Revista Atma 3ª Edição

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14 Trajetória Nossa História Calendário Guerreiras 2016

ATMA ÍNDICE

CAPA

18 Lucas Ksenhuk: o autista artista Autismo: O melhor é amar 22 Grupo Laço Azul/Piquenique Laço Azul 28 Siamig BH - O doce equilíbrio do açúcar 31 FISIOTERAPIA - Fisioprime / Pilates 32 ORTOMOLECULAR - A hora e a vez da suplementação 34 HOMEOPATIA - Você conhece a homeopatia? 36 DIREITOS - A lei Berenice Piana 40 FONOAUDIOLOGIA - A importância do diagnóstico precoce

ENTREVISTAS

43 Andréa Werner 47 A hora da decisão - Mariangela Camargos 54 Interesse Específico dos Autistas 56 Son Rise e seu efeito revolucionário 59 Uma atitude acolhedora pode mudar vidas - Fausta Cristina 64 “Agimos focados no Lu e não no autismo” - Karla e Luiza Coelho 66 Ricardo Perdigão Filho: o querido e amado anjo azul 68 Oi, Linda! Esta é Manu, a joia de Cássio e Dani 72 Pedro Henrique: o anjo guerreiro da família 74 “Lucca nos ensinou o significado da palavra amor” - Karine Assumpção 76 Quando o silêncio fala mais do que palavras... Marina Remiggi 78 ESTÉTICA - Tratamentos de estética para todas as estações 79 Livro cultua alimentação para vida saudável - Dra Sandra de Sá 80 PSICOLOGIA - Tratamento multidisciplinar e sua eficácia 82 Terapia com Animais - Dra Martina Sbrissa Bortolin 88 A nova era da Odontologia Especial - Dra Adriana Zink NEUROLOGIA - Impacto de Down e autismo, diferença entre pacientes - Dr. Janael Rodrigues 92 CARDIOLOGIA - Síndrome de Down e cardiopatia - Dr. Marcelo Marra 94 CULTURA - Livros e Filmes 97 ARTE - Hélio Siqueira e Paulo Miranda 98 MOVIMENTO DOWN Diálogo e conscientização tiram inclusão do papel

HISTÓRIAS

100 Amor incondicional ajuda a lidar com Down - Romário Faria 102 Viver é amar - Marcos Moreno 106 Clara: meu bem mais precioso! - Alessandra Conradt 108 Ser diferente é normal - Kaká Carneiro 111 EDITORIAL DE MODA - Fabiana Milazzo - Coleção Azul 116 INDÚSTRIA - Dr. Olavo Machado Júnior FIEMG 122 ODONTOLOGIA - O Autismo e o tratamento odontológico - Dr Fábio Azevedo 124 GASTRONOMIA - Gnocchi sem glúten - Chef Luciano Muradas 125 SUSTENTABILIDADE - Arquitetura Viva - Luana Lousa de Almeida 127 EMPREENDEDORISMO - Inovações e oportunidades de novos negócios - Willian Rodrigues - SEBRAE

SOLIDARIEDADE

128 PROJETOS SOCIAIS - Franco Cartafina, Caminhada Solidária River Auto Peças, Angela Dib - Menos palavras e mais amor, Lar Andé Luiz 132 ADMINISTRAÇÃO - Gestão de Crise - por Anne Roy 134 GASTRONOMIA FUNCIONAL - Mirella Dellazzari - Real Gastronomia 139 ENGENHARIA - Reinaldo Ribeiro 140 ACESSIBILIDADE - Alisson Bessa, Pedro Arduini 142 ARQUITETURA E DECORAÇÃO- Marcelo Pontes Luz 143 ARQUITETURA E URBANISMO - Lidiana Rosa 144 PRÓXIMA EDIÇÃO - ALZHEIMER REVISTA ATMA 09


! r o m A

ATMA CARTA AO LEITOR

Somos todos O nosso objetivo com esta edição, em primeiro lugar, é trazer informações que diminuam o preconceito, exercitem a inclusão e, ao mesmo tempo, nos levem à reflexão sobre a forma com que encaramos o Autismo e/ou Síndrome de Down. Eles vivem com algumas limitações, mas se divertem, estudam, passeiam, trabalham, namoram...

O que chamou a atenção da nossa equipe para a escolha do tema, no caso do autismo, é o aumento da incidência de casos e a possibilidade de existirem muitos outros ainda escondidos, por desconhecimento acerca dos sinais e pela falta do diagnóstico com segurança. Aliado a isso, também julgamos muito importante mostrar que a adoção de novos hábitos que levem a uma alimentação saudável traz muito mais benefícios do que imaginamos. Pode mudar a vida de uma pessoa, especialmente aquelas que têm alergia a um ou outro alimento e muitas vezes nem sabe. O grupo Laço Azul de Apoio aos Autistas, escolhido para ser beneficiado pela ação social desta edição da ATMA, tem feito um excelente trabalho em Uberaba esclarecendo e sendo um divisor de águas para as famílias com autistas em casa. Informação é tudo! É claro que respalda todos esses elementos o amor incondicional. A presença de uma pessoa com autismo ou Down na família abre espaço para cultuar outros valores, os verdadeiramente essenciais para a vida. Traz, invariavelmente, uma transformação positiva e de forma plena. Uma edição com conteúdo e ação indispensável para quem, como nós, quer atingir o que diz o slogan da ATMA: Viver o Bem! Boa leitura! 10 REVISTA ATMA


Fotos Arquivo Pessoal

ATMA EXPEDIENTE DIRETORIA ALÊ RÔSO ELISA ARAÚJO EDITORA RESPONSÁVEL ROSE DUTRA JP06415 MG DIREÇÃO DE ARTE/CRIAÇÃO MÁRCIA FONSECA PROJETO GRÁFICO ARKA MARKETING CONTEMPORÂNEO CONTATOS PUBLICITÁRIOS KARINE GONÇALVES ALEXANDRE CURY THAIS CURI MARKETING ARKA MARKETING THAÍS SCANDIUZZI 34 3314 9439 PROJETOS/ RESPONSALIDADE SOCIAL GICELE GOMES MOBILIZAÇÃO SOCIAL EDITORIAL DE MODA FABIANA MILAZZO FOTOGRAFIAS ANDRÉ SANTOS COLABORADORES MARIANGELA CAMARGOS KARLA COELHO LUIZA COELHO FERNANDA COELHO IMPRESSÃO GRÁFICA R&C 34 3336 5083 TIRAGEM 10 MIL EXEMPLARES REVISTA ATMA É UMA PUBLICAÇÃO SEMESTRAL revista.atma@gmail.com /revistaatma

CAPA

LUCAS KSENHUK FOTOGRAFIA E PRODUÇÃO TATIANA KSENHUK REVISTA ATMA

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ATMA TRAJETÓRIA

NOSSA

História

A cada edição um tema é abordado em 360° Na primeira edição falamos sobre o Câncer, convidamos médicos, pacientes, psicólogos e os mais variados profissionais ligados a esse universo, incluindo moda e beleza direcionados ao público. O objeto de ação social trabalhado foi um calendário com fotos artísticas de verdadeiras mulheres guerreiras que lutam ou lutaram contra a doença. Toda a verba arrecadada com a venda dos calendários foi destinada ao Hospital Dr. Hélio Angotti de Uberaba, referência em atendimento a pacientes em tratamento contra o câncer. A entrega da arrecadação com a venda dos calendários foi feita pelas diretoras da ATMA ao Dr. Délcio Scandiuzzi (foto). Durante o processo de vendas e divulgação do Calendário disponibilizamos entrevistas e esclarecimentos para diversos meios de comunicação o que harmonizou uma nova edição do Calendário para 2016 de forma

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independente feito pelas próprias Guerreiras. Na segunda edição, lançada em outubro de 2015, discutimos o HIV/ Aids. Apresentamos o tema respaldado pelos mais variados profissionais da área, entrevistamos pacientes, contamos histórias de superação e debatemos o preconceito. Em parceria firmada com a renomada estilista Patrícia Bonaldi, foi desenvolvida a estampa para a camiseta com arrecadação revertida integralmente para a ONG Saiba Viver (Associação de Apoio às Pessoas Vivendo com HIV – AAPVHIV) em Uberaba, presidida por

Nilton Rezende (foto à direita). No decorrer da parceria firmada entre a ATMA e ONG Saiba Viver, articulamos estande montado no Shopping Uberaba para venda das camisetas e divulgação do trabalhado realizado. Estivemos juntos na Ação de 1º de Dezembro – Dia Internacional de Combate à AIDS, que proporcionou à ONG visibilidade e também Projeto de Lei que instituiu o Dia Municipal de Combate à AIDS. Acompanhamos a entrega do terreno doado pela PMU e assumimos o compromisso de elaboração do projeto arquitetônico para a nova sede da Associação.


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ATMA TRAJETÓRIA

A cerimônia de lançamento do Calendário 2016, no Espaço Bookafé Uberaba, foi marcada por muita emoção com a presença das Guerreiras 2015 e 2016, dos presidentes Hospital Dr. Hélio Angotti, Délcio Scandiuzzi, acompanhado de sua esposa, Lúcia, e do INBF Instituto Boa Fé, Jônadan Ma, e esposa Angela; da secretária de Educação, professora Silvana Elias; do médico Luciano Luzes, diretor da Unimed, da Amanda, filha da eterna Guerreira, Sissa Rezende; da diretora da revista ATMA, Elisa Araújo, e muitos mais que se emocionaram ao som do músico Weber Januário, e do duo instrumental com Elias Junior (piano) e Eduardo Coelho (bass). Os pronunciamentos deram o tom comovente ao evento. Valéria Cristina Silva falou em nome das estrelas de 2015, e Leonice Capucci em nome das estrelas de 2016, e Jônadan, em

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nome dos patrocinadores e demais apoiadores do projeto. A Guerreira de 2015, Elaine Furtado, comandou um dos momentos mais emocionantes da noite. Ela apresentou o desenho presenteado pela ilustradora Cristiane Goiatá, de Juiz de Fora, convidou Amanda, a filha da eterna Sissa, e contou que o nome escolhido para a top do desenho é Sissa. Em seguida, as modelos de 2015 e 2016 se abraçaram e se presentearam. Foram apresentados os agradecimentos à imprensa, aos patrocinadores NBC Supermercados, EF Mix, Skinão Restaurante, Instituto Boa Fé e Gráfica 3Pinti, e aos profissionais voluntários Francis Prado (fotógrafa), Gio Mota (designer gráfico), Rose Dutra (jornalista e mestre de cerimônias do evento), ao presidente das Indústrias Agronelli, Marco Tulio Paolinelli; à webdesigner e fotógrafa Marcela Pena,

à fotógrafa Luciana Alves; às maquiadoras Elaine Estrela, da Art & Estilo e Gilvana Gouvea, diretora de Vendas da Mary Kay, e às assistentes de produção, Ana Flávia Quirino (que também atuou junto ao cerimonial do lançamento) e Ana Carolina Quirino. O encerramento contou com a declamação de um poema pela guerreira e capa da primeira edição da revista ATMA, Arahilda Gomes Alves. Guerreiras 2016 Janeiro - Solange Moura de Menezes Fevereiro - Ruana Paula Silva Março - Mônica Rodrigues do Nascimento Abril - Melissa de Queiroz Paixão Maio - Leonice Maria Pinheiro Capucci Junho - Maria Beatriz Lima Borges Julho - Viviane Rodrigues Campos Agosto - Islaine Maria da Silva Setembro - Patrícia Moraes A. F. Rosa Outubro - Derocy Soares de Souza Novembro - Patrícia Daniela Borges Campos Dezembro - Marcia Helena Pena Gama


Foto Francis Prado

ATMA GUERREIRAS

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ATMA CAPA

Lucas Ksenhuk: o autista artista Lucas Ksenhuk, 14 anos, tem como inspirações as obras de Van Gogh e Romero Britto. Sua criatividade extrapola as telas e vai para capacetes, tênis e até instrumentos musicais. Muita cor e formatos povoam a sua mente brilhante e tantas belas obras já fizeram parte de exposições por esses brasis. Para Lucas, o autismo não é uma doença, parece um teste e ele fica muito feliz quando consegue transmitir alegria pelas suas telas. Você tem autismo e é um artista. Suas obras são lindas. Onde você busca inspiração para tantas belas obras de arte? Minhas inspirações vêm dos meus cadernos de rascunho, e os desenhos dos rascunhos eu faço sempre que penso em alguma coisa diferente com relação aos movimentos da natureza. Família, amigos e colegas e professores devem estar muito orgulhosos de você. Como é o feedback deles com relação ao seu talento? Eu me sinto top hehe 18 REVISTA ATMA


Fotos Arquivo Pessoal

Tela “Fundo do Mar”

Você fez pinturas belíssimas em seus tênis, que bem poderiam ser aprovados por marcas nacionais. Você os apresentou a eles, já obteve resposta da Nike ou da Adidas? Ainda não...

ATMA CAPA teceu tudo isso junto que eu tive muita vontade de desenhar. Com 9 anos. De que maneira você lida com o autismo, no que se refere ao preconceito que ainda ronda as pessoas com TEA? Como a sua família respalda você nesse enfrentamento? Eu fico com dó das crianças com autismo muito grave. Elas precisam dos pais para ajudá-las. Então, eu penso muito nelas e não ligo para o preconceito comigo, mas já sofri muito quando era menor. Quando alguém fala alguma coisa eu finjo que não ligo, mas ao mesmo tempo eu fico com pena das crianças com autismo. Todo ser humano precisa ajudar outro ser humano, e eu gostaria de ajudá-los. Minha família me ajuda muito, e isso eu aprendi com eles. Meus pais são minha inspiração. Você já realizou vários sonhos, como fazer exposições com a sua arte e conhecer o Romero Britto, pintor, escultor brasileiro muito conhecido nos Estados Unidos. Como foi esse encontro? Eu fiquei muito ansioso para encon-

trar o Romero Britto, eu congelei e não consegui falar muita coisa. Minha mãe me ajudou. Eu senti na pele o que é ter um sonho realizado, isso faz muito bem ao coração. E quais são os sonhos ainda não realizados? Fazer exposição em outros países, conhecer mais artistas, ter minhas artes em marcas, estudar numa escola bem legal de artes, ajudar pessoas, e ter um iPhone 6, hehehe. A revista ATMA quer informar sobre o autismo e down com entrevistas de especialistas, mas também demonstrar que é possível vivenciar alegrias, realizar sonhos e ser feliz. Você é prova viva disso. Que opinião você tem sobre publicações assim? Para mim, o autismo não é uma doença, parece um teste. Eu fico muito feliz quando consigo transmitir alegria pelas minhas telas, e espero que todos se alegrem mesmo. Muito obrigado por me ajudarem a divulgar meu trabalho, eu espero que dê mais visibilidade também ao Grupo Laço Azul de Apoio aos Autistas, liderado por Luiza e Karla Coelho, e assim ajudar outras famílias também.

E que sensação foi pintar os capacetes que foram os prêmios para a Sampa Kart Race 2015? Foi muito legal e diferente para mim, eu espero que todos tenham ficado felizes. Como o desenho invadiu o seu coração? Com que idade começou a desenhar? O Romero Britto me inspirou muito, e também Van Gogh. Minha irmã me ajudava a pesquisar. Eu ganhei livros dos meus tios e um caderno do meu amigo, e foi quando acon-

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ATMA CAPA

Autismo: o melhor é amar

Lucas com os pais Tatiana e Hugo Ksenhuk

Tatiana nunca imaginou que o Lucas teria uma mente voltada para as artes. Ela espera que ele tenha um futuro belo e que de alguma forma isto ajude outras pessoas. “Quem sabe ter um lugar muito legal para autistas...”. Qualquer tipo de julgamento é capaz de deixar Tatiana bem irritada, no entanto, percebeu que não vale

a pena entrar em discussões, pois as pessoas ouvem e veem só o que é confortável para elas. “Então, eu diria: sinto muito”. O que de fato importa é o sorriso do Lucas. É muito significativo para toda a família vê-lo trazendo para o papel o que ele tem em sua mente. “É uma dádiva para nós! Somos bem corujas rsrs”, finaliza. E com razão! As obras de arte de Lucas são lindas e tem ganhado cada vez mais visibilidade.

