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ISSN 16776968

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“O melhor do Brasil é o brasileiro” provém de obra de Câmara Cascudo.

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www.eletrobras.com

Para fazer um país crescer, energia é fundamental. E quando o assunto é energia, o Brasil vai muito bem, obrigado. São 261 mil megawatts de potencial hidrelétrico distribuídos em um país de dimensões continentais. Grande parte dessa energia é gerada pelo Grupo Eletrobrás, que há mais de 40 anos mudou o panorama energético do País. Com o Programa Luz Para Todos, o Programa Nacional de Conservação de Energia e o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia, o Grupo Eletrobrás mostra que, mais do que um grupo formado por empresas geradoras de energia, é um grupo que faz o Brasil crescer. Cada vez mais.


Festa religiosa, com seu lado pagão, o Círio de Nossa Senhora de Nazaré é um dos acontecimentos mais espetaculares da cultura paraense. O Círio, como os paraenses preferimos chamar, simpl esmente, é uma festa que causa admir ação em todo o Brasil... Paulo Rocha

Um dos espetácu los mais pungentes, na romaria do Círio de Nazaré, é o do sacrifício dos romeiros na Corda. Chega a ser dramaticamente emocionante para o peregrino... Sérgio Pandolfo

Dia 08 de outubro, a sexta-feira que antecede o Círio, será sua oportunidade de fazer parte de um espetáculo que é ao mesmo tempo cênico, musical e dançante, com pitadas de cultura popular e de palhaçadas com trovas...

Revista

A fotografia, que registra fatos importantes, momentos especiais da vida das pessoas foi produto da contribuição suce ssiva de técn icos que se dedi cara m ao seu aperfeiçoamento porém a invenção é atribuída ao cenógrafo francês da ópera de Paris Daguèrre... Elias Gorayeb

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Editora Círios S/C Ltda CNPJ: 03.890.275/0001-36 Inscrição (Estadual): 15.220.848-8 Rua Timbiras, 1572A - Batista Campos Fone: (91) 3083-0973 Fax: (91) 223-0799 ISSN: 1677-6968 CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil www.paramais.com.br revista@paramais.com.br

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PUBLICAÇÃO

+CULTURA +INFORMAÇÃO +ENTRETENIMENTO +ARTE +TURISMO +SAÚDE +CIDADANIA +LAZER +ESPORTE +ECOLOGIA DIRETOR e PRODUTOR: Rodrigo Hühn; EDITOR: Ronaldo Gilberto Hühn; COMERCIAL: Alberto Rocha, Augusto Ribeiro, João Modesto Vianna, Rodrigo Silva, Rodrigo Hühn; DISTRIBUIÇÃO: Dirigida, Bancas de Revista; REDAÇÃO: Celso Freire, Ronaldo G. Hühn; REVISÃO: Paulo Coimbra da Silva; COLABORADORES: Acyr Castro, Camillo Martins Vianna, Dulce Rosa de Bacelar Rocque, Elias Gorayeb, Hélio Rodrigues Titan, Luana de Oliveira, Paulo Rocha, Sérgio Martins Pandolfo; FOTOGRAFIAS: Arquivo Borges Publicidade, Arquivo Dulce Rocque, Arquivo Nazaré Pereira, Imagens de Círios, João Vianna, Manoel Pantoja, Mario Ventimiglia; DESKTOPING: Mequias Pinheiro; EDITORAÇÃO GRÁFICA: Editora Círios

*Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores


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A CORDA, PRO CÍRIO, O *Sérgio Martins PANDOLFO

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m dos espetáculos mais pungentes, na romaria do Círio de Nazaré, é o do sacrifício dos romeiros na Corda. Chega a ser dramaticamente emocionante para o peregrino que o presencia pela prima vez e mesmo para muitos que, veteranos, têm sensibilidade exalçada. A procissão do Círio, em si, já é uma lídima explosão de fé, que suscita sentimentos díspares de empolgação e de espanto por parte dos que a testemunham ou dela ativamente participam, e é, sem qualquer vislumbre de exagero ou “patriotada”, a maior procissão religiosa do mundo. O movimento da massa humana, em uníssono caminhando, contrita, em uma só direção, com raros e conflituosos filões de gente em contrafluxo, mais poderia ser regionalmente configurada como uma “pororoca humana”. Certa feita recepcionamos aqui um grande e famoso cirurgião do Rio de Janeiro, acostumado, assim, a emoções fortes, que, ao assistir como espectador estreante tal demonstração inequívoca de fé, chorou copiosa e convulsivamente, ao nosso lado, sem se poder conter, dizendo, em boa voz, nunca ter vivido sensação parecida, a ponto de abalá-lo emocionalmente. O Círio era a princípio vespertino (algumas vezes até

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noturno). Passou a ter curso matutino em razão da nossa conhecida e até folclórica “chuva da tarde” que se abate sobre Belém e produzia alagamentos nas ruas que naqueles recuados tempos compunham o trajeto do préstito. O primeiro Círio, rememore-se, saiu em 1793, a 8 de setembro. Diz-nos o historiador Ernesto Cruz que, em 1868, forte aguaceiro, associado ao transbordamento da Baía de Guajará, provocaram imenso atoleiro na região do Ver-o-Peso, então uma doca inexpressiva e nua ( sem pavimentação), provocando o atolamento do carro, puxado a boi, que conduzia a Berlinda com a imagem da venerada Santa. Após inúmeras tentativas, os diretores do evento tiveram a idéia de passar uma grande e grossa corda em volta da carroça, pedindo aos fiéis que a puxassem, o que foi cumprido com êxito, fazendo avançar o coche até o Largo das Mercês. O gesto repetiu-se nos anos subsecutivos e subsiste até nossos dias como a mais forte tradição do Círio. Várias tentativas foram feitas, ao longo dos tempos, pelos organizadores do cortejo, para abolir a Corda que, em seus entendimentos, causa mais atropelos e conturbação que ajuda, saneados os caminhos a percorrer. Só que o povo, verdadeiro compositor e ator principal do espetáculo, nunca aceitou isso, e todas as investidas nessa direção foram taxativa e até violentamente rechaçadas pelos fiéis e romeiros. Ao revés, a Corda fica, a cada ano, com maior extensão e resistência, tendo que ser confeccionada em cordoarias de alta tecnologia e sob especificações especiais, que são, precedendo sua utilização, checadas por peritos do Corpo de Bombeiros. Esse “santo cordão” é disputado, milímetro a milímetro, pelas mãos calejadas dos romeiros que, nem por isso, muitas vezes as têm, ao término do séquito, escalavradas (às vezes sangrantes), o que, e paradoxalmente, apesar da dor que certamente lhe causa, proporciona-lhes enorme satisfação interior pelo “sacrifício”, que purga os pecados ou traduz o

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U ACORDA PRO CÍRIO “pagamento” que fazem por alguma graça alcançada ou por qualquer outra nobre causa. Para conseguir um lugar na Corda os promesseiros têm que madrugar para chegar bem cedo, do contrário lá não terão vez. É tradição, também, quase imposição, que os “cordeiros” se apresentem e permaneçam descalços durante o percurso, o que já faz por indicar sofrimento correspondente para os pés. Por assaz expressiva cabe aqui reproduzir, do poema “O Sentimento do Círio”, que compusemos sobre o tema , a estrofe seguinte: O Círio é penitência na Corda, o Círio é devoção na Berlinda; nas mãos que esfoladas da horda, puxam o nicho da Mãe, tão linda! “O Círio de Nazaré não é , para o paraense de nascimento ou de adoção, apenas uma procissão religiosa (....). É o dia máximo, o dia em que se esquece de todos os problemas e vai à rua saudar a Berlinda que passa; é o dia em que se esquece as rixas, as intrigas, e até perdoa

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os inimigos. È o dia da confraternização paraense. È o Natal do Pará”, a redizer o historiógrafo parauara Carlos Gomes. *Médico e Escritor (SOBRAMES)

