Revista Atma 2ª Edição

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11 ONG SAIBA VIVER

ATMA ÍNDICE

12 ENTREVISTA • NILTON RESENDE CAPA 19 PATRICIA BONALDI

ESTAMPA EXCLUSIVA PARA A CAMISETA "SAIBA VIVER" 25 MODA • VERA TUYCHI 33 DIREITO • DRA. JUSSARA PEDROSA 38 NUTRIÇÃO • DRA THASSIANA CECÍLIO 42 SAÚDE PÚBLICA • DR MARZIO NETO 45 ODONTOLOGIA • DR FÁBIO DE AZEVEDO 46 CTA • MARIA CLARA VASCONCELOS CENTRO DE TESTAGEM E ACONSELHAMENTO

48 INFECTOLOGIA • DRA. CRISTINA HUEB 54 GABRIEL ESTRËLA -

SOROPOSITIVO QUER DIALOGAR SEM MEDO

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LUCINHA ARAÚJO MÃE DE CAZUZA - AIDS ESTÁ BANALIZADA

DEPOIMENTOS 63 IVO GOMES 66 LINDEMBERG REALINO BRAGA 72 CARLOS RODRIGUES 74 NEUROLOGIA • CLÁUDIO CRUVINEL 77 BEAUTY • KAYRONN PAIVA 83 CARDIOLOGIA • DR JOSÉ GERALDO

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ARQUITETURA - THAIS CURI, CARLOS HALLITE, ALÊ RÔSO, ELAINE FURTADO E CLÁUDIA RIBEIRO

SOLIDARIEDADE 96 ROSE PAOLINELLI, MONICA HIAL,

MÁRCIA CRISTINA, VERA TUYCHI E FÁDUA HUEB 108 FREDERICO TOMÁS EDUCAÇÃO SEXUAL É REALIDADE EM UBERABA 110 PSICOLOGIA• FORTALECIMENTO DO "EU" COMBATE DEPRESSÃO 112 GERAÇÃO Z

116 VALÉRIA PIASSA POLIZZI • DEPOIS DAQUELA VIAGEM

120 DR PAULO MESQUITA • PRIMEIRO CASO DE AIDS NO BRASIL

122 MARKITO FOI ACLAMADO MESTRE DA

MODA MODERNA NA DÉCADA DE 80

124 /138 GASTRONOMIA 126 AYURVEDA TRAZ GRANDES BENEFÍCIOS 125 YOGA PARA TODOS

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ATMA CARTA AO LEITOR

VIVER O BEM

Viver o bem não é apenas o slogan da revista ATMA, que chega à segunda edição agradecendo a você que confia no nosso trabalho, participa e faz parte deste projeto ao nosso lado. Viver o bem é a inspiração para esse novo conceito de informação tendo como foco a consciência solidária. Mergulhamos no tema HIV/Aids e descobrimos que há muito o que fazer para conscientizar as pessoas de que a doença mata e que a prevenção deve estar no topo das nossas atitudes. Ouvimos histórias que tocam fundo o coração e mostram o que acontece com a cabeça, a mente e o corpo de alguém que vive com o vírus. Há muita dor, muita tristeza, mas também há transformação para melhor, há garra, determinação para superar as adversidades e ainda encontrar forças para sorrir, viver, e amar! Dentro desse contexto também descobrimos pessoas que doam o seu tempo e até investem para dar um novo contorno à realidade, que muitas vezes é implacável, mas que pode ganhar outros ares com um sorriso, um afago, um abraço. Quem de nós está imune ao sofrimento? Ninguém! Por isso, a solidariedade é essencial. Se cada um fizer a sua parte, o pouco se transforma em muito e o muito pode virar tudo quando não se tem nada. Constatamos que o preconceito e a discriminação ainda estão muito presentes e que combater esses sentimentos hostis atrai positividade à vida. Você vai se surpreender, se emocionar, sorrir e, de repente, descobrir que pode e deve fazer parte desta corrente do bem! Boa leitura! 08 REVISTA ATMA


Fotos Francis Prado

ATMA EXPEDIENTE DIRETORIA ALÊ RÔSO ELISA ARAÚJO JACQUELINE POTENZA PROJETO GRÁFICO ARKA MARKETING CONTEMPORÂNEO DIREÇÃO DE ARTE/CRIAÇÃO MÁRCIA FONSECA CONTATOS PUBLICITÁRIOS KARINE GONÇALVES ALEXANDRE CURY THAÍS CURY MARKETING THAÍSA SAMPAIO PROJETOS/ RESPONSALIDADE SOCIAL GICELE GOMES PRODUÇÃO DE MODA DANI SALCI FOTOGRAFIAS FRANCIS PRADO EDITORA RESPONSÁVEL ROSE DUTRA - JP06415 MG rose.dutra2009@gmail.com COLABORADORES PATRÍCIA BONALDI, VÍTOR SOUSA, BABI MAGELA, EMPÓRIO ABREU, LETÍCIA FACHINELLI, KAYRONN CÉSAR PAIVA, GIOVANNA FRANGE MICHELE DORÇA, RICK PINHEIRO IMPRESSÃO GRÁFICA R&C 34 3336 5083 REVISTA ATMA É UMA PUBLICAÇÃO SEMESTRAL revista.atma@gmail.com 34 3322.6618

CAPA

PATRICIA BONALDI FOTOGRAFIA FRANCIS PRADO PRODUTORA DE MODA DANI SALCI REVISTA ATMA

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ATMA SAIBA VIVER

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ATMA SAIBA VIVER

ONG Saiba Viver atende 30 mil pessoas por ano A Associação de Apoio às Pessoas Vivendo com HIV (AAPVHIV), presidida por Nilton Resende, é a entidade beneficiada pela ação de responsabilidade social empresarial da segunda edição da Revista ATMA. Fundada em 16 de outubro de 2009, a Associação de Apoio às Pessoas Vivendo com HIV é uma instituição sem fins lucrativos, laica e apartidária, com caráter assistencial promocional, com sede provisória e foro em Uberaba (MG), situada na rua Silvério Cartafina, 356, no bairro Estados Unidos. É regida pela Lei 9.790/99, que regulamenta as atividades das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPS). A instituição atende mensalmente aproximadamente 100 pacientes de toda a região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, em um universo de 66 municípios, proporcionando apoio psicossocial, jurídico,

assistência social e encaminhamentos para tratamentos hospitalares e internações. Também atua junto aos moradores de rua e dependentes químicos como extensão de seu trabalho preventivo, atingindo uma população estimada de 30 mil pessoas/ano, tendo um atendimento direto na prevenção na ordem (em média) de 500 atendimentos/mês. Por meio de parcerias com as secretarias municipais de Saúde (CTA) e Desenvolvimento Social, a AAPVHIV integra o Conselho Municipal Antidrogas (Comad) e participa direta e indiretamente dos projetos e programas desenvolvidos por esses órgãos. É mantida com doações da comunidade e colaboração de seus associados. A diretoria é composta por 16 membros e seu corpo de voluntariado, entre apoio direto (corpo técnico e administrativo) e indireto, conta com 36 pessoas, totalizando 52 integrantes ativos que doam seu tempo e eficiência.

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ATMA ENTREVISTA

Apenas amor!

ONG quer reduzir em 50% o número de casos novos de HIV em Uberaba Quando você soube que estava com o vírus HIV? Em 2004, após uma crise de hipoglicemia. Eu trabalhava como enfermeiro particular na área de geriatria na casa dos pacientes. Detectei o vírus quando comecei a ter vertigens. Quando me ligaram dizendo que havia dado um problema e eu teria de repetir o exame, matei a charada, porque não sou bobo, era pra eu fazer de novo com o objetivo de confirmar o resultado.

Fotos Francis Prado

Você sempre pôde contar com o apoio da sua família? Sim, graças a Deus, sempre tive muito apoio da minha família. Meu pai é muito consciente, é um pai que ama o filho verdadeiramente. Ao contrário do que acontece com muitos, ele não me deu as costas. Ele me aceitou, me abraçou. A minha família me abraçou e os meus amigos também (a entrevista foi acompanhada pela amiga dele e voluntária da ONG, a cantora Aracelle Fernandes).

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patrão, ficou dois meses por aqui. E naquele período ele manteve relacionamentos diversos, inclusive em troca de dinheiro para comprar drogas. Ele era dependente químico, aliás, éramos, porque eu também fiz uso de drogas. O dinheiro que vinha ia, eu não dava valor. Mas isso é página virada na minha vida. Você adquiriu o vírus através do uso de seringa compartilhada? Não. Fui infectado por meio da relação sexual. Quando começamos estávamos imunes. Pela confiança deixamos de usar o preservativo. Sempre fui fiel, a vida toda e em todos os relacionamentos, e acreditava que ele também fosse. Quem ama confia, e eu amei muito, cheguei a dizer que se minha mãe precisasse do meu coração para sobreviver eu não daria, mas pra ele eu daria, porque eu morreria, mas ele ia viver sempre lembrando de mim, porque teria alguma coisa minha batendo nele. Ledo engano, porque o amor constrói, mas também destrói. E, hoje, o que eu falo nas minhas palestras é que mesmo as pessoas casadas que porventura tenham desconfiança em relação ao parceiro, devem usar o preservativo.

Parece que você já tinha uma ideia de que, de fato, poderia estar infectado. O que baseava essa sua impressão? No momento em que li o diagnóstico, tive um baque, mas ao mesmo tempo eu já estava meio Como é viver com HIV? que esperando. É que um antigo Para mim, hoje é normal. Eu relacionamento meu, durante uma acho que não saberia viver sem o viagem que fiz acompanhando um HIV mais, pois o vírus faz parte da


ATMA ENTREVISTA

Nilton Carlos Resende, 54 anos, que foi funcionário público municipal durante 25 anos e trabalhou como cuidador de idosos, hoje preside a Associação de Apoio às Pessoas Vivendo com HIV (AAPVHIV), fundada por ele em 2009, cinco anos depois de se descobrir soropositivo.

Extraoficialmente, eu digo que em Uberaba e região (27 municípios), até 10% da população pode ser de soropositivos que não sabem

minha vida há dez anos. Eu o domino e ajo. Nunca perco a esportiva. Hoje em dia faço uso de três medicamentos. Quando as pessoas ficam sabendo se afastam? Discriminam abertamente? Sim. Eu tinha muitos amigos. Hoje, posso contar nos dedos da mão. Fui empregado doméstico de uma amiga. Eu cuidava da filha dela, dava banho, fazia almoço, cuidava das finanças, arrumava a casa. Só não lavava e passava, o resto fazia tudo. No dia em que fui à casa dela e contei que sou soropositivo, tomei água e depois um café em um copo e o coloquei na pia para lavar. Ela se levantou imediatamente, pegou uma esponja do

lado áspero para lavar o copo. Não satisfeita ainda usou álcool para desinfetar o copo. Fui embora. Um ano depois nos encontramos casualmente e ela me perguntou por que eu sumi e eu disse que fiquei constrangido com o ato dela. Ela disse que não foi preconceito e me pediu desculpas. É claro que a desculpei. Notei que o sentimento continua, mas não deixei de ser amigo, no entanto, prefiro estar perto das pessoas que me aceitam. Você já perdeu alguém depois que começou o trabalho de prevenção? Sim. Uma amiga. O marido dela havia morrido há pouco tempo também devido à aids e desgostosa decidiu abandonar o tratamento e não resistiu. Mas, ganhei também. Temos um voluntário, que é show de bola, o Ivo Gomes, que profere palestras muito boas. Ele assume que é soropositivo e fala bem sobre prevenção. Ele é pintor de autos, está terminando de construir a casa dele e cursa o primeiro período da faculdade de Engenharia Civil. Há pessoas que abandonam o tratamento? Sim, a gente luta, encaminha, se empenha, mas, infelizmente, alguns abandonam a possibilidade de tratar a doença e manter uma boa qualidade de vida, simplesmente para não se expor. Há casos em que os soropositivos preferem correr o risco de morrer a fazer uso REVISTA ATMA 13


dos remédios e manter uma rotina de visitas aos médicos. Acredito que seja devido ao preconceito. Dentro da empresa talvez. Em meio a todos esses acontecimentos, você voltou a amar? Estou fechado para o amor. Meu amor é a Mel, essa cadelinha linda aqui. Ela não vai me pedir o que eu não posso dar. Ela só quer amor e amor eu tenho de sobra. Ela é a minha vida! Quando sinto falta, tomo um banho, relaxo, me distraio. Quando não se está com quem queremos, às vezes ficar sozinho é melhor. Gostoso é sentar num bar e, de repente, se surgir um flerte, será bacana, mas não estou

Ao contrário do que acontece com muitos, meu pai não me deu as costas. A minha família me abraçou

ATMA ENTREVISTA

à procura. Agora, estou preparado para cuidar da associação e para estar com os meus amigos. Como você se define? Sou filho de Deus, sou cristão. Tenho muita fé. Deus está em qualquer lugar, qualquer hora, não depende de religião. Leio muitos livros espíritas. Dependendo da maneira que a gente procura pelo Pai, se procuramos com amor e fé Ele vai nos dar a mão. Pode demorar, mas vem. Você já teve medo de morrer? Não, nunca! Estou preparado para morrer a qualquer hora. Estou aqui emprestado, cumprindo um plano de Deus. Quando chegar a hora, é a hora. Eu gostaria é que as pessoas não dessem as costas para quem vive com HIV. A rejeição é muito triste. Temos de aproveitar a oportunidade para fazer o bem verdadeiramente. O que eu não quero para mim não desejo pra ninguém.

Como começou a sua história com a ONG? Logo que me descobri soropositivo. Sempre pensei em fazer um trabalho de prevenção. Coincidentemente, em 2004, o meu médico na época sugeriu que eu fundasse uma instituição. Depois, chegou uma coordenadora para o CTA, que quando me viu "brigando" por direitos, me convidou para fazer o mesmo. Disse que eu seria a pessoa ideal para fundar uma ONG de apoio aos soropositivos em Uberaba. Perguntei como eu faria e ela disse que me colocaria em contato com uma pessoa que tinha um sonho de criar uma instituição para apoiar as pessoas vivendo com HIV na cidade. A Ivone (Aparecida Vieira da Silva), do Hospital do Pênfigo, que é um ser humano maravilhoso. Na época, ela trabalhava na DIP. Fizemos reunião, da qual participou também a Vera Lúcia dos Santos, hoje nossa diretora financeira. Em que ano a ONG foi criada? Em 2009. Começamos o trabalho de prevenção em locais de maior incidência e também nas boates. Não tínhamos materiais, mas fazíamos o boca a boca mesmo. Trabalhamos como podíamos. Com assinatura da coordenadora do CTA, agora nós participamos de um projeto que poderá trazer verba que nos permitirá desenvolver melhor o nosso trabalho. Com o apoio da Revista ATMA, durante a feijoada que lançou o início da captação de recursos para ajudar a nossa ONG, o prefeito Paulo Piau assinou a doação de área para construirmos a nossa sede. pria?

O que terá na sede pró-

Teremos um Centro de Apoio e Convivência. Pensamos em servir REVISTA ATMA

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ATMA ENTREVISTA

Quando você e demais voluntários chegam para fazer o trabalho de conscientização, como são recebidos? Com certo receio. Eu digo que estou ali para ajudá-los, porque já passei pelo que eles estão passando. Se atingirmos o público formado por dependentes químicos, nós conseguiremos reduzir a transmissão do vírus porque muitos estão por aí vendendo o corpo em troca de R$ 10, R$15 para comprar droga. Fico triste com isso. Alguns dizem que estão há décadas nessa vida de drogadição e eu digo que se eu saí eles também conseguirão. O nosso trabalho também é para quem não tem o HIV, para que venham como voluntários para nos ajudar a desenvolver as ações da ONG. À medida que a associação vai crescendo o corpo de voluntários vai ficando pequeno. Quantas pessoas são atendidas pela ONG? Temos como associados não pagantes aproximadamente 500 cadastrados. Envolvendo outros municípios atingimos uma população estimada em 30 mil pessoas/ano, tendo um atendimento direto na prevenção na ordem (em média) de 500

atendimentos/mês. Apesar da evolução da medicina, a aids ainda não tem cura e as pessoas que têm o vírus não aparentam que têm. Às vezes elas nem sabem. Há grande índice de contaminação de mulheres e homens que optam por procurar parceiros desconhecidos para satisfazer as suas fantasias sexuais. Existe uma estimativa do número de infectados em Uberaba? Na região, incluindo Uberaba e 27 municípios da Regional, cerca de 1,5 mil fazem acompanhamento médico em decorrência da contaminação pelo vírus HIV. Extraoficialmente, eu digo que em Uberaba e região (27 municípios), até 10% da população pode incluir

As pessoas casadas que tenham desconfiança em relação ao parceiro, devem usar preservativo

café da manhã e até almoço, além de promover atividades de lazer. O projeto prevê também a instalação de uma Clínica de Sorologia para desafogar o Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Fazemos prevenção por meio de palestras, distribuição de preservativos, e há dois projetos que começam agora por meio do Conselho Municipal Antidrogas (Comad). Há grandes artistas que fazem shows para deduzir do imposto de renda. Como Oscip, podemos pensar nisso e já temos três nomes na nossa lista.

soropositivos que não sabem da sua condição. Sugiro a quem manteve relação sexual sem preservativo a fazer o teste. Quem não sabe que está com o vírus, pode transmitir e se contaminar novamente. Qual é o seu sonho? Meu sonho é construir a sede da associação, fazer a primeira palestra lá dentro. Vai ter anfiteatro, cozinha industrial, alojamento

para 28 pessoas, alas masculina e feminina com mãe social, enfermaria, consultório odontológico, psiquiatria, infectologia. Quero trabalhar também com as universidades. Precisamos de um lugar de convívio para que os soropositivos possam interagir, trocar ideia sobre medicação, qualidade de vida, o que podem fazer para um amanhã melhor. Quero colocar também uma sala, onde funcionará um teatro com cadeira móvel e no local realizar oficinas de computação, por exemplo, visando a qualificar as pessoas para voltar ao mercado de trabalho. ATMA – Como você recebeu o convite para que a ONG que preside seja beneficiada pela ação de responsabilidade social da revista ATMA? Nilton Resende - Com muita emoção. Sem palavras! Tudo o que eu disser não será suficiente para expressar o que estamos vivenciando. Nossa associação começa a ter mais visibilidade, o nosso trabalho está ficando mais conhecido e, com isso, mostramos as ações que desenvolvemos. A consequência principal é a consolidação da credibilidade da ONG. Estou muito feliz de conceder esta entrevista, de dar o meu depoimento como soropositivo e de poder falar da associação. Começamos a ver a população de Uberaba nos ajudar e sonho que ela continue contribuindo para construirmos a sede própria da ONG. Acho que com o trabalho que estamos desenvolvendo, com tudo o que está acontecendo agora, num futuro próximo Uberaba vai se sobressair muito quanto à prevenção do HIV. Tenho certeza de que podemos contribuir para a queda de pelo menos 50% no número de novos casos. REVISTA ATMA 15




ATMA CAPA

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Patricia Bonaldi Patricia Bonaldi é a estilista que está entre as preferidas das celebridades do Brasil e também do exterior. Há 13 anos no mercado, a sua trajetória é cheia de sucesso. Suas criações estão no visual das famosas e também nas araras dos stylists de novela. Nascida no interior goiano, Patricia se mudou ainda criança com a família para Uberlândia, onde iniciou sua inserção no mundo da moda e onde mantém uma de suas três lojas próprias. Estão no rol de clientes de seu atelier, Marina Ruy Barbosa, Lala Rudge, Thassia Naves, Alessandra Ambrosio, Angélica, Helena Bordon, Claudia Leitte, Ivete Sangalo, entre outras. Nicki Minaj é mais uma starlet a aderir à moda brasileira. A cantora apostou em um vestido Patricia Bonaldi para sua participação no “Good Morning America”. Shakira é outra habituè das criações da estilista que por ter morado há muito tempo na cidade do Triângulo, é chamada de estilista mineira. O boom de sua trilha fashion começou quando as clientes queriam usar as roupas que criava para ela. Convidada pela revista ATMA, Patricia aceitou criar a estampa da camiseta, que é a ação de responsabilidade social dessa publicação. A camiseta será vendida e a renda revertida para a Associação de Apoio às Pessoas Vivendo com HIV (AAPVHIV). "Estou muito feliz em participar de uma ação tão bacana."

ESTAMPA EXCLUSIVA para a camiseta "Saiba Viver" REVISTA ATMA 19


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Como foi o seu encontro com a moda? Quando descobriu que essa era a sua vibe? Há quantos anos atua no mercado? Eu sempre criei minhas próprias roupas a partir da adolescência. Quando voltei do período que morei no Japão, tinha que abrir um negócio próprio então resolvi abrir uma loja multimarcas. Este foi meu primeiro contato com a moda. Foi há 13 anos. O que startou a grife Patrícia Bonaldi, que exibe a sua habilidade para combinar tecidos de qualidade, detalhes luminosos, originalidade e sofisticação? Logo depois que abri minha loja multimarcas, percebi que as clientes queriam usar as peças que

eu criava pra mim. Naquele momento, comecei a criar peças sob medida, e em seguida comecei a criar em forma de coleções. Foi aí que surgiu a Patricia Bonaldi. Com a PatBo você quis atingir perfil mais jovem e fashion com peças mais casuais? Não vejo como uma mulher mais jovem. Vejo como a mesma mulher que veste Patricia Bonaldi, mas que não está indo a um evento onde o traje seja longo ou tão formal. A PatBo foi a forma que encontrei para estar no armário do dia a dia das mulheres. Como as duas grifes chegaram ao figurino das atrizes de novelas, inclusive globais? Foi um movimento natural. Quando minhas roupas começaram a aparecer nas festas, acredito que em algum momento chamaram a atenção das atrizes, que acabam frequentando muitos eventos como eses. As atrizes foram responsáveis por mostrar meu trabalho aos stylists de novela. A partir daí uma coisa alimentou a outra.

Responsabilidade Social

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Além de atrizes, suas grifes são sempre as preferidas das mais belas e elegantes celebridades de faixas etárias bem diversificadas. Quando e como você as conquistou? Acredito que como faço roupa para todo tipo de mulher, pensando sempre no que valoriza o corpo, no que sinto que as pessoas querem, este caminho foi natural. Fico feliz quando ouço que as minhas peças, quando vestidas, deixam alguém se sentindo especial. Você esperava esse boom todo e que suas roupas agradariam até a mercados exigentes como a Europa, a Rússia e o Oriente Médio? Eu sempre trabalhei para fazer algo em que acreditava ser especial e que agradasse o máximo de mulheres. O trabalho no internacional foi de prospecção, passo a passo. Ainda temos muito a fazer fora do Brasil. A sede de sua empresa permanece em Uberlândia? No início havia apenas um ponto de venda. Quantos são hoje? Fotos Francis Prado

Você nasceu no interior de Goiás e mudou-se logo na infância para Uberlândia. O que a trouxe para terras mineiras? Minha mãe sempre gostou de Uberlândia, e em certo momento, resolveu que era lá que gostaria de morar.


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Estilo & Elegância A sede permanece em Uberlândia, mas alguns departamentos como estilo, marketing e comercial já têm a maior parte da estrutura em São Paulo. Sobre os pontos de venda, temos três lojas próprias, duas em São Paulo e uma em Uberlândia. Você já foi chamada de papisa da moda e dos negócios. O que acha disso? Não posso concordar (rs). É um título muito pretensioso. Prefiro não pensar em nomenclaturas ou títulos. Faço pensando no prazer que tenho em criar, em construir algo para as pessoas.

Foram dois motivos. Primeiro porque acredito que precisamos incentivar a manutenção das profissões de ofício. Hoje em dia são funções muito desvalorizadas, mas que eu sou apaixonada. Acho que bordar ou costurar são artes e que precisam ser ensinadas. Ao mesmo tempo que me satisfazia neste sentido, quando eu ensino alguém a bordar, eu consigo desenvolver talentos para possivelmente tê-las como mão de obra na minha fábrica, no fim de tudo gerando empregos ao meu redor.

Você começou muito cedo a exercer a chamada responsabilidade social empresarial, quando decidiu ofertar cursos para pessoas da comunidade com aulas gratuitas para a formação e qualificação de mão de obra. O que a motivou a tomar essa iniciativa?

Por que aceitou o convite para assinar a camiseta da Revista ATMA, ação de responsabilidade social da publicação que nesta edição trata sobre HIV/aids? A aids é uma doença que ainda causa muita dor a quem tem a doença e às pessoas que convivem com elas. Foi a forma que encontrei de utilizar meu trabalho e minha imagem para fazer algo pelas pessoas.

Como se sente em estampar a capa de uma revista que não é apenas de moda, mas com foco na vida? Estou muito feliz em participar de uma ação tão bacana com um cunho social de dar apoio a pessoas que sofrem com uma doença que ainda causa muita tristeza, não só para os doentes como para todos ao redor. É um prazer ainda maior estar em uma capa que pode ajudar pessoas.

Qual é a sua opinião a respeito de publicações como a ATMA, que propõem mais do que belas fotos, mas também conteúdo que tem a superação como destaque? Um trabalho como este é de extrema importância. Informação ajuda muita gente a descobrir enfermidades e procurar tratamento. Se todos conseguirmos fazer a nossa parte, como vocês fazem, conseguiremos melhorar a vida de todos.

