Revista atitude 19ª edição

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CARTA AO LEITOR

As voltas que o mundo dá

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Reconhecido como um dos mais importantes e influentes músicos de sua era, o guitarrista Jimmy Hendrix não é exatamente aquele que se possa chamar de protótipo do ser humano ideal. Porque, afinal, acabou morrendo prematuramente aos 27 anos de idade - ao que tudo indica, desapontado consigo mesmo e a sociedade do seu tempo -, sem perseverar nos ideais de transformação. Contudo, em seu curto reinado midiático, que experimentou o apogeu no final da década de 60, ele nos deixou uma frase inspiradora: “Quando o poder do amor superar o amor pelo poder, o mundo conhecerá a paz”. De fato, essa histórica inversão de valores (tanto egoísmo sufocando o altruísmo) é que tem tornado o mundo tão exclusivista e belicoso, carente de sentido e significados. Mas não devemos perder a esperança. Podemos, sim, evoluir, rever paradigmas, superar o equívoco monumental da grandeza da vida girando em torno do nosso próprio umbigo. Um século antes do estrelato de Hendrix, outro estadunidense, Paul Percy Harris, nascia no estado de Wisconsin com a vocação de não apenas se mudar, mas também mudar as coisas à sua volta. Filho de pais de vida pouco regrada, foi criado pelos avós paternos. Criança e jovem travesso, era o terror da pacata cidade de Wallingford, Vermont e acabou expulso de duas escolas superiores. Entretanto, a austeridade, a compreensão e a bondade de seus tutores, bem como a confiança que seu primeiro patrão nele depositou, fizeram dele um homem notável, a ponto de fundar e desenvolver o Rotary Club International, que se tornaria a maior entidade particular de serviço social do mundo. Até se tornar um proeminente advogado, Harris fez de tudo um pouco: trabalhou como repórter, cowboy, professor, porteiro de hotel, vendedor de granito e marinheiro. No entanto, o maior mérito foi libertar-se da autocracia do EU e criar a instituição cujo lema principal é “Dar de si antes de pensar em si”. Marido exemplar, não teve filhos. Porém, é como se eles tivessem sido gerados aos milhares. Atualmente existem mais de 1,2 milhão de rotarianos ligados a mais de 34 mil clubes espalhados por 210 países ou regiões do mundo. Entre eles, o Rotary Club de Ipatinga, com 50 anos de fundação, que ATITUDE evidencia em sua reportagem principal, nesta edição.

DIRETOR E EDITOR-CHEFE Luiz Carlos Kadyll Registro Profissional - JP 00141/MG (31) 98586-7815/3824-4620 REPORTAGENS Luiz Carlos Kadyll kadyll.revistaatitude@gmail.com Alexandre Paulino alexandre.revistaatitude@gmail.com FOTOGRAFIAS Luiz Carlos Kadyll, Sérgio Roberto, arquivo do Rotary Club de Ipatinga, acervo do Colégio João XXIII. DIAGRAMAÇÃO E ARTE FINAL Fábio Heringer ASSISTENTE DE ARTE Ellen Villefer de Carvalho Almeida ellen.revistaatitude@gmail.com DIRETORA COMERCIAL Edileide Ferreira de Carvalho Almeida edileide.revistaatitude@gmail.com (31) 98732-8287 COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Antônio Carlos Silva Barbosa, Eduardo de Pinho (Patty Paineis), Dr. José Edélcio Drumond Alves, professor José Amilar da Silveira, Agência Cobertura, Dr. Mário Márcio da Paz, Wdson Ney de Oliveira Guimarães, Art Vale, Diário de Itabira, Associação Comunitária Peniel, Kleber Macedo e Bucovine Calçados. ENDEREÇO POSTAL R. Bororós, 125 - Jardim Panorama Ipatinga - Minas Gerais CEP: 35162-034 PARA ANUNCIAR: (31) 98732.8287 - 3824.4620 TIRAGEM 3.000 exemplares

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LUIZ CARLOS KADYLL

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SUMÁRIO

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Um dos mais férteis cantores-compositores e instrumentistas do ‘Clube da Esquina’, Tavinho Moura percorreu o Vale do Aço de canto a canto em busca de pássaros e aves, para produzir o livro fotográfico “Vale do Mutum”.

Agora político, Edvalson Bispo dos Santos, o mineiro semi-analfabeto que fala, lê e escreve em alemão, japonês e inglês, continua pobre e necessitado, ensinando idiomas de graça.

A ARTE EM OUTROS CANTOS

O PREFEITÁVEL ‘GALINHA TONTA’

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MEIO SÉCULO DE VOLUNTARIADO

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A história dos 50 anos do Rotary Club de Ipatinga, um dos mais antigos clubes de serviços do Vale do Aço e canal de importantes conquistas para a sociedade regional.

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GUERREIRA FULL TIME

Amputada das duas pernas desde os três anos, Kátia Figueiredo, 27, foi vítima de um mal que afeta uma em cada 10 mil pessoas. Mas anda a cavalo, de moto e até arriscou pintar, ela mesma, o seu quarto.

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PERIGOS À VISTA!

Controlar o vício de crianças, jovens e adultos em celulares e tablets é um desafio hercúleo num febril ambiente de massificação de aplicativos, games e redes sociais. O resultado é que a visão também sofre sérias conseqüências.

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OUTROS CANTOS

Tavinho passarinho TAVINHO, Leida Horst e o casal Hermes/ Cor Mariae, importantes contatos de apoio na região

No Vale do Aço, um dos expoentes do Clube da Esquina troca a música pela fotografia e dá novas asas à sua fértil imaginação

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Uma das melhores expressões da genialidade do Clube da Esquina – e já habitando na ante-sala da confraria dos setentões –, o cantor, instrumentista e compositor Tavinho Moura circulou durante meses pelo Vale do Aço e cercanias para dar vazão a uma nova vertente de sua inquieta verve criativa. Com apoio cultural da CENIBRA, a empreitada era estudar hábitos, conhecer o habitat e capturar no espaço regional as melhores imagens de pássaros e animais para seu mais recente trabalho literário-fotográfico, “Vale do Mutum – Aves da Mata Atlântica”. A obra é recheada de bem cuidados textos do autor, na sequência de um poema preservacionista de Carlos Drummond de Andrade, cedido pela família. Nada menos que 137 espécies, tendo como abre-alas o exótico Mutum-do-sudeste (Crax blumenbachii), são documentadas. “A observação ou a fotografia de um Mutum-do-sudeste corresponde a um momento muito especial, uma rara oportunidade: o resgate da história de um território, contada a partir dos elementos de sua biodiversidade”, descreve o engenheiro florestal Paulo Henrique de Souza Dantas, da Coordenação de Meio Ambiente da CENIBRA. Ele explica que a população global da ave estaria restrita, nestes dias, a apenas 1.000 indivíduos, entre aqueles vivendo livremente na natureza e os pertencentes a várias coleções de zoológicos espalhados pelo mundo. A Reserva Particular do Patrimônio Natural Fazenda Macedônia (onde a obra de Tavinho foi celebrada com euforia numa noite de autógrafos exclusiva para profissionais de imprensa) é um dos principais santuáJ ulho /S e tem b ro 2016

rios de espécies aladas do Leste de Minas. Ali a fábrica de celulose desenvolve há mais de 20 anos um programa de reintrodução de espécies de aves silvestres ameaçadas de extinção. Considerado extinto em Minas Gerais, estima-se que a população de mutuns da fazenda – que compreende uma área de 560 hectares localizada à margem direita do rio Doce, no município de Ipaba – corresponda à maior parte dos indivíduos vivendo livremente em áreas de Mata Atlântica.

ASAS À IMAGINAÇÃO

Amigo e um dos parceiros preferenciais do inspirado Fernando Brant, que aos 68 anos enlutou a música mineira em 12 de junho de 2015, o juiz-forano Tavinho Moura ou Otávio Augusto Pinto de Moura completa 69 anos em 9 de agosto. Na sua bagagem estão importantes trilhas sonoras de filmes e canções imortais gravadas por celebridades como Milton Nascimento, Sérgio Reis, Beto Guedes, Almir Sater, Boca Livre, Simone, Zizi Possi, Pena Branca & Xavantinho, 14 Bis, entre outros. Ele mesmo diz que recebeu convites recentes para apresentar-se em shows de agenda fechada de dois meses, no Rio e São Paulo. Mas, “passarinheiro de nascença”, conforme se define, parece ter resolvido por um tempo se apropriar literalmente da expressão “dar asas à imaginação”, deixando a criatividade voar por outros cantos. Com apitos de atração (próprios para imitação dos pios) e equipamento fotográfico profissional pendurados ao pescoço, partiu floresta – como se expressa na gíria atual.


“Embora soe como algo simples, a responsabilidade é grande. Pesquisei até Platão para elaborar alguns dos textos que emolduram as fotografias dos pássaros, além de consultar alguns biólogos”, conta Tavinho, cujo trabalho ‘Minhas Canções Inacabadas’ foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Regional ou de Raízes Brasileiras, em 2014. Antes de começar a trabalhar em “Vale do Mutum”, Tavinho já havia produzido outro livro fotográfico, “Pássaros Poemas – Aves na Pampulha” (2012), projeto aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura e também patrocinado pela CENIBRA. Foi a partir desta bem sucedida experiência que ele adotou de vez a câmera como instrumento de criação tão inseparável quanto o violão, seu companheiro desde criança e que igualmente fazia parte da vida do pai, da mãe e tias. O compositor relata que fazendo caminhadas regulares pela região da Pampulha começou a perceber a grande diversidade de pássaros. Num único dia, contou mais de 40 espécies. Com uma câmera emprestada de um amigo – “e que, aliás, nunca devolvi”, ele brinca –, documentou nada menos que 150 espécies. Além dos seus, os textos da publicação foram de Tom Jobim e amigos do Clube da Esquina, Fernando Brant, Márcio Borges, Murilo Antunes, Ronaldo Bastos, Renato Teixeira e Almir Sater.

UM NOVO TESOURO

Ao lançar este livro na Fazenda Macedônia é que Tavinho teve a idéia de explorar o potencial da reserva que, afinal, também se revelou muito rico. Para ele, alguns pássaros emocionam por sua beleza, como a Saíra-Sete-Cores, o picapau Benedito-de-Testa-Amarela e o Saci. “Eu ouço o Saci cantar desde que tinha cinco anos, mas curiosamente nunca havia visto um. A forma peculiar como ele canta geralmente dificulta a localização. Esperei mais de 60 anos pra ver um Saci. Outra coisa é o papel de alguns pássaros na natureza. Os beija-flores, por exemplo, são impressionantes. Exclusivamente das Américas, com asas que batem 80 vezes por segundo, com a polinização eles são responsáveis pela reprodução de mais de 8 mil espécies de plantas e visitam dia-

riamente mais de mil flores; levíssimos, metade do peso deles é o néctar de que se alimentam. Capazes de rotacionar até 180 graus e voar em marcha-ré, há algo neles que ainda intriga a medicina: seu coraçãozinho bate até 1.000 vezes por minuto e na hora de dormir eles entram num estado de torpor tal que as batidas se reduzem a 35 vezes por minuto. É preciso ter um respeito por isso. E, ainda assim, há uma denúncia de que apenas para tecer o manto de Nossa Senhora de Guadalupe, no México, utilizaram 80 mil peles de beija-flor”. Tavinho Moura confessa que com o projeto aprovado e o patrocinador garantido ainda dormia com a dúvida se conseguiria ou não reunir espécies suficientes para elaboração do novo livro. Porém, foi surpreendido positivamente. Ao final, tinha 127 pássaros, mais dez bichos. “Nas nossas andanças, encontrei cachorro-do-mato, teiú, macaco-prego, sagui-de-cara-branca. E, ainda, para compor a obra, ganhei de amigos locais algumas fotos como a da anta, veado-catingueiro e onça-parda”, registra.

