Converse com sua família e seja um doador. doeorgaos
Um dia, a sua família pode ser doadora de órgãos ou precisar de um doador. E conversar sobre o tema é a melhor maneira de quebrar barreiras, vencer preconceitos e conhecer o desejo de cada um.
A família Bona aceitou conversar com os profissionais de saúde sobre a Doação de Órgãos.
6 A 8 DE NOVEMBRO | HANGAR - BELÉM, PA
A Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias 2024 é um encontro de diversas vozes e tem como objetivo propor uma agenda de sugestões estruturantes para a Amazônia. Por meio do estabelecimento de importantes diálogos iremos contribuir para o processo de transformação da economia, de construção da agenda ecológica brasileira e de uma nova relação do setor produtivo com esse território e suas comunidades.
KEYNOTES CONFIRMADOS
LAURENCE TUBIANA
CEO da European Climate Foundation (ECF) e Professora na Sciences Po, Paris
JOHN KERRY
68° Secretário de Estado - EUA (Participação Virtual)
PARTICIPE!
PATROCINADORES
APRESENTADO POR MASTER
GESTÃO DE RESÍDUOS
COMPENSAÇÃO DE CARBONO
ELLEN JOHNSON SIRLEAF
Primeira mulher africana a ser eleita Presidente da Libéria (2006-2018) e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz
REALIZAÇÃO
BELÉM
COMPANHIA AÉREA OFICIAL
16ª COP DA BIODIVERSIDADE NA COLÔMBIA
A 16ª edição da Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (COP 16) ocorreu em Cali, na Colômbia e teve como tema Paz com a Natureza.“Todos temos um papel a desempenhar. Os povos indígenas, as empresas, as instituições financeiras, as autoridades locais e regionais, a sociedade civil, as mulheres, os jovens e o meio acadêmico devem trabalhar em conjunto para valorizar, proteger e restaurar a biodiversidade de uma forma que beneficie a todos”, declarou o secretário-geral...
A JUVENTUDE PODERÁ MUDAR
O MUNDO PARA MELHOR
Não é utopia, é colocar em ação os sonhos de seres humanos bem-dispostos a fazer aquilo que precisa ser feito para gerar valor econômico, social e ambiental. Fico entusiasmado e emocionado com a capacitação de todas as capacitações dessa juventude: empatia para construir capital afetivo com todas as culturas do planeta em uma convivência única e extraordinária. Como coordenador, professor e parceiro da Audencia Business School...
O CICLO GLOBAL DA ÁGUA ESTÁ DESEQUILIBRADO
Mais da metade da produção mundial de alimentos corre o risco de entrar em colapso nos próximos 5 anos devido à crescente crise global e água, alerta um novo relatório. As mudanças climáticas, o uso destrutivo da terra e a má gestão consistente dos recursos hídricos significam que quase 3 bilhões de pessoas e mais da metade da produção global de alimentos estão em áreas que enfrentam “estresse sem precedentes” em seus sistemas hídricos, afirmou a Comissão Global sobre Economia da Água em um relatório divulgado recentemente, em 17 de outubro 2024. Leia na íntegra...
MANGUEZAIS TÊM POTENCIAL DE
GERAR
R$ 49 BILHÕES EM CRÉDITO DE CARBONO
Os manguezais brasileiros armazenam um estoque de dióxido de carbono (CO2) avaliado em pelo menos R$ 48,9 bilhões no chamado mercado de carbono. Esses ecossistemas marcam uma transição entre ambientes marinhos e terrestres e apresentam água salobra - mistura da água salgada e doce. Esse valor é estimado a partir de 1,9 bilhão de toneladas de CO2 armazenadas em 13.906 quilômetros quadrados (km2) ao longo da costa brasileira, área equivalente a nove cidades...
CAMINHOS PARA A DESCARBONIZAÇÃO
Este relatório fornece análises da perspectiva dos fornecedores sobre a cadeia de valor, caminhos de descarbonização, desafios e oportunidades para o aumento de escala de tecnologias de emissão zero. Os fornecedores são um ator fundamental nesse ecossistema, pois são fundamentais para impulsionar a inovação, testar tecnologias de baixo carbono e levar essas soluções ao mercado, influenciando assim as emissões posteriores em toda a cadeia de valor global. O relatório é informado por lições aprendidas do First Movers Coalitio...
BRASIL PRECISA REFORÇAR PROTEÇÃO
Enquanto se prepara para sediar a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC COP 30, a primeira COP a ser realizada na Amazônia) em novembro de 2025, o Brasil está em um momento crucial. Suas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa...
[05] 16ª COP da Biodiversidade na Colômbia [08] Falhas em políticas de conservação da biodiversidade [11] A juventude poderá mudar o mundo para melhor [14] Sobrevivendo em um planeta em aquecimento [19] O ciclo global da água está desequilibrado [22] Reposição de estoque do Aquífero Guarani é insuficiente [24] Seca intensa e generalizada na América do Sul [27] Rios atmosféricos nos polos mudam padrões climáticos do mundo [30] Águas rasas são os melhores sumidouros de carbono [32] Manguezais têm potencial de gerar R$ 49 bilhões em crédito de carbono [37] Florestas oceânicas: como os manguezais “flutuantes” poderiam proporcionar uma ampla gama de benefícios ecológicos e sociais [40] Sinais de perigo para o sumidouro de carbono da natureza [45] Fungos são uma das maiores riquezas da biodiversidade da região Amazônica, diz pesquisador do Inpa [46] Acredite ou não, esta paisagem exuberante é a Antártida [48] Ferro: o metal de transição primordial da vida [51] Anéis de árvores comprovam aumento do nível do mar e diminuição das florestas costeiras [54] Caminhos para a descarbonização [56] As eras glaciais não foram tão secas quanto pensávamos [59] Brasil precisa reforçar proteção de florestas para atingir metas de mitigação de mudanças climáticas [63] Concurso Fotógrafo Oceânico do Ano de2024
PUBLICAÇÃO
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Fungos uma das maiores riquezas da biodiversidade da região Amazônica
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CÍRIOS
16ª COP da Biodiversidade na Colômbia
Paz com a Natureza
A16ª edição da Conferência
das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (COP 16) ocorreu em Cali, na Colômbia e teve como tema Paz com a Natureza.
“Todos temos um papel a desempenhar. Os povos indígenas, as empresas, as instituições financeiras, as autoridades locais e regionais, a sociedade civil, as mulheres, os jovens e o meio acadêmico devem trabalhar em conjunto para valorizar, proteger e restaurar a biodiversidade de uma forma que beneficie a todos”, declarou o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, em mensagem pelo Dia Internacional da Diversidade Biológica, comemorado no passado dia 22 de outubro.
Gustavo Petro, presidente da Colômbia e anfitrião da conferência, em seu discurso na abertura da COP16, em Cali. destacou o papel da crise climática causada pela queima de combustíveis fósseis para a “extinção da biodiversidade e da vida” e culpou as potências mundiais pela dependência de petróleo da economia global. “Quem mais emite CO2 na atmosfera são as economias fósseis, do petróleo e do
carvão, são as economias poderosas dos Estados Unidos, da China e da Europa. Essas economias cobram sobretaxa em cima da taxa de juros para os países em desenvolvimento que ainda hoje conseguem absorver CO2”.
As finanças podem ser parte da solução para a crise mundial da biodiversidade
No entanto, pode-se argumentar que não há economia (ou vida) sem natureza. Um quarto das espécies animais e do planeta estão agora ameaçadas , e 14 dos 18 principais serviços ecossistêmicos – incluindo solos férteis para cultivar alimentos, controle de inundações e doenças e regulação da poluição do ar e da água – estão em declínio. Esses serviços ecossistêmicos são essenciais e não têm substitutos fáceis.
Apesar disso, quase US$ 7 trilhões (£ 5,4 trilhões) por ano são gastos por governos e pelo setor privado em subsídios e atividades econômicas que têm um impacto negativo na natureza – incluindo agricultura intensiva e subsídios a combustíveis fósseis. Isso se compara a apenas US$ 200 bilhões gastos em soluções baseadas na natureza (apenas um terço do que se estima ser necessário).
Para progredir em direção a essas metas, a Cop16 visou alinhar as finanças com a estrutura; garantindo efetivamente que as finanças sejam parte da solução e não do problema.
Para fazer isso, o fluxo de financiamento precisará ser redirecionado. Uma alavanca central nisso é a precificação do risco. As instituições financeiras enfrentam riscos significativos, tanto da degradação dos serviços ecossistêmicos
Petro discursa na abertura da COP16: “Paz com a Natureza”, reflete a necessidade de repensar nossa relação com a natureza, de imaginar um modelo econômico que não seja baseado na desigualdade, na extração e na superexploração
da metade do PIB total do mundo depende, pelo menos moderadamente, da natureza
Abertura da plenária da COP16 da Biodiversidade, em Cali, na Colômbia
Fotos:IISD/ENB | Mike Muzurakis, Nobuhiro Asada/Shutterstock
Gustavo
Mais
(riscos físicos) quanto das respostas sociais à degradação, incluindo regulamentação e mudança na demanda do consumidor (riscos de transição). No entanto, esses riscos não são totalmente precificados nas decisões financeiras.
Os bancos centrais estão agora começando a destacar os riscos naturais para as instituições financeiras e a explorar as áreas onde esses riscos se manifestam no sistema financeiro.
Então, precisamos que a Cop16 puxe a alavanca do risco financeiro
Primeiro, deve haver reconhecimento internacional de que os riscos de longo prazo, generalizados e frequentemente irreversíveis da crise da biodiversidade não estão sendo precificados pelo sistema financeiro, apesar do progresso na integração dos riscos climáticos. Isso pode causar um acúmulo de riscos sistêmicos e levar à instabilidade financeira; como tal, deve haver um consenso global de que os bancos centrais desempenham um papel fundamental na tomada de medidas proativas para gerenciar isso.
Em segundo lugar, nos níveis individual, corporativo e de instituições financeiras, as empresas devem gerenciar e divulgar seus riscos financeiros relacionados à natureza, juntamente com seus riscos climáticos.
Terceiro, semelhante ao financiamento de transição para zero líquido, as instituições financeiras devem começar a se envolver ativamente com os clientes para explorar oportunidades de apoiar sua transição para atividades mais positivas para a natureza e refletir isso em seus planos de transição.
Garantir resiliência financeira e metas climáticas e de natureza são sinônimos; e todos são essenciais para garantir o crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável globalmente.
“A biodiversidade é aliada da humanidade” e fazer as pazes com a natureza é a tarefa definidora do século XXI, disse o Secretário-Geral da ONU, António Guterres , sublinhando a necessidade de transformar os compromissos ousados do Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal (GBF) em ações.
Dia da Alimentação
O nexo alimento-biodiversidade-agricultura é frequentemente negligenciado, apesar da biodiversidade servir como base da segurança alimentar e nutrição. Sistemas sustentáveis de alimentação e agricultura (agroalimentar) são essenciais para a implementação do Kunming-Montreal Global Biodiversity Framework (GBF). Este evento explorou a integração de considerações sobre segurança alimentar e biodiversidade em todos os níveis de participação — de agricultores e comunidades a plataformas nacionais, regionais e globais.
A comemoração do Dia da Alimentação, foi uma oportunidade para as partes interessadas se reunirem para discutir questões relacionadas à segurança alimentar, nutrição e paz com a natureza. Lynnette Neufeld, FAO, em discurso, observou que a declaração conjunta da FAO e da Organização Mundial da Saúde estabeleceu que um dos requisitos de uma dieta saudável é a diversidade nos alimentos consumidos. Ela disse que a biodiversidade deve ser trazida aos instrumentos para orientar a política na agricultura e agroalimentação.
A crise da biodiversidade não está sendo precificada pelo sistema financeiro, apesar do progresso na integração dos riscos climáticos
A perda da natureza deve ser tratada com a mesma urgência das mudanças climáticas.
Chefes de Estado, ministros e representantes de alto nível, no lançamento da Iniciativa da Colômbia “Coalizão Mundial pela Paz com a Natureza: Um Chamado pela Vida”.
Encerramento
A COP16 contou com a participação do Secretário-Geral da ONU Antonio Guterres, seis chefes de estado — incluindo o Presidente da Colômbia Gustavo Petro — cinco ministros das Relações Exteriores, 114 ministros, 33 vice-ministros e representantes de 81 organizações e ONGs de 150 países. Essa participação de alto nível ressaltou um compromisso compartilhado para abordar a perda de biodiversidade, as ameaças climáticas e a degradação ambiental, prioridades que assumiram nova urgência em meio à escalada das crises ambientais globais. “Natureza é vida. E ainda assim estamos travando uma guerra contra ela. Uma guerra onde não pode haver vencedor”, declarou o Secretário-Geral da ONU. “É assim que uma crise existencial se parece”.
Em um discurso importante para o Segmento de Alto Nível da conferência, o Presidente Gustavo Petro pediu aos participantes que pensassem além das abordagens tradicionais, afirmando que somente soluções transformadoras podem lidar com a magnitude das crises que o planeta enfrenta. “A COP16 em Cali, junto com a próxima COP30 em Belém, devem ser momentos decisivos”, disse ele. “Não podemos continuar a depender de métodos ultrapassados ou presumir que podemos combater a poluição com políticas movidas apenas pelo lucro”. Uma votação em plenária noturna, indicou que a proxima 17ª reunião da Conferência das Partes (COP 17), a ser realizada em 2026,
sera em Yerevan-Armênia. Astrid Schomaker, Secretária Executiva da Convenção sobre Diversidade Biológica, enfatizou a importância dessa abordagem
Garantir resiliência financeira e metas climáticas e de natureza são sinônimos; e todos são essenciais para garantir o crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável globalmente.
“A biodiversidade é aliada da humanidade” e fazer as pazes com a natureza é a tarefa definidora do século XXI , disse o Secretário-Geral da ONU, António Guterres , sublinhando a necessidade de transformar os compromissos ousados do Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal ( GBF ) em ações.
A COP-16, considerada o evento mais importante do mundo para a conservação da biodiversidade, é realizada a cada dois anos para negociar compromissos com a proteção do meio ambiente
inclusiva, dizendo: “A COP16 incorpora o espírito de ação coletiva”. Ela acrescentou: “Cali testemunhou uma mobilização histórica pela biodiversidade. Esta COP realmente se tornou a COP do Povo, à medida que os cidadãos se unem para defender a natureza e promover a paz com a natureza”.
Por meio das diversas contribuições e compromissos feitos na COP16, a conferência estabeleceu um novo marco para a governança ambiental inclusiva, estabelecendo uma estrutura para uma agenda pós-COP globalmente unificada que aborda questões ecológicas imediatas e de longo prazo. Apesar dos contratempos sobre como financiar projetos de biodiversidade em escala global, sete países prometeram US$ 163 milhões adicionais ao Fundo Global de Biodiversidade. À medida que as sessões finais da COP16 se aproximavam do fim na sexta-feira, os participantes expressaram otimismo de que os compromissos assumidos levariam a mudanças acionáveis, promovendo um futuro no qual a paz com a natureza é possível.
A Presidente da COP 16, Susana Muhamad, encerrando a COP da Biodiversidade, em Cali, na Colômbia
A biodiversidade é a pedra angular dos nossos sistemas agroalimentares
Falhas em políticas de conservação da biodiversidade
As estratégias nacionais de biodiversidade subutilizam o potencial de mudança de comportamento individual. Para transformações de sustentabilidade que atinjam metas globais de biodiversidade, a mudança de comportamento é necessária
Há uma lacuna enorme entre as políticas nacionais para aumentar a biodiversidade e as mudanças comportamentais individuais e de pequenos grupos que são essenciais para fazer uma diferença real, de acordo com uma nova pesquisa da Universidade de Surrey. O estudo descobre que 90% dos países com políticas
de conservação da biodiversidade falham em especificar as ações necessárias de indivíduos ou grupos para mudar seu comportamento. Pesquisadores sugerem que essa lacuna pode explicar a falta de progresso em metas globais de conservação. Enquanto os líderes se reúnem na Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade deste ano em Cali, Colômbia, um estudo publicado na Environmental Science & Policy descobriu que apenas 11% das políticas nacionais de biodiversidade abordam explicitamente o papel crítico da mudança de comportamento individual para entregar significativamente a conservação da biodiversidade . Ainda menos — apenas 3% — oferecem orientação específica sobre o design de intervenções, particularmente aquelas que abordam fatores motivacionais como motivação reflexiva ou automática. Para impulsionar a eficácia das políticas de biodiversidade, os pesquisadores sugerem que as políticas devem especificar claramente os principais elementos da mudança de comportamento. Isso inclui identificar os comportamentos que precisam mudar, os grupos responsáveis por essas ações e os fatores que influenciam suas escolhas. Existem ferramentas e técnicas estabelecidas para fornecer as mudanças necessárias no comportamento,
por *Universidade de Surrey
Fotos: Pixabay/CC0 Domínio Público, Universidade de Surrey
90% dos países com políticas de conservação da biodiversidade falham em especificar as ações necessárias de indivíduos
Cada componente COM-B no círculo interno (Capacidade, Oportunidade, Motivação - Comportamento) pode ser influenciado por uma variedade de tipos de intervenção (círculo do meio) e qualquer tipo de intervenção pode influenciar vários componentes COM-B. Da mesma forma, qualquer opção de política (círculo externo) pode dar suporte a vários tipos de intervenções e qualquer tipo de intervenção pode ser entregue por várias opções de política. Esta versão é ligeiramente adaptada da versão original de Michie et al. (2011) . As categorias para as quais o rótulo e/ou definição foi alterado estão sublinhadas Dentro dos tipos de intervenção, as principais alterações foram substituir os rótulos ‘incentivação’ (agora ‘recompensa’) e ‘reestruturação ambiental’ (agora ‘reestruturação ambiental e social’).
Dentro das opções de políticas, alteramos os termos ‘medidas fiscais’ (agora ‘instrumentos econômicos e financeiros’), ‘regulamentação’ (agora ‘acordos e padrões voluntários’) e ‘prestação de serviços’ (agora ‘prestação de serviços e conhecimento’).
A biodiversidade pode apoiar o desenvolvimento sustentável. Ela usa os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) como base para explorar evidências científicas dos benefícios fornecidos pela biodiversidade
mas não estão sendo sistematicamente implantadas neste elemento-chave da sustentabilidade. Infelizmente, desenvolvemos coletivamente um grande ponto cego nas políticas de biodiversidade. Há um foco pesado em grandes ações como gestão de recursos, mas pouca atenção é dada aos comportamentos cotidianos — como o que consumimos — que também impulsionam a perda de biodiversidade.
“Ao não usar estruturas comprovadas de ciência comportamental, estamos perdendo uma oportunidade crucial de salvar a natureza criando políticas de biodiversidade mais eficazes.
A Roda de Mudança de Comportamento
Como nenhuma meta global de biodiversidade foi atingida em 2020, precisamos desesperadamente mudar isso rapidamente se quisermos atingir quaisquer metas globais de biodiversidade até o prazo de 2030”, diz a Dra. Melissa Marselle, palestrante em psicologia ambiental.
Os pesquisadores de Surrey analisaram 1.306 políticas das Estratégias e Planos de Ação Nacionais de Biodiversidade (NBSAPs) de 10 países. A equipe então avaliou como essas políticas abordavam a mudança de comportamento individual usando o modelo Behavior Change Wheel para avaliar comportamentos alvo, grupos alvo, tipos de intervenção e opções de política mencionadas em cada ação de política para conservar a biodiversidade.
“A perda de biodiversidade não é apenas um problema distante para os formuladores de políticas — ela afeta cada um de nós. Da comida que comemos ao
ar que respiramos, a natureza sustenta nossa vida diária, e precisamos agir agora para protegê-la. Se não integrarmos rapidamente a mudança de comportamento nas políticas de biodiversidade, corremos o risco de mais danos ambientais que impactarão as gerações futuras.
eficazes
A pesquisa define “atores individuais” como pessoas em papéis como: ☆ Agricultores ☆ Consumidores ☆ Caçadores ou pescadores ☆ Voluntários ☆ Comunidades locais
“Os governos devem começar a usar ferramentas comprovadas de ciência comportamental, como a Behavior Change Wheel, para orientar indivíduos e comunidades a fazer escolhas sustentáveis. Todos nós temos um papel a desempenhar nisso, e a hora de agir é agora”, diz Marselle.