Você é ainda bem jovem e tem uma incontestável trajetória de sucesso, com nome cravado entre os bons designers de moda em nível internacional, com presença nas principais semanas de moda do Brasil e do exterior. O que ainda almeja? Ainda tenho muitos desafios relacionados à minha atuação no mercado internacional. Ainda preciso consolidar as marcas, apresentá-las aos países, abrir mais pontos de venda. No Brasil o desafio sempre existe, pois quero sempre me reinventar para atender à mulher brasileira que está sempre mudando. REVISTA ATMA

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ATMA RESPEITO

"Ser um homem feminino Não fere o meu lado masculino Se Deus é menina e menino Sou Masculino e Feminino... Olhei tudo que aprendi E um belo dia eu vi..." Pepeu Gomes

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Foto Francis Prado

ATMA RESPEITO

DANILO GOMES E RAFAEL BRAGA CAMILA FERNANDA E LETÍCIA CASSINO GUILHERME DAHAS E TÃNATA GARCIA

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FICHA TÉCNICA

BAILARINOS MICHELLE DORÇA E RICKY PINHEIRO MAKE UP JÉSSICA CIABOTTI HAIR JÚNIOR SAYORO PRODUÇÃO DE MODA E STYLING DANI SALCI FOTOGRAFIA FRANCIS PRADO ROUPAS VERA TUYCHI

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VERA TUYCHI RUA IRMテグ AFONSO, 37 | CENTRO UBERABA - MG | (34) 3312-0931

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VIDA POSITIVA Lei pune com reclusão quem discrimina soropositivos

Assistência

Ao receber o resultado positivo do diagnóstico de HIV, além do médico para iniciar os cuidados para o tratamento da doença, Jussara recomenda que a pessoa procure, também, o Serviço de Assistência Ambulatorial Especializado em HIV/Aids, tendo em vista que os profissionais que compõem a equipe de tal serviço oferecem assistência, prevenção e/ou tratamento direcionado aos pacientes portadores da doença. Com o auxílio desse serviço, segundo ela, é possível obter consultas com médicos especializados na área, acompanhamento de profissionais de enfermagem, fisioterapia, nutrição, psicologia, assistência social, dentre outros que se fizerem necessários para tratamento da enfermidade.

Disciplina

Ao buscar ajuda desses profissionais, a professora acredita que o paciente pode aprender a conviver com sua condição, receber medicamentos gratuitamente, além de obter conselhos para a melhora de sua qualidade de vida, a fim de diminuir riscos que comprometam o seu bem-estar, os quais possam vir a comprometer e debilitar sua saúde. A professora observa que o impacto na vida da pessoa que recebe a notícia do diagnóstico positivo gera diversas reações, que vão do desespero, ao choro, medo, silêncio, ansiedade sensação de não saber o que fazer, dentre outros sentimentos. Ela diz que a intervenção psicológica, tanto durante o período de descoberta da soropositividade, quanto durante o período de adaptação à sua nova condição, é de extrema importância. É imprescindível, também, acrescenta, que a pessoa procure um grupo de autoajuda, como exemplo, uma ONG, para que não deixe que essas reações iniciais mudem a sua vida e o levem ao isolamento.

Discriminar o soropositivo e o doente de aids em razão de sua condição ou tratá-los com preconceito pode resultar em pena de reclusão de até quatro anos e multa. A afirmação é da advogada Jussara Melo Pedrosa, professora universitária, mestre e pós-graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Ela sugere que a pessoa procure um grupo de autoajuda, uma ONG de apoio aos soropositivos, onde eles podem obter gratuitamente informações sobre legislação e aids, e até acompanhamento das ações judiciais, se surgirem. Jussara faz alguns esclarecimentos sobre os direitos dos soropositivos, entre eles o saque integral do FGTS e até aposentadoria por invalidez desde que comprovada a sua capacidade laboral pela Perícia do INSS.

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Lei

Mesmo depois do avanço da medicina, que tem prolongado a vida dos soropositivos, no Brasil, segundo Jussara, há legislação específica para garantir direitos referentes a atendimento, tratamento e medicamentos gratuitos; sigilo sobre a sua condição sorológica; vedação do exame de aids no teste admissional; permanência no trabalho; dentre outros benefícios. Há lei que puna condutas discriminatórias contra a pessoa vivendo com HIV ou doente de aids. Jussara comenta que no dia 2 de junho de 2014, entrou em vigor a Lei nº 12.984/14, que tipifica a conduta de discriminar o soropositivo e o doente de aids em razão de sua condição, punindo tais práticas com a pena de reclusão de um a quatro anos e multa.

Acompanhamento

A professora conta que existem instituições que recebem denúncias, assessoram vítimas de discriminação e preconceito, fornecem informações sobre legislação e aids, além de garantirem o devido acompanhamento das ações judiciais, quando necessário. O atendimento nas assessorias jurídicas é gratuito. No Triângulo Mineiro, diz que são a Associação de Apoio às Pessoas Vivendo com HIV (AAPVHIV), situada em Uberaba, e a Associação Homossexual de Ajuda Mútua - SHANA, situada na cidade de Uberlândia.

Reclusão

Os autores serão punidos com até quatro anos de prisão, de acordo com o art. 1º da Lei 34 REVISTA ATMA

12.984/14, que prevê: “Constitui crime punível com reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, as seguintes condutas discriminatórias contra o portador do HIV e o doente de aids, [...]”. Ela observa que o conjunto probatório é relevante e constitui-se como alicerce para a denúncia.

+ Direitos

FGTS

O soropositivo pode fazer o saque integral do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) em razão de doença grave, como o HIV/ aids. O inciso II do artigo 1º da Lei nº 7.670/88 prevê a possibilidade do levantamento dos depósitos do FGTS independente de ruptura do contrato para os portadores da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Para tanto, deverão apresentar documento de identificação, número de inscrição PIS/PASEP/NIS, Carteira de Trabalho, o atestado médico fornecido pelo profissional que acompanha o tratamento do paciente.

Isenção IR

A pessoa diagnosticada com aids pode receber os valores, em razão de aposentadoria, reforma ou pensão, isentos de imposto de renda. De acordo com Jussara, os rendimentos provenientes de aposentadoria, reforma ou pensão, recebidos pelos portadores de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, ainda que acumuladamente, não sofrem a tributação do imposto de renda. Para reconhecimento de isenção, a pessoa deverá procurar o órgão responsável pelo pagamento da sua aposentadoria, pensão ou reforma e requerer a isenção do imposto de renda que incide sobre esses rendimentos.

Auxílio-doença

A pessoa portadora da doença terá direito ao benefício do auxílio-doença sem a necessidade de cumprir o prazo mínimo de carência de contribuição, desde que tenha a qualidade de segurado. Somente deixará de receber o benefício quando recuperar a capacidade de retornar às suas atividades laborais ou quando o benefício se transforma no benefício da aposentadoria por invalidez.


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Aposentadoria por invalidez

Foto Divulgação

O portador da doença também terá direito ao benefício da aposentadoria por invalidez, de acordo com perícia médica de dois em dois anos, caso contrário, o benefício será suspenso. Para ter direito ao benefício, a pessoa deverá ter contribuído para a Previdência Social no mínimo doze meses, em caso de doença.

Transporte

Alguns estados concedem a isenção do pagamento no transporte coletivo intermunicipal para as pessoas portadoras da doença, tendo assim legislação específica para cada Estado da federação. Da mesma forma, alguns municípios possuem legislação que isenta o pagamento de transporte público municipal, por isso a observância da lei deverá ser verificada na localidade de interesse.

Prestação continuada

Se o portador de HIV não for segurado do Regime Geral da Previdência Social e esteja incapacitado para o trabalho, com renda familiar inferior a 1/4 do salário mínimo, tem direito ao Benefício de Prestação Continuada (a garantia de um salário mínimo de benefício mensal). Para recebê-lo, deve dirigir-se ao posto do INSS mais próximo e comprovar sua situação. Tal comprovação pode ser feita com apresentação de Laudo de Avaliação (perícia médica do INSS ou equipe multiprofissional do Sistema Único de Saúde).

Dra. Jussara Melo Pedrosa

é formada em Direito pela FiubeFaculdades Integradas de Uberaba, atual Uniube, no ano de 1985. Pós-graduada em Direito Privado pela Universidade de Uberaba (1999). Pós-graduada em Direito Público pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1998). Mestre em Direito Privado pela Universidade de Franca (2002). Professora licenciada da Fundação Presidente Antônio Carlos de Uberaba e da Faculdade de Ciências Econômicas do Triângulo Mineiro. Desde 1.992 é professora da Universidade de Uberaba (Uniube) das disciplinas Direito do Trabalho e Estudos Integrados em Direito Trabalhista. É membro julgador da 6ª Turma do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB/MG.

Saque PIS/Pasep

O pagamento do PIS é de responsabilidade da Caixa e o pagamento do Pasep é feito pelo Banco do Brasil. Para o saque, os portadores da doença deverão procurar as referidas instituições financeiras.

Isenções

Alguns municípios isentam os portadores de HIV do pagamento de IPTU, assim, os interessados deverão se informar na prefeitura da cidade onde residem. É possível a quitação de imóvel financiado, se o portador apresentar quadro de invalidez total e permanente, causado pela doença; e impossibilidade financeira de arcar com as despesas. Deverá, desse modo, o portador da doença procurar um advogado especializado na área para orientação das medidas cabíveis. Dependendo do Estado, há isenção de ICMS, IPI e IPVA, para os portadores de HIV que apresentam deficiência física nos membros inferiores e superiores na compra de veículo adaptado. O portador da doença deverá procurar os órgãos competentes para obter as informações sobre o procedimento para a isenção. REVISTA ATMA

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ATMA NUTRIÇÃO

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

“A gente é o que a gente come”. A frase não é um clichê. De acordo com a nutricionista Thassiana Cecílio Motta Martinelli, especialista em Interdisciplinaridade em Terapia Nutricional, a alimentação saudável é essencial para que todos, indistintamente, tenham melhor qualidade de vida. Para quem tem sorologia positiva de HIV ou com a doença já manifestada, os cuidados devem ser redobrados para protegê-los quanto às chamadas infecções oportunistas. A nutricionista destrói alguns mitos, como a contraindicação da carne de porco, bem como alerta para a oferta indiscriminada de produtos que nem sempre são o que propagam. Confira!

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Fotos Francis Prado

afasta risco de infecções oportunistas

A nutricionista Thassiana Cecílio frisa que a alimentação correta também ajuda no tratamento da lipodistrofia, um dos efeitos colaterais do uso de antirretrovirais

A alimentação é sempre o topo de tudo. Na lista de cuidados do soropositivo a alimentação também ocupa um lugar importante? Sem dúvida! Hoje em dia a gente sabe que com o uso da carga de antirretrovirais, que é pesada, a pessoa com HIV ou mesmo já com a doença manifestada, consegue controlar bem a patologia, em relação ao que era antigamente. Um

efeito colateral dessa carga grande de antirretrovirais é uma lipodistrofia, questões que aparecem trazendo uma hipercolesterolemia sanguínea que pode progredir para alterações físicas. Pacientes que têm como se fosse um pequeno culote em volta do pescoço. É uma deformação física, mas só perceptível por quem conhece o histórico da doença. Por isso, quanto mais cedo for diagnosticado o HIV posi-


As infecções repetitivas são a maior e a pior consequência da doença e nesta questão entra como fundamental o acompanhamento nutricional

tivo, mais cedo a pessoa começa o tratamento, o que permite a ela ter uma vida regular. As infecções repetitivas são a maior e a pior consequência da doença e nesta questão entra como fundamental o acompanhamento nutricional. Há alimentos específicos para quem vive com HIV/Aids? De uma maneira geral, é uma alimentação balanceada. A pessoa deve ingerir uma quantidade correta de proteína, de carboidrato e de gordura, que são os macronutrientes. Dentro dessa adequação, o ideal é que seja personalizado, ou seja, o cálculo individualizado e definir quantos gramas o paciente precisa ingerir de proteína, carboidrato e lipídeo, dentro desta última, que são as gorduras, é preciso ter uma alimentação voltada para o tratamento da hipercolesterolemia.

ATMA NUTRIÇÃO trole maior em relação às gorduras saturadas, que são os alimentos de origem animal. Ter um controle com referência à carne vermelha. Existe uma sequência das que têm mais e menos gordura. A carne de carneiro, por exemplo, é a que mais contém gordura saturada. As carnes de primeira, patinho coxão mole, são magras em comparação com a alcatra. Quando forem usar a carne vermelha, que seja magra. Dentro do cardápio geral, se formos pontuar por semana, ele deve ter menor número de vezes carne vermelha e em maior número as carnes brancas. Uma vez por semana, vermelha e nos demais dias brancas, quando podem incluir o frango sem pele, porque a pele traz carga grande de colesterol; o peixe magro e o lombo de porco. Muitos dizem que a carne de porco é contraindicada na maioria das circunstâncias... Depende. Ela será contraindicada se for uma carne gorda, como pernil, costelinha, mas se for magra como a do lombo é considerada até melhor indicada do que a vermelha. Em todos esses casos, é importante que a dieta seja individualizada, ou seja, o que pode ser bom para um paciente, para outro pode não ser? As indicações de reduzir a gordura saturada e usar carne vermelha apenas uma vez por semana, podem ser generalizadas, porque isso é conduta. Agora, em

termos de valor calórico, quantidade proteica e outras, de preferência que seja individualizada. Que outros cuidados são necessários com relação aos alimentos de origem animal? Com os lácteos, sempre queijo e leite magros. Para quem ama comer pãozinho com manteiga, é importante substituir a manteiga pela margarina. A questão do óleo, alguns ficam em dúvida. Ainda dentro do grupo de alimentos, o óleo de soja contém ômega6, que é um protetor para o tratamento da hipercolesterolemia. Depende da situação financeira da pessoa, se ela puder comprar óleo mais rico em ômega3, de linhaça ou de canola, melhor. Mas se não puder, que use o óleo de soja em quantidade diminuta. Comida que brilha não é boa, não é saudável para ninguém. E quanto ao grupo dos carboidratos? Como deve ser o procedimento? O cereal de uma maneira geral, quanto mais integral, melhor. É interessante substituir o arroz branco pelo arroz integral, o pão branco pelo pão integral. Isso au-

Como é esse controle para evitar ou tratar a hipercolesterolemia? É um tratamento convencional em que você precisa ter um conREVISTA ATMA

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ATMA NUTRIÇÃO menta a quantidade de fibras e as fibras são um coadjuvante para o tratamento do colesterol. Que outros alimentos são bons para o tratamento do colesterol? As hortaliças. Hortaliças de folha verde que têm talo, e que de preferência sejam ingeridas cruas, são bem ricas em fibras insolúveis e importantes para ajudar no tratamento do colesterol. A dieta do HIV positivo ou que já estejam com a doença instalada deve ser rica em hortaliças e frutas ricas em vitamina C. As frutas amarelas, avermelhadas, alaranjadas, como cenoura, beterraba, laranja, além de conterem muita vitamina C também têm muita vitamina A, contendo os fitosteróis e os carotenoides, que são auxiliadores na melhora da imunidade. É uma alimentação balanceada, não tem novidade aos nossos olhos. Parece simples, mas percebe-se que há certa resistência da maioria das pessoas, não é? Lamentavelmente as pessoas nem sempre a adotam. E nem precisa ser uma alimentação cara. O nosso arroz com feijão, a carne, que é a alimentação básica do brasileiro, e acrescentar a verdura e a fruta. Às vezes as pessoas gastam muito dinheiro com outras coisas, que são até mais caras em termos de alimento industrializado. Que deixem para gastar tudo num sacolão. No cardápio ideal deve ter pelo menos quatro frutas/dia, arroz, feijão e carne (vermelha uma vez por semana e branca nos demais) e hortaliças. Pode-se dizer que essa mudança de hábito ajudará bastante o paciente? Os antirretrovirais cobrem a pessoa dessa parte, a não ser que 40 REVISTA ATMA

a doença já esteja instalada e o paciente não tenha acompanhamento nenhum, qualquer doença infecciosa é uma doença oportunista para esse grupo de pessoas. Mas o próprio antirretroviral protege, ele trata para que haja diminuição da carga de CD4. Ela diminui quando há um processo infeccioso em qualquer um de nós. A alimentação entra para favorecer o tratamento. Como conscientizar as pessoas a manterem uma alimentação balanceada, independentemente da sorologia positiva de aids? Felizmente, hoje em dia a gente fala um pouco mais de alimentação, de nutrição. É falar. Ajudar as pessoas, esclarecendo, por isso que essa revista é tão importante. É esclarecer com informações reais, porque atualmente em nutrição há muito mito. Há muita coisa associada ao mercantilismo, à busca do dinheiro pura e simplesmente. Há quem esteja vendendo apenas para ganhar dinheiro e as pessoas que compram acham que estão comprando saúde, porque estão mal informadas. É preciso tomar cuidado. É um trabalho de formiguinha. Quando as pessoas optam por adotar uma alimentação saudável, o que acontece? Quem entra na aventura da alimentação saudável se surpreende muito. É muita coisa boa que acontece. Modifica o físico dela, aumenta a disposição para a vida, porque a gente é o que a gente come. Isso não é um clichê, é verdade. O cuidado para todos, claro, começa na prevenção, com o uso do preservativo, depois vêm os outros e com a alimentação são essenciais.

A senhora tem conhecimento das atuais estatísticas relacionadas à aids? O HIV positivo esteve em redução na década passada, mas está aumentando novamente e muito. Os antirretrovirais melhoraram muito a qualidade de vida de quem vive com HIV, mas as pessoas ainda morrem de aids. Não é porque temos como tratar, que devemos abrir guarda. Para uma pessoa HIV positivo, mesmo que já tenha detectado no início e entrado com a carga de antirretrovirais, um simples resfriado significa um risco muito maior do que para quem não tem. Não é o antirretroviral que vai isentá-la dessa situação de risco. A doença está controlada tomando como parâmetro o que foi há três décadas, mas a cura não existe. Manter os cuidados com a alimentação ajudará que eles tenham um tempo de vida maior e qualidade de vida melhor. A alimentação saudável ajuda na prevenção para todos, principalmente para quem tem essa janela de imunidade aberta.

Thassiana Cecílio Motta Martinelli é graduada em

Nutrição e é especialista em Interdisciplinaridade em Terapia Nutricional. Atua em consultório, na área de Nutrição Clínica, desde agosto de 2002, com vasta experiência em atendimentos direcionados a gestantes, crianças, adolescentes, adultos e idosos. Grande know-how em acompanhamento nutricional para pacientes bariátricos pré e pós-operatório. Foi docente da Universidade de Uberaba durante cinco anos ministrando as disciplinas de Dietética e Materno Infantil. Thassiana é autora de um trabalho de iniciação científica com o título Avaliação do Estado Nutricional de Pacientes do Ambulatório de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST/Aids).



ATMA SAÚDE PÚBLICA

UBS foca Educação em Saúde e Atendimento Humanizado

A prioridade do atendimento na Unidade Básica de Saúde (UBS), ligada ao Programa Saúde da Família (PSF) são o acolhimento e o vínculo com o paciente. O médico Marzio de Souza Pereira Neto, cuja paixão pelo SUS surgiu ainda durante a graduação, explica que é feito um prontuário familiar, porque se há alguém com problema de saúde, a família toda adoece. Na consulta o paciente é atendido com uma visão mais ampla. Quando estão acamados ou sem condições de se deslocar, o médico faz a visita em domicílio seguindo as normas pertinentes.

Terapia - As famílias tendem a ter muita confiança no médico do PSF e geralmente travam uma conversa mais pessoal com o médico. Marzio diz que uma palavra às vezes é mais terapêutica do que um comprimido. Alguns pacientes preferem uma terapia medicamentosa, de sair com a receita e pronto, mas outros se sentam diante dele e conversam bastante. O médico percebe que muitos querem ser ouvidos e saem mais leves, com a receita também, mas com outro semblante. 42 REVISTA ATMA

O médico Marzio Neto diz que não trabalha na UBS para julgar o paciente, mas para acolhê-lo e, se for o caso, tratá-lo

Sem acomodação - A medicina não se limita a ouvir a queixa, diagnosticar, pedir exame e tratar. Há períodos em que devido à alta demanda e pressão externa o médico não consegue dar tanta atenção quanto gostaria. “Eu sempre dizia aos meus alunos que a medicina é muito ampla, a gente nunca pode fechar a visão ou perder o frescor da visão, que está

mais evidente em quem acabou de formar.” É preciso ter a consciência de que está sempre aprendendo e que cada paciente é um, e não se acomodar. Prevenção - Esta edição da revista trata o tema HIV/Aids e Marzio explica como é a questão pública neste aspecto. Quando se fala


ATMA SAÚDE PÚBLICA em HIV/Aids no SUS, o principal, cita, é a prevenção. Para ele, que está na porta de entrada para paciente SUS, a prioridade é explicar as formas de evitar a doença. “Levando-se em conta a gravidade da doença, a nossa principal função é esta. Isso previne o adoecimento do paciente e uma série de outras coisas como o custo. Quanto menos paciente doente, menos custo e melhor o tratamento de quem já desenvolveu a doença.” É a chamada educação em saúde. Diagnóstico - Em segundo lugar, é o paciente saber que tem o vírus ou a doença. O grande problema é ele não ser diagnosticado. É preciso diferenciar bem o HIV e a aids. A pessoa pode ter o vírus HIV e não ter aids. O HIV é quando a pessoa tem o vírus e a aids é quando a pessoa já adoeceu. Jovens - O grupo que tem apresentado aumento expressivo de casos de HIV/aids é o de adolescentes. É difícil traçar um motivo exato para isso. Acredita-se que seja pelo fato de eles já serem a terceira para quarta geração fora do advento do boom da aids, na década de 80, quando morreram pessoas famosas e que deram notoriedade à doença, como Cazuza, Renato Russo, Freddie Mercury. O preconceito era muito grande. “Estava se construindo o panorama do que seria a doença. Era uma sentença de morte, os sintomas horrorosos e efeitos colaterais devastadores.” Alarmante - Os jovens estão bem informados, mas optam por correr o risco e isso é muito preocupante, porque o HIV/Aids mata. A pessoa pode até não morrer de aids, mas de alguma doença oportunista, pois, o HIV ataca o sistema imunológico da pessoa. Entende ser preciso mostrar a realidade para esses jovens, sem terrorismo,

é claro, mas é preciso chamá-los à responsabilidade. Como o diabético fica em relação ao açúcar, como o hipertenso fica em relação ao sal as pessoas têm de estar atentas ao preservativo. Prognóstico - O médico frisa que o principal é o paciente se diagnosticar para não correr o risco de infectar outros Quem se expôs a uma situação de risco tem de se testar. O paciente muitas vezes prefere não encarar, “a gente não questiona”, mas quanto mais tempo passa, mais ele perde em prognóstico, em tempo de vida. Quem tem suspeita deve ir à UBS e receber as orientações. Marzio faz questão de ressaltar que não está na Unidade para julgar o paciente, mas para tratá-lo e pensar daqui pra frente. “Sob hipótese alguma passaria lição de moral, e falaria de responsabilidade ou irresponsabilidade. Se der negativo, cuidar para que não aconteça." Tratamento - Esse diálogo interfere na adesão do paciente, segundo Marzio. Quando o paciente é recebido por um profissional com abordagem que deixa o paciente com consciência pesada não vai fazer o teste e não vai aderir ao tratamento. Tem de se sentir acolhido, até porque se o resultado for positivo, o principal prejudicado será o próprio paciente. No CTA-Centro de Testagem e Aconselhamento colherá o exame e receberá o resultado por equipe capacitada. O paciente será acompanhado pelo infectologista que prescreverá a medicação. A abordagem não encerra com o diagnóstico, porque ele voltará. São crianças, jovens, adultos, mulheres em idade fértil, idosos e está sempre preparado. Na UBS a abordagem é mais ampla e não é só médica é multidisciplinar, ou seja, enfermeira, psicóloga, assistente social, enfim. Há pacientes que vêm de uma desestruturação fami-

liar devido às vezes ao álcool e outras drogas. Mulheres - A maior parte do público que procura a UBS é formada por mulheres, entre elas muitas gestantes. Atende as que têm diagnóstico positivo de HIV, mas nunca vê os parceiros delas e eles podem estar numa janela imunológica, período em que o vírus não aparece, mas pode ser transmitido e dura de 30 a 60 dias, uma margem grande, por isso não é feito um exame só, é preciso repetir em casos também de acidentes de trabalho. Há distribuição de preservativos na rede. Informação - Para o médico, o acesso à informação não pode ser subestimado em relação ao HIV e outras patologias. “Antes pecar pelo excesso”. Destaca que a adesão do paciente que tem o máximo de informações é mais efetiva. “Quem toma a medicação sem saber o motivo tende a deixar o tratamento”. Quando ele sabe a gravidade do que tem, a importância do tratamento, faz o acompanhamento direitinho e não atribui a responsabilidade 100% para o profissional médico. “Quero que o paciente entre aqui e seja informado sobre todos os aspectos da doença para poder tratar e viver com mais qualidade de vida. Esta é a nossa missão."

Dr. Marzio de Souza Pereira Neto

é formado em Medicina pela UniubeUniversidade de Uberaba (2008). Durante a graduação atuou como preceptor. Apaixonou-se pelo trabalho no SUS ainda antes de concluir o curso. Atua na Unidade Básica de Saúde (UBS) Dr. Roberto Abdanur, no bairro Santa Marta, há sete anos.