APOIOS LOCAIS

A Coordenadora de Comunicação Corporativa e Relações Institucionais da CENIBRA e também responsável pelo Instituto CENIBRA, Leida Hermsdorff Horst Gomes, comenta: “Para mim, o grande desafio no campo da cultura, para todos nós, governos, gestores culturais, empresas, artistas, e a sociedade em geral, é harmonizarmos e compatibilizarmos a preservação das identidades locais e da diversidade cultural, um valor a ser cuidado com carinho, com a abertura ao fascinante mundo da globalização e do acesso à cultura universal. A sustentabilidade integral impõe a presença dos fatores culturais. Neste sentido, o trabalho de Tavinho Moura resgata a poesia da fauna da mata atlântica, em especial o Mutum, de forma primorosa”. Um dos principais apoios locais de Tavinho em sua peregrinação em busca das espécies foi o contador Celso de Castro, assim como o industriário aposentado Elder Gomes e a esposa Cor Mariae. Elder conta ser um admirador da natureza e apaixonado por pássaros desde a infância. Atento observador, sempre que possível registra-

O AUTOR diz que ouvia o Saci desde a infância, mas só conseguiu avistá-lo depois de mais de 60 anos

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A SAÍRA-SETECORES, com sua exuberante plumagem, verdadeira obra de arte do Criador

va-os em fotos ou vídeo. Mais recentemente, tentando identificar através da internet uma espécie que começara a frequentar seu quintal, descobriu o WikiAves -http:// www.wikiaves.com.br –, sendo que a partir daí passou a fotografar com mais frequência e postar fotos no site. Usuário do WikiAves mais experiente que ele, Celso de Castro logo entrou em contato e convidou-o para alguns 14

A GARIMPAGEM fotográfica se estendeu desde São Gonçalo do Rio Abaixo a São Lourenço do Bugre, passando pela Reserva da Fazenda Macedônia

passeios na região, apresentando locais e espécies que até então ele desconhecia. “Logo surgiram outras amizades e o gosto por fotografar novas espécies só aumentou, chegando a contagiar Cor Mariae, minha esposa, que hoje é responsável por importantes achados em Ipatinga”, relata o aposentado, que acabou merecendo a honra de ser citado nominalmente por Tavinho no lançamento de seu livro.

Sucessos inesquecíveis Filho de um advogado que trabalhava como professor em Juiz de Fora, Tavinho perdeu o pai ainda criança. Isso fez sua mãe voltar com os seis filhos a BH, a cidade de origem, onde se empregou no Estado como funcionária pública concursada. Na capital mineira, Tavinho cresceu no bairro Floresta, onde morava sua avó materna. Ali fez do violão seu principal ganha-pão, embora aos 14 anos já estivesse trabalhando como desenhista técnico do Serviço de Engenharia de Trânsito. Na mesma época, surgiu o primeiro trabalho profissional ligado à música: a trilha sonora do filme “O Homem do Corpo Fechado”, de Schubert Magalhães. Desde então, fez diversas trilhas para cinema premiadas como “Cabaret Mineiro” e “Minas, Texas”. Desde a adolescência conhecia algumas pessoas que viriam a formar o Clube da Esquina, mas sua ligação com nomes como Lô Borges, Beto Guedes e Toninho Horta só se consolidou no Festival de Belo Horizonte de 1969,

quando sua música “Como Vai Minha Aldeia” foi defendida por Marilton Borges e ganhou segundo lugar. Tavinho relata: “Lembro do meu pai tocando ‘Conversa de botequim’ no violão; dizem que ele tocava bem, mas eu não tinha capacidade de julgar. As irmãs dele todas tocavam. Minha tia Didinha tocava cavaquinho, a outra tocava bandolim, ele tocava violão. Minha mãe estudou bastante piano. Tocava música italiana, essas coisas assim”. Modesto, o autor e parceiro de canções históricas como Calix Bento, Três Ranchos, Tesouro da Juventude, Cruzada, Paixão e Fé, O Trem Tá Feio, Noites do Sertão, Dois Rios e Peixinhos do Mar lembra que quando conheceu Milton Nascimento, o Bituca, “que tinha uma coisa original, diferente de tudo”, tremia como vara verde, “parecia um jacu diante dele”. Tavinho sempre foi passarinho. Só não sabia que voaria tão longe. COM RICAS parcerias e uma linha melódica bastante própria e original, o compositor mantém uma sólida carreira musical desde a década de 60

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PAREDÃO JUCY

Nunca é tarde pra sonhar

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Atleta olímpica do Brasil revelada no voleibol da Usipa chegou a pensar em desistir do esporte Para que um atleta alcance nível internacional de competitividade é preciso que seja preparado desde criança, certo? Errado. A vitoriosa trajetória da mineira Juciely Cristina da Silva Barreto, que foi relacionada por Zé Roberto como uma das principais jogadoras do país para integrar o time de vôlei feminino do Brasil nas Olimpíadas do Rio, desmente indiscutivelmente essa máxima. Nascida em João Monlevade, Jucy, como é conhecida entre os íntimos, completará 36 anos de idade no final de 2016 e começou a se destacar já perto de completar 19 anos, jogando pela Associação Esportiva e Recreativa Usipa, de Ipatinga. Graças a um olheiro que enxergou seu potencial na disputa dos Jogos do Interior Mineiro (JIMIs), mesmo tardiamente ela ganhou a oportunidade de se profissionalizar na carreira e não deixou escapar. Eleita a principal bloqueadora do Grand Prix de 2015, a agora pupila do vitorioso técnico Bernardinho vai para sua sétima temporada defendendo as cores do Rio de Janeiro. Por lá venceu, dentre os títulos mais importantes, três Sulamericanos e cinco Superligas, além de

“MINHA IMPULSÃO e meus braços compridos camuflam um pouco”, brinca a atleta

estar entre as brasileiras campeãs dos Jogos Panamericanos de Guadalajara, em 2011. - Venho de uma família muito forte, que me sustenta diz Jucy, que tem mais quatro irmãos e hoje é sargento do exército. Está casada com o educador físico e triatleta Antonio Barreto, também professor de jiu-jitsu e que trabalha na Petrobras (15 dias embarcado em uma plataforma, a cada mês). Os dois se conheceram quando ela atuava pelo Macaé-RJ. Moraram juntos durante sete anos e meio, até oficializarem em cartório a união.

‘BAIXINHA’

A jogadora não teve a formação de base, tão importante para treinar os fundamentos e, desse modo, confessa que os primeiros anos foram muito complicados, a ponto de pensar em desistir.  Juciely Cristina joga numa posição bem concorrida, onde atuam também Fabiana e Thaísa, daí a necessidade de estar sempre em alto nível. Alheia a qualquer badalação e considerada uma pessoa reservada, entende que o segredo para se manter por mais tempo no auge é ter os pés bem firmes no chão e não se deixar iludir pelos holo-


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NAS OLIMPÍADAS do Rio, atuando ao lado de Adenízia e Jaqueline

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fotes do sucesso. Assim é que, já em 2010 ela celebrava o título inédito do Campeonato Mundial Militar da Carolina do Norte (EUA), integrando a seleção brasileira. Como é ter 1,84 m (estatura considerada “baixa” para uma meio-de-rede)? Juciely sorri e responde: “Ser ‘pequena’ (risos) não é legal. A maioria das jogadoras da posição tem mais de 1,90 m. Mas acredito que minha impulsão e meus braços compridos camuflam um pouco essa deficiência”.

DESCLASSIFICAÇÃO

Na triste partida que marcou a desclassificação da seleção brasileira nas Olimpíadas do Rio (derrota para a China, por 3 sets a 2), o time nacional parecia totalmente desencontrado, após um primeiro set arrasador (25 a 15), quando a entrada de Juciely na vaga de Thaisa lhe garantiu sobrevida. A atuação marcante de Jucy rendeu o set de empate para o Brasil (25 a 22), que já sofria com a virada das orientais para 2 a 1. Contudo, faltou um pouco mais de concentração no tie break e o placar teve sabor amargo (15-13). A equipe de Zé Roberto – bicampeã olímpica e que corria atrás do terceiro ouro – só ficou um pouco mais consolada ao saber que caiu para as campeãs. A China bateu a Sérvia na final em quatro sets, depois de começar perdendo, como já havia ocorrido diante do Brasil (19-25, 25-17, 25-22 e 25-23).  J ulho /S e tem b ro 2016

JUCIELY em Omaha, Nebraska-EUA, participando da fase final do Grand Prix de Voleibol do ano passado, em que foi a principal pontuadora e bloqueadora

Clube Usipa Macaé Minas Osasco Brusque Minas São Caetano Rio de Janeiro

Temporada 1999-2000 2000-2001 2001-2003 2003-2004 2004–2007 2007-2008 2007-2010 2010–atual


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DA POLÍCIA AO EXÉRCITO DE DEUS

O peso do cajado Pai de sete filhos e já com 12 netos e dois bisnetos, o pastor Antônio Rosa da Silva, 79 anos completados em 3 de maio, presidiu por 38 anos – quase a metade de sua vida até aqui – a Igreja Assembleia de Deus no campo de Coronel Fabriciano e Ipatinga. Mas há seis anos já vinha preparando documentações e realizando reuniões específicas que acenavam para sua jubilação, o que foi oficializado por ele no último dia 4 de janeiro. A decisão do líder religioso veio acompanhada da justificativa de problemas de saúde, e assim é que se tornou inadiável a deflagração do processo de sucessão no comando de uma das maiores e mais tradicionais denominações religiosas do Vale do Aço. Por decisão maciça de obreiros, em reunião realizada na noite de 12 de fevereiro (caprichosamente a véspera da data em que Rosa completaria 54 anos de vida ministerial), foi guindado ao cargo o pastor José Martins de Calais Júnior, 50 anos, que ocupava a função de primeiro vice-presidente. A posse e o jubilamento se cumpriram em cultos realizados em 27 e 28 de março, em Ipatinga e Fabriciano, respectivamente.

ANTÔNIO ROSA (C) e Júnior Calais (D): boa sintonia e aprendizado após 24 anos de uma convivência ministerial muito próxima

Apaixonado por missões e convocado a guiar um rebanho de 25 mil ovelhas no Vale do Aço, novo líder assembleiano fala do desafio de ser pastor no mundo moderno


O NOVO PRESIDENTE do campo de Coronel Fabriciano e Ipatinga com a esposa Vânia, recebendo orações intercessórias

APOIO DOS OBREIROS

De família evangélica e ex-policial militar, o novo presidente do campo é nascido e criado dentro da denominação. O próprio Antônio Rosa o batizou e, anos mais tarde, ordenou como pastor. Júnior Calais, como é mais conhecido, já havia prestado serviços à igreja como diácono, diretor do asilo de velhos e missionário no México, presidindo também a Missão Boas Novas por 12 anos. Por último, pastoreava a sede da AD em Coronel Fabriciano. “Substituir o pastor Antônio Rosa não é coisa fácil”, confessou o pastor Júnior Calais a ATITUDE, para depois explicar as circunstâncias da mudança de comando: “Ajuda-me o fato de ter trabalhado com ele ao longo dos últimos 24 anos, testemunhando de perto o seu equilíbrio e dedicação. Contudo, devo dizer que nunca tive qualquer plano nesse sentido. Pelo contrário, sempre trabalhei para cooperar com ele, não para substituí-lo. A gente percebe que se Deus assim nos direcionou, é o próprio Deus que certamente nos capacita para exercer a função”, acredita. “O interessante – continua Júnior – é que a indicação para presidir o campo não partiu de mim, diretamente, porque eu não trabalhei para isso; ela não partiu também do pastor Antônio Rosa, porque ele não poderia me indicar. Ela partiu dos próprios obreiros. E sendo o ministério que nos indicou, creio que se tornou mais fácil porque eu tenho hoje a igreja nos apoiando, os obreiros”.

OS MAIORES DESAFIOS

O campo da Igreja Assembleia de Deus em Ipatinga e Coronel Fabriciano abrange 12 cidades, congregando cerca de 25 mil membros. Entre diáconos, presbíteros, evangelistas, pastores e auxiliares diretos, são quase 1.800 obreiros. Para o novo presidente, “é um desafio muito grande manter a unidade. Todo cuidado é pouco – continua ele – no sentido de ser coerente, fiel a Deus, fiel à Palavra, fiel à família, fiel à igreja, fiel à história da igreja que foi tão bem contada até aqui pelo pastor Antônio Rosa. Temos a obrigação de continuar escrevendo esta história da melhor forma possível”, diz. Outro dos maiores desafios, na ótica de Júnior Calais, “é ser pastor numa geração moderna, num momento de tantas transições, de tantas mudanças, sem perder a essência da Palavra”. Ele reflete: “Creio que temos esse desafio de manter a unidade da igreja numa geração diferente, muito mais autônoma e marcada pela diversidade. O Evangelho não muda, a essência do Evangelho é a mesma em todos os tempos, mas o relativismo é uma marca muito presente nos nossos dias, tão influenciados pela internet. A vida do ser humano mudou, a política mudou, a sociedade mudou. Conviver com todas estas coisas, sem corromper a essência da Palavra de Deus, é bem complexo, exigirá de todos nós uma porção nova de fé”, avalia.