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A Festa que un F

esta religiosa, com seu lado pagão, o Círio de Nossa Senhora de Nazaré é um dos acontecimentos mais espetaculares da cultura paraense. O Círio, como os paraenses preferimos chamar, simplesmente, é uma festa que causa admiração em todo o Brasil e até no mundo, não só por sua grandiosidade este ano espera-se mais de 3 milhões de devotos mas por sua originalidade e diversidade cultural. No Círio temos uma síntese da cultura paraense em todos os sentidos: religiosa, popular, erudita, culinária e de todas as linguagens artísticas. É no Círio que ganha destaque a cultura popular dos ribeirinhos que insiste e resiste ao avanço tecnológico e industrial com sua criatividade ímpar. Quem nunca comprou para o filho um brinquedo de miriti? Um reco-reco? Um barquinho? Um corrupio? Um teco-teco? E uma infinidade de brinquedos feitos com materiais simples da natureza ou reciclados como os brinquedos de lata. Não deve ser muito comum em outros lugares, mas aqui é possível se ver “convivendo” em harmonia os mais modernos brinquedos eletrônicos ao lado dos simples brinquedos artesanais feitos por nossos caboclos. Alta tecnologia e miriti. Alta memória e precisão ao lado de pura imaginação. E o que dizer de nossa exótica culinária que ganha exuberância durante a festa? Afinal, saborear uma maniçoba no Círio não é a mesma coisa que durante os outros dias do ano. O pato no tucupi então nem se fala, é quase uma obrigação. Círio sem pato no

tucupi ou maniçoba não tem graça nenhuma. Através da cozinha se mesclam a cultura religiosa católica européia e as culturas indígena e negra. A mandioca, base dos pratos típicos que herdamos dos índios, é o ingrediente principal desse festival de gastronomia que acontece durante o Círio. Além dos já citados pato no tucupi e maniçoba, cujos ingredientes principais são o tucupi (extraído da mandioca) e a maniva, que é a folha da mandioca, a base da maniçoba temos ainda as tapioquinhas, bolo de macaxeira, pudim de macaxeira, além do açaí com farinha de tapioca que é feita de mandioca. Dos negros herdamos outros ingredientes da maniçoba, os mesmos da feijoada (bucho de boi, charque, chouriço, etc.) que nasceu nas senzalas coloniais, numa mistura de culturas admirável e deliciosa. O Auto do Círio já virou uma tradição da manifestação teatral que acontece durante a festa, mas os espetáculos se multiplicam em apresentação musicais com programas para agradar gregos e troianos, clássicos e populares, além das danças típicas como o

HOMENAGEM:

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e os paraenses *Paulo Rocha

carimbo e o siriá. Mas entre todas as manifestações culturais que acontecem durante a festa é a procissão, o próprio Círio, a e s t r e l a m a i o r. A manifestação religiosa maior dos paraenses que se unem numa demonstração colossal de fé e irmandade. Unindo ao mesmo tempo todas as linguagens e manifestações culturais, a procissão é uma mostra simultânea de toda a nossa cultura sintetizada em símbolos como o promesseiro com a pedra na cabeça, a corda da berlinda, a berlinda, o manto, a imagem encontrada pelo caboclo Plácido num local próximo onde hoje se ergue imponente a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré que surgiu de uma simples ermida. Na trasladação, no sábado, os devotos realizam um Círio noturno, de proporção menor mas com o mesmo fervor e diversidade, da manifestação de fé que

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explodirá no domingo de manhã quando a multidão toma conta do centro da cidade numa caminhada que se estende por seis quilômetros, da catedral até à basílica. Um curto trajeto que se alonga por quatro, seis e até mais horas e que, para os que vão na corda ou que fazem o trajeto de joelhos, é um suplício quase interminável. E assim renovamos a cada ano os nossos laços culturais, familiares e religiosos. E não importam credos e tendências culturais. Não importam as diferenças ideológicas e políticas. Não importa nem mesmo os que simplesmente não professam fé nenhuma. O Círio une todos nós, nesse grandioso momento de emoção e calor humano que é impossível ignorar. O Círio é a festa que une todos os paraenses. Feliz Círio a todos. *Deputado Federal

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Elias Gorayeb

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fotografia, que registra fatos importantes, momentos especiais da vida das pessoas foi produto da contribuição sucessiva de técnicos que se dedicaram ao seu aperfeiçoamento porém a invenção é atribuída ao cenógrafo francês da ópera de Paris Daguèrre, pelos idos de 1840. O processo inventado por Daguèrre tinha evidentemente muitas falhas que com o tempo foram sanadas até se chegar a perfeição atual. Em 1896 os irmãos Lumière que também tiveram participação no invento da fotografia, introduziram a inovação da fotografia em cores. Este pequeno histórico serve de preâmbulo para informar aos que lidam profissional ou amadorísticamente com esta manifestação de arte que a Editora “Círios” promoverá este ano a 3ª edição do concurso intitulado “Imagens de Círios”. Por certo, a manifestação religiosa Marcelo Ribeiro Moraes recebendo do Círio de Nazaré, os o prêmio de Vitória Liebold, gerente aspectos culturais que da VASP e Ronaldo e Rodrigo Hühn da Editora Círios envolvem a referida

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festa e até as demonstrações profanas ligadas à quadra nazarena, se constituem em manancial extraordinário para quem deseja perpetuar estas imagens através da arte fotográfica. Além de produzirem um acervo importante, os amantes da fotografia ainda poderão abiscoitar valiosos prêmios inscrevendo sua foto mais original no concurso “Imagens de Círios”. Nas duas edições anteriores muitos fotógrafos foram classificados e além da premiação tiveram sua obra publicada nas revistas Pará + e Círios, esta a que mais entende de Círios no Brasil e no exterior. O julgamento das fotografias classificadas se reveste de um rigor fora do comum quando um júri de 6 pessoas idôneas se reúne e criteriosamente analisa todos os aspectos da fotografia por reiteradas vezes até se chegar aquela que obteve a maior pontuação. Esta 3ª edição do concurso “Imagens de Círios” certamente se constituirá em memorável sucesso de vez que nas edições anteriores o número de participantes foi apreciável e até profissionais de outros municípios,estados e de Portugal, tiveram seus trabalhos classificados. Não será surpresa pois se na edição 2004 de “Imagens de Círios” tivermos número recorde de inscritos. Conclamamos pois os fotógrafos amadores e profissionais a não perder tempo e fazer logo sua inscrição que em caso de classificação terão oportunidade de faturar valiosos prêmios e ter sua obra incluída no acervo da exposição “Imagens de Círios.” O regulamento do concurso e locais de inscrição são divulgados nos periódicos de maior circulação do estado.

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Resultado do Concurso Imagens de Círios 2004 A Editora Círios S/C Ltda , Carolina e Rosa com a realizadora do Concurso premiação da VIVO ao lado de Guilherme Fotográfico” IMAGENS Pimentel e Lílian Salgado DE CÍRIOS”, convidou para participarem do júri para seleção e escolha das melhores inscritas os Dr.Ubirajara Salgado e Dr Paulo Araújo (ex-coordenadores das festividades do Círio de Nazaré), Dr.Elias Gorayeb (ex-diretor do Círio), Dr.Ivan Brasil (expert em assuntos gráficos) e o Dr.Adenirson Laje(colunista social), que após analizarem as 310 fotos enquadradas no Regulamento do Concurso, resolveram selecionar 33 uma passagem aérea, ida e volta, com acompanhante, fotos e destas, as Premiadas: para qualquer lugar do Brasil, oferta daVASP. 1ºLugar MARCELO RIBEIRO MORAES Caroline C.Oliveira e Rosa K.Furukawa receberam 2ºLugar CAROLINE CARVALHO OLIVEIRA e celulares da VIVO. Concorreram fotos do Pará , Bahia, São Paulo, Rio de 3ºLugar - ROSA KAMADA FURUKAWA. Janeiro e Portugal. O vencedor Marcelo R.Moraes recebeu como prêmio

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Classificados 2003

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Caroline Carvalho Oliveira

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Marcelo Ribeiro Moraes

Rosa Kamada Furukawa

Adler Guedes Farias

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ia 08 de outubro, a sexta-feira que antecede o Círio, será sua oportunidade de fazer parte de um espetáculo que é ao mesmo tempo cênico, musical e dançante, com pitadas de cultura popular e de palhaçadas com trovas. Tudo isso entre atores consagrados e amadores, entre o povo que veio prestigiar o Círio, e entre um característico clima de interação e harmonia que define o já tradicional Auto do Círio em sua 12ª edição. Um projeto da Universidade Federal do Pará que além de ser um grande laboratório para os alunos de artes, ultrapassa as fronteiras do campus Guamá e dá à sociedade um show de integração a r t í s t i c a embasada em um a filosofia própria que é mostrar ao povo, de toda e qualquer idade que recebem o emblema de artistas de ocasião, o Círio sob este olhar poético e crítico.

