Revista atitude 15ª edição

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Fev/Abr 2015 Ano III • Nº 15 R$ 10,00

PAIXÃO SEM LIMITES A emocionante história de superação de Edmar e Efigênia, os cadeirantes que decidiram viver sob o mesmo teto após 12 anos de namoro

BILÓ

De entregador de jornais a repórter internacional

AVENTURA

21 mil quilômetros numa Kombi, do Oiapoque ao Chuí

OUVIDO BIÔNICO Aos 29 anos, jovem ouve a própria voz pela primeira vez

ALMG cria Comissão Extraordinária em defesa das mulheres



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CARTA AO LEITOR

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Fé na vida e pé na estrada

DIRETOR E EDITOR-CHEFE Luiz Carlos Kadyll Registro - JP 00141/MG (31)8586-7815/3824-4620

Expressão de conformismo muito comum entre nós, esperar sentado é a ironia pronta para a solução que nunca chega, confissão de desencanto que prenuncia a incapacidade de lidar com o quadro adverso instalado. Funciona para tripudiar quanto às mais diversas formas de descaso, seja ele na fila do banco, em relação à educação, à saúde, à segurança, e por aí vai. Mas já se disse que “quem espera sempre alcança” e, por mais que as circunstâncias muitas vezes pareçam irremediáveis, o melhor a fazer é não se desesperar. Como teoriza o sábio rei Salomão, o homem mais rico que já pisou sobre a face da terra, “melhor é o fim das coisas do que o princípio delas”. Se ainda não chegamos a bom termo, é porque ainda não alcançamos o desfecho, ele nos ensina. Que o digam Edmar e Efigênia, cadeirantes cuja paraplegia não constituiu impedimento para que decidissem, enfim, após 12 longos anos de namoro, dividir tarefas de toda ordem sob o mesmo teto. Não há nada que uma boa pitada de amor não possa temperar. Mesmo em tempos de cólera, como escreveu Gabriel García Márquez em sua célebre obra inspirada na vida real dos pais. Para vivermos bem, é preciso não apenas dançar conforme a música, mas ensaiar passos mais ousados, elevar o tom da média (que remete apenas à mediocridade). Vencedores são os que não se intimidam e não fogem aos desafios, como o guitarrista Adson Sodré, que saiu da pacata Jequié para ganhar reconhecimento mundial. Justamente no clima de marcha fúnebre é que muitos descobrem, no palco da vida, que um rock pode renovar expectativas, balançar as estruturas e mandar embora toda tristeza e melancolia. São as atitudes que determinam o alcance de nossos sonhos, se pretendemos construir pontes ou muros. Qual terá sido a sua? De derrotismo ou ousadia? De medo ou intrepidez? Bem abastecida de exemplos, a mente nos leva mais longe que qualquer tanque de combustível. Bons propósitos iluminam mais que energia elétrica. E geramos créditos ao invés de contas no fim do mês. Então, viajemos juntos em mais uma edição.

REPORTAGENS Luiz Carlos Kadyll kadyll.revistaatitude@gmail.com Alexandre Paulino alexandre.revistaatitude@gmail.com Janete Araújo janete.revistaatitude@gmail.com FOTOGRAFIAS Paulo Sérgio de Oliveira Luiz Carlos Kadyll PROJETO GRÁFICO Alisson Assis DIAGRAMAÇÃO Fábio Heringer ASSISTENTE DE ARTE E WEBDESIGNER Ellen Villefer de Carvalho Almeida ellen.revistaatitude@gmail.com

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DIRETORA COMERCIAL Edileide Ferreira de Carvalho Almeida edileide.revistaatitude@gmail.com (31)8732-8287 COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Ed Carlos, assessoria de Comunicação da Cenibra, Dr. Mário Márcio, Rede Record, fonoaudióloga Priscila Machado. ENDEREÇO POSTAL R. Bororós, 125 - Jardim Panorama Ipatinga - Minas Gerais TIRAGEM 3.000 exemplares

ENVIE SUGESTÕES A revista atitude conta com a sua participação para proporcionar sempre um alto nível de informação aos seus leitores. Envie suas sugestões de reportagens para o e-mail sugestao.revistaatitude@gmail.com.

LUIZ CARLOS KADYLL Editor-chefe

Elas serão avaliadas por nossa equipe com toda atenção.

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SUMÁRIO

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DO OIAPOQUE AO CHUÍ A incrível viagem de Isaac de Araújo Leite, engenheiro aposentado que encarou 21 mil quilômetros de estradas numa Kombi adaptada.

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OUVIDO BIÔNICO Tiara Fagundes de Souza Caminhas, a jovem mulher que pela primeira vez, após 29 anos, ouviu a própria voz.

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EDUCAÇÃO FINANCEIRA Estudo revela o perfil de pessoas mais propensas a ficarem endividadas.

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DOR, AMOR E DESAFIOS A comovente história de Efigênia e Edmar, os paraplégicos que, superando gigantescos traumas, se casaram e tocam a vida a dois sobre cadeiras de rodas.

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REPÓRTER RECORD ‘Biló’, o ex-entregador de jornal que carrega o jornalismo no sangue e hoje viaja o mundo como enviado especial de uma rede nacional de tevê.

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ROCK PROGRESSIVO Adson Sodré, o guitarrista mineiro que ousou concorrer em audição exclusiva para músicos dos EUA e foi escolhido para participar de turnê internacional. LUIZ GUSTAVO, o Biló, com o apresentador de telejornais Celso Freitas

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AVENTURA

HOMENAGEM TRIPLA: Isaac e sua “Ana Luiza”, junção dos nomes da filha caçula e duas netas

Do Oiapoque ao Chuí A bordo de uma Kombi adaptada, engenheiro aposentado decide cruzar o Brasil de ponta a ponta, viajando mais de 21 mil quilômetros

Um lugar fascinante, entre tantos, no Brasil: Lençóis Maranhenses. Uma estrada cuja paisagem que a emoldura sugira percorrê-la sem pressa, para não perder nenhum detalhe: a Rio-Santos. Um povo essencialmente acolhedor, que se diferencie pelo tratamento cortês dado a cada um dos seus visitantes, fazendo-os se sentirem em casa: o baiano. Com ar convicto de quem, sem ostentações supérfluas e modos absolutamente frugais, experimentou na carne as delícias e as decepções de muitos lugares, de norte a sul do país, as conclusões são do engenheiro eletricista com especialização em economia Isaac de Araújo Leite, 61. Depois de trabalhar

ainda por sete anos no ambiente industrial, mesmo após a aposentadoria, ele decidiu enfim se despedir do emprego e colocar em prática um sonho antigo de percorrer o solo nacional do Oiapoque ao Chuí. Pai de Luciana, doutora em físico-química, e do empresário Jacy Leite Neto - ambos já casados e encaminhados em suas vidas profissionais -, Isaac diz que na realidade sempre gostou muito de viajar, algo que herdou do seu pai, um psiquiatra de hábitos simples, que acabou morrendo precocemente, antes de chegar aos 60 anos. Limitações de ordem financeira, conforme enfatiza, parecem ser impeditivos para que deslocamentos geográficos sonhados Fev/ Ab r 2015


por uma série de pessoas não se realizem. Contudo, ele descobriu que abdicar de algumas vaidades e planejar bem o roteiro pode ser a fórmula para viabilizar ótimos passeios. A idéia inicial de Isaac era comprar um motorhome e sair pelo Brasil, após se aposentar. “Mas a grana ficou curta e então parti para um plano B, mais modesto”. Ele comprou uma Kombi 2005 e, para se precaver contra problemas mecânicos (livrando-se da correia dentada e do termostato), optou pelo sistema de refrigeração a ar, além de instalar injeção eletrônica. “Não quis mexer na estrutura

do carro, porque isso implicaria numa série de burocracias, regularização junto ao Inmetro, etc. Outra coisa é que, no caso de querer vender o veículo, isso poderia me trazer dificuldades. Então, simplesmente retirei os bancos traseiros, preparei o espaço para uma cama de casal e fiz adaptação para poder transportar também uma moto”, resume. Fazendo as contas, Isaac entendeu que se pudesse se livrar das despesas de hospedagens e economizar combustível em certos deslocamentos já estaria fazendo um bom negócio. Assim é que, em setembro de 2013, partiu para

uma viagem de 13 mil quilômetros, cumprida em 35 dias. Primeiro foi em direção ao Oiapoque, no Amapá, fronteira com a Guiana, no norte. “Fui pelo centro do país e voltei pelo litoral, de Belém até Vitória-ES”. A segunda viagem cumprida por Isaac foi de 7.500 quilômetros, em direção ao extremo sul. Durou 34 dias, de 2 de fevereiro a 5 de março deste ano. Partindo de Ipatinga, no leste de Minas, ele seguiu em direção ao oeste, até Ribeirão Preto-SP, dali se deslocando para Foz do Iguaçu e de lá para o arroio do Chuí, retornando pela BR-101 até Vitória.

AVENTURA ANA LUIZA

A VAN USADA pela família que já percorreu vários continentes e o registro do seu circuito de viagens

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NUMA CIDADE do Rio Grande do Sul, casinhas construídas para os mortos, no cemitério

A EXUBERÂNCIA das piscinas naturais de Lençóis Maranhenses, convite irrecusável para mergulhar em águas mornas e de matizes variados

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A Kombi de Isaac foi batizada por ele como Ana Luiza, o que para a maioria dos curiosos seria o nome de alguma paixão do viajante. Mas ele explica: “Na verdade, são três as homenageadas, as minhas netas Ana Laura e Izadora, filhas do Jacy, e a minha filha Luciana”. Com vidros protegidos por insulfilm – para garantir maior segurança ao seu “hóspede” permanente –, Ana Luiza, explica o engenheiro, embora não seja o supra-sumo do conforto, tem privilégios. Onde ônibus, vans e motorhomes não entram, como os calçadões de Ipanema, Copacabana e Boa Viagem, ela estaciona sem problemas. E, por ser modesta, sem chamar a atenção de ladrões. “Outros pontos de parada são os campings e os postos 24h melhor estruturados, preferidos pelos caminhoneiros, que dispõem de vigilância, banheiros limpos, lavanderia, comida por bom preço e com garantia de ser nova, devido à rotatividade. Em alguns, há até salas escuras de repouso, com ar-condicionado”, conta o viajante. Isaac revela que, de todo modo, leva com ele livros, mantimentos para emergência, especialmente pão, água, bebidas lácteas (que têm maior prazo de validade), para os casos de manifestações, acidentes, bloqueios nas estradas.

SENTIR NO CORPO o vapor das cataratas do Iguaçu também é uma emoção indescritível, segundo Isaac

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AVENTURA BARCOS de dois andares para passeios no rio Tocantins

Alguns jipes, muito barro e a frustração de Macapá

16 OUTROS AVENTUREIROS

Além do aprendizado cultural (como casinhas de luxo construídas para mortos e semi-mobiliadas para as visitas de parentes, em um cemitério, no sul) e dos cenários exuberantes oferecidos à contemplação, Isaac considera que um dos grandes prêmios dessas viagens que realizou aos extremos do país foi o convívio com famílias que passaram a fazer da estrada a sua casa. “Fato é que você nunca está só, e é maravilhoso conhecer algumas

RIOS DE ÁGUAS transparentes ainda podem ser desfrutados pelos visitantes, no Maranhão

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histórias. Em Olivença-BA, conheci um casal que comprou um ônibus há 25 anos, um Ciferal 1961, e é nele que já subiram e desceram o litoral algumas vezes. Venderam a única casa que tinham para adquirir e adaptar o veículo. E o legal é que seus parentes, filhos e netos vão ao encontro deles. Num dos campings em que estive, eram oito barracas de filhos e netos em volta deles. Outra família, que conheci em Foz do Iguaçu, se desloca numa van. Apenas em 2009, rodou mais

de 40 mil quilômetros pela Europa, Ásia e Américas. Este casal tem dois filhos pequenos. A mulher faz a alfabetização das crianças na própria viagem. Eles estão viajando desde 2002, quando ainda não eram pais. Os filhos nasceram durante as viagens. Para proteger as gravidezes, próximos dos partos ficaram de quatro a cinco meses num mesmo lugar. Já foram até no Alaska. Colocaram a Sprinter no navio e embarcaram para a Europa, atravessaram todo o continente”, conta, impressionado.

