Março 2014
PUBLICAÇÃO DIRIGIDA AOS MÉDICOS, FARMACÊUTICOS, ODONTÓLOGOS, PRESCRITORES E DISPENSADORES DE MEDICAMENTOS PARA ATUALIZAÇÃO PROFISSIONAL
Índice
Expediente Diretor Presidente Pedro Zidoi Diretor Executivo Dr. Renato R. Tamarozzi Diretor Financeiro Sétimo Gonnelli Diretor Secretário
Editorial O diretor executivo da ABCFARMA, Dr. Renato Tamarozzi, destaca os relevantes serviços prestados pela ABCFARMA ao setor e à sociedade.....................05 Páginas azuis Engoliu? O que fazer? O Dr. Anthony Wong fala dos riscos da intoxicação e ensina a lidar com as emergências.............................................................................................06
Paulo Roberto Kopschina
Design / Diagramação Vanusa Assis Sergio Bichara Jornalista responsável Celso Arnaldo Araujo Mtb 13.064 Colaboradores Américo José da Silva Filho Gilson Coelho Distribuição ABCFARMA Publicidade Editora Lison Impressão Gráfica Prol Periodicidade Mensal Rua Santa Isabel, 160, 5º andar, conjunto 51, Vila Buarque, São Paulo, SP, CEP 01221-010 Fone: (11) 3223-8677 Fax: (11) 3331-2088 www.abcfarma.org.br
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Saúde A obesidade infantil se tornou uma epidemia. Como prevenir?............................................................................................12 Hepatite C: 3 milhões de casos no Brasil...............................................16 Coração: Infarto, cada vez mais jovem e feminino................................20 Saúde masculina: Desarmando a armadilha da próstata...................24 Saúde ocular: O risco do calor para o aumento da conjuntivite........28 Terceira idade: A vida com Alzheimer..................................................32 Fogo: Crianças são as vítimas preferenciais de queimaduras domésticas...................................................................................................36 Vida moderna: Os perigos do ar-condicionado...................................44 Artigos O consultor Felipe Bedran e os segredos do atendimento....................64 O deputado Walter Ihoshi fala sobre o poder do abaixo-assinado..........65 O professor Mario Sergio Cortella ensina a conciliar os dois mundos....66 Gestão O professor Mauro Pacanowski e os desafios da farmácia em 2014............82 Em mais uma de suas fábulas, o consultor Américo José fala das habilidades pessoais...............................................................................................................86 O consultor Cadri Awad sugere diversificações saudáveis..............................90 Geraldo Monteiro aponta o melhor funcionário para sua farmácia..............94 Leia também:
Analista e Programador Eduardo Novelli
Vida moderna (Preservativos) ............... 40
Comportamento (Pernas inquietas)...................52
Humor (Piadas)............................................42
Crônicas (Elias Knobel)....................................56
Encontros (Febrafar) ....................................48 (Sincoelétrico) ..............................48
Notas ...........................................................62 Economia (Nelson Mussolini) ...........................70
Atualidades (Lançamentos) ..............................50
Entrevista (Henrique Tada) ...............................74
Levantamento
Encontros (Frente Parlamentar) .........................78
(Discurso x Política) ...................51
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Editorial
Rumos da entidade
A
missão institucional da ABCFARMA é representar o comércio farmacêutico e lutar pelos interesses do segmento, sempre se portando de maneira firme e contundente segundo os parâmetros estabelecidos pela diretoria da entidade e seus associados.
tem a espantosa carga tributária de 34% - uma das mais elevadas do mundo. Acatando posicionamento de nossa diretoria e dos associados presentes à reunião de diretoria do Sincofarma-SP, apresentamos considerações favoráveis à intercambialidade de medicamentos similares na consulta pública realizada pela ANVISA sobre o assunto.
Atualmente, estamos prestando relevantes serviços ao setor e à sociedade, ao participar de importantes reuniões e discussões que trarão novidades e avanços a toda a cadeia farmacêutica e também para os consumidores.
Nesta edição, publicamos o levantamento que fizemos sobre piso salarial e carga horária dos farmacêuticos que trabalham nos próprios conselhos de farmácia, constatando que o discurso político dessas entidades se distancia da prática, ao oferecerem piso inferior ao que defendem e ao estabelecer carga horária mínima de 40 horas em todos os editais dos concursos pesquisados, respeitando, evidentemente, questões regionais e de orçamento.
Fomos convocados pelo Diretor Presidente da ANVISA, Dirceu Brás Aparecido Barbano, para a primeira reunião do Comitê Gestor de Implantação do Sistema Nacional de Controle de Medicamentos, conforme Portarias nº 176 e 177, publicadas no Diário Oficial da União, de 11 de fevereiro de 2014. Também recebemos convite do Ministro da Saúde, Arthur Chioro, para reunião do Grupo de Trabalho instituído pela Portaria 185/2014, cujo objetivo é elaborar uma avaliação de impacto de normas e medidas relacionadas à política de medicamentos.
Reflexo de nossa luta constante contra a Certidão de Regularidade Técnica, recebemos notificação de um dos conselhos regionais de Farmácia pedindo direito de resposta sobre artigo que escrevemos na edição de janeiro da Revista ABCFARMA. Com a prepotência peculiar, a entidade reafirma que a referida Certidão é uma condição indispensável para a atividade de farmácia e drogaria, sem explicitar a lei com esta definição.
Fizemos coro na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, juntamente com sindicatos, entidades da cadeia farmacêutica e a Frente Parlamentar presidida pelo deputado Walter Ihoshi, com o objetivo de desonerar os medicamentos, que, no Brasil, embu-
Enfim, estamos trabalhando diuturnamente, sempre buscando representar o comércio farmacêutico com o empenho e a dedicação que as empresas merecem – e sem se deixar abater pelas adversidades, que, como sabemos, são muitas.
Boa leitura! Dr. Renato Romolo Tamarozzi Diretor executivo da ABCFARMA E-mail: renato@abcfarma.org.br
Dr. Renato Romolo Tamarozzi Diretor executivo da ABCFARMA E-mail: renato@abcfarma.org.br
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Páginas Azuis
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Dr. Anthony Wong
TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO
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Emergência:
intoxicação! Dr. Anthony Wong
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le costuma dizer que tudo pode ser veneno – até água – quando tomado em excesso, fora de hora ou combinado com outras substâncias. Considerado o maior especialista brasileiro em toxicologia, o pediatra Anthony Wong – chefe do Ceatox, Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas de São Paulo, que é um centro de referência para médicos que atendem a supostos casos de intoxicação – tem dedicado sua vida ao estudo dos efeitos de substâncias farmacológicas, químicas e entorpecentes sobre o organismo humano. Sobretudo crianças – as maiores vítimas, por acidente, de episódios de exposição ou intoxicação. Nesta entrevista, ele descreve as situações mais comuns em que ocorrem acidentes com medicamentos – e orienta o que se deve fazer, e não fazer, em caso de ingestão indevida de remédios ou substâncias químicas, antes do socorro médico
Qual é o lugar dos medicamentos no ranking dos produtos que mais causam intoxicação?
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Primeiro, é preciso distinguir intoxicação de exposição. Em muitas das chamadas que nos são feitas como relato de intoxicação por medicamentos, informa-se que alguém tomou o remédio em dobro ou que uma criança colocou um xarope ou comprimido na boca – mas não há sintomas. Isso é exposição. Somando-se os casos de exposição e intoxicação, os medicamentos estão em primeiro lugar no ranking, com 40% de consultas a nosso centro. Em contrapartida, 20% das exposições são por produtos de limpeza ou domisaneantes, os saneantes domésticos – e mais da metade desses casos tem sintomas
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Páginas Azuis / Dr. Anthony Wong
clínicos. Já em relação aos chamados agrotóxicos, como inseticidas ou pesticidas, 80% das exposições têm sintomas clínicos. Existe uma estatística sobre os casos de intoxicação por medicamentos registrados no Brasil?
No Brasil essa informação não é precisa, porque a notificação não é obrigatória e os centros de referência em intoxicação nem sempre são acionados –seja porque o diagnóstico não foi feito ou porque o médico do pronto-socorro, detectando a intoxicação, achou que podia resolver o problema sozinho. Aqui no Ceatox, registramos cerca de dois mil casos anualmente. Quando se examina tudo o que é relatado ao sistema nacional, o Sinetox, chegamos a cerca de 40 mil. Mas a subnotificação é enorme.
Leite depois de ingerir remédios por acidente: não
Você sempre costuma dizer que, se a mãe descobre ou desconfia que o filho engoliu algum remédio ou substância química, nunca se deve dar leite ou água à criança. Por quê?
Certas consultas ao Ceatox, relatando supostos casos de intoxicação, exigem uma investigação tão detalhada quanto a dos seriados de TV, tipo House, para se chegar à solução?
Sem dúvida. Em geral, o médico brasileiro não tem formação toxicológica em seu currículo e, quando atende um paciente com, digamos, sonolência, alteração de comportamento, perda de consciência, alucinação ou o malfuncionamento do �ígado, em geral a última coisa em que ele vai pensar é num quadro de intoxicação. Deveria ser o contrário: sempre digo em minhas aulas que, devido à enorme exposição a substâncias químicas no mundo de hoje, essa deveria ser considerada no mínimo a segunda opção num quadro assim.
Porque o líquido dissolve o produto e aumenta a capacidade de absorção do estômago. Como orientação geral: não dê água ou leite. E também não provoque vômito, a não ser com orientação médica. Nesse caso, se a pessoa estiver consciente e com re�lexos bons, e a ingestão tiver ocorrido há pouco tempo e em grande quantidade, podemos orientar o vômito – mas essa situação não é frequente. É raro que a pessoa tenha ingerido quantidade su�iciente que justi�ique o vômito. Alguém que ingeriu, por exemplo, cinco comprimidos de tranquilizante, não vai conseguir vomitar tudo – até porque já pode estar com seus re�lexos comprometidos.
Isso é muito diluído. Às vezes a pessoa toma um remédio e se sente mal, mas não foi acidente ou hiperdose – apenas um efeito adverso do medicamento. Isso ocorre em cerca de 10% dos casos. Aliás, a principal causa de intoxicação por medicamentos nos Estados Unidos são os analgésicos – e, entre eles, o líder é o paracetamol, às vezes por superposição. A pessoa está usando um antigripal e, esquecendo-se que este já contém analgésico, toma outro. E outro.
Sim, junto com crianças de menos de cinco anos – nestas porque, proporcionalmente a seu corpo, até mesmo um único comprimido pode se con�igurar como uma superdosagem. No caso da terceira idade, ocorrem duas coisas: polifarmácia e confusão por demência, que pode fazer o idoso tomar o mesmo remédio diversas vezes. Além disso, os órgãos desse paciente já apresentam um desgaste natural em termos de capacidade de metabolização.
Entre os medicamentos, existe alguma categoria que lidere o ranking dos casos de intoxicação?
Pessoas idosas, que tomam muitos medicamentos juntos ou já têm danos em sua capacidade cognitiva, estão entre as vítimas preferenciais da intoxicação?
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m outro detalhe: muitas mães dão vitaminas para a criança acompanhadas do lema “toma que é bom para você”. Em termos de estado de consciência ou alteração de comportamento, o que é prudente observar? Fala enrolada, excitação exagerada, andar cambaleante, incapacidade de reagir a perguntas, agitação e agressividade. O álcool aumenta o potencial de intoxicação por medicamentos?
O álcool sempre está associado ao agravamento dos sintomas. Hiperdosagens geralmente envolvem tranquilizantes ou sonoríferos. Como o álcool é um depressor, ele acentua os efeitos. E o álcool também pode aumentar a absorção. Além disso, afeta a memória e o raciocínio – o que também pode in�luir na tomada de medicamentos. Finalmente, pessoas alcoolizadas têm dor de barriga, cefaleia, etc – e costumam tomar outros remédios contra isso.
Remédios ao alcance de crianças: nunca
Sendo tão evidente que não se deve deixar remédios ao alcance de crianças, isso ainda acontece em muitas situações de intoxicação? Sobretudo quando os adultos da casa tomam remédios e deixam os frascos abertos em cima de um móvel acessível às crianças, por exemplo. Um outro detalhe: muitas mães dão vitaminas para a criança acompanhadas do lema “toma que é bom para você”. E como as crianças normalmente rejeitam remédios sem sabor, elas acrescentam: “este é docinho”. Isso pode fazer a criança achar que todo remédio é assim e levá-lo à boca quando vê um comprimido ou xarope a seu alcance.
O Uruguai e o estado do Colorado, nos Estados Unidos, têm legislações que permitem o uso de maconha para efeitos “recreativos” ou medicinais. Como médico especialista em toxicologia, o que você acha dessa liberalidade?
Já que não deve tomar líquidos ou vomitar, á algo que se possa fazer em casa, diante de um caso evidente de ingestão indevida de medicamentos ou produtos químicos, antes de se ter acesso a ajuda especializada?
Eventualmente, se a ingestão foi recente, tentar retirar manualmente o que ainda estiver na boca – o que não é comum. O melhor mesmo é apenas observar o estado de consciência, avaliar a estabilidade hemodinâmica, através do pulso, e a palidez – esses são os sintomas de alerta.
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Considero a maconha, para a juventude, como a mais nefasta e mais perigosa de todas as drogas, porque seus efeitos não são imediatamente perceptíveis, mas uma única dose de maconha de boa concentração é su�iciente para alterar o comportamento, a psique, a memória e, principalmente, a motivação pessoal do usuário. A sensação de “relaxamento” que a maconha proporciona na verdade é isso. O THC, o princípio ativo da maconha, afeta o cérebro já na primeira dose. A maconha sem dúvida tem efeitos medicinais—mas outro dia, num simpósio, alguém disse, em favor da marijuana, que apenas 16% das pessoas têm problemas quando a usam com �ins medicinais. E eu pergunto: que outro remédio com 16% de incidência de efeitos adversos seria registrado no mundo?
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Saúde
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por: Dr. Fausto Flor Carvalho
TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO
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O BE S I D A D E infantil Mil dias diferença que podem fazer a
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“Diante da maior oferta de alimentos industrializados, ricos em calorias e com pouco equilíbrio nutricional, precisamos promover uma conscientização para fatores como a redução das atividades �ísicas na infância devido a mudanças sociais, como urbanização, violência e trânsito, além do muitas vezes nocivo papel do marketing nas mídias, com propagandas que atraem especi�icamente o público infantil para produtos que deveriam ser evitados, como doces, refrigerantes e alimentos ricos em gorduras, entre outros.”
obesidade atinge todas as faixas etárias e é considerada hoje pela comunidade médica uma epidemia mundial. Mas, de olho na alarmante extensão do problema aos primeiros anos da infância, a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), por meio de seu Departamento de Saúde Escolar, tem atuado fortemente na tentativa de prevenção do problema também junto aos educadores: crianças obesas têm risco quatro vezes maior de serem jovens obesos. E a melhor chance de prevenir está na observação das janelas de oportunidade nos primeiros mil dias de vida da criança – como explicam aqui os pediatras. Na sociedade de hoje, são muitos os fatores de risco no caminho da criança. Diz o Dr. Fausto Flor Carvalho, presidente do Departamento de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP):
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Para o Dr. Rubens Feferbaum, vice-presidente do Departamento de Nutrição da SPSP, a prevenção da obesidade deve começar na gestação e seguir nos primeiros dois anos de vida da criança: são os mil dias – 270 da gestação + 730 dos doisprimeiros anos de vida – que constituem uma verdadeira janela de oportunidades na prevenção dos distúrbios nutricionais.
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Saúde
/ Obesidade Infantil
“Esses cuidados devem se iniciar durante a gestação e no acompanhamento pré-natal, para que as mães tenham uma nutrição adequada, evitando a restrição do crescimento do feto intra-útero e também para que a gestante não tenha excessivo ganho de peso. Durante esse período e após o nascimento, a mãe deve receber orientações corretas sobre o aleitamento materno, de preferência com um pediatra”. O leite é o alimento perfeito, do ponto de vista nutricional, nos primeiros meses da criança. Outro momento que merece atenção, segundo o especialista, é o instante em que se inicia a oferta de alimentação complementar à criança. “O pediatra tem aí a oportunidade de estabelecer um bom comportamento na alimentação, para que não ocorra ganho de peso excessivo; a prevenção é fundamental: crianças obesas tendem a se tornar adultos obesos.”
nas de ensino. Além disso, é importante que haja uma abordagem à questão da aceitação do aluno obeso, prevenindo-se o bullying.”
Raio-x da
Para o Dr. Feferbaum, o pediatra é o
obesidade no Brasil
pro�issional central na prevenção e tratamento da criança obesa, bem como o elo de ligação no caso de necessidade de encaminhamento para outros pro�issionais.
