Revista Acentuados

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Edição N 3 Outono  2018

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REVISTA COMUNITÁRIA BRASILEIRA

A importância de preservar a empatia, as amizades e o trabalho em cooperação em tempos confusos

Arte, literatura, psicologia, filosofia e muito mais


2 | ACENTUADOS


www.revistaacentuados.com O Poder da Narrativa —4 e 5

A importância da empatia e de uma narrativa de paz para um mundo cada vez mais diverso

Terapia Comunitária: Tomada de consciência e desenvolvimento humano —6 Entrevista com Camélia Prado e Ana Brandão Sobre o Uso do Tempo nas Sociabilidades Democráticas e Contra os Totalitarismos —8 e 9 Por Ingrid B. Pavezi

Evento Realizado Palestra do Sonho à Realidade Usando a PNL e Coaching com Gina Salazar —9 Consciência Negra ►Chame-me Pelo Meu Nome —10 Por Edmilson Medeiros ►O Racismo na Gênese do Brasil —11 e 12 Por Martha Jares ►Um Racismo à Portuguesa? Com Certeza! —13 Por Bia Barbosa Literatura ►Outono Quente, Livros Quentes —14 Quatro livros de não-ficção para este outono ►É Triste Almoçar Sozinho —15 Crônica de Fátima Daia Miller-Bosch Charges Por Jean-Paul Colemonts —16 Nossos colaboradores —18 10 Regras Para Resgatadores de Democracia —19

Querida leitora: Querido leitor: O espírito da época em que vivemos tem se enturvecido pelas crescentes ondas de indiferença e desrespeito à existência do Outro. Os nacionalismos excludentes, o racismo, o classismo, a misoginia, a LGBTfobia, o ódio por motivos políticos e religiosos têm se feito presente. E no Brasil, todas essas formas de ódio têm tomado umas proporções nunca antes vistas. O convívio social saudável têm se tornado tremendamente frágil. Até amigos e familiares têm experienciado desavenças que em outros tempos seriam impensáveis. E por quê? Porque deixamos de desenvolver nossas habilidades sociais, nossa empatia, nossa capacidade de diálogo. A propósito, diálogo é uma palavra muito interessante pois para que haja diálogo é preciso que haja no mínimo duas pessoas. A empatia só pode se dar em diálogo. É em contato com o Outro que aprendemos a empatizar com ele. Para empatizar com alguém eu necessito, por um lado, compreender a dificuldade que ele está passando (empatia cognitiva) e engajar-me no apoio ao Outro para que ele solucione seu dilema (empatia afetiva). Mas muitas pessoas podem se perguntar: "O que eu ganho em envolver-me com os problemas dos outros? Por que eu preciso ser empático com quem é totalmente diferente de mim? Com quem eu não conheço e nem quero conhecer? Por que teria eu que me importar com a vida de um negro, um pobre, um homossexual ou um refugiado ou um bandido?" Cientistas de várias áreas têm mostrado que só há vantagens para quem vive a empatia. A pessoa empática é mais aberta, mais criativa, mais flexível, tem mais capacidade de aprendizagem, de se relacionar com os outros, seu sistema imunológico é mais forte. São mais longevos, porque a empatia afeta positivamente a saúde física, mental, social, sentimental e econômica do indivíduo. Estudos revelam por exemplo que um garçom que repete oralmente o pedido do cliente, o que mostra uma escuta ativa e uma empatia com seu desejo, recebe 100% mais de gorjetas. Todo o contrário também é verdadeiro. Mas a situação contrária tem um agravante: a apatia ou a antipatia, destroem a dignidade humana. Enquanto a antipatia produz o mal, a apatia age com má fé encobrindo a mentira e o mal na sociedade. Cada um de nós tem a liberdade de optar por uma posição ou outra. Se deixamos de nos engajar nesse movimento de respeito ao outro, seja lá ele ou ela quem seja, estaremos compactuando com a injustiça e a mentira e favorecendo a “banalidade do mal”, que nada mais é que a naturalização do rebaixamento da condição humana levada a cabo por sujeitos e instituições autoritárias. A boa notícia é que a empatia pode ser aprendida e ensinada. É fundamental um ambiente democrático, livre, plural e respeitoso, onde haja lugar para o lazer e a diversão. Só temos a ganhar ao rechaçar o ódio, descartar a apatia e abraçar a empatia. Desfrute da leitura!

Redação Acentuados —19 Ermeson Vieira Gondim Editor •A revista.acentuados@gmail.com

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ACENTUADOS POR ERMESON VIEIRA

O PODER DA NARRATIVA A IMPORTÂNCIA DA EMPATIA E DE UMA NARRATIVA DE PAZ PARA UM MUNDO CADA VEZ MAIS DIVERSO

G

A partir da observação dos gatos comecei a me dar conta de que era o mesmo que acontecia entre certas pessoas, ou seja, que alguns indivíduos se relacionam com os outros marcando “seu” território e tentando reafirmar seu poder sobre o outro. A confusão durou aproximadamente três dias. A mudança só começou a acontecer quando Jinnie, como eu costumo chamar a gatinha, começou a enfrentar seu opressor e os dois começaram mudar da briga à brincadeira e ao respeito pelo direito do outro. A energia da cooperação cresceu tanto que os dois não puderam fazer mais nada sem o outro. Muitas pessoas ainda não conseguem perceber que a vida em cooperação tem mais a oferecer que a vida em competição. Lisa Cron, autora do livro Story Genius How to Use Brain 4 | ACENTUADOS ' 2018 Outono n. 3

Por sua vez o historiador israelense, Yuval Noah Harari no seu livro Sapiens afirma que nossa linguagem evoluiu como um tipo de fofoca (p.13). Ele afirma que “a cooperação social é essencial para a sobrevivência e a reprodução (idem). Ele continua: “É muito importante para eles [os homo sapiens] saber quem em seu bando odeia quem, quem está dormindo com quem, quem é honesto e quem é trapaceiro”. Para Harari, a capacidade de cooperação fica comprometida quando homens e mulheres têm que lidar com grupos maiores que 150 indivíduos (o limite humano para as relações simples). Daí faz-se necessário a criação de ficções como lendas, religiões, mitos, deuses para servir à união de grandes e até diferentes grupos. Dessa forma milhares de indivíduos podem cooperar em nome de uma ficção como são os países ou as organizações nacionais ou internacionais. Soldados podem dar suas vidas pela pátria, pessoas podem dedicarem-se e até lutar por uma religião ou partido, podem criar planos de governos e empresas podem fidelizar seus clientes. De fato, muitas dessas instituições já começam a entender a necessidade de criar uma narrativa ou ficção para si e contratam profissionais especializados em construir histórias adaptadas às necessidades específicas de cada uma dessas entidades. Tais profissionais são chamados de story-tellers ou contadores de histórias. O grande objetivo desses profissionais é moldar o imaginário de cada um de nós. Eles são cada dia mais buscados devido ao crescimento da população mundial e à necessidade de convencer grupos cada vez mais diversos em um mundo cada vez mais globalizado.

Foto: Ermeson Vieira Gondim

eralmente quando duas pessoas vivem brigando usamos a metáfora do gato e do rato para ilustrar a situação. Porém acho que a metáfora não está completamente ajustada. Em geral, os que brigam são dois iguais, não dois indivíduos de espécies diferentes. É aí que uma experiência recentemente adquirida entra. Há aproximadamente quatro meses, uma amiga me presenteou com um gatinho lindo. Ele era todo mimoso e brincalhão. Pouco depois ela me pediu para cuidar da irmã do meu gatinho por umas semanas. Eu aceitei achando que ia ser muito bom para meu gato Pnyx (nome grego do monte onde a democracia foi fundada). Pois bem, o que aconteceu foi exatamente o contrário, Pnyxi, como o chamamos carinhosamente, começou a acossar a pobre irmã. A coitada não podia fazer nada. Todos os lugares da casa pertenciam a ele, pelo menos era isso que ele queria deixar bem claro. Aquilo foi um inferno. De noite eu tinha que separar os dois porque se não eu não podia dormir.