REVISTA ATMA

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ATMA SAÚDE

Fragilidade

Diagnóstico tardio permite aparecimento de infecções A fragilidade do sistema imunológico em pessoas com mais de 60 anos dificulta o diagnóstico de infecção por HIV, vírus causador da aids. Isso ocorre por que, com o envelhecimento, algumas doenças tornam-se comuns. E os sintomas da aids podem ser confundidos com os dessas outras infecções. Tanto a pessoa idosa quanto os profissionais da saúde tendem a não pensar na aids e, muitas vezes, negligenciam a doença nessa faixa etária. Segundo especialistas, o diagnóstico tardio de aids permite o aparecimento de infecções cada vez mais graves e compromete a saúde mental (podendo causar até demência). Quanto antes começar o tratamento correto da aids, mais o soropositivo ganha em qualidade de vida. Por isso, recomenda-se fazer o teste. É rápido, seguro e pode ser feito em qualquer unidade pública de saúde. 44 REVISTA ATMA

Tratamento - O acolhimento da pessoa idosa soropositiva pela equipe do serviço assume um papel de grande importância a fim de que possam, conjuntamente, acompanhar e delinear um plano terapêutico e superar eventuais dificuldades do tratamento. Em função de alterações típicas nessa faixa etária (dificuldades visuais e da memória para fatos recentes), sugere-se: o uso de letras de tamanho visível nas prescrições em geral e sempre que necessário encaminhar o paciente para avaliação oftalmológica; identificar se as informações foram bem compreendidas e memorizadas; valorizar estratégias para evitar os esquecimentos no uso da medicação (despertadores, lembretes no celular, tabelas com horários e doses em locais estratégicos da casa etc).


ATMA ODONTOLOGIA

O Dentista e o Por Dr

HIV

Fábio de Azevedo

As lesões bucais estão fortemente associadas à infecção pelo HIV, sendo que os portadores apresentam, geralmente, os primeiros sinais clínicos da doença na cavidade bucal. Dessa forma, é extremamente importante a realização de um detalhado exame clínico por parte do cirurgião-dentista para o estabelecimento de um diagnóstico precoce, promovendo benefícios

ao cirurgião-dentista ter a primeira suspeita de que a pessoa seja HIV positivo. Importante! Muitas vezes é o cirurgião-dentista quem dá o primeiro alarme para diversas manifestações patológicas sistêmicas que também se manifestam na boca como o câncer e o HIV. Peça ao seu dentista para que faça o exame da cavidade oral por completo!!!! A prevenção e o diagnóstico precoce ainda são a melhor arma contra qualquer mal.

DR. FÁBIO RESPONDE

para o paciente em relação ao seu tratamento. As lesões orais associadas à infecção do vírus HIV podem ser fúngicas, bacterianas e virais, além de processos neoplásicos e lesões de natureza desconhecida. Dentre estas manifestações orais as mais frequentes são: candidíase, gengivite ulcerativa necrosante, periodontite ulcerativa necrosante, leucoplasia pilosa, herpes simples e sarcoma de Kaposi. Como a frequência ao dentista muitas vezes é maior que ao médico por parte da população, a realização de um minucioso exame clínico da cavidade bucal é de extrema importância, pois através dele é possível identificar lesões frequentes em pacientes que vivem com HIV/aids, possibilitando

Existe risco de o paciente se infectar com o vírus da aids durante o tratamento odontológico? Não, desde que os instrumentais que tenham sido utilizados em pacientes com HIV/aids tenham sido esterilizados corretamente. O dentista pode solicitar o exame anti-HIV? Sim, desde que o paciente concorde e tenha o conhecimento dessa solicitação. O paciente HIV positivo deve informar ao dentista a sua condição? Sim, pois sendo este um paciente imunodeprimido, alguns cuidados especiais devem ser tomados com esse paciente, como por exemplo cobertura antibiótica após exodontias.

Dr. Fábio de Azevedo

Cirurgião Dentista CRO/MG 24973 Fone: (34) 3322-9935 REVISTA ATMA 45


ATMA SAÚDE PÚBLICA

A cada três soropositivos no mundo, um tem menos de 25 anos No Brasil, a estimativa é de que 734 mil pessoas estejam com sorologia positiva para HIV, segundo dados do Ministério da Saúde. Destes, a gerente do Programa Municipal de DST/HIV/Aids, Hepatites Virais/CTA, Maria Clara de Vasconcelos Afonso, diz que há 1.140 pacientes em acompanhamento na cidade, além de outros que fazem tratamento no Hospital Universitário Mário Palmério (Uniube), Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e em consultórios particulares. 46 REVISTA ATMA


ATMA SAÚDE PÚBLICA Estatísticas - O Relatório da Unaids mostra que a cada três pessoas infectadas em todo o mundo, uma tem entre 15 e 24 anos. As campanhas de prevenção evidenciam o quanto à prevenção é essencial. Esses jovens estão conscientes da necessidade de fazer o uso do preservativo e o fazem no inicio de um relacionamento, entretanto, segundo Maria Clara, com pouco tempo de namoro já confiam no (a) parceiro (a) e deixam de usar; já consideram parceria fixa e a partir daí se acham imunes à contaminação. Apoio - O Centro de Testagem e Acompanhamento (CTA) realiza campanhas, palestras e trabalhos com populações mais vulneráveis conscientizando-as sobre os riscos da relação sexual sem proteção não apenas com referência à aids, mas também às demais DSTs. O Programa Municipal conta com uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), a Associação de Apoio às Pessoas Vivendo com HIV, que realiza trabalhos de prevenção e orientação e de apoio aos soropositivos e aos que já desenvolveram a aids. “Há uma parceria que pode ser tratada com mais afinco e assim trabalharmos de mãos dadas, pois lutamos pela mesma causa.”

Prevenção - O CTA atende os sete municípios da microrregião e também de outros estados. Para que os casos diminuam, na avaliação da gerente, é imprescindível continuar trabalhando com conscientização sobre a necessidade do uso de preservativos em todas as relações sexuais, mostrando que a prevenção ainda é a única forma de não haver contaminação. Teste - A realização da testagem para o HIV pode ser feita no CTA. No caso das gestantes há necessidade de solicitação médica para os exames de pré-natal, se o teste for por demanda espontânea não há necessidade de solicitação médica. A entrega do resultado, segundo Maria Clara, é feita por profissionais capacitados. No caso de resultado positivo para o HIV é marcada consulta com o médico infectologista e ele após a realização de exames complementares é quem decidirá se haverá necessidade de entrar com os antirretrovirais. Se for gestante, ela é encaminhada para o ambulatório AMIGO (Maria da Glória/UFTM), onde será acompanhada pela equipe do ambulatório que trata gestantes de alto risco. Ressalta que todo o tratamento é gratuito. A equipe multiprofissional do SAE-Serviço Ambulatorial Especializado é composta por dois médicos, dois psicólogos, uma enfermeira, uma farmacêutica, um dentista, uma assistente social e duas técnicas de enfermagem.

Maria Clara de Vasconcelos Afonso

“A prevenção ainda é a única forma de não haver contaminação com o HIV, e ela é feita com o uso de preservativos"

CTA CENTRO DE TESTAGEM E ACONSELHAMENTO

3333-7787 34 3331-0550 34

Rua Marechal Deodoro, 166 Bairro São Benedito REVISTA ATMA 47


Fotos Francis Prado

Fotos Francis Prado

ATMA INFECTOLOGIA

O crescimento da aids entre jovens de 15 a 29 anos demonstra que as campanhas de conscientização cada vez mais raras perderam efeito desafiando autoridades médicas, pais e professores. A médica infectologista Cristina Hueb Barata, coordenadora da Comissão Hospitalar de Vigilância em Saúde do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), acredita que a prevenção deve começar em casa com os pais e se estender para as escolas, já no Ensino Fundamental, com crianças a partir de 10 anos, já que a sexualidade tem aflorado precocemente. Confira a íntegra da entrevista, em que a doutora também aborda temas que envolvem medicação e ainda o fato de muitos soropositivos e/ou doentes de aids não revelarem à família a sua condição. 48 REVISTA ATMA

Jovens não acreditam que

AIDS MATA Pode-se dizer que a aids é uma epidemia? É um termo interessante, ou seja, aquilo que surge acima do esperado para determinado evento. Deveria ter um número de casos e foi muito além. Na realidade, a aids continua sem controle. Esta é uma das grandes preocupações. Não poderíamos ter casos de aids, porque é uma doença transmissível, então deveríamos ter medidas para prevenir, proibir, coibir, para ela não existir. Esses paradigmas vêm mudando com as novas condutas dos protocolos de tratamento. É você tratar todo mundo, in-

dependente de ser ainda apenas soropositivo e não ter a síndrome, que é quando ele adoece. Antes, pela dificuldade de aquisição de novos medicamentos, pelo custo mesmo, efeitos colaterais, a imprevisibilidade de quanto tempo iria usar de medicação, só se tratava pessoas com a doença, com a condição de imunodeficiência. Hoje, não. Hoje, faz-se a sorologia, se der positivo, já inicia a terapia, e outras medidas, que é a pré e a pós-exposição para aquelas pessoas com comportamento de risco que o governo também tem dispensado medicação.


ATMA INFECTOLOGIA

E quais são as consequências da sífilis? A sífilis adoece a gestante, a gestante adoece o filho e o filho nasce com sequelas ou mesmo não nascem, pois há abortos relacionados. De um modo geral, a sífilis compromete órgãos nobres, pode comprometer o cérebro, o coração, e a pessoa acha que é só uma ferida no órgão genital. E a lesão sara sozinha. Em três dias some e a pessoa acha que está curada. Depois vêm umas formas que a gente chama de secundarismo, tercearismo, latente. A melhor maneira é o sexo protegido. Em que faixa etária o número de casos de aids tem assustado mais a classe médica? Tem nos assustado muito é que a população hoje que tem maior risco é de 14 a 29 anos.

Nesta faixa está o maior crescimento de casos atualmente. Eles não acreditam que a doença mata ou que vão pegar. Essa geração não viu os casos graves do início da epidemia quando não havia opção terapêutica. Eles não viram as pessoas na fase de definhamento, sequeladas, em cama. Não têm essa memória para poder pensar. Pensam que se tiverem uma relação desprotegida, depois tomam um remédio ou tomam antes de ir para a balada e junto vem droga. O uso de droga nesse grupo também cresceu muito. As drogas ilícitas que eles costumam chamar de recreativas, só para dar um embalo na noite e perdem um pouco a capacidade de refinar as condutas.

Na faixa de 14 a 29 anos está o maior crescimento de casos atualmente. Eles não acreditam que a doença mata

Na década de 80 falava-se na existência de um grupo de risco, mas há muito que isso acabou, não é? Acabou! O que existe é o comportamento de risco. O principal é o sexo sem proteção. Esse realmente é o fator fundamental, porque o maior número de casos é por transmissão sexual, aproximadamente 98%. Não há outra medida mais efetiva do que o uso do preservativo para prevenir contra o HIV. E o uso de maneira correta. É preciso ter cuidado para colocar e retirar e quanto ao uso de produtos, porque alguns comprometer o látex do preservativo. Há todo um ritual e não apenas para a aids, mas para qualquer outra DST. Nós, infectologistas, estamos muito preocupados com o aumento assustador da sífilis. O número é acima de 60 vezes a quantidade de casos dos últimos dez anos, segundo o Ministério da Saúde! E ela entra da mesma maneira que entra a aids. Não estão se prevenindo.

A senhora pode afirmar que a epidemia vem mudando ao longo dos anos? Sim, vem mudando. No início eram 40 homens para uma mulher infectada, hoje a relação é de duas mulheres para cada homem. A mulher está muito mais exposta, porque não existe mais o grupo de risco. É que como a doença iniciou na relação entre homossexuais, ficou muito confinada a homens, mas agora com esse perfil, acaba

equiparando homem e mulher com a mesma chance de adoecer. O que é preciso fazer para tentar mudar essa realidade que pode vitimar cada vez mais os jovens? Teríamos que ir para as escolas, já no ensino fundamental. Começar a trabalhar com crianças de 10 anos. A sexualidade está cada vez mais precoce. As crianças estão expostas a essas manifestações em TV, internet, cinema, enfim, está banalizado o fato de ter relação sexual sem compromisso, sem fazer parte de um relacionamento efetivo. É preciso que os pais trabalhem em casa a questão do uso do preservativo. Muitos pais não fazem isso. Digo sempre: gente, preservativo é igual cotonete, você tem de ter em vários lugares, no carro, porque REVISTA ATMA 49


ATMA INFECTOLOGIA

É preciso que os pais trabalhem em casa a questão do uso do preservativo. Muitos não fazem isso e é essencial para a prevenção eficaz

hoje está muito fácil. Antigamente, para se fazer uma estripulia dessa era arrojadíssima. Tinha de casar virgem, ter uma relação estável, com parceiro conhecido. Hoje, quem quiser partir para um relacionamento sem proteção, ambos têm de testar (teste antiaids) e fazer um pacto de fidelidade, o que nas relações esporádicas e eventuais não existe. E o que se pode dizer para esses jovens e crianças, enfim, com relação ao que acontece com as pessoas infectadas? Tem de mostrar que a pessoa vai demorar a perceber que está infectada. Este é o primeiro ponto. Se ela teve algum comportamento, alguma situação de risco, que comece a fazer os testes o mais rápido possível para prevenir contra o que pode vir. Outra situação é a gente falar que a aids não tem cura. Isso tem de deixar bem claro. A doença fica sob controle, ela cronifica, mas a cura ainda não. Há vários estudos, momentos diferentes, mas a cura não tem. 50 REVISTA ATMA

Quem já é soropositivo pode se relacionar sem preservativo com o parceiro também infectado? O preservativo não pode ser dispensado nem nesta situação. Mesmo que o parceiro seja também soropositivo, os vírus são diferentes, eles se adaptam ao organismo de cada pessoa. Então, neste caso, a cada relação a pessoa estará sendo novamente infectada. Pode ficar o tempo todo submetida a uma nova carga de infecção. É lógico, nas pessoas que tomam o medicamento, em que a carga viral esteja baixa e o vírus mais enfraquecido, a chance de troca é menor, mas a gente orienta: mesmo casais soroconcordantes (os dois serem soropositivos) a gente aconselha o uso do preservativo. Os sintomas continuam podendo ser confundidos com os de outras doenças? O sintoma inicial da infecção aguda é um quadro de virose. Pode ter febre, mal estar, dor de cabeça aumento dos linfonodos (ínguas), diarreia. E esses sintomas somem. Podem indicar a entrada do vírus. É um vírus de replicação lenta, o organismo vai ao longo do tempo se adaptando. Ele pode ter a primeira manifestação entre dois a oito anos após a infecção. Quem teve algum comportamento que suscitou vírus, deve fazer o teste. Ele é sensível, com 15 dias já é possível ter o resultado. Quantas pessoas estão em tratamento de aids em Uberaba e região? No Brasil, o primeiro caso de aids foi de um homem natural de Uberaba, mas que morava em São Paulo. Em acompanhamento conosco, no Hospital de Clínicas da UFTM, usando medicação há aproximadamente 1000 pessoas da região de Uberaba, que engloba as cidades de Araxá, Frutal,

Planura, Santa Juliana e outros da macrorregião do Triângulo sul, fora os atendidos pelo Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA). A medicação no Brasil ainda é distribuída de forma gratuita? Sim, o Brasil é o único país que oferece todas as opções de medicamento de forma gratuita. Alguns países da África estão disponibilizando, mas ainda de forma restrita. Não há distribuição de todas as classes. O Brasil oferece tudo, desde a medicação da década de 80 às de última geração. Por que o Brasil conseguiu esta condição? O Brasil tinha um estudo indicando que haveria progressão geométrica assustadora, de dois a três milhões de mortes devido à aids, ao longo de dez anos, levando em conta os altos índices registrados envolvendo a promiscuidade e a falta de controle. Com a estimativa de ter milhões de pessoas doentes usando o sistema de saúde nosso que não é tão diferenciado, que muitas vezes dificulta o acesso à atenção, e caro. Então, decidiu-se investir na desospitalização do paciente, porque a hospitalização é um processo muito dispendioso. Trabalhou muito bem isso e também a quebra de patente. Assim, os nossos laboratórios começaram a produzir os medicamentos, o que permitiu a distribuição gratuita. É um programa caro, corresponde a um terço do custo de todo o programa de distribuição de medicamentos do Brasil para qualquer outra doença. Temos malária, chagas, hanseníase, tuberculose e a aids consome um terço de tudo. Mesmo com medicação gratuita, observa-se que muitos desistem do tratamento. A que a senhora atribui esse comportamento?


ATMA INFECTOLOGIA

O preconceito continua sendo o maior obstáculo para que eles assumam a condição de soropositivo? Sim! Eles preferem não fazer exame, não procurar assistência médica, porque sabem que serão discriminados. É importante dizer que o teste é anônimo. Nos centros de testagem e aconselhamento (CTAs), as pessoas não são identificadas. Se o resultado der negativo, acabou. Se der positivo, é preciso abrir a identificação para os trâmites do protocolo para ela entrar no sistema e ter direito a todos os medicamentos, exames, enfim. No início as pessoas tendem a esconder mesmo. Eles têm medo de abrir, de perder emprego, estabilidade, os filhos. As pessoas com aids têm morrido devido a outras doenças?

Hoje quem toma o medicamento não morre pela imunodeficiência, mas pelo surgimento de doenças oportunistas, que são aquelas infecções que o organismo perdeu a capacidade de controlar. Temos visto as pessoas morrerem de doenças cardiovasculares, neoplasias, por um outro acidente, mas há sobrevida também. Temos pacientes conosco em tratamento desde o início da década de 90, já com 20 anos de diagnóstico e estão bem. Apesar de a doença estar sob controle com o medicamento, a presença do vírus por ser em latência, um vírus que finge que está dormindo e por isso não tem cura, envelhece o sistema imunológico e a própria condição física da pessoa. Quem tem de 40 a 50 anos e é soropositivo têm doenças de pessoas de 70/80. Ocorre um envelhecimento precoce. Cânceres que apareceriam na terceira idade atingem pessoas de 30/40. Chamamos de imunossenescência. Mas o grupo de idosos com aids também

cresceu muito, devido à liberação sexual. Como é o momento de a senhora revelar o diagnóstico? Depois de muitos anos trabalhando nessa área, desde 1983, há 32 anos, portanto, a gente sabe o momento certo. Apesar de eu não fazer pediatria tive crianças com o diagnóstico com 12/13 anos, que a gente trabalha junto com a psicóloga. Transmissão por relação sexual. Nós vamos trabalhando até o momento em que o próprio paciente pergunta o que ele tem. Algumas pessoas choram e ficam desorientadas. Atualmente é mais confortável dar o diagnóstico, porque tem a terapia, mas imagine no início da epidemia quando não tinha medicamento efetivo. Surgiu o AZT, que era importado, caríssimo, raro no Brasil, e o soropositivo tinha de tomar de 18 a 22 comprimidos por dia. Já houve casos em que ao saber o diagnóstico, em três dias o soropositivo estava morto de tanta tristeza, depressão e angústia.

Doutora Cristina Barata: “Hoje não temos volume grande de internações, mas as que temos são de alta complexidade, são doentes de longa permanência, doenças altamente debilitantes e de custo elevado”

Fotos Francis Prado

A adesão é um problema sério devido à característica da doença, que é estigmatizante e gera preconceito. Muitos preferem não se expor na hora de buscar a medicação, de falar que tomam, tiram rótulos, escondem. E tem o perfil do paciente, que às vezes é dogradicto, alcoólatra; pode ser preso no período e perde acesso à medicação. É complexo. No Brasil, fala-se em adesão de 60%, índice extremamente baixo. Nós temos feito um trabalho muito bom com o serviço social nosso. Aqueles pacientes que aderem, não internam mais. Os internados atualmente são pessoas que nunca aderiram ou desconheciam a sua condição de infecção ou diagnóstico já com uma doença grave, ou eram aqueles pacientes que falharam. Hoje não temos aquele volume grande de internações, mas as que temos são de alta complexidade, são doentes de longa permanência, doenças altamente debilitantes e de custo elevado.

REVISTA ATMA

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ATMA INFECTOLOGIA tamento, repense a situação, imagine o estresse que enfrentou enquanto esperava o resultado. Que torne isso um modelo para ponderar. A gente brinca que a juventude tem espermatozóides no cérebro e não neurônios...

Nesse momento o apoio da família vem em primeiro lugar? Nem sempre isso é possível. Muitos soropositivos não abrem, não contam para a família. O médico não tem direito de contar para ninguém, a não ser para o paciente. A única exceção é se ele tem um relacionamento fixo e não conta. Passa a ser um problema jurídico. A partir do momento que a pessoa sabe e mantém relacionamento expondo o outro, é uma infecção deliberada, um crime. Damos oportunidade para que a pessoa conte. Esperamos. Se não conta, nós chamamos o parceiro fixo e revelamos. A maioria conta. Nesses anos todos, tivemos de abrir para o outro parceiro, à revelia, três ou quatro casos.

Eles pensam só no agora, são muito imediatistas. Pensem que isso pode ter uma repercussão para o resto da vida, refaçam seus valores e pensem se vale a pena se expor ao risco.

Foto Divulgação

Outros falam que vão virar celibatários, mas com o passar do tempo, quando veem que podem ter vida normal, vão retomando sua rotina, mas o momento do diagnóstico ainda é muito impactante.

Para quem fez o teste e o resultado é negativo, que recomendação a senhora faz? Que ele refaça o seu compor52 REVISTA ATMA

A senhora acredita na cura da aids? Sim! Temos de tirar o vírus que está escondido, o que o medicamento que temos hoje não consegue. Há vários estudos, alguns casos isolados de cura, mas com medidas que não podem ser adotadas por uma população de grande escala. Acho que a cura está mais próxima do que imaginávamos. A cura está chegando, mas hoje, a aids não tem cura. Ainda não! A revista ATMA tem foco na superação e esta edição trará depoimentos de pessoas vivendo com HIV. Qual é a sua opinião a respeito dessa iniciativa?

Acho muito importante, porque as pessoas que superaram e estão bem, ao darem o seu depoimento à revista, serão exemplo para aqueles que ainda não aderiram. Mas, sem dúvida alguma, são pessoas muito corajosas. Toda informação que vai trazer um benefício para a comunidade deve ser exposta. É preciso tirar o pré-conceito de que a pessoa que vive com HIV seja diferente, que tenha algo contagioso. Acho essa revista um trabalho belíssimo. Quando a Sissa morreu (uma das mulheres com câncer que posaram para o calendário entregue com a primeira edição da ATMA) ela estava comigo e perguntava sempre se eu daria alta para ela ir ao lançamento da revista. Estava feliz demais com o projeto e por ter posado de bailarina ilustrando o mês de setembro.

Dra. Cristina Hueb Baratta

possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (1981), mestrado em Medicina (Medicina Tropical) pela Universidade Federal de Minas Gerais (1995) e doutorado em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela Universidade Federal de São Paulo (2002). Atualmente é médica e professora adjunta Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Doenças Infecciosas e Parasitárias, atuando principalmente nos seguintes temas: infecção hospitalar, antimicrobianos, epidemiologia, uso racional de antimicrobianos e resistência bacteriana. Exerceu a função de diretora Clínica do Hospital de Clínicas da UFTM no período de outubro de 2005 a fevereiro de 2011. Atualmente exerce o cargo de coordenadora da Comissão Hospitalar de Vigilância em Saúde do HC da UFTM.


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ATMA ENTREVISTA

Soropositivo quer

diálogo sem medo

O espetáculo em si chama mais atenção para a Transmissão Horizontal (em relação sexual desprotegida)

Foto Divulgação

Gabriel Estrëla: “A cura que eu quero ver acontecer é a do preconceito”

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REVISTA ATMA

O ator, cantor e diretor de teatro, Gabriel Estrëla, 23 anos, que atuou em montagens históricas como Hair, é o protagonista do musical autobiográfico Boa Sorte, com estreia prevista para o próximo mês de outubro, nos palcos de Brasília (DF). Há cinco anos vivendo com HIV, ele produz o espetáculo para falar sobre o assunto de forma leve. O Projeto Boa Sorte, do qual saiu a peça, através da página no Facebook, trata do HIV de forma abrangente. O namorado, soronegativo, tem muita sensibilidade para lidar com o tema e ajuda na administração da página. Entre os objetivos do musical está o debate de preconceitos, além do incentivo ao diálogo sem medo. Nesta entrevista, Gabriel, que vive com HIV desde os 18 anos, também aborda a prevenção. Em sua opinião, falar de prevenção não é só falar de camisinha, mas de uma prevenção combinada que inclua o preservativo, lubrificação, testagem, redução de danos, cuidados pré-natais, informação no geral. Confira!