De acordo com a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de 2010, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 30% das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos de idade apresentam excesso de peso. O mesmo problema acomete cerca de 20% da população entre 10 e 19 anos, além de 48% das mulheres e 50,1% dos homens acima de 20 anos. A POF tem revelado um aumento de peso significativo nas crianças e adolescentes. Em 1974/1975, 10,9% dos meninos entre 5 a 9 anos de idade estavam com o peso acima da faixa considerada adequada pela Organização Mundial da Saúde (OMS); em 1989, eram 15%; o índice dobrou em 2008/2009 para 34,8%. Um padrão semelhante afetou as meninas nesse período que, de 8,6% na década de 70, foram para 11,9% no final dos anos 80, e chegaram aos 32% em 2008/2009. O aumento de peso em adolescentes de 10 a 19 anos também foi contínuo: de 1974/1975 a 2008/2009, o sobrepeso no sexo masculino foi de 3,7% para 21,7%, e no feminino de 7,6% para 19%.
“Pode haver a indicação de consulta a um nutricionista e também a uma psicóloga, pois uma alimentação inadequada pode estar relacionada à ansiedade da criança e da família. Mesmo nessas situações, o pediatra deve continuar acompanhando o paciente, para monitorar o crescimento e o eventual surgimento de doenças relacionadas à obesidade, como a hipertensão ou o diabetes tipo 2, por exemplo.”
Vida escolar e saúde pública
Na opinião do Dr. Fausto Flor Carvalho, além do consultório médico, outros aspectos da vida da criança estão diretamente relacionados à vida saudável. “A escola é palco importante da questão da obesidade, por meio de atividades educativas para crianças e familiares e trabalhos ligados à alimentação. O desenvolvimento de uma horta comunitária, por exemplo, oferece subsídios para várias discipli-
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Saúde TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO
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Hepatite
Há 25 anos, começava uma epidemia U
m vírus RNA da família Flaviviridae, identificado em 1989, afeta hoje 170 milhões de pessoas em todo o mundo – sendo três milhões no Brasil. O vírus é causador da temível hepatite C, doença inflamatória do fígado que conduz à cirrose e ao câncer. E a maior parte dos casos registrados hoje se deve a contaminações ocorridas no tempo em que não havia controle sobre o sangue nas transfusões – principal via de contágio. Hoje, conhecendo-se os meios de prevenção de casos novos, o maior desafio dos especialistas é tratar dos pacientes diagnosticados. A hepatite C é uma das poucas doenças crônicas que pode ser curada. Mas, até o momento, depende de um tratamento longo e difícil, com efeitos colaterais fortes para o paciente. Por isso, o Grupo Otimismo de Apoio ao Portador de Hepatite saúda o aparecimento de novas drogas Os dirigentes do Grupo Otimismo já comemoram o anúncio de que, no mais tardar até metade de 2015, cinco empresas farmacêuticas estarão no mercado com medicamentos orais de combate ao
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vírus – uma saudável alternativa ao interferon peguilado, até aqui a terapia de primeira escolha, cara, longa e com pesados efeitos colaterais. As novas drogas permitirão tratamentos curtos, de 8, 12 ou 16 semanas. Conhecidos como antivirais de ação direta, nos ensaios clínicos eles produziram cura entre 83% e 100% de pacientes infectados com os genótipos 2 e 3 do vírus nunca antes tratados, ou naqueles que não tinham obtido sucesso no tratamento com interferon. Quando essas drogas estiverem efetivamente disponíveis, será possível, pelo menos para infectados que ainda não apresentam as complicações da cirrose, serem tratados por clínicos gerais com algum conhecimento da doença. Essa, segundo Carlos Varaldo, presidente do Grupo Otimismo, será a única forma possível de poder atender os 170 milhões de infectados no mundo e três milhões no Brasil. Mas nem tudo é motivo de comemoração nos 25 anos da identi�icação da doença. Um tratamento de 12 semanas com o primeiro dos medicamentos aprovados, o sofosbuvir, custa nos Estados Unidos 84 mil dólares – o que exigirá um grande esforço da indústria farmacêutica no sentido de reduzir os custos de produção e comercialização. No Brasil, além da questão de custo, há o problema da burocracia dos registros. Segundo Varaldo, “o Brasil foi
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Saúde
/ Hepatites C
modelo para o mundo no enfrentamento da AIDS, mas não se compreende porque está adormecido em relação a enfrentar a hepatite C, uma doença que infecta cinco vezes mais brasileiros que a AIDS. Há necessidade de acelerar ações nos novos medicamentos para hepatite C, seja na priorização dos registros na ANVISA ou na incorporação ao SUS”. E o mais importante, boa parte dos casos incluídos na estatística brasileira de infectados ainda não tem o diagnóstico. Isto é: são portadores do vírus e não sabem.
Doença silenciosa
Se não diagnosticada, a hepatite C pode levar de 15 a 20 anos para se manifestar já em estágio avançado, evoluindo para �ibrose, cirrose e câncer no �ígado. Cerca de 75% a 80% dos pacientes que entram em contato com vírus permanecem com a in�lamação no �ígado por tempo prolongado, superior a seis meses, caracterizando a doença crônica. Desses pacientes, 20% evoluem para a cirrose, passando a ter um risco de 1% a 5% ao ano de desenvolver câncer de �ígado. O curso da doença é afetado por vários fatores, especialmente pela ingestão de bebida alcoólica e pela coinfecção por outros vírus.
Compartilhar instrumentos de manicure ou agulhas: forma de contágio a ser evitada Mas, apesar de sua gravidade, a hepatite C pode ser curada e, quanto antes for diagnosticada, maiores são as chances de sucesso do tratamento. O teste anti-HCV é simples e precisa ser estimulado.
QUEM DEVE FAZER O TESTE PARA DETECÇÃO DA HEPATITE C (grupos de risco): • Pessoas que receberam transfusão de sangue ou de qualquer derivado de sangue antes de 1993 • Doentes renais em hemodiálise • Pessoas que usam, ou usaram alguma vez, drogas injetáveis ou cocaína inalada • Indivíduos que usaram medicamentos intravenosos por meio de seringa de vidro nas décadas de 1970 e 1980 • Portadores do vírus HIV • Filhos de mães contaminadas com a hepatite C, seguindo recomendação do pediatra • Pessoas que tenham feito tatuagens ou piercings em locais não vistoriados pela vigilância sanitária • Pessoas com parceiros sexuais de longo tempo infectados com hepatite C • Pessoas com múltiplos parceiros sexuais ou com histórico de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) • Pessoas com necessidade de diagnóstico diferencial de agressão ao fígado • Profissionais da área da saúde, após acidente biológico ou exposição percutânea ou das mucosas a sangue contaminado.
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Saúde TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO
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Infarto Cada vez mais jovem. O
E mais feminino
s jovens e as mulheres precisam se cuidar mais. Levantamento do Sistema Único de Saúde mostra que 20% das mortes provocadas por infarto atingem hoje pessoas na faixa etária dos 20 aos 40 anos – numa notável antecipação da idade historicamente vítima preferencial da doença. Mais: na década de 70, de cada dez infartados apenas um era mulher. Hoje, essa proporção é de quatro em cada dez. Ataques do coração deixaram de ser restritos ao grupo de homens – e mais velhos. Mudanças, para pior, no estilo de vida são os principais responsáveis por essa dramática alteração do perfil dos infartados. Má alimentação, estresse e sedentarismo são os vilões, como explicam aqui os cardiologistas
O Sistema Único de Saúde também aponta um aumento de 13% no número de internações de jovens por infarto no último ano no Brasil. No primeiro semestre de 2013, segundo dados do Ministério da Saúde, 427 pacientes entre 15 e 29 anos foram internados na rede com problemas cardíacos. O cardiologista da Life Clínica, Dr. Marcelo Rodrigues, diz que maus hábitos alimentares e estresse
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são algumas das causas do infarto e orienta sobre a prevenção da doença. “Muitos jovens, além de não se alimentarem direito, �icam muito estressados com a rotina de trabalho e estudo, além de não praticarem exercícios �ísicos regularmente”, aponta. O uso de drogas também in�luencia diretamente nas complicações do quadro. “Energéticos, bebidas alcoólicas, anabolizantes e outras substâncias estimulantes trazem um risco muito grande ao coração. Elas aumentam a frequência cardíaca e a pressão arterial”, explica o cardiologista. Sobrepeso e obesidade, fatores cada vez mais “ jovens”, também atuam fortemente contra as artérias cardíacas. Além disso, adultos mais velhos desenvolvem mecanismos de defesa contra obstruções coronarianas que provocam o infarto, na forma de vasodilatação ou criação de passagens colaterais para o sangue – os mais jovens ainda não têm essa capacidade. Por isso, a mortalidade entre os jovens por infarto é maior. O jovem pode morrer mais rápido que o idoso quando uma coronária se fecha abruptamente.
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Saúde
/ Infarto
mente impõe, a mulher também está fumando mais do que o homem – e o risco de infarto em mulheres fumantes é seis vezes maior do que nas não-fumantes. Pior: a combinação do fumo com o uso regular de anticoncepcionais orais pode resultar também numa fórmula explosiva para o coração. A explicação está nos hormônios femininos – estrogênio e progesterona – que protegem as mulheres de doenças como o infarto, mas que têm esse efeito reduzido pelo cigarro. É, aliás, justamente devido à redução desses níveis hormonais que as mulheres �icam mais propensas a problemas cardiovasculares após a entrada da menopausa. Um detalhe: segundo o Dr. Rafael Munerato, cardiologista e diretor médico do Lavoisier Medicina Diagnóstica, o infarto costuma se manifestar de formas diferentes em homens e mulheres. “Enquanto neles a dor no peito é comum e vem acompanhada de vômito e sudorese, nelas os sinais são menos evidentes”, explica o especialista. Estudo com mais de 1 milhão de pacientes nos Estados Unidos, conduzido pelo Centro Médico de Lakeland (Flórida), mostra que a dor no peito não é relatada em mais de 40% dos casos nas mulheres. Segundo o Dr. Munerato, elas se queixam mais de dor nas costas, cansaço, queimação no estômago e náusea. “Tais sintomas nem sempre são reconhecidos e relacionados ao coração. Muitas mulheres os associam a problemas gastrointestinais ou ortopédicos, o que faz com que demorem a procurar socorro médico”, a�irma ele. Outras condições que as transformam em vítimas potenciais são obesidade, descontrole do diabetes e do colesterol, tabagismo, sedentarismo, estresse e hipertensão.
Sintomas iguais Os sinais de um quadro de infarto são os mesmos, em qualquer idade, pelo menos no homem: dor no peito, di�iculdade de respiração, fraqueza e tontura. Em caso de suspeita, o Dr. Marcelo orienta como deve se proceder aos primeiros socorros. “É preciso manter a vítima deitada, afrouxar as suas roupas e não dar nenhum medicamento, água ou alimento, pois ela pode vomitar. Feito isso, o resgate precisa ser chamado com urgência”. O socorro precisa ser rápido. “Quanto mais cedo a vítima for atendida, maiores as chances de recuperação”, alerta. Nos casos de predisposição genética, isto é, quando existem casos de doenças cardiovasculares na família, sobretudo com a morte do pai por infarto na faixa dos 40 anos, o risco é ainda maior – o que exige um nível de cuidados preventivos mais precoce, já a partir dos 20 anos de idade, visitando o médico e fazendo exames pelo menos uma vez por ano. Segundo os médicos, o infarto geralmente é a mensagem do corpo de que não suporta a pressão alta e o colesterol elevado por muito tempo.
Homem e mulher: infartos diferentes
Mulheres também estão infartando mais – e esse aumento pode ser atribuído, em grande parte, ao novo per�il assumido por elas na vida moderna. De acordo com a cardiologista Dra. Danielli Haddad, do Hospital Sírio-Libanês, ao conquistar um espaço de destaque no mercado de trabalho a mulher passou a ter uma carga muito maior de responsabilidades, sem prejuízo de sua vida familiar, de esposa e mãe. “Pressões por resultados, competitividade, necessidade de estar sempre atualizada são fatores que foram incorporados ao dia a dia feminino”, explica a médica. Além da alimentação mais corrida e menos saudável que esse estilo de vida geral-
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por: Dr. Francisco Carnevale
TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO
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Próstata A doença do crescimento
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epois dos 50 anos, a próstata começa a dar problemas. O risco de câncer estará sempre presente – mas uma doença benigna nessa inocente glândula responsável pela produção do líquido seminal afeta nada menos que 80% dos homens com mais de 60: a hiperplasia, ou crescimento atrofiado. Quando cresce, a próstata aparece – e pode complicar a vida de milhões de homens, através de sintomas urinários muito desagradáveis. A farmácia vende medicamentos bastante eficazes contra os males desse crescimento – mas a cirurgia é a solução definitiva. E acaba de surgir uma nova técnica, já em experimentação em São Paulo – ainda polêmica, mas aparentemente mais simples e mais eficiente. Acompanhe Hiperplasia Benigna da Próstata – ou HPB. O nome parece complicado, mas é a mais frequente doença masculina da maturidade. Em 80% dos homens, e a ciência ainda não descobriu por quê, a próstata começa a crescer após os 50 anos – justamente quando essa glândula vai perdendo sua função �isiológica, que é fabricar o líquido que conduz os espermatozóides para fora do corpo. Esse crescimento, que é progressivo, começa a pressionar a uretra. E a consequência é uma série de sintomas
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urinários que, com o tempo, acabam afetando muito a qualidade de vida: esvaziamento insu�iciente da bexiga, �luxo muito fraco, necessidade de levantar várias vezes à noite, urgência e incontinência urinária. Alguns medicamentos conseguem deter o processo e melhorar os sintomas – mas, em certo momento, uma intervenção cirúrgica se torna inevitável para muitos homens na hiperplasia avançada. A terapia mais indicada é a ressecção da próstata inchada através da uretra – seja por método convencional ou por raio laser, tecnologia de que só alguns hospitais dispõem. Mas um parecer aprovado pelo Conselho Federal de Medicina acaba de dar sinal verde para o uso de uma técnica brasileira, menos invasiva, para tratar o aumento benigno da próstata. Trata-se da embolização das artérias prostáticas, que reduz o tamanho da glândula pela obstrução do �luxo sanguíneo. A nova técnica, feita sob anestesia local, permite que o paciente vá para casa no mesmo dia e vem sendo saudada com entusiasmo. Um pequeno tubo entra milimetricamente pela virilha do paciente e, guiado por um aparelho de raio-x, percorre vasos sanguíneos até a próstata. Lá, microesferas de plástico são liberadas, a �im de entupirem parcialmente os vasos que alimentam a próstata. Com menos irrigação, seu volume diminui – como explica o Dr. Francisco Carnevale, chefe do
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Saúde
serviço intervencionista do Hospital das Clínicas de São Paulo, onde a técnica foi desenvolvida em 2008. Ainda em fase de experimentação, a nova técnica já foi utilizada em cerca de 60 pacientes e, segundo o Dr. Miguel Srougi, professor titular de Urologia da Faculdade de Medicina da USP, mais de 50 voltaram a urinar normalmente – e não houve complicações em nenhum caso. Se esses resultados se padronizarem, a embolização com o tempo pode vir a substituir a ablação – que é mais agressiva e exige mais dias de hospitalização. Mas a Sociedade Brasileira de Urologia não tem o mesmo entusiasmo dos médicos e do Conselho. Para a entidade, faltam estudos que comprovem a e�icácia e a segurança da técnica – que, segundo seus dirigentes, deveria ser mantida com caráter experimental, usada apenas dentro de protocolos de pesquisa.
novidades
“É um tratamento que pode dar um bom resultado no futuro. Só discordamos de se dizer que é uma nova opção de tratamento. Não temos estudo de longo prazo, não sabemos o que vai acontecer com esse tratamento”, a�irma Carlos Corradi, presidente da SBU. O professor Srougi contrapõe: “Temos dados clínicos mostrando que os doentes passam pelo procedimento sem complicações, que eles melhoram. Não temos interesse em promover um método que seja falso.”
nária e até a insu�iciência renal”, explica o urologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Sandro Faria.
De qualquer forma, a embolização pode vir a ser mais um aliado do homem cuja próstata o faz sofrer. O primeiro passo é conhecer o problema mais a fundo – para poder detectá-lo a buscar ajuda.
