Revista Atitude 10ª edição

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CARTA AO LEITOR

A poética do verso adverso

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DIRETOR E EDITOR-CHEFE Luiz Carlos Kadyll kadyll.revistaatitude@gmail.com (31)9239-6438/3824-4620

Se todos apenas se ocupassem, e não se pré-ocupassem, viver seria mais dadivoso e menos desgastante. Mas o ser humano, de forma animalesca, age e reage mais por instinto que por razão, muitas vezes, e nada lhe parece suficiente. A extravagância de bens e prazeres não é garantia de satisfação. Tanto que Adão e Eva pecaram no paraíso, onde já tinham tudo ao seu dispor, inclusive a eternidade.

REPORTAGENS Luiz Carlos Kadyll kadyll.revistaatitude@gmail.com Alexandre Paulino alexandre.revistaatitude@gmail.com Janete Araújo janete.revistaatitude@gmail.com

O desafio daquele tempo remoto, como dos dias atuais, parece o mesmo: viver um dia de cada vez, sem afligir o espírito com aquilo que há de acontecer na próxima semana, no próximo mês ou no próximo ano. Quem viver, já se disse, verá. Ou não, se tiver nascido cego, não crer em milagres e ninguém à sua volta se movimentar para acudi-lo.

FOTOGRAFIAS Paulo Sérgio de Oliveira

Bem, aí está algo que nos distingue. Que pode determinar nossos sucessos ou fracassos. Alguns se deprimem, recuam ou se detêm por pouco. São incapazes de entender que o simples caminhar, como subir a colina (e nesse caso, obviamente com mais dificuldade) se dá a partir de um passo. Outros não só caminham com serenidade, mesmo tateando no escuro, como também têm consciência de grupo, e são capazes de influenciar positivamente tudo ao seu redor. Assim é que nenhuma intempérie pode deter a Consul, em meio século de história, como nenhum tronco atravessado na estrada impediu a Cenibra de ser uma empresa extraordinariamente melhor, quatro décadas depois. Caminhando todos os dias, ora acelerando, ora desacelerando, mas sempre seguindo adiante, sem se render, é que a super atleta Adenízia venceu a semi-orfandade para tornar-se campeã olímpica. Estas e muitas outras atitudes louváveis você verá nesta edição. E, de nossa parte, também persistimos. Porque cremos que o papel de cada um é, no mínimo, deixar escrita uma boa história. Mesmo que não haja flores no jardim e nem tudo esteja mais tanto à nossa disposição quanto planejou originalmente o autor de toda a criação. Quem sabe se muitos obstáculos não estão postos exatamente para nos fazer alcançar um plano mais elevado? As maiores vitórias, não há dúvida, são obtidas diante dos maiores adversários.

PROJETO GRÁFICO Alisson Assis DIAGRAMAÇÃO Fábio Heringer ASSISTENTES DE ARTE Fernando Mageski fernando.revistaatitude@gmail.com Ellen Villefer de Carvalho Almeida ellen.revistaatitude@gmail.com DIRETORA COMERCIAL Edileide Ferreira de Carvalho Almeida edileide.revistaatitude@gmail.com (31)8732-8287 COLABORARAM nesta edição: Dr. Mário Márcio da Paz, Ed Carlos, José Vinícius, Eduardo Lacerda, assessorias de Comunicação da Consul e da Cenibra. Tiragem 3.000 exemplares

ENVIE SUGESTÕES A revista atitude conta com a sua participação para proporcionar sempre um alto nível de informação aos seus leitores. Envie suas sugestões de reportagens para o e-mail sugestao.revistaatitude@gmail. com. Elas serão avaliadas por nossa equipe com toda atenção.

Luiz Carlos Kadyll EDITOR-CHEFE

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DIA A DIA

Os gastões Na hora do banho, principalmente se está fazendo aquele friozinho, nada melhor que ficar demoradamente debaixo do chuveiro, esquecer do tempo. Tem gente que até resolve virar cantor e se imagina diante de uma grande platéia, atendendo a sucessivos pedidos de bis. Mas é bom se ligar: um chuveiro elétrico é responsável por nada menos que 25% do que o consumidor paga de conta de luz mensal, enquanto uma geladeira representa até 30% desse gasto em uma residência.

Dinheiro de plástico Adultos com média de trinta anos e renda mensal média de R$ 1.428,78 impulsionaram o aumento da demanda por cartões de crédito no Brasil em 2013. O grupo, que representava 12% do total de consumidores brasileiros de cartões de créditos no ano passado,

agora equivale a 16% – um salto da quarta para a segunda posição no ranking. A primeira posição – com 26% do total – continua sendo ocupada por adultos entre 20 e 30 anos, com baixa renda e empregos que exijam pouca qualificação ou mesmo informais.

Bem família A multitalentos Isabella Fiorentino, que comanda com Arlindo Grund o programa Esquadrão da Moda no SBT, conta que começou sua trajetória com 13 anos e se arrepende de não ter seguido carreira internacional. “Sempre fui muito família. De repente, a ideia de ir para fora e ficar longe de tudo isso foi muito difícil para mim”. O maior desafio da sua vida foi lidar com a anorexia no auge da carreira, na década de 1990. “Eu não me via gorda, mas queria estar cada vez mais magra porque o mercado pedia quadril 90 e eu era 92. Tive de me tratar com remédios, psiquiatra, psicóloga e nutricionista”, revela a mãe dos trigêmeos Bernardo, Lorenzo e Nicholas. Sua rotina resume-se a gravar o programa três vezes por semana, ir para casa e ficar com as crianças. À noite, ela gosta de se preparar para receber o marido e não admite estar desanimada para o companheiro ou com o cabelo desgrenhado. Em relação à alimentação, segue o exemplo de saúde que aprendeu com a mãe, desde a infância: só compra alimentos orgânicos.

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SUMÁRIO

10 GIGANTE NAS QUADRAS Adenízia, a menina franzina que saiu de Valadares para brilhar na Seleção Brasileira.

14 PATRIMÔNIO DA CENIBRA Pinheirinho, o funcionário com nome de árvore que está “plantado” – e gera muitos frutos – há 38 anos na mesma empresa.

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32 MEIO SÉCULO DE HISTÓRIA A vitoriosa trajetória da Consul e as origens de Matusalém Dias Sampaio, o hábil executivo que há 22 anos dirige a maior cooperativa de consumo de Minas Gerais.

42 BENDITOS QUADRIGÊMEOS Como vivem os meninos e meninas que há nove anos foram os pivôs da criação de uma nova lei em Coronel Fabriciano.

50 SALADA DE CULTURAS Waltemir e Ana Chelu: o mecânico da região que se casou com uma romena e foi trabalhar como missionário na Índia.

58 AS LEIS DO TRIUNFO Quais são as atitudes básicas e indispensáveis ditadas por alguns dos homens mais prósperos do planeta.

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DE VALADARES PARA O MUNDO

O furacão Adê 10

Dentro da quadra, a ex-menina carente que mal podia compreender a perda da mãe, com menos de dois anos de idade, conquistou tudo. Mas ela sonha mais alto: quer ganhar outra olimpíada e sentir a emoção de embalar nos braços o seu próprio filho. Outubro/Novembro 2013


FORA DAS QUADRAS, Adenízia é modelo fotográfica, tendo assinado com a agência paulistana L’Equipe em 2012

Em 18 de dezembro deste ano, quando completar 27 anos, do alto de seus 1,87m de um corpo atlético que, com incrível impulsão, pode fazê-la ‘voar’ perto da barreira dos 3m com os braços estendidos, uma moça que hoje é conhecida em todo o mundo poderá olhar para o céu e agradecer. Sem dúvida, ela tinha tudo para supor que jamais pudesse chegar tão longe, e em tão pouco tempo de vida. Com esta mesma idade, boa parte das pessoas, mesmo tendo o privilégio de cursar uma universidade e vindas de famílias estruturadas, estão apenas ensaiando os primeiros passos em suas carreiras profissionais. Acontece que Adenízia Ferreira da Silva saltou para a vida com um ímpeto de triunfar bem mais incomum que o sobrenome. E, ainda uma menina, aprendeu a usar os ventos contrários para decolar e transpor os obstáculos. Assim é que é hoje uma das maiores estrelas do voleibol internacional. Adenízia chegou à cidade de Governador Valadares, de onde desabrochou para meteórica ascensão no esporte, com apenas dois anos - quando os últimos dentes-de-leite ainda estão para irromper pela gengiva e as crianças, febris, começam a experimentar um sofisticado desenvolvimento cognitivo que lhes faz transitar pelo fértil terreno da imaginação. Nessa fase, monstros, dragões e fantasmas costumam aparecer como produto do medo do escuro, e elas inventam histórias. Mas havia, de fato, uma realidade dolorosa em questão, povoando o subconsciente daquela menina de compleição frágil, mesmo que ela não se desse conta do que aquilo significava. “Sei que minha mãe teve um aneurisma e morreu quando eu tinha um ano e oito meses. Ela brigava muito com meu pai, que saiu de casa”, revelou a atleta, num depoimento recente. Este passado que, enfim, foi praticamente apagado de sua memória, aconteceu na pequena cidade de Ibiaí, no norte de Minas, às margens do rio São Francisco. As últimas recordações do lugar são as do enterro da mãe biológica. Desde então, ela nunca mais teve contato com o pai e, amparada e muito bem acolhida por uma nova família, começou a olhar para frente com vigor e determinação – ainda que o físico franzino, inicialmente, pouco lhe sugerisse propriedades para vencer.

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UMA DAS mais eficientes bloqueadoras do mundo, Adenízia foi eleita também, no ano passado, a melhor atacante do Sul-Americano de Clubes

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NO OSASCO, Adenízia passou por um minucioso trabalho de assistência psicológica e nutricional, que contribuiu para que ganhasse mais confiança

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Adenízia passou a ser parte integrante de uma família valadarense de classe média, no bairro Grã-Duquesa. Foi adotada por Agostinha Ferreira de Souza, professora do Estado, uma amiga de sua mãe que se compadeceu da orfandade. Viria a se tornar a caçulinha entre sete irmãos (quatro homens e três mulheres), sendo a mais velha Alba Valéria, então com 21 anos e hoje com 45. Acima dela, havia na ocasião Fabiana, com sete anos de idade, hoje com 31. Entre os rapazes, uma escadinha: Geraldo Magela, 15 anos (hoje com 39 e morando nos Estados Unidos); Fábio, 16; Cláudio, 17, e Flávio, 18. Curiosamente, vários deles acabaram prestando concurso e seguindo carreira no funcionalismo público. Flávio, hoje com 42 anos, é servidor do INSS, e Fábio, com 40, tornou-se procurador da Receita Federal. Fabiana entrou para o IBGE e Cláudio atua na Controladoria Geral da prefeitura de Governador Valadares. Com apenas dez anos de idade, tempo em que estudava na escola estadual Labor Clube, nas imediações do tiro de guerra da cidade, a altura e o jeito especial de Adenízia tocar na bola chamaram a atenção de um treinador de voleibol no clube Filadélfia, que convidou-a para um teste. E, aos 11, ela já caminhava para virar celebridade, sendo levada para defender uma equipe de Domingos Martins-ES na disputa dos Jogos Regionais Capixabas. Destaque local, dali ela alçou vôo para o BCN/Colégio Bom Jesus, em Joinville, Santa Catarina, e com apenas 13 anos já estava no poderoso Osasco-SP. Sempre crescendo em técnica e porte atlético, chegar à Seleção Brasileira principal com Zé Roberto e companhia foi uma conseqüência natural. Curioso é que, ainda com 18 anos, já participando da seleção brasileira juvenil, houve um momento em que Adenízia se sentiu “pequena” demais em meio a tantas estrelas de primeira grandeza e decidiu fazer as malas para voltar para casa. Considerou firmemente deixar o voleibol. Mas, aí, o técnico Luizomar de Moura impediu-a de recuar, fazendo-a ver que em nenhum outro lugar ela teria uma estrutura tão favorável para continuar evoluindo. Adenízia desde então chegou a nove finais consecutivas da Superliga, com títulos em 2005, 2010 e 2012. No mesmo ano em que pretendia parar, 2005, voltou da Turquia como campeã mundial juvenil, título que conquistou também no ano passado jogando pelo time adulto do Osasco.


À ESQUERDA, a euforia por mais um ponto conquistado em favor da seleção, ao lado de Fernanda Garay ABAIXO, junto aos pais adotivos, a professora Agostinha e o marido Odetino

Fã de carteirinha, o irmão Cláudio conta que a família prefere ver os jogos pela TV porque Adenízia até brincou que eles são ‘pé frios’. Em duas vezes que alguns foram assistir de perto, o Osasco perdeu o título nacional para o Rio de Janeiro, de Bernardinho. Mas, gozações à parte, ele descreve a atleta como “uma mulher extremamente positivista, cheia de gana, com uma autoestima que é capaz de colocar todo mundo em volta pra cima”. Para ele, este sucesso também é conseqüência de uma educação rígida que ela recebeu, “sem qualquer diferença em relação aos outros, aprendendo, como cada um dos irmãos, a perseguir os sonhos e valorizar as oportunidades”. Ao menos duas vezes no ano, com discrição para manter certa privacidade e repousar, em meio a um calendário que engloba treinamento pesado e viagens também ao exterior, Adenízia vem rever a família. Geralmente passa o Natal e o Ano Novo com os pais. Dona Agostinha tem 76 anos e seu marido, Odetino Rodrigues Silva, 72. Em casa, ela é a ‘Adê’ e, também, o mesmo xodó dos amantes do esporte, consagrada como uma das mais eficientes meios-de-rede e bloqueadoras do voleibol mundial. Ninguém menos que a campeã olímpica de 2012 contra os Estados Unidos, em Londres, ao lado de feras como Fabi, Thaísa, Sheilla e Fê Garay. Já basta? Onde mais ela quer chegar? Adenízia sonha ainda em conquistar outro título olímpico no Rio, em 2016. E, algo bem compreensível e natural: “Quero ser mãe, curtir minha família, marido, crianças... Quero pôr meu filho ou minha filha ao colo e fazer carinho, brincar, conversar, contar histórias...” Que, afinal, ela tem de sobra.