JÚNIOR CALAIS em dois momentos, com a esposa Vânia e os filhos Ana Elisa e Micael J u l h o /S e te mbro 2 0 1 6

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OS CASAIS Júnior/Vânia e Antônio Rosa/Luzia, no lançamento do livro “Entre Rosas e Espinhos”, que sintetiza a trajetória cristã de Rosa

FOCO MISSIONÁRIO

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Instado a fazer um balanço de sua trajetória ministerial até aqui, José Martins de Calais Júnior resume: “Deus me chamou especificamente para fazer missões e é no que eu tenho procurado trabalhar prioritariamente até hoje. Eu não imaginava ser pastor, muito menos ser pastor-presidente. Deus me alistou ainda adolescente e, no ano de 1988, quando eu servia à PM como cabo e estava prestes a fazer o curso de sargento, confirmou minha chamada. Eu desisti do curso, mas com a visão de missões. Trabalhei em missões de 89 pra cá. Foco total em missões. Se agora estou nesta função, penso que poderei ser útil sobretudo com ações de intensificação das missões locais. E a forma de organização da Igreja Assembleia de Deus proporciona isso. Graças à maneira como nós trabalhamos como igreja, nós estamos em locais onde outras igrejas não estão, não porque não querem, mas porque têm outras estruturas de organização. Por exemplo, se nós estamos em Açucena, todos os povoados ligados à igreja têm uma igreja e um obreiro. Quer dizer, a gente só tem condições de estar lá por causa do sistema Assembleia de Deus, que é um sistema integrado. Nenhuma igreja trabalha só. Investimos muito em implantação de igrejas,

no evangelismo, isso é muito forte entre nós, embora talvez até divulguemos pouco. Nas 12 cidades abrangidas pelo campo, praticamente todos os povoados têm igreja e um obreiro de tempo integral. Como Jesus disse, o Evangelho deve ser difundido não apenas de cidade em cidade, mas de aldeia em aldeia. E ainda temos muito a fazer nesse sentido”. Casado com Vânia, e pai de dois filhos, estudantes secundaristas (Ana Elisa, 18, e Micael, 17), Júnior Calais, 50 anos completados em 28 de julho, escreveu há oito anos passados, numa de suas mensagens: “Quando ouço falar que um determinado povo ainda não ouviu falar do amor de Cristo, sinto que a responsabilidade de evangelizá-lo é minha... Vejo que Deus a cada dia, de diferentes formas, nos envolve em tarefas que nos desafiam a conquistar os diversos grupos de pessoas, dentro e fora de nossa nação. Missões é uma obra que não pode parar. Na visão de Jesus, o mestre por excelência, a obra que a igreja tem para realizar é uma obra dinâmica, ela é contínua, ela vence os obstáculos pela fé, ela rompe barreiras, deixa para trás os preconceitos e aponta para um triunfo certeiro. Não se pode recuar diante dos desafios que surgem no meio do caminho”.

A JORNADA DE ANTÔNIO ROSA* Vida 79 anos

Ministério 54 anos

Vida Cristã 65 anos

Vida Matrimonial 54 anos

Presidência do Ministério 38 anos

*Casado com Luzia Ramos, nascido a 3 de maio de 1937, na localidade de Água Parada, então município de Mesquita (MG). Os pais morreram cedo e ele foi criado pelos avós. Ao atingir certa idade, foi estudar em uma escola distante, cerca de 12 quilômetros de sua casa. Saindo de férias, encontrou vários membros da família convertidos ao Evangelho. Seu alvo inicial era mais tarde tornar-se padre. Aos 14 anos, confessou a Cristo como seu salvador. Começou a evangelizar a cavalo, em comunidades rurais.

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VALHA-ME SÃO FRANCISCO!

Para prefeito, ‘Galinha Tonta’ Mineiro iletrado que já circulou por todas as grandes redes de TV por falar, ler e escrever em inglês, alemão e japonês continua pobre e agora resolveu entrar para a política

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ALÉM DAS doações recebidas, pai e filha vendem molhos de pimenta e doces para garantir a sobrevivência O POLIGLOTA cumprindo exigências da legislação eleitoral, na convenção do PTN

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Palavras grandes, gramática dita complicada, fonemas difíceis de serem aprendidos. Como chegou a dizer o escritor irlandês Oscar Wilde, “a vida é muito curta pra aprender alemão”. Mas não para um surpreendente morador do bairro Sagrada Família, na cidade de São Francisco, no Norte de Minas. Edvalson Bispo dos Santos, que sequer completou o antigo curso primário, há dez anos é um caso a ser estudado por teólogos e cientistas e, por isso mesmo, já apareceu em todas as principais redes de televisão do país. Ele fala fluentemente o idioma germânico, assim como o japonês e o inglês. Também lê e escreve, assegurando ter aprendido a partir dos sete anos de idade, quando era diariamente visitado em sonhos por três garotos: Hans, Toshio e Paul. A história já foi contada no programa do Ratinho, Domingo Espetacular, Fantástico. Como, ainda criança, imitava o pio da ave pelas ruas e pronunciava com desenvoltura uma série de frases estrangeiras, Edvalson ganhou dos outros meninos de sua cidade o apelido de “Galinha Tonta”. Contudo, por mais 15 anos, segundo ele, continuaria a ser visitado diariamente pelos mini-professores, aper-


EDVALSON com a filha Jamille, se alimentando: um prato de comida começou a mudar sua trajetória de vida

feiçoando-se no aprendizado das línguas. Tudo teria começado a partir de um prato de comida que, por compaixão da empregada doméstica, comia na casa de uma rica mulher. Esta senhora o teria humilhado, tomando-lhe o prato das mãos, chutando-o e dizendo que ele deveria comer com os cachorros. Traumatizado, foi para casa chorando, até que adormeceu. Toshio, Hans e Paul, afirma Edvalson, antes de consolá-lo e passar a ensiná-lo escreveram com os dedos na areia: “Deus é amor”. Certo de ter assim um chamado especial para ajudar outros menos favorecidos como ele, Edvalson decidiu oferecer aulas gratuitas de idiomas para os carentes de São Francisco, o que iniciou debaixo de um grande pé de juá, na rua. Depois, com doações recebidas, aventurou-se com a construção de uma pretensa escola em sua casa. Todavia, mesmo com a imensa visibilidade proporcionada pela mídia, ainda hoje o humilde senhor vive uma série de privações, sem conseguir transformar em realidade o sonho de ter um espaço bem equipado para atender à sua numerosa clientela, composta de centenas de crianças. O imóvel é bastante precário. Falta piso, o banheiro não tem azulejo, a escada é íngreme e sem corrimão,

USANDO SUA extraordinária habilidade (embora o português seja muito falho), Edvalson se dá ao luxo de narrar sua história e pedir ajuda em inglês, pela Internet: “Olá! Eu me apresento! Meu nome é Edvalson Bispo dos Santos. No entanto, eu sou conhecido pelo meu apelido, que é Galinha Tonta. Este apelido já é bem conhecido no Brasil e em todo o mundo. Eu sou da pequena cidade de São Francisco, no norte de Minas Gerais, Brasil. Eu nasci em 15 de junho de 1958, sofri muito quando criança. Eu fiquei doente com uma doença chamada sarampo, quase morreu (sic). Eu, aos 7 anos, fui na rua pedindo ajuda, um pouco de comida, um pedaço de pão. Muitas boas pessoas tinham pena de mim e me dava o que eu pedia. Mas depois de ter sofrido um grande desprezo por uma senhora rica fui dormir triste e chorar. E naquela noite eu sonhei com três rapazes estrangeiros que me confortaram e começaram a ensinar-me a sua língua. Um japonês chamado Toshio, um alemão chamado Hans e um inglês chamado Paul. Por causa desse sonho que durou 15 anos, hoje em dia eu me tornei o assunto de vários meios de comunicação...

livros ficam em estantes improvisadas com tijolos e tábuas, o teto é cheio de infiltrações. Não bastasse tudo isso, Edvalson sequer tem mobília em sua casa. O mais confortável é uma cama de casal, onde ele cuidava da mãe doente, que morreu recentemente. Pai solteiro, no local ele tem permanentemente a companhia da filha Jamille, uma garotinha muito divertida que também o ajuda na venda de doces e molhos de pimenta, como forma de arranjar algum recurso para se manter.

ALUNOS do Centro Educacional Monteiro Lobato visitando o ‘instituto’ do professor de idiomas

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TESTADO E APROVADO

“SIMPLICIDADE E HONESTIDADE”

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Em meio a essas circunstâncias é que Edvalson surpreendeu a todos com uma decisão tomada nos últimos meses. Candidatou-se a prefeito em sua cidade, que tem 140 anos e pouco mais de 40 mil eleitores. Uma verdadeira revolução se instalou a partir daí nas redes sociais. Bem no estilo do chavão de Tiririca, que diz que “do jeito que está, pior não fica”, fato é que o nome “Galinha Tonta” virou uma febre na internet. Já tentaram impugná-lo, denunciando-o por causa de um jingle e folhetos ditos extemporâneos. Mas ele já fez até convenção, pelo PTN, e segue em campanha. Se será ou não bem sucedido, ainda não se sabe. Entretanto, as manifestações de apoio são muitas e calorosas, enaltecendo sua “simplicidade e honestidade”. No último dia 15 de junho, Edvalson, o “Galinha Tonta”, completou 58 anos de idade e, humildemente, dirigiu ao público um pedido de ajuda para comemorar o aniversário: “Gostaria de fazer um bolo e dar uma farofa com refrigerante para meus alunos, seus pais, meus parentes e amigos”. Com desenvoltura, Edvalson agora está buscando apoio de organismos internacionais. A um grupo europeu envolvido com ações sociais, escreveu um longo texto em inglês narrando sua história e enumerando necessidades. Sobre a vivência recente na política, “Galinha Tonta” desabafa: “É incrível como a gente consegue inimigos de uma hora para outra (...) Tem aqueles que não aceitam, nos criticam com palavras duras e tudo isso sob o olhar de Deus que do alto tudo vê. Por isso, cabe a Ele lá do trono celestial se manifestar por mim. Se eu chegar a ser eleito, bem. Se não for serei o mesmo amigo, continuarei ajudando as crianças carentes dando aulas de línguas estrangeiras e sempre do lado da minha amada filha, Jamille”. “Apesar de ser pobre – continua Edvalson –, sou também pacífico e odeio a violência. Tem um cântico evangélico que diz: ‘Quem é que vai, quem é que vai?/ Quem é que vai nessa Barca de Jesus,/ Quem é que vai?’ Pois eu respondo que vou. E você?”

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Perguntado se acha que tem alguma chance, já que segundo a Justiça Eleitoral um candidato a prefeito em São Francisco pode gastar até R$ 165.842,42, contratando até 311 pessoas para tentar se eleger, “Galinha Tonta” responde: “Não posso concorrer com a política do ‘Só voto se me der’ porque não tenho condição para isso. Muitos aceitam a minha candidatura, outros criticam, mas encaro isso sem me importar, pois Deus me deu o entendimento pra suportar e compreender as atitudes do meu próximo. Agradeço a todos que me apoiam e perdôo a todos que criticam ou desaprovam, mas prometo não decepcioná-los caso eleito for”. “Estou seguindo com paciência, no passo de tartaruga ou como se fosse uma lesma, por acreditar que devagar também se chega a algum lugar”, afirma o cidadão são-franciscano. Se vai convencer a maioria dos eleitores, isto ainda é uma incógnita. Contudo, muita gente de fora do país continua impressionada com ele. Gert Mueller, um alemão que esteve em São Francisco para visitá-lo, contou: “Falei bem rápido com ele para ver se entendia e ele compreendeu tudo, perfeitamente. Não por acaso, quando apareciam outros estrangeiros no hotel em que eu estava, ‘Galinha Tonta’ é que era chamado para traduzir”. A pronúncia e a gramática também já foram testadas por professores de inglês e japonês, recebendo aprovação com louvor. “Difícil de acreditar. Para se atingir um nível desses, pela experiência que tenho da nossa escola, ele precisaria de pelo menos uns seis anos”, asseverou um mestre nipônico, após vê-lo resolvendo uma intrincada questão com ideogramas escritos num quadro. “Não adianta aprender a palavra cadeira, parede. Tem que aprender para o que serve as coisas,” ele explica. “Quando eu for para o estrangeiro, o que adianta saber falar frases soltas?” – pergunta, quase se insinuando a cruzar os ares ou oceanos rumo a outros continentes. Só que não. Nem mesmo uma dentadura conseguiu pôr na boca, a despeito de toda a notoriedade. “Tenho vontade de viajar, mas faltam condições”, lamenta. Para alguns especialistas, Edvalson teria um quadro conhecido como síndrome de “Savant”, ou síndrome do sábio, em francês. Explicam que por meio desse fenômeno, pessoas com baixo desenvolvimento intelectual, autistas, desenvolvem fantásticas capacidades intelectuais. Mas há uma série de outras opiniões. Todas não conclusivas. SERVIÇO PARA CONTATOS OU DOAÇÕES Edvalson Bispo dos Santos (Galinha Tonta) Rua Padre Peixoto, 685 - Bairro Sagrada Família São Francisco-MG - CEP 39300-000 - Fone (38)99827-0916. SOS GALINHATONTA Bradesco/Ag. 1151-7 C/POUP 10.00072-6.



