primeiras vozes se calam, a música fica um pouco mais alta e, logo, é substituída pelo som de sirenes e de falas inaudíveis de rádios de comunicação (como os da polícia). Em seguida, é iniciado o depoimento do Capitão Batista, um 4 Cena filmada sem nenhum corte.

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policial que conta como foi a negociação com o sequestrador. À imagem do policial, em estúdio, nenhum som ambiente é sobreposto (essa opção vai ser usada em quase todos os outros depoimentos de estúdio). A música volta a compor o áudio na maioria das cenas em que estão em quadro meninos de rua, favela, polícia, presos e nos depoimentos finais. O documentário usa ruídos descritivos que servem para dar um maior realismo às cenas. Antes da imagem do ônibus ser mostrada pela primeira vez, um recurso de áudio como um “boom” inicia a cena. Sons de estúdio como este, estão presentes durante todo o filme e tendem a anteceder algo importante que será mostrado. Servem para preparar o espírito do público para uma imagem chocante, para envolver o público e compor o drama. Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari lembram que uma narrativa5 possui dois tempos: do texto e da história. O filme trabalha com o tempo cronológico do sequestro e o tempo da história. O tempo do texto “pressupõe uma sucessão de fatos, um desenrolar de ações dos personagens, enquanto situados em determinado momento: manhã, tarde ou noite; verão ou inverno; passado, presente ou futuro” (1986: 95). O texto do Ônibus 174 é montado em cenas do sequestro mescladas com depoimentos de menores ou ex-menores de rua, policiais que participaram do desenrolar do sequestro, repórteres e cinegrafistas que cobriram o episódio, reféns, familiares de Sandro, a assistente social e o sociólogo que interpretam os dados. Além dos depoimentos há cenas de arquivo, como de um vídeo que mostra as crianças de rua na Candelária pouco tempo antes da chacina, e fotos. Já o tempo da história que “diz respeito às referências temporais que estão presentes no texto” (idem) é construído a cada cena que exibe o ônibus e as reféns. No documentário, o sequestro segue uma ordem cronológica, com a referência ao horário em que as cenas aconteceram. Nos primeiros cinco minutos do longa-metragem é inserida uma cena que foi captada pelas câmeras da Companhia de Engenharia de Tráfego, a CET-Rio e mostra o horário e a data no vídeo: 15h18min, 12-06-00. Aos 25 minutos de filme, novamente outra cena da CET-Rio: 15h53min. Aos 52 minutos do documentário a referência ao horário volta a fazer parte da cena: 17h49min. O sequestro é iniciado no filme, seguindo os registros da polícia e da imprensa. Sandro toma o ônibus no início da tarde (perto das 15h), as negociações com a polícia acontecem durante as próximas horas (15h53 e 17h49), as imagens mostram o anoitecer com o clímax da saída de Sandro do ônibus e da morte da refém. Para Nichols (1991), os documentários são um tipo de ficção com tramas, personagens, situações e eventos como qualquer outro filme. Eles oferecem carências, desafios ou dilemas na introdução, em seguida constroem tensões cada vez maiores e conflitos dramaticamente em ascensão e acabam por mostrar a solução6. Podemos comparar a estrutura do documentário contemporâneo com a do cinema em geral quando a narrativa está dividida em três atos: no primeiro o problema é exposto, no 5 Vamos tomar por narrativa a definição de Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari: “Narrativa, sabe-se é todo e qualquer discurso capaz de evocar um mundo concebido como real, material e espiritual, situado em um espaço determinado.” (1986: 11). 6 “They offer introductory lacks, challenges, or dilemmas; they build heightened tensions and dramatically rising conflicts, and they terminate with resolution and closure”(NICHOLS, 1991: 107)

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segundo acontece o conflito e no terceiro se dá a resolução. O Ônibus 174 pode ser dividido da seguinte maneira:

Primeiro Ato – O Sequestro Nesse primeiro ato os personagens principais, o espaço e o tempo são apresentados, bem como o conflito principal que vai servir para desenvolver a trama. A exposição do problema é feita já na primeira cena por um texto em legenda que informa: “Em 12 de junho de 2002, a polícia do Rio cercou um homem que tentava assaltar um ônibus. Ele fez 11 reféns e o Bope7 foi chamado. O incidente ficou conhecido como o caso do Ônibus 174.” (trecho do filme). Logo após esta tela, o problema do menor de rua é apresentado por meio de vozes, já citadas anteriormente, que contam como é viver na rua. Uma dessas vozes é a de um colega de Sandro que lembra de tê-lo conhecido ainda criança quando ambos eram meninos de rua. Essas vozes são acompanhadas da imagem aérea sobre a cidade do Rio. A última voz, primeira a se tornar personagem e ter rosto no filme, é do Capitão Batista. Ele diz que ouviu a informação do sequestro no rádio de uma viatura e que se colocou a disposição para ir até o local; foi o primeiro a chegar. A segunda entrevista é de um jornalista que foi deslocado para cobrir o episódio. Essas duas entrevistas são parcialmente cobertas com as cenas do ônibus cercado pela polícia, pela imprensa e por dezenas de curiosos.

Segundo Ato – Quem é Sandro Nesse ato os conflitos secundários, mas que vão levar ao principal, são apresentados. Os personagens enfrentam obstáculos em busca da solução. Inicia com o depoimento da assistente social, Ivone Bezerra, contando que Sandro fugiu de casa com apenas 6 anos quando a mãe foi assassinada. Em seguida, várias entrevistas servem para apresentar o sequestrador e o episódio. Há depoimentos de assaltantes e de policiais que o conheciam, das reféns, de uma tia, de garotos e ex-garotos de rua, colegas de capoeira, entre outros. Há, ainda, a fala da mulher que diz ter adotado Sandro como filho, com quem ele vivia nos últimos meses. O filme exibe, ainda, lugares por onde Sandro teria passado quando foi preso, como a instituição para menores infratores Padre Severino e uma delegacia de polícia no Rio. Uma voz fora de campo lê os boletins de ocorrência com as passagens dele pela polícia e os boletins de acompanhamento psicológico feitos pelas instituições. O filme relembra, também, a história da Chacina da Candelária, da qual Sandro foi sobrevivente, por meio de imagens de arquivo e depoimentos de meninos que viviam na rua naquela época. As entrevistas são intercaladas com cenas do sequestro que mostram as conversas de Sandro com os policiais, com as reféns, as ameaças, os pedidos, as ofertas e o papel da imprensa. 7 Bope: Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio de Janeiro, reúne policiais de elite.