ATMA ENTREVISTA

É muito raro de se ver soropositivos assumirem a sua condição de forma assim tão liberta. O que motivou você a fazer isso? Gabriel Estrëla - Hoje em dia a gente fala sobre tudo (que bom!) – ou pelo menos achamos que é assim. A verdade é que toda essa liberdade que temos de expor nossas opiniões acabou nos tornando egoístas. Queremos expor nossas opiniões, apenas. E isso é ótimo, porque toda opinião deve importar sim! Mas acabamos por deixar de lado a escuta. É tão fácil falar hoje em dia (entrar no Facebook e sair fazendo posts) que nos esquecemos da parte mais importante do diálogo: ouvir. Mas também, não dá pra gente ser ouvido se a gente não falar – e temos de falar em alto e bom som, bem articulado.

te na sala! Revelei que como artista também tenho uma função clara a ser desempenhada na sociedade. Revelei que fui criado muito bem – por eles! Com amor e diálogo até demais. Você acredita que com o musical você consiga alavancar um debate livre de preconceitos? Não – e isso é importante. A minha intenção é alavancar um debate REPLETO de preconceitos. A gente precisa expô-los, aceitá-los como parte de nós como humanos. Temos dificuldade de lidar com o que é diferente, no começo. Depois, acostumamos e passamos a amar essa diversidade, mas é tudo um processo. O debate só vai ser rico se esses preconceitos se apresentarem. É a partir deles que vamos (des)construir a realidade!!! Como você reuniu os atores? Quem vai dirigir? É comum na cena do teatro musical selecionar atores a partir

de audições. Elas variam dependendo do espetáculo em questão e do perfil da produção, mas basicamente consistem em um momento do candidato se apresentar para uma bancada decidir se ele é o melhor para aquela peça ou não. No Boa Sorte não seria diferente, principalmente porque além de atores competentes no teatro e no canto, eles também têm de ser capazes de fazer a música do espetáculo – ao vivo! A Direção Geral é minha mesmo e eu conto com duas direções de apoio: o Fernando Bastos na Direção Musical e Preparação Vocal e o Mateus Figuero na Direção de Movimento e Preparação Corporal. São profissionais muito queridos, jovens como eu e extremamente promissores. Fico muito feliz de trazê-los no barco! O espetáculo alerta os jovens para a prevenção ou joga holofote mais sobre a questão do preconceito? É importante entendermos

Foto Divulgação

Quais experiências você tem como ator? Sou ator de teatro, sempre enfatizo isso. Tenho pavor a câmeras e microfones (de estúdio). O palco é onde me sinto confortável, tanto como ator como cantor. Gosto do momento, do presente, tudo o que é registrado passa a ser contestável. O presente é experiência, é subjetivo e, por isso, é pleno.

Por isso você decidiu produzir o musical autobiográfico? Sua família o apoia? O Projeto, que inclui a peça, vem dessa vontade: de ser ouvido tanto como soropositivo quanto como artista – porque não sei ainda fazer arte sem o vírus, não inventaram a cura. Não falar era ser sempre ouvido pela metade. Minha família entendeu e me apoia demais. Tem um diálogo que eu não vou me recusar mais a travar por causa de medo. Revelei que não dá pra apagar a luz, ainda tem genREVISTA ATMA

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ATMA ENTREVISTA Você pretende viajar com o espetáculo por esses brasis? Já temos algumas cidades no horizonte, mas sou muito receoso, não gosto de comentar nada enquanto não tenha assinado um papel! Há várias formas de se infectar com o vírus. Você considera que as pessoas sejam imprudentes? Tenho um professor muito querido que costumava repetir para a gente, quando falhávamos em entender o real motivo por trás de algum exercício: “Eu aponto a lua e vocês ficam olhando para o meu dedo!”. Estou contando a mi-

Foto Divulgação

que hoje em dia falar de prevenção não é só falar de camisinha. Precisamos falar de uma prevenção combinada que inclua o preservativo, lubrificação, testagem, redução de danos, cuidados pré-natais, informação no geral... O espetáculo em si chama mais atenção para a Transmissão Horizontal (em relação sexual desprotegida), mas o Projeto, através da página do Facebook, trata do HIV de forma abrangente. O Unaids (Programa da ONU de Combate ao HIV/Aids) diz que são três os “Zeros” para acabarmos com a epidemia: zero novas infecções, zero mortes relacionadas ao HIV e zero discriminação. Não dá pra dissociar as duas coisas.

nha história, que é só o dedo, para falar da lua – algo muito maior e fascinante. Precisamos olhar para a epidemia, que é global. Falar de “imprudência” é reduzir isso ao indivíduo – e esse é um peso que ninguém deve carregar sozinho. Como falar da “falta de cuidado” se o cuidado que nós brasileiros temos, em relação ao uso da camisinha, por exemplo, não é tão frequente quanto seria ideal? Como é viver com HIV? Como é a sua rotina de medicação? Você sofre muito com os efeitos colaterais? Viver com HIV, como viver, no geral, não é a mesma coisa para todos. Existem diferentes esquemas de tratamento e diferentes realidades. Um indígena que tenha difícil acesso aos medicamentos, por exemplo, tem uma relação com o HIV bem diferente da minha, morando na capital do país. No meu caso específico, tomo os antirretrovirais duas vezes ao dia. Sofri com os efeitos colaterais no início, mas eles passaram. Hoje só o fígado está judiado, mas vamos tratando. Tem tanto que fazemos no nosso dia a dia e que em longo prazo custam ao corpo; tomar os remédios é só mais uma dessas coisas, mas vale o custo benefício! Você é um exemplo de superação, mas também de vitalidade, energia boa, sorriso cativante. Como consegue absorver tudo com toda essa serenidade? Você tem religião? Aprendi muito novinho que religião significava reconectar com algo do que nos separamos. Nesse sentido, tenho no teatro a minha religião, pois acredito que há

No dia 13 de julho deste ano, na página do Projeto Boa Sorte no Facebook, Gabriel revelou ser soropositivo 56 REVISTA ATMA


ATMA ENTREVISTA

O Unaids, programa da ONU de Combate ao HIV/aids, diz que são três os `zeros´ para acabarmos com a epidemia: zero novas infecções, zero mortes relacionadas ao HIV e zero discriminação

pra mim que essas forças existem, são poderosas e dependem de nós. Não é tão esotérico quanto parece, mesmo! Ciência quântica fala disso, somos matéria e somos onda. Vibramos. Então por que não tentarmos aplicar todos os princípios de funcionamento das ondas em nossas vidas? Se você vibra baixo, eu vibro alto e a gente fica bem. E se você vibra alto demais, eu vibro baixo, e a gente acaba ficando

bem. No processo, nós dois nos transformamos. O importante é não ficar parado. Por que o nome Boa Sorte, homônimo de um filme que também aborda a aids, estrelado pela atriz Deborah Secco? Há alguma relação entre eles ou refere-se apenas à canção interpretada pela Vanessa da Mata? Preciso confessar que ainda não vi o filme! Muitos estão me perguntando sobre isso, preciso correr para uma locadora! Mas, não. Não tem nada a ver. A peça é de 2013, talvez tenhamos de fazer essa pergunta para eles! Mas parece que o filme também é baseado numa peça mais antiga ainda, pra dizer a verdade. A minha peça vem, especificamente, pela canção da Vanessa da Mata. Foi o que me revelou o resultado “É só isso / Não tem mais jeito / Acabou” – foi como eu me senti ao receber o exame. E “Boa Sorte” é o que eu sinto hoje. O que você faz nas horas em que não está trabalhando? Sou completamente viciado em séries! Ultimamente tenho reduzido o ritmo, pois minha essência workaholic fez essa cobrança, mas sempre que posso assisto a um ou a outro episódio do que estiver acompanhando no momento. Isso quando estou sozinho. Quando tenho companhia rolo no chão com meu filho (um vira-lata chamado Barba), ou faço questão de encher bastante o saco dos meus pais (para não dar saudade). O namorado, além do chamego, trabalha muito comigo – estudamos juntos e ele ajuda na administração da página, foi a maneira que encontramos de estar sempre juntinhos! O que mais deixa você feliz? Qual é o seu sonho? Você

Foto: Adriana Morais/Divulgação

um plano onde transitam nossas energias que nós, principalmente nos últimos anos, nos esquecemos. Isso não tem a ver com nenhuma religião específica, espíritos ou magia, não é disso que estou falando. Mas, tudo o que fazemos, em um sentido subjetivo, gera uma energia, uma carga, que nos afeta. No teatro posso trabalhar com isso, com a presentificação desse invisível. É através dele que fica claro

Vanessa da Mata recebe Gabriel Estrëla em seu camarim

tem expectativa de que a cura da aids esteja próxima? A palavra “cura” me levanta as orelhas. Recentemente ouvi um termo que gostei mais: “tratamento definitivo”. Porque mesmo que consigamos tratar definitivamente um indivíduo o vírus ainda existirá no mundo. A cura que eu quero ver acontecer é a do preconceito! Acho que, infelizmente, essa vai demorar mais para chegar. Mas seguimos lutando! Minha felicidade vem daí – ainda que os dragões sejam moinhos-de-vento, precisamos de uma luta para carregar o dia a dia.

Gabriel Souza Estrela (Gabriel Estrëla)

nasceu em Goiânia (GO). É graduando em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília. Principais trabalhos incluem Rent - Sem Tempo A Perder, Hair - Deixe o Sol Entrar e Eu Vou Tirar Você Deste Lugar - As Canções de Odair José. Gabriel usa a sorologia positiva como motivação para ajudar outras pessoas. Recentemente, participou de um vídeo (https://www.youtube.com/ watch?t=11&v=XpS0iatoNE8) com a youtuber Jout Jout que já bateu a marca de 250 mil visualizações.

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ATMA VIVA CAZUZA

Aids está banalizada As pessoas pensam que caso se contaminem basta tomar um remédio

Superação parece ser uma filosofia de vida para Lucinha Araújo, símbolo nacional da luta contra a aids, fundadora e presidente da Sociedade Viva Cazuza, criada em homenagem ao filho, o poeta morto em 1990, aos 32 anos, em decorrência de complicações causadas pelo vírus da aids, e viúva do produtor musical João Araújo, com quem foi casada por cinco décadas e meia, morto em 2013, aos 78 anos, vítima de parada cardíaca. No coração dela há muito mais que stents e marca-passo, há amor que transborda pelos dois, hoje dividido com a Viva Cazuza, que presta assistência a crianças e adolescentes soropositivos, uma forma de manter viva a memória do filho. À revista ATMA, ela fala sobre a ONG e muito mais. 60 REVISTA ATMA

Viva Cazuza - À frente da Sociedade Viva Cazuza, Lucinha sente-se envaidecida, especialmente porque é uma forma de manter viva a memória do filho. Para superar a dor de perder Cazuza, ela conta que buscou forças no próprio filho, que foi o ser humano mais forte que já conheceu em toda a sua vida. “Ele nunca morreu para mim e continua cada vez mais to-

cado nas rádios, mas a saudade é indescritível.” No momento em que ela soube da sorologia positiva do HIV, o que primeiro veio à cabeça dela foi a cura. Ela diz às mães que porventura estejam passando por essa situação para que tenham muito amor, muito cuidado e, sobretudo, muita esperança na cura. “Não abandonem seus filhos! O amor é um remédio tão bom quanto o AZT.” Trabalho - A ideia de criar a Sociedade Viva Cazuza, segundo Lucinha, surgiu de um show feito em homenagem a Cazuza na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, em 1990. Foi decidido que a renda dos ingressos deveria ser revertida para alguma instituição que cuidasse de pacientes HIV positivos e ela foi a pessoa designada para entregar a doação ao Hospital Gaffrée e Guinle, que na época era referência para o tratamento. Quando lá chegou disseram-lhe que além do dinheiro queriam também o seu trabalho. Assim nasceu a Sociedade Viva Cazuza.


Foto Lipe Borges

ATMA VIVA CAZUZA

Lucinha Araújo diz que por melhor que seja o tratamento, a aids traz consequências, e a prevenção ainda é o melhor remédio

Livros - A instituição conquistou credibilidade inquestionável mas não cresceu tanto e Lucinha nem almeja isso. Ela acredita que o boi engorda debaixo do olho do dono. Vai todos os dias à ONG e também acha que ao abrir outras frentes de trabalho acaba perdendo a qualidade. “Prefiro qualidade a quantidade.” Para tirar a instituição do vermelho ela lançou o livro "Viva Cazuza – O tempo não para" (Editora Globo), mas não vendeu muito a ponto de alcançar o objetivo. No entanto, "Só as mães são felizes" é um best-seller, ou seja, um sucesso de vendagem. Depois da trilogia, Lucinha está novamente em parceria com Regina Echeverria se dedicando a um livro sobre

o seu marido (o produtor musical João Araújo, que esteve à frente da gravadora Som Livre por 40 anos e lançou nomes como Gal Costa,Caetano Veloso, Djavan e Xuxa, e morreu aos 78 anos, em 30 de novembro de 2013. Eles foram casados por 56 anos). Banalização - Nas duas décadas e meia de dedicação à Viva Cazuza, Lucinha tem a consciência de dever cumprido. Revela que se tornou uma pessoa melhor nesse período, especialmente devido à certeza de a instituição ter ajudado muitas pessoas. Houve uma evolução no tratamento, mas a aids ainda não tem cura e Lucinha destaca que hoje a aids é uma doença muito diferente do que foi na época do Cazuza. Existem atualmente mais de 20 antirretrovirais que dão ao paciente HIV positivo qualidade e quantidade de vida. Por outro lado, cita, a aids é uma doença que está banalizada. Observa que as pessoas pensam que caso se contaminem basta tomar um remédio, mas

se esquecem que por melhor que seja o tratamento, a doença traz consequências, e a prevenção ainda é o melhor remédio. Sonho - Cazuza sempre foi irreverente e nada era capaz de influenciar negativamente na sua arte e no seu talento, nem a doença, afinal, “quem tem um sonho, não dança”, verso da canção Beth Balanço, um dos preferidos de Lucinha. “A fundação da Sociedade Viva Cazuza é um sonho realizado e prova isto.”

Lucinha Araújo

preside a Sociedade Viva Cazuza e é autora de três livros: “Cazuza, só as mães são felizes”, em que ela evidencia o lado doce, de bom filho, de bom amigo; “Cazuza, eu preciso dizer que te amo”, falando da carreira dele com depoimentos dos amigos; e “O tempo não para - Viva Cazuza”, em que ela mostra como viveu 21 anos sem ele (hoje já são 25), e agora se dedica a um livro sobre o marido.

REVISTA ATMA 61



ATMA DEPOIMENTO

Como lidar com a Aids e a importância da

Prevenção

Como foi lhe dado o diagnóstico? Qual foi a sua primeira reação? O médico me disse baixinho, que eu não me preocupasse porque sou forte e que tudo daria certo. Fui para o lado da cama e chorei muito. Pensei nos meus filhos. Quando estamos preparados, não tem barreira que segure. Eu entrei despreparado, sabendo o que po-

dia acontecer. Havia um comercial na TV mostrando dois bolos, e por dentro você não sabe qual está ruim. “Se previna! Use camisinha, porque a aids pode te pegar!” era o slogan. Há quanto tempo você estava com o vírus? A estimativa é de que já havia oito anos que eu era soropositivo. Meus amigos me perguntaram e eu respondia que estava com HIV. Eles perguntaram o que eu iria fazer, eu respondia que eu tinha duas saídas, dar um tiro na cabeça ou tomar remédio. Na primeira vez fiquei 28 dias internado. Passei o Natal em casa, vivendo intensamente com minha mulher e meus filhos, mas logo fiquei mal novamente. A nossa vida se transformou.

Fotos Francis Prado

Quando você começou a sentir os efeitos da sorologia positiva de HIV? Em outubro de 2002. Todo dia eu ficava com febre forte. De madrugada, o suor. Já tinha me dado herpes e candidíase, aquelas feridas que o soropositivo tem na pele, cicatrizava e voltava. Alguém perguntou se eu já havia feito o teste antiaids, único exame que ainda não tinha sido feito e eu disse que não. Eles disseram que fariam se eu autorizasse. Eu autorizei. Naquele momento comecei a ficar preocupado, achei que a bomba iria estourar, pois tudo o que precisava já havia sido feito. Imaginei que algo de ruim estava por vir. Eu já tinha aprontado, não era nenhum santo. O médico disse que o meu porte físico estava ótimo e não indicava que estivesse com tuberculose, que provoca emagrecimento. E aquela era no intestino e não no pulmão. Dois dias depois veio o resultado positivo.

Lidar com o vírus HIV, agente etiológico da aids, é fácil, mas complicado de conviver. A morte pode acontecer devido a um infarto, um câncer, mas em decorrência da aids é consequência do ato de não se prevenir. O alerta é do acadêmico de Engenharia Civil, Ivo Gomes, 47 anos, soropositivo desde os 34, casado há 28, pai três vezes, e avô duas. “Ao assumir, até o sistema imunológico melhora. Quem discriminar não era amigo.” Na fase mais aguda da doença ele chegou a tomar diariamente 17 comprimidos, além de duas vitaminas; desenvolveu várias outras doenças, mas as superou e hoje está bem, com vida normal. “Não dá pra saber quem está infectado, portanto, a ordem é prevenir.” Ivo Gomes: “Todos devem se prevenir e os soropositivos têm de assumir cara para não infectar outros” REVISTA ATMA

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ATMA DEPOIMENTO

Como aconteceu a morte do filho de vocês? Foi uma tragédia! Ele morreu afogado nas proximidades de Uberaba mesmo, no dia 25 de janeiro de 2004, quando estava com 17 anos. E logo em seguida adoeci novamente. Atrofiei a pena e o braço esquerdos, surgiram manchas no cérebro detectadas por radiografia e fiquei lento, muito lento e entrei em depressão induzida. Você se revoltou? Não conseguia enfrentar a dor pela perda de seu filho e também devido às complicações da doença? Você se revolta com as coisas, com os problemas que estão acontecendo com você, mesmo sabendo que você mesmo buscou por eles. Quando eu estava na pior fase da doença eu tomava 17 comprimidos para todas as enfermidades, além de duas vitaminas. A pessoa que me passou não tem culpa. Ela me passou porque eu quis pegar, pois fui irresponsável. E como é hoje a sua rotina, como você enfrenta as consequências de não ter se prevenido? É muito fácil lidar com o HIV, 64 REVISTA ATMA

mas complicado de conviver. Se você tomar a medicação e cuidar da sua saúde, é fácil. Complicado de conviver se você começar a se preocupar olhando de lado ou pra trás. Se olhar pra frente é fácil, mas algumas pessoas se sentem oprimidas pela sociedade, devido ao preconceito, se sentem inferiores. Existem pessoas que têm câncer, diabetes, lúpus, hepatite B, cirrose. O problema do HIV é que ele está associado às drogas e ao sexo. Droga é libertinagem e o sexo fora do casamento é imoral. Mas nem sempre é assim.

A pessoa que me infectou não tem culpa. Ela me passou porque eu quis pegar, pois fui irresponsável e não me preveni

A sua esposa e seus filhos compreenderam a situação? A minha esposa não foi infectada. Mesmo assim, eu propus a separação, pois nós tínhamos um pacto neste sentido. Nós combinamos que se um traísse o outro, nos separaríamos. Eu saía muito pouco. Geralmente direto do trabalho pra casa, mas eu fui infectado enquanto estava casado, ou seja, durante uma relação extraconjugal. Ela preferiu que a gente continuasse o casamento. Pouco tempo depois, o nosso filho morreu e ela entrou em depressão.

O HIV trouxe algumas mudanças no seu modo de pensar e agir? O HIV me proporcionou algumas mudanças, sim. Eu tinha estudado até a 8ª série e ia voltar a estudar. Eu havia decidido voltar antes de saber que era soropositivo e de adoecer. Mas o HIV me despertou no aspecto de reconhecer que a minha vida não acabou, que tenho muita coisa pra fazer ainda, pois se a gente ficar na mesmice, nada vai mudar E você retomou os estudos? Que faculdade escolheu?

Sim. Estou cursando Engenharia Civil no Cesube, minha cabeça está arrebentando com tantos cálculos... Na faculdade, todos sabem que sou soropositivo. Oriento a todos para que usem camisinha e não é só para evitar o HIV, pode vir uma gravidez indesejada. O homem mais velho começou a usar o remédio que aumenta a ereção e está tendo vida sexual mais ativa e quer uma menina mais nova e estão se infectando mais. E tem mais, com o uso da camisinha evita-se o risco de um soropositivo (inclusive o que não sabe) se re-contaminar. Sua mensagem é de que todos usem o preservativo? Mesmo os que vivem uma relação estável e até mesmo um casamento? Sim, em qualquer fase e em qualquer situação. Todas as pessoas têm de usar preservativo. Todas as pessoas têm de fazer o teste antiaids. Os casados têm de conhecer bem um ao outro e decidir em conjunto. Ao assumir, até o sistema imunológico melhora. O mais importante é a família te apoiar. O problema do HIV é o medo do que os outros vão falar. A vida é maravilhosa. Morrer, a gente pode morrer de acidente de carro, de um infarto, de um câncer, de qualquer coisa. Pena é que com referência à aids a gente fica suscetível a morrer por consequência de não ter se prevenido. Como você soube da Associação de Apoio às Pessoas Vivendo com HIV? Pela TV. Vi o Nilton (Resende) falando e me interessei muito, não por mim, mas também por outras pessoas que são soropositivas, e ficam brincando de pique de esconder. Ninguém se afastou de mim quando assumi a minha condição. Todos sabem que eu jamais colocaria alguém em risco. Eu quis


Quando saiu o diagnóstico, o médico me contou baixinho. Fui para o lado da cama e chorei muito. Pensei nos meus filhos

Fotos Francis Prado

Você tem medo da morte? O ser humano nunca está satisfeito. Somos movidos pelo sonho, e se a gente não tiver sonho não tem propósito. É o sonho que realiza as coisas. Se há problema é porque tem solução. Se a pessoa está em estágio terminal, a solução é morrer. Eu tenho 47 anos, desde os 34 anos eu tenho HIV. Antes dos 34, a vida era maravilhosa e continua assim, mas com outra consciência, e com olhos no futuro. Se eu tivesse 1000 anos para viver e de repente fosse morrer com 100 eu ia lamentar perder 900 anos. A morte está lado a lado com a vida. Se a gente respirou a morte está ao nosso lado. Só quero morrer com dignidade.

ATMA DEPOIMENTO entrar na ONG para fortalecer as pessoas que têm medo de encarar a realidade. Muitos assistiram a uma entrevista que dei na TV e um amigo distante disse que não sabia da minha condição e que ele e a esposa também são soropositivos. E decidiu ir à ONG. Não se deve esconder. O que esperamos é que a ONG seja mais valorizada pelas esferas de poder e assim ter condições e autonomia para ir sempre mais além! Onde você busca essa positividade, inclusive para ajudar os outros? Acho que já nasci com ela. Fui criado pela minha avó. Somos três irmãos do primeiro casamento do meu pai. Fomos criados sem pai e sem mãe. Ela já tinha mais de 60 anos e cuidou de nós, ela morreu com 90 anos. Era muito humilde, muito pobre e sempre lutou pra dar o melhor pra nós. Sempre tive muito respeito por ela. A lembrança da minha avó me ajuda muito. Ela foi um pedestal na minha vida. Ser criado em um ambiente onde existe amor, carinho, você aprende a ser alguém na vida. Errar todos erram, mas não se pode permanecer assim. Apego-me muito a Deus. Ele é maravilhoso. Nunca me deixou na mão. Deus deixou que eu pegasse a doença porque eu estava fazendo as coisas erradas. Em sua opinião o que imortaliza o homem? Existe uma música (Súplica, de João Nogueira) que diz que o homem morre, mas a obra o imortaliza. Você é lembrado pelo que você faz de bom ou de ruim. A gente não tem nada nessa vida, tudo é emprestado. Por isso, a gente tem de usar com boa vontade e não pisar em ninguém. Amanhã eu morro e o que vai ficar de mim são as coisas boas que eu fiz. REVISTA ATMA

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ATMA DEPOIMENTO

“O HIV me transformou para melhor” Eu soube que estava com o vírus da aids em 1996. Eu fazia parte de uma turma enorme, nos divertíamos muito, nos envolvíamos com várias mulheres, e ninguém pensava em usar preservativo. Na época, havia divulgação sobre HIV/Aids, mas não era tão preocupante. Depois é que se tornou algo alarmante, quando o número de mortes começou a crescer muito. Logo após o resultado do exame perdi a cabeça, eu era atleta, jogava futebol profissionalmente, estava com 19 anos, foi um choque muito grande. Achei que fosse morrer, como acontecia todos os dias com os nossos ídolos naquela época. Tive envolvimento com drogas, acabei sendo punido até com reclusão, mas já paguei minha dívida com a sociedade e mudei completamente o meu estilo de vida. 66 REVISTA ATMA

Lindemberg Realino Braga, 47 anos, é ex-jogador de futebol profissional, casado há oito anos, tem três filhos legítimos, três adotivos e três netos adotivos.


ATMA DEPOIMENTO Minha mãe e meus filhos me fizeram recuperar a energia e a disposição para seguir. Comecei o tratamento tomando 18 comprimidos e hoje, tomo nove. Fiquei mal devido a uma toxoplasmose seguida de meningite. Consegui superar depois de ter ficado até em coma, mas sem sequelas, graças a Deus. Fiz promessa e todo ano vou à Romaria agradecer porque os meus filhos são saudáveis. É até estranho falar isso, mas o HIV me transformou para melhor. Parei de beber e de usar outras drogas, comecei a levar a vida mais a sério. Hoje, meu sonho é viver, ver minha mãe e meus filhos felizes. Tenho uma sobrinha de três aninhos que é a felicidade da família e também os meus netinhos, na verdade, netos da minha atual mulher. Minha mãe está com 84 anos, meu pai está doente e os dois são separados. Tenho de cuidar deles. A pessoa deve ter fé, não pode entregar os pontos, porque a aids não é o fim do mundo. Acho apenas que as pessoas deveriam nos olhar com outros olhos, sem discriminação, sem preconceito. Mesmo assim, sou feliz, tenho uma companheira excelente que me ama e me valoriza. Formamos um casal sorodiscordante, ou seja, ela não tem o vírus. Sem amor a gente não vive. Hoje cuido dos meus peixinhos,

Lindemberg com um dos seus filhos

da minha horta e outras plantinhas e não troco essa paz por nada neste mundo. Sou amigo do Nilton (Resende, presidente fundador da ONG Saiba Viver) há muitos anos e nos encontramos na Funepu. Participamos de um projeto de Educação Física, e ganharam prêmios com ele em São Paulo, mostrando que os soropositivos que fazem ginástica/musculação sobrevivem melhor, porque a prática de exercícios aumenta a resistência. O jeito é malhar!!! Não tenho arrependimento de nada do que fiz, apenas lamento ter infectado pessoas quando eu não sabia que estava com o vírus. A partir do momento que eu soube passei a usar preservativo em todas as relações, como faço até hoje. A ONG tem dado um apoio muito grande para quem tem o vírus e a muitos que não têm e passam a se cuidar. Ninguém deve deixar de se prevenir. Só quem tem, sabe o que passa. Quem vê cara não vê coração. Os jovens de hoje não se preocupam, aviso direto aos meus filhos. Digo que a vida é uma caixinha de surpresa, depois não vai adiantar reclamar. Na saúde falta tudo. O HIV hoje é controlado, graças a Deus, mas há o diabetes, o câncer, que matam mais que o vírus da aids. O governo deveria cuidar dessa gente.