O laser verde: outro avanço
O aparecimento é silencioso, sem alardes e, aos poucos, o paciente passa a sentir os sintomas da doença, como o aumento na frequência para urinar. “Com o tempo, o crescimento da próstata causa a sensação de que a bexiga nunca se esvazia, o que prejudica toda a vida do homem, que precisa ir ao banheiro várias vezes durante o dia e à noite. Ele começa a ter di�iculdade em participar de reuniões, dormir a noite toda, ir ao cinema ou viajar. Casos graves levam à retenção ou incontinência uri-
/ Prostata: A doença do crescimento
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Entre os fatores de risco estão tabagismo, obesidade e diabetes, mas o componente genético também é importante: �ilhos de pais com hiperplasia prostática têm seis vezes mais chances de desenvolver a doença. “Ter uma vida saudável, com alimentação equilibrada e sem cigarro, pode ajudar a diminuir as chances de apresentar o problema”, explica o Dr. Faria. De acordo com o especialista, o desconhecimento da condição e o subdiagnóstico ainda são frequentes. “Não temos dados estatísticos no Brasil, mas estima-se que, de seis milhões de homens que precisariam receber atenção ao problema, apenas 300 mil estão em tratamento”, explica o médico. Cerca de 30% dos pacientes precisam de cirurgia para reduzir o tamanho da próstata, que pode ser tradicional – de ressecção transuretral convencional para retirada do excesso de tecido da próstata pela uretra, ou a laser verde, o Greenlight, que vaporiza parte da próstata, diminuindo seu tamanho. Segundo ele, o tratamento com laser verde é um avanço para pacientes com doenças do coração – problema comum nessa faixa etária - que antes não tinham alternativas de cirurgia. Já a embolização é um caminho para o futuro.
Revista ABCFARMA
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Saúde
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por: dr. Leôncio Queiroz Neto
TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO
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FOTOS: DIVULGAÇÃO
Conjuntivite e calor:
relação perigosa
P
roliferação de bactérias, contato com água contaminada e compartilhamento de equipamentos eletrônicos aumentam a incidência da doença – e o calor eleva a possibilidade de contágio
Saiba como evitar. O olho é um dos órgãos que mais sofrem no calor. De acordo com o oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto, no verão acontecem os maiores surtos de conjuntivite. “Da mesma forma que no inverno o vírus in�luenza aumenta os casos de gripe, os prontuários do hospital mostram que nos meses mais quentes o número de pessoas com conjuntivite viral e bacteriana chega a ser 30% maior que no restante do ano”, a�irma. O tipo de conjuntivite depende dos hábitos de cada pessoa. Os principais gatilhos para o aumento da doença no verão são a maior proliferação de bactérias, contato com água contaminada e o compartilhamento de equipamentos eletrônicos. O médico a�irma que, por serem contagiosas, tanto a conjuntivite viral como a bacteriana estão entre as principais causas de afastamento do trabalho no Brasil.
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Revista ABCFARMA
Dr. Leôncio Queiroz Neto, oftalmologista do Instituto Penido Burnier,
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A doença é caracterizada pela in�lamação da conjuntiva, membrana transparente que reveste a face interna das pálpebras e a íris, porção branca do olho.
Embora os tratamentos sejam diferentes, os dois tipos de conjuntivite têm alguns sintomas em comum: olhos vermelhos, lacrimejamento, coceira, sensação de corpo estranho, queimação, fotofobia e visão borrada.
desenvolvimento e permanecem por mais tempo imersas na água das piscinas ou do mar – que pode funcionar como veículo de transmissão de bactérias. Por ser uma doença altamente contagiosa, ressalta o médico, é comum que uma única criança contamine toda a família. O tratamento em estágio inicial pode ser feito com compressas de água morna. Não desaparecendo os sintomas em dois dias, a recomendação é consultar um oftalmologista que prescreva o colírio antibiótico mais adequado.
Colírio: só com indicação médica
Uma boa notícia é que o tratamento correto não deixa sequelas na visão. A má é que um estudo conduzido pelo Dr. Queiroz Neto, com 369 pacientes, mostra que no verão 40% dos pacientes já chegam ao consultório usando colírio por conta própria, contra 30% no restante do ano. “O brasileiro tem esse hábito porque, independentemente da fórmula, todo colírio melhora o conforto do olho”, comenta o médico.
Computadores podem transmitir conjuntivite viral
O problema é que, se essa automedicação eventual se torna um hábito, o olho sofre as consequências. O estudo conduzido pelo Dr. Queiroz Neto mostra que o colírio do tipo vasoconstritor, para deixar o olho “branquinho”, é usado por 56% das pessoas, e a maior parte delas o faz indiscriminadamente. Se usado a longo prazo, a medicação pode causar catarata – alerta o oftalmologista. O problema é tão sério que o Ministério da Saúde está desenvolvendo uma pesquisa para saber como o brasileiro usa medicamentos nessa área.
O médico destaca que, entre adultos que compartilham computadores no ambiente de trabalho ou em casa, a conjuntivite viral – que produz secreção aquosa – pode ser transmitida pelos equipamentos. Isso porque uma pessoa que esteja com a conjuntivite incubada pode esfregar os olhos com as mãos e deixar o vírus no teclado ou mouse. E, como piscamos cinco vezes menos na frente do computador do que em outras situações do cotidiano, os olhos tendem a ressecar e �icar mais expostos à contaminação. O tratamento, nesse caso, é feito com colírio anti-in�lamatório, que pode ser ou não hormonal (corticoide). O uso desse tipo de colírio sem acompanhamento médico também pode causar catarata, além do temível glaucoma.
Crianças e conjuntivite bacteriana
Segundo o Dr. Leôncio Queiroz Neto, a conjuntivite bacteriana, caracterizada por uma secreção amarelada e purulenta, é mais comum entre crianças. Isso porque elas estão com a imunidade em
Como prevenir
As principais dicas do médico para prevenir a conjuntivite são: Mantenha as mãos sempre limpas. Evite coçar os olhos. Depois de lavar as mãos, higienize com solução de 70% de álcool. Quem compartilha computador deve limpar o mouse e o teclado com álcool a 70%. Evite tocar no corrimão de escadas púbicas. Não compartilhe colírio, toalhas, fronhas ou maquiagem.
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Saúde
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por: Dra. Sonia Maria Dozzi Brucki
TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO
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Convivendo com Alzheimer
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Há medidas preventivas e�icazes e como devem ser adotadas?
eurologista orienta abordagem da paciente com queixas de memória e revela os tratamentos e medidas preventivas mais eficazes para prevenir o problema.
Sabe-se que o exercício �ísico e a atividade cognitiva são bené�icos ao cérebro e à cognição em qualquer idade. Mesmo indivíduos idosos, que começam mais tardiamente essas atividades, apresentam bene�ícios. A dieta do tipo mediterrânea (rica em cereais, azeite, peixes, legumes, verduras e frutas) parece ter ação protetora também, bem como o consumo leve de bebidas alcoólicas, principalmente vinho tinto. Outro ponto importante é o controle de fatores de risco para doenças vasculares, como diabetes, hipertensão arterial, obesidade e tabagismo, principalmente.
A prevalência de demência aumenta exponencialmente com a idade. Porém, alguns estudos observam que, após os 90 anos, tende a diminuir. Saiba o que pensa a Dra. Sonia Maria Dozzi Brucki, coordenadora do Departamento Cientí�ico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia, sobre os principais aspectos da doença, bene�ícios do controle de fatores de risco e outras medidas preventivas.
Quais os principais diagnósticos diferenciais?
Há fundamento no conceito bastante difundido entre a população, de que quanto mais ativo o cérebro, menores serão as características de envelhecimento? Sim, a atividade cognitiva é sempre bené�ica e jamais sobrecarregará o cérebro. Ela mantém a neurogênese no hipocampo e é responsável pela manutenção e aumento de sinapses nas regiões corticais.
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O comprometimento cognitivo deve ser investigado com exames de imagem (tomogra�ia ou ressonância magnética) e laboratoriais (hemograma, função hepática e renal, cálcio, função tireoidiana, dosagem de vitamina B12 e de ácido fólico e sorologia para sí�ilis) para afastar causas potencialmente tratáveis e reversíveis. Dependendo das funções cognitivas e/ou comportamentais acometidas, o diagnóstico diferencial pode ser com Doença de
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Saúde
/ Convivendo com Alzheimer
Alzheimer, demência com corpos de Lewy, demência vascular, demência frontotemporal, entre outras. Existem critérios objetivos que podem ser transmitidos à família para que possa auxiliar na suspeita de que há algum problema?
Alguns achados podem servir de alerta. O principal deles é a comparação do indivíduo com ele mesmo, ou seja, observar a capacidade de trabalho e o raciocínio, bem como as atividades elaboradas e veri�icar se o indivíduo segue com a mesma capacidade de antes. Quais os melhores tratamentos disponíveis hoje no Brasil para o Alzheimer?
A doença de Alzheimer tem tratamento sintomático para a cognição, com relativa estabilização do declínio ou até mesmo melhora. Deve se iniciar o mais precocemente possível e inclui inibidores das colinesterases, que são fornecidos gratuitamente pelo SUS. Outras medicações, como a memantina, podem ser indicadas, bem como o tratamento especí�ico para outros distúrbios que possam aparecer, como apatia, depressão, irritabilidade, agitação ou alucinações.
“
Mulheres vivem mais e isso talvez explique, em parte, os estudos que as apontam como as maiores vítimas da doença de Alzheimer. Outra explicação seria o déficit de estrógeno no envelhecimento
Muitas mulheres, em diferentes idades, queixam-se de perda de memória. Como o ginecologista pode identi�icar as que devem ser avaliadas por um neurologista?
“
Primeiramente, deve-se descartar causas não degenerativas, que também podem levar ao comprometimento de memória, como hipotireoidismo, dé�icit de vitamina B12, entre outros. Também veri�icar se as queixas não estão relacionadas a depressão e/ou ansiedade. E de qualquer forma, um ponto fundamental a ser observado é se, junto à queixa de memória, há alguma di�iculdade na realização de atividades do dia a dia.
tem ação de crescimento de neurônios e sinapses cerebrais em estudo in vitro. Qual a sua opinião sobre a relação entre terapia de reposição hormonal (TRH) e as ações cerebrais?
Existe explicação para a maior incidência de Alzheimer e outras demências em mulheres?
Alguns estudos observaram uma frequência maior entre mulheres, mas não todos. Elas vivem mais e, como a Doença de Alzheimer é característica do envelhecimento, talvez isto explique, em parte, os estudos que as apontam como as mais acometidas pelo mal. Outra explicação seria o dé�icit de estrógeno no envelhecimento, pois esse hormônio
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A TRH já se demonstrou ine�icaz após o início dos sintomas demenciais. Em alguns estudos, inclusive, teve efeito oposto. Alguns estudos apontam para um possível período ótimo para a sua ação no cérebro, mas novas pesquisas devem ser realizadas para melhor avaliação, pois ainda não está bem explicada a sua indicação ou contraindicação. No momento atual, sabemos que não deve ser usada para melhora da cognição em pacientes com demência ou como preventiva especi�icamente para isso.
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Prevenção
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por: Dr. Lincoln Saito Milan, do HSPE
TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO
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Br ncando com fogo C
rianças são as principais vítimas de queimaduras domésticas atendidas pelas clínicas especializadas. Aqui, um especialista do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), centro de referência em queimaduras em São Paulo, adverte: cozinha e álcool líquido são a combinação de perigo. Ele orienta sobre o que fazer – e não fazer – no caso de acidente Aproximadamente metade dos pacientes atendidas nos serviços especializados, como o do HSPE, são crianças de até 12 anos – com predominância entre um e dois anos de idade, ou seja, na fase dos primeiros passos e da conquista da independência. E, segundo o diretor do Serviço de Queimados do hospital, Dr. Leão Faiwichow, parte expressiva dos acidentes que causam queimaduras em crianças acontece na cozinha. Esta, portanto, é a primeira dica: “Mantê-las longe desse espaço quando o fogão estiver aceso e eliminar o álcool líquido da lista de compras são medidas de prevenção importantes”, diz ele. Outra dica do médico: se houver crianças na casa, utilize apenas as bocas do fundo do fogão, mantendo as alças para trás, a �im de evitar que elas eventualmente puxem as panelas com líquidos quentes sobre si.
Mas, segundo o especialista, o produto responsável pelo maior número de queimaduras atendidas no hospital é o álcool líquido.
O médico destaca também outros casos frequentes, com substâncias corrosivas, borra de café, leite e água quentes.
O HSPE atende pacientes com queimaduras de 2º e 3º graus. O tratamento é longo e envolve mais de uma especialidade. Em muitos casos, é necessário que o paciente passe por uma cirurgia plástica. O médico ressalta que, em caso de queimadura que pareça grave e extensa, é importante buscar ajuda pro�issional imediatamente e não colocar nada sobre a queimadura. “Em caso de acidente, o ideal é dar um banho frio na criança e correr para o hospital”, conclui.
“A
substância é encontrada com facilidade para a compra. Se não for armazenado em local apropriado, as crianças podem muitas vezes usar o produto de forma inadequada, por curiosidade.”
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Revista ABCFARMA
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Economia
/ Brincando com fogo
Queimaduras de segundo e terceiro graus merecem atendimento hospitalar especializado. Como distinguir essas queimaduras das de primeiro grau? Essa detecção deve ser realizada por um médico. Por isso, deve-se sempre ir ao pronto-socorro mais próximo no caso de acidente. Como as queimaduras profundas merecem tratamento especializado, o médico provavelmente encaminhará o paciente para uma unidade especializada, se for o caso. Queimaduras de primeiro grau podem sempre ser tratadas conservadoramente, em casa? Como tratar?
Dr. Lincoln Saito Milan, do Serviço de Queimados do HSPE
Queimou. E agora? O cirurgião plástico Lincoln Saito Millan, do Serviço de Queimados do Hospital do Servidor Público de São Paulo, tira todas as dúvidas.
Se a queimadura for muito leve, deixando apenas a pele vermelha, ela pode ser tratada conservadoramente com cremes hidratantes. Mas, repetindo: a avaliação, especialmente quando a queimadura acomete uma porcentagem maior do corpo, deve ser feita por um médico. O que NÃO fazer em caso de queimadura, antes de recorrer ao médico?
A faixa etária mais acometida por queimaduras é entre o primeiro e segundo ano de vida. Qual é o tipo de acidente mais comum nessa idade e nas faixas etárias? Crianças de um a dois anos se queimam mais com líquidos quentes: água e óleo. É quando elas viram a panela do fogão. A partir dos cinco anos, as crianças se queimam mais durante brincadeiras com álcool. Queimaduras com fogos de artifício são mais frequentes em crianças de mais de 10 anos. A cozinha é mesmo o local de maior risco numa casa em termos de risco de queimaduras?
Passar qualquer tipo de produto ou remédio caseiro. Alguma providência, ainda em casa, tem alguma eficiência para aliviar o incômodo de uma queimadura leve? O recomendado é resfriar a área acometida pela queimadura com água fria, preferencialmente corrente. Esse resfriamento deve durar aproximadamente 15 minutos. Depois, leve o paciente ao pronto-socorro mais próximo. Queimaduras solares: quais devem ser os sinais de preocupação? Quando procurar ajuda?
A cozinha é potencialmente o local mais perigoso, por conter o fogão e a despensa com produtos in�lamáveis, como o álcool líquido. Quais são as regras de ouro de segurança em relação ao fogão? Não preparar alimentos que necessitem de aquecimento com a criança no colo ou próxima ao fogão. Usar as bocas do fundo e manter sempre os cabos das panelas para dentro do fogão, já que a maior parte das queimaduras são causadas por líquidos superaquecidos. Quando se diz que o álcool líquido é a maior fonte de queimaduras, estamos falando de álcool + fogo ?
Sim, estamos.
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Queimaduras solares podem ser de primeiro grau (apenas vermelhão da pele) ou de segundo grau (bolhas). No caso das primeiras, se a super�ície corpórea queimada for pequena, pode-se apenas tratar com hidratante de pele. Se a queimadura acometer muita super�ície do corpo ou houver outros sintomas associados, como bolhas, já se trata de queimadura de segundo grau e um médico deverá ser consultado.
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Prevenção TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO
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A nova era dos preservativos Novos modelos
M
elhor aliado do sexo seguro, como proteção contra doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejável, os preservativos hoje são feitos tanto de plástico como de látex, e assumem novos modelos e formatos. O objetivo é tornar o uso dos preservativos mais fácil, confortável, prazeroso e, por que não dizer, fashion.
