Edição Nº1 | Fevereiro de 2011 | Esta revista faz parte integrante do jornal “Público”. Não pode ser vendida separadamente
Mútua dos Pescadores
“Os nossos mares continuam, hoje, a provocar a dor e o luto entre as comunidades piscatórias”
Câmara Municipal de Almeida “Penso que soubemos aproveitar os fundos comunitários até ao último cêntimo”
Junta de Freguesia de Moura Morta “Vamos continuar a fazer o que podemos e sabemos, porque as pessoas de Moura Morta merecem”
Fileira do Pescado » “Nós sabemos, rigorosamente, aquilo que se capturou, por espécies e tamanhos. Há uma rastreabilidade e um conhecimento exaustivo de tudo aquilo que é feito na Costa Portuguesa relativamente ao peixe fresco”
Índice 03 Editorial 04 ESPECIAL: Fileira do Pescado Associação dos Industriais do Bacalhau
editorial Ano Novo, Vida Nova e o INCARTE a divulgar o empreendedorismo Português. Um mês depois das eleições presidenciais o país continua sob o “clima de guerrilha”, que muitos teimam em apregoar, entre as instituições governamentais. Certa é a batuta da austeridade e as manifestações de revolta, em pequenas acções de greve, dos vários sectores profissionais. A palavra crise surge associada, a tantas outras, como emprego, habitação, pobreza ou solidariedade. Na lota ouvimos histórias de pescadores que todos os dias se fazem à faina. Noutros tempos embarcaram para a Terra Nova e trouxeram novas tradições, o fiel amigo, que deixou de estar confinado a alturas específicas mas é rei na mesa de cada um. Saídos de uma tradição, a quadra Natalícia, associada, também, ao peixe salgado, a uma salga tipicamente portuguesa e tão apreciada em todo o Mundo. A Identidade de cada região pela voz dos presidentes, o primeiro e último de uma responsabilidade comum. Uma responsabilidade social com especial enfoque na terceira idade. Divulgar saberes e sabores, de uma pessoa ou colectivo, doces ou salgados. “Sempre quis ser mais Mecânica do que Humana, mas de todas as coisas que eu quis esta é a única que nunca serei”. Parte do íntimo para o Mundo, num moderno diário, um blog, e revela sentimentos. Revela a faceta humana guia em tempos de crise. Revela a necessidade de sermos mais Humanos num Mundo cada vez mais Mecânico e menos Social. Revela a personalidade de cada um pois a “culpa que morre sempre solteira” não tem culpa de todos a renegarem. Pretendemos que este INCARTE seja mais do que um anexo e acreditamos em valores como: INformação e INteresse, INteligência e INtegridade. CB
12 PONTO DE VISTA Eurico Monteiro Ex. Director-Geral das Pescas e Aquicultura Delphine Dias - Nutricionista Mútua dos Pescadores - Mútua de Seguros Fluxoibéria 20 DESFRUTAR CM de Almeida JF de Castelo Rodrigo JF de Lamas Quinta do Encontro - Grupo Globalwines Casa do Pão-de-ló A. Teixeira Pinto 28 PODER LOCAL CM de Arouca JF de Campanhã CM de Vila Velha de Ródão JF de Moura Morta JF de Santo Amaro
FICHA TÉCNICA Redacção: Carlos Borges, redacao@folhadamanha.pt | Departamento Gráfico: 2x7 Design (2x7design@gmail.com)
INCARTE
Mónica Fonseca, Vanessa Taxa | Banco de Imagens: Stock.xchng | Director Comercial: Rui Martins, ruimartins@folhadamanha.pt | Departamento Comercial: Diogo Sousa, diogosousa@folhadamanha.pt; Julia Ferreira, juliaferreira@folhadamanha.pt; Leonardo Vasconcelos, leonardovasconcelos@folhadamanha.pt | Propriedade: Folha da Manhã - Edições Periódicas, Lda. - Rua da Constituição, 236, 3 Frt ? 4200 - 192 Porto | Telefone/Fax: 220161495, geral@folhadamanha.pt | Contribuinte: 509646105 | Director Geral: Raul Pereira, raulpereira@folhadamanha.pt | Impressão: Multiponto, SA. | Distribuição: Gratuita | Periodicidade: Mensal
Fevereiro | 2011 | 03
Notícias «
MUSEU DA BATALHA
Novo MUSEU da BATALHA dá a conhecer Concelho O Museu da Comunidade Concelhia da Batalha abriu as suas portas ao público no passado Sábado, 29 de Janeiro. Localizado no Largo Goa, Damão e Diu, (nas antigas instalações da Caixa de Crédito Agrícola da Batalha), o Museu é um projecto inserido na linha da Nova Museologia e da Sociomuseologia que pretende valorizar a identidade e a história do Concelho da Batalha e dos seus munícipes. Assume-se como um centro de cultura vivo, reunindo as funções de investigação, conservação e valorização de um património cultural, representando o modo de vida das gentes locais. Retrata a vida deste território, desde as suas origens geológicas, paleontológicas e arqueológicas, percorrendo os principais acontecimentos
históricos e artísticos até à actualidade. O Museu divide-se por seis áreas temáticas: as Origens, Tempo e Memória, o Mundo da Biodiversidade, Tudo sobre Nós, Ninho dos Projectos – Actividades Comunitárias e Laboratório da Memória Futura. Dinâmico e interactivo, dispõe de um espaço para exposições temporárias, realizadas com a comunidade local. Um projecto que assenta também a sua preocupação ao nível da inclusão, disponibilizando um conjunto de ajudas técnicas e soluções capazes de facilitar a apreensão dos conteúdos por todos os cidadãos. O Museu pode ser visitado diariamente das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00. Encerra à Segunda-Feira.
IGESPAR
Rede dos Mosteiros Portugueses Património da Humanidade No Centro de Portugal, 3 grandes monumentos inscritos na Lista do Património Mundial da UNESCO estão hoje articulados entre si através da REDE DOS MOSTEIROS PORTUGUESES PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE – o Mosteiro de Alcobaça, o Mosteiro da Batalha e o Convento de Cristo. A REDE DOS MOSTEIROS PORTUGUESES PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE constitui um projecto estruturante do IGESPAR, tendo como objectivo integrar a gestão de 3 importantes recursos culturais da zona Centro que se encontram sob a sua gestão, em articulação com o Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, procurando explorar as respectivas potencialidades para dar uma resposta cabal ao papel que o património hoje representa para a sociedade. Os três grandes temas-chave associados aos 3
grandes conjuntos monásticos – a ORDEM de CISTER (no Mosteiro de Alcobaça), os CAMPOS DE BATALHA (no Mosteiro da Batalha) e os TEMPLÁRIOS (no Convento de Cristo) são complementares entre si para a compreensão plena da génese e do desenvolvimento daquele território e do país sendo, por isso, explorados, em toda a sua diversidade, nesta REDE. Nesta candidatura o IGESPAR apresenta-se como parceiro líder de 3 tipos de projectos: -Programação cultural anual das cidades em rede, tendo como suporte físico os Mosteiros; -Criação de programas de visita e produção de conteúdos de interpretação; -Realização de encontros anuais científicos em cada Mosteiro, incidindo sobre a sua especificidade.
Fevereiro | 2011 | 0 5
» Especial
Fileira do Pescado
Os Homen A sabedoria popular dita que “Filho de Peixe sabe Nadar” e estes homens honram o ofício dos pais e avós. Mais do que uma tradição que passa gerações,
A
lberto Nunes é pescador. Alberto Nunes é mestre de uma embarcação. Alberto Nunes é sinónimo de mar e a sua vida sempre foi invadida pelos doces aromas, nem sempre fáceis, a que a faina obriga. Começou cedo tal como o avô e o pai, mesmo sendo bom aluno, e com 14 anos tirou a cédula. Depois do estágio, num arrastão na Costa Portuguesa, fez uma viagem de longo curso para ter a carta de marinheiro. O Bacalhau era o objectivo, o Canadá o destino e uma nova realidade na vida do petiz. Ao todo foram duas as viagens para a Terra Nova, a terra prometida que os portugueses descobriram como manancial do “fiel amigo”. “Uma realidade muito diferente daquela a que estava habituado, já tinha experimentado a pesca do cerco. Depois fui para a pesca do arrasto numa altura que era mais intensiva”, recorda. “Na pesca longínqua era de sol a sol, era sempre seguido. Na primeira viagem fizemos 94 dias sem ir a terra. Já não sabíamos se era dia ou noite”, continua o Mestre explicando que depois tinham seis dias para recuperar mas com 15 anos era complicado. As circunstâncias da profissão exigiam que se travassem conhecimentos, afinal, não é fácil estar rodeado pelo Oceano Atlântico e confinado a um barco quando a ausência da família e amigos começa a ser maior que o próprio mar. Alberto Nunes relembra, “o “Vila do Conde”, naquela altura, era dos mais modernos da frota. Para a época
Alberto Nunes Mestre
06 |
tinha excelentes condições”. A experiência é um posto e o aprendiz a marinheiro passou a timoneiro. O “homem do leme” não era apenas mais uma luz que ofuscava as demais e desta forma, rompendo a saudade, ia quem já nada temia mesmo que a vontade fosse estar com os camaradas. “Não apanhava tanto frio e preferia estar com a malta, ali estava muito preso e sozinho com o piloto, mas alguém tinha de o fazer e assim fiquei até acabar a viagem”. Pessoas cruzaram nações e traziam o bacalhau, um bem essencial da nossa gastronomia. Liberdade e falta de tempo são o resumo de 150 dias no mar. “Depois de tanto tempo nem sabemos andar. Ao fim daqueles dias é o regressar às origens. Queremos sentir a liberdade, ver caras conhecidas e fazer tudo rapidamente porque se perdeu muito tempo”. Para o profissional do mar não há dias iguais, cada um tem uma história única e cada situação exige uma acção. “Havia alturas que não existia pesca para comermos e noutras nem sabíamos onde pôr tanto peixe. Cada situação é nova e naquele tempo era tudo novo. É por isso que a pesca longínqua é diferente das “brisalhadas” perto da costa”. Para além do Canadá, Alberto Nunes, também já esteve em Angola ou Dakar mas desde 2001 que Aveiro é o porto seguro. “Fizeram-me a proposta para embarcar para Marrocos depois um mestre aposentou-se e tive a oferta para ficar no navio”, conta animado mesmo sendo esta uma profissão de risco. “Já naufraguei uma vez, são sempre sustos e nunca sabemos o que pode acontecer por mais cuidados que tenhamos. É uma profissão de risco e quem gosta de nós tem sempre algum receio”, relembra a família que o espera todos os dias. Esta é a análise que Alberto Nunes faz do sector onde cresceu. O sector que é a sua vida, onde o essencial, neste momento, não são apoios económicos mas de infra-estruturas. Este é o sector pelo qual o Mestre Alberto Nunes vai para o MAR, afinal: “Eu faço aquilo que gosto”, conclui.
