Revista Acentuados

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REVISTA COMUNITÁRIA BRASILEIRA

o ã ç o? u l er o v ên e R G de

Edição N 2 Verão  2018

• Luta contra o machismo e a misogenia • O espaço na política • A homossexualidade...

Arte, literatura, psicologia, filosofia e muito mais


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´ CONTEUDO

Querida leitora: Querido leitor:

www.revistaacentuados.com "Você não sabe sambar? Mas você é brasileira?" —4

Como os esteriótipos têm marcado a imagem da mulher brasileira no exterior

Mamadou —6

A homofobia na Guiné e a busca pela liberdade

Leolinda Dantro: Uma sufragista brasileira —8

Quase 100 anos de luta; Os desafios continuam

Fotos do lançamento da Acentuados —9 Psicologia —10 e 11 ►Regeneração

O caos e a dor na nossa cultura

►Coisas que Alimentam a culpa

O conhecimento científico moderno tem quebrado velhos dogmas, mitos e preconceitos sobre como entendemos a identidade de gênero, a sexualidade humana e os papéis de homem e de mulher. As expressões de gênero têm se tornado mais e mais ricas e inclusivas. Grandes foram as contribuições de pensadores como Simone de Beauvoir, que denunciou no seu livro O Segundo Sexo, o aparelho cultural que moldava a chamada feminilidade como uma forma de impor à mulher uma posição de inferioridade ao homem e a falta de bases biológicas para tal feito; Michel Foucault que demostrou através a sua arqueologia da sexualidade em três tomos chamados A História da Sexualidade (I, II, III) como a sexualidade humana sempre fez parte de práticas que pretendiam e pretendem controlar as mentes e os corpos dos indivíduos como forma de manter o poder de certas pessoas e grupos na sociedade; Judith Butler que afirmou, entre outras coisas, que as diferenças biológicas não são suficientes para definir nossas identidades sexuais e nossos papéis sociais. De fato, as ciências sociais, biológicas ou psicológicas têm constantemente reforçado tais teses. É por isso que já não se sustenta de forma alguma que um homem possa ganhar mais que uma mulher realizando a mesma função; ou que pessoas transexuais possuam algum tipo de transtorno psicológico só por serem trans; ou que socialmente se aceite a objetivação da mulher na publicidade. Até mesmo os modelos opressores de educação machista do homem têm sido posto em cheque. Veja-se o caso da educação não-sexista nas escolas, ou o recente documentário estadunidense The Mask I live i In (A máscara em que você vive - Jennifer Siebel Newsom - 2015) que apresenta os transtornos psicológicos sofridos por jovens devido ao machismo e à homofobia na sociedade estadunidense.

Estudo Britânico observa as razões que podem levar à concretização de objetivos

#MeToo, #NiUnaMais, #everyday-sexism, #NenhumaMais, #WakeTheWitches, a marcha das vadias, a greve geral das mulheres na Espanha em maio deste ano que levou milhares de mulheres e homens às ruas contra o feminicídio e pela igualdade de gênero, o casamento civil entre homossexuais em pelo menos 31 países, o reconhecimento do terceiro gênero na Tailândia, etc., tudo isso mostra que as pessoas estão muito mais conscientes dos seus direitos e da suas identidades. Como já dizia Judith Butler: “É tarde de mais para silenciar os questionamentos de gênero”. Mesmo assim é preciso enfatizar que ainda há um grande caminho a ser trilhado até que a igualdade de gênero seja uma realidade totalmente conquistada.

Nossos colaboradores —18 e 19

Revolução de gênero? Esta é a pergunta que fazemos nesta edição de verão da Revista Acentuados.

Redação Acentuados —19

Desfrute da leitura!

Lígia Dantas —12 Além da pintura e da poesia

Ponciá Vicêncio —14

Analise do romance de Conceição Evaristo

Quais são as chances de alcançar seus objetivos —17

Ermeson Vieira Gondim Editor •A revista.acentuados@gmail.com

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Dioni Costa: Minas Gerais, cantora, monitora de crianças numa escola em Bruxelas.

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Fotos: Daiane da Mata

“VOCÊ NÃO SABE SAMBAR? MAS VOCÊ NÃO É BRASILEIRA?”


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POR BEATRIZ CAMARGO

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s brasileiras que vivem na Europa sabem o que é, em maior ou menor medida, serem vítimas de estereótipos sexistas ligados ao fato de serem brasileira. E, na verdade, essa é a imagem que o Brasil por muito tempo vendeu de si mesmo: mulheres seminuas com adereços de pluma e purpurina dançando de salto alto, praias cheias de corpos bem moldados em minúsculos biquínis. O resultado: as brasileiras sofrem ao serem vistas como “quentes”, boas de cama, fáceis, pouco sérias, etc. Alguns estereótipos são mais inofensivos, como “ser apaixonada por futebol” e saber jogar capoeira ou dançar samba.

As brasileiras negras sofrem ainda preconceitos racistas que reforçam a imagem da mulher brasileira exótica e erotizada. Aliás, fruto de um outro mito muito difundido pelo Brasil e no qual algumas pessoas ainda acreditam, o da miscigenação racial, algumas pessoas se espantam ao ver brasileiras brancas, ou com traços orientais ou indígenas. Há sempre que explicar que o Brasil é um país grande e que, conforme a região, diferentes fenótipos são o resultado da mistura de populações que se instalaram ao longo dos anos. Há de se explicar, também, as diferenças de classe que perpetuam uma sociedade classista e racista em que as cores se misturam relativamente pouco. Uma sociedade em que pessoas negras são super-representadas nas classes socioeconômicas mais baixas, e que a televisão é dominada por pessoas brancas, enquanto pessoas não brancas somam 54,77% da população segundo dados de 2015 do IBGE. Esse estereótipo de exotismo, que atinge tudo o que é “não ocidental” – começou já no século XVI, época das “grandes navegações”. Em sua tese, Mariana Gomes analisa as origens da construção da imagem erotizada das brasileiras em Portugal e mostra que, desde o descobrimento do Brasil, os discursos específicos sobre o Brasil na narrativa colonial portuguesa utilizam um repertório que inclui “a erotização das nativas; a construção das colônias como lugares exóticos, primitivos e selvagens; Mina Kanashiro: Rio de Janeiro, formada em Relações o reforço do ideário de Internacionais, especialista em Projetos Humanitários missão civilizadora europeia”. A autora destaca a importância das narrativas, antigas e recentes, que contribuem para alimentar essa imagem. Aos poucos o Brasil começou a “exportar” sua imagem. No final dos anos 30, por exemplo, esta teve uma grande expoente na figura de Carmen Miranda. Cantora famosa no Brasil e já reconhecida como “a pequena notável”, ela recebeu uma proposta para trabalhar nos Estados Unidos em 1939. Ela que era Portuguesa de nascimento e criada no Rio de Janeiro, virou “escrava” de sua imagem de vendedora de frutas interpretando O que é que a Baiana tem ? no filme Banana da Terra. Carmen Miranda foi chamada de nada