• Preservativo Super�ino – Ideal para os homens que não desejam sentir a presença da camisinha. • Preservativo Pontilhado – O relevo, os salpicados, as ondulações e as bolinhas aumentam o prazer tanto do homem como da mulher. • Preservativo Retardante – Para homens que se queixam de ejaculação precoce, contém benzocaína, substância que retarda o orgasmo masculino. • Preservativo Espermicida – Com característica lubri�icante, contém material que oferece relativa prevenção contra a gravidez, caso o preservativo se rompa. • Preservativo Hot - Esquenta durante a relação, graças a um gel na parte interna, aquecendo o prazer.
E mais:
Começando pela matéria-prima
Para atender aos consumidores que reclamavam de preservativos muito apertados, os fabricantes têm produzido ultimamente novos modelos para aumentar o conforto e o bem-estar. É o caso de produtos com uma área alargada na ponta e com um formato mais “folgado”. Também foram lançados preservativos de poliuretano ultrafinos, com um design mais folgado e “bidirecional” – ou seja: ele pode não apenas ser desenrolado em ambas as direções, como ser puxado, na colocação sobre o pênis. Também disponíveis estão os preservativos com várias combinações exóticas de sabores, odores e/ou cores – para que o artefato de segurança não seja apenas uma obrigação, mas um acréscimo lúdico. Ou seja: cada cliente compra e usa o preservativo que mais se ajusta à sua comodidade e a seu gosto. Não há, portanto, mais nenhuma desculpa para não se usar.
Os novos preservativos de plástico têm aproximadamente a mesma espessura que os preservativos de látex, mas são menos apertados, não são dani�icados por lubri�icantes à base de óleo e não causam reações alérgicas.
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Humor TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO
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No ano da Copa
Frases sobre futebol que bateram na trave “Clássico é clássico e vice-versa...” (Jardel, ex-atacante do Grêmio e da Seleção Brasileira) “O meu clube estava à beira do precipício, mas tomou a decisão correta: deu um passo à frente.” (João Pinto, jogador do Futebol Clube do Porto, de Portugal) “No México que é bom. Lá a gente recebe semanalmente, de quinze em quinze dias...” (Ferreira, ex-pontaesquerda do Santos)
“Tanto na minha vida futebolística quanto na minha vida ser humana...” (Nunes, ex-atacante do Flamengo, em uma entrevista antes do jogo de despedida do Zico) “Haja o que hajar, o Corinthians vai ser campeão.” (Vicente Matheus, ex-presidente do Corinthians)
“Se macumba ganhasse jogo, o Campeonato Baiano terminava empatado.” (Neném Prancha, ex-roupeiro do Botafogo e filósofo da bola) “Fiz que fui, não fui, e acabei fondo!” (Nunes, ex-atacante do Flamengo) “Não venham com problemática que eu tenho a solucionática.” (Dadá Maravilha, ex-Atlético Mineiro) “Não foi nada de especial, chutei com o pé que estava mais a mão!” (João Pinto, jogador do Futebol Clube do Porto, de Portugal) “Jogador tem que ser completo como o pato, que é um bicho aquático e gramático.” (Vicente Matheus, eterno presidente do Corínthians)
“Nem que eu tivesse dois pulmões eu alcançava essa bola.” (Bradock, amigo de Romário reclamando de um passe longo) “A partir de agora meu coração tem uma cor só: rubronegro.” (Fabão, zagueiro baiano, ao chegar ao Flamengo) “Se entra na chuva para se queimar.” (Vicente Matheus, ex-presidente do Corinthians) “Na Bahia é todo mundo muito simpático. É um povo muito hospitalar.” (Zanata, ex-lateral do Fluminense) “Comigo ou sem migo o Corinthians será campeão.” (Vicente Matheus, ex-presidente do Corinthians)
“O Sócrates é invendável e imprestável.” (Vicente Matheus, ex-presidente do Corinthians) “Bom, eu não achei nada, mas o meu companheiro ali achou uma correntinha; acho que é de ouro.” (Josimar, exlateral direito do Botafogo, ao ser perguntado o que ele achou do jogo) “Tenho o maior orgulho de jogar na cidade onde Cristo nasceu...” (Claudiomiro, ex-meia do Internacional-RS ao chegar em Belém do Pará para disputar uma partida contra o Paysandu, pelo Brasileirão de 72) “Não sei, chutei, a bola foi indo, indo.... e iu!” (Nunes, ex-atacante do Flamengo ao descrever um gol que tinha feito) “Quando o jogo está a mil, minha naftalina sobe.” (Jardel, ex-atacante do Grêmio) “Campeonatinho mixuruco, nem tem segundo turno!” (Garrincha, durante a comemoração da conquista da Copa do Mundo em 58) “Realmente minha cidade é muito facultativa.” (Elivelton, ao repórter da Jovem Pam que destacava as muitas faculdades existentes na cidade natal do jogador)
“E aí, King, tudo bem?” (Mário Trigo, dentista brasileiro na Copa de 58, após abraçar efusivamente o rei Gustavo da Suécia, que entregava a taça aos brasileiros) “O pênalti é tão importante que devia ser cobrado pelo presidente do clube.” (Neném Prancha, ex-roupeiro do Botafogo e filósofo da bola) “Não tem outra, temos que jogar com essa mesma.” (Reinaldo, do Atlético, ao responder à pergunta do repórter sobre se ele ia jogar com toda aquela chuva) “O futebol é uma faca de dois legumes.” (Vicente Matheus, ex-presidente do Corinthians) “A falha individual é do coletivo.” “Vanderley Luxemburgo, explicando a derrota do Brasil contra o México, na final da Copa das Confederações 99) “O difícil, vocês sabem, não é fácil...” (Vicente Matheus, ex-presidente do Corinthians)
“Se concentração ganhasse jogo, o time do presídio não perdia uma partida.” (Neném Prancha, ex-roupeiro do Botafogo e filósofo da bola)
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“Fomos e voltemos. Não ganhemos nem perdemos, empatemos.” (Buiú, do Bahia) .
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Prevenção TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO
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Ar-condicionado
Modo de usar C om este calorão insuportável, quem tem ar-condicionado no carro, em casa ou no escritório, se sente no céu. Mas até o “céu” precisa de manutenção. Diversas complicações podem surgir para pessoas com baixa imunidade no sistema respiratório, caso certas precauções não sejam devidamente tomadas. O alerta vem do Dr. Ricardo Milinavicius, diretor da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT).
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No dia a dia, muitos recorrem aos sistemas condicionadores de ar, seja no trabalho, no carro ou até mesmo em casa. O ambiente �ica fresco e agradável, mas nem tudo é perfeito. O Dr. Ricardo chama a atenção para o fato de o ar-condicionado ressecar importantes regiões do sistema respiratório, começando pelo nariz: “A mucosa nasal é revestida por cílios vibrantes, responsáveis por expulsar bactérias, fungos e vírus que entram em nosso organismo pelo ar que respiramos. Como há o ressecamento da região, a chance de se contrair infecções aumenta”.
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Prevenção
/ Ar-condicionado: Modo de usar
Segundo o médico, é extremamente necessário que o ar-condicionado seja higienizado e seu �iltro trocado periodicamente. “Esse é um dos principais desencadeadores de doenças respiratórias: a falta de limpeza do ar-condicionado. Para pessoas que já apresentam quadros de bronquite, asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica, a DPOC, os riscos são ainda maiores, podendo levar a sinusite, amidalite e até mesmo pneumonia”.
O ideal é evitar ao máximo a longa permanência em locais com grandes conglomerados de pessoas, onde existe uma enorme troca de infecções virais. Quando não há jeito, a melhor forma de se prevenir é através de hidratação. É essencial beber muita água e umidi�icar bem as vias aéreas nasais com soro �isiológico, que lava e higieniza completamente. O �iltro dos aparelhos de ar-condicionado não consegue reter todas as impurezas existentes no ambiente – e estas se acumulam nos ductos do equipamento e entram na circulação de ar, prejudicando a saúde de quem está exposto ao aparelho.
A depender do caso, uma medida mais extrema ainda pode ser tomada. “Para alguns pacientes, como portadores de asma ou DPOC, que estão sujeitos a passar por uma crise a qualquer momento, é indicada a administração de vacina contra pneumonia para aumentar a imunidade, principalmente em pessoas com mais de 50 anos”, comenta o Dr. Ricardo.
Limpeza é fundamental
Não só o �iltro do ar-condicionado deve ser higienizado, mas também seus ductos internos, pois é lá que bactérias e resquícios de água �icam alojados. A limpeza é normalmente realizada a cada três meses e, a cada seis, o �iltro deve ser trocado. O mesmo se aplica ao ar-condicionado de carros, mas nesse caso o parâmetro para troca do �iltro é de até 10 mil quilômetros rodados, o que dá aproximadamente um ano. Diz o Dr. Ricardo Milinavicius. “É preciso ressaltar a real necessidade da manutenção frequente desses aparelhos, pois normalmente as pessoas se esquecem de fazê-lo ou deixam para depois, o que pode resultar em um desconforto respiratório geral e constante”.
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Encontros Texto e fotos: Emerson Escobar (FEBRAFAR)
Farmácias Febrafar O maior crescimento do varejo
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om o Brasil a caminho de ser o quarto maior mercado farmacêutico do mundo, as redes associadas à Febrafar já detêm 11% desse segmento Em fevereiro, a FEBRAFAR reuniu em São Paulo dirigentes das redes associadas e executivos de empresas parceiras, entre as quais a IMS Health, líder global em informações para o mercado farmacêutico, Eduardo Rocha, diretor da IMS, anunciou que o Brasil está a caminho de ser o quarto mercado farma do mundo. “O país movimentou R$ 58 bilhões no ano passado – crescimento de 16,8% se comparado a 2012”, apontou. Na oportunidade, o executivo detalhou aos diretores e gestores das 43 redes associadas a participação da comunidade FEBRAFAR no mercado brasileiro. “As redes pertencentes à FEBRAFAR têm 9% de share no varejo nacional e representam 11% do total de pontos de venda no país”. Mas, a que se deve tal crescimento? Segundo o IMS Health, ao aumento de volume de vendas, não à expansão no número de lojas. “Desde 2008, as lojas das redes associadas à FEBRAFAR, que TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO
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O presidente da Febrafar, Edison Tamascia, fala aos dirigentes das redes associadas à entidade
hoje somam quase oito mil PDVs, apresentam o maior crescimento percentual de vendas no varejo – nada menos que 13% das lojas de maior potencial do mercado total estão associadas à Federação”, ressaltou Rocha. Para o presidente da FEBRAFAR, Edison Tamascia, os números comprovam o melhor nível organizacional e estrutural conquistado pelas redes associadas, que a cada ano vêm se pro�issionalizando para prestar melhores serviços às farmácias do grupo. “A pujança do nosso mercado nos apresenta oportunidades e desa�ios. Se continuarmos transformando os desa�ios em grandes oportunidades de negócio, certamente manteremos um crescimento acima do mercado nos próximos anos”, �inaliza Tamascia.
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Festa de luz
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o mês de dezembro, a presidência da ABCFARMA recebeu inúmeros convites para solenidades de fim de ano. Entre elas, fazemos aqui o registro da celebração do Sincoelétrico - Sindicato do Comércio Varejista de Material Elétrico e Aparelhos Eletrodomésticos no Estado de São Paulo, presidido por Marco Aurélio Sprovieri Rodrigues – que ofereceu belíssima comemoração, com jantar, no Clube Espéria. Na primeira foto, Marilene Rodrigues e Maria Helena Zidoi. Na foto seguinte, o presidente da ABCFARMA, Pedro e Maria Helena Zidoi, com o presidente do Sincoelétrico, Marco Aurélio Sprovieri Rodrigues.
48 Revista ABCFARMA
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Atualidades
Biolab renova embalagens
As embalagens dos produtos da Biolab Farmacêutica mudaram. Aos poucos, o azul da companhia é substituído pelo branco, deixando-as ainda mais modernas e arrojadas. A tipogra�ia também ganhou alterações – garantindo mais leveza e permitindo que o gra�ismo �ique evidente. Com esse novo layout, os ícones também �icam mais visíveis na parte frontal das embalagens, além de maiores e mais iluminados, inclusive com a nova logomarca da companhia em destaque. Esses diferenciais melhoram a visibilidade dos produtos nas gôndolas. SAC: 0800-724 6522
Cloridrato de Nebivolol
A Torrent do Brasil está lançando o genérico Cloridrato de Nebivolol, um anti-hipertensivo betabloqueador de terceira geração. Seu maior diferencial é o mecanismo duplo de ação: a cardioseletividade – que atua exclusivamente junto aos receptores beta 1 do coração, tornando o medicamento mais e�icaz e com menos efeitos colaterais - e a indução à produção do óxido nítrico endotelial, que promove ação vasodilatadora adicional, aumentando a circulação sanguínea e reduzindo a resistência arterial periférica. O medicamento é apresentado em comprimidos bisulcados de 5 mg, podendo ser partidos, e em caixas com 30 comprimidos, facilitando o tratamento mensal.
Registro M.S.: 1052500540045. Contraindicações: Hipersensibilidade ao princípio ativo ou a algum dos excipientes, insuficiência hepática, insuficiência cardíaca aguda, choque cardiogênico ou episódios de descompensação de insuficiência cardíaca a requerer terapêutica inotrópica por via i.v., doença do nódulo sinusal, incluindo o bloqueio sino-auricular; bloqueio cardíaco de 2º e 3º grau (sem marcapasso), história de broncoespasmo e asma brônquica; feocromocitoma não tratado; acidose metabólica; bradicardia (FC < 60 b.p.m.), hipotensão arterial, distúrbios circulatórios periféricos graves. SAC: 0800 770 8818 SE PERSISTIREM OS SINTOMAS O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO
Sabonete íntimo Duo Cycles
Em dois frascos que acompanham o ciclo feminino, o Duo Cycles é um novo conceito em higiene íntima feminina: um sabonete íntimo que considera o ciclo da mulher. Produto da Silvestre Labs, empresa farmacêutica da holding Axis Biotec Brasil, chega ao mercado em duas opções de frascos para a higiene íntima: Duo Cycles, sem essência, para higiene diária, e Duo Cycles Essence, com essência exclusiva, para uma higiene íntima diferenciada em dias especiais. Juntos, os dois produtos promovem limpeza e frescor durante todo o ciclo. Registro M.S. 2.0846.0031 Registro M.S. 2.0846.0030 SAC: (21) 2142-7777
Linha Footner chega às farmácias
Já está nas farmácias de todo o Brasil, através da MIP Brasil Farma, a linha Footner de cuidados com os pés. Líder de vendas em mais de 40 países, Footner trata com segurança e praticidade as rachaduras, asperezas e calos, problemas que incomodam e que podem agora ser realmente solucionados. A meia esfoliante Footner é diferente de tudo que há no segmento de podologia. Ela deve ser calçada por 60 minutos para que o produto faça o máximo efeito. Dermatologicamente testada, ela acelera a renovação da pele e reduz as asperezas e calosidades dos pés em apenas uma aplicação. Já o creme reparador de calcanhares Footner reduz signi�icativamente a aspereza e o aspecto ressecado dos calcanhares por meio da hidratação. Ele aumenta a maciez e melhora a aparência geral dos pés. Registro M.S: 2.6499.0003.002-1 SAC: 0800 779 0055
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Levantamento ABCFARMA Texto: Celso Arnaldo Araujo
Realidade orçamentária x discurso político
Esses fatos reforçam que tais medidas não podem ser �ixadas por lei federal diante das diferenças regionais e locais de um país com as dimensões do Brasil. E ainda reforçam que a administração moderna de qualquer entidade, seja pública ou privada, não pode deixar de observar o confronto entre despesas e receitas.
Se para os conselhos de Farmácia, que são órgãos públicos corporativos da pro�issão farmacêutica sem concorrência, não é possível uni�icar os pisos e a diminuição da carga horária, o que dirá para as farmácias e drogarias espalhadas pelo país, que, na sua grande maioria, são microempresas ou empresas de pequeno porte.
L
evantamento realizado pela ABCFARMA demonstra que o Conselho Federal e os conselhos regionais patinam entre o discurso e a prática no que se refere a piso salarial e carga horária dos farmacêuticos. Os últimos certames de contratação de farmacêuticos como funcionários dos próprios conselhos demonstram que as vagas abertas têm carga horária de no mínimo 40 horas e valores iniciais de remuneração inferiores ao contido no projeto de lei que tramita no Congresso Nacional a respeito das condições de contratação desses profissionais pelo varejo.
Longe de ser uma questão unicamente condicionada à vontade das empresas, a política salarial assim, como a jornada de trabalho, deve ser baseada em princípios democráticos de negociação estabelecidos na lei, para que não se acabe criando âncoras para o desenvolvimento ou manutenção de empresas - o que é ruim tanto para os farmacêuticos que trabalham como empregados como para os que empreendem na atividade de farmácia e drogaria. A impropriedade de os conselhos de Farmácia assumirem a luta de sindicatos não está apenas no desvirtuamento de sua �inalidade de zelar pela ética da pro�issão, mas no fato de ser uma afronta à impessoalidade de um órgão público que recebe recursos das empresas. Não é à toa que a Organização Internacional do Trabalho veta pagamentos de empresas a sindicatos de categoria pro�issional.