Fileira do Pescado
Especial «
s do Leme os pescadores entrevistados têm como denominador comum o mar e uma paixão que se torna saudade quando se mantêm afastados durante muito tempo...
O “
mar já me ensinou muita coisa e ainda hoje tenho saudades de pescar”, foi esta a frase que deu início à conversa com João Correia, um pescador de 65 anos que já não vai para o mar há dez. Daquele tempo guarda várias histórias, vários sustos e muitas alegrias. Foi o mar que o fez homem, que o ensinou a lutar por uma vida melhor, que deu sustento a toda a sua família. É filho e neto de pescadores e foi com os mais velhos que aprendeu a arte, tinha ele 17 anos, em 1962, quando embarca pela primeira vez nesta aventura. O seu primeiro trabalho foi na pesca do bacalhau e segundo conta foram tempos difíceis, as embarcações era grandes (70 metros) o que era sinónimo de viagens longas, muito tempo sem ir a terra, pelo menos 6 meses. Durante essas viagens “nem distinguíamos o dia da noite, quando tínhamos muito pescado o capitão nem nos deixava descansar, cheguei a trabalhar 24 horas seguidas”, relembra João Correia. Tem na sua pele as marcas das chuvas, dos ventos, das intempéries. O trabalho era feito a céu aberto, muitas vezes debaixo de 20 graus negativos e estavam constantemente molhados. Isto porque depois do pescado estar dentro do barco ainda havia muito trabalho pela frente, este tinha de ser escalado (dar um golpe ao peixe e tirar-lhe a parte mais grossa da espinha), remover as vísceras, o fígado (aproveitado para se fazer o óleo de fígado de bacalhau) colocado no porão com sal, que o conservava até o regresso a terra. A água potável era escassa resumia-se a 2 litros por dia para beber e tomar banho. Só anos mais tarde é que as embarcações começaram a ter mais condições, a água já não era um problema, já tinham casa-de-banho e as viagens já não eram tão longas (máximo três meses). Mesmo assim resolveu apostar numa nova experiência. A pesca na costa, onde passou a pescar uma variedade enorme de peixes, o polvo, a lula, a pescada, o carapau e a faneca. Aqui as embarcações eram mais pequenas, ou seja, a tripulação rondava os oito a dez homens,
bem diferente da pesca do bacalhau onde a tripulação era em número superior. A técnica de captura não era muito diferente, ou seja, foi sempre pesca de arrasto, mas enquanto que na pesca do bacalhau trabalhava 12 horas seguidas e descansava, na costa eram 18 horas de trabalho e o tempo de descanso dependia muito do ritmo de trabalho da equipa. Foi na costa, com 33 anos, que João Correia chegou a mestre “é um cargo de grande responsabilidade, o mestre tem de dar provas daquilo que sabe, tem de dar lucro à empresa e sustento a toda a tripulação” algo que soube fazer muito bem já que foi mestre durante muitos anos. Faz um balanço muito positivo da sua carreira, atingiu todos os seus objectivos, mas é o futuro desta profissão que o preocupa. Ainda se lembra de descarregar 70 toneladas de peixe na lota e de ser todo vendido, hoje em dia não se pode capturar essa quantidade. Na opinião deste pescador o problema é termos no mercado uma grande quantidade de peixe importado e também já não haver a tradição do peixe fresco. Já ninguém acorda cedo para ir à lota porque é mais cómodo trazer do hipermercado. São as preocupações de um mestre do mar que gostava de ver a profissão mais valorizada.
João Correia Mestre
Fevereiro | 2011 | 0 7
» Especial
Associação dos Industriais do Bacalhau
O Bacalhau e a Cura Tradicional Portuguesa A Associação dos Industriais do Bacalhau (AIB) está neste momento em processo de candidatura para protecção do Bacalhau de Cura Tradicional Portuguesa enquanto Especialidade Tradicional Garantida. “É uma protecção europeia para as denominações de produtos tradicionais com características e processos produtivos únicos que a Comunidade confere”, explica Paulo Mónica, secretário-geral da AIB e Membro da Comissão da Fileira do Pescado.
C
om esta candidatura pretende-se preservar, pelo processo de fabrico, as características singulares do fiel amigo e da forma como aparece na “mesa” dos portugueses. “Queremos recriar as características que o produto tinha no tempo da pesca do bacalhau na Terra Nova. O peixe era trabalhado a bordo e depois salgado, a forma de o conservar na viagem de regresso, e que confere esse sabor que temos na memória e nas nossas papilas gustativas. Um sabor único no Mundo e reconhecido, também ele, globalmente”, conta o entrevistado que acrescenta: “Com esta sistematização definiramse as seguintes características: físicas, químicas, microbiológicas e organolépticas - esta para além de perceptível pelos sentidos humanos, também serve para avaliar o estado de conservação de um produto para consumo”. O processo a que o bacalhau do Atlântico (o único admitido) terá de ser submetido para ser certificado enquanto Bacalhau de Cura Tradicional Portuguesa tem várias fases. Depois de escalado tem que estar 30 dias em salga e mais 30 dias a maturar, ou seja, em contacto com o sal mas num ambiente mais aberto. Posteriormente pode ser seco e armazenado, sendo certo que não pode ser comercializado com menos de 150 dias desde o início do processo de cura. Durante um período de cinco meses tem de estar a maturar para apresentar as condições que existiam no passado. Naquela altura as viagens duravam cinco a seis meses. No final do processo o Bacalhau de Cura Tradicional Portuguesa tem que ter um peso superior a 1,5 kg, musculatura bem estruturada e firme e coloração uniforme entre amarelo pálido e amarelo palha. A especialidade portuguesa é bacalhau salgado seco mas como qualquer outro peixe pode ser apreciado das mais variadas formas, “Portugal é o lugar onde se come bacalhau seco em maior quantidade”, indica o secretário-geral.
08 |
Apesar da crise, a tradição ainda é o que era. O “fiel amigo” deve continuar a ter destaque na alimentação. “O bacalhau está associado a um custo elevado porque existe a tradição de se comprar o peixe inteiro, no entanto compensa, pois acaba por representar várias refeições moderadamente económicas”. O Natal e a Páscoa são os períodos de maior consumo, depois há uma quebra na ordem dos 40 por cento. Paulo Mónica refere que os custos elevados, nos referidos períodos, devem-se ao binómio procura/oferta. O Bacalhau que o mercado português absorve vem maioritariamente da Noruega, Rússia e Islândia. Os limites de pesca do bacalhau são controlados, não só pelos respectivos países onde se pesca, mas também por organismos internacionais. Existe hoje uma monitorização muito rigorosa do estado dos stocks. Os principais stocks, onde são efectuadas as capturas que abastecem a indústria nacional e o mercado encontram-se em muito boa condição e um desses indicadores é o facto de as quotas repartidas entre Noruega e Rússia terem aumentado 16 por cento este ano, reflectindo a abundância deste peixe. “Na zona da Terra Nova, Canadá, que teve uma moratória prolongada, abriram a pesca e estão a aumentar as quotas. Acredita-se que para a frota portuguesa as quotas também vão aumentar e isso é sintoma de que a população do bacalhau da espécie Gadus Morhua, que é consumida em Portugal, está em crescimento”, assegura Paulo Mónica secretário-geral da AIB. Adicionalmente entrou, em 2010, em vigor a legislação comunitária que visa o combate à pesca ilegal, não declarada e não regulada e que obriga a que todos os produtos da pesca que procedam de países terceiros só podem entrar no mercado comunitário com certificados de captura que comprovam a sua origem em actividades piscatórias reguladas e controladas. Esta é uma medida que visa assegurar a sustentabilidade dos recursos.
Fileira do Pescado
Especial «
“Línguas” de Bacalhau Bacalhau para os povos de língua portuguesa; Torsk para os dinamarqueses; Baccalà para os italianos; Bacalao para os espanhóis; Morue, Cabillaud para os franceses; Codfish para os ingleses. O nome bacalhau, de acordo com o Dicionário Universal da Língua Portuguesa, tem origem no latim baccalaureu.
Bacalao
Morue, Cabillaud
Torsk
Baccalà
Codfish
Histórias e Segredos do Bacalhau Com broa, com natas, cozido ou frito, com batatas ou arroz. O bacalhau cozinha-se de todas as maneiras, saboreia-se de todas as maneiras. É presença assídua na casa de uns, abrilhanta o Natal na casa de outros. Mas afinal, de onde vem o bacalhau? Terão sido os vikings os primeiros a descobrir a espécie nos mares onde navegavam, mas o comércio ficou a dever-se aos bascos. Por volta do ano 1000, o bacalhau passou a ser comercializado. Os bascos salgavam-no e depois deixavam-no a secar para uma melhor conservação. Este método garantia a sua durabilidade, mantinha os seus nutrientes e apurava o paladar. Numa altura em que os métodos de conservação eram precários e em que os alimentos degradavam facilmente, o bacalhau veio revolucionar a alimentação e depressa adquiriu um valor elevado e despertou interesse comercial de vários países. Durante muitos anos o bacalhau foi um alimento barato que se encontrava frequentemente na mesa das populações mais pobres. O calendário Cristão contribuiu muito para este consumo. Os cristãos deviam obedecer a dias de jejum, o que levava as pessoas a excluírem a carne da sua alimentação. O bacalhau, como era mais barato, tornou-se no alimento escolhido pelo povo durante as festas reli-
giosas, como o Natal e a Páscoa. Com o passar dos séculos, o jejum foi desaparecendo, mas a tradição do bacalhau, sobretudo na ceia de Natal, mantevese intacta até aos nossos dias. Depois da Segunda Guerra Mundial o bacalhau tornou-se num produto só consumido pelos mais ricos. A escassez de alimentos em toda a Europa levou à subida de preço do bacalhau. Os mais pobres apenas se davam ao luxo do seu consumo nas principais festas cristãs, o que também contribuiu para a tradição do seu consumo na ceia de Natal.