A Convenção sobre Diversidade Biológica define biodiversidade como: “A variabilidade entre organismos vivos de todas as fontes, incluindo, inter alia, ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos dos quais eles fazem parte; isso inclui a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas”.
Descobrir que a mudança climática será a principal causa da perda de biodiversidade em 25 anos destaca a importância de uma política baseada em evidências e informada sobre comportamento para mudar o comportamento humano e destacar os Co benefícios de intervenções que abordam ambas as crises simultaneamente, diz a Dra. Melissa Marselle.
Estamos perdendo uma oportunidade crucial de salvar a natureza criando políticas de biodiversidade mais
Comportamentos cotidianos — como o que consumimos —também impulsionam a perda de biodiversidade
Da comida que comemos ao ar que respiramos, a natureza sustenta nossa vida diária, e precisamos agir agora para protegê-la
A juventude poderá mudar o mundo para melhor
Nestes últimos 10 anos
convivo com alunos de todos os continentes e regiões do planeta formando legítimos cidadãos do mundo, e futuros líderes de negócios que poderão tornar o capitalismo consciente, fazendo do planeta sustentável uma morada com bem-estar para todos
por *José Luiz Tejon
Não é utopia, é colocar em ação os sonhos de seres humanos bem-dispostos a fazer aquilo que precisa ser feito para gerar valor econômico, social e ambiental. Fico entusiasmado e emocionado com a capacitação de todas as capacitações dessa juventude: empatia para construir capital afetivo com todas as culturas do planeta em uma convivência única e extraordinária. Como coordenador, professor e parceiro da Audencia Business School no Brasil, tenho a oportunidade não somente de recebê-los aqui no nosso território junto aos nossos parceiros acadêmicos locais, mas também vou todos os anos para a França, onde testemunho com satisfação como o mundo vem mudando aceleradamente. O futuro não espera, e o futuro pede garra para criar onde existe o “nada”, porque no futuro ainda não existem as coisas. Existem somente intenções, ideias, desejos, e é para lá que nós nos lançamos para criar.
É muito bom ver como as escolas de negócios estão se transformando para se reinventar, e promover um modelo mais
responsável de criação e distribuição de valor a partir de valores humanísticos. O grande esforço de todos nós é entender que o nosso destino está interligado.
OUSANDO JUNTOS inclusive, que é o mote da Audencia, onde num processo que vem ocorrendo há anos junto com seus stakeholders- estudantes, professores, pesquisadores, colaboradores
e parceiros – busca-se traçar a trajetória de uma “nova fronteira” de escola. Tal abordagem questiona as aparentes “certezas”, e busca novas e inovadoras oportunidades de ser escola de negócios entre humanismo e responsabilidade.
Alunos da Audencia Business School visitam a Agrishow e assistem a aula de José Luiz Tejon “Quanto vale o Brasil?
José Luiz Tejon: Coordenador professor parceiro da Audencia Business School no Brasil
Fotos: Audencia Business School, Divulgação
Alunos da Audencia Business School que viajaram para Ilhéus para conhecer a economia do cacau sustentável
“Ninguém vai para o futuro sozinho”, me dizia o líder mestre Nishimura com quem convivi por anos quando trabalhei na Jacto. O futuro é inédito e complexo demais, e por isso a união faz a força. Para desvendar tal desafio de ser uma realidade do futuro, muito bom ver a Audencia se engajar em parcerias de valor como essa com a CESUPA, para desenvolver um programa semestral multidisciplinar aos jovens de MBA. Negócios de impacto pedem uma visão criativa e coletiva, para assim poder construir um novo repertório cultural de competências que, respeitando as mais exigentes normas ecológicas e de equidade social, no conhecimento do mundo como ele é desafiador, incorporem essa ambição em territórios para além das fronteiras europeias, saindo da bolha e indo dialogar com o “mundão”, por exemplo, aqui no Brasil na Amazônia, em Belém do Pará. “Amazônia, decifra-me ou te devoro!”
Como no enigma da esfinge, nesta era da informação veloz e conflitante, uma era de notícias falsas se misturando com as verdadeiras, e onde também aprendemos que podemos falar um monte de mentiras dizendo só a verdade, o insumo mais vital e sagrado para o futuro da Amazônia está no domínio da comunicação, e do entendimento real sobre o que fazer. Qual é o valor econômico, social e ambiental da Amazônia Legal para o Brasil e para o mundo, e como podemos alavancar um futuro sustentável a partir do presente precioso no qual estamos?
Que momento incrível da história, nos preparando para a COP 30 que ocorrerá próprio em Belém, que desafio de realidade imponente temos pelas mãos. Um Brasil tropical de seis biomas com amplas planícies é uma das maiores biodiversidades e tem a maior floresta natural sobrevivente do mundo. Amazônia é sinônimo de bioeconomia, mas não só.
Na era do metaverso, a Amazônia poderá ser também entretenimento, ser mais experiência de vida e consumo do que local de produção de bens. É difícil visualizar esses novos modelos quando não estamos preparados para eles.
A cultura e a ciência são as formas pelas quais resolveremos essas questões. Com agilidade e inteligência, não por ignorância ou negacionismo.
A Amazônia é um plano de futuro de longo prazo. Está mais para economia criativa e entretenimento, turismo ecológico, educação ecológica, história dos povos originários, história natural sobre o nascimento da vida neste planeta, e incluindo os sistemas agro-regenerativos. Amazônia é como o filme Avatar de James Cameron, é uma emocionante e poderosa plataforma cultural sobre a vida neste planeta. O potencial narrativo desse bioma é até o momento imensurável. Se mais criativos e inovadores se concentrarem sobre a Amazônia como nova economia sustentável, certamente isso terá impacto exponencial sobre o PIB do país, e daqueles territórios. Certamente o mundo agradecerá.
Mas em que momento e contexto essas histórias deverão ser contadas? Temos a COP 30! Qual história iremos contar na COP 30 para o mundo nos ouvir? Uma história com credibilidade, baseada em dados, em planejamento? Uma história em coautoria ou contra as organizações que atuam a favor dos ativos do planeta? Nesse sentido, nos posicionaremos como parte do problema ou da solução? Juntos ou contra os clientes, consumidores e cidadãos do mundo?
A primeira escolha é buscar ou não um ponto de convergência que nos permita caminhar juntos. Arquimedes disse: “deem-me um ponto de apoio e moverei a Terra”. O ponto é a Amazônia.
A ideia de “cabrucar” faz sentido porque o cacau precisa de sombra e de umidade para crescer
No sul da Bahia conhecendo Cacau cabruca, para entender o impacto social e ambiental do sistema do Cacau sustentável, muito importante na proteção do bioma da Mata Atlântica
“Mas o outro não quer ouvir!” Basta um simples ponto de apoio em qualquer lugar que permita a convergência afetiva, e você poderá mudar o mundo.
A minha provocação, que é a da Audencia também, afirma: “vamos ousar juntos fazer a mudança necessária, vamos ser a mudança desejada no mundo”. Mas também provocamos quando dizemos que não é de qualquer jeito, precisamos fazer com excelência. Senão, são só boas intenções. A palavra excelência deriva do latim excellentiae, e significa superioridade, derivada de excellere, com sentido de erguer, de ficar em um lugar mais elevado, de ser superior. Ou seja, é um aspecto norteador do como fazemos as coisas, algo atrelado à atitude das pessoas que se envolvem nas coisas, inerente às causas. O “como fazemos” define o resultado das nossas ações. Por isso um ensino de qualidade
é fundamental. E, se fazemos com excelência, estamos sempre em melhoria contínua. A questão da excelência é cultural, do indivíduo e do grupo.
É, sobretudo, uma atitude, uma postura consciente na maneira como abordamos as coisas da vida.
Os educadores das escolas de negócios precisarão sempre mais nesta década compreender a dimensão humana da excelência. Quando formos olhar para as zonas de pobreza e miséria no mundo, iremos agir para gerar negócios que irão diminuir as desigualdades planetárias por meio de projetos sistêmicos, com começo meio e fim, ou seja, com ciência e tecnologia, com formação de qualidade, agregação de valor e comércio, incluindo o cooperativismo, crédito, seguro e planejamento.
Para 2049, a projeção é de 10 bilhões de seres humanos no mundo, e em 2022
com cerca de 8 bilhões tem-se praticamente 5 bilhões de pessoas que vivem com menos de US$ 6,9 por semana para comer; dentre elas, 1 bilhão sobrevivendo com menos de US$ 1,23, ou seja, estão na zona da pobreza para a miséria e a fome. Que desafio enorme, estamos diante de um grande incômodo. Mas quanto maior o incômodo, maior pode ser a criatividade para sua solução.
Esse é mais um motivo para celebrar a vinda de um grupo de jovens da Audencia que se unirá aos jovens da CESUPA no primeiro semestre de 2025 para aprender, estudar, “curiosar”, se conectar com o nosso mundo que é o mundo de todos. Esses jovens terão uma oportunidade única de participar de cursos imersivos combinando capacitação, projetos de pesquisa bem como resolução de problemas para empresas da Amazônia, terão contato com autoridades locais e ONGs, enfim muita aprendizagem experiencial através da aplicação prática. Excelente!
Esse design thinking educacional é necessário e que venham sempre mais iniciativas como essa, para embutir empatia no processo de aprendizagem que não nega as diferenças reais entre os tantos stakeholders do mais amplo ecossistema de negócios. É respeitoso, inclusivo e prático – algo importante no mundo global dos empreendimentos, em que a complexidade corre solta e o risco do simplismo pode levar à atitude só responsiva/defensiva.
Sejam bem-vindos jovens do mundo todo ao Brasil. E aos nossos jovens, aproveitem e se conectem com o mundo!
Visitando o campus da Audencia em Nantes
Formação de qualidade, agregação de valor e comércio, incluindo o cooperativismo, crédito, seguro e planejamento [*]Coordenador
Sobrevivendo em um planeta em aquecimento
Ao construir uma ampla coalizão de parceiros em todo o espectro político, a metrópole da Flórida está fazendo tudo o que pode para manter a cidade fresca
Jane Gilbert tem um pé submerso na lama enquanto abaixa um pequeno cipreste no chão. O suor escorre por sua blusa, embora esteja quase quente para os padrões de Miami-Dade: meros 86 graus com umidade enjoativa. Gilbert e um grupo de escoteiras estão plantando 500 árvores nativas na cidade de Coral Gables, na área de Miami, para ajudar a mitigar as mudanças climáticas. “Às vezes você se sente como um girino na frente de um tsunami”, diz Gilbert, “mas há um senso de urgência porque há muitas oportunidades agora”.
Em 2021, Gilbert se tornou a primeira diretora de aquecimento do mundo, e a oportunidade a que ela se refere é uma constelação de apoio federal e local para enfrentar um dos maiores desafios do século XXI. Ela está ciente de que os ventos políticos nacionais podem mudar, então ela está trabalhando a todo vapor para fazer a mudança acontecer no nível do condado. Você pode chamar Gilbert de evangelista do aquecimento, pois ela prega os perigos do aumento das temperaturas e oferece ao povo do Condado de Miami-Dade um caminho para a salvação. Desde sua nomeação, ela ajudou
a transformar um dos lugares mais quentes do país em um farol para o planejamento urbano resiliente. Em Miami, o primeiro diretor de aquecimento do país traça um
De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, houve um recorde de 120.000 visitas ao pronto-socorro relacionadas ao calor em todo o país no ano passado. No sul da Flórida, não é mais uma questão de se, mas quando o calor se tornará intolerável. Miami-Dade não tem mais apenas verão; pode ter seis meses de temperaturas acima de 90 graus com 70 por cento de umidade. No ano passado, Miami teve 42 dias sem precedentes com um índice de calor igual ou superior a 105 graus. (Embora o termômetro possa marcar 95 graus, o índice de calor leva em consideração a umidade e reflete o quão quente ele realmente parece.)
Em comparação, nos 14 anos anteriores, o índice de calor atingiu esse nível apenas por uma média de seis dias por ano. Quando os ônibus públicos da cidade exibem placas que dizem “Go Miami Heat”, a ironia é difícil de ignorar.
Gilbert atuou anteriormente como diretor de resiliência de Miami, ajudando a desenvolver e implementar a resposta da
Gilbert e um grupo de escoteiras na cidade de Coral Gables, na área de Miami, para ajudar a mitigar as mudanças climáticas
Crianças se refrescam em um splash pad (almofada de salpicos) com tema animal no Zoo Miami. Estações de névoa também ajudam os visitantes a evitar o superaquecimento em dias escaldantes.
cidade às pressões relacionadas ao clima, como o aumento do nível do mar. Gilbert explica que historicamente o risco do calor tem sido subnotificado. Médicos e enfermeiros de pronto-socorro geralmente não pensam em identificar tonturas, convulsões e alta temperatura corporal como sintomas relacionados ao calor. Agora está claro, porém, que a exposição ao calor é a principal causa de mortes relacionadas ao clima no país.
No passado, o calor era abordado por diferentes setores do Departamento de Gestão de Emergências do condado e por planejadores urbanos. “Não havia ninguém olhando como abordar essa questão de forma mais holística”, explica Gilbert, “e então a ideia era ter uma posição que quebrasse os silos e analisasse quais são os grandes riscos à saúde e os fardos econômicos associados ao calor extremo”. O cargo foi criado pela prefeita de Miami-Dade, Daniella Levine Cava, com o apoio do Adrienne Arsht-Rockefeller Foundation Resilience Center , que trabalha com parceiros da comunidade para lidar com a crise iminente do aumento das temperaturas. Em Miami-Dade, onde a própria filantropa Adrienne Arsht viveu por muitos anos, uma pesquisa de 2020 com comunidades vulneráveis identificou sua principal preocupação relacionada ao clima como o calor, classificando-o acima do aumento do nível do mar e dos furacões. A fundação forneceu uma doação de US$ 50.000 no primeiro ano para ajudar a financiar o diretor de aquecimento. Miami-Dade cobriu o saldo e tem apoiado o cargo desde então.
Gilbert reuniu uma ampla coalizão de parceiros, do governo ao setor privado, profissionais de saúde a organizadores trabalhistas. Ela foi acompanhada por agentes de calor de Los Angeles e Phoenix, e até mesmo de lugares tão distantes quanto Grécia, Austrália, Bangladesh e Serra Leoa. Os agentes se comunicam regularmente para compartilhar informações e inovações.Em seu primeiro ano no cargo, Gilbert buscou ampla contribuição de moradores, pesquisadores e outras partes antes de redigir o “ Plano de Ação para Calor Extremo Resilient305 ”. (305 é um código de área de Miami.)
A abordagem tripla inclui educar o público, resfriar casas e instalações de emergência e resfriar bairros.
“Nós realmente vemos o oficial de calor como uma extensão da advocacia que temos feito”, diz Oscar Londoño, codiretor executivo da WeCount , uma organização de trabalhadores imigrantes no sul da Flórida. “Nós oferecemos conselhos e informações sobre suas mensagens, seus materiais educacionais, seus esforços para tentar alcançar os trabalhadores e seus empregadores”.
Uma das primeiras medidas de Gilbert foi definir a temporada de calor como de maio a outubro. Para o pontapé inicial deste ano, Gilbert correu de um evento organizado pela Câmara de Comércio para o Children’s Trust, um conselho financiado pelo estado que apoia os serviços sociais para crianças, onde ela discursou para 500 educadores. O escritório de Gilbert fornece treinamento para conselheiros de acampamento em inglês e espanhol (com materiais educacionais também disponíveis em crioulo haitiano). As sessões abrangem medidas preventivas, como limitar o esforço e usar roupas leves, bem como os sintomas de exaustão pelo calor, que incluem tontura, suor intenso e pele fria e úmida com arrepios. Pessoas de baixa renda e sem moradia são mais vulneráveis a doenças causadas pelo calor porque não têm acesso a ar condicionado e, muitas vezes, sombra. Gilbert pediu a uma equipe de voluntários que levasse pessoas sem moradia para centros de resfriamento durante o calor extremo.
Trabalhadores rurais colhem tomates cereja em Redland, Flórida. Sem nenhum padrão estadual de segurança contra o calor, trabalhadores rurais e de viveiros estão cada vez mais em risco
Um protesto do Workers Memorial Day destaca os trabalhadores que morreram no trabalho. O evento de abril ocorreu logo após investigadores federais confirmarem que Salvadore Garcia Espita, um trabalhador rural de 26 anos, morreu de insolação. Seu empregador está contestando as descobertas
Os esforços de seu escritório também levaram à instalação de 150 abrigos de ônibus, fornecendo 1.700 aparelhos de ar condicionado para famílias que vivem em moradias públicas e plantando mais de 16.000 árvores.
Aumentar a cobertura das árvores é uma prioridade porque as árvores fornecem sombra, reduzem a temperatura da superfície do solo e compensam as emissões de carbono capturando dióxido de carbono. Por quase duas décadas, Miami-Dade tem lutado para atingir sua meta de 30% de cobertura de árvores. Gilbert explica que o desenvolvimento desenfreado e os danos causados por furacões tornaram isso uma tarefa de Sísifo.
O fato de o condado não estar retrocedendo é uma conquista, ela insiste — atualmente está oscilando em torno de 20%. Este ano, Miami-Dade investirá um recorde de US$ 7 milhões no plantio de árvores, com ênfase em bairros de baixa renda, que tendem a ter menos sombra.
Ninguém entende melhor os perigos do aumento das temperaturas do que os trabalhadores ao ar livre. A Flórida tem cerca de dois milhões, em empregos que incluem agricultura, paisagismo, telhados e construção. Na Central District Wastewater Treatment Plant de Miami-Dade, a equipe de manutenção estrutural faz limpeza e reparos constantes. Vários anos atrás, a equipe mudou para semanas de quatro dias com dias de dez horas para que pudessem começar a trabalhar mais cedo, quando as temperaturas são mais baixas.
Para os salva-vidas em Haulover Beach, há muito tempo se foram as cadeiras de salva-vidas de madeira onde um guarda-sol ofe-
recia um círculo pitoresco de sombra. Hoje, torres de última geração que lembram cabanas chiques sobre palafitas alinham este trecho de Miami Beach, lar de uma das praias de roupas opcionais mais bem avaliadas do país. O piso é feito de alumínio para que os pés dos salva-vidas não queimem, e janelas funcionais permitem ventilação cruzada. Matthew Sparling, um capitão do Ocean Rescue Bureau do condado, demonstra a mais recente aquisição de seu departamento: um ar condicionado portátil que parece um cooler sobre rodas e, na verdade, usa gelo e água para soprar ar frio. Ele diz que seus 40 funcionários são responsáveis por
manter de 4.000 a 6.000 pessoas seguras todos os dias durante a alta temporada, então, se eles estiverem apáticos, a segurança do público estará em risco. A maior parte do trabalho dos salva-vidas agora é intervenção médica, geralmente relacionada ao calor, e a equipe de Sparling é treinada para identificar e tratar o estresse pelo calor, que às vezes se apresenta como um ataque cardíaco ou derrame.
Os funcionários do Condado de Miami-Dade são protegidos por uma ordem administrativa que Gilbert ajudou a redigir. Ela exige que os empregadores do condado monitorem e mitiguem o risco de calor, oferecendo treinamento especial se necessário. Mas a segurança dos funcionários em empresas privadas depende de seus chefes. No ano passado, Gilbert e o prefeito Levine Cava endossaram uma coalizão de grupos trabalhistas e defensores da saúde que redigiram uma medida que exigiria que os empregadores privados do condado permitissem intervalos de dez minutos na sombra a cada duas horas quando o índice de calor atingisse 95 graus. Mas os legisladores da Flórida aprovaram uma lei em abril que proíbe os governos locais de exigir que os empregadores forneçam descanso, água e sombra para os trabalhadores. A medida foi ainda mais longe, proibindo portarias locais que exigem que os empregadores ofereçam “medidas de primeiros socorros apropriadas ou respostas de emergência relacionadas a proteções de exposição ao calor para funcionários que relatam ter sofrido exposição excessiva ao calor”.