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Rosa kamada Furukawa

Boanerges Nunes Lobato Rosa kamada Furukawa

Manoel Francisco da Silva Adler Guedes Farias Marcio Santos Maria Souza da Costa

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Simone Silene Dias Seabra

Marcelo Ribeiro Moraes Marcio Santos

Marcelo Ribeiro Moraes Inácio Beirão

Simone Silene Dias Seabra

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Rosa Kamada Furukawa

Ednaldo da S. Mendonça

Simone Silene Seabra

Hélio de Sousa Santos

Priscila Viana Vasconcelos

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Joanaldo de Jesus Lima

José Afonso C. Dos Santos

Marcio Santos

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Das Dolomitas à Amazônia Entrevista com os escultores da “nossa” santinha (A Peregrina) Dulce Rosa De Bacelar Rocque

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Sul-Tirol, a mais de 2.000m de altura, procurando o atelier da familia Mussner, escultores responsaveis da reprodução da nossa imagem da Virgem de Nazaré. Depois de apreciar tanta beleza, chegamos a Ortisei e foi facil individuar na Via Tavella n° 37 o atelier da familia Mussner. Nesta região se fala, principalmente alemão e as placas das ruas são nas duas linguas: italiano e alemão. Gregor Mussner, filho de Giacomo Vincenzo e neto di Vincenzo Mussner - os autores da “nossa” santinha -, nos acolheu com simpatia e nos falou do seu trabalho, daquela tradição que teve inicio com seus avos e bisavos, também escultores de arte sacra.

izem que no sexto dia da Criação, Deus fez aparecer, no coração das Dolomitas, o Grupo de Sella. Se trata de um imponente “castelo” de rocha quase quadrado, que se levanta majestosamente sôbre quatro vales: Fassa, Gardena, Badia e Livinallongo. Estamos falando de uma parte das montanhas que formam os Alpes italianos, ja quase na Austria. Mussner Vincenzo O espetaculo que a natureza nos proporciona é de uma grandiosidade violenta. Uma parede (2.950m), que parece um grande quadro-negroamarelo, ao entardecer vira brasa, se tinge de vermelho e assume tonalidades impossiveis de descrever. Estamos atravessando o Passo Pordoi que é a entrada daquele “castelo da natureza”. Naquele grande terraço se pode apreciar a ousada arquitetura formada pelas montanhas ao redor, que mudam de cor de hora em hora, criando jogos de luz e sombra sem igual. O panorama é completamente diferente daquele que nós, na Amazônia, estamos acostumados a ver. Nos encontramos no norte da Italia, região conhecida como

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A Familia Mussner Os Mussner são uma familia de escultores que ha quatro gerações, Mussner Gregor passam de pai para filho esta arte. Tudo começou no século XIX com G i a c o m o Mussner, eximio escultor que transmitiu ao filho Vincenzo o amor pela escultura. Depois, o neto G i a c o m o Vincenzo passou

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ao bisneto Gregor seus conhecimentos. Belém teve a possibilidade de apreciar o trabalho de tres dessas gerações. O vovo Vincenzo e seu filho Vincenzo Giacomo são os autores da “nossa” santinha usada nas procissões do mês de outubro e o bisneto Gregor daquela escultura que hoje se encontra em Israel e que foi usada d u r a n t e a Peregrinação Mariana. A ligação de Belém com essa Madonna de Nazareth familia começa portanto com a segunda geração, com Vincenzo Mussner, morto em 2002 com a veneranda idade de 99 anos, 70 dos quais foram dedicados à escultura. De fato suas obras se encontram em muitas igrejas de todo o mundo. Em 1965 ele recebeu do Padre Miguel Giambelli, na ocasião Vigário da basílica de Nazaré (hoje já bispo e aposentado em Bragança) o pedido de uma copia da imagem de N. Sra. de Nazaré. A escultura foi entregue em 1968 e usada pela primeira vez no Cirio de 1969. O filho, Vincenzo Giacomo co-autor da “nossa santinha” - nascido em 1935, iniciou a aprendizagem de escultor no atellier do pai, usando principal-mente madeira e bronze. Contemporaneamente frequentou o Instituto de Arte de Ortisei e fez cursos de aperfeiçoamento até 1962. Participou a várias mostras e exposições na Italia e no exterior obtendo inclusive diversos premios. Em 1971, substituiu o pai na direção do atellier. O neto Gregor não foi inferior as expectativas. Nascido em 1968 seguiu a estrada ja percorrida pelo pai e aproveitou para se aperfeiçoar, durante dois anos, no laboratorio de Peter Kostner, aonde formou progressivamente a propria personalidade expressiva

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na escultura. E' o autor, entre tantas outras, da escultura da Madonna de Nazaré que partecipou da Peregrinação do Jubileu do ano 2000. Ambos aperfeiçoaram as proprias capacidades através de varias viagens de estudo e visitas aos mais importantes museus e as maiores obras de arte em varias cidades do mundo.

Bate-papo com os Artistas A nossa chegada a Ortisei, um lugar tão longe de Belém, emocionou os artistas. Depois, saber a emoção que provoca nos paraenses a escultura produzidas por eles, foi motivo de enorme prazer. - O atelier Mussner produz somente obras relativas a A imagem peregrina Arte Sacra? Dirigimos um atelier que trabalha, principalmente, com a Arte Sacra para igrejas, conventos ou para fieis em geral. Nos dedicamos a criação de estatuas de Santos e Santas, crucifixos, grupos como a Sagrada Familia, etc. adequados ao culto ou a procissões. Com muito prazer fazemos também trabalhos de grandes dimensões para catedrais ou para igrejas modernas. Outro tipo de trabalho o fazemos somente sob encomenda. - Voces tem um estilo particular? Uma caracteristica do nosso atelier é que podemos trabalhar qualquer estilo, do moderno ao tradicional, do gotico ao barroco. Isto nos ajuda a adaptar a obra ao estilo da igreja na qual será colocada. Mesmo se a atividade de escultores é tradição de familia ha varias gerações, o nosso atelier continua sendo pequeno, o que nos da possibilidade de ser muito profissionais e também de trabalhar com a maxima cura e dedicação. - Qual é a principal materia-prima usada na produção das esculturas? Os materiais que usamos são a madeira e o bronze. A

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objetos liturgicos. - Gregor, nos conte algo sôbre a “sua“ Madonna de Nazareth. Iniciei no outono de 1997 e acabei na primavera de 1998 a escultura da Madonna de Nazarè para a Peregrinação Mariana. Ela me foi comissionada pelo Padre Giovanni Maria Leonardi e tive o prazer de envia-la diretamente a Israel, sua terra de origem, onde se encontra agora na gruta de Nazareth. A estatua è alta 155cm. mais a base e foi esculpida totalmente a mão em madeira de tilia. Foi colorida com cores a oleos João Paulo II coroando “Maria de Nazareth” leves. Esta “nossa” obra madeira, material nobre, da ao artista muitas visitou varias nações em todos os continentes do possibilidades de interpretação e modos de mundo até o ano santo de 2000. representação. Deve ser bem seca e escolhida com a - O que rapresenta a posição da Madonna maxima cura. As melhores madeiras são o “tiglio” e o naquela escultura? “cirmolo”. Rapresenta a jovem Maria, gravida de poucos meses O bronze, material de grande apreço e classe, dà ao (nem se nota quase), que desce os degraus de uma artista enormes possibilidades interpretativas. Pode-se escada para encontrar os fieis que estão na sua frente. modelar a argila que depois serà fundida em bronze, O olhar é dirigido ao infinito e ao mesmo tempo aos podendo-se obter formas incriveis. fies. A sua mão esquerda indica o coração e com a mão - Qual é a sensação que voces provam durante a direita acena um convite a quem lhe està defronte. Foi criação de obras tão bonitas? benzida pelo Santo Padre Giovanni Paolo II no dia 15 Criar uma escultura não comporta somente uma fadiga de abril de 1998 na Praça San Pietro em Roma. A partir fisica, mas mental também. O ambiente no qual se daquele momento começou a peregrinação mundial trabalha tem que ser muito tranquilo para permitir a que a levou a 35 nações diferentes. maxima concentração. Naturalmente um artista Confrontando as duas imagens da N. Sra. De Nazaré transmete as suas emoções pessoais à obra que està produzidas pelo atelier Mussner, podemos notar a criando e desse modo transfere os seus sentimentos ao diferença dos traços fisionomicos. Como eles dizem objeto. Antes de tudo, porém, é importante que o artista que seguem as indicações do cliente, se vê que Padre tenha conhecimentos profissionais artisticos para que a Giambelli pediu que a “Nossa” Senhora de Nazaré obra seja bem sucedida, saia como se deve. parecesse um pouco com o nosso povo. - Onde encontrar as obras produzidas por vocês? As nossas obras podem ser encontradas em igrejas do mundo inteiro inclusive em lugares impossiveis de imaginar. Como ja disse, trabalhamos principalmente com Arte Sacra, porém, dado que cada igreja tem sua propria caracteristica, tentamos trabalhar quase exclusivamente sob a orientação de nossos clientes. Adaptamos a obra ao estilo do lugar onde serà exposta. Seguindo essa concepção fazemos também altares, tabernaculos, facistol, ambom e outros objetos liturgicos. Edição 30

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Nazaré recebendo o diploma no Dia do Carimbó

Nazaré e Mestre Verequete


Paraense Pai D’’égua Nazaré Pereira

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palavra mais falada pela cantora Nazaré Pereira é saudade. Vivendo n a Fr a n ç a, a ac r ean a de nascimento e paraense de coração está em Belém "matando" as saudades e colocando em prática novos projetos. Voltou a capital paraense em agosto para receber uma homenagem no Dia Municipal do Carimbó. Mas não é só. Vai aproveitar a oportunidade para gravar o seu 18° CD - homenagear Belém, participar do aniversário da mãe, dona Maria que completou 85 anos, e ver de perto o Círio de Nazaré.