O “fiel amigo” dos portugueses Os portugueses descobriram o bacalhau no século XIV, na época das grandes navegações. Precisavam de produtos que não fossem perecíveis, que suportassem as longas viagens, que levavam às vezes mais de três meses de travessia pelo Atlântico. Em finais dos anos 30 do século XX, Portugal contava com uma frota de pesca com cerca de 50 navios, atingindo em 1953 mais de 80 embarcações, chegando a suprir mais de 75% da procura no mercado nacional. A situação das importações alterou-se desde o final dos anos 60 e 70. A proliferação da congelação, a velocidade e a quantidade do processamento
e da distribuição, a evolução das redes comerciais alteraram-se significativamente. Portugal importa praticamente todo o bacalhau que consome desde 1974, ano em que saíram os últimos lugres para a pesca. O bacalhau salgado seco continua a ser o principal produto em termos de volumes de consumo, contudo as novas formas de apresentação deste produto como o bacalhau demolhado ultracongelado, as refeições pré-cozinhadas à base de bacalhau ou mesmo as conservas de bacalhau têm vindo a conquistar parcelas significativas do mercado, já que são muito práticas, factor muito importante nos dias actuais. As empresas cada vez mais conscientes da necessidade de se adaptarem às dinâmicas de consumo inovam na apresentação dos seus produtos, pois o consumidor tornou-se mais exigente. Só com esta dinâmica é possível, passados todos estes séculos, que o bacalhau com o sabor único da cura tradicional portuguesa se mantenha como um dos produtos de referência na dieta nacional e seja, igualmente, uma referência da cultura gastronómica portuguesa. Existe uma apetência crescente por produtos tradicionais e produtos gourmet, que, desta forma, conjugam na perfeição a tradição com a modernidade.
Fevereiro | 2011 | 0 9
» Especial
Fileira do Pescado
O Futuro do Mar (português)
“Nós sabemos, rigorosamente, aquilo que se capturou, por espécies e tamanhos. Há uma rastreabilidade e um conhecimento exaustivo de tudo aquilo que é feito na Costa Portuguesa relativamente ao peixe fresco”. É assim que Pedro Jorge, membro da Comissão da Fileira do Pescado começa uma entrevista, realizada a três, mas sempre em uníssono.
Pedro Jorge
T
odo o processo, desde a captura do pescado até à venda, é controlado e revisto. Quando os navios desembarcam no cais, é feito um controlo higiénico-sanitário. “Não há um que não seja visto, o comprador tem a garantia de que o peixe é fresco e que já foi feita uma inspecção prévia”, assegura Pedro Jorge. O passo seguinte é encaminhar o produto para a passadeira onde será feita a venda electrónica. O sistema é único no país e não deixa margem para dúvidas. O preço já inclui o IVA e cada comprador pode facilmente seleccionar e encontrar o pescado que mais lhe agrada. Vítor Nogueira, Director da Docapesca de Aveiro, garante que a organização e o bom funcionamento são comuns a todas as lotas: “os procedimentos são iguais, é uma única entidade que está em todo o país. E não se trata de um
10 |
Vitor Nogueira
Miguel Cunha
monopólio porque limita-se a promover o leilão”. Miguel Cunha, Presidente da Associação de Armadores de Pesca Industrial, subscreve a afirmação e acrescenta que “a Docapesca presta um serviço, chancela a boa qualidade do pescado através da Direcção Geral de Veterinária, do controlo das descargas, das quantidades. No fundo, tem o carimbo de uma entidade reguladora”. Para fazer frente às várias campanhas que vão surgindo ao longo dos tempos e que, insustentadamente, põem em causa a regeneração do pescado face à quantidade que se pesca nasceu a Fileira do Pescado com ajuda de produtores, armadores, comerciantes, a indústria do bacalhau, dos congelados e das conservas. “Nós queremos desmistificar essa imagem de que estamos a pescar para além dos limites. Temos regras, cumprimos essas regras, estamos enqua-
drados e temos preocupações de sustentabilidade, porque no fundo a nossa vida depende da existência de vida no mar”, diz. A Comissão Europeia estabelece os TAC’s – Totais Admissíveis de Captura – de modo a que as espécies mais vulneráveis sejam protegidas e se alcancem níveis de pesca sustentáveis. “A Direcção Geral das Pescas tem que avisar que atingimos os 70 por cento da quota e quando chegamos aos 100 tem que avisar que a pesca fechou. A Docapesca a partir desse momento não vende mais esse produto. É um garante do cumprimento dos TAC’s e quotas”, explica Pedro Jorge. Os estudos científicos são cada vez mais uma realidade no mundo da pesca, e Pedro Jorge é o primeiro a admitir a sua importância. “Nós somos os mais interessados em que haja estudos e pareceres científicos, desde que sejam
Fileira do Pescado
Especial «
credíveis, caso contrário podem pôr em causa toda uma actividade económica”. O caso mais recente e que está a causar mais problemas ao sector é o da pescada. Em 2005 foi implementado um plano de recuperação da pescada. Novos TAC’s foram estabelecidos e foram retirados dias de actividade. Hoje, a oportunidade de pesca da espécie está a crescer 15 por cento ao ano e a biomassa do stock já atinge números de recuperação nunca vistos. Mesmo depois da biomassa da pescada ter subido de 9 mil para 25 mil toneladas, Miguel Cunha continua a ter que lidar com as restrições à pesca. “Todos os dias há abundâncias extraordinárias de pescada, o preço caiu porque há muita pescada e em contrapartida dizem aos pescadores que não podem pescar, que têm que ficar em casa porque não há pescada. Isto é um contra-senso”, conta. “No nosso caso, do total de capturas de pescado apenas 5 por cento correspondem à pescada. Os outros 95 por cento de espécies é que garantem a actividade económica do navio e esta fica ameaçada quando os navios ficam inibidos de sair para o mar, por terem esgotado os dias de pesca autorizados (em 2010 apenas 158 dias). È importante salientar que esses 95% são constituídos maioritariamente por espécies não ameaçadas e cujos TACs nem sequer são esgotados”, conta Pedro Jorge. Miguel Cunha acredita que o problema reside na legislação. “A legislação da pesca comunitária é feita à medida do que se processa nos países do Norte, mas o Norte tem uma realidade de pesca completamente diferente da nossa. Eles dedicam-se à pesca de duas ou três espécies, nós pescamos 25 diferentes. Não faz sentido restringir a actividade para promover a protecção de uma única espécie quando nós pescamos 25. Este é outro dos problemas comunitários: fazem as leis à medida de um corpo que não é o nosso, adaptam a legislação e ela não se aplica”. Nos últimos anos, Portugal fez um grande esforço para se adaptar e seguir à risca todas as regras impostas pela Comissão. Reduziu o número de embarcações e viu diminuídos os dias de actividade de 260 para 158. Hoje, alguns recursos começam a dar sinais de grande crescimento e Miguel Cunha encara a situação de forma bastante simples: “cumprimos tudo o que nos foi exigido, está definido que em Portugal não existe sobredimensionamento de frota, não existe excesso de pescaria e, portanto, o que precisamos é que nos deixem trabalhar”. Pedro Jorge, por outro lado, sublinha que é necessário que “a comunidade europeia e o governo português se empenhem em criar as condições para que a actividade se desenvolva e conquiste o patamar a que tem direito”.
Fevereiro | 2011 | 1 1
Opinião »
DELPHINE DIAS - NUTRICIONISTA
Benefícios gerais do consumo de peixe Portugal é um dos países com maior consumo de peixe, especialmente de sardinha, carapau, salmão, pescada, faneca e bacalhau. O peixe é considerado um alimento de fácil digestão e rico nutricionalmente, por ser fonte de proteínas de elevado valor biológico, e rico em vitaminas do complexo B e minerais como o iodo, fósforo, sódio, potássio, ferro e cálcio.
A
sua gordura é considerada de melhor qualidade que a da carne, por ser rica em ácidos gordos insaturados e conter baixa proporção de ácidos gordos saturados. Alguns peixes, denominados peixes gordos (sardinha, salmão, garoupa, peixe espada preto, atum), são extremamente ricos em gordura polinsaturada, especialmente os ácidos gordos ómega 3. Estes ácidos essenciais ao nosso organismo devem ser componentes fundamentais na nossa alimentação. Estudos comprovam o papel protector do ómega 3 sobre o sistema cardiovascular e cerebrovascular, o seu papel preventivo sobre doenças como cancro, aterosclerose e Alzheimer. A falta de ingestão de ómega 3, por um período prolongado de tempo, tem sido associada com atrasos no crescimento, problemas de visão e distúrbios neurológicos. Actualmente, a recomendação nutricional para a população europeia, adulta e saudável, é o consumo de 1 a 2 porções de peixe gordo por semana. A Roda dos Alimentos, preconiza que o consumo total de carne, pescado ou ovos não deverá ser superior a 135g por dia. Devido ao seu contributo na promoção da saúde, é importante incentivar o consumo de pelo menos uma refeição diária de peixe. Um peixe que deve ser destacado, por ser muito apreciado pelos portugueses, é o bacalhau. Além das características comuns aos outros peixes, a gordura deste peixe é armazenada no fígado, de onde é extraído o conhecido óleo de fígado de bacalhau,
12 |
importante fonte de vitamina A e D. É considerado um peixe magro, no entanto, devemos retirar a sua pele, antes de o cozinhar, já que é aqui essencialmente, onde existe maior concentração de colesterol. Pela sua vasta aplicação culinária, utilizamos o peixe de mais diversas formas, fresco, congelado, seco ou em conserva. O peixe fresco, deve conter escamas brilhantes, olhos convexos e com a pupila negra brilhante, guelras cor rosa escuro e coloração brilhante, carne firme ao toque e agarrada às espinhas e odor moderado a maresia. Na hora de cozinhar, pode tornar este alimento ainda mais saudável se optar por métodos de confecção como grelhados, assados e estufados com pouca gordura, e cozidos. Há que ter atenção ao peixe seco, normalmente salgado, como o bacalhau, que deverá ser
bem demolhado antes de ser confeccionado, para redução do seu teor em sódio. O peixe em conserva também merece especial atenção, como é o caso do atum e a sardinha, tão usados em saladas no Verão. Representa assim uma forma interessante de consumir peixe, sendo, todavia, importante preferir as conservas ao natural. O peixe é juntamente com o marisco, inserido no grupo do pescado. O marisco, inclui os crustáceos (camarão, lagosta, caranguejo) e os moluscos (lula, polvo, amêijoa, berbigão), que, de forma geral, apresentam menor quantidade de proteínas e maior quantidade de colesterol que o peixe. Uma alimentação baseada na variedade poderá ser um bom contributo para melhorar a sua saúde, por isso seja criativo e procure incluir o peixe no seu dia alimentar.