DESTAQUES INDIVIDUAIS CONQUISTADOS Mundial Sub-18 de 2003: Melhor bloqueadora Copa Pan-Americana de 2005: Melhor bloqueadora Copa Brasil de 2007: Melhor bloqueadora Copa Brasil de 2008: Melhor bloqueadora Copa Final Four de 2009: Melhor bloqueadora Mundial de Clubes de 2011: Melhor bloqueadora Superliga 2011/2012: Melhor bloqueadora Sul-Americano de Clubes de 2012: Melhor atacante

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CARREIRA PROFISSIONAL

De office-boy a analista financeiro 14

Funcionário mais antigo em atividade na Cenibra, com 38 anos de serviços, veio de Belo Horizonte, e chega aos 40 anos da indústria de celulose com uma edificante história de disciplina, dedicação e fidelidade para contar

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Para a grande maioria dos homens, completar 35 anos de trabalho e finalmente se aposentar é quase um sonho. Muitos passam a vida toda só vislumbrando o dia em que poderão ficar em casa de pijama, chinelão no pé, uma boa soneca depois do almoço, TV ligada na Sessão da Tarde, entre outras coisas do tipo. Mas há aquelas pessoas que são tão apaixonadas pelo que fazem, têm uma afinidade tão grande com o ofício, que fazê-las perder o contato com ele é quase como lhes retirar o chão, sonegar-lhes o sagrado direito ao oxigênio. Em Coronel Fabriciano, a revista ATITUDE esteve com um personagem que contradiz todo este estereótipo do trabalhador enfadado e desgastado pelo tempo, cuja meta é apenas pendurar as chuteiras, mesmo ainda com gás e talento para ajudar seu time a continuar vencendo. Um verdadeiro boa praça, como se diz, não por acaso Carlos Eustáquio Pinheiro, 56 anos, é carinhosamente chamado por todos - inclusive dentro da própria casa de “Pinheirinho”. As virtudes da simpatia e da presteza afloram com naturalidade e são traduzidas num turbilhão de sorrisos logo no primeiro contato. Então, é fácil entender porque a empresa faz tanta questão de sua presença, a ponto dele permanecer engajado em seus quadros durante mais de dois terços de sua vida. “Pinheirinho” nasceu em Belo Horizonte, no dia 16 de julho de 1957. É o segundo de uma família de seis filhos, tendo sido criado no bairro Aparecida, na capital. Seu pai era de Guanhães, no Vale do Rio Doce, e trabalhou muitos anos em minas como a de Morro Velho, em Nova Lima. Com a saúde debilitada pelo serviço insalubre, o ‘seu’ Pinheiro, pai de Pinheirinho, foi buscar outra opção de


PINHEIRINHO COM A esposa Carmelita e os filhos Max e Mayara, no apartamento do bairro Santa Helena, em Fabriciano: inĂşmeras placas de reconhecimento

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CARREIRA PROFISSIONAL subsistência, e assim conseguiu trabalho como ascensorista do histórico Edifício Dantês, no centro de BH. Por meio deste acontecimento é que terá início a longa e produtiva trajetória do industriário na fábrica de celulose implantada com a união de brasileiros e japoneses em Belo Oriente. Neste mesmo prédio, em vários andares, funcionava o escritório da Compa-

nhia Vale do Rio Doce, sendo ela detentora de 51% das ações da Cenibra – Celulose Nipo-Brasileira, criada em 1973, e o restante, 49%, da JBP (consórcio das empresas japonesas de papel, junto com o capital do governo do Japão/banco nacional do país). Atento às oportunidades no subir e descer dos elevadores, o ‘seu’ Pinheiro ficou sabendo que havia uma vaga de

contínuo disponível na área financeira da nova empresa, tratando de, humildemente, reivindicá-la para o seu garoto. Deu certo. Em maio de 1975, Pinheirinho já estava atuando no seu primeiro emprego, aquele que, embora ainda não soubesse, iria ser seu companheiro pelas quatro décadas seguintes, ajudando-o a estabilizar-se e constituir família.

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O FUNCIONÁRIO pioneiro com o ex-presidente da Cenibra, Luiz Otávio Ziza Valadares, na Associação Atlética, em 13 de setembro de 1995, recebendo prêmio pelos 20 anos de trabalho

PERSEVERANÇA Pinheirinho ou Carlos Eustáquio Pinheiro enfatiza com orgulho o fato de, em 38 anos de trabalho, jamais ter tirado mais do que 20 dias corridos de férias – o que para ele demonstra o quanto se sente à vontade integrado à rotina da empresa, onde paralelamente também desfrutou de agradáveis momentos sociais e fez alguns de seus melhores amigos. Ele é hoje o funcionário da fábrica de celulose com maior tempo de serviço, e isso graças a algumas virtudes reconhecidas por muitos daqueles

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com os quais se relaciona, como disciplina, dedicação, fidelidade, honestidade, disposição, empenho e perseverança. Querem um dado mais relevante? Ele nunca se atrasou ou perdeu o ônibus da empresa que leva os trabalhadores para a fábrica por volta das 7h da manhã – conta, com a segura confirmação da esposa. Nem quando precisou se deslocar de ônibus da capital ao Vale do Aço em tempo de chuva, para começar a semana e, no meio da madrugada, teve que descer do carro no acostamento da BR-381 com mala

e outros apetrechos, porque havia inundação da área diante da antiga rodoviária de Coronel Fabriciano, na baixada de Melo Viana. Pinheirinho também exibe com indisfarçável devoção uma calculadora HP 12C, sua companheira inseparável de ofício há 25 anos e, ainda hoje, na ativa como ele. Por falar nela, o funcionário hoje é atualmente analista financeiro do Departamento de Controladoria e Finanças da Cenibra, posição que galgou após ter ocupado sucessivamente os cargos de Ajudante Contábil, Técnico Financeiro I, II e III.


UMA ANTIGA identidade profissional, com a data de admissão em maio de 1975: documento cuidadosamente guardado como um troféu

Apesar do sonho juvenil de cursar Economia na UFMG, o funcionário mais antigo em atividade na Cenibra se formou em Ciências Contábeis e Administração no Instituto Católico de Minas Gerais (ICMG), hoje Unileste-MG. “O que move a gente que vem de origem pobre é querer sempre dar alguma coisa melhor para a família. Pensava em que área poderia ajudar mais meus pais e, então, na minha mente sempre vinha a visão da Administração e da Economia. É dentro desta área que me especializei e me desenvolvi, graças a Deus, podendo alcançar uma condição de certo prestígio. No Vale do Aço tive a ótima oportunidade de estudar Administração e Contabilidade no ICMG”, realiza-se. AMBIENTE PROFISSIONAL Sobre a rotina de trabalhar há 38 anos na mesma empresa, Carlos Eustáquio não tem dúvida em apontar o bom ambiente interno da Cenibra como fator preponderante para ter disposição de continuar vestindo a camisa, ou melhor, o uniforme da fábrica de celulose. “O que facilita para a gente é o

bom ambiente interno. Ali, todos se ajudam. A Cenibra é uma família. Quando tenho qualquer dificuldade, posso contar com os colegas”, testemunha. Há 13 anos passados, Pinheirinho teve a oportunidade de aderir ao Plano de Demissão Voluntária (PDV) oferecido na época em que a Vale passou o controle acionário da Cenibra para os japoneses. “Mas os meus chefes me incentivaram a permanecer porque, generosos, diziam me considerar um funcionário bom e responsável. Afirmaram que contavam comigo na empresa. Guardo isso como exemplo para os meus filhos e creio que eles também saberão valorizar o seu ganha-pão e serem igualmente reconhecidos”, avalia, emocionado. Pinheirinho sempre trabalhou com contas a pagar, administrando os contratos de prestação de serviços à empresa. Segundo ele, um caso que ficou marcado e que até hoje os colegas estão sempre lembrando diz respeito a um fornecedor que, certa vez, ligou um tanto irritado pela demora no pagamento dos seus serviços. “Atendi

ao telefone e o fornecedor estava nervoso porque o pagamento ainda não tinha saído. Estava tentando explicar o motivo – aliás, bem razoável – quando ele me perguntou: ‘Qual é a sua graça?!’ Eu não sabia que graça era o mesmo que o meu nome, e respondi com voz grave, aquele tom solene e cerimonioso: ‘Aqui não tem graça nenhuma, meu senhor! Nós todos aqui somos muito sérios!’. Esse caso é motivo de gozação até hoje”, revela com bom humor. Como é tradição na Cenibra, quando completou 30 anos de casa Pinheirinho ganhou como prêmio uma viagem para a Europa. O mais interessante é que ele preferiu escolher como destino o Brasil, abdicando da oportunidade de conhecer o Velho Continente por acreditar que aqui há muitas belezas a serem desfrutadas e valorizadas. A opção escolhida foi embarcar para Maceió com toda a família. “Foi uma grande viagem. E hoje a maioria dos funcionários da empresa também está escolhendo o Brasil para viajar quando ganha o prêmio”, revela.

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CARREIRA PROFISSIONAL

“Um cara de muita sorte”

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Definindo-se como pessoa, Pinheirinho se considera “um cara de muita sorte, feliz e realizado”. Ele mora hoje em um apartamento no bairro Santa Helena com a mulher Carmelita Rodrigues Costa Pinheiro, com quem trocou alianças em 1989, e os filhos Max Jório Rodrigues Pinheiro, 22, e Mayara Lívia Rodrigues Pinheiro, 20. Os dois estudam no Unileste-MG, sendo que Max cursa Engenharia Civil e Mayara, Administração. Sobre aquela história de pendurar as chuteiras, Pinheirinho acredita que ainda não chegou a hora e pode permanecer em campo por mais algum tempo, já que continua escalado como titular absoluto na sua posição. “Poderia me aposentar, mas ainda quero e preciso trabalhar. Estou com 56 anos e pela lei posso ficar na ativa até os 65 (Aposentadoria por idade. Têm direito ao benefício os trabalhadores urbanos do sexo masculino a partir dos 65 anos e do sexo feminino a partir dos 60 anos de idade). Quero esperar pelo menos meus filhos terminarem a faculdade e se firmarem na profissão”, projeta. Como receita de saúde, ele recomenda a velha e boa caminhada. É o que faz para se manter

sempre bem disposto, durante pelo menos 40 minutos diários, ao lado da esposa Carmelita, a parceira de todas as horas. Dormir? Com apenas quatro ou cinco horas de sono por noite já está satisfeito. Jantar? Nem pensar. Somente um lanche leve antes de ir para a cama, “porque uma boa digestão também conspira em favor de bons sonhos”. Perguntado sobre o que poderia dizer para os jovens que estão começando e gostariam de fazer carreira numa mesma empresa até se aposentarem, Pinheirinho recomenda: “Garra e dedicação, esses são ingredientes indispensáveis a toda e qualquer pessoa que deseja vencer, de algum modo, na vida. E tem outra coisa, infelizmente muitos da nova geração não se dão conta da importância da fidelidade ao emprego. É necessário ter compromisso. Não apenas com a empresa, mas principalmente e também consigo mesmo, porque se você faz o seu melhor você pode repousar tranqüilo no travesseiro, viver cada dia de uma vez com a segurança do dever cumprido. Mais do que dinheiro, ótimo tesouro é você ter crédito com as pessoas”, conclui.

CALCULADORA HP 12C, sua companheira de ofício há 25 anos e, como ele, ainda na ativa

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PELA PESQUISA, além de lavar a louça os homens deveriam ficar responsáveis por colocar, tirar e limpar a mesa

Amor, vamos ao restaurante? Pesquisa mostra que os homens estão sendo mais cobrados na cozinha. Mas não para cozinhar, para lavar os pratos. E nada menos que 12% dos entrevistados fazem todas as suas refeições fora de casa.

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Quem lava a louça e quem cozinha são decisões cruciais quando decidimos dividir o espaço com alguém. E quando o assunto é morar junto depois de juntar as escovas de dentes – numa época em que as secretárias domésticas estão cada vez mais escassas, seja por falta de profissionais ou dinheiro para bancá-las –, esta discussão pode ir até mais longe. Uma pesquisa feita pelo organismo Just Eat, representado no Brasil por um site de restaurantes, descobriu que uma das principais razões por trás dos divórcios, inclusive em nosso país, é a eterna discussão sobre os papéis do casal nas tarefas domésticas. Assim é que, cada vez mais, as famílias estão comendo em restaurantes, às vezes tanto no almoço quanto no jantar. Uma pesquisa realizada com noivas e casais recém-casados em diversas cidades brasileiras mostra que tarefas do dia-a-dia como lavar a louça suja e não saber cozinhar podem afetar o relacionamento – para 49% dos entrevistados, a tarefa que mais prejudica o casal é cuidar da louça, enquanto 29% afirmam que não saber pilotar o fogão, seja para ele ou para ela, é determinante. Os dados mostram que, apesar de 57% dos entrevistados afirmarem que ninguém precisa saber cozinhar para casar, 78% ainda acreditam que cozinhar e preparar as refeições são tarefas que deveriam ser atribuídas às mulheres. Além disso, fica a cargo das damas da casa pensar no cardápio da semana (85%) e fazer as compras (71%). O curioso é que mais de 90% dos respondentes são mulheres. Sobre o trabalho “sujo”, para 82% tirar o lixo é uma tarefa essencialmente masculina. Eles também deveriam ficar responsáveis por colocar a mesa (54%), lavar a louça (70%), tirar e limpar a mesa (53%). Para tirar aquele dia de folga das tarefas domésticas, 92% dos entrevistados considerariam a definição de uma “comida fora de casa”. Assim, pelo menos uma vez na semana podem deixar as discussões e as tarefas domésticas de lado, e se dedicarem a atividades que gostam de fazer juntos e a curtirem uma refeição sem stress.

JORNADA AMPLIADA A pesquisa ainda apontou uma curiosidade: nada menos que 12% dos entrevistados fazem não apenas uma, mas todas as refeições fora de casa. Um sintoma evidente desta tendência é verificado num tradicional restaurante ipatinguense. Renato Ferreira e Angélica, casal com larga experiência no ramo e que trabalha unido no movimentado dia a dia do ‘Sabor e Aroma’, no Centro, contam que, se antes abriam de segunda a sábado apenas para o almoço, agora estão se desdobrando para oferecer também o jantar, tal é a receptividade da comida que oferecem. “Num tempo em que muitos falam de crise, temos é que agradecer. Claro que somos muito mais exigidos, a jornada é dura e estafante, mas não fugimos da raia, até porque já estamos bem acostumados ao trabalho”, diz Renato, que para encarar o batente mais disposto também está sempre praticando algum esporte, em terra ou na água. Angélica, por sua vez, além de dividir com Renato não só as obrigações do atendimento ao público mas ainda o abastecimento e administração da cozinha, também não se intimida: “Atuamos por bom tempo no ramo, nos Estados Unidos, e o exigente padrão norte-americano foi uma ótima escola para nós. Na verdade, o que este aumento de demanda tem feito é só nos dar motivação, e vamos diversificar ainda mais o atendimento. Além do grande público que recebemos aqui, já fornecemos refeições nas empresas e uma de nossas próximas apostas é estabelecer um cardápio light para um nicho de clientes que tem se ampliado muito na atualidade”, revela.