No ritmo e nas condições que estabeleceu para si mesmo, Isaac diz que dá pra passar bem um dia com R$ 200, contando alimentação e combustível. “À noite, descanso. Durmo cedo e acordo cedo. O objetivo não é andar o dia inteiro. Numa Rio-Santos, por exemplo, se você for parar em cada mirante, cada praia, cada cachoeira, 15 dias é pouco pra percorrer os 400 km. A cada 10 km há um cartão postal”, revela. Isaac confessa ter-se impressionado muito positivamente com a receptividade do baiano. “Estava no sul e me perguntaram: qual estado é o mais aconchegante? O nordeste é sem dúvida um destaque, mas à Bahia nada se assemelha. Uma família me conheceu na fila do ferry-boat e já queriam que eu passasse o final de semana com eles”, admira-se. Para o engenheiro, “o Piauí, que cortei de norte a sul, é de longe o estado mais sofrido. E no Maranhão pude ter contato com os rios mais limpos do Brasil, de águas transparentes, sem contar a exuberância dos Lençóis Maranhenses, com suas piscinas naturais pintadas de diversos matizes e uma areia branquíssima sem calor, que você pode pisar às duas horas da tarde sem risco de se queimar”. Do Paraná, Isaac guarda a triste lembrança dos pedágios, de R$ 1,50 a R$ 14. “Do sul de Minas até Foz do Iguaçu foram mais de 20 cobranças, e algumas delas em estradas que nem acostamento têm”, contabiliza. Disparado, o melhor camping em que esteve foi o de Três Marias-MG, “ainda por cima 0800, municipal”, elogia. Sua maior frustração foi não ter podido chegar ao Oiapoque, finalizando a viagem ao norte em Belém. “Depois de percorrer Brasília, Tocantins, Matogrosso e Pará, já estava tudo acertado para atravessar o rio e seguir até Macapá. Mas a balsa que veio do outro lado trouxe jipes com barro até no teto. E os proprietários me avisaram: de Kombi, nem pensar! Assim, fiquei a 150 km do destino”. Quanto ao Chuí, Isaac considera que foi abando-

A INVASÃO dos paraguaios em Itaipulândia, denunciada pelas placas dos veículos

nado pelos brasileiros. “Há apenas uma ponte que você atravessa, sem vigilância, para chegar ao Uruguai. Não me animei muito por causa do preço da gasolina lá, R$ 5 o litro. Mas o Chuí é invadido pelos uruguaios. Oitenta por cento do comércio, de camelô a posto de gasolina, é uruguaio. Em algumas ruas só se fala espanhol e compra-se apenas com peso, a moeda dominante”. Outra cidade ‘invadida’ por estrangeiros, segundo o engenheiro, é Itaipulândia, um balneário a 50 km de Foz do Iguaçu e suas hipnotizantes cataratas. “Como os paraguaios não têm praia, é para lá que vão religiosamente, a cada fim de semana e também nos feriados, mesmo no inverno, desfrutar do lago de água doce gerado pela represa de Itaipu”. Perguntando sobre o melhor aprendizado que trouxe, o viajante respira fundo, para concluir que “o mais importante foi sentir uma vez mais o quanto somos diminutos diante da grandeza de Deus”. Além dos cenários majestosos que pode contemplar, ele entende que foi providência do alto o fato de não ter tido um só pneu furado e, voltando para casa, em meio a uma chuva forte, ter estacionado no acostamento, no Espírito Santo, apenas três quilômetros antes de onde se registrou um gravíssimo acidente. “Meu maior contratempo foi que, a 130 km da cidade mais próxima, ao bater na chave o motor não deu sinal nenhum. Já comecei a imaginar o custo. Um guincho, um mecânico... Tentei de tudo, sem sucesso. Não havia mais nada a fazer e então fui saber se por acaso haveria uma eletricista ali. Sabe em quantos por cento dos postos há eletricistas? Provavelmente, apenas 1%. E aí o frentista me disse que o borracheiro era eletricista. Ele veio, se abaixou na traseira da Kombi para verificar e constatou que o problema era apenas um mau contato no motor de arranque. O preço da assistência: R$ 10. Creio que posso fazer outras viagens, quem sabe acompanhado de minha mulher, que está para se aposentar. Estou protegido”, conclui, sorrindo.

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EDUCAÇÃO EDUCAÇÃOFINANCEIRA FINANCEIRA O ESTUDO MOSTRA que pessoas que têm hábitos como estudar na véspera de provas tendem a poupar menos e a ficar mais no vermelho em relação às mais disciplinadas

CHEQUE ESPECIAL

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Uma vez relapsos, relapsos sempre Pessoas que se atrasam em compromissos sofrem mais de descontrole de finanças, mostra pesquisa Uma pesquisa nacional encomendada pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) para avaliar como o brasileiro administra as próprias finanças mostrou que o grau de disciplina e comprometimento das pessoas com atividades e compromissos simples do dia a dia pode dizer muito sobre a relação delas com o próprio dinheiro. De maneira geral, o estudo mostrou que entrevistados indisciplinados que têm hábitos como o de estudar na véspera de provas, chegar atrasado em compromissos ou ser relapso no trabalho também têm menos controle

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financeiro do que os entrevistados mais disciplinados. Inicialmente os pesquisadores estabeleceram três perfis comportamentais para os pesquisados, com base nas respostas de cada um sobre hábitos de estudo, comportamento no trabalho e sobre a postura diante de compromissos simples do dia a dia como o de chegar no horário marcado encontros. Os entrevistados foram classificados como pessoas organizadas, pessoas que tentam ser organizadas e pessoas desorganizadas.

Os pesquisadores identificaram um descolamento comportamental entre os três grupos logo nas primeiras perguntas sobre a estabilidade financeira de cada um. A pesquisa revela que o percentual de entrevistados desorganizados que já entrou alguma vez no cheque especial, por exemplo, é mais que o dobro em relação à parcela de consumidores organizados. O percentual é de 11% entre os consumidores organizados, de 21% entre os que tentam ser e de 25% entre os desorganizados. “Ao contrário do que diz o senso comum das pessoas, as causas do descontrole financeiro não estão relacionadas à classe social ou ao grau de escolaridade do consumidor, mas ao comportamento de cada um. De maneira geral, vimos que pessoas organizadas e planejadoras têm uma gestão financeira mais saudável e totalmente coerente com o restante das práticas do dia a dia”, comenta a economista-chefe do SPC, Luiza Rodrigues.

FIM DO MÊS

Também foram detectadas diferenças comportamentais nos três perfis quanto à gestão das despesas de casa. Quando perguntados se conseguem chegar ao final do mês com todas as contas pagas, os organizados não têm dúvidas: 64% respondem que sim e que “ainda

sobra um pouco de dinheiro”. Por outro lado, a parcela que responde sim a esta pergunta entre os que tentam ser organizados cai para 45% e chega em 39% entre os entrevistados desorganizados.

PREPARO PARA EMERGÊNCIAS

A pesquisa também mostrou que a desorganização tem reflexos no preparo do consumidor para emergências. Em uma situação hipotética de emergência — como perda de emprego ou problema de saúde — 50% dos entrevistados organizados teriam como recorrer à poupança ou a outro tipo de aplicação para sair do sufoco. O percentual entre os que tentam ser organizados e recorrem a esse tipo de reserva é de 41% e cai para 36% entre os desorganizados. Segundo os pesquisadores, uma análise conjunta dos dados demonstra como as pessoas organizadas tendem a manter uma gestão financeira mais saudável no dia a dia, coerente com seus comportamentos em geral. Elas demonstram não comprar além das possibilidades, ter controle das contas e saber o momento correto de recorrer à poupança. Por outro lado, os desorganizados caminham em sentido oposto – porém este comportamento demonstra ser condizente com a falta de planejamento em outras atividades diárias em geral.

Os pesquisadores concluíram ser possível fazer uma correlação entre a desorganização das vidas pessoal e profissional com o descontrole das finanças. Os dados demonstram que os aspectos comportamentais e culturais de cada um têm impactos determinantes na gestão do próprio patrimônio. “A pesquisa reforça a tese de que os hábitos e valores que foram construídos desde cedo no ambiente familiar serão determinantes ao longo da vida do cidadão como consumidor. Isso torna ainda mais relevante implementar iniciativas relacionadas à educação financeira junto a crianças e adolescentes — não de forma isolada, mas de uma maneira interdisciplinar”, afirma a Luiza Rodrigues. Além disso, na visão do SPC Brasil, o contexto histórico-econômico do Brasil pode ajudar a explicar o fato de uma parcela significativa da amostra ser composta por pessoas com um perfil de desorganização financeira. “Temos gerações inteiras marcadas por períodos de instabilidade econômica e por hiperinflação, o que dificultava muito fazer um planejamento financeiro a médio e longo prazo. Sem mencionar que o recente boom da oferta de crédito deu uma repentina oportunidade de compra às pessoas, sem orientá-las corretamente sobre como consumir de forma consciente”, avalia Luiza Rodrigues.

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EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Pessoas organizadas

14%

Estudam/estudavam diariamente, planejam todas as tarefas diárias, sempre chegam no horário estabelecido e seguem suas metas.

Pessoas desorganizadas

Estudam/estudavam somente na véspera da prova ou não estudam/estudavam hora alguma, se atrasam muitas vezes, às vezes estabelecem metas, mas raramente conseguem atingi-las e, ainda, não costumam se planejar nunca

24%

62%

Pessoas que tentam ser organizadas

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Estudam/estudavam ocasionalmente, procuram se planejar, às vezes se atrasam e estabelecem metas, mas perdem a motivação com o passar do tempo.

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METOLODOGIA

A pesquisa sobre Educação Financeira no Brasil entrevistou 656 consumidores de todas as classes econômicas, das 27 capitais brasileiras. Foram consideradas apenas as pessoas com mais de 18 anos e que possuem renda própria (excluindo analfabetos). A margem de erro do estudo é de 3,8 pontos percentuais para um intervalo de confiança de 95%.

Conceitos que podem mudar nossa relação com o dinheiro De acordo com um especialista da revista EXAME, analisar se temos uma relação positiva ou negativa com o dinheiro pode ser mais complicado do que parece. Não se trata apenas de não ter controle sobre as finanças, por exemplo. O sinal de que a visão sobre o tema é pouco saudável pode ser justamente o oposto: controlar demais os gastos. Fev/Abr 2015

Pensamentos e hábitos negativos – ensina ele – podem dificultar o caminho para obter o sucesso financeiro ao impedir a realização de investimentos ou a discussão do orçamento com a família, por exemplo. E, tanto quanto gastar demais, comprar por compulsão, é preocupante o hábito de não gastar nunca.

Viver economizando e esperando pelo momento no qual terá segurança suficiente para desfrutar do dinheiro acumulado também pode ser um hábito negativo. O comportamento passa do limite quando há indecisão sobre gastos importantes ou quando você nem lembra a última vez que trocou de carro, comprou roupas novas ou tirou férias. Fev/ Ab r 2015


Frutos de qualidade

MERCADO EM EXPANSÃO

“Só Goiaba” prepara novo pomar para ampliar sua produção de 20 para 30 toneladas semanais Em função do crescimento das redes de supermercados que comercializam suas frutas, além da sensível ampliação de vendas pelas fábricas que as utilizam como matéria-prima em seus processos industriais, a empresa “Só Goiaba” está se estruturando para elevar a capacidade de atendimento de 20 para 30 toneladas semanais. De acordo com o proprietário, o agricultor Milton Ramos de Oliveira, “a resposta aos padrões de qualidade de nossos produtos é muito positiva e apenas os clientes habituais têm requerido a expansão das áreas plantadas, sem necessidade de maior diversificação da carteira”. Assim é que ele investiu na preparação de um novo goiabal de 15 hec-

tares, somando agora 35 hectares de cultivo. Para que se tenha uma idéia do que isso representa, um hectare corresponde à área aproximada de um campo de futebol. São três goiabais arrendados e dois próprios, na região de Conselheiro Pena, no Vale do Rio Doce, exigindo cuidados especiais da mão-de-obra envolvida. “O processo de produção de goiabas é muito artesanal, com poucas possibilidades de mecanização. No nosso caso, usamos mini-tratores de apoio para transporte do fruto dos pomares até os galpões de encaixotamento, mas todo o resto é esforço manual, inclusive uma boa parte que me cabe pessoalmente”, explica Milton.