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GRAÇAS ÀS campanhas do Rotary, desde 1992 não há um caso sequer de poliomielite no Brasil

REPORTAGEM DE CAPA

Amor que não se pede, amor que não se mede J ulho /S e tem b ro 2016


Um estudo recente produzido pela conceituada Universidade de Michigan (EUA) – por onde já passaram figuras de expressão mundial como o super campeão de natação Michael Phelps, o ex-presidente dos Estados Unidos, Gerald Ford, e o primeiro CEO da Google, Larry Page – dá uma razão a mais para que as pessoas pratiquem o altruísmo: segundo os pesquisadores, quem se voluntaria para ajudar os outros, com desprendimento, melhora e aumenta a saúde. Aparentemente, essa ação é um forte redutor de níveis de estresse no corpo humano, o que permite um salto na qualidade de vida. Mas os pesquisadores garantem que o voluntário precisa agir sem nenhum interesse pessoal ou esperando recompensa; é preciso que seja um ato movido pela simples vontade de fazer bem ao próximo. Talvez esta seja a melhor explicação para o fato de ainda estarem vivos e saudáveis, desfrutando de bons momentos ao lado de seus amigos e familiares, muitos dos fundadores do Rotary Club de Ipatinga, uma das mais tradicionais instituições de serviços voluntários no Vale do Aço, atuantes como poucas no país, e que está completando meio século de existência neste ano de 2016. Na esteira de outras ações comemorativas dos 50 anos do Rotary Club de Ipatinga, a imponente escultura chamada de Marco Rotário, nas imediações do antigo Escritório Central da Usiminas, está sendo revitalizada, e um solene encontro de novos e velhos rotarianos com os mais diversos segmentos da sociedade está programado para 9 de setembro, no Clube Morro do Pilar. Na ocasião, um grande baile marcará a data festiva de criação do clube de serviço na cidade, e deverão estar presentes vários convidados especiais que fizeram parte da história, assim como, em alguns casos, viúvas, filhos e netos. Paralelamente, acontece a abertura das comemorações dos 100 anos da Fundação Rotária, braço social do organismo.

O DECANO DA INSTITUIÇÃO

Um dos clubes de serviços mais atuantes do Vale do Aço, Rotary Club de Ipatinga chega ao seu cinqüentenário respirando solidariedade e reúne pioneiros para celebrar conquistas históricas

Filho do pioneiro empresário ipatinguense Raimundo Anício Alves, que morreu aos 93 anos, em julho de 2013, deixando como legado uma longa trajetória de serviços prestados à comunidade, o advogado e jornalista José Edélcio Drumond Alves, 72 anos, é hoje o decano do Rotary Club de Ipatinga. Está a caráter para falar do sentido prático de pertencer à instituição, pois quase dois terços de sua vida (ou 43 anos ininterruptos) têm sido dedicados a ela, além de ter sido governador de Distrito nos anos de 1991 e 1992. Nascido na pacata Hematita, localidade pertencente a Antônio Dias, onde seu pai iniciou-se muito cedo nos negócios, Edélcio já soma nada menos que 63 anos de vida em Ipatinga, para onde chegou ainda menino, em companhia de outros três irmãos. “Tenho muita alegria de falar a respeito do clube – diz José Edélcio –, porque o Rotary, efetivamente, transforma vidas”. Essa transformação, ele afirma com segurança, “se dá pela elevação da situação de cada um, quer no âmbito espiritual, quer no âmbito material”.

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O EX-GOVERNADOR do Distrito 4520, José Edélcio Drumond (ao centro, na foto abaixo) com o casal Rajindra e Savithri Ratnapuli, em recente homenagem. Naturais do Sri Lanka, hoje eles moram no Canadá e são rotarianos bastante estimados em Ipatinga, onde residiram por muitos anos, ele como funcionário do Centro de Pesquisas da Usiminas e ela como professora de inglês. Como símbolo de amizade perene, Rajindra realizou o plantio de uma árvore na Casa do Rotariano

RAJINDRA E SAVITHRI com Eduardo de Pinho, Celso Junqueira, José Edélcio e a esposa Sandra

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MEGA-PROJETOS

Na visão do mais antigo membro do clube de serviço ainda em atividade, “o Rotary difere de outras entidades porque nós temos a marca de fazer grandes projetos para a humanidade”. Ele cita: “Por exemplo, há muito tempo atuamos com vigor no sentido de combater o racismo nos Estados Unidos. Para nós, o princípio da fraternidade universal é um valor inegociável. Ainda, somos a única instituição civil depois da igreja Católica com assento de consultoria na ONU. Outro ponto considerável são os mega -projetos em que nos envolvemos em nível mundial, como o combate à paralisia infantil. Graças a isso, no Brasil, desde 1992 não há um caso sequer de poliomielite. No mundo, éramos 286 países e regiões geográficas onde o mal vigorava com grande força, e hoje temos somente dois países com a doença. Estamos lutando contra a resistência à imunização em países como o Afeganistão e o Paquistão. Houve casos de vários grupos de vacinadores que foram mortos lá em confrontos dos terroristas, nacionalistas... mais de 70 pessoas. Com sua convicção religiosa ou algo do gênero, falam que a ação seria coisa de americanos, que estariam pretendendo esterilizar a população, o que evidentemente não tem nenhum fundamento. A quantia a ser potencialmente economizada com a erradicação da pólio e encerramento dos trabalhos de imunização pode ser de até US$ 1,5 bilhão por ano, verba que poderia ser aplicada a outras prioridades de saúde pública”, enfatiza. “Agora – acrescenta Edélcio –, iniciamos outro movimento global, a campanha contra o analfabetismo J ulho /S e tem b ro 2016

funcional (a dificuldade de compreensão de textos, muito embora o indivíduo seja tecnicamente alfabetizado, um fantasma que aqui atinge até mesmo estudantes que frequentam o ensino superior). No Brasil, mais especificamente, estaremos marcando a presença de Rotary na campanha contra a hepatite (doença viral que leva à inflamação do fígado e raramente desperta sintomas). Na cidade, faremos nova vacinação em massa contra a poliomielite”, adianta.

DEFINIÇÃO DE PRIORIDADES

A eleição das ações macro do Rotary, conforme Edélcio, parte de temas discutidos nos comitês, levando em conta necessidades globais e setorizadas. As definições originárias do Rotary International irradiam para os clubes do mundo todo (são aproximadamente 33 mil Rotary Clubs, em mais de 200 nações, reunindo cerca de 1,2 milhão de voluntários), os quais se subdividem em distritos nos países. O Distrito 4520, ao qual o Rotary Club de Ipatinga está ligado, é constituído de 52 clubes, desde Belo Horizonte ao Vale do Jequitinhonha. No Vale do Aço, são cerca de 150 rotarianos, sendo o Rotary Club de Ipatinga o maior deles, com 50 membros ativos. Além do Rotary Club de Ipatinga, há três outros no município: o Rotary Club Ipatinga-Norte, atualmente comandado pelo ex-presidente da APAE, Francisco Eduardo Rodrigues; o Rotary Club Ribeirão Ipanema, presidido por Humberto Hott Fernandes, e o Rotary Club Archimedes Theodoro, sob a presidência de Guilherme Cruz Soares.


REPORTAGEM DE CAPA SILAS AUGUSTO da Costa, 86 anos, o primeiro presidente do Rotary Club de Ipatinga, hoje mora em Belo Horizonte. Ainda um jovem empreendedor, ele discursou na inauguração do João XXIII

Os 32 sócios fundadores • Aldir de Castro Chaves • Anatólio de Oliveira Barbosa • Antônio Pedrosa da Silva • Antônio Pessoa Magalhães • Antônio Ruiz Fernandes • Derly Mendes Gomide • Gastão Lage Magalhães • Gil Guatimosim Júnior • Helvécio Thomaz Martins • Heribert Pidner • Irimá da Silveira

• Izumi Yuasa • Jacy Garcia Fernandes • João Alberto Goulart • José de Ávila • José Carlos de Almeida Cunha • José Ruque Rossi • Juarez Miranda • Lauro Delfim de Andrade • Luiz Eduardo Kikinger de Abreu • Luiz Martins Pires • Luiz Quintão

• Manoel Teixeira de Carvalho • Márcio de Andrade Guerra • Maurício Mauro Martins • Othon Costa Teixeira • Paulo Augusto Pena • Pedro Cendón • Pedro Linhares Gomes • Sidney Alfredo de Melo • Silas Augusto da Costa • Valério da Silva Fusaro falecidos

HOJE OS CLUBES de Rotary em Ipatinga se reúnem semanalmente na Casa do Rotariano, construída no bairro Ferroviários, onde acontecem também eventos de confraternização e arrecadação de fundos. No local, cedido pela Usiminas aos clubes de serviço desde 1994, há uma edificação antiga chamada de ‘Fazendinha’, tombada ao patrimônio histórico desde 1996. Conta-se que na época de construção da siderúrgica ali ficava destacado um grupo de infantaria. Quando o antigo dono da casa se mudou, foi instalada no lugar a sede do Pelotão da Cavalaria, inclusive com construção de baias para os cavalos

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Fundamentos cristãos, uma das bases do clube de serviço

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Figura bastante reconhecida na sociedade do Vale do Aço, especialmente por sua atuação na área da educação, o hoje consultor de empresas e escolas José Amilar da Silveira (72), que durante 38 anos atuou como professor e diretor do Colégio São Francisco Xavier, foi convidado e entrou para o Rotary Club de Ipatinga há 42 anos. Ele explica que o processo de admissão como sócio da organização se dá sempre dessa forma: “Não entro em Rotary porque eu quero, entro porque sou convidado. Faz parte dos princípios”. Normalmente, a pessoa não é comunicada de antemão. O nome é primeiramente apresentado a uma Comissão de Admissão e alguns fatores básicos observados são a ética, o comportamento dentro da atividade profissional e na família. Amilar acrescenta: “Não é uma instituição que tenha linha política ou assuma determinado posicionamento político-partidário, mas apregoa-se que todo rotariano tem que ter participação política na sociedade. É necessário respeitar as diferenças. Mesmo que membros sejam opositores fora do ambiente do clube, dentro dele deve haver união em torno de propósitos comuns, evitando-se o acirramento de posições ideológicas”. “Não pregamos segmento religioso específico” – ele continua. “Mas faz parte dos princípios que todo rotariano tenha nível de espiritualidade, tenha uma religião, que os princípios básicos do cristianismo sejam respeitados, até porque a essência do Rotary está muito ligada a esta vocação de servir, da caridade, integridade, do estar atento às carências de toda ordem, ser solidário, sair de dentro de si e olhar mais para fora”, sintetiza.

O PADRE holandês José Maria de Man (Joseph Cornélius), que chegou ao Brasil com 36 anos, em 1963, abençoou o prédio do João XXIII na inauguração. Em 1967, ele criaria o colégio com seu nome que seria o embrião da Universidade do Trabalho (depois PUC, ICMG e Unileste), projetado também pelo rotariano Aldir. Embora não tenha feito parte do grupo fundador do Rotary Club de Ipatinga, De Man foi admitido como rotariano durante o primeiro ano de funcionamento e, em abril de 1967, pronunciou palestra numa Conferência Distrital, em Poços de Caldas, abordando “A Função Social do Trabalho”. Além da Universidade do Trabalho, a criação da Cidade dos Meninos, em Fabriciano, é outro feito marcante de sua passagem pelo Vale do Aço.

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O PROFESSOR Amilar atuando em seminário dirigido a jovens de 14 a 19 anos, iniciativa de Rotary para preparação de lideranças

HETEROGENEIDADE

Outra preocupação é que a organização não se transforme num ‘Clube do Bolinha’. A ideia é de que no máximo 5% dos sócios pertençam a uma mesma categoria profissional, de modo a haver complementaridade de pensamentos e ofícios, heterogeneidade de talentos e aptidões. O professor Amilar explica que a porta de entrada para o Rotary Club é o exercício de uma profissão. “Quem entra no Rotary entra representando a atividade profissional dele. Normalmente o Rotary pede que estas pessoas – homens ou mulheres – sejam um líder na atividade profissional, alguém de reconhecida idoneidade. Assim é que estão entre nós contadores, advogados, dentistas, médicos, engenheiros, comerciantes, professores, arquitetos, publicitários, bioquímicos, farmacêuticos, etc”. Outros segmentos de apoio à comunidade dentro da própria organização são o Interact Club e o Rotaract Club, formados por filhos dos associados, respectivamente nas faixas etárias de 12 a 18 anos e de 18 a 30 anos.