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Terceiro Ato – O fim do sequestro e as duas mortes O último ato apresenta a solução do problema. A resolução do sequestro se dá quando Sandro sai do ônibus agarrado a uma das reféns, a professora Geísa. Deste ponto em diante os rostos dos entrevistados não aparecem mais, apenas suas vozes cobrem as imagens do fim do sequestro. Eles assumem o papel de narradores subjetivos que descrevem as cenas conforme seu ponto de vista. As falas são acompanhadas da trilha sonora que mantém o clima de tristeza e dor. Os policiais e as reféns analisam o fato de Sandro ter saído do ônibus, depois de quase cinco horas de angústia, e especulam se o rapaz teria a intenção de matar ou não. A cena em que o policial Marcelo tenta atirar em Sandro já fora do ônibus é mostrada de vários ângulos em slow-motion8. Nesse momento ouve-se a fala do Capitão Batista sobre o despreparo da polícia, a falta de equipamentos e de treinamento. Marcelo não acerta nenhum tiro em Sandro, mas uma bala atinge Geísa de raspão, ouve-se a voz indignada de uma das reféns: “Pô (sic), se eles tão ali foi porque eles estudaram para isso. Eles treinaram para isso. Tudo bem que todo mundo erra, mas errar com a vida de um ser humano, isso é grave. Muito grave.” (trecho do filme). A imagem do policial tentando acertar Sandro continua em slow-motion e as vozes explicam que do revólver de Sandro saem os tiros que matam a professora. Sandro é preso e levado pelos policiais para uma viatura numa ação rápida porque dezenas de pessoas que estão próximas ao local ameaçam linchá-lo. Sobre essas imagens ouve-se o som ambiente de pessoas gritando: “Filha da puta. Filha da puta.”. Às imagens de Sandro dentro do camburão são inseridos depoimentos que comentam o fato do sequestrador ter sido assassinado. Segundo o sociólogo: Foi a polícia que matou os colegas de Sandro na Candelária e a polícia completou o trabalho. É como se as duas pontas da história se fechassem. À polícia cabe o trabalho sujo que a sociedade em algum lugar obscuro de seu espírito deseja que se realize: que se anulem os Sandros, que os Sandros desapareçam das nossas vistas. Nós não queremos ver a realidade (...)” (trecho do filme).

A assistente social novamente pergunta e ela mesma responde sobre a inocência de Sandro: “Eles mataram porque estão acostumados a matar e sabem que não vai dar em nada, porque quem vai defender um Sandro? Quem vai defender um Sandro? Quem vai? Ninguém.” (trecho do filme). O filme faz vários julgamentos por meio das vozes dos especialistas convidados a depor. Embora não tenha usado a figura de um locutor oficial e do comentário explícito, o argumento do filme está embutido nessas vozes. As últimas cenas mostram os enterros de Geísa e de Sandro. O primeiro é um cemitério repleto de pessoas, coroas de flores e muita comoção. Já o caixão de Sandro é acompanhado só pelo coveiro, num andar rápido pelo cemitério. A próxima cena mostra a senhora que diz ser mãe adotiva do rapaz ao lado do caixão. Além dos dois, a imprensa vai ao enterro para registrar o último momento de Sandro. Os jornalistas tentam entrevistar a senhora, mas ela mantém-se sem falar. Editados um depois do outro, os dois enterros parecem mostrar que até na hora da morte Sandro foi 8 A duração da ação dentro do plano é alterada para uma velocidade menor que a gravada.

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incompreendido. Se tivesse sido ouvida sobre isso, a assistente social possivelmente diria: Ninguém o queria, nem morto. Uma última tela encerra a história informando que “Segundo um relatório oficial, Geísa levou 4 tiros, um no rosto, disparado pelo policial e 3 nas costas, disparados por Sandro. Os policiais que levaram Sandro para o camburão foram acusados de homicídio e absolvidos em júri popular”. E em tom de julgamento afirma: “Eles continuam na ativa no Rio.” (trecho do filme). O modo como um ponto de vista particular é representado no documentário é o que Nichols chama de perspectiva e poderia ser comparado ao estilo na ficção. O comentário em voz fora de campo “está sempre em um meta-nível sob a perspectiva e é a forma mais direta e evidente da argumentação”9 (1991: 118). O modo como os depoimentos estão incluídos no filme podem ser usados para distrair nossa atenção. Fazem-nos pensar que estamos recebendo informações, enquanto na verdade estamos sendo levados a acreditar na interpretação pronta que o filme nos dá. Os recursos da ficção neste documentário nos levam ao que Umberto Eco discute em seu livro “Seis Passeios pelo Bosque da Ficção” como Suspensão da Descrença (1994: 81) e nos fazem querer participar do jogo ficcional proposto pela narrativa. A montagem cria uma tensão que nos faz ter expectativas de saber como o problema será resolvido, criando um suspense. Parecemos esquecer que para esse episódio não há surpresa, já conhecemos o fim da história. Embora o filme não diga até o último ato, nós sabemos de antemão que Geísa e Sandro vão morrer, no entanto parecemos torcer para que o final não seja trágico, como se fosse possível a eles sobreviver.

9 “Commentary is always at a more ‘meta’ level than perspective. It is a more overt and direct form of argumentation”

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A VOZ EMBUTIDA COMO PRODUÇÃO DE SENTIDO: UM ESTUDO DE ÔNIBUS 174

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A UTILIZAÇÃO DAS IMAGENS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA MÍDIA Gabriela Feitosa Junqueira1 Jessica Katherine Leite2 Sandra Nodari Romano3

Universidade Positivo, Curitiba, PR

RESUMO O presente artigo tem como intuito abordar as questões legais e éticas referentes à veiculação da imagem de crianças e adolescentes em televisão, especificamente em relação àqueles que se encontram em situação de risco. A falta de trabalhos ou referências bibliográficas que discorram sobre o tema e que possam orientar os estudantes e profissionais de jornalismo, é um dos principais fatores que tornaram este assunto primordial para discussão. Percebe-se no meio acadêmico que os alunos muitas vezes não sabem o que realmente é permitido devido a esta falta de material. Realizou-se então uma pesquisa a fim de identificar artigos da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente que protejam a exposição inadequada desta parcela da população. O trabalho apresenta também de que forma as principais emissoras de televisão paranaenses exibem este tipo de imagem. PALAVRAS-CHAVE: Direito de Imagem; crianças e adolescentes; jornalismo; responsabilidade social; legislação.

ABSTRACT This article is intended to address legal and ethical issues related to the use of children and adolescents’ image in television, specifically in relation to those who find themselves at risk. The lack of articles or references that address this theme and can guide students and professional journalists is one of the main factors that make this a primordial subject for discussion. It’s notable in the academic world that students often don’t know what really is allowed due to this lack of material. A research was then carried out in order to identify articles from the Federal Constitution and the Statute of the Child and Adolescent that protect the inadequate exposure of this portion of the population. The article also presents how the major Paraná television networks show this type of image. KEYWORDS: Right Picture, children and adolescents; journalism; social responsibility; legislation. 1 Gabriela Feitosa Junqueira é jornalista, graduada em Jornalismo, pela Universidade Positivo. O artigo foi desenvolvido em conjunto com Jessica Katherine Leite, com o intuito de se aprofundar na temática do Trabalho de Conclusão de Curso “Tem um bichinho no meu sangue”. Contato: g.fjunqueira@gmail.com 2 Jessica Katherine Leite é jornalista, graduada em Jornalismo, pela Universidade Positivo. O artigo foi desenvolvido para aprofundamento do tema de seu Trabalho de Conclusão de Curso, “Tem um bichinho no meu sangue”, um documentário que aborda a adoção de crianças com o vírus HIV. Contato: jkl1608@hotmail.com 3 Sandra Nodari Romano é jornalista, mestre em Comunicação e Linguagens e professora TI da Universidade Positivo, onde coordena a especialização em Produção Audiovisual em Multiplataformas. Contato: sandranodari@gmail.com.