Science to Go Beyonde Outlining and Write a Riveting Novel (Gênio da História Como usar a neurociência para ir além de delinear e escrever um romance fascinante) afirma que a evolução não nos deu simplesmente a habilidade do pensamento analítico , mas a capacidade de trabalhar bem com os outros (p. 14). Isso porque somos capazes de criar histórias e expressar sentimentos e impressões que chegam à mente das outras pessoas.


ACENTUADOS

A eliminação do outro é a eliminação de nós mesmos. Os filósofos existencialistas concordavam em dizer que não pode existir o eu se não for em contato com o outro. O centro (eu) precisa da periferia (outrem) para existir. O Ser no mundo nada mais é que uma relação do meu Eu com o Eu do outro. Se o outro desaparece, meu Eu defina, praticamente desaparece junto com ele.

COMO FALAR PARA SER OUVIDO Se o seu problema é fazer com que as pessoas lhe ouçam e respeitem o que você tem a dizer e não está conseguindo, é porque provavelmente você está fazendo alguma coisa errada. Julian Treasure, especialista em som e comunicação, autor dos livros How to be Heard (Como Ser Ouvido) e Sound Business (aprox. Negócio do Som), na sua última palestra para o TEDx Talk (disponível em português na Netflix), apresenta 7 problemas que impedem que as pessoas queiram lhe ouvir: 1. Fofocas 2. Julgamentos 3. Negatividade 4. Queixas 5. Desculpas 6.  Exageiros, mentiras 7.  Dogmatismos (confusão entre fato e opinião) Como solução, ele apresenta a fórmula que ele chama de HAIL que significa "saudação" em inglês.

Eu/Ser (centro)

Os outros (periferia) As divergências sempre existiram, entre familiares, amigos, e grupos mas em tempos de isolamento provocado por meios de comunicação com a internet e o smart phone (telefone com internet) ondas de ódio e intolerância enfraquecem a malha social devido nossa crescente incapacidade de gerir as diferenças e o respeito ao sofrimento do outro. Escondidos detrás de uma tela nos sentimos no direito de impor nossos pontos de vista rígidos, e sem empatia com o outro sentimos nosso Eu grande, pois nossa identidade parece finalmente estar completa e não fragmentada o que é o normal. Porém não nos damos conta da nossa solidão e isolamento. Como gatinhos invejosos e ciumentos nos dedicamos a defender territórios que só nos ajudarão a trazer solidão. Acaso não estaríamos melhor compartilhando nosso tempo e espaço de maneira adulta, respeitando e disfrutando com o outro, seja lá quem ele ou ela seja? O certo para mim é que ao menos esta saída nos garantiria uma alternativa de futuro mais livre, mas próspero e mais humano. Quem sabe estejamos começando a ver tudo isso com um pouco mais de clareza? •A Ermeson Vieira é formado em Filme e Vídeo pela Universidade do Leste de Londres, mestre em Mídia pela Universidade de Amsterdã e editor da Acentuados.

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H.  Honestidade - Ser claro e direto A.  Autenticidade - Ser você mesmo I.  Integridade - Ter palavra, ser alguém em quem         os outros possam confiar L.  Love (amor – desejar para aos outros o bem) Já para Dacher Keltner, autor do livro The Power Paradox – How We Gain and Lose Influence (O Paradoxo do Poder – Como Ganhamos e Perdemos Poder), o poder é dado, não roubado dos outros. Ele apresenta uma tabela com cinco grandes pontos sobre os prós e contras no jogo das relações com os outros. Ações que favorecem uma boa relação com os outros

Ações prejudicam uma boa relação com os outros

Entusiasmo – estender a mão aos outros

Evitar o contato social

Gentileza – Cooperar, compartilhar, doar

Explorar os outros em proveito próprio

Enfoque – enfocar nos objetivos compartilhados, regras

Descuidar de compartilhar os objetivos, as regras

Tranquilidade – incultir calma, perspectiva

Queixar-se, ser ofensivo

Abertura – estar aberto às ideias e sentimentos dos outros

Despresar as ideias dos outros

Todos nós somos educados na escola para ler, escrever, fazer contas e algumas outras coisas, mas ainda precisamos aprender a ouvir e falar de maneira que as pessoas queiram nos ouvir. Esse é o nosso maior desafio!

Ilustração: CC0 Creative Commons

Mas a missão de viver em união e harmonia com o outro é um pouco mais complicada do que simplesmente se convencido de algumas ideias. E aqui estamos falando de dois níveis. Um mais macrossocial e outro mais entre indivíduo e indivíduo. A origem do problema está de que muitas vezes construímos nossa identidade em oposição ao que o outro é. Às vezes para sabermos quem somos, precisamos saber o que ou quem não somos. No nível macrossocial o problema é que há grupos que se dedicam a explorar nossas contradições em lugar de mostrar o que temos em comum. Por essa razão conceitos como democracia, respeito aos direitos sociais e humanos são tão importantes. Só uma humanidade que garanta a pluralidade de pensamento e as liberdades individuais pode ser uma sociedade verdadeiramente livre e humana.


ACENTUADOS

TERAPIA COMUNITÁRIA

ENTREVISTA

TOMADA DE CONSCIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

E

m tempos onde as relações humanas estão se restringindo mais e mais à simulação da presença e do contato no mundo virtual, é de grande bravura o trabalho de grupos que vão contra a corrente a fim de construir um contato e um trato mais humano entre as pessoas. Um desses coletivos é o grupo da Associação de Terapia Comunitária Integrativa e Sistêmica na Bélgica, que existe em Bruxelas desde 2012 e que realiza um trabalho voltado ao crescimento pessoal e humano. A Revista Acentuados convidou nesta edição Camélia Prado e Ana Brandão, que são facilitadoras das rodas – espaço de escuta, de conversa e de criação de laços - da Ciranda de Palavras para falar sobre como elas vêm a empatia. ACENT. Por que faz sentido falar de empatia hoje em dia? Ana Brandão: Para mim faz todo sentido, porque hoje estamos vivendo num mundo, ou pelo menos posso falar ao redor de mim, em cidades, em sociedades de uma maneira onde eu nem vejo o outro, eu nem falo com o outro, eu não compartilho, além do ônibus, de olhares que, muitas vezes, são até incômodos porque eu não sei onde botar os olhos ou as mãos. Nas ruas, a gente cruza com o outro, nem o olhar mais a gente partilha; então, infelizmente é necessário mesmo, eu penso, acredito, que devemos aprender a se religar a essa capacidade de compartilhar. . Camélia Prado: Para mim também faz todo o sentido porque eu acho que eu não conseguiria viver bem numa sociedade sem empatia. Hoje eu sei que a minha relação com o mundo passa pela minha relação com o outro; que seja mesmo no micro contexto como no prédio onde eu moro, eu não conseguiria viver bem se eu nã soubesse que lá tem gente, que eu me comunico com eles e que eu sei o que eles estão passando, ... É ter relações com as pessoas. E ter relações com essas pessoas é poder ouvir o outro, é saber como é que eles estão e dividir momentos. Assim, nesse aspecto local e mais restrito, mais reduzido, como também no aspecto da sociedade e no trabalho em que eu desenvolvo. Acho que a empatia é estar na escuta do outro, no seu encontro; é valorizar o que o outro coloca, para mim dentro de uma relação humana.