menos que “a bomba brasileira” [“Brazilian Bombshell”] e tornou-se o símbolo de uma fusão latina misturando o samba com outros estilos musicais latino-americanos. Sem entrar no mérito do seu talento pessoal, a difusão de sua imagem como brasileira certamente contribuiu para uma visão homogênea e estereotipada do Brasil e da América Latina . Dependendo do país, e particularmente de seu histórico de migração, da quantidade de brasileiros e brasileiras residentes e das relações estabelecidas com o Brasil, os estereótipos podem ser mais ou menos negativos e mais ou menos difundidos. Em Portugal, por exemplo, a imagem das brasileiras ainda é muito negativa e elas são frequentemente associadas à mulheres sedutoras e sem moral que “roubam maridos”. A Bélgica teve pouca influência cultural. Só recentemente a população brasileira na Bélgica (concentrada principalmente em Bruxelas) é motivo de atenção e debate. A primeira onda de brasileiros data da época da ditadura civil-militar (1964-1985), mas a Bélgica é minoritária em comparação a outros destinos europeus preferidos como a França ou a Inglaterra. Essa migração tem um caráter politico e é encabeçada por intelectuais e sindicalistas. À partir dos anos 80, a migração se diversifica e muitas pessoas, empurradas pela crise econômica e pelo desengano político, entre outros, partem do país em busca de oportunidades: vê-se principalmente profissionais com alta qualificação partirem rumo ao exterior. A presença brasileira na Bélgica começa a ser observada em 2001 e se intensifica à partir do meio dos anos 2000 . Essa presença recente e, como dito acima, a pouca influência cultural ou proximidade cultural dos dois países provavelmente contribui para que o estereótipo contra as Brasileiras seja mais soft que em outros países, como o já citado Portugal ou como a França. Mas isso não quer dizer que as brasileiras, elas mesmas, não reforcem imagens “do que é ser brasileira”. Por saudades, por oportunidade profissional, por necessidade de construir uma identidade de reação face aos Belgas por exemplo, a própria comunidade às vezes reforça os estereótipos do exotismo brasileiro. E assim velhos estereótipos (mas sempre ativos) vão se misturando com novas imagens que a comunidade cria de si: algumas reforçam (pelo menos à primeira vista) a imagem estereotipada sobre as brasileiras, como grupos de percussão e capoeira, ou desfile de samba nas ruas frias de Bruxelas em fevereiro. Outras imagens contribuem para complexificar as noções de brasilidade, mostrando que as identidades são múltiplas e sobretudo em movimento. A essas imagens essenciais do que é “ser brasileira” se misturam, também, os estereótipos ligados à migração, que são ora generalizados (“os migrantes vêm para roubar nosso trabalho”, “saquear a segurança social belga”, etc) ora específicos à comunidade brasileira•A Beatriz Camargo é jornalista, doutora em Sociologia pela Universidade Livre de Bruxelas, especialista em Gênero, imigração e direitos humanos. Elaine Cavalcante dos Santos: Ceará, médica, trabalha em Unidade de Terapia Intensiva.

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POR TATIANA DINIZ

MAMADOU A homofobia na Guiné e a busca pela liberdade

M

amadou1 tem 23 anos e nasceu num vilarejo na Guiné. Sua jornada até a Espanha durou nove meses. As causas de sua história migratória são simples; ou melhor, a causa é uma só: Mamadou é gay, num país onde ser gay é proibido. A infância na Guiné foi difícil. Trabalhou desde pequeno no mercado central do vilarejo, carregando sacolas de compra para quem se cansava. Recebia por esse serviço alguns trocados e levava tudo pra casa. Era o irmão mais velho, e cuidava das irmãs. Aos 17 anos, um amigo lhe disse que estavam procurando pessoas para trabalhar em uma ONG, um trabalho de faz-tudo. Lá ele passou a distribuir camisinhas para as prostitutas, além de panfletos sobre prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Enquanto trabalhava na ONG, descobriu que era gay. Percebeu que muitos de seus amigos também eram, mas mantinham segredo. Também se deu conta de que esse segredo não era um segredo qualquer: era a faísca que poderia acender o barril de pólvora. Passaram-se anos até que ele criasse a coragem para expressar seu desejo. Mesmo com uma lei absurda, que criminaliza homossexuais, Mamadou se arriscou: começou a assumir sua sexualidade com um homem mais velho, que se apaixonou por ele. “Eu tinha 20 anos, e ele, 50”. Com o tempo, foi se interessando por outras pessoas e resolveu deixar de ver o homem-mais-velho. Foi quando tudo veio abaixo. Mamadou começou a sofrer ameaças e violência física e psicológica do homem-mais-velho, que prometia contar tudo à sua família, se ele o abandonasse. O homem o ameaçava diariamente, dizendo que mostraria suas fotos íntimas para toda a cidade. Sua vida virou um inferno. Um dia Mamadou foi trabalhar, mas esqueceu o celular em casa. Pensando em “ter momentos de paz”, não voltou para pegar o aparelho e nem se preocupou. Trabalhou o dia inteiro na ONG, atendendo as pessoas e distribuindo preservativos. Saiu de lá e se encontrou com amigos para jogar conversa fora e dar uma volta pela cidade antes de ir pra casa. Quando abriu a porta de casa, já à noite, foi surpreendido por suas duas famílias. Seu pai havia olhado seu celular e nele encontrado mensagens íntimas de outros homens, com quem Mamadou se correspondia. As duas esposas de seu pai

1 Seu nome original foi alterado para manter sua privacidade 6 | ACENTUADOS ' 2018 Verao n. 2

Fotos: Tatiana Diniz

estavam presentes, assim como alguns irmãos e irmãs. Todos gritavam e exigiam explicações. Com a falta delas, o patriarca disse a Mamadou que o mataria pela honra da família. Mamadou entrou em pânico. Sabia que o pai falava a verdade, e que a família aprovaria seu assassinato. Sabia que morreria. A ira de seu pai não tinha limites e a família vivia uma catarse coletiva. Chorando, pediu para ir ao banheiro, mas desviou do caminho e entrou em seu quarto. Rapidamente abriu a caixa escondida dentro do armário onde guardava suas poucas economias e fugiu pela janela apenas com a roupa do corpo. Correu sem parar durante horas, temendo que as pernas não fossem aguentar. Escondeu-se na casa de um amigo. Era de madrugada. Ligou então para outro amigo que vivia nos Estados Unidos, e que havia sofrido as consequências de ser gay na Guiné. Apesar

Mesmo com uma lei absurda, que criminaliza homossexuais, Mamadou se arriscou: começou a assumir sua sexualidade de preso e torturado, esse amigo tinha conseguido escapar da prisão. Mamadou contou sua história e pediu ajuda. O amigo prometeu enviar dinheiro e assim o fez. Alguns dias depois, com U$1600, Mamadou comprou uma passagem de avião só de ida para o Marrocos. Quando chegou, foi direto para a montanha Bolingo. Em Nador, as montanhas próximas à Melilha, cidade autonômica espanhola, estão separadas por nacionalidades, onde muitas pessoas esperam dias infinitos pelo momento certo em que poderão saltar o temido alambrado. Longos dias que não passam. “Ninguém sai na rua. Como somos negros, não temos como nos esconder.” Mamadou tentou saltar o alambrado - la valla - muitas vezes e em todas foi pego. Policiais fronteiriços ameaçavam enviá-lo de volta a Guiné, e para que eles não o fizessem, Mamadou se submetia. Policiais o violentavam em troca de sua liberdade no Marrocos.