A UTILIZAÇÃO DAS IMAGENS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA MÍDIA

Introdução Este trabalho tem como objetivo discutir a veiculação da imagem de crianças e adolescentes em vídeo, especialmente daqueles que se encontram em situação de risco, uma vez que suas identidades são protegidas pelo Estado por meio da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente. O jornalista é responsável por transmitir todo e qualquer tipo informação relevante para a sociedade, porém, sempre visando a ética profissional e o cumprimento das leis que defendem os cidadãos menores de dezoito anos da exposição midiática, salvo em casos onde exista a autorização do estado ou de um responsável legal. O jornalismo trabalha com a vida da sociedade, mas não por isso deve desrespeitar o direito dos cidadãos de terem a sua identidade preservada. Ester Kosovski (1995), autora do livro “Ética na informação”, lida com este tema e afirma que um bom trabalho depende do senso ético do jornalista. “O âmbito jornalístico adquire contornos às vezes não claramente definidos, quando o direito de informar conflita com o direito à privacidade e cabe à sensibilidade e senso ético do jornalista não invadir a privacidade, que é um bem jurídico tutelado pela constituição e pelo código penal” (KOSOVSKI, 1995: 31). O jornalista se vê, muitas vezes, em uma encruzilhada, onde a necessidade de divulgação de uma determinada notícia conflita com questões morais e éticas. Para isto, o Código de Ética da profissão, publicado na Federação Nacional dos Jornalistas, possui três artigos que discorrem sobre o compromisso com a veracidade dos fatos. Art. 4º O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação. [...] Art. 6º É dever do jornalista: VIII - respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão; Art. 7º O jornalista não pode: VIII – assumir a responsabilidade por publicações, imagens e textos de cuja produção não tenha participado (FENAJ, 2011)

1.1 Legislação Brasileira em relação ao uso de imagem. É assegurado, na Constituição Brasileira de 1988, que todos os cidadãos têm acesso à informação e à liberdade de expressão. Somos livres em relação à manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. A mídia é um meio democrático e, pelo fato das notícias exporem as pessoas, aqueles que desejarem possuem direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem. A Constituição ainda afirma, em seu artigo 227 que: Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,

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ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocálos a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988)

O artigo 2º da lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990, inserida no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), considera criança a pessoa até doze anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Ainda, estes têm cinco direitos fundamentais, como descritos na Constituição, e que são divididos em capítulos no estatuto: Vida e à saúde; Liberdade, respeito e dignidade; Convivência familiar e comunitária; Educação, cultura, esporte e lazer; Profissionalização e proteção no trabalho. Dentro do contexto de proteção à criança e ao adolescente, bem como ao indivíduo como um todo, a Constituição Federal de 1988, o Código Civil e o ECA, estabelecem conceitos e normas para a utilização da imagem dos cidadãos. Segundo Pablo Stolze Gagliano, em seu livro “Novo curso de direito civil: Abrangendo o Código de 1916 e o novo Código Civil”, é de fundamental importância para a garantia da proteção à imagem estabelecer, para fins didáticos, os dois tipos de imagem concebidos de forma ampla no meio jurídico, são elas: Imagem retrato, que é literalmente o aspecto físico da pessoa; e Imagem atributo, que corresponde à forma como o individuo é visto socialmente, a exteriorização da personalidade (GAGLIANO, 2003: 183). Dentro do meio jurídico defende-se que estes dois tipos de imagem não podem se encontrar desvinculados. O artigo 20 do Código Civil Brasileiro apresenta a regulamentação a respeito da proteção da imagem do indivíduo: Art. 20. Salvo-se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, à transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais (BRASIL, 2002).

Assim a imagem traduz a essência da individualidade humana e, caso haja violação, a consequência será uma resposta judicial. Entenda-se por violação não somente a utilização indevida, mas também a não autorizada ou o desvio de sua finalidade. O infrator será passível de responsabilidade civil e criminal, conforme determinam as leis brasileiras. Segundo o Código Civil, a utilização correta da imagem exige a autorização expressa do titular. Deve haver então a elaboração de um contrato de cessão de imagem, não podendo se admitir cláusulas contratuais com interpretações ampliativas que se estendam a situações não previstas na atuação a que se refere a produção da imagem realizada. Assim sendo, as cláusulas que fazem parte deste contrato devem ser específicas, objetivas e as mais claras possíveis para ambas as partes, a fim de evitar futuras ações judiciais, como prevê a Constituição Federal Brasileira:

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A UTILIZAÇÃO DAS IMAGENS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA MÍDIA

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; [...] X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação (BRASIL, 1988).

O Estado é responsável por defender a identidade das crianças e adolescentes, desta maneira, imagens destes só poderão ser capturadas e veiculadas com a autorização legal, conforme determina o Estatuto da Criança e do Adolescente. Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. [...] Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. [...] Art. 100 - item V, trata sobre a privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) (BRASIL, 1990).

Atualmente, muitas escolas de Curitiba pedem aos pais tais autorizações no ato da matrícula, de forma a permitir que a imagem da criança possa ser divulgada. Porém, estes documentos não se aplicam a qualquer caso. A princípio, as crianças em situação de risco, como já citado anteriormente, não possuem autorização para que sua imagem ou voz sejam gravadas, salvo se o Estado cedê-la. Segundo a 1ª Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal, define-se como situação de risco toda e qualquer circunstância que comprometa o desenvolvimento físico e emocional da criança ou do adolescente, em decorrência da ação ou omissão dos pais/responsáveis, da sociedade ou do Estado, ou até mesmo em face do seu próprio comportamento. Abandono, negligência, conflitos familiares, alcoolismo e drogadição, além de todas as formas de violência (física, sexual e psicológica), configuram situações de risco. Há que se levar em consideração que a lei brasileira abrange o indivíduo como um todo, entretanto, para a produção e veiculação de imagem de pessoas sob a guarda do Estado, são necessárias autorizações expressas do poder judiciário, que é o responsável legal. O Estado, representado pelo Ministério Público tendo como atuante o promotor público, é quem deverá analisar caso a caso para a liberação da cessão de imagem, pois é ele quem responde pela proteção integral das crianças e 108 | COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 105-112| 2° Semestre 2013


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adolescentes. Ainda, de acordo com o art. 3 do Código Civil: Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I – os menores de dezesseis anos Menoridade de dezesseis anos: Os menores de dezesseis anos são tidos como absolutamente incapazes para exercer atos na vida civil, porque devido à idade não atingiram o discernimento para distinguir o que podem ou não fazer, o que lhes é conveniente ou prejudicial. Por isso, para a validade dos seus atos, será preciso que estejam representados por seu pai, por sua mão ou por tutor (BRASIL, 2002).

O Art. 131 do ECA, diz que: “O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei [ECA]”. O Ministério Público também tem sua atuação dividida regionalmente e, dentre as várias funções, está a atuação na área da Infância e da Juventude. As imagens poderão ser autorizadas pelo Estado de acordo com o artigo 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Porém, imagens de adolescentes ou crianças em situações específicas são sempre proibidas, como no artigo abaixo: Art. 143. É vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional4. Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome. (Redação dada pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003) [...]

Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou documento de procedimento policial, administrativo ou judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato infracional: Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência (BRASIL, 1990). Sendo assim, conclui-se que, além de ser antiética, a divulgação da imagem de crianças e adolescentes em situação de risco pode acarretar futuros problemas até mesmo relacionados ao preconceito, consequentemente a legislação brasileira não permite este ato.

1.2 A Utilização da Imagem de Crianças e Adolescentes no Jornalismo. A televisão é uma das principais fontes de acesso à informação no Brasil, visto que este meio é altamente difundido do país. Em 2009, segundo dados do IBGE, 95,67% da população brasileira possuía o equipamento dentro de suas casas. O 4 Segundo o Art. 103 do ECA: Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal.