Fotos Arquivo Pessoal

Os pais de autistas devem ir ao encontro da dor, não vale a pena fugir. É melhor encontrá-la e aprender a lidar com ela, e então superar cada obstáculo. A avaliação é de Tatiana Ksenhuk, mãe do Lucas, autista com a mente voltada para as artes. Ela observa que se a dor não for enfrentada, ela consome a todos e os faz ficarem rodando em volta de si mesmos sem solução. Tatiana diz ser preciso muita coragem para lidar com um diagnóstico, mas é o melhor a ser feito por amor aos filhos. “Tudo o que pode ser melhorado só é descoberto depois que damos este primeiro passo. Encontrar outras famílias que passem pelo mesmo desafio é essencial.” Quando recebeu o diagnóstico do Lucas, Tatiana ficou desolada. Foi uma sensação de muita tristeza e insegurança, sem saber muito o que fazer. Ela buscou ajuda em grupos de apoio para tentar entender o que realmente este diagnóstico significava. Também recorreu a Deus, através de músicas, da própria Bíblia e também com orações pela vida do Lucas. Ela conta que o próprio filho, quando tinha 8 anos sempre que ela o buscava na escola ele chorava no carro e dizia que gostaria de viver na época de Jesus para apenas tocar nas suas roupas e ser curado. “O Lucas tem várias experiências com Deus e acredita fielmente nele.”

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ATMA LAÇO AZUL

Grupo Laço Azul O Grupo Laço Azul chegou para dar alento a pelo menos 70 famílias em Uberaba. A cidade praticamente não abordava o assunto de forma esclarecedora. Não havia como trocar ideias, pois não se tinha conhecimento da demanda de autistas no município. Em dezembro de 2014, a partir de uma reunião com alguns familiares de autistas, surgiu a vontade de estreitar laços para trocas de experiências permitindo aos seus membros se inteirar das necessidades uns dos outros, na maioria das vezes parecidas, e até mesmo para que tivessem um momento para desabafo e acolhimento.

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ATMA LAÇO AZUL

Confraternização Grupo Laço Azul, membros da diretoria e familiares

Durante os encontros, ficou evidente a carência de conscientização da comunidade como um todo e, em abril de 2015, o grupo, que se identificava como Grupo de Apoio aos Autistas de Uberaba, aproveitou o Dia da Conscientização Mundial Sobre o Autismo para se

expressar. A intenção era mostrar que os autistas têm de ser reconhecidos como pertencentes à sociedade e se sentirem cada vez mais integrados e incluídos. Assim, os pais e familiares organizaram um piquenique em uma praça de Uberaba.

Foi um sucesso e surgiram novos interessados em compartilhar dessa luta por respeito e espaço. No mesmo ano, as atividades se intensificaram e o grupo articulou e realizou a vinda à cidade de uma médica especialista em tratamento integral para atender pessoas com autismo. Criou-se uma biblioteca para empréstimos de livros e documentos; os encontros continuaram a acontecer e profissionais como terapeutas, professores e mediadoras escolares passaram a ser convidados para falar com as famílias; conversas com as secretarias de Saúde e de Educação foram fomentadas e eventos de confraternização foram realizados. Com a percepção da força dessa comunhão, o grupo sentiu a necessidade de criar um nome que fugisse das siglas e, ao mesmo tempo, representasse a essência do trabalho que sempre realizou. Surgiu então o Laço Azul, mostrando que o autismo, representado mundialmente com essa cor, não une as pessoas apenas pelas dificuldades mas também por prazer, amor. Um elo entre todos os que buscam o mesmo ideal. Assim, é formada uma família. O símbolo escolhido, a estrela de cinco pontas, significa laço infinito e

Reunião Grupo Laço Azul e familiares REVISTA ATMA 23


ATMA LAÇO AZUL

representa a verdade e a proteção, demonstra a vontade de construção de novos conceitos para a educação, saúde e inclusão. O grande objetivo dessa união é mostrar para a cidade de Uberaba e região que é possível e necessário mudar muitas realidades do dia a dia dos autistas.

Quer saber mais sobre o Laço Azul?

34 3312.7360

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A segunda edição do Piquenique de Conscientização do Autismo promovido pelo grupo Laço Azul levou mais de 1000 pessoas à Praça Pôr do Sol, no dia 3 de abril de 2016. Foi uma manhã inteira de atrações, além de divulgação a respeito do transtorno. Karla e Luiza Coelho, que mantêm o blogestouautista.com.br, estiveram à frente da organização do evento. Ela são irmãs de Luiz Júnior, que é autista e motivo de estudo e empenho de toda a família para que ele tenha excelente qualidade de vida. O encontro evidenciou a união do grupo formado por familiares de autistas e simpatizantes e, sobretudo, de conscientização. Durante o piquenique, foram distribuídos panfletos informativos e houve espaço coberto com equipe preparada para esclarecer dúvidas sobre a síndrome. As crianças se divertiram na cama elástica, tobogã, piscina de bolinhas, atividades físicas, música, dança, sorteios e muito mais.

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ATMA SIAMIG BH

O doce equilíbrio do açúcar grandes salvações, como tem ocorrido hoje em dia com a chia e a quinoa, entre vários outros. “Muito pelo contrário, temos que pensar que é possível consumir todos os alimentos, como o açúcar, dentro de uma alimentação equilibrada, com todos os nutrientes, vitaminas, minerais e fibras”, afirma Atalla. Sobretudo, reforça, manter-se fisicamente ativo, e ser, portanto, uma pessoa saudável, sendo isso o que ele chama de padrão de comportamento, hábito, rotina e o que realmente constrói o estilo de vida.

Fonte de energia

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de vida, que é determinante para a saúde e o bem estar. “Não devemos responsabilizar um fator isolado, como um tipo de alimento”, diz Atalla. Segundo o educador físico, criador do quadro “Medida Certa” do Fantástico, na Globo, assim como não deve-se eleger vilões da alimentação, é indevido eleger também as

Foi pensando em divulgar o conceito de dieta equilibrada com o foco também na atividade física que foi desenvolvida a Campanha Doce Equilíbrio, promovida pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), com apoio da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), do Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol do Estado de Goiás (Sifaeg) e

Márcio Atalla

Márcia Daskal

Fotos: Divulgação/SIAMIG

Envolto em mitos e muitas vezes culpado por ocasionar vários problemas de saúde, o açúcar é visto na atualidade por muitos especialistas como um dos carboidratos mais importantes para o corpo humano, porém, se consumido de forma equilibrada. “É preciso ter cautela antes de eleger um nutriente ou alimento como bom ou ruim. A questão está no equilíbrio do consumo, seja qual for o grupo alimentar “, ensina a nutricionista, Márcia Daskal. Uma outra vertente que está sendo agregada ao consumo de açúcar equilibrado é a importância da prática de exercício físico, a fim de evitar doenças graves como a obesidade, diabetes entre outras. De acordo com o professor de educação física, Márcio Atalla, é importante apostar na mudança de estilo


Mário Campos

é presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais.

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Principais tipos de açúcar produzidos • Açúcar cristal: apresenta-se como cristais maiores e transparentes, sendo mais difícil dissolvê-lo. No seu processo de fabricação, a etapa de cristalização elimina a maioria das impurezas presentes. • Açúcar refinado: esse é o tipo de açúcar mais comum nos supermercados e utilizado em casa. No processo de refino, além da adição de novos produtos químicos, o açúcar cristal é dissolvido e recristalizado, visando torná-lo mais branco, pela remoção adicional dos compostos coloridos presentes. • Açúcar de confeiteiro: já descrito pelo nome, esse tipo de açúcar é mais utilizado para decorar receitas, como bolos, biscoitos e tortas. Os cristais são extremamente finos e com a aparência de pó. • Açúcar orgânico: em geral, se apresenta na forma de cristais maiores e mais escuros. Durante a sua produção, desde o plantio da cana até o produto embalado, não são utilizados agrotóxicos ou insumos não autorizados. • Açúcar light: é a combinação do açúcar refinado com adoçantes artificiais. Deve ser evitado por pessoas que não podem ou não querem utilizar adoçantes. Por conta da presença dos edulcorantes, não tem o mesmo efeito culinário. • Açúcar mascavo: com a coloração mais escura parecida com o caramelo, o sabor do açúcar mascavo lembra o da rapadura. O açúcar mascavo tradicional é um alimento obtido diretamente da concentração do caldo de cana recém-extraído. • Açúcar demerara: tem grãos na cor marrom claro e o processo de produção é muito similar ao açúcar mascavo, porém passa também por um processo de tratamento leve, utilizando menor quantidade de aditivos químicos. REVISTA ATMA 29

Fotos: Siamig/Campanha Doce Equilíbrio. Fonte: Site – Campanha Doce Equilíbrio

do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool do Estado da Paraíba (Sindalcool). “Esse é um projeto de saúde, prazer e bem-estar”, diz o presidente da SIAMIG, Mário Campos, que defende o açúcar como a principal fonte de energia para o ser humano e fundamental no preparo dos alimentos ao fazer parte do dia a dia dos brasileiros. A Campanha Doce Equilíbrio serve para desvendar muitos mitos em relação ao açúcar e colocar a palavra equilíbrio no centro do debate sobre o assunto. Isoladamente, o açúcar não pode ser considerado

como causador da obesidade, diabetes ou outras doenças graves. Algumas instituições científicas, como ONU para a Alimentação e a Agricultura, Organização Mundial da Saúde (OMS), Instituto Americano de Medicina e Academia Americana de Nutrição e Dietética, já concluíram que essas doenças estão ligadas a diversos fatores, e não exclusivamente ao açúcar. Os consumidores podem obter maiores informações sobre o açúcar e receitas dos doces dessa matéria no site: www.campanhadoceequilibrio.com.br



ATMA FISIOTERAPIA

Pilates: a interatividade que beneficia autistas

Profissional extremamente ligado a pesquisas científicas, Carlos Ernesto tenta manter seus atendimentos e equipe 100% voltados para práticas que se baseiem em comprovações científicas. Analisou mais de 15 artigos relacionados ao tema (Exercício físico x autismo) na base de dados PubMed e a grande maioria já confirmava o que na prática ele tem vivenciado. Não im-

porta qual atividade e nem o nível de autismo, pois existem vários, os efeitos da intervenção com atividade física em pacientes com autismo são benéficos em vários aspectos como socialização, diminuição de autoagressão, aumento da concentração, melhora da flexibilidade e da coordenação. A verdade é que o método/conceito Pilates, segundo Carlos Ernesto, parece se encaixar perfeitamente como uma atividade física interativa. Acrescenta que o Pilates é divertido, podendo desenvolver habilidades sensório-motoras, dependendo de como é realizado. Ele ressalta que o paciente será exposto a um universo de novos movimentos em um ambiente extremamente calmo e controlado, reduzindo o estresse que locais com excesso de informação poderiam causar. Outro benefício, de acordo com o profissional, seria a possibilidade de minimizar consideravelmente desvios posturais, por meio do reequilíbrio das cadeias musculares,

realinhamento e consciência corporal. Observa que o paciente não deverá ficar sem acompanhamento familiar durante as sessões, até que ele esteja adaptado ao instrutor e ao ambiente. “Não tenho dúvida de que o Universo Pilates adaptado ao Universo Autismo seria uma troca de comunicação ativa entre ambas as partes (paciente x fisioterapeuta). Carlos Ernesto diz que o Pilates é divertido, podendo desenvolver habilidades sensório-motoras, dependendo de como é realizado.

Fotos: Divulgação

O método Pilates é essencial para a reabilitação, prevenção e condicionamento físico. Carlos Ernesto, proprietário da Fisio Prime Instituto, revela que quando o assunto autismo chega à sua mesa, a reação é de alegria, pois é um tema de extrema relevância por vários motivos, entre eles os fatos de segundo o site www.autism-society.org, 1% da população mundial ter algum tipo de autismo; de existir muito tabu sobre como lidar com quem tem a síndrome; e que a prática de atividade física é extremamente benéfica para autistas e para qualquer pessoa que possua algum tipo de déficit de atenção e hiperatividade.

Carlos Ernesto Gualberto Chaves

Carlos é fisioterapeuta graduado pela - UNIUBE 2007, Instrutor Sênior do Método Pilates, Certificado Internacional TRX® - Suspension Training 2012, Certificado CoreAlign® pela Physio Pilates® 2013, Workshoop Pilates nas dinsfunções do envelhecimento (Gabrielle Pucci) 2014, Participante do II Congresso Brasileiro de Pilates e I Meeting Internacional de TF 2014, Participante do Curso IPC® – Temas Controversos em Cirurgia de Deformidades 2014 Pós Graduação em Fisioterapia Traumato-Ortopédica com Ênfase em Terapia Manual pela Barão de Mauá. REVISTA ATMA 31


ATMA ORTOMOLECULAR

A hora e a vez da suplementação protocolos com uma base científica forte. Eu descobri o DAN de maneira bastante pessoal, devido à formação científica e profissional em nutri e farmacogenômica, bioquímica, medicina ortomolecular e fitoterapia. Assim acabei me envolvendo com a filosofia do DAN.

Camila Milagres alerta que o mundo atual é fonte de muitos contaminantes e as crianças absorvem mais tóxicos que adultos

Para quem nunca ouviu falar de suplementação para tratar crianças com TEA - Transtorno do Espectro Autista, a hora é agora! A doutora Camila Milagres revela que a suplementação é cada dia mais alicerçada em protocolos com uma base científica forte. O tratamento é capaz de melhorar a qualidade de vida, reduzir os sintomas e proporcionar ótimos resultados, mas deve ser sempre acompanhado por profissional treinado. A médica também fala dobre o movimento DAN. Confira! Para quem é recomendado o uso de suplementação? A suplementação bem feita é benéfica para qualquer criança e não apenas para aquelas que têm autismo. O mundo atual é fonte de 32 REVISTA ATMA

muitos contaminantes e as crianças por crescerem rápido, respirar mais e ter um metabolismo mais rápido, absorvem mais tóxicos que adultos. O que acontece é que crianças autistas têm uma incapacidade de desintoxicação maior que seus pares neurotípicos e, por isso, precisam ainda mais que as típicas. Como se chegou ao uso da suplementação para tratar autistas? Remonta da década de 50 quando um grupo de médicos e pais criou o Movimento DAN (defeat the autism now) e passou a fazer interconexões entre o intestino e o cérebro e a testar vitaminas para controle de alguns sintomas. De lá para cá o que aconteceu é que a suplementação é cada dia mais baseada em

O tratamento biomolecular é indicado para todos os que têm a síndrome? Sim, mas a resposta ao tratamento é variável a depender da causa metabólica do autismo. Normalmente o tratamento é feito em ciclos de organização/desorganização - existe uma fase que é chamada de die off, em que os efeitos da desintoxicação são ruins, especialmente no comportamento, mas quando acaba, os ganhos aparecem. Não dá para identificar os ganhos que aparecerão, é quase uma loteria. Normalmente a criança ganha justo na área em que é mais fraca. Muitos tendem a reconhecer o autismo nas crianças, mas há adultos também com o transtorno. Mesmo na fase adulta pode ser iniciado esse tratamento? Pode sim, embora obviamente os resultados sejam mais lentos e menos perceptíveis. A adolescência, por exemplo, tem grande influência hormonal e por isso modular hormônios nessa fase pode ser importante.


Fotos Arquivo Pessoal

ATMA ORTOMOLECULAR

Esse transtorno foi descoberto há cerca de 70 anos. Já foram identificadas as causas? Hoje se sabe que existe uma predisposição genética associada a múltiplos fatores ambientais. Existem pesquisas recentes que dizem em 50% genética e 50% ambiente e, por isso, atuar no ambiente é tão importante. O tratamento bioquímico melhora a qualidade de vida de pacientes com doenças neuropsiquiátricas? Sim. A prática ortomolecular associada a uma ampla gama de ou-

tros tratamentos de cunho natural são pilares de uma abordagem individualizada que visa a corrigir defeitos bioquímicos e genéticos em vias metabólicas essenciais. O tratamento bioquímico das doenças neuropsiquiátricas em todas as fases da vida é capaz de melhorar a qualidade de vida, reduzir os sintomas e proporcionar resultados não esperados apenas com a medicina tradicional. Ele nada mais é do que uma otimização metabólica através de suplementação. Não tem contra-indicações e deve ser sempre acompanhado por profissional treinado.

O que é DAN? O movimento DAN (Derrote o Autismo Agora) iniciou em 1940 com Bernard Rimland; que em 1967 fundou o Instituto de Pesquisa em Autismo (ARI), e é fundador da Sociedade de Autismo da América (ASA, em 1965). A doutora Simone Pires, no blog Estou autista (www.estouautista. com.br), recomenda que para saber mais sobre o movimento, vale a pena acessar o site www. autism.com. Ela diz que não há mais treinamento médico pelo ARI, mas todo ano tem o congresso Autism One, em Chicago – EUA. Há indicações de livros também. Os primeiros passos do tratamento, segundo ela, olhando pela filosofia do movimento DAN, são a limpeza de dieta e toxinas ambientais, dieta específica, suplementos específicos para cada um, medicamentos necessários e exames para avaliar a parte bioquímica.