A �ixação de piso salarial e a diminuição da carga horária dos farmacêuticos são reivindicações atuais dos conselhos de Farmácia, que com isso deixam de lado sua função institucional de zelar pela ética da pro�issão para exercer a função de sindicato, pleiteando direitos trabalhistas.
Levantamento realizado pela ABCFARMA nos últimos concursos para contratação de farmacêuticos nos próprios conselhos de Farmácia demonstram que as vagas abertas são para uma carga horária de trabalho de no mínimo 40 horas, contra as 30 horas agora reivindicadas, e salários mensais de R$ 2.225,00, como no caso do CRF-PI - portanto bem distante do piso estabelecido no Projeto de Lei, que prevê o valor de R$ 4.600,00.
Portanto, está na hora de se distanciar da política e zelar pela ética da pro�issão.
Esse levantamento comprova que o discurso político não corresponde à prática, pois independentemente de lei, os conselhos de Farmácia poderiam arcar com o valor do piso e reduzir a carga horária dos farmacêuticos que integram seus quadros -- pleitos que os conselhos desejam que sejam �ixados por leis do Congresso Nacional, a �im de enquadrar os empregadores, sobretudo farmácias e drogarias, que hoje empregam mais de 80% dos farmacêuticos ativos. Evidente que o fato de os conselhos de Farmácia não se adequarem, na prática, a seu discurso político obedece a uma questão orçamentária: não é possível fazer benesses além das que cabem no seu orçamento.
Salário
Carga horária
Concurso
CFF
R$ 4.243,82
40h
2010
CRF-MG
R$ 4.359,53
40
2014
CRF-MS
R$ 2.446,40
40h
2012
CRF-CE
R$ 2.236,69
40h
2012
CRF-SP
R$ 4.449,68
40h
2013
CRF-PI
R$ 2.225,00
40h
2013
CRF-RS
R$ 3.744,67
40h
2013
Levantamento realizado pela ABCFARMA demonstra que os últimos concursos dos Conselhos tem carga horária mínima de 40 horas e piso inferior ao que se reivindica politicamente.
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Revista ABCFARMA
• março/14
Comportamento
/
por: Dr. André Felício
TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO
/
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Síndrome das pernas inquietas Balança, mas não cai
A
cena é conhecida: a pessoa está se preparando para deitar, depois de um longo dia, e, nesse exato momento de descanso, as pernas começam a doer, e há uma intensa vontade de balançar os membros inferiores. Pode ser um episódio da chamada Síndrome das pernas inquietas, a SPI, um problema neurológico que acomete de 5 a 10% da população, mas é pouco reconhecido – como explica aqui o Dr. André Felício, neurologista e médico pesquisador do Hospital Israelita Albert Einstein/SP
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• março/14
Comportamento
/ Síndrome das pernas inquietas
Dá para evitar? A denominação “pernas inquietas” se refere ao fato de o indivíduo ter que movimentar as pernas para aliviar os sintomas desconfortáveis, como dor, formigamento e ardor nas pernas, do joelho para baixo, especialmente no �inal do dia, e que pode piorar em períodos de repouso prolongado. Outra pista para o diagnóstico de Síndrome das pernas inquietas são os movimentos periódicos dos membros, que ocorrem à noite durante o sono, e são involuntários. A síndrome costuma deixar re�lexos no dia seguinte, quando se nota o excesso de bagunça nos lençóis. Em relação a fatores que podem agravar a síndrome das pernas inquietas – explica o Dr. André Felício – destaca-se o consumo abusivo de cafeína, um dos vilões de quem sofre dessa síndrome. Por outro lado, movimentar-se (caminhar ou correr) e fazer massagem nas pernas são boas providências para aliviar os sintomas. Muitos dos que sofrem da síndrome das pernas inquietas nessa hora podem contar com os parceiros de cama para auxiliar com massagens ou outras técnicas de relaxamento.
Ainda não há formas de prevenção para a Síndrome das pernas inquietas, até porque grande parte dos casos é hereditária. A boa notícia – diz o Dr. André – é que há algumas medicações que podem amenizar bastante os sintomas, como remédios das seguintes classes: agonistas dopaminérgicos, anticonvulsivantes e benzodiazepínicos. Evidentemente, o ideal é buscar orientação de um médico familiarizado com o problema – que irá sugerir a melhor opção de tratamento ao paciente, após con�irmar o diagnóstico. A Síndrome das pernas inquietas é um problema comum que deve ser lembrado como uma das causas de desconforto nos membros inferiores, que ocorre predominantemente no �im do dia e melhora com a movimentação.
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• março/14
Crônicas
/
por: Dr. Elias Knobel
TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO
/
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Crônica da
vida por um fio
C
om 45 anos de profissão e mais de 70 mil pacientes atendidos, o cardiologista Elias Knobel, fundador do Centro de Terapia Intensiva do Hospital Albert Einstein e hoje vice-presidente dessa instituição médica, acaba de lançar um livro com casos surpreendentes, emocionantes e divertidos vividos no hospital e consultório: Vivências e Confidências. Uma dessas histórias é “Confidências a Mafalda”, que venceu o concurso de crônicas da Associação Médica Brasileira, na qual ele fala de uma companheira de UTI – a boneca Mafalda, personagem real de um caso inesquecível em que a vida esteve por um fio Mafalda, há quanto tempo você me acompanha, ouvindo minhas preocupações, alegrias e ansiedades? Sem contar as histórias de vidas passadas aqui na UTI que dividi com você. Lembra-se de Tony, aquele rapaz de boa aparência que se internou aqui sem diagnóstico? Como foi di�ícil contar à família que o jovem saudável tinha Aids. Recordo, como se fosse hoje: a família a contestar o resultado dos exames, a dizer que havia algo errado. Quantas vezes entrei em minha sala e recuperei a calma, desabafando-me com você. Também não sai da minha cabeça aquela linda menina que chegou à UTI pediátrica com 50% de seu corpo queimado. Apesar de acostumado com casos graves, �iquei extremamente abalado ao ver a criança des�igurada, brincando como se nada tivesse acontecido. Mais emocionante foi ouvir de sua mãe, uma mulher de força incomparável e abnegação sem igual, que ela estava feliz por ver a �ilha viva e que tudo daria certo. Uma fé que emociona e que toca fundo na gente. E você ouviu tudo. Ficou ali, passiva, tranquila, enquanto eu tentava, a duras penas, afogar a emoção diante de uma situação tão di�ícil.
O Dr. Elias Knobel, fundador da UTI do Hospital Albert Einstein, com a boneca Mafalda, feita pela esposa de um paciente ali internado
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Parceria e con�iança são palavras que se aplicam bem ao nosso dia a dia de alegrias e tristezas vividas juntas na UTI. É bom ter alguém para dividir a alma, sem ter medo de ser julgado, criticado ou mal entendido. Você faz há anos esse importante
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•março/14
Crônicas
/ A vida por um fio
papel, sem pedir nada em troca. Mantendo-se calada à frente de meus pensamentos e opiniões.
Lembro bem da primeira vez que a vi sentada junto ao leito de Carlos, velando seu sono. Há cerca de 10 anos, um grave acidente ocorrido numa estrada de Mato Grosso trouxe Carlos, em estado de coma, para nossa UTI. Era um homem alto, de boa aparência, com pouco mais de 40 anos. Assim que ele chegou à UTI, seu nome me chamou a atenção. Soava conhecido. Puxei pela memória e, claro, lembrei-me de já ter encontrado com o publicitário de sucesso em alguns eventos sociais. O caso era grave. Carlos tinha muitas fraturas, mas o que mais nos a�ligia era um sério traumatismo craniano e de tórax. Em pouco tempo, além dos cuidados com Carlos, nossa equipe se deparou com familiares extremamente nervosos com a situação. Nanci, a esposa, chegou desolada, acompanhada das duas �ilhas adolescentes que não paravam de chorar e perguntar pelo pai. As três davam mostras de desequilíbrio e desespero, muito naturais por conta da situação.
“O caso era grave, Carlos tinha muitas fraturas. Em pouco tempo, além dos cuidados com Carlos, nossa equipe se deparou com familiares extremamente nervosos”
Nos primeiros dias, como sempre, a sala de espera �icava lotada. Mais de um acompanhante brigava por permanecer com o paciente, mas, após a primeira semana, a vida lá fora é mais forte e precisa ser retomada. No caso de Nanci, as obrigações com a empresa e com a administração familiar se �izeram imprescindíveis. A jovem, antes dondoca e despreocupada, assumia a partir dali uma nova postura na vida. E, o que parecia impossível, aconteceu: a então frágil Nanci se mostrou uma fortaleza, assumiu os negócios do marido, a rotina da casa, dividiu responsabilidades com as �ilhas e ainda montou uma rotina de visitas. Mas as atividades eram muitas para um dia de apenas 24 horas. E, por vezes, Carlos se encontrava sozinho.
A�inal, Carlos era o pilar da família. Com o convívio, percebemos que era ele quem dirigia não apenas o dia a dia de sua empresa, mas também a rotina da casa. As decisões – todas – �icavam sob sua batuta. A esposa, moça jovem e inteligente, era artista plástica, com curso no exterior e prêmios internacionais. A ela cabiam as tarefas mais intelectuais, menos práticas. Contas, compras, administração da casa estavam fora das suas atribuições. E, a partir daquele momento, a moça de família abastada que sempre fora tratada como princesa e poupada da administração da vida teria que enfrentar o acidente do marido, acompanhar sua luta pela recuperação, encarar possíveis sequelas e ainda assumir integralmente a empresa e a casa. Um desa�io tão grande quanto o de Carlos. Carlos passou por uma cirurgia complexa, mas de extremo sucesso. Os riscos de sequelas pouco a pouco eram diminuídos e só o tempo nos diria como aquele pai de família �icaria. Nesses casos a internação é longa. No caso dele foram sete meses de UTI. A família costumava revezar no acompanhamento do paciente. Mas com Carlos, além dos pais, apenas Nanci e as �ilhas podiam �icar com o paciente. Uma exigência da esposa, mais tarde con�irmada pelo próprio Carlos.
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Foi nesse momento, por volta do 20° dia de internação, que você chegou, Mafalda. Era uma tarde de terça-feira, de um dezembro abafado, quando a vi pela primeira vez, sentada em uma pequena poltrona à beira da cama de Carlos. Toda de branco, saltava-lhe o batom vermelho claro nos lábios grossos. Era discreta, mas ao mesmo tempo sensual. Com estatura mediana, cabelos castanhos claros devidamente presos e com apenas alguns �ios propositalmente caídos, vestia um tailleur branco bem cortado e ajustado ao corpo. O decote em “V” era disfarçado pelo estetoscópio. Tudo em você era elegante, sem exageros, só com um pouco de sedução. Seu rosto apesar de marcado por uma expressão forte transparecia também certa delicadeza. Aos seus grandes e vivos olhos não escapavam nada. Suas pernas longas, sempre cruzadas, pareciam
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Crônicas
prontas para um salto, caso fosse necessária alguma ajuda rápida ao paciente.
/ A vida por um fio
rei Mafalda aqui. Sei que o senhor tem apreço por ela. Mafalda será a sua companhia, sua enfermeira especial.” Fiquei espantado com a proposta. Mas naquele momento só me restou abrir um sorriso e consentir com a cabeça.
Entrei, cumprimentei e você continuou ali, imóvel com aquele meio sorriso de sempre. Passava os dias a fazer companhia a Carlos. Só saia da poltrona para dar lugar a Nanci ou algum parente. Nunca deixou seu posto. Seu nome, Mafalda, parecia não combinar com a jovem e formosa enfermeira. Mas que aos poucos passou a soar agradável em meus ouvidos.
A cirurgia foi um sucesso. No dia de sua alta – uma manhã fria de julho – havia muitos pacientes novos, em estado grave e eu só �iz correr de um lado para outro, acompanhando as internações, orientando a equipe... E mal me lembrei da estranha promessa de Nanci, feita aos prantos no dia da cirurgia: “Se meu marido se recuperar, deixarei a Mafalda com o senhor.” De repente, Carla, minha secretária de muitos anos, me bipou e falou com certo espanto: “Doutor, eu encaminho a Mafalda para sua sala?”
Os meses foram se passando e em pouco tempo Carlos teria alta, voltaria para casa. Era tudo que ele e a esposa desejavam. A�inal, foram sete meses de internação, de angústias, dúvidas e esperanças.
Lembro que pouco antes de Carlos entrar na sala de cirurgia, em seu segundo mês de internação, Nanci veio aos prantos em minha sala. A neurocirurgia era complexa – signi�icava a chance de Carlos recuperar os movimentos ou o risco de perdê-los para sempre. À jovem transparecia nervosismo. Segurou em minhas mãos e perguntou: “Doutor, posso con�iar, posso ter fé que tudo dará certo?” Minha resposta foi �irme: “Con�ie em Deus e nos médicos que irão fazer a operação. Tudo dará certo.” E ela, com olhar marejado e voz fraca, balbuciou: “Vou con�iar e, se tudo der certo, agradecerei a Deus, aos médicos e ao senhor. Como gratidão eu deixa-
Confesso que perdi alguns segundos tentando decifrar aquela pergunta. “Como?”, respondi meio assustado. “A dona Nanci deixou a Mafalda aqui e queria saber se posso encaminhá-la para sua sala.” Eu disse que sim. Meu coração bateu mais forte. Não é que Nanci havia cumprido a sua promessa...
Andei apressado até minha pequena sala na entrada da UTI, no quinto andar do hospital. Lá estava você, Mafalda, sentada em uma de minhas poltronas, com o mesmo sorriso, com a mesma cruzada de pernas. Abracei-a forte como uma criança. Mafalda, uma boneca de pano tão perfeita que parecia gente, agora ali na minha sala. Mafalda era só minha, presente de Nanci, uma artista plástica talentosa e bem humorada, que confeccionou a boneca para dar alegria e a sensação de companhia ao marido internado. Durante aqueles sete meses, Mafalda foi uma atração à parte na UTI: médicos e funcionários de outros andares não resistiam em visitá-la. Parentes de pacientes faziam questão de passar pelo leito de Carlos para dar uma olhada naquela �igura caricata. Carlos nunca �icou sozinho e fez muitos amigos por conta da boneca de pano.
“A neurocirurgia era complexa – significava a chance de Carlos recuperar os movimentos ou o risco de perdê-los para sempre”
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Mafalda permaneceu durante muitos anos em minha sala na UTI. Foi visitada por curiosos e ajudou a quebrar o clima tenso do setor. Mas sua principal função sempre foi ouvir os pensamentos desse médico que vive no limiar da vida e da morte. E que encontra em uma obra de arte, feita de pano e de carinho, uma companheira que está sempre a sorrir e disposta escutar com paciência.
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NOTAS TEXTO: CELSO ARNALDO ARAUJO
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Anticoncepcionais Segurança e saúde da mulher
A
o longo dos últimos 30 anos, os anticoncepcionais orais foram aprimorados - e não são usados apenas para prevenir a gravidez. Conheça algumas outras funções desse pequeno, mas poderoso, comprimido Foi-se o tempo em que a opção por um contraceptivo oral era feita apenas pela mulher que queria evitar uma gravidez. Assim como se foi o tempo em que muitas mulheres viviam com medo dos efeitos colaterais da “pílula”. Nos anos 1960, esses medicamentos eram elaborados com altíssimas doses hormonais e justi�icavam os temores. Esse cenário, no entanto, passou. Por isso, os médicos não hesitam em receitar anticoncepcionais inclusive para outras �inalidades que não seja a prevenção de uma gravidez indesejada
Faculdade de Medicina do ABC, na Grande São Paulo. E a ideia de que seu uso possa diminuir o risco de doenças, como endometriose e câncer de ovário, foi reforçada por uma recente revisão de estudos realizada por cientistas da Universidade de Viena, na Áustria. Eles cruzaram dados de centenas de pesquisas mundo afora e concluíram que há vários motivos extras para a mulher tomar o remédio – há anticoncepcionais com ação contra a acne, tensão pré-menstrual e menstruação irregular, e outros que podem ser usados na prevenção e tratamento de miomas uterinos e cistos ovarianos. Claro que só o médico poderá fazer essa indicação. E um lembrete – há uma contraindicação formal para mulheres que tomam pílulas: não fumar. Anticoncepcionais e tabaco formam uma dupla terrível contra as artérias do coração da mulher.