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jornalismo consegue exercer sua função e atingir grande parte da população mundial por meio da imagem e da televisão. No telejornalismo, a imagem de qualquer cidadão pode ser utilizada com fins noticiosos caso seja fundamental para a compreensão do conteúdo como um todo, não sendo necessária uma carta de cessão. O processo de filmagem, produção e edição deste material requer ética e bom senso, deve sempre visar a informação da população, sem causar danos e prejuízos desnecessário às pessoas. A maneira usual pela qual o jornalista obtém esta autorização é por meio de um contrato não-verbal. Este contrato se dá da seguinte maneira: a presença da equipe de jornalismo, sendo avistada pelos proprietários dos objetos que serão filmados, tem peso de um pedido de autorização. Quando não há manifestação contrária por parte de quem será filmado ou de quem pode autorizar a captação de imagem de determinado objeto, o entendimento é de que a presença do cinegrafista (equipe de reportagem) foi aceita. Sobretudo, entende-se que a captação de imagens foi permitida. Caso contrário, se houver manifestação da não autorização, o cinegrafista tem a obrigação de não captar imagens de quem demonstrou não concordar com a presença da equipe de reportagem. (NODARI, 2011: 1)

Nos meios de comunicação de Curitiba (PR), os jornais televisivos retratam diariamente a vida das pessoas, inclusive de crianças e adolescentes. O tratamento da imagem destes indivíduos é feito de acordo com o que permite a legislação, conforme citado anteriormente. Segundo Fernando Rodrigues5, editor da RPC TV (afiliada da Rede Globo), normalmente, em casos especiais, o rosto de crianças é desfigurado a fim de não identificá-las. “Nosso trabalho se pauta pelo respeito à criança e ao adolescente. Não usamos imagens de menores de 18 anos em qualquer situação de risco, em qualquer contexto que possa trazer prejuízos a estes cidadãos” (RODRIGUES, 2012). Fernanda Reis6, chefe de reportagem da Ric TV Record de Curitiba afirma que imagens de crianças e adolescentes não são veiculadas nos jornais da emissora, pelo fato de não serem legalmente permitidas. Quando uma reportagem sobre estas pessoas precisa ir ao ar, as imagens usadas são as que mostram partes do corpo ou utilizam de ferramentas na edição que não permitem revelar a identidade. A carta de cessão de imagem deve conter os dados pessoais do menor de 18 anos, e do responsável, bem como endereço e finalidade do trabalho. O editor do Canal 21 – TV Mercosul de Curitiba/PR, Eduardo Simões7, afirma que este trabalho normalmente é coletado pela assessoria de imprensa quando o jornalista vai até o local para cobrir algum evento. Quando as imagens são referentes a crianças e adolescentes em situação de risco, opta-se por fazê-las de forma diferentes, que retratem e remetam a infância, mas sem identificá-los.

5 Entrevista cedida à equipe no dia 26/06/2012 por email. 6 Entrevista cedida à equipe no dia 29/06/2012 via telefone e email. 7 Entrevista cedida à equipe no dia 26/06/2012 via email.

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Considerações finais Conclui-se que a lei brasileira não contém, em nenhum de seus artigos, uma especificação referente ao uso da imagem de crianças e adolescentes em situação de risco em vídeos. Em entrevistas realizadas com editores de cinco televisões paranaenses (RPC TV, Rede Massa, TVE – Educativa do Paraná, Ric TV, Canal 21 Mercosul) percebe-se que, respeitando a legislação brasileira, evita-se filmar menores de 18 anos em situação de risco. Quando as imagens são fundamentais para a compreensão da notícia, e por algum motivo durante esta coleta grava-se o rosto da criança ou adolescente, são usados recursos de edição como desfigurar o rosto do indivíduo. Opta-se também por distorcer a voz (quando há necessidade), utilizar mosaico ou até planos fechados em partes do corpo, tornando o vídeo menos chocante e mais poético, a fim de evitar a identificação, independentemente de estar ou não em uma situação de risco. As emissoras contatadas reforçam que é preciso, acima do dever de noticiar o fato, respeitar o ser humano e seus direitos, por isso agem de acordo com a lei brasileira. Estes cuidados são fundamentais para evitar a estigmatização e preconceitos que a criança e o adolescente possam vir a sofrer futuramente. Embora a pesquisa tenha revelado que esta questão não esteja tão clara nos códigos e leis, esta conscientização faz parte da ética e dos deveres de jornalistas de emissoras de televisão, tornando-se praticamente um consenso o saber que não se pode mostrar menores em situação e risco.

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A UTILIZAÇÃO DAS IMAGENS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA MÍDIA

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AS RELAÇÕES ENTRE JORNALISMO INVESTIGATIVO E EMPREENDEDORISMO Gustavo Panacioni1 Felipe Harmata Marinho2 RESUMO Este trabalho discute o jornalismo investigativo sob a ótica do empreendedorismo. O artigo defende que a proposição de uma pauta investigativa dentro de uma redação pode ser encarada como uma atitude empreendedora. Os conceitos de jornalismo investigativo e de empreendedorismo são apresentados e contextualizados a partir da consulta a profissionais de jornalismo investigativo de Curitiba. Palavras-chave: jornalismo investigativo, empreendedorismo.

ABSTRACT This paper discusses investigative journalism from the perspective of entrepreneurship. The article defends that the proposition of an investigative report inside an editorial departament can be interpreted as an entrepreneurial attitude. The study addresses the key concepts of investigative journalism and also entrepreneurship and is also done experimental research with professional investigative journalism Curitiba. Keywords: investigative journalism, entrepreneurship.

1 Aluno do 3º ano do curso de Jornalismo da Universidade Positivo. Também é formado em Publicidade e Propaganda na UP. gustavopanacioni@gmail.com. 2 Professor dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade Positivo. Também é jornalista da rádio BandNews FM Curitiba. É mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela UEPG, tem pós-graduação em Comunicação e Semiótica pela PUCPR e é formado em Jornalismo pela Universidade Positivo. feharmata@ yahoo.com.br.


AS RELAÇÕES ENTRE JORNALISMO INVESTIGATIVO E EMPREENDEDORISMO

INTRODUÇÃO A proposta deste trabalho é entender quais são as principais características presentes nos profissionais que praticam o jornalismo investigativo. Ou quais tipo de conduta predominam em quem trabalha com o jornalismo a partir do viés investigativo. O que é preciso para que o profissional de um meio de comunicação atue nesse segmento de mercado? Será que apenas o conhecimento técnico – como por exemplo, a análise de banco de dados ou boa apuração – são suficientes ou é necessário algo mais? Na primeira parte, este trabalho explica quais são as principais definições de jornalismo investigativo. Pretende-se mostrar que o profissional investigativo precisa sempre ter em mente uma noção ética de trabalho, juntamente com a necessidade de atuar diante da pressão do tempo imposta pela maioria dos veículos de comunicação. Qual é a prioridade que uma matéria que leva tempo e exige recursos para ser estruturada, bem apurada e pensada ganha em meio a tantas possibilidades de apuração da informação? Para responder a essas questões, o trabalho buscou referências bibliográficas que descrevem o que pode ser considerado jornalismo investigativo e que tipos de discussões e dilemas estão presentes na produção dessa atividade jornalística. Num segundo momento, partiu-se para uma pesquisa de campo, através de entrevistas com pessoas reconhecidas no setor, para tentar entender algumas características em comum citadas por esses profissionais. Foi uma pesquisa de caráter experimental. Além de indagações sobre o uso de tecnologias, como a RAC (reportagem por auxílio de computador), ou sobre o estilo de apuração de pautas, a conversa com os principais atores do jornalismo investigativo paranaense também abordou temas mais intuitivos e humanos do jornalismo investigativo. A intenção foi tentar perceber competências aparentemente não ligadas à profissão e que, por esse motivo, acabam não sendo discutidas dentro de sala de aula ou no mercado de trabalho. Para isso, foi necessário fazer um levantamento de informações e possíveis nomes com vivência notável no jornalismo investigativo. A escolha começou pela análise de nomes de destaque na profissão e seguiu para uma definição da amostra estabelecida principalmente pela rede de contato dos pesquisadores deste artigo. Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, era desejável obter-se proximidade natural, através da rede de indicações, para conseguir uma conversa de qualidade com os profissionais. Dentro dessas especificações, destaque na profissão, rede de contatos e indicações, foram definidos dois profissionais para participar da pesquisa qualitativa: os premiados repórteres da Gazeta do Povo, jornal de Curitiba, Katia Brembatti e Mauri Konig. Integrante de um grupo de quatro jornalistas responsáveis pela série de reportagens Diários Secretos, sobre um grande esquema de corrupção na Assembleia Legislativa do Paraná, Katia Brembatti participou de outras matérias investigativas. Katia Brembatti formou-se em jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa em 2001 e atuou como repórter política no Jornal da Manhã, no estado do Paraná. Em 2008, através de uma reportagem sobre a ilegalidade na promoção de desembargadores do Tribunal de Justiça do Paraná, registrou em cartório o resultado