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Nove meses se passaram até a oportunidade chegar. Mamadou conversou com um homem que dispunha de um barco inflável no qual várias pessoas poderiam atravessar o Mediterrâneo até a Espanha. O homem disse que ligaria pelo celular e que as pessoas teriam que encontrá-lo na praia, numa noite sem lua. Naquela noite Mamadou subiu no barco com mais trinta e seis pessoas. Duas eram mulheres e estavam grávidas. Sete horas depois, eles foram resgatados pela Guarda Civil Marítima e levados ao Centro de Estadia Temporária para Imigrantes de Almería, onde ele permaneceu durante três dias.

Mamadou é uma entre milhões de pessoas perseguidas pela sua orientação sexual e por não se identificar com um gênero socialmente imposto. Ainda que não existam dados oficiais – o Ministério do Interior Espanhol não identifica o motivo do pedido de asilo nas petições – a Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR) e as organizações que trabalham diretamente com os solicitantes de asilo confirmam que as solicitações por perseguição devido à orientação sexual aumentaram de maneira consistente nos últimos anos.

Como afirma Mamadou, ser estrangeiro, solicitante de asilo e pertencer ao coletivo LGBTI não é fácil, mesmo num país como a Espanha. Ainda que as organizações assegurem que Mamadou foi transferido a Barhouve avanços, elas também celona no dia 20 de março de confirmam que existem obs2017, acolhido por um progratáculos pelo caminho, como Negro, gay e imigrante não ma de atenção aos imigrantes por exemplo, episódios de do governo espanhol. Quando o LGBTIfobia nos centros de passa despercebido conheci em Barcelona, em janeiacolhida, ou a aplicação de ro de 2018, ele parecia aliviado e categorias estereotipadas pefeliz. Até hoje, ele ainda não se los funcionários na hora de comunicou com sua família nem com nenhum amigo. Ninavaliar os relatos dos/as demandantes. A legislação não exiguém em seu país sabe onde ele está. Seus ex-companheiros ge uma prova cabal de que houve perseguição, mas é precide quarto no programa de acolhida de refugiados não coso dar indícios de que existe um temor fundado e coerente. nhecem sua história nem sua orientação sexual. Em BarceMas como se pode demonstrar isso? lona, Mamadou frequentou uma ONG que dá assistência a pessoas LGBTI, onde teve aulas de espanhol e participou em Perguntei a Mamadou o que ele gostaria que as pessoas souatividades culturais oferecidas pelo centro. bessem sobre sua vida. Ele respondeu: Hoje em dia Mamadou vive em uma cidade pequena, no centro da Espanha. Nós nos comunicamos por telefone. Ele se queixa de que ainda não pode expressar sua sexualidade livremente, já que todos no vilarejo sabem quem ele é. Negro, gay e imigrante não passa despercebido O programa de acolhida espanhol não garante o estatuto de refugiado. Ainda se passarão meses, talvez anos, até que concedam seu pedido de asilo político. Se tiver a sorte de que o concedam. Mamadou tem poucas evidências da violência sofrida, pois perdeu o celular no caminho até a Espanha e não tem como provar as ameaças e as intimidações recebidas. Com a ajuda de um advogado apresentou um recurso, que pode demorar tanto quanto ou mais que o pedido de asilo.

“Quando eu tinha dezessete anos, me apaixonei pelo meu vizinho. Um dia ele sofreu um acidente de carro e entrou em coma. Acho que ele ficou mais de um mês em coma. Eu fiquei com ele no hospital até ele acordar. Depois de um mês, quando voltei pra casa, ele pediu para que eu cuidasse dele durante um tempo e eu cuidei. Ele nunca soube que eu o amava, mas foram os meses mais felizes da minha vida”•A Tatiana Diniz é mineira, reside há 11 anos em Barcelona. É formada em Ciências Sociais pela PUC-SP e mestra em Antropologia Social e Cultural pela Universitat Autònoma de Barcelona. Trabalha como Coordenadora de Projetos para Empoderamento Econômico de Mulheres e suas áreas de atuação e interesse são migração, gênero e feminismo.

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POR MARÍLIA BREITE

LEOLINDA DANTRO: UMA SUFRAGISTA BRASILEIRA Quase 100 anos da luta das sufragistas brasileiras, os desafios continuam “(mulher)… não precisa assim das mesquinhas oferendas que lhe pode trazer o direito de sufrágio, mantém a ela o lugar que já tem na família e sociedade e nada faltará para a sua felicidade, que também é a nossa.”

A

s palavras acima foram usadas pelo Senador Thomás Rodrigues do estado do Ceará, que em 21 de novembro de 1927 votou contra o sufrágio feminino na Comissão de Justiça e Legislação. O discurso do Senador sintetiza perfeitamente o pensamento dos homens, Igreja e Estado daquela época. As brasileiras que lutassem pelo direito ao voto eram rotuladas como hereges e até mesmo “mulheres do diabo”, como era chamada a educadora, indigenista e sufragista brasileira Leolinda de Figueiredo Daltro. Nascida em 1859 na Bahia, Leolinda foi uma mulher à frente de seu tempo. Sua grande paixão era a luta pela defesa de uma educação indigenista laica, que respeitasse a liberdade religiosa e que desse autonomia aos indígenas. Na época, assim como em muitos lugares hoje, a Igreja obrigava os indígenas a se converterem durante o processo de alfabetização. A ativista atravessou os rincões do Brasil em missões educadoras, assim como ocupava congressos científicos e espaços públicos no Rio de Janeiro propondo a criação de um departamento estatal que defendesse e protegesse os nativos. Em 1910, quando o governo federal criou o Serviço de Proteção aos Índios e Trabalhadores Nacionais (SPILTN), Leolinda não foi ao menos convidada para a inauguração do órgão por ser mulher. Devido a sua grande frustração com o Estado liderado por homens, que a ridicularizavam e se apropriavam de suas ideias e esforços, a educadora passou se interessar e a estudar o feminismo, um passo decisivo em sua carreira. Em 1910, época em que mulheres ainda não eram consideradas cidadãs, Leolinda fundou Partido Republicano Feminino (PRF). O partido era composto em maioria pelas alunas da escola carioca Orsina da Fonseca, liderada por Leolinda, e lutava principalmente pelo sufrágio feminino, pela emancipação da mulher brasileira, e por combater e extinguir toda e qualquer exploração relativa ao sexo. Como forma de se expressar e para ganhar apoio popular o partido solicitava audiências públicas e organizava passeatas. Em 1917 o partido conseguiu reunir 100 sufragistas no centro do Rio de Janeiro para pedir apoio ao Marechal Hermes da Fonseca. Demoraria mais 15 anos para as mulheres conquistarem o direito ao voto, e 16 para que Leolinda conseguisse se candidatar oficialmente como deputada. Apesar de não