MILTON RAMOS explica que grande parte do processo produtivo da goiaba é necessariamente manual

TRABALHO MINUCIOSO

OS FRUTOS DA Só Goiaba no galpão de pesagem e em expositor de um grande supermercado do Vale do Aço: qualidade irresistível

O proprietário da “Só Goiaba” detalha: “Após o plantio do goiabal, é necessário esperar quatro anos para que ele esteja apto a produzir, isto depois de várias podas. E este trabalho é tão minucioso e delicado que sou eu mesmo que realizo as primeiras podas. Identificar as melhores gemas requer bastante experiência. Só ali pela terceira ou quarta podas é que os funcionários entram”. “Depois das podas – acrescenta o produtor –, é necessário fazer o raleamento (que é o desbaste, a reti-

rada das folhas que estão próximas dos frutos e podem machucá-los, além de galhos específicos), a adubação e o recolhimento das goiabas do chão, porque estas geram bichos que descem para o solo. As larvas viram besouros, que depois podem voar para contaminar os frutos”. Ainda segundo Milton Ramos de Oliveira, esse cuidado é tão ou mais importante que a pulverização, e é por isso que alguns produtores se animam com a primeira colheita, sem bichos, mas depois não dão esta atenção necessária e cedem lugar às pragas.

A operação de colheita da goiaba, segundo o produtor, envolve pelo menos seis tipos de seleção, o que torna a atividade ainda mais cheia de pormenores. Em cada pé de goiaba são observadas quais são as maduras, as miúdas, as médias e as graúdas, além do recolhimento das que estejam podres na própria árvore e no chão. Normalmente, as goiabas mais maduras destinam-se às fábricas de doces e picolés/ sorvetes, enquanto as outras são absorvidas pelo comércio conforme a preferência de cada público específico. Fev/ Ab r 2015


APENAS A implantação das duas novas lojas dos supermercados Brasil e Duvale no bairro Cidade Nobre vai demandar mais duas toneladas semanais de frutos

Novos supermercados 24

Para exemplificar o nível de aceitação de suas goiabas no Vale do Aço e redondezas, Milton informa: “A Consul – Cooperativa de Consumo dos Empregados da Usiminas -, que antes vendia 200 kg por semana, hoje já absorve duas toneladas, e o atendimento aos supermercados Garcia cresceu nesta mesma proporção. Agora, a implantação de novas lojas dos supermercados Brasil e Duvale,

no bairro Cidade Nobre, em Ipatinga, vai demandar pelo menos mais duas toneladas semanais de nossos produtos”, disse. Para atender convenientemente a sua fiel clientela, o diretor da “Só Goiaba” já conta com dois caminhões-baú refrigerados. “Fazemos a colheita até às 11h e, ainda no mesmo dia, o cliente pode comer a goiaba que sai do pé. Apenas o nosso produto, que fica a cerca de

200 km do Vale do Aço, tem como oferecer esse nível de qualidade. Aliás, são poucos produtores de frutas em grande escala no Estado. Maçãs, peras, nectarinas, ameixas e outras goiabas normalmente vêm de São Paulo ou de cidades do sul. Mamões são trazidos de Linhares, no Espírito Santo. Em Barbacena-MG há uma certa produção de Pêssego, mas é só o que temos de Minas”, esclarece.

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O NOVO GOIABAL, numa área de 15 hectares, já passa por cuidados especiais para entrar em estágio de produção

Indústria Brasileira

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Além do seu sabor inigualável, o açaí é rico em vitamina E, fibra, ferro, proteína e cálcio. Não é por acaso que nove entre dez nutricionistas ressaltam a superioridade dessa fruta tipicamente tropical, tão apreciada no Brasil. Então, delicie-se. Chegou o creme de açaí da Boachá. É açaí puro, original. Sem adição de corantes ou aromas artificiais. Fev/ Ab r 2015


PRODÍGIOS DA MEDICINA

TIARA AGORA pode ouvir os seus interlocutores ao telefone, sem necessidade de se comunicar por mensagens

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Com a palavra, Tiara! Jovem mulher submetida a cirurgia de implante coclear se emociona ao ouvir a própria voz e a voz da mãe pela primeira vez, após 29 anos Por mais paradoxal que pareça, quase sempre é o choro – na maioria dos casos, associado à tristeza – que arranca da mãe a verdadeira expressão de alívio no nascimento do filho. Ou seja, em geral a primeira emoção, a primeira alegria da maternidade é estabelecida por um som. Do mesmo modo, antes mesmo que a criança complete o seu primeiro ano de vida e venha a andar, a principal razão dos pais se rejubilarem é ouvirem dela o tradicional “papai” ou “mamãe”. A explicação científica é simples: ninguém pode desenvolver a fala se nunca escutou. Então, imagine-se qual terá sido a explosão de contentamento de Tiara Fagundes de Souza, diagnosticada com perda auditiva de grau profundo, com apenas nove meses de idade, e que somente em fevereiro de 2014, pouco antes de completar 29 anos, passou a distinguir e escutar os sons em sua diversidade. “Nasci de novo, é assim que entendo” – disse ela em êxtase a ATITUDE, numa sessão de terapia acompanhada pela fonoauFev/Abr 2015

Hoje com 30 anos, Tiara, com curso superior de Administração, é técnica de processamento de projetos na empresa Indumep, do setor metal-mecânico. E graças à implantação de um ouvido biônico (ou o tecnicamente chamado de implante coclear), mais habilitada para o ofício, ganhou inclusive uma promoção recente. A cirurgia, primeiramente no ouvido esquerdo, foi feita há um ano pelo otorrinolaringologista Rodrigo Souza Magalhães, que neste mês de abril foi convocado para repetir o procedimento no ouvido direito, realizando o implante bilateral. De acordo com o médico, a indicação básica do implante coclear é para crianças que já nasceram surdas (sendo desejável que a cirurgia ocorra ainda na infância), assim como adultos que perderam por algum motivo a audição, tendo estes grande possibilidade de voltarem a ouvir.

No caso de Tiara Fagundes, ela usava desde muito cedo os aparelhos auditivos convencionais. No início, alguns enormes, que lhe trouxeram muitos aborrecimentos na vida estudantil, já que ela sempre freqüentou escolas regulares. “Briguei muito. Eu ficava nervosa porque eles danificavam meus aparelhos. E eu não conseguia ouvir o que diziam. Mas hoje ninguém pode falar mal de mim”, brinca, com a segurança de quem já nem precisa mais fazer leitura labial para entender o que os outros dizem. Dr. Rodrigo explica que para se chegar à conclusão da conveniência do implante coclear é feita uma avaliação criteriosa, que começa nos testes com o aparelho de audição convencional para medir as respostas do paciente. Acompanham, também, exames de imagem, para sondagens internas. O otorrino informa que, “embora seja uma cirurgia delicada, que exi-

ja um refinamento técnico muito grande, com aplicação de anestesia geral, comparada a uma cirurgia cardíaca, por exemplo, envolve risco muito menor, sendo que o paciente é operado num dia e recebe alta no outro”. Um mês após é que é ligado o conjunto de eletrodos implantado e que funciona em sintonia com o dispositivo externo. Neste momento entra em cena novamente o importante trabalho do fonoaudiólogo, que entre outros atributos vai medir níveis ideais de escuta e educar o paciente a processar melhor os sons de toda ordem que lhe chegam como novidade. “Agora já ouço uma cadeira arrastar, o barulho do carro quando passa num buraco, apitos, buzinas. E não preciso mais me comunicar com mensagens no celular. Eu ouço as pessoas que falam comigo”, pontua Tiara, com olhos arregalados e vibrantes.

A FONOAUDIÓLOGA Priscila Machado usa um anteparo para testar a resposta de audição de Tiara

dióloga Priscila Machado, neste mês de abril. “Ouvir a voz de minha mãe e a minha própria voz, algo com que sempre sonhei, foi algo indescritível, sem palavras” – emendou, já caprichando no vocabulário e na entonação. Era uma terça-feira, final de tarde, e na sala de espera da clínica Pró Consulta, no bairro Cariru, em Ipatinga, em meio a uma dúzia de pacientes, Tiara já chamava a atenção por dialogar compulsivamente com aquele que instantes depois a revista descobriria ser seu marido. Parecia, na verdade, um monólogo. Mas, qual o problema se ela obviamente queira tirar o atraso de tantos anos sem poder se comunicar em plenitude através da linguagem oral? Além de tudo, mulheres falam, em média, 20 mil palavras por dia, em comparação com meras 7 mil pronunciadas pelos homens, segundo um neuropsiquiatra californiano. E o que se dirá de uma mulher que antes não podia ouvir a própria voz ou os sons do ambiente ao redor dela? Fev/ Ab r 2015

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ALÍVIO DAS DORES E TENSÕES SEM USO DE MEDICAMENTOS

RESPOSTAS CERTAS

TIARA E ALEXSSANDRO namoraram por dez anos e estão casados há quatro

AVANÇO DA MEDICINA

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Ainda conforme o médico, o implante coclear atualmente é uma cirurgia consolidada no mundo inteiro e representa um dos grandes avanços da medicina nos últimos tempos. “É a primeira tentativa bem-sucedida na medicina de substituição completa de um órgão sensitivo, sensorial. Simplificando, é uma tecnologia que substitui o ouvido. Os aparelhos convencionais aumentam a intensidade do som e, ainda assim, muitos deficientes auditivos continuam não escutando. Realizado precocemente, em crianças a partir de um ano de idade, o implante é capaz de fazê-las se desenvolverem normalmente como alguém que já nasceu ouvindo. Escutam, cantam, falam. Em adultos que já ouviram bem timidamente, os resultados também são impressionantes”, atesta. Formado pela Unicamp, Dr. Rodrigo Magalhães, que atua também nos hospitais Márcio Cunha e Vital Brazil, trouxe para o Vale do Aço o implante coclear como um procedimento inédito. Durante os seis anos de faculdade acompanhou várias cirurgias do gênero em São Paulo e, no último dos quatro anos de especialização subseqüentes, realizou pessoalmente um total de 50. Além de Tiara, outros quatro pacientes já foram implantados no Vale do Aço, e todos eles também têm o acompa-

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nhamento da fonoaudióloga Priscila Machado, formada em Bauru, pela USP. Priscila explica que embora fosse acompanhada por profissionais desde criança, usando aparelhos auditivos convencionais nos dois ouvidos, Tiara foi tendo gradativas perdas até não se beneficiar mais da amplificação do som. “Entendi que realmente não tinha mais respostas porque estava usando um aparelho novo e já não ouvia”, conta Tiara. “Hoje ela ouve tudo, até foguetes, e está muito mais calma” – brinca o marido Alexssandro Caminhas, 31, inspetor de qualidade, o primeiro e único namorado de Tiara, desde quando ela tinha 15 anos de idade. Os dois namoraram por dez anos e estão casados há pouco mais de quatro anos. Um dos primeiros contatos de Tiara com a fonoaudióloga Priscila Machado, ocasião em que teve a oportunidade de conversar a respeito do implante coclear, foi uma espécie de providência divina. Tiara se comunicava limitadamente por fala e Libras (Linguagem Brasileira de Sinais), utilizando ainda a leitura labial. Há cerca de seis anos, a paciente passou pela profissional quando recorria ao Programa de Saúde Auditiva da prefeitura de Ipatinga para tentar adquirir um aparelho convencional pelo SUS. E foi então que recebeu muitos incentivos para submeter-se à cirurgia. Quando ela voltou a

Enquanto realiza mais uma sessão de terapia preparando-se para a cirurgia no ouvido direito, programada para este mês de abril, Tiara mostra o quanto o primeiro implante já lhe favoreceu. Com auxílio de um anteparo (para que a paciente não enxergue o movimento de seus lábios), Priscila lhe pergunta: “Qual é o seu nome mesmo?” E ela, com indisfarçável orgulho: “Tiara Fagundes de Souza Caminhas”. A fonoaudióloga prossegue: “Você vai fazer aniversário agora, né Tiara? Vai ter festa?”. “É, dia 16. Não sei, mas deve ter. Preciso comemorar o fato de já estar ouvindo”, responde, sorrindo com todos os dentes.

DR. RODRIGO MAGALHÃES considera o implante coclear uma das grandes conquistas da medicina moderna

SERVIÇO Dr. Rodrigo Souza Magalhães Otorrinolaringologista Dra. Priscila Machado Fonoaudióloga Clínica Pró Consulta Av. Kiyoshi Tsunawaki, 50 • Cariru • Ipatinga (31) 3825-3070

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se tratar com fonoaudiólogo, agora na Pró Consulta, para sua surpresa encontrou Priscila Machado no consultório.

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DITO E FEITO

Homens e Mulheres de “O medo não pode paralisar você. Ele precisa ser seu amigo. Te mostrar que há caminhos mais seguros”. ANA PAULA PADRÃO, 49 anos, jornalista brasiliense. Hoje na Band, ex Record, Globo e SBT. Figura marcante na transmissão dos atentados de 11 de setembro, em 2001, nos EUA, casou-se no ano seguinte. Seu pai é de Sete Lagoas, mas morou a vida toda em BH. Chegou à nova capital em 1959 para dirigir o departamento jurídico da Rádio Nacional. Sua mãe, aos 17 anos, já era radialista em Araguari.