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da eleição dos novos desembargadores antes mesmo de o processo eleitoral acontecer. Assim Katia conseguiu comprovar as irregularidades no sistema que selecionava e promovia os novos desembargadores. Com essa matéria, Katia ganhou o Prêmio de Jornalismo da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros). O segundo jornalista escolhido para a pesquisa foi Mauri König, que começou a carreira de jornalista em 1991, mesmo não tendo graduação na área. Por seis anos, pelo jornal O Estado de S.Paulo, Mauri atuou como repórter na tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, cobrindo longos conflitos de terra entre paraguaios e imigrantes brasileiros. Foi na Folha de Londrina que Mauri começou a atuar como jornalista investigativo, nas horas vagas, e a sugerir pautas ao editor apenas quando bem apuradas. Com isso conseguiu conquistar espaço e tempo junto ao editor para a produção de matérias especiais. No ano de 2000, quando atuava no jornal O Estado do Paraná e enquanto investigava uma pauta no Paraguai, Mauri foi espancado quase até a morte por três homens. As principais histórias investigadas por Mauri König e outros jornalistas que participaram junto das apurações foram publicadas no livro “Narrativas de um Correspondente de Rua”, com última edição de 2008. Em 2012, junto com três outros jornalistas, Mauri foi um dos responsáveis por denunciar um esquema de corrupção na Polícia Civil do Paraná. Em virtude dessas novas publicações, Mauri foi ameaçado de morte e passou dois meses fora do país. Justamente para tentar entender os temas mais ligados ao perfil do jornalista investigativo e considerar os casos pelos quais os jornalistas deste artigo passaram como essenciais para entender a formação e o incentivo de um jornalista investigativo, o presente trabalho buscou fugir dos padrões clássicos de metodologia em comunicação e procurou buscar diferentes fontes de abordagem. Para direcionar esta linha de raciocínio, a base deste artigo é a tese chamada de Effectuation, de Saras Sarasvathy, que explica de forma interdisciplinar o que move uma pessoa a criar e empreender projetos, além da diferente perspectiva que o repertório de vida do empreendedor promove ao projeto. Cada pessoa aborda um mesmo assunto de maneira diferente e esse fator é considerado importante para entender o que motiva um jornalista investigativo a dedicar horas do seu tempo a uma reportagem. Saras descobriu, ao longo de sua pesquisa, que no empreendedor existem três pilares principais que interferem em um projeto ou empreendimento: “Quem você é”, “O que você sabe” e “Quem você conhece”. Considerando que um jornalista investigativo, ao pensar e propor uma matéria fora do eixo cotidiano de uma redação, também atua de forma empreendedora, este artigo procurou utilizar os três eixos do Effectuation como metodologia de pesquisa, auxiliando a entender como o perfil pessoal de um profissional pode transformá-lo em um jornalista investigativo. A transposição de uma tese (Effectuation) que aparentemente não se aplica ao contexto jornalístico para esse artigo tem influência na teoria de Boaventura de Souza Santos, partindo do princípio da criação de um novo paradigma científico, que seja interdisciplinar e aplicável a diferentes conceitos. Explica Boaventura de Souza

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Santos que “a ciência do paradigma emergente (...) incentiva os conceitos e as teorias desenvolvidos localmente a emigrarem para outros lugares cognitivos, de modo a poderem ser utilizados fora do seu contexto de origem” (SOUZA SANTOS, 1988, p.57). Effectuation é uma construção feita já nos moldes do paradigma emergente e por isso é aplicável ao objeto de estudo deste artigo. Essa busca por uma pesquisa que tenta identificar a influência do indivíduo em sua atuação profissional, a partir, claro, de uma metodologia de pesquisa qualitativa e não quantitativa, também tem explicação através da literatura e ideologia de Boaventura de Souza Santos. O paradigma emergente virou discurso dominante da ciência técnica, centrada em conhecimentos muitas vezes distantes da realidade do senso comum. A concepção humanística das ciências sociais enquanto agente catalisador da progressiva fusão das ciências sociais coloca a pessoa, enquanto autor e sujeito do mundo, no centro do conhecimento, mas, ao contrário das humanidades tradicionais, coloca o que hoje designamos por natureza no centro da pessoa. (...) É pois necessário descobrir categorias de inteligibilidade globais, conceitos quentes que derretem as fronteiras em que a ciência moderna dividiu e encerrou a realidade. (SOUZA SANTOS, 1988, p. 53)

A proposta deste artigo então, a partir da linha teórica defendida até o momento, é centrada na execução desta ciência mais próxima de entender as pessoas e o que as motiva na execução de determinadas ações. O jornalismo investigativo acontece a partir de diversas características, mas sem a motivação interna do profissional, pode não existir. 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 JORNALISMO INVESTIGATIVO O jornalismo investigativo pode ser considerado diferente do jornalismo praticado diariamente por abordar temas de uma maneira mais específica e elaborada. Ao contrário das matérias e reportagens factuais, o jornalismo investigativo precisa de tempo para ser executado. “De uma maneira sintética, é possível entender o jornalismo investigativo como uma forma de reportagem extensa que exige longo tempo de trabalho na apuração das informações por parte dos repórteres”. (AGUIAR, 2006) O longo tempo de trabalho, comentado por Leonel Azevedo Aguiar, é decorrente da quantidade de informações que uma matéria investigativa necessita para poder existir. O jornalista investigativo precisa apurar as informações de maneira assertiva para que a reportagem não seja passível de erros ao ser publicada. Essa preocupação existe porque o foco do jornalismo investigativo, independentemente da editoria que divulga o trabalho, é “apurar e divulgar informações sobre atos desviantes que afetem o interesse público e que sejam prejudiciais à sociedade”. (AGUIAR, 2006) 116 | COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 113-124| 2° Semestre 2013