REPORTAGEM DE CAPA

NO PÁTIO DE entrada do João XXIII, a placa de reconhecimento ao Rotary: o edifício recebeu o nome do fundador do clube de serviço, Paul Harris

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Colégio de Cr$ 250 milhões erguido em apenas 7 meses O Rotary Club de Ipatinga foi criado, ainda como clube provisório, em 8 de julho de 1965, apenas um ano após a emancipação da cidade, antes pertencente à vizinha Coronel Fabriciano. Naquele tempo, apesar do grande ‘boom’ de construção da Usiminas a partir do final da década de 50, Ipatinga tinha apenas 30 mil habitantes – pouco mais de 10% da população atual – e restavam ainda trechos a serem asfaltados na ligação rodoviária de 210 quilômetros entre o Vale do Aço e Belo Horizonte. Em vista das precárias condições de comunicação, a admissão do clube pelo Rotary International se

deu mais de um ano depois, a 6 de setembro de 1966, e assim é que contam-se, efetivamente, 50 anos de história. Nessa época já existia o Rotary Club de Coronel Fabriciano/Acesita, cuja criação foi apadrinhada pelo Rotary de Governador Valadares. Como 12 dos rotarianos ligados ao clube de Fabriciano residiam na Ipatinga já emancipada, iniciou-se um movimento para criação do Rotary local. Havia o interesse manifesto de um significativo grupo da cidade nesse sentido, até porque o Lions Club e outras entidades assistenciais já haviam sido criados como segmentos organizados. J u l h o /S e te mbro 2 0 1 6


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O PRIMEIRO DESAFIO

Com 86 anos de idade e hoje residente em Belo Horizonte, um dos principais artífices da instalação do Rotary Club de Ipatinga é reconhecidamente aquele que se tornaria logo depois o seu primeiro presidente, Silas Augusto da Costa. Visionário e então um conceituado comerciante de bicicletas e eletrodomésticos estabelecido no bairro Horto, Silas posteriormente também se tornaria um industrial, criando no bairro Iguaçu a empresa Perfilados NMF, que na década de 80 se transformaria na Companhia Mineira de Laminação e, mais tarde, daria lugar à atual Cipalam (Companhia Ipatinguense de Laminação). Ele se mudou da cidade em 1973. Muito voltado para atividades sociais e preocupado com as carências da comunidade recém-emancipada, Silas da Costa, contam seus contemporâneos, se envolvia em uma série de questões fora do dia a dia dos negócios. E assim é que teve a percepção de que não existia em Ipatinga nenhuma escola pública para atendimento à juventude a partir do antigo curso ginasial (o que seria o moderno Ensino Fundamental, do sexto ano em diante). As escolas públicas existentes restringiam-se ao antigo curso primário. Para quem pretendesse avançar nos estudos, as únicas opções eram escolas católicas com cobrança de mensalidades, e apenas uma delas em Ipatinga, o Colégio São Francisco Xavier, existente desde J ulho /S e tem b ro 2016

15 de junho de 1962. A outra alternativa, exclusivamente para as mulheres, era o Colégio Angélica, em Coronel Fabriciano. Fato é que nem toda criança que terminava o primário na rede pública tinha condições de pagar o ginásio, e isto incomodava bastante a sociedade local. Foi nesta conjuntura que Silas tomou conhecimento que o governador Magalhães Pinto havia publicado um decreto criando 100 novas escolas estaduais em Minas. Mas os municípios deveriam doar terrenos e, não apenas isso, também erguer as edificações. A preferência seria para onde houvesse contrapartida. A notícia caiu em cima da mesa do grupo que estava discutindo a criação do Rotary, do qual faziam parte também, entre outros, Helvécio Thomaz Martins (farmacêutico), Antônio Pessoa Magalhães (da rede de postos de combustíveis AP Magalhães), Pedro Linhares Gomes (dos ramos de cerâmica e empreendimentos imobiliários) e o primeiro diretor do Hospital Márcio Cunha, Maurício Mauro Martins. Eram 32 membros, com idade média de 33 anos. A bandeira de construção do primeiro ginásio gratuito na cidade foi então a mola propulsora para o nascimento do Rotary Club de Ipatinga. A idéia empolgou a todos, foi logo encampada e não demorou para que o movimento arrastasse toda a opinião pública, especialmente os metalúrgicos de faixas salariais mais modestas, cujos filhos seriam os principais beneficiários.


UM QUARTEIRÃO

O IGUAÇU AINDA era um grande descampado quando o João XXIII foi edificado. Oitenta pedreiros trabalharam na obra

Convidado pelos rotarianos para uma reunião, apenas 14 dias após a instalação do clube, o empresário Jair Gonçalves (1907-1985), dono de extensas faixas de terras derivadas da antiga fazenda ‘Prato Raso’, doou um quarteirão inteiro no recém-criado bairro Iguaçu para implantação do atual Colégio João XXIII. Com apoio da Usiminas e do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos, o Rotary Club de Ipatinga conseguiu captar doações dos industriários, o valor de um dia de serviço descontado em folha. Mais de 6.000 operários contribuíram. Ainda, foram realizados sorteios de três fusquinhas. Num período de apenas 40 dias foram vendidas centenas de rifas de 7 mil cruzeiros, divididas em sete pagamentos, numa época em que a mensalidade de ginásio custava de 9 a 10 mil cruzeiros e quando a siderúrgica vivia momentos de grande euforia, com nada menos que 8 mil empregados. Além disso, havia no Rotary nascente nomes importantes da alta administração da Usina. O chefe-geral de implantação da siderúrgica, Gil Guatimosim Junior, fazia parte do grupo fundador. Também o segundo presidente do Rotary Club de Ipatinga, engenheiro lrimá da Silveira, foi alto administrador da Usina. Fazia parte ainda do clube de serviço o senhor Izumi Yuasa, diretor e representante dos sócios nipônicos na companhia. Mais ainda, companheiro do responsável pelo primeiro plano habitacional da cidade, Raphael Hardy Filho, Aldir de Castro Chaves (que planejou o histórico Grande Hotel, no bairro Castelo, entre muitas outras construções da cidade) também era rotariano e foi quem assinou o projeto do Colégio João XXIII. Aldir foi ainda o autor do primeiro projeto do campus da Universidade Católica de Minas Gerais (PUC) em Coronel Fabriciano. O dono da empresa que retirava areia do rio Doce para construções da Usiminas era igualmente sócio do Rotary e abastecia a obra. A empresa de perfilados dos Gaggiato, outra que atendia a siderúrgica, cuidou de toda a parte de estrutura metálica, fornecendo ainda janelas, portas. Outras empresas doaram tijolos. O resultado foi que, em apenas sete meses, a escola orçada em 250 milhões de cruzeiros foi erguida e completamente mobiliada, iniciando com uma capacidade de 2.400 alunos, em três turnos. Começou a ser construída em novembro de 1965 e foi inaugurada em 26 de junho de 1966, empregando 80 pedreiros. Posteriormente, o próprio Rotary se empenhou na regularização do educandário junto ao MEC, composição dos corpos docente e administrativo, instalação de biblioteca. Não por acaso, foi colocada uma placa do Rotary Club no pátio de entrada do João XXIII, onde se lê que o edifício ganhou o nome de Paul Harris, o advogado estadunidense que fundou há 111 anos a instituição.

UMA DAS instituições de ensino mais tradicionais de Ipatinga, meio século depois o colégio do Iguaçu continua atendendo a milhares de alunos

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ALDIR DE CASTRO, natural de Mariana: a ficha de admissão no Rotary, com 30 anos, e presença na inauguração do João XXIII

RAPHAEL HARDY morreu em 2005, com 88 anos, e sua esposa, natural de Santa Luzia, faleceu aos 96 anos, em 2015

Rotariano construtor da escola projetou também Grande Hotel O arquiteto Aldir de Castro Chaves, rotariano que projetou a construção do ginásio estadual João XXIII, também integrou a equipe que executou o primeiro plano habitacional de Ipatinga, comandada por Raphael Hardy Filho (1917-2005), considerado um dos precursores da arquitetura modernista no País. Hardy nasceu em Viçosa. Engenheiro formado na primeira turma de arquitetura da UFMG, onde mais tarde se tornaria professor, ele recusou convite para trabalhar no planejamento de Brasília para dedicar-se ao plano

urbanístico da nova metrópole do Vale do Aço, como contratado da Usiminas. Seu pai, imigrante belga proveniente da histórica Bruges, também era arquiteto e violoncelista. Estabeleceu-se na Zona da Mata para trabalhar na locação da Estrada de Ferro Leopoldina em 1915 e atuou na Primeira Guerra Mundial entre 1916 e 1918, para depois retornar ao Brasil. As primeiras obras de Hardy Filho foram concebidas em Araxá, dentro do conceito cidade-jardim. Posteriormente ele presidiu o Instituto de Arquitetos


REPORTAGEM DE CAPA

41 AS PRIMEIRAS reuniões do Rotary Club de Ipatinga aconteciam no Grande Hotel, projetado para receber artistas, visitantes estrangeiros e altas autoridades nacionais

do Brasil em Minas Gerais e foi superintendente técnico da Cohab, entre outras ocupações. Em 1958, com ajuda de outros renomados arquitetos, deu início à elaboração do primeiro plano urbanístico da atual cidade de Ipatinga, então chamada de Vila Operária. O projeto, que recebeu orientação e aprovação do urbanista Lúcio Costa, segue uma tendência ao urbanismo modernista, que pode ser notada na concepção de cada bairro como uma unidade de vizinhança independente ladeada por áreas comerciais, serviços básicos e espaços de lazer. Os bairros da antiga Vila Operária foram distribuídos de acordo com a hierarquia da Usiminas, distinguindo-se entre diretores, engenheiros, técnicos, operários rasos e funcionários de empreiteiras. O Massacre de Ipatinga, ocorrido em 1963, contribuiu para o aceleramento da construção dos conjuntos habitacionais. Com objetivo de controlar a compra e venda de residências e terrenos e evitar que características originais do projeto fossem rompidas, Hardy Filho criou um plano habitacional em 1965, no qual fora definido que qualquer obra que fosse realizada nos complexos residenciais devia receber a aprovação de um Departamento de Habitação e Urbanismo da empresa. Ipatinga passou a ser considerada um dos ícones do movimento moderno no Brasil, tal como Brasília, concluída em 1960. Além dos bairros Castelo, Vila Ipanema, Cariru, Bom Retiro, Amaro Lanari (em Fabriciano), Imbaúbas, Horto e Santa Mônica, ainda foram projetados, entre outros, os prédios da Prefeitura e da antiga Câmara Municipal. O Grande Hotel Ipatinga, localizado no bairro Castelo, foi concluído em 1960, sendo tombado como patrimônio cultural ipatinguense pela lei nº 1.764, de 24 de março de 2000. Em BH, Hardy Filho ainda projetou a sede da Usiminas (1980), juntamente com István Farkasvölgyi e Álvaro Hardy, seu filho, também conhecido como “Veveco” – aquele que é homenageado por Milton Nascimento e Fernando Brant na composição “Veveco, Panelas e Canelas”, gravada originalmente por Beto Guedes no disco “Contos da Lua Vaga”. Elaborou também ao longo de sua carreira profissional o projeto do Fórum Lafayette (1951), a sede do Minas Tênis Clube (1958) e a antiga sede do IPSEMG na Praça da Liberdade (1965). J u l h o /S e te mbro 2 0 1 6


A BANDA DE Música Brasil Excepcional, integrada por alunos da APAE, diante da sede da entidade, construída no bairro Bela Vista

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Socorro a pessoas com necessidades especiais Outra ação importante do Rotary Club de Ipatinga em favor da sociedade local foi capitanear a construção da sede própria da APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, que foi inaugurada em 26 de outubro de 1984, data em que a Usiminas celebrava 22 anos de operação e a cidade completou sua segunda década de emancipação. Embora criada desde 1974 (por iniciativa de um grupo de mulheres, muitas delas ligadas à Casa da Amizade, apoio feminino do Rotary Club), a entidade vivia até então praticamente de favores, funcionando aqui e ali em residências cedidas ou alugadas. Esteve por um tempo Bom Retiro, no Horto, depois no bairro Cariru, e se mantinha com promoção de feiras, desfiles, feijoadas, bazares, rifas, entre outras promoções. A campanha pela edificação da sede da APAE teve início em 1981 e também acabou sendo abraçada por toda a comunidade, mas teve no Rotary um de seus principais pilares, inclusive na viabilização de contribuições voluntárias por meio das contas de energia. Iniciada em 1983, a obra foi concluída no ano seguinte, quando presidia o Rotary Club de Ipatinga o advogado e empresário das Comunicações Ronaldo de Souza (1944/2002). Entre muitos rotarianos, atuaram mais diretamente na viabilização do espaço educativo para pessoas com necessidades especiais Zarife Selim de J ulho /S e tem b ro 2016

Sales e o promotor Walter Freitas de Moraes, apoiados por numeroso grupo. Com capacidade para atender mais de 300 alunos, o prédio ocupa uma área de 4.000m2, sendo 3.800m2 construídos. O terreno foi cedido pela Usiminas em regime de comodato por um período de 99 anos, contados a partir de 1992. Profissionais especializados realizam no local o trabalho de prevenir deficiências, com intervenção precoce em favor de crianças que apresentem atraso neuro -psicomotor, possibilitando-lhes o desenvolvimento integral. Um dos objetivos é proporcionar condições para que a criança com distúrbios de aprendizagem severos possa vencer as etapas de alfabetização, tendo assegurada sua inclusão em escolas regulares. Preparar o Portador de Deficiência em idade adulta para a iniciação ao trabalho, visando sua independência e integração na sociedade, é outro foco. Ainda, é prestado um atendimento específico às famílias, orientando-as para melhor compreensão do filho portador de deficiência. Entre outras instalações, a entidade conta hoje com duas piscinas com água aquecida, um galpão para atividades físico/pedagógicas, cinco salas para atendimento individual, almoxarifados, quadra poliesportiva, laboratório de informática e gabinete dentário.