CONSUMO Actualmente, a recomendação nutricional para a população europeia, adulta e saudável, é o consumo de 1 a 2 porções de peixe gordo por semana
Opinião «
EURICO MONTEIRO - EX DIRECTOR GERAL DAS PESCAS E AQUICULTURA
A Pesca e a Sustentabilidade
D
urante anos houve a convicção de que os recursos pesqueiros dos Mares e Oceanos eram um dom inesgotável da natureza. O exercício da pesca pelo Homem, desde tempos imemoriais, aliado à utilização de fracos meios tecnológicos na sua prática, permitiram acalentar essa convicção. Porém, o advento da revolução industrial acarretou uma grande evolução da tecnologia pesqueira, traduzida, nomeadamente, numa alteração substancial no que respeita à propulsão dos navios de pesca, o que permitiu alargar as respectivas áreas de operação. Foram, também, introduzidos sistemas de congelação a bordo que resolveram, em boa parte, as questões de conservação colocadas pela natureza perecível do pescado. Paralelamente, a disponibilização de eficazes meios de transporte aproximou os locais de captura dos locais de consumo. Todos estes factores tornaram a pesca muito mais eficiente e contribuíram para um aumento exponencial do consumo e, concomitantemente, das capturas. Evidenciaram, porém, que, afinal, os recursos vivos dos Mares e Oceanos são esgotáveis. A pesca tem, naturalmente, impacto no estado dos recursos. Mas não podemos esquecer que outras actividades humanas produzem idênticos efeitos. As emissões de gases nocivos para a atmosfera, a poluição das zonas costeiras e os derrames petrolíferos, entre outros fenómenos, têm consequências desastrosas para os ecossistemas marinhos, afectando-os de forma muito significativa. A crédito das pescas não podemos, no entanto, deixar de invocar que se trata de uma actividade económica com enorme peso a nível do emprego (um emprego no mar cria quatro empregos no sector secundário), da dinamização de inúmeras comunidades costeiras e do fornecimento de proteína de elevada qualidade para a alimentação humana. A FAO estima que, de forma directa ou indirecta, e considerando as pessoas a cargo, cerca de 520 milhões de pessoas são tributárias do
sector das pescas, ou seja, cerca de 8% da população mundial. E o pescado contribui com 15% para o total de proteínas animais destinadas ao consumo humano. A produção mundial da pesca extractiva (captura) cifrava-se, nos anos 50, em 17 milhões de toneladas, duplicando no espaço de uma década e quadruplicando nos anos 80 (70 milhões de toneladas). A II Guerra Mundial funcionou como um período de “defeso de pesca”, permitindo que as capturas aumentassem, posteriormente, de forma substancial. Essa intensa exploração conduziu, como não podia deixar de ser, a uma situação de empobrecimento de alguns dos principais pesqueiros mundiais. Contra este estado de coisas começaram a ouvir-se algumas vozes e foram, unilateralmente, tomadas algumas medidas que, contestadas inicialmente, estão hoje consagradas a nível internacional. Refira-se, por exemplo, a posição de alguns países sul-americanos, a qual esteve na origem do inovador conceito de Zona Económica Exclusiva (ZEE). Finalmente, em 1967, na Assembleia Geral das Nações Unidas, foi decidida a convocação
de uma conferência internacional marítima para analisar as novas problemáticas ligadas aos Oceanos. A decisão foi tomada após uma importante intervenção do representante de Malta, Embaixador A. Pardo, que classificou as riquezas dos fundos do mar como Património Comum da Humanidade. Estava em marcha a Conferência da Lei do Mar. Iniciada em Caracas, em 1974, veio a culminar na aprovação da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), em 1982. A Convenção lançou os alicerces de uma nova ordem baseada na exploração prioritária dos recursos costeiros pelos nacionais dos respectivos Estados e na exploração dos recursos do Alto Mar de forma regulamentada e controlada. Pede-se aos armadores uma pesca responsável e exigem-se-lhes profundas alterações nos respectivos padrões de actividade. Portugal e o sector pesqueiro português – armadores e pescadores, aquicultores e indústria transformadora – vêm-se adaptando, desde então, às novas realidades, tendo em vista o objectivo de que os recursos halieuticos, sendo esgotáveis, possam ser explorados de forma sustentável.
C R E S C I M E N T O A produção mundial da pesca extractiva (captura) cifrava-se, nos anos 50, em 17 milhões de toneladas, duplicando no espaço de uma década e quadruplicando nos anos 80 (70 milhões de toneladas).
Fevereiro | 2011 | 1 3
» Ponto de Vista
Mútua dos Pescadores – Mútua de Seguros
Que seguros? “Um segundo, dois segundos, e estão salvos… Mas a onda quebra. Desaba em catadupa e outra enrodilha-os logo.” in “Os Pescadores” de Raul Brandão
“Os nossos mares continuam, hoje, a provocar a dor e o luto entre as comunidades piscatórias. O último Inverno, rigoroso e prolongado, vitimou muitos pescadores e constituiu um flagrante e triste exemplo”, como revela Adelino Cardoso, Director da Mútua dos Pescadores.
P
odem os seguros resolver este problema? Incarte (I): Adelino Cardoso (AC): Nada consegue contrariar, na totalidade, os efeitos psicológicos de uma incapacidade permanente. E nada pode eliminar o sentimento de perda do desaparecimento de um ente querido.
é de 10 anos) para começar a pagar as pensões por morte, desaparecimento, ou invalidez permanente que ocorram na actividade profissional do pescador, mesmo que não sendo no mar. Logo que a situação não deixe dúvidas a Mútua dos Pescadores começa, imediatamente, a pagar as pensões e outras prestações devidas aos herdeiros.
I: Qual o papel da entidade seguradora? AC: A actividade seguradora pode e deve intervir noutros planos: no aspecto preventivo, no domínio da reparação, no âmbito da reabilitação e reintegração profissional, na área das responsabilidades, substituindo-se aos armadores e na protecção do património.
I: Que mensagem deixa a todos os intervenientes no sector piscatório? AC: A grande extensão e valor da costa lusitana; a forte tradição marítima do país; o elevado consumo de peixe per capita; o contributo do sector e das actividades para o PIB e para o emprego e a protecção das comunidades ribeirinhas justificam plenamente que se apoie a pesca e os seus profissionais. O Estado, as organizações do sector, os armadores, os pescadores, a Marinha, as seguradoras e os restantes actores na matéria, devem acentuar esforços e aprofundar sinergias, para que a pesca seja mais rentável, mais racional e, sobretudo, mais segura!
I: Qual a vantagem de pertencer à Mútua dos Pescadores? AC: Uma faceta importante da Mútua dos Pescadores é que não espera pelo prazo legalmente estabelecido (que, na generalidade das situações,
14 |
» Ponto de Vista
FLUXOIBÉRIA – Mobiliário de Escritório
Desafios, Exigências e
Pavilhão Fluxoibéria
“A FLUXOIBÉRIA nasce de um projecto familiar que se transformou num produto nacional. É uma empresa ambiciosa, com vontade de crescer e mesmo num ano de crise mantivemos a nossa média de 20 por cento. A Fluxoibéria pretende abranger o mercado nacional e estar sempre a competir pela excelência”. Palavras que concluíram a entrevista com José Pereira.