Paris Studio

Nazaré na praia do Outeiro


Recebendo Comenda Caldeira Castelo Branco em 2002

Após a maior festa religiosa do Pará, ela volta para o território francês. Lá, Nazaré pretende colocar em prática, em 2005, o projeto de criar um Ano brasileiro na França. "Toda a programação vai rodar sobre os assuntos brasileiros, principalmente as lendas, Saci Pererê, Boto e Yar a", revela a cantor a. Mas a estada na França parece que está chegando ao fim. Nazaré tem outros planos: "Pretendo voltar para o

Brasil. Ficar mais velha aqui. Porque lá, eles não dão muita importância para as pessoas idosas como aqui no Brasil. Aqui todo mundo é muito família", destaca Nazaré Pereira, que nasceu no dia 10 de dezembro, em Xapuri, no Acre. Nazaré cresceu naquela Amazônia selvagem. Aos 7 anos, começou a viagem que a conduziria mais tarde até a Europa. Veio morar no distrito de Icoaraci, em Belém. Durante esse período, Nazaré descobriu seu talento artístico que a deixaria famosa. Mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a freqüentar o Conservatório Nacional de Teatro, UNIRIO. Nazaré se formou após 4 anos como atriz, e depois mais 3 anos como diretora de teatro. Em 1969 participou com sucesso do concurso teatral da rede de televisão Tupi e ganhou uma viagem para a tanto desejada Europa, pátria da cultura. De Portugal foi para o festival de Nancy na França. Ao se exibir na primeira parte do espetáculo de Jorge Ben no Palais des Esporte , Nazaré começou a sentir o primeiro com


sabor do sucesso. Fundou seu próprio grupo "Sambahia" com Celinho Barros e Alain Delpuech, com os quais fez inúmeros shows na França e em outros paises. Nazaré Pereira levou o ritmo amazônico e venceu. Poucos conseguiram essa façanha fora do país. Ela diz que a "batalha é muito grande por um espaço". "Eu dei sorte. Cheguei num período onde as músicas brasileiras estavam no auge. Mas a música amazônica não. Eles não conheciam muito. Fui uma das pioneiras", afirma a cantora. As letras de suas canções falam da terra de origem, descrevendo a floresta, a vida

Se apresentando em um programa de Televisão/Rádio na Suiça

e as lendas do Xapuri do Amazonas, a sua aldeia; o Boi do Amazonas, a figura mitológica dos povos Indígenas; das Ilhas do Marajó e as ilhas da foz do rio Amazonas. Nazaré conta que atualmente os estrangeiros gostam das músicas do norte/nordeste. "O samba é muito difícil para o francês assimilar", atesta a brasileira, que canta também músicas de autor es consa gr ados do Nordeste do Brasil, como Luiz Gonzaga e João do Vale. Para "matar" as saudades da terra Natal, visita os amigos, que trocam e repartem os alimentos nacionais. "Tem de tudo na França... até feijão preto...", finaliza Nazaré Pereira.


Círio de Nazaré - Origem dos fogos Eventos*Hélio daRodrigues festa Titan

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10 minutos com Círio de Nazaré tem uma característica apresentação peculiar essencial que é chamada “solta de Círio de inclusive de cantos Ananindeua fogos” que explodem no céu em todos os líricos. Geralmente Círios dos paraenses. Na realidade eles representam alegria, fé, festejos e homenagens luminosas à nossa Virgem de Nazaré. A origem dos fogos se perdem nas noites dos tempos, pois a história da pirotecnia em todos os festejos religiosos ou profanos são de data muito é deste local que o antigas. Sabe-se sem data precisa que esta A r c e b i s p o técnica foi elaborada por um alquimista chinês há Metropolitano começa a mais de 2000 anos, quando ele misturou salitre acompanhar o Círio; 4. Círio de Bragança (nitrato de potássio), enxofre e carvão Banco da Amazônia descobrindo com isso a pólvora. (BASA) realiza a homenagem Foi o início da evolução dos “fogos de desde 1994 quando na ocasião oferece artifícios”. Os primeiros fogos eram doações a instituições de caridade; 5. colocados em caules de bambus que ao se Colégio Nazaré homenageia a Virgem com aquecerem, chiavam, subindo para o ar seus estudantes apresentando canções explodindo em cores variadas. religiosas na passagem da santa há mais de A construção de fogos de artifício foi 10 anos. desenvolvida na Arábia, na Índia e daí Círio de espalhando-se para todo o mundo quando Breves começaram a serem usados nos festejos importantes. Círio de Bragança realizado no Círio de Macapazinho segundo Domingo de novembro, Acreditamos, segundo relatos, que os fogos de artifício já eram usados nos isto há mais de 100 anos, existindo primeiros Círios de Nossa Senhora de também nesta homenagem à Nazaré. belíssima romaria fluvial Portanto, amigos leitores, o uso dos fogos é onde na manhã de homenagem antiga à nossa padroeira. Muito se Domingo recebe as Círio de tem falado da festa máxima dos paraenses, suas homenagens do povo Mosqueiro características, sua berlinda, sua trajetória, sua bragantino; Círio de culinária, seus festejos profanos, enfim em todos os Santarém um dos eventos que globalizam a festa máxima do povo maiores do estado, no paraense, o “Natal” paraense como é conhecido. segundo domingo de Citemos porém alguns acontecimentos que fazem parte do contexto da nossa festa Nazarena: 1. Círio de Muaná Homenagens dos estivadores cujo sindicato realiza dezembro; há 54 anos aproximadamente com o estourar Círio de pirotécnico de milhares de pistolas de artifício por Mosqueiro, ocasião de sua passagem defronte de sua sede; 2. com mais de 110 Caixa Econômica Federal, por ocasião da anos, no segundo trasladação (sábado à noite). Patrocinado pelos seus domingo de dezembro; funcionários no lançamento de grande quantidade de Círio de Ananindeua no segundo domingo de agosto; papéis picados coloridos; 3. Banco do Brasil na Círio de Macapazinho localizada a 9Km do Município Presidente Vargas sua sede central. Durando cerca de de Castanhal homenagem realizada há mais de 70 anos

Outros Círios

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acontece desde 1931; Círio de Boa Vista inclusive com devoção de grupos de Índios; Círio de São Luiz (MA) desde 1991 segundo Domingo de outubro; Círio de Fortaleza terceiro Domingo de outubro. Podemos citar também os Círio de Viseu Círios de São Paulo (SP): Sumaré, Jardim Arpoador, Círio de Santos, Círio de Círio de Vigia Nazaré Paulista, Círios do Rio de Janeiro (Saquarema, Niteroi, Tijuca e Copacabana), Círio de Brasília, Círio de Portugal, Círio da Prata Grande: A Círio de Soure devoção à Nossa Senhora de Nazaré, em Portugal há mais de 800 anos. Sua origem está ligada a um homem simples chamado João Manoel, morador de Penedo Círio de de Arrifana. Esse homem ao Círio de Santarém São Miguel ver sua mulher doente viajou em do Guamá um burrinho até Nazaré para implorar a cura de sua companheira. Tendo seu pedido atendido organizou a primeira procissão em homenagem a Santa acompanhado por vizinhos e amigos transformando-se com o tempo em uma grande Romaria sempre no primeiro Domingo de agosto; Círio de São (Esta é uma das versões). Miguel do Guamá existente há mais de meio século; Não resta duvida, prezados leitores, que após este artigo Círio de Muaná no terceiro domingo de outubro temos uma prova cabal que o Círio de Nazaré é maior desde 1946; Círio de Soure acontece desde 1895 no manifestação religiosa e globalizada do Mundo. segundo domingo de novembro; Círio de Viseu no quarto domingo de novembro; Círio de Breves no segundo domingo de novembro; Círio da Vigia é o mais antigo do Estado sempre no segundo Domingo do mês de setembro, datando de 1697; Círio de Manaus segundo Domingo de outubro; Círio de Macapá existe desde 1934 também no segundo Domingo de outubro; Círio de Porto Velho (RO)

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Viva Nossa Senhora de Nazaré! Viva o Pará! Viva Belém! Viva os paraenses!