Camila Milagres

é médica fitoterapeuta e ortomolecular; atua em pediatria, distúrbios neuropsiquiátricos, autismo, TDAH e dislexia, em Belo Horizonte (MG). Recentemente, fez o curso da Medical Academy of Pediatric Special Needs, nos Estados Unidos.

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ATMA HOMEOPATIA

Você conhece a homeopatia?

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dificuldade em manter contato visual), comportamentos repetitivos, interesses restritos, dificuldade em mudanças na rotina e outros. Na prática, a especialista diz que a família percebe que a criança não está interagindo ou respondendo quando é chamada; que há atraso na aquisição da comunicação

Ainda que o paciente não tenha suspeita de autismo, a homeopatia trará grandes benefícios ao desenvolvimento dele

O autismo há 20 e poucos anos era reconhecido por parte da população leiga por características como as do personagem Rain Man, filme de 1988 estrelado por Dustin Hoffman. Era tão incomum na população em geral que parecia distante da realidade. A homeopata e fisioterapeuta especialista em Neuropediatria, Maria Helena Rossi, observa que a incidência era de uma criança autista para cada 500 crianças em 1995. Entretanto, neste século, o aumento de casos de autismo foi impressionante passando de uma criança afetada em cada 110 em 2006 para uma em cada 68 em 2014 e previsão de uma em cada 45 em 2016. Maria Helena explica que quando uma criança está sendo investigada em relação a um atraso no desenvolvimento global, pode receber como impressão diagnóstica a sigla TEA (Transtorno do Espectro Autista), devido ao fato de haver comprometimento nas áreas da comunicação, interação social (falta de interesse em outras pessoas,

e fala ou regressão na fala. Alguns bebês, acrescenta, parecem já ter nascido muito chorões, com alterações no padrão de sono, e a família e o pediatra se desdobram tentando aliviar a causa, que parece ser cólica ou refluxo. História muito comum entre essas crianças, segundo Maria Helena, é a de que quando bebês tinham erupções na pele ou adoecimentos frequentes de garganta, ouvido e secreção abundante, eram comumente tratados com antibióticos e corticoides, como se tivessem sinusite. Há ainda os casos nos quais os bebês eram muito tranquilos, pareciam ser muito calmos, mas que, na verdade, estavam apáticos. "Só quando o desenvolvimento estava discrepante para a idade, que os pais desconfiavam que havia algo errado." Ela sugere a leitura de sinais de alerta em alguns sites, para orientar quando há algo com que se preocupar. E, supondo que haja realmente motivo para preocupação, que os pais procurem auxílio para estimular a criança da


forma mais adequada, de acordo com as áreas afetadas: fisioterapia com integração sensorial, neuropsicologia, terapia ocupacional ou fonoaudiologia. Observa que um pediatra ou neuropediatra poderá indicar os terapeutas mais especializados no assunto em cada cidade. Quem ainda não trata o bebê através da homeopatia, de acordo com Maria Helena, é hora de conhecer o assunto. Já se sabe que uma das causas deste transtorno tão comum hoje em dia é a intoxicação. Um bom homeopata irá orientar a rotina dos cuidados com a criança

frente a resfriados, estados febris e alimentação. Através do tratamento homeopático, destaca, o bebê terá a chance de melhorar a resposta do corpo aos adoecimentos, sem medicações químicas, e ainda melhorar bastante em relação aos comportamentos e ao atraso no desenvolvimento. Quanto mais cedo for tratado através da homeopatia, melhor se desenvolverá, garante. Entretanto, se ainda não estiver se desenvolvendo bem, pode ser que a intoxicação esteja sendo empecilho. Neste caso, ela sugere procurar um homeopata especializado em Homeopatia detox, que inicialmente foi divulgada como CEASE (completa eliminação de sintomas do espectro autista) criado pelo holandês Tinus Smiths há mais de 15 anos. Maria Helena diz que o tratamento homeopático detox (também chamado CEASE) é a união da homeopatia clássica à desintoxicação através da homeopatia. Para tanto, é traçado o perfil homeopático, o perfil de intoxicações e a constituição física. Considera que as crianças com transtornos do desenvolvimento estão bloqueadas por intoxicações; então, com a desintoxicação, elas vão melhorando

gradualmente com o uso da Homeopatia clássica. Ainda que a pessoa não tenha sinais de atraso no desenvolvimento e nem suspeita de autismo, a homeopatia e a alimentação saudável, pondera, trarão grandes benefícios ao desenvolvimento dela. E quando se fala em alimentação saudável, a especialista se refere a dar apenas alimentos frescos - quanto mais naturais melhor - de preferência orgânicos; e evitar corantes, conservantes, excessos de qualquer substância, principalmente açúcar e outros alimentos processados. Se a criança está no espectro, a homeopata cita que é importante evitar, ainda, leite animal, alimentos feitos com farinha de trigo (que contém glúten) e soja, por serem alimentos potencialmente inflamatórios para o intestino dessas crianças. "Embora o diagnóstico seja bastante assustador a princípio, temos várias crianças tratadas através da homeopatia que perderam seus diagnósticos e várias que retomaram seu desenvolvimento normal", acentua.

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O número de casos de autismo subiu de uma criança afetada em cada 110 em 2006 para a previsão de uma em cada 45 em 2016

ATMA HOMEOPATIA

Maria Helena Rossi

é membro fundador Remedy Autism – Menlo 2015, cursou Homeopatia DETOX – Holanda 2013/2014; é homeopata pela Faculdade de Viçosa 2011, mestre em Fisioterapia – Unitri 2001 e fisioterapeuta especialista em Neuropediatria (Bobath e Integração Sensorial). REVISTA ATMA 35


ATMA DIREITOS

Berenice Piana

Uma mulher à frente do seu tempo, que empunha a bandeira de luta pelo filho autista e pelos dois milhões com a síndrome no Brasil, em especial os sem recursos, desassistidos e excluídos. Ela é Berenice Piana, que dá nome à lei de proteção aos direitos da pessoa com autismo, sancionada em 27 de dezembro de 2012. Sempre que o tema está em alta, é ela a convidada para participar de programas nacionais de televisão como o “Encontro com Fátima Bernardes”, onde já esteve mais de uma vez. À revista ATMA, Berenice conta que entre os direitos que a lei prevê estão a proteção contra qualquer forma de abuso e exploração e acesso a ações e serviços de saúde, com vistas à atenção integral às suas necessidades de saúde. Confira!

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Na luta para assegurar os direitos do seu filho, ela conseguiu aprovar uma lei que beneficia dois milhões de autistas no Brasil

Berenice Piana: “Quando prestarmos atenção nos autistas severos, quando não mais os ignorarmos e dermos tratamento e atenção adequados, eles deixarão de ser severos e passarão a viver finalmente”

O que levou a senhora a fundar a primeira Clínica-Escola do Autista no Brasil? A necessidade de um local que fosse referência para todo o país, no cumprimento da lei pela qual lutamos arduamente, foi a primeira intenção. Segundo, a dificuldade enfrentada pelas famílias diariamente, em busca de qualidade no atendimento de seus filhos. A saúde e educação não podem jamais andar separadas, especialmente quando se trata de autismo. A Clínica-Escola do Autista vem trazer

a intersetorialidade, a troca de informações entre esses profissionais, aumentando a chance de progresso da pessoa com TEA-Transtorno do Espectro Autista. A senhora é referência no país, quando o assunto é mãe de autista. A sua dedicação é ímpar, mas a senhora decidiu ir mais além para beneficiar outros também com a criação da Lei 12.764/2012, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com


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Transtorno do Espectro Autista e que inclusive ganhou o seu nome. A luta foi dura, mas determinada. A lei tinha de acontecer e para isso, precisávamos de mobilização, de união das famílias. Muitas famílias do Brasil todo se moveram. O que fiz foi capitanear esse público para direcionar nossas intenções e necessidades. Minha luta foi sempre pelos autistas que não têm recursos, pelos desassistidos e excluídos. Tudo o que faço é dedicado ao meu filho Dayan, é por respeito a ele, por amor, sempre... Desde a primeira audiência pública até o dia da publicação em Diário Oficial, foram inúmeras noites sem dormir, muitas lágrimas e muita comemoração também. Eu diria que é um caminho que não tem volta. Quando a lei estava pronta, escrita para começar a tramitar, o desejo de ver isso ganhando corpo

e beneficiando milhares de famílias é tão grande que supera todas as dificuldades. Poucas pessoas ou quase ninguém sabe o que passei durante esse período. Talvez nunca venham a saber... Certamente que não. E que direitos a lei Berenice Piana garante? Entre outros, reconhece a pessoa com autismo como pessoa com deficiência para todos os efeitos legais, já no artigo 1º. Eu diria que as maiores conquistas estão no artigo 3º, que trata dos direitos conferidos à pessoa com autismo, como vida digna, integridade física e moral, livre desenvolvimento da personalidade, segurança e lazer; proteção contra qualquer forma de abuso e exploração; acesso a ações e serviços de saúde, com vistas à atenção integral às suas necessidades de saúde, incluindo o diagnóstico

precoce, ainda que não definitivo, o atendimento multiprofissional, a nutrição adequada e a terapia nutricional, os medicamentos e as informações que auxiliem no diagnóstico e no tratamento; acesso à educação e ao ensino profissionalizante; acesso à moradia, inclusive à residência protegida; acesso ao mercado de trabalho; e, acesso à Previdência Social e à assistência social. Com certeza, um ganho imenso, já que o número de casos de autismo tem crescido muito. Exatamente devido ao amor incondicional, as mães tendem a superproteger os filhos. Esse comportamento é benéfico ou não? As mães conhecem seus filhos. Não acredito que elas sejam elogiadas por protegerem, mas se por negligência, por descuido falharem e REVISTA ATMA 37


eles vierem a sofrer, serão prontamente acusadas por todos. Claro que não devemos fazer por eles aquilo que podem fazer sozinhos. Precisamos buscar sua independência ao máximo, mas com coerência, entendendo seus limites. Seu filho se enquadra em que grau do autismo? Como tem sido esse aprendizado? Meu filho já foi autista severo e hoje está muito melhor. Não sei se ele se enquadraria entre o clás-

A luta foi dura, mas determinada. A lei tinha de acontecer e para isso, precisávamos de mobilização.

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sico ou moderado... É difícil dizer, pois ele é não verbal. Está muito independente nas atividades de vida diária, mas ainda é limitado na noção de perigo real. Aprendi muito durante esse tempo e acho que nenhuma faculdade no mundo me daria esse conhecimento que fui adquirindo durante os 22 anos dele, entre pesquisas, workshops e conferências e convivência com centenas de famílias. Mesmo um pouco distante da realidade, o que a senhora achou de o autismo ter sido tema de um dos núcleos da novela Amor à Vida, em 2014? Ela reduziu o preconceito? Eu não sei se reduziu o preconceito, mas que deu visibilidade à causa, isso é inegável. Sei de inúmeras pessoas que nunca ouviram nada sobre autismo antes da novela. A intenção foi boa, ainda que um tanto fora da realidade, foi o primeiro passo e devíamos valorizar mais isso. Que luta a senhora acha que ainda é preciso existir para que a sociedade reconheça a

importância de aprender a lidar com autistas, que já são mais de dois milhões no Brasil? Essa luta já está começando, através do “Cinema Azul”, “Jantar Azul” e outros passos dados pelas famílias e associações. Isso é fantástico, pois aos poucos a sociedade vai entendendo que é preciso conviver de forma educada e pacífica com esses cidadãos. São seres humanos e têm todo o direito de estar em todos os lugares. Que análise a senhora faz de publicações como a revista ATMA, que quer contribuir com alertas, depoimentos e boas novas acerca de assuntos como o autismo? Eu aplaudo de pé essas iniciativas! Só com essas publicações vamos atingir as massas, levando conhecimento e esclarecendo dúvidas, desvendando mitos. Isso é o futuro, adequar-se à nova situação e ao novo público que está vindo aí.

Fotos Divulgação

Fotos Divulgação

ATMA DIREITOS

Berenice Piana

é mãe de três filhos, Diego, Shahla e Dayan, que é autista (hoje com 22 anos). Desde que recebeu o diagnóstico de seu filho luta pelos direitos das pessoas com autismo. Berenice estudou por anos o assunto e sugeriu ideias para a implantação de políticas públicas que levaram à criação da Lei 12.764/12.


Foto Fernanda Coelho


ATMA FONOAUDIOLOGIA

A importância do diagnóstico precoce O tratamento da criança dentro do Espectro Autista deve começar assim que os pais, cuidadores ou médicos identificarem o transtorno. A fonoaudióloga Elaine Regina Rodrigues, acrescenta que a criança que recebe estimulação correta o mais precocemente possível tem maiores chances de superar as dificuldades e ter uma vida social, escolar e familiar sem muitos prejuízos. Com frequência, os autistas leves são muito inteligentes e sensíveis a mudanças súbitas e a maioria leva uma vida bem melhor. Alguns podem viver anos sem receber o diagnóstico o que não é raro. Confira! Que sinais os pais devem observar nos filhos? Há forma de preveni-los? Muitas vezes os distúrbios de saúde mental na infância passam desapercebidos, estudos recentes sugerem que três em cada quatro crianças apresentam alguma alteração psiquiátrica que requer atenção 40 REVISTA ATMA

como o déficit de atenção, a hiperatividade, os distúrbios alimentares, distúrbios do sono, transtornos bipolares entre outros. Alguns distúrbios são reflexos comportamentais de um meio social inadequado somado à pré-disposição do indivíduo. Quanto mais cedo a identificação do transtorno psiquiátrico melhor é o prognóstico. Quando o tratamento deve ser iniciado? Há diferenças de abordagens de acordo com os níveis de autismo? Como reconhecê-los? Os distúrbios psiquiátricos de alguma forma estão ligados ao autismo? O autismo é um Distúrbio Psiquiátrico por ser uma patologia que compromete o comportamento. O

tratamento da criança dentro do Espectro Autista deve começar assim que os pais, cuidadores ou médicos identificarem o transtorno. Sabe-se que a criança que recebe estimulação correta o mais precocemente possível tem maiores chances de superar as dificuldades e ter uma vida social, escolar e familiar sem muitos prejuízos. Não é o nível de autismo que irá mostrar qual abordagem usar, e sim o que o profissional e pais acreditam ser o melhor. Atualmente é preconizado o atendimento com a abordagem Applied Behavior Analysis Autism/ Análise Aplicada ao Comportamento para Autistas (ABA) por estudos e a prática clínica mostrar que em curto e médio prazos ela traz resultados


ATMA FONOAUDIOLOGIA mais satisfatórios. No entanto, os pais devem se preocupar em procurar profissionais habilitados na metodologia.

não comestíveis. Apresentam uma necessidade contínua de auxílio para iniciar e manter atividades. Todos dentro do Espectro Autista precisam de estimulação de longo prazo, o que vai variar é a quantidade de terapias preconizadas para cada caso. Ao reconhecer o estímulo da fala, as crianças com autismo têm seus sistemas de recompensa ativados? Há 16 anos trabalhando com crianças autistas sei pela prática clínica e pela abordagem que uso Análise Aplicada ao Comportamento que eles apresentam vontade de se comunicar, de interagir, de participar. A dificuldade é que eles não sabem como fazer isso. A dificuldade maior é que crianças dentro do Espectro não apresentam Teoria da Mente que é a capacidade de se colocar no lugar do outro, inferindo crenças, desejos, sentimentos; mas quando lhes são ensinados eles apresentam uma grande mudança comportamental. Nosso trabalho no Geata segue o tripé de estimulação ABA-Pragmática e Teoria da Mente. Com essas três linhas de base no atendimento conseguimos

ter respostas em curto prazo com a retirada de comportamentos que não são socialmente aceitos, o uso funcional da linguagem e principalmente fazer com que a criança autista consiga enxergar no outro um par comunicativo, um parceiro de trocas afetivas, sociais e de aprendizagem.