A
Loja Porto
16 |
entrada mostra o final de uma conversa onde José Pereira, o administrador da empresa de mobiliário, traçou os objectivos que pautam a forma de estar no mercado desde a sua criação em 1996. De Fafe conquistam Portugal com ideias regionais e do Mundo, pensar global e agir local é a forma de estar que marca o empreendedorismo familiar. “Quando pensamos na projecção nacional houve a necessidade de criar uma imagem mais forte”, acrescenta o entrevistado. Os desafios são superados desde o primeiro momento, quando ainda davam os primeiros passos que consolidaram o crescimento sustentado, uma postura mais agressiva e direccionada, abranger o mercado no seu todo. Lojas em nome próprio e parcerias são visíveis no Porto desde 2005, em Lisboa e futuramente no Algarve. “Nas parcerias procuramos e somos
procurados na mesma área de negócio. Associamo-nos a empresas que também querem crescer e desta forma procuramos abranger melhor o mercado”. Para José Pereira uma presença forte, activa e constante é a única resposta que têm para reforçar a sua presença e poderem satisfazer os clientes. Projectos actuais ou futuros estão vocacionados para grandes contas. “Queremos fornecer a totalidade do recheio. Com um forte empenho em áreas como creches, lares, escolas primárias, e obras publicas, por exemplo, que são sectores em crescimento e desenvolvimento em Portugal.” No site, um cartão-de-visita da empresa, podemos observar o crescimento e desenvolvimento da Fluxoibéria. Alargaram horizontes e não fornecem apenas secretárias e mesas mas oferecem uma panóplia de soluções, capaz de mobilar o escritório do mais exigente CEO, uma
FLUXOIBÉRIA – Mobiliário de Escritório
Ponto de Vista «
Respostas José Pereira Administrador
biblioteca ou até um dos maravilhosos hotéis do Dubai. “Qualidade, rapidez na resposta e serviço personalizado”, fazem parte da missão e da estratégia de José Pereira e dos seus colaboradores. “Qualidade” no material a começar pelos fornecedores e na execução dos trabalhos. “Há produtos que a nível nacional ainda não têm a garantia que queremos mas privilegiamos os produtos e empresas nacionais que depois desenvolvemos”, explica o empresário que valoriza o selo de garantia português. “Rapidez na resposta” afinal prestam um serviço, fornecem produtos e apresentam soluções desde o primeiro contacto. “Serviço personalizado” pois cada resposta é à medida do cliente e dos seus desejos. Para José Pereira a situação actual da economia portuguesa e do mercado é vista como um oportunidade de destaque, de fazer mais e melhor, de separar o trigo do joio e de alerta para todos os empresários. “A crise é uma oportunidade de negócio observada de uma forma muito objectiva. Vantagens e desvantagens. O essencial é sermos profissionais, dedicados, uma equipa organizada e muita formação. O empresário está completamente baralhado e nem per-
cebe o que a empresa tem de bom”. Palavras de quem analisa o mercado de forma pragmática e evita erros ou falhas. Formação, formação e formação tornou-se outras das palavras-chaves e das mais importantes na Fluxoibéria. Em média são uma dezena por ano, sempre em entidades especializadas, nas áreas de negócio e que permite um crescimento profissional e pessoal que torna-se visível no desenvolvimento de um colectivo e de afirmação. Estas foram as respostas à crise, para além, de atitude positiva, empenho nos negócios, arranjar soluções para não ficarem focados nas dificuldades e um processo de Certificação. “Trouxenos algo de muito bom e distingue-nos da concorrência. A certificação é muito importante não pelo que representa o logótipo mas pelos métodos de trabalho. É exigente, demorado mas optimizador de funções onde cada funcionário tem a consciência exacta da sua tarefa”. Vocacionados e apostados no mercado nacional pois em “Portugal ainda existe muito a explorar”, as feiras internacionais servem para analisar tendências, novos produtos, observar oportunidades de negócio e manter as pessoas informadas, desde os criativos aos clientes.
As novas tecnologias cada vez mais em uso nos materiais que a Fluxoibéria fornece são encaradas com optimismo, determinação e bem-vindas pois desenvolvimento e modernidade são mais-valias. Showroom, site e publicidade focalizadas e bem associadas são factores de destaque. A fluidez da comunicação passa por tornar-se visível não só para os actuais clientes mas captar os indecisos, mostrar quem são, os produtos e métodos de trabalho. “O site dá-nos visibilidade, de facto somos muito consultados e visitados mas isso não chega. A verdadeira máquina de trabalho é a equipa da Fluxoibéria. Os interessados chegam rapidamente ao site e ao produto mas depois temos de saber responder com uma equipa capaz e dinâmica”, esclarece José Pereira. Afinal na Internet descobrem-se muitas empresas e é preciso, a posteriori, acompanhar, serem profissionais e dedicados ao voto de confiança do cliente. “Nós somos muito cuidadosos nesse tipo de abordagem e tentamos sempre transmitir confiança”. Este é o segredo do negócio familiar de Fafe à dimensão nacional, a resposta segura para que o negócio se desenrole e a satisfação seja mútua.
Fevereiro | 2011 | 1 7
PUB
SEDE
LOJA 1
LOJA 2
Zona Industrial do Socorro Lote 65 - 4824 - 909 FAFE Telf. 351 253 700 730 Fax. 351 253 700 739
Rua de Cavadas, 369 4820 - 099 FAFE Telf. 351 253 700 731 Fax 351 253 700 099
Zona Industrial do Socorro Lote 65 4824 - 909 FAFE Telf. 351 253 700 730 Fax. 351 253 700 739
» Desfrutar
Câmara Municipal de Almeida
Almeida: Uma estrela Ibérica
A estrada que leva ao interior do forte é estreita e une as duas extremidades do fosso que, em tempos, dificultava o acesso do agressor. O ar que se respira é frio, pesado e quase imperceptível perante a riqueza que invade os olhos. E não é por acaso que Almeida tem o formato de uma estrela, é que a fortaleza é tão cintilante como os astros do céu.
C
António Ribeiro, Presidente
20 |
olada ao Oeste de Espanha, só em 1297, com o tratado de Alcanices, Almeida passou a integrar o território português e as marcas do domínio castelhano fazem parte de cada pedaço da terra. Enquanto os reis lutavam entre si, as populações conheciam-se, aproximavam-se. “A nossa fronteira não tinha grandes barreiras físicas. Portugueses e espanhóis sempre conviveram, sempre fizeram as suas trocas comerciais. As marcas ficaram: a própria língua, de raiz latina, não é assim tão diferente e facilita a comunicação”, conta António Ribeiro, Presidente da Câmara. António Baptista Ribeiro é um filho da região. Foi Presidente de Junta oito anos, vereador durante doze e está no segundo mandato como Presidente da Câmara. “Tive que sair para estudar, e quando regressei não foi com a intenção de me dedicar à política. Depois as
coisas proporcionaram-se e já levo metade da vida dedicada à autarquia”, relembra. A experiência, de cerca de trinta anos, fê-lo conhecer de cor os problemas e as dificuldades do interior do país. “Tivemos um grande despovoamento devido à emigração. Há aldeias no Concelho que tinham mil habitantes e ficaram reduzidas a meia centena de famílias”, garante o autarca. A população idosa ultrapassa os 60 por cento e vive com algumas dificuldades sobretudo devido às pensões baixas. O presidente tenta, a todo o custo, combater a situação. “Neste momento vamos ter que ser mais eficazes a dar respostas aos problemas mas isso dá-nos mais alento para continuar a trabalhar”, assegura António Ribeiro. O autarca tem as prioridades bem definidas e quer fortalecer, sobretudo, áreas como a educação e a acção social porque considera que “independentemente da obra que se faça
Câmara Municipal de Almeida
o mais importante são as pessoas”. As obras estão à vista, os melhoramentos fazem-se notar e Almeida é “a jóia da arquitectura militar abaluartada das melhores conservadas no mundo”. O trabalho é todo feito com as ajudas que recebem dos fundos comunitários, “sem isso não seria possível porque o município não tem recursos nem fundos próprios para dar esse tipo de respostas”, certifica o Presidente. Os equipamentos, a rede viária, as infraestruturas são fruto dessas ajudas. E sendo Almeida um pedaço importante da História Nacional, o património não é descurado. O posto de turismo, o centro de estudos de arquitectura militar, o picadeiro, e as casamatas são exemplos dessas obras de conservação e restauro e, paralelamente, construíram-se pavilhões gimnodesportivos, o auditório, Multiusos de Vilar Formoso, as termas da Fonte Santa”, que permitem dar às pessoas “um pouco mais do que o património recuperado”. Mas o importante não é só cativar quem visita Almeida e António Ribeiro quer, acima de tudo, dar qualidade de vida à população. “Penso que soubemos aproveitar os fundos comunitários até ao último cêntimo”. Todos os anos chegam a Almeida milhares de visitantes, e as recriações históricas têm um
papel importante na atracção de turistas. As festas duram normalmente quatro dias e têm os mais variados temas. “Tentámos não ser muito repetitivos e diversificar. Já realizámos recriações da explosão do castelo, da batalha do Côa no dia 24 de Julho, da batalha de Fuentes de Onoro e Alto dos Ataques em Vilar Formoso e de Freineda onde o Wellington teve o seu Quartel-general. Em 2010 comemorámos o Bicentenário da Guerra Peninsular e explorámos vários cenários como a ponte do Côa no local onde aconteceu a Batalha e com a presença de mais de meia centena de recreadores”, diz. Apesar de já se terem aventurado por terras de Espanha em algumas recriações, “Almeida é mais apoteótica porque a própria envolvência da fortaleza e os cenários são mais ricos”. Há tantos anos ao serviço da população, António Ribeiro não se orgulha de nada em especial da obra realizada. “Acima de tudo não me envergonho de nada”, conclui. Em Almeida cada pedra conta uma história, cada árvore esconde um segredo, cada edifício uma tradição. Disfarçada a 760 metros de altitude, no distrito da Guarda, a região é um escancarado livro de história pronto para ser devorado.
Desfrutar «
Aldeia de Castelo Bom
Aldeias Históricas Almeida e Castelo Mendo são as duas aldeias históricas da região mas muito diferentes uma da outra. Enquanto uma é uma aldeia medieval, a outra é uma construção do abaluartado“. As duas têm a sua beleza, as suas raridades mas completamente diferentes”, avança o presidente, que lamenta que em Castelo Mendo não haja iniciativa privada para dar impulso à antiga vila histórica. “Não temos um restaurante nem uma loja de artesanato e penso que face ao número de visitantes que tem (quem visita Almeida visita Castelo Mendo) deveriam ser aproveitados os recursos, coisa que, até à data, não aconteceu. Apareceram agora duas candidaturas de Turismo Rural, esperemos que seja o pontapé de saída para mais uma iniciativa privada”, remata.
Aldeia de Castelo Mendo
Castelo de Almeida Em 1810, durante a Guerra Peninsular, o antigo castelo de Almeida foi destruído depois da explosão do Paiol. O presidente relembra que “os franceses lançaram uma granada de obus para o castelo que funcionava como paiol, o que provocou acidentalmente a sua explosão”. Morreram cerca de três mil pessoas entre civis e militares e para além do castelo, tudo o que o rodeava foi pelos ares. Hoje ainda é visível em ruína o fosso e a estrutura base do castelo.