Camélia Prado 6 | ACENTUADOS ' 2018 Outono n. 3

Camélia Prado: Desde o momento do acolhimento (na roda de TCI) nós tentamos ser empáticos, mas não como uma coisa obrigatória, mas quando eu me coloco no lugar de uma pessoa que vem buscar o grupo. Se essa pessoa sabe do que se trata ela vem à roda para escutar... que seja por motivos mil, mas ela vem também para se encontrar com outras pessoas e muitas vezes depositar, deixar o que está lhe fazendo sofrer, a preocupação do cotidiano, o sofrimento social que ela passa. ACENT. Quando eu escuto o outro, isso traz alguma coisa positiva para mim? Camélia Prado: Um aspecto que eu acho muito importante da empatia que é estar na escuta e no acolhimento corporal, na disponibilidade de acolher o outro. E isso é uma atitude, não só um conceito, também não é unicamente uma questão tipo: “ah, porque eu sou boazinha”. A questão é a necessidade desse engajamento que eu tenho com o outro porque eu preciso dele. É impossível imaginar sua existência sem os outros. Quando uma pessoa cruza a porta e não conhece o espaço, ela deve se dizer assim: “nossa, será que vou ser bem recebida?” Então quando você tem um olhar empático, uma postura de “seja bem-vindo, aqui talvez você possa encontrar o seu lugar”. E esse é um dos momentos chaves da roda. É o reconhecimento em mim mesma do que é importante para o outro, porque você só pode reconhecer no outro o que já existe em você•A Ana Brandão é socióloga de processos de"empowerment" individuais e coletivos com 20 anos de práticas comunitárias no Brasil, na França e há 3 anos em Bruxelas. Camélia Prado é formada em Medicina Dentária e em Saúde Comunitária com uma prática afirmada de interculturalidade no Brasil e na Bélgica.

Fotos privadas

ACENT. Vocês fazem parte da AETCIS-Be. Como vocês vivem na prática essa relação com o outro? Ana Brandão: Vivemos de uma manei-

ra muito prática, quer dizer, quando as pessoas se encontram dentro dessas rodas regulares que são encontros entre as pessoas. Nesses espaços cada um pode falar das suas preocupações do cotidiano, dos “tracas”, dos dilemas e finalmente também dos sofrimentos; Tudo isso é a vida. Então quando eu falo do que vivemos de maneira clara, num espaço seguro onde a gente sabe que tem regras que garantem que a gente não vai ser julgado, que não se vai fazer nenhum tipo de dogmatismo, de manipulação ideológica... então você pode falar dessas preocupações, desses dilemas e receber do outro justamente uma Ana Brandão troca de experiências onde pela emoção, o outro partilha com você um momento vivido. Para a gente isso é uma maneira de viver a empatia.


ACENTUADOS

AGENDA 2018

TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA E SISTÊMICA CIRANDA DE PALAVRAS

DINÂMICA, DIÁLOGO E MOVIMENTO CORPORAL

Uma escuta que nos aproxima, uma troca que humaniza

Para aqueles cuja a vida consiste em parte em cuidar dos outros em casa, no trabalho, etc.

Outubro​09/10 - 23/10 Novembro 06/11 - 20/11

Para se conectar com os valores da sua cultura e da sua arte de viver bem.

Dezembro 04/12 - 18/12

Cuidando dos cuidadores segundo Adalberto Barreto.

Aberto a todos e a todas! PIANOFABRIEK - Sala CADZAND Rue du Fort, 35 Saint-Gilles 19H

Novembro 17/11 de 13:30h às 16:30h Dezembro 15/12 de 13:30h às 16:30h (a confirmar)

Organizada pela

PIANOFABRIEK -Sala CASABLANCA 2 Rue du Fort, 35 Saint-Gilles

Apoios: A.E.T.C.I.S. Bélgica Membro da Associação Européia de Terapia Comunautária Integrativa e Sistêmica

A Ç Ã O C O M U N I TÁ R I A I N O VA D O R A P R ÁT I C A S C U LT U R A I S - E M P O D E R A M E N T O - R E S I L I Ê N C I A S O C I A L

FORMAÇÃO DE FA C I L I TA D O R / A - S D E G R U P O S D E T E R A P I A C O M U N I TÁ R I A I N T E G R AT I VA S I S T Ê M I C A Na fazenda Very Wéron - Namur - Bélgica

1, 2, 3, 4 de novembro 2018

Módulo 1 No final deste primeiro módulo, os formandos poderão facilitar um grupo. A formação é completada por dois outros módulos de 4 e 3 dias. Organizada pela

!

Facilitador/as Ana Tereza Brandão, ! Camélia Branca Prado e ! equipe de cuidadores!

Mais info: +32 478 28 26 60 aetcis.be@gmail.com www.aetci-a4v.eu/tci-en-belgique

!

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A.E.T.C.I.S. Bélgica Membro da Associação Européia de Terapia Comunautária Integrativa e Sistêmica


ACENTUADOS POR INGRID B. PAVEZI

SO BR E O USO DO TE M PO NAS SO CIABI L I DA DES DEMOCRÁT I CAS E CON TRA OS TOTA L I TA R I S M OS

P

ouco se tem discutido sobre as sociabilidades e relações interpessoais em relação ao tempo que elas necessitam para serem construídas, assim como os diálogos e por consequência a própria cidadania. O uso do tempo pode ser um termômetro que nos mostra onde há democracia, ou onde só existe massificação e totalitarismos.

Neste país monocromático, quem não reproduz o modelo totalitário é expulso, eliminado. Com a não aceitação das diferenças e da diversidade, rapidamente desenvolvem-se tecnologias para a eliminação em massa em escala industrial para tudo e todos que passam a ser vistos como diferentes e como ‘atraso’ para o tal progresso. O questionamento se escasseia, a intelectualidade é perseguida. Por fim, as pessoas não mais se comunicam em nível interpessoal. O tempo é crucial como termômetro da democracia: nesta sociedade distópica, aceleram-se as relações até o ponto da não sociabilidade, do não diálogo, quem dirá empatia. 8 | ACENTUADOS ' 2018 Outono n. 3

Em sentido oposto a essa aceleração temos Der Langsame sieht mehr ou “O lento enxerga mais”, como escreveu Sten Nadolny em seu livro “A descoberta da Lentidão”2. Baseado em um personagem histórico, o explorador John Franklin, que realizou diversas expedições ao ártico no século XIX. Nesta ficção biográfica, Nadolny reinventa o expedicionário Franklin como uma pessoa muito vagarosa em uma sociedade que o associa com uma espécie de incapaz. No entanto, Franklin vê aspectos que passam desapercebidos do ritmo acelerado do olhar das demais pessoas. Por ter paciência, interesse e abertura, o Franklin semi-ficcional de Nadolny pode descobrir regiões no ártico que possuem ritmo próprio, e que não se curva as vontades da humanidade. Antes do livro de Nadolny, o termo vagarosidade – Langsamkeit era associado com retardo mental no contexto alemão, e que era tido como uma qualidade negativa e indesejável. Nadolny transforma a lentidão do Franklin em uma poderosa habilidade que permite ao personagem descobrir e o que outros, que vivem de modo mais acelerado, não teriam mínima possibilidade. Apesar do livro de Nadolny ser de 1983 e o de Ohler ser de 2015, o contexto do primeiro é uma espécie de resposta ao trauma social do segundo: o sucesso do vagaroso Franklin de Nadolny na Alemanha dos anos 1980 é uma resposta ao passado nazista que atormenta o país. É nesse contexto de superar o passado autoritário que a desaceleração para as sociabilidades e a vagarosidade relacional passam a serem valorizadas. Mais de três décadas depois do livro de Nadolny e sua ‘descoberta’ da lentidão, hoje temos a sensação que a lição do progresso sombrio e dos totalitarismos vem sendo esquecida e mesmo desaprendida. Temos a ascensão da política de falsas

Ilustração: Ermeson Vieira Gondim (inspiração: Salvador Dali)

Imagine uma sociedade em que, sob o pretexto de acelerar a produtividade e as relações, recomenda-se o uso de potentes drogas sintéticas. Elas são utilizadas de modo massivo e indiscriminado, seja para ir trabalhar na fábrica, ou para combater nas frentes de batalha. Dos operários aos políticos. Faz-se com que as pessoas produzam em grandes quantidades e em longas jornadas; não dialoguem e nem questionem. Transformam-se os cidadãos em massa; elimina-se o diálogo e a pluralidade. Sem hesitar, todos seguem o único líder, chefe do único partido e representante da única visão política permitida.