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*Médico e Escritor

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O Círio na Itália A

pós o 2º Festival Brasileiro em Bolonha na Itália, realizado com sucesso espetacular pela Associação Cultural M.A.M.B.O, e a publicação do evento em nossa Pará+, nosso editor lançou um desafio à nossa conterrânea e colaboradora, Dulce Rosa Rocque para a realização do 1º Círio Italiano, ela é uma das realizadoras do Festival, filha de Felix Rocque, portanto irmã do também saudoso Carlos Rocque, ambos figuras notáveis, notadamente quando se fala em Círio de Nazaré. Dulce logo topou, e após alguns acertos com o Pe. Stefano Ottani, pároco da Igreja de SS.Bartolomeu e Caetano e a ajuda do Pe. Alberto Gritti, que viveu 25 anos no município de Santa Luzia, aqui no Pará, tudo ficou acertado. Faltava a Santinha. Nosso diretor/editor Ronaldo Hühn fez a doação em

nome de sua família. Nada mais faltava! Assim é que neste 2º domingo de outubro, às 10,15 hs, realiza-se o 1º Círio Italiano, saindo da Igreja de S. Donato- o pároco é o Pe. Alberto Gritti, para a Igreja de SS.Bartolomeu e Gaetano. Na chegada, nossa conterrânea, a paraense Pai D'Égua - Ivetthy Souza (leia a Pará+ de setembro) interpretará o Hino Oficial : Vós Sois o Lírio Mimoso. Após a celebração da Santa Missa cantada em português por Nelson Machado com o Brasil Class. Ao final, na Sala Teatini, a Mostra das aquarelas do pintor Carmelo Mancini e de seus alunos paraenses, a mesma realizada mês passado na Unama. Como ninguém é de ferro, e para arrematar, a gostosíssima feijoada da Rose.

A saída da Santa de Belém Os dizeres da placa

Nosso diretor, Ronaldo Hühn saudando o arcebispo

Dom Zico abençoando a imagem, Mancine, Hühn e Nassar

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Madona di Nazareth Patrona dell'Amazzonia. Intagliata del artiggiano Manoel Amaral Lopes da Curralinho, Isola Del Marajó, Pará-Brasile. Donata da Ronaldo Huhn e famiglia a la chiesa di San Bartolomeo per il primo Círio di Nazareth da Bologna. Questa imagine fu benedeta dal archivescovo di Belem, Dom Vicente Zico, nel 16/08/2004.

Carmelo Mancine, D. Carlo Verzeletti, Ronaldo Hühn e Flávio Nassar p a r a m a i s . c o m . b r

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A imagem de Nossa Senhora de Nazaré, representando bela morena parauara é autoria do artesão marajoara, de Curralinho, Manoel Amaral Lopes, talhada em madeira de lei amazônica em aproveitamento ecologicamente correto.

alguns momentos apareceu e me chamou, somente eu. Me levou por uns cubículos até uma sala e me mostrou onde a colocou, sem a coroa. E' um altar dourado, lindo, como veras nas fotos. ... E trancou a sala a chave, até o Círio, me disse. E desapareceu de novo felicíssimo. Precisavas ver como a olhava. E' impossível descrever. Foi emocio-nante para todos os presentes. Quanto as fotos. As fizemos, mas o computador do fotografo deu prego. Teve que mandar consertá-lo e até sábado não será possível te mandar nada. Disque D.Stefano vai escrever te agradecendo. Por enquanto o faço eu.

O ósculo na imagem antes de seguir viagem

A chegada da Santinha em Bolonha

Dulce Rocque

Caro Ronaldo, Acabei de chegar da Igreja. Recebi tudo o que mandastes, obrigada. Não tenho palavras para te exprimir a reação de D. Stefano. Adorou a santinha, abraçou-a e disse: è minha. D. Alberto que estava presente, começou a rir. D. Stefano estava fora de si de emoção. Correu para a naveta central da igreja, olhou para os lados e procurou um altar. Depois veio nos chamar, emociona-díssimo. Parecia uma criança quando ganha um presente inesperado, ao ponto de ficar com os olhos lúcidos. Foi mais emocionante ainda quando ele viu a chapinha atrás que falava da sua igreja, só faltou chorar. Tirou-a depois do altar, e a Edição 30 carregava com muito cuidado, olhando-a em continuação. Não conseguia falar.. E desapareceu. Depois de

Pe.Stefano procedendo a coroação e entronização da imagem de Nossa Senhora de Nazaré em seu altar.

Pe. Alberto Gritti (Viveu 25 anos em Santa Luzia-Pará) pároco da Igreja de S.Donato, de onde sairá o Círio; Pe.Stefano Ottani titular da Igreja de SS.Bartolomeu e Gaetano, onde a Santinha ficará entronizada; o pintor aquarelista Carmelo Mancine, portador da imagem e nossa conterrânea Dulce Rocque, a coordenadora geral do 1º Círio Italiano, todos embevecidos admiram emocionados a Rainha da Amazônia, Padroeira dos paraenses.

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de publicidade que dispusesse de todos os seus setores devidamente equipados para um atendimento profissional, eficiente, rápido e de custos acessíveis". José Borges Correia fundou a Borges Publicidade, inicialmente com o nome de Estúdio Técnico de Publicidade nos altos do Prédio onde funcionava as Lojas "Tecidos Lua". Em pouco tempo passou a chamar-se Borges Publicidade. As instalações foram para a rua João Diogo, em frente a Praça da Bandeira, onde permanece até hoje. De simples "bureau" de propaganda dependente do sul do País, foi construída uma empresa setorizada, com seus departamentos bem divididos, organizados, equipados, e no pioneirismo para a época foram montados um estúdio de gravação de spots e jingles, e o departamento de cinema para filmagens em geral e produção de desenho animado. Muitos profissionais que trabalharam na Borges Publicidade ao longo da sua história, hoje ocupam lugar de destaque nesse mercado da propaganda, ainda em expansão, Figura impar. como proprietários de O querido seu Borges agências, produtoras de deixa saudades vídeos, fotografias, gravações e outros.

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Borges Publicidade está entre as três agências mais antigas do Pará. A agência foi fundada em Belém em 28 de agosto de 1958, por José Borges Correia. Português, nascido em Lisboa, foi diretor da Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa, diretor do Grupo de Humoristas Portugueses, Diretor do Grupo ABC de desenho da França. Mas, não é só. José Borges também foi colaborador dos jornais "O Século", "Diário de Notícias", "República", "A Voz", "Novidades", "Século Iluminado" em Lisboa, Portugal. No Brasil, chegou em 1951 a convite da Editora Globo de Porto Alegre (Rio Grande do Sul), e foi Professor de publicidade do Instituto Técnico Oberg e da Escola Técnica Araújo Porto Alegre, e Diretor de Arte na Empresa de Publicidade Clarim, também em Porto Alegre. Enfim, foi Professor, Jornalista, Publicitário, Artista Plástico, Caricaturista, com sua biografia publicada na Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Borges chegou a Belém em 1958, cidade natal de sua esposa, para fundar a agência. Ele tinha um envolvimento profissional com a propaganda já há algum tempo, e sentiu a necessidade que o mercado local exigia na época: "uma agência


Equipe Borges

Em dois momentos, o saudoso Borges sendo homenageado pela sua extraordinária participação no Círio de Nazaré

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Como histórico de seu trabalho, a Borges tem campanhas que obtiveram um recall significativo para a época, como por exemplo, as desenvolvidas para o Supermercado São João, produzidas com o artista humorístico Chico Anísio, que interpretava a personagem "Salomé" falando com o Presidente da República, extraído de um quadro de humor de um programa da Rede Globo. Também foram criadas campanhas para as lojas Tecidos do Povo, Radiolux, e outras empresas expressivas no mercado local. Foram realizados trabalhos de cunho social com grandes resultados para o Emaús, criação de peças para o Círio de Nazaré, e a divulgação para o CDL (Clube de Diretores Logistas) de Belém do Shopping Center João Alfredo, lançado na década de 80 com a intenção de transformar o centro comercial em um grande Shopping Center aberto, contribuindo para a sua revitalização e desenvolvimento do comércio. As campanhas mais recentes que resultaram em recall extraordinário foram: a campanha "Homem Grávido"

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criada para o dia dos pais para as lojas Y. Yamada, a campanha de inauguração do Yamada Plaza com a atriz e apresentadora Adriana Galisteu, e a campanha de comemoração dos 50 anos do Grupo Y. Yamada, dentre outras. Essas duas últimas campanhas citadas geraram a premiação TOP de MARKETING concedida pela ADVB/Pa ao cliente. Para a Borges, ao longo dos anos o mercado da publicidade paraense vem crescendo e contribuindo para o desenvolvimento e o crescimento do comércio local, com excelentes resultados mesmo dentro do cenário nacional econômico complexo e de grandes adversidades. Atualmente, com a expansão do numero de empresas ligadas ao mercado publicitário, e com as mudanças políticas, sociais, econômicas e culturais em nosso país, a Borges percebe que esse segmento vem mudando, tendo que se adaptar ao cenário atual. O mercado de consumo se ampliou, se tornou mais competitivo, os consumidores tornaram-se mais exigentes, mas com a crise econômica dos últimos