Fevereiro | 2011 | 2 1
» Desfrutar
Junta de Freguesia de Castelo Rodrigo
A Aldeia que guarda e preserva a história
Pedro Darei Presidente
Castelo Rodrigo é uma freguesia portuguesa do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo situada numa elevação de 820 metros. Guarda entre as suas muralhas monumentos que representam fragmentos da história de Portugal. 22 |
A
Igreja Matriz, fundada no séc. XIII, é um exemplar da transição entre o românico e o gótico. O Pelourinho, do séc. XVII, foi classificado Monumento Nacional em Julho de 1922. O Poço Cisterna composto por uma porta de arco em ferradura e a outra de arco quebrado, servia de defesa da fortaleza quando cercada, isto no séc. XIII. O Convento de Santa Maria de Aguiar, datado do séc. XII/XIII, foi o centro principal do desenvolvimento agrícola, cultural e religioso da região. Hoje funciona como unidade de Turismo de Habitação designada por Hospedaria do Convento. O Chafariz da Casqueira, fonte de estilo Maneirista com frontão curvo, integra o brasão da aldeia de Castelo Rodrigo. Já dentro da cintura amuralhada da aldeia podemos ver o Palácio Cristovão de Moura, símbolo do domínio filipino e da opressão sofrida pelos portugueses que viviam com grandes dificuldades na altura. Aquando da restauração da independência em 1640, o povo de Castelo de Rodrigo revolta-se e manifesta o seu descontentamento incendiando o palácio, que permanece em ruínas até à actualidade.
Hoje este espaço simbólico serve de palco a muitos dos eventos culturais e recreativos promovidos pela Casa da Cultura de Figueira Castelo Rodrigo e pelo Posto de Turismo de Castelo Rodrigo, que também é responsável pela organização de visitas guiadas á aldeia.
Uma realidade histórica Desde a entrada no Programa Aldeias Históricas de Portugal a freguesia e a sua riqueza histórica têm sido alvo de várias intervenções. Foi celebrado um protocolo entre a Câmara Municipal de Figueira Castelo Rodrigo e o IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico) que tem como principal objectivo garantir a preservação não só dos monumentos como das próprias casas da aldeia, que mantêm uma traça medieval. Anualmente passam por Castelo Rodrigo inúmeros turistas, provenientes de vários pontos do mundo e que repetem a experiência mais do que uma vez, prova de que é uma freguesia que merece ser conhecida e visitada. O Presidente da Junta de Freguesia de Castelo Rodrigo, Pedro Darei, mostra-se bastante satisfeito com a
Junta de Freguesia de Castelo Rodrigo entrada da freguesia no Programa das Aldeias Históricas e com todas as intervenções realizadas até ao momento. Como salienta, “foi algo que trouxe dinamismo e deu vida à aldeia, trouxe muitos turistas, mas mesmo assim continuamos a sofrer da desertificação e da falta de emprego para os nossos jovens”. Esta é uma freguesia envelhecida que apesar de ter produtos de qualidade como o azeite, a amêndoa, a castanha, as nozes e os figos, a população já não consegue viver só da agricultura. Os jovens têm de procurar emprego na pouca indústria que ainda sobrevive à crise e na construção civil. Mesmo o turismo não deixa muita riqueza na terra já que os vários turistas que passam pela aldeia vão dormir à nossa vizinha, Espanha. Para Pedro Darei “era importante a construção de um Hotel em Barca d’ Alva, por exemplo, de forma a
Desfrutar «
alojar os turistas”. A aldeia de Castelo Rodrigo tem duas casas de turismo rural, a Casa Cisterna e a Casa do Baldo, mas não são suficientes para alojar os muitos visitantes. Este Presidente está a cumprir o seu primeiro mandato e é a primeira vez que está ligado à política. Ainda está na fase de adaptação mas já traçou prioridades para a aldeia. A curto prazo pretende construir um parque de estacionamento, alargar a internet a toda a freguesia e completar o Parque de Campismo que actualmente só tem três bungalows e o objectivo é ter 60. Castelo Rodrigo, apesar de pequena continua a dar provas de força, sofreu, mostrando nas lutas que empreendeu, a ancestral valentia dos seus habitantes. Os seus monumentos patentes por toda a vila tornam este local inesquecível.
PUB
Fevereiro | 2011 | 2 3
» Desfrutar
Junta de Freguesia de Lamas
Centenário da Banda vai ser motivo de festa
Lamas, é uma freguesia Transmontana do concelho de Macedo de Cavaleiros, conhecida até 01/07/2003 por Lamas de Podence, a revista INCARTE foi recebida por dois presidentes. O Presidente da Junta da freguesia de Lamas, Manuel Pinto, e o Presidente da Associação Banda 25 de Março, António Vila Franca, uma entrevista com as forças vivas da freguesia. Um retrato actualizado da freguesia e da Banda cujo centenário, a 25 de Março de 2011, é motivo de festa.
A.B 25 de Março
José Fernandes (tesoureiro), Manuel Vila Franca (secretário), António Vila Franca (Presidente da A.B 25 de Março), Manuel Pinto (Presidente da Junta de Freguesia de Lamas)
L
amas, conta com 349 Eleitores, e 42 elementos na Banda Filarmónica. Estes são os números da interioridade mas que não assustam quem luta para que a freguesia tenha as condições necessárias para os seus habitantes e para o passatempo favorito que encanta miúdos e graúdos. Lamas é atravessada pelo actual IP 4, situando-se na saída norte para Macedo de Cavaleiros, donde dista apenas sete quilómetros. É uma freguesia essencialmente agrícola e a vista perde-se pelo verde dos campos que a rodeiam mas tem serviços como minimercados, cafés, carpintaria, serralharia, empreiteiros de construção civil, empresa de transportes e um restaurante residencial. Para além da Associação Banda 25 de Março existe também a Associação Cultural, Recreativa e Des-
24 |
portiva de Lamas que milita, com a sua equipa de futebol, na primeira divisão de Honra da Distrital de Bragança. “Temos alguns jogadores da freguesia e depois como é hábito nas grandes equipas fazemos contratações fora”, brinca o Presidente que reconhece orgulhoso o trabalho realizado. “Foi fundado há muitos anos e com algumas excepções tem mantido a actividade regular na primeira divisão”. A produção agrícola destina-se, essencialmente, ao consumo pessoal de quem juntamente com outra actividade ainda semeia e granjeia os seus campos, um complemento de auto-suficiência. A castanha e a cereja, produtos de excelente qualidade são a maior fonte de rendimento dos agricultores da freguesia, enquanto a batata, cereais, vinho e outros produtos perderam rentabilidade, motivo pelo qual são produzidos essencialmente a pensar no auto-
consumo, explica Manuel Pinto. Esta vida agrícola que rodeia a Freguesia de Lamas é motivo de orgulho pois os ares puros são o principal registo médico de quem tem uma qualidade de vida saudável. “A qualidade de vida está num plano médio bom, porque felizmente estamos numa área agrícola de boa produtividade e as pessoas desde sempre tiveram um espírito guerreiro e trabalhador. Vivem, razoavelmente bem, mas é do esforço pessoal de cada um”, afirma orgulhoso. As condições básicas de vida na freguesia há muito que estão asseguradas e este executivo continua a certificar-se que não falta nada aos fregueses. Apenas o Bairro do Pontão (separado pelo IP 4 ) não está servido de rede de água nem de saneamento, mas será intervencionado aquando a conclusão das obras em curso da futura A 4, assim espera o Presidente. Para o resto do mandato os desafios são de carácter social. Vivem-se tempos de descobertas trágicas devido ao abandono social e a preocupação do executivo é garantir apoios à terceira idade. “A população idosa precisa de apoio. Mais do que um lar ou centro de dia era necessário um centro de noite. À noite as pessoas recolhem-se em casa e se há algum problema não têm ninguém que os socorra, que peça ajuda. De dia ninguém se sente desapoiado”. Uma mensagem de união para os seus fregueses onde o espírito de entreajuda e bairrismo saudável é necessário, um antigamente social dos tempos modernos.
Junta de Freguesia de Lamas “Quando olhamos para o vizinho devia ser com espírito de entreajuda pois amanhã posso ser eu a precisar. Só traz vantagens e num meio pequeno é essencial para funcionar bem”, esclarece Manuel Pinto que não esquece a banda filarmónica. “Para a banda esperemos que os vindouros comemorem mais 100 anos e que trabalhem como os seus antecessores. A banda é importante porque divulga o nome da freguesia. É uma escola na formação moral e cultural e nesse sentido traz virtudes e vantagens para todos”, conclui satisfeito.
Associação Banda 25 de Março A centenária banda, orgulho de toda uma freguesia, é oficial desde 1980 e reconhecida como utilidade pública. António Vila Franca, presidente há seis anos, confessa, “é um prazer enorme trabalhar com todos e espero que haja força para comemorarmos mais 100 anos”. Uma banda filarmónica do interior sofre do despovoamento, mas este colectivo tem 42 membros sendo a média de idades 24 anos. “O grande problema é a fixação de pessoas perto da freguesia para poderem continuar a tocar. Primeiro os estudos e depois a procura de emprego originam
a distância. As vias de acesso estão melhores mas o ideal seria viverem e trabalharem no Concelho”, explica. Têm 15 alunos na escola de música, que é grátis, e qualquer membro recebe o instrumento e a farda oferecidos pela Associação. 100 anos é uma data importante, que merece louvores e elogios, hoje já têm um autocarro para as deslocações mas no inicio os tempos não eram fáceis. Uma dádiva suada para muitos quando as ofertas eram poucas ao contrário da actualidade onde as distracções são muitas. “A banda ajuda-nos a formar homens, claro que têm de aprender música mas acima de tudo ajuda a formar pessoas. Têm de cumprir horários, assumir responsabilidades, entram num grupo com regras e, claro, são divulgadores de cultura”, conta António Vila Franca. Para o Presidente da Associação a falta de verbas origina que ainda não tenham editado um CD, como acontece com outras filarmónicas, um projecto a longo prazo. Neste momento é necessário melhorar as condições da sede e manter o espírito de união. “Acima de tudo conseguir manter este espírito de grupo para que todos possam ter o mesmo prazer da música e queiram entrar para a banda”.