REPORTAGEM DE CAPA PRAÇA DO SANTA MÔNICA

Logo no seu nascimento, o Rotary Club de Ipatinga também teve atuação importante na implantação de uma providencial praça de esportes no bairro Santa Mônica, local onde se concentravam alojamentos de solteiros empregados na Usiminas e que era foco de tensões constantes. As turbulências do chamado Massacre de Ipatinga, episódio que resultou numa série de mortes, em 1963, ainda estavam bem vivas na memória de todos, e o clube de serviço mobilizou -se juntamente com lojistas do Horto e o Sindicato dos Trabalhadores para criar uma área de recreação e entretenimento na região, habitada originalmente por cerca de 2.000 operadores da usina. A obra foi entregue em apenas 30 dias.

OUTRAS INTERVENÇÕES

Nos últimos dias, o Rotary Club de Ipatinga tem dado atenção especial também a regiões carentes na área rural, tendo implantado dois Núcleos de Desenvolvimento Comunitário, um em Bom Jesus do Bagre, município de Belo Oriente, e outro em Achado do Paraíso, o chamado ‘Achado dos Pretos’, comunidade de origem Quilombola em Santana do Paraíso. Movimentados pela própria comunidade, os núcleos construídos por iniciativa do clube de serviço são acompanhados por comissões específicas, que os visitam e lhes dão apoio logístico. No Bagre, em sequência a uma distribuição maciça de filtros de barro (outra necessidade urgente identificada), a unidade foi edificada com madeira

tratada fornecida pela Cenibra, sendo a concepção arquitetônica desenvolvida pelo Centro Universitário do Leste de Minas (UnilesteMG). A universidade também direcionou recursos para a obra com uma gincana desenvolvida dentro da programação do seu Vestibular Solidário – em que os trotes são substituídos por ações sociais. O local se tornou verdadeiro ponto de encontro da comunidade, abrigando ainda uma biblioteca infantil muito bem montada, recheada com doações da Editora Abril e livrarias. Funcionam no mesmo espaço uma sala de informática e cursos de artesanato, além de outros para geração de renda. Pontualmente, ali também são promovidos mutirões de saúde, com consultas e exames diversos oferecidos por voluntários. Além de captar fundos em seus freqüentes encontros de confraternização que servem também para gerar maior integração entre os associados, familiares e amigos, as ações do Rotary contam com recursos financeiros liberados por intermédio de projetos da Fundação Rotária. Projetos desde os mais simples aos mais complexos são executados dentro de regras e padrões, devendo cumprir cronogramas pré -estabelecidos. Por esse instrumento, a comunidade no entorno do Núcleo do Achado receberá fossas sépticas nos próximos meses. A Fundação Rotária possibilitou via Rotary Club de Ipatinga, há alguns anos, com investimentos de um grupo americano, treinamento de pessoal e aparelhos para detecção de invasores no Parque Florestal do Rio Doce.

A INAUGURAÇÃO da quadra do Santa Mônica serviu para aliviar as tensões do alojamento de jovens operários

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Na presidência, um ipatinguense nascido na Rua do Comércio

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CELSO Junqueira, Antônio Cléber e Eliani Vello: o Rotary define seus presidentes com um ano de antecedência

No ano de seu cinqüentenário e com um sentimento de raiz ainda mais aflorado, o Rotary Club de Ipatinga guindou à presidência um ipatinguense, o contabilista Antônio Cléber Anício Pereira, que nasceu em 1956 na antiga Rua do Comércio. “Era um tempo em que a atual av. 28 de Abril ainda era um barro só”, lembra ele, para simplificar o quadro do então distrito em que passou a infância, desprovido de qualquer infraestrutura. As ruas eram de terra, a luz a motor e a água fornecida em lombo de burro ou carros-pipa. Clebinho, como é mais conhecido, foi aluno da escola estadual Manoel Izídio em sua primeira sede - a fazendinha que existia à frente do extinto Colégio Assedipa -, depois estudou no anexo implantado no prédio da velha Estação Ferroviária Vitória-Minas (onde hoje é a Estação Memória, transformada em museu), e foi concluir o quarto ano primário quando se inaugurou o prédio definitivo na av. João Valentim Pascoal, no segundo semestre de 1968. Fez parte da primeira turma formada pelo educandário. Antônio Cléber graduou-se como técnico em Contabilidade no Colégio John Wesley, depois foi fazer faculdade de Ciências Contábeis em Caratinga, já que o J ulho /S e tem b ro 2016

curso ainda não era disponibilizado no Vale do Aço. Contador há 42 anos, o presidente do Rotary Club de Ipatinga para o período 2016/2017 se tornou sócio há dez anos. Já foi secretário e tesoureiro, entendendo que extraiu bons aprendizados nestes cargos, que lhe dão subsídios importantes para o mandato agora recebido. Casado há 36 anos, ele é pai de Ana Paula, médica, e Luciana, bioquímica, proprietária do Laboratório Oswaldo Cruz, além de Mateus, o caçula, que cursa Ciências Contábeis e trabalha com ele no escritório.

SUCESSÃO PROGRAMADA

Já no ano passado, Antônio Cléber recebeu a notícia de que seria presidente. No Rotary, o titular do cargo é definido antecipadamente, a cada final de ano, de modo que o escolhido possa se preparar mais adequadamente para a atividade e planejar melhor as suas ações. Ele recebeu o cargo, neste mês de junho, do engenheiro Celso Junqueira de Barros. E, de antemão, já sabe que ao final do mandato de um ano o transmitirá a Eliani Meyre de Almeida Vello, diretora da Arcon Engenharia de Climatização, fundada em 1988.


REPORTAGEM DE CAPA Natural de Pouso Alegre, no sul de Minas, Celso Junqueira conta que está em Ipatinga desde 1979, e já se considera um filho, porque está há mais tempo aqui do que na sua terra natal. Já são 37 anos. Veio para cá logo que se formou no Inatel, em Santa Rita do Sapucaí, aos 23. “Fui trabalhar na Usiminas, na parte de Automação Industrial. Atuei na empresa até me aposentar, em 2012. Sou Engenheiro Eletricista, com opção de Eletrônica, e também cursei mestrado em Automação Industrial, trabalhando principalmente com chapas grossas e tiras a quente”, detalha. Celso revela que entrou para o Rotary em 2004, avaliando que aprendeu muito na organização. “Mais ainda como presidente, porque praticamente tudo passa por você”. Contudo, ressalva: “Porém, você não faz nada sozinho. O importante é o grupo todo trabalhando junto. Até brincava com o pessoal: o presidente não atrapalhando, as coisas andam. A atuação do presidente é mais de apoio e coordenação. Aqui, como todo mundo é voluntário, é natural que o presidente não tenha esse poder de mandar ninguém fazer nada. Você simples-

mente propõe as atuações, as ações, e isso vai crescendo à medida que mais e mais pessoas vão se prontificando a cumprir o ideal de dar mais de si mesmas em favor de outras”, resume. Senão pelas muitas ações sociais, Celso celebra o fato de ter-se tornado rotariano por fazer, neste ambiente, “tantas amizades” e, ainda, “ampliar horizontes”. Ele explica: “Em Rotarys da dimensão do nosso a gente não pode ter mais do que cinco pessoas da mesma profissão, da mesma área. Isso é interessante porque você precisa ter visões diferentes na hora que você vai desenvolver um projeto, alguma iniciativa de maior impacto. Não é um clube de engenheiros, um clube de médicos. Vejamos, por exemplo, a campanha da pólio, que tanto orgulho nos dá por praticamente ter erradicado a doença no mundo. O próprio Albert Sabin, rotariano, estava à frente, mas precisava de logística pra campanha atingir seus objetivos em nível mundial. Precisava ainda de especialistas financeiros para poder gerenciar e arrecadar fundos, advogados e pessoas com experiência internacional para poder abrir países onde há restrições”, explica.

AS AUSTRALIANAS Isabel (1) e Molly (4), a mexicana Viviane (2) e a norte-americana Leah (3), acompanhadas dos rotarianos Carlos Eduardo (5) e Kléber Macedo (6). Com a bênção do pai, João (7), a jovem Leiko (8) vai para a Hungria

Como funciona o programa de intercâmbio do Rotary O Intercâmbio de Jovens do Rotary é uma oportunidade única para os mais de 8 mil estudantes, de todo o mundo, que participam todos os anos. Os jovens, entre 15 e 18 anos, compartilham suas próprias culturas e familiarizam-se com novas, ajudam a promover a compreensão mundial. Além de assimilar um novo idioma, aprendem muito sobre si mesmos e seus próprios países. Nos últimos 20 anos o Rotary Club de Ipatinga recebeu e enviou mais de 40 jovens para a América, Europa e Ásia. Apenas em 2016 são quatro estudantes estrangeiras recebidas: Gillian, do Canadá; Molly, da Austrália; Leah, dos Estados Unidos, e Zsofi, da Hungria. Elas permanecem durante um ano em Ipatinga, estudando no Colégio São Francisco Xavier, e terão oportunidade de realizar diversas viagens pelo Brasil, conhecendo o Nordeste, o Sul, a Amazônia e o Rio de Janeiro. O Rotary Club de Ipatinga também está patrocinan-

do dois jovens que embarcarão para o exterior: Vitor, para a Alemanha, e Leiko, para a Hungria. Outras duas jovens, Lívia e Yasmin, já foram aprovadas na seleção e em breve também terão o seu país de destino definido. Os estudantes de intercâmbio passam um ano inteiro no país, frequentando uma escola de ensino médio, e são recebidos por até quatro famílias anfitriãs voluntárias selecionadas pelo Rotary. Normalmente eles ficam até três meses em cada casa. Os lares que acolhem não precisam necessariamente ter jovens para mandar em contrapartida. Contudo, para cada estudante que chega, um é encaminhado ao exterior. A estudante canadense Gillian McTaggart reflete: “O intercâmbio do Rotary me ensinou muito! Hoje sou uma pessoa muito melhor e agradeço a todos os rotarianos que trabalharam para que eu tivesse esta oportunidade. Já estou com saudades de tudo que vivi aqui no Brasil”. J u l h o /S e te mbro 2 0 1 6


DITO E FEITO

Homens e Mulheres de “Deus é o dono de tudo. Devo a Ele a oportunidade que tive de chegar aonde cheguei. Muitas pessoas têm essa capacidade, mas não têm essa oportunidade. Ele a deu para mim, não sei por quê. Sei que não posso desperdiçá-la.”

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AYRTON SENNA (1960-1994), três vezes campeão mundial de Fórmula 1, um dos mais influentes e bem-sucedidos pilotos da era moderna e considerado um dos maiores da história do esporte. Em 2012, foi eleito pela rede BBC o melhor de todos os tempos.

“Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente. Não ousar é perde-se definitivamente.”

“Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre.”

SOREN KIERKEGAARD (1813-1855), filósofo e teólogo dinamarquês. Criticava fortemente o que ele via como as formalidades vazias da igreja em seu país.

CECÍLIA MEIRELES (1901-1964), poetisa, pintora, professora e jornalista carioca, considerada uma das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua portuguesa. Era filha de um funcionário do Banco do Brasil e uma professora.

“Desconfio de quem nunca me pediu nada. Geralmente, aqueles que se sentam à mesa sem apetite são os que mais comem.” ALICE RUIZ, 70 anos, poeta e tradutora nascida em Curitiba-PR. Ex-mulher de Paulo Leminski - falecido em 1989, notório crítico literário filho de pai polonês e mãe negra -, ela começou a escrever na adolescência, mas durante muitos anos divulgou seus poemas apenas em revistas e jornais. Publicou seu primeiro livro aos 34 anos. Em 2009, recebeu o Prêmio Jabuti pelo livro Dois em Um.