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Por se tratar de um produto que tem como principal característica a denúncia, o jornalismo investigativo baseia-se essencialmente em uma coletânea de dados e provas que desvendam algum fato que pode estar escondido ou simplesmente pode não ser percebido por todos. É o que mostra Alexandre Carvalho et all (2010), abordando que “alguns teóricos defendem que o termo ‘reportagem investigativa’ é redundante, já que toda reportagem denota investigação. Nós defendemos que vai além do relato dos fatos e revela algo até então escondido”. O trabalho do jornalista investigativo concentra-se, então, em, primeiramente, conseguir os dados e as informações. É só depois de ter todos esses elementos na mão que o repórter passa para a segunda fase do trabalho, que consiste em, diante da pesquisa feita, confrontar as pessoas responsáveis. Diferentemente de uma entrevista comum, em que o contexto fica em torno de um estilo de pergunta como “o que o senhor tem para mim sobre esse assunto”, a entrevista de uma reportagem investigativa parte para o conceito de “a partir desses resultados, o que o senhor vai fazer sobre esse assunto”. O novo modelo de jornalismo investigativo deve ser assim: “O doutor que tome uma providência. Ele que assista (ou leia) a reportagem e cumpra seu papel”. É isso que se espera do jornalismo moderno. Repórteres que vivem nas ruas - e esse é o lugar deles - têm condições de descobrir fatos relevantes. (...) Feita a reportagem, aí sim, chegou a hora de procurar as autoridades. Mas não para entregar endereços e nomes, nem tampouco fazer o papel de dedo-duro. A frase e a pergunta do repórter para a autoridade são novas: “Doutor, nós descobrimos isso. E o senhor, o que tem feito?”. (CARVALHO, 2010)

Fazer jornalismo investigativo significa estar bem próximo de problemas que muitas vezes são deixados de lado pelos poderes públicos. O papel do jornalista investigativo é, então, evidenciar essas questões de maneira acessível e, principalmente, ética. Leonel Azevedo de Aguiar cita, em seu artigo O Jornalismo investigativo e seus critérios de noticiabilidade, que “o jornalismo investigativo é a divulgação de informações, no gênero narrativo ‘reportagem’, sobre as ações das instituições governamentais ou de empresas privadas que sejam prejudiciais ao interesse público e afetem a sociedade”. (AGUIAR, 2006) Entretanto, os dilemas éticos, sempre presentes, como a pressão pelo furo de reportagem e a natureza comercial de um veículo de comunicação, exigem do jornalista uma atuação e pensamentos sistêmicos, para que ele perceba em que lugar da cadeia de consumo de notícias ele se encontra e possa entender os passos a serem tomados diante das informações que tem na mão. “Além de estar sujeita a cair nessa distorção, a imprensa pode também incorrer em outro risco, que pode assumir gravidade: a corrida contra o relógio, a pressa em ser a primeira a divulgar a notícia”. (NAVES, 2003) O trabalho do profissional que dedica-se ao jornalismo investigativo passa então a ser um trabalho de atuação pró-ativa, que não pode depender apenas das denúncias que recebe. É dever do profissional responsável pela apuração daquelas informações checar e não se contentar apenas com a primeira fonte entrevistada e, COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 113-124| 2º Semestre 2013 | 117


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consequentemente, com as declarações apresentadas. Uma reportagem investigativa pode até ter início com denúncias que chegam às redações, mas não deve se basear exclusivamente nelas: é indispensável uma sólida pesquisa por parte do repórter, que vai buscar a informação de fontes primárias e não se contenta com as versões ou com as fontes secundárias. (AGUIAR, 2006)

Além da pró-atividade e dos dilemas éticos da profissão recorrentes no jornalismo investigativo, outro ponto importante a se destacar é o envolvimento do jornalista com o problema e também sua vontade de trabalhar com o assunto. Leonel Azevedo de Aguiar, em seu livro, cita Bourdieu para explicar que os jornalistas possuem “óculos especiais” e, assim, têm uma visão diferente de certos acontecimentos. Os óculos são uma metáfora para analisar a opção do jornalista em atuar com determinado tema ou linha de jornalismo, que nesse artigo concentra-se no jornalismo investigativo, “através dos quais os jornalistas operam a seleção e construção narrativa dos acontecimentos que lhes são visíveis e que se tornam possíveis de serem selecionados conforme categorias próprias de percepção”. (AGUIAR, 2006) O jornalista investigativo, como selecionador dos temas que deseja abordar e dos quais sente-se mais próximo, atua por sentidos mais intuitivos e cognitivos. É comum, em uma redação de jornal, o jornalista investigativo conquistar o seu espaço através da pesquisa e apuração de pautas que ele mesmo pensa, idealiza e tenta viabilizar pelas ferramentas que possui, sem necessariamente ter o aval de um editor-chefe ou da cúpula administrativa e também o investimento necessário para a realização da matéria. Para Katia Brembatti, jornalista investigativa que participou da pesquisa qualitativa deste artigo, nenhum editor-chefe vai designar uma pauta investigativa para um jornalista. “Não conheço nenhum jornalista investigativo preguiçoso (…) e não conheço nenhum que tenha recebido a pauta. Todas as pautas que o jornalista investigativo faz foi ele quem cavoucou, foi ele quem descobriu”, explica Katia durante a entrevista qualitativa. Ao abordar essa caraterística de pró-atividade citada por Katia, é possível perceber a competência empreendedora por parte dos jornalistas investigativos para a aprovação de uma matéria. Antes de poder atuar com uma pauta investigativa, o jornalista deve criar esse ambiente, que seja a favor dele, para propor uma pauta que seja aceita pelo editor-chefe, normalmente responsável por essas decisões. Ao pesquisar, ler, apurar, conferir e investigar um tema que possa ser transformado em matéria, o jornalista está empreendendo um projeto próprio, que pode ou não ser publicado, pode ou não dar certo. Diante dessa realidade, o papel de um jornalista investigativo e de um empreendedor se aproximam, pois o jornalista assim como um empreendedor, deve criar e fazer um projeto acontecer a partir de uma iniciativa e vontade próprias. Quando não há uma liberação por parte da chefia para se dedicar a uma matéria investigativa, por exemplo, o jornalista precisa conquistar a confiança de seu editor. Dessa maneira, assim como o empreendedor, ele trabalha sem qualquer previsão ou segurança de retorno daquele tempo e, muitas vezes, dinheiro investido, para poder coletar dados 118 | COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 113-124| 2° Semestre 2013


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suficientes que convençam que a matéria vale a publicação. Mauri Konig e Katia Brembatti percebem também algumas características latentes e essenciais para que o jornalista investigativo faça jus a esse segmento de atuação. “Princípios, caráter, preocupação com o outro, vontade de fazer. São coisas que você não aprende na faculdade”, comenta Katia Brembatti. Para Mauri König o jornalista investigativo precisa de tempo de maturação e vivência. “Hoje existem alguns manuais que dão algumas ideias de como agir em determinada situação, como buscar algumas informações. Quando eu comecei não tinha esse material tão disponível assim. Foi uma coisa mais intuitiva mesmo”, explica König. Dessa maneira, a partir da segunda parte deste artigo, pretende-se abordar o conceito de Effectuation para explicar algumas das competências que um jornalista investigativo pode desenvolver para poder atuar de maneira assertiva dentro desse ramo. Competências essas que podem ser mais subjetivas, intuitivas e cognitivas do que qualquer as principais exigidas pelo mercado e justificam a utilização do empreendedorismo e do Effectuation para avaliar o trabalho investigativo dentro de uma redação. A partir da análise da entrevista qualitativa feita com Mauri König e Katia Brembatti, chegou-se a um extrato de algumas categorias cognitivas que estão presentes no jornalismo investigativo e que acompanham de perto as características do conceito de empreendedorismo. São algumas capacidades que podem ajudar a transformar o profissional atuante no jornalismo em um repórter mais próximo do jornalismo investigativo, com a responsabilidade e vontade de executar uma matéria que exige comprometimento e dedicação antes de ser publicada.