O parágrafo acima bem poderia ser uma ficção horrenda, mas na verdade é o resultado de uma pesquisa do escritor Norman Ohler sobre o uso indiscriminado das drogas sintéticas durante o nazismo na Alemanha. No seu livro Der totale Rausch1 percebe-se que a aceleração do tempo é um elemento presente do período nazista: seja no entorpecimento e constante estímulo dos cidadãos para manter a produtividade sistematizada, seja para manter as sociabilidades no modo massificado. A euforia coletiva do Terceiro Reich toma conta da sociedade alemã, e a embriaguez e o delírio totais. Nesse ambiente, não existe diálogo, construção plural entre diferentes segmentos da sociedade – esses nem existem mais, na ânsia de massificar e padronizar as pessoas para viverem todas sob o mesmo mono ritmo na ânsia entorpecida de um progresso, rapidez e perfeição totalitários.


ACENTUADOS

respostas rápidas para situações complexas: aposta-se em líderes totalitários e simplistas, sonha-se com o ticket para um progresso rápido e inquestionável, portanto ilusório.

somos em nossas pluralidades, saberemos quais problemas realmente nos afetam, e como podemos dialogar para efetivamente começar a resolvê-los•A

A democracia e seus diálogos requerem tempo e investimentos para se aperfeiçoarem; informação e educação para a inteligência nas relações interpessoais, para a empatia e para o diálogo. Em um mundo moldado pelas exigências massificadoras e aceleradas do capitalismo e a ideia colonizadora do ‘progresso’, ambas exploratórias e hierarquizadoras do homem e da natureza, faz-se ainda mais necessário desacelerar para poder se relacionar e dialogar para outras sociabilidades possíveis.

Notas : 1 “Der totael Rausch: Drogen im Dritten Reich” que poderia ser traduzido como “O Delírio Total: drogas no Terceiro Reich”. 2, Traduzido para o português pela editora Rocco, no original: Die Entdeckung der Langsamkeit, Sten Nadolny, 1987, Editora Piper: München, Berlin, Zürich.

Corremos o risco de entrar novamente na acelerada e ébria massificação dos totalitarismos. Se a democracia nas sociedades contemporâneas está ameaçada pelas respostas sedutoramente superficiais e rápidas, típicas dos fascismos; precisamos desacelerar para conversar e para que possamos descobrir quem realmente somos em nossas diversidades e diferenças. Para que as pessoas sejam cidadãs e cidadãos ao invés de massa; para que haja tempo para debater e construir enquanto sociedade. E apenas vindo a descobrir quem

Ingrid B. Pavezi é brasileira e vive em Berlim há três anos. Socióloga e advogada, é especialista em migrações e dinâmicas globais. Atualmente cursa doutorado em sociologia na Albert-Ludwigs-Universität Freiburg e é pesquisadora nos laboratórios de migração e de processos de europeização na Humboldt-Universität zu Berlin. Seus tópicos de pesquisa são desigualdades e diversidades, migrações e interculturalidade, e opções descoloniais em sociedades pós-coloniais. Interessa-se por literatura e seus outros mundos possíveis, tendo recentemente descoberto o afrofuturismo e a ficção científica feminista.

PALESTRA DO SONHO À REALIDADE USANDO A PNL E O COACHING

A Revista Acentuados realizou no último dia 23 de setembro uma palestra voltada as todos que desejam desenvolver-se pessoal e professionalmente a partir do uso da PNL (Programação Neurolinguística) e do coaching.

A palestra foi ministrada pela arquiteta e coach de vida, Gina Salazar que também mostrou o método de criação e produção do Walt Disney (Reunindo o Sonhador, o Crítico e o Realizador que existem em você). O evento teve o apoio da Essential Growth e da Arte N'Ativa que cedeu a sua sede para a relização do evento.

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ACENTUADOS

20 NOV. CONSCIENCIA NEGRA POR EDMILSON MEDEIROS Illustração Ermeson Vieira Gondim

CHAME-ME PELO MEU NOME

O insulto como arma de aniquilação simbólica

A

Para Yáskara Kalorri e Marielle Franco

execução de Marielle Franco nos fez perceber mais uma vez como a rede de mentiras e insultos opera. Esse mecanismo perverso que destrói o corpo físico e tudo que é o sujeito. Até não restar nada. Até apagar por completo a sua existência.

Quanto de insulto é construído os sujeitos inomináveis! Conversando com uma querida amiga, ela contou-me sobre uma tradição em algumas etnias ciganas de que quando uma criança nasce a mulher mais velha do grupo sopra em seu ouvido o seu nome. Esse será seu verdadeiro nome. O que isso tem a ver com insulto? Muitos de nós passamos uma vida de insulto. Mas o insulto não é o nosso nome. Quem nos insulta não diz o nosso nome. Diz o lugar que acredita e quer nos reservar na vida. Um não lugar. Podemos não reconhecer esse nome/lugar e “sair andando”. Mas, o fato de não reconhecer esse nome/lugar enquanto meu não retira de quem profere o insulto a responsabilidade, intenção e responder pelo peso que dá a suas palavras. O insulto é usado como arma de aniquilação. Uma analogia para exemplificar o que chamamos de morte não física (em alguns casos) é na tipologia jurídica a Tentativa de Homicídio, caracterizada quando o crime tentado não produziu ao final o desejo intencionado: aniquilar, destruir, matar. Por razões alheias à vontade do autor. Mas a intenção estava presente: matar, aniquilar. Nesse caso, ainda que o insulto não resultou no que esperava o seu autor: colocar o insultado em “seu lugar”, aniquila-lo. Teve a intenção o planejamento. Sobre isso voltemos 50 anos atrás, quando o Brasil foi tomado por uma ditadura e vozes dissonantes não podiam produzir discurso contrários sem serem mortas e/ou torturadas. Essas vozes/sujeitos defensores de direitos humanos, eram cotidianamente criminalizadas: em jornais de grande circulação; em revistas; nos telejornais do país. Todos os dias éramos “instruídos” a olhar para essas pessoas e identificá-las como terroristas, defensoras de bandidos, como pessoas que queriam destruir o Brasil e entrega-lo nas mãos dos comunistas. Quando eu tinha 9 anos assisti na televisão ex-exilados políticos voltando para o Brasil, o ano era 1979. Eu não entendia direito o que estava se passando, mas naquele momento tive um sentimento de indignação infantil ao pensar que alguém foi expulso do seu país. Na época minha consciência só alcançava a expulsão dos meus amigos da sala de aula. Talvez isso me fez ser solidário com os ex-exilados. Amigos que naquela época eu ainda não conhecia. Assistindo a TV eu fiz comentários, que eu não lembro, mas lembro que meu irmão me “denunciou” a nossa avó, dizendo que eu era comunista, que a polícia viria me prender.

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Hoje quando lhe conto bra. Diz que aos 10 anos nista, eu tampouco sabia. sa história esquecimento

essa história ele não lemnão sabia o que era comuMas, enquanto ele fez deseu a fiz do meu destino.