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FILMES/LIVROS

“Casa Comigo?”: um filme para os apaixonados

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Ambientada em Dublin - a capital e principal centro histórico e cultural da Irlanda - e suas cercanias, com paisagens incríveis, esta ótima comédia romântica é de 2010, mas recomendada para todos os tempos. O enredo, embora clichê, é povoado de textos muito ricos, que são valorizados ainda pela interpretação magnífica dos protagonistas. O conjunto torna o filme encantador. Além de tudo, a trilha sonora é um capítulo à parte, criando a atmosfera perfeita para os apaixonados. Há quem já tenha assistido em várias ocasiões, sem se enfadar, pegando-se envolvido e emocionado como se estivesse vendo pela primeira vez. Sem grandes nomes no elenco, a estrela Amy Adams será o centro das atenções e cativa a simpatia de todos. Ela vive uma personagem que já estamos cansados de ver, e sempre nas mesmas circunstâncias. Contudo, “Casa Comigo?” traz momentos divertidos e sugestivos para aquilo que chamamos de “amor à primeira vista”. Os astros se envolvem numa louca viagem, uma grande travessia pelo país, para que Anna (Adams) chegue até o seu destino principal. Mas até chegar ao tal destino ela viverá episódios marcantes ao lado de Declan (Matthew Goode). E não será nenhuma surpresa se a dupla começar a viver algo mais sério a partir disso. A garota se desloca ao país para pedir o namorado Jeremy (Adam Scott) em casamento. Segundo a tradição local, o homem não pode recusar um pedido feito no dia 29 de fevereiro. No entanto, após contratempos na viagem, Anna se vê obrigada a pegar carona com o charmoso e grosseiro Declan, dono de uma hospedaria. Logo, o que deveria ser uma simples travessia ganha rumos inesperados. (1h35min)

DIFÍCIL ESQUECER: Amy Adams e Matthew Goode vivem situações hilárias e embaraçosas juntos

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Guardiola Confidencial

MARTÍ procura decifrar a personalidade de Pep Guardiola, o técnico que deu ao Barcelona os melhores anos de sua história

O desafio de decifrar a personalidade de Pep Guardiola sempre pareceu tão complexo quanto o de conceber, à distância e sem acesso direto, de que forma trabalha o técnico que deu ao Barcelona os melhores anos de sua história. O jornalista Martí Perarnau, no entanto, obteve do próprio Guardiola permissão para entrar nos vestiários do Bayern de Munique, seguir de perto todos os seus passos e relatar os detalhes de uma temporada inteira do catalão no comando do clube bávaro. E tirou o máximo proveito da ocasião. Seu exaustivo trabalho de campo delineou os traços de um personagem tão genial quanto atormentado, apaixonado pelo futebol mas, ao mesmo tempo, incapaz de desfrutar totalmente das vitórias por culpa de sua obsessiva busca pela perfeição. O autor mergulhou fundo também nas ideias e conceitos de jogo fundamentais para o técnico, desfazendo ao longo da obra uma série de clichês que rodeiam a figura de Pep. Enfim, valendo-se do acesso sem precedentes aos meandros de um dos maiores clubes do mundo, e atento a tudo o que acontecia diante de seus olhos, Perarnau indagou, refletiu e contextualizou para escrever, com conhecimento de causa, sobre o técnico de futebol mais bem-sucedido dos últimos anos. (408 páginas)



EXTRA! EXTRA! Compromisso no altar Capa da edição nº 13 de ATITUDE, a bela nutricionista e especialista em segurança alimentar, Sarah Gomes, sobiu ao altar em 27 de agosto, para se unir ao advogado Daniel Guzella, seu namorado há mais de quatro anos. A cerimônia aconteceu na Igreja Maranata do bairro Cidade Nobre, em Ipatinga. A garota foi pedida em casamento em 22 de janeiro, o que soou como verdadeiro presente de aniversário antecipado, já que ela comemora suas primaveras em 3 de fevereiro.

Biografia em livro O saguão do Centro Cultural Usiminas, no Shopping Vale do Aço, foi palco, em 29 de junho, do lançamento da segunda edição do livro ‘Entre Rosas e Espinhos’, obra que relata a trajetória de vida do pastor Antônio Rosa da Silva até sua jubilação. A biografia foi escrita por Jacó Rodrigues Santiago e é indispensável para compreensão da história das Assembleias de Deus no Vale do Aço. Jacó contou ser amigo do biografado desde 1971, quando a família chegou à região e foi muito bem recebida por ele. O escritor, que tinha apenas 12 anos na ocasião, revela: “Já nessa tenra idade eu tinha o costume de anotar em cadernos fatos importantes da igreja, sem mesmo saber para que serviria”. A primeira edição da biografia do líder assembleiano foi lançada em maio de 2002.

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Router CNC

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Uma versátil ferramenta industrial foi disponibilizada pelo empresário Norton Barbosa, da Art Vale, para produção da roda denteada de Rotary International que aparece na capa e abertura da reportagem principal desta edição de ATITUDE. O Router CNC (que, guiado por sistema informatizado, realiza cortes, gravações, desbastes de alto e baixo relevo em materiais como acrílico, MDF e PVC) moldou em poucos minutos a base da engrenagem cujo envelopamento ficou a cargo da Patty Paineis. Os 24 dentes da roda denteada do Rotary representam as 24 horas do dia (em que cada rotariano deve viver o Rotary em ação e pensamento, preconiza a instituição). Os 6 raios representam as qualidades essenciais do rotariano em relação à: FAMÍLIA – Ser bom chefe de família; AÇÃO – Cumprir os deveres de cidadão; AMIZADE – Cultivar a capacidade de fazer e manter amigos; PROFISSÃO – Ter ética profissional, agindo sempre de acordo com os princípios rotários; RELIGIÃO – Respeitar normas e princípios religiosos; INSTITUIÇÃO – Manter a integração no movimento rotário, cooperando sempre.


Imprensa reunida A noite de 7 de julho foi marcada por mais uma inesquecível homenagem da Cenibra aos profissionais da Comunicação nos vales do Aço e Rio Doce, como anualmente acontece. Desta vez, o encontro sempre muito celebrado pela categoria por sua especial atmosfera de confraternização, teve lugar na Pousada Solar das Hortênsias, em Marliéria. Créditos à agradabilíssima equipe comandada pela dirigente do Instituto Cenibra e Coordenadora de Comunicação Corporativa e Relações Institucionais da empresa, Leida Horst. Além dela, lá estavam também, interagindo com repórteres, editores, fotógrafos e cinegrafistas José Roberto Gonçalves, Heleonora Valadares, Rudson Vieira e Felipe Gonzaga.

De olho nas novidades O casal Renato Cleber Queiroga e Rita Melo, em solo asiático, prospectando novidades para o mercado brasileiro. Sempre muito atentos, eles presenteiam o país com algumas das mais revolucionárias e práticas engenhocas tecnológicas para combate de dores crônicas. Entre as vedetes, o Tens Portátil – Estimulador Neuromuscular, o massageador de olhos que ataca enxaquecas e olheiras, o travesseiro massageador que alivia dores musculares no pescoço, ombro, braço, mãos, costas, pernas e pés.

Marca de respeito Ao lado da nora, Rafaela Táfiny, dos filhos Ruytter e Pamela e da esposa Maria Beatriz, o empresário Almerindo Joel de Mendonça recebeu com alegria extasiante, na noite de 30 de junho, em solenidade realizada no auditório da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), o merecido título de Cidadão Honorário de Ipatinga. Diretor da Dona Bia (que produz massas para pastel, lasanha e pizza, além de pão de alho e ravióli), com a discrição típica dos melhores benfeitores ele é parceiro de muitas causas sociais na cidade. Como se não bastasse, o empresário ainda figurou em destaque nas páginas do BIP – Boletim de Informação para Publicitários, publicação da Direção-Geral de Negócios da Rede Globo, edição de junho de 2016, entre os anunciantes listados como Cases de Sucesso no país. Fundada em 1997, a Massas Dona Bia começou a produzir suas primeiras unidades de forma totalmente caseira, fazendo conhecidos seus produtos em feirinhas e pequenas mercearias. A empresa foi crescendo e ganhando espaço no mercado e está presente hoje em boa parte do território mineiro, Espírito Santo e São Paulo. J u l h o /S e te mbro 2 0 1 6

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VIDA MODERNA

MANTER UMA certa distância dos monitores é uma das indispensáveis atitudes preventivas

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Fadiga visual Doença provocada pelo uso excessivo e inadequado de telas eletrônicas atinge cada vez mais adultos e crianças PCs, notebooks, smartphones, tablets, tevês, smart TVs... Quem hoje em dia não usa um ou mais aparelhos desses? Seja por trabalho, interação, relaxamento ou diversão, o fato é que estamos cada vez mais com os olhos vidrados na tela. Muitas pessoas até tentam se desvencilhar um pouco da dependência tecnológica, mas agora os sinais sonoros emitidos pelos aparelhos, para avisar sobre mensagens do WhatsApp, Messenger, Facebook ou outro tipo de comunicação pela Web tornam quase impossível ignorá-los ou evitá-los. Assim é que especialistas fazem um alerta: excesso de leitura nesses dispositivos pode causar a chamada fadiga visual digital - um conjunto de sintomas que inclui olhos secos, visão embaçada, cansaço, além de dor de cabeça e incômodos no pescoço e ombro. Os males atingem cada vez mais pessoas, de todas as idades.

PESQUISAS

Pesquisa feita nos Estados Unidos pelo instituto Consumer Eletronics Show descobriu que 70% dos adultos norte-americanos sofrem cansaço visual cauJ ulho /S e tem b ro 2016

sado por essas novas tecnologias. O estudo apontou que 60% dos entrevistados passaram pelo menos seis horas por dia olhando para telas, enquanto que 28% gastam até 10 horas diárias. No Brasil, o cenário não é diferente. Segundo a empresa de pesquisa comScore, nenhum habitante da América Latina gasta mais tempo online que brasileiros, que passam em média 27 horas na internet por mês. “As pessoas estão fazendo tudo pelo computador. Trabalhando, estudando e até gastando suas horas de lazer. O problema é que quando estamos na frente das telas não costumamos piscar da maneira correta e quando isso acontece por um longo período os olhos tendem a sofrer um ressecamento. É importante piscar a cada 10 segundos para refrescar os olhos; ficar atento para a distância da tela do dispositivo eletrônico ao olho, que deve ser acima de 60 cm; e ainda prestar atenção na luz ou brilho do aparelho. O melhor é considerar o uso de um filtro de brilho sobre sua tela”, orienta o dr. Sérgio Kniggendorf, sócio e chefe do Departamento Retina e Vítreo do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB).


TECNOLOGIA AFETA A TODOS

Embora as pessoas, em sua maioria, não dêem a devida importância à vermelhidão e à sensação de areia nos olhos, aí estão muitas vezes os sintomas de um mal alimentado inconscientemente no dia a dia de cada uma delas. A visão pode ser potencialmente prejudicada pelo uso prolongado da tecnologia. Há quatro anos passados – e, de lá pra cá, a massificação dos celulares e computadores de toda ordem se ampliou muito mais –, dados do IBOPE Nielsen Online já destacavam que internautas com idade entre 2 e 11 anos permaneceram em média 17 horas conectados ao computador. Se comparados a outros países do mundo, nossos pequenos passam muito tempo entretidos com os eletrônicos. Na França, a média do tempo gasto pelos menores com a internet é de 10 horas e 37 minutos, por exemplo. O uso intenso do computador entre as crianças pode colocá-las em risco. “Os olhos da criança se cansam porque o computador demanda uma concentração e um foco muito maior do que em qualquer outra tarefa, o que a faz forçar o sistema de visão, exigindo habilidades

motoras finas que os olhos das crianças ainda não desenvolveram. Somente quando o sistema visual amadurece é que a criança é capaz de lidar com o estresse visual. Este esforço extra pode colocar as crianças em um risco ainda maior do que os adultos de desenvolver os sintomas da fadiga visual”, alerta o especialista. De acordo com Sérgio Kniggendorf, como as crianças são muito adaptáveis, mesmo que tenham uma dificuldade de visão, assumem como normal o que vêem e como vêem. “Por isso que é tão importante que os pais monitorem o tempo que a criança passa em frente ao computador e faça exames oftalmológicos com regularidade nas crianças”. De qualquer modo, todos devem limitar a quantidade de tempo na frente do computador sem uma pausa. O ideal é que se faça no mínimo 20 segundos de intervalos a cada 20 minutos de uso do computador, para minimizar o desenvolvimento de problemas oculares, como dificuldade com foco e irritação dos olhos. Alguns oftalmologistas recomendam ainda evitar o uso noturno de qualquer tipo de mídia, porque a luz azul contida nelas prejudica a produção de melatonina, hormônio responsável pelo sono.