Foto: Catechese dos índios no Brasil. Notícias e documentos para a História. RJ: Typographia da Escola Orsinba da Fonseca, 1920.

ter se elegido, a candidata conseguiu chamar a atenção da imprensa pelas bandeiras que levantou durante a sua campanha: o direito ao divórcio e educação pública. A educadora faleceu em 1935 no Rio de Janeiro e sua trajetória e conquistas nunca foram incluídas nos livros de história, mas sempre devemos creditar a ela e muitas outras, como Bertha Lutz, o nosso direito à cidadania. Em 2018, de acordo com a União Interparlamentar Internacional (UIP), o Brasil ainda ocupa a 152ª posição no ranking de representatividade de mulheres no congresso no mundo, muito atrás da vizinha Argentina, que ocupa o 17 ª lugar. No ministério de Temer temos apenas uma mulher entre 29 ministros. Não devemos nos curvar diante da falta de representatividade e acharmos que é normal não sermos ouvidas e não termos os nossos direitos garantidos. Temos que honrar as nossas sufragistas e espalharmos as sementes deixadas por elas. Viva Leolindna! •A Fonte: Women in national parliaments (http://archive.ipu.org/wmn-e/classif.htm) A Professora Leolinda Daltro E Os Missionários: Disputas Pela Catequese Indígena Em Goiás (1896-1910) - Patrícia Costa Grigório - Dissertação de Mestrado de Dissertação de Mestrado apresentada Programa de Pós-Graduação em História Social, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (http://www.uft.edu.br/neai//file/ diss_patricia_costa.pdf)

Marília Breite é graduada em Ciências Sociais pela Universidade de Campinas (UNICAMP). Trabalha na Bélgica com marketing e criação de conteúdo digital. Nas horas vagas ama escrever sobre viagens e lugares históricos para o www.papelcomclips.com 52,1% dos eleitores brasileiros são mulheres, porém...

...as mulheres representam apenas

10,5%

do Congresso Nacional

...e no Senado Federal

16%

Fonte: IBGE - Estatísticas de Gênero - Indicadores sociais das mulheres no Brasil.

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LANÇAMENTO DA REVISTA ACENTUADOS No último 15 de maio foi realizado no Consulado Geral do Brasil em Bruxelas a cerimônia de lançamento da Acentuados. Diversos representantes de associações, artistas e profissionais estiveram presentes para prestigiar a publicação. O Cônsul Geral Adjunto do Brasil, Paulo Amado de Souza, destacou a importância da revista para o fortalecimento do português como língua de herança.

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Ermeson Vieira e Edmilson Medeiros salientaram a importância da Revista Acentuados para a construção da identidade brasileira e para o fortalecimento trabalho das associações brasileiras na Bélgica.

Fotos: Daiane da Mata ACENTUADOS 2018 Verao n. 2  | 9


ACENTUADOS

PSICOLOGIA POR TIANE CORSO GRAZIOTTIN

2018

- Crise e mais crise. Esta é uma sensação comum quando olhamos para o estado do mundo atual. Parece que não evoluímos, certo? Deveríamos estar mais avançados em pleno século XXI. Well, estamos, dependendo da perspectiva que tomamos. Se nosso olhar for microcósmico e considerarmos, a título de exemplo, as injustiças e violências noticiadas pela mídia vigente em nossos países, o caos parece geral. Porém, se lembrarmos que o “mundo” é muito mais do que isso e o vermos num contexto macrocósmico, o caos se transforma em eventos processuais, mutacionais e, inerentemente, construtivos. A estrutura do “mundo de ontem” tem que permutar para construirmos um mundo novo. Este princípio existencial se aplica tanto a indivíduos como a sociedades e nações e está diretamente relacionado a nossa identidade. Comportamento humano, imperialismo a patriarcado são típicos exemplos disto. A nível individual, mudamos constantemente. Nada é fixo. Desde minúsculas moléculas corporais até experiências psicológicas, estamos em constante transformação. Sem elas, literalmente morremos. Podemos tentar permanecer crianças, jovens, “saudáveis”, porém a direção do desenvolvimento humano natural é outra. Contradição interessante, não? Esta resistência à mudança também se aplica num contexto político. Países como os Estados Unidos e o Reino Unido, por exemplo, estão tentando reviver um poder imperialista que não existe mais. Trump e Brexit são consequências disto. Porém, este “poder” está na verdade se desempoderando.

O mesmo fenômeno ocorre com o patriarcado. O poder patriarcal tradicionalmente linear e dualista está paulatinamente desintegrando-se. O status-quo dito imbatível está sendo desafiado de múltiplas formas; desde movimentos como Everyday Sexism, #MeToo, #NenhumaMais e #WakeTheWitches até o aumento significativo de suicídios masculinos nos últimos anos. No Reino Unido, por exemplo, o suicídio é o responsável pela maioria das mortes de homens abaixo de 45 anos. Organizações não-governamental como The Campaign Against Living Miserably (CALM) foram criadas para conscientizar o público e combater o que permanece uma crise silenciosa. O modelo do “supermacho” ainda é reverenciado por várias pessoas e culturas, mas há um esforço proativo, tanto de mulheres como de homens, para mudar esta masculinidade tóxica e ilusória. Nada é “super” o tempo todo: seres humanos ou culturas. Livros como Histórias de Ninar Para Garotas Rebeldes de Elena Favilli e Francesca Cavallo, Stories for Boys Who Dare to be Different de Ben Brooks e The Descent of Man de Grayson Perry estão transformando a percepção sobre superioridade masculina perpetuada na mente de crianças e adultos por mais de dois mil anos. Estes livros, como outros similares, ganham crescente popularidade. Similarmente, campanhas como No Means No Worldwide estão revolucionando atitudes em regiões de baixa renda de cidades como Nairóbi, onde uma em quatro meninas adolescentes experienciam assédio e/ou abuso sexual anualmente. Muitos consideram estas mudanças um sinal claro de que a ciclicidade e o multidimensionalismo do feminino está reaparecendo com energia e fúria e reconquistando seu espaço.

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Pintura: Lígia Dantas

REGENERAÇÃO Caos e dor são normalmente percebidos como um fenômeno negativo na nossa cultura. Qual é o sentido desta percepção? E será que ela facilita ou inibe desenvolvimento humano e social?


ACENTUADOS

Este é um caminho sem volta. E beneficiará todos gêneros.

O modelo do “supermacho” ainda é reverenciado por várias pessoas e culturas, mas há um esforço proativo, tanto de mulheres como de homens, para mudar esta masculinidade tóxica e ilusória.

POR ALESSANDRA XAVIER

COISAS QUE ALIMENTAM A CULPA Sentir-se o centro do universo e achar que se você espirrar, provocará um terremoto no Japão.

Achar que qualquer manifestação do seu ódio e de sua raiva destruirá aqueles a quem ama.