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ATMA WEBS

Aplicativo promete facilitar a adesão de pacientes ao tratamento de HIV/Aids formações sobre o paciente e os seus dados são preservados. O aplicativo gratuito “Viva Bem” está disponível para download gratuito nas plataformas Android e iOS, para smartphones e tablets.

Fonte: Blog Saúde

O Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais (DDAHV) do Ministério da Saúde lançou uma nova ferramenta que deverá contribuir para a melhor adesão de pacientes ao tratamento para HIV/Aids com medi-

camentos antirretrovirais (TARV), que impedem a multiplicação do vírus no organismo e evitam o enfraquecimento do sistema imunológico. Entre as funcionalidades, o "Viva Bem" foi criado para lembrar os pacientes sobre o horário em que devem tomar o medicamento ou quando devem buscá-lo nos serviços de saúde. O paciente é lembrado por um “push” que diz: “Tá na hora!”. A dificuldade para tomar o medicamento no horário exato é uma reclamação de muitos pacientes. O aplicativo funciona também como um diário onde podem ser registrados dados de carga viral e de exames de CD4 toda vez que houver novo resultado. O próprio aplicativo cria o gráfico de acompanhamento, podendo ser visualizado um de cada item ou os dois ao mesmo tempo. Vale lembrar que o app pode ser usado para cadastrar quaisquer medicamentos – assim beneficiando também pacientes que fazem uso de remédios diariamente, independente do agravo. O "Viva Bem" exige uma senha para acesso, não registra in-

Suellen Vitorino - Especialista em Marketing Digital

www.geswebs.com.br REVISTA ATMA

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ATMA DEPOIMENTO

“Não existem coincidências, apenas o inevitável” No dia 12 de novembro de 2013, me ligaram do laboratório falando que o exame ficou pronto. Estava trabalhando, e uma colega sabia que eu estava aflito esperando esse exame (sou meio linguaru-

do, então conto pra todo mundo ao meu redor o que está acontecendo); fomos à mesma hora buscar! Entrei no consultório, o médico do laboratório pediu para eu me sentar e já falou que o resultado tinha dado

Carlos Rodrigues tem 26 anos, é arquiteto, formado há três anos pela PUC-GO, e trabalha na área desde a graduação.

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Descobri que sou soropositivo há quase dois anos, através de exames de rotina. Foram dois meses de aflição, pois todos os meus exames tinham dado OK e o único que deu alterado foi o de HIV, então o procedimento médico é fazer um re-exame que demora quase um mês, e durante esse tempo, conforme o código de ética médica, ninguém podia me falar o resultado por telefone ou e-mail.

positivo. Foi um dia muito ruim para mim, chorei várias vezes, mas posso agradecer que havia muitas pessoas à minha volta que me apoiaram, me abraçaram, e ficaram do


ATMA DEPOIMENTO meu lado quando eu mais precisei. Conversando com a minha médica (que também é minha amiga), descobri que não tinha como saber uma data exata de infecção, apenas fizemos os primeiros exames para detectar a taxa de CD4 e a carga viral. Até o dia que saiu esse primeiro exame, meus dias foram bem tenebrosos, estava mal... Por mais que a família, os amigos, o namorado (ex, atualmente) tenham falado que hoje em dia é muito simples conviver com isso, eu estava arrasado e apenas imaginando que minha vida estava arruinada. Com o passar de um mês, dois meses, percebi que minha rotina não havia alterado em absolutamente NADA! Continuei comendo normal, trabalhando normal, saindo com meus amigos, me divertindo com meus pequenos vícios (RPG de cartas, sim sou um nerd convicto),... enfim, eu acabei por me conformar com minha nova condição, e hoje vivo normalmente. Tomo a medicação, que atualmente é composta de um único comprimido, todos os dias em um mesmo horário que eu estabeleci (a médica apenas me alertou que às vezes dá sono, e isso é bom que pelo menos de insônia eu não sofro!). Com tudo o que passei desde a descoberta até hoje, eu tenho o mesmo conselho que todo mundo dá, sejam familiares, amigos, governo, mídia... Prevenção é muito importante, muito importante mesmo! Eu sempre estou atento às notícias relacionadas ao HIV, sejam por conscientização, possíveis curas, como outras pessoas vivem com o vírus... De fato hoje é mais simples conviver com ele do que há 15, 20 anos: o único empecilho que ainda temos de vez em quando

é o preconceito proporcionado por alguns meios de comunicação, estigmatizando quem é HIV+, como pode ser perigoso abraçar a gente, dar um beijo no rosto, essas coisas sensacionalistas que me fazem refletir o quanto o ser humano ainda precisa evoluir sobre informação. O Governo faz a parte dele sim, sempre há campanhas de conscientização, de prevenção, de tratamento (os medicamentos são distribuídos gratuitamente para todo mundo, independentemente de tratamento particular ou público): entretanto, por vezes, algumas campanhas, alavancadas por mídias sensacionalistas, acabam soando como um “alerta” sobre os perigos de você tropeçar na vida com alguém que é “infectado”. Exemplo mais alarmante que temos foi o conhecido clube do carimbo, de pessoas que têm o vírus e estão se juntando para “propiciar a doença”, como dizem... mesmo que correspondam a uma parcela mínima de pessoas (acredito eu que não seja mais que 20 pessoas hehehe), a mídia acabou assustando a população, e um projeto de lei estava entrando em debate para

criminalizar quem tem a doença e se relaciona com quem não tem. Totalmente na contramão do preconceito! Hoje eu falar do vírus é algo normal pra mim, sempre procuro tratar com seriedade e uma pitada de bom humor: mas a gente tem que conhecer quem está à nossa volta. Meus pais, minha irmã, meus amigos mais próximos foram os primeiros a saber e o apoio deles foi de suma importância para o meu próprio entendimento de que apenas aqueles que não veem problema algum com o fato de eu ser positivo devem ser as pessoas que eu preciso ter próximo a mim. Sou de formação católica e tenho minha própria fé em Deus, e sempre tive uma frase que uma vez ouvi em um Anime (olha o lado nerd de novo) que tomei como filosofia de vida: “Não existem coincidências, apenas o inevitável.” Eu acredito que eu tive de passar por tudo o que passei para evoluir como ser humano, como profissional e como cristão, principalmente, pois percebi que temos de respeitar as condições, crenças e opiniões de todo mundo. REVISTA ATMA

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ATMA NEUROLOGIA

Comprometimento neurológico

atinge 20% dos

soropositivos

Pode haver comprometimento neurológico devido ao tratamento de quem vive com HIV/Aids? Sim. Hoje, com os novos tratamentos, obviamente, que o número de casos diminuiu, no entanto, ainda em torno de 20% dos pacientes apresentam comprometimento neurológico. 74 REVISTA ATMA

De que forma ele se apresenta? Pode ocorrer pelo próprio HIV, e pode ser também devido às infecções oportunistas. Como o vírus atinge o sistema imune do paciente, ele fica sujeito às infecções oportunistas, que não surgem quando a imunidade está alta. Naturalmente, estão também sujeitos à infecção por germes comuns como a população em geral.

O próprio HIV leva a uma doença que a gente chama de complexo demência aids, que seria o paciente que evolui com um quadro demencial pelo acometimento do vírus

Reduzir as infecções oportunistas no sistema nervoso central é fundamental, porque elas estão entre as causas de morte do paciente com HIV. A avaliação é do médico neurologista Claudio Renato Figueiredo Cruvinel, especialista pela USP/Ribeirão Preto, acrescentando que devido ao avanço do tratamento para quem vive com HIV/Aids, atualmente há menos acometimento neurológico, mas quando ocorre pode vir acompanhado da doença chamada de complexo demência aids. Ele alerta que a aids continua sendo uma doença grave, que com a alteração da imunidade inclusive deixa a pessoa mais suscetível a desenvolver o linfoma. Comenta que com o uso da medicação com antivirais, o emagrecimento excessivo, a palidez e outras mudanças na aparência não existem mais. “O HIV está por aí. A aids é uma doença crônica e sem cura, portanto, a prevenção é imprescindível”. Confira!

Quais doenças oportunistas seriam essas? As mais comuns são toxoplasmose cerebral, a criptococose, que é um fungo que normalmente leva a um tipo de meningite e infecções pelo citomegalovírus. O paciente HIV imunocomprometido tem uma chance maior também de desenvolver infecções no sistema nervoso pela tuberculose, e pela sífilis, que é uma doença sexualmente transmissível. De maneira geral são as mais comuns. Ainda que ele não tenha nenhuma dessas doenças, pode haver uma mudança de comportamento por parte do infectado? Sim, porque, primeiro, todas essas infecções podem vir como sintoma o distúrbio de comportamento. Mesmo que os pacientes com HIV não tenham a infecção por esses germes que citamos, o próprio vírus pode gerar lesão no cérebro com o passar do tempo. Por isso que é tão importante o diagnóstico cada vez mais precoce? Sim. Hoje em dia, muitas pessoas são diagnosticadas com a sorologia positiva do HIV e isso não quer dizer que elas tenham aids. O diagnóstico pode ser feito numa fase em que o paciente não tenha atingido uma imunossupressão


ATMA NEUROLOGIA para desenvolver doenças que estejam relacionadas à aids. Quando o paciente consegue fazer o diagnóstico e inicia o acompanhamento e o tratamento antes dessa fase, a chance de ele ter uma vida normal, inclusive livre dessas infecções oportunistas, é muito grande. De uns anos pra cá, com o uso dos novos antirretrovirais desenvolvidos, a qualidade de vida das pessoas com HIV melhorou demais. O tempo de vida e o prognóstico da doença avançaram muito. E quais são as lesões que podem surgir no cérebro? O próprio vírus HIV leva a uma doença que a gente chama de complexo demência aids, que seria o paciente que evolui com um quadro demencial pelo acometimento do HIV. O vírus vai lesando as células do cérebro ocasionando a demência e os distúrbios de comportamento es-

tão entre os principais sintomas. Como fazer a prevenção contra essas lesões? Os infectologistas preconizam principalmente duas coisas: vida regrada, com boa alimentação, boa qualidade de sono, abstinência de drogas (se for o caso), de cigarro e bebida alcoólica; e o tratamento para receber as medicações necessárias e não desenvolva a supressão. O que de melhor traz o avanço da medicina? Hoje, o próprio SUS, teoricamente, disponibiliza testes rápidos, que em meia hora a pessoa tem uma resposta se pode ser ou não soropositivo. Do ponto de vista de diagnóstico, é positivo não só para o HIV. O avanço da medicina acabou também por permitir diagnósticos de infecções oportunistas mais

precocemente, e quanto mais cedo, melhor o prognóstico do tratamento. E com relação à medicação, os antivirais, que são o grande divisor de águas e permitiram mudar a evolução natural da aids. Há alguns anos, o paciente que recebia o diagnóstico tinha um prognóstico fechado, uma sentença de morte propriamente. Hoje, não. O que significa o termo neuroaids? Não é definição de uma doença. É quando o paciente tem HIV, tem aids e apresenta alguma doença neurológica relacionada à aids. O que existe é o complexo demência aids, do qual falamos anteriormente, que é desenvolvido pelo paciente ocasionado pelo próprio vírus HIV e não por germe oportunista. Qual é a boa notícia sob o aspecto neurológico para

O neurologista Claudio Cruvinel alerta que muitas infecções oportunistas podem apresentar como sintoma o distúrbio de comportamento

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ATMA NEUROLOGIA

quem acaba de receber o diagnóstico de HIV positivo? Com o fato de o tratamento do HIV ter avançado, temos menos acometimento neurológico, porque com o tratamento os pacientes conseguem manter uma boa imunidade e, consequentemente, menos infecções. Reduzir as infecções oportunistas no sistema nervoso central é fundamental, porque elas estão entre as causas de morte do paciente com HIV. Essas infecções quando se instalam é porque normalmente a imunidade está muito baixa e o prognóstico é ruim, porque são graves, de tratamento prolongado e doenças que podem gerar muitas sequelas. O que dizer sobre as estatísticas que exibem crescimento expressivo de casos principalmente entre jovens de 15 a 29 anos? Com o avanço da medicina, as pessoas adoecem menos, mas 76 REVISTA ATMA

Há casos em que o paciente chega ao seu consultório pensando estar com outra doença, ou seja, não sabe que é soropositivo? Não é comum, mas acontece. Às vezes, o paciente tem como primeira manifestação da doença um comprometimento neurológico. Quando ele é infectado, tem algumas síndromes na fase aguda da doença e que muitas vezes ele não vai fazer o teste, porque são acometimentos como outras doenças. Ele pode ter um quadro semelhante a uma gripe, por exemplo. Existem manifestações neurológicas que podem estar relacionadas a esta infecção aguda, uma é a Síndrome Guillain-Barré, causada pelo próprio vírus, e uma meningite viral, que pode ser uma manifestação inicial do HIV. Ou o paciente na fase crônica, que não sabe do diagnóstico, procura o neurologista por já apresentar um comprometimento neurológico às vezes por alguma doença oportunista. A ATMA traz diversos conteúdos, mas tem como prioridade levar esclarecimentos aos leitores no que se refere às enfermidades crônicas. Que avaliação o senhor faz de publicações assim? Acho muito importante, porque a informação é o segredo de

tudo. Da informação é que partem as condutas. Quanto mais, melhor. Ainda hoje, muitos que recebem o diagnóstico não têm a dimensão do problema, não apenas com aids, mas com todas as doenças. Por exemplo, ainda com relação ao sistema nervoso, o paciente com HIV tem uma chance maior de desenvolver neoplasias, principalmente o linfoma, pois o vírus ataca o sistema imune exatamente nos linfócitos. Pela alteração da imunidade, o paciente fica mais suscetível a desenvolver o linfoma, um câncer que tem origem no sistema linfático.

Os antivirais são o grande divisor de águas e permitiram mudar a evolução natural da aids; há alguns anos, o paciente que recebia o diagnóstico tinha uma sentença de morte

O HIV atinge o sistema imune do paciente, que fica sujeito às infecções oportunistas como toxoplasmose cerebral, a criptococose e outras causadas pelo citomegalovírus

os soropositivos/portadores estão por aí, sem que se possa percebê-los através da aparência. Os diagnósticos estão aumentando e obviamente vão surgindo doenças novas, que acabam ficando mais comuns. O grande segredo é a prevenção. A aids continua sendo uma doença grave e sem cura. Exatamente por isso, a prevenção é o melhor caminho. Não é porque o tratamento avançou que a gente vai deixar de se prevenir.

Cláudio Renato Figueiredo Cruvinel

é formado em Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e tem especialização em Neurologia pela USP de Ribeirão Preto.


Por Kayronn Paiva

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FICHA TÉCNICA

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Kayronn César Paiva Nasci em Uberaba e com 13 anos de idade tive minha primeira experiência com a profissão, trabalhando no salão de um tio, apenas lavando e hidratando cabelos, mas a paixão não veio nessa época. O tempo foi passando e o interesse pela profissão aumentando. A partir dos 20 anos comecei a me questionar se era isso que realmente queria, mas insatisfeito com os ganhos materiais e também pessoais, prestei vestibular e passei em Engenharia Civil, que cursei durante um semestre, tempo necessário para eu perceber que realmente não havia nascido para cálculos e a minha vida se basearia em beleza, moda e na elevada autoestima das mulheres. A profissão é muito vasta e há diversas áreas em que podemos nos especializar. Identifiquei minha paixão pelas loiras. A arte de mudar a cor e corte me deixava encantado e notei o que realmente seria o meu carro-chefe: a arte da cor. O sorriso de satisfação das clientes me move a ser cada dia melhor. Viajo pelo menos uma vez por mês para alguma capital em busca de novidades e uma vez por ano para algum país com o objetivo de renovar as minhas inspirações. Hoje, o mundo gira em torno das informações rápidas, toda mulher tem acesso ao celular ou tablet. A toda hora surge uma avalanche de blogs, sites de beleza. "Milagres" para cores, corte e químicas caem na rede todos os dias, e é minha obrigação como profissional estar atualizado para esclarecer a maioria dessas dúvidas que vão surgindo naturalmente. Mesmo apaixonado por cor, não significa que eu não faça outros trabalhos. Sou procurado também por noivas, madrinhas e formandas, trabalhando com todos os tipos de penteado. A satisfação de cada mulher, a transformação de seu semblante, o seu bem-estar, o sorriso, é o que realmente me faz amar cada dia mais o que faço. E mais que amar, me realizo com essa sensação, afinal toda mulher, seja qual for sua classe social, cor ou raça, merece toda atenção do mundo e deve ser feliz com seus cabelos. E é para isso que cada dia mais me dedico para alcançar tudo o que almejo.

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Tanoar Cabelo e Cia Rua Dr. José Ferreira, 56 34 3322.3355 kayronnpaiva2 tanoarcabeloecia kayronncesarpaiva


ATMA CARDIOLOGIA

A aids e o Coração ções por germes oportunistas, que têm o poder de também atingir e agravar a inflamação do músculo do coração. O vírus HIV induz, ainda, alterações na membrana que envolve o coração (pericárdio), gerando inflamação dela (pericardite) e formação de derrame pericárdico com todas as suas consequências. Por fim, alguns remédios utilizados no tratamento da aids causam al-

Ilustração Divulgação

O soropositivo é mais suscetível a ter doenças cardíacas? Sim. O vírus HIV é um agente etiológico que pode afetar o coração causando inflamação do músculo cardíaco (miocardite), enfraquecendo-o e gerando uma síndrome chamada insuficiência cardíaca. O paciente soropositivo tem mais chance de adquirir infec-

Os soropositivos podem ter vida normal, sob o ponto de vista clínico, desde que usem a medicação administrada pelo infectologista, façam controle periódico com o cardiologista e tenham um suporte psicológico eficaz. A afirmação é do mestre e doutor em Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), José Geraldo Ferreira Gonçalves, especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. O doutor recomenda que eles tenham atenção redobrada às doenças cardíacas, porque a aids é uma patologia que pode afetar o coração de forma grave

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Foto Francis Prado

ATMA CARDIOLOGIA

terações nos lípides sanguíneos, gerando aumento do colesterol, triglicérides, da insulina, podendo induzir aterosclerose e até precipitar o aparecimento de infarto agudo do miocárdio. Além da miocardite e a pericardite, que outras doenças cardíacas, os soropositivos estão mais propensos a contrair? Infecção de uma ou mais valvas do coração (endocardite), fenômenos tromboembólicos (acidente vascular encefálico, embolia pulmonar, obstrução de artérias dos membros superiores e/ou inferiores), tumor envolvendo o coração (sarcoma de Kaposi) e doença isquêmica do coração (angina de peito e/ou infarto do miocárdio). Todos devem ter um com84 REVISTA ATMA

portamento de prevenção, mas os soropositivos, em especial, como devem agir preventivamente? Além do cuidado de acompanhamento com um infectologista, que é fundamental, eles devem fazer revisões semestrais ou anuais com o cardiologista. O que contemplam essas revisões na área cardiológica? Exame clínico e realização de exames complementares (eletrocardiograma, ecocardiograma, radiografia de tórax, dosagens de lípides e da glicose no sangue). É sempre certo que soropositivos venham a desenvolver doenças cardíacas? Não. A miocardite com insuficiência cardíaca ocorre em torno de 15% dos soropositivos e a inci-

dência de pericardite com derrame pericárdico gira em torno de 11% ao ano. Muitos, quando descobrem ter o vírus, caem em depressão. Esta condição abre portas para as doenças do coração? Sim, a depressão é uma doença que “mina” o sistema imunitário (sistema de defesa do organismo) do paciente, reduzindo a sua função, favorecendo, desta forma, um maior grau de infecção, seja pelo vírus HIV, seja pelos germes oportunistas. Isso indica que eles devem, também, procurar ajuda profissional para acompanhamento psicológico? É o que sempre ocorre nos bons serviços. Além do infectologista, do cardiologista, o suporte psicológico é de fundamental importância para o bom restabelecimento do paciente. A prática de atividades físicas também é indicada como prevenção? Sim, e não apenas para os soropositivos. Para qualquer pessoa. O exercício traz benefícios extremamente salutares para todos os órgãos e dentre eles o coração, prevenindo doenças vasculares, infarto, angina, ajudando no controle da pressão arterial e dos níveis sanguíneos do colesterol, triglicérides e glicose. Que comportamentos os soropositivos devem t er para evitar problemas de coração? Buscar paz de espírito; exercício físico regular, sob a supervisão médica; manter os níveis sanguíneos de colesterol, triglicérides e


ATMA CARDIOLOGIA

Sabe-se que o tabagismo provoca uma série de doenças. No caso dos soropositivos, o hábito de fumar é ainda mais nocivo. Por quê? Porque os soropositivos têm maior propensão para dislipidemias (colesterol e triglicérides elevados), além de elevação da glicose. Isto favorece o aparecimento de entupimentos nas artérias (placas de aterosclerose) do corpo, principalmente do coração, induzindo a surgimento do infarto agudo do miocárdio. Neste ambiente hostil, a presença do tabaco aumenta muito a chance do infarto.

DICAS

A medicação usada pelo soropositivo exige um cuidado maior quanto à mistura com outros fármacos? Sim. Exemplo clássico é o das estatinas. Sabemos que as estatinas são fármacos utilizados para reduzir os níveis de colesterol no sangue. Ora, os soropositivos, como já disse, têm, com frequência, elevação do colesterol. Nada mais lógico do que administrar para eles uma estatina. Após exe-

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Ilustração Divulgação

glicose sempre normais; controlar a pressão arterial; evitar bebidas alcoólicas e o fumo. Esses são os cuidados mais importantes.

cutarem suas funções no organismo, algumas estatinas são destruídas no fígado por uma enzima chamada citocromo P450. Entretanto, alguns remédios, para o combate ao vírus HIV, sofrem destruição no fígado pela mesma enzima citocromo P450! Ou seja, algumas estatinas e alguns antivirais competem pela mesma enzima! Portanto, se eu prescrever para o paciente uma dessas estatinas, ela não será destruída (o citocromo P450 estará ocupado com o fármaco antiviral), terá seu nível sanguíneo elevado e induzirá o aparecimento dediversos efeitos colaterais no paciente (dor intensa nos músculos e articulações, cãibras, etc).

Fazer revisões médicas periódicas Não fumar Fazer atividades físicas periódicas Evitar bebidas alcoólicas Controle rigoroso do colesterol e triglicérides Controle rigoroso da glicose Controle rigoroso da pressão arterial Controle do peso corporal Uso correto das medicações prescritas Paz de espírito

Que mensagem o senhor deixa para quem acaba de receber o diagnóstico e está lendo esta entrevista? A certeza de poder ter uma vida normal; seguir as orientações médicas; tomar corretamente a medicação que lhe for administrada pelo infectologista e/ou cardiologista; fazer controle periódico com estes profissionais; ter um suporte psicológico quando se fizer necessário. E não se esqueça que: “O segredo da saúde mental e corporal está em não se lamentar pelo passado, não se preocupar com o futuro, nem se adiantar aos problemas, mas viver sábia e seriamente o presente”(Buda).

Dr. José Geraldo Ferreira Gonçalves

é mestre e doutor em Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e professor de Cardiologia na UFTM e também na Universidade de Uberaba (Uniube).

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THAIS CURI

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CARLOS EDUARDO HALLITE

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ELAINE FURTADO

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ALÊ RÔSO

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CLÁUDIA RIBEIRO

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ATMA SOLIDARIEDADE

Ajudar dá sentido à vida

No mundo em que vivemos hoje, a ajuda aos mais necessitados é essencial, ainda mais quando são crianças carentes e com doença tão grave como a que trata a Oasis (Organização dos Amigos Solidários à Infância e a Saúde). Quando fiz 45 anos, no ano passado, pensei que só faria uma festa se fosse em benefício de alguém e como já fazíamos algumas ações em benefício da Oasis, foi a primeira instituição que me veio à memória. Eu ainda não era voluntária na instituição. Eu convidei algumas pessoas para se confraternizarem comigo e se houvesse a intenção de me presentear que doassem tecidos de algodão. A pessoa escolhe a estampa e a metragem que quer e pode doar. Assim, pudemos

todos contribuir para o bazar de fim de ano da instituição. Desde então, sou voluntária da Oasis, incluindo esta ação que repeti neste ano e espero que permaneça por muitos outros, é claro. Agora recebi o convite para ser madrinha da ação de responsabilidade social da revista ATMA e aceitei com muita satisfação. Quanto mais pudermos ajudar e colaborar é ótimo, porque é isso o que dá sentido à vida. Temos mais é que agradecer tudo o que a gente tem e a forma de agradecimento é retribuir através de ações solidárias. Acho fundamental a gente poder aliviar a dor das pessoas menos favorecidas ou acometidas por doenças e infortúnios. Com a revista, além do conteúdo esclarecedor, será possível trazer mais pessoas para o nosso lado, para serem voluntárias conosco.