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“A experiência é um bilhete de loteria comprado depois do sorteio”. GABRIELA MISTRAL (1889-1957), pseudônimo de Lucila de María del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga, poetisa, educadora, diplomata e feminista chilena, agraciada com o Nobel de Literatura de 1945. Seu pai abandonou a família quando ela tinha três anos.

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“5% das pessoas pensam, 10% das pessoas pensam que pensam e 85% preferem morrer do que pensar”. THOMAS EDISON (1847—1931), empresário dos Estados Unidos que patenteou e financiou o desenvolvimento de muitos dispositivos importantes de grande interesse industrial. O Feiticeiro de Menlo Park, como era conhecido, foi um dos primeiros a aplicar os princípios da produção maciça ao processo da invenção. Registrou 2.332 patentes.

“Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa”. ARIANO SUASSUNA (1927—2014), dramaturgo, romancista, ensaísta e poeta paraibano. Autor de obras como Auto da Compadecida e O Romance d’A Pedra do Reino, foi um proeminente defensor da cultura do Nordeste do Brasil. Exerceu os cargos de secretário de Cultura de Pernambuco (1994-1998) e secretário de Assessoria do também falecido governador Eduardo Campos até abril de 2014.

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O NÚMERO DE formandas nos cursos profissionalizantes do Sertep é sempre muito representativo

ÚNICA APROVADA nas urnas entre as candidatas à reeleição na Assembleia, Rosângela Reis (C) foi escolhida para presidir a Comissão Extraordinária das Mulheres

Ações antivulnerabilidade Presidido por deputada do Vale do Aço, organismo inédito constituído na Assembleia Legislativa de Minas trabalha para engajar a sociedade em medidas de proteção para mulheres A inserção das mulheres nos mercados de trabalho urbanos do nosso Estado, especialmente nas regiões metropolitanas, vem crescendo desde 1990 e alcançou números expressivos no último levantamento do IBGE. No entanto, a desigualdade nos rendimentos em relação aos homens ainda é gritante: quando a comparação de salários envolve homens e mulheres com a mesma idade e nível de instrução, a diferença chega a 30%. Há também a flagrante questão da violência que atinge o segmento feminino, assim como a restrição de sua participação nos espaços de poder. Entre muitos outros, estes são fatores que determinaram a implantação de uma iniciativa inédita no país, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. A recém-criada Comissão Extraordinária das Mulheres tem o papel de fomentar ações que estimulem a emancipação e autonomia da mulher mineira, que hoje já representa 51,54% do eleitorado (ou cerca de Fev/Abr 2015

500 mil a mais que os homens - um contingente que se compara a duas populações de Ipatinga). E para cumprir seus objetivos deverá realizar várias audiências, debates públicos, visitas técnicas e reuniões também no interior. Não por acaso, a deputada Rosângela Reis (PROS), cumprindo atualmente seu terceiro mandato, foi designada para a presidência do organismo. Com um total de 58.725 votos conquistados nas urnas (mais que as populações de Mantena e Aimorés juntas, por exemplo), Rosângela foi a única mulher reconduzida à ALMG entre todas as candidatas à reeleição, em 2014. E a participação feminina no parlamento ainda é muito restrita: dos 77 deputados eleitos, apenas sete são mulheres. O número corresponde a apenas 1,6% do total de 333 candidatas que se lançaram ao pleito. Outro dado significativo é que nunca uma mulher fez parte da Mesa Diretora da Assembleia.

Conforme Rosângela, uma das metas centrais de seu novo mandato é “a defesa de políticas públicas que garantam o direito das mulheres de partilhar com os homens o ônus e o bônus da vida social”. Ela lembra que foi pensando nisso que o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, foi comemorado de forma diferente. “Dessa vez, organizamos na Assembleia um Ciclo de Debates (“Reforma Política, Igualdade de Gênero e Participação: o que querem as mulheres de Minas”), ocasião em que autoridades e movimentos sociais se encontraram e discutiram questões urgentes para todas nós, tais como a violência, a promoção da igualdade de direitos, o aumento da representação feminina na política, e o combate à discriminação. Foi uma oportunidade para

estimular o engajamento de toda a sociedade e fomentar fóruns mais amplos de discussão”, observou, lembrando que uma das principais questões levantadas durante o evento foi a necessidade de implementar juizados de violência doméstica. Só em Minas, aproximadamente 17 mulheres são mortas por dia, segundo dados recentes divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA). Ainda segundo a pesquisa, o Estado ficou em segundo lugar no índice de mortes por este tipo de crime na região Sudeste do país, perdendo apenas para o Espírito Santo. “Os números, que estão bem acima da média nacional, assustam e podem ainda ser bem maiores. A maioria das vítimas é de jovens e negras”, informa Rosângela, penalizada com a situação.

POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA

A deputada Rosângela Reis ressalta ainda o quanto o público feminino já soma entre a população economicamente ativa do Estado, daí a importância de preservar suas prerrogativas cidadãs. “Em toda Minas Gerais, são 34% das famílias que as mulheres comandam, contra 21,5% no censo anterior. É por essa razão que ao apoiar cursos entre as mais de 30 opções gratuitas oferecidas pelo Serviço Educacional Técnico e Profissionalizante (Sertep), mantido pela Associação Ação Social pela Vida (AASV) em parceria com o governo, por exemplo, continuamos priorizando também aqueles apropriados aos perfis femininos. Sem dúvida alguma, as mulheres representam o maior contingente entre os mais de 80 mil formandos ao longo dos últimos 18 anos”, observou.

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Mais d para NUMA CERIMÔNIA prestigiada por grande público, Rosângela Reis homenageia Dona Chames com a Medalha da Ordem do Mérito Legislativo

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Uma universitária quase centenária Em cerimônia emocionante promovida na sede do Sertep – Serviço Educacional Técnico e Profissionalizante, alusiva ao Dia Internacional das Mulheres, a deputada Rosângela Reis entregou à ipatinguense Chames Salles Rolim, graduada em Direito quase aos 100 anos de idade (e, portanto, a mais idosa universitária do país, candidata a figurar no Guinness Book), a Medalha da Ordem do Mérito Legislativo, maior honraria concedida pela Assembleia a cidadãos. Em 13 de abril, Dona Chames ainda atuaria na defesa de um réu em sua primeira sessão de júri, que durou extenuantes nove horas. Ao entrar para o curso, com 92 anos, ela já dizia com segurança aos colegas que todos estavam convidados para sua formatura, prometida para cinco anos depois. Cumpriu o propósito fazendo questão de ser tratada como uma estudante comum, sem rega-

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lias. Curiosamente, passou no vestibular junto com uma filha e uma neta. Mas só ela concluiu o curso.

CENÁRIO DE VANGUARDA

No mesmo evento do Sertep, como convidada especial, a diretora da Faculdade Pitágoras, Mércia Cristina, abordou em palestra o tema “A Mulher no Cenário de Vanguarda”, mencionando as lutas sociais que culminaram com importantes conquistas. A um auditório lotado, Rosângela Reis reiterou seu compromisso de “resguardar os princípios constitucionais, que vedam discriminação de raça, cor, opção sexual, origem étnica, religião, opinião política ou de qualquer outra natureza”. E ressaltou que estará atenta a combater qualquer que seja a questão que fira a legislação, “especialmente no que diz respeito às medidas protetivas para as mulheres”.

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ACONTECE

Bambambãs da criação

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Os dez anos da premiada agência de propaganda ipatinguense Café com Design foram celebrados em grande estilo por diretores, funcionários e convidados, em sua remodelada sede no bairro Cidade Nobre, decorada com primor. Um coquetel requintado foi oferecido à equipe de trabalho e seus familiares, clientes, parceiros e apoiadores. A noite fluiu sem pressa graças ao bem cuidado cardápio, papos interessantes e música de qualidade. Em clima trilegal, os sócios Neilor Mateus Condé e Herique Assis Campos receberam com a habitual finesse, acompanhados do diretor de Planejamento André Vieira. Neilor é graduado em Design Gráfico pela Univale - Universidade Vale do Rio Doce com ênfase em criação editorial e multimídia. Trabalhou por um ano na Patty Publicidades, na área de criação, de onde saiu para fundar a Café, em 2003. Possui trabalhos selecionados pelo Museu da Casa Brasileira. Herique, também fundador da empresa, é outro consagrado designer gráfico, com rica experiência, sobretudo em mídia externa. Formado pela UFMG em Comunicação Social, com ênfase em Artes Visuais, André tem especialização em Marketing na FGV. Já foi Diretor de Criação da Ten Comunicação Integrada e da Ad Salles Propaganda (SP).

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Iriana Araújo, Herique Assis, Ana Paula Vasconcelos, Isaías Campos, Neilor Mateus e filho Lorenzo Lana, André Vieira e Frederico Martins

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“QUANDO RECEBI alta do hospital – confessa Edmar –, a única pessoa que me vinha à mente era ela”

Amor sobre rodas

Cadeirantes encaram o desafio de viverem sob o mesmo teto, depois de 12 anos de namoro

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Em 20 de abril de 1996, um sábado à tarde, o industriário Edmar Domingos Costa se dirigia para o distrito de Vale Verde, município de Ipaba - distante menos de 30 km de sua cidade -, num carro dirigido pelo irmão mais velho. O destino era a casa de um amigo, com quem projetavam curtir mais um final de semana de lazer. Mas os planos acabariam abortados por um terrível infortúnio. O veículo se desgovernou numa depressão, precipitando-se ribanceira abaixo. Havia ainda um terceiro ocupante, colega de Edmar, e foi ele que pagou o mais alto preço no acidente, perdendo a vida. Edmar completaria 26 anos apenas oito dias depois e, assim, passou o aniversário no CTI do Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte. Antes de ser encaminhado à capital, em Ipatinga, no Vale do Aço, um médico já comunicara à sua mãe que, na melhor das hipóteses, ele nunca mais voltaria a andar. Apesar da dura sentença da paraplegia, decretada a partir de uma lesão medular, o risco de morte ainFev/Abr 2015

da era um fantasma que rondava o leito de Edmar. E então sua transferência foi providenciada para Belo Horizonte, onde ficaria primeiro no pronto-socorro do Hospital João XXIII e depois no Felício Rocho, por sugestão de um tio, de modo a reduzir os riscos de infecção. As providências resultaram, de certo modo, infrutíferas. Ali, após várias horas de cirurgia, o paciente foi levado rapidamente para o CTI. Vieram juntas infecção, insuficiência respiratória e pneumonia. Edmar lembra que as primeiras semanas pós-acidente foram as mais dolorosas. No Felício Rocho, permaneceu 16 dias deitado de barriga para cima, com o tórax todo engessado. Contudo, ao todo a internação no mesmo hospital durou três meses. “Quando recebi alta do CTI pensei que estivesse voltando para casa. Estava com muitas saudades. Porém, de lá fui para a enfermaria e, meses depois, transferiram-me para o Sara Kubitscheck, a fim de cumprir período de reabilitação”.

ABANDONO PATERNO

Conforme Edmar, sua família é originária de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. Entretanto, em 1979, a mãe e uma escadinha de cinco filhos pequenos, mais a sua avó materna, se viram obrigados a buscar amparo na casa de um tio no Vale do Aço. O pai - um borracheiro que tinha sérios problemas com bebida - abandonou-os de forma impiedosa, até que viesse a morrer de cirrose hepática. “Graças a Deus minha mãe, que era dona de casa, arranjou emprego numa empreiteira na área de Usiminas e depois ganhou a oportunidade de trabalhar num restaurante in-

dustrial, onde ficou por 21 anos até se aposentar”, recorda Edmar que, até se acidentar e também passar a sobreviver com o benefício da Previdência por invalidez, passou por várias empreiteiras, como ajudante de eletricista e mecânico de manutenção.

O AMOR NUMA CADEIRA

O que Edmar Domingos não sabia é que uma mulher que conheceu pouco menos de um ano antes de seu acidente, já se locomovendo numa cadeira de rodas, viria afinal tornar-se sua esposa, embora tivesse sentido forte atração por ela logo no primeiro contato. Ele narra: “No início, o impac-

to da paraplegia em minha vida foi muito forte. Eu que andava de bicicleta e a pé pra lá e pra cá, desde pequenininho, de repente estava completamente limitado. Foi uma mudança muito radical na minha vida. Tive depressão, pensei em morrer, mas creio ter sido reerguido pela oração de muitos”. Edmar faz questão de dizer que quando ficou paraplégico “conhecia a mensagem do Evangelho, mas estava afastado”. Contudo, ainda andava normalmente quando fez uma visita a uma igreja Metodista e lá se enamorou de Maria Efigênia de Jesus Costa, alguém cuja imagem não lhe saía da cabeça.