1.2 EMPREENDEDORISMO E EFFECTUATION A característica de empreendedorismo está ligada à capacidade de realização e mobilização de recursos e competências em prol de um objetivo pessoal ou profissional. A palavra empreender, em sua essência, corresponde ao significado de “decidir realizar tarefa difícil e laboriosa” (MAXIMIANO, 2006). Apesar de ter uma ligação direta com o mundo dos negócios, ou de criar e gerenciar uma empresa, os empreendedores são pessoas capazes de combinar fatores para realizar projetos em qualquer área da vida, seja na hora de criar uma empresa ou simplesmente organizar e produzir um novo projeto dentro de uma empresa em que a pessoa já se encontre presente. “O empreendedor, em essência, é a pessoa que tem capacidade de idealizar e realizar coisas novas. Pense em qualquer pessoa empreendedora que conheça e você identificará nela a capacidade de imaginar e fazer as coisas acontecerem” (MAXIMIANO, 2006). Além de trabalhar para a realização das ideias que imagina, o empreendedor também tem a habilidade de saber trabalhar com os riscos que um novo empreendimento traz. (...) as habilidades do empreendedor em interpretar as situações de risco corretamente e depois lidar com elas traçando estratégias para minimizar ou eliminar o risco, enquanto está em busca de seus objetivos, é essencial para o sucesso do empreendedor; porém a pessoa que tiver a habilidade de medir COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 113-124| 2º Semestre 2013 | 119


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corretamente o risco, mas não tiver a habilidade de eliminá-lo ou de minimizálo não deveria ser classificado de empreendedor. (ANDRADE, 2008)

Essa habilidade a que João Carlos de Andrade se referencia não está ligada apenas a utilização de ferramentas técnicas para a avaliação dos riscos, mas também com a capacidade de cada empreendedor, em um nível psicológico que influencia na atividade econômica. A pesquisadora Saras Sarasvathy, doutora da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos, estudou o empreendedorismo e chegou a um conceito que ela chamou de Effectuation. Para Saras, Effectuation define os empreendedores que começam e conduzem um projeto sem contar especificamente com pesquisas de mercado e outras informações quantitativas. O projeto acontece com base em ferramentas que o empreendedor tem, e não do que ele precisa conseguir para executar. Problemas causais são problemas de decisão; problemas effectuation são prolemas de design. Lógicas causais ajudam-nos a escolher, lógicas effectuation ajudam-nos a construir. Estratégias causais são úteis quando o futuro é previsível, metas são claras e o ambiente existe independente de nossas ações; estratégias effectuation são úteis quando o futuro é imprevisível, metas são incertas e o ambiente é conduzido pelas ações humanas. O ator causal começa com um objetivo que quer criar e pergunta, “O que eu devo fazer para alcançar esse objetivo?”. O effectuator começa com suas habilidades e pergunta, “O que eu posso fazer com essas habilidades?”. E aí novamente, “O que eu posso fazer com elas?”. (SARASVATHY, 2008)3

O conceito de Effectuation defende que, para empreender, o ator baseia-se principalmente em competências cognitivas. Ele dedica-se a conhecer e entender quais são suas habilidades para poder consolidar seus projetos utilizando essas competências como base. “’Como eu me torno um empreendedor de sucesso?’ é a pergunta errada. Perguntas mais interessantes incluiriam: ‘Considerando quem sou eu e quem eu quero ou não quer ser, que tipo de empreendedor eu posso me tornar?’” (SARASVATHY, 2008). Analisando sob a ótica do jornalismo investigativo, o repórter que atua nessa área acaba concretizando as teorias do Effectuation ao dedicar-se à investigação de assuntos que sejam importantes e façam parte do repertório de vida dele. Katia Brembatti reafirma essa postura ao explicar que o que a levou ao jornalismo investigativo foi sua preferência por matérias políticas. “É mais por conta dos assuntos que me interessavam, a minha relação com fontes e o que essas pautas me exigiam. Ninguém gosta de ler diários oficiais, eu sempre gostei de ler diários oficiais. Sempre gostava de ir nas licitações, ver quem eram as empresas que estavam assinando o que e quem estava fazendo proposta do quê”, diz Katia. Outro importante aspecto semelhante entre Effectuation e jornalismo 3 Tradução livre do original: “Causal problems are problems of decision; effectual problems are problems of design. Causal logics help us choose; effectual logics help us construct. Causal strategies are useful when the future is predictable, goals are clear, and the environment is independent of our actions; effectual strategies are useful when the future is unpredictable, goals are unclear and the environment is driven by human action. The causal actor begins with an effect he wants to create and asks, ‘What should I do to achieve this particular effect?’ The effectuator begins with her means and asks, ‘What can I do with these means?’ And then again, ‘What else can I do with them?’”

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investigativo é a falta de certeza que a apuração de uma matéria investigativa carrega. O repórter não tem segurança se sua reportagem será publicada e, por isso, trabalha no cenário de um futuro incerto, aquele mesmo citado por Saras Sarasvathy ao explicar a diferença entre um empreendedor comum e um empreendedor que atua de acordo com os princípios do Effectuation. Com esse resultado indefinido, o jornalista precisa confiar no seu trabalho e, acima de tudo, apurar da maneira mais completa possível, conseguir o maior número de provas e informações para poder definir o futuro que ainda, e até o último instante, costuma ser incerto. A preferência do empreendedor por certos temas e o ambiente inconstante em que atua são apenas as primeiras características percebidas por Saras durante sua pesquisa. Entretanto, ao aprofundar sua tese, Saras conseguiu encontrar e definir três principais eixos que definem a atuação do empreendedor, mas que também encaixamse no nosso objeto de pesquisa. Para tentar comprovar a diferença que a visão de mundo individual causa no resultado de um projeto, Saras deu um mesmo produto para 27 empreendedores, selecionados previamente. Esses 27 indivíduos devolveram para Saras 18 ideias diferentes de negócios para serem criados a partir daquele mesmo produto. Depois de conversar com essa amostra de empreendedores para tentar entender o motivo de tantas ideias de negócio diferentes geradas a partir de um mesmo incentivo, de um mesmo produto, Saras chegou a três eixos que impulsionam o empreendedor para ter ideias e criar um projeto: quem você é, o que você sabe e quem você conhece. É a partir desses três pilares que o empreendedor cria o seu produto, serviço ou empreendimento.