Graças a um programa do condado que deu 1.700 aparelhos de ar condicionado para moradores de baixa renda, Tiffany White, 41, se mantém fresca com seu filho de 21 anos e sua neta de 6 anos
Jane Gilbert é a diretora de aquecimento de Miami-Dade
Registros públicos mostram que a medida foi aprovada com lobby da Câmara de Comércio da Flórida e empresas de construção. A representante estadual Tiffany Esposito , que patrocinou o projeto de lei, insistiu que as proteções aos trabalhadores seriam ruins para os negócios. “Você quer falar sobre como podemos garantir que todos os floridianos sejam saudáveis, você faz isso garantindo que eles tenham um bom emprego”, disse ela.
“E para fornecer bons empregos, precisamos não tirar as empresas do mercado.” Os apoiadores do projeto de lei não abordaram estimativas de que as empresas da área de Miami perdem US$ 10 bilhões por ano em produtividade devido a doenças relacionadas ao calor. “Os seres humanos não foram feitos para trabalhar 10, 12 horas sem pausas em um índice de calor de 100 graus como máquinas”, diz Londoño, cuja organização ajudou a redigir a portaria anulada. “As pessoas precisam entender que isso não é normal”, ele diz, “Trabalhadores ao ar livre merecem proteções”.
No início deste ano, o Departamento do Trabalho dos EUA propôs a primeira regra nacional para evitar doenças causadas pelo calor no local de trabalho.
“Nenhum trabalhador deveria ficar doente ou morrer porque seu empregador se recusou a fornecer água, ou fazer pausas para se recuperar do calor intenso, ou não agiu depois que um trabalhador mostrou sinais de doença causada pelo calor”, declarou o departamento em uma declaração.
A regra ainda precisa ser finalizada — um processo que inclui revisão pelo público, pelo presidente e pelo Congresso. Até lá, a lei da Flórida e a legislação semelhante no Texas permanecerão em vigor.
Os floridianos às vezes relutam em reconhecer os dados que mostram um número crescente de dias extremamente quentes por períodos contínuos de tempo.
Praia de Haulover
Oscar Londoño, codiretor executivo da WeCount. Uma das campanhas do grupo, ¡Qué Calor!, foca em proteções térmicas para trabalhadores ao ar livre
(Durante nossa pesquisa para esta história, um operador turístico nos Everglades insistiu: “Não está ficando mais quente; as pessoas estão apenas ficando mais fracas.”) Grande parte do desafio de Gilbert é alertar as pessoas sobre as consequências do aumento das temperaturas e convencê-las de que algo pode e deve ser feito. Ela diz que o histrionismo apocalíptico na imprensa nem sempre é útil. Em vez disso, ela está se concentrando em medidas para mitigar o calor — as ações tangíveis que manterão Miami-Dade um lugar viável para se viver. “Ao lidar com essa crise, temos a oportunidade de também criar uma cidade melhor”, diz Gilbert com otimismo imperturbável.
Na Pria de Haulover, os salva-vidas agora trabalham em torres de fibra de vidro de última geração com decks envolventes e pisos de alumínio que não esquentam. Janelas e portas permitem uma brisa cruzada e, em dias realmente quentes, podem ser instalados condicionadores de ar portáteis alimentados por bateria
Um dos muitos objetivos de Jane Gilbert como diretora de aquecimento de Miami-Dade é aumentar a cobertura de árvores no condado. Ela recentemente se juntou a mais de cem voluntários em um plantio de árvores no Camp
Junto com as medidas agudas que ela está colocando em prática para fornecer alívio, ela prevê uma Miami que seja mais “informada sobre a natureza, caminhável, ciclável e orientada para o trânsito”. Ao plantar outro cipreste na lama, ela está demonstrando o caminho a seguir.
[*] O fotojornalista Ed Kashi é cofundador da organização sem fins lucrativos Talking Eyes Media. Com sua esposa, Julie Winokur, ele documenta questões sociais por meio de filmes, livros, artigos e projetos multimídia.
Policiais de Miami-Dade aprendem durante o treinamento a carregar um galão de água com eles o tempo todo. “Se eles vão ao banheiro, eles levam com eles”, diz um policial
Mahachee
O ciclo global da água está desequilibrado
Pela primeira vez na história da humanidade: ”a precipitação, fonte de toda a água doce, não é mais confiável”
As mudanças climáticas e a má gestão crônica da água estão colocando “estresse sem precedentes” nos sistemas hídricos do mundo, de acordo com um novo relatório
Mais da metade da produção mundial de alimentos corre o risco de entrar em colapso nos próximos 25 anos devido à crescente crise global de água, alerta um novo relatório.
As mudanças climáticas, o uso destrutivo da terra e a má gestão consistente dos recursos hídricos significam que quase 3 bilhões de pessoas e mais da metade da produção global de alimentos estão em áreas que enfrentam “estresse sem precedentes” em seus sistemas hídricos, afirmou a Comissão Global sobre Economia da Água em um relatório divulgado recentemente, em 17 de outubro 2024. Leia na íntegra em: www.watercommission.org/
Crise global da água deixa metade da produção mundial de alimentos em risco nos próximos 25 anos
Revisão histórica diz que ação urgente é necessária para conservar recursos e salvar ecossistemas que fornecem água doce
Se a tendência não for revertida, o déficit crescente terá um impacto sísmico na humanidade e no meio ambiente. Várias cidades já estão afundando devido à perda de água subterrânea. Além disso, até 8% do produto interno bruto (PIB) global e 15% do PIB de países de baixa renda serão perdidos até 2050, de acordo com o relatório.
Ilustração simplificada do ciclo hidrológico
Uma criança bebe de um recipiente de plástico em Gaza. Mais de 2 bilhões de pessoas não têm acesso à água potável segura
Fotos: Abed Zagout/Anadolu via Getty Image, Anjum Naveed/AP, OMC, Pradeep Gaur/SOPA Images/LightRocket via Getty Images.)
Moradores do acampamento Snjay em Nova Déli enchem recipientes de plástico com água de um caminhão-tanque em junho de 2026. Ondas de calor severas significam que algumas áreas da capital da Índia sofrem com escassez de água no verão
“Hoje, metade da população mundial enfrenta escassez de água”, disse Johan Rockström , diretor do Instituto de Pesquisa de Impacto Climático de Potsdam (PIK) e um dos quatro copresidentes da comissão, em uma declaração. “À medida que esse recurso vital se torna cada vez mais escasso, a segurança alimentar e o desenvolvimento humano estão em risco — e estamos permitindo que isso aconteça”.
“Pela primeira vez na história da humanidade, estamos tirando o ciclo global da água do equilíbrio”, ele continuou. “A precipitação, a fonte de toda a água doce, não pode mais ser confiável devido às mudanças climáticas e de uso da terra causadas pelo homem, minando a base do bem-estar humano e da economia global.”
Produção e demanda de água anuais passadas e projetadas por bacia nos Estados Unidos
(a) Produção de água no período passado (Bm 3 ). (b) Mudança percentual na produção de água do período passado para o meio do período futuro, média de 14 futuros. (c) Demanda de água no período passado (Mm 3 ). (d) Mudança percentual na demanda de água do período passado para o meio do período futuro, média de 14 futuros. Períodos de tempo: passado (1985–2010) e meio do futuro (2046–2070)
Cada pessoa precisa de um mínimo de 50 a 100 litros de água por dia para sua saúde e higiene, mas a comissão descobriu que esse número, no qual os governos geralmente confiam, é uma grande subestimação.
O número real para consumo adequado e uma vida digna está mais próximo de 1.055 galões (4.000 litros) por pessoa a cada dia, escreveram os autores do relatório. Esse volume é inatingível em muitas partes do mundo, colocando pressão adicional no comércio para fornecer alimentos, roupas e bens de consumo adequados. As abordagens atuais para a crise hídrica focam predominantemente na “água azul” encontrada em rios, lagos e aquíferos, enquanto negligenciam a vital “água verde” contida no solo e nas plantas. Essa água circula pelo mundo em rios atmosféricos para gerar aproximadamente metade da precipitação que cai na terra.
Áreas na Índia, China , Rússia e Europa são altamente dependentes do fluxo de água verde, colocando-as sob ameaça cada vez maior de escassez de água à medida que os sistemas climáticos são interrompidos. Nos últimos anos, a Amazônia passou por secas severas que ameaçam transformar a floresta tropical em savana , as geleiras derreteram em velocidades sem precedentes e a
Europa sofreu inundações mortais . Um estudo anterior também destacou os perigos na América do Norte, com quase metade das 204 bacias de água doce dos Estados Unidos projetadas para cair abaixo da demanda até 2071.
Para agravar o problema, há a subvalorização generalizada da água em muitas áreas. Isso permite que o uso da água em regiões já estressadas seja desviado para data centers de rápido crescimento e usinas de energia a carvão. Ao introduzir preços e subsídios adequados, mudar para dietas baseadas em vegetais, restaurar habitats naturais e reciclar águas residuais, os pesquisadores argumentam que a água pode ser distribuída de forma
mais eficiente e equitativa.
“A crise global da água é uma tragédia, mas também é uma oportunidade para transformar a economia da água — e começar a valorizá-la adequadamente para reconhecer sua escassez e os muitos benefícios que ela proporciona”, disse Ngozi Okonjo-Iweala, diretora geral da Organização Mundial do Comércio e copresidente da comissão, no comunicado. A Comissão Global sobre Economia da Água foi criada pela Holanda em 2022, usando a experiência de dezenas de cientistas e economistas para criar um relatório de 202 páginas avaliando todos os aspectos da crise atual e sugerindo soluções para os políticos.
A crise da água tem um impacto descomunal sobre as mulheres, disse um dos copresidentes da comissão
Ngozi Okonjo-Iweala , diretora geral da Organização Mundial do Comércio e copresidente da comissão
Reposição de estoque do Aquífero Guarani é insuficiente
Brasil
Uma pesquisa conduzida pelo Instituto de Geociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro percebeu que a reposição de águas do Aquífero Guarani está abaixo do necessário para garantir a manutenção da quantidade disponível no reservatório, que se estende por áreas do Sul e Sudeste do país, além de Paraguai, Uruguai e Argentina. O reservatório atende 90 milhões de pessoas, sendo responsável pela manutenção do nível de rios e lagos em algumas áreas do interior paulista durante o período de seca.
Em entrevista à Agência Brasil, o pesquisador Didier Gastmans, do Centro de Estudos Ambientais da Unesp Rio Claro, explicou que a pesquisa buscou entender a importância da chuva na entrada de águas novas no aquífero, nas áreas de afloramento (superfície), e que foi possível confirmar esse papel. Ele acompanha o tema desde 2002, em seu doutorado, e todas as pesquisas desde então apontam que os efeitos de superexploração do reservatório são constantes, contínuos e tem piorado com a mudança de distribuição das chuvas na área de afloramento, que alimenta o aquífero. O problema causa preocupação em áreas de grande produção agrícola e população, como
da América do Sul; à direita cortes verticais, mostrando a configuração do relevo (imagem fornecida pelo pesquisador)
Ribeirão Preto, no norte paulista, onde os primeiros efeitos são sentidos desde a década de 1990. “Agora começou a aumentar muito o número de poços e isso começa a dar sinais em diversas regiões do interior”, disse Gastmans.
O geólogo afirmou que os indícios de superexploração estão claros no monitoramento dos poços e do nível dos reservatórios, atingindo aqueles próximos das regiões de afloramento, que têm níveis de dois a três metros mais baixos, em média, mas também os grandes
poços de exploração para indústria e agronegócio, nos quais o rebaixamento atinge médias de 60 a 70 metros em dez anos. Nessa dinâmica “a água tem uma determinada profundidade no poço e vai baixando, o que demanda poços mais profundos e bombas mais potentes. Na porção oeste (do estado de São Paulo) a gente fala de grandes produtores e sistemas para abastecimento público. Pequenos produtores já sentem esse impacto em algumas regiões próximas da área de afloramento”, esclareceu. Esse rebaixamento dos níveis chega, em determinados pontos, a até 100 metros, considerável até para as dimensões do Aquífero, que tem níveis com 450 metros de espessura do reservatório, chegando a até 1 quilômetro de profundidade.
A maior parte do consumo do Guarani é para o abastecimento urbano, e ao menos 80% dela se concentram no estado de São Paulo. Um dos fatores que preocupa no curto prazo é que a chuva nas regiões de superfície, a partir das quais há recarga no aquífero, são muito concentradas, situação na qual apenas uma pequena parcela de chuva infiltra para o subsolo e ocorre um escoamento maior e infiltra menos. Também há impacto do aumento da evaporação nas áreas de superfície, causado pelo aumento da média de temperatura nas regiões.
Aquífero Guarani é o maior manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo, que abrange os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além de Paraguai, Uruguai e Argentina
À esquerda a posição do Aquífero Guarani no mapa
Fotos: Paulo Pinto/Agência Brasil, Valter Campanato/Agência
Gastmans criticou a falta de um conjunto claro de ações por parte dos órgãos públicos, afirmando que a primeira ação necessária é conhecer os usuários. “É necessária a implantação de um sistema de monitoramento em tempo quase real, para conhecer e dimensionar os atendimentos e as políticas de curto e médio prazo”. O segundo é consorciar água subterrânea e água superficial, para usar de maneira integrada de acordo com a disponibilidade sazonal. “Também se faz necessário pensar no planejamento futuro: sempre se fala em desenvolvimento, mas os gestores parecem ignorar que não existe desenvolvimento plenamente sustentável, pois todo desenvolvimento tem um impacto e essas pessoas precisam começar a se antecipar aos problemas”. O pesquisador da Unesp defendeu ainda a necessidade de pensar no uso de águas de melhor qualidade para abastecimento público e de águas de menor qualidade para outros usos, como irrigação de áreas extensas do setor sucroalcooleiro e de cítricos e uso industrial.
Procurada pela reportagem, a Agência de Águas do Estado de São Paulo (SP Águas) informou que monitora todos os estudos relacionados à recarga do Aquífero Guarani e dos demais
corpos d’água do estado. Segundo o órgão “a gestão do aquífero é realizada de maneira integrada com outros recursos hídricos, visando garantir o equilíbrio entre as demandas de uso e a preservação ambiental”. A maior parte da captação de água no estado de São Paulo se concentra em fontes superficiais (rios e lagos), sendo a captação em poços profundos, que acessam o Aquífero Guarani, a menor parcela do total dos recursos hídricos. “Toda captação de água no estado está sujeita à outorga, concedida somente após criteriosa análise técnica”.
Origem das águas
A pesquisa conduzida pela Unesp, com o apoio da Fapesp, agência paulista de amparo à pesquisa, usou o monitoramento de isótopos estáveis de hidrogênio e oxigênio como marcadores para identificar a origem das águas que compõem o reservatório, o que permitiu perceber as áreas de superfície que colaboram para a manutenção dos níveis do Aquífero Guarani. Também usaram um processo de datação com isótopos dos gases criptônio e hélio para datar a água de alguns poços, o que permitiu detectar idades variando de 2.600 anos, em Pederneiras, até 127 mil anos em Bebedouro, 230 mil anos em Ribeirão Preto e 720 mil anos no Paraná. A pesquisa How much rainwater contributes to a spring discharge in the Guarani Aquifer System: insights from stable isotopes and a mass balance model pode ser em: www.bit.ly/3BQ7TUo
Os efeitos de superexploração do reservatório são constantes, contínuos e tem piorado
Lago do Parque do Ibirapuera com seu volume de água secando
Mudança de distribuição das chuvas que alimentam o aquífero
Seca intensa e generalizada na América do Sul
A escassez de chuvas em 2023-2024 afetou e está afetando os rios e as águas subterrâneas da região e alterou a vida cotidiana em vários países
por *Adam Voiland
OFotos: Imagens do Observatório da Terra da NASA por Michala Garrison, usando dados Landsat do US Geological Survey , dados GRACE-FO (NASA-GFZ) disponíveis no National Drought MitigationCenter e DSCOVR EPIC da NASA. As previsões de risco de incêndio e análises hidrometeorológicas do projeto SERVIR da USAID-NASA usam dados do modelo de previsão GEOS S2S da NASA , do Land Information System (LIS) e do Integrated Multi-satellite Retrievals for GPM (IMERG), Mongabay. História de Adam Voiland .
s rios na bacia amazônica caíram para níveis recordes em outubro de 2024, enquanto a seca assolava vastas áreas da América do Sul. Meses de chuvas reduzidas amplificaram incêndios, secaram plantações, interromperam redes de transporte e interromperam a geração de energia hidrelétrica em partes do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela.
Este par de imagens Landsat ilustra o encolhimento do Rio Solimões perto de Tabatinga, uma cidade brasileira no oeste do Amazonas, perto da fronteira com o Peru e a Colômbia. A imagem acima (à direita) foi capturada pelo Operational Land Imager-2 (OLI-2) em 21 de setembro de 2024. A outra imagem (à esquerda) mostra a mesma área em 21 de setembro de 2021, quando os níveis de água estavam mais próximos do normal.
Imagem do dia 15 de outubro de 2024. Instrumentos:. DSCOVR — ÉPICO, GRAÇA-FO, Landsat 8 — OLI, Landsat 9 — OLI-2
Ver comparação das imagens
Em 4 de outubro de 2024, dados do medidor de nível do rio do Serviço Geológico Brasileiro indicaram que o Solimões havia caído para 254 centímetros abaixo da marca zero do medidor, um recorde de baixa. Os rios naquele dia também atingiram recordes de baixa perto das cidades de Porto Velho, Jirau-Justante, Fonte Boa, Itapéua, Manacapuru, Rio Acre, Beruri e Humaitá. Dados de altura da água coletados por altímetros de satélite e processados por uma equipe de cientistas da NASA relataram níveis de água anormalmente baixos em vários lagos e reservatórios brasileiros também, incluindo o Lago Tefé , Lago Mamia , Lago Mamori , Lago Ariau , Lago Faro e Lago Erepecu. A seca está relacionada em parte ao impacto persistente do El Niño , um padrão climático que esteve presente na segunda metade de 2023 e na primeira metade de 2024. O fenômeno — associado a uma camada de água anormalmente quente no Pacífico equatorial — normalmente muda os padrões de precipitação de uma forma que reduz a chuva na Amazônia, especialmente durante os meses de estação seca de julho, agosto e setembro, de acordo com Prakrut Kansara, um hidrólogo da Universidade Johns Hopkins. O Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN) do Brasil observou que uma área de calor incomum no Atlântico Norte também pode ter afetado os padrões de precipitação e contribuído para a seca. “A magnitude da seca atual é aproximadamente o dobro do que a região viu em 2015-2016, a última vez que um forte El Niño ocorreu”, disse Kansara.
Kansara faz parte de um projeto SERVIR da USAID-NASA que fornece análises retrospectivas da hidrometeorologia da região e produz previsões de risco de incêndio para o CEMADEN. A análise da equipe indicou que o oeste do Amazonas no Brasil, o norte do Peru, o leste da Colômbia e o sul da Venezuela receberam mais de 160 milímetros (6 polegadas) —
menos chuva em julho, agosto e setembro do que o normal. Durante esse período, o fluxo do rio caiu mais de quatro vezes, de acordo com Kansara.
Desde o início de 2024, as previsões sazonais da equipe alertavam que a bacia amazônica enfrentaria condições extremas de incêndio durante a estação seca. De fato, grandes plumas de fumaça envolveram o sul da Amazônia entre julho e outubro, particularmente na região do Pantanal, que abrange partes do sul do Brasil, Paraguai e Bolívia.
O Solimões havia caído para 254 centímetros abaixo da marca zero do medidor, um recorde de baixa
Imagem do dia 7 de outubro de 2024
Fumaça saindo dos incêndios no Pantanal em 3 de setembro de 2024
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil e do Serviço de Monitoramento da Atmosfera Copernicus mostram que a região do Pantanal — e especialmente a Bolívia — experimentou uma de suas piores temporadas de incêndios em décadas. O gerador de imagens EPIC (Earth Polychromatic Imaging Camera) da NASA no satélite DSCOVR (Deep Space Climate Observatory) capturou a imagem da fumaça saindo dos incêndios no Pantanal mostrada abaixo em 3 de setembro de 2024.