A receita básica da pílula permanece a mesma — uma combinação de versões sintéticas dos hormônios estrogênio e progesterona. “Mas os anticoncepcionais de última geração têm níveis bem menores dessas substâncias e agem de maneira muito mais con�iável”, garante o ginecologista César Eduardo Fernandes, da
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• março/14
Dica
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por: Felipe Bedran
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Segredos do atendimento
N
o mês passado, discutimos o valor agregado, que pode auxiliá-lo nas vendas ou que pode ajudá-lo a entender melhor o que seu consumidor prefere – marca ou preço. Aqui, abordaremos o atendimento – fator que também agrega valor ao seu ponto de venda.
O atendimento personalizado pode ser a grande arma de um pequeno lojista para conseguir conquistar ou reconquistar consumidores que migraram para as grandes redes em busca de preços mais atrativos. Sabemos que os grandes têm maior poder de barganha, via negociação, com os laboratórios, devido a seu volume de compras. Então, como compensar o preço?
Felipe Bedran é publicitário e mestre em Gestão Internacional, com foco no comportamento do consumidor
Numa visita a uma loja da Kopenhagen, loja de chocolates e café, vi uma cartolina no fundo, numa área reservada a quem trabalha lá. Convenci a funcionária a me explicar o que era. Fiquei surpreso e muito feliz com a função daquela cartolina: é lá que elas escreviam o nome dos seus consumidores mais assíduos, seus produtos favoritos, sua data de aniversário, características de personalidade e até coisas de que gostavam, que não fosse café ou chocolate. As funcionárias estavam conhecendo seu cliente, de forma aprofundada, para poder atendê-lo melhor.
Antes da resposta, temos que entender dois conceitos: autoatendimento e atendimento
personalizado. O autoatendimento caracteriza a loja na qual
o consumidor vai até a gôndola, pega seus produtos e depois se dirige ao caixa. Esse sistema permite maior �luxo de pessoas na loja com um menor número de funcionários. Vemos isso em supermercados, onde às vezes temos que caçar alguém que nos indique onde se encontra um produto e, ao mesmo tempo, essa pessoa geralmente não sabe detalhes sobre cada um dos itens vendidos naquele mercado.
Será que você pode fazer isso também? Se você já sabe os nomes dos seus clientes, seus gostos, seus produtos principais, por que não escreve tudo isso? Assim, você pode passar essas informações para seus funcionários, que também podem melhorar seu atendimento, produzindo uma imagem melhor de seu estabelecimento.
O atendimento personalizado é o inverso.
O consumidor é “acompanhado” por um atendente, que o auxilia na escolha -- sendo bem informado sobre características dos produtos e sua localização. Um exemplo é o atendimento de lojas de shopping. Não a C&A, mas as lojas menores, onde um atendente se apresenta pelo nome e diz que estará pronto para ajudá-lo sempre que quiser.
Esse tipo de atendimento permite, por exemplo, que você ligue para um cliente quando um produto, que estava em falta, chegar. Essa segunda visita do consumidor, para levar o que faltava, pode gerar mais vendas, mas, principalmente, vai gerar maior simpatia em relação ao seu ponto de venda. Lembra do valor agregado? Está começando a se formar! Lembra que os grandes têm preço? Você tem atendimento personalizado! E nem precisa de muitos funcionários pra isso.
Ainda em relação a atendimento: quando adolescente fui bartender e, no meu treinamento, nos ensinavam a conversar sobre tudo com o cliente, com exceção de política, futebol e religião. Estes são assuntos que deixam as pessoas contrariadas. De repente é uma boa dica para você, mas lembrese de que minhas principais dicas são:
1 - Sempre observe seu consumidor. Considerando o atendimento, preste atenção quando um sorriso se forma em seu rosto e tente fazer com que esses momentos sejam mais e mais constantes. 64
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2 - Sorte não tem nada a ver com isso!
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Artigo
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por: Walter Ihoshi
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O poder do abaixo-assinado
A
pós décadas pagando pelo remédio mais caro do mundo, os brasileiros podem começar a ter esperança de ver este cenário mudar. A Câmara dos Deputados está instalando uma comissão especial para analisar todos os projetos referentes à redução de impostos sobre os medicamentos em trâmite na Casa.
Walter Ihoshi – Deputado Federal (PSD/SP), criador e coordenador da Frente Parlamentar pela Desoneração Fiscal dos Medicamentos
Pelo menos foi essa a promessa feita pelo presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN), em ato público realizado dia 12 de fevereiro, depois de receber mais de 2,6 milhões de assinaturas em apoio à desoneração dos remédios no Brasil.
de consumidores deixaram seus nomes no papel por saber que o documento seria levado ao Parlamento. Em todos os lugares por onde passei, ressaltei a importância da participação de cada um para que a comissão especial fosse criada.
Como presidente da Frente Parlamentar pela Desoneração dos Medicamentos, entregar 3,8 mil cadernos ao Congresso Nacional com assinaturas coletadas em diversos estados do país me fez perceber que, apesar de boa parte dos consumidores brasileiros não saberem que a alta carga tributária encarece os remédios no Brasil, ninguém mais aguenta desembolsar fortunas para se tratar.
Hoje, tenho a alegria de ver meu trabalho de formiguinha gerar resultado. Ainda é o primeiro passo de uma longa caminhada. Mas, agora, ganharei reforços. Após o evento de 12 de fevereiro, muitos deputados e senadores me procuraram, interessados no tema e querendo colaborar. Além do presidente da Câmara, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB/AL), se manifestou a favor de tirar os projetos da Casa da gaveta, com o apoio do presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Vital do Rêgo (PMDB/PB).
Embora a maioria das assinaturas entregues na Câmara tenha sido recolhida em outubro, milhares delas foram coletadas por parlamentares, membros da frente. Eu e minha equipe, inclusive, temos visitado dezenas de cidades desde que lancei a Frente pela Desoneração dos Medicamentos, no início do ano passado. Tenho ido a eventos e às ruas, conversado com a população, e as pessoas não têm ideia do peso dos tributos no próprio bolso. No caso dos remédios, o percentual de tributação chega a 34%, o que representa mais de um terço do preço final, enquanto a média mundial é de 6%. Em muitas nações, esses produtos são isentos de qualquer taxação. Ao dizer isso, todos se espantam, se indignam e imediatamente se disponibilizam a passar essa informação adiante, com o intuito de ajudar a mudar esta história.
O primeiro objetivo estabelecido pela Frente Parlamentar está sendo alcançado e projetos de lei que pedem a desoneração dos remédios no Brasil, parados há anos no Congresso, finalmente terão a atenção que merecem. Um deles, o PL 6612/13, é de minha autoria, e estabelece um prazo para que os novos princípios ativos sejam analisados. Aprovados, eles devem ganhar isenção fiscal de maneira automática. Dessa forma, os medicamentos de ponta chegarão às farmácias e drogarias com um preço mais acessível. Não quero fazer demagogia. Minha meta, a meta da Frente Parlamentar e das entidades do setor farmacêutico engajadas nessa luta, é conscientizar a população de que o Brasil paga muito caro por seus remédios e não precisava ser assim. Mostrar que o acesso à saúde é um direito garantido pela Constituição Federal, e que não é justo mais de 50% dos brasileiros abandonarem seus tratamentos médicos por não terem condições de comprar medicamentos. Queremos fazer um trabalho sério, debater o assunto com a sociedade e aprovar projetos de lei realistas, que vão contribuir de fato com o país. Afinal de contas, ao baratear o preço dos remédios todos os cidadãos serão beneficiados. E a saúde pública também.
O abaixo-assinado que tive o orgulho de levar ao presidente Henrique Alves é o resultado dessa mobilização. Tenho certeza de que, se a campanha fosse estendida, esse número se multiplicaria. Os 2.620 milhões
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Artigo
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por: Mario Sergio Cortella
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Vida e carreira: um equilíbrio possível G
osto demais do que um dia escreveu o britânico Beda, o Venerável, lá no século VIII: “Há três caminhos para o fracasso: não ensinar o que se sabe; não praticar o que se ensina; não perguntar o que se ignora”. Por isso, uma carreira a ser “turbinada” exige a capacidade de “ensinar o que se sabe”, isto é, ter permeabilidade e ser reconhecido como alguém que reparte competências, de modo a fortalecer a equipe e demonstrar ambição (querer mais) em vez de ganância (querer só para si, a qualquer custo). É necessário também “praticar o que se ensina”, de forma a deixar clara a coerência de postura, o equilíbrio entre o dito e o feito, e a disposição para assumir com segurança aquilo que adota como correto.
de (sem subserviência) de compreender e viver aquilo que Sócrates, na Grécia clássica, nos advertiu: “Só sei que nada sei”, ou seja, só sei que nada sei por inteiro, só sei que nada sei que só eu saiba, só sei que nada sei que não possa ainda vir a saber.
Por �im, o mais importante, “perguntar o que se ignora”, pois corre perigo aquele ou aquela que não demonstrar que está sempre em estado de atenção (em vez de estado de tensão) para ampliar capacidades e assumir a humilda-
A�inal, os projetos e metas em qualquer organização são apenas um horizonte que funciona especialmente para sinalizar quais são as possibilidades e limites de progressão; no entanto, horizontes não são obstáculos e sim fronteiras.
Performance e “fazer” carreira exigem atitude e iniciativa e, por isso, é um “fazer” em vez de ser um “receber”. Construir o equilíbrio das intenções com as condições é prioritário, sempre lembrando que o equilíbrio precisa ser em movimento (como na bicicleta), sem conformar-se com o sedutor e falso equilíbrio que se imagina atingir ao se �icar imóvel. Em 2007, a Brasilprev pediu-me uma pequena re�lexão sobre equilíbrio na vida pessoal e pro�issional; eu o chamei de “Ô balancê, balancê…”. E agora aqui o retomo.
Mario Sergio Cortella
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Balancê? Por incrível que pareça, esse termo francês signi�ica, na dança, �icar apenas alternando um pé com o outro, mexendo o corpo para lá e para cá, mas, sem sair do lugar. Quando, em 1936, Braguinha e
Revista ABCFARMA
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Artigo
Fundamental é tudo aquilo que te ajuda a chegar ao essencial. Fundamental é a tua ferramenta, como uma escada. Uma escada é algo que me ajuda a chegar a algum lugar. Dinheiro não é essencial. Dinheiro é fundamental. Sem ele, você tem problema, mas ele, em si, não resolve. Emprego é fundamental, carreira é fundamental.
Alberto Ribeiro compuseram essa marchinha de carnaval, não poderiam supor que mais de 70 anos depois alguns de nós usaríamos a última estrofe como uma lamentação estagnante do desequilíbrio entre vida pro�issional e vida pessoal: “Eu levo a vida pensando /Pensando só em você / E o tempo passa e eu vou me acabando / No balancê, balancê”.
“Acho que estou precisando colocar as coisas na balança e ver como consigo lidar melhor com a minha vida no trabalho e a minha vida particular.” Tem ouvido muito isso? Tem pensado muito nisso? Ainda bem; é sinal de sanidade. Qualquer perturbação que abale a integridade e autenticidade do que se vive é perniciosa. Todas as vezes que se tem a sensação de se ser “dois”, isto é, de existir de forma dividida, há o perigo de ter de escolher um e relegar o outro.
O essencial é o que não pode não ser. Essencial é aquilo que faz com que a vida não se apequene. Que faz com que a gente seja capaz de transbordar.
Repartir vida. Repartir o essencial, a amizade, a amorosidade, a fraternidade, a lealdade. Repartir a capacidade de ter esperança e, para isso, ter coragem.
Coragem não é a ausência de medo. Coragem é a capacidade de enfrentar o medo. O medo, assim como a dor, é um mecanismo de proteção que a natureza coloca para nós. Se você e eu não tivermos medo nem dor, �icamos muito vulneráveis. Porque a dor é um alerta e a dor nos prepara. É preciso coragem para que a nossa obra não se apequene. E, para isso, precisamos ter esperança.
A questão vital não é dividir-se, mas, isso sim, repartir-se. Pode parecer óbvio: quando se divide, há uma diminuição; quando se reparte, há uma multiplicação. Em outras palavras: se me divido entre duas atividades, vem sofrimento; se me reparto, vem equilíbrio.
Não por acaso, a palavra “equilíbrio” está ligada à ideia de pesar, avaliar, aferir e, portanto, colocar na balança. A expressão latina aequilibrium tem a sua origem em equ (igual) e libra (balança).
E, como dizia o grande Paulo Freire, “tem de ser esperança do verbo esperançar”. Tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. “Ah, eu espero que dê certo, espero que resolva, espero que funcione.” Isso não é esperança.
Balancear as dimensões vitais favorece uma mente sadia; a�inal, a vida pro�issional é parte da vida pessoal e não toda ela. Não deve pesar mais, nem menos. Terá a gravidade (em múltiplos sentidos) que for obtida pelo honesto valor que a ela for atribuído.
Esperançar é ir atrás, é se juntar, é não desistir. Esperançar é achar, de fato, que a vida é muito curta para ser pequena. E precisamos pensar se estamos nos dedicando ao importante em vez de ao urgente.
O que não dá é �icar só balançando sem sair do lugar; harmonia é construção planejada e persistente, em vez de pura espera.
Tem gente que diz: “Ah, mas eu não tenho tempo”. Atenção: tempo é uma questão de prioridade, de escolha. Quando eu digo que não tenho tempo para isso, estou dizendo que isso não é importante para mim. Cuidado, você já viu infartado que não tem tempo? Se ele sobreviver, ele arruma um tempo. O médico dizia “você não pode fazer isso, tem de andar todo os dias”. Se ele infartar e sobreviver, no outro dia você vai vê-lo, às 6 horas da manhã, andando. Se ele tinha tempo, que ele teve de arrumar agora, por que não fez isso antes? Você tem tempo? Se não tem, crie. Talvez precisemos rever as nossas prioridades.
Para que harmonia, então?
Como um dia desenvolvi no meu livro Qual é a Tua Obra? (Inquietações Propositivas sobre Gestão, Liderança e Ética) publicado pela editora Vozes: Cuidado, a vida é muito curta para ser pequena. É preciso engrandecê-la. E, para isso, é preciso tomar cuidado com duas coisas: a primeira é que tem muita gente que cuida demais do urgente e deixa de lado o importante. Cuida da carreira, do dinheiro, do patrimônio, mas deixa o importante de lado. Depois não dá tempo. A segunda grande questão é gente que se preocupa muito com o fundamental e deixa o essencial de lado.
O essencial é tudo aquilo que não pode não ser: amizade, fraternidade, solidariedade, sexualidade, religiosidade, lealdade, integridade, liberdade, felicidade. Isso é essencial.
/ Vida e Carreira
Será que estamos cuidando do urgente e deixando o importante de lado? Será que não estamos atrás do fundamental, em vez de ir em busca do essencial?
*Mario Sergio Cortella é filósofo, palestrante, mestre e doutor em Educação pela PUC-SP, onde é professor do Departamento de Teologia e Ciências da Religião e da Pós-Graduação em Educação
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Revista ABCFARMA
• Março/14
Economia
/
por: Nelson Mussolini
TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO FOTOS: DIVULGAÇÃO
Reajuste
de preços
A expectativa da indústria
Estamos em meados de fevereiro e ainda não se conhecem nem a fórmula nem os números do reajuste anual de 31 de março. Isso preocupa? É um absurdo para um setor que cresce a dois dígitos por ano, muito acima do que cresce o Brasil, estar a 45 dias do aumento de preços e ainda não conhecer a fórmula de reajuste – que este ano deve ter alguns fatores alterados. A esta altura, porém, nossa maior preocupação é como o investidor vai formular seus planos em relação a este ano, sem saber como será o reajuste de preços e o reajuste de salários. Isso deveria ter sido divulgado em setembro do ano passado, para um melhor planejamento. Nós podemos estar trabalhando numa expectativa de aumento zero para certas categorias de produto. De qualquer forma, a indústria aguarda um aumento inferior ao incremento de custos no ano? Isso é uma certeza. Em janeiro de 2013, o dólar era R$ 1,92. Este ano, fechamos janeiro a R$ 2,42. Essa diferença de 50 centavos atinge a veia do custo.
Nelson Mussolini
N
o próximo dia 31, os medicamentos comercializados no Brasil serão reajustados pelo índice anual calculado pelo governo federal. Mas a indústria teme que a fórmula de reajuste desta vez seja ainda mais complicada que em anos passados – e que o reajuste fique, novamente, bem abaixo do aumento de custos do setor. Nesta entrevista, Nelson Mussolini, presidente executivo do Sindusfarma – Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo – fala sobre as preocupações do segmento com essa defasagem entre custos e preços e as consequências disso
Mas como lidar com essa distorção econômica? Cortando custos? Isso é possível?