RENATO E ANGÉLICA, experts em refeições e dirigentes do restaurante Sabor e Aroma: eles ampliaram o expediente para atender a forte demanda

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CAMA PRA QUE TE QUERO

SEGUNDO ESTUDO, pessoas que costumam “compensar o sono” dormindo mais aos finais de semana podem sofrer alterações hormonais e metabólicas

“Jet lag social” O ato de dormir mais no final de semana para colocar o sono em dia pode parecer revigorante, mas desajusta o relógio biológico e aumenta os riscos de desenvolver problemas como diabetes, obesidade e fadiga crônica 22

Quem leva uma vida agitada quase sempre aguarda ansiosamente o final de semana para poder “colocar o sono em dia”, dormindo várias horas a mais do que durante a semana. Mas, essa não é a melhor atitude a ser tomada, segundo um estudo publicado na Science Translational Medicine e apresentado no Endo 2013 – Encontro e Exposição Anual da Sociedade Americana de Endocrinologia. Os pesquisadores concluíram que essa prática pode desalinhar o relógio biológico, trazendo consequências negativas para o organismo. O fenômeno é chamado de ‘jet lag social’, em uma referência às alterações no ritmo do sono e da disposição de pessoas que viajam muito tempo de avião e sentem cansaço e sonolência diurna até que se adaptem ao novo fuso horário. A endocrinologista Andressa Heimbecher, que esteve no Congresso e assistiu a uma palestra sobre o tema, explica: “Este é o estudo de mais impacto sobre alterações hormonais e metabólicas relacionados ao sono já feito com humanos. E sua grande descoberta é esse desalinhamento do relógio biológico, que pode gerar problemas na saúde”. A endocrinologista afirma que o desajuste acontece porque, para que haja liberação adequada dos hormônios noturnos, é preciso um número regular de horas de sono. A médica, que é especialista em Endocrinologia e Metabologia, afirma que pessoas que trabalham em turnos ou horários diferentes a cada dia ou que não têm um padrão de sono definido correm o risco de desenvolver fadiga crônica, queixas intestinais e ter aumentado o risco de obesidade e diabetes. Adolescentes e estudantes, que costumam “esticar” o tempo de sono no fim de se-

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mana, também são prejudicados. “Quando uma pessoa apresenta este padrão desorganizado de sono, ocorre um ‘desalinhamento’ no relógio biológico e o corpo passa a perder o ritmo. O sono passa a ocorrer em horas em que deveríamos estar alertas (no trânsito, por exemplo), a fome em horários diversos e sem relação com o fato de estar alimentado ou não”, diz. Um dos problemas gerados pelo jet lag social é a falta de resposta à insulina, que aumenta os níveis de açúcar no sangue. Há uma redução do hormônio leptina (que gera saciedade) e, ao mesmo tempo, um aumento do hormônio ghrelina (que gera fome). “Foi observado também que quando o relógio biológico está desalinhado, aumenta o hábito de beliscar entre as refeições”, alerta. O nível de cortisol – hormônio relacionado ao estresse – também aumenta nessa situação, o que gera um crescimento dos níveis de glicose no sangue. Para diminuir os efeitos do jet lag – seja ele decorrente de viagens ou social – é preciso melhorar a qualidade do sono. Para isso, a endocrinologista indica ficar exposto à luz solar durante o dia. Duas horas antes de dormir, deve-se evitar fazer refeições muito pesadas e ingerir alimentos estimulantes, que contenham cafeína. Praticar exercícios físicos próximos à hora de dormir também é desaconselhável – eles podem ser feitos à noite, mas com pelo menos duas horas antes do horário de deitar-se. E, na hora do sono, o melhor é escolher um ambiente de temperatura agradável, completamente escuro e sem barulho. “O ideal é tentar dormir uma média de 8 horas por noite até o corpo se habituar ao novo fuso”, aconselha a especialista.


Fachada da Estação de Metrô Butantã – SP

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orgulho

APERAM SOUTH AMERICA. HÁ 69 ANOS, DE PARABÉNS. A Aperam está completando 69 anos de história. Uma trajetória que foi marcada

• Pelo 4º ano consecutivo, a Aperam está entre as 150 Melhores Empresas para Você Trabalhar, do Guia Você S/A – Exame.

por muitas conquistas e motivos de orgulho.

• Fornecedora oficial do Projeto Expedição Oriente da Família Schurmann.

Nossos produtos estão presentes no dia

• Utiliza o carvão vegetal – um recurso renovável – como redutor no processo siderúrgico. Com isso, cerca de 700 mil toneladas de CO2 deixaram de ser lançadas na atmosfera.

a dia das pessoas, trazendo praticidade e m o d e r n i d a d e , a l é m d e u m grande reconhecimento para a nossa empresa.

• Presente nas grandes usinas de geração de energia e nas modernas arenas, que acolhem a maior paixão brasileira: o futebol.

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PSICOLOGIA

Crise no relacionamento? Adiar providências só vai fazer a situação se agravar. Saiba como sair dela. 24

Margareth Signorelli*

Muitos dizem que a primeira crise acontece aos 7 anos de relacionamento, mas o que teria desenvolvido essa situação? Pequenas coisas de que você abriu mão no passado sem ter pensado, e com o tempo percebeu que lhe custaram muito. Aquela pós-graduação que queria ter feito e não fez para que ele pudesse fazer a dele e hoje você não acredita que tenha recebido o devido valor pela sua grande generosidade. São sapos e mais sapos “engolidos” que, com o passar do tempo, não passam mais pela sua garganta. Enfim, situações mal resolvidas, às vezes impensadas, às vezes desprezadas. Mas de quem é a culpa? Se existe culpa eu não sei, mas prefiro chamar de responsabilidade. Então qual seria a melhor forma de sair da crise? 1 - Em primeiro lugar, os dois têm que identificar que existe uma crise e querer resolvê-la. 2 - Fazer uma lista das pequenas, grandes e enormes coisas que lhe incomodam. 3 - Marcar momentos para conversar e discutir cada uma das questões. Lógico que em vários dias diferentes. Vamos com calma e sem atropelos. 4 - Quando estiverem resolvendo as questões, vocês dois têm que ter em mente uma “win-win”, onde os dois ganham. Essa situação consiste em saberem que existe um objetivo comum entre vocês que é melhorar o relacionamento. Se vocês pensarem assim, ninguém estará preocupado em ganhar ou perder, mas quem sempre ganhará será o relacionamento.

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ATITUDES DE PREVENÇÃO Mas antes que uma crise apareça há formas de evitá-la. Veja algumas dicas: 1 • Quando abrir mão de algo que seja importante para você, não o faça simplesmente sem pensar, porque isso refletirá no futuro como uma bola de neve. Faça um acordo em que você não se sinta lesado e tenha certeza de que foi a atitude certa a ser tomada naquele determinado momento e que você será compensado no futuro por isso. 2 • Comunique suas tristezas e frustrações. FALE! Não tenha medo de expor seus sentimentos com respeito, pois se não o fizer estará desrespeitando a si próprio. 3 • O que destrói um relacionamento não são os grandes problemas, porque esses têm que ser resolvidos pela sua grandeza. Os maiores vilões são as mágoas e pequenos detalhes deixados para trás por preguiça, medo ou omissão. 4 • Situações difíceis sempre irão acontecer, mas não está escrito em lugar nenhum que você tenha que sofrer por elas e se calar. Enfrente-as e elas se tornarão muito menores do que se você fingir que não existem. Cuidem do seu relacionamento todos os dias e provavelmente quando a tão temida crise tiver que acontecer, vocês olharão para trás e perceberão que ela já passou. Veio e se foi como um vento e não como um furacão, arrancando pedaços do seu amor e deixando ressentimentos. Aí sim poderão dizer: Crise? Que Crise? *MARGARETH SIGNORELLI - Especializada em relacionamentos.



BEM-ESTAR

DAR BOAS risadas pode até aumentar os níveis do colesterol bom (HDL) no sangue

Rir é o melhor remédio Já ouviu isso antes? Pois é verdade. Especialistas garantem que o riso fortalece o sistema imunológico, combate o estresse e elimina rugas

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Na correria do dia a dia, é muito comum nos estressarmos com os contratempos que aparecem ou ficarmos extremamente cansados no fim do dia, sem vontade de fazer nada. Embora pareça não ter remédio, esses males podem ter uma solução muito simples: sorrir! É de graça e você não precisa de nada além de sua disposição para isso. Confira, segundo os especialistas consultados por ATITUDE, os principais benefícios que uma boa gargalhada pode trazer para o organismo: PULMÕES Quando damos uma boa gargalhada, a absorção de oxigênio pelos pulmões aumenta. Inalamos mais ar e, com isso, a expiração também fica mais forte. Com maior ventilação pulmonar, o excesso de dióxido de carbono e vapores residuais é rapidamente eliminado, o que promove uma limpeza e desintoxicação. Ou seja, rir limpa os pulmões e ainda os deixa mais fortes! DIGESTÃO Os músculos que são mais estimulados quando rimos são os abdominais. Esses movimentos fazem uma espécie de massagem no sistema gastrointestinal, melhorando a digestão. Essa massagem também revigora todo o trabalho hepático. CIRCULAÇÃO DO SANGUE O ritmo cardíaco acelera quando começamos a rir. Os batimentos podem atingir até 120 pulsações por minuto, em comparação com as 70 pulsações por minuto quando estamos em repouso. Quando a pulsação aumenta, o sangue circula mais intensamente no organismo, o que aumenta a oxigenação de todas as células,

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tecidos e órgãos. Isso faz com que o organismo funcione a todo vapor! CORAÇÃO E COLESTEROL Dar boas risadas pode aumentar os níveis do colesterol bom (HDL) no sangue e também ajudar a reduzir o risco de doenças cardíacas. ESTRESSE E SISTEMA IMUNOLÓGICO Durante uma sessão de gargalhadas, os níveis de cortisol e adrenalina - hormônios do estresse - baixam. Além disso, nosso cérebro passa a produzir endorfina, hormônio que nos deixa relaxado. Isso faz com que o corpo consiga produzir mais células de defesa, que ficam mais ativas, fortalecendo o sistema imunológico e blindando o organismo contra doenças. COMBATE ÀS RUGAS Ao dar risadas, nós movimentamos 12 músculos faciais e, ao dar gargalhadas, movimentamos 24 desses músculos. Quando conversamos e gargalhamos ao mesmo tempo, 84 músculos são articulados. Todo esse exercício facial estica a pele e retarda o aparecimento de rugas. AUTOESTIMA O sorriso melhora o bom humor, eleva a autoestima e te deixa mais seguro. A Terapia do Riso nos hospitais é capaz de levantar o alto astral do paciente e diminuir o sofrimento da internação, deixando-o mais confiante. O sorriso traz uma série de sensações agradáveis e ajuda a eliminar sensações negativas, como tristeza e, até mesmo, depressão. Outras informações sobre o assunto podem ser obtidas no portal Minha Vida (www.minhavida.com.br).


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TURISMO

Ranking das cidades brasileiras mais visitadas

PONTE sobre o rio Paraná entre as cidades de Foz do Iguaçu (Brasil) e Ciudad de Leste (Paraguai)

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AS MAJESTOSAS Cataratas do Iguaçu: espetáculo natural de tirar o fôlego

Pelos ares

Na paradisíaca Foz do Iguaçu, quanto mais longe você arremessar o celular e o notebook pode render prêmios Foz do Iguaçu, o segundo pólo mais visitado por turistas estrangeiros no País, que sediou em 2013 uma etapa dos X Games (experiência que deverá se repetir nos próximos dois anos como comprovação de sua vocação para a prática dos esportes radicais), parece estar insatisfeito com a vice-liderança. Competições inusitadas cada vez mais fazem parte de seu já extraordinário cardápio de atrações, somando-se ao esplendor da sua natureza. A moda agora é fazer voar notebooks e celulares o mais longe possível. E não é porque as operadoras prestam serviços que deixam a desejar ou os aparelhos ficaram obsoletos. No dia 29 de setembro, a cidade sediou a 6ª edição do incrível Torneio Sul-Americano de Arremesso de Celular, que tem como proposta conscientizar a população sobre a destinação correta do lixo eletrônico. Em meio a uma programação interativa e divertida, com entrada livre, desde as primeiras horas da manhã, acontecem ainda a feira orgânica, mostra de carros antigos e exposição de trabalhos sobre preservação do meio ambiente e turismo. Entre as premiações para os competidores e o público em geral, estadia em hotéis, jantares, passeios turísticos, saltos de paraquedas e, até, viagem ao Rio de Janeiro (o campeão do turismo nacional), com direito a acompanhante. As inscrições são feitas na hora, pouco antes dos “arremessos”. Nas primeiras cinco edições, o torneio recolheu 13 toneladas de resíduos eletrônicos.

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Cidade

Visitas (%)

Rio de Janeiro

30,25

Foz do Iguaçu

17,1

São Paulo

12,6

Florianópolis

12,1

Salvador

11,4

Balneário Camboriú

7,8

Fortaleza

5,6

Natal

5,3

Búzios

4,4

10º

Manaus

4,1

RECORDE O maior torneio de arremesso de celular e notebook do mundo reuniu 420 competidores, em 2012. A competição registrou um recorde – o celular que voou mais longe atingiu 99,60 metros de distância. A disputa foi idealizada por um empregado da área de Segurança Empresarial da usina de Itaipu, em 2008, que se inspirou numa competição que já existia na Finlândia, terra da Nokia. Ele acrescentou, nas edições seguintes, o arremesso de notebooks, ao perceber que representavam também um problema sério, ao virar sucata. Graças à potência energética das mundialmente famosas Cataratas do Iguaçu, Foz sedia a Itaipu Binacional, a maior usina de geração de energia limpa e renovável do planeta, que foi responsável, no ano passado, pelo abastecimento de 17,3% de toda a energia consumida pelo Brasil e de 72,5% do Paraguai. Itaipu é a segunda maior do mundo em tamanho e primeira em geração de energia, considerada uma das 7 Maravilhas do Mundo Moderno pela Sociedade Americana de Engenheiros Civis. Ainda, no município, estão a Ponte Internacional da Amizade (divisa entre Brasil e Paraguai) – com a possibilidade de compra de produtos com preços reduzidos na vizinha Ciudad del Este, o paraíso dos sacoleiros, e a Ponte da Fraternidade (divisa entre Brasil e Argentina), que leva aos cassinos não permitidos no nosso país.


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EXTRA! EXTRA!

O ganho dos genéricos O surgimento dos medicamentos genéricos transformou a indústria farmacêutica. Sua entrada no mercado aumentou o número de laboratórios no país, o que estimulou a concorrência no setor, gerando maior variedade de remédios e facilitando o acesso da população devido aos baixos custos. Após 14 anos de sua introdução no Brasil, os genéricos continuam vantajosos em se tratando de preço. Uma pesquisa recém-realizada aponta que a diferença média entre medicamentos de referência e seus genéricos é de 62%. O estudo, realizado em 19 de setembro, comparou o preço de 12 remédios disponíveis em três redes de farmácias. O resultado da análise mostrou que os valores variam entre 47% e 75%. O produto com a maior disparidade é o Paracetamol. O medicamento de marca, gotas, 15 ml, custa R$ 13,90, enquanto a versão do genérico sai por R$ 3,46.

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Mercado em expansão As vendas externas de carnes produzidas em Minas, no primeiro semestre, somaram US$ 502,6 milhões, valor 13,9% superior ao registrado em seis meses do ano passado. Só de bovinos foram US$ 204,2 milhões, 25,9% mais que no mesmo

período de 2012. Já o frango teve vendas de US$ 193,5 milhões, cifra 17,7% superior à do semestre de 2012. As exportações de carne suína somaram US$ 63,4 milhões, aumento de 13% em relação ao ano passado.