A falta de chuvas, a baixa umidade do solo e o rebaixamento das águas subterrâneas ajudaram a amplificar os incêndios e fizeram com que eles se espalhassem mais rápido e mais longe. O mapa acima mostra o armazenamento de águas subterrâneas rasas para a semana de 7 de outubro de 2024, conforme medido pelos satélites Gravity Recovery and Climate Experiment Follow-On (GRACE-FO). As cores representam o percentual de umidade, ou como a quantidade de águas subterrâneas rasas se compara aos registros de longo prazo (1948-2010). As áreas azuis têm mais água do que o normal, e as áreas laranja e vermelhas têm menos.
“A baixa precipitação no Pantanal durante a estação chuvosa do ano passado — aproximadamente de novembro a fevereiro — predispôs esta região a um risco maior de incêndio”, disse Doug Morton, um cientista do sistema terrestre baseado no Goddard Space Flight Center da NASA. “No mapa GRACE, você também vê um forte sinal de seca ao norte no Peru, Colômbia, Venezuela e oeste do Brasil — a fonte de muitos dos rios que ago-
ra estão secando na Amazônia central”. Os impactos da seca têm sido de longo alcance. As notícias indicam que a seca tem prejudicado o fornecimento de energia no Brasil e no Equador, já que as usinas hidrelétricas geram menos eletricidade. Redes de transporte emaranhadas e rios intransitáveis deixaram algumas comunidades com dificuldades para obter suprimentos, de acordo com a Reuters. A seca também está afetando a pesquisa científica. “Trabalhamos com colegas no Peru,
Brasil e Equador em um sistema de previsão de alerta precoce para malária que não conseguiu acessar alguns locais de pesquisa devido aos baixos níveis de água”, disse Kansara.
O CEMADEN chamou a seca atual de a mais intensa e disseminada que o Brasil já experimentou. Uma atualização da seca publicada em 3 de outubro indicou que o número de municípios brasileiros enfrentando seca extrema estava prestes a aumentar de 216 em setembro para 293 até o final de outubro.
Imagem do dia 3 de setembro de 2024
Em meio a uma seca extrema e sem precedentes, quase todos os principais rios da Amazônia registraram seus níveis mais baixos da história
Rios atmosféricos nos polos mudam padrões climáticos do mundo
Os rios atmosféricos estão se deslocando em direção aos polos, remodelando os padrões climáticos globais
por *Zhe Li Fotos: Bin Guan, NASA/JPL-Caltech
e UCLA,
Desenhos
de NOAA Climate.gov, adaptado de originais do Climate Prediction Center, NASA/Earth Observatory/Jesse Allen, NASA/Goddard Space Flight Center Scientific Visualization Studio, NOAA Climate.gov
Rios atmosféricos – aquelas faixas longas e estreitas de vapor de água no céu que trazem chuvas pesadas e tempestades para a Costa Oeste dos EUA e muitas outras regiões – estão se deslocando em direção a latitudes mais altas, e isso está mudando os padrões climáticos ao redor do mundo.
A mudança está piorando as secas em algumas regiões, intensificando as inundações em outras e colocando em risco os recursos hídricos dos quais muitas comunidades dependem. Quando os rios atmosféricos alcançam o norte do
aos polos. Vários são visíveis nesta imagem de satélite
Ártico, eles também podem derreter o gelo marinho , afetando o clima global. Em um novo estudo publicado na Science Advances, a cientista climática Qinghua Ding e eu da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, mostramos que os rios atmosféricos mudaram cerca de 6 a 10 graus em direção aos dois polos nas últimas quatro décadas.
Rios atmosféricos em movimento
Rios atmosféricos não são apenas uma coisa da Costa Oeste dos EUA. Eles se formam em muitas partes do mundo e fornecem mais da metade
Uma reação em cadeia global
Taxas médias mensais de chuva global. A sequência começa em março, quando o verão está chegando ao fim no Hemisfério Sul. As maiores taxas de chuva no mapa (azul) ocorrem ao sul do equador, e lugares como Madagascar, norte da Austrália e o sul da Floresta Amazônica estão perto do fim de suas estações chuvosas. Em junho, esses lugares estão secos, e os locais tropicais do Hemisfério Norte, incluindo Índia, Sudeste Asiático e África ao sul do Saara, estão recebendo chuva.
A imagem mostra um rio atmosférico com origem no Sudeste Asiático se movendo pelo Pacífico Norte e chegando ao sudeste do Alasca
Rios atmosféricos são longos filamentos de umidade que se curvam em direção
Migração sazonal do cinturão de chuvas tropicais
do escoamento médio anual nessas regiões, incluindo as costas do Sudeste e Costa Oeste dos EUA , Sudeste Asiático, Nova Zelândia , norte da Espanha, Portugal , Reino Unido e centro-sul do Chile.
A Califórnia depende de rios atmosféricos para até 50% de sua precipitação anual. Uma série de rios atmosféricos de inverno pode trazer chuva e neve suficientes para acabar com uma seca , como partes da região viram em 2023.
Embora os rios atmosféricos compartilhem uma origem similar – suprimento de umidade dos trópicos – a instabilidade atmosférica da corrente de jato permite que eles se curvem em direção aos polos de maneiras diferentes. Não há dois rios atmosféricos exatamente iguais.
O que interessa particularmente aos cientistas do clima, incluindo nós, é o comportamento coletivo dos rios atmosféricos. Rios atmosféricos são comumente vistos nos extratrópicos , uma região entre as latitudes de 30 e 50 graus em ambos os hemisférios que inclui a maior parte dos EUA continentais, sul da Austrália e Chile. Nosso estudo mostra que os rios atmosféricos têm se deslocado em direção aos polos nas últimas quatro décadas. Em ambos os hemisférios, a atividade aumentou ao longo de 50
graus norte e 50 graus sul, enquanto diminuiu ao longo de 30 graus norte e 30 graus sul desde 1979. Na América do Norte, isso significa mais rios atmosféricos encharcando a Colúmbia Britânica e o Alasca.
Uma das principais razões para essa mudança são as mudanças nas temperaturas da superfície do mar no Pacífico tropical oriental . Desde 2000, as águas no Pacífico tropical oriental têm tido uma tendência de resfriamento , que afeta a circulação atmosférica em todo o mundo. Esse resfriamento, fre -
quentemente associado às condições de La Niña , empurra os rios atmosféricos em direção aos polos.
O movimento dos rios atmosféricos em direção aos polos pode ser explicado como uma cadeia de processos interconectados. Durante as condições de La Niña, quando as temperaturas da superfície do mar esfriam no Pacífico tropical oriental, a circulação de Walker – grandes voltas de ar que afetam a precipitação conforme sobem e descem sobre diferentes partes dos trópicos – se fortalece sobre o Pacífico ocidental. Essa circulação mais forte faz com que o cinturão de chuvas tropicais se expanda. A precipitação tropical expandida, combinada com mudanças nos padrões de redemoinhos atmosféricos, resulta em anomalias de alta pressão e padrões de vento que direcionam os rios atmosféricos mais para os polos.
Por outro lado, durante as condições do El Niño , com temperaturas mais altas da superfície do mar, o mecanismo opera na direção oposta, deslocando os rios atmosféricos para que não se afastem tanto do equador. As mudanças levantam questões importantes sobre como os modelos climáticos preveem mudanças futuras nos rios atmosféricos. Os modelos atuais podem subestimar a variabilidade natural , como mudanças no Pacífico tropical, que podem afetar significativamente os rios atmosféricos. Entender essa conexão pode ajudar os meteorologistas a fazer melhores previsões sobre padrões futuros de precipitação e disponibilidade de água.
La Niña, com água mais fria no Pacífico oriental, desaparece, e El Niño, com água mais quente, começa a se formar no Oceano Pacífico tropical em 2023 Assista a Animação em: www.bit.ly/3YuahsA
Rios atmosféricos ocorrem em todo o mundo, como mostra esta animação de dados globais de satélite de fevereiro de 2017 Assista a Animação em: www.bit.ly/3Y35v3S
Por que essa mudança em dire- ção aos polos é importante?
Uma mudança nos rios atmosféricos pode ter grandes efeitos nos climas locais. Nos subtrópicos, onde os rios atmosféricos estão se tornando menos comuns, o resultado pode ser secas mais longas e menos água. Muitas áreas, como a Califórnia e o sul do Brasil , dependem de rios atmosféricos para que as chuvas encham os reservatórios e sustentem a agricultura. Sem essa umidade, essas áreas podem enfrentar mais escassez de água, colocando estresse em comunidades, fazendas e ecossistemas.
Em latitudes mais altas, os rios atmosféricos que se movem em direção aos polos podem causar chuvas mais extremas, inundações e deslizamentos de terra em lugares como o noroeste do Pacífico dos EUA , Europa e até mesmo em regiões polares.
No Ártico, mais rios atmosféricos podem acelerar o derretimento do gelo marinho , aumentando o aquecimento global e afetando os animais que dependem do gelo. Um estudo anterior em que estive envolvido descobriu que a tendência na atividade fluvial atmosférica no verão pode contribuir com 36% da tendência crescente na umidade do verão em todo o Ártico desde 1979.
O que isso significa para o futuro
Até agora, as mudanças que vimos ainda refletem principalmente mudanças devido a processos naturais, mas o aquecimento global induzido pelo homem também desempenha um papel. Espera-se que o aquecimento global aumente a frequência e a intensidade geral dos rios atmosféricos porque uma atmosfera mais quente pode reter mais umidade. Como isso pode mudar à medida que o planeta continua a aquecer é menos claro. Prever mudanças futuras permanece incerto devido, em grande parte, à dificuldade em prever as oscilações naturais entre El Niño e La Niña , que desempenham um papel importante nas mudanças dos rios atmosféricos.
À medida que o mundo fica mais quente, os rios atmosféricos – e as chuvas críticas que eles trazem – continuarão mudando de curso . Precisamos entender e nos adaptar a essas mudanças para que as comunidades possam continuar prosperando em um clima em mudança.
Mapas ilustrando os impactos típicos de inverno de La Niña (acima) e El Niño (abaixo) e como a corrente de jato é afetada
Uma imagem de satélite em 20 de fevereiro de 2017 mostra um rio atmosférico que se estende do Havaí até a Califórnia, onde trouxe chuvas torrenciais.
Águas rasas são os melhores sumidouros de carbono
Distribuição e fatores que impulsionam a sedimentação de Carbono Orgânico ao longo das margens continentais
Ofitoplâncton marinho absorve carbono atmosférico e o carrega para o fundo do mar quando morre e afunda (um processo conhecido como sedimentação de carbono orgânico). Essa bomba biológica de carbono é uma parte poderosa do ciclo de carbono da Terra, mas os cientistas não têm uma imagem completa das taxas de sedimentação de carbono orgânico marinho.
Em um artigo publicado no AGU Advances, Tegler e colegas compilaram recentemente essas taxas em áreas de margem continental para ajudar a chegar a um quadro global do transporte de carbono marinho para o fundo do mar.
Muitos estudos fizeram inferências sobre a bomba com base nas condições da água da superfície, por exemplo, usando imagens de satélite para estimar a abundância de clorofila, um
As regiões pretas mostram margens continentais com batimetria <1.500 m. (a) Mostra amostras que incluem sedimentação de OC terrestre e marinha. Os triângulos são dados entre 0 e 1.000 m e os círculos são dados entre 1.000 e 1.500 m. (b) Inclui apenas sedimentos com OC dominado por marinho. Os triângulos são dados de 0 a 1.000 m e os círculos são dados de 1.000 a 1.500 m.
Algas, como essas que florescem no Mar Báltico, podem capturar carbono quando morrem e afundam no fundo do mar
Mapa global de sedimentos compilados com sedimentação de carbono orgânico (OC)
por *Saima May Sidik, União Geofísica Americana
Fotos: AGU Advances, Contém dados modificados do Copernicus Sentinel (2019), processados pela Agência Espacial Europeia, CC BY-SA IGO 3.0, Logan A. Tegler et al,
pigmento presente no fitoplâncton que permite que as plantas colham energia da luz solar. No novo estudo, os pesquisadores se concentraram em estimativas obtidas por meio de análises geoquímicas de sedimentos oceânicos. Essas estimativas são mais difíceis de obter, mas oferecem uma maneira mais direta de medir a sedimentação de carbono.
A vasta maioria da matéria orgânica que cai no fundo do oceano (cerca de 92%) o faz em regiões marginais perto dos continentes, revelou sua análise.
O oxigênio ajuda os micróbios a quebrarem a matéria orgânica, então alguns pesquisadores especularam que a matéria orgânica tem mais probabilidade de permanecer intacta — e, portanto, cair no fundo do oceano e ser enterrada — em áreas com baixo teor de oxigênio.
No entanto, um estudo recente sugere que menos de 4% da sedimentação global de carbono orgânico ocorre em áreas com baixos níveis de oxigênio no fundo da água, talvez devido à presença de outros produtos químicos que ajudam a decompor a matéria orgânica.
A abundância de clorofila na superfície do oceano também não pareceu se correlacionar com as taxas de sedimentação de matéria orgânica, uma descoberta contraintuitiva considerando que quando o fitoplâncton é mais abundante, mais deve afundar
(região b) ilustrando o fluxo de trabalho de criação de compartimentos de profundidade e o resultado da interpolação entre pontos de dados. (a) Triângulos rosa indicam dados entre 0 e 1.000 m de profundidade de água e círculos amarelos estão entre 1.000 e 1.500 m, (b) regiões de interesse recortadas ao redor dos dados, (c) área do fundo do mar de 0 a 1.000 m de profundidade de água dentro da área recortada regionalmente, (d) área do fundo do mar de 1.000 a 1.500 m de profundidade de água dentro da área recortada regionalmente, (e) fluxos de carbono orgânico (OC) interpolados dentro do compartimento de profundidade de 0–1.000 m, (f) fluxos de OC interpolados dentro do compartimento de profundidade de 1.000–1.500 m. Os valores finais foram determinados pela soma dos fluxos em cada região. Este processo foi repetido para cada região de interesse
Fluxo de sedimentação de carbono orgânico marinho (CO) através do globo ao longo das margens. Geralmente, maiores taxas de deposição de CO são encontradas nos oceanos Pacífico Nordeste e Pacífico Equatorial Ocidental. Curiosamente, taxas elevadas de CO também foram observadas em partes da costa da Antártida e do Oceano Ártico. Fluxos de CO relativamente baixos definem as margens do Atlântico ocidental. Regiões sem sombreamento usaram estimativas tabuladas anteriormente
e ficar enterrado no sedimento. Medir a prevalência do fitoplâncton é desafiador, no entanto, e os autores escrevem que estudos adicionais sobre a relação entre a abundância do fitoplâncton e as taxas de sedimentação são necessários.
O fator mais influente na sedimentação de carbono em áreas oceânicas marginais, de acordo com a pesquisa, parece ser a profundidade da água, com profundidades rasas correlacionando-se com as maiores taxas de sedimentação de carbono.
Os pesquisadores observam que a matéria orgânica simplesmente não tem tanto tempo para se decompor ao transitar por águas mais rasas, permitindo que mais dela alcance o fundo do oceano.
[*] AGU Advances/American Geophysical Union
Mapas da Margem da Califórnia
Manguezais têm potencial de gerar R$ 49 bilhões em crédito de carbono
Compensação pode beneficiar comunidades tradicionais
Fotos: Fernando Frazão/Agência Brasil, Guardiões do Mar, Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Os manguezais brasileiros armazenam um estoque de dióxido de carbono (CO₂) avaliado em pelo menos R$ 48,9 bilhões no chamado mercado de carbono. Esses ecossistemas marcam uma transição entre ambientes marinhos e terrestres e apresentam água salobra – mistura da água salgada e doce. Esse valor é estimado a partir de 1,9 bilhão de toneladas de CO₂ armazenadas em 13.906 quilômetros quadrados (km²) ao longo da costa brasileira, área equivalente a nove cidades de São Paulo. O CO₂, também chamado de gás carbônico, é um dos principais gases causadores do efeito estufa e contribui para aquecer a temperatura do planeta.
Manguezais da Baía de Guanabara estocam carbono azul
13.906 quilômetros quadrados (km²) ao longo da costa brasileira
Assim, manter o carbono estocado na vegetação é uma forma de evitar o aquecimento da Terra. Indo além, é uma forma de gerar riqueza a partir do mercado de carbono, que consiste na compra de créditos para compensar passivos de poluição. Por exemplo, uma empresa que exerce atividade poluidora – petroleira ou siderúrgica, por exemplo – pode comprar créditos de carbono como forma de compensar a poluição que ela provoca. Esses créditos podem ser gerados pelos “vende-
dores” por meio de ações de recuperação ambiental ou simplesmente pela manutenção e preservação da floresta.
Um crédito de carbono equivale a uma tonelada de CO₂, tendo sido comercializado no Brasil a US$ 4,6 (R$ 25,85). Esse valor se refere ao mercado voluntário de carbono, praticado no país.
Em uma economia de baixo carbono estima-se que esse crédito pode ser negociado a US$ 100 (R$ 562), levando a valorização do estoque dos manguezais brasileiros para R$ 1,067 trilhão.
As economias de baixo carbono são aquelas em que há mais interesse em reduzir as emissões de gases poluentes e que negociam o carbono no mercado
Recheados de “carbono azul”
Guapimirim (RJ) Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) no manguezal do Rio Macacu, que desagua na Baía de Guanabara, na Área de Proteção Ambiental de Guapi-Mirim
Manter o carbono estocado na vegetação é uma forma de evitar o aquecimento da Terra
regulado (em vez do voluntário), que impõe a obrigação de diminuir a liberação de CO₂ na atmosfera.
O cálculo financeiro do potencial de mitigação das mudanças climáticas atribuído aos manguezais faz parte do estudo Oceano sem Mistérios: carbono azul dos manguezais, divulgado na quinta-feira (24) pelo projeto Cazul, ligado à organização não-governamental Guardiões do Mar. É a primeira vez que uma pesquisa desse tipo é feita em escala nacional.
Lançamento
O levantamento foi lançado durante a 16ª Conferência de Biodiversidade da Organização das Nações Unidas (COP 16), que ocorreu em Cali, na Colômbia.
O trabalho científico e ambiental inédito é apoiado pela Fundação Grupo Boticário, instituição sem fins lucrativos do Grupo Boticário dedicada à proteção da natureza.
A plataforma Cazul utilizou imagens de satélite e dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para mapear as áreas de mangue no país.
O mapeamento revela que o Brasil tem manguezais em 16 dos 17 estados litorâneos, especialmente no Pará, Maranhão e Amapá. O Rio Grande do Sul é o único estado do litoral brasileiro sem a presença de mangues.
Em todo o país são 300 municípios com o ecossistema. A costa amazônica detém a maior faixa contínua de manguezais do mundo.
Os mais de 13 mil quilômetros quadrados (km²) de manguezais na costa posicionam o Brasil com 8% das áreas de mangue do mundo, perdendo apenas para a Indonésia, que detém 20%.
O estudo aponta que, nos últimos 27 anos, o estoque de carbono azul no Brasil se expandiu, em média, 2,9 milhões de toneladas por ano. Isso representa que o potencial do reservatório nacional no mercado de compensação ambiental pode aumentar anualmente de R$ 75,2 milhões (mercado voluntário) a R$ 1,6 bilhão (cenário desejável em uma economia de baixo carbono).
Carbono azul
Durante o processo de respiração das plantas, a fotossíntese, as árvores absorvem CO₂ da atmosfera.
Solo dos manguezais, formado por lama - também chamada de substrato
É necessário saber quanto tudo isso custará e quem pagará a conta
Área de manguezal recuperada após desastre ambiental, no Parque Natural Municipal Barão de Mauá, na margem da Baía de Guanabara
Parte do gás volta ao ambiente externo, e o restante é armazenado nos caules, troncos, galhos, raízes e demais estruturas, tanto acima como abaixo do solo. Assim se forma o estoque de carbono que deixou de ser emitido na atmosfera. Em ecossistemas marinhos e costeiros, como os mangues, esse carbono é conhecido como carbono azul.