Fotos Divulgação

Um autista severo, por exemplo, com o tempo pode mudar de nível e ter uma vida melhor? E é fato que eles têm de estar sempre recebendo estímulos? O Autismo hoje é divido em graus de comprometimento e nenhum autista apresentará comportamentos iguais ao outro, por isso falamos que o Autismo está dentro de um Espectro. De um lado temos as formas mais leves que costumam cursar apenas com alguns sintomas mais evidentes, como por exemplo, um comprometimento no comportamento. A criança pode manifestar alguma restrição na interação social e ter certa dificuldade para se relacionar com outras crianças, nas demais áreas como de linguagem e movimentos repetitivos e estereotipados pode-se observar alterações muito sutis ou inexistentes. Com frequência, os autistas leves são muito inteligentes e sensíveis a mudanças súbitas e a maioria leva uma vida bem melhor. Alguns podem viver anos sem receber o diagnóstico, o que não é raro. Já os casos mais severos podem cursar com a deficiência intelectual grave, ausência de contato com o ambiente ao redor, alguns agressivos consigo mesmos e os outros com acessos de raiva, fúria e gritos ou em um estado de apatia e falta de interesse aos estímulos externos, sem qualquer interação social. A linguagem (comunicação verbal e não verbal) pode estar ausente. Apresentam dificuldade com a mudança de rotina, interesses bizarros, seletividade alimentar, podem cheirar e levar à boca objetos

Elaine Regina Rodrigues

fonoaudióloga clínica graduada UNIFESP, pós-graduada em Distúrbios Psiquiátricos da Infância e Adolescência pela FMUSP/SP, pósgraduada em ABA-Applied Behavior Analysis Autism – EUA, Cours de I´autisme de I’ Université de Paris, consultora e palestrante na área do Transtorno do Espectro Autista, Diretora Clínica do GEATA - Grupo Especializado no Atendimento Terapêutico ao Autismo. REVISTA ATMA 41



ATMA HISTÓRIAS

Fotos Arquivo Pessoal

Autismo traz evolução humana

Andréa Werner: “Se os pais souberem enxergar os aprendizados dessa caminhada, tornam-se pessoas muito melhores”

A luta pelos direitos de um filho, pela inclusão, muda a sociedade toda! Há muitos pais e mães de "diferentes" por aí ajudando o mundo a ser um lugar melhor! Entre eles, Andréa Werner, jornalista e escritora mineira, que mora no exterior desde 2013 (primeiro Londres e, depois Estocolmo) e prepara o lançamento de seu primeiro livro em julho. Ela é mãe do Theo, 7 anos, autista severo com quem viaja muito, sai e se diverte bastante. A receita? Andréa revela: “Muitos pais

não saem com os filhos autistas, porque dá trabalho! E o olhar do outro - principalmente recriminatório, por não saber que se trata de uma criança autista - incomoda muito. Eles, às vezes, dão crises em público, não querem ficar sentadinhos no restaurante, mas se a gente não os tirar da zona de conforto, não vão aprender, nem se desenvolver. Temos os momentos difíceis, sim, mas eles passam. E o brilho das coisas boas, das conquistas e dos momentos gostosos é muito

maior que o lado ruim”! É claro que não foi sempre assim, houve momentos difíceis, veio o choro, depois o sofrimento e o luto pela perda do filho idealizado. Alguns pais nunca aprendem a deixar de lado o filho idealizado e a abraçar e amar o filho real. Ela conseguiu! Oito meses após o diagnóstico de Theo, Andréa criou o blog Lagarta Vira Pupa com o objetivo de desabafar. Com o tempo percebeu que muitos pais a agradeciam porque REVISTA ATMA 43


ATMA HISTÓRIAS tudo o que tem vontade ao lado do filho. O lado bom disso tudo, segundo ela, é que, se os pais se permitirem, se souberem enxergar os aprendizados dessa caminhada, tornam-se pessoas muito melhores. “Aprendemos o real valor de cada coisa.”

a sua visão de tudo os ajudavam a superar o próprio luto. “Mesmo sem saber, talvez eu tenha começado a escrever para dar a outros o suporte que eu não tive, já que me senti totalmente sozinha e perdida quando recebi o diagnóstico, em maio de 2010.” O blog cresceu, tem canal no YouTube e está no Facebook com quase 45 mil curtidas. Andréa nunca achou que o Theo fosse andar de bicicleta, e ele já anda de triciclo numa boa! Nunca achou que ia andar de patinete e anda. Mexe no tablet, aprende a jogar os jogos sozinho e está sendo alfabetizado em sueco. E, nas últimas férias o viu entrar em uns toboáguas que tiraram o fôlego dela. Coisas que parecem bobas para os outros pais, tomam uma dimensão enorme para os pais de autistas. “Aprendemos a comemorar cada coisinha!” Andréa não faz parte da turma dos pessimistas. Ela tenta transmitir alegria, mostrar que a vida continua. Lê sobre coisas que pais de autistas abrem mão por ter um filho autista, que não a atingem, pois faz 44 REVISTA ATMA

No site, a mãe do Theo responde às mais variadas perguntas de internautas e repassa a sua experiência, por exemplo, quando ocorrem crises. Em primeiro lugar, calma, ensina. Quando seu filho está em crise, você tem que ser a pessoa mais calma do mundo. Não há


ATMA HISTÓRIAS pre sai como a gente planejou, e temos que ter jogo de cintura para readequar as expectativas, ajustar as velas do barco e seguir. A vida não para e buscar a felicidade é nossa responsabilidade, e de mais ninguém. Qualquer publicação ou trabalho que ajude os pais neste processo é de vital importância”.

uma receita pronta para todas as mães, mas o que funciona aqui é NUNCA ignorar a crise. Eles têm muitas dificuldades em lidar com as sensações ruins, como a raiva e a frustração. Também não sabem reconhecer direito porque estão assim. "Costumo nomear a sensação: filho, você está assim porque está com fome...ou tédio... ou sono. E vou falando de forma calma com ele até ele se acalmar também. Se nada disso funcionar, deito ao lado dele no chão e digo `mamãe não está conseguindo te ajudar, então ela vai só ficar aqui do seu lado`". Livro “O financiamento coletivo tinha um prazo de 60 dias para ser finalizado, mas arrecadamos todo o valor em pouco mais de uma semana! O livro está impresso e os exemplares vendidos nesta pré-venda do financiamento coletivo e já foram enviados (quase 600 exemplares da primeira edição de 2 mil). O restante passará a ser vendido a partir do lançamento oficial do livro em julho no meu site: www.lagartavi-

rapupa.com.br. Haverá eventos em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro”. Blog “Aqui no exterior a carga é bem mais pesada, não temos família, empregada, nada disso. E meu marido viaja muito! Então, eu não consigo mais escrever com a frequência que escrevia e nem responder a todos que me procuram. Mas o tempo que eu consigo dedicar, é 100%. Tenho total noção da responsabilidade que adquiri com o tempo”. ATMA “Acredito que os pais de crianças diagnosticadas com deficiência precisam de ajuda para desenvolver a resiliência. A vida nem sem-

Brasil X Exterior “Sou de Belo Horizonte, mas vivi um bom tempo da infância no interior (Governador Valadares e Divinópolis). Sou bem familiarizada com a terra vermelha do Triângulo Mineiro! A vida em Estocolmo é totalmente diferente da que eu tinha em SP, onde passei meus últimos 11 anos. É uma vida mais simples, com muito menos desigualdade social, menos regalias, mais contato com a natureza e mais segurança. Quanto à saúde, aqui ela é totalmente pública. O ponto positivo é que, se você tiver qualquer coisa séria, receberá atendimento de ponta. Quanto ao autismo, Theo tem um suporte que não teria no Brasil, com certeza”. Boa nova “A cada dia surgem mais descobertas sobre a misteriosa genética do autismo. O tratamento com base na genética de cada um parece promissor. Ainda não temos algum medicamento focado em autismo, mas acredito que veremos algo bom neste sentido nos próximos anos”.

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ATMA ENTREVISTA

Mariangela Camargos é conhecida pelo seu trabalho como voluntária atuante, como defensora dos direitos da criança e do adolescente e que abraça a causa da criança autista integrando o grupo de apoio aos autistas de Uberaba, Laço Azul. Sua atuação na cidade ganha destaque devido ao seu desprendimento e seu interesse de beneficiar o outro. Em entrevista à revista ATMA, ela revela os momentos mais emocionantes da sua vida e divide com os leitores a decisão de tirar do filho os remédios alopáticos e de tratá-lo apenas com homeopatia e dieta sem glútem e sem leite. Ela começou a ver o Luís Henrique, hoje com 10 anos, intensificar o brilho nos olhos. Confira! O que levou você a optar pela adoção? Eu tenho duas filhas biológicas. Casei-me com 17 anos, e antes de eu me casar eu já tinha muita vontade de adotar. Depois que eu me casei, a vida foi muito corrida. Nós tivemos que produzir muito para chegar numa situação média de vida. Para termos condições de ter uma escola adequada para a

Fotos André Santos

A hora da decisão

Mariangela com o marido Cleri e os filhos Ana Luisa e Luis Henrique

família. Mas aquela vontade de adoção permanecia. Suas filhas moram em Uberaba? A mais velha voltou. A outra mora em Florianópolis e já tem um filho. Eu tenho um netinho de três anos. E a ideia de adotar continuava... Sim. Eu sempre com aquela ideia fixa. Conversando com meu marido sobre isso. Nós precisamos pen-

sar na adoção, que é uma vontade muito grande que eu tenho. As meninas foram crescendo, fizeram faculdade, foram embora. Ficamos os dois sozinhos. Logo que tivemos a segunda filha, meu marido fez vasectomia. Tínhamos muito medo de ter mais filhos e não conseguir cuidar adequadamente. Vocês achavam que para adotar o dinheiro fosse primordial? REVISTA ATMA 47


ATMA ENTREVISTA Depende muito do amor, da vontade. Daquela vontade que tínhamos. Então, percebemos que o dinheiro não era primordial. Teve um ano em que rezei muito. Pedi a Deus que encaminhasse, porque a gente já tinha realizado quase tudo na vida. Só faltava a adoção. Eu já tinha tido filhos, plantado uma árvore, tinha escrito um livro. Faltava realizar o sonho da adoção. Pedi a Deus para encaminhar e parece que Ele ouviu. Eu só fui perceber isso muitos meses depois. Em janeiro eu fiz uma oração que faço no começo do ano pedindo orientação. Dedicando a vida aos trabalhos voluntários, naquele ano eu consegui ser remunerada profissionalmente nos trabalhos que eu gostava de fazer, no Instituto Agronelli. Em que ano isso aconteceu? Em 2006. No comecinho de 2006 eu fiz toda essa retrospectiva da minha vida. Minha família cobrava que eu tivesse um trabalho remunerado, porque eu era voluntária. Na época eu já era formada em Jornalismo e me especializei, porque com o meu trabalho voluntário eu não conseguia continuar desenvolvendo apenas com o jornalismo. Eu me especializei em projetos sociais. Então eu fiquei tentando voltar a minha profissão para essa área,

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na qual queria continuar. Cheguei a decidir que se eu tivesse que trabalhar a vida inteira como voluntária, eu trabalharia. Mas naquele ano, então me chamaram para trabalhar no Instituto Agronelli, no fim do mês de abril. Eu ainda não tinha a visualização da adoção naquele ano. Então eu comecei a trabalhar e surgiu daí a 15 dias, a notícia dentro da minha casa. Um casal de gêmeos que estava internado precisava muito de ajuda. Como eu lido nessa área da criança e do adolescente, eu sempre ficava sabendo de uma questão ou outra. E aquilo me chamou a atenção e eu resolvi ir até lá. E você então comentou com o seu marido? Sim. Disse que estava me chamando a atenção e precisávamos ir lá. Eu senti que era preciso ir. Precisávamos conhecer o caso para ajudar. E então, um dia eu estava saindo do trabalho, eles estavam internados e eu resolvi na hora. Liguei para o meu marido e disse para ele me esperar para irmos ao hospital conhecê-los, saber o que estava acontecendo e em que a gente poderia ajudar. Eles estavam bem novinhos? Estavam com 5 meses e meio. Daí fomos ao hospital. Consegui entrar para conhecer. Eles estavam com pneumonia se recuperando. Não

estavam ainda disponíveis para adoção, mas já estavam afastados da família e na Casa de Proteção. Eu entrei no quarto onde tinha uma funcionária da instituição com eles. Eu fiz algumas perguntas e percebi que teria que conversar com as médicas, com o pessoal da Casa de Proteção para saber direitinho no que eu poderia ajudar naquele momento. Meu marido estava muito apreensivo. Logo no começo ele ficou muito tocado com aquela situação e eu também. Quando eu saí do quarto para me despedir eu olhei para o Luís Henrique e ele me olhou nos olhos. No fundo dos meus olhos. Eu não consigo esquecer até hoje. A Ana Luísa estava deitada na cama pequenininha também. Estava dormindo. Aquilo me comoveu. Eles estavam frágeis, nasceram com 29 semanas... Sim. Ele com 980 gramas e a Ana Luísa, com 1k15 gramas. Então eu perguntei para a médica se eu podia acompanhar e ajudar. Combinei com a médica e ia três vezes por dia: antes de trabalhar, na hora do almoço e à noite, na hora em que eu saia do trabalho. Tive a certeza de que eu precisava levá-los para casa. Fiz uma carta para o juiz, falando da condição, citando o artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente, mas era insuficiente. Tivemos de constituir advogado e tudo o mais. O importante era impedir que eles voltassem para a Casa de Proteção. Lembro-me direitinho, às 7 horas da noite de sexta eu consegui o documento da guarda. No sábado cedinho, dia 27 de maio de 2006, fomos ao hospital e os trouxemos para casa. Ali começava a história da mãe com os dois filhos gêmeos: Luís Henrique e Ana Luísa. Sim. Eu tinha noção de que eles podiam ter alguma deficiência. Nós que somos mães, pelo peso, pelo histórico. Não sabia qual ia ser o


ATMA ENTREVISTA futuro. Tudo que viesse para nós seria novo. Não pensamos nisso. Conversei com a assistente social, tive acesso aos relatórios. Sabíamos do refluxo, das pneumonias e das deficiências, da desnutrição. O que estava ali para detectar, tivemos acesso. Não nos preocupamos com o que ia ser. O que sabíamos é que eles precisavam de muitos tratamentos e isso nós justificamos na hora de solicitar a guarda. Porque se não tivesse a estimulação necessária ali, naquele momento, eles iam ficar muito mais comprometidos no futuro. Logo que chegaram eu os levei a todos os médicos. neurologista, fisioterapeuta, pediatra para poder acompanhar. Oftalmologista, desde pequenininhos, porque percebíamos que a Ana Luísa tinha baixa visão desde nenê. Ela usa óculos desde um ano. O Luís Henrique não gosta muito de colocar, mas a Ana Luísa, não fica sem os óculos. Ela tem 10 graus de miopia. Eles fizeram estimulação de tudo quanto foi jeito. Estimulação visual, coordenação motora, sensorial. Devido à prematuridade, eles ficaram com sequelas? Eles tiveram paralisia cerebral, então ficaram com sequelas, sim. A Ana Luísa ficou com sequela motora, no caminhar, bem leve. E o Luís Henrique, no cognitivo, que estamos tratando com toda a estimulação necessária. E a questão emotiva. Com quem você conta para te apoiar? Quando eles vieram eu pensei: meu Deus, agora que comecei a trabalhar. Eu sempre fui dona de negócios. Trabalhei algumas vezes, mas eu sempre fui proprietária, na maioria das vezes. E agora, como é que eu faria com dois nenês, sendo funcionária, tendo que registrar ponto, com horário de trabalho. Pensei: será que continuo com o trabalho, pois ainda estava no contrato de experiência. Ou será que eu deixo o trabalho para poder me de-

dicar aos bebês? Então eu pensei muito. Eu ponderei e cheguei à conclusão de que se eu não continuasse trabalhando, eu não teria a mesma condição de dar o que eu precisava dar para eles. Como autônoma, não teria garantia e nem o meu marido como autônomo não teria. Então eu optei por continuar trabalhando e contar com uma equipe para me ajudar. A minha sogra me ajuda muito. E o meu marido – que trabalha em casa – se dedica o dia todo. Ele que carrega, que me ajuda, vai aos lugares que precisa. É assim até hoje. As pessoas sempre falam que quem toma esse tipo de decisão, que tem esse tipo de desprendimento, geralmente são espíritas. Mas às vezes

não. Qual é a sua religião? Eu sou espírita. Faço o culto aqui em casa toda semana, no domingo. Comecei há pouco tempo, há cerca de um ano, nós adotamos esse hábito. É muito bom. Eu deveria ter começado antes. Sempre tem um propósito. Eu acredito em reencarnação, leio a respeito. Fui criada no catolicismo, fiz a 1ª comunhão. Minha avó era muito católica. Até os 13 anos eu sempre ia à missa, mas quando comecei a questionar a vida (eu sempre fui muito questionadora). Você não conseguia respostas. Não e aí comecei a ler a doutrina espírita, o Evangelho. Comecei a frequentar também algumas reuniões e eu realmente mudei. E tem uma coisa muito importante. Eu nunca consegui parar de fazer o meu vo-

Informação

Agora, a revista chegando às mãos das pessoas, elas vão começar a compreender e olhar com outros olhos. Considero que a humanidade evoluiu. Antes a gente escondia e às vezes nem entendia. Achávamos que a criança nascia diferente e que ela não se enquadrava na sociedade e tinha que ficar escondida. Hoje, já temos uma outra visão. Você vê os shoppings sempre cheios de pessoas com deficiências física, visual, mental. Hoje já se tem um movimento grande de conscientização e as pessoas parecem que já se acostumaram a conviver com a diferença dentro dos lugares públicos. REVISTA ATMA 49


ATMA ENTREVISTA

luntariado. Eu era depressiva quando adolescente. Ficava muito triste. Eu pensava em como daria conta disso. Precisava combater isso. Eu pensava: meu Deus, por quê? Eu questionava muito. E só a partir do momento em que eu comecei a me dedicar como voluntária fui percebendo. No começo eu tinha uma panificadora e sobrava muita coisa. Nós não vendíamos coisa de um dia para o outro, sempre fazíamos novos. E sobrava muita coisa, boa ainda para consumo. E pensava em quantas pessoas passando fome. Vocês começaram a doar? Isso. A minha amiga, Paula Misson, que conheci na época, me falou de uma creche que precisava muito de alimento. Eu conheci essa creche em 1989. Fui lá visitar e nunca mais sai do voluntariado em creche. Depois da panificadora eu continuei. Depois nós fundamos também a Crescer – que foi a Central das Creches. Nós conhecemos as creches, os mesmos problemas e questões. Fundamos para poder trabalhar com as necessidades inerentes. Depois essa creche foi municipalizada. Tínhamos muita di50 REVISTA ATMA

ficuldade de mantê-la. A educação infantil passou a ser uma obrigação do município, e decidimos entregar a instituição para a prefeitura. Seu voluntariado sempre envolveu crianças? Sempre foi na área da criança e do adolescente. A partir da creche eu vi a necessidade de trabalhar a criança, porque a criança é o adulto de amanhã. É o futuro. Eu percebi que com o voluntariado eu consegui ficar mais feliz. Senti-me útil. Saí daquela sensação de vazio. Aquela depressão que às vezes vinha e sempre me abatia... Acabou!