Vigilância estatal A China emprega (pasmem!) dois milhões de pessoas apenas para controlar o uso da internet pelos cidadãos, segundo órgão de Comunicação Social estatal, com o propósito de acompanhar a rede online chinesa. Os funcionários realizam buscas por palavras-chave para monitorar dezenas de milhões de mensagens que são colocadas diariamente nas redes sociais e nos sites na internet, segundo o jornal Beijing News. As autoridades de censura da China controlam firmemente os conteúdos online, por medo de instabilidade política ou social que possa desafiar o poder do Partido Comunista. Os policiais da Internet são trabalhadores do setor de propaganda do Governo e acompanham sites comerciais. Contudo, apesar do grande número nem sempre são capazes de prevenir comentários considerados indesejáveis ao Governo. Detalhe: a China tem mais de 500 milhões de participantes da internet, a maior população online do mundo (“só” duas vezes e meia toda a população do Brasil).

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JUBILEU DE OURO DA CONSUL

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A vit贸ria do cooperativismo Outubro/Novembro 2013


O HIPER DA CONSUL no Shopping: estrutura imponente, que nasceu dentro de uma conjuntura desafiadora, competindo com os pesos pesados das redes da iniciativa privada

Aberta à comunidade e ainda em expansão, Cooperativa de Consumo dos Empregados da Usiminas comemora meio século de história com um time vencedor. Na torcida, 70 mil associados fiéis, um público de mais de três Ipatingões lotados. TEXTOS: Alexandre Paulino e Luiz Carlos Kadyll

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P

ara a grande maioria dos cerca de 250 mil habitantes de Ipatinga é tarefa difícil conceber como era a cidade no longínquo ano de 1963. Afinal, já se passaram 50 anos. Segundo o IBGE, apenas um quinto da população da cidade está acima desta faixa de idade e, considerando aqueles com mais de 60, que teriam dez anos de vida ou mais na ocasião, não passam de 9% de todo o contingente urbano. Mais de 200 mil pessoas entre os residentes são crianças, jovens e adultos com menos de meio século de vida e, além de tudo, entre os mais maduros nem todos são radicados no Vale do Aço, tendo vindo em tempo recente para a região. Aqueles denominados “pioneiros”, de fato, estão um a um entrando para a história. Portanto, testemunhas oculares mesmo, daquele tempo, são poucas. Relatos daqueles que presenciaram a época e fotografias já amareladas pelos anos registram que a situação urbana e social era bem diversa da que vivemos hoje. A cidade ainda estava sendo construída e a Usiminas esboçava os seus primeiros passos, bafejada

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O NASCIMENTO Assim como se preocupou em construir moradias, hospital, escola e clubes de lazer para seus funcionários, a Usiminas pensou no abastecimento da região, em proporcionar maior segurança aos trabalhadores na parte da alimentação. É neste cenário que surge então o projeto de criar uma cooperativa de consumo. Fundada em 1962, a Cooperativa de Consumo dos Empregados da Usiminas (Consul) entrou em operação no dia 1° de agosto de 1963. O primeiro presidente foi José Carlos de Almeida Cunha e, no embrião daquela que viria a se tornar hoje a maior instituição do gênero no Estado e a quarta maior do país, eram cerca de 2 mil cooperados. Durante 30 anos a cooperativa cumpriu seu objetivo inicial de abastecer, com qualidade e preço justo, as despensas dos funcionários da siderúrgica ipatinguense. Mas, em 1993, houve uma grande virada na história da Consul, que se transformou em cooperativa aberta e passou a receber cooperados da comunidade. Apesar de seguir as deliberações do seu Conselho Administrativo, a Consul sempre recebeu orientação da Usiminas. Com a privatização da siderúrgica, que até 1991 era uma empresa estatal, surgiu a necessidade de tornar a cooperativa autossuficiente, porém, mantendo os benefícios para os associados.

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pelos ventos de euforia do mandato presidencial de Juscelino Kubitschek, que lançou as bases da fábrica antes mesmo de inaugurar Brasília durante o mandato encerrado em 1961. Como ocorrera em 1960 na capital federal, trabalhadores de todas as partes do país chegavam para participar desta grande obra, esperançosos de uma vida melhor. Houve pequenas cidades do interior que praticamente ficaram desertas, tal a evasão de moradores em busca de oportunidades na nova usina siderúrgica. Entretanto, as dificuldades eram grandes e muita coisa ainda estava para ser feita. Um pandemônio, era o que significavam as relações de troca sem qualquer padrão que funcionavam precariamente como “sistema” de abastecimento de remédios, produtos de limpeza, alimentação e higiene das famílias. Não existiam nem grandes nem médias redes de supermercados, pontos de estocagem e os pequenos armazéns e armarinhos, muitas vezes pressionados pelos fornecedores que enfrentavam sérias dificuldades logísticas, cobravam caro por suas mercadorias, nem sempre de melhor qualidade.

Amaro Lanari

Bom Retiro


JUBILEU DE OURO DA CONSUL Horto

Cariru

ANTIGAS instalações da Consul: para atender melhor os metalúrgicos, originalmente foram montadas lojas no Cariru, Horto, Castelo, Bom Retiro e Amaro Lanari

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Castelo UM GRANDE NEGÓCIO Para fazer frente a este desafio, o então diretor Industrial da Usiminas, Rinaldo Campos Soares, sempre muito atento às aptidões das pessoas à sua volta, buscou alguém que lhe parecia com um perfil realizador e de responsabilidade, mesmo que não tivesse experiência mais profunda com o ramo. Indicou para assumir a presidência da cooperativa o engenheiro mecânico Matusalém Dias Sampaio, que ocupava a Gerência de Segurança Industrial, área estratégica no parque fabril. “O aspecto da confiança foi fundamental para o convite. Era um grande negócio, muito suscetível a desvios. Acredito que também observaram algum valor em mim voltado para a parte comercial. Eu já tinha uma tendência para esta área, apesar de não trabalhar com a parte de negócios da Usiminas”, recorda Matusalém, cuja bem-sucedida gestão já se prolonga por nada menos que 22 anos ininterruptos, sendo marcada por um conjunto de formidáveis avanços.

Em busca de uma melhor preparação para o cargo, o engenheiro conta que teve que estudar especialmente duas áreas: cooperativismo e varejo mercantil. Além dos livros e cursos, Matusalém saiu a campo para conhecer modelos de cooperativas no país e exterior. Numa definição acadêmica, cooperativa é uma associação de pessoas que se unem, voluntariamente, para somar esforços e atingir objetivos comuns que beneficiem a todos. “E varejo é o negócio: comprar e vender com eficiência. Abastecer os cooperados com primor, porque senão o mercado comum te engole”, explica o presidente da Consul, para dar uma ideia apenas superficial de quão complexa é a engrenagem que, afinal, vai muito além daquilo que o público encontra no abrir matutino de cada loja. “Atrás das paredes que compõem o ambiente externo freqüentado diariamente pelo público, há muito trabalho feito no anonimato, por pessoas simples, mas dedicadas e de um valor extraordinário”, registra o executivo.

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MAC ARTHUR SIMAN, o funcionário mais antigo em atividade, com 44 anos de trabalho: ele entrou na Consul antes de completar 18 anos de idade

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EXPANSÃO Trinta anos após o início de suas atividades, em 1993 a cooperativa reunia 10,7 mil cooperados, o número original multiplicado por cinco, todos funcionários do sistema Usiminas. A perspicácia administrativa de Matusalém, reconhecida por muitos de seus colegas (e vários deles ainda hoje seus fieis colegas de diretoria) já começava a render frutos, com apenas dois anos de gestão. Mas este seria apenas um protótipo do que viria a se tornar a cooperativa a partir da percepção de que havia um imenso mercado ainda a ser trabalhado e que, durante muitos anos, fora subestimado por conta de uma estranha visão xenófoba. Hoje, os cooperados da Consul chegam a 70 mil, dez vezes a população de Periquito ou de Piedade de Caratinga, ou como toda a população reunida da histórica Ouro Preto. Se decidissem ir juntos a um jogo de futebol, não caberiam em três estádios com a capacidade de público do Ipatingão, o que demonstra a força de sua representatividade. A entrada dos novos cooperados, a partir da abertura para a comunidade, gerou mais receita e aumentou vertiginosamente a escala dos negócios. A administração da Consul começou então a reformar e modernizar suas lojas, porque naturalmente o repertório do livro de reclamações também aumentou. Em 1998, a cooperativa ainda tinha uma estrutura muito inchada, com prédios nos bairros Bom Retiro, Horto, Amaro Lanari, Castelo, Ideal e Cariru. É quando surge então o projeto de construção do Shopping do Vale do Aço e a oportunidade de assumir a loja âncora, partindo para um hipermercado. O que poucos sabem é que a área em que o shopping foi construído pertencia à Consul e, então, a diretoria viu ali uma chance de evolução radical. “Com a decisão de investir no hiper, uma loja cen-

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tralizada e com capacidade para atender boa parte dos nossos cooperados, fechamos algumas de nossas lojas. Foi um grande desafio, pois tínhamos apenas pequenas lojas de bairro. Exigiu muito trabalho e dedicação da nossa equipe, pois se tratava de um espaço de venda de 4.800 m²”, lembra Matusalém. Com 250 funcionários somente na parte operacional, o hiper representa hoje cerca de 65% do faturamento total da cooperativa, que este ano deve chegar a R$ 188 milhões. A cooperativa é responsável por 50% do ICMS arrecadado no setor varejista de alimentos em Ipatinga. Nas suas cinco lojas de supermercado, duas drogarias e duas óticas, a Consul oferece aproximadamente 800 postos de trabalho e alguns deles ocupados por gente como Mac Arthur Siman, que pega no batente há 44 anos, sem esmorecer: “Este foi meu primeiro e único emprego, a Consul é a minha vida”, diz ele, que apesar de aposentado continua a jornada. De repositor foi a gerente de loja, depois tornou-se auxiliar de tesouraria e, enfim, passou a gerenciar o setor, numa ascensão dinâmica e constante. Comandando 20 pessoas como líder da tesouraria, outro exemplo de fidelidade à empresa é Rosangela Moreira Araújo, que entrou em setembro de 1983 para controlar a produção da padaria. No mesmo ano foi elevada à condição de contadora e depois conquistou a gerência do setor. Aposentada há três anos e decidindo só agora deixar a função para um repouso mais amplo, diz que a cooperativa “foi a base para tudo o que sei”. Entre tantos outros, há ainda exemplo de açougueiro que chegou a gerente, como Edivaldo Bueno de Andrade, responsável pela loja do Ideal. Ou Maria da Graça Costa Martins, 33 anos de trabalho, que de auxiliar de registro fiscal hoje é encarregada do setor. SEGURANÇA ALIMENTAR O giro de mercadorias é muito grande e tudo tem que ser muito bem fiscalizado, principalmente porque a cooperativa trabalha com 20 mil itens, a maior parte perecível e com data de validade controlada. “Nossos pontos fortes são qualidade, segurança alimentar, preço justo, serviço e ética. A cooperativa tem que ter um diferencial do mercado tradicional e por isso nós também buscamos o conforto para nossos cooperados”, enfatiza o presidente da Consul. Ainda segundo ele, “a Consul está bem estruturada, é uma empresa sólida, tem o caixa forte, nenhum passivo tributário ou trabalhista. A cooperativa tem capacidade de crescimento e uma imagem muito forte”, avalia Matusalém. Na sua visão, os consumidores constituem “uma clientela seleta, que busca qualidade e sabe que encontrará disponível o produto que deseja, em condições ideais”.


O AMANHÃ Sobre os planos para o futuro, Matusalém afirma que o foco da cooperativa continua sendo o Vale do Aço e o objetivo é ocupar novos espaços na Região Metropolitana, como já acontece em Timóteo, a partir da incorporação da Associa – a antiga cooperativa dos funcionários da Acesita. “Cooperativismo é feito no sentido de beneficiar as pessoas. O lucro é bom para crescer e investir. Uma parte volta para o cooperado, que também decide em assembléia sobre a aplicação das sobras”, esclarece. No ano passado, o Retorno Anual de Sobras, que é distribuído aos associados de forma proporcional às compras de cada um, atingiu um total de R$ 1,5 milhão. “O cooperativismo é hoje uma força importantíssima na vida econômica e social de um país. É gerador de emprego e renda, além de difusor de princípios, como ajuda mútua, cooperação e solidariedade, numa ambiente de democracia, paz e igualdade”, conclui Matusalém Dias Sampaio. Na área social, a Consul apóia diversas entidades, como asilos, creches, comunidades terapêuticas e instituições assistenciais, como a Casa da Esperança. Os animais do zoológico da Usipa também recebem as doações da cooperativa, sendo abastecidos de carnes, verduras e frutas. A Consul também patrocina a equipe de vôlei da Usipa e entidades culturais, como o Instituto Cultural Usiminas. ROSANGELA MOREIRA ARAÚJO, funcionária há 30 anos e hoje gerente de contabilidade, iniciou no controle da produção da padaria

PRODUTOS exigentemente selecionados no setor de hortifrutis, um dos grandes atrativos do hiper, que ainda oferece ótica, padaria e farmácia, entre muitas outras ofertas de produtos e serviços

TODOS OS 11 PRESIDENTES DA CONSUL 1962

José Carlos de Almeida Cunha

1965

Sidney Alfredo de Melo

1967

Arthur Hilbuth Gonçalves

1969

Domingos Rêda

1970

Sidney Alfredo de Melo

1979

Lázaro de Freitas

1983

Fernando Rocha

1984

Ronaldo Monteiro de Sousa

1987

Hélio Macêdo de Queiroz

1990

Sebastião Benedito Araújo da Silveira

1991 até hoje

Matusalém Dias Sampaio

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Elcio Moreira Ronzani, ex-diretor Comercial e agora assessor da presidência, e o diretor Administrativo e Financeiro, Divaldo Pires Guerra, com o presidente Matusalém Dias Sampaio e a esposa Olga: realização plena com a comemoração do cinqüentenário da cooperativa

Do internato à engenharia A origem simples e a rotina de trabalho de Matusalém

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Ele começa o dia às 4h45 da manhã, caminha cerca de 5 km, faz academia e às 7h já está no trabalho. Aos 66 anos de idade, o engenheiro mecânico Matusalém Dias Sampaio já poderia estar aposentado há alguns anos, mas mantém-se em atividade. Em sua rotina diária como presidente da Consul, no início da manhã ele visita regularmente todas as lojas da cooperativa em Ipatinga e Timóteo, além da Central de Distribuição, para depois retornar para o hiper do Shopping, onde fica até as primeiras horas da noite. Nascido na pequenina Araponga (MG), cidade com pouco mais de 8 mil habitantes na Zona da Mata, Matusalém revela que passou a maior parte da sua juventude em um colégio interno. Seu pai era comerciante e produtor rural, tinha 12 filhos e conseguiu proporcionar à família uma vida digna, mas simples, sem ostentação. “Meu pai plantava milho, café e tinha algumas cabeças de gado. Havia muitos trabalhadores e minha mãe era quem fazia comida para eles. Na fazenda não tinha energia elétrica, eu tinha que andar cerca de seis quilômetros para ir à escola. Meu sonho de criança era estudar e sair da roça, vencer na vida”, conta.