A pesquisadora Laís Oliveira, líder executiva da plataforma Cazul, explica que a característica do solo dos manguezais, formado por lama (também chamada de substrato), contribui para que a capacidade de sequestro de carbono seja até cinco vezes maior que a de outras florestas. “Essa lama é um sedimento superfino, tem pouco espaço entre as partículas. Esse pouco espaço faz com que tenha menos oxigênio, e esse menos oxigênio faz com que tudo se decomponha muito mais lentamente. Por se decompor mais lentamente, essa matéria orgânica demora mais a liberar carbono na atmosfera”, detalha Laís à Agência Brasil, durante uma expedição no Parque Natural Municipal Barão de
Mauá, em Magé, na região metropolitana do Rio de Janeiro, onde há iniciativas de conservação de manguezais. “Quando a gente desmata essas áreas, além de perder esse estoque que está na biomassa sobre a superfície, a gente perde também aquele que está armazenado no solo. Por isso é tão importante manter as florestas em pé”, adverte Laís.
Comunidades tradicionais
A pesquisadora acredita que a plataforma Cazul é uma forma de fazer a sociedade conhecer melhor o valor do carbono azul. Ela defende que com o desenvolvimento do mercado de carbono, populações que vivam e contribuam para a conservação desses ecossistemas devem ser beneficiadas pelos recursos gerados.
“As comunidades mais afetadas pela atividade poluidora são as que mais precisam ser beneficiadas pelos recursos de pagamento de soluções ambientais e do crédito de carbono”, diz Laís Oliveira.
Ela cita como exemplo o projeto Uçá, da Guardiões do Mar. Uçá é um tipo de caranguejo encontrado nos manguezais: “tem um mecanismo de pagamento de serviços ambientais que beneficia diretamente a comunidade que faz o recolhimento de lixo das áreas de mangue da Baia de Guanabara”.
Filho de pescadores, o fundador da ONG Guardiões do Mar, Pedro Belga, reforça a importância de recursos do mercado de carbono chegarem a comunidades tradicionais, como quilombolas, agricultores familiares, catadores de caranguejos, quebradeiras de coco, caiçaras e marisqueiros, entre outros.
“Eles são quem vivem no ambiente e do ambiente, daquele extrativismo no local. É uma tendência: os povos tradicionais estão se organizando; fóruns estão sendo criados. A Confrem é um exemplo disso, para discutir esse mercado, que precisa chegar nessas pontas”, afirma Pedro, se referindo à Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas, Povos e Comunidades Tradicionais Extrativistas Costeiras e Marinha (Confrem).
A pesquisadora Laís Oliveira, da Plataforma Cazul, na Estação Ecológica da Guanabara
Início à operação LimpaOca na Baia de Guanabara, do projeto Uçá, pelos Guardiões do Mar
Guardiões do Mar do Projeto UÇÁ reforçam compromisso com a conservação ambiental
O fundador da Guardiões do Mar critica a prática do greenwashing, termo em inglês utilizado para expressar a prática enganosa de empresas que propagam iniciativas “verdes”, porém sem ações efetivas.“Essas empresas precisam iniciar um processo de descarbonização, não é só comprar o crédito. É preciso descarbonizar gradualmente”, sugere
Regulamentação
Para a pesquisadora Laís, a divulgação do valor financeiro do estoque de carbono nos manguezais brasileiros funciona também como uma forma de fazer pressão pela regulamentação do mercado de carbono no país:
“É um estímulo. Acho que o Brasil está um pouco atrasado. A gente tem que fazer pressão.” A regulamentação do mercado de carbono no país tramita no Congresso Nacional. O Projeto de Lei 182/2024 institui o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE). A matéria já passou pela Câmara dos Deputados, onde foi aprovada em 2023.
“Se a gente conseguir chegar nisso é bom, porque gera uma obrigação legal de compensação desses poluidores, enquanto no mercado voluntário não tem essa obrigação. E também, comparando com outros países que já têm mercado regulado, o valor estipulado para o crédito de carbono é sempre mais alto que no mercado voluntário”, observa Laís.
Berçários marinhos
A oceanógrafa Liziane Alberti, especialista em conservação da biodiversidade na Fundação Grupo Boticário, apresenta outros fatores que evidenciam os manguezais como “heróis da conservação”. Segundo ela, o ecossistema atua como berçário da vida
marinha. “Cerca de 80% das espécies de peixes, crustáceos e moluscos dependem desse ambiente em alguma fase de vida”, assinala. “Funcionam também como escudos naturais, protegendo da erosão, da tempestade e do aumento do nível do mar. Também
atuam como filtros poderosos, purificando e absorvendo poluentes e contribuindo para a qualidade da água”, acrescentou Liziane à Agência Brasil, durante uma imersão em área de manguezais na Praia de Piedade, em Magé. As principais ameaças para o ecossistema são o desmatamento para extração de carvão vegetal e madeira; desenvolvimento urbano, como construções indevidas; produção de alimentos como arroz, palma e camarão; pesca predatória, sem respeito ao período de defeso das espécies; poluição (resíduos químicos, agrotóxicos, derramamento de óleo, lixo e esgoto); e aumento do nível do mar, que diminui as áreas com condições propícias à sobrevivência dos manguezais. No começo de 2024, o BNDES lançou um fundo para incentivar a conservação de manguezais brasileiros, com investimentos próximos de R$ 50 milhões.
O levantamento da Cazul indica que o Brasil já perdeu 25% da vegetação original dos manguezais, sendo que 60% das perdas foram ocasionadas por ações humanas
A ocenógrafa Liziane Alberti, especialista em conservação da biodiversidade da Fundação Grupo Boticário, com a Baía de Guanabara ao fundo
O caranguejo aratu-vermelho (Goniopsis cruentata) em manguezal na Piedade banhado pelo Rio Majé, que desagua na Baía de Guanabara
Florestas oceânicas: como os manguezais “flutuantes” poderiam proporcionar uma ampla gama de benefícios ecológicos e sociais
por *Benno Boer, Andrew Dansie, Lavina Sequera, Martin Zimmer, Oleg Shipin, Véronique Helfer e Stephanie Murr, The Conversation
Orelatório de 2022 “O Estado dos Mangais no Mundo” estima que desde 1996, 5.245 quilómetros quadrados de mangais foram perdidos devido a atividades humanas como a agricultura, a exploração madeireira, o desenvolvimento do turismo, a aquicultura costeira e as alterações climáticas, e que apenas 147.000 km2 permanecem . . É um facto bem conhecido que os mangais estão entre os ecossistemas marinhos mais produtivos do mundo, localizados no início da cadeia alimentar marinha (a produtividade da biomassa pelas plantas é chamada de produtividade primária). Servem como viveiro natural para peixes e também fornecem proteção contra a erosão costeira.
Causas do declínio das florestas de mangais é a exploração ilegal de madeira para produção de madeira e carvão, que causou o desaparecimento de milhares de quilômetros quadrados de mangais
Concepção artística de como seria uma estrutura de sustentação de manguezais flutuantes. Aptum Architecture/CEMEX , Fornecido pelo autor
Fotos: Aptum Architecture/CEMEX , Fornecido pelo autor, UNEP, ZMT
Uma das principais causas do declínio das florestas de mangais é a exploração ilegal de madeira para produção de madeira e carvão , que causou o desaparecimento de milhares de quilômetros quadrados de mangais.
Este processo precisa não apenas ser interrompido, mas também revertido, e com urgência. Todas as florestas de mangais precisam de ser conservadas e restauradas se quisermos alcançar os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, em particular o ODS 14, vida abaixo da água ; ODS 15, vida terrestre ; e ODS 7, energia limpa e acessível , no contexto da aceleração das alterações climáticas.
Ao mesmo tempo, a madeira oferece uma alternativa renovável aos combustíveis fósseis, como o carvão, o petróleo e o gás, que são os principais motores das alterações climáticas.
A madeira também é uma matéria-prima segura, pois é totalmente reciclável. Então, como podemos equilibrar estas duas necessidades urgentes?
Uma ideia que está sendo testada é a viabilidade de florestas flutuando no oceano.
Florestas flutuantes
No ambiente natural, os manguezais estão restritos às zonas intertidais tropicais e algumas subtropicais, com exposição mínima às ondas: na maré baixa, ficam expostos ao oxigênio e, na maré alta, obtêm umidade do mar. Não crescem em terra seca, nem em áreas permanentemente cobertas pela água do oceano. Estas restrições deixam apenas um estreito nicho ecológico onde podem prosperar.
Mas e se os manguezais pudessem flutuar? Se assim for, a faixa estreita que agora é adequada para eles poderia ser significativamente ampliada para incluir vastas extensões de superfície oceânica.
Se fosse possível que os mangais crescessem nos oceanos, flutuando no topo, então eles poderiam, teoricamente, sequestrar grandes quantidades de carbono, ao mesmo tempo que ajudariam a reconstruir a alimentação, a pesca e a restaurar os ecossistemas naturais de carbono azul . Em comparação com as florestas terrestres, poderiam ter capacidades de sequestro de carbono grandes e duradouras.
Num ambiente natural, algumas espécies de mangal requerem exposição regular tanto à água doce como à água salgada . No entanto, espécies como Avicennia marina e Rhizophora mucronata podem tolerar água do mar em plena concentração durante todo o seu ciclo de vida. Num estudo de 2014, “Manguezais flutuantes: a solução para reduzir os níveis de carbono atmosférico e a poluição marinha terrestre?” , fornecemos evidências de que poderiam ser cultivadas em cima do oceano, sem a necessidade de irrigação, bombeamento ou drenagem de água doce, o que consumiria energia.
Manguezais flutuantes foram testados em um local experimental, com o objetivo de tornar mais verde um cais de barcos flutuantes. Para compreender melhor o seu desenvolvimento em larga escala, precisamos de saber mais sobre os requisitos de energia, amarração e transporte, viabilidade financeira e custos de manutenção. Outras questões importantes incluem a concepção das estruturas nas quais as florestas de mangais cresceriam e os materiais utilizados – os detritos plásticos reciclados dos oceanos são uma opção.
Manguezais flutuantes foram testados em um local experimental, com o objetivo de tornar mais verde um cais de barcos flutuantes
Bebês manguezais sendo cultivados para testes. Fornecido pelo autor
Áreas potencialmente disponíveis para florestas de mangue “flutuantes”
Os dados deverão ser fornecidos pela Universidade de Nova Gales do Sul, num próximo estudo que será realizado no Oceano Pacífico.
As plantações flutuantes de mangais não substituiriam as florestas costeiras, mas serviriam para reduzir as pressões sobre os recursos sobre elas. A gestão costeira que integra plantações flutuantes com mangais costeiros fortaleceria os serviços ecossistêmicos . Além disso, a concepção e a localização dos “pontões” – os contentores onde os mangais crescem e flutuam – ofereceriam uma atenuação adicional das ondas e uma medida de proteção costeira.
Energia limpa, carbono sequestrado
As árvores baseadas na água do mar poderiam funcionar como uma fonte nova e limpa de energia, melhorar os serviços ecossistêmicos e os meios de subsistência das comunidades costeiras, como fornecimento descentralizado de energia, bem como para o sequestro de carbono atmosférico. Além do estudo de 2014, pesquisas adicionais foram realizadas por Ashley (2019) e Kiran (2022).
O desenvolvimento de um protótipo e mais testes são necessários, juntamente com alguma investigação básica, para desenvolver esta tecnologia promissora para obter dados e conhecimentos com
base científica antes de potencialmente desenvolvê-la para uma aplicabilidade mais ampla e possivelmente lucrativa, que pode ser útil para a produção de biocombustível.
Estão em curso discussões sobre a necessidade de investigação científica entre a UNESCO, a UNSW em Sydney, a AIT em Banguecoque e o Centro Leibniz para Investigação Marinha Tropical (ZMT) em Bremen, para demonstrar que este novo sistema para a produção de árvores à base de água do mar, pode funcionar
como uma fonte nova e limpa de energia, melhorar os serviços ecossistémicos e os meios de subsistência das comunidades costeiras, bem como para o sequestro de carbono atmosférico.
Mais dados necessários
Uma questão chave para a concretização do conceito de mangue flutuante é quanta biomassa poderia ser produzida e utilizada na forma de energia lenhosa. As necessidades globais estão a aumentar, conforme sublinhado por uma apresentação feita no Blue Carbon Forum em Janeiro de 2023 , em Yokohama, Japão. Em 2021, o mercado global de aparas de madeira situou-se em 8,8 mil milhões de dólares e deverá crescer para 13,1 mil milhões de dólares até 2027. No mesmo período, o mercado global de carvão crescerá de 5 mil milhões de dólares para cerca de 7 mil milhões de dólares até 2027.
Também é essencial saber quanto carbono poderia ser sequestrado. Outras questões importantes incluem custos de investimento, design, materiais, proteção contra ondas de alta energia e vento, bem como rentabilidade potencial. Há fortes evidências de que este sistema inovador funcionaria, no entanto, é necessário um maior desenvolvimento para encontrar respostas robustas a estas e outras questões.
Os manguezais do mar poderiam funcionar como uma fonte nova e limpa de energia, bem como para o sequestro de carbono atmosférico
O Estado dos Mangais no Mundo 2022
[*] Chefe de Ciências Naturais, escritório de Bangkok, Unesco [**] Professor sênior e líder acadêmico, engenharia humanitária, UNSW Sydney [***] Pesquisa Científica, Unesco [****] Professor de ecologia de manguezais, Centro Leibniz de Pesquisa Marinha Tropical (ZMT) [*****] Professor adjunto, gestão de engenharia ambiental, Instituto Asiático de Tecnologia, [******] Cientista sênior, Centro Leibniz de Pesquisa Marinha Tropical (ZMT)
Sinais de perigo para o sumidouro de carbono da natureza
Árvores e terra absorveram quase nenhum CO 2 no ano passado. O sumidouro de carbono da natureza está falhando? O colapso repentino dos sumidouros de carbono não foi considerado nos modelos climáticos – e pode acelerar rapidamente o aquecimento global
por Daniel Scheschkewitz
Começa todos os dias ao cair da noite. À medida que a luz desaparece, bilhões de zooplânctons, crustáceos e outros organismos marinhos sobem à superfície do oceano para se alimentar de algas microscópicas, retornando às profundezas ao nascer do sol. Os resíduos desse frenesi — a maior migração de criaturas da Terra — afundam no fundo do oceano, removendo milhões de toneladas de carbono da atmosfera a cada ano.
Esta atividade é um dos milhares de processos naturais que regulam o clima da Terra. Juntos, os oceanos, florestas, solos e outros sumidouros naturais de carbono do planeta absorvem cerca de metade de todas as emissões humanas . Mas à medida que a Terra esquenta, os cientistas estão cada vez mais preocupados que esses processos cruciais estejam falhando.
Em 2023, o ano mais quente já registrado, descobertas preliminares de uma equipe internacional de pesquisadores mostram que a quantidade de carbono absorvida pela terra entrou em colapso temporário.
comedor de algas a mais luz solar, o que pode reduzir a quantidade de carbono armazenado no fundo do mar.
O resultado final foi que florestas, plantas e solo – como uma categoria líquida – absorveram quase nenhum carbono. Também há sinais de alerta no mar. As geleiras da Groenlândia e as camadas de gelo do Ártico estão derretendo mais rápido do que o esperado, o que está interrompendo a corrente oceânica Gulf Stream e diminuindo a taxa de absorção de carbono pelos oceanos.
As camadas de gelo do Ártico estão derretendo mais rápido do que o esperado
Para o zooplâncton comedor de algas, o derretimento do gelo marinho está expondo-o a mais luz solar – uma mudança que os cientistas dizem que pode mantê-lo nas profundezas por mais tempo, interrompendo a migração vertical que armazena carbono no fundo do oceano.
Nenhum destes modelos teve em conta perdas como os incêndios florestais no Canadá no ano passado, que representaram seis meses de emissões fósseis nos EUA. Andrew Watson, Universidade de Exeter
“Estamos vendo rachaduras na resiliência dos sistemas da Terra. Estamos vendo rachaduras enormes na terra – ecossistemas terrestres estão perdendo seu estoque de carbono e capacidade de absorção de carbono, mas os oceanos também estão mostrando sinais de instabilidade”, disse Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático, em um evento na Semana do Clima de Nova York em setembro.
“A natureza até agora equilibrou nosso abuso. Isso está chegando ao fim”, ele disse. A quebra do sumidouro de carbono terrestre em 2023 pode ser temporária: sem as pressões
Fitoplâncton no Mar Báltico. O derretimento do gelo marinho expõe o zooplâncton
Fotos: Karen Robinson
da seca ou dos incêndios florestais, a terra voltaria a absorver carbono novamente. Mas demonstra a fragilidade desses ecossistemas, com implicações massivas para a crise climática.
Alcançar o net zero é impossível sem a natureza. Na ausência de tecnologia que possa remover o carbono atmosférico em larga escala, as vastas florestas, pastagens, turfeiras e oceanos da Terra são a única opção para absorver a poluição de carbono humano, que atingiu um recorde de 37,4 bilhões de toneladas em 2023. Pelo menos 118 países estão contando com a terra para atingir metas climáticas nacionais. Mas o aumento das temperaturas, o aumento do clima extremo e as secas estão empurrando os ecossistemas para um território desconhecido. O tipo de colapso rápido do sumidouro de terra visto em 2023 não foi levado em consideração na maioria dos modelos climáticos. Se continuar, ele aumenta a perspectiva de aquecimento global rápido além do que esses modelos previram.
“Fomos acalmados – não conseguimos ver a crise”
Seus padrões climáticos estáveis permitiram o desenvolvimento da agricultura moderna, que agora sustenta uma população de mais de 8 bilhões de pessoas. À medida que as emissões humanas aumentaram, a quantidade absorvida pela natureza também aumentou: mais dióxido de carbono pode significar que as plantas crescem mais rápido, armazenando mais carbono . Mas esse equilíbrio está começando a mudar, impulsionado pelo aumento do calor.
Os sumidouros de carbono terrestres da Terra — florestas , pântanos , pastagens e solo — são essenciais para absorver o dióxido de carbono atmosférico , regular a temperatura do planeta e mitigar as mudanças climáticas
“Este planeta estressado tem nos ajudado silenciosamente e nos permitido esconder nossa dívida debaixo do tapete graças à biodiversidade”, diz Rockström. “Estamos embalados em uma zona de conforto – não conseguimos realmente ver a crise”
Apenas uma grande floresta tropical – a bacia do Congo – continua sendo um forte sumidouro de carbono que remove mais do que libera na atmosfera. Exacerbada pelos padrões climáticos do El Niño, desmatamento e aquecimento global, a bacia amazônica está passando por uma seca recorde, com rios em seu nível mais baixo de todos os tempos. A expansão da agricultura transformou as florestas tropicais do sudeste da Ásia em uma fonte líquida de emissões nos últimos anos.
Um barco turístico no parque nacional Odzala-Kokoua, na República do Congo. A bacia do Congo é a única floresta tropical que remove consistentemente mais CO2 do que libera.
Nos últimos 12.000 anos, o clima da Terra existiu em um equilíbrio frágil
Parque nacional Odzala-Kokoua, parte da bacia do Congo na África Central, a única floresta tropical que remove consistentemente mais CO2 do que libera
As emissões do solo – que é o segundo maior estoque de carbono ativo depois dos oceanos – devem aumentar em até 40% até o final do século se continuarem no ritmo atual, à medida que os solos se tornam mais secos e os micróbios os decompõem mais rapidamente.
Tim Lenton, professor de mudanças climáticas e ciência do sistema terrestre na Universidade de Exeter, diz: “Estamos vendo na biosfera algumas respostas surpreendentes que não são o que foi previsto, assim como estamos vendo no clima.
“Você tem que questionar: até que ponto podemos confiar neles como sumidouros ou armazenadores de carbono?”, ele diz. Um artigo publicado em julho descobriu que, embora a quantidade total de carbono absorvida pelas florestas entre 1990 e 2019 tenha sido estável, ela variou substancialmente por região. As florestas boreais — lar de cerca de um terço de todo o carbono encontrado em terra, que se estendem pela Rússia, Escandinávia, Canadá e Alasca — tiveram uma queda acentuada na quantidade de carbono que absorvem, queda de mais de um terço devido a surtos de besouros relacionados à crise climática, incêndios e desmatamento para madeira.