Laço Azul O Laço Azul, grupo de apoio aos autistas de Uberaba, é um avanço na questão da discussão e da mobilização, do direito em geral da criança autista, devido aos movimentos que o grupo desenvolve na cidade. “Há municípios onde nem se fala e não se reconhece o autismo.” Para Mariangela, falta apenas o Governo perceber que existe uma lei que precisa ser executada. A sociedade civil, o movimento social, podem mobilizar, podem

bater panelas, levar para a Câmara, podem marcar reuniões com o prefeito e o secretário, como já marcaram várias tanto no âmbito das creches, quanto no grupo Laço Azul, que é muito novo, mas tem colecionado conquistas. A mobilização social é inerente ao ser humano, o brasileiro é muito ligado a isso, diz Mariangela. Se ele percebe uma necessidade, logo se junta e faz um movimento. É por isso que há muitas ONGs no Brasil. “Temos essa mobilização que de repente vira um CNPJ, que é o que vai acontecer com o Laço Azul agora.” A ONG só nasce por deficiência do Estado. Se o Estado não consegue executar a política pública que a lei fala que ele deve fazer, a sociedade se rebela, se indigna e resolve agir formando grupos. O Laço Azul foi um grupo por um tempo. “Começamos a perceber que precisávamos de um CNPJ, para que possamos estar aptos a receber doações, a formalizar convênio.” O brasileiro, segundo ela, tem uma veia para a caridade, que está muitas vezes à frente desse estímulo, dessa mobilização. Se você tem um movimento que vai atender a população – virar uma ONG e atender a população – é preciso ter qualidade nesse atendimento, porque vamos atender uma política pública que não foi atendida pelo Governo. É preciso oferecer um serviço de qualidade. A transformação da caridade, do assistencialismo para a profissionalização, para a assistência social, de acordo com Mariângela, evoluiu nos anos 90, com o Estatuto da Criança e do Adolescente e a fiscalização e os prazos que a legislação dava para as instituições se profissionalizarem, foram vencendo. “A creche não pode mais ser um depósito de crianças.” Tem que ser uma instituição que oferece Educação Infantil. Num


ATMA ENTREVISTA ambiente de caridade pede-se de manhã para alimentar na hora do almoço. Uma diretoria social, geralmente não entende nada de administração e de administração pública, muito menos. “Nós tivemos um caos nos anos 90 e de 2000 até hoje nós temos problemas com as instituições que não conseguiram e que lutam para se profissionalizar ”, diz. Explica que o presidente de uma instituição precisa do respaldo de um Executivo bem formado, com especialização e tudo o mais, porque lidar com uma criança em creche ou uma criança com um tratamento no Laço Azul é uma responsabilidade muito grande, porque está lidando com uma deficiência reconhecida recentemente que não tem muitos dados disponíveis. Luis Henrique e Ana Luisa com toda a família

ATMA

Foto Arquivo Pessoal

A decisão da ATMA de tratar o assunto é muito importante para que o autismo fique conhecido. A partir do momento que tivermos a mídia, os veículos de comunicação se importando com esse assunto ganhamos notoriedade. Por exemplo, uma revista falando sobre isso, abordando os vários aspectos, as várias formas. Isso vai ficar registrado. Nós vamos poder levar essa revista para vários lugares que frequentamos e mostrar para as pessoas. Vários assuntos numa revista só. São temas diferentes dentro do tema autismo e sobre down. Nós temos também o down com autismo. Vai contribuir para dar visibilidade ao autismo e para o trabalho que já vem sendo feito. Mostrar as deficiências para que o Governo possa atentar para o assunto. Mariangela Camargos Militância Mariangela começou a militância na área de direitos da criança e do adolescente fazendo o trabalho de voluntariado. Ela percebeu que a criança era o seu foco e foi se envolvendo primeiro com a creche. Na época ainda era caridade. Depois veio a Educação Infantil, a legislação, a Constituição e a necessidade da mudança de todo o conceito de Direitos Humanos. Em 1987, a criança não tinha direitos. Em 1988, quando a Constituição foi promulgada ela já era um ser de direito. Veio o Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, reforçando esse direito. Começaram as mudanças dentro das creches. Ela achou fantástico e se envolveu com essa revolução. Acompanhou a mudança toda envolvendo legislação, procedimentos dentro de creche, tratamento de criança, políticas públicas voltadas para a criança, enfim.

é formada em Comunicação Social Habilitação em Jornalismo com especialização em Projetos Sociais; é bacharel em Direito; coordenadora no Instituto Agronelli de Desenvolvimento Social, mãe biológica de duas filhas e mãe adotiva de um casal de gêmeos. É fundadora da Crescer-Central de Creches e membro do Laço Azul e da Frente de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Minas Gerais, da qual participa ativamente das reuniões em Belo Horizonte. É casada com Cleri Camargos, com quem divide a vida, os filhos, o amor, há mais de três décadas. REVISTA ATMA 51


ATMA INCLUSÃO

Decidi atuar na área meio por acaso, no ano de 1995. Desde a minha primeira experiência até hoje, houve muitas mudanças na educação inclusive e em minha opinião, positivas. No ano de 96, o governador do DF na época, Cristovam Buarque, teve a ideia de abrir as portas da escola regular para os alunos com Necessidades Educacionais Específicas-NEE, mas ainda segregados em salas separados, ou seja, estavam nas escolas comuns, mas não em salas de ensino regular, não era o ideal, mas era um começo. Iniciou então a mudança de paradigma para a escola inclusiva, que deveria atender a todos os alunos independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais ou linguísticas. Em Uberaba, o trabalho é muito bem desenvolvido, somos referência em Educação Inclusiva, atendemos 39 municípios, prestando assessoria sempre que necessário. Temos um Centro de referência em educação inclusiva com uma equipe multiprofissional com: psicólogas, fonoaudiólogas, psicopedagogas, neuropsicopedagogas especialistas em baixa visão e estimulação motora. Ainda podemos contar com mais de 150 profissionais de apoio que realizam intervenções com os alunos com NEE que estão matriculados em salas regulares, mais de 50 salas multifuncionais e 100% das escolas municipais têm sala de Atendimento Educacional Especializado. 52 REVISTA ATMA

Em nosso município acabamos de lançar o “Projeto Labor: eis a nossa obra”, em que jovens com NEE, com mais de 14 anos, frequentarão cursos profissionalizantes em diversas áreas, dependendo das habilidades de cada um. Esse projeto tem como objetivo principal inserir esses jovens no mercado de trabalho, muitos deles são extremamente talentosos e apresentam altas habilidades em alguma área do conhecimento, isso significa que serão ótimos profissionais e provavelmente trarão excelentes benefícios para nossa sociedade. Sendo assim, acreditamos que uma pessoa não tem que se destacar na escola regular, para ser um brilhante profissional, pois valorizamos as potencialidades e as especificidades de cada um, independente da sua deficiência. Para que a inclusão vire realidade sob todos os aspectos falta credibilidade. É preciso intensificar o argumento de que a presença de estudantes com deficiência nas turmas regulares beneficia a todos os demais e futuramente esses mesmos alunos, incluídos numa sociedade poderão provocar, nas pessoas, mudanças comportamentais e organizacionais na estrutura física de uma cidade, enriquecendo provavelmente um ambiente social. Para os alunos a educação inclusiva representa oportunidade e credibilidade, e como consequência uma vida funcional, em que é possível humanizar, ensinar e transformar.

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Educação Inclusiva: humaniza, ensina e transforma

Luciana Oliveira Ferreira

Professora Especialista em Educação Inclusiva. Professora da Sala Multifuncional do Centro Municipal de Educação Infantil CEMEI Luciano Portelinha Mota. Neuropsicopedagoga no Centro de Referência em Educação InclusivaCREI. Conselheira e Primeira secretária do Conselho Municipal de Assistência Social-CMAS. Integrante do Núcleo de Gestores da cultura étnico-racial. Coordenadora do Projeto: acessibilidade no navegar, teclar e produzir.


ATMA INCLUSÃO

A defesa de uma educação para todos

Em 2007, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência aprovada pela ONU, da qual o Brasil foi signatário, determinou que fossem assegurados sistemas educativos inclusivos em todos os níveis para as pessoas com deficiência.

A conquista do direito do acesso das pessoas com deficiência às escolas se constituiu avanço importante para o processo de inclusão. Quase 20 anos depois, seminários, congressos, pesquisas, estudos, debates têm sido realizados no intuito de aprofundar a reflexão e de se buscar caminhos, para que a escola brasileira possa ser efetivamente inclusiva no cotidiano escolar. A busca de parceria com as famílias, o diálogo dos educadores com profissionais de diferentes áreas, a construção coletiva de um plano de desenvolvimento para cada aluno com deficiência, a sensibilização da comunidade escolar para o acolhimento e integração com as diferenças, o estudo permanente dos educadores têm sido iniciativas importantes no processo de inclusão de pessoas com deficiência. “Inclusão é sair da escola dos diferentes e promover a escola das diferenças.” MANTOAN.

Somos diferentes. Somos seres singulares com possibilidades diversas. Embora esta constatação pareça óbvia, ainda percebemos uma busca por processos educativos homogêneos e padronizados. Quando falamos em educação inclusiva não podemos restringir nosso olhar na questão da inclusão das pessoas com deficiência. Uma educação para todos requer a compreensão antes de tudo que a diferença é inerente ao ser humano.

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A educação inclusiva tornou-se uma preocupação internacional e um desafio para os sistemas educacionais desde que aconteceu na Espanha, em 1994, a Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais e que gerou a Declaração de Salamanca. O enfoque dessa conferência foi a defesa de uma Educação para Todos.

Renata Teixeira Junqueira Freire

Graduada em Pedagogia pela Universidade de Uberaba(1992), especialização em A Construção do conhecimento da 0 a 10 anos pela Universidade Federal de Uberlândia(1994), mestrado em Educação (Psicologia da Educação) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo(1997) e doutorado em EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo(2004). Atualmente é da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Coordenadora Pedagógica do Colégio Marista Diocesano de Uberaba MG, Docente de Graduação e Vice-Diretora Acadêmica da Fundação Municipal de Ensino Superior de Uberaba MG. REVISTA ATMA 53


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ATMA SON RISE

Son Rise e seu efeito revolucionário melhorar drasticamente em todas as áreas de aprendizagem, desenvolvimento, comunicação e aquisição de competências. Em alguns casos podemos falar em recuperação, sendo que a criança perde a sua condição inicial, em outros casos, podemos falar em avanços significativos que reduzam a sua condição. Podem ter acesso a diversos estudos científicos, bem como, testemunhos de pais que implementaram o programa, que comprovam os seus resultados aqui:

Como foi criado o Programa Son Rise? Quando e como ele foi implantado? No início da década de 1970 nos EUA, Barry e Samahria Kaufman tiveram um filho, Raun, diagnosticado com autismo severo e um QI abaixo dos 30. Apesar do prognóstico para o futuro do seu filho ser bastante negro, o casal decidiu acreditar na sua capacidade ilimitada. Desta forma tentaram encontrar uma maneira de se aproximarem de Raun e acima de tudo perceber o seu mundo. Foi a partir desta abordagem e atitude, que há cerca de 30 anos que Barry e Samahria desenvolveram e aperfeiçoaram em casa, o The Son-RiseProgram®. Após três anos da aplicação intensiva do programa, Raun recuperou da sua condição inicial tendo tido um desenvolvimento completamente "normal" e sendo hoje em dia uma pessoa completamente autónoma e independente. Depois deste sucesso, Barry e Samahria decidiram partilhar o método com mais pais e profissionais, fundando em Massachusetts, o Autism Treat56 REVISTA ATMA

ment Center of America™. Desde 1983, o Autism Treatment Center Of America™ tem providenciado programas de formação inovadores para profissionais e pais de crianças com Perturbações do Espectro do Autismo, Perturbações Invasivas do Desenvolvimento e outras dificuldades de desenvolvimento. Podem ver o filme que conta a história desta familia aqui: https://www.youtube.com/watch?v=9auYQOlUKo4 Que resultados ele tem apresentado com relação ao autismo? Este Programa oferece técnicas educacionais altamente eficazes, estratégias e princípios para a concepção, implementação e manutenção de um estimulante programa altamente enérgico centrado na criança, efetuado em regime domiciliário de um para um. Através de um sistema específico e abrangente de tratamento e educação, concebido para ajudar famílias e cuidadores, o The Son-Rise Program® proporciona ferramentas para que estas crianças possam

1. http://goo.gl/c7MeLa 2. http://goo.gl/SUuVAg 3. http://goo.gl/ezRwV5 4. http://goo.gl/wlU0Ja 5. http://goo.gl/NI86x9 6. http://goo.gl/wo1pXD 7. https://goo.gl/PK5o5v 8. https://goo.gl/pgC3Z1 9. https://goo.gl/gshNjp É recomendado para todos os que têm a síndrome? O programa é recomendado para todas crianças com Perturbações do Espectro do Autismo, Perturbações Invasivas do Desenvolvimento e outras dificuldades de desenvolvimento Qual é a importância dos pais no Son Rise? O The Programa Son-Rise® acredita que os pais são os maiores aliados da criança, assim este programa educacional destina-se não somente às crianças mas aos pais também pois são eles quem melhor conhecem a criança. São dadas as ferramentas aos pais como utilizar técnicas e estratégias educacionais e atitudinais que os ajudem a ser os educadores mais efetivos que as crianças possam ter, possibilitando que suas crianças se aperfeiçoem em todas as áreas da aprendizagem, desenvolvimento,


ATMA SON RISE

comunicação e aquisição de habilidades. O método de ensino parece ser mais eficiente, pois une conhecimento e criatividade. Essa é a receita? O The Son-Rise Program® foi o primeiro a sugerir que as crianças com este tipo de diagnóstico têm um extraordinário potencial de crescimento e recuperação. Inovou na criação de uma modalidade educacional que inclui juntar-se à criança em vez de ir contra ela, colocando os pais como a chave de todo o processo, ou seja, neste programa os pais são os professores, terapeutas e diretores dos seus próprios programas e a casa é vista como o ambiente mais estimulante para que estes possam ajudar os seus filhos. O The Son-Rise Program® sugere que o respeito e carinho profundos são os fatores mais importantes no sentido de motivar a criança a aprender, enfatizando o amor e a aceitação como partes fundamentais para qualquer processo de aprendizagem. Através desta atitude, procura-se criar um vínculo e um ambiente seguro para, de seguida, aplicar estratégias de ensino desenvolvidas e testados pelo The Son-Rise Program®, sendo que estes princípios continuam a ser a base desta abordagem. Desta forma a receita passa pelos seguintes princípios: - Juntar-se aos comportamentos repetitivos da criança fornece a cha-

ve para desvendar o mistério desses mesmos comportamentos, facilitando o contato ocular, o desenvolvimento social e a inclusão de outros nos jogos e brincadeiras; - Utilizar a motivação da criança fomenta a aprendizagem e constrói os fundamentos para a educação e aquisição de competências; - Ensinar através da brincadeira interativa resulta numa socialização e comunicação eficaz e significativa; - Usar energia, emoção e entusiasmo envolve a criança e inspira um amor contínuo de aprendizagem e interação; - Adotar uma atitude otimista e de não-julgamento (imparcial) maximiza o prazer, a atenção e o desejo da criança na interação; - Colocar os pais como o recurso mais importante e estável da criança fornece um foco consistente e convincente para a formação, educação e inspiração; - Criar um ambiente seguro e livre de distrações facilita o ambiente ideal para a aprendizagem e crescimento. Como os interessados têm acesso às ferramentas do programa? Para poderem colocar em prática o programa em contexto familiar, os pais podem estar de acordo numa primeira fase ao The Son-Rise Program® Start-Up. Este é um programa de formação de 5 dias para pais, familiares e profissionais que procuram o progresso significativo dos seus filhos (idades entre os 18 meses e os 60 anos) desafiados por Perturbações do Espectro do Autismo e outras relacionadas.