Foto Francis Prado

ROSE PAOLINELLI

Voluntária da Oasis, casada com o empresário Marco Túlio Paolinelli, que mantém o Instituto Agronelli de Desenvolvimento Social

Foto Arquivo Pesooal

MONICA HIAL

A gratidão de quem recebe é bem menor do que o prazer de quem faz, diz. a empresária Monica Hial 94 REVISTA ATMA

Fazer o bem contagia

Comecei bem cedo a exercer a solidariedade que aprendi com a minha mãe (Velma). Sinto uma sensação mágica e percebo que me tornei uma pessoa melhor, não por ajudar os outros, mas por voltar a sentir mais vezes aquela felicidade, que nada mais é do que o sentimento de ser útil. Muitos uberabenses são solidários. Sempre que faço qualquer evento beneficente todos se prontificam e estão sempre dispostos a ajudar, basta pedir ou convidar. Após o evento beneficente que faço ou participo, sinto uma

energia tão forte, que todas as portas se abrem!! Acho que se cada um fizer a sua parte, mesmo que pequena, vai contagiar mais pessoas fazendo realmente uma corrente do bem. Admiro a ação da revista ATMA. Com a correria do dia a dia lembrar pessoas a todo o momento como elas podem e devem ajudar é um papel que exige um tempo que às vezes o solidário não dispõe e dedicação para abrir mão até do próprio trabalho e família em prol do próximo. Isto sim, é altruísmo!! Parabéns à Revista ATMA que, com certeza, será muito bem recompensada! Afinal, é dando que se recebe!


ATMA SOLIDARIEDADE

Trabalho para mundo melho

Já faço muitos trabalhos como voluntária em várias instituições entre elas a Oasis-Organização dos Amigos Solidários à Infância e a Saúde, e fiquei muito feliz com o convite para ser madrinha da revista ATMA. Acho importante o fazer solidário para a criação da família, para dar exemplo como mãe. Estou ao lado da Rose Paolinelli, que foi minha madrinha na Oasis, e estamos juntas também em mais esse projeto. O nosso trabalho aqui é levar saúde e tentar recuperar ao máximo as crianças, porque queremos vida. A vida

é o mais importante e este é o foco das nossas ações. Fiquei feliz, porque a revista faz um trabalho muito sério e a instituição que será beneficiada nesta segunda edição também. Visitá-los, abraçá-los, fazer uma oração por eles. Tudo isso é doação. Se cada um de nós doar dessa forma o mundo será muito melhor. É um afago ao coração. Todos que têm famílias correm atrás para superar os obstáculos. Para mim foi ótimo ter vindo para a Oasis. Está me fazendo muito bem. Em vez de ficar em casa vendo televisão venho para a instituição. Estou evoluindo como ser humano e ajudando o próximo. Isso é maravilhoso!

Foto Francis Prado

MÁRCIA CRISTINA

Márcia Cristina Camargo Fernandes é voluntária da Oasis e madrinha da revista ATMA

Foto Arquivo Pesooal

VERA TUYCHI

Vera Tuychi é empresária em Uberaba, com o lema a simplicidade é a maior sofisticação

Investimento no social

Há 15 anos, quando comecei a fazer da solidariedade uma rotina, tudo foi melhorando na minha vida. É como se eu abrisse as portas para atrair só coisas boas. Quando mudo a coleção, não mantenho as peças da anterior, pois não trabalho com estoque. Assim, doo para o bazar de fim de ano da Oasis-Organização dos Amigos Solidários à Infância e a Saúde. Faço muito pouco, mas se cada um fizesse a sua parte o país seria bem melhor. Para a doação faço um investimento no bem, porque mesmo para contribuir com

uma instituição, pago todos os impostos sobre as roupas doadas. Há quem pense que a nossa iniciativa visa a fazer dedução no imposto de renda. Não é! Agora, vejo a revista ATMA com essa ação de responsabilidade social muito interessante, gostei da primeira e estou feliz de ver as minhas peças no editorial de moda da segunda edição, porque admiro o projeto e o considero importante para a cidade, pois o conteúdo da revista traz temas diversos., mas, sobretudo, esclarecimento para os leitores. Temos de ter fé que a solidariedade ainda fará parte da rotina da maioria das pessoas. REVISTA ATMA

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ATMA PROJETOS SOCIAIS

FÁDUA HUEB A diretoria da revista ATMA prestigiou a Noite Fashion com desfile Made By Taylor, da ótima Fádua Hueb (foto), uma das parceiras do evento em prol da Vencer/ Associação dos Voluntários do Combate ao Câncer de Uberaba, no Romma Hall Center. Alê Rôso e Elisa Araújo fizeram parte de

animada mesa onde estavam as amigas Angela Dib, Heloísa Piau, Regina Célia de Freitas; o presidente da Unimed, Sétimo Boscolo e esposa. A noite foi belíssima. No hall estavam as obras da artista plástica Nana Cunha e, Além do desfile, houve apresentação especial de coreografia interpretada por dançarinos da Academia Beth Dorça. A noite de 12 de maio de 2015 ficou na memória!

Marco Aurélio Photos

Noite de moda e benemerência

ATMA FISIOTERAPIA

Fisioterapia Domiciliar para quem vive com HIV/Aids

O HIV infecta e diminui de forma gradual células essenciais da imunidade e com essa progressão, a incidência de doenças oportunas aumenta, acelerando o risco de morte. As infecções oportunas causadas por diversos agentes etiológicos como fungos, vírus, bactérias, protozoários e parasitas, levam a inúmeras manifestações de ordem neurológica, respiratória, digestiva, ocular e dermatológica. A causa de morte não é um dos efeitos diretos da infecção do 96 REVISTA ATMA

HIV, e sim resultante de uma dessas infecções oportunistas. O sistema respiratório, o trato gastrintestinal e o sistema nervoso são os sistemas mais afetados pelo processo infeccioso HIV/Aids e modificam a qualidade de vida do paciente trazendo sérias complicações funcionais. Uma das principais alterações de anormalidade é no sistema musculoesquelético e seu principal sintoma é a fraqueza muscular, comprometendo o equilíbrio, a amplitude de movimento, a força e a marcha, limitando as funções motoras. O fisioterapeuta estabelece melhoria na qualidade de vida com intervenção preventiva tornando-se uma prática necessária aos portadores dessa doença. Cabe ao profissional avaliar, monitorar, reabilitar e prevenir a curto, médio e a longo prazo, complicações em nível de sistema respiratório, muscular e de neuropatia periférica relacionada ao HIV. A Fisioterapia é um avanço do sucesso de programas dirigidos à assistência bem conduzida e

pode contribuir para uma melhor qualidade de vida das atividades diárias e controle da epidemia, junto a uma equipe de apoio multidisciplinar. O Atendimento Domiciliar proporciona mais comodidade por ser realizado em lugar habitual ao paciente que encontra-se debilitado de forma física e emocional. Atendendo a um tratamento personalizado, esse profissional supre as necessidade com equipamentos específicos e de fácil transporte e horários flexíveis, evitando filas de espera de clínicas e hospitais. A Fisioterapia Domiciliar emerge com a proposta de atendimento específico para cada indivíduo, abreviando o caminho e tempo nos dias corridos e exaustivos em que atualmente vivemos.

Lidianne Siqueira

é Fisioterapeuta especialista em Dermato-Funcional e em Atendimento Domiciliar. Formação Fisioterapia pela UNIUBE 2007.



Fotos Francis Prado / Luciana Alves

ATMA PROJETOS SOCIAIS

Elisa Araújo, Alê Rôso, Nilton e Jac Potenza

O prefeito Paulo Piau e Heloísa Piau

Prefeito Paulo Piau com Altamir, Roberto e amigos

Rose Ribeiro e Ricardo Motta

Fred com Juliana Fidelis e Francis Prado

Márcia, Karine, Elisa, Rose e Alexandre

Jac, Elaine, Luis, Alê, Rose, Renato, Marcelo, Virgínia, Thaís e Elisa


ATMA PROJETOS SOCIAIS

Ângela, Alê, Elaine e Patrícia Rodrigues

Luciana, Ani Bittencourt e Laércio Arantes

Fausto Reis, Marina, Tito e integrantes da banda Tia Ciata

Lucas Valle, Dani Salci e Luiz Fernando

Gicele Gomes, Nilton e Indiara Ferreira

Diogo Carvalho e Fernanda Rôso

Valéria, Arahilda, Ana Paula, Viviane e Elaine REVISTA ATMA

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ATMA PROJETOS SOCIAIS

Roberto, Nagib, Paulo Piau, Elisa e Nilton

Olésia, Alê, Portelinha, Ângela, Heloisa e Fábio

Marina Rabelo, Tito Rios e Aracelle

Cláudia, Marise Romano e Lúcia

Elisa, Domingos e Dalva

Grupo Contagiarte

Banda Tia Ciata do Samba, Aracelle e Dri Ribeiro



ATMA PROJETOS SOCIAIS

REVISTA ATMA

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ATMA ECONOMIA

A indústria já definiu claramente a sua posição diante da crise política e econômica que se agrava a cada instante: rejeita firmemente a disposição do governo em aumentar impostos, recusando-se a reduzir os gastos públicos, o que seria o caminho mais natural e eficaz. Também repele, enfaticamente, a investida contra o Sistema S embutida no “pacote fiscal” recentemente anunciado e que pretende retirar das instituições que o integram recursos superiores a R$ 2 bilhões. Afinal, a carga tributária vigente no país já representa 36% do Produto Interno Bruto (PIB), o que significa retirar do setor produtivo, anualmente, cerca de R$ 2 trilhões, canalizando-os para gastos públicos ineficientes. É dinheiro que vai para o ralo do desperdício e da ineficiência. Na verdade, a carga tributária brasileira se destaca entre as maiores do mundo, com a agravante de que em outros países o retorno oferecido à população em termos de serviços públicos essenciais é de alta qualidade - na educação, saúde, segurança pública e transporte. No Brasil, o que se vê é exatamente o contrário, com a violência crescente, gente morrendo nas portas dos hospitais, crianças e jovens fora das escolas e transporte público de péssimo nível. Não dá para comparar e por isso, exatamente, a população vai para as ruas protestar e exigir mudanças. No campo da economia, os efeitos da astronômica carga tributária minam a competitividade da indústria nacional e das nossas empresas, que não têm como concorrer nos grandes mercados mundiais e nem mesmo no mercado interno, que sofre com a crescente invasão de produtos

Foto Arquivo pessoal

Não aos impostos!

importados. Sem competitividade, as empresas cancelam ou adiam seus investimentos, reduzem a produção, paralisam a economia e são obrigadas a “despedir” seus trabalhadores, aumentando o desemprego de forma preocupante e dramática, como, aliás, mostram as pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE. Neste cenário, é inaceitável e revoltante a disposição do governo em confiscar os recursos do Sistema S, que é formado por instituições voltadas principalmente para a educação básica e o ensino profissionalizante. No caso da indústria, este trabalho é realizado pelo Serviço Social da Indústria (SESI) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Quem anda pelas ruas de Uberaba, certamente já passou por nossas escolas do SESI e do SENAI, pelo Centro de Cultura José Maria Barra e pelo

Clube Esportivo José Alencar Gomes da Silva. Um número é suficiente para mostrar a importância do Sistema S: somente em Minas, ao longo de sua história de mais de sete décadas – 73 anos, exatamente – o SENAI já formou mais de quatro milhões de trabalhadores, abrindo aos nossos jovens as portas do mercado de trabalho. Enfim, a indústria repudia o “pacote” fiscalista do governo federal e o confisco de recursos do Sistema S. Propõe, como solução, a união da sociedade em um grande pacto pela recolocação do país nos trilhos do crescimento, com geração de riqueza para o país e de empregos para mineiros e brasileiros. Antônio Marum

é Chefe de Gabinete da Presidência da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Sistema Fiemg) REVISTA ATMA

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ATMA EDUCAÇÃO

Educação Sexual é realidade em Uberaba

Como surgiu esse projeto e quais os seus objetivos? Surgiu em 2013, quando na elaboração do Plano Estratégico do atual governo municipal, foram apresentados mais de 250 projetos dos quais 16 foram escolhidos pelo prefeito Paulo Piau junto com a FGV como projetos prioritários, sendo o Programa Saúde na Escola um destes. Tem como objetivo contribuir para a formação integral dos estudantes por meio de ações de promoção da saúde, de prevenção de doenças e agravos à saúde e de atenção à saúde, com vistas ao enfrentamento das vulnerabilidades que comprometem o pleno desenvolvimento de crianças e jovens da rede pública de ensino. O Programa é uma política pública intersetorial desenvolvida em conjunto pelos ministérios da Saúde e Edu104 REVISTA ATMA

cação e visa à integração e articulação permanente da educação e da saúde, proporcionando melhoria da qualidade de vida dos educandos. Como você avalia o alcance dessa iniciativa? Políticas públicas de saúde voltadas para a prevenção têm custo mais baixo e maior alcance, assim sendo, entendo que a escola como um espaço de relações é ideal para o desenvolvimento do pensamento crítico e político, à medida que contribui na construção de valores pessoais, crenças, conceitos e maneiras de conhecer o mundo e interfere diretamente na produção social da saúde. As práticas em Educação e Saúde devem considerar os diversos

A escola não pode e não deve substituir o núcleo familiar e sim caminhar de mãos dadas. Com participação ativa de todos podemos mudar o Brasil cuidando melhor das nossas crianças

Uberaba tem Educação Sexual abordada por professores capacitados e que atinge pelo menos 40 mil alunos da rede pública. O cirurgião dentista Frederico N. Tomás gerencia o Projeto “Programa Saúde na Escola” e, nesta entrevista exclusiva à revista ATMA, reforça que faz parte do tema Educação para a Saúde Sexual, Saúde Reprodutiva e Prevenção das DSTs/Aids e de Hepatites Virais, uma gama de conteúdos que ultrapassam as informações sobre corpo sexual e reprodutivo, gravidez na adolescência e prevenção às DSTs, HIV e aids.

contextos com o objetivo de realizar construções compartilhadas de saberes sustentado pelas histórias individuais e coletivas, com papéis sociais distintos – professores, educandos, merendeiras, porteiros, pais, mães, avós, entre outros sujeitos –, produzindo aprendizagens significativas e ratificando uma ética inclusiva. Desse modo, dimensionando a participação ativa de diversos interlocutores/sujeitos em práticas cotidianas, é possível vislumbrar uma escola que forma cidadãos críticos e informados com habilidades para agir em defesa da vida e de sua qualidade. Quantas escolas participam e quantos alunos são beneficiados? Em Uberaba o programa passou a ser implantado de forma efetiva em 2013 com a participação de 91 escolas da rede pública de ensino e 51 equipes de Saúde da Família, beneficiando aproximadamente 40 mil alunos. O Programa Saúde na Escola (PSE) está dividido em três componentes: Avaliação das Condições de Saúde das crianças, adolescentes e jovens que estão na escola pública; Promoção da Saúde e ações de Prevenção de doenças e de agravos à saúde, e Educação Continuada e Capacitação dos Profissionais da Educação e da Saúde e de Jovens. Como são desenvolvidas as atividades do Programa? Nós estamos desenvolvendo e monitorando uma série de ações relacionadas à saúde destas crianças, entre elas a Educação para a Saúde Sexual, Saúde Reprodutiva e Prevenção das DSTs/Aids e de Hepatites Virais. Para isso, através do Programa Saúde na Escola, foram capaci-


Foto Francis Prado

ATMA EDUCAÇÃO

Frederico Tomás diz que o projeto deixa alunos à vontade para opinar, discutir e refletir

É possível vislumbrar uma escola que forma cidadãos críticos e informados com habilidades para agir em defesa da vida e de sua qualidade

tados mais de 300 profissionais da saúde e da educação no município de Uberaba. A gestão do Programa é realizada de forma compartilhada através de um Grupo de Trabalho Intersetorial (GTI-Municipal) composto por representantes das secretarias Municipais de Saúde e Educação e conta também com a participação de representantes de universidades como a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). O que propiciou a inserção do tema na rede pública de Uberaba? O trabalho em conjunto. Assim conseguimos inserir no plano

politico pedagógico da educação municipal os temas propostos, entre eles a prevenção de DSTs e a prevenção ao uso de drogas entre outros. Todos os anos são desenvolvidas atividades com mais de 20 mil alunos nas escolas somente com este tema e a Prefeitura de Uberaba está realizando a aquisição de kits educativos com recursos do PSE e estabelecendo parcerias com as universidades para ampliar ainda mais o alcance destas medidas preventivas. A que você atribui o aumento preocupante de casos de HIV/Aids entre jovens? O crescimento de casos entre jovens no Brasil precisa ser interpretado de diversas maneiras, inicialmente temos que considerar as melhorias ao acesso a exames e diagnósticos precoces. Outro fator a ser considerado é o aumento no uso de drogas, principalmente o crack entre os jovens. Além disso, o desenvolvimento dos medicamentos e aumento da expectativa de vida de pacientes contaminados aparentemente têm levado a um relaxamento na prevenção por parte destes jovens. A sexualidade envolve, além do nosso corpo, nossa história, nossos costumes e nossas relações afetivas. Vale sempre reforçar que faz parte do tema uma gama de conteúdos que ultrapassa as informações sobre corpo sexual e reprodutivo, gravidez na adolescência e prevenção às DSTs, HIV e aids. Esses conteúdos são a comunicação e negociação, igualdade de gênero, respeito às raças/etnias

e à diversidade sexual, entre tantos outros. Outro ponto importante é lembrar que para cada momento de desenvolvimento da vida – infância, adolescência, juventude – existe uma forma adequada de se lidar com os temas. Como os pais podem contribuir para conscientizar as pessoas de que a educação sexual pode trazer benefícios para a vida toda? A condição básica para tratar dos assuntos relacionados à sexualidade e à saúde reprodutiva é abrir espaços para alunas e alunos se sentirem à vontade em opinar, discutir e refletir criticamente sobre todas as questões. Trabalhar a partir de um grupo de reflexão ou debate estimularia adolescentes e jovens a refletir sobre atitudes e expor dúvidas. Por exemplo, além do conhecimento sobre métodos contraceptivos, é importante abrir espaço para conversar abertamente sobre fantasias, curiosidades, medos e preconceitos relacionados às experiências afetivas e sexuais. Oficinas, rodas de conversa, jogos e construção de materiais educomunicativos costumam ser as melhores formas de se trabalhar com esse tema tão importante e ainda polêmico. O Papel família é fundamental na educação e também na luta contra a discriminação, é preciso diálogo em casa, maior participação dos pais nas escolas e na comunidade. A escola não pode e não deve substituir o núcleo familiar e sim caminhar de mãos dadas. Com participação ativa de todos podemos mudar o Brasil cuidando melhor das nossas crianças.

Frederico N Tomás

é cirurgião dentista formado pela USP, especialista em Periodontia pela USP e master em Implantologia pela CIDESID, Barcelona, Espanha. Atualmente é cirurgião dentista pela Ebserh/ UFTM, gerente do Projeto "Programa Saúde na Escola" da Prefeitura de Uberaba e diretor técnico da Secretaria Municipal de Saúde da PMU REVISTA ATMA

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ATMA PSICOLOGIA

Fortalecimento do "EU"

Tanto antes como agora a aids é uma doença que sofre preconceito social porque está ligada ao sexo na sua forma mais livre e, no seu início, aos desvios sexuais. Quem garante é a psicóloga e psicanalista Ilcea Borba Marquez, lembrando que o organismo de quem tem o vívus da aids apresenta poucas células de defesa e elevada carga viral acarretando várias doenças oportunistas. Quanto à infecção de mulheres casadas e fiéis, contaminadas pelos próprios maridos, Ilcea observa que toda mulher conhece seu marido, apesar de normalmente querer não conhecer ou não saber. “Todo casal que divide a mesma cama e a mesma mesa sabe das mudanças significativas no seu parceiro”. Sobre a conscientização governamental, a psicanalista comenta que a dificuldade de cura total se dá pelas mudanças constantes no vírus HIV, mas há um controle da doença quando o paciente não apresenta sintomas devido ao acompanhamento médico e laboratorial sistemático. Muitos soropositivos não conseguem manter o equilíbrio e acabam sendo atingidos pela depressão. Ilcea destaca que a depressão deve ser tratada pelo psiquiatra com o uso de medicamentos e pelo terapeuta com a psicoterapia. O ideal é sempre a procura pelo paciente, mas se não for possível a família pode ajudar orientando e sugerindo. Quem faz terapia tem mais 106 REVISTA ATMA

Foto Francis Prado

combate depressão

Psicanalista Ilcea Borba Márquez: “A psicoterapia ajuda a pessoa a enfrentar frustrações de forma menos angustiante”

condição de superar as adversidades da vida e a psicóloga explica que o objetivo psicoterapêutico é justamente fortalecer o EU do indivíduo para que ele lide com as frustrações e perdas de forma mais saudável e menos angustiante. “O fortalecimento egoico acontece através do conhecimento adquirido sobre si mesmo e o outro.” Há quem avalie que agora a vida de quem vive com HIV/ aids está tranquila por causa dos avanços da medicina. Para Ilcea, evidentemente, os avanços medicinais trouxeram maior tranquilidade

e os programas governamentais de ajuda aos que vivem com HIV/aids preveem este acompanhamento também no campo dos afetos. Para o familiar ou amigo de quem acaba de receber o diagnóstico de sorologia positiva, Ilcea aconselha antes de tudo escutar o que ele tem para dizer, para chorar, para lamentar e só depois esclarecer o que se torne necessário. Para quem é soropositivo e que esteja enfrentando depressão, Ilcea recomenda não ter receio de procurar ajuda tanto na medicina quanto na psicologia.



Z

ATMA COMPORTAMENTO

GERAÇÃO

Há certa resistência entre alguns estudiosos em usar termos muito fechados para definir povos, regiões ou gerações. Argumentam que definições simplificam os problemas e que toda simplificação tende a superficializar o debate. Outra corrente, segundo matéria publicada pela revista Veja, defende que, ainda que possam simpli108 REVISTA ATMA

ficar o debate, as definições têm o mérito de orientar as discussões. Fiquemos com a segunda opção. Até pouco tempo atrás, livros e filmes ainda falavam da Geração X, aquela que substituiu os yuppies dos anos 80. Essa turma preferia o bermudão e a camisa de flanela à gravata colorida e ao relógio Rolex, ícones de seus antecessores.

Isso foi no início dos anos 90. Recentemente, o mercado publicitário saudou a maioridade da Geração Y, formada pelos jovens nascidos do meio para o fim da década de 70, que assistiram à revolução tecnológica. Ao contrário de seus antecessores slackers – algo como "largadões", em inglês –, os adolescentes da metade dos anos


ATMA COMPORTAMENTO

90 eram consumistas. Mas não de roupas, e sim de traquitanas eletrônicas. Agora, começa-se a falar na Geração Z, que engloba os nascidos em meados da década de 90. A grande nuance dessa geração é zapear. Daí o Z. Em comum, essa juventude muda de um canal para outro na televisão. Vai da internet para o telefone, do telefone para o vídeo e retorna novamente à internet. Também troca de uma visão de mundo para outra, na vida. Garotas e garotos da Geração Z, em sua maioria, nunca conceberam o planeta sem computador, chats, telefone celular. Por isso, são menos deslumbrados que os da Geração Y com chips e joysticks. Sua maneira de pensar foi influenciada desde o berço pelo mundo complexo e veloz que a tecnologia engendrou. Diferentemente de seus pais, sentem-se à vontade quando ligam ao mesmo tempo a televisão, o rádio, o telefone, música e internet. Outra característica essencial dessa geração é o conceito de mundo que possui, desapegado das fronteiras geográficas. Para eles, a globalização não foi um valor adquirido no meio da vida a um custo elevado. Aprenderam a conviver com ela já na infância. Como informação não lhes falta, estão um passo à frente dos mais velhos, concentrados em adaptar-se aos novos tempos. Enquanto os demais buscam adquirir informação, o desafio que se apresenta à Geração Z é de outra natureza. Ela precisa aprender a selecionar e separar o joio do trigo. E esse desafio não se resolve com um micro veloz. A arma chama-se maturidade. É nisso, dizem os especialistas, que os jovens precisam trabalhar. Como sempre.