Combinado com o declínio da resiliência da Amazônia e as condições de seca em partes dos trópicos, as condições quentes nas florestas do norte ajudaram
de algas marinhas, ressurgência artificial e ressurgência artificial, intemperismo de rochas aprimorado, captura direta do oceano e fertilização de ferro do
a impulsionar o colapso do sumidouro de terra em 2023 – causando um pico na taxa de carbono atmosférico.
“Em 2023, a acumulação de CO 2 na atmosfera é muito alta e isso se traduz em uma absorção muito, muito baixa pela biosfera terrestre”, afirma Philippe Ciais, pesquisador do Laboratório Francês de Ciências Climáticas e Ambientais, que foi um dos autores do artigo mais recente .
“No hemisfério norte, onde você tem mais da metade da absorção de CO 2 , temos visto uma tendência de declínio na absorção por oito anos”, ele diz. “Não há nenhuma boa razão para acreditar que ela irá se recuperar.”
Os oceanos – o maior absorvedor de
CO 2 da natureza – absorveram 90% do aquecimento causado por combustíveis fósseis nas últimas décadas, impulsionando um aumento nas temperaturas do mar. Estudos também encontraram sinais de que isso está enfraquecendo o sumidouro de carbono do oceano.
‘Nenhum dos modelos levou isso em consideração’
O fluxo de carbono através da terra e do oceano continua sendo uma das partes menos compreendidas da ciência climática, dizem os pesquisadores. Embora as emissões humanas sejam cada vez mais simples de medir, o grande número e a complexidade dos processos no mundo natural significam que há lacunas importantes em nossa compreensão.
Vários métodos baseados no oceano para remoção de CO 2: Da esquerda para a direita, cultivo
oceano
A tecnologia de satélite melhorou o monitoramento de florestas, turfeiras, permafrost e ciclos oceânicos, mas avaliações e previsões em relatórios internacionais frequentemente têm grandes margens de erro. Isso torna difícil prever como os sumidouros naturais de carbono do mundo se comportarão no futuro – e significa que muitos modelos não levam em consideração uma quebra repentina de múltiplos ecossistemas.
“No geral, os modelos concordaram que tanto o sumidouro terrestre quanto o oceânico vão diminuir no futuro como resultado das mudanças climáticas. Mas há uma questão de quão rápido isso vai acontecer. Os modelos tendem a mostrar que isso vai acontecer bem lentamente nos próximos 100 anos ou mais”, diz o Prof. Andrew Watson, chefe do grupo de ciências marinhas e atmosféricas da Universidade de Exeter.
“Isso pode acontecer muito mais rápido”, ele diz. “Os cientistas do clima [estão] preocupados com a mudança climática não por causa das coisas que estão nos modelos, mas pelo conhecimento de que os modelos estão perdendo certas coisas.”
Muitos dos modelos mais recentes de sistemas da Terra usados por cientistas incluem alguns dos efeitos do aquecimento global na natureza, fatorando impactos como a morte da Amazônia
ou a desaceleração das correntes oceânicas. Mas eventos que se tornaram grandes fontes de emissões nos últimos anos não foram incorporados, dizem os cientistas.
“Nenhum desses modelos levou em conta perdas como fatores extremos que foram observados, como os incêndios florestais no Canadá no ano passado, que somaram seis meses de emissões fósseis dos EUA. Dois anos antes, escrevemos um artigo que descobriu que a Sibéria também perdeu a mesma quantidade de carbono”, diz Ciais.
“Outro processo que está ausente dos modelos climáticos é o fato básico de que as árvores morrem por causa da seca. Isso é observado e nenhum dos modelos tem mortalidade induzida pela seca em sua representação do sumidouro de terra”, ele diz. “O fato de os modelos não terem esses fatores provavelmente os torna muito otimistas”.
‘O que acontece se os sumidouros naturais pararem de funcionar?’
As consequências para as metas climáticas são severas. Mesmo um enfraquecimento modesto da capacidade da
Bombeiros combatendo o incêndio florestal de Tsah Creek na Colúmbia Britânica. Os incêndios florestais do ano passado no Canadá liberaram tanto carbono quanto seis meses de emissões de combustíveis fósseis dos EUA
Uma área explorada perto de Inari. O desaparecimento do sumidouro de terras da Finlândia nos últimos anos cancelou os ganhos da redução de emissões industriais em 43%
natureza de absorver carbono significaria que o mundo teria que fazer cortes muito mais profundos nas emissões de gases de efeito estufa para atingir o zero líquido. O enfraquecimento dos sumidouros de terra — que até agora tem sido regional — também tem o efeito de cancelar o progresso das nações na descarbonização e o progresso em direção às metas climáticas, algo que está se mostrando uma luta para muitos países. Na Austrália, enormes perdas de carbono do solo devido ao calor extremo e à seca no vasto interior – conhecido como pastagens – provavelmente empurrarão sua meta climática para fora do alcance se as emissões continuarem a aumentar, descobriu um estudo deste ano . Na Europa, França, Alemanha , República Tcheca e Suécia experimentaram declínios significativos na quantidade de carbono absorvido pela terra, impulsionados por surtos de besouros da casca relacionados ao clima, seca e aumento da mortalidade de árvores.
A Finlândia, que tem a meta de neutralidade de carbono mais ambiciosa do mundo desenvolvido, viu seu outrora enorme sumidouro de terras desaparecer nos últimos anos – o que significa
que, apesar de reduzir suas emissões em todos os setores em 43%, as emissões totais do país permaneceram inalteradas. Até agora, essas mudanças são regionais. Alguns países, como China e EUA, ainda não estão vivenciando tais declínios.
“A questão dos sumidouros naturais nunca foi realmente pensada adequadamente nos campos político e governamental. Foi assumido que os sumidouros naturais sempre estarão conosco. A verdade é que não os entendemos realmente e não achamos que eles sempre estarão conosco. O que acontece se os sumidouros naturais, nos quais eles confiavam anteriormente, pararem de funcionar porque o clima está mudando?” diz Watson. Nos últimos anos, várias estimativas foram publicadas sobre como o mundo poderia aumentar a quantidade de carbono que suas florestas e ecossistemas naturais absorvem.
Mas muitos pesquisadores dizem que o verdadeiro desafio é proteger os sumidouros e estoques de carbono que já temos, interrompendo o desmatamento, cortando emissões e garantindo que eles sejam o mais saudáveis possível.
“Não deveríamos depender de florestas naturais para fazer o trabalho. Realmente, realmente temos que lidar com a grande questão: emissões de combustíveis fósseis em todos os setores”, diz o Prof. Pierre Friedlingstein da Universidade de Exeter, que supervisiona os cálculos anuais do Orçamento Global de Carbono. “Não podemos simplesmente presumir que temos florestas e que elas removerão algum CO2 , porque isso não vai funcionar a longo prazo”.
O que acontece se os sumidouros naturais pararem de funcionar?
Fungos são uma das maiores riquezas da biodiversidade da região
Amazônica, diz
pesquisador
do Inpa
Os fungos são os organismos com a maior diversidade na região amazônica e são apontados como uma potencial fonte de promoção do desenvolvimento socioeconômico. É o que aponta O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), João Vicente de Souza, que foi o palestrante dos Seminários da Amazônia com a palestra “Prioridades de Pesquisa com Fungos para valorização, desenvolvimento humano e preservação da Amazônia” na qual abordou a potencialidade de estudo dos fungos Amazônicos.
Para Souza os microorganismos, fungos, são uma das maiores riquezas da região amazônica que precisam ser melhor aproveitadas e também são um grande desafio. A pressão pelo desmatamento da floresta para a agropecuária e a abertura de estradas, como a Rodovia Álvaro Maia (BR-319), são algumas das ameaças ao conhecimento desses seres vivos e que são pouco conhecidos em relação à sua distribuição na Amazônia.
“Nós, como pesquisadores, não temos a menor ideia do tamanho da quantidade de espécies de microorganismos, e no atual cenário demoraremos ainda para ter uma ideia e estimar o número de espécies desses organismos. Existe uma tomada de decisão que estamos vivendo no momento, se vamos pensar no agora, queimar e gastar tudo, ou se sonhamos com uma civilização mais avançada, com uma bioindústria mais desenvolvida”, explica.
Os microorganismos são fontes potenciais de desenvolvimento por estarem envolvidos em diversas cadeias de transformação e na criação de novos produtos como combustíveis. O pesquisador apresentou algumas áreas de pesquisas prioritárias na Amazônia e as possibilidades
de pesquisas com fungos que beneficiam o ser humano, como a descoberta de novos antibióticos. Souza destaca, ainda, que pesquisas com fungos trazem soluções para doenças que desafiam a sociedade como a esporotricose.
Seminários da Amazônia
Os Seminários acontecem duas vezes no mês, às 16h, no Centro de Convivência, campus 1 do Instituto. A depender da necessidade ou oportunidade, sessões extras podem ocorrer, inclusive com mudança de local. O evento é presencial (sem transmissão), aberto ao público e gratuito.
O próximo Seminários da Amazônia será no dia 29 de agosto com a pesquisadora Camila Ribas com o tema “Amazônia em movimento: biogeografia, evolução e conservação”.
Prioridades de Pesquisa com Fungos para valorização, desenvolvimento humano e preservação da Amazônia
João Vicente de Souza, Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI)
João Vicente abordando a potencialidade de estudo dos fungos Amazônicos
Fotos: Victor Mamede - Ascom Inpa
[*] Redação - Inpa
Acredite ou não, esta paisagem exuberante é a Antártida
A vegetação está se espalhando a uma velocidade alarmante em um lugar onde as temperaturas estão subindo.
por Daniel Scheschkewitz
Uma região de aquecimento rápido da Antártida está ficando mais verde com uma velocidade chocante. Imagens de satélite da região revelam que a área coberta por plantas aumentou quase 14 vezes ao longo de 35 anos — uma tendência que estimulará uma rápida mudança nos ecossistemas antárticos.
“É o início de uma transformação dramática”, diz Olly Bartlett, especialista em sensoriamento remoto da Universidade de Hertfordshire em Hatfield, Reino Unido, e autor do estudo 1 , publicado hoje na Nature Geoscience , que relata esses resultados. Bartlett e seus colegas analisaram imagens tiradas entre 1986 e 2021 da Península Antártica — uma parte do continente que se projeta para o norte em direção à ponta da América do Sul. As fotos foram tiradas pelos satélites Landsat operados pela NASA e pelo US Geological Survey em março, que é o fim da estação de crescimento da vegetação na Antártica.
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Para avaliar quanta terra estava coberta com vegetação, os pesquisadores aproveitaram as propriedades das plantas em crescimento: plantas saudáveis absorvem muita luz vermelha e refletem muita luz infravermelha próxima. Cientistas podem usar medições de luz por satélite nesses comprimentos de onda para determinar se um pedaço de terra é coberto por plantas prósperas. A equipe descobriu que a área da península coberta de plantas cresceu de menos de um quilômetro quadrado em 1986 para quase 12 quilômetros quadrados em 2021 (veja ‘Uma terra gelada fica verde’). A taxa de expansão foi aproximadamente 33% maior entre 2016 e 2021 em comparação com o período de estudo de quatro décadas como um todo.
“Esses números nos chocaram”, diz Thomas Roland, coautor do estudo e cientista ambiental da Universidade de
Fotos: Dan Charman
Do branco ao verde Humanos, mamíferos marinhos, pinguins e outras aves marinhas coexistem na Península Antártica ao lado de navios e edifícios
À medida que os musgos
como estes na Ilha Ardley — se espalham para regiões anteriormente cobertas de gelo, eles irão construir uma camada de solo, potencialmente oferecendo um habitat para espécies invasoras
Exeter, Reino Unido. “É simplesmente essa taxa de mudança em uma área extremamente isolada e extremamente vulnerável que causa o alarme.”
A pesquisa é “realmente importante”, diz Jasmine Lee, uma cientista de conservação do British Antarctic Survey em Cambridge, Reino Unido. Outros estudos encontraram evidências de que a vegetação na península está mudando em resposta às mudanças climáticas, “mas este é o primeiro estudo que adotou uma abordagem em larga escala para observar toda a região”, diz ela.
Visitas anteriores dos autores à península os levaram a pensar que a maior parte da vegetação é musgo.
Conforme os musgos se espalham para paisagens anteriormente cobertas de gelo, eles construirão uma camada de solo, oferecendo um habitat para outras formas de vida vegetal, diz Roland.
“Há um enorme potencial aqui para ver um aumento adicional na quantidade de espécies não nativas e potencialmente invasoras”, ele diz. Isso é preocupante porque a flora nativa da Antártida é adaptada a condições extremas e pode não ser capaz de competir com o fluxo de outras espécies, diz Lee.
Os pesquisadores apontam para a mudança climática como o motor da mudança da paisagem de branco para verde. As temperaturas na península aumentaram quase 3°C desde 1950, o que é um aumento muito maior do que o observado na maioria das partes do planeta. A taxa “fenomenal” de expansão da vegetação, diz Roland, destaca as mudanças sem precedentes que os humanos estão impondo ao clima da Terra.
Gramado de musgo ou carpete, Ilha Barrientos (62° S)
Musgo cobre rochas em Norsel Point, um braço de uma ilha na Península Antártica
Ferro: o metal de transição primordial da vida
Todo organismo vivo usa pequenas quantidades de metais para realizar funções biológicas, incluindo respirar, transcrever DNA, transformar alimentos em energia ou qualquer outro processo essencial da vida
por *Universidade de Michigan
Avida usa metais dessa forma desde que organismos unicelulares flutuavam nos primeiros oceanos da Terra. Quase metade das enzimas — proteínas que realizam reações químicas nas células — dentro dos organismos requerem metais, muitos dos quais são metais de transição nomeados pelo espaço que ocupam na tabela periódica. Agora, uma equipe de cientistas da Universidade de Michigan, Instituto de Tecnologia da Califórnia e Universidade da Califórnia, Los Angeles, argumenta que o ferro foi o primeiro e único metal de transição da vida. Seu estudo, intitulado “Ferro: metal de transição primordial da vida”, foi publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences-PNAS.
A vida moderna requer muitos íons metálicos diferentes, que permitem diversas funções bioquímicas. É comumente assumido que as disponibilidades ambientais dos íons metálicos controlavam a evolução da vida inicial. Argumentamos que a evolução só pode explorar a química que a vida encontra, e interações químicas fortuitas entre íons metálicos e compostos biológicos só podem ser selecionadas se ocorrerem primeiro com frequência suficiente. Calculamos as concentrações máximas de íons metálicos de transição no oceano antigo, determinando que as quantidades de íons
metálicos de transição biologicamente importantes eram ordens de magnitude menores do que o ferro ferroso. Sob tais condições, bioligantes primitivos interagiriam predominantemente com Fe(II). Embora as interações com outros metais em certos ambientes possam ter fornecido oportunidades evolutivas, as capacidades bioquímicas de Fe(II), aglomerados de Fe–S ou o magnésio e cálcio abundantes poderiam ter satisfeito todas as funções necessárias para a vida inicial. Organismos primitivos poderiam ter usado Fe(II) exclusivamente para suas necessidades de íons metálicos de transição
“Fazemos uma proposta radical: o ferro foi o metal de transição original e único da vida”, disse Jena Johnson, professora assistente no Departamento de Ciências da Terra e do Meio Ambiente da UM.
“Argumentamos que a vida dependia apenas de metais com os quais ela pudesse interagir, e o oceano primitivo rico em ferro tornaria outros metais de transição essencialmente invisíveis.” Para investigar essa ideia, Johnson se juntou à professora da UCLA Joan Valentine e ao pesquisador do Caltech Ted Present.
Fotos: Jena Johnson, PNAS, Universidade de Michigan, wollertz / depositphotos.com
Fósseis marinhos antigos da era da Grande Oxidação
O ferro desempenha um papel fundamental na vida na Terra desde os primeiros dias dos organismos unicelulares que navegavam pelos mares primitivos do planeta
Química bioinorgânica, Valentine se interessou em como a vida primitiva evoluiu de microscópica para a proliferação de organismos complicados que existem hoje. Especificamente, ela se perguntou quais metais foram incorporados em enzimas durante a vida primitiva para que os organismos pudessem realizar os processos vitais necessários. Repetidamente, ela ouviu outros pesquisadores dizerem que, na primeira metade da história da Terra, os oceanos estavam cheios de ferro. “Você tem que entender que na minha área de bioquímica e química bioinorgânica, na medicina e na vida, o ferro é um oligoelemento. Esses são elementos que estão presentes apenas em pequenas quantidades”, disse Valentine. “Quando esses caras me disseram que o ferro não era um oligoelemento, isso me deixou perplexo”.
A abundância de ferro em oceanos antigos o tornou um ator-chave nos primeiros processos biológicos, como sugerem pesquisas recentes. A acessibilidade desse metal influenciou o desenvolvimento das funções metabólicas da vida, com sua disponibilidade reduzida pós-oxigenação marcando uma mudança fundamental no uso biológico de metais
Johnson, cujo grupo estuda formações de ferro e biogeoquímica oceânica primitiva, e Ted Present estavam familiarizados com evidências geológicas sugerindo que os oceanos pri -
Sul
mitivos eram ricos em ferro — especificamente, um íon de ferro chamado Fe(II). O Fe(II) pode ser facilmente dissolvido em água e teria sido o metal primário encontrado nos oceanos durante o Éon Arqueano, um período geológico que começou há cerca de 4 bilhões de anos e terminou há cerca de 2,5 bilhões de anos.
O fim do Éon Arqueano foi marcado por algo chamado de Grande Evento de Oxigenação. Nessa época, a vida desenvolveu a capacidade de realizar fotossíntese produtora de oxigênio. Ao longo do próximo bilhão de anos, o oceano da Terra se transformou de um mar anóxico e rico em ferro no corpo de água oxigenado de hoje, de acordo com os pesquisadores. Isso também oxidou Fe(II) em Fe(III), tornando-o insolúvel.
Embora Johnson e Present tenham dito que os geólogos sabiam da onipresença do ferro na Terra naquela época, foi somente quando começaram a conversar com Valentine que perceberam o quão grande o impacto que o ferro pode ter tido na vida primitiva.
Close de uma formação de ferro com bandas de magnetita da África do Sul
Perfuração de núcleo de formação de ferro arqueana da África do
Para examinar o impacto potencial, Present projetou um modelo que atualizou as previsões das concentrações de certos metais, incluindo ferro, manganês, cobalto, níquel, cobre e zinco, que poderiam estar disponíveis nos oceanos da Terra quando a vida começou.
O grupo foi capaz de estimar a concentração máxima e a disponibilidade desses elementos para a vida mais antiga, disse ele.
“A coisa que mudou mais dramaticamente quando o Grande Evento de Oxigenação ocorreu não foi realmente a concentração desses outros elementos-traço”, disse Present. “A coisa que mudou mais dramaticamente foi uma diminuição nas concentrações de ferro dissolvido. As implicações para o que isso significava para a vida e como ela ‘vê’ os elementos na água não tinham sido realmente discutidas”.
Depois que o grupo determinou quais metais estavam disponíveis nos oceanos primitivos, eles exploraram a quais metais essas biomoléculas simples se ligariam nessas soluções ricas em ferro.
“Percebemos que o ferro teria que fazer quase tudo”, disse Johnson.
“As biomoléculas podem capturar magnésio e ferro, mas o zinco não está entrando — talvez o níquel possa entrar em algumas biomoléculas nas circuns-
tâncias certas, mas o zinco não é competitivo. O cobalto é invisível. O manganês é bem invisível. Essa diferença de ordem de magnitude na concentração de ferro nos oceanos teve esse efeito realmente tangível no que as biomoléculas podem ‘ver’ e se ligar do ambiente”.
Para determinar se o ferro funcionaria em metaloenzimas que atualmente dependem de outros metais, Valentine e Johnson pesquisaram a literatura científica para descobrir como a vida usa certos metais hoje.Em cada caso, eles encontraram exemplos de como ferro ou magnésio
poderiam ser substituídos. Embora uma metaloenzima possa usar um certo tipo de metal, como zinco, eles descobriram que isso não significa que seja o único metal que a enzima pode usar.