O nosso aqui-e-agora é abundante. Como uma semente resiliente em terra fértil passando por uma tempestade. A opção é nossa, como indivíduos e coletivo. Podemos desistir de semeá-la, acreditando estar aniquilada, ou nos abrir à experiência, observando ativamente os elementos da natureza e implementando os aprendizados.

Achar que besteiras e erros cometidos não podem ser reparados e deixar de acreditar que é possível fazer ou dizer coisas que restaurem sob a forma de cuidados as atitudes desastrosas cometidas.

Um mundo mais evoluído começa conosco e com nossos relacionamentos com crianças, adultos e o universo ao nosso redor. Isto é pessoal e político.

Pensar que tudo só depende de você e deixar de procurar ajuda profissional para se cuidar.

Trabalhando com famílias, eu deparo-me frequentemente com resistência à mudança e busca de estabilidade. Mas o que isto significa? Quando tentamos manter a “ordem” ou proteger uma criança ou nós mesmos contra algo “ruim”, estamos prevenindo algo concreto, como queimar-se com fogo, ou estamos evitando desafios e a oportunidade de desenvolver tolerância à frustação e resiliência? Somos processos em constante desenvolvimento. Por que algo tão natural, inevitável e fascinante é temido? Como Carl Rogers dizia: “os fatos são amigos”. Esta é uma lição necessária ao crescimento: mudança e dor não é negativo. Ficar na dor é, mas passar pela dor é crescer e se regenerar enquanto indivíduos, sociedade e universo. Nossa força interna e externa reside aqui•A

Tiane Corso Graziottin é uma psicóloga brasileira com Mestrado em Counselling. Ela mora em Londres, Reino Unido, e tem vinte anos de experiência trabalhando com indivíduos e famílias com capacidades e dificuldades múltiplas. Sua prática envolve aspectos de saúde mental, social e desenvolvimento humano.

Ficar remoendo dores do passado e não fazer nada para cuidar disso.

Impor-se pensamentos de perfeição e cobranças impossíveis.

Não se permitir desejos, escolhas e prazeres somente porque são diferentes dos idealizados pela família•A

Alessandra Xavier é psicologa formada pela Universidade Federal do Ceará, mestre em Educação pela Universidade Federal do Ceará e doutora em Psicologia Clínica e Psicobiologia pela Universidade de Santiago de Compostela, Espanha. Atualmente é professora assistente da Universidade Estadual do Ceará, do curso de Psicologia, com experiência na área de Psicologia Clínica, Psicanálise, Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem.

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ARTE E LITERATURA

Foto: J-digital Arts

POR ERMESON VIEIRA

LÍGIA DANTAS

Já em Bruxelas tornou-se educadora de promoção social onde usa toda sua bagagem artística, de moda e há de se acrescentar, de vida, para levar a cabo a integração de imigrantes na sociedade belga.

Além da pintura e da poesia

L

ígia Dantas cresceu entre músicos e compositores, porém ela sempre preferiu as artes plásticas. Natural de Acari, uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Norte, mostrando-se uma mulher decidida e forte, teve que contrariar a tradição familiar que impunha que a filha menor devia permanecer com os pais, decidiu ir estudar na capital. Formou-se em Artes Plásticas, Cênicas e Música pela Universidade Federal do Rio Grande no Norte em 2003. Tendo provado da escultura e da cerâmica entre outras formas de arte, ela preferiu se dedicar à pintura. Na faculdade decidiu combinar suas imagens com os poemas que escreve desde pequena. Lígia ama unir a pintura com o papel, o desenho gráfico digital, o tecido e o bordado. Estes últimos remetem à sua ligação com o mundo da moda - quando trabalhou como estilista em São Paulo. Mas o percurso de Lígia é muito mais rico do que a gente pode imaginar num primeiro momento. Ela também trabalhou como professora de artes para o Sesc-Natal, foi professora concursada da prefeitura da capital; especializou-se na alfabetização de adultos através das imagens de obras de arte e desenvolveu um figurino para a ópera O Guarani. 12 | ACENTUADOS ' 2018 Verao n. 2

Pinturas Lígia Dantas e fotos: J-digital Arts


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ARTE E LITERATURA Ela também colabora com a associação Arte N’Ativa desenvolvendo projetos que visam levar a cultura popular brasileira aos belgas, além de preservar nossas raízes e valorizar nossas tradições musicais, o folclore, as superstições, das comidas e bebidas típicas e, logicamente, matar a saudade do Brasil. As figuras femininas e lugares de interior são recorrentes na sua pintura. Talvez imagens da suas lembranças de mulher, mestiça com sangue índio, oriunda do interior, nordestina, imigrante dentro e fora do seu país. Uma obra que ela afirma que surgiu junto com a poesia que ela cultiva desde menina. Nós a encontramos para fazer algumas perguntas e deixar o nosso público mais próximo da sua vida e da sua arte, ela que é a autora da belíssima capa da Revista Acentuados do verão de 2018.

OPOSTOS

Você se vê diante de uma calmaria desejando fortemente uma tempestade. Se vê diante de um forte desejando ardentemente estar numa ponte. Se vê diante de um monstro desejando um anjo. Se vê pegando em rosas mas adoraria ter os espinhos. Se vê entre alegrias e sem notar lhe vem junto a tristeza. Se vê diante do amor e quer apenas a solidão. Sempre opostos são os desejos do coração Felizmente, algumas vezes, inalcansáveis ­

A. (Acentuados) Lígia você falou de educação através da arte. Como isso funciona? L. (Lígia) Como eu trabalho com a associação (Arte N’Ativa) a linguagem que se usa é a música em eventos, festas, trazendo a música popular, típica como o forró, a bossa nova, a MPB; as manifestações principalmente do Nordeste como o maracatu, o coco, a ciranda de roda. Está ligado assim à música, às comidas típicas... e já é muita coisa. O que eu desejo para o futuro é motivar as artes plásticas como a pintura, fotografia, cinema... A. Você disse que não faz música, mas faz parte de um grupo de maracatu... L. É. É o grupo Encanto da Sereia que eu comecei no ano passado. Foi uma moça belga que foi ao Brasil e trouxe de lá. Ela convidou pessoas para participarem, para aprender precursão. Eu não sou nada desenrolada com instrumentos musicais mesmo sendo de família de músicos. Eu canto. Cantar tudo bem. Tocar não toco nada! Eu entrei no grupo através da Arte N’Ativa e participamos de três eventos em locais e também do carnaval em Schaerbeek (2018). Participei cantando e dançando. A. Se você pensar na sua vida inteira, o que é que você acha que te deu essa força para fazer tudo isso que você faz? L. A minha mãe. Eu uso ela como exemplo de força de mulher que teve 11 filhos, educou todo mundo. Ela faleceu no ano que eu cheguei a Bruxelas e eu não tive tempo de me despedir dela... Mas ela me autorizou. Ela disse "vai, eu te abençoo. Vai lutar pelos seu ideais, seus sonhos". Ela era uma mulher de casa mas era independente. Ela gerava o próprio dinheiro dela vendendo queijos, doces... e era uma simpatia em pessoa, um amor!