Emocionantes, inspiradoras e diversificadas apresentações de um grupo de professores experientes e dedicados do Autism Treatment Center of America™, irão dar-lhes estratégias, experiências, motivações e conhecimentos aperfeiçoados através de anos de trabalho com milhares de famílias e crianças com desordens do espectro autista. No final deste curso, os pais terão todas as ferramentas necessárias para criar o seu próprio The Son-Rise Program® baseado em casa, bem como as habilidades e atitudes para implementar o crescimento do seu filho em todas as áreas de aprendizagem. Pela quarta vez a Vencer Autismo traz a Portugal a Formação The Son Rise Program Start Up que se irá realizar no Porto, de 16 a 20 de Novembro de 2016 e terá como professores: Raun Kafman e Kate Wilde. A formação será dada em Inglês mas teremos tradução simultanêa em Português. Poderão visualizar mais informações sobre o evento aqui: https:// goo.gl/MgSBVx. Para além da formação desde a Vencer Autismo colocamos diariamente na nossa página do facebook e no nosso blog informação gratuita e em Português para que pais e profissionais possam trabalhar mais eficazmente com estas crianças e conseguirem que elas atinjam o seu máximo potencial. Acreditamos que o potencial de cada criança é ilimitado.

Dados de contacto: Associação Vencer Autismo E-mail: info@vencerautismo.org Facebook: associacaovencerautismo Blog: www.vencer-autismo.blogspot.pt www.vencerautismo.tv

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ATMA ENTREVISTA

Uma atitude acolhedora pode mudar vidas Como você avalia o fato de escolas regulares abrirem suas portas para crianças com TEA-Transtorno do Espectro Autista ou sindrômicas de Down e outras limitações? Não há como não avaliar positivamente quando um espaço social por excelência como é a escola em seu conceito mais básico, se abre para a sociedade tal qual ela é: DIVERSA. Não é maquiando uma realidade que educaremos as crianças para a vida que terão que enfrentar. O mundo é feito de gente diferente, de gente que pensa, age e vive de forma diferente. Precisamos estar preparados para viver neste meio. Aceitar que alguém grita em alguns momentos, que alguém tem muita dificuldade em aprender algo que para nós parece tão simples, que alguém precise de ajuda para algumas coisas, é preparar a criança para uma vida adulta real, onde esta

Quem faz o bem atrai o bem, dizem os grandes sábios. Por isso, seja você uma fonte de bem, se informe sempre e seja parceiro na luta por uma sociedade mais compreensiva

A criança com autismo transforma quem convive com ela; faz as pessoas enxergarem o mundo com outros olhos, pois ninguém é perfeito e ninguém precisa caber nesta forma para ser feliz. É o que relata a psicopedagoga e escritora Fausta Cristina, hoje morando em Londres com a filha de 13 anos, Milena, que é autista. Na Inglaterra, segundo Cristina, a comunidade está mais amadurecida quanto à inclusão de pessoas com dificuldades sejam elas no nível que for. Ao se deparar com alguém com um comportamento diferente, ela aconselha não julgar, não acreditar que falta ação dos pais, ou castigo ou palmada. “Não julgue, por favor.” Inúmeros são os momentos de comemoração por parte de toda a família: quando Milena sentou, engatinhou, andou, quando pegou um brinquedo pela primeira vez... “Minha filha me trouxe uma riqueza de significados que me fizeram uma pessoa muito melhor”.

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ATMA ENTREVISTA

Cristina: “As alegrias vêm da minha filha, as tristezas vêm do preconceito, do despreparo, ou seja, as tristezas vêm da sociedade”

Como tem sido a sua experiência como mãe de autista, no que se refere às dificuldades de lidar com o desconhecido? O que fez falta você saber para melhorar a qualidade de vida dela? Minha filha tem 13 anos. Consegui ver que ela era diferente ainda quando era um bebê e isso favoreceu o diagnóstico precoce que veio antes de um ano, o que é muito incomum no caso do autismo. Naquela época não havia muita informação disponível, a literatura estava quase toda em língua estrangeira e os médicos não tinham muitas respostas sobre as dificuldades do dia a dia. Atual60 REVISTA ATMA

mente essa informação está muito disponível, a troca entre familiares é intensa nas redes sociais e isso facilita muito quando comparo a tudo o que passei com a desinformação. O que mais fez falta para mim foi saber

Eu tive que aprender a educar com ações, fazendo o que eu queria que minha filha fizesse; tive que aprender a esperar ela processar o meu pedido e fazer as coisas no tempo dela

flexibilidade será necessária quando ela estiver adulta e participando de outros espaços sociais. Estamos o tempo todo lidando com diferenças e crescer convivendo com pessoas especiais e com necessidades diferentes nos faz muito mais capazes de termos sucesso com todas as outras diferenças humanas. Escola só para alguns, escola que escolhe quem atende, escola que discrimina não é escola. O conceito de escola nasce do direito da educação para todos, se não for assim não é escola.

como me portar diante dos comportamentos que o autismo trazia a ela. Como por exemplo, a autoagressão. A dificuldade enorme em educar alguém com autismo (o que leva muita gente a pensar de forma errada, que todo autista é mal educado) que simplesmente não aceita o não pelo não e que não vai adiantar colocar de castigo, tirar o brinquedo, argumentar com barganhas do tipo você ganha tal coisa se fizer tal coisa… Eu tenho uma frase que coloca bem a minha maior dificuldade, eu que já era mãe de dois filhos: “até ter uma filha com autismo, todas as minhas teorias sobre educação eram válidas”. Ou seja, eu tive que aprender a educar pelo exemplo, educar com ações, educar fazendo o que eu queria que minha filha fizesse, tive que aprender a esperar ela processar o meu pedido e fazer as coisas no tempo dela, ou seja, tive que deixar de ser impositora. Nenhuma destas informações estava disponível. Isso foi o que mais me fez falta. Morar fora do Brasil traz algum tipo de facilitador para a busca de avanços com relação ao TEA? Para minha família e minha filha está fazendo toda a diferença. O sistema de ensino já considera cada aluno e sua individual dificuldade ou talento. A cultura aceita muito melhor o erro, a dificuldade, o que não é “perfeito” e desta forma temos apresentadores de TV de todas as idades, atores e protagonistas com deficiência sem que essa deficiência seja sequer comentada. O que quero dizer é que a comunidade está mais amadurecida quanto à inclusão de pessoas com dificuldades sejam estas dificuldades no nível que for. A escola sabe o que fazer e os impostos que pagamos (pagamos muito mais impostos aqui do que no Brasil) valem todos os atendimentos que a minha filha precisa, feitos na escola por uma equipe multiprofissional sem que eu tenha que pagar por isso. Qual o maior aprendizado que


primeira vez que ela usou o banheiro para o “‘numero 1” e principalmente para o “número 2”… Somos a única família no planeta que teve uma festa para comemorar um cocô rsrsrs E eu seguiria enumerando conquistas intermitentemente, pois ninguém que olha uma criança nos seus primeiros anos tem ideia do milagre que acontece a cada dia diante de um aprendizado que vai durar a vida toda e fazer base para o adulto que virá.

Que fatos fizeram você comemorar durante o tratamento de sua filha? Um pergunta que daria um livro. Cada pequeno aprendizado que uma criança com desenvolvimento típico faz naturalmente, para alguém com autismo é preciso ensino, persistência e paciência. Milena nos fez muito felizes quando sentou, quando engatinhou, quando andou, quando pegou um brinquedo pela primeira vez, quando brincou com um brinquedo pela primeira vez, o que demorou muito… Cada vez que ela entendia um pedido, depois cada vez que atendia a um pedido, a primeira vez que ela apontou (apontar um objeto para compartilhar o interesse é uma importante base de comunicação e interação social). A

O que sente ao ver o sorriso dela e suas manifestações de alegria e satisfação? Como escritora que sou, a minha grande frustração é não ser capaz de traduzir sentimentos em palavras. Quem dera eu pudesse responder a esta pergunta e compartilhar com o leitor o meu sentimento!!! Talvez a palavra completude caiba aqui, pois eu me sinto completa. Tenho uma sensação de missão cumprida, de sucesso, de competência de que tudo é possível e que o céu é o limite. Vivo um momento em que a esperança e o meu amor sem limites tomam conta de mim, é maravilhoso poder viver isso. O leitor pode imaginar um momento de sua vida em que ele ou ela foi imensamente feliz. Esse é o meu sentimento a

Escola só para alguns, escola que escolhe quem atende, escola que discrimina não é escola. O conceito de escola nasce do direito da educação para todos

cada simples momento em que vejo minha filha feliz. Viver essa alegria quase diariamente é uma dádiva que me abastece de energia para a toda parte menos feliz que vem no pacote de ter um filho com deficiência. As alegrias vêm da minha filha, as tristezas vêm do preconceito, do despreparo ou seja, as tristezas vêm da sociedade. A você que me lê, obrigada por sua atenção, espero que você saiba que sua atitude compreensiva e acolhedora pode mudar vidas. Ao ver alguém com deficiência, acolha com o olhar. Ao se deparar com alguém com um comportamento diferente não julgue, não acredite que falta ação dos pais, ou castigo ou palmada, não julgue, por favor. A sua atitude acolhedora e compreensiva pode fazer o momento difícil de alguém se tornar mais fácil e seu olhar ao acolher pode fornecer força para quem tem que lutar muito todos os dias. Quem faz o bem atrai o bem, dizem os grandes sábios. Por isso seja você uma fonte de bem, se informe sempre e seja parceiro na luta por uma sociedade mais compreensiva e mais acolhedora e só assim teremos base para um mundo com mais paz.

Fotos Arquivo Pessoal

um filho autista proporciona aos seus pais? A criança com autismo transforma as pessoas que convivem com ela. Elas nos ensinam a dar valor a coisas diferentes, cada pequena conquista faz crescer em nós a admiração pelo esforço que elas precisam fazer, a alegria em ver o quanto cada uma destas pequenas conquistas são essenciais e a gente nem sabia disso. Faz a gente enxergar o mundo com outros olhos ao ver que ninguém é perfeito e que o normal não existe e que ninguém, precisa caber nesta forma da normalidade para ser feliz. A gente descobre preconceitos escondidos quando por exemplo, ficamos envergonhados com algum comportamento do filho e finalmente começamos a questionar essa “vergonha”… a gente vai deixando esses preconceitos que muitos de nós nem sabiam que existiam e vai se tornando mais leve. Minha filha me ensinou a ver o mundo sem as lentes da normalidade e descobrir que é muito mais leve viver assim, me fez ver o poder absurdo que tem a alegria que nasce de uma conquista simples como uma troca de olhar ou um abraço espontâneo. Ela me trouxe uma riqueza de significados que me fizeram uma pessoa muito melhor.

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Fausta Cristina, ou Cris, como prefere ser chamada

é mãe de três filhos e avó de uma garota. É casada, pedagoga, psicopedagoga e mantém há dez anos o blog Mundo da Mi (www.mundodami.com) em que compartilha a experiência de ser mãe de Milena, terceira filha dela, que tem autismo. REVISTA ATMA 61




ATMA ENTREVISTA

Fotos André Santos

“Agimos focados no Lu e não no autismo”

Lu com os pais Eliana e Luiz e as irmãs Karla, Fernanda e Luiza

A chegada do Luiz Júnior foi uma festa para a família Coelho, que ganhava um garoto após três meninas. Ele nasceu saudável e lindo. Com o tempo, notaram algo diferente, pois ele crescia e não falava, não brincava de maneira convencional, ria do nada, não dormia à noite e mordia. Através de um filme “Meu Filho, Meu Mundo”, a família suspeitou de autismo e começou a estudar. Com dois anos e meio veio o diagnóstico médico. “Nosso luto foi bem rápido. Nos desesperamos pensando no futuro, pois tínhamos que desconstruir tudo que tínhamos criado, mas foi bem passageiro. Começamos a agir focados no Lu e não no autismo”, garantem as irmãs, Karla e Luiza. 64 REVISTA ATMA

Luiz Júnior começou a fazer terapias na APAE e no CRIA e elas começaram a estudar por conta própria em grupos específicos: primeiro um grupo de e-mails do Yahoo Groups (Autismo Esperança) e depois nas redes sociais (Orkut, Facebook, Blogs e agora também no WhatsApp). Karla e Luiza frequentam congressos e cursos sobre a síndrome e concluíram até uma pós-graduação em Educação Especial com Ênfase em Autismo e uma formação em Educação Terapêutica e Terapia Social (Antroposofia). Em 2009 montaram o Blog (www.estouautista.com.br), pois perceberam que a internet pode ajudar e empoderar muitos familia-

res que estão perdidos. Temos também uma página no Facebook com o mesmo nome do blog. Bem positivas, as duas acreditam muito no potencial do Luiz Júnior. São amantes do Programa Son Rise e, por isso, trabalham com responsividade, brincadeiras, valorizando os interesses do irmão delas. “Nunca nos desesperamos, sempre procuramos estudar muito e nos apoiar nos profissionais e amigos que confiamos para a troca de experiências e informações.” Depois que participaram de um congresso biomédico e trouxeram informações sobre a dieta sem glúten e sem leite, o Lu, como ele é carinho-


ATMA ENTREVISTA samente chamado por elas, melhorou muito. Foi um divisor de águas. Retiraram toda a alimentação vazia (chocolates, refrigerante, etc) e depois, aos poucos, foram retirando o glúten e o leite animal. A família toda colaborou. No começo foi difícil porque Lu é seletivo alimentar (comia apenas cinco alimentos e quatro continham glúten ou leite), mas, depois, as pessoas paravam as duas na rua para elogiar e saber o que haviam feito. Lu sempre fez Terapia Ocupacional, hoje faz Integração Sensorial. Fez fono por dez anos, faz terapia com psicóloga, tem mediação escolar (escola comum) e faz Tratamento Integral do Autismo e Tratamento Específico de alergias. Tanto o tratamento Integral quanto o tratamento de alergias foram essenciais na melhora do Luiz Júnior. Ele toma suplementação, cuida de seu intestino e além da dieta sem glúten e sem leite, faz, atualmente, dieta de rotação de alimentos.

dos outros, a dividir seus interesses mostrando vídeos, máquinas, etc, falar gírias, interagir com amigos e familiares, dar sua opinião, comer algo diferente, tomar banho e se vestir sozinho, comer sozinho, dormir sozinho, ir ao banheiro sozinho, etc. “Fazemos festa pra tudo: pra uma letra bonita, uma leitura bem feita, uma opinião dada, uma piadinha...” O segredo para a felicidade da família é a aceitação ativa. Esse é o fundamento do Son Rise. O Lu é aceito como ele é e a família age por melhor qualidade de vida, acreditando sempre no seu potencial. Todos são fãs do Lu e aprendem diariamente com ele. Na família há conexão, sintonia, amor, e união. Sempre vivencia o pensamento positivo e Lu é o mestre, que mostra a eles o papel de cada um no mundo, na luta pela justiça social e quebra de paradigmas. “Ele nos fez dar valor às pequenas felicidades.”

A terceira edição da Revista ATMA tratar do autismo, para elas, é fantástico. Quanto mais a informação é espalhada, menor é o preconceito e maior a qualidade de vida dos autistas e seus familiares. O autismo, em si, não é o maior problema. Os grandes problemas são a falta de políticas públicas, falta de especialistas que enxergam o autismo de forma holística, falta de inclusão escolar (inserção em sala de aula é diferente de inclusão) e a falta generalizada de informação gerando mitos a respeito dos autistas. “Agradecemos o apoio da Revista Atma à nossa causa e ao Laço Azul e torcemos para que iniciativas como essas inspirem empresários de todo o nosso país a colaborarem com o próximo”, enfatizam, ressaltando que a venda da bolsa os ajudará muito a colocar em prática os projetos, atendendo, cada vez mais, famílias e conscientizando a comunidade como um todo.