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Não, porque estamos no limite da redução de custos. O que fazia a indústria sobreviver até agora é que a redução de margem vinha sendo minimizada pelo aumento de faturamento – claro que com um esforço muito maior nas vendas. Mas agora preocupa o fato de que o aumento de 16% em valores ou de 12% em unidades nas vendas do ano passado não vai compensar o aumento de custos.
Revista ABCFARMA
• março/14
Economia
Além do dólar, a folha de pagamento foi reajustada em 8,5% no ano passado, para um reajuste médio de preços nos medicamentos de 3,56%. Está começando a �icar impraticável. Nossa preocupação pode ser representada, em números, pelo quadro que mostra a evolução dos custos de produção, da in�lação e dos preços dos medicamentos desde 2006 e que tenho apresentado às autoridades do governo: reajuste dos medicamentos do nível 3, ou seja, ainda cobertos por patentes – 27%; INPC – 49%; reajuste salarial – 67%. Ninguém cortará força de vendas ou força de trabalho na fábrica. Onde se corta? Nos investimentos em novos produtos, novas tecnologias. O Brasil está colocando em risco a vital questão dos biossimilares. Se não houver remuneração do capital, não haverá investimentos nesse negócio. Até quando e onde conseguiremos levar essa defasagem? Vai chegar uma hora em que não será possível pagar a conta. O que o governo alega? Medicamentos são produtos diferenciados, muito sensíveis?
Sim e nos recomendam reduzir o desconto na ponta... Os descontos na ponta ocorrem pela concorrência, mas muitos produtos estão com suas margens tão apertadas que não podem receber descontos. Há empresas de nosso setor trabalhando com margem zero. Mas todos continuam trabalhando porque o Brasil é o país do futuro. A indústria farmacêutica brasileira está apoiada em três pilares de sustentação. O primeiro é a Anvisa, a partir do momento em que passou a exigir de todos as empresas os mesmos testes de qualidade e os mesmos cuidados na elaboração de dossiês. Isso acabou com a concorrência desleal pela diferença de qualidade. Todos têm que cumprir as boas práticas de fabricação. Acabou o fundo de quintal. O segundo pilar é o nível de emprego. Com nível de emprego alto, uma pessoa com enxaqueca compra remédio; se estiver desempregada, vai para o quarto escuro e espera a dor passar. O terceiro pilar, fundamental, é previsibilidade. Pararam os solavancos e os soluços de mercado. O ministro de plantão não mais acorda com a ideia de mexer ou congelar preços naquele dia. O capital é um bicho arisco – a qualquer alteração das condições ambientais, ele se retrai e paralisa. Ora, a partir do momento em que se começa a mexer nesse pilar, com intervenção nos preços, surge um problema.
/ Reajuste de preços
Aumento de custos X reajuste de medicamentos: defasagem no limite A anunciada bioequivalência entre similares e genéricos também preocupa a indústria? Sim. Quando, em 2003, anunciou-se a exigência de bioequivalência entre as duas classes de medicamento, em nenhum momento a Anvisa mencionou que o resultado dessa exigência seria a intercambialidade dos medicamentos mais à frente. Em nenhum momento se tocou nesse ponto. A intenção inicial era apenas equiparar a qualidade entre esses dois segmentos. Não é função da Anvisa a interferência na prática comercial. Mas a intercambialidade vai afetar a venda no balcão da farmácia?
Sim, porque a intercambialidade só deveria ser feita como acontece em outros países do mundo: produtos de marca por genéricos. A ideia do governo parece ter sido criar mais uma marca forte, como o Mais Médicos, agora no campo dos medicamentos: a EQ, produtos equivalentes. Isso, na visão do governo, aumentaria a concorrência e reduziria os preços. Mas o que provavelmente vai acontecer é que teremos apenas duas ou três indústrias especializadas em EQ e a concorrência vai diminuir, em vez de aumentar – com provável desemprego na classe dos propagandistas vendedores. Vocês levaram essas preocupações ao governo?
O então ministro Alexandre Padilha nos ouviu, mandou prosseguir a consulta pública, e propôs discutir todos os impactos que isso pode gerar no mercado em outro fórum, com prazo de 120 dias. Vamos aguardar.
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Revista ABCFARMA
• março/14
Entrevista / por: Celso Arnaldo Araujo FOTOS: VALOR ECONÔMICO / DIVULGAÇÃO
Henrique Tada
Similar X Genérico Uma equivalência bem-vinda
U
N
esta entrevista, Henrique Tada, presidente executivo da Alanac (Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais), apresenta as objeções e as propostas das empresas nacionais para fazer da intercambialidade um marco que seja vantajoso para todos os players do mercado
m dos assuntos que mais mobilizam a indústria farmacêutica brasileira no momento é a consulta pública da Anvisa em torno da intercambialidade entre remédios de marca e similares, repetindo com esta categoria de medicamentos o que já ocorre com os genéricos. Estes nasceram, nos anos 90, com a necessidade de comprovar sua bioequivalência com os produtos de referência. Os similares, mais antigos, só passaram a ter essa exigência em 2003, por determinação da Anvisa – com prazo de 10 anos para a conclusão dos testes de bioequivalência, que aliás custaram às empresas cerca de 750 milhões de reais. Chegou a hora de colher os frutos desses investimento: os similares receberão um selo do governo, o EQ, permitindo que as farmácias o ofereçam, na falta do produto de marca prescrito pelo médico. Mas a forma como essa intercambialidade foi proposta pela Anvisa, com forte impacto também sobre a estratégia comercial das empresas, tem recebido inúmeros reparos por parte da indústria.
Fale um pouco da Alanac: que universo de empresas a associação representa?
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Completamos 30 anos de atuação no ano passado, como a única entidade que representa e defende os interesses e o desenvolvimento da indústria farmacêutica de capital nacional – seja de pequeno, médio ou grande porte e de qualquer segmento de produtos: referência, genéricos, similares, biológicos, �itoterápicos e até produtos farmacêuticos de uso veterinário. São 55 empresas, muitas das quais acompanhamos desde o nascimento, a partir da criação da Lei 6360, em 1976, e do marco do genérico, em 1999 – marco esse, aliás, que proporcionou um boom às empresas nacionais, elevando-as
Revista ABCFARMA
• março/14
Entrevista
/ Henrique Tada
ao patamar em que estamos hoje. Os números não nos deixam mentir. No ano 2000, o mercado farmacêutico brasileiro tinha 25% de empresas nacionais. Em 2013, essa porcentagem chegou a 49%. A expectativa é que em 2014 consigamos ultrapassar as multinacionais. Em unidades vendidas no varejo, já estamos com 70% do mercado nacional. Isso mostra nossa força. Quais são as principais frentes de luta da Alanac no momento?
Eu diria que a principal delas é desenvolver a indústria nacional de medicamentos a um estágio que permita até sua internacionalização – ou seja, exportação de produtos. Para isso, é preciso desenvolver medicamentos inovadores. Defendemos também uma política para se aumentar o acesso da população aos medicamentos – isso envolve, por exemplo, desoneração tributária e a revisão da lei de patentes, evitando-se excessos na extensão das mesmas, o que di�iculta o lançamento de novos genéricos e similares e o próprio desenvolvimento tecnológico da indústria. O aumento do acesso passa também pela intercambialidade entre genéricos e similares. A Alanac apoia essa política defendida pela Anvisa? Sim, a Alanac aprova a intercambialidade por medicamentos similares, uma vez que essa medida amplia as opções de tratamento para o consumidor.
Da consulta pública aberta pela Anvisa deve sair uma resolução com força de lei. Quais são as sugestões da Alanac para o aperfeiçoamento da medida? Somos a favor da intercambialidade – mesmo porque, ao longo dos últimos 10 anos, praticamente 100% dos produtos similares passaram pelos testes de bioequivalência, segundo dados da própria Anvisa. Na parte técnica e sanitária não se discute essa equivalência. Mas há necessidade de ajustes no modelo proposto na consulta pública, para se viabilizar comercialmente a medida. Um dos pontos levantados pela Alanac é a equiparação de preços entre genéricos e similares.
Similares equivalentes a produtos de marca: mais uma opção para o consumidor
Defendemos que essa equiparação seja optativa, não uma imposição – até porque hoje há similares mais baratos que genéricos da mesma família. Não é possível equiparar de forma linear, inclusive porque similares que se tornaram marcas registradas têm gastos expressivos com propaganda, o que não ocorre com os genéricos. Mas essa questão será mais bem estudada num grupo de trabalho instituído pelo Ministério da Saúde, no qual já garantimos nossa participação. Lá discutiremos os aspectos técnicos e mercadológicos do problema. O que vai representar a intercambialidade para o consumidor, na visão da Alanac?
Mais opções para seu tratamento. Mais de 20% dos medicamentos da lista de referência não têm genéricos como cópia, mas apenas similares. Nesses casos, o paciente hoje não tem como fazer a intercambialidade por um medicamento mais barato. Não haveria risco sanitário na intercambialidade por um similar, já que foram feitos os estudos de bioequivalência, mas legalmente essa troca não é permitida – a resolução virá, portanto, legitimar a substituição. Para as indústrias representadas pela Alanac qual será o impacto da medida?
Um melhor desempenho, já que as empresas nacionais são as maiores fabricantes de similares. Não é à toa que muitas multinacionais adquiriram recentemente empresas nacionais.
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Revista ABCFARMA
• março/14
Encontros
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TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO
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FOTOS: DIVULGAÇÃO
Desoneração de medicamentos Quase três milhões de assinaturas entregues aos presidentes da Câmara e do Senado
O deputado Walter Ihoshi, presidente da Frente Parlamentar pela Desoneração dos Medicamentos, entrega os cadernos com cerca de 2,7 milhões de assinaturas ao presidente da Câmara, deputado Henrique Alves
D
oze de fevereiro foi um dia histórico para a frente de luta pela desoneração tributária dos medicamentos no Brasil. Um abaixo-assinado com cerca de 2,7 milhões de assinaturas, coletadas no mês de outubro entre clientes de mais de três mil farmácias e drogarias do país, foi entregue em ato público aos presidentes da Câmara, deputado Henrique Alves, e do Senado, senador Renan Calheiros. Esse abaixo-assinado, desdobrado em nada menos que 3.800 cadernos, propõe a criação de uma comissão especial para discutir a questão. No Brasil, o porcentual de tributação incidente sobre os medicamentos chega a 34% - contra 6% da média mundial.
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Os cadernos com as assinaturas foram entregues pelo deputado Walter Ihoshi, presidente da Frente Parlamentar pela Desoneração dos Medicamentos, que é integrada por 203 deputados e 11 senadores, muitos dos quais também presentes, pela deputada estadual Maria Lúcia Amary, da Frente Estadual de São Paulo, além de dirigentes da Abrafarma, Interfarma, Abafarma, Abradilan, Sindusfarma, Alanac e ABCFARMA, esta representada por seu diretor-executivo, Dr. Renato Tamarozzi. Também enviaram representantes ao evento entidades como Fecomercio/MG, Sincofarma/AL, Sincofarma/MT e Sindifarma/PB. Tanto o deputado Henrique Alves como o senador Renan Calheiros se mostraram bastante receptivos à proposta de desoneração dos
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A comissão, composta por parlamentares e representantes das entidades do setor, entrega o pleito de desoneração de medicamentos ao presidente do Senado, Renan Calheiros medicamentos – tema sobre o qual tramitam projetos em ambas as casas legislativas, como uma PEC do senador Paulo Baier, que veda a imposição de tributos sobre medicamentos. Ambos os presidentes prometeram à comissão agilizar as medidas a seu alcance. O deputado Walter Ihoshi, depois da entrega das assinaturas, lembrou que, além de sensibilizar o governo federal para a neces-
sidade de reduzir tributos sobre os remédios, outra estratégia da Frente parlamentar e das frentes estaduais é convencer também os governos dos estados a reduzir o ICMS – tendo como exemplo o estado do Paraná, que em 2008 desonerou os medicamentos. E o resultado foi o aumento da arrecadação de ICMS, pelo incremento das vendas.
O diretor executivo da ABCFARMA, Dr. Renato Tamarozzi, e Neilton Neves dos Santos, presidente do Sindifarma Paraíba, representantes do varejo farmacêutico nos atos oficiais que marcaram a entrega do abaixo-assinado, em Brasília
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• março/14
Encontros
/ Frente Parlamentar
As entidades marcam presença em Brasília - e o presidente da Câmara, deputado Henrique Alves, institui Comissão Especial
Depois da entrega do abaixo-assinado ao presidente da Câmara, dirigentes e representantes de algumas das principais entidades do mercado farmacêutico posam com os 3.800 cadernos de assinaturas
No dia 18 de fevereiro, o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves, fez saber que decidiu criar Comissão Especial destinada a debater a redução dos impostos sobre os medicamentos. A Comissão será composta de 23 membros titulares e de igual número de suplentes, mais um titular e um suplente, atendendo ao rodízio entre as bancadas não contempladas.
Trata-se de uma iniciativa muito bem-vinda pela ABCFARMA e demais entidades que participaram do ato o�icial de entrega do abaixo-assinado aos presidentes da Câmara e do Senado no dia 12 de fevereiro - pois demonstra o engajamento do poder legislativo federal nessa frente de luta tão importante para a saúde da população brasileira.
Assembleia Legislativa de São Paulo também recebe assinaturas
O presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Samuel Moreira, recebe representantes da Frente estadual e dirigentes das entidades do mercado farmacêutico para a entrega simbólica do abaixo-assinado pela desoneração de medicamentos
Em cerimônia realizada dia 20 de fevereiro último, a Frente Estadual para Desoneração Tributária dos Medicamentos, presidida pela deputada Maria Lucia Amary (PSDB-SP) fez a entrega simbólica de 2,7 milhões de assinaturas coletadas a partir de outubro, ao presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Samuel Moreira. A iniciativa tem o objetivo de sensibilizar o governo do estado no sentido de reduzir as alíquotas de impostos esta-
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Revista ABCFARMA
duais que incidem sobre a carga tributária dos medicamentos – hoje estimada em 34%, uma das mais altas do mundo. Além dos deputados estaduais, participaram da cerimônia representantes de entidades do mercado farmacêutico que apoiam o movimento – como Abafarma, Abradilan, Sincofarma-SP, Sindusfarma e ABCFARMA, esta representada no ato por seu diretor-executivo, Dr. Renato Romolo Tamarozzi.
•março/14
Gestão
/
por: Mauro Pacanowski
TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO
/
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Os desafios do
novo varejo N
atribuições inerentes ao comércio típico de uma farmácia apresenta inúmeras funções: as corporativas, englobando contabilidade, �inanças, operadores de informática, promoção/propaganda/publicidade, auditoria, planejamento, recursos humanos, treinamento; e as operacionais, nas quais atendentes, gerentes, �iscais, estoquistas, promotores, serviços gerais, caixas, embaladores fazem-se presentes.
esta matéria, Mauro Pacanowski, professor da FGV e da UFRJ das matérias de Marketing Farmacêutico e Comunicação com Mercado, além de mestre em Direito Empresarial, fala sobre a necessidade de profissionalização dos empreendedores num mercado tão competitivo
Mas o varejo farmacêutico demanda responsabilidade, raciocínio rápido, presteza, dinâmica forte, poder de persuasão, liderança, disciplina, observação, educação e prática constante no desenvolvimento de relacionamento com pessoas.
O varejo é um dos negócios mais excitantes do mundo, com inúmeras responsabilidades e muitas decisões que devem ser tomadas a cada segundo, sem pestanejar. Você sabia que o varejo é o maior empregador de mão de obra entre todos os segmentos econômicos? Poucos ramos de atividade proporcionam tantas oportunidades para que um indivíduo, em pouco tempo, se torne um empresário e patrão de si mesmo, podendo aproveitar suas ideias, colocando-as em prática na sua própria farmácia, para auferir resultados de imediato. Por outro lado, o varejo apresenta uma série de possibilidades de carreira, pois a diversidade de
Mauro Pacanowski, professor da FGV e da UFRJ das matérias de Marketing Farmacêutico e Comunicação com Mercado, além de mestre em Direito Empresarial
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Revista ABCFARMA
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Gestão
/ Os desafios do novo varejo
“N
este exato momento, a maior discussão passa pela nova concepção para área de recursos humanos do varejo farmacêutico, na qual as exigências, quanto aos atributos e aos predicados de um candidato à vaga, cresceram muito.