JUBILEU DE OURO DA CONSUL O SETOR administrativo envolve uma equipe dedicada, com muitos afazeres diários

39 VIDA NO INTERNATO Após concluir o terceiro ano primário, o garoto sonhador seguiu para o colégio interno na cidade vizinha de Viçosa. A renomada universidade local (UFV) ainda era estadual, mas a cidade já tinha tradição escolar e atraía pessoas de diversos lugares. A disciplina no internato era rígida, não tinha TV e todos os alunos, cerca de 100, dormiam em um grande salão por volta das nove da noite. Os estudantes que contrariavam as regras ou se portavam indevidamente eram penalizados pelo chefe de disciplina. Normalmente, o castigo era ficarem sem o horário de lazer ou as saídas até a cidade no fim de semana. “Eu era doido com futebol e jogava muito. Ficar sem era um castigo. Nossos comportamentos indevidos eram coisas típicas de estudantes mesmo, como pequenas bagunças. Mas a vida no internato era divertida”, lembra o presidente da Consul. As matérias que tinha mais facilidade eram matemática e ciências, já prenunciando a faculdade que viria a cursar posteriormente. Matusalém permaneceu no colégio interno até o segundo ano do 2º grau, saindo apenas nas férias para visitar os pais, oportunidade em que auxiliava nos trabalhos da fazenda. EM BUSCA DO SONHO O terceiro ano do científico o futuro engenheiro cursou no Colégio Santo Agostinho, um dos mais tradicionais de BH. Na capital, enquanto se preparava para o vestibular na UFMG, morou em república e trabalhou

em um escritório. “Eu queria fazer engenharia mecânica e a UFMG era a única opção” - explica. “Havia a Universidade Católica também, mas meu pai não tinha condições de bancar as mensalidades. Nessa época o vestibular era muito concorrido na Federal e não consegui ser aprovado”, lembra. Nesta mesma época foi fundado em Governador Valadares o Minas Instituto de Tecnologia (MIT), que veio a ser o embrião da Universidade do Vale do Rio Doce (Univale). Um dos cursos oferecidos era o de engenharia mecânica. Como sua avó morava na cidade, Matusalém decidiu deixar a capital rumo ao Leste de Minas e, ali, perseguir seu objetivo. Quando chegou a Valadares, o presidente da Consul tinha 19 anos e encontrou nas aulas particulares uma forma de se sustentar. A partir desta atividade, junto com o amigo Itamar Cabral fundou um curso pré-vestibular que se tornou muito conhecido, denominado Decisão. Entre os diversos alunos do cursinho, passaram personalidades como os ex-diretores do jornal Diário do Rio Doce, Parajara dos Santos e Carlos Alberto Sobreira, o ‘Lotinha’, ambos já falecidos, e o empresário Weber Coelho, proprietário da Remac. “Depois de formado em engenharia mecânica, ainda fiquei mais um ano e pouco no Decisão. No total foram cerca de quatro anos trabalhando com o pré-vestibular. Eu ainda não tinha noção de como essa área ainda iria se expandir e resolvi então deixar o cursinho na mão do Itamar. O lucro era pequeno para dividir para dois”, resume.

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ENCONTRO COM A FELICIDADE Esses fatos se passaram em 1974, durante o boom da expansão da Usiminas, que absorvia grande parte dos profissionais formados no MIT. Matusalém veio então para Ipatinga, fez teste na siderúrgica e teve a chance de escolher entre dez áreas para trabalhar na empresa. Sua opção foi a segurança industrial, onde já estava lotado um amigo do MIT e haveria oportunidade de cursar uma pós-graduação em Belo Horizonte. “O salário era bom, dava para viver bem. Além disso, tinha uma série de benefícios indiretos, na área da saúde, moradia e um ambiente muito bom. Na minha cabeça, eu iria ficar apenas uns dois anos, pegar experiência e ir embora. Mas o ambiente saudável e as vantagens como a oportunidade de fazer cursos fora, inclusive em outros países, me seguraram”, revela. Emocionado, Matusalém diz que sua vida é marcada por “duas grandes passadas”: a entrada na Usimi-

nas e o casamento com a pedagoga Olga, filha do médico valadarense Nivaldo Ladeira. Sobre a siderúrgica, ele ressalta sua formação técnica e como cidadão. Com relação ao casamento, uma declaração de amor: “Encontrei a pessoa certa. Estamos casados há 37 anos, uma relação saudável, maravilhosa”. O engenheiro conheceu Olga em uma de suas idas a Governador Valadares, durante os finais de semana, quando já estava trabalhando na Usiminas. O encontro aconteceu na tradicional exposição agropecuária da cidade. O namoro durou pouco mais de um ano, seguindo-se o casamento. O casal tem três filhas e três netos. Maria Carolina, a mais velha, mora em Belo Horizonte; Fernanda e Luciana, em Salvador. Uma é médica, outra administradora e trabalha no ramo da construção civil, e a terceira atua na área da Comunicação Social e promove desfiles de moda etc.

NO BAIRRO QUITANDINHA, em Timóteo, a moderna bateria de check outs implantada para atender bem à nova clientela conquistada

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O FUTURO Aposentado desde 1998 e com os filhos já criados, Matusalém prepara sua sucessão na Consul. Em seus planos para um futuro não muito distante está se dedicar à criação de gado numa propriedade adquirida no norte do Espírito Santo. “Quero dedicar uma parte da minha vida a esse projeto. Acredito que está chegando a hora. A equipe da Consul está muito bem estruturada, tanto na parte de gestão como na operacional. A sucessão não será problema. Penso que a instituição é perpétua. Eu vou sair, mas a Consul vai continuar gerando empregos, renda e benefícios para os seus cooperados”, concluiu Matusalém em entrevista exclusiva à revista ATITUDE.


1963, um ano de muitas conquistas No mesmo ano em que era fundada a Consul aconteceu o conflito de triste memória entre trabalhadores da Usiminas e forças policiais, numa das portarias da empresa. Outra nota triste foi o assassinato de John Kennedy, durante um desfile presidencial em Dallas. Ainda, naquele mesmo ano, o Brasil perdia um dos mais importantes compositores populares de toda a história, Lamartine Babo, autor da imortal marchinha carnavalesca “O Teu Cabelo Não Nega” e de alguns dos mais famosos hinos do futebol nacional. Mas havia outras notícias para festejar: • Em Washington, o defensor dos direitos civis dos negros, Martin Luther King, contou a todo o mundo que tinha um sonho. • O desenhista Maurício de Sousa (foto acima) dava vida à dentuça Mônica. • A beleza da mulher brasileira era pela primeira vez coroada em todo mundo nos irresistíveis e amendoados olhos gaúchos de Ieda Maria Vargas, eleita Miss Universo aos 18 anos, em Miami Beach-EUA. • A russa Valentina Tereshkova, de uma família proletária, filha de um motorista de trator desaparecido na guerra, torna-se a primeira mulher a ver o planeta de fora, lá do espaço, na nave Vostok 6. • ‘Please Please Me’, o primeiro álbum gravado em estúdio dos Beatles, leva os garotos de Liverpool ao primeiro lugar da parada britânica. • O Brasil era apresentado à genialidade do maestro com nome Brasileiro (Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim) através do disco ‘The Composer of Desafinado’, lançado nos Estados Unidos. Tom também grava com Vinícius um dos maiores sucessos e possivelmente a canção brasileira mais executada no exterior: “Garota de Ipanema”. • O Santos de Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe torna-se bicampeão mundial de futebol ao vencer o Milan (dos também brasileiros Mazzola e Amarildo) por 4 a 2, no Maracanã, diante de um público de 132.728 torcedores. • O Brasil de Amaury, Mosquito, Ubiratan e companhia se torna bicampeão mundial de basquete, no Rio de Janeiro. • Acontece no país o primeiro vôo do imponente Boeing 727. • A Rede Tupi realiza a primeira transmissão em cores no país.

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CONVIVÊNCIA FAMILIAR

Carinho em dose quádrupla Com nove anos completados, como vivem hoje os quadrigêmeos que viraram pelo avesso a rotina de um humilde casal na periferia de Coronel Fabriciano 43

TEXTO: Janete Araújo

DA ESQUERDA para a direita, em sentido horário, Maria Luiza, Laura, Letícia e Gabriel

No último dia 4 de agosto, domingo, três meninas chamadas Laura, Letícia e Maria Luiza, e mais um bendito é o fruto entre as mulheres batizado como Gabriel, nascidos em 2004, completaram nove anos. A data é sempre marcante, porque não é todo dia que quatro rebentos vêm ao mundo por dádiva do mesmo ventre. E, então, a rua Geraldo Ubner, no bairro Santa Rita, região periférica de Coronel Fabriciano, estava toda em festa. A alegria era contagiante, especialmente na casa de número 290, onde moram os pais dos garotos, a comerciante Jane Aparecida de Lima Souza, 38 anos, e o caminhoneiro Roberto Teixeira, 36 anos. A moradia da família é pequena e simples, ao lado da casa da mãe de Jane Aparecida, mas muito bem organizada, o que demonstra que a criançada pode até ser bem ativa e inquieta, mas bagunça, ali, tem limite. A arrumação e o asseio saltam aos olhos. Chamam a atenção vários enfeites de vidro e porcelana bem acomodados - e inteiros - em cima dos móveis da sala, como é meio incomum num espaço reduzido recheado de tantas crianças. Junto ao sofá, um tapete britanicamente estendido e muitas almofadas, além de uma tartaruga gigante de pelúcia sugestivamente macia e pedindo para ser apertada. Conforto é que não falta pra ver TV. Quem chega para receber a reportagem de ATITUDE, falante e espevitada, é Laura, que se alegra com a possibilidade de uma vez mais virar notícia e agora com a vantagem de poder compreendê-la, já que estreou na mídia como um bebê recém-nascido. Ela leva a equipe da revista até a casa da avó, onde está também a sua mãe e os outros pequerruchos. Quem disse que gêmeos são exatamente iguais ou muito parecidos, mesmo que não fisicamente, em sua maneira de ser? Letícia, segundo Jane Aparecida, “é a mais tranqüila e quieta”. Maria Luiza, ela define, “é mais explosiva e com personalidade mais forte”.

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A MÃE JANE APARECIDA cercada de amor pelos rebentos, com direito a paparicos múltiplos

Atravessando o muro que separa as duas casas vamos ter o primeiro contato com o menino entre as meninas, Gabriel. A mãe não se incomoda em constrangê-lo e diz que ele “é pirracento”, mas logo se percebe outra de suas características: um garoto irrequieto, de botar a Laura no bolso. Jane lembra que o médico que a atendeu diagnosticou-a com “uma gravidez de altíssimo risco” e isso lhe trouxe muitas preocupações. Chegava a perder o sono, tamanha a ansiedade. Mas isso, de certa forma, acabou contribuindo para que se tornasse uma pessoa melhor. “Tive pressão alta e o doutor me disse que dificilmente meus bebês iriam escapar. Passei a pedir muito a Deus, a necessidade de me fez dar mais atenção à espiritualidade. Aprendi a orar e após o parto minha fé cresceu ainda mais. Agora tomo minhas decisões e faço meus planos consultando primeiro a Deus. Acho que se Ele lhe dá algo mesmo que você ache difícil levar adiante, Ele também lhe dá os meios de vencer as dificuldades”, compreende, ressaltando ainda que o marido é seu companheiro nessa escalada de fé. Jane conta que quando engravidou dos quadrigê-

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meos já estava casada há cinco anos e morava em uma pequena casa abaixo da casa da mãe. Seu plano era ter apenas um filho, já que trabalhava como empregada doméstica. O esposo, por sua vez, era laminador e ganhava bem menos que o salário de hoje. “Tive sangramento com 18 semanas de gestação e fiz um ultrassom que me pegou de surpresa. Eu estava esperando quatro bebês ao invés de um. Larguei o emprego. Precisei ter acompanhamento especial no Hospital Márcio Cunha, onde também fiz todo o meu pré-natal, por causa do risco na gravidez. Com 29 semanas, sete meses, fui para a maternidade do Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte, onde fiquei três meses em uma ala com mais 27 mães que, como eu, também tinham seus bebês internados na Unidade de Terapia Intensiva - UTI. Desde o início, eu pedia a Deus todos os dias que cuidasse para que tudo desse certo”, recorda. Mas, como a família se preparou para a surpresa do parto múltiplo? Até ir para a maternidade, Jane diz que praticamente nada havia sido comprado de enxoval para os bebês. “Eu tinha um berço no quarto e muito pouca coisa, já que minha casa só tinha um quarto. Mas


CONVIVÊNCIA FAMILIAR quando cheguei com os recém-nascidos o lugar não cabia de tantas doações. Mamadeiras, leite, fraldas, roupinhas. Tudo doado pela comunidade, familiares e amigos”, conta, emocionada. “E a ajuda não parou de chegar. Vieram também as rifas, outras iniciativas. Como ganhei muita coisa, juntei e usei o dinheiro recebido por meio da Lei municipal 3.219, de 09/03/2005 (VER BOX), para comprar o lote ao lado da casa de minha mãe. Com os recursos das ‘ações entre amigos’, umas cinco, consegui construir a casa e em um ano me mudei para lá. Recebi ajuda também de empresários da região, com doações de móveis e tudo mais. Foi uma mobilização geral para não faltar nada para meus quatro bebês. Até hoje, se eu precisar sempre encontro alguém disposto a ajudar”. Jane Aparecida abriu um pequeno comércio na mesma rua onde mora. Segundo ela, “não dá muito dinheiro, nossa vida não está mais fácil, mas melhorou muito”. A sugestão que dá é que a lei que foi criada para beneficiar as famílias carentes no caso de partos múltiplos poderia estender seus efeitos por mais do que apenas um ano e meio. “É depois que crescem que os filhos realmente dão despesa. É a educação, são as roupas e

calçados que ficam pequenos muito rápido, pois eles crescem depressa”, explica. Orgulhosa, ela entende que tudo por que passou valeu a pena e revela que hoje Gabriel, Laura, Maria Luiza e Letícia estão na Escola Municipal José Batista Mendonça, que fica na rua Bélgica, no bairro Santa Cruz. Eles cursam o 4º ano do Ensino Fundamental, estudam na mesma sala e têm ótimas notas. “São muito estudiosos e aqui em casa temos regras que eles devem seguir para manter as coisas no lugar. Os nossos passeios são raros com a garotada, pois tanto eu quanto meu marido trabalhamos bastante, eu em uma pequena loja que montei e ele como caminhoneiro, viajando muito. Mas frequentamos assiduamente a igreja”, ela faz questão de dizer. O que dizer para outras mães que estão na mesma condição em que ela esteve há nove anos? Jane dá a receita: “Que não se desesperem como eu fiz. Parte das minhas complicações de saúde foi devido ao meu pânico e falta de experiência. Manter a calma e confiar em Deus é o melhor caminho, pois Ele vai cuidar para que tudo saia bem”, acredita.