Karla e Luiza areditam que um tratamento holístico é fundamental e a participação e envolvimento da família na estimulação, autonomia, independência como também na busca de informações para entender o que os profissionais indicam e para praticarem com atenção e consciência, são primordiais para que todos os passos sejam dados de forma segura. É importante uma equipe multidisciplinar em que a família se sinta parte deste time e não terceirize os cuidados e nem seja passiva quanto aos tratamentos. Cada passo e evolução do Lu são valorizados. “Nosso irmão veio nos ensinar a perceber cada detalhe. Mas, sem dúvida, as evoluções mais comemoradas foram quando ele andou e quando ele falou (com 5 anos).”. Mas também se emocionaram quando ele começou a dialogar, quando a comunicação ficou fluente, quando começou a entender duplo sentido, a se colocar no lugar REVISTA ATMA 65


ATMA ENTREVISTA

Ricardo Perdigão Filho: o amado anjo azul

Zaida Perdigão diz que a busca por melhor qualidade de vida para Ricardo Filho é incessante.

Ricardo Antonio Marques Perdigão Filho, hoje com 22 anos, filho de Zaida e Ricardo nasceu com anóxia, parto pélvico, e veio o silêncio absoluto no primeiro momento de três minutos e depois de sete. Foi um susto quando o choro dele não foi ouvido... Logo o choro veio. No entanto, naquele lapso de tempo ocorreu a falta de oxigenação no cérebro e lesou a parte frontal direita, diagnóstico confirmado aos oito meses, quando ele teve um desmaio demorado e nos meses 66 REVISTA ATMA

subsequentes várias convulsões. Começava a incessante busca pela cura e/ou uma melhor qualidade de vida para a estrela da família. Na época, eram poucas as opções. Procuraram um neuropediatra, que prescreveu medicamentos muito fortes, tarja preta e outros tarja vermelha de uso contínuo. As convulsões foram controladas, mas a sequela permaneceu até os dias de hoje, apesar de intensa estimulação psicomotora, equoterapia,

fisio, fono, TO, método Padovan, Instituto Veras no Rio de Janeiro, Tratamento com estimulação sensorial eletromagnética, em Brasília, e tratamentos espirituais. Ele continua sem falar, ainda não conseguiu ser alfabetizado e apresenta comportamento autista. “Apesar de toda busca jamais desistimos de procurar por tratamentos alternativos tais como homeopatia, alteração na alimentação tirando glúten e lactose e alimentos que causam alergias, diz Zaida.


Quando você aceita de coração esse presente que Deus te enviou, o problema deixa de existir! E tem mais, Deus não escolhe os preparados e sim, prepara os escolhidos!

Agora, será iniciado o REAC que, segundo informações obtidas através de uma mãe de autista, e da médica especialista em Neurologia com especialização em Florença (Itália), o método consiste em terapia que otimiza a resposta do sistema nervoso por meio do uso de correntes radioelétricas assimétricas tornando possível a Otimização Neuro-Psico-Física Relacional. “Já marcamos a primeira consulta com a médica que trouxe a terapia ao Brasil.” Os pais reconhecem que todas as estimulações surtiram efeito e melhoraram significativamente a postura, salivação excessiva, agitação, insonia e etc do Ricardo Filho. Comentam que o mais difícil é a falta de informação e preparo da sociedade para receber os autistas tanto em escolas, cinemas, shopping, ho-

...o mais difícil é a falta de informação e preparo da sociedade para receber os autistas tanto em escolas, cinemas, shopping, hotéis...

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téis etc.... Com a criação do grupo de pais e mães “Laço Azul” surgiu uma oportunidade maravilhosa de troca de informações, experiências, tratamentos, medos, ansiedades, desesperos e tantas outras situações vivenciadas no dia a dia da família. “Temos muito a agradecer a esse grupo que não mede esforços na busca de tratamentos, estimulações, terapias, e ainda, temos um sonho a ser realizado: a criação de uma Clínica Escola especializada para tratamento dos nossos anjos azuis.” Hoje, com uma visão mais espiritualizada, Zaida deixa uma mensagem aos pais de autistas: “Quando você aceita de coração esse presente que Deus te enviou, o problema deixa de existir! E tem mais, Deus não escolhe os preparados e sim, prepara os escolhidos”! Zaida ressalta que o filho estuda na Apae de Uberaba, em sala especial para autista, com atendimento multidisciplinar, aula de música, natação, educação física e outras atividades da vida diária. Ela faz questão de registrar o seu agradecimento a todos os profissionais da Apae “que estão sempre em busca de uma melhor qualidade de vida para nossos filhos mais que especiais.” REVISTA ATMA 67


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Oi, Linda! Esta é Manu, a joia de Cássio e Dani A Manuela demorou a andar e, segundo os médicos, ela tinha uma hipotonia nas pernas, ou seja, uma diminuição do tônus muscular e da força. Aos três anos, os pais, Cássio Fedrigo e Daniela começaram a notar as diferenças. Na comparação dos amiguinhos, via-se que ela era diferente. E começou a maratona aos médicos. O casal fez exames, pois são primos e queriam eliminar o fator genético e de fato nada tem a ver. Quando ela estava com quase seis anos conseguiram um psiquiatra em Franca (SP). “Eu precisava de um norte. Eu sabia que minha filha era diferente, mas eu não sabia o que ela tinha, nem como tratar, como lidar”, disse Cássio. Na terceira consulta, o médico diagnosticou autismo atípico, porque ela olha as pessoas nos olhos, diferentemente da maioria com a síndrome. Desde então, Cássio e Dani começaram o tratamento com remédios de tarja preta que eram medicamentos “punks” para uma criança de 6,7 anos. Foi quando o casal conheceu o grupo Laço Azul, coordenado pelas gêmeas Karla e Luiza Coelho. Cássio e Dani contam que esse encontro abriu os caminhos para o tratamento da Manu. Eles retiraram a medicação e hoje aos 9 anos ela faz uma dieta regulada. Há um ano e dois meses eles começaram a perceber as mudanças positivas. “Ela não se sentava assim, como você está vendo”, disse Cássio, acrescentando que Manu estaria agitada e aos gritos. Ela está supertranquila sendo tratada apenas com suplemento ortomolecular que a Dra. Camila 68 REVISTA ATMA

Manu na foto com os pais Dani e Cássio está sendo tratada apenas com suplemento ortomolecular

Milagres, que é de Belo Horizonte, recomenda. Os pais fizeram uma limpeza no corpo dela retirando alimentos prejudiciais, pois o autista é muito alérgico. Tiraram leite, glúten, açúcares. Hoje, ela é tratada só com alimento orgânico, tudo natural. Além do tratamento diferenciado, o casal conta que o grupo Laço Azul é aberto para terapias, para agregar conhecimento. Na casa da Manu há o quadro de rotinas, em todos os móveis há algo escrito, todos os móveis com os nomes. O banheiro é cheio de figuras. Aprendizado conseguido nos encontros do Laço Azul, que reúne pelo menos 70 famílias. Manu faz diversas terapias, estuda na rede municipal, na escola Ricardo Misson, cuja diretora, segundo eles, é fantástica, e a professora

também. Eles têm o projeto Atendimento Educacional Especializado (AEE) que hoje está com a tia Florence. É inclusão social de verdade. Ela tem o material adaptado dela e está no 3º ano. Dani lembra que até saber como tratar, foi angustiante. Para saber o que ela tinha, o que fazer para lhe dar uma qualidade de vida melhor. Foi um choque. Por mais abertos que os pais sejam, é por amor. Eles sofrem mais por pensar que a filha sofre. O preconceito que ela enfrenta. “Ela é apaixonante, feliz, alegre, não tem tempo ruim para ela. O “oi, linda” dela é o mais famoso de todos.” O Laço Azul trouxe um alento à família, que agora tem contato com outros autistas. “Com 5 anos quando ela foi diagnosticada, eu não tinha contato com nenhum autista. Eu


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às vezes via na rua, encontrava em lugares públicos ou na casa de alguém. Mas não sabia que era autista apenas via que era diferente, mas hoje a gente tem essa troca; de ver os pais com os filhos, de trocar experiências mesmo com os pais. De viver a mesma coisa.” Antes do Laço Azul, Cássio diz que estavam perdidos, totalmente perdidos. Ele sempre foi muito ativo. Nunca teve esse negócio de mimimi, de ai, tadinho. Nada disso. “Eu sempre corri atrás. Mas era muito sem rumo. Sem norte mesmo.” Agora, a Manu só progride. Está em fase de alfabetização, faz musicalização, já tirou a fralda durante o dia, já pede para ir ao banheiro. São ganhos bem pequenos, mas que para a família, são muito grandes. A família é espírita, o que faz toda a diferença. Desde quando ela estava no ventre da mãe dela que eles fazem esse tratamento. É um passe.

Comparando com o católico que ele foi e o espírita que é, vê as coisas muito mais claras. Cássio e Dani levam Manu a todos os lugares a que vão, inclusive festas e bares, pois a família toda adora música e a Manu, por exemplo, é fã do cantor Tito Rios. Cássio acha sensacional que a revista ATMA tenha escolhido falar de autismo nesta edição. Quanto mais informação, melhor. No piquenique, havia mais de mil pessoas. Há cinco anos se você falasse de autismo eu não sabia. “Eu era o mais ignorante do planeta, entendeu? E assim eu vejo um monte de gente, hoje. Os autistas são tidos como mal-educados birrentos. Muitos acham que as crianças não têm limites que os pais não ligam. Quem não tem conhecimento, acaba julgando”, comenta. Quanto mais pessoas, revistas e eventos como o piquenique divulgarem a palavra autismo, melhor.

Depois de Manu, Cássio e Dani são muito melhores. Conseguem ver o próximo. Cássio diz que era egoísta, tinha a cabeça fechada. Querendo fazer sua vida, ganhar seu dinheiro. “Hoje eu vejo amor em tudo.” Eles sonham que Manu consiga ter uma qualidade de vida boa, ser independente. “Não sonhamos com ela médica, advogada, mas que ela tenha qualidade de vida.” REVISTA ATMA 69




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Pedro Henrique: o anjo guerreiro da família encontrava uma alternativa que o deixasse com brilho nos olhos. Depois de ouvir os relatos das mâes do Grupo Laço Azul, ela retirou a medicação e o inseriu na dieta sem glúten, sem leite e outros produtos que causam alergia influenciando o comportamento das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A vida voltou a fazer sentido. Pedro melhorou, desenvolveu a fala e no geral. Os autistas são tão especiais, que, segundo Leane, começa-se a dar valor em qualquer evolução. Conta que treinou um ano para ele bater palmas, quando ele bateu foi uma festa.

Ao observar que a medicação estava deixando o filho Pedro Henrique dopado e paralisando os seus movimentos, Leane Beatriz da Silva Cruz ficou desesperada. Não sabia o que fazer, não tinha 72 REVISTA ATMA

a quem recorrer em busca de ajuda. Foi quando soube da existência do grupo Laço Azul. Com o filho diagnosticado com autismo grau leve, Leane já havia levado Pedro a equipes multidisciplinares, mas não

Sem o Grupo, estava perdida. Não havia um local que pudesse orientar os pais a respeito do autismo. Um dia integrantes de órgãos como Conselho Tutelar estiveram na escola em que trabalha e ela perguntou se eles conheciam algum lugar. A resposta na hora foi negativa, mas uma delas passou depois os contatos do Laço Azul, primeiro pelo Facebook, depois pessoalmente. “Eu não sabia nada. O Laço Azul é tudo pra nós. A gratidão é tão grande que não vai caber nessa vida”. O diagnóstico do Pedro chegou quando ele já tinha quase três anos, hoje tem cinco. Desde os seis meses, Leane achava que havia


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Leane e os filhos vibram a cada conquista de Pedro Henrique, hoje com cinco anos

algo diferente nele, mas os médicos não encontravam nada. Começava a maratona de exames, terapias, fono, terapia ocupacional e fisioterapia, pois com nove meses ele não sentava. “Quando fui à fisio ela disse que o Pedro não era normal, que o problema dele era neurológico e perguntou se eu havia usado drogas durante a gravidez. Um horror. Disse que sem avaliação de um neuro não olharia ele”, conta. O neuro reiterou que era a paralisia cerebral. Pedro ficou um ano na Apae e se desenvolveu bem, só não falava. Permaneceu com a fono e foi matriculado numa escola de ensino regular. Mas, como não dormia, estava sempre muito nervoso, não falava, Leane pediu à escola uma declaração e voltou ao neurologista. Com a reclamação dela e da escola o médico diagnosticou autismo grau leve. Até esse dia, o

sofrimento de toda a família era muito grande. “É claro que chorei muito, mas outras pessoas me animavam dizendo que tem autista médico, jogador de futebol e fui me acalmando.” O sonho de Leane é ver o filho na faculdade e é possível, porque o cognitivo dele não foi afetado. Além de Pedro, Leane tem um filho na faculdade, Rodrigo e Cecília, que a ajuda bastante. A família é espírita e tem hábito de fazer o Culto no Lar. A gravidez de Pedro foi tranquila, mas Leane sentia um peso muito grande, às vezes não conseguia levantar-se da cama. No dia do parto a anestesia não fazia efeito. “A enfermeira segurou na minha mão e começamos a rezar. Foi muito difícil, mas ele tinha de vir, eu orava e dizia que o aceitaria como ele viesse. E veio um anjo guerreiro.” REVISTA ATMA 73


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“Lucca nos ensinou o significado da palavra amor”

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Eliminação Completa dos Sintomas do Espectro do Autismo) é um tratamento homeopático criado pelo homeopata holandês Tinus Smits. A cada reação positiva de Lucca a felicidade dos pais transborda! Um simples gesto, um olhar, um sorriso

Me lembro uma vez quando em uma loja de departamento um garotinho estava aos prantos com a mãe pedindo um simples carrinho, e ela por sua vez dando aquela bronca no menino. Eu ali pensei como eu queria que o Lucca me pedisse algo para comprar.

O Lucca veio não só para somar mas para ensinar a família o significado da palavra amor. É o que garante a mãe do Lucca, Karine Ferreira Assumpção. Ela conta que a luta não é fácil mas vale a pena cada tentativa e esforço, pois sempre vem a recompensa. "Quem conhece o Lucca sabe do que estou falando!" A família soube do autismo quando ele estava com um ano e oito meses. É que nele a síndrome veio como regressão, porque Lucca estava com desenvolvimento normal até um ano. Depois regrediu na fala, nos comandos, choro constante, desinteresse, estranhar pessoas, não suportar barulho e cada vez mais características do espectro se aflorou. O diagnóstico assustou a família inicialmente. "Não tínhamos noção do novo universo que iriamos entrar", diz. Mas em nenhum momento houve o querer tapar o sol com a peneira, pelo contrário saíram à procura do melhor para ele e declararam a todos que o filho é autista. Lucca sempre foi uma criança muito tranquila. O que mais intranquilizava a família eram as inúmeras noites de insônia, que por sinal melhoram no início deste ano. Karine comenta que sempre valeu a pena qualquer tipo de tratamento, pois a esperança da melhora é sempre enorme. São inúmeros tratamentos. O que mais a impressionou foi a homeopatia Cease (sigla inglesa de Complete Elimination of Autistic SpectrumExpression – que significa

já é motivo de comemoração, afinal são anos na expectativa de algum sinal assim. "Me lembro uma vez quando em uma loja de departamento um garotinho estava aos prantos com a mãe pedindo um simples carrinho , e ela por sua vez dando aquela bronca no menino. Eu ali pensei como eu queria que o Lucca me pedisse algo para comprar." Ela revela que ele já teve um grande avanço desde o início do diagnóstico. Hoje ele obedece a comandos, entende o que é dito a ele, tem total independência do vaso sanitário, a fala está saindo aos poucos, a identificação das coisas ao seu redor. "Tantas conquistas!!!! ....Ah já me pediu (gestualmente)um brinquedo na loja. Lógico comprei na hora!" Outros motivos de comemorações envolvem ver o amor dos coleguinhas da escola com ele. Cenas que ficam na memória de seus pais, bem como quando alguém diz: o Lucca me abraçou, o Lucca me mandou um beijo, falou oi. Ele sabe cativar o próximo! São várias passagens que a família vive com o Lucca, de aprendizagem a paciência! A mais recente delas foi a melhora expressiva da insônia e querer brincar com a irmã. Karine acha magnífico que a Revista ATMA tenha escolhido o assunto para tema central desta edição. Ela diz que a causa é muito nobre e são milhares de crianças dentro do espectro autista e milhares de pessoas não têm noção desse universo. "O Laço Azul é nosso esteio aqui em Uberaba."