ALGUMAS DICAS PRECIOSAS 1

Independente da mídia, evite locais muito iluminados. Isso contrai as pupilas e diminui o contraste dos aparelhos.

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Mantenha o celular à distância mínima de 30 centímetros e o monitor a 60 cm.

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Olhe para um ponto distante de 5 a 10 minutos a cada hora de navegação.

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Aumente o tamanho das letras, regule a tela com o máximo contraste e pouca luminosidade.

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Lembre-se de piscar voluntariamente quando estiver usando os aparelhos com a web.

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DESAVISADAS quanto aos riscos, até mesmo as crianças têm sido muito afetadas

Quem passou dos 40 e tem presbiopia* deve usar óculos apropriados para o computador. Muitos não utilizam. *PRESBIOPIA OU VISTA CANSADA - Distúrbio da visão, que ocorre aproximadamente aos 45 anos, em que, por perda da elasticidade e do poder de acomodação do cristalino, o indivíduo não percebe mais com nitidez os objetos próximos.

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VIDA DE SUPERAÇÃO

“Eu por Eu Mesma” No YouTube, jovem itabirana amputada desde os três anos mostra como chegou à idade adulta sem cadeira de rodas e fala do sublime sonho de ser mãe

NO CANAL do YouTube, a jovem dá dicas, compartilha experiências e também expõe posições sobre a realidade do país

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Dely Júnior Diário de Itabira

Hoje com 27 anos, Kátia Figueiredo é uma jovem que para muitos estaria fadada à infelicidade, tal o marcante infortúnio que cruzou o seu caminho ainda na infância. Contudo, a voz firme e decidida, sempre acompanhada de fortes argumentos, coloca em evidência uma edificante postura de superação, que começa a ser exigida logo aos três anos de idade, quando foi acometida de uma doença circulatória grave, chamada ‘púrpura trombocitopênica aguda’. A cura seria relativamente fácil, mas não para quem morava na desassistida comunidade rural de São José do Turvo, distrito de Ipoema, em Itabira, 24 anos atrás. Foram vários dias com tentativas de diagnóstico frustradas e o veredicto foi conhecido somente 21 dias depois do aparecimento dos sintomas, com uma videoconferência envolvendo um médico do exterior. A conclusão veio tarde demais e o resultado é que, em J ulho /S e tem b ro 2016

decorrência da enfermidade, a menina teve as pernas completamente amputadas, chegando até mesmo a ter a vida ameaçada em oito meses de internação hospitalar. O nome ‘púrpura trombocitopênica aguda’ está diretamente relacionado às principais manifestações da doença. Púrpura é uma referência às manchas roxas ou avermelhadas indicativas de sangramentos que aparecem na pele; trombocitopênica, em razão da trombocitopenia, ou seja, do sangramento provocado pela queda no número de plaquetas. O mal afeta uma em cada 10 mil pessoas e incide mais nas mulheres em idade fértil do que nos homens. Crianças podem apresentar uma forma aguda e autolimitada de PTI, em geral decorrente de um quadro infeccioso viral. “Lembro-me de que os primeiros sintomas vieram à noite, e já de manhã não conseguia mais ficar de pé”, recorda Kátia.


INDO À LUTA

Apesar da falta dos membros inferiores, a menina cresceu normalmente, e era comum ver a pequena Kátia montada a cavalo na região, hábito que ela mantém até hoje. “Gosto muito da roça e dos cavalos”, ela diz, para complementar em seguida, com ar de realização: “Monto até hoje, mais por diversão. Mas se precisarem juntar boi no pasto, eu vou sem problemas. Adoro cavalos”. O mais impressionante é que Kátia Figueiredo cresceu sem contar com uma cadeira de rodas (só veio utilizá-la aos 21 anos) e, assim, aprendeu a lidar com todas as limitações que o ambiente impunha. “Não dá para andar de cadeira de rodas no Turvo, né? Imagina como seria nas estradas de terra! Andava com a mão no chão mesmo. E sempre consegui fazer tudo sozinha”, afirma ela, orgulhosa, recusando-se terminantemente a ser chamada de “coitadinha”, o que lhe soa como ofensa grave. Atualmente morando no bairro Fênix, na terra de Carlos Drummond de Andrade, onde divide a casa com os pais e sua irmã, Kátia Figueiredo iniciou uma nova empreitada. Ela produz um canal de vídeos no Youtube, chamado “Eu por Eu mesma”. E conta como a iniciativa se consolidou: “A ideia de começar o canal foi da minha irmã. Certo dia, conversando

KÁTIA PINTOU o quarto de laranja, mas diz que vai construir em cima da casa dos pais e deixar o espaço para a irmã

comigo, ela refletia sobre coisas que pudéssemos fazer juntas e então surgiu essa ideia. Foi assim que pusemos mãos à obra e pude então compartilhar um pouco de muitas experiências de vida”, detalha a jovem.

SUBINDO ESCADA

No canal, que já conta com quase 30 vídeos, embora ainda seja relativamente pequeno o número de inscritos (menos de mil), Kátia fala sobre assuntos diversos. Maquiagem, cabelos, roupas, controle de peso, sua vida cotidiana, os desafios de se virar sozinha. “Meus pais e minha irmã me ajudam muito, é claro. Mas em geral prefiro colocar a mão na massa. Meu quarto mesmo, fui eu que pintei”, diz ela. Em alguns de seus vídeos, a youtuber aparece varrendo uma varanda, lavando roupas e até subindo em uma escada para pintar as partes mais altas das paredes do quarto. Supera com desenvoltura a dificuldade de equilíbrio imposta pela falta das pernas e dos pés. E ainda brinca com a situação: “Isso é o de menos. Não é porque não tenho pernas que vou deixar de fazer as coisas que preciso. Cismei de pintar, comprei eu mesma a tinta e fiz o que achava que deveria. É claro que não ficou bom”, conclui Kátia Figueiredo, rindo muito de tudo.

“TEM GENTE do mundo inteiro me adicionando no Facebook e me chamando para conversar”, conta a jovem itabirana J u l h o /S e te mbro 2 0 1 6

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ECONOMIA E SONHO

Focada no sonho de edificar sua casa própria, a jovem conta que tem economizado dinheiro de um benefício que recebe do INSS para a construção. “Quero construir aqui mesmo, na casa dos meus pais. Minha ideia é construir aqui em cima da casa, para ter mais independência mesmo. Se conseguir realizar o sonho e o canal me ajudar para isso, será ótimo”, contenta-se. Apesar de resignada em relação a certos aspectos da vida, Kátia não deixa de reclamar da ausência de equipamentos públicos que contemplem melhor os deficientes, em sua cidade: “Nada aqui é acessível! Vou falar disso nos meus vídeos. Uma simples visita a uma loja para experimentar roupas é um problema. São poucas as que têm acessibilidade garantida e estas ainda ficam sempre lá no Centro da cidade, que já é inacessível por si só por causa dos morros”, lamenta.

ASSÉDIO

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Mesmo com a organização ainda incipiente do canal, Kátia já se espanta com o assédio que vem recebendo, principalmente do público masculino. “É bem estranho. Tem gente do mundo inteiro me adicionando no Facebook e me chamando para conversar. Preciso deixar ele desligado enquanto converso com as pessoas, senão não consigo. Recebo propostas até de casamento todos os dias e de todas as partes do mundo”, revela às gargalhadas a itabirana. Para provar que não mente, mostra declarações de amor até em árabe em seu celular. Apesar disso, a moça garante que a fama não é o mais importante. “Com meus vídeos, quero ajudar pessoas como eu a superar as dificuldades, ajudar mulheres amputadas a manterem a autoestima e, quem sabe, até ganhar algum dinheiro para me ajudar a construir minha casa. São sonhos simples, mas que eu sei que vou conseguir alcançar. Sei que não será fácil, como nada em minha vida foi”, raciocina.

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VARRENDO ou lavando, entre muitas outras obrigações domésticas, Kátia se recusa a ser chamada de “coitadinha”

FAMÍLIA

Mulher de atitude, a família só se mudou para Itabira por iniciativa dela. “Comprei geladeira, fogão e uma cama e falei para meus pais, aos 21 anos, que iria me mudar sozinha para a cidade. Não queria ficar no campo por mais tempo. Precisava aprender mais e só poderia fazer isso aqui. Depois que eles viram que eu não mudaria de ideia, decidiram vir comigo”, relata. Ao final da entrevista, ainda sem perder o bom humor e já sentada na varanda de casa, Kátia Figueiredo compartilha o seu desejo de ser mãe. “Estou querendo uma nova casa também por isso. Ainda não tenho o pretendente certo, aquele que possa ser meu companheiro, meu marido e pai de meu filho. A prioridade ‘A’ é construir a casa. Depois disso, meu sonho de ser mãe é o mais importante”, confidencia. E alcançada a maternidade, então bastará? Ela ainda reflete: “Não exatamente. Também pretendo fazer voo livre e gravar algum vídeo em cima de uma motocicleta”.


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CONSULTÓRIO

DR. MÁRIO MÁRCIO DA PAZ mariom.paz@providabrasil.com.br

É possível prevenir! Quatro fatores são responsáveis por grande parte dos problemas que levam à infertilidade e ao abortamento 60

Existem problemas cuja dimensão é desconhecida ou subestimada. Assim é a infertilidade. Um em cada quatro casais sofre de algum distúrbio que o impede de engravidar e, naturalmente, somente tomam consciência deste fato com o passar dos anos de tentativas frustradas. Se considerarmos como inférteis os casais que abortam logo no início da gestação, este quadro se torna ainda mais dramático. É muito difícil descrever em palavras a frustração de não se conseguir realizar o sonho da maternidade ou a dor e o trauma gerado por um abortamento. Muitas pesquisas são feitas para desvendar o mecanismo da infertilidade e do aborto e no desenvolvimento de técnicas para sua prevenção e tratamento. Estes estudos mostram quatro fatores envolvidos na maior parte das causas de infertilidade: os transtornos hormonais da mulher, a idade, a obesidade e o hábito de fumar. Logo no início da adolescência já é possível deduzir se a mulher terá ou não alguma dificuldade para engravidar. A mulher fértil possui seus ciclos menstruais regulares, com uma duração média de 28 dias, geralmente indolores ou com um desconforto tolerável. Os hormônios femininos, quando produzidos de forma adequada, moldam o corpo da mulher, deixam a pele lisa e hidratada e distribuem os pelos corporais de forma característica. Jovens com ciclos menstruais irregulares, acnes, oleosidade cutânea, excesso de pelos ou cólicas menstruais severas são grandes candidatas a desenvolverem distúrbios hormonais, como a Síndrome dos Ovários Policísticos, e a Endometriose, doenças que comprometem de forma dramática a fertilidade feminina. A idade é um problema sério tanto para a mulher como para o homem. A mulher já nasce com sua quantidade J ulho /S e tem b ro 2016

A OBESIDADE pode ser evitada com atitudes positivas, dieta adequada e uma vida saudável

de óvulos determinada pela natureza, e consome este estoque com o passar dos anos. Aos 35 anos de idade, dois terços deste estoque já estará esgotado e os óvulos remanescentes são aqueles de pior qualidade, o que dificulta a gravidez ou facilita o abortamento. A fertilidade masculina também decresce com a idade. A qualidade dos espermatozoides piora de forma substancial após os quarenta anos. Nada é tão nocivo para óvulos e espermatozoides como os componentes do tabaco. As substâncias contidas no fumo interferem desde a produção e a qualidade dos óvulos e espermatozoides até a fertilização e a capacidade do embrião em se implantar no útero. Em outras palavras, o hábito de fumar interfere tanto na capacidade de engravidar quanto promove o abortamento. Os efeitos da obesidade na fertilidade conjugal são conhecidos há muito tempo. O excesso de gordura corporal interfere na concentração dos hormônios femininos e masculinos e compromete a ovulação, a produção de espermatozoides e a potência sexual masculina. Estes quatro fatores são responsáveis por grande parte dos problemas que levam à infertilidade e ao abortamento. Os transtornos hormonais são facilmente identificados na juventude e podem ser prontamente revertidos. O hábito de fumar e a obesidade podem ser evitados com atitudes positivas, dieta adequada e uma vida saudável. E aquelas mulheres que planejam engravidar em idades mais avançadas têm a opção de preservar sua fertilidade através da coleta e congelamento de seus óvulos quando ainda estão jovens e férteis. A fertilidade pode e deve ser preservada. Atitudes simples já na juventude são suficientes para se evitar tratamentos dispendiosos, frustrações e traumas futuros.


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HUMOR


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