45 MARCOS DA LUZ, presidente do legislativo fabricianense, que ajudou a criar a Lei municipal nº 3.219/03/ 2005

De acordo com o presidente da Câmara de Vereadores de Coronel Fabriciano, Marcos da Luz, a Lei municipal nº 3.219, de 9 de março de 2005, foi criada por ele, que na época era secretário de Administração e Finanças do município, juntamente com a secretária de Assistência Social Júlia Restori, ainda no cargo no governo atual da prefeita Rosângela Mendes. “A situação é tão rara que depois do nascimento dos quadrigêmeos não houve registro no município de outras gestações múltiplas. A lei criada foi um pedido do então prefeito e médico Chico Simões, que atuando em seu segundo mandato ficou preocupado com o fato da família não receber algum tipo de auxílio. Daí nasceu a Lei do Auxílio Gestação Múltipla. Não havia muitos programas sociais do governo federal ou municipal como agora. Não havia Bolsa Família, as creches eram poucas, assim como os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), Benefício de Prestação Continuada (BPC) e outras formas de auxílio. Por isso a lei foi criada e continua em vigor até hoje e até se tornou um programa”, detalha. Segundo Marcos da Luz, a lei assegura a toda família que ganhe até um salário mínimo per capita e que resida em Coronel Fabriciano há pelo menos um ano, vindo a nascerem trigêmeos ou mais filhos vivos, o Auxílio Gestação Múltipla que equivale a 1/4 do salário mínimo por criança viva. O auxílio é concedido pelo prazo máximo de 18 meses, contados a partir do ato de concessão; para atestar a necessidade a pessoa deve apresentar as certidões de nascimento das crianças e comprovantes de renda.

Uma lei de auxílio à gestação múltipla Outubro/Novembro 2013


OS TRIGÊMEOS Maria Fernanda, João Pedro e Ana Lara nasceram saudáveis, com apoio da Usisaúde, para alegria dos pais Fernando e Maraiza

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No dia 13 de junho, no Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga, nasceram os trigêmeos Maria Fernanda, João Pedro e Ana Lara. Os pais de primeira viagem, Maraiza Silva Batista Godoi e Fernando Henrique Godoi Ramos, com a ajuda da mãe dele e vários outros familiares, ainda se desdobram para dar conta do recado, mas já saíram no lucro antes mesmo de entrar no intensivão doméstico sobre como cuidar de filhos. Os bebês, muito saudáveis, nem precisaram ficar na UTI Neonatal e Pediátrica, como é comum em casos similares. Apenas permaneceram algumas horas na enfermaria de Cuidados Intermediários Neonatal para receber oxigênio e logo foram para o quarto. A mãe conta que quando ouviu em tom exclamativo a frase “Você vai ser mãe de trigêmeos!”, na verdade não sabia se ria ou se chorava. Claro que a emoção foi triplicada, mas a preocupação também. O casal foi contemplado com a gravidez trigemelar, de forma natural, quando tinha apenas dois meses de matrimônio oficializado. “Estamos juntos há 11 anos, então parece que os bebês só esperaram a gente se casar para virem ao mundo”, raciocina Maraiza. Interessante é que ela afirma que sempre quis ter gêmeos. “Acho que os gêmeos têm muita cumplicidade e são amigos. Isso é lindo”, filosofa. A obstetra Carolina Luisa Cardoso Marinho explica que durante o acompanhamento do pré-natal havia sempre o receio de um possível parto prematuro ou da prematuridade extrema. Contudo, “no dia do parto, Fernando e Maraiza, já com 35 semanas, estavam tão confiantes de que os bebês nasceriam bem que acabaram transmitindo a confiança para nós, a equipe cirúrgica”, comenta. A médica lembra ainda que a equipe da maternidade estava eufórica. “Seria o primeiro parto de trigêmeos de gestação natural visto por muitos, inclusive eu, que nunca havia atendido uma paciente com gravidez trigemelar. E os pais estavam certos, eles vieram com muita saúde e choro forte”, comemora. Nos últimos dois meses de gravidez, Maraiza ficou internada durante alguns dias porque a pressão arterial aumentou, sendo mais seguro que ela ficasse sob observação médica. “Apesar de ter passado um pouco de mal no final, eu curti muito a minha gravidez. Sempre gostei de sair e durante a gestação não foi diferente, eu e Fernando passeamos bastante”, revela. O pai Fernando, que assistiu ao parto, disse que na hora dos nascimentos, a cada choro, a emoção aumentava. “Eu que nem pegava em bebês muito pequenos estou me virando bem com os meus. Troco fraldas, dou banho e acordo à noite para ninar eles, se for preciso”, conta.

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DR. MÁRIO MÁRCIO (D), ginecologista e grande autoridade em reprodução assistida, com o mestre e mentor Prof. Dr. Elsimar Coutinho, a maior expressão científica da medicina brasileira

ENTENDA MELHOR Como acontece a gestação múltipla O Dr. Mário Márcio da Paz, diretor da clínica Pró Vida, no bairro Cariru, ginecologista com especialização em reprodução humana na Flórida-EUA e uma das maiores autoridades no assunto em todo o Estado, falou à revista ATITUDE sobre as circunstâncias em que ocorrem as gestações múltiplas, além de pormenorizar outras questões relacionadas ao assunto. Confira:

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Qual é o percentual de incidência de gêmeos, de forma natural? No caso de trigêmeos e quadrigêmeos, os registros se dão em que nível? A incidência de partos Gemelares é de 1:80, Trigemelares: 1: 6.400 e Quádruplos: 1: 54.000. Quíntuplos são muito raros. No caso da reprodução assistida, é possível controlar esta possibilidade? Sim, é possível controlar. Basta que para isso seja transferido um menor número de embriões para o útero materno. A tendência atual é transferir para a mãe apenas um único embrião, em mulheres com menos de 35 anos de idade. Que fatores principais determinam essas ocorrências? Há dois tipos de gestação gemelar. Os gêmeos idênticos, que provêm de um único óvulo e um único espermatozóide, cujo embrião se dividiu logo após a fecundação gerando duas pessoas iguais, e os gêmeos fraternos, que provêm de óvulos e espermatozóides diferentes e são gerados indivíduos totalmente distintos. Os gêmeos fraternos são mais comuns em mulheres em idade mais avançada, onde são mais frequentes distúrbios do ciclo menstrual que levam a uma ovulação dupla (liberação de um óvulo em cada ovário). Ainda não está esclarecido o mecanismo pelo qual os gêmeos idênticos são criados, apenas sabe-se que existe uma tendência familiar.

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Juntos por uma missão Mecânico fabricianense deixou oficina, mudou-se para a Ásia e encontrou lá a sua cara-metade: uma romena que já havia passado pela Hungria, Ucrânia, Turquia, França e Espanha. 50

Uma convicção sobrenatural fez com que um humilde mecânico de Coronel Fabriciano, em 2006, então com apenas 23 anos de idade, tomasse uma decisão radical, que mudaria inteiramente os rumos de sua vida. Apesar dos apelos do amigo e patrão - seu colega de profissão desde 1999 -, ele deixou a oficina em que trabalhava, na av. Tancredo Neves, no bairro Bom Jesus, e foi se aventurar por uma jornada humanitária na Índia. Passados sete anos, Waltemir Pereira de Almeida está de volta à cidade, trazendo uma rica bagagem cultural e, ainda, aquilo que julga mais precioso: Ana Chelu (pronuncia-se Quelo), a romena com que se casou e que lhe dará o primeiro filho em fevereiro do próximo ano. Mas a permanência no Vale do Aço é provisória. Para o casal, a prioridade é atuar na alfabetização de jovens, meninos e meninas carentes de Bihar, o terceiro estado mais populoso do país asiático, na fronteira com o Nepal, onde também é muito alta a taxa de mortalidade infantil. Foi ali que os dois se conheceram, em dezembro de 2008. Ele, um missionário, morando no sul do Estado, e ela, professora de educação religiosa, na capital Patna, que fica na região central, megalópole com seus cerca de 5,7 milhões de habitantes. Waltemir diz que foi convidado para conhecer mais de perto um projeto de educação, aberto em 1998. Queria se envolver, ajudar. E era dia de formatura de uma turma liderada por Ana. Ela conta que o que mais lhe chamou a atenção foi o fato de Waltemir parecer “uma pessoa agradável, aberta a se comunicar, com facilidade de se relacionar, diferente daquele jeito formal e protocolar dos americanos” e também conflitante com o estilo introspectivo de seu próprio país. “Na Romênia, durante o regime comunista, os cristãos sofreram muitas perseguições, isto porque havia uma grande rede de delatores a serviço do governo e, assim, ficamos naturalmente mais reservados e desconfiados de tudo”, explica. Quanto ao fabricianense, ele diz que o mais cativante na personalidade de Ana é “a sua capacidade de se doar em favor do outro, sua paixão pelos menos favorecidos”. Mas o namoro não fluiu imediatamente. Desde aquele encontro à margem do rio Ganges, mais de um ano se passou. Foi só em 15 de março de 2010 que começaram a namorar. Todavia, precisos nas datas, eles se recordam bem: seis meses e 17 dias após, casaram-se, diante da família dela, na Romênia.

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WALTEMIR E ANA diante do Taj Mahal, que fica na cidade de Agra, a oeste de Bihar, recentemente anunciado como uma das novas Sete Maravilhas do mundo moderno. Um imperador mandou construir em memória de sua esposa favorita, a quem chamava de “A jóia do palácio”. Ela morreu ao dar à luz o seu 14º filho.


SALADA SALADA CULTURAL CULTURAL

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Ana e Waltemir falaram a ATITUDE caprichosamente no dia 15 de agosto, a data em que a Índia comemorou 66 anos de independência do império britânico. Grávida de três meses – e ainda sem saber o sexo do bebê –, ela revelou que, por consenso, já haviam decidido: “Sendo homem, se chamará Josué Abishek, que quer dizer líder ungido”. Não que, exatamente, tivessem preferência por um filho do sexo masculino. É quase uma questão prática. Os dois contam que, na Índia, as mulheres são muito desvalorizadas, tratadas quase como uma sub-raça. Isto também porque, quando se casam, os pais têm que arcar com tudo e mais um pouco em relação à cerimônia, “até com a gasolina dos convidados”. Há bons médicos na Índia, e o custo de um parto é relativamente barato, mas Waltemir e Ana só planejam voltar ao país após o nascimento do bebê. É que, diante da casa do pai dele, no bairro Jardim Primavera, “num meio lote, estamos trabalhando para erguer nossa casinha, de quatro cômodos”, ele revela. Enquanto isso, os dois procuram levantar recursos para implantação de projetos sociais. Seu foco agora é proporcionar alfabetização na cidade de Gaya. “Por conta desse mesmo aspecto da desvalorização da mulher, 76% das meninas são analfabetas e 69% casam-se antes dos 18 anos. Noventa por cento das garotas entre 15 e 19 anos apresentam complicações na gravidez. Então, pretendemos atuar no sentido de ajudar a resgatar o valor delas, instrumentalizá-las para garantir sustento por meio de escola, corte e costura”, exemplificam. Em Bihar, quase 85% da população moram em áreas rurais e apenas 26% dos adultos são alfabetizados. O estado indiano em que Sidarta Gautama fundou o budismo e Mahatma Gandhi escolheu como centro da rebelião contra o domínio britânico tem cerca de 105 milhões de pessoas ou mais da metade da população do Brasil. Perto de 60% têm abaixo de 25 anos de idade. Apesar de sua importância como berço religioso, o estado é tido como o filho desprezado da Índia.

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O PALÁCIO DO PARLAMENTO na capital da Romênia, segundo maior prédio administrativo do mundo: 1.100 salas e seis pavimentos subterrâneos

A CONFUSÃO das ruas, onde há de tudo um pouco, mas sobretudo um calor causticante, muito barulho e cheiro forte


As origens do casal e suas dificuldades Sétimo filho de uma família de oito irmãos – sete homens e uma mulher –, originária de Novo Oriente de Minas, cidade com pouco mais de 10 mil habitantes no Vale do Mucuri, Waltemir conta que o pai, um pedreiro, aportou com sua prole no Vale do Aço em 1977, atraído pela explosão local da construção civil. Contudo, atingidos por uma das enchentes mais avassaladoras que a região já experimentou, em 1979, foram todos reduzidos à mais absoluta miséria. Eles moravam na Ilha do Rio Doce, próximo à ponte metálica. A pequena chácara virou um amontoado de lama e areia, terra sem valor. Os flagelados foram resgatados e conduzidos em caminhões para um abrigo da fábrica de cimentos Cauê. Dali a família seguiu para um asilo da Sociedade São Vicente de Paulo em Iapu e, depois, na mesma cidade, para “um meio lote num local sem água, sem luz, sem nada”, lembra Waltemir. Foi em meio a muitas privações que a família de Waltemir permaneceu no local por 15 anos, até que em 1994 seu irmão mais velho, já encaminhado num trabalho, conseguiu trazê-los para o bairro Bethânia, em Ipatinga. Dali eles se mudaram para o bairro Jardim Primavera, na região do Caladão, em Coronel Fabriciano. Waltemir trabalhava de 8h às 18h, na oficina mecânica. Para economizar pernas, porque cumpria de bicicleta, todos os dias, o trajeto de 8 km do Caladão até o Bom Jesus, indo e vindo, almoçava no trabalho. À noite, cursava o segundo grau na Escola Estadual Zacarias Roque, no bairro Júlia Kubitschek. Além do estudo regular, o jovem lembra que participava de um grupo que levantava recursos em favor de

missionários, na igreja Batista que freqüentava no distrito de Melo Viana, e foi ali que no final de 2005 recebeu convite de um escritor do Vale do Jequitinhonha para acompanhar uma comitiva à Índia, onde ele já trabalhava desde 1994 depois de morar também na África, nos anos 80. O ex-mecânico revela que já pesquisava sobre as condições de Bihar e, com três anos de Teologia, resolveu buscar maior preparação para sua experiência transcultural freqüentando uma agência missionária em Goiânia. Decidiu então doar três anos de sua vida em prol do povo que habita em aldeias no norte da Índia. “Mas os três já viraram sete e quem sabe se limitarão a uma década?”, brinca. Para o mecânico fabricianense, chegar à Índia, para quem nunca havia viajado ao exterior ou pego um avião, foi “como ganhar a Copa”. Até estar lá, por mais que tenha lido ou se informado a respeito do país, ele assegura, ninguém pode dizer que “já sei muito”. E Ana complementa: “É, até que a gente sente o cheiro (do lixo, dos incensos, dos restaurantes na rua), o calor (até 50 graus) e o barulho (muita buzina, uma imensidão de carros, bicicletas, motos, ciclo-riquixás)”. Atrás dos caminhões, a inscrição “Horn please!”, que quer dizer “Por favor, buzine!!!”, ou no idioma hindi, “Awaz Karo” – “Produza um barulho”, isto porque o trânsito é uma confusão só, “ninguém olha para o retrovisor”, detalha a romena. Ana Chelu, como o marido Waltemir, vem de uma família de oito irmãos – quatro homens e quatro mulheres –, de Bucareste, no sul de seu país. Ela é sexta filha de um homem que se converteu ao cristianis-

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WALTEMIR E ANA, em trajes típicos, após sacramentarem os votos do casamento