“Mal sabe a criança dizer mãe e a propaganda lhe destrói a consciência.” (No caminho com Maiakóvski - Eduardo Alves da Costa) Meu irmão, assim como alguns dos denunciantes mal sabiam o que era o comunismo, ou o que eram os comunistas, mas foram instruídos a denunciar, a odiar, a temer, a partir dessa propaganda diária. Esse é o cenário construído ao longo de 21 anos de ditadura militar, esses são os sujeitos construídos cotidianamente ao longo dos últimos 54 anos no Brasil. Para serem odiados, insultados e aniquilados. E ao longo dos mais de 500 anos de história do Brasil outros sujeitos insultados foram construídos. No Brasil as populações negras e pobres são cotidianamente criminalizadas. A cor dos presídios é preta. O sangue que pinta as calçadas, que lava o asfalto é preto. Nesse caldeirão “encarnado”, acrescenta-se o Brasil ser quinto lugar mundial em números de feminicídio. Marielle Franco: mulher negra pobre moradora de favela defensora de direitos humanos. Assim sem virgulas. Afinal as virgulas não podem separar os sujeitos que habitamos. “Tudo somos nós”. Mas ela não era apenas isso! Ela era também: mulher mãe esposa amiga política. O que ela não era? Ela não era o insulto! Ao longo dos dias após sua execução e no dia da sua execução, insultos foram ditos para ela. A lista seria gigantesca se fossemos enumerá-los. Após execução do seu corpo físico restava seu corpo político que teimava em não morrer. Mas como se destrói esse corpo?! Por meio das injurias; das mentiras; dos ouvi dizer; dos eu li em algum lugar. Se tenta destruir esse corpo por meio do insulto. Executar Marielle Franco não basta. Precisa aniquilar sua existência. Afinal, o que não existe, não incomoda. Marielle Franco representa, sem deixar de ser ela, defensores de direitos humanos executados todos os dias no Brasil, que após a execução do seu corpo físico vem a tentativa de aniquilamento do corpo político por meio do insulto perpetrado pela propaganda de um estado de exceção que antes de ser uma medida é um modelo. Mas o insulto não é o nosso nome. O nosso nome é aquele soprado. É aquele que faz vibrar a nossa energia de vida. Sabemos quem somos. Me chame pelo meu nome!•A Edmilson Medeiros é sociólogo e até onde vai a sua memória está envolvido na defesa dos direitos humanos, o que já lhe rendeu denuncia por ser comunista, embora se pense um anarquista. Continua trabalhando com direitos humanos apesar da fama que isso traz. Falar sobre gênero, raça e sexualidades e sobretudo o controle do Estado sobre os corpos. Uns dizem louco. Mas como é boa a liberdade!


ACENTUADOS POR MARTHA JARE

O RACISMO NA GÊNESE DO BRASIL

A

“Uma nação onde a classe dominante é de filhos ou descendentes de senhores de escravos, leva na alma o pendor, o calejamento do senhor de escravos." Darcy Ribeiro

história da formação do povo brasileiro, nos responde a muitas questões sobre o presente. Em tempos de exacerbação da intolerância, discursos de ódio contra as minorias, inflamados nas redes sociais, e que, perigosamente, tomam as ruas. É fundamental revisitar o passado e refletir sobre a questão levantada pelo antropólogo Darcy Ribeiro, "Por que o Brasil não deu certo?"

Os interesses das elites brasileiras, casavam perfeitamente com os interesses europeus, que precisavam despejar o seu excedente populacional pobre em algum outro quintal, e criar novos mercados. Na outra ponta estavam famílias de camponeses europeus, fugindo de guerras, pestes, crises econômicas e miséria, com promessas de serem donos de terras em um paraíso tropical. Enquanto que as populações negra e índia, desprovidas de qualquer projeto de inclusão social e econômico, foram relegadas ao total abandono. traç

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A imigração europeia como fonte de mão de obra livre, já era uma realidade. E os interesses iam bem mais além do trabalho assalariado e de novas técnicas para a lavoura. Havia um projeto nacional de embranquecimento do povo brasileiro, guiado pelas teorias do racismo científico, que teve grande influência nas elites do Brasil. Tal projeto, baseado na crença da superioridade branca, tinha a intenção de eliminar gradativamente a presença do negro enquanto matriz étnica da formação da identidade do povo brasileiro, eliminando, também, os "riscos de degeneração causados pela mistura de raças".

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O Brasil foi o país que mais importou escravos e o último a abolir a escravidão. E não o fez por ética ou moral, fez por que não tinha outro jeito. As tentativas de dissuadir as pressões da Inglaterra para acabar com a escravidão, foram muitas. A primeira lei a proibir o tráfico negreiro no Brasil foi a Lei de 1831 ou Lei Feijó, que inclusive, declarava livres todos os escravos que pisassem em território brasileiro. Nunca foi colocada em prática e virou "lei pra inglês ver". Depois dessa outras vieram, sem nenhuma ou quase nenhuma efetividade. A mão de obra escrava continuava a ser a força motriz no Brasil e a pressão da Inglaterra, com sanções e leis, se mantinha cada vez mais agressiva, como se de fato, estivesse preocupada com os direitos civis do povo africano. Mas a Lei Bill Aberdeen, fez cair por terra a benevolência inglesa, pois, autorizava a marinha britânica a apreender ou afundar as navegações vindas da África para o Brasil, carregadas de uma carga valiosíssima, vidas negras. A Inglaterra, que outrora, tinha sido a líder do mercado de escravos, não estava preocupada nem com causas humanitárias e nem com direitos civis do povo africano, a preocupação agora, com a revolução industrial, era em expandir o seu mercado consumidor. Afinal, trabalho escravo não gera consumo. Sem outra saída, o Brasil decreta o fim do tráfico negreiro,

encerrando assim, o ciclo externo da reprodução do sistema escravagista. Mas não internamente, o trabalho escravo ainda existia e era alimentado por um mercado negro abastecido principalmente por Pernambuco. Gradualmente esse ciclo interno começa a se esgotar a partir da Lei do Ventre-Livre. Mas não somente, o envelhecimento e a morte prematura dessa mão-de-obra açoitada dia e noite, somados a resistência dos quilombos, a luta dos abolicionistas, que já exigiam impostos sobre latifúndios improdutivos e reforma agrária, a pressão da Inglaterra não reconhecendo a independência do Brasil e a pecha de ser o único país que ainda escravizava a sua mão-de-obra. E assim, no último suspiro da monarquia, o senado do império aprovou e a "redentora" Princesa Isabel, com toda a pompa e circunstância, assinou a Lei Áurea.

Se passaram 130 anos desde a abolição da escravidão, e ainda não conseguimos superar a ideologia do colonialismo, ainda estamos impregnados com as práticas do latifúndio e da Casa Grande. O centro do poder político e econômico ainda está nas mãos das oligarquias latifundiárias, herdeiras diretas dos senhores de escravos, há mais de 500 anos. Essa formação econômica e social do Brasil está assentada na acumulação de riquezas, por uma casta dominantemente branca, através da exploração do trabalho escravo indígena e negro, que perdurou por cerca de 400 anos. Foi essa composição social que criou e enraizou a ideologia racial, que naturalizou a marginalização do negro, colocando-o em um lugar de subalternidade na sociedade, ao mesmo tempo que sustenta e protege os privilégios brancos. Essa relação social, que preserva os mesmos métodos de domi-