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VENCENDO OS LIMITES

Um tiro inocente

EDMAR E EFIGÊNIA durante a celebração do matrimônio, no final de 2013

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– Quando recebi alta do Sara – diz Edmar –, a única pessoa que me vinha à mente era ela. Era como se, de algum modo, fôssemos uma espécie de alma gêmea. Pedi a meu irmão que me levasse até à sua casa. Eu já tinha carro, mas não era habilitado ainda. Passei número de telefone, começamos a conversar. Desde 2001, foram 12 anos ela me ligando, eu ligando pra ela, nos encontrando na igreja, viajando juntos, até tomarmos a decisão de nos casar, o que ocorreu no final de 2013. Edmar conta que o desejo de conviver com Efigênia era tão forte que apenas alguns meses depois de conhecê-la, ambos sendo cadeirantes, tirou a carteira de motorista. E assim é que, tendo ele ao volante, fizeram muitas viagens juntos, acompanhados de familiares dela. “Estivemos em Mantena, onde o avô materno dela morava. Estivemos em Nova Belém, para que minha sogra pudesse visitar uma irmã. Fomos a Serra e Vila Velha, no Espírito Santo, para estar com um tio e um irmão de Efigênia”, relata Edmar, orgulhoso de não estar mais tão enclausurado, apesar das seqüelas sofridas em membros inferiores.

O CASAMENTO

A cerimônia de casamento de Edmar, 44, e Maria Efigênia, 51, aconteceu em 14 de dezembro de 2013, tendo como palco um clube de aposentados. E por que é que demorou tanto até tomarem esta Fev/Abr 2015

decisão? Contida, até então, vendo o marido desfiar com paciência seu novelo de emoções, a mulher toma a palavra para explicar, ainda guardando com discrição as razões de sua própria limitação física. “Minha irmã mais nova foi pra Portugal e deixou comigo os três filhos. Além disso, havia minha mãe doente. Para dois deficientes, assumir outras responsabilidades parecia querer tornar a vida ainda mais difícil, até porque precisaríamos construir nosso próprio espaço. Minha irmã voltou para casa, após cinco anos, e minha mãe continuava doente. Onde meu então namorado morava, noutro bairro, o lote era pequeno, ocupado pela família toda. Some-se a isso o fato de a avó de Edmar já ser cadeirante. Aí seriam três cadeirantes numa casa, impraticável”, detalha Efigênia. Efigênia diz que, por força das circunstâncias, ela e Edmar começaram a construir. “Isto sem nenhum projeto, pela nossa cabeça mesmo. Por isso nossa casa não está adequada, faltou muita coisa. No banheiro, o vaso é muito baixo. Temos dificuldade para sair dele e voltar para a cadeira. A cozinha ficou pequena para dois cadeirantes. Por isso pusemos a mesa na varanda. Um dia eu estava fritando um peixe e a gordura quente caiu em mim, sofri queimaduras”, relata a esposa de Edmar, que é professora de português numa escola pública e cumpre, diariamente, expedientes matutino e vespertino, disputando espaço entre os carros com sua ca-

deira de rodas em pontos de alto congestionamento. A despeito dos fatores adversos, Edmar e Maria Efigênia fazem tudo autonomamente. Membros da igreja Projeto Shammah, comparecem aos cultos, vigílias e programas de oração de duas a três vezes por semana, fazem visitas, vão ao supermercado, cozinham, cuidam da limpeza doméstica, se banham, se vestem. Compraram dois armários, que esperaram até que fossem montados numa altura mais baixa, mas dos quais reclamam terem vindo com cupins. Entre novas adequações pensadas para a moradia, vêem necessidade de fazer uma rampa para a laje, onde se acumulam muitas folhas de árvores e a água de chuva desce pelos pontos de luz, assim como ampliar as dimensões da porta de entrada, para prevenir acidentes e facilitar o atendimento à campainha. “Falta apenas um pouco mais de tempo ($$$$$$$)”, sorri Edmar, lembrando que sobrevivem de três salários mínimos, um seu e dois de Efigênia, também tendo que cobrir os altos custos de manutenção de suas cadeiras motorizadas, a última delas comprada por cerca de R$ 9 mil, em prestações, e já apresentando problemas. “Querem que eu envie a cadeira pro conserto, mas só devolvem depois de 40 dias, sendo ela o meu principal meio de locomoção. E não me emprestam ou alugam uma sobressalente. Parece piada de mau gosto”, brinca Efigênia.

Maria Efigênia ainda era uma criança de apenas nove anos de idade, totalmente despreocupada, quando perdeu de forma inocente o movimento das pernas. A paraplegia foi provocada por um disparo de arma de fogo que atingiu suas nona e décima primeira vértebras. Seu pai tinha um comércio onde vendia frutas e verduras, no centro de Ipatinga. Mantinha ainda uma grande criação de porcos, alimentados com sobras. Certo dia, vendeu 50 cabeças destes animais, recebendo como parte do pagamento um revólver 38. Era a arma que, acidentalmente, viria afetar tragicamente a vida de duas de suas filhas, no ano de 1972. “Houve o batizado de um primo, na casa de meu tio. Meu pai levou a arma até como forma de defesa, o que era normal naquele tempo, já que meu tio estaria sendo ameaçado por alguém. Terminada a festa, como os braços dos adultos estavam ocupados com as crianças (que dormiam), o revólver ficou para trás, para que meu tio o trouxesse depois. No dia seguinte, segunda-feira, levantei cedo, bem disposta, e minha mãe mandou buscar sabão para a lavadeira, comprar pó de café. A gente morava num lote amplo, tinha cômodo de aluguel. E nesse vai e vem eu vi quando meu tio estava voltando e, depois, uma das inquilinas falou: ‘Seu tio trouxe um negócio aí, se for gostoso eu quero!’”. Segundo Efigênia, aquilo aguçou sua curiosidade infantil e ela resolveu ver do que se tratava. “Chamei minha irmã menor, de sete anos, e fiquei imaginando: ‘O que será que ele trouxe, que não tem na banca dele?’. Estava tudo embrulhadinho, arrumadinho, e

quando abrimos encontramos a arma. Inadvertidamente, minha irmã puxou o gatilho. Eu estava na frente dela e fui alvejada à queima-roupa. O disparo pegou no lado direito do peito, atravessou meu corpo e fraturou as vértebras”. Efigênia só se lembra de ter caído e, logo após, um monte de gente se movimentando em volta dela. Os olhos estavam abertos, mas só identificava vultos, ao mesmo tempo em que ouvia o burburinho das pessoas aflitas. “Era como se eu tivesse morrido. Escutava os gritos, via as pernas das pessoas se movimentando, mas parecia que eu não estava mais ali”, descreve. Curiosamente, Maria Efigênia só ficou sabendo em definitivo que não andaria mais quatro anos depois. Como a bala não ficou alojada em seu corpo, todos pensavam inicialmente que o pior houvesse sido superado e, no transcurso das internações, ainda alimentavam esperanças. Mas ela ficou 19 dias no Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga, e depois foi transportada para o Felício Rocho, em BH. Lá ficou oito meses, até que pudesse voltar para casa, ainda sem se locomover. “Nesse tempo, usava uma cadeira de pau e minhas nádegas se encheram de feridas”, recorda. Sem solução para o drama da filha, o pai de Efigênia voltou com ela para a capital, internando-a no Hospital da Baleia, onde ficou quase dois anos. Mais um ano de internação foi cumprido no hospital Arapiara, e foi lá que um médico disse à paciente que tudo o que podia fazer já havia feito, sem êxito.

A EMOÇÃO de Efigênia na formatura como professora: um troféu à persistência

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COMO MELHOR qualidade, os dois arriscam dizer que “amam demais”

47 DE ALUNA A PROFESSORA

“Aprendi a ler no próprio hospital”, diz Efigênia, que em função do infortúnio começou a estudar numa escola municipal com quase 15 anos. Foi quando coincidentemente também teve contato com a mensagem do Evangelho e ganhou mais força para superar as adversidades, alega. “Com o combustível bíblico – define –, permaneço de pé, embora sentada”. Sua persistência e fé têm sido bem recompensadas. Sucessivamente, passou em dois concursos públicos na prefeitura de Ipatinga, o que lhe permitiu trabalhar por mais de 12 anos como assistente administrativo e, desde 2008, como professora de português para alunos do sexto ao nono ano. “Gosto de ensinar. Está no sangue”, conta ela, que também é professora de Escola Bíblica Dominical. Quando entrou pela primeira vez numa igreja, ela recorda rindo para não chorar, “eu era levada e retornava num velocípede”. Sua primeira cadeira de rodas foi comprada por uma irmã que foi para os EUA, em 2001. Para ajudar no orçamento doméstico – e inclusive bancar as despesas da nova cadeira, que já chegou apresentando problemas no motor, dificultando a sua locomoção por regiões mais íngremes –, ela ainda vende produtos Avon, Natura e de O Boticário. “Preciso me virar, porque um motor novo custa muito caro, eles só vendem o par, que fica em mais de mil reais, divididos em no máximo duas vezes. Ando com medo da minha cadeira parar e eu ficar a pé de repente, já que está com um barulho meio estranho”, relata. Quanto à sua cadeira, com 11 anos de uso, Edmar é que acaba cuidando da manutenção, fazendo algumas

reformas, para mantê-la em funcionamento. “Literalmente, chorei ao telefone, para que pudessem dividir em duas vezes um conserto recente, de mil reais. Disseram que só acima de R$ 1.500 poderiam dividir em três ou quatro vezes”.

SUCATEIRA VALE DO AÇO

TEMPERAMENTOS QUE SE COMPLETAM

Menos de dois anos após terem selado o matrimônio, Edmar e Maria Efigênia consideram que sua decisão foi acertada. “Evidentemente que divergimos em muitos pensamentos, mas agimos em união, estamos sempre juntos, nos completamos. A gente se ama, né?”, diz ela, que reconhece na impaciência o seu maior defeito, justamente o oposto do marido. “Quando fico com problemas na cadeira eu vou à loucura, e então ele chega com toda paciência do mundo, pra dar uma solução”. Edmar, por sua vez, sente admiração pela “desenvoltura e iniciativa” da companheira, confessando-se tímido e retraído muitas vezes. Como melhor qualidade, os dois arriscam dizer que “amam demais”. E talvez por isso ainda sonhem em, quem sabe, gerar filhos ou mesmo adotar. “Qual é o homem que não quer ser Pai? Eu acredito em milagres, creio no Deus do impossível”, anima-se Edmar. “Creio que já ficou um pouco tardio para mim. Mas se a ciência também disser que sim, quem sabe?” – adiciona Efigênia.