Desfrutar «
Programa das comemorações do
Centenário da Associação Banda 25 de Março
25 de Março 19H – Missa de Acção de Graças pelos 100 anos da Associação Banda 25 de Março e pelos músicos falecidos presidida pelo Bispo da Diocese Bragança - Miranda D. António Moreira Fontes 21:30H – Concerto pela Orquestra do Norte 26 de Março 10H – Descerramento da placa invocativa do Centenário 14H – Grande Encontro de Bandas - Associação Banda 25 de Março - Banda Municipal de Alfandega da Fé - A Filarmónica Recreativa e Cultural do Brinço - Filarmónica Portuguesa de Paris (França) 18H – Lanche de Confraternização
Locais de interesse a visitar Capela De Nossa Senhora do Campo – Situada no monte do Facho, de onde se deslumbra um vista esplendorosa sobre os concelhos limítrofes e a barragem do Azibo. » Capela de São Sebastião; » Igreja Matriz datada do Séc. XVIII » Fonte de São Brás; » Cruzeiros
PUB
Fevereiro | 2011 | 2 5
PUB
Casa do Pão-de-ló A. Teixeira Pinto
Desfrutar «
O segredo da “madrinha” “Longe vai o ano de 1840, data que marca o início de um ícone da gastronomia regional de Arouca: o afamado Pão-de-Ló”, é desta forma que Pedro Tomé apresenta a história da mais antiga casa de Pão-de-ló de Arouca.
TIPOS DE DOCES Regionais: Pão-de-Ló em fatia (húmido) Pão-de-ló em bôla (enxuto) Melindres (Bolos de gema) Cavacas Conventuais: Roscas de Amêndoa Charutos de Amêndoa Barrigas de freira Bôla de S. Bernardo Morcelas Castanhas doces
ONDE ENCONTRAR O PÃO-DE-LÓ DE AROUCA: El Corte Inglês no Porto (junto ao Fluvial), Gaia, Coimbra, Lisboa (central e Parque das Nações) e Sintra.
H
á quase dois séculos, a “madrinha” confeccionava este doce para oferecer a quem devia favores. Numa época em que doutores, abades, juízes e bispos eram presenteados com este maravilhoso bolo, a “madrinha” passou o segredo à família e por isso, ainda podemos saborear as maravilhosas fatias de Pão-de-ló. “A madrinha dizia não ter segredos, apenas muita paciência e cuidados”, mas é certo que
este sabor divinal, tem qualquer segredo culinário. Os vizinhos conheceram o doce e começaram a requisitá-lo para, também, agradecerem favores. Pouco tempo passou até o famoso pão-de-ló passar a ser “um regalo de Natal e da Páscoa. Mesmo aos fins-de-semana, para as reuniões de amigos e famílias, o bolo passou a ser requisitado”, lembra o actual proprietário. A oportunidade de negócio surgiu e, em 1840, foi criado um pequeno comércio, a “Casa do
Pão-de-ló A. Teixeira Pinto”, que cresceu até aos dias de hoje. “O Pão-de-ló juntamente com o Mosteiro ainda permanecem os ex-líbris de Arouca”, salienta Pedro Tomé. Agora, com o GeoParque, as outras delícias gastronómicas e a paisagem, existem mais razões para visitar o concelho, mas o Pão-de-Ló será sempre uma das maiores referências desta região. A Casa de Pão-de-ló de Arouca, A. Teixeira Pinto, confecciona outros doces para além da famosa
fatia (húmida) e bola (inteira e enxuta). Além dos Doces Regionais confeccionados pelo próprio, a Casa do Pão-de-Ló comercializa ainda uma série de Doces Conventuais fornecidos por um amigo (ver caixa Tipo de doces). Nos 36 anos que se encontra à frente da casa, o proprietário não lamenta a crise e garante que a procura “é agradável, o turismo continua a ser elevado em virtude duma maior divulgação de Arouca quer a nível nacional quer internacional”.
PUB
Fevereiro | 2011 | 2 7
» Poder Local
Câmara Municipal de Arouca
A terra prometida… e a estrada esquecida Um santuário de beleza natural, sabores divinos e construções históricas, como o Mosteiro de Santa Mafalda. O frio característico de Arouca, nesta altura do ano, é facilmente combatido pela forma calorosa e acolhedora dos seus habitantes sempre disponíveis para bem receber os turistas.
E
nquanto Portugal procura soluções para a crise económica instalada, José Neves, Presidente da Câmara Municipal de Arouca, chama a atenção para o seu concelho, “somos um exemplo de gestão do dinheiro público”. O autarca explica que a fórmula utilizada para estarem fora da lista de autarquias endividadas, passa por “investir no que é necessário e esquecer coisas megalómanas, Arouca não reclama nada para além da estrada de ligação ao litoral”. Património geológico classificado pela UNESCO, a terra de José Neves só reivindica a estrada de acesso ao litoral. Certo de que esta falha não é da sua competência, José Neves tem visitado semanalmente o ministro e o secretário de Estado das Obras Públicas, com o objectivo único de conseguir que a estrada seja construída. “Há três décadas que nos é prometida e dos 23 km só foram construídos 10 km. Estamos fartos. Não vai demorar muito para que Arouca tome medidas no que respeita a um protesto vivo”, remata.
28 |
José Eduardo Ferreira Presidente
A boa prestação do F.C. Arouca
“Somos um exemplo para o país” Com as contas públicas optimistas e a previsão de um défice de 0 por cento em 2010, este concelho do distrito de Aveiro, é na voz do seu Presidente, um exemplo até para o Governo central. Arouca geriu o seu dinheiro em contra-ciclo, “na época das vacas gordas não engordou a sua estrutura, não criou empresas municipais e controlou sempre os orçamentos”. Agora, que os tempos se intitulam difíceis no resto do país, o concelho pode “atacar, com alguma tranquilidade e ter, este ano, o maior orçamento de sempre”. Quando questionado sobre a inexistência de empresas municipais, o autarca está certo de que o trabalho municipal é bem feito sem que elas sejam necessárias. “Admitiram pessoas em excesso e agora têm dificuldades financeiras e organizacionais, no próprio sector empresarial do Estado”. As boas infra-estruturas sociais e desportivas, a alargada indústria e a baixa taxa de desemprego (4,3 por cento) provam a boa gestão do concelho para o resto do país, “somente 10 por cento da população vive da Agricultura”. Apesar dos acessos ao litoral não
serem os desejados, o nível de desertificação é quase nulo. “Não chega a 1 por cento a baixa populacional nos últimos anos”, garante o Presidente. José Neves salienta que existem oportunidades e qualidade de vida em Arouca como em mais nenhuma no país, “temos fundos comunitários de apoio aos novos empresários: um programa específico para povoações com baixa densidade que permite aos jovens aceder a esses programas e a construir o seu próprio negócio”. A procura turística no concelho, também resulta noutra solução, “temos indivíduos que recuperaram aldeias para criar restaurantes e vivem disso, do campo e da terra”. José Neves compreende que se viva com alguma apreensão, pelas dificuldades que passa Portugal, mas quer que os arouquenses tenham esperança e confiança no concelho, porque “temos as finanças em ordem e portanto, vamos continuar a fazer bons investimentos e a criar condições para uma melhor qualidade de vida, apesar dos cortes orçamentais”. O autarca despediu-se, relembrando que tenham esperança na construção da estrada.
O clube liderado por Carlos Pinho, encontra-se nos primeiros lugares da Liga de Honra. Para o presidente da autarquia está é mais uma prova da boa gestão que se faz no concelho. “O clube está de parabéns e ao contrário do que muitos possam pensar a Câmara Municipal não lhe dá muito dinheiro. Apoiamos a formação, construímos um estádio com todas as condições, mas a boa gestão que tem sido feita é do clube!”
GeoParque Arouca www.geoparquearouca.com
É reconhecido pelo fantástico Património Geológico de relevância internacional, com particular destaque para as Trilobites gigantes de Canelas, para as Pedras Parideiras da Castanheira e para os Icnofósseis do Vale do Paiva.
Junta de Freguesia de Campanhã
Poder Local «
As Pessoas são as Freguesias Uma entrevista para falarmos de actualidade. Uma entrevista na freguesia com maior área territorial da cidade do Porto. Uma entrevista numa freguesia com mais população que muitos municípios. Uma entrevista com o rosto e a voz dos 50 mil habitantes de Campanhã.
P
ara Fernando Amaral a agregação de freguesias pode justificar-se porque algumas têm um número reduzido de habitantes. “O acordo entre as Juntas e o Município de Lisboa serve para aperfeiçoar os recursos existentes”, explica. No Porto também existiram reuniões com a mesma finalidade mas para o entrevistado antes de avançarem têm de defender a identidade de cada freguesia. “No sentido de optimizar justifica-se que algumas freguesias possam formar associações, com um presidente dessa área territorial, e continuem a ter os seus representantes”, continua não esquecendo que a realidade urbana é diferente das freguesias rurais. “Geralmente são freguesias mais distantes, especialmente no Sul, e têm de ir ao encontro do interesse das populações a quem esses órgãos autárquicos servem”, conclui Fernando Amaral. A regionalização, que voltou à agenda política, é segundo o entrevistado, um assunto delicado pois não pode ser chumbada outra vez pela sua importância. O tema da regionalização é para Portugal, (dos únicos países da Europa a não estar regionalizado), é um factor de estabilidade e deve ser encarado como tal. “De facto houve dificuldade na sua aplicação, no seu entendimento e explicação aos portugueses mas julgo que está tudo mais consensualizado no conjunto dos partidos. Depois de um estudo, devidamente alicerçado devemos caminhar nesse sentido. É extremamente importante e, no caso da região Norte e da cidade do Porto, que este assunto seja discutido e aprovado”, acrescenta. Para falarmos de Campanhã as palavras são sempre poucas afinal estamos a entrevistar o Presidente, cuja freguesia comporta a maior área geográfica. da cidade. Uma zona comum 14 bairros sociais, cujo senhorio é a autarquia mas quem contacta diariamente com a população é o executivo de Fernando Amaral que conhece cantos, recantos e as várias sensibilidades desta massa populacional.