ACENTUADOS nação do período colonial, perpetua um sistema de desigualdades do qual não conseguimos nos livrar ou nem queiramos. Nossos privilégios foram mantidos a base do poder, da força e dos mais variados tipos de violência, sempre com o amparo da justiça, a proteção do Estado e o perdão da Santa Igreja. Quando há uma pressão pela ampliação dos espaços de convivência social, pelo povo negro, automaticamente sentimos que nossos privilégios estão sendo ameaçados. Então, radicalizamos e aprofundamos o racismo estrutural. O Estado é o encarregado em manter a "ordem natural" de dominação de classe e raça. Seja com a limpeza étnica, nos autos de resistência, que matam uma parcela da juventude negra, todos os dias. Seja pelo falido sistema carcerário, onde 64% dessa população, é de jovens negros. Seja na inexistência de políticas públicas estruturais como garantia de dignidade, seja na inexistência de políticas afirmativas como garantia de inclusão social, política e econômica. O racismo está na gênese da construção do estado brasileiro. Negar o racismo, não é apenas afirmar que ele não existe. Negar o racismo é apagar da memória de uma nação todas as atrocidades cometidas às populações indígenas e negras. Negar o racismo é camuflar todo e qualquer vestígio do povo africano, é como se sua história começasse a partir da escravização dos povos africanos. Negar o racismo é privar crianças e jovens negros de conhecer a história de resistência e bravura de seus ancestrais. Negar o racismo é tentar invisibilizar todos os negros e negras que tem relevância na história, nas artes, na literatura, nas ciências, caluniando-os ou embranquecendo-os. Negar o racismo é dizer que vivemos em uma democracia racial e que não temos

nenhuma dívida histórica a ser paga, e que, portanto, as cotas ou qualquer outra política afirmativa é vitimização. Ao negar o racismo, nos eximimos de todos os danos causados em mais de cinco séculos de dominação, e assim, o fortalecemos e continuamos tranquilamente com nossos privilégios e vantagens. Hoje, 130 anos da abolição da escravidão, o racismo continua sendo instrumento de dominação, como política de Estado. A população negra, mesmo sendo mais da metade da população brasileira, continua invisível nas estruturas do poder, ocupando o espaço de subalternidade imposto. Continuam sendo açoitadas pelos chicotes da justiça, continuam sendo exterminadas diariamente e ainda continuam tendo sua força de trabalho explorada. 518 anos depois do Brasil colônia, ainda vivemos sob o julgo dos herdeiros dos senhores de escravos, ainda usufruímos dos privilégios e vantagens que esse cruel sistema de desigualdades nos proporciona, sob a máscara da cordialidade, que ousa em afirmar que vivemos em uma democracia racial, onde as mazelas sofridas por essa população é resultado da meritocracia. Darcy Ribeiro, depois de 30 anos de pesquisas sobre nossas raízes, responde a questão por ele levantada. Se o Brasil ainda não deu certo, a culpa é das elites que não permitiram•A Martha Jares é economista, produtora cultural, pós-graduada em Mídia, Informação e Cultura pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação da Escola de Comunicação e Artes da USP.

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POR BIA BARBOSA

UM RACISMO À PORTUGUESA? COM CERTEZA!

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stamos num momento onde as vozes contra o racismo estão se amplificando. A internet nos proporcionou um meio para contarmos nossas histórias. Com isso pessoas negras de todos os lugares do mundo estão tendo a oportunidade de partilhar a sua voz, a sua narrativa, numa forma de mostrar como é seu dia-a-dia numa sociedade feita de racismos. O movimento é mundial e em todos os países vozes surgem, sem nenhuma intenção de se deixar calar – ainda bem. Em Portugal isso não é diferente, muitas questões tem sido levantadas na sociedade portuguesa:

Pesquisas como a do European Social Survey feita em 2017, provaram que o país é maioritariamente racista, principalmente se comparado à outros países da Europa. Uma realidade que causou um grande burburinho e chocou parte da sociedade, a branca, a qual não sofre esse racismo na pele e muitas vezes continua a não ver essa realidade. Porém o caminho da luta antirracista é um sem volta, felizmente. Cada vez mais pretas e pretos se posicionam, se organizam. A criação de associações como a Djass – Associação de Afrodescendentes e do INMUNE – Institu-

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E quem nasce em Portugal é português? Infelizmente, segundo a lei vigente, não – mas recentemente houve mobilização de uma boa parte da sociedade civil para mudar essa realidade! A Campanha por uma Nova Lei de Nacionalidade tem vindo a questionar a lei atual, alegando que excluí uma parte da população de seus direitos e deveres. Uma petição já foi entregue ao Parlamento, algumas mudanças já foram feitas e Portugal caminha pra ser uma sociedade que reconhece sua diversidade. Já nos disse a filósofa Angela Davis, “Numa sociedade racista não basta não ser racista, é preciso ser antirracista!”. É preciso aprender a ouvir o que os pretos e pretas estão falando, nos informarmos do que anda acontecendo a nossa volta, aprendermos a questionar o que se passa e entender que o nosso dia-a-dia não é muitas vezes a realidade de todo mundo. Precisamos aprender a combater o racismo de forma ativa, mesmo se não formos negros, pois no passado, infelizmente muitas atrocidade aconteceram, e estas tornam o presente de uma grande parte da população ainda muito difícil. Não podemos mais ser coniventes, seja só por fecharmos os olhos. Sejam Pretos e Pretas, povos originários, ciganas e ciganos, migrantes… Está a se espalhar pelo mundo gritos de histórias diversas e potentes e a escolha de que lado vamos estar nessa história é nossa•A

Bia Barbosa é uma migrante, com o coração espalhado pelos cantos de mundo por onde foi e as pessoas que encontrou. Tem momentos bicho do mato, momentos que dá vontade de puxar conversa na fila do pão. Gosta de histórias e de sonhar.

Ilustração: Ermeson Vieira Gondim

A ideia de que Portugal foi um colonizador bonzinho, se comparado com outros países, ainda persiste muito forte no imaginário coletivo do país: é a teoria do luso-tropicalismo cumprindo seu papel de diminuir culpas e calar debates. Falar de escravidão é ainda algo difícil de se fazer. Mesmo os portugueses sendo responsáveis por inventar a escravidão ultramarina, pois foram os primeiros a levar pessoas na travessia do atlântico. E que dos estimados 10 milhões de pessoas escravizadas, metade são de responsabilidade portuguesa (sendo a outra metade dividida entre os outros países que participaram no tráfico negreiro). Porém, numa recente votação de orçamento público participativo, um projeto de criação de um memorial às vítimas da escravidão ganhou. O reconhecimento do passado existente é fundamental para avançar o debate no presente e traz esperanças de um futuro diferente.

to da Mulher Negra em Portugal, mostram como nos últimos anos a luta antirracismo tem avançado no país. Desde o dia 22 de Maio está acontecendo em Portugal o julgamento de 17 agentes da Polícia de segurança pública portuguesa. Acusados de inúmeros crimes agravados por prática de racismo contra seis jovens de um bairro periférico de Lisboa, a Cova da Moura. O episódio se deu em 2015, onde depois de serem detidos por 48h na esquadra, os jovens abriram uma queixa crime por tortura. Levado finalmente a Tribunal, este processo é o primeiro do tipo no país, e está jogar uma luz aos casos de violência policial, um verdadeiro problema que afeta principalmente uma população periférica e marginalizada, como os ciganos, migrantes e negros.


OUTONO QUENTE, ENSAIOS QUENTES! Foto e ilustrações: Ermeson Vieira Gondim

21 Lições Para O Século 21

No Café Existencialista

Jaron Lanier Editora Intrínseca R$ 34,90 (aprox. 8€)

Yuval Noah Harari Editora Companhia das Letras R$ 55,90 (aprox. 13€)

Sarah Bakewell Editora Objetiva R$ 62,90 (aprox. 15€)

Este cientista pioneiro da computação, quer que você deixe as redes “sociais”. Para ele as estas redes estão destruindo sua empatia, que você está perdendo seu livre arbítrio, que a verdade dos fatos está sendo minada, que elas estão lhe deixando infeliz; ou mesmo que elas estão fazendo a política ou sua fé impossíveis. Ele acredita que o problema é o BUMMER (Behavior of Users Modified, and Made into an Empire for Rent – Os Comportamentos dos Usuários Modificados e Fazer um Empério em Aluguel), um algoritmo que tem como objetivo adestrar-lhe manipulando suas emoções positivas, e negativas (incluindo o ódio) para fazer-lhe passar mais tempo na rede e comprar os produtos anunciados.