CONTATO: efigeniafifi@hotmail.com edmar1901@live.com

Quer fazer de seu filho um homem respeitado? Ensine-o a preservar o meio ambiente. Atuar no ramo da reciclagem de lixo, muito mais que uma alternativa viável de geração de renda, é uma responsabilidade de todos aqueles que se preocupam de verdade com a preservação do meio ambiente. A SUCATEIRA VALE DO AÇO não abre mão do compromisso social de atuar como agente de preservação ambiental. Porque o futuro da Terra, o nosso futuro e o futuro de nossos filhos dependem disso. PRESERVAR O MEIO AMBIENTE FAZ PARTE DO NOSSO NEGOCIO

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Sonhar é preciso A emocionante carreira de Luiz Gustavo, o repórter mineiro que começou entregando jornal, aos 12 anos, e hoje viaja o mundo como enviado especial do Domingo Espetacular e Jornal da Record 48

LUIZ GUSTAVO numa biblioteca de Lima, depois de uma viagem de quatro dias e meio, de ônibus, percorrendo a Rodovia Interoceânica (ou Estrada do Pacífico), que liga o noroeste do Brasil ao litoral sul do Peru, através do estado do Acre

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“Daqui a pouco, a história do lavador de carros de Uberlândia que se tornou um dos maiores arquitetos do Brasil; e, de Belo Horizonte, o caso do morador de uma favela que virou Procurador do Estado”. Estas chamadas televisivas, como muitas outras que lançam holofotes para a série “Venci na Vida”, do programa Domingo Espetacular, da Rede Record, são caprichosamente instigantes, sugerindo ótimos exemplos a serem copiados. Porém, o que quase a totalidade dos telespectadores não sabe é que um dos principais artífices destas produções poderia, sem nenhum favor, ser ele mesmo o protagonista da história. Seu nome: Luiz Gustavo da Luz, o “Biló”, um descendente de libaneses que, órfão desde a juventude, saiu de Governador Valadares para se tornar repórter de fama internacional. Marcantes e inconfundíveis, as digitais do talento de Luiz Gustavo para garimpar o ineditismo, bem como a forma especial de mostrá-lo, estão impressas em cada trabalho. Num dia, a atração é um certo tratamento em que são usadas picadas de abelhas nos pacientes; noutro, uma visita à bucólica São Domingos do Prata, onde Rosinha, uma égua mangalarga de cinco anos, adotou Melinda, uma bezerra da raça Nelore, de quem morre de ciúmes e não deixa ninguém se aproximar. Em Pirapora, “Biló” mostra Pepe, o pássaro corrupião que, capaz até de passear de bicicleta, roubou do Velho Chico o posto de atração principal da cidade. Na Croácia, onde descobriu que também foi inventada a gravata, o repórter exibe Hum, a menor cidade do mundo, com 24 moradores e nove carros. Em Belo Horizonte, a afrontosa ação de traficantes que vendem maconha com selo de qualidade do Inmetro. O resultado não poderia ser outro: sucesso e reconhecimento. Assim é que, em novembro de 2013, como confessa em sua página no Fabebook, Luiz Gustavo disse ter levado um susto ao chegar a Uberlândia, no Triângulo Mineiro, para participar da I Semana Internacional da Comunicação. Num banner na entrada do evento, lá estava ele, no mesmo nível, com o rosto estampado em meio a uma galeria de celebridades como Roberto Cabrini e Caco Barcellos. Numa entrevista exclusiva a ATITUDE, “Biló” fala um pouco de suas alegrias e tristezas (como a perda prematura de seu pai, “tão importante na minha carreira e na minha formação como ser humano”), diz aquilo que em sua opinião é requisito para galgar degraus na carreira profissional. E conclui que nasceu “para contar histórias, estar no meio do povo, traduzir sentimentos”. Fev/ Ab r 2015

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ASCENSÃO PROFISSIONAL

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Sou da corrente que defende que notícia boa também tem que dar audiência, por entender que o telespectador se cansou da mesmice, de só ouvir falar em morte, tragédia, crise e crime.

NA CROÁCIA, desfrutando da calmaria de Hum: a menor cidade do mundo foi construída no século XI, como um castelo medieval

ATITUDE – Quando foi que você começou a ter contato com o jornalismo? Fale-nos um pouco de suas origens, do despertamento da sua vocação. LUIZ GUSTAVO – Nasci mineiríssimo em Governador Valadares, na manhã de 4 de outubro de 1967. Meu pai, saudoso, inesquecível e amado Elias Jotta da Luz, tinha um jornal semanal que se chamava “Gazeta de Valadares”. Foi ele a minha primeira e grande referência na profissão. Aos 12 anos pedi uma oportunidade de trabalho na área. Como resposta, ouvi que “poderia começar no dia seguinte, mas às 4h30, no setor de entrega do jornal”. Não resisti à tentação de querer arguir meu pai sobre o motivo do filho do dono do jornal chegar tão cedo à empresa. A resposta: “Se um dia você assumir o jornal, terá que saber como todos os departamentos funcionam. Por isso, deve começar no cargo mais humilde,

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o de entregador”. No dia seguinte, feliz da vida, lá estava eu montando numa bicicleta velha antes do amanhecer. Era tudo muito mais difícil que hoje. Tínhamos que juntar todas as páginas de cada exemplar, agrupá-las na vertical e com um pedaço de madeira, encadernar. Feito isto, íamos recortando e depois colando os endereços, na ocasião, datilografados. O serviço me consumia a manhã inteira de domingo, mas chegava em casa com o ar de satisfação, de dever cumprido. Passados alguns meses, ganhei uma coluna estudantil no semanário. Falava da escola, dos amigos, do bairro. Mas meu pai entrou numa profunda dificuldade financeira e eu tive que colocar meu sonho de lado para sobreviver. Fui então ser entregador de remédios, faxineiro de farmácia, vendedor de amendoim, picolé etc.

Meu pai tinha um vício terrível. Fumava inacreditáveis oito maços de cigarros por dia. É isso mesmo: 160 cigarros diariamente. Ele só acendia o primeiro, no início da manhã. Para ir pitando sem parar, usava a “guimba”, ou seja, emendava um no outro. Por conta desse hábito muito ruim, morreu jovem, aos 59 anos, de complicações respiratórias e cardíacas. Uma pena ter convivido tão pouco com ele. Porém, Deus tinha um plano maior pra mim assim como tem para cada um de nós! Aos 18 anos, meu padrinho de batismo, Edson Gualberto, me convidou para trabalhar na recém-inaugurada TV Leste, na época uma afiliada da Rede Manchete. Comecei como operador de áudio, até que um dia surgiu uma vaga na produção do jornalismo. Lá estava eu como voluntário. Algum tempo depois, uma repórter faltou ao trabalho e me pediram para ir lá acompa-

nhar a notícia que a colega deveria cobrir. Voltei com a reportagem pronta. Texto finalizado, entrevistas feitas. Fui, então, contratado como repórter pra nunca mais sair da profissão. Aos 20 anos, recebi um convite para trabalhar na TV Globo de São José dos Campos. Lá fiquei um ano e meio e fiz bons amigos como Heraldo Pereira e Cléber Machado que - quis o destino - se tornaram os mais famosos da equipe. Minha mãe adoeceu e tive que voltar para Valadares. Infelizmente, ela faleceu algum tempo depois. Assim, perto de completar 22 anos, já estava órfão de pai e mãe. Mas sempre amparado e guiado por Deus. Fui então trabalhar em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, onde tive a oportunidade de virar repórter de rede da TV Globo, fazendo apenas as matérias em nível nacional. Muitos anos depois, fui transferido para BH, até que em 2009 recebi a proposta para trocar de emissora e assinei com a Rede Record, onde estou imensamente feliz! Viajo o mundo contando histórias para os principais telejornais da emissora como o Jornal da Record e o Domingo Espetacular.

NO EVENTO internacional em Uberlândia, figurando numa galeria de celebridades, ao lado de Caco Barcellos e Roberto Cabrini

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POSTAGEM DE “BILÓ” em 8 de janeiro de 2014, no Face: “Quando entrevistei Nelson Ned, seis meses atrás, reportei a saúde debilitada dele. Não sabia que aquela seria provavelmente a última entrevista que ele daria a uma emissora de TV”

O SIMPÁTICO PEPE, corrupião que roubou do Velho Chico o posto de atração principal de Pirapora

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lespectador se cansou da mesmice, de só ouvir falar em morte, tragédia, crise e crime.

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ATITUDE – Quantos países do mundo você já visitou e qual teria sido a reportagem mais importante - ou mais difícil - até o momento? Algum risco de morte enfrentado? LG – Já rodei bastante, graças a Deus, seja a trabalho ou lazer. Já estive na Argentina algumas vezes, Peru, Trinidad e Tobago, Aruba, México, Estados Unidos, Canadá, Índia, Inglaterra, Holanda, Itália, Dubai e tantos outros lugares bacanas! Talvez o maior desafio profissional tenha sido enfrentar o gelo do

pólo Ártico e os seus 50 graus abaixo de zero. Minha bochecha congelou infinitas vezes, assim como o protetor labial. Risco de morte eu nunca corri porque não faço denúncia nem reportagens que possam depreciar terceiros. Gosto de falar de coisas positivas, de bons exemplos, de situações que possam contribuir para uma vida melhor de todos nós. Sou da corrente que defende que notícia boa também tem que dar audiência, por entender que o te-

ATITUDE – Fale-nos um pouco de sua família. E que sonhos você ainda alimenta? LG – Minha esposa, Janaína Depiné, é minha fiel e confidente parceira. Temos dois filhos lindos e amamos estar em família. Ela se tornou evangelista e vem viajando o país inteiro levando a palavra de Deus. Tem transformado vidas por meio do Evangelho, o que muito me orgulha. Moramos em Belo Horizonte, embora eu esteja sempre viajando. Costumamos brincar que minha agenda é sempre imprevisível. Se me convidam para algum compromisso social ou profissional, logo aviso que “estou disponível desde que o mundo esteja calmo”. A profissão é cativante exatamente pela ausência de rotina. Hoje, gravamos com o Presidente da República, amanhã estamos na favela, depois em outro país e por aí vai. Sonho a gente sempre tem porque você morre aos poucos quando deixa de sonhar. O desejo, o sonho, a vontade, tudo isso é o nosso combustível no dia a dia. É preciso ter um alvo, um destino, apesar de a felicidade ser a caminhada e não necessariamente a chegada. COM XUXA, no início da carreira como repórter

Se me convidam para algum compromisso social ou profissional, logo aviso que estou disponível desde que o mundo esteja calmo. Fev/Abr 2015

ASCENSÃO PROFISSIONAL

Todos querem os bônus, não os ônus

NO ÁRTICO, o desafio de uma temperatura de 50 graus negativos: “Minha bochecha congelou infinitas vezes”

“Diariamente agradeço a Deus por todas as bênçãos que Ele derrama na minha vida. Enfrentei muitas dificuldades afetivas e financeiras, mas considero que Deus me fez um homem digno, honesto e trabalhador. Considero-me um escolhido, um privilegiado com o cuidado e o carinho que o Senhor tem comigo”, diz Luiz Gustavo da Luz. “Quando me perguntam qual o segredo pra chegar lá”, ele acrescenta, “apenas respondo que sempre fui fiel a Ele, que me contemplou – e sempre me surpreende com novas bênçãos – com uma família admirável, bons amigos e um trabalho digno capaz de transformar pessoas”. Para o repórter, “ninguém deve desistir dos próprios sonhos”. Ele entende que “cada ser é único, e Deus planejou a vida de cada um de nós muito antes de darmos nosso primeiro suspiro”. O profissional confessa: “Fico triste quando vejo talentos que ficaram pelo caminho por absoluta falta de perseverança e disciplina. A questão é que muita gente quer ser quem você é sem fazer o que você faz. Aí volto a lembrar do meu finado pai, que dizia que “um bom marujo não se faz em águas calmas”. Ou seja, pra ter o bônus, é preciso suportar o ônus”.

ATITUDE – Qual é o segredo para tornar-se um profissional bem-sucedido em sua área? Estudou outras línguas? LG – Fico lisonjeado com o entendimento de que “sou bem-sucedido”. Outro dia li que felicidade é você fazer o que ama e achar alguém que lhe dê um bom cheque por isso no fim do mês. Meu trabalho nunca foi e jamais será um fardo. Saio com uma imensa alegria todos os dias para cumprir o meu ofício, por entender que nasci pra isso, para contar histórias, estar no meio do povo, traduzir sentimentos. Oficialmente, não estudei outras línguas. Mas de tanto viajar, de perguntar, de querer saber e aprender, me viro também com o inglês e o espanhol. ATITUDE – E, por que muitos o chamam de “Biló”, de onde é que vem isso? LG – É o meu inconfundível apelido. Foi dado pela minha avó materna, Amazildes. Ela me chamava de “Bilolôco”. Não tem tradução. Era apenas uma forma carinhosa de me chamar. Minhas irmãs acharam que estava grande demais e resumiram para “Biló”. Nem imaginavam que, ali, estavam fazendo a primeira de muitas edições na minha vida. Fato é que me senti feliz com o apelido. Não incomoda e já está devidamente incorporado à minha identidade. Aliás, essa é uma das grandes dificuldades dos apresentadores dos telejornais. Quando vou entrar ao vivo, a maioria comenta, nos bastidores, que a atenção tem que ser redobrada pra não me chamar de Biló, no ar, em vez de Luiz Gustavo (risos).