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resolveram redirecionar as verbas publicitárias principalmente para terem resultados imediatos. Diante desse quadro, um dos maiores problemas hoje enfrentados pelo negócio da propaganda no mercado publicitário é a crise da ética nas relações comerciais entre anunciantes, veículos, agências e fornecedores gráficos e eletrônicos. Isso tudo passa hoje principalmente pela não consolidação da visão do nosso negócio da propaganda nesse mercado. O papel das agências de assumir, planejar e coordenar todas as ações internas e externas de comunicação do anunciante, na intenção de conquistar resultados positivos frente a seu público alvo e consumidor, otimizar ao máximo o seu investimento, trabalhar com criatividade para gerar valores ao seu negócio, contemplar o mercado e contribuir para o seu desenvolvimento, devem ser os fundamentos e a essência de uma agência de publicidade séria, comprometida, ética e verdadeiramente profissional, assim é o pensamento dos funcionários que fazem a Borges Publicidade.

anos, houve uma retração no mercado, e conseqüentemente, queda no nível de investimento das empresas, achatamento do poder aquisitivo da população, e redução das vendas. Os anunciantes mudaram, se tornaram mais exigentes, e muitos

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A FÉ E Ex-votos entre o Q

ue a fé move montanhas ou cura doentes considerados desacreditados até a ciência já sabe. Ela está no meio abstrato, no intocável, como se fosse uma forma de energia que rege nossos objetivos. Contudo, o catolicismo historicamente materializa sua devoção, seja através das réplicas dos santos, seja através das velas, que não só para a Igreja Católica, tem a missão de levar mensagens ao outro plano através de sua queima; ou,

seja ainda no agradecimento às graças alcançadas por meio dos ex-votos, produções de cera que simbolizam um pedido atendido, que parte da intenção de dar visibilidade ao desejo concretizado. A família Manoel Chaves, proprietária da Casa Círios já trabalha com cera desde 1890, mas só começou a fabricar os ex-votos a partir de um ocorrido dentro da família, quando um parente, na década de 30, sofreu de erisipela e recorreu a Virgem de Nazaré para

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CEMITÉRIO PARQUE

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CERA homem e a santa intervir em sua cura. Com a graça alcançada pediu para um dos funcionários produzir um pedaço de pé. Quando esta história começou a difundir-se entre a família ficou decidido que começariam a fabricar para os romeiros. A aceitação e procura pelas peças foi, e é, tão grande que a Casa tem de começar sua produção para o Círio em março, a final, segundo Pedro Chaves, administrador da Casa Círio, são ofertados 70 modelos de peças entre partes do corpo humano, animais de estimação, bens materiais que variam de barcas a celulares, qualquer coisa que possa despertar apego nas pessoas. A partir de setembro a produção

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é direcionada para os casos específicos, ou seja, casos que fogem aos padrões. Pedro diz que o mês de setembro e curto para tantos casos específicos. No total são cerca de 80 mil peças fabricadas. “No dia-a-dia, na venda dos produtos, chegam até nós as mais variadas histórias. Grande parte dos promesseiros costuma contar, mas há casos em que é melhor não tentar sondar e apenas anotar a encomenda, pois as pessoas ficam constrangidas e dizem que na verdade estão fazendo o pedido em nome de um vizinho que ficou com vergonha de vir. Esse tipo de situação acontece por exemplo quando o objeto em questão são os órgãos genitais”. Pedro não sabe explicar qual a graça alcançada. Outro exemplo de graça mas que não passa pela área da saúde é a encomenda que a Casa recebe de uma senhora vinda do interior do estado para solicitar uma réplica de um pé de maniva, pois sua família vive da agricultura e há alguns anos foi abatida por pragas que quase exterminaram a plantação. Sua devoção por nossa senhora conseguiu salvar seu meio de sobrevivência e ela vem a Belém todos os anos, antes do Círio, para trazer seu pé de maniva para ser reproduzido em cera. Caso de promessa à distância é o de uma paraense que mora na França e no seu período de gestação passou

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período de gestação passou por complicações, apegando-se então com a Virgem sobre a promessa de levar uma bonequinha de cera na procissão. A criança nasceu saudável e para cumprimento do acordo a sua avó vai todos os anos comprar a bonequinha e levar ao Círio. Será que o tratado foi esse? Tudo bem, Nazinha entende que a França é um pouco longe daqui. A santíssima mãe de Deus não é concessionária mas também facilita carros e apartamentos. Aliás a freguesia dos ex-votos para este tipo de objetos é fixa, a exemplo de um taxista que teve seu carro roubado e conseguiu comprar outro, indo solicitar sua réplica no modelo e cor do original; ou ainda o desejo ardoroso de uma senhora em adquirir seu apartamento e tendo a graça realizada tem de levar ao Círio todos os anos um edifício de cera. Como foi mostrado, a produção dos ex-votos é um trabalho artesanal, pois tem de atender a todas as necessidades, trabalhar com detalhes para que todos

possam pagar seus votos de promessa e estejam satisfeitos, trabalho somente não mais árduo do que o de Nazarezinha.

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Quem não tem passado, não terá futuro *Camillo Martins Vianna

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em dúvida nenhuma, a tradição popular é o maior e mais importante patrimônio que recebemos de nossos ancestrais. Incompreensivelmente, nos últimos anos, a nossa tradição vinha sendo relegada a coisa sem importância, praticamente deixada de lado, dando lugar a hábitos, usos e costumes de outros povos, chegando-se ao absurdo de haver proibição de manifestações culturais, condição essa que nós, humildemente, aceitavamos sem ao menos ensaiar um discreto protesto. Verdadeiro crime vinha sendo

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cometido e ninguém tinha coragem de impedir. Por ser fato consumado, não adianta ficar lamentando o que aconteceu, o importante é rejeitar esse estado de coisas e lutar pela reanimação das nossas tradições com dedicação, esforço e entusiasmo de bom cidadão, na busca dos valores básicos que contituem a nossa Pátria. Papel da mais alta importância cabe aos Prefeitos e Vereadores de todos os municípios da Amazônia, uma vez que a eles compete manter ativa a chama da Brasilidade, já que são eleitos pelo povo e do povo

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professores e comunitários, nos chamados Encontros de Educadores. Abrangendo meio-ambiente, cultura popular e questão amazônica nos diferentes aspectos, foram utilizados

fazem parte. Qualquer autoridade que a recuse ou mesmo, absurdamente, proíba a manifestação desse mesmo povo que representa, é não está correspondendo a atribuição que lhe foi delegada. A participação de todos é uma necessidade imperiosa, principalmente pelo fato de já existir entre nós, consciência da valorização da tradição popular. Precisamos esquecer que por desconhecimento ou omissão, praticamente levamos nossa tradição ao quase completo desaparecimento e aceitar como da maior importância a sua reanimação, buscando os valores fundamentais do nosso passado histórico, uma vez que povo sem tradição é povo apático e indiferente. Passo decisivo na luta pela defesa dos nossos valores foi a criação, no final dos anos sessenta, da Sociedade de Preservação aos Recursos Naturais e Culturais da Amazônia (SOPREN), que atuou em toda a Amazônia Clássica Pará, Amazonas e Acre e nos então Territorios Amapá, Rondônia e Roraima em ampla e diversificada parceria com a Universidade Federal do Pará, através o Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária (CRUTAC), Mobral, Ministério da Agricultura, Acarpará, atual Emater, Secretárias de Educação e Agricultura dos Estados e Territórios e

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cartazes, volantes, cartilhas e boletins, em reuniões, simpósios, congressos e Amazoníadas, enfatizando nossas raízes culturais, cujo lema foi apresentado sob forma de Literatura de Cordel, distribuído em toda a região, com o título - A Volta do Boi Mimoso Real, ou Povo que não tem passado, não terá futuro. *Sopren/Sobrames

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ia 08 de outubro, a sexta-feira que antecede o Círio, será sua oportunidade de fazer parte de um espetáculo que é ao mesmo tempo cênico, musical e dançante, com pitadas de cultura popular e de palhaçadas com trovas. Tudo isso entre atores consagrados e amadores, entre o povo que veio prestigiar o Círio, e entre um característico clima de interação e harmonia que define o já tradicional Auto do Círio em sua 12ª edição. Um projeto da Universidade Federal do Pará que além de ser um grande laboratório para os alunos de artes, ultrapassa as fronteiras do campus Guamá e dá à sociedade um show de integração a r t í s t i c a embasada em um a filosofia própria que é mostrar ao povo, de toda e qualquer idade que recebem o emblema de artistas de ocasião, o Círio sob este olhar poético e crítico.