O israelita, professor de História e autor dos super best-sellers: Sapiens: Uma Breve História da Humanidade e Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã, aborda neste livro assuntos que concernem ao futuro imediato da humanidade. Já no início nos alerta para a dissolução do modelo de sociedade baseada no liberalismo devido às novas tecnologias que tendem a eliminar os humanos do sistema de produção enfraquecendo assim o liberalismo. Se no passado o fascimo ou o comunismo foram deletados do cenário internetional, agora é a vez do liberalismo. O que teremos a seguir sugundo ele pode ser uma ditadura digital. Mas ele acredita que nossas ações individuais têm o poder de transformar a realidade mundial.

Dez Argumentos Para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais

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O que é ser livre? Podemos ser o que escolhemos? Se somos livres para moldar nosso mundo, como queremos que ele seja? O que pe viver uma vida honesta e autêntica? E por que nos esquecemos sempre de nos maravilharmos por estarmos aqui, neste momento, nesta terra? Estas perguntas foram feitas pelos existêncialistas, um grupo de filósofos e romancistas cuja história se alongou dos anos sombrios do período entreguerras até a efervecente Paris do fim dos anos 1940 - e além. Este livro é um relato ousado sobre esse movimento e os pensadores que o criaram - com seus casos de amor, mentores, rebeliões, parcerias de uma vida inteira e, às vezes, discussões violentas. Nunca se contou tão bem a história desse grupo.

Rápido e Devagar Duas Formas de Pensar Daniel Kahneman Editora Objetiva R$ 51,90 (aprox.12€) Kahneman é psicólogo e ganhou o prêmio Nobel de Economia com uma teoria sobre nossos julgamentos e tomadas de decisões usando a estatística e a psicologia. Neste livro ele descreve 2 sistemas de pensamento: Um rápido, automático, frequente, emocional, estereotipado, inconsciente e outro, devagar, esforçado, lógico, calculista, consciente. Na pressa tendemos a "chutar"sem nos atermos às probabilidades. Por exemplo: se vemos 2 acidentes num mesmo local evitamos passar por ali da próxima vez, se vemos na TV um atentado achamos que estamos em risco ainda que seja mais perigoso sair com carro de férias. Se deseja conhecer seus "pontos cegos" e melhorar sua percepção, este livro é para você.


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POR FÁTIMA DAIA MILLER-BOSCH

É TRISTE ALMOÇAR SOZINHO!

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á dizia aquele famoso anúncio de carro, "o verdadeiro luxo é o espaço". Vivemos colados uns aos outros, vamos espremidos nos transportes coletivos trabalhar em “Open Spaces” barulhentos e quando enfim tiramos férias pegamos voos low cost lutando com nosso vizinho pela posse do apoio para o braço para enfim chegarmos a resorts onde vamos passar boa parte do tempo brigando pela última espreguiçadeira perto da piscina. Por conta disso acabamos desenvolvendo técnicas de sobrevivência. Tentem por exemplo observar (não de muito perto para não pensarem que você é louco) passageiros no metrô, no ônibus, ou pior ainda, pessoas no elevador. A regra tácita de convívio social quer que evitemos a todo custo qualquer contato visual com quem não conhecemos; falar então deve se limitar ao mínimo necessário. Fazemos isso quase por instinto, para preservar nossa saúde mental. Além de depender dos transportes coletivos, eu trabalho em contato direto com o público. Sou continuamente solicitada por clientes e colegas, principalmente para resolver dificuldades. Claro, amo o que faço e tenho a sorte e de ainda por cima ser paga por isso. Adoro uma conversa, puxo assunto, gosto de falar e ainda mais de ouvir, mas às vezes até uma tagarela como eu precisa de descanso, de um pouco de paz para recarregar as baterias. A hora escolhida é o almoço. Para ficar tranquila tento almoçar em horários alternativos, ou bem cedo ou bem tarde, quando o refeitório está relativamente vazio. Chegando escolho o lugar mais isolado possível, de preferência num canto escondido da sala. Chego ao ponto de colocar o fone de ouvido sem ligar música nenhuma, na esperança de dissuadir os outros, e me preparo para aproveitar uma hora inteirinha de descanso, mas é raro conseguir... "Oi! Não acredito que você está sozinha! Posso sentar aqui?" Antes que eu responda o colega solidário que me viu ao longe e teve pena de me deixar tranquila já bota a bandeja na minha frente e começa a conversar. Eu sorrio resignada. Pedir para sentar à sua mesa é algo que não se recusa, a grossura suprema. De repente começa a acenar, chamando outras pessoas para sentarem com a gente: "imaginem que ela estava sozinha!". E é 15 | ACENTUADOS ' 2018 Outono n. 3

Ilustração: Ermeson Vieira Gondim

assim que minha mesa isolada, meu oásis de paz, minha praia deserta rapidamente vira Ibiza, o point do refeitório, onde a galera se reúne, falando alto e muitas vezes ligando o YouTube ("gente, quando vi esse vídeo na hora pensei em você"). No resto do restaurante da empresa o ambiente não bomba tanto quando a minha mesa mas é igualmente barulhento; as pessoas conforme vão chegando procuram onde estão sentados seus conhecidos para não ficarem sozinhas. Por isso não fico com raiva de quem procura sentar comigo. Numa sociedade que faz tudo para isolar as pessoas comer sozinho no seu canto é considerado mais do que triste, o é resumo do fracasso de uma vida, a prova irrefutável de que ninguém gosta de você. A solidão à mesa incomoda. Nesse contexto entendo o movimento de querer a todo custo sentar comigo como um gesto de carinho e de solidariedade, e isso é mais importante que o meu reboot mental. Por isso apesar do cansaço acabo participando das conversas à mesa, rio com os colegas, até me ofereço para buscar café para todos. Volto do almoço mais cansada do que tinha chegado, mas pensando que três horas mais tarde vou estar enfim no ônibus, aquele lugar onde se convencionou que ninguém se olha ou se fala, e com sorte vou até dar uma cochilada antes pelo caminho. O dia enfim termina, corro para o vestiário, chego ao ponto de ônibus e... "Menina, é você? Há quanto tempo!!! Que legal te encontrar! Também vai pegar o 19? Que sorte, vamos poder botar a conversa em dia", diz com um sorrisão a ex-colega de trabalho que eu não vejo há mais de um ano e que logo hoje resolveu ir pro mesmo lugar que eu. "Puxa, que ótimo", respondo com meu melhor sorriso. Ainda não foi dessa vez•A Fátima Daia Miller-Bosch é carioca e mora na França desde 1994. Formada em comunicação social, caiu de paraquedas na hotelaria. Ama observar as pessoas e colecionar conversas. Não sabe assobiar nem dirigir mas já bateu papo com alguém que esteve na lua.


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Charges de Jean-Paul Colemonts https://tupinicomics.wordpress.com

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Foto: Ermeson Vieira Gondim

Criada em 2011, a Arte N'Ativa vem promovendo a cultura brasileira na Bélgica mostrando um Brasil com "várias caras" em diversas manifestações culturais, como: a música, a dança, a culinária, o teatro, o cinema... Ocupa há um ano um local no Studio City Gate em Anderlecht que é em si mesmo um polo de cultura e arte.