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mo na década de 70 e precisou resistir com ardor sobrehumano, juntamente com toda a família, ao peso do braço ditatorial de Nicolae Ceausescu. Pastor há mais de 35 anos, o pai de Ana, como ela e os irmãos, tiveram que exercer a sua fé na clandestinidade, numa época em que havia brutal perseguição às igrejas. “Havia muitas restrições, menores de 18 anos eram proibidos de se tornarem cristãos, se alguém fosse visto distribuindo Bíblias podia ser condenado a sete anos de prisão. A polícia secreta do ditador (Securitate) chegou a ter 23 mil funcionários e havia ainda 500 mil informantes voluntários, protegidos pelo Estado. Somos de uma família de classe média-baixa e minha mãe se desdobrava em muitas ocupações. Trabalhou em cantina de hospital, como cobradora de ônibus, em uma fábrica de sapatos”, recorda. Ana relata que o regime de Ceausesco gerou melhorias na educação (que passou a ser a segunda melhor do mundo), construiu a primeira refinaria de petróleo do globo, empenhou-se na implantação de dez mil fábricas, mas o sofrimento imposto ao povo foi aterrador. “Contraditoriamente, chegamos a ser o maior exportador mundial de cereais, enquanto dentro do país a comida era racionada. Faltavam também energia e medicamentos. Houve demolição de casas em massa e construção de 3,5 milhões de apartamentos, para onde muitos se mudavam antes mesmo de estarem concluídos. Ele construiu na capital o suntuoso Palácio do Parlamento, que chamou ironicamente de Casa do Povo – o segundo maior prédio administrativo do mundo, com 1.100 salas, sendo seis andares subterrâneos (e três deles ainda não foram ocupados). Pregava-se o ateísmo, dizia-se que a religião era ‘o ópio do povo’. A revolta foi se agigantando, até que o ditador – que instituiu o culto à sua pessoa, chegando mesmo a possuir um cetro, em alusão à sua figura real – foi assassinado, em dezembro de 1989”. Na ocasião, vários elementos da sua família exerciam igualmente cargos políticos de peso, como sua esposa e seus três irmãos. A amarga experiência do ateísmo compulsório fez a Romênia se tornar um país com esmagadora maioria de cristãos, apesar de ser um Estado laico. Dos 21,6 milhões de habitantes, 86,7% são identificados como membros da Igreja Ortodoxa. Outras denominações cristãs incluem o Catolicismo Romano (4,7%), o Calvinismo (3,7%), denominações pentecostais (1,5%) e a Igreja Greco-Católica (0,9%). Com o exemplo de um pai que, segundo ela, “se manteve íntegro e se deslocava pelo país de carona ou de bicicleta”, Ana recorda que deixou a Romênia com 16 anos de idade, seguindo para Budapeste, na Hungria. Depois esteve na Ucrânia, Turquia, França e Espanha, com o intuito de visitar e conhecer culturas. Antes de decidir pelo trabalho humanitário na Índia, terminou o segundo grau e estudou num colégio bíblico, com especialização em Educação Religiosa, em Oradea, uma das mais prósperas cidades romenas, no noroeste do país, fronteira com a Hungria, com cerca de 240 mil habitantes.


SALADA CULTURAL NUMA LOJA de Patna, o repouso imperturbável de um espécime bovino: para o dono, presságio de boa sorte

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The incredible Índia Para Waltemir e Ana Chelu, egressos da América do Sul e da Europa Oriental para se tornarem voluntários no sul da Ásia, como os próprios indianos dizem a Índia é “incrível” – The incredible Índia. Ao mesmo tempo em que se sustenta como uma das maiores economias do planeta, amarga, como o Brasil, um incontrolável surto de corrupção, resultando em imensa desigualdade social. Alguns carros moderníssimos, que sequer foram lançados em qualquer outro lugar do mundo, circulam imponentes e se destacam em meio à desordem urbana; a falta de saneamento básico e o acúmulo de lixo convivem lado a lado com majestosas construções. Há 1.152 línguas faladas na Índia, entre 16 idiomas oficiais, sendo que 17% falam inglês. Em Patna, a capital de Bihar, o casal diz que cerca de 200 mil pessoas – quase uma Ipatinga inteira – fazem naturalmente suas necessidades fisiológicas na rua, todos os dias, enquanto utilizam uma estação central de trem, isto com os olhares complacentes dos policiais. Por conta da sacralidade atribuída ao animal, a Índia tem em seus termos o maior rebanho bovino do mundo. Como não é permitido abatê-las dentro da cultura hindu, as vacas também contribuem para agravar a balbúrdia do trânsito e não é incomum que também entrem em lojas sem serem importunadas. Pelo contrário, quando assim fazem

compreende-se que estão ali para levar alguma bênção. A carne bovina é substituída usualmente pelas de cabrito, peixes e frangos. Contudo, cerca de 30% dos indianos são vegetarianos. Waltemir e Ana consideram que outro problema gravíssimo na Índia é a corrupção. E isto acontece até mesmo para facilitar o consumo de carnes proibidas por muçulmanos, por exemplo. Além disso, é séria a questão da separação de castas, embora oficialmente a estrutura tenha sido eliminada na Constituição de 1959. Desse modo, por mais que se esforcem, alguns jamais deixarão de ser varredores de rua ou limpadores de esgotos, pertencentes que são de castas mais rasteiras. O que de melhor Waltemir e Ana vêem na Índia é o sentimento de unidade na diversidade, assim como o amor à pátria. “Eles têm um profundo respeito por pessoas mais velhas e se tratam como membros de uma mesma família, apesar das diferenças. No caso masculino, chamam o semelhante de Bhay (irmão) ou de Bhaiya (irmão mais velho). As mulheres se tratam como Bahan (irmã) ou Didi (irmã mais velha), em hindi. A autoridade do professor em sala de aula é algo notável e ele tem licença até para disciplinar com punições corporais no caso de desrespeito. Não obstante o país tem o maior número de universida-

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TODOS TRABALHAM muito, mas sempre a partir das 10h, após cumprirem seu ritual religioso, que começa às 4 da madrugada

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des do mundo e os alunos normalmente são ambiciosos nos estudos, querem ser sempre os primeiros. Ao se saudarem, há também uma reverência impressionante entre as pessoas. O indiano abaixa-se diante do outro, toca no seu pé e na própria testa, simbolizando respeito”, conta o casal. Waltemir e Ana também consideram impressionante o ritual diário de busca espiritual dos nativos. “Às 9h da noite já não há mais movimentação na rua, mas às 4h ou 5h da manhã as cidades já estão despertas. Até dez horas da manhã, o tempo é ocupado com a religiosidade, e só então começa o trabalho que, aliás, é intenso, porque eles são muito dedicados aos seus afazeres”, relatam. Aí então as ruas se enchem de todo tipo de prestação de serviços. São barbeiros, sapateiros, vendedores e frutas e verduras, passadores de roupa, cabeleireiros, desentupidores de esgoto, e a competição é grande pelos fregueses. Muita gente também se ocupa de extrair barro do chão para moldar pequenos pires ou vasos que são usados para colocação de velas, assim como montam pratos descartáveis de folhas de árvores (numa bela prática de sustentabilidade, já que o plástico poluente, nesse caso, é substituído), com os quais comerão com as mãos, e sentados no chão, especialmente uma grande variedade de grãos.

Com tantos aspectos curiosos, não por acaso a Índia é visitada por mais de 4 milhões de turistas a cada ano. É também do país o título de maior exportador de suco de manga do mundo e 30% de todo o chá consumido no globo vem de lá. Quanto ao Brasil atual, Waltemir se diz alegre pelos avanços na fiscalização da política. Vê o brasileiro mais interessado em cobrar respostas dos governantes. Mas se entristece com a violência. “Nossa bandeira tem Ordem e Progresso. O país progrediu, mas sem ordem”, resume. Ana, por sua vez, dizia-se maravilhada com a cultura brasileira mas, de perto, “depois de ver melhor o que está acontecendo”, decepcionou-se um pouco. “Sinto que há muita falta de reverência dos adolescentes e também percebo que não poucos deixam de preservar seus corpos, enveredando-se prematuramente pela vida sexual”, avalia, para acrescentar, no entanto, que aprecia bastante o jeito caloroso e receptivo daqui, que ameniza suas saudades de casa. “Meu país é lindo – exalta Ana Chelu –, limpo, organizado, com muito espaço verde, um transporte mais seguro, mais barato, mais rápido. Também há muitos parques, bons lugares para sair, se divertir, patinar, praticar esportes”, enumera, num irrefreável acesso de nostalgia.

INDIANOS retornam de cerimônia de purificação no rio Falgu, em Bihar

CENA CHOCANTE: crianças se divertem inocentemente no esgoto

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PESSOAS VITORIOSAS

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As leis do triunfo Contratado por milionário, repórter pesquisou durante 20 anos até chegar a 16 regras básicas de todo empreendedor de sucesso

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No começo do século XX, um dos empresários mais bem-sucedidos dos Estados Unidos e o mais rico de seu tempo, o industrial do aço Andrew Carnegie (1835—1919) decidiu que queria saber quais eram os denominadores comuns entre todos os grandes homens de sucesso da época. Estava certo de que seria um trabalho longo, a ser executado em não menos que duas décadas. E, para isso, contratou o jovem repórter Napoleon Hill, um ex-menino pobre nascido na Virgínia, que viveu entre 1883 e 1970. Alguém que, conforme observação do próprio Carnegie, “tinha um brilho diferente nos olhos”. Por 20 anos, Napoleon Hill pesquisou sobre as 6

mil pessoas mais ricas e poderosas do mundo e descobriu o que elas tinham em comum. Hill não só as estudou como também entrevistou pessoalmente centenas delas, incluindo nomes como Thomas Edson, Graham Bell, George Eastman, Henry Ford, John Rockfeller, Theodore Roosevelt e Woodrow Wilson. O amplo resultado da pesquisa foi condensado em 16 leis básicas que todas as pessoas de grande sucesso seguiam, conscientemente ou não. Então, se você quer modelar alguns desses grandes nomes da humanidade, uma boa dica talvez seja tentar aplicar você mesmo todas essas 16 essenciais regras.

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gico impressionar o subconsciente da pessoa de tal maneira que ela aceita esse propósito como um lema, um projeto, uma “planta” que finalmente dominará as suas atividades na vida e a guiará, passo a passo, para a consecução desse objetivo. Sem ter um objetivo traçado, é muito complicado realizar alguma coisa.

ASSOCIAÇÃO COM OUTRAS PESSOAS COM O MESMO PERFIL DE PENSAMENTO

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A primeira lei revela que todos os grandes homens tiveram que se associar a outras pessoas para conseguir realizar os seus objetivos. Uma vez que todos compreenderam a interdependência, buscaram principalmente pessoas que seguiam uma mesma linha de pensamento. Assim, segundo Napoleon Hill, todos trabalhavam em ‘rapport’ com seus sócios. Napoleon Hill afirmava que a união de duas ou mais mentes gerava um todo que era maior do que a soma das partes, o que ele chamou de Master Mind – ou Mente Mestra. Sozinhos, nenhum deles teria conseguido o sucesso que conseguiu.

As pessoas de sucesso entrevistadas demonstravam grande confiança em seu potencial, segundo Napoleon Hill. Se não para resolver o problema, para saber quem chamar para resolver. A autoconfiança é essencial para quem quer empreender algo. Quem vai confiar um investimento em alguém que não demonstra segurança? Qual cliente vai comprar algo de alguém que duvida de si mesmo?

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CONFIANÇA EM SI PRÓPRIO

OBJETIVO PRINCIPAL DEFINIDO

ECONOMIA

Outro ponto que ficou bastante claro durante a pesquisa de Napoleon Hill foi que todas as pessoas que realizam seus sonhos tinham um objetivo principal claramente definido em suas mentes, muitas vezes ricos em detalhes. Muita gente diz que quer mudar de vida, mas quando são perguntadas o que realmente querem, se atrapalham para dizer. Sabem que não querem continuar do jeito que estão, mas não têm um objetivo claro de onde querem chegar, do que querem realmente mudar. O objetivo principal na vida deve ser escolhido com um grande cuidado e, depois de escolhido, deverá ser escrito e colocado num lugar onde se possa vê-lo pelo menos uma vez por dia. Isso tem por efeito psicoló-

A quarta lei das pessoas de sucesso identificada na pesquisa de Napoleon Hill é o hábito da economia. Em uma tradução mais moderna, podemos dizer que educação financeira é uma das regras essenciais para quem quer obter sucesso. Embora o dinheiro não seja a única ferramenta para medir o sucesso de uma pessoa, quando estamos falando de negócios e empresas (que era o caso da maioria dos entrevistados de Napoleon Hill), essa é sim a principal medida de sucesso. O estudo mostrou que os entrevistados sabiam controlar suas finanças e assim tinham sempre dinheiro para investir em oportunidades e para arriscar empreendimentos que, se não dessem certo, também não os iria deixar no meio da rua.

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NAPOLEON HILL “tinha um brilho diferente nos olhos”, identificou o ricaço que o contratou Na concepção de Hill, “não devemos ser 100% orientados a metas, contudo se não tivermos um lugar para onde ir, será difícil saber como chegar lá” “Cada vez que você falha, você descobre uma maneira de não realizar o seu objetivo” Hill pesquisou sobre as 6 mil pessoas mais ricas e poderosas do mundo Os entrevistados sabiam controlar suas finanças e assim tinham sempre dinheiro para investir em oportunidades

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INICIATIVA E LIDERANÇA

ENTUSIASMO

Um outro ponto bastante claro na pesquisa de Napoleon Hill foi o de que todos os entrevistados tinham um perfil de líder e não de seguidor. Todos tomaram a iniciativa de assumir o controle de suas próprias vidas, de empreender, de sair da mesmice e levar outros associados juntos no caminho. Embora algumas pessoas realmente não tenham o perfil de liderança, acredita-se que isso pode ser trabalhado e melhorado. Napoleon Hill afirma que para levar outras pessoas a trabalharem com você em uma iniciativa própria ou mesmo para convencer outros a comprarem seus serviços e produtos, é preciso demonstrar liderança.

Aqui chegamos a um ponto muito importante. Muita gente parece ter um desejo de mudar de vida, mas acaba não indo em frente. É como se faltasse o combustível para levar o carro adiante. Segundo a pesquisa encomendada por Andrew Carnegie a Napoleon Hill, esse combustível que move homens e mulheres rumo a grandes descobertas e empreendimentos é o entusiasmo. Grande parte dos maiores realizadores do mundo eram absolutamente apaixonados por seus objetivos principais definidos, a ponto de isso despertar neles grande entusiasmo para seguir em frente mesmo quando todas as condições pareciam adversas. Criar entusiasmo em si mesmo – literalmente viver com paixão – é um dos desafios mais intensos e prazerosos que você pode impor a si mesmo.

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IMAGINAÇÃO Pensar fora da caixa. Essa é a sexta lei do triunfo identificada por Napoleon Hill entre os homens bem-sucedidos que ele entrevistou. Boa parte deles precisou muitas vezes usar a imaginação para pensar em um negócio que não existia, para criar uma solução na qual ninguém pensou antes, para criar coisas novas. Existe uma série de técnicas para desenvolver a imaginação e a criatividade, mas o ponto principal para Napoleon Hill é você forçar-se a mudar suas rotinas de ações e pensamentos e não ter receio de experimentar coisas novas.