“Zinco e ferro são um exemplo realmente dramático porque o zinco é absolutamente essencial para a vida agora”, disse Valentine. “A ideia de vida sem zinco era realmente difícil para mim pensar até que nos aprofundamos nisso e percebemos que, enquanto você não tiver oxigênio por perto para oxidar seu ferro de Fe(II) para Fe(III), o ferro é frequentemente melhor do que o zinco nessas enzimas”.
Present disse que, uma vez que o ferro foi oxidado e não estava mais tão disponível biologicamente como antes do Grande Evento de Oxigenação, a vida teve que encontrar outros metais para conectar às suas enzimas.
“A vida, diante de ordens de magnitude de mais ferro do que outros metais, não poderia saber evoluir para uma maneira tão sofisticada de gerenciá-los”, disse Present. “A queda da abundância de ferro forçou a vida a gerenciar esses outros metais para sobreviver, mas isso também permitiu novas funções e a diversidade de vida que temos hoje”.
O Grande Evento de Oxigenação. A Primeira Massa da Terra. A coisa que mudou mais dramaticamente foi uma diminuição nas concentrações de ferro dissolvido
Idade do Ferro
Zinco e ferro são um exemplo realmente dramático porque o zinco é absolutamente essencial para a vida agora
Anéis de árvores comprovam aumento do nível do mar e diminuição das florestas costeiras
Condições de crescimento
de espécies de árvores relativas às mudanças climáticas e ao aumento do nível do mar em florestas costeiras baixas do Atlântico Médio
por *LeeAnn Haaf et al/Frontiers
Aluz do sol filtra-se através da copa de pinheiros, azevinhos, eucaliptos e bordos vermelhos, enquanto os chamados dos pássaros ecoam à distância. Essas florestas costeiras podem parecer outras no Atlântico Médio, mas um desafio oculto se aproxima. Erguendo-se ao lado de seus vizinhos de pântanos salgados, onde o vento carrega o forte aroma da água do mar sulfídica, essas árvores são mais do que apenas parte da paisagem — elas são monumentos vivos de um ambiente em rápida mudança.
À medida que o nível do mar sobe, o futuro dessas florestas é incerto. Enquanto os pântanos salgados adjacentes podem se adaptar às águas invasoras, as árvores, vulneráveis à frequência crescente de inundações de água salgada, enfrentam uma perspectiva mais sombria. Além disso, as temperaturas estão aumentando e os padrões de chuva estão mudando. Por quanto tempo a floresta
pode suportar a pressão de um clima em mudança? Quando elas finalmente sucumbirão a uma maré crescente?
Marés crescentes
As florestas costeiras ocupam terras baixas logo acima do nível do mar, situadas ao lado de pântanos de maré. Sendo baixas e próximas a canais de maré, essas florestas podem inundar com água salgada, o que pode acontecer algumas vezes por ano ou apenas durante as tempestades mais severas. No entanto, conforme o nível do mar sobe, a fronteira entre a terra e o mar empurra para cima, levando a inundações mais frequentes.
Os pântanos de maré constroem elevação dinamicamente ou migram para cima, mantendo suas posições em relação às inundações. As florestas, no entanto, são muito menos adaptáveis. Ao longo das bordas inferiores, árvores individuais começam a morrer, forçando a floresta a recuar até que o que resta seja um cemitério de árvores mortas — conhecido como “floresta fantasma”. Aqui, plantas de pântano tolerantes ao
Em algumas áreas costeiras, acres de árvores mortas são um testemunho da invasão da água salgada
Florestas que podem inundar com água salgada, o que pode acontecer algumas vezes por ano ou...
Fotos: LeeAnn Haaf, Sandra Cross
sal, como a capim-cordão-liso (Spartina alterniflora), criam raízes e formam um tapete verde abaixo dos restos da floresta outrora próspera. Essa mudança é benéfica para pântanos de maré, permitindo que eles se expandam mesmo diante da erosão ou outras ameaças, mas ocorre às custas da floresta costeira.
A dura realidade dessa transição já é aparente em muitas áreas costeiras, onde hectares de árvores mortas são um testemunho da invasão da água salgada. O recuo da floresta costeira pode resultar em perda de biodiversidade e, talvez, sequestro de carbono; se nada mais, representa a perda de espaço crítico de amortecimento entre a terra e o mar.
A inclinação do terreno desempenha um papel na determinação de onde essas florestas recuam, mas a variabilidade é suficiente para deixar os administradores de terras questionando: onde as florestas recuarão e onde os pântanos de maré tomarão seu lugar? O gerenciamento proativo é primordial, pois, uma vez que as árvores começam a morrer, provavelmente é tarde demais para alterar seu destino.
Para antecipar essas mudanças, é essencial entender as sutilezas que ocorrem antes da morte das árvores. Sinais de estresse podem ser obtidos a partir do quão bem as árvores estão crescendo à medida que as inundações aumentam, a temperatura sobe e os padrões de precipitação mudam. Esses sinais apontam para quais condições podem eventualmente levar à morte das árvores e, dependendo de outras características da floresta, onde as florestas costeiras são mais vulneráveis ao recuo.
Anéis de árvores mostram efeitos altamente específicos da elevação do nível do mar
Um estudo , publicado em Frontiers in Forests and Global Change, investigou isso usando a dendrocronologia, a análise dos anéis de crescimento das árvores, para explorar relações entre inundações, variáveis climáticas e condições específicas do local. A dendrocronologia nos permite entender as condições sob as quais as árvores prosperam ou lutam, com anéis de crescimento mais estreitos indicando períodos de estresse. Tradicionalmente, correlações simples têm sido usadas para estudar essas relações, mas os pesquisadores empregaram uma técnica diferente: regressão linear impulsionada por gradiente.
Analisando os anéis de crescimento das árvores
Quando as árvores em áreas costeiras morrem, um cemitério de árvores mortas — conhecido como “floresta fantasma” — é deixado para trás. Plantas de pântano tolerantes ao sal criam raízes e formam um tapete verde abaixo dos restos da floresta outrora próspera
Essa abordagem de aprendizado de máquina pode revelar complexidades que correlações podem não perceber, como padrões de crescimento não lineares em um espectro de condições ambientais. Eles aplicaram esse método em quatro locais, com três espécies de árvores comuns a florestas costeiras em Nova Jersey e Delaware: pinheiro-loblolly, pinheiro-bravo e azevinho-americano.
Os pesquisadores levantaram a hipótese de que o aumento do nível do mar levaria à redução do crescimento entre
as espécies. No entanto, os resultados foram muito mais sutis. Os efeitos do aumento do nível do mar no crescimento das árvores variaram dependendo da temperatura, precipitação e local. Em um local, eles descobriram que o azevinho americano cresceu melhor quando os níveis de água no inverno eram mais altos. Os pinheiros loblolly pareciam vulneráveis aos níveis de água no outono.
Eles também observaram respostas de crescimento não lineares frequentes, pintando um quadro mais complicado de como essas florestas reagem ao aumento do nível do mar e às mudanças climáticas. A equipe também analisou se os resultados impulsionados pelo gradiente indicavam que as árvores se sairiam melhor ou pior sob mudanças previstas na temperatura, precipitação e níveis de água. As descobertas revelaram poucos padrões consistentes, destacando a influência de espécies e fatores específicos do local na vulnerabilidade geral.
Aprendendo a gerir florestas costeiras
Antes que as árvores cheguem ao ponto sem retorno, os impactos das mudanças ambientais em seu crescimento são tudo menos simples. Em alguns ca-
de crescimento das árvores, para explorar as relações entre inundações, variáveis climáticas e condições específicas do local. Crédito: Sandra Cross
sos, as mudanças climáticas podem até aumentar a resiliência ao aumento de inundações. Por exemplo, o pinheiro loblolly, situado em sua distribuição mais ao norte nos locais de estudo, poderia se beneficiar de invernos mais quentes, talvez compensando algum estresse causado por inundações.
Da mesma forma, o azevinho americano mostrou resultados marcadamente diferentes entre os dois locais, possivelmente devido a variações na disponibilidade de umidade. Esses e outros fatores provavelmente contribuem para a variabilidade em como e quando florestas costeiras específicas recuarão em resposta à elevação do nível do mar. No geral, os efeitos das mudanças climáticas e do aumento da frequência de inundações nas florestas costeiras são complexos e muitas vezes não lineares, destacando a necessidade de estratégias diferenciadas de manejo florestal.
A dendrocronologia pode ser usada para datar anéis de árvores no ano exato em que foram formados em uma árvore
No futuro, estudos dendrocronológicos semelhantes podem servir como ferramentas valiosas para avaliar a vulnerabilidade das florestas costeiras às mudanças climáticas e à elevação do nível do mar. As descobertas da equipe visam informar os esforços de gestão de terras, ajudando a encontrar um equilíbrio entre a conservação das florestas costeiras e dos pântanos de maré, dadas as crescentes pressões das mudanças climáticas e da elevação do nível do mar.
[*] Frontiers
Uma ‘floresta fantasma’ pode ser o resultado de florestas costeiras sendo inundadas com água salgada
A Dra. LeeAnn Haaf (na foto) e colegas usaram a dendrocronologia, a análise dos anéis
Caminhos para a descarbonização
Espera-se que metade das reduções de emissões necessárias para atingir as metas de net-zero até 2050 venham de tecnologias ainda não disponíveis em escala
por
Este relatório fornece análises da perspectiva dos fornecedores sobre a cadeia de valor, caminhos de descarbonização, desafios e oportunidades para o aumento de escala de tecnologias de emissão zero. Os fornecedores são um ator fundamental nesse ecossistema, pois são fundamentais para impulsionar a inovação, testar tecnologias de baixo carbono e levar essas soluções ao mercado, influenciando assim as emissões posteriores em toda a cadeia de valor global. O relatório é informado por lições aprendidas do First Movers Coalition (FMC) e do recém-lançado First Suppliers Hub. Ele analisa os desafios e oportunidades enfrentados pelos fornecedores nos sete setores da FMC, compreendendo a remoção de dióxido de carbono, além dos seis setores de alta emissão que representam ~25% das emissões globais de gases de efeito estufa: aviação, transporte marítimo, transporte rodoviário, alumínio, cimento/concreto e aço. O First Suppliers Hub (FSH), lançado na Reunião Anual do Fórum em Davos-Klosters em janeiro de 2024, é um repositório global onde os fornecedores fornecem informações sobre seus projetos de baixo carbono e se conectam com membros do FMC, formuladores de políticas e financiadores que buscam aumentar a disponibilidade de materiais e serviços de baixo carbono. Este relatório e o FSH foram desenvolvidos em colaboração com a Deloitte Consulting.
Os membros da FMC se comprometem a comprar grandes volumes de bens que atendam às metas de redução de emissões baseadas na ciência. Como parte
desse esforço da FMC, o Fórum criou o First Suppliers Hub (FSH) com suporte estratégico da Deloitte Consulting. O FSH
é um repositório global onde os fornecedores fornecem informações sobre seus projetos de baixo carbono para facilitar o compartilhamento de informações e os acordos de compra. Este banco de dados conecta usuários com um conjunto de fornecedores, bem como conectar fornecedores a membros da FMC, formuladores de políticas e financiadores que buscam aumentar a disponibilidade de produtos de baixo carbono.
Os fornecedores são um participante importante neste ecossistema, pois são responsáveis por pilotar, desenvolver e ampliar as tecnologias de baixo carbono necessárias globalmente. Eles são fundamentais para impulsionar a inovação e levar essas tecnologias ao mercado, influenciando assim as emissões a jusante em toda a cadeia de valor global. Informado pelas lições aprendidas da FMC e FSH, este relatório, desenvolvido em colaboração com a Deloitte, fornece uma análise da perspectiva do fornecedor sobre a cadeia de valor, caminhos de descarbonização e desafios e oportunidades para ampliar suas tecnologias. Este relatório se alinha com o foco da FMC na remoção de dióxido de carbono e seis outros setores que representam ~25% das emissões globais de gases de efeito estufa: aviação, transporte, transporte rodoviário, alumínio, cimento/concreto e aço.
First Suppliers Hub (FSH),
Durante o lançamento do First Suppliers Hub
* Dilip Krishna ** Rob Johann Adriaan van Riet Fotos: Fórum Econômico Mundial
que a intensidade de emissões de BAU diminua devido a melhorias na eficiência de combustível, otimização de velocidades e tamanho e especificações tecnológicas das tecnologias de navios existentes; mas esse declínio não será suficiente para atingir as metas de zero líquido
Este relatório também destaca oportunidades únicas em cada um dos sete setores da FMC, organizados em torno de três setores de transporte pesado, três setores da indústria pesada e remoção de dióxido de carbono, da seguinte forma:
– Aviação: Oportunidades para aumentar o combustível de aviação sustentável (SAF) incluem termos flexíveis em acordos de compra de SAF, como esquemas de “reserva e reivindicação” e expansão em mercados emergentes para fornecimento de matéria-prima, preservando a sustentabilidade.
– Transporte: A adoção de incentivos de redução de emissões, como impostos de carbono propostos por participantes da indústria e entidades regionais, pode acelerar o desenvolvimento de negócios para fornecedores de combustíveis de transporte de baixo carbono.
– Transporte rodoviário: Frotas de veículos elétricos a bateria de várias empresas pode usar modelos de carregamento alternativos, como infraestrutura de carregamento compartilhada, para compartilhar custos e consolidar o uso de energia.
– Alumínio: O desenvolvimento, a ampliação e a ampla comercialização de tecnologias de fundição sem emissões, uso de energia renovável em eletrólise e hidrogênio, e captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS) apresentam oportunidades potenciais para descarbonização no setor de alumínio primário.
– Cimento/concreto: Alternativas não fósseis, como cimento de silicato de cálcio e pozolanas naturais oferecem resiliência potencial para escassez de suprimentos e se alinham com regulamentações em evolução.
– Aço: Intervenções governamentais como o Mecanismo de Ajuste de Fronteira de Carbono (CBAM) da União Europeia e o financiamento do Departamento de Energia dos EUA para projetos de descarbonização industrial podem ajudar a equilibrar as disparidades de custos entre fornecedores e incentivar a adoção
– Remoção de dióxido de carbono (CDR): Explorar mercados de utilização, especialmente aqueles que envolvem sequestro de longo prazo, pode complementar soluções de armazenamento geológico e aprimorar ainda mais os esforços de remoção de carbono.
Setores de alta emissão: desafios e oportunidades para fornecedores de baixo carbono
Envio: Os fornecedores enfrentam desafios para garantir fontes de financiamento com o apetite de risco e o tamanho de investimento apropriados para desenvolver e ampliar ainda mais seus projetos de combustível de baixa emissão
Chief Technology Officer Sustainability, Deloitte [** ]Diretor de Programa, Climate Action and First Movers Coalition, Fórum Econômico Mundial
Espera-se
Emissões globais de gases de efeito estufa (GEE), por setor
As eras glaciais não foram tão secas quanto pensávamos
Elevada disponibilidade de umidade no Hemisfério Sul durante os períodos glaciais e de acordo
com um surpreendente novo estudo de cavernas australianas e durante as eras glaciais, o terreno seco e congelado estendia-se por grande parte do norte da Europa, Ásia e América do Norte.
por
Rieneke
Muitas plantas e animais retiraram-se destas paisagens desoladas e agrestes e procuraram refúgio em bolsões de território mais hospitaleiro. Mas o que estava acontecendo no resto do mundo? Durante muito tempo, os cientistas pensaram que as condições secas prevaleciam em todo o mundo durante as eras glaciais e que os períodos quentes entre as eras glaciais eram muito mais húmidos.
Esta interpretação moldou a nossa compreensão de onde as plantas, os animais e até os humanos viveram durante o passado da Terra. No entanto, pode não estar correto.
A nossa nova investigação publicada na Nature mostra que as eras glaciais
Em baixo, da esquerda para a direita: Monotoca (2x), Banksia marginata e Restionaceae
“interglaciais” mais quentes
foram, na verdade, muito mais húmidas do que se pensava anteriormente – pelo menos nas regiões subtropicais do hemisfério sul (de 20° a 40° sul).
Eras glaciais e hemisférios
Ao longo dos últimos milhões de anos, o clima da Terra oscilou entre eras glaciais frias (ou períodos “glaciais”) e períodos “interglaciais” mais quentes. Atualmente vivemos um período interglacial conhecido como época Holoceno. Tudo começou há cerca de 11.700 anos, após o último período glacial que durou cerca de 110.000 anos.
Durante os períodos glaciais, as temperaturas eram mais baixas, havia menos dióxido de carbono na atmosfera e as camadas de gelo cobriam uma maior parte do globo. Durante os períodos interglaciais, as temperaturas eram mais altas, havia mais dióxido de carbono no ar e grandes mantos de gelo permaneceram apenas na Groenlândia e na Antártida.
Seleção de grãos de pólen fósseis extraídos dos espeleotemas de Naracoorte. Acima, da esquerda para a direita: Pteris, Nertera e Amperea.
*
Weij, ** Jon Woodhead, *** Josephine Brown, **** Kale Sniderman e ***** Liz Reed Fotos: Nature, Steve Bourne, The Conversation
Ao longo dos últimos milhões de anos, o clima da Terra oscilou entre eras glaciais frias (ou períodos “glaciais”) e períodos
Evidências do hemisfério norte mostram enormes mantos de gelo espalhados pelas partes norte da Europa, norte da Ásia e América do Norte durante os períodos glaciais, e grandes áreas ao sul do gelo foram cobertas por tundra.
A ideia de que os ambientes glaciais eram extremos e severos foi então estendida para além dessas regiões devido à evidência de que os períodos glaciais eram em sua maioria sem árvores, com atmosferas empoeiradas em quase todos os lugares, incluindo a Austrália. No entanto, a nossa nova investigação revela que partes dos períodos glaciares foram de facto mais húmidos do que hoje em grande parte do hemisfério sul.
Desenvolvendo um registro climático de 350.000 anos
Uma maneira de entender o quão úmido era no passado é observar depósitos minerais chamados espeleotemas , encontrados em cavernas subterrâneas. Esses depósitos, que incluem estalagmites e estalactites, acumulam-se com o tempo, à medida que a água da chuva é filtrada através do solo e do calcário até a caverna. Podemos usar a extensão do crescimento do espeleotema ao longo do tempo para compreender as mudanças na disponibilidade de água. Um maior crescimento do espeleotema reflete amplamente condições mais úmidas , enquanto um menor cresci-
mento sugere um ambiente mais seco. A nossa compreensão das mudanças passadas no clima e no ambiente do hemisfério sul tem sido limitada pela falta de registos bem datados e de longo prazo.
Para resolver este problema, coletamos amostras de espeleotemas em duas regiões de cavernas no sul da Austrália, as cavernas Naracoorte no sudeste e as cavernas Leeuwin-Naturaliste no sudoeste. Usando uma técnica de datação baseada na decomposição do urânio natural, determinamos a idade de mais de 300 fragmentos de espeleotemas individuais das cavernas. Como resultado, produzimos um registro de precipitação abrangendo os últimos 350 mil anos.
Cristais de calcita formados nas cavernas de Naracoorte.
Seção transversal de um grande fragmento de estalagmite da Victoria Fossil Cave, Naracoorte, mostrando belas camadas de crescimento semelhantes a anéis de árvores
Mais úmido e mais frio, mais quente e mais seco
Nosso estudo revelou tendências surpreendentes, mas extremamente consistentes. Nos últimos 350 mil anos, os períodos mais úmidos sempre ocorreram nos períodos glaciais mais frios, enquanto os períodos interglaciais foram consistentemente secos. Também estudamos pólen fóssil preso nos mesmos espeleotemas. É mais difícil ser uma árvore sob o baixo dióxido de carbono atmosférico dos períodos glaciais , mas ervas e arbustos que exigem umidade prosperaram durante os períodos glaciais, mas foram suprimidos durante os períodos interglaciais, confirmando as evidências de datação.
Em seguida, utilizámos os nossos novos registos do sul da Austrália como referência para as regiões subtropicais em todo o hemisfério sul e comparámo-los com outros registos publicados do sul da África e da América do Sul. Descobrimos que glaciais úmidos e interglaciais secos não estavam confinados ao sul da Austrália, mas na verdade formavam um padrão em todo o hemisfério. Simulações de modelos climáticos também mostraram um padrão semelhante durante o último ciclo glacial.