”
Os salários iniciais nem sempre estimulam, mas a experiência que se adquire em muito supera, em valor, o rendimento �inanceiro imediato.
O varejo farmacêutico requer uma assiduidade constante, sobretudo se funciona 24 horas por dia, 365 dias do ano, sendo orientado por resultados diários. Existem no país milhares de estabelecimentos prontos para receber mão de obra. Neste exato momento, a maior discussão passa pela nova concepção para área de recursos humanos do varejo farmacêutico, na qual as exigências, quanto aos atributos e aos predicados de um candidato à vaga, cresceram muito.
dela dependem os sistemas de informação e dados fundamentais para se conhecer a saúde �inanceira e econômica da farmácia e tirar o melhor proveito do conhecimento sobre as atitudes e formas de compra do consumidor.
Não basta evidentemente saber ler e escrever - é fundamental ter nível educacional e cultural compatível com o público que atenderá. Imagine agora, às vésperas da Copa do Mundo e de eventos que atrairão centenas de milhares de turistas às nossas cidades, como é importante dominar mais de um idioma. A informática é outro requisito vital para se conquistar uma promoção para novos desa�ios, já que
Outro ponto é que o pro�issional do varejo tem que gostar de pessoas, saber cativá-las, ter paciência em sua orientação, na abordagem e sutileza no trato, além de alguns requisitos técnicos importantes, como habilidade analítica, determinação, criatividade, liderança, tolerância à pressão, organização e comunicação. Por outro lado, exigem-se atributos pessoais, como gostar de desa�ios diários, personalidade agradável, empatia, aparência asseada, desejo de reconhecimento e recompensa rápida.
Uma carreira no varejo requer, acima de tudo, perseverança em um objetivo claro, pois se pode começar de baixo e chegar ao topo pela vivência do mercado e pela rede de interrelacionamento desenvolvida, por sorte, por herança, mas, acima de tudo, por gostar de uma atividade na qual diariamente estamos expostos a toda sorte de clientes/consumidores, muitos deles excêntricos, exigentes e questionadores, querendo sempre levar vantagem em suas compras, além dos novos entrantes, turistas de todas as partes do mundo que reconhecem de forma diferente, em função de suas origens, um excelente tratamento.
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O varejo farmacêutico proporciona valorização pro�issional e pessoal, além de uma renda que pode bene�iciar toda a família, seja como funcionário seja como empresário.
Revista ABCFARMA
• março/14
Gestão
/
por: Américo José da Silva Filho
TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO
/
FOTOS: DIVULGAÇÃO
A ELEIÇÃO DA RAINHA DAS AVES (Adaptação: Nicéas Romeo Zanchett) Um dia, todas as aves se reuniram em assembleia geral para eleger a rainha das aves. Surgiram muitas dificuldades sobre como deveria ser a eleição. A beleza é uma das qualidades que a futura monarca deveria ostentar. Disse o pavão real: – Mostremos a nossa plumagem. A coruja tomou a palavra e disse: “Em primeiro lugar, deve vir a dignidade e, como podem ver, ninguém tem aspecto mais nobre que eu”. O papagaio logo se adiantou e falou: “Para ser um rei ou rainha, é preciso saber falar com clareza, e aqui todos sabem que sou o melhor falante de toda a floresta”. Mas a águia não aceitou os argumentos das aves que até então se manifestaram: – Todos sabem que somos seres voadores e ninguém aqui voa mais alto que eu. Portanto, não há ninguém mais apto para esse elevado cargo. E, como a águia era robusta e vigorosa, impôs sua vontade à assembleia. Mas os demais pássaros ainda não se conformavam e, a um sinal combinado, todos se lançaram no espaço para ver quem se elevava mais alto. A águia não tardou muito em pairar acima de todas as outras. Mas, na pressa de atingir as alturas, a águia não percebeu que, sobre seus ombros, carregava uma corruíra; esta, descansada e tranquila, abandonou seu posto e elevou-se um pouco acima da águia. Muito contrariada, a águia teve de aceitar que a assembleia elegesse uma corruíra para rainha daquelas aves.
Com essa fábula podemos abordar dois temas importantes para as farmácias:
a.
Assim como cada uma das aves alegou ter uma especialidade para ser eleita a rainha, numa farmácia também cada funcionário contribui de acordo com seus conhecimentos. Só que, ao contrário das aves, aqui as habilidades devem ser usadas para o bene�ício de todo o grupo.
b.
O segundo tema é quanto à vaidade da águia. Ela estava tão segura de ser a que mais alto voava e a maior merecedora do título de rainha, que não percebeu que a corruíra, muito mais esperta, aproveitou-se dela como plataforma para alcançar altura ainda maior.
É a mesma vaidade que pode levar uma farmácia a perder clientes. Está tão segura de suas qualidades, baseada no tempo em que está no mercado, que não se dá conta das estratégias que os concorrentes estão usando. Existem também situações em que a farmácia perde clientes sozinha e não por causa das ações dos concorrentes. Por exemplo:
1.
Clientes que entram na farmácia e se retiram sem que sejam atendidos. Ele circula livremente, olha os produtos, compara preços, algumas vezes não encontra o que procura e vai embora. Os funcionários, por distração ou ocupados com outro atendimento, não fazem uma abordagem, nem ao menos cumprimentam o cliente. Américo José da Silva Filho Cherto Atco Educação Corporativa E-mail: americo.jose@cherto.com.br
86 Revista ABCFARMA
• março/14
Gestão
/ Americo José da Silva Filho
Portanto, somente melhorando esses aspectos é possível à farmácia aumentar suas vendas junto aos clientes que ela já possui. No entanto, muitos desprezam o que já têm e saem em busca de novos clientes, aumentando suas despesas (propaganda) e diminuindo as margens (descontos).
Conquistar um novo cliente custa mais que manter o já existente, fazendo um atendimento correto. Para não ser surpreendido, como a águia foi, avalie o que está acontecendo dentro de sua farmácia. Certamente você descobrirá que poderá melhorar suas vendas se adotar imediatamente ações do tipo:
2.
Há falta de funcionários para atender nos períodos de maior movimento. Existem regiões em que, no �inal da tarde, as farmácias �icam lotadas, mas não disponibilizam um funcionário a mais para atender. Ou há �ilas enormes no único caixa.
Treinar e orientar seus funcionários para que todos os clientes que entrem na farmácia sejam abordados. O importante não é perguntar “deseja alguma coisa?”, pois isso “assusta o cliente”. Basta um sorriso e um cumprimento, que ele já se sentirá num ambiente receptivo.
3.
O cliente, desejando um produto, telefona para a farmácia, mas ouve sinal de linha ocupada. Tenta mais uma ou duas vezes e acaba por ligar para outra.
Melhorar o atendimento telefônico, treinando um funcionário para essa tarefa.
4. 5.
Clientes de medicamentos de uso contínuo perdidos para a concorrência por falta de um contato periódico.
Cadastrar todos os clientes de medicamentos de uso contínuo e, na ocasião apropriada, telefonar para lembrar-lhes sobre a necessidade de repor a medicação.
Vendas adicionais são perdidas por falta de uma abordagem adequada. Por exemplo: quando o cliente compra fraldas, não se oferece creme para assaduras. No máximo, o balconista pergunta “deseja mais alguma coisa?” ou “é só isso mesmo?”.
Treinar os funcionários para que tentem vendas adicionais (de não-medicamentos), sempre oferecendo produtos relacionados à compra que o cliente estiver fazendo.
6.
A farmácia possui um cadastro de clientes, montado com muito trabalho, mas não faz uso dele. Quando muito, no aniversário envia um cartão – que, mesmo voltando por erro no endereço, não é atualizado.
Fica claro que uma farmácia que atende 100 clientes por dia, mas permite que 10 se retirem da loja sem que sejam abordados ou atendidos em suas necessidades, está perdendo 10% de vendas.
Montar, e manter atualizado, um cadastro – utilizando-o para estreitar o relacionamento com seus clientes.
Esse cadastro também permite conhecer o per�il de seu cliente, abrindo muitas outras possibilidades para ações que farão aumentar as vendas.
Boas vendas!
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Revista ABCFARMA
• março/14
Gestão
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por: Cadri Awad
TEXTO: CELSO ARNALDO ARAÚJO
/
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Fique atento
É preciso diversificar
o mix de produtos
O
caminha para se tornar o produto menos rentável da farmácia, em função da necessidade cada vez maior de descontos para enfrentar a concorrência. Nesse contexto, é preciso compensar os altos descontos oferecidos nos medicamentos com outros produtos. Esse é o cerne deste artigo.
varejo farmacêutico já nos mostrou, há muito tempo, que o mercado é que define o preço. Portanto, resta à farmácia definir sua imagem. E num mercado em que a imagem de “barateiro” é fundamental para o sucesso de uma farmácia, definir uma boa estratégia de precificação é vital para a competitividade
Para ser competitiva em preços, uma farmácia precisa manter um excelente mix de produtos HPC a �im de compensar a perda de rentabilidade com os altos descontos concedidos nos medicamentos.
Em artigo intitulado “Técnica de preci�icação, a linha tênue que divide uma farmácia entre o fracasso e o sucesso”, que publicamos nesta revista em 2012, fomos enfáticos nesse aspecto.
Nada mudou de lá pra cá, a não ser o fato de que o mercado está cada vez mais competitivo. É possível perceber nas fachadas das milhares de farmácias e drogarias espalhadas pelo Brasil que o principal atrativo do varejo continuam sendo os descontos – a criatividade do marketing da loja, nesse caso, se limita ao “até” e “a partir de”, na guerra para atrair o consumidor. Independentemente da estratégia que cada empresa utiliza, o fato é que o medicamento
Cadri Saleh Ahmad Awad, farmacêutico, consultor de empresas e sócio proprietário do Instituto Bulla-adtec de Goiânia, empresa especializada em Gestão de Varejo Farmacêutico. Tel.: (62) 8484-8777 e-mail: cadri@institutobulla.com.br site: www.institutobulla.com.br
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Revista ABCFARMA
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Gestão
/ É preciso diversificar o mix de protudos
Açougues já não são mais apenas açougues
Muitas drogarias do varejo independente tentam praticar descontos médios altos nos medicamentos, sem, paralelamente, manter um bom mix de produtos fora do canal farma (HPC). Três fatores limitantes impõem obstáculos a esse grupo de empresas: espaço �ísico, ausência de capital de giro e desconhecimento da importância de tal estratégia no seu dia a dia.
Foi se o tempo em que padarias eram estabelecimentos que vendiam apenas pães, bolos e rosquinhas. E os combustíveis já não são há algum tempo o produto principal de um posto de combustível.
Tecnicamente, dizemos que os produtos principais de um determinado ramo de varejo passam a condição de geradores de tráfego, enquanto outros assumem a condição de geradores de renda.
Essa estratégia é comum a diversos ramos do varejo em que os produtos principais estão se tornando, cada vez mais, os menos rentáveis para o estabelecimento – o que obriga os varejistas a compensarem tal perda com a diversi�icação do mix de produtos.
Na farmácia, classi�icamos como geradores de tráfego os medicamentos, sobretudo produtos de uso contínuo ou aqueles comprados frequentemente. O objetivo aqui não é despertar nenhuma polêmica a respeito da venda de produtos não farmacêuticos, mas lembrar que, em se tratando de varejo farmacêutico independente, existe uma in�inidade de produtos cuja venda é permitida nas farmácias e drogarias brasileiras, mas não é explorada em sua plenitude. Pesquisas revelam que, até o ano de 2.018, 50 a 60% do faturamento de uma drogaria virá de produtos HPC (Higiene pessoal, Perfumaria e Cosméticos). Suplementos alimentares, dermocosméticos, perfumes, equipamentos para a saúde estão entre esses produtos. Mas não podemos esquecer que há anos se fala na prestação de serviços farmacêuticos nesses estabelecimentos – e poucos conseguiram transformá-los em itens rentáveis para a empresa. Alguns gigantes do mercado farmacêutico mundial apontam como tendência para a farmácia a prestação de serviços como forma de reduzir a participação dos medicamentos enquanto commodities.
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Conclusão – é preciso re�letir: vendemos caixinhas ou saúde, beleza e bem-estar?
Revista ABCFARMA
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Gestão
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por: Geraldo Monteiro
TEXTO: GERALDO MONTEIRO
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FOTOS: DIVULGAÇÃO
Contratação de funcionários
para sua farmácia C
Bom currículo basta?
ontratar funcionários para qualquer que seja a empresa, independentemente do ramo de atividade, não é uma tarefa muito fácil, especialmente no varejo farmacêutico. Você pode acertar “na mosca” ou perceber, depois de certo tempo, que estava redondamente enganado ao optar por determinado candidato.
Foi-se o tempo em que um bom currículo representava tudo em uma seleção de candidatos. Hoje, é preciso muito mais do que isso. Os cursos extracurriculares, diferenciais no passado, hoje são vistos pelos pro�issionais de RH como atributos praticamente obrigatórios. Incluem-se aí o conhecimento de pelo menos uma segunda língua, a habilidade com alguns programas de informática e especializações em sua área de atuação.
Como é um processo que demanda certo tempo e muito trabalho, é importante observar certos aspectos, para que todo o investimento na busca seja recompensado. Uma dica é procurar saber quais as tendências do mercado de trabalho, ou seja: que per�il de pro�issional as micro, pequenas, médias ou grandes empresas têm buscado no mercado atualmente?
Mas qual é então o diferencial? Pode-se dizer que a postura do candidato conta muito mais pontos em um processo seletivo. Além da facilidade de comunicação, tradicionalmente esperada de qualquer candidato, outras características são importantes e podem trazer bons resultados para a empresa caso a contratação seja consumada.
Adaptação a mudanças
Geraldo Monteiro: é mestre em Administração pela Fecap, assessor econômico da ABCFARMA, do Sincofarma/SP e Diretor Executivo da ABRADILAN
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No mundo corporativo, mudanças são frequentes. Para estar em condições de competir, a empresa necessita, constantemente, fazer alterações e melhorias, seja em seus serviços, produtos, tecnologias utilizadas ou mesmo em sua estrutura interna, de
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tal modo que isso poderá afetar algumas operaçoes existentes, e, por consequencia, o funcionário. Por essa razão, é importante que o funcionário se adapte facilmente às mudanças, assimilando rapidamente o que for necessário, sem acusar queda em seu desempenho por causa disso. Nesse caso, é necessário equilíbrio emocional para assumir suas tarefas de forma satisfatória, mesmo diante de pressão. Ainda nesse aspecto, espera-se que ele se antecipe aos problemas, trazendo soluções. A iniciativa pessoal é fundamental para que isso ocorra, bem como a facilidade de lidar com diferentes situações de stress corporativo
/ Contratação de funcionários
daquele funcionário que “manda alguém fazer”, mas do que se envolve em cada tarefa, participando do trabalho, dando sugestões, coordenando atividades e motivando o grupo.
A criatividade é outra característica em alta, justamente em razão da necessidade de inovar sempre. Clareza de raciocínio e habilidade para tomar decisões são desejáveis de todo colaborador
Motivação
Comportamento em equipe
Talvez seja essa a palavra de ordem. Nenhuma empresa gosta de ter em seu quadro funcionários desmotivados ou sem estusiasmo para aprender coisas novas, desempenhar novas atribuições. Esperase que o novo contratado mostre energia e muito ânimo, já que essa é a expectativa principal quanto ao efeito que novos membros proporcionarão à equipe.
Independentemente do tamanho da empresa, espera-se que o candidato trabalhe em equipe. Por isso, é fundamental que sua postura, nesse sentido, seja muito mais do que satisfatória. A liderança é um traço decisivo no per�il. Não estamos falando
Organização
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Diante de tantas exigências, o funcionário deve ter um alto nível de organização para que possa priorizar suas tarefas, dedicando a cada uma delas a atenção e o tempo necessários. Outro ponto: acaba sendo contraproducente, numa empresa, a contratação de funcionários que concentrem várias atividades em suas mãos, di�icultando o envolvimento de terceiros nesse processo. O per�il de alguém que “segura” as informações, com o objetivo de se sentir necessário em relação à equipe e à empresa, talvez por medo de perder seu cargo, pode ser extremamente prejudicial. Tudo isso, atrelado à lealdade à empresa (o famoso “vestir a camisa”) e aos colegas de trabalho, além da consciência da importância de seus atos, traça o per�il do pro�issional procurado pelas empresas atualmente. É claro que, muitas vezes, �ica di�ícil encontrar alguém com tantos atributos. Mas cabe à cada empresa ponderar quais os aspectos mais relevantes para sua contratação de cada novo colaborador e colocá-los em prática da melhor forma possível, com o objetivo de encontrar o candidato próximo do ideal.
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