JOTTA DA LUZ, o saudoso pai de Luiz Gustavo, que segundo ele fumava impressionantes oito maços de cigarros diariamente

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FILMES/LIVROS

A biografia de um gênio

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Quem um dia sonhou ou ainda sonha em ter, de algum modo, seu talento reconhecido, procurando fórmulas para maior afirmação profissional, não pode deixar de assistir ‘Chaplin’, um comovente filme biográfico estadunidense de 1992 e que retrata a genialidade, o caráter impulsivo e a ousadia do ator, diretor, produtor, humorista, empresário, escritor, comediante, dançarino, roteirista e músico britânico Charlie Spencer Chaplin (1889-1977). O filme foi produzido e dirigido por Richard Attenborough e estrelado por Robert Downey, Jr. (O Homem de Ferro), Moira Kelly, Dan Aykroyd, Penelope Ann Miller e Kevin Kline. No elenco também está Geraldine Chaplin fazendo o papel de sua própria avó paterna, Hannah Chaplin. A produção foi adaptada por William Boyd, Bryan Forbes e William Goldman a partir dos livros ‘My Autobiography’, de Chaplin, e ‘Chaplin: His Life and Art’, do crítico de cinema David Robinson. Em meio a uma série de abordagens relevantes, ‘Chaplin’ revela aspectos da sofrida infância do artista vivida junto à mãe doente e um irmão, ainda na Inglaterra; as circunstâncias de criação do vagabundo-personagem Carlitos; as inúmeras ligações amorosas com jovens de pouca idade, bem como os problemas de ordem política que o levaram a ser expulso dos Estados Unidos.

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A DOLOROSA INFÂNCIA e os muitos envolvimentos sentimentais de Chaplin estão em evidência no filme biográfico

Best-seller que não envelhece Com 144 páginas e o preço recomendado de R$ 24,90, a obra ‘O Monge e o Executivo’ (1998) é inspiradora e contém ensinamentos valiosos para toda a vida. Sobretudo, trata-se de como se tornar uma pessoa melhor a partir de princípios simples, mas fundamentais. O leitor é convidado a juntar-se a um grupo que durante uma semana vai estudar com um dos maiores especialistas em liderança dos Estados Unidos: Leonard Hoffman, famoso empresário que abandonou sua brilhante carreira para se tornar monge em um mosteiro beneditino. Este é o personagem central desta envolvente história criada por James C. Hunter, capaz de contribuir para a formação de verdadeiros líderes. Se você tem dificuldade em fazer com que sua equipe dê o melhor de si no trabalho e gostaria de se relacionar em padrões mais elevados com sua família e seus amigos, vai encontrar neste best-seller personagens, idéias e discussões que podem abrir um novo horizonte em sua forma de lidar com os outros.

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Tornar-se um astro da música aclamado internacionalmente, entre tantos candidatos ao estrelato espalhados pela vastidão do globo, é algo tão desafiador que, mesmo para um sem número de cantores e instrumentistas vocacionados, parece pura abstração. Prisioneiros do anonimato, o máximo a que muitos se dão ao direito é sonhar com uma carreira triunfante no ambiente das mídias domésticas – talvez encontrando um lugar ao sol entre talentos discutíveis que vão sendo projetados. Por essa razão, encontrar o veio do sucesso passa quase obrigatoriamente pelo cumprimento do beabá da fama: agarrar com unhas e dentes as chances que aparecem. Óbvio que esta é apenas uma parte da receita. Há uma série de outros ingredientes envolvidos. Porém, foi o que fez, literalmente, Adson Sodré, 35 anos, um baiano de Jequié que viveu sua adolescência em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. Ali, embora garoto, ele já era visto como um virtuoso compositor e guitarrista. Mas o divisor de águas em sua vida artística foi ter decidido competir a uma vaga para atuar na banda do famoso ícone do rock progressivo norte-americano, Neal Morse, no segundo semestre de 2012. Fã confesso do multi-instrumentista yankee, figura de proa na musical Nashville, no Tennessee, Adson tinha uma conta no site dele e de sua gravadora, a Radiant Records, por meio da qual recebeu um e-mail que noticiava uma audição promovida no YouTube, denominada “Chance Of a Lifetime”. Neal abriu oportunidade para que novos instrumentistas selecionados pudessem se juntar a ele numa turnê pelas Américas e Europa. Contudo, havia um detalhe bastante inibidor: estavam vetadas as participações de músicos de fora dos EUA.

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“VOCÊ É O CARA!”

“Chance Of a Lifetime” Guitarrista que viveu dos dez aos 21 anos em Valadares se aventura em concurso aberto para instrumentistas norte-americanos e é escolhido para participar de turnês internacionais com monstros sagrados do rock progressivo

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ENTRE OUTROS locais, com a Neal Morse Band Adson realizou apresentações no México, na Finlândia e sete diferentes estados americanos

O guitarrista Adson Sodré não se intimidou com o aviso. Pelo contrário, entendeu que o título da audição parecia um convite direto, a verdadeira “chance da sua vida”. Preencheu assim mesmo sua inscrição, tirou as três músicas de Neal (que já conhecia) requeridas para a competição, enviando o vídeo em seguida. “Quinze dias depois – conta ele –, eu estava em Valadares para fazer um workshop quando abri meu e-mail e me deparei com o convite para estar em Nashville no sábado, dia 28 de abril, ao meio-dia”. Mas, não é só: Adson revela que, até então, nunca viajara ao exterior, seu inglês era apenas ‘embromation’ e não tinha sequer passaporte. Pois ao final dos 30 dias logo após já estava inclusive com o visto nas mãos. “Levei um amigo para ajudar na comunicação e disse pra mim mesmo: ‘Seja o que Deus quiser”. Chegamos apenas duas horas antes da audição. De seis guitarristas, fui o último a me apresentar. Trinta minutos depois, enquanto aguardávamos ainda na cidade, meu celular tocou. Era do estúdio e pediam que voltássemos. Quando cheguei, Neal me abraçou e disse: ‘Parabéns, você é o cara!’”. Adson relembra ainda que segurou as lágrimas até o último instante, mas em meio a muitas lembranças sobre as dificuldades enfrentadas até ali, desabou. Apenas uma semana depois da audição, o guitarrista recebeu um e-mail pessoal de Neal dizendo que gostaria que fizesse dois solos especiais para o novo álbum, “Momentum”. Após viajar o mundo com a banda, em duas turnês, recebendo honras de seus companheiros de palco, Adson ainda participou da apoteótica gravação de um DVD, em Nova Iorque.

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MÚSICA

Lutas contra o desânimo

COM UM TALENTO diferenciado, o guitarrista baiano caiu nas graças do bandleader norte-americano Neal Morse

MONSTROS SAGRADOS

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O bandleader Neal Morse, 54 anos, já foi incluído numa lista dos “100 Maiores Vocalistas de Rock” pela Britain’s Classic Rock Magazine. O site holandês Progressive DPRP concedeu-lhe, em certa ocasião, o reconhecimento como realizador da “melhor turnê de rock”, juntamente com outros lendários artistas como o inglês Peter Gabriel (fundador do Genesis) e os canadenses Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart, do Rush. Conhecido por sua versatilidade musical e um estilo de composição e gravação muito próprio, aclamado pela crítica especializada do mundo inteiro ele deixou suas bandas Spock’s Beard, Eric Burdon & The New Animals e Transatlantic para trilhar uma bem-sucedida carreira

solo após se converter ao cristianismo. Na mesma turnê da Neal Morse Band, Adson teve ainda o privilégio de tocar ao lado do baterista norte-americano Mike Portnoy, conhecido principalmente por ter sido o baterista oficial e co-fundador da banda de metal progressivo Dream Theater. Portnoy ganhou nada menos que 29 prêmios da conceituada Modern Drummer Magazine. Também produziu muitos tributos a bandas como Beatles, Led Zeppelin, Rush e The Who. Em 2011, tocou com a banda Stone Sour no Rock in Rio. Adson conta que um dos momentos mais emocionantes da segunda turnê foi quando Neal se dirigiu à bateria e Mike assu-

miu os vocais. “Durante os solos – lembra –, Mike simplesmente brincava comigo fazendo uma reverência diante do público, o que me fez ficar sem chão. Tive que me ajoelhar também ao seu lado e agradecer a Deus por tudo que estava acontecendo”, confessa. “Passei metade da minha vida escutando esse cara nos seus mais diversos projetos – Dream Theater, Liquid Tension Experiment, Transatlantic. Quando morei em Valadares, eu dava aulas de música e não tinha carro. Ia de bicicleta num percurso de 30 minutos, pedalando, ouvindo no disc man os CDs do Dream Theater. Pingando suor, mas anestesiado pelo som de Mike Portnoy e sua ex-trupe”, conta.

Adson Sodré conta que a música está no seu sangue, tendo sido herdada tanto da mãe quanto do pai, autor de gravações em cassete quando ele tinha entre três e quatro anos e já batucava panelas ao lado, enquanto ouvia-o cantar. Aos cinco anos de idade, já fazia seus primeiros acordes e solos em cultos de sua igreja. Viveu desde os dez até os 21 anos em Governador Valadares, onde aprimorou suas técnicas como guitarrista e então retornou para sua cidade natal, Jequié-BA, implementando trabalhos autorais com as bandas “Promesa D” (três CDs) e “Speed Plain”, de música instrumental, com ênfase no rock progressivo. Notável arranjador e ainda mais reconhecido após sua atuação na Neal Morse Band, Adson é figura obrigatória em trabalhos de alguns dos principais artistas do meio gospel como Carlinhos Félix, Val Martins, Fernanda Brum, Nani Azevedo, Aline Barros, Jamily, PG, Lázaro, Regis Danese, Damares, Marquinhos Gomes, Pregador Luo, Paulo César Baruk, André e Ana Paula Valadão, Deise (Fat Family)

e Anderson Freire, entre outros. Como guitarrista, suas principais marcas são a versatilidade, precisão e velocidade. Para quem imagina que o êxito do artista seja algo puramente casual ou obra de um golpe de sorte, ele explica, com sua habitual humildade: “O que todos devem saber é que com tudo precisa-se gastar tempo. Isto é indispensável quando se quer crescer e aperfeiçoar seja o que for. Se não há dedicação, não há superação. No caso da música, é preciso levá-la a sério. É ilusão achar que de repente vamos acordar tocando o que não conseguimos tocar ontem. Outra coisa importante é nunca se esquecer de ouvir música boa, músico bom. Há um crescimento automático nesse hábito”, acredita. “Meus conhecimentos vieram do dia a dia, do ver, do ouvir, do perguntar e do praticar. Aos dez anos, quando me mudei com meus pais para Governador Valadares, já estava decidido a ter a guitarra como ferramenta principal. Mas nunca deixei de pesquisar toda a cozinha musical como bateria, baixo,

teclado… Essa é uma oportunidade que a igreja me deu, a de estar rodeado de vários instrumentos e tocar de tudo um pouco, nos mais variados estilos. Até digo por aí que se eu não fosse guitarrista provavelmente seria baterista”, brinca, para concluir em seguida: “Gosto demais de todos os instrumentos, unidos, separados... seja como for, é maravilhoso trabalhar com uma arte tão linda e tão vasta nas suas possibilidades. Pra não dizer que nunca tive professor, recebi algumas aulas de partitura e flauta doce, além do meu pai que me guiou na técnica das palhetadas alternadas, a qual utilizo até hoje”.

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ADSON, REVERENCIADO pelo monstro da batera, Mike Portnoy, com Neal Morse ao fundo, durante a turnê “Momentum”

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EXTRA! EXTRA!

Família Crock’t

Os biscoitos CROCK’T, que já conquistaram grande mercado em inúmeras cidades mineiras, com suas receitas de qualidade tipicamente caseira, devem ser ainda mais disputados por pessoas de paladar apurado, a partir dos próximos meses. Modernos equipamentos chegaram à unidade fabril, em Santana do Paraíso, cujo espaço físico está sendo ampliado tanto na área de produção quanto nos setores administrativo e de armazenamento. Após a conclusão das novas instalações, a empresa planeja a diversificação de seu mix, contemplando também a linha de amanteigados. O volume de produção tende a ser enormemente maximizado com o maquinário adquirido, o que significa que a estrutura logística deverá ser preparada para multiplicar a carteira de clientes.

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COM JUNINHO AFRAM, outro renomado guitarrista nacional envolvido com o gospel

Gosto demais de todos os instrumentos, unidos, separados... seja como for, é maravilhoso trabalhar com uma arte tão linda e tão vasta nas suas possibilidades.

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UM SONHADOR

“Sempre fui um cara sonhador - revela Adson - e ao mesmo tempo sempre tentei ouvir a voz de Deus nas diversas formas que Ele tem de falar com a gente. Não sei até onde a música vai me levar, mas sou feliz por ter chegado até aqui. É verdade que muitas vezes o desânimo bate. Não é fácil passar por certas coisas. E se não desisti, devo isso também ao apoio especial da minha esposa, meus pais, tios e amigos. Ninguém deve e ninguém pode viver bem sozinho”, reflete, acreditando que “o caminho da simplicidade sempre nos levará a uma grandeza que ultrapassa todo racionalismo”. Para ele, o que é mais repugnante no ser humano é a arrogância, combinada com a presunção. “Já lidei com pessoas que me conheciam só de nome e não minha imagem. Eram pessoas que me maltratavam e quando descobriam quem eu era fingiam, passavam a me bajular. Por isso gosto da idéia de que Deus sempre tem seus meios de tentar nos fazer o bem, mesmo só recebendo de nós muitas das vezes matéria-prima ruim”.