Isabel Duarte Fundadora/Diretora executiva da Arte N'Ativa

A CASA N'ATIVA : UM GRANDE ESPAÇO DE coworking

artístico, cultural e de terapias alternativas EM BRUXELAS

O espaço conta com 300m2 que é ideal para quem está buscando um local para realizar os mais diversos tipos de oficinas, exposições, concertos, festas, reuniões, etc. O local também dispõe de uma grande cozinha, um bar que NOSSAS ATIVIDADES ATUAIS é ideal para concertos, festas e reuniões. Nas Em parceria com outras entidades e organizações como o proximidades da Gare do Midi, você pode Centro Cultural Flamengo De Markten, a Comissão Comuchegar facilmente usando o transporte púnitária VGC-Flamenga, ou a Commune de Anderlecht, a Arte blico. N'Ativa tem uma agenda mensal bem diversificada de atividades que oferece ao público belga e brasileiro. Metrô: CLEMENCEAU/MIDI Ônibus 78 – TWEE STATIONS/DEUX Para o mês de novembro estão confirmados os shows da Mind GARES Priority (10/11 - 20:30h), C'est un Plan Très Simple! (24/11 Train: BRUXELLES-MIDI - 20:30h) e participação com um stand na Noitada Brasileira no Centro Comunitário Maritime de Molenbeek. Também teO preço das participações no coworking demos o Balé N'Ativa para mulheres (vários estilos de danças do pendem da quantidade de tempo que você Brasil) que acontece todos os domingos às 17h no De Markten precisa usar, mas as tarifas e as facilidades (Place Sainte-Catherine), os ateliês de culinária, e La Bonne são bem democráticas. Bouffe, todas as primeiras terças do mês na sala multiuso da Casa N'Ativa na Rue Petite-Île, 1. 1070 Anderlecht. Mais informações pelo: 0489 30 24 68 - Isabel Duarte. Sigam-nos no Facebook e participem das nossas atividades!

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COLABORADORES

Ermeson Vieira nasceu em Quixeramobim, Ceará. Morou por nove anos na Espanha, seis na Inglaterra onde se licenciou em Filme e Vídeo. É mestre em Estudos do Cinema na Holanda. Apaixonado pela fotografia, pelas as artes plásticas, pela literatura, psicologia e filosofia, colabora com essa revista na edição de páginas, na escrita de matérias e como editor.

Camélia Prado é cearense de Sobral, terra de Belquior e Renato Aragão. Mora na Belgica à 12 anos mas continua apaixonada pelas praias do seu Ceará, especialmete pela Prainha do Canto Verde. É formada em Odontologia, mestra em Saúde Publica, com diploma pédagogico no ensino secundário superior. Há 6 anos trabalha no setor associativo com vivências de práticas interculturais no Brasil e na Bélgica. Ana Brandão é socióloga de processos de empoderamento coletivo e individual com 20 anos de práticas comunitárias desenvolvidas com sua própria brasilidade em consonância com seus aprendizados com as ciências cognitivas de ponta. Ela jà formou mais de 200 facilitadores de grupos de TCI na França.

Ingrid B. Pavezi é brasileira, vive em Berlim há três anos. Socióloga e advogada, é especialista em migrações e dinâmicas globais. Atualmente cursa doutorado em sociologia na Albert-Ludwigs-Universität Freiburg e é pesquisadora nos laboratórios de migração e de processos de europeização na Humboldt-Universität zu Berlin. Seus tópicos de pesquisa são desigualdades e diversidades, migrações e interculturalidade, e opções descoloniais em sociedades pós-coloniais. Interessa-se por literatura e seus outros mundos possíveis, tendo recentemente descoberto o afrofuturismo e a ficção científica feminista. Edmilson Medeiros é sociólogo e até onde vai a sua memória está envolvido na defesa dos direitos humanos, o que já lhe rendeu denuncia por ser comunista, embora se pense um anarquista. Continua trabalhando com direitos humanos apesar da fama que isso traz. Falar sobre gênero, raça e sexualidades e sobretudo o controle do Estado sobre os corpos. Uns dizem louco. Mas como é boa a liberdade! Martha Jares é economista, produtora cultural, pós-graduada em Mídia, Informação e Cultura pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação da Escola de Comunicação e Artes da USP.

Beatriz Noronha Uma migrante, com o coração espalhado pelos cantos de mundo por onde foi e as pessoas que encontrou. Tem momentos bicho do mato, momentos que dá vontade de puxar conversa na fila do pão. Gosta de histórias e de sonhar.

Fátima Daia Miller-Bosch é carioca e mora na França desde 1994. Formada em comunicação social, caiu de paraquedas na hotelaria. Ama observar as pessoas e colecionar conversas. Não sabe assobiar nem dirigir mas já bateu papo com alguém que esteve na lua.

Fotos privadas (9)

Jean-Paul Colemonts, nascido em 1975 em São Paulo é um apaixonado por ilustração. Desenha desde a infância e sua origem belga o inspirou desde pequeno a ler e gostar de histórias em quadrinhos, vive em Bruxelas desde 2004. Instagram @tupinicomics

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REGRAS PARA S DE RESGATADORE

DEMOCRACIA

1. AME A CIDADE ONDE VOCÊ MORA! É existencial que nos importemos com as condições em nosso próprio ambiente e nos identifiquemos com nossa cidade, porque é o espaço no qual podemos influenciar as coisas. 2. FAÇA DO MUNDO UMA ALDEIA. Veja a todos a partir de uma humanidade compartilhada. Não hierarquize as pessoas por suas nacionalidades. Países são criações ficcionais. 3. FIQUE CALMO AO LIDAR COM OS DESPRECIADORES DA DEMOCRACIA! Os populistas confiam neles para fazer provocações. No entanto, não devemos ser incitados à indignação permanente, mas permanecer relaxados. 4. NÃO TENHA MEDO DE FALSOS GIGANTES! Deveríamos convidar especificamente os populistas para a disputa e discutir assuntos com eles. Então eles têm que mostrar o que eles têm a oferecer, exceto provocações e frases feitas. 5. NÃO PERCA O CONTATO COM AS PESSOAS QUE NÃO CONCORDAM COM VOCÊ. As mudanças começam com o diálogo sincero. Não devemos empurrar as pessoas que pensam diferente para um campo radicalizado pelo ódio e pela confusão. 6. NÃO DEIXE DE DISCUTIR OS PROBLEMAS! Se as dificuldades não são claramente identificadas, nos tornamos vulneráveis e não encontramos soluções. 7. DIGA ADEUS A "ESTAR REALMENTE CONTRA ESSA SOCIEDADE". As sociedade modernas são um emaranhado de distintas identidades, etnias e conflitos de interesses. Entender essa complexidade sinal de maturidade e uma necessidade para viver em paz. 8. NÃO ESPERE UMA TRANSFORMAÇÃO INSTANTÂNEA DA SOCIEDADE! A mudança começa em pequena escala, não iremos imediatamente mover o mundo inteiro. Porém, o engajamento de cada um com o bem geral é essencial. 9. EVITE DIZER "OS POLÍTICOS". Seja específico ao falar de política. Não há saúde democrática sem política. Não devemos demonizar nem os políticos nem a política. Diga o nome do político, do partido, fale da sua prática, mas evite as generalizações. Existem políticos engajados com o bem da população! 10. CONECTE A SERENIDADE COM A PAIXÃO. Os populistas farão tudo para você perder a sua calma, e a sua razão. Regras baseadas no livro de Jürgen Wiedicke, Zehn Regeln für Demokratie-Retter (Dez Regras para Regatadores da Democracia). KiWi Paperback, 2014.

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Ficha Técnica Editor e redator chefe: Ermeson Vieira Co-redator chefe: Edimilson Medeiros Publicidade: Ermeson Vieira Edmilson Medeiros revista.acentuados@gmail.com Tel.: +32 (0)488 02 19 89 (Whatsapp) Lista de Preços: www.revistaacentuados.com/an Redação: Ermeson Vieira, Beatriz Noronha, Ingrid B. Pavezi, Martha Jares, Edmilson Medeiros, Fátima Daia Miller-Bosch, Jean-Paul Colemonts. Layout: Ermeson Vieira

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