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AUTOCONTROLE O oitavo ponto bate muito com o quinto: ter autocontrole é, na verdade, ser o líder de si mesmo. É pensar no longo prazo, avaliar as consequências de cada ação, ter a ideia exata de que tudo o que você faz ou o aproxima ou o afasta do seu objetivo principal definido. Não ser escravo das tentações mundanas ou de estados alterados de consciência – como a embriaguez, por exemplo – é um passo essencial para quem quer estar no comando da própria vida.


PESSOAS VITORIOSAS

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HÁBITO DE FAZER MAIS DO QUE A OBRIGAÇÃO Segundo Napoleon Hill, existem dois tipos de pessoas que não vão para a frente: aquelas que não fazem o que lhes é pedido e aquelas que só fazem o que lhes é pedido. Se você quer se destacar em sua área de atuação, precisa criar o saudável hábito de andar a milha extra: sempre fazer mais do que lhe pedem, sempre fazer mais do que é obrigado a fazer. Do contrário, você será apenas uma pessoa mediana, igual a tantas outras.

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CONCENTRAÇÃO Esse ponto parece ser muito mais difícil hoje em dia do que na época em que a pesquisa de Napoleon Hill foi realizada. Isso porque hoje boa parte da humanidade sofre com distúrbios de déficit de atenção. As novas tecnologias e seus processos multitarefas nos oferecem tantas coisas que cada uma delas recebe apenas uma pequena fração da nossa atenção. O resultado são trabalhos mal-feitos, falta de foco, sensação de excesso de informação e um grande sentimento de frustração. A saída aqui é treinar a própria mente para pensar com exatidão. Técnicas de meditação e o hábito de lidar com apenas uma coisa de cada vez, com foco total, são úteis para esse tipo de treinamento.

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PERSONALIDADE ATRAENTE Os negócios são resultados diretos de interações humanas. Cultivar uma personalidade atraente é ser uma figura agradável, simpática, bem apresentada. Não estamos falando aqui de padrões de beleza e sim de comportamentos que o tornem uma companhia agradável para os outros. Existem pessoas que não fazem a menor questão de serem simpáticas. Elas estão no direito delas, porém para quem quer levar sua carreira a patamares mais altos, além de competência, é preciso ser uma companhia no mínimo agradável.

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PENSAR COM EXATIDÃO Ter foco é outra lei essencial para quem quer obter sucesso. Devemos aprender a dirigir os nossos pensamentos somente para os assuntos, fatos e informações que, de alguma forma, nos deixarão mais próximos de nosso objetivo principal definido. A meta é passar a raciocinar dedutivamente, apenas com base em fatos comprovadamente verdadeiros, que possuam importância real e que sejam úteis de alguma maneira.

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COOPERAÇÃO Além de se associar com pessoas com a mesma linha de pensamento, os homens de sucesso entendem que a cooperação é o melhor caminho para a realização pessoal e coletiva. Isso inclui ver os concorrentes apenas como outros players do mercado, não como inimigos. Significa ver os funcionários não como escravos, mas como pessoas que estão colaborando para tornar o seu sonho realidade. A cooperação deve se dar em todos os níveis, pensando não somente no interesse próprio, mas também no bem-estar das pessoas com quem você se relaciona.

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FRACASSO Como o fracasso pode ser uma das leis do sucesso? É simples: todas as pessoas que atingiram uma grande realização na vida, fracassaram algumas vezes antes. Na verdade, como diria Thomas Edson, aprenderam maneiras de “não inventar a lâmpada”. O fracasso deve ser visto como um grande aliado. Cada vez que você falha, você descobre uma maneira de não realizar o seu objetivo. Elimina um caminho. Continue fazendo isso até você achar a trilha ideal.

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PESSOAS VITORIOSAS Anthony Robbins em seus treinamentos pergunta: quantas vezes você deixaria o seu filho cair antes de desistir de ensiná-lo a andar? As pessoas respondem com simplicidade: ora, ele vai cair até conseguir andar. E aí está a fórmula mágica do sucesso! Não existe maneira de fracassar, apenas de aprender como não chegar lá.

a realização da meta. O momento em que você realiza o objetivo é muito fugaz perto de todo o caminho que você tem para percorrer até ele. Se você condicionar sua felicidade somente à realização dos objetivos, estará se condenando a uma vida triste.

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TOLERÂNCIA

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Para lidar com o fracasso, com as limitações de outras pessoas e as suas próprias, com as adversidades que a vida nos impõe, é preciso ter uma boa dose de tolerância e paciência. Você já deve ter percebido que não existe ninguém no mundo que consiga ter todas as coisas sob controle. Coisa que queremos não acontecem. Coisas que não queremos acontecem. O segredo é nos desapegar de querer controlar tudo e ter tolerância e paciência para ir acertando e errando até chegar onde queremos, seguindo sempre em frente. A maior recomendação que alguém que está buscando uma melhoria na qualidade de vida pode receber é a de aproveitar toda a jornada, não apenas

Carnegie começou a vida como catador de carretéis de linha ANDREW CARNEGIE: o primeiro empresário a declarar publicamente que os ricos têm a obrigação moral de repartir as suas fortunas acumuladas

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FAZER AOS OUTROS AQUILO QUE QUER QUE SEJA FEITO A VOCÊ MESMO Conhecida como A Regra de Ouro, essa lei é usada em grande parte das religiões e filosofias de vida já criadas no mundo. Se ela fosse realmente levada a sério, viveríamos um mundo bem melhor. No momento em que você percebe que somos todos – seres vivos e meio ambiente – uma única rede interdependente, que a ideia de eu como uma coisa distinta e independente nada mais é do que uma ilusão, aí temos uma grande oportunidade de nos libertarmos de padrões limitadores. Tratar as outras pessoas como a si mesmo é um passo importante para essa compreensão. A história de Andrew Carnegie, de origem escocesa, faz parte de um dos períodos mais profícuos da economia americana. Ele, que inicialmente ganhava a vida como catador de carretéis de linha, foi um dos maiores industriais do capitalismo norte-americano. Trabalhou desde menino e ainda jovem já tinha ambições de alcançar o topo. Falhou no início. No entanto, persistiu e conseguiu chegar ao ápice no mundo dos negócios. Considerado baixinho, com aproximadamente 1,60 m, falava com energia, tinha opiniões fortes, era provocador e de um raciocínio rápido para compreender o que lhe interessava. Sua ascensão é a fábula norte-americana clássica do homem que enriqueceu do nada. Contudo, era chamado de “barão ladrão” pela imprensa da época devido à sua capacidade de manipular a mente das pessoas. Era acusado ainda de desrespeitar seus empregados, os quais trabalhavam 84 horas semanais e as greves eram reprimidas com violência. Mas sempre se preocupou com a justiça social e pregou o exercício da filantropia. É tido como o primeiro empresário a declarar publicamente que os ricos têm a obrigação moral de repartir as suas fortunas acumuladas. Ao morrer, aos 82 anos, havia cumprido sua missão social doando em vida mais de 350 milhões de dólares.


ACONTECE

Delícias mineiras Quinze mil litros de leite foram utilizados para a produção do maior queijo minas do mundo, na quarta edição da Festa do Queijo em Ipanema, Minas Gerais. O município que já detinha o recorde de maior queijo minas padrão do Brasil, com 1.480 kg, este ano atingiu a marca de 1 tonelada e meia. E ainda serviu de acompanhamento aos participantes do evento um doce de leite gigante com mais de 250 quilos, distribuído em pedaços.

Crédito para elas Não é de hoje que as mulheres estão assumindo cargos de liderança, mas os números recentes da pesquisa “International Business Report 2013” – consultoria Grant Thornton, que entrevistou altos executivos de 12,5 mil empresas em 44 países, são impressionantes. No Brasil as mulheres ocupam hoje 23% dos cargos de presidência, vice-presidência e

diretorias. Ocupando cargos de CEO, o total subiu consideravelmente entre 2012 e 2013: de 9% para 14% em todo o mundo, e de 3% para 14% no Brasil. Destes números 27% estão nas diretorias financeiras e outras 27%, nas vendas, e 21% estão à frente da diretoria de operações. Cerca de 32% estão nas diretorias de recursos humanos.

Águas que atraem

Cidade sagrada

O diretor da rede de supermercados Odelot, Adalton Toledo, com os filhos Gustavo Henrique e Gabriel, respirando os ares de Machu Picchu, a “cidade perdida” dos Incas, no Peru. Curiosamente, apesar de edificado no século XV, o recanto hoje elevado à categoria de patrimônio mundial da UNESCO só foi efetivamente investigado a partir de 1911, por meio de uma expedição da Universidade de Yale, de New Haven, Connecticut, Estados Unidos. A tradução literal do lugar – a 2.400 metros de altitude – é “velha montanha” (uma descrição fácil de entender pelo cenário). A caminho de lá, uma viagem de trem que leva de três a quatro horas, com direito à contemplação de um cânion de tirar o fôlego, pelo vale do rio Urubamba. Em Machu Picchu, a 130 km de Cusco, antiga capital do império que, afinal, sucumbiu à invasão dos espanhóis, os templos, casas e cemitérios estão distribuídos de maneira organizada, abrindo ruas e aproveitando o espaço com escadarias. Segundo a história inca, tudo planejado para a passagem do deus sol.

O mergulho é uma das atividades mais procuradas por turistas que viajam pelo Brasil em busca de aventura. Os destinos mais procurados são Fernando de Noronha (PE), Paraty (RJ), Ilhabela (RJ), Bombinhas (SC) e Recife (PE). De acordo com o Ministério do Turismo, a aventura é o segundo principal motivo de viagens feitas a lazer por estrangeiros no país (21,3% da preferência). Em primeiro lugar está a procura por sol e praia (64,2%), de acordo com o último Estudo da Demanda Turística Internacional. A idade média do viajante aventureiro é de 34 anos e o tempo médio de viagem de aventura é de 7,5 dias, de acordo com dados da Adventure Roundup Research/Adventure Travel Trade Association.

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DITO E FEITO

Homens e Mulheres

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“Sofro cada vez que dou uma palestra ou recebo um prêmio. Fico com a mão fria, nervosa. Na adolescência, o trauma era outro. Eu era feia. Até os 16 não usei saia, achava minhas pernas feias. E só vestia camisas de mangas compridas porque achava os braços magros”. ANA PAULA PADRÃO, 48 anos, jornalista brasiliense, hoje na Record, ex-funcionária da Globo e SBT. Figura marcante na transmissão dos atentados de 11 de setembro, em 2001, nos Estados Unidos, casou-se no ano seguinte.

“Os grandes espíritos sempre tiveram que lutar contra a oposição feroz de mentes medíocres”. ALBERT EINSTEIN (1879—1955), físico teórico alemão, posteriormente radicado nos Estados Unidos, que desenvolveu a teoria da relatividade geral, um dos dois pilares da física moderna. Prêmio Nobel de Física de 1921, estava nos EUA quando Hitler chegou ao poder e não voltou ao seu país, onde tinha sido professor da Academia de Ciências de Berlim.

“Eu odiava cada minuto dos treinos, mas dizia para mim mesmo: Não desista! Sofra agora e viva o resto de sua vida como um campeão”. MUHAMMAD ALI, ex-Cassius Marcellus Clay Jr., 71 anos, campeão mundial de boxe norteamericano nascido no Kentucky. Foi eleito “O Desportista do Século” pela revista americana Sports Illustrated em 1999. Começou vencendo os Jogos Olímpicos de 1960. Único que suportou até hoje 12 assaltos com o maxilar quebrado.

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“O mundo precisa de atitudes, não de opiniões. Opinião nenhuma mata fome ou cura doença”. ANGELINA JOLIE, 38 anos, atriz de cinema e TV nascida em Los Angeles-EUA, promotora de causas humanitárias. Os pais, também atores, se separaram quando ela tinha um ano de idade. Em 2013, ficou em primeiro lugar no ranking das mais bem pagas de Hollywood, com 33 milhões de dólares.


FILMES/LIVROS

Vida financeira à prova de fracassos

Um filme para refletir

‘BOLSA BLINDADA’, de Patrícia Lages, é prefaciado por Renato e Cristiane Cardoso, autores do best-seller Casamento Blindado

65 Administrar as finanças pessoais não é nada fácil, ainda mais num país onde a realidade da maioria da população é de nem sequer saber o que é economia. Quantos pais não têm condição de dar um bolo de aniversário para o filho, mas fazem empréstimos absurdos no banco para dar a eles uma festa em buffet? Essas pessoas pintam um cenário falso, acreditando que viver nessa mentira vai fazer de seus filhos pessoas melhores. E pior: isso acontece por gerações e gerações! Com a tentativa de quebrar essa realidade brasileira e oferecer às pessoas orientações práticas para deixar a Bolsa Blindada, a especialista em finanças Patrícia Lages lança pela editora Thomas Nelson Brasil um livro de 105 páginas com esta abordagem. Patrícia Lages é jornalista com 20 anos de experiência na área de comunicação, em televisão e mídia impressa, tendo atuado no Brasil, Argentina, Inglaterra e Israel. Prefaciada por Renato e Cristiane Cardoso, autores do best-seller Casamento Blindado, a obra ensina de forma bem humorada artimanhas para que as mulheres sejam eficientes na administração do orçamento familiar – de como controlar o orçamento a como utilizar o cartão de crédito com consciência. O objetivo é fazer com que o leitor entenda, antes de mais nada, o que NÃO significa economia, para, a partir daí, poder entender o que de fato ela é. Cinco pontos básicos, segundo a autora, a maioria dos brasileiros ainda não sabe, que seriam os seguintes: • Economia não é pão-durismo. • Economia não é viver apertando o cinto. • Economia não é deixar de consumir. • Economia não é andar maltrapilho para juntar dinheiro. • Economia não é difícil.

Não espere uma comédia escancarada que motive risos em 100% do filme, mas em “O Julgamento do Diabo” você vai encontrar uma interessante abordagem sobre questões éticas, morais e religiosas com boas pitadas de humor. Alec Baldwin, além de atuar, dirige. Anthony Hopkins aparece sóbrio como sempre, e o “coisa ruim” está na pele da bela Jennifer Love Hewitt, que caprichou na sensualidade da personagem. Enfim, o filme deixa alguns toques do tipo “cuidado com o que desejas”, “fama e dinheiro são iguais a felicidade?” e por aí vai... É de 2007, mas nada de entender que é ultrapassado. Pelo contrário, as questões colocados continuam muito atuais. Um escritor fracassado vive em um sujo apartamento em Nova York e não tem sorte com as mulheres. Além disso, ele foi demitido da loja em que trabalhava. Ao voltar para casa, ele é assaltado e tem seu último e inédito romance roubado. Tudo está perdido até que o próprio Diabo aparece na figura de uma linda e sensual mulher e lhe oferece tudo o que ele nunca teve em troca de sua alma. Até ele perceber o grande erro, desenrolam-se muitos acontecimentos. E tudo converge para um julgamento pela alma do escritor, e uma batalha sobrenatural em pleno tribunal. Duração: 105 minutos

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HUMOR

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