COMIDAS POR ENCOMENDA

lh Alice Car va

o

a Salgados pra festa a  Menus para eventos a Refeições prontas (cozinha brasileira)

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A. Como você! L. Obrigada!•A

alicemuyovu1993@gmail.com

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LITERATURA

RESENHA

Foto: Fora do Eixo

POR ERMESON VIEIRA

PONCIÁ VICÊNCIO ROMANCE DE CONCEIÇÃO EVARISTO

N

atural de Belo Horizonte no estado de Minas Gerais, Conceição Evaristo nasceu em uma família muito pobre. A mãe e a tia eram lavandeiras. Conceição teve que morar com uma tia já que sua mãe na época sozinha já alimentava quarto filhas. Depois teve outros cinco filhos com seu segundo marido. A família morava numa favela da zona sul da cidade que depois devido a um pseudo programa de desfavelização, foi obrigada a mudar-se para a periferia e ficar ainda mais isolada do centro da cidade e de tudo que isso pode trazer de bom. Conceição trabalhou como a mãe e como a tia e rebuscou nos restos dos ricos para poder sobreviver e terminar seus estudos. Em 1971, formou-se professora do ensino Normal (Magistério). Com um diploma em mãos, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou em um concurso do município para professor; cursou Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na década de 80, publicou suas obras nos chamados Cadernos Negros que fazem parte da produção cultural do grupo Quilombhoje, coletivo formado por vários autores afrodescendentes brasileiros. Conceição é mestra em Literatura Brasileira pela P.U.C. do Rio de Janeiro e doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense, tem muitos de seus livros traduzidos para o inglês e para o francês. Os temas abordados na sua obra são: a discriminação racial, gênero, e classe.

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SINOPSE Ponciá Vicêncio, uma menina negra vem a tornar-se uma mulher com a herança da memória do avô - ex-escravo e esquizofrênico que morreu pouco depois de ela nascer. O homem matou sua esposa no meio de um episódio de loucura e mais tarde, quando ele descobriu o que aconteceu, ele cortou um dos braços em uma tentativa de suicídio. Ponciá, ainda menina, molda uma imagem de barro perfeita do avô deixando a família perplexa. A família formada pela mãe, o marido, e o irmão se esfacela depois que o pai de Ponciá morre. Ela vai trabalhar na cidade grande buscando uma vida melhor. Consegue trabalho de empregada doméstica. Luadi, seu irmão também abandona a mãe e a fazenda onde trabalhava. A mãe desesperada, parte para a cidade no afã de encontrar os dois. Ponciá decide voltar para reencontrar a família mas não encontra ninguém, só as memórias e a velha estatua do avó que ela moldara quando criança. Triste Ponciá retorna à cidade onde conhece um homem que finalmente a maltratará, mas o labirinto dos desencontros também é o labirinto dos encontros quando os seres se buscam e essa parte eu vou deixar para vocês descobrirem como essa história se desabrocha num final que irá fazer Ponciá cumprir com sua missão ancestral.


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LITERATURA ANÁLISE A realidade transubstanciada é como deveríamos nos referir a história de Ponciá Vicêncio que dá nome ao livro de Conceição Evaristo. De início, somos introduzidos em primeira pessoa à história de vida da autora negra como se fosse um prefácio ou uma introdução à história da personagem ficcional. De fato, Conceição não esconde as semelhanças. Ela afirma: “Eu inventei e confundi Ponciá Vicêncio dentro dos labirintos da minha memória”. O texto é resultado de um discurso pronunciado em um colóquio sobre literatura na Universidade Federal de Minas Gerais em 2009. O que emociona é a extrema sinceridade, honestidade e orgulho com que Conceição se refere a seu duro passado, às suas origens pobres, à sua cor, e à sua classe social. Não há pudor em contar as penúrias que passou, inclusive ao narrar quando chegou a tirar do lixo para comer e da exclusão que era submetida na escola sendo separada das crianças brancas e ricas; até que começou, quem sabe intuitivamente, a empoderar-se através da literatura. A história de Ponciá faz uso de um narrador que nos reconta desde o futuro, como se estivesse testemunhando o que viu e ouviu sobre a protagonista. Ele é capaz de produzir em nós um sentimento mítico de realismo fantástico, tão latino americano em sua origem e tão emotivo ao mesmo tempo. É nesse realismo fantástico onde a gente descobre as alegrias, ilusões e tristezas de Ponciá Vicêncio. Sem dúvidas, tal recurso literário de Conceição Evaristo nos aproxima do emocional dos seus personagens e ela o faz de forma que nos sentimos como eles. Esse tom de memória nos faz também relembrar, e isso é maravilhoso. Recordar as próprias raízes é reafirmar nossa identidade, nossos valores e nossa história.

Mas na história de Ponciá, a memória também pode ser lida como uma forma de militância ou resistência. Palavras que hoje em dia soam quase como insultos, mas para Conceição Evaristo, digo eu, que o esquecimento da história da negritude seria um desastre e um ultraje para a História com H maiúsculo. Pois como dizia o grande filósofo Walter Benjamin nas suas teses sobre a Filosofia da História: “O cronista que narra os acontecimentos, sem distinguir entre os grandes e os pequenos, leva em conta a verdade de que nada que um dia aconteceu pode ser considerado perdido para a história”. Pois bem, Conceição é esta escritora engajada em não deixar esses “pequenos” momentos da história relampejar e desaparecer irrecuperavelmente dentro do passado. O que ela faz com suas narrativas é cristalizar a história de vida daqueles que sempre sofreram a exclusão e o preconceito nas suas vidas por serem negros, mulheres ou pobres no nosso país. Longe de nos trazerem tristeza os recontos de Conceição nos inspiram resiliência, nobreza e nos dão prazer em submergir-nos no mundo desses personagens negros. É um relato etnográfico, entretanto ficcional e ao mesmo tempo com matizes autobiográficas. Talvez o que deixa a desejar seja ouvir mais a voz de Ponciá Vicêncio e senti-la mais de pertinho. Quem sabe um narrador em primeira pessoa nos ajudasse a conhecer mais os sentimentos e motivações de Ponciá. De todas as maneiras, a história de Ponciá Vicêncio é uma viagem emocionante à ao mundo de uma personagem que poderia ser muitos de nós, especialmente afro-descententes, e é nisso que reside o seu grande valor. Há um compromisso com a verdade, ainda que através da ficção porque tudo nasceu do que foi vivido•A Ermeson Vieira é formado em Filme e Vídeo pela Universidade do Leste de Londres, mestre em Mídia pela Universidade de Amsterdã e editor da Acentuados.

No Brasil Na Bélgica - 0800 100 55 opção 1 - nº 61 37 99 01 80 Na Bélgica - 0800 100 55 opção 1 - nº 61 37 99 01 80 Assista também a palestra de informação sobre Prevenção contra Violência de Gênero realizado no Consulado Geral do Brasil em Bruxelas

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D E S E N VOLVIMENTO HUMANO O que podemos entender do resultado desse estudo? Que especificar um objetivo o máximo possível, ou seja transformá-lo em META, no caso dos homens e falar dele no caso das mulheres, aumentam as probabilidades de alcançar o que se quer!