1.2.1 Quem você é, o que você sabe e quem você conhece? “Quem você é” define as características pessoais do empreendedor. Tudo aquilo que ele já viveu até ali, as experiências de vida, visão de mundo, contexto cultural, que valores o empreendedor traz consigo e o que realmente importa para ele. Utilizando esse caminho de raciocínio, nota-se o quão importante é a participação e a influência do perfil pessoal de cada empreendedor no andamento do projeto. Se considerarmos os mesmos óculos especiais que Bourdieu, na obra de Leonel Azevedo de Aguiar, cita existir para o jornalismo, é possível perceber a semelhança entre as considerações de Saras e as diferentes pautas que podem surgir a partir de um mesmo assunto, aparentemente comum a qualquer jornalista. “Quando você se concentra profundamente em uma história, um buraco de rua pode render uma matéria de jornalismo investigativo. Não é a pauta em si que faz”, cita Katia Brembatti, ao comentar que um importante papel do jornalista investigativo é perceber a potencialidade de investigação em pautas que outros jornalistas acham chatas ou sem qualquer furo jornalístico aparente. “O que você sabe” resume o que o empreendedor sabe fazer, quais as experiências que adquiriu ao longo da vida e que tipo de educação formal ou informal recebeu até aquele momento. No caso do jornalismo investigativo, a proposta também enquadrase, principalmente ao perceber que tanto Katia Brembatti como Mauri König COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 113-124| 2º Semestre 2013 | 121


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começaram a atuar no jornalismo investigativo de uma maneira natural. “Naquela época eu ainda não tinha feito a faculdade de jornalismo. Eu não tinha tido contato com as ferramentas do fazer jornalístico. Eu trabalhava já havia 8, 9 anos com jornalismo, mas ainda não tinha feito a faculdade de jornalismo. Foi uma coisa mais por intuição”, conta Mauri König. Katia Brembatti não foi apresentada ao termo jornalismo investigativo na universidade. “Eu não sabia que existia jornalismo investigativo. Na faculdade ninguém me disse que tinha jornalismo investigativo. Sem querer ser arrogante, eu acho que já fazia jornalismo investigativo antes de saber que isso já existia. As primeiras matérias que eu fiz no primeiro ano já eram nessa pegada”, conta Katia. Por fim, “quem você conhece” define a rede de contatos, parceiros e quem poderia, de certa forma, incentivar a criação do projeto e/ou empreendimento. No jornalismo investigativo, pode-se traduzir esse eixo sob a ótica do relacionamento estabelecido com as fontes que cedem algumas das principais informações que levam a pauta a tornar-se investigativa. Não só as fontes, mas também as pessoas que contribuem para o andamento da matéria como um todo, ou até mesmo da inserção do jornalista no meio investigativo. Mauri König e Katia Brembatti explicam que a entrada no meio investigativo, por mais natural que tenha acontecido, também contou com a influência de outros profissionais do mercado. “A primeira reportagem que dá pra dizer investigativa que eu fiz, eu já tinha de oito para dez anos de profissão. Foi quando um colega jornalista do Paraguai me propôs a investigação de um caso envolvendo a máfia chinesa atuando no comércio da Cidad del Leste no Paraguai. A gente teve que adequar a minha rotina de trabalho a dele para a gente trabalhar esse assunto em conjunto”, explica König. Esses são os três fatores que determinam um diferente destino e distintas formas de perceber o mundo e atuar em um projeto. É o que define a pluralidade de opiniões e garante, por exemplo, que um mesmo produto gere mais de uma ideia diferente de negócio a partir da visão de diferentes empreendedores ou jornalistas.

2 MATERIAIS E MÉTODOS OU PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Por se tratar de um artigo que busca entender as principais motivações de um jornalista investigativo, é necessário partir para uma pesquisa que aborde a interdisciplinaridade e possa detectar as diferentes características presentes na área profissional deste objeto de pesquisa. Para isso, a proposta formata-se sobre o parâmetro de pesquisa qualitativa, visando concentrar-se em poucos entrevistados, mas com aprofundamento importante para perceber as nuances do tema em questão. Segundo Antônio Carlos Gil, o instrumento usado neste artigo pode ser caracterizado como uma entrevista parcialmente estruturada “que possui algumas perguntas previamente definidas, mas há margem para novas discussões a partir da entrevista.” (GIL, 2008) A pesquisa foi definida em cima de cinco perguntas principais desenvolvidas de acordo com o estudo do objeto. As perguntas foram feitas pessoalmente aos entrevistados, de maneira que fosse possível a interação, com a possibilidade de tornar 122 | COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 6| n.6|p. 113-124| 2° Semestre 2013


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a conversa mais próxima de um diálogo informal. O entrevistador e entrevistado não precisavam ficar limitados com as perguntas e a função delas era apenas conduzir a conversa.

3 RESULTADOS OBTIDOS Um dos principais pontos em comuns obtidos com a pesquisa, a partir dos dois entrevistados, foi o desconhecimento do termo jornalismo investigativo no início da carreira de cada um deles. O processo de prática do jornalismo investigativo e do conhecimento do termo pelos entrevistados veio aos poucos, com naturalidade e também com a influência das pautas que escolhiam para trabalhar. Ambos afirmaram inclusive não saberem que estavam praticando jornalismo investigativo no início das carreiras, mas concordaram com o termo ao descobri-lo e percebê-lo como constante na maneira como apuravam suas pautas. Outro aspecto interessante comentado pelos entrevistados é a necessidade de um profundo conhecimento sobre o tema em questão, em investigação. Para Katia Brembatti, é essencial que se conheça o tema a ponto de poder falar sobre ele por horas e horas. Mauri König também defende esse aspecto ao dizer que o investigativo surge de esgotar o assunto e também que ao perceber que existem outras maneiras de descobrir o que precisa-se descobrir. Além dessas duas questões comentadas pelos entrevistados durante a pesquisa qualitativa, os outros tópicos apresentados por eles, com relação ao perfil do jornalista investigativo, as relações de pesquisa e apuração de pautas ou a relação com o editorchefe, por exemplo, ao aceitar ou não determinada pauta investigativa, foram citados no decorrer do artigo para embasar a discussão teórica.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O que vai determinar se o jornalista vai atuar ou não com a ferramenta investigativa é sua capacidade empreendedora e o seu envolvimento com o tema abordado. Ou seja, a influência subjetiva nos empreendimentos, jornalísticos ou não, é notável e deve ser considerada inclusive para perceber se há incentivo suficiente para o jornalismo investigativo existir. Entende-se, a partir do conteúdo apresentado e discutido neste artigo, que o que define o jornalista investigativo não é o conhecimento técnico de uma ferramenta específica ou de novas tecnologias. O que faz o jornalista tornar-se um jornalista investigativo é muito mais intuitivo e cognitivo do que qualquer abordagem prática. É preciso que o profissional investigativo tenha motivações que sustentem a busca por uma boa pauta, a insistência e capacidade de negociação que a profissão, em nível mais profundo, exige.

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AS RELAÇÕES ENTRE JORNALISMO INVESTIGATIVO E EMPREENDEDORISMO

REFERÊNCIAS: AGUIAR, Leonel Azevedo de. O jornalismo investigativo e seus critérios de noticiabilidade. Rio de Janeiro: PUCRJ, 2006. ANDRADE, João Carlos de. Dimensões da prática empreendedora: um estudo empírico com analistas e empresários. Curitiba: Universidade Positivo, 2008. CARVALHO, Alexandre et all.. Reportagem na tv: Como fazer, como produzir, como editar. Editora Contexto. São Paulo, (2010). GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2008. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Administração para empreendedores: fundamentos da criação e da gestão de novos negócios. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. NAVES, Nilson. Imprensa Investigativa: sensacionalismo e criminalidade. Brasília: CEJ, 2002. SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências na transição para uma ciência pós-moderna. Estud. av. [online]. 1988, vol.2, n.2 [cited 2013-06-20], pp. 46-71 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141988000200007&lng=e n&nrm=iso>. SARASVATHY, Saras D. Effectuation : elements of entrepreneurial expertise. USA: University of Virginia, 2008.

ANEXO I – PERGUNTAS DA PESQUISA QUALITATIVA 1) Como chegou ao jornalismo investigativo? 2) Como aprendeu a fazer jornalismo investigativo? 3) Quais são as principais características que um jornalista investigativo deve ter? 4) Os profissionais e/ou estudantes são preparados para atuar no jornalismo investigativo? 5) Qual foi sua última vivência no jornalismo investigativo?

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