A pobreza sempre existiu e, para o autarca, não pode ser usada para atingir outros fins. Com 50 mil habitantes e fora do eixo central, a freguesia de Campanhã, tem feito a sua intervenção no sentido de melhorar a qualidade de vida dos seus fregueses. “A maior parte das nossas capacidades financeiras têm enfoque na acção social. Nós devíamos ser apenas um complemento, de outros órgãos institucionais, mas como somos os mais próximos da população, somos aqueles a quem recorrem para providenciar as soluções aos seus problemas”. Esta problemática é uma espada de dois gumes não podem socorrer todos ao mesmo tempo mas “também é consolador podermos minorar e ultrapassar as dificuldades apresentadas. Trabalhamos com as forças vivas: Instituições, associações, paróquias e com todos os que trazem uma mais-valia e gosto por ajudar”. “Tendo em conta as dificuldades actuais, estabelecemos uma pareceria com a Cruzada de Bem Fazer de Campanhã, que com o projecto Sopa da Cruzada, confeccionam e distribuem a mesma no centro de dia, rentabilizando esta espaço depois da hora normal de funcionamento e providenciando mais uma ajuda às necessidades das famílias carenciadas.”, Exemplifica o Presidente. Uma população envelhecida é o rosto de Campanhã, dado que grande parte dos jovens deixou a cidade. Uma freguesia heterogenia e com rácios sociais. “Na zona superior têm um tecido social mais abastado, depois temos as zonas dos bairros sociais e ainda uma parte rural. Somos, portanto, uma mescla e temos de trabalhar com todos porque uma freguesia é um conjunto de pessoas e tentamos servir cada uma delas de forma diferente e ir ao encontro das dificuldades que apresentam”. Este são, alguns, dos objectivos de Fernando Amaral e do seu executivo, esta é a fórmula que os motiva a trabalhar todos os dias por Campanhã e com Campanhã. Servir e superar as dificuldades
Fernando Amaral Presidente
PUB
Fevereiro | 2011 | 2 9
» Poder Local
C¤mDra Municipal de Vila Velha de Ródão
Arte Rupestre:
Um Património Europeu Um património de data inconclusiva devido à sua riqueza pois cada descoberta é mais um achado, passível de milhares de anos. Um património nacional de valor europeu pois na Península Ibérica não há outro local conhecido com 40 quilómetros de arte rupestre. Um património no Alto Tejo que é a Arte dos povos paleolíticos e neolíticos.
30 |
O
“
facto de termos este património natural submerso ainda nos dá mais vontade de o expor, de o dar a conhecer”. Estas são as palavras de quem vive intensamente o seu município, a sua riqueza cultural e luta constantemente para que cada descoberta seja visível e ultrapasse fronteiras naturais e artificiais. A candidatura a formalizar, em 2011, por Maria do Carmo Sequeira, Presidente da Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão, e outras entidades, pretende que o Complexo de Arte Rupestre do Vale do Tejo (CARVT) seja reconhecido e classificado como Património Cultural de Interesse Nacional. Riqueza maior do Tejo superior, as mais de 40 mil gravuras rupestres perdem-se nas paisagens naturais que deleitam quem vive na Beira Interior ou visita a região. Esculpidas a maior parte por picotagem no xisto, as gravuras apresentam quatro motivos principais: antropomorfos (humanos), zoomórficos (animais), geométricos (figurativos) e indeterminados. “Quem fez a descoberta, o Dr. Paulo Caratão Soromenho, percebeu o seu valor: um vasto santuário. Deu o alerta e as equipas de arqueólogos começaram a fazer o levantamento - ficaram conhecidos como a “Geração do Tejo”, adianta a autarca. Uma descoberta regional de importância mundial. As primeiras catalogações, na década de 70, não foram suficientes para travar o “desenvolvimento” em construção: a Barragem de Fratel. Esta geração de especialistas fez o levantamento possível das gravuras, mais de 1500 moldagens em látex, contra a força das águas encurraladas nas paredes da barragem que começava a encher. “Nesta altura deu-se a feliz coincidência do res-
ponsável do Instituto de Tecnologia Educativa, o Inspector Baptista Martins, também presidente da Câmara Municipal, conseguir, ainda, fazer um filme e, por isso, sabemos o que temos submergido”. O Complexo de Arte Rupestre do Vale do Tejo está dividido como uma espécie de museu ao ar livre itinerante: existem gravuras totalmente submersas, que não são visíveis em nenhuma altura do ano, e as outras. “Será interessante saber como é que depois de tanto tempo afundadas elas se encontram, pois sabemos como estão as de S. Simão, que ora estão submersas ora visíveis. E depois temos um núcleo, a jusante da Barragem de Fratel, sempre visível” explica a Presidente empenhada em divulgar e partilhar um património riquíssimo.
Para Maria do Carmo Sequeira existem factores culturais para além do desenvolvimento económico, que pode advir pelo turismo. Este Património Cultural de Interesse Nacional será divulgado através de um Centro Interpretativo que concilia arqueologia, geologia e geomorfologia. “Como Presidente da Câmara, e pessoa sensível à cultura, compreendo que seja importante a valorização por várias razões: PRESERVAR o que é possível, e DAR A CONHECER o que está à superfície e submerso”. Estas são ideias que fundamentam a candidatura, efectuada em Vila Velha de Ródão: para poder salvaguardar a história da Humanidade. A história da Península Ibérica. A história Nacional que nasce nas pedras desta história local.
Maria do Carmo Sequeira Presidente
C¤mDra Municipal de Vila Velha de Ródão
1
IMPORTÂNCIA DA DESCOBERTA EM 1971 E DO TRABALHO REALIZADO?
António Martinho Baptista Arqueólogo, especialista em Arte Rupestre
João Carlos Caninas e Francisco Henriques Arqueólogos da Associação de Estudos do Alto Tejo
2
Poder Local «
ARTE RUPESTRE VS BARRAGEM. ERA POSSÍVEL A SITUAÇÃO CONTRÁRIA, NÃO CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM?
Foi a mais importante descoberta da arte rupestre, em território português, até à revelação da Arte do Vale do Côa, em 1994. Objecto de um importantíssimo trabalho de salvamento conduzido em campanhas sucessivas desenroladas entre 1971 e 1973 e depois esporadicamente até 1978. Hoje pode considerar-se a chamada “Geração do Tejo” como a primeira grande escola de arqueologia rupestre (e não só) em Portugal. O trabalho persistente dessa geração frutificou no seu contributo decisivo ao estabelecimento de uma arqueologia científica e profissionalizada.
A censura não permitiria um debate aberto e mais ou menos apaixonado como o que se aconteceu, a partir de finais de 1994, no processo Côa. Os tempos, também, não estavam maduros para uma opção tão radical, como a não construção de uma barragem já em acelerado processo de execução. Para a criação de energia há este meio e outros alternativos, mas a memória históricaarqueológica, que no Fratel, foi afogada é exemplar único e irrepetível na sua ambiência primigénia.
A descoberta de mais de 10.000 gravuras rupestres pré-históricas foi ímpar, sem paralelo em Portugal até essa data, de elevado valor científico, de grande dimensão e, sobretudo, com uma escala, de importância europeia. Só foi ofuscada, cerca de 20 anos depois, pela descoberta da arte rupestre do Côa. A descoberta acabou por ter um impacte positivo na Arqueologia portuguesa, pelo efeito anímico nos seus protagonistas. Importa lembrar a tutela científica através de uma pessoa excepcional, o arqueólogo Eduardo da Cunha Serrão.
Parece-nos que não. A decisão de construção estava tomada e o achado foi fortuito. Podia nem se ter dado a sua descoberta, se aqueles jovens, que de Lisboa rumaram a Ródão para estudar a ocupação paleolítica dos terraços do Tejo, não tivessem tropeçado na confirmação da pista que o etnólogo Paulo Caratão Soromenho deu a Francisco Sande Lemos, seu genro.
PUB
Fevereiro | 2011 | 3 1
» Poder Local
Junta de Freguesia Santo Amaro
A aldeia escondida em Trás-os-Montes Santo Amaro, freguesia do Concelho de Vila Nova de Foz Côa, faz parte da lista de aldeias transmontanas marcadas pela desertificação e pelo abandono. Escondida entre as montanhas e sem oportunidades de emprego conta apenas com 105 eleitores e muitos deles já não vivem na aldeia.
José Luís Ferreira Presidente
J
osé Luís Ferreira, Presidente da Junta de Freguesia de Santo Amaro, tem saudades dos tempos em que ainda havia vida na aldeia, “os mais jovens foram à procura de novas oportunidades e esqueceram-se das raízes”, refere. Esse abandono resultou no envelhecimento da população, acima dos 75 anos, na falta de crianças, a escola já fechou há 10 anos, na extinção de qualquer tipo de associação e no silêncio. Em pleno dia só se ouvem os sinos da igreja a assinalar o passar das horas. Vinho, Azeite e Amêndoa são os produtos de eleição. Todos eles de excelente qualidade mas sem forma de escoamento. São utilizados para consumo próprio e em anos de boas colheitas vendidos a cooperativas. “Mesmo a agricultura já não traz riqueza à freguesia, a concorrência é muita e já ninguém quer os nossos produtos”, diz com alguma mágoa o Presidente. A cumprir o seu segundo mandato já foi responsável pela construção de 200 metros de calçada, pela abertura do Centro de Convívio, um espaço acolhedor, com computadores, livros, televisão, café, jogos,
só falta mesmo a Internet. Algo que vai ser colocado em toda a aldeia, brevemente. Recentemente acolheram o projecto “Saúde sobre Rodas”, onde são visitados por enfermeiros que prestam diversos serviços, têm também a possibilidade de consultar um psicólogo, mas era de um médico que esta população precisava. As forças já não são muitas e os meios para se deslocarem também não, daí a necessidade de receberem um médico, pelo menos uma vez por mês. Para o futuro José Luís Ferreira tem alguns projectos como: A transformação da escola que fechou numa residência de Turismo Rural, contribuindo assim para chamar gente à terra, principalmente no Verão. Também quer melhorar um dos principais locais de interesse, o Miradouro da Mata dos Carrascos, com casas-debanho e luz eléctrica. Pretende ainda abrir caminhos de acesso a vários terrenos de cultivo, já que actualmente os proprietários só conseguem lá chegar a pé. Na perspectiva deste transmontano “o mais importante é cuidar daqueles que ficam e de lhes garantir qualidade de vida”, são as pequenas obras que fazem história nesta aldeia escondida.
PUB
34 |
PUB
PUB
Fevereiro | 2011 | 3 5