QUAIS SÃO AS CHANCES DE ALCANÇAR SEUS OBJETIVOS? Estudo Britânico observa as razões que podem levar à concretização de objetivos

A

ntes de responder a essa pergunta, penso que seria útil definir o que são objetivos e metas.

Segundo o Dicionário Aurélio, objetivo “é o que se pretende alcançar, realizar ou obter”. Dentro da metodologia do coaching, objetivo é a palavra chave, pois é o que se pretende realizar na vida pessoal ou profissional e tem relação com algo mais abrangente, é aonde queremos estar ao longo da nossa jornada. Enquanto que a meta, segundo o Dicionário Aurélio é a “finalização de alguma coisa”, e apesar dela também ser citada no mesmo dicionário como um sinônimo de objetivo, não quer dizer a mesma coisa quando o assunto é desenvolvimento humano. As metas são bastante conhecidas no mundo empresarial e tem muito mais relação com o “como” alcançar um objetivo, de forma específica, quantificada e com ações definidas. Establecer objetivos e como alcançá-los divididos em metas faz parte de um planejamento que permite ter clareza do que se quer para entrar em ação e alcançar algo que se deseja. Mas traçar metas e ter um planejamento é realmente útil? Porque a maiora das pessoas que fazem uma lista de objetivos na virada do ano acabam abandonando logo depois?

Um estudo científico1 realizado pelo Professor Richard Wiseman na Universidade de Hertfordshire (Reino Unido) em 2007, observou 3.000 pessoas e concluiu um ano depois que apenas 12% das pessoas alcançaram os objetivos estabelecidos. Esse estudo observou algumas das razões que podem levar à concretização de um objetivo. Ao longo dessa experiência, as pessoas foram separadas por grupos de homens e mulheres. Os homens que estabeleceram objetivos específicos, tinham 22% mais de chances de alcançar o objetivo. Enquanto que as mulheres conseguiam 10% mais de melhores resultados quando elas falavam aos seus amigos e familiares sobre o objetivo e eram encorajadas à persistirem. 1 BBC News – New Year’s Resolution success tip – (28/12/2007).

Imagem: Deedster CC0 Creative Commons

POR GINA SALAZAR

Segundo o Professor Wiseman, antes de abandonar completamente seus objetivos, é possível aumentar as suas chances de realizá-los. Para isso é recomendado ir além da tomada de decisão, pensar exatamente o que você vai fazer, aonde você vai fazer e a que horas, evitando planos vagos que segundo o estudo, são os que tem maior tendência ao fracasso. Mas será que isso é suficiente? Existem alguns métodos que foram desenvolvidos para ajudar as pessoas a traçar metas. Alguns deles com vários pontos em comum, outros com pontos contraditórios, como é o caso do HARD Goals2 (Heartfelt, Animated, Required and Difficult) de Mark Murphy, que contradiz uma parte do método mais utilizado e conhecido como SMART Goals (Specific, Mesurable, Achievable, Realistic, Time framed), quando Murphy diz que “realizável e realista” (SMART goals) é o oposto de “difícil”(HARD goals). Com “difícil” ele faz referência à “desafio” e afirma que as metas para serem motivadora devem ser desafiadoras para o indivíduo. Entre concordâncias e contradições, o fato é que “desafio” é um valor, e valores mudam de uma pessoa para outra. Não tenho certeza de que todas as pessoas têm o valor desafio como fundamental e que o método HARD funcionaria para todos os tipos de pessoas, mesmo que eu concorde também que as metas não podem ser muito fáceis, acredito que elas devam ser realizáveis e realistas. Nesse caso confio mais no método SMART e acrescento que é fundamental que a pessoa saiba “o que ela quer” e “porque ela quer” , pois isso a ajudará a ter um propósito. A maneira como o indivíduo pensa a respeito do seu próprio objetivo ou meta associada aos valores (aquilo que você procura satisfazer com esse objetivo) é de extrema importância para a Programação Neurolinguística (PNL). Então quais são as chances de você alcançar seus objetivos e metas? Segundo o estudo do Professor Wiseman, conclui-se que 1 em cada 10 pessoas alcançará os objetivos se eles forem específicos em vários sentidos no caso dos homens, ou seja Metas SMART, e se eles forem compartilhados e estimulados no caso das mulheres. Investigar através do autoconhecimento e deixar claro, qual é o valor fundamental que você procura satisfazer com o objetivo ou meta, através da metodologia da PNL, ajudará certamente na motivação para alcançar a meta ou objetivo, além de aumentar as chances de satisfação•A

Gina Salazar é Life Coach de transição profissional e pessoal, palestrante, arquiteta, investidora em imóveis, empresária e consultora. Apaixonada pelas questões que envolvem o desenvolvimento humano, seus objetivos envolvem contribuir e agregar valor na vida das pessoas através da Programação Neurolinguística (PNL) e do Coaching.

2 Murphy, Mark. Hard Goals. The science of extraordinary achievement. Mc Graw Hill. (2011)

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ACENTUADOS

COLABORADORES

Foto:J-digital Arts

Lígia Dantas é potiguar de Acari-RN, é graduada em Artes Plásticas pela Federal do RN. Mora há 3 anos em Bruxelas. Sua motivação no país é voltada para a Integração Social dos imigrantes através das Artes como um meio de expressão humana. Seu trabalho artístico combina moda, pintura, poesia e reciclagem. Realizou exposições de pintura e saraus de poesia em Bruxelas. Nessa edição é responsável pela capa, pinturas internas e poesias.

Beatriz Camargo é Brasileira e mora em Bruxelas. Tem um percurso interdisciplinar entre comunicação, direitos humanos e sociologia da migração e do gênero. Hoje trabalha no Centre Bruxellois d’Action Interculturelle (CBAI). Antes, trabalhou por cinco anos na Associação Abraço, na orientação socio-jurídica de immigrantes principalmente brasileiros.

Tatiana Diniz nasceu em Uberlândia, Minas Gerais, mas reside em Barcelona, Espanha, há 11 anos. É formada em Ciências Sociais pela PUC-SP e mestra em Antropologia Social e Cultural pela Universitat Autònoma de Barcelona. Atualmente trabalha como Coordenadora de Projetos para Empoderamento Econômico de Mulheres e suas áreas de atuação e interesse são migração, gênero e feminismo.

Fotos: Daiane da Mata

Gina Salazar é Life Coach de transição profissional e pessoal, palestrante, arquiteta, investidora em imóveis, empresária e consultora. Apaixonada pelas questões que envolvem o desenvolvimento humano, seus objetivos envolvem contribuir e agregar valor na vida das pessoas através da Programação Neurolinguística (PNL) e do Coaching.

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Dioni Costa é cantora, vem do interior de Goiás - de Ceres. É filha do “Embaixador de Folia de Reis” (músico autodidata), muito cedo começou a cantar nas serenatas da família com seu pai. Em 1994 veio com seu companheiro para Bélgica. Hoje integrada e instalada na capital da Bélgica trabalha como monitora numa escola e segue trilhando seu caminho com fé e muita música. Colabora com a Acentuados como modelo.