SUPERFICIALIDADE EM ALTA A dita Geração Z, sem pretender cometer o pecado da generalização, seriam as pessoas nascidas a partir da década de 90 e familiarizadas, desde cedo, com as tecnologias da informática e da internet. Uma forte tendência perceptível para as pessoas com essas características seria o fazer diversas coisas – assimilar e reagir a informações - ao mesmo tempo (no celular em diversas conversas textuais, no computador em diversos sites, na televisão ao assistir a mais de um canal, por exemplo). Pois bem, essa capacidade de fazer diversas coisas ao mesmo tempo – antes relacionada ao sexo feminino, hoje sabemos que não está restrito ao gênero – tem, como tudo, a vantagem de ‘economizar’ tempo na realização de tarefas e a desvantagem de realizar tudo de maneira superficial, ou seja, com pouca atenção e reflexão. Isto é proveitoso para tarefas simples e de menor importância, o mesmo comportamento para afazeres de alta responsabilidade ou complexidade acaba por ser ineficiente, inútil e até desastroso. Dizem as pesquisas que a difusão da aids entre jovens dessa faixa etária está alarmante, o que parece-me razoavelmente relacionado a essa ‘superficialidade’ ao avaliar as situações de risco, afinal o chavão ‘quem vê cara não vê aids’ deixou há muito de ser veiculado, junto com as políticas públi-

cas de saúde preventiva, o que é deplorável. É claro que a dita ‘maturidade’, ou seja, envelhecer traz consigo o foco e a atenção ao que é importante, mas essa tal maturidade varia de pessoa para pessoa e em todas as idades, afirmar que os adolescentes são impulsivos, por exemplo, é uma generalização de uma tendência biológica que não ajuda a compreender os indivíduos adolescentes, que, de qualquer forma, cobram acompanhamento e orientação de pessoas bem intencionadas, e mais experientes, oxalá capazes de influenciar em cuidados e atenções às questões importantes e complexas da vida adulta a sugerir tempo e cautela para a realização na vida infantojuvenil.

René Bernardes de Souza Júnior é mestre e

doutor em Direito Público e professor universitário em Uberaba REVISTA ATMA

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ATMA ENTREVISTA

Depois daquela viagem

Educação sexual pode frear aumento dos casos de HIV/Aids, diz escritora

Foto Arquivo pessoal

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Você acha que nas escolas os jovens têm mais facilidade para discutir o tema do que em família? Sim, porque se torna um espaço para os meninos e meninas sanarem suas dúvidas conforme forem aparecendo. As questões de um menino de 11 anos podem ser bem diferentes das de um garoto de 15. Criando-se um espaço aberto para acolher essas dúvidas e deixar que os jovens se expressem entre os colegas, pode gerar confiança. O adolescente fica mais à vontade para falar desse assunto entres seus

A Aids ainda é uma doença velada, escondida, que se abaixa a voz ao comentar na maioria das vezes

A que você atribui o fato de garotos e garotas não se prevenirem contra a doença? De uns anos pra cá a sociedade parou de falar em aids, quase como se a doença já não existisse mais. A mídia e o governo relaxaram com as campanhas e a população pouco fala a respeito. Acho que todos descuidaram em relação à prevenção. Uma educação sexual contínua na grade curricular é fundamental. Mas cabe a todos cobrar. Os pais, inclusive, cobrarem isso das escolas. Mas o que se vê é o contrário, muitas vezes quando a escola propõe algum trabalho nesse sentido, tem pai que pira com medo de que isso possa levar o filho a iniciar a vida sexual mais cedo. Quando, na verdade, a gente sabe que é o oposto.

No Brasil, os casos de aids em jovens entre 15 e 24 anos aumentaram mais de 50% na última década. O fato pode estar ligado à falta de educação sexual nas escolas, à ousadia peculiar da juventude e à perda do medo da doença. Valéria Piassa Polizzi, 44 anos, jornalista, palestrante e autora do best-seller “Depois daquela viagem”, em entrevista especial à Atma, avalia que a mídia e o governo relaxaram com as campanhas, e a população pouco fala no assunto. Ela vive com HIV/aids desde a década de 80, quando foi infectada durante uma relação sexual, aos 16 anos.

amigos, do que em casa com os pais, por exemplo. Assim você acha possível conscientizar as pessoas quanto aos riscos de se contaminarem e convencer os jovens de que o uso do preservativo pode salvar a vida deles? Por meio da educação sexual em escolas, seria o primeiro passo. Mas precisa ser algo contínuo, semana a semana, ano a ano. Acho pouco falar uma vez na vida do assunto e achar que o jovem foi sensibilizado. Entretanto, admiro os professores que, na falta da disciplina de educação sexual, utilizam qualquer outra para abordar o assunto. Já vi professores de português, matemática e até educação física


Foto Arquivo pessoal

ATMA ENTREVISTA

Como foi a reação da sua família quando recebeu o diagnóstico? E dos amigos? Você chegou a experimentar a sensação de vivenciar o preconceito e a discriminação? Como você reagia ou reage a ela? Tive muita sorte com minha família e amigos, que aceitaram numa boa, numa época em que nada era fácil. Quanto ao preconceito no geral, acho que o primeiro que temos que vencer é o nosso em relação a nós mesmos. A partir do momento que me aceito como sou, me fortaleço e se alguém tem algum problema por eu ter HIV, isso não me atinge em nível pessoal. Infelizmente sabemos que nosso país deixa muito a desejar quando o assunto é educação e nem todos tiveram as mesmas as oportunidades.

O que vem à sua cabeça quando pensa que se você tivesse usado preservativo teria evitado muita dor para você, para quem ama, seus amigos e familiares? Como foi receber o diagnóstico que naquela época significava uma sentença de morte? Na época foi tudo muito difícil, pois não tínhamos quase informação e o preconceito era muito

Quando me aceito como sou, me fortaleço, e se alguém tem algum problema por eu ter HIV, isso não me atinge

adotarem o livro “Depois daquela viagem” para tratar da prevenção. Acho louvável, pois muitas vezes, será a única oportunidade que o adolescente vai ter para discutir um pouco a sexualidade.

maior. Toda essa fase está relatada no “Depois daquela viagem”. Achavam que uma pessoa infectada pelo HIV viveria no máximo 10 anos. Eu não fui programada para viver tanto. Ainda hoje aos 44 anos me assusto ter chegado tão longe e bem de saúde, apesar dos efeitos colaterais da medicação. Onde ou em que/quem você buscou forças para conseguir superar o momento da descoberta e enfrentar o tratamento e o medo? Qual é a sua rotina com relação ao uso de medicamentos? E os efeitos colaterais? O Brasil se destaca quando o assunto é medicamento gratuito para aids. Atualmente minha combinação de coquetel é de 6 comprimidos, tomados duas vezes ao dia. Mas aí tem mais os antidepressivos, remédio pra colesterol, rim... O efeito colateral mais comum é a lipodistrofia, que aumenta a gordura no sangue, fazendo com que nosso colesterol fique elevado. Ela pode também trazer deformações ao corpo, que tende a concentrar mais gordura no tronco e afinar nos membros. Por isso é fundamental praticarmos exercícios físicos. Depois de constatar a contaminação, foi difícil amar de novo? Li em uma de suas entrevistas que você encontrou o grande amor da sua vida. Fui casada por anos com um austríaco. A gente se conheceu em 1998 na Nova Zelândia, numa viagem de mochila. Contei logo que tinha o HIV e ele aceitou numa boa. Namoramos por três anos e em 2001 nos casamos. Morei uns anos na Áustria, depois no Brasil, mas tínhamos dificuldade de acostumar no país do outro e viajávamos muito. Separamos, voltamos e em 2013 nos divorciamos. REVISTA ATMA 113


Foto Arquivo pessoal

ATMA ENTREVISTA

Valéria Piassa Polizzi vive com HIV/aids desde os 16 anos e defende educação sexual nas escolas e campanhas de prevenção

Sua história de superação é inspiradora, mas como é o caminho para se chegar lá? O que você diz nas palestras que faz pelo mundo para que soropositivos e doentes se motivem e se fortaleçam na busca de melhor qualidade de vida? Simplesmente conto minha história. E como aconteceu comigo pode acontecer com qualquer um. O HIV não está escrito na testa das pessoas. A gente nunca sabe quem tem. Inclusive, grande parte das pessoas que tem não sabe, pois nunca fez o exame. Então fica aí mais uma dica: se você já iniciou 114 REVISTA ATMA

sua vida sexual é bom se testar se já transou sem camisinha. “Depois daquela viagem” faz muito sucesso em nível mundial e transformou você em símbolo de luta contra a doença. Você se formou, passou a fazer palestras em escolas, escreve para revistas, casou, mudou para o exterior, voltou... O que a faz mais feliz? Bem, fiz tudo isso sim, mas enfrentei depressão também, que trato há 15 anos e é muito comum entre os soropositivos. Aliás, é mais

comum em qualquer portador de doença crônica, devido ao estresse que carregamos. Mas para isso existem as terapias, os psicólogos, psiquiatras e antidepressivos. E desde o ano passado venho estudando o Mindfulness, uma técnica de meditação reconhecida em vários estudos como prevenção às recaídas em depressão. Entre as atividades mais prazerosas para mim estão a musculação e a meditação e, claro, adoro ler e viajar. O que você acha que contribui para que as pessoas não vejam a aids como uma doença crônica comum? Justamente por causa do preconceito, viver com HIV/aids ainda não se iguala totalmente a qualquer doença crônica comum. As pessoas ainda não comentam que têm a doença com a naturalidade que comentariam que têm diabetes ou câncer, por exemplo. Ainda é uma doença velada, escondida, que se abaixa a voz ao comentar na maioria das vezes. O empregado tem medo de revelar ao empregador, na sociedade em geral as pessoas ainda têm receio do julgamento do outro.

Valéria Piassa Polizzi

é paulista, tem 44 anos é escritora e palestrante, formada em Jornalismo com pós-graduação em Prática da Criação Literária. Foi colunista da revista Atrevida por oito anos, trabalhou como repórter na Agência de Notícias da Aids e como freelancer para diversos impressos. Suas publicações: “Depois daquela viagem” (1997) “Papo de Garota” (2001) “Enquanto Estamos Crescendo” (2003) E participou das antologias de contos: “Grandes Amigos: Pais e Filhos” (2004) “Mecanismos Precários” (2010).


ATMA TURISMO

Brasil

França

MINAS GERAIS

PROVENCE-LES BAUX Visitar a França, seja lá qual região, já é sempre uma rica experiência. Visitar a Provence, no sul do país, é ter, simplesmente, uma pequena noção do que poderia ser um paraíso. Além da história belíssima de toda a região, do contato constante com a arte em seus múltiplos aspectos, da experiência gastronômica e o deleite dos vinhedos, temos diante dos olhos o tempo todo paisagens inesquecíveis, lindíssimas. Catártico.Em alguns momentos são as rochas brancas, em outros as plantações de vinho contornadas de roseirais, as oliveiras milenares ao vento forte (chamado Mistral), o charme das casas com janelas azuis, e....as lavandas! São lavouras de lavandas enfeitando os campos, com seu perfume e suas cores deliciosas. Fazem-nos sentir em paz com a vida. A vilazinha de Le Baux de Provence, situada no alto de uma montanha, tendo no topo as ruínas de um forte, para mim, é um dos mais belos cenários desse sul francês. Ali, terra que está estreitamente ligada aos príncipes de Mônaco, foi descoberto um minério que recebeu seu nome devido ao nome do lugar: a Bauxita. Ruazinhas tortuosas, lojinhas que nos cativam, vista de tirar o fôlego, e, além disso, também, a visita imperdível às Carriéres de Lumiéres, que são antigas galerias subterrâneas desativadas, transformadas em galerias de arte. Só vendo para entender a beleza disso tudo. Se quero voltar? Sempre que possível....

“... As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos!” Fernando Pessoa Há um lugar em Minas Gerais que continua a encantar-me mais e mais, a ponto de, a cada ano sentir que preciso voltar lá; que abasteço minha alma lá. Refaço forças espirituais e psíquicas lá. Misteriosamente. Estou falando do Vale do Matutu (cabeceira sagrada) no município de Aiuruoca (morada de papagaios), no sul de Minas. Um vale cercado por serra belíssima, de onde se pode ver o Pico do Papagaio. Antiga morada de indígenas poderosos, nossos ancestrais, que ali realizavam rituais sagrados. Chamado por muitos de Cabeceira das águas, pois abriga inúmeras nascentes, berço de água doce e puríssima que não se contém e escorre montanhas abaixo, formando as mais impressionantes cachoeiras. Há uma energia positiva telúrica fortíssima naquele local, e não duvidando jamais da força, e da benção, coragem e presença da MÃE TERRA, GRANDE MÃE, e seu infinito amor por nós. Lá vou eu sempre que a oportunidade surge, beber dessa fonte de paz, equilíbrio, saúde. Dádiva sem igual.

Eliana Miranzi

é professora e ama estar na estrada, mar ou ar. Ela já visitou os mais belos destinos do Brasil e do exterior.

REVISTA ATMA

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ATMA ENTREVISTA

Quem não se previne contra a aids tem uma atitude irresponsável, pois a doença ainda não tem cura. O alerta é do médico clínico geral Paulo Mesquita, que diagnosticou o primeiro caso no Brasil, o estilista uberabense de sucesso internacional, Marcos Vinícius Resende, o celebrado Markito. Nesta entrevista, Mesquita aborda também a ética profissional.

O médico Paulo Mesquita conta que foi o responsável pelo diagnóstico do saudoso estilista uberabense, Markito 116 REVISTA ATMA

Foto Francis Prado

Primeiro caso de aids no Brasil foi diagnosticado em Uberaba


ATMA ENTREVISTA O senhor diagnosticou o primeiro caso de aids no Brasil. Como se sentiu ao confirmar as suas suspeitas? Fiquei chocado. O Markito era muito amigo meu, gostava demais de mim, era meu cliente desde criança e na época morava em São Paulo. Eu fui e sou muito amigo de toda a família. Pedi que ele fizesse diversos exames e o resultado confirmou o diagnóstico. Como foi ver o Brasil falar tanto no assunto? Eu, naturalmente, além de amigo da família, exerço minha profissão com ética, e não atendi aos repórteres do Brasil inteiro que dormiam na porta da minha casa. Eles queriam que eu concedesse entrevista de qualquer maneira para confirmar que o Markito estava com aids, pois até então havia casos apenas nos Estados Unidos. Mas eu nunca os recebi, jamais diria palavra sobre o assunto. Eu o encaminhei para um professor em São Paulo. Entretanto, esse professor foi esperá-lo acompanhado da imprensa. A ética é essencial, especialmente na medicina. Os jornalistas dos mais famosos veículos de comunicação do país mandavam até dizer para mim, que pagariam muito bem se eu concedesse a entrevista. Mas a ética não tem preço nem está à venda. O senhor já estudava a síndrome para perceber tão rápido que poderia ser o vírus HIV? Como eu era professor de Patologia, estava em dia com os conhecimentos, principalmente dos temas da atualidade. Com as queixas dele e sabendo que ele era

bissexual, não tive dúvida. Quando o Markito me procurou em fevereiro de 1983, já apresentava lesões provenientes do chamado Sarcoma de Kaposi, um tipo de câncer que aflora quando a doença já está na fase mais grave. Além das lesões, ele se queixava também de outros sintomas como sudorese noturna, febre, diarréia e fadiga. Como o senhor vê a aids atualmente? Houve evolução com o surgimento de medicamentos e os pacientes hoje já são alertados logo que procuram o médico e começam o tratamento nutricional e outros para aumentar a resistência do organismo. Eles fazem os exames periódicos e usam o medicamento lançado nos Estados Unidos, que estimula a célula viva a matar as células cancerosas, uma evolução muito grande. Apesar dos avanços, a cura ainda não existe e mesmo assim há pessoas que não se previnem. O que o senhor acha disso? Há perspectivas recentes, mas a cura ainda não foi descoberta. E quem não se previne, por exemplo, usando preservativos, tem uma atitude irresponsável. Que mensagem o senhor deixa para quem já teve relacionamento sexual sem prevenção ou que usou seringas compartilhadas? Que façam o teste antiaids e estando ou não infectados pelo HIV se previnam usando o preservativo, que é fundamental, inclusive aqueles que já estão na terceira idade. A gente nota que o surgimento do remédio que trata a disfunção

erétil do homem, neste aspecto da falta de prevenção, foi prejudicial, pois o número de infectados com mais de 60 anos tem crescido muito, porque a maioria deles não se previne. Também é importante verificar o estado geral do paciente. A gente procura orientar no sentido de eles ingerirem proteínas e vitaminas para aumentar a resistência. Havendo alguma dúvida, devem procurar o médico da família, pois o vírus pode permanecer no organismo sem atacar a célula normal. Quanto mais cedo o soropositivo começar o tratamento, melhor será o resultado. Que avaliação o senhor faz da revista ATMA, que tem foco na superação com relação a doenças graves com distribuição gratuita? Muito importante. É uma iniciativa fundamental, porque esclarece sobre o diagnóstico de doenças graves e orienta as pessoas divulgando os cuidados com a prevenção e com o tratamento. É uma revista que terá muito êxito, porque agrega conhecimento.

Dr Paulo Mesquita

Paulo Miguel de Mesquita é formado em Medicina pela antiga Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (UFTM), atual Universidade Federal do Triângulo Mineiro, em 1961; foi professor de Anatomia Patológica na Faculdade de Medicina por 30 anos, hoje aposentado como Professor Titular. Foi sócioproprietário do Hospital São Paulo entre 1965 e 1998 e vice-presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Uberaba. Apaixonado por Medicina, exerce a profissão em sua clínica, em Uberaba.

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ATMA HOMENAGEM

Fotos Divulgação

Estrela da família

Markito foi aclamado mestre da moda moderna na década de 80 O brilho era a marca inconfundível de Markito, o estilista preferido de estrelas como Liza Minnelli, Diana Ross e outras, na transição da década de 70 para os glamourosos anos 80. Entre as brasileiras, Maitê Proença, Sonia Braga, Christiane Torloni e Xuxa Meneghel sempre vestiam suas criações. Atualmente, Fernanda Lima é habituè dos modelos vintage by Markito. Seu fascínio pela moda surgiu quando ainda era criança. Aos 12 anos já fazia desenhos de vestidos e fantasias para uma escola de samba de Uberaba (MG), onde Markito (Marcos Vinícius Resende Gonçalves) nasceu em 5 de abril de 1952. Aos 18 anos desembarcou em São Paulo para trabalhar no ateliê de uma butique, mas em pouquíssimo tempo passou a vender roupas com sua grife pessoal. Em 1982, chegava a vender 300 vestidos por mês. Influenciadas pelo glam rock e o glitter, além dos Dzi Croquettes, mas com olhos atentos também à sofisticação da alta costura, as suas criações chamaram a atenção do mundo. Nas discotecas Studio 54, 118 REVISTA ATMA

em Nova York, e Regines, em Paris, os vestidos dele roubavam a cena. Workaholic assumido, o estilista trabalhava sem parar, diversificando atividades em seu ateliê nos Jardins, inclusive fez roupas para diversas áreas, incluindo figurinos para cinema - como o filme “Rio Babilônia” (82). Em seu ateliê era possível encontrá-lo das 9h às 21h. E ainda tinha energia para efervescente vida noturna, dançando com um pique invejável. Era a fase áurea do fim dos anos 70 e início dos 80 - exatamente a transição da era discoteca para o glamour. A trajetória de Markito foi meteórica, mas a tempo de ter seu nome cravado na história como o grande mestre da moda moderna dos anos 80. Ele celebrou seus 31 anos no Gallery em 5 de abril de 1983, quando se despediu do Brasil e partiu para Nova York, cidade escolhida por ele para morrer, o que aconteceu no dia 4 de junho do mesmo ano. Markito se tornou o primeiro nome famoso do Brasil a morrer vítima da aids.

Mônica Rezende tem um belo acervo da trajetória do irmão. Para visitar o museu que mantém, basta agendar horário. Markito deixou três mil croquis, o que mostra o seu amor pelo que fazia. Estão catalogados todos os recortes de jornais e revistas com tudo o que foi publicado sobre ele. Mônica conta que o irmão famoso era a sensação aonde chegava. Aos 4 anos, era a estrela nos encontros de família e impressionava a todos com o seu QI elevado e uma memória fabulosa; falava todas as capitais do país. Mônica diz que Markito era muito inteligente, sempre o primeiro da sala na escola, ganhava todas as medalhas, “menos por bom comportamento”. Sua energia era inesgotável, o que canalizou para as inspiradas criações. Quando o irmão morreu, em 1983, Mônica amamentava sua filha, e a dor a atingiu muito, pois estava mais sensível, porque o amava muito, mas sobretudo porque Markito tinha muita vontade de viver. “Ele nasceu para ser estrela e foi também um herói, porque mesmo sem saber que estava doente, mas já debilitado pelos sintomas, lançou coleção e ainda comemorou aniversário com todos os amigos.” Lembra que ele sabia ser sedutor. Nas festas que frequentava nas ilhas francesas, por exemplo, mulheres e homens ficavam apaixonados por ele, que segundo ela, amou muito e sem preconceito. Orgulha-se de estar registrada a história de um menino que saiu de Uberaba, interior do Brasil, e foi o primeiro estilista do país a exportar suas criações para Nova York. Para Mônica, o diagnóstico de Markito pode até não ser o primeiro caso de HIV/Aids no Brasil, como foi publicado pela imprensa em nível mundial, mas sim o primeiro caso de um famoso no país.



ATMA GASTRONOMIA

Salada com Flores Ingredientes: 1 alface americana 1 maço de rúcula 12 tomates-cereja 50 g croutons 200 g muçarela de búfala 150 g fitas de bacon em forma de chip´s Decoração: 1 bandeja de flores comestíveis ou seja capuchinhas coloridas Ingredientes molho: 1 colher de sopa mel 1 colher de sopa de mostarda Suco de 1 limão siciliano 2 colheres de sopa de azeite sal e pimenta do reino branca à gosto Modo de preparo: Higienizar as folhas e secá-las. Acrescentar os demais ingredientes e finalizar com flores comestíveis.

www.marizacury.com.br marizacurybuffet@gmail.com 34 3332.1037 / 9966.4757 120 REVISTA ATMA


ATMA GASTRONOMIA

CURIOSIDADE A capuchinha , ou flor de nastúrcio, muito decorativa, de gosto levemente picante e rica em vitamina c, combina na perfeição com saladas; Nativa do Peru, foi introduzida na Europa no fim do século XVI ,e hoje é cultivada em todo o mundo.

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ATMA ENTREVISTA

Ayurveda traz grandes benefícios

O senhor é uma das principais autoridades na medicina tradicional indiana. Sabe-se que para muitos, esta é uma boa alternativa para a busca da O estilo de vida é a principal causa de morte. As doenças que mais matam (o infarto, os acidentes vasculares e o câncer) estão intimamente ligadas ao estilo de vida. A afirmação é do iogue, doutor em Medicina Ayurvédica, José Ruguê (Swami Narayanananda), uma das principais autoridades ocidentais em Ayurveda. Na maioria das vezes o contágio com o HIV também está relacionado com o estilo de vida, de comportamento. Ruguê destaca que as pesquisas científicas e sua experiência pessoal demonstram um grande benefício do Ayurveda aos soropositivos, reduzindo efeitos colaterais, melhorando o estado geral e nutricional da pessoa. Explica que este tratamento é feito associado aos tratamentos convencionais. 122 REVISTA ATMA

felicidade. O senhor a recomendaria para os soropositivos e pacientes de Aids? Por quê? Dr. José Ruguê (Swami Narayanananda) - O Ayurveda tem uma ampla capacidade de fortalecer o sistema imunológico. Nossa ênfase é sempre maior em aumentar a resistência do organismo aos fatores estressantes seja este uma mudança climática, um estresse emocional, pressão de trabalho, um vírus, uma bactéria e tantos outros. As pesquisas científicas e minha experiência pessoal têm demonstrado um grande benefício do Ayurveda como um tratamento associado aos tratamentos convencionais, reduzindo efeitos colaterais, conseguindo mais rapidamente negativar a carga viral, melhorando o estado geral e nutricional da pessoa. Um suporte com Yoga, meditação e mantras também é de extrema valia. Atma – Como o senhor explica a teoria do ayurveda, criada há mais de seis mil anos? Dr. Ruguê - o Ayurveda é a ciência da vida, explica como a vida funciona em nós, nos demais seres e em toda a natureza, visível e invisível. Parte do princípio de que existe uma energia vital inteligente (prana), que organiza, agrega e gera inteligência na matéria. Esta energia vital se expressa como Vata – movimento, Pitta - digestão física e mental, e Kapha agregação, coesão, lubrificação. Todos têm estas três energias, mas cada

Foto Divulgação

A técnica reduz efeitos colaterais e consegue negativar a carga viral, melhorando o estado geral e nutricional da pessoa

Doutor Ruge explica que a ênfase do tratamento é para aumentar a resistência do organismo a fatores estressantes, seja um estresse emocional ou um vírus como o HIV

pessoa tem um código único, que define nossa estrutura física, nosso metabolismo e traços do nosso temperamento. Isso significa que cada pessoa é diferente da outra, reage ao mundo de maneiras diferentes, sente as coisas de formas diferentes. Atma - Então, aquilo que pode ser útil para uma pessoa em termos de alimentos, estilo de vida, remédios, pode ser prejudicial para outra pessoa?


ATMA ENTREVISTA

Dr. Ruguê - Exatamente! A saúde se alcança quando vivemos dentro do nosso padrão original, cada um com o seu, e a doença surge quando uma ou mais destas energias se desequilibram. Os principais fatores que geram este desequilíbrio, sobre uma base genética são, em ordem de maior para menor potencia, de desequilibrar: emoção, estilo de vida, alimentação e ambiente. Portanto viver em harmonia com a natureza e com as várias partes que formam nossa pessoa é o fundamento do Ayurveda. Atma - De que maneira ela pode beneficiar os que estejam enfrentando a dor de receber o diagnóstico de uma doença crônica como a Aids? Dr. Ruguê - Demonstrando formas de ajudar a recuperar o equilíbrio em vários níveis e a possibilidade de superar, junto com os demais métodos que ela esteja usando, sua saúde e sua paz interior.