Ambientes estáveis com água abundante
Esta nova compreensão de como eram as condições no hemisfério sul durante os períodos glaciais mudará a forma como interpretamos o movimento e a expansão das plantas, animais e até mesmo dos humanos no passado.
Anteriormente, presumia-se que, durante os períodos glaciais, a redução das chuvas forçava muitas plantas e
animais que precisavam de níveis mais elevados de umidade a pequenas zonas
habitáveis chamadas “refúgios”. No entanto, a nossa investigação sugere que – pelo menos no hemisfério sul subtropical – os períodos glaciais foram muitas vezes tempos de ambientes relativamente estáveis com água abundante, mesmo que os baixos níveis de dióxido de carbono significassem que as plantas tinham um crescimento lento e eram relativamente improdutivas.
Nossa pesquisa exige uma grande mudança de paradigma na forma como vemos os ambientes da era glacial passada em toda a Terra.
[*] Pesquisador de pós-doutorado em Geoquímica/Paleoclimatologia, Universidade da Cidade do Cabo; [**] Professor emérito, Universidade de Melbourne; [***] Professor sênior, Universidade de Melbourne ; [****] Pesquisador Honorário, Universidade de Melbourne e [*****]Professor Sênior, Escola de Ciências Biológicas, Universidade de Adelaide [•]Em The Conversation
Piscina em caverna refletindo estalactites de espeleotemas e canudos de refrigerante nas cavernas de Naracoorte.
Espeleotema ‘palha de refrigerante’ formando-se a partir de gotejamento ativo de água nas cavernas de Naracoorte
Brasil precisa reforçar proteção de florestas para atingir metas de mitigação de mudanças climáticas
Desafios para reduzir as emissões de carbono decorrentes das mudanças no uso e cobertura da terra no Brasil
Enquanto se prepara para sediar a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC COP 30, a primeira COP a ser realizada na Amazônia) em novembro de 2025, o Brasil está em um momento crucial. Suas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa ainda estão ao alcance, mas ações e políticas socioambientais com foco na conservação ou restauração de florestas e biomas devem ser fortalecidas.
Este é um dos principais pontos levantados por cientistas brasileiros em artigo publicado na revista Perspectives in Ecology and Conservation.
Os autores são filiados ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e ao Centro Nacional de Vigilância e Alertas de Desastres (CEMADEN).
Uma área desmatada nas proximidades da Floresta Estadual do Antimary, estado do Acre, Norte do Brasil
Resumo gráfico
por *FAPESP
Fotos: Beatriz Cabral/INPE, Bruno Kelly / Reuters / Fotoarena, Kate Evans/ CIFOR, Mayke Toscano/Secom-MT, Vinicius Mendonça / Ibama
Para cada bioma brasileiro, a área de déficit de vegetação nativa em Reservas Legais (RL) e Áreas de Proteção Permanente (APP), pastagens severamente degradadas em 2021, desmatamento total de vegetação nativa de 2017-2022 e regeneração da vegetação entre 2017-2022 fora de terras públicas, unidades de conservação (exceto RPPNs e APAs) e Terras Indígenas. Fontes:RSE (2022)- Panorama do FC do Brasil,Lapig (2022)- Atlas das pastagens,Prodes (2023)- Desmatamento e Autores
O artigo aborda os desafios na conservação e restauração dos biomas brasileiros, combate ao desmatamento e à degradação florestal, restauração da vegetação nativa e promoção da regeneração vegetal em florestas secundárias. Defende o fortalecimento e a expansão de políticas de manutenção dos serviços ecossistêmicos, a implementação de mecanismos consistentes para atrair investimentos em atividades de restauração e pagamento por serviços ambientais em todos os biomas, o fomento de iniciativas de bioeconomia e a criação de novas áreas de proteção ambiental.
“O artigo reflete um estudo colaborativo projetado para fornecer uma visão geral do desmatamento, degradação e restauração de biomas e como eles se relacionam com os esforços do Brasil para buscar o desenvolvimento sustentável e atingir suas metas de emissão de carbono”, disse Débora Joana Dutra, primeira autora do artigo e candidata a doutorado no INPE. Para a bióloga Liana Oighenstein Anderson, orientadora de tese de Du-
tra e pesquisadora do CEMADEN, mesmo quando há medidas preventivas , elas são insuficientes para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas.
“Os incêndios florestais observados neste ano na Amazônia e no Pantanal são um exemplo. A prevenção não foi suficiente para conter os números alarmantes. Quando fazemos estimativas como as do estudo, temos a sensação de que estamos sendo muito conservadores
diante do que realmente está acontecendo e dos desafios que o Brasil enfrenta”, disse Anderson à Agência FAPESP.
Este foi um ano recorde para incêndios no Brasil, com 65.325 ocorrências de incêndios registradas nos primeiros sete meses — o maior número em quase 20 anos. O recorde anterior foi de 69.184 no período correspondente de 2005, de acordo com dados do INPE. Os biomas Amazônia e Cerrado são os mais atingidos (28.396 e 22.217, respectivamente).
No Pantanal, o número de focos de incêndio registrados no período chegou a 4.756, o maior desde o início dos registros, em 1998. O maior total anual no bioma foi registrado em 2020.
“Em 2020, os incêndios no Pantanal, que fica na região central do Brasil, chamaram a atenção do mundo e levaram a uma série de reações. Por exemplo, o Ministério da Ciência e Tecnologia criou a Rede Pantanal, e o estado do Mato Grosso do Sul implementou um plano de manejo integrado de incêndios. Em 2023, o governo federal anunciou um plano de manejo para o bioma, e o Mato Grosso do Sul declarou estado de emergência em abril”, disse Anderson.
“Então, houve ações relacionadas à gestão, governança e regulamentação para tentar evitar incêndios, mas infelizmente não são suficientes. Vimos progresso, mas precisamos de melhor governança, estratégias aprimoradas e mais fundos. Tudo deve ser feito mais rápido”. Para Luiz Aragão, último autor do artigo e pesquisador do INPE, o estudo é um alerta à sociedade sobre as emissões de gases de efeito estufa e questões relacionadas.
“A sociedade deve abordar o problema não apenas do ponto de vista ambiental, mas também socioeconômico. Está tudo conectado. O desmatamento, por exemplo, tende a ser seguido por incêndios, que são um risco à saúde pública e degradam a floresta. Terras degrada-
A crise do fogo no Pantanal em 2020 foi ocasionada por um evento de seca extrema, que tende a ser cada vez mais frequente não só na região, mas em outras partes do Brasil
das onde a floresta foi desmatada têm menos potencial para fornecer serviços ecossistêmicos, como o ciclo da água e a biodiversidade, que salvaguardam a qualidade de vida das comunidades locais e exercem uma influência significativa na atividade econômica”, disse ele. Mudanças no uso e cobertura da terra (como desmatamento para criação de gado e cultivo de lavouras, ou degradação florestal) são as principais fontes de emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Como signatário do Acordo de Paris, negociado na conferência sobre mudanças climáticas da ONU de 2015 na França, o Brasil se comprometeu a ajudar a manter o aquecimento global em ou abaixo de 1,5 °C em comparação com o nível pré-industrial (1850-1900), mas o aumento médio da temperatura ultrapassou em muito esse limite nos últimos meses. A agenda da COP30 inclui uma revisão do Acordo de Paris, que exige que todos os signatários se comprometam com as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa para 2030. O Brasil prometeu 53% em comparação com 2005. No entanto, as emissões líquidas de dióxido de carbono (CO2) devido a mudanças no uso e cobertura da terra dobraram entre 2017 e 2022, de acordo com o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa
(SEEG). Quanto à restauração, o Brasil prometeu renaturalizar 12 milhões de hectares de antiga floresta nativa (uma área quase do tamanho de Portugal).
Dificuldades
De acordo com o artigo, interromper ou reverter o crescimento do desmatamento em todos os seis biomas é um grande desafio. Os autores observam que a destruição da vegetação nativa tem sido em média de 2 milhões de hectares por ano ou mais desde 2016, quando o Brasil apresentou sua contri-
Estratégias de recuperação de áreas degradadas em relevo acidentado e com subsolo exposto:
(A) exemplo de área degradada por mineração ou erosão; (B) aplicação de técnicas de engenharia ambiental para estabilização de encostas; (C) reabilitação ecológica por meio da semeadura de gramíneas forrageiras e plantio de espécies arbóreas exóticas; (D) restauração ecológica, resultado da transposição de solo florestal superficial e plantio adensado de mudas de espécies arbóreas tardias da sucessão; (E) ecossistema nativo restabelecido
buição nacionalmente determinada sob as regras do Acordo de Paris. Somente em 2022, cerca de 2,8 milhões de hectares foram desmatados, principalmente na Amazônia e no Cerrado. Essa foi a maior taxa desde 2008 e representou 23% da meta de restauração do Brasil. Além disso, a restauração da vegetação nativa é necessária em cerca de 16 milhões de hectares inadequadamente conservados como “reservas legais” em propriedades privadas, mais da metade na Amazônia e 25% no Cerrado. Outra descoberta destacada pelos pesquisadores é o crescimento de áreas de florestas secundárias, que têm alta capacidade de captura de carbono, mas não são protegidas por legislação específica. De acordo com o artigo, 5,46 milhões de hectares de florestas secundárias cresceram fora de terras públicas entre 2017 e 2022 — 40% na Amazônia, 36% no bioma Mata Atlântica e 19% no Cerrado. Embora isso seja quase metade da meta de restauração do Brasil, a manutenção de florestas secundárias como sumidouros de carbono está ameaçada devido à sua vulnerabilidade ao desmatamento e à degradação, incluindo incêndios e exploração madeireira.
Ação recomendada
No artigo, os pesquisadores recomendam ações para conservar e restaurar biomas alinhadas ao esforço de redução de emissões de carbono com o qual o Brasil está comprometido, incluindo medidas para combater o desmatamento ilegal, legislação para proteger florestas secundárias, reforço da fiscalização ambiental e da aplicação da lei, iniciativas em larga escala para restaurar a vegetação nativa e incentivos econômicos
Foto aérea mostra o contraste entre as paisagens florestais e agrícolas perto de Rio Branco, Acre
para proprietários de terras conservarem áreas florestais por meio de pagamento por serviços ecossistêmicos.
Incentivos como esses também serão importantes para conservar áreas florestais que poderiam ser legalmente desmatadas conforme a lei está agora. Essas áreas estão em propriedades onde a vegetação nativa representa uma porcentagem maior do que a “reserva legal” obrigatória. De acordo com o artigo, 38% do total da “reserva legal excedente” está no Cerrado, 23% na Caatinga, 13% no bioma Mata Atlântica e 10% na Amazônia. É necessária legislação nacional para aumentar a proteção de florestas secundárias fora das reservas legais e áreas de conservação permanente, de modo a garantir que elas contribuam para o sequestro de carbono a longo prazo.
“As leis e medidas existentes são insuficientes para provocar mudanças”, disse Aragão. “O clima global é diferente. Não será possível resolver os problemas ambientais, que estão se tornando mais severos por causa das mudanças climáticas, se confiarmos somente no pensamento passado. Precisamos mudar para o pensamento futuro”. O Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas informou à Agência FAPESP, por meio de sua assessoria de imprensa, que tem tomado medidas para atingir o compromisso de “desmatamento zero em todos os biomas até 2030”. Entre as medidas adotadas estão o União com Municípios, programa lançado em abril como parte do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), com R$ 785 milhões destinados a 70 municípios prioritários, dos quais 48 já assinaram o termo de adesão; e o endurecimento das regras utilizadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Desde 2010, o cenário global apresenta tendência crescente de aumento das emissões por queima de combustíveis fósseis e redução das emissões derivadas de desmatamento e uso da terra, segundo os dados do IPCC. Na foto a plantação de soja na Fazenda Cajueiro, na cidade de Balsas, no sul do estado do Maranhão, uma das novas fronteiras agrícolas do pais
Essas regras incluem a proibição de empréstimos agrícolas a proprietários de terras cujas licenças do Cadastro Ambiental Rural (CAR) — criado para garantir a conformidade com o Código Florestal — foram suspensas ou que infringiram a lei sobre Territórios Indígenas, unidades de conservação e florestas públicas não designadas.
Além disso, o ministério destacou a retomada do Fundo Amazônia, com novos contratos no valor de R$ 1,4 bilhão e novas doações previstas para chegar a R$ 3,1 bilhões. Um plano de ação antidesmatamento semelhante ao PPCDAm foi lançado para o Cerrado. Sobre
Área de floresta destruída em Rondônia (combate ao desmatamento ilegal é fundamental para Brasil reduzir emissões). O Brasil prometeu 53% em comparação com 2005. No entanto, as emissões líquidas de dióxido de carbono (CO 2 ) devido a mudanças no uso e cobertura da terra dobraram entre 2017 e 2022, de acordo com o SEEG
restauração, citou o Plano Nacional de Restauração da Vegetação Nativa, que visa estender e fortalecer políticas públicas, incentivos financeiros, mercados, tecnologias de restauração e reabilitação e melhores práticas agrícolas, e será atualizado este ano.
Próximos passos
Segundo Dutra, os próximos passos dos pesquisadores se concentrarão nas perdas econômicas causadas pelo desmatamento, aprofundando ainda mais os dados utilizados no último estudo.
“Estimar o custo do impacto é altamente valioso em nossa visão, especialmente para mostrar que é muito mais barato prevenir do que reconstruir. O Brasil faz muito em termos de respostas a eventos extremos e desastres naturais, mas precisa investir em prevenção”, disse Aragão. Para Anderson, é necessário mais e melhor diálogo entre instituições federais, estaduais e municipais, o terceiro setor e as comunidades locais. Penalidades por inação ou falha na implementação de planos são outro requisito. “Nossa capacidade de diálogo é muito limitada”, ele disse. “É dificultada por distorções políticas e fica muito aquém do que pode ser feito tecnicamente para fazer um progresso mais rápido”.
Vista aérea em setembro de 2021 de floresta desmatada em torno de estrada em Apuí, no sul do Amazonas
Concurso Fotógrafo Oceânico do Ano de 2024
Coleção deslumbrante de fotografias subaquáticas premiadas na competição Ocean Photographer of the Year de 2024
Rafael Fernández Caballero venceu a competição Ocean Photographer of the Year de 2024 com esta imagem de uma baleia de Bryde prestes a devorar uma
bola de isca em forma de coração, tirada em Baja California Sur, México. O concurso é apresentado pela Oceanographic Magazine e Blancpain Jade Hoksbergen ficou em segundo lugar geral no concurso,
por esta imagem de um gannet do norte, uma das maiores aves marinhas em águas britânicas, mergulhando para capturar sua presa. Hoksbergen capturou o momento na Ilha de Noss, nas Ilhas Shetland.
Esta foto de peixes-aspirantes
de olhos arregalados sentados em cima de sacos embrionários luminosos foi a vencedora na categoria Ocean Portfolio. Foto: Shane Gross
A baleia de Bryde foi coroada vencedora do prêmio homônimo de Fotógrafo Oceânico do Ano. Foto: Rafael Fernández Caballero
As imagens impressionantes estavam entre as pré-selecionadas para o prêmio Ocean Photographer of the Year de 2024. Os vencedores da competição, que é realizada pela Oceanographic Magazine e patrocinada pela empresa relojoeira suíça Blancpain, foram anunciados na quinta-feira (12 de setembro) em um evento na Somerset House, em Londres.
Uma das imagens de destaque selecionadas na categoria Belas Artes foi uma foto de Enric Gener mostrando uma gaivota solitária sentada casualmente no casco de uma tartaruga flutuando no meio do Mar Mediterrâneo. Depois de cinco horas vasculhando o oceano vazio em busca de algo para fotografar, Gener avistou uma gaivota com
as pernas para fora da água e ficou chocado ao perceber que ela estava sobre uma tartaruga marinha.“Decidi pular na água, pensando que encontraria a tartaruga morta porque ela não estava se movendo”, disse Gener em um comunicado . “Quando cheguei perto o suficiente, vi seu rosto debaixo d’água e percebi que a tartaruga marinha estava viva”.
A segunda colocada na categoria Ocean
Portfolio foi Katherine Lu , que capturou uma cena peculiar de águas profundas nas Filipinas. Ela mostra um polvo ocelado venenoso juvenil ( Amphioctopus mototi ) plantado em um pirossomo, uma criatura colonial flutuante livre composta de tunicados unicelulares embutidos em uma “túnica” gelatinosa.
“Todas as noites durante a migração vertical, criaturas do fundo do mar como este polvo migram para águas mais leves e rasas para se alimentar e evitar predadores antes de descer de volta para as profundezas pela manhã”, disse Lu em uma declaração . Mas pegar uma carona no pirossomo torna essa migração diária muito mais fácil, ela acrescentou.
Um gannet do norte, uma das maiores aves marinhas em águas britânicas, mergulhando para capturar sua presa Foto: Jade Hoksbergen
Uma tartaruga marinha surfando com uma gaivota foi uma imagem de destaque na categoria Belas Artes. Foto: Enric Gener
Este polvo brincalhão, porém mortal, foi fotografado pegando carona na coluna de água à noite. Foto: Katherine Lu
Shane Gross venceu a categoria Ocean Conservation (Hope) com esta imagem de uma tartaruga marinha verde em Seychelles sendo liberada por um pesquisador após ser acidentalmente capturada enquanto os pesquisadores tentavam capturar tubarões. Agindo rapidamente, eles desembaraçaram a tartaruga, fizeram medições e a marcaram antes de soltá-la.
Um membro do povo Bajau segura uma lança de pesca em um barco de madeira tradicional nas águas da Ilha Selakan, Malásia. A fotógrafa Ipah Uid Lynn ganhou o prêmio Female Fifty Fathoms por esta e outras imagens.
Esta enguia fora d’água nas Seychelles foi um destaque na categoria Fotógrafo de Vida Selvagem do Ano. Foto: Shane Gross
O pequeno polvo , que tinha cerca de 2 centímetros de altura, contém a mesma toxina que os polvos de anéis azuis ( Hapalochlaena ), que estão entre os animais mais mortais da Terra .
O primeiro lugar na categoria Ocean Portfolio foi para Shane Gross , que fotografou uma ninhada bizarra de filhotes de peixe-aspirante-de-navio-planície ( Porichthys notatus ) na costa da Colúmbia Britânica, Canadá. Os juvenis de olhos arregalados estavam sentados so-
bre sacos de gema laranja brilhantes, aos quais ainda estavam presos na época.
Os filhotes vulneráveis permanecem presos aos ovos e “são protegidos pelo pai até que sejam grandes o suficiente para nadar para fora da rocha em que vivem”, explicou Gross em uma declaração. Depois que saem da toca, os peixes nadam para o mar profundo e não retornam às águas rasas até que seja sua vez de procriar, acrescentou Gross.
Na categoria Fotógrafo de Vida Selva-
gem do Ano, Gross também foi pré-selecionado por uma imagem atraente de uma moreia-pimentada ( Gymnothorax pictus ) caída sobre rochas entre duas piscinas intermareais na Ilha D’Arros, nas Seychelles. Um par de enguias menores também pode ser visto deslizando para fora da água em primeiro plano. “A habilidade delas de sair completamente da água é incrível e surpreendente”, disse Gross . No total, mais de 80 fotos foram selecionadas em 10 categorias.
Fernández
por
ganhou o prêmio
de
marinha sentada em uma
do Ano, mas também ficou em segundo lugar na categoria Vida
nas Ilhas
Equador. Diferentemente de outras iguanas ao
são as únicas que evoluíram para nadar e se alimentar debaixo d’água, prendendo a respiração por até 60 minutos
Tobias Friedrich venceu na categoria Aventura por sua fotografia de um mergulhador sendo ofuscado por um naufrágio nas Bahamas
Rafael
Caballero não só
geral
Fotógrafo Oceânico
Selvagem,
esta imagem de uma iguana
rocha
Galápagos,
redor do mundo, estas
Gás de cozinha
Resíduo orgânico
O GOVERNO FEDERAL INVESTE NO PARÁ PARA VOCÊ VIVER MELHOR