Fotos: Daiane da Mata

Mina Kanashiro Apesar do sobrenome japonês, foi criada no despojado clima do Rio de Janeiro. Formou-se em Relações Internacionais, com especialização em Negócios Internacionais e decidiu montar acampamento em Bruxelas há 3 anos. Esta mudança foi motivada pela carreira profissional, atualmente é especialista em projetos humanitários.

Tiane Corso Graziottin é uma psicóloga brasileira com Mestrado em Counselling. Ela mora em Londres, Reino Unido, e tem vinte anos de experiência trabalhando com indivíduos e famílias com capacidades e dificuldades múltiplas. Sua prática envolve aspectos de saúde mental, social e desenvolvimento humano.

Fotos: Daiane da Mata

Elaine Cavalcante dos Santos é cearense de Amanari-Maranguape. Graduou-se em Medicina pela Universidade Estadual do Ceará e fez residência em Medicina Intensiva. Na Bélgica realizou um estágio na Unidade de Medicina Intesiva do Hospital Erasme. Atualmente faz doutorado em dito hospital pela Universidade Livre de Bruxelas. Afirma que em Bruxelas conheceu meios práticos para incrementar práticas de bem estar físico e mental fundamentais para manter sua cultura e compreender a diversidade da cidade.

Fotos privadas (8)

Alessandra Xavier é psicologa formada pela Universidade Federal do Ceará, mestre em Educação pela Universidade Federal do Ceará e doutora em Psicologia Clínica e Psicobiologia pela Universidade de Santiago de Compostela, Espanha. Atualmente é professora assistente da Universidade Estadual do Ceará, do curso de Psicologia, com experiência na área de Psicologia Clínica, Psicanálise, Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem.

Marília Breite é graduada em Ciências Sociais pela Universidade de Campinas (UNICAMP). Trabalha na Bélgica com marketing e criação de conteúdo digital. Nas horas vagas ama escrever sobre viagens e lugares históricos para o www.papelcomclips. com


ACENTUADOS

COLABORADORES

Daiane da Mata nasceu em Salvaterra - Ilha do Marajó no estado do Pará. Estuda na Escola de Fotografia e Técnicas Visuais Agnès Vardas em Bruxelas. Em seus projetos, busca compreender as características históricas, étnicas, geográficas e estéticas das pessoas. Considera-se, portanto, uma "médium photographe" buscando sempre retratar a realidade de maneira poética.

Ermeson Vieira Gondim nasceu em Quixeramobim, Ceará. Morou por nove anos na Espanha, seis na Inglaterra onde se licenciou em Filme e Vídeo. É mestre em Estudos do Cinema na Holanda. Apaixonado pela fotografia, pelas as artes plásticas, pela literatura, psicologia e filosofia, colabora com essa revista na edição de páginas, na escrita de matérias e como editor chefe.

Edmilson Medeiros é sociólogo e até onde vai a sua memória está envolvido na defesa dos direitos humanos, o que já lhe rendeu denuncia por ser comunista, embora se pense um anarquista. Continua trabalhando com direitos humanos apesar da fama que isso traz. Falar sobre gênero, raça e sexualidades e sobretudo o controle do Estado sobre os corpos. Uns dizem louco. Mas como é boa a liberdade!

PROGRAMAÇÃO DE VERÃO DA CASA N'ATIVA AGOSTO PILATES-FUSION com Beth Rigaud - terças e quintas de 09h às 10:30h - tarifa 12€ 10€ (membros) pacote 10 aulas 85€ ATELIER DE BRINQUEDOS RECICLADOS - quartas feiras de 15h às 17h ATELIER DE FUXICOS (Mães) - 15h às 17h BALÉ N'ATIVA (grupo de danças brasileiras) - de 19h às 21h - tarifa 20€, 15€ membros - pacote 10 aulas 130€ DANÇAS AFRO-BRASILEIRAS de 10:15h às 11:15h - tarifa 12€ 10€ - (membros) Pacote 10 aulas 85€ SETEMBRO PILATES-FUSION - terças e quintas das 09h às 10:30h ATELIER DE BRINQUEDOS RECICLADOS (crianças) quartas feiras das 15h00 às 17h ATELIER DE FUXICOS (Mães) de 15 às 17h DANÇAS AFRO-BRASILEIRAS de 10:15h às 11:15h - tarifa 12€ 10€ - (membros) Pacote 10 aulas 85€ CURSO DE FRANCÊS PARA INICIANTES - terças de 19h às 20:30h - 8€/h membros 5€/h

REDAÇÃO Redator chefe: Ermeson Vieira Publicidade: Lígia Dantas Ermeson Vieira Edmilson Medeiros revista.acentuados@gmail.com Tel.: +32 (0)488 02 19 89 (Whatsapp) Lista de Preços: www.revistaacentuados.com/an Redação: Ermeson Vieira, Beatriz Camargo, Tatiana Diniz, Marília Breite, Edmilson Medeiros, Tiane Corso Graziottin, Alessandra Xavier, Gina Salazar. Layout: Ermeson Vieira

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PROGRAMAÇÃO ARTÍSTICA 07/09 - Sarau Poético. 18:30h.

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13/09 - Concerto: CANÇÃO PRA DOIS. Artistas: Carol Andrade (voz) e Alex Maia (violão). 20:30h. 14/09 – Lançamento do Livro de Luc Vankrulskelven “A Rã que não se Deixa Ferver”, uma metáfora sobre as pessoas que movem os rumos da vida. A partir das 19h. 23/09 – Palestra sobre "Como realizar seus objetivos" com Gina Salazar Revista Acentuados - de 15h às 16:30h. 28, 29 e 30/09 – Batizado de Capoeira: Angoleiros do Mar. Toda a jornada.

+32 (0)488 02 19 89

www.revistaacentuados.com

CASA N'ATIVA, RUE DE LA PETITE ÎLE, 1 – 1070 – ANDERLECHT

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A Ç Ã O C O M U N I TÁ R I A I N O VA D O R A P R ÁT I C A S C U LT U R A I S - E M P O D E R A M E N T O - R E S I L I Ê N C I A S O C I A L

FORMAÇÃO DE FA C I L I TA D O R / A - S D E G R U P O S D E T E R A P I A C O M U N I TÁ R I A I N T E G R AT I VA S I S T Ê M I C A Na fazenda Very Wéron - Namur - Bélgica

1, 2, 3, 4 de novembro 2018

Módulo 1 No final deste primeiro módulo, os formandos poderão facilitar um grupo. A formação é completada por dois outros módulos de 4 e 3 dias.

Facilitador/as Ana Tereza Brandão, ! Camélia Branca Prado e ! equipe de cuidadores!

Mais info: +32 478 28 26 60 aetcis.be@gmail.com www.aetci-a4v.eu/tci-en-belgique

Organizada pela

A.E.T.C.I.S. Bélgica Membro da Associação Européia de Terapia Comunautária Integrativa e Sistêmica


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