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O que mais se podia esperar de uma equipe que começa a trabalhar em março para o grande triunfo de outubro? Com a direção do mestre em artes cênicas, Miguel Santa Brígida, da coordenação do Núcleo de Artes da UFPA e da atuação de professores e alunos de teatro, música, artes plásticas, entre outros, o projeto se revitaliza a cada ano, inovando as músicas e as coreografias mas mantendo traços característicos, como a parte do cortejo, entre a capelinha de São João e o Instituto Histórico e Geográfico do Pará, em que os participantes acendem suas tochas e seguem dançando pelo trecho. Afonso Medeiros, coordenador do Núcleo de Arte da UFPA, orgulha-se da trajetória e faz um balanço comparativo entre o primeiro Auto, do qual participaram praticamente apenas os atores oficiais, e hoje, quando estima-se a presença de 5000 pessoas, contando com aproximadamente 500 participantes das oficinas preparatórias iniciadas em setembro.

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encontram delimitações e confundem-se. No Auto do Círio isto é retratado, não de forma desrespeitosa para com a Santa padroeira, pelo contrário, a Virgem é homenageada da maneira mais transcendental possível, através da arte, da música e da dança, que, segundo citações da tese de Santa Brígida, “ao representar, a humanidade procurou resolver seus problemas de maior tensão, em termos humanos, lançando mão para isso de todas as expressões artísticas (CAMINADA, 1999,p.26)” Outra marca do Auto é a de atrair, além dos paraenses, personagens da cena artística nacional, como os já cativos Dominguinhos do Estácio e a

A titulação deste ano: “Drama, Fé e Carnaval em Belém do Pará”é referente ao trabalho apresentado por Santa Brígida para obtenção de Mestrado, ano passado, na Bahia. Fato este que comprova a relevância com que é tratado o assunto dentro d a c u l t u r a p o p u l a r, a representação do misto sagrado/profano dentro da celebração do Círio, que há muitos já não é mais ocultada, mereceu tornar-se tema de estudo sobre o inconsciente coletivo, sobre a encenação, tomada pelo diretor como análoga à do culto grego a Dionísio. A fé e o carnaval já não

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paraense Dira Paes, este ano com forte manifestação de vir por parte da atriz Cássia Kiss. Ressaltemos aqui que toda e qualquer participação no cortejo, bem como as inscrições nas oficinas, não são feitas por dinheiro, quem trabalha tem de ser voluntário e quem participa não precisa pagar, o valor artístico sobressai a qualquer outro. Para quem nunca foi ao Auto, expliquemos um pouco da estrutura. A concentração se dá às 19h, no Largo do Carmo saindo rumo à Sé, onde acontece a primeira parada, a estação da dança, em seguida desloca-se à Igreja de Santo Alexandre para a segunda parada, a estação musical. O próximo ponto é a estação do o da

teatro, no Solar do Barão do Guajará, terminando com a estação da cultura popular na Apoteose entre os palácios Antônio Lemos e Lauro Sodré. Certamente um espetáculo que já inseriu se na agenda paraense do Círio.

Dominguinhos foi uma das atrações

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O prefeito Edmilson, como convidado de honra entre as donas da casa

e da Virgem de N Bahia - Brasil.

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zaré Luana de Oliveira

ma festa que atrai cerca de 25 mil pessoas sem precisar de grandes divulgações na mídia, serve como local de firmação de lutas sociais e esclarecimentos ao público e não sai do contexto de adoração à Virgem apesar de ser essencialmente lúdica, é a melhor definição encontrada para a Festa da Chiquita. Já inserida no calendário extra-oficial das comemorações do Círio, ela acontece no sábado da Trasladação, no Bar do Parque, Praça da República, após a passagem do cortejo inteiro, do último carro de bombeiros. A festa entrou para história na década de 70, quando um bloco de carnaval começou a sair da praça Amazonas rumo ao Bar do Parque, depois de uma piramutaba no tucupi, como relembra Eloi Iglesias, este notável (ponha notável nisso) paraense da causa gay. Faziam parte do bloco pessoas do teatro, jornalistas e artistas em geral, principalmente gays, que acompanhavam o grande boom do movimento gay people/gay power no mundo. Dentro do Círio a atuação das Chiquitas começou a 26 anos, com um pequeno grupo de gays que durante a espera pela passagem da Santa faziam brincadeiras e coreografias aos arredores do Bar do Parque. O número de participantes foi crescendo e há alguns anos houve a necessidade da criação de uma diretoria, na qual Eloi se inclui e a caracteriza como pornô-anárquica. A falta de regras e planejamento são as marcas da festa e acaba assim tomada

por desorganizada, o que dificulta o processo de tombamento pela qual está passando. Segundo Eloi, a festa acaba servindo como um trampolim para a passeata gay, que este ano em Belém somou 25 mil pessoas em prol das causas não só do Movimento gay, mas de outras minorias, que na verdade compõem a maioria social, como negros e mulheres, pela reivindicação do direito de ser visto antes de tudo e n q u a n t o c i d a d ã o , independentemente das diferenças. Particularmente no caso homossexual, o cantor não concorda com o papel de vítimas da exclusão. Diz que estão no poder, em altos cargos, no mundo das artes em geral, o caso é ir comendo pelas bordas. A festa além de aglutinadora da identidade gay também tenta desmistificar este universo e mostrar aos curiosos que bicha e sapatão não existe só na casa do vizinho, quer provar que os gays “são o sonho de consumo de todo mundo, pois todos gostam de ter um por perto. São divertidos, excêntricos e gastam muito, consomem”. À sua maneira, a festa torna possível a convivência entre diferentes, pois traz todos os tipos de pessoas, de Sarney a Leonardo Show drag. Mulheres, Vieira, como olhem a concorrência! figuras únicas,

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O espaço mais destacado tem um nome pouco comum (o apelido mais curto de nádegas), digamos, a “Feira das Nádegas”, onde basta estar presente para mostrar-se disponível naquela noite, ou ainda a escadaria das estrela ou do pecado, nas escadas do Teatro da Paz, na qual o público assiste aos shows mas também pode ficar azarando. Por outro lado, a diretoria da festa preocupa-se também com o caráter de conscientizar sobre o sexo seguro e traz uma ONG gay para armar sua tenda e fazer sua explanação preventiva com aparato áudio-visual no correr da festa, alertando para o uso de camisinhas e contra as DSTs. cada qual com sua impressão digital, com sua história, O grande qualificador das chiquitas é o público cativo: em um espaço de interação. grandes intelectuais, artistas, políticos e outros Quanto à programação, a diretoria apenas tem de fixo o “pensantes” responsáveis por arquitetar tudo o que vai show do grupo de carimbó Borboletas do Mar e das acontecer no cenário público no ano seguinte, as Drags. De resto tudo se cria na hora e o espaço é aberto “opiniões a serem formadas”. Assim, por mais que pra quem quiser mostrar seu talento. No decorrer da apartidária, a festa não deixa de ser política, festa são entregues as premiações tradicionais de instigando a resistência e por isso sofrendo Rainha do Círio, conquistada pela atriz Dira Paes no historicamente ameaças de fechamento. ano passado, e Viado de Ouro, entregue nos últimos “Quanto a postura da Diretoria do Círio, esta anos pelas mãos do prefeito de Belém, Edmilson simplesmente diz não saber da Rodrigues. Desde o aniversário de existência da festa. Não reconhecer foi 18 anos da festa, criaram-se novas a solução encontrada, já que reprimir premiações como a Chiquita; Bofe poderia causar conseqüências de ouro, entregue ao bofe mais desagradáveis para a Igreja. Situação gostoso da festa; Botina de prata esta completamente impensada e para os sapatões e que passou a ser dispensável, pois bicha é carola, bicha muito disputado de uns anos para reza, tem terço e carrega sua cruz todos cá; Prêmio baby class para as os dias, são as bruxas da nova era”, bichas novinhas, ou o ainda em afirmou Eloi. projeto, prêmio Mário Faustino, Essa relação conturbada refletiu na de um cunho mais artístico. Leonardo Vieira e Dira Paes foram exclusão da festa da Chiquita na Cada ano a diretoria prepara uma algumas das estrelas da festa narração sobre o Círio produzida pela temática, este trará alguma coisa Escola de Samba da Viradouro no carnaval 2004. Foi relacionada com paz, pois é o que mais querem e lastimável. precisam agora. O tema passado foi o“Bundas de E disse mais “Acho que todo mundo em Belém Prata”, em comemoração aos 25 anos da festa, tendo deveria se chamar “de Nazaré”, eu queria me como símbolo a Carmem Miranda. A partir de agora, o chamar Eloi de Nazaré e vocês deveriam ser Pará + número de anos da festa vai ser identificado por 24 de Nazaré, esse é o nosso maior marketing”. mais 1; 24 mais 2 e por aí vai. Purpurinadas dão o “close”para os flashes

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Neste Círio de 2004 *Acyr Castro