Dr. Ruguê - Sim , vários. tenho vários pacientes em tratamento com carga viral zero e se sentindo bem há muitos anos. Atma - A maioria que vive com HIV depara com a depressão, alguns mais outros menos, mas há sempre um comportamento introspectivo. A técnica também combate esses sentimentos destrutivos? Dr. Ruguê – Sim, principalmente criando um ambiente interno de reconhecimento de nosso princípio divino e a aproximação dele por meio da meditação e mantras. Atma - Já li depoimentos de pessoas que experimentaram a ayurveda e disseram que a técnica é rejuvenescedora. Como se explica isso?

Dr. Ruguê - Sim, as terapias de rejuvenescimento do Ayurveda são famosas e muito eficazes. Trata-se de um rejuvenescimento ao nível celular e não apenas cosmético, se chama Rasayana esta terapia e significa levar a nutrição a todas as células do nosso corpo e colaborar na eliminação dos dejetos que inibem o funcionamento das células, envelhecendo-as. Mas isso deve ser acompanhando de um estilo de vida rejuvenescedor e de valores espirituais na vida para que a terapia seja, de fato, eficaz. Atma - A Aids ainda não tem cura, mas acredita-se que ayurveda pode ser benéfica para que eles tenham mais qualidade de vida. É verdade? Dr. Ruguê - Sim, nossas experiências e os trabalhos científicos

Atma - É uma técnica que destaca a meditação ou há outros procedimentos? Insere-se alguma dieta especial no tratamento? Dr. Ruguê - É um amplo é complexo processo que envolve métodos físicos de desintoxicação, ervas medicinais, alimentação específica para a pessoa e não um padrão geral baseado em carboidratos, vitaminas, proteínas, etc, além de massagens, aromaterapia, cromoterapia, astrologia védica e todos os métodos do Yoga. Atma - Há casos de soropositivos ou doentes de Aids que já tenham experimentado a técnica? Se sim, como foi o resultado? REVISTA ATMA

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ATMA ENTREVISTA têm sido extremamente entusiasmantes sem abrir mão do tratamento convencional da medicina moderna. Atma - Além dos cuidados com a alimentação e com a mente, há também técnicas de massagens... Dr. Ruguê - Sim, são várias técnicas que utilizam a pele (nosso maior órgão) como via de administração de óleos medicados com ervas e com alto poder de eficácia. Atma - De que maneira mudando o estilo de vida é possível prolongar a vida? Dr. Ruguê - Estilo de vida é a principal causa de morte. As doenças que mais matam (o infarto, os acidentes vasculares e o câncer) estão intimamente ligadas ao estilo de vida ainda que, modernamente, se dê ênfase excessiva à genética.

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Atma - Como resgatar o equilíbrio e mantê-lo? Dr. Ruguê - Os métodos são simples. Equilíbrio é sempre dinâmico. É preciso aprender os princípios do Ayurveda, porque tudo muda na natureza e nas pessoas. Então, você precisa ter esta visão dinâmica sabendo aproveitar, ao máximo, os ciclos da natureza, os alimentos disponíveis, sua idade, o lugar onde você mora... São muitas variáveis, mas o entendimento é simples e facilmente aplicável. Atma - O que levou o senhor a se aprofundar nessa técnica? Dr. Ruguê - Um profundo anseio de integrar minha prática médica com meus conhecimentos da Cultura Védica e do Sanatana Dharma. Atma - Que mensagem o senhor deixa para os que por ventura estejam lendo esta en-

trevista com o resultado positivo de infecção pelo HIV? Dr. Ruguê - Procurem conhecer o ayurveda por meio de algum profissional sério e bem formado e isto poderá ajudá-lo muito.

Dr. José Ruguê

(Swami Narayanananda) é iogue, doutor em Medicina Ayurvédica, palestrante e professor de Filosofia Védica. O doutor Ruguê ministra cursos de Ayurveda em diversos locais da Europa e da América do Sul e participa do corpo docente da Academia Internacional de Ayurveda, em Pune, Índia. É graduado em Medicina, com pós-graduação em Clínica Médica e Tratamento Intensivo no Brasil; em Panchakarma e Ayurveda em Pune – Índia, e é presidente do Movimento Mundial de Yoga e Ayurveda. jrugue@triang.com.br www.suddha.net www.worldyogaayurveda.net.


ATMA YOGA

Fotos Marcos Ferreira

Yoga para Todos Iniciei o projeto Yoga para Todos no dia 31 de maio deste ano contando com a parceria de Marcos Ferreira e Cacá Sankari, sendo que o principal objetivo desse trabalho voluntário é multiplicar o Yoga, essa ciência milenar que visa a promover saúde, equilíbrio, autoconhecimento e bem-estar. Prática que traz a evolução do corpo, mente e alma. Já foram quatro encontros desde então. Eles acontecem uma vez por mês em locais públicos, praças, e estão abertos a todas as pessoas que queiram praticar, experimentar o yoga, já praticantes ou iniciantes, literalmente para todos. No mais recente Yoga para Todos, contamos com a presença de mais de cem pessoas. Todos praticando com muita vontade. A energia é fantástica. Faço esse trabalho com muita devoção e amor, estou doando e ao mesmo tempo recebendo. O sentimento é sempre de profunda gratidão por ser instrumento multiplicador do yoga. Quero sempre plantar a semente do yoga no coração de cada pessoa que tiver a oportunidade. Márcia Kelly Scatigno Professora de yoga Namastê _/\_

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ATMA MEIO AMBIENTE

NEOTECH

modernizará gestão de resíduos e recicláveis de Uberaba Uberaba vai ganhar um empreendimento na gestão de resíduos e recicláveis dos mais modernos do Brasil. É a Neotech Soluções Ambientais, um investimento de empresários que também são proprietários da empresa OuroFino. Em entrevista à ATMA, a diretoria garante que o equipamento tem um rigor técnico absoluto e, portanto, não gera risco algum para a sociedade ou para o meio ambiente. O início da operação está previsto para o começo do ano de 2016. A Neotech propicia a correta destinação dos resíduos e recicláveis provenientes das empresas e indústrias do agronegócio e tem entre suas prioridades o impacto positivo e concreto para o meio ambiente e a sociedade da macrorregião de Uberaba. Preservar o meio ambiente é mais do que um investimento, é garantia de mais saúde para a população. Qual foi a principal motivação para REVISTA ATMA

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ATMA MEIO AMBIENTE criar a Neotech Soluções Ambientais? A própria gênese da Neotech fundou-se na sustentabilidade, ou seja, foco na geração de receitas para os investidores mas que ao mesmo tempo gere impactos positivos e concretos para o meio ambiente e a sociedade da macrorregião de Uberaba. Nos últimos anos começamos a observar uma grande necessidade da correta destinação dos resíduos e recicláveis provenientes das empresas e indústrias do agronegócio, ramo esse de extensa expertise dos investidores, pois eles são também proprietários da OuroFino. Houve época que os resíduos para seu correto destino necessitavam ser enviados para distancias superiores a 500Km, ou seja, uma grande dificuldade na gestão deles com impactos ambientais negativos. Vale ressaltar que o risco de acidente durante o transporte e possível contaminação ou mesmo a grande emissão de GEE (gases de efeito estufa) até o seu destino final eram

fatores preocupantes. O mesmo ocorria para o correto destino dos recicláveis, os quais eram enviados para empresas distantes de Uberaba, para evitar empresas que operavam de maneira precária ou com deficiências em certificações ou licenças ambientais. Somando todos os desafios e complexidades para solucionar nossos problemas teve como resultado a estruturação desse novo empreendimento, a Neotech Soluções Ambientais Ltda. Qual é a importância da responsabilidade socioambiental nas empresas? Essa questão pode ser respondida por diversas óticas, pela esfera legislativa por existir diversas leis que obrigam as empresas a adotarem medidas sócio ambientais, por questões econômicas as quais empresas que hoje não tenham esse rigor dificilmente conseguirão gerar negócios com outras empresas ou mesmos com seus consumidores finais. Contudo, acreditamos que a importância e

A Neotech é a opção local para empresas e indústrias da região que necessitam do correto destino dos resíduos e recicláveis.

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ao mesmo tempo o grande benefício para as empresas que se preocupam com o ambiente o qual está inserido é na criação de melhores condições para seus stakeholders (grupos de interesse, podendo ser colaboradores, sociedade em geral e etc) e dessa forma os frutos que a empresa irá colher serão sempre mais frondosos. A empresa atuará em quais mercados? O mercado ditará com o passar do tempo. Vamos iniciar nossos trabalhos com três grandes atuações. A primeira será na incineração de resíduos industriais com o foco no agronegócio e RSS (resíduos de serviço de saúde), o segundo ramo da empresa será na destinação de lâmpadas queimadas e por fim na gestão dos recicláveis dos nossos clientes. O equipamento pode gerar riscos para a população? Não. O equipamento é de um rigor técnico absoluto que não gera risco algum para a sociedade ou para o meio ambiente. Existem diversos controles de emissões e sistemas de segurança que impedem qualquer risco, além do fato de termos um corpo técnico formado com vasta experiência na operação deste equipamento. Antes de qualquer resíduo ir para o forno há toda a avaliação por laudos técni-


ATMA MEIO AMBIENTE cos que fornecem todas as informações para a correta queima. O que os levou a escolher Uberaba para instalar a empresa? Foram diversos fatores, os principais foram as empresas do agronegócio que estão instaladas na região e a fantástica logística que Uberaba possui. Acreditamos muito na cidade como um centro que nos últimos anos atrai grandes empresas. Como a Neotech avalia a questão dos resíduos sólidos no Brasil? Como em qualquer outro país, as melhorias na destinação de resíduos no Brasil se motivaram pela publicação de novas leis que obrigam a iniciativa pública e privada a se adequar aos novos parâmetros. Temos a atual lei 12.305 de Agosto de 2010, a qual ainda não está sendo cobrada de maneira satisfatória, mas que já foi de grande avanço para o meio ambiente. Ao

avaliar as necessidades de investimentos para a correta gestão dos resíduos sólidos temos grandes oportunidades para a criação de empreendimentos e geração de empregos. Sem contar que a iniciativa - seja pública ou privada - que se adequa gera grandes ganhos econômicos e socioambientais. Resumindo, é uma relação em que todos ganham.

O que Uberaba e sua gente vão ganhar com a Neotech? Quando será inaugurada e quantos empregos gerará? A Neotech Soluções Ambientais proporcionará uma opção local para empresas e indústrias da região que necessitam do correto destino dos resíduos e recicláveis. Vamos começar a construção do empreendimento neste mês (setembro) e já no começo de 2016 vamos dar início às nossas operações. Uberaba irá ganhar um empreendimento na gestão de resíduos e recicláveis dos mais modernos do Brasil. Sem contar com a geração de empregos estimada em 30 postos de trabalho na primeira etapa. Que avaliação a diretoria da empresa faz de uma revista como a ATMA que tem foco na vida com qualidade? Nota DEZ!!! A imprensa é fundamental para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil e de Uberaba, e ao ter uma revista como a ATMA todos ganham, pois este veículo de informação ajuda a propagar conceitos de qualidade de vida ao mesmo tempo em que destaca quem faz e o que acontece na região. REVISTA ATMA

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ATMA PEDIATRIA

O teste antiaids hoje é lei, a gestante não tem escolha. O médico é obrigado a pedir e a gestante obrigada a fazer. A afirmação é da médica Carla Cardoso, professora universitária, com especialização em Pediatria, alertando que atualmente a transmissão vertical - de mãe para filho - caiu para menos de 1%, mas há cuidados essenciais para não aumentar esse risco. Ela explica que o adulto pode ser apenas soropositivo e não ter aids, mas a criança quando nasce com Sida já é considerada doente, por isso as gestantes têm de estar conscientes e seguir o protocolo. A aids ainda não tem cura, mas a pediatra garante que há uma luz no fim do túnel.

O maior risco de transmissão vertical, ou seja, da mãe soropositiva para o bebê, ocorre antes ou durante o trabalho de parto? Principalmente no trabalho de parto, tanto que existem casos em que o parto normal é contraindicado e a mulher tem de se submeter à cesárea. Neste caso, há aplicação durante três horas de AZT endovenoso antes da cirurgia. Após o corte do cordão umbilical suspende-se a medicação. O bebê será recebido da mesma forma que os outros; todos os passos do pediatra serão dados normalmente, mas quando vai para o quarto, em 130 REVISTA ATMA

Cuidados de gestante

Transmissão

vertical

geral ele toma banho completo para ser retirada toda a secreção que tem o vírus da mãe. Os outros demoram algumas horas para irem ao banho. Ele recebe o AZT oral nas duas primeiras horas de vida e continuará tomando a medicação por mais quatro semanas. As mães que não se trataram, que não têm exames bons, ou que descobriram na hora do parto que têm o vírus, essas além do AZT, tomam também nevirapina. Quando os cuidados devem começar? Durante o pré-natal, a gestante tem de tomar as medicações apropriadas para o vírus dela. Hoje não se usa mais uma droga só, mas a TARV-Terapia Antirretroviral. O primeiro estudo que temos, da década de 90, quando aa gestante e a criança recebiam apenas AZT, as chances de transmissão do HIV caíram de 70% para 11%. O uso da terapia antirretroviral completa na gestação e o AZT na criança reduziu o risco de transmissão vertical para 7%. O último protocolo do Ministério da Saúde reduziu o risco de transmissão para menos de 1%. Hoje temos outro cenário de HIV, que começa com o tratamento dela regular. Cada gestante tem um esquema antirretroviral apropriado

para o quadro dela, mas o tratamento da criança exposta é sempre o mesmo. Na amamentação também é possível infectar o bebê? Sim. As pesquisas vão mudando, mas a gente tem taxa de 13%. O bebê da mãe soropositiva que amamenta, mesmo após a interrupção, tem chance de estar infectado, porque há um período de multiplicação e de adaptação do vírus. O aleitamento materno é contraindicado para a mãe HIV/ aids. O governo federal oferece fórmula infantil para essas crianças no primeiro ano de vida. Que contribuição a mídia tem dado para conscientizar em especial as mulheres que pretendem ter filhos? As campanhas têm se concentrado no mês de dezembro, quando há o Dia Mundial de Combate à Aids. Tivemos uma ajuda importante da mídia neste ano sobre os trabalhos de cura funcional, pessoas infectadas que mantêm sua qualidade de vida, e mães que conseguiram engravidar sem transmitir a doença para seus filhos. Isso foi importante para desmistificar a aids. Na cura funcional, o vírus não foi completamente erradicado do corpo, mas não é mais detectado por exames comuns, mesmo


A que se pode atribuir esse descuido? A doença ainda traz uma carga emocional muito grande. Não deveria ser assim. A pessoa tem de tomar o remédio e quando ela vai tomar se lembra de que tem a doença que não gostaria de ter. Tudo isso com o agravante de que a doença é marcada como de mau comportamento e a gente sabe que não é assim. Não é mais uma doença de promiscuidade, nem devido a mau comportamento. É uma endemia, está na população toda e todos estão vulneráveis a ela, mas a maioria ainda acha que é decorrente de um mau passo na vida. Nós temos 36 crianças aqui e só uma toma remédio regularmente. Elas estão doentes. Atendemos a macrorregião do Triângulo Sul, 27 cidades, a maioria dos soropositivos é de Uberaba e Frutal.

O último protocolo do Ministério da Saúde reduziu o risco de transmissão vertical para menos de 1%, quando as gestantes soropositivas seguem todas as orientações

assim ela deve manter seu tratamento regularmente. Apesar das recomendações atuais, muitas gestantes ainda não as seguem.

tratando de uma terceira pessoa que é o feto. A lei existe para protegê-lo. Vale para todas as gestantes do SUS ou de convênios e outras situações. O exame HIV tem de ser feito no pré-natal e, no SUS, tem de ser feito também na hora do

ATMA PEDIATRIA parto independente dos resultados anteriores. Ela pode ter feito muitos exames com resultado normal, mas na hora é feito de novo. Essa lei está entre outras no Projeto Nascer, projeto nacional para erradicar a transmissão vertical do HIV e a sífilis congênita. Há necessidade que seja feita uma campanha de conscientização especificamente para a transmissão vertical? As gestantes precisam estar mais conscientizadas de que o protocolo, o tratamento que a gente tem, funciona para a transmissão vertical. Não é curar a criança. É ela não pegar. A própria gestante doente conhece o peso do que é ter o vírus, de tomar o remédio. Fazendo tudo certinho, a segurança para a criança é grande demais. É menos de 1% de chance de a criança nascer doente. Para os adolescentes, vale dizer que a vida sexual deles está apenas começando e o que existe para prevenir é a camisinha feminina e masculina. Ainda há quem pense que

A senhora recomenda que todas façam o teste antiaids? O teste antiaids hoje é lei, a gestante não tem escolha. O médico é obrigado a pedir e a mãe obrigada a fazer, porque estamos

Fotos Francis Prado

O que é comprovadamente eficaz para impedir a transmissão do vírus? Usar camisinha e não compartilhar seringas. As pessoas hoje confiam demais. É importante dizer que a aids não tem cara, não tem sexo, não tem cor, não tem raça, não tem status social, às vezes as pessoas se apaixonam e vacilam. Os homens ainda não gostam de usar preservativo, mas não há outra forma. A melhor ainda é a prevenção.

Carla Cardoso lamenta que muitas gestantes com HIV/Aids não sigam as orientações REVISTA ATMA

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manter relação sexual apenas uma vez não há risco de se infectar... A gente nunca sabe o dia que vai acontecer. Pode ser na primeira vez, ou depois de anos de relacionamento. Há casais discordantes, em que um é soropositivo e o outro não, e aquele que ainda não tem acha que nunca pegará, mas pode acontecer. É tão fácil prevenir, por que há tanta resistência? Por puro preconceito. É falta de mudar a nossa cultura, mudar os nossos padrões de pensamento, porque a prevenção é acessível, disponível, eficaz, barata. Essa cultura ainda de que a camisinha atrapalha a relação ou essa onipotência que o ser humano ainda tem de se achar imune. "Isso não me atinge", muitos pensam, e pode atingir sim, a todos. Há pessoas muito bonitas contaminadas, beleza não é defesa, não dá pra saber quem tem ou não. E o número de casos novos voltou a aumentar. Acho que justamente por conta dessas coisas, "ah, a cura está perto", "alguns não pegam", enfim, e as pessoas começaram a sentir uma sensação de onipotência novamente. Como é o momento do diagnóstico? É diferente entre adultos e crianças. Para o adulto, o médico pode dizer que ele é soropositivo, mas ainda não é doente. É diferente ser portador e ter aids, ou Sida como a gente chama. A criança sempre tem Sida e os primeiros exames fazemos com um mês e depois com quatro meses. Damos o diagnóstico para a mãe no primeiro semestre de vida. É muito triste, porque a maioria das mães não fez tudo o que precisava e a primeira sensação delas é de culpa. A última criança doente aqui é de uma mãe que é agredida pelo marido, 132 REVISTA ATMA

O aleitamento materno é contraindicado para o filho de mãe com HIV/ aids. O governo federal oferece fórmula infantil para essas crianças no primeiro ano de vida

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queria morrer e parou de tomar o remédio porque desejava morrer. É outra falsa crença que muitos têm. Ela não só não morreu, como continua muito bem, não adoeceu com o HIV, mas transmitiu para a filha. A gente explica que a criança não é portadora, ela nasce e já é considerada doente e todas, sem exceção, têm que tomar a medicação. Há casos que surpreendem a senhora? Ocorrem algumas situações preocupantes, alguns acidentes. Por exemplo, uma criança lambeu o sangue da mãe doente, mas não contraiu. Temos muitos casos de abuso sexual, mas felizmente não houve infecção de nenhum. Outro caso é de um menino HIV positivo que queria se tatuar e os pais não deixaram. Ele então pegou um caco de vidro e se riscou, um amigo fez o mesmo e compartilharam sangue, mas não houve transmissão. Foi um rebuliço na escola, porque ninguém sabia e a mãe tinha que

contar para a outra proteger o filho dela. Aquele garoto já é um adulto, trabalha, é independente. As famílias escondem dos filhos, inclusive das crianças com HIV. Não é o certo. O recomendável é que o filho seja preparado para saber a partir dos três anos. A criança passa por um processo lento até que ela própria conclua que tem o HIV. Na USP a gente fazia assim. Aqui ainda não temos esse trabalho. A mulher soropositiva pode ter filhos? Pelos protocolos atuais, sim, só que planejados. Ela tem de ter carga viral indetectável, CD4 normal, uso regular da medicação, o marido tem que conhecer o diagnóstico e aceitar, se ele não for positivo. É todo um processo que é planejado. É possível, sim. A lei não proíbe ninguém, mas a gente aconselha a escolher o melhor momento. Não é algo SÓ da vontade da mãe. A gente tem de criar condições para acontecer, com as menores chances de transmissão vertical possíveis. Para evitar toda essa situação o que é preciso? Prevenção sempre. E se a prevenção falhou e a pessoa adoeceu, fazer uso regular da medicação, no caso da gestante seguir as orientações do pré-natal. A criança precisa de uma mãe para viver e de uma mãe saudável. Hoje não dá para alegar desconhecimento da importância da camisinha. A campanha foi eficaz para informar, mas não foi eficaz para convencer as pessoas. Muitos optam por viver numa roleta russa e não só para aids, para outras situações também. Que mensagem a senhora deixa para os leitores, independente de serem soropositivos?


Há doenças crônicas não transmissíveis, que são muito mais difíceis de ser controladas do que o HIV

A aids é uma doença crônica, como hipertensão, diabetes, ou seja, tem controle. A pessoa vai viver toda a potencialidade normal da vida. Não é mais um bicho de sete cabeças como todo mundo pensa. Há doenças crônicas não transmissíveis, que são muito mais difíceis de ser controladas do que o HIV. A gente não tem a cura, mas existe uma luz no fim do túnel indicando que as pessoas poderão fazer tudo o que elas quiserem inclusive ter filhos, desde que façam seus tratamentos corretamente. E quem convive com elas vai poder também compartilhar emoções e relações seguindo as orientações especiais. Não tem de ter medo. A prevenção é essencial. Li o relato de um jornalista com HIV que foi se consultar por outro motivo e informou o médico que tem o vírus. O médico se espantou dizendo que ele não poderia ter sido infectado, pois é bem informado, bonito, bem de vida, enfim, e ele respondeu dizendo que tem HIV porque um dia na vida vacilou. Ele nunca usou drogas, nunca foi promíscuo, sempre dormiu cedo, estudou bastante, obedeceu aos pais, mas um dia na vida transou sem camisinha. Ele cita pesquisas americanas apontando que quando um jovem vai para a balada e tem relação sem camisinha a chance de ele ser infectado pelo HIV é 300 vezes maior do que numa relação usando preservativo com alguém que é comprovadamente soropositivo.

Carla Cardoso

é professora assistente do Departamento Materno Infantil da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM); pediatra com área de atuação infectologia infantil pela USP em 2002, e mestre em Saúde da Criança e do Adolescente pela USP, em 2006. REVISTA ATMA

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Foto Divulgação

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Alma leve, corpo leve, coração tranquilo Por Lígia Del Nery É com imenso prazer que escrevo hoje aqui para vocês. A maioria dos meus textos começa com um “muito obrigada”. Já escrevi várias vezes e não me canso de escrever e dizer: a gratidão é o mais nobre dos sentimentos. Ser repetitiva nesse caso faz bem pra alma e deixa o coração tranquilo. Muito obrigada, equipe ATMA, pelo convite. Parabéns pela iniciativa e por quererem fazer o bem. O mundo não está carente de pessoas boas. Está carente de pessoas que colocam sua bondade e suas vontades em prática. E o que é mais importante: divulgam suas ações. Notícia ruim só dá IBOPE porque as boas ficam tímidas e não querem mostrar o bem que fazem. Vamos mostrar o bem. Vamos divulgar a bondade e a gratidão. Vamos mostrar que o mundo pode ser um bom lugarpra viver. Missão agradecer: cumprida. Missão dois: compartilhar com vocês duas receitas superleves, saudáveis e nutritivas para deixar o corpo leve também. Espero que gostem e compartilhem. Bom apetite!

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ATMA GASTRONOMIA Hambúrguer de Cenoura Ingredientes: 3 xícaras de cenoura ralada fininha 2 ovos 3 colheres de sopa de farinha de quinoa 3 colheres de sopa de farinha de arroz 1 cebola pequena ralada 1 colher de sopa de shoyu 1 maço de cheiro verde picado Sal a gosto 2 xícaras de molho de tomate – para acompanhar Misture todos os ingredientes até formar uma pasta e molde os hambúrgueres. Leve à frigideira antiaderente com um fio de azeite para dourar. Sirva com molho de tomate e uma salada verde. Molho: 1kg de tomate bem maduro Azeite extravirgem a gosto Sal a gosto 1 cebola média Tire pele e semente dos tomates. Pique os tomates em pequenos cubos. Refogue em uma panela com a cebola, o azeite e o sal. Se necessário acrescente um pouco de água fervida durante o preparo para dar o ponto.

Salada da Didi Ingredientes: 2 tomates maduros em rodelas 1 berinjela lavada com casca cortada em rodelas Muçarela de búfala Folhas de manjericão Azeite extravirgem a gosto Passe as rodelas de berinjela na frigideira de teflon, ou na chapa ou em uma grelha. O que for mais fácil para você. Use um fiozinho de azeite e deixe dourar. Depois monte como na foto, regue azeite e polvilhe orégano.

Ligia Del Nery é psicóloga, especialista em RH, professora e mantém o blog Da minha casa (http://ligiadelnery. blogspot.com.br/), em que compartilha as mais interessantes dicas de gastronomia.

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