Pulando degraus

Farra política

No momento de ingressar no mercado de trabalho, qual a melhor opção? Ir em busca de grandes empresas ou galgar seu lugar em corporações de pequeno porte? Segundo pesquisa realizada pelo Nube – Núcleo Brasileiro de Estágios, mais de 50% prefere uma colocação em renomadas e gigantes organizações. Apesar das pequenas empresas oferecerem 88,3% dos empregos formais gerados no país, conforme pesquisa de 2013, a maioria dos candidatos a vagas ainda prefere esperar por uma colocação em grandes companhias. O estudo foi desenvolvido com 17.819 jovens entre 15 e 26 anos. Diante da pergunta “Onde você preferiria trabalhar ou estagiar?”, os votantes tinham quatro opções de resposta: “Grande empresa”, “Multinacional”, “Órgãos públicos” e “Pequena ou média empresa”. A primeira e a segunda alternativas somaram 58,9%, ou seja, 10.502 votos. Muitos estudantes sonham com altos cargos e salários, por isso almejam atuar em famosas organizações. Nada daquela velha didática de “começar por baixo”, que já forjou grandes homens na história do mundo.

Quando se diz que o País necessita urgentemente de uma ampla lanternagem política, isto está longe de ser apenas uma figura de linguagem. Para que se tenha uma idéia aproximada de como o poder central de Brasília representa, de fato, uma Ilha da Fantasia, basta conferir o orçamento anual do Congresso Nacional, que é de nada menos que R$ 8,5 bi, quase o valor de mercado da Usiminas, estimado em R$ 9,9 bi em março de 2014, e pouco menos que o orçamento anual de um município como Belo Horizonte, com 2,5 milhões de habitantes. Câmara Federal e Senado podem gastar, juntos, R$ 23 milhões por dia, o orçamento que uma Câmara municipal como a de Ipatinga tem para administrar durante todo o ano.

Gastronomia beira-mar Ronald Campos de Oliveira e Rosimeire Matos formam o simpático casal que, de maneira incansável, atende aos muitos turistas que aportam na ilha de Guriri, em São Mateus-ES, durante todo o ano, para desfrutar das delícias do Recanto dos Pioneiros da Associação dos Aposentados e Pensionistas de Ipatinga (AAPI). Os dois se desdobram no excelente restaurante self-service que é responsável pelo café, almoço e jantar dos visitantes.

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ALÉM DAS palestras sobre temas diversos, o SEVAR ofereceu boa oportunidade para divulgação de produtos pelos fornecedores

De volta aos tempos da vovó Relacionamento e confiança são palavras-chaves da chamada Economia de Conexão, ensina especialista “É certo que a primeira coisa que a empresa vende é qualidade. Se não tiver qualidade, não deve nem estar no mercado, vai ter que se reinventar, mudar de ramo, fazer alguma outra coisa, porque existe uma presunção de qualidade por parte das pessoas que desfrutam de produtos e serviços que são oferecidos pelas empresas”. A mensagem, sem rodeios, foi passada pelo matemático e empreendedor gaúcho Gustavo Reis, a um atento público constituído de supermercadistas, agentes de comércio e fornecedores, no encerramento da 15ª edição do Super Encontro Varejista (SEVAR) promovido pela Associação MineiFev/Abr 2015

ra de Supermercados, no final do mês de março, em Ipatinga. Com uma trajetória marcada por sucesso precoce e meteórico – aprovado no vestibular da UFRGS aos 16 anos, professor de Matemática aos 18, bacharel em Ciência da Computação aos 20, estagiário nos EUA aos 22, analista sênior de pesquisa de mercado aos 24 e empreendedor aos 27, como fundador da Mathematica Et Cetera –, Gustavo enfatizou ser a qualidade o principal componente para gerar reconhecimento de consumidores. Mas disse que há outros detalhes cruciais a serem observados no competitivo mercado atual. “As pessoas, cada vez

mais, estão pautando suas aquisições de produtos e serviços pelas impressões de outras pessoas que estão na mesma iminente situação delas, ou seja, pessoas que já tenham usufruído destes produtos e serviços. Elas querem saber se as empresas contam com o endosso social daqueles que desfrutam dos seus produtos e serviços. É esta percepção agregada, coletiva, que conduz à respeitabilidade”, ressaltou, chamando atenção para o fato de que “as coisas estão mudando muito rápido no ambiente cibernético em que vivemos, fazendo com que conexão, relacionamento e emoção ganhem muito mais significado”.

63 REPUTAÇÃO é algo que nenhuma empresa, que nenhuma pessoa deveria arriscar perder”, sugeriu o matemático Gustavo Reis

As pessoas querem ser emocionadas, não apenas convencidas...

PALAVRA MÁGICA

Gustavo Reis advertiu que “assim como no mercado de ações, é muito mais demorado para a empresa ganhar valor de mercado do que para perder”. E citou o exemplo da Petrobras, com sua história recente permeada de escândalos, o que levou à perda súbita de 80 a 90% do valor de mercado após anos e anos de ação equilibrada”.

Para ele, reputação é a verdadeira e mais importante palavra mágica da economia de conexão, que sucede a economia industrial a que todos se acostumaram desde o final do século XVIII. “Reputação é algo que nenhuma empresa, que nenhuma pessoa deveria arriscar perder, porque é a única coisa que realmente tem valor, em especial nas nossas carreiras profissionais;

é a única coisa que a gente leva de uma empresa para outra”, assegurou, lembrando que o processo de construção se dá diariamente a partir do nível dos relacionamentos. “O potencial destrutivo de um cliente insatisfeito é incrível, sobretudo no altíssimo grau de conexão dos nossos dias”, lembrou o especialista. Por isso, ele sugere

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que é preciso estar sempre mensurando o índice de satisfação da clientela, de modo que as inovações não sejam apenas novidades, sem valorização concreta. “As verdadeiras grandes oportunidades de construir novos significados do que acontece entre as empresas e os clientes está no relacionamento, e não na tecnologia”, insistiu, para propor “o estabelecimento de parcerias autênticas e honestas, não entre as empresas, mas entre as pessoas que participam destas empresas”. Conforme ressaltou, “pessoas gostam de conversar com pessoas e em especial

as empresas que cresceram muito precisam estar atentas para não distanciá-las”.

UMA VELHA FÓRMULA

Gustavo Reis repetiu um bordão “que é tão velho quanto a psicologia, quanto o próprio Freud”, mas que diz ser cada vez mais verdadeiro na economia de conexão: “Pessoas tendem a se aproximar daquilo que gostam e se afastar daquilo que não gostam”. As decisões – complementou – “são muito fortemente pautadas pela emoção e, infelizmente, poucas empresas exploram isso. As pessoas querem

ser emocionadas, não apenas convencidas de que determinado produto ou serviço é bom”, garantiu, entendendo que “não vai demorar muito tempo e isso será a única coisa que vai realmente importar e pautar as decisões de compra das pessoas”. Para o matemático, “as relações, quando são bem estabelecidas, servem para aprofundar vínculos de confiança, e assim é que voltamos àquele tempo do caderninho em que se anotava o fiado para a venda do feijão a granel. Estas coisas estão na moda de novo”, concluiu.

MATUSALÉM, vice-presidente regional da AMIS: “O momento requer muita criatividade”

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Trapalhadas políticas e econômicas O presidente da Cooperativa de Consumo dos Empregados da Usiminas (Consul) e vice-presidente regional da AMIS – Associação Mineira de Supermercados, Matusalém Dias Sampaio, avaliou como muito positivo o saldo da 15ª edição do SEVAR Leste, ressaltando a maciça presença dos agentes do setor. Houve participantes que se deslocaram de até 300 km de distância para assimilação de conhecimentos vários focados na estratégia de relacionamento com o trade supermercadista e melhor compreensão das necessidades mercadológicas dos nossos dias. Matusalém explicou que a Associação Mineira de Supermercados tem se preocupado em abastecer o interior de todas as informações relevantes acessíveis aos grandes centros, repartindo munição entre as sete regiões estratégicas definidas no Estado. O cardápio envolve orientações sobre co-

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municação, automotivação, assuntos operacionais e técnicos. “O momento requer muita criatividade, porque vivemos hoje num ambiente de alta concorrência e estamos diante de uma clientela cada vez mais exigente, sendo importante aprimorar técnicas para que se possa atender bem às expectativas dos nossos consumidores”, enfatizou. Em relação ao desempenho do setor em 2014, o representante da AMIS considerou-o razoável “diante dos desafios impostos por trapalhadas na economia e na política brasileira, que afetaram profundamente o consumo da população”. Ele observou que por envolver gêneros alimentícios, muitos deles de primeira necessidade, os supermercados não sofreram tanto quanto outros segmentos da economia e da sociedade. Contudo, “o desempenho positivo ficou aquém daquilo que se esperava”, avaliou.

CONSULTÓRIO

DR. MÁRIO MÁRCIO DA PAZ mariomarcio.paz@providareproducao.com.br

Médico e paciente, relação ou conflito? A confiança que um paciente deposita em seu médico cia e objetividade e, principalmente, com muito amor e é a base para o sucesso de qualquer tratamento. Desde carinho. o tempo de Hipócrates se sabe que metade do sucesso Por outro lado, há uma insatisfação crescente em atende uma cura vem de uma relação médico-paciente har- dimentos realizados em consultórios particulares, onde moniosa. Infelizmente esta relação se encontra em um o paciente não consegue ter a percepção clara do custoprocesso gradual de franca deterioração, cuja responsa- -benefício de sua consulta, mesmo que mais demorada. bilidade maior é justamente daquele que mais deveria Uma pesquisa realizada nos anos noventa já chamazelar pela sua manutenção – o médico! va a atenção para a piora da relação médico-paciente. É muito difícil estabelecer uma causa única para este A deterioração da relação foi atribuída, na época, ao fato. A recusa do médico em esclarecer devidamente sua treinamento dado pelas faculdades de medicina, que conduta a um doente não é fruinduziam seus alunos a parecerem to apenas da arrogância do proinfalíveis. Seguramente esta situafissional ao ser questionado. Fação ainda persiste, reforçada pelo A internet também é tores como tempo reduzido de baixo nível da maioria das escolas consultas impostas por planos onde reforçar a onipotência de seus responsabilizada, pois de saúde privados ou pelo sistealunos é uma forma de esconder a forneceria informações ma público são sempre os maiomediocridade do conteúdo de seus res responsáveis pela falência currículos. inadequadas aos na relação, segundo argumenta É preciso reverter a situação. O boa parte dos médicos. A interprimeiro passo é parar com o argupacientes, que não teriam net também é responsabilizamento falso de que uma consulta da, pois forneceria informações a devida “capacidade” para de qualidade depende do tempo e inadequadas aos pacientes, que do valor pago por ela. A qualidade entendê-las. não teriam a devida “capacidade uma consulta é resultante do tade” para entendê-las. Nenhum lento profissional do médico que, destes argumentos se sustenta por sua vez, é resultado de seu nível quando analisado. intelectual somado ao seu conhecimento científico e à O tempo gasto em uma consulta é realmente impor- sua capacidade de transmitir a informação ao paciente tante para que se estabeleça o vínculo necessário para de forma clara e segura. Em outras palavras, o exercício uma relação harmoniosa. Porém, a qualidade deste da medicina requer um mínimo domínio da retórica e tempo é muito mais determinante para o seu sucesso um grande conhecimento geral, que permita ao médico do que a sua duração. Culpar terceiros pelo fracasso é identificar as características peculiares de cada ser huum mecanismo psicológico de defesa básico do ser hu- mano e, assim, entrar em seu universo particular. mano. Por uma questão de demanda, as consultas méCabe aos órgãos reguladores da profissão a tarefa de dicas são rápidas em ambulatórios de planos de saúde encontrar formas de mudar os seus paradigmas. É ure em postos públicos de atendimento. Porém, muitos gente que os médicos mudem sua forma de agir e enpacientes se sentem satisfeitos e recompensados após tendam que amor, afeto e carinho jamais podem sair de uma consulta, ainda que rápida, simplesmente porque o moda. A medicina é uma arte e seu exercício requer vomédico soube utilizar o tempo disponível com inteligên- cação e muito talento!

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