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Lembro dos primeiros cristãos quando, aos prantos, itiado sempre estive, seja pela vida, seja pela penso na Neucília que não verá, pela segunda vez, o morte. Muitas vezes por mim mesmo. E, em Círio que nunca deixou de ver, e junto dos filhos outras circunstâncias, pelo que reconheço adorados e que a veneram como se ainda aqui venha a ser a morte da vida. conosco. E ela está aqui, conosco, agora. Somente que Logo eu que amo a amplidão do mar. E que desamo o não a podemos enxergar, e é isto o que dói e amargura. imobilismo, o restrito, o acanhado. Que navego, em Imploro, entretanto, a que Maria de Nazaré prossiga mim e por mim, às margens do vísivel. O dificil do olhando pelo nosso povo e pela nossa gente, na viver, dizia Vladimir Maiakovski, é o oficío da intermediação que faz entre nós e seu divino filho que, convivência. obra e graça do Espírito Santo, é igualmente Filho de Em prece à Santa Vírgem de Nazaré, suplico que me Deus, a Santíssima Trindade ante a qual nos conceda perdão. E que me livre do excesso da tristeza, ajoelhamos Deus Pai, Deus Filho, Deus Espirito dos exagêros da angústia, da infinitude do desespero. Santo. Sem tal perdão como me recompor? Eis - me, de r epen te, Afinal, Senhora, este será e é pedindo por amigos, meus o segundo Círio sem a minha e da Neucília, que estão insubstituível mãezinha ausentes do Círio, feito o Neuza Cecília Paiva de Sérgio Valinoto parceiro Castro. E sem a Neucília de Edyr de Paiva Proença como rezar, e longe da em canções populares Neucília como conseguirei belíssimas, feito o orar sem choro, só com a Edwaldo Martins de quem vela? Isso foi uma gracinha fui parceiro (1964/1966) (sem choro nem vela do no “Tele-cine” no extinto Noel que mamãe e eu tanto Canal 2, Tv Marajoara. amamos), desculpai. Um dos momentos mais Horrível quando somos a Visão do Círio, frente a Importadora maravilhosos que já vivi nossa própria existência e (e a mãezinha a tudo nada mais; e é assim que me sinto distante, acompanhou) na minha carreira de jornalista fisicamente, de quem me botou no mundo. E em pleno profissional como crítico de cinema. Éramos tão só eu Círio de Nossa Senhora, eu afilhado de batismo de e o Edwaldo no “Tele-Cine”; o mais Deus e Nossa Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos; não é fácil. Senhora ajudando a que soubéssemos fazer Está certo, está certo, a morte não é nenhuma tecnicamente o perfeito diante das câmeras. O resto foi conclusão, ainda que pareça e, com o tempo, o acabe figuração ou coadjuvante, por mais ilustre e poeta sendo. Contudo não falo de qualquer morte, falo da como, por exemplo o Paes Loureiro. Naquele morte de minha mãe e é como se escrevesse que falo da programa, o primeiro a levar o cinema para a televisão morte da própria maternidade em sí. Deus, no Céu, em todo Brasil pude ter comigo e com o Edwaldo sabe o que quero dizer. E o sabe a Vírgem, convidados eminentes para papos inteligentes, acima naturalmente. de todos o amigo Pedro Veriano que me sucedeu na Ouço com os ouvidos da alma que a cada instante tem a crítica mais de perto. Sempre aprendo, com o Pedro, sua superação específica; e hoje, após a partida da Mãe cara bom, sensível, fraterno, verdadeiro. Como para a Eternidade (1 ano e 6 meses), terei que superar aprendo, é evidente, com colegas outros, a quem essa tragédia assombrosa: vivenciar, viver, o Círio convidava para irem ao programa meu e do Edwaldo, num país que não tem mais população. aquele “Tele-Cine” de onde tive que sair arrancado Já nem sei o que diga ou faça, em palavras que soam pelo golpe autoritario de 1964. Faz parte da vida e da desamparadas, e diante do fato de que estamos a morte, não é mesmo? Marildinha e eu, sem a nossa luz, a nossa estrela-guia, Porém Neuza Cecília terminará assistindo ao Círio de a inspiração nossa. Onde achar, então, a oração exata, a Nazaré espiritualmente de mãos dadas com a fala certa, a capacidade de ser perdoado? Marildinha e comigo, se Deus o quiser. A Neucília era Virgem Santissíma, nesta névoa que me castiga, estou e é devota da Virgem, as duas e agora perto do Senhor. pronto a romper comigo se for do meu incerto A nossa vocação nunca jamais deixou de ser, sempre e caminhar que dependa o desfraldar do vento. Tende sempre, o amor de Deus e de Nossa Senhora. piedade de mim, tende piedade da Marilda, ó Mãe do Salvador. *Escritor e jornalista Edição 30

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Divulgue seu

Evento

Outubro BELÉM 08

BELÉM 08 a 15

223-0799

revista@paramais.com.br

Auto do Círio Ruas da Cidade Velha 1-3378 Fone: (91) 242-5742 / 998

BELÉM 09

BELÉM 09

Romaria Fluvial Baia do Guajará Fone: (91) 223-1932 / 242-1118

BELÉM 18

Trasladação de Nsa. Sra. de Nazaré Ruas da cidade Fone: (91) 222-4570

BELÉM 26 a 31

XXI Corrida do Círio Largada e chegada: Colégio Fone: (91) 232-1122 / 232Gentil Bittencourt Fax: (91) 232-0474 / 224 -1133 -3661

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FIDA - Festival Internacional de Dança da Amazônia Teatro da Paz Fone: (91) 223-1744 Fax: (91) 223-2779

p a r a m a i s . c o m . b r

Feira do Círio Praça Santuário de Nazaré Fone: (91) 225-3518 / 225-45 52

BELÉM 10

nhora de Nazaré Círio de Nossa Se cidade da as ru is ipa inc Pr 4570 Fone: (91) 222-

LIMOEIRO DO AJURÚ 29 a 31

Festival do Açaí Palco de Eventos Fone: (91) 241-5604 Fax: (91) 224-5128

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No ve m b ro

CAPANEMA 01 a 03

CURRALINHO 05

CASTANHAL 07

CAPANEMA 05 Vaquejada Clube Nasau Fone: (91) 462-1690 Fax: (91) 462-1690

III Festival da Cultura Praça do Açaí Fones: (91) 3633-1218 3633-1253

SANTARÉM 10 a 13

Aniversário do Município Praça Matriz Fone: (91) 462-1690 Fax: (91) 462-1690

Campeonato Encerramento do róss cic Bi de se en ra Pa era Camping Ibirapu -3001 64 99 1) (9 s: Fone 3721-4006

IGARAPÉ-MIRI 12 a 14

SANTARÉM NOVO 12

Feira da Cultura Popular Praça Barão de Santarém Fones: (93) 523-2968/523 Fax: (93) 522-5452 / 523 -2434 -2446

BUJARÚ 13

II FICAMI / EXPOART Palheta Estádio Municipal Bianor 253 5-2 375 ) Fone: (91 Fax: (91) 3755-2253

III Festival Regional de Carimbó Local: Ginásio Rogerão Fone: (91) 484-1197 Fax: (91) 484-1198

SALINÓPOLIS 13 SOURE 14

VIII Festival da Cultura 138 Rua Barão do Rio Preto, Fone: (91) 3746-1377 Fax: (91) 3746-1102

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I Festival do Chopp Casa da Amizade Fone: (91) 423-3831

Círio de Nossa Senhora de Nazaré Prelazia do Marajó 5 Fone: (91) 3741-1333 / 3741-1275 Fax: (91) 3741-1333 / 3741-127

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Nove m b ro BRAGANÇA 14

MELGAÇO 15 a 22

Círio de Nossa Senhora de Nazaré Principais ruas da cidade Fone: (91) 425-1520 Fax: (91) 425-1520

BELÉM Permanente ração Exposição de Longa Du/ do Acervo Museológico s Exposições Temporária Locais e Nacionais ém Museu de Arte de Bel / Fone: (91) 219-8243 219-8252

BELÉM 25 a 28

Parafolia Aldeia Cabana Fone: (91) 242-776 Fax: (91) 224-84916 www.parafolia.com.br parafolia@parafolia. com.br

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ÓBIDOS 15 a 21

EXPOART Museu Integrado de Óbidos Fone: (93) 547-1194 Fax: (93) 547-1766

Semana da Arte Escola Tancredo Neves e Presidente Vargas Fone: (91) 3637-1327

SANTARÉM 21

PORTO DE MOZ 17 a 19

Canta Xingu Calçadão em frente ao Trapiche Municipal Fone: (93) 3793-1191 Fax: (93) 3793-1191

Círio e Festa de Nossa Sra. da Conceição Principais ruas da cidade Fone: (93) 522-2738

AFUÁ 28 a 09/12

BELÉM 28 a 12/12

ceição

Festividade de Nsa. Sra. da Con Praça da Igreja Matriz Fone: (96) 689-1210 / 1788 Fax: (96) 689-1277

p a r a m a i s . c o m . b r

Festividade Nsa. Sra. das Graças Praça da Matriz Icoaraci Fone: (91) 227-0214 Fax: (91) 227-0014

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