Foto Ramon Magela

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Karine Assumpção (na foto com o marido e Lucca) “Não tínhamos noção do novo universo que iriamos entrar”

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Quando o silêncio fala mais do que palavras...

Marina diz que Vitor os ensina a serem mais e melhores dia após dia, a valorizar cada detalhe da vida, a viver um dia após o outro

Vitor, como o próprio nome já diz, é vitorioso, guerreiro, conquistador! Todas as suas conquistas por menores que sejam são comemoradas com fervor. Desmamou do peito sozinho com 9 meses e meio, a família vibrou quando andou com 1 ano e 5 meses; quando largou a mamadeira com 2 anos e 2 meses; quando largou a chupeta com 2 anos e 4 meses; quando passou do berço para a cama aos 2 anos e meio; quando entrou na escola aos 3 anos e adaptou - se após duros 2 meses; quando participou das apresentações na escola, quando desfraldou aos 4 anos e assim por diante... Marina Soares Remiggi percebeu que Vitor comportava-se diferente desde os 3 meses de idade, pois chorava muito, 76 REVISTA ATMA

não aceitava o colo de outras pessoas sem ser o dela; não gostava de mamar, olhava fixamente para imagens coloridas e estímulos de DVDs musicais. Devido ao seu refluxo severo desde os primeiros dias de vida até 9 meses e meio, Marina conta que ele foi pouco estimulado, pois precisava de todos os cuidados posturais na tentativa de evitar os vômitos, sendo assim demorou um pouco mais para sentar, engatinhar e andar. Após os 8 meses ela teve a certeza de que Vitor estava autista, pois já fazia flapping de mãos, não estabelecia contato visual, foi parando de fazer coisas que tinha começado, tipo dar tchau, mandar beijo, barulho de carro com a boca, se interessou por objetos ou brinquedos que giravam,

colocava tudo na boca, mas nessa idade nenhum profissional da região fechava o diagnóstico. Com 1ano e meio, Vitor foi levado à Dra. Carolina Funayama, neuropediatra em Ribeirão Preto. Ela avaliou Vitor e me disse que ele estava um pouco AUTISTA. Que algumas características ainda poderiam ser da etapa do desenvolvimento dele, mas que a partir daquele momento ele deveria ser colocado nas terapias de estimulação. A partir de então, Vitor iniciou equoterapia, fonoaudióloga, terapia ocupacional, integração sensorial, neuropsicóloga, musicalização infantil, ABA, discotecagem e com 3 anos foi matriculado na escola regular, Marista.


ATMA ENTREVISTA Além disso, faz dieta sem glúten, sem leite, sem soja, sem açúcar; Homeopatia Detox com acompanhamento de Maria Helena Rossi; Tratamento Integral do Autismo com Dra. Camila Milagres, Dieta de exclusão e rotação com Dr. Aderbal Sabrá e REAC com Dra. Marcia Gravatá. Ao longo do tratamento, houve preocupação, especialmente quando no início de janeiro deste ano Vitor começou a ter uns distúrbios de movimentos no sono e foi preciso investigar se eram crises convulsivas ou mioclonias benignas do sono. Os pais, Marina e Guilherme o levaram à neuropediatra, que solicitou eletroencefalograma e polissonografia e descartaram a possibilidade de crises convulsivas. Marina tem uma visão transdisciplinar do tratamento do Vitor e acredita muito na complementaridade de todas as áreas que escolheu para proporcionar a melhora do bem-estar e da qualidade de vida dele. Ela diz que tudo tem sido válido desde o início, pois a cada dia vê Vitor um pouco melhor. Suas conquistas, sua autonomia, sua compreensão, interação, contato visual, intenção comunicativa, ampliação de sons funcionais, aprendizado de atividades de vida diária, paciência, tolerância, flexibilidade, interesses, enfim.

Revela que quando ele iniciou o tratamento tinha um ATEC (questionário de avaliação do sucesso dos tratamentos - quanto menor pontuação, melhor) de 86 pontos, o que o classificava como 75% autista. Hoje, após 2 anos de tratamento, está com ATEC de 26 pontos, menos de 10% autista!!!! "Todo empenho, amor e dedicação valem muito a pena!!!!" A família reúne amor, dedicação e renúncia e Vitor é a razão de suas vidas. Ele os impulsiona, estimula e os ensina a ser mais e melhores dia após dia. Com ele, aprendem a valorizar cada detalhe da vida, a viver um dia após o outro e a compreender que muitas vezes o silêncio ou um gesto valem mais que palavras. Como cofundadora do Laço Azul, Marina diz ter gratidão imensa pela iniciativa da revista ATMA de abordar o autismo e apoiar a causa. Ela explica que todos estão engajados na inspiração pela inclusão social e escolar, pelo diagnóstico precoce, pelas políticas públicas, pela capacitação profissional, pela ampliação dos tratamentos, pelo respeito e luta contra o preconceito. "A revista será uma oportunidade de mais uma vez externalizarmos tudo isso para nossa sociedade e irmos ganhando cada vez mais espaço e credibilidade por essa causa tão nobre."

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ATMA ESTÉTICA

Tratamentos de estética para todas as estações Esfoliação- tratamento de estética recomendado semanalmente, remove as células mortas e prepara a pele para os tratamentos específicos, hidratação, tonificação….

O sal grosso é recomendado para quem tem a pele oleosa e apenas para o corpo, o sal fino para quem têm a pele seca e muito sensível e para além de ser aplicado no corpo pode também ser aplicado no rosto. Depois de misturar o sal com o óleo, aplique no corpo com movimentos circulares, e passar por água. Indicações: Melhora a circulação sanguínea e purifica e remove as células mortas.

Em casa, todos podemos fazer, sem comprar produtos, apenas com o sal grosso da nossa cozinha ou o sal fino, e um pouco de óleo corporal.

Máscara corporal e para o rosto A máscara deve ser feita semanalmente, após a esfoliação. Máscara de argila verde, comprar o pó de argila e fazer em casa. Ela pode ser aplicada no corpo e no rosto. Não é indicada para peles secas e sensíveis a menos que seja usada a argila rosa ou branca, pois resseca muito a pele, é indicada particularmente para quem tem a pele oleosa. É indicada corporalmente para tratamentos de adiposidade e de celulite.

Máscara de iogurte Todos temos iogurte em casa, e podemos usar como máscara facial, pois é muito hidratante, e tonificante se estiver frio. Ótimo também para quem sofre de pernas cansadas, aplicar iogurte frio, não muito frio sobre as pernas alivia muito e evita a formação de varicosas. Experimente já hoje, cuide do seu corpo o seu corpo agradece. 78 REVISTA ATMA


ATMA ALIMENTAÇÃO

Livro cultua alimentação para vida saudável O livro “Alimentação Australopiteca” surgiu com o sonho de contribuir de alguma forma para os que têm Transtorno do Espectro Autista (TEA). A autora é Sandra de Sá, massoterapeuta auxiliar de fisioterapia. Com os pacientes, ela teve a oportunidade de conhecer uma força de vida exuberante. “O livro nasceu do meu sonho e da interação de outro sonho”.

No livro estão histórias de autores relevantes na sua área profissional, como a fadista Mafalda Aurnauth; a atleta Rita Borralho, o economista Luís Lourenço, entre outros, além da engenheira de produto Diana Bedoya, criadora das receitas dos sumos detox incluídas no livro, que será editado em breve.

O CEO de uma empresa de sumos naturais em Portugal Rui Amaral (foi Advisory Board Member na empresa produto do ano de 2008 a 2009 em São Paulo no Brasil, foi CEO da empresa de Sumos Naturais em Portugal Sumo Pontífice e atualmente é marketing coordinator at Walk of Fame), sonhador e muito empreendedor, a convidou para fazer parte do projeto. Investiram tempo e conhecimentos adquiridos ao longo do processo profissional e pessoal neste livro.

Fotos Arquivo Pessoal

Sandra observa que as dificuldades de coordenação motora e de atenção estão entre os sintomas de quem tem TEA. Muitos pacientes sofrem também de alguns distúrbios tanto do sono como gastrointestinais. Ao longo de sua pequena experiência na área da saúde, teve oportunidade de encontrar pacientes com esta patologia em lar de idosos, clínica de fisioterapia, clubes desportivos. Ela diz que são pacientes queridos e especiais, têm uma visão diferente da vida. Sandra conta que conheceu uma paciente que todos os dias acordava contente estivesse sol ou chuva. Contagiava todos ao seu redor com um enorme entusiasmo de viver. A alimentação, de acordo com a massoterapeuta, é um fator preponderante em qualquer doença, em qualquer indivíduo saudável, em qualquer gênero e faixa etária.

Sandra revela que convidaram uma cúpula de autores que contribuem com o seu vasto conhecimento em diferentes áreas profissionais e caracterizam a alimentação como um elemento de primor e de excelência em qualquer fase da vida da humanidade.

Sandra de Sá

é esteticista cosmetologista pelo Instituto de Formação Profissional; massoterapeuta auxiliar de fisioterapia pelo Instituto de Medicina Natural. Ela trabalhou na Liga de Algés Clube de hóquei em patins, na Residência Orquídea lar de idosos, no Centro de reabilitação Dom Vasco, no Spa Aquae Hotel Dom Pedro, no Cellulem block, no Body Concept, no Opencel, no Spa Asia, e no Centro de estética Beleza Natural. Foi vendedora de cosméticos Obey your body e trabalhou na Sumo Pontífice e atualmente estuda relações públicas e comunicação empresarial na Escola Superior de Comunicação Social em Lisboa, Portugal. REVISTA ATMA 79


ATMA PSICOLOGIA

Tratamento multidisciplinar

e sua eficácia

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partilhamos culturalmente, com brincadeiras, músicas, escolas, ambientes públicos, parques, cinemas, internet, etc. A psicoterapia especializada em autismo deve envolver a psicologia vincular no enfoque psicodinâmico e neurodesenvolvimental ao sustentar que a formação de estruturas mentais (cognitivas e emocionais) se constroem a partir das experiências de trocas e relações com o Outro. “ Outro com a letra “o” maiúscula porque representa o mundo, as pessoas e as coisas”.

Acredito que não há certo ou errado, mas sim aquele tratamento ou metodologia que melhor responde em conformidade às diferentes visões de mundo

A psicoterapia infantil comporta, através da ludoterapia, toda a ferramenta necessária para um tratamento efetivo também com crianças autistas, desde que o profissional tenha um entendimento profundo sobre o funcionamento mental da síndrome, suas particularidades e idiossincrasias. A psicóloga Luana Kefalás Barbosa Diniz, que tem mestrado em psicoterapia infantil, acrescenta que o trabalho com autismo deve ser multidisciplinar, pois o desenvolvimento e suas diversas áreas estão comprometidos de maneira global. Portanto, outros profissionais especializados devem ser envolvidos no tratamento e entre eles é fundamental que haja um diálogo com afinidade e uma maneira complementar de trabalho. A função da área da socialização no autismo, segundo Luana, é a mais prejudicada, seja em menor ou maior grau, e, portanto, as áreas das socializações e suas possibilidades de comunicação devem ser essencialmente cuidadas no tratamento psicoterapêutico. Pode ser por meio de relações de trocas e vínculos que se deem da maneira mais assertiva, respeitosa, afetiva e generosa possível e abranger um leque de formas de comunicação e expressão que vão desde a linguagem verbal e não verbal, ao conhecimento dos mundos que com-

Luana observa que se a psicoterapia é, por assim dizer, focada no desenvolvimento da comunicação social, que permitirá trabalhar importantes regulações do comportamento em geral e instâncias mais flexíveis do pensamento mental autístico, as orientações com este foco devem envolver necessariamente a família e a escola. A psicóloga complementa ressaltando que o trabalho de Tutoria Clínico Escolar, se possível, também deve ser contemplado no tratamento, levando-se em consideração a busca de uma verdadeira inclusão em que os valores de desenvolvimento estejam pautados nas análises dos processos de aprendizagens internos psiconeurodesenvolvimentais em lugar de somente os conteúdos pedagógicos. A trajetória de Luana Kefalás expressa as principais diferentes abordagens e metodologias terapêuticas que existem e é por isso que ela se faz valer dela para divulgar os variados caminhos que podem ser trilhados pelas famílias que buscam o melhor tratamento para seus filhos. Há mais de dez anos quando cursava a Faculdade de Psicologia o interesse dela por Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) surgiu


nas aulas de psicopatologia. No último ano, escolheu o núcleo de Psicanálise e fez parte de um programa na clínica da PUC-SP que trabalhava com crianças (TGD) em diferentes oficinas culturais. Havia oficinas de música, teatro, expressão corporal, dentre outras. Nas reflexões teóricas com relação à prática, Luana lembra que falava-se do autismo, porém ainda sem defini-lo como Transtorno do Espectro Autista (TEA), que tem por base um funcionamento neurológico muito específico. “Esta classificação ainda não existia como tal e o autismo era incluído em TGD”. A psicanálise ocupava-se prioritariamente das questões emocionais envolvidas com a criança, os familiares e seu entorno. Luana foi para o México e naquele país trabalhou em uma clínica de autismo e, em busca de novas ferramentas psicoterapêuticas, aprendeu muitas coisas. Ela ficou surpresa, em especial com relação à abordagem cognitivo comportamental, que é a linha terapêutica considerada mais aplicada. Ela coordenou um

grupo de crianças com autismo de alto funcionamento, quando obteve conhecimento sobre a Teoria da Mente (capacidade do ser humano de compreender a mente alheia) e as possíveis técnicas empregadas às falhas que a mente autista apresenta. Todas elas seguem os pressupostos de aquisição dos processos desenvolvimentais de Jean Piaget. A psicóloga conta que na metodologia de tratamento e educação, também eram utilizadas as técnicas de Applied Behavior Analysis (ABA) e Treatment and Education of Autistic and related Communication-handicapped Children (Teacch). Embora acompanhasse os resultados das intervenções, havia nela uma inquietação com relação às evoluções. É que às vezes lhe pareciam muito condicionadas a determinado modelo, o que caracterizava nas crianças uma certa perda da espontaneidade em geral e do processo de aprendizagem por meio da precedente internalização. Assim, ingressou no mestrado em Psicologia Clínica com especialização em Psicoterapia Infantil na Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM). Concluiu que a visão da Psicodinâmica estava epistemologicamente mais de acordo com as suas observações em relação às respostas terapêuticas alcançadas nas crianças. Além de se formar como Psicoterapeuta Infantil desenvolveu aprendizado voltado a orientar pais e famílias. Quando regressou ao Brasil, em São Paulo/SP, atuou como Acompanhante Terapêutica (AT) em escola com criança autista e esse trabalho acrescentou muito à carreira dela, principalmente duas importantes ferramentas: perceber e reconhecer as reais dificuldades sobre os processos de inclusões escolares e estar em contato intenso com os processos de aprendizagens sociais da criança com autismo em tempo real e imediato. Em outra instituição na qual também trabalhou, realizava-se uma moda-

lidade de tratamento com autismo divulgada como a “terceira via” de intervenção com base neurodesenvolvimental, através de uma metodologia de terapia chamada Terapia de Troca e Desenvolvimento (TED). Ela vem importada da França de Barthélémy e Lelord, e que no Brasil é representada pela “CARI - Psicologia e Educação”. Com essa experiência, a visão do autismo de Luana foi ampliada quanto ao entendimento mais profundo das funções neurodesenvolvimentais, em um trabalho com equipe multidisciplinar, contando com outros profissionais da área da saúde e educação, tais como: neuropediatras, terapeutas ocupacionais, musicoterapeutas, educadores físicos, fonoaudiólogos, assistentes sociais, além dos psicólogos. Com essa trajetória profissional sobre o autismo e a que ainda está por vir, Luana vai formando suas próprias ideias acerca do tratamento que considera mais indicado com algumas convicções e com outras em constante processo de construção. “Acredito que não há certo ou errado, mas sim aquele tratamento ou metodologia que melhor responde em conformidade às diferentes visões de mundo, de ser humano e de entendimento do próprio autismo por cada um. O tratamento deve se adequar às necessidades de cada caso”. Fotos Arquivo Pessoal

O trabalho de Tutoria Clínico Escolar, se possível, também deve ser contemplado no tratamento, levando-se em consideração a busca de uma verdadeira inclusão

ATMA PSICOLOGIA

Luana Kefalás Barbosa Diniz

é psicóloga formada pela PUC/ SP, com mestrado em Psicoterapia Infantil pela Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM). REVISTA ATMA 81


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Terapia com

Animais

O tratamento para crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) é baseado nos fundamentos da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) juntamente com técnicas da Terapia Assistida por Animais (TAA).

Em crianças com Autismo os benefícios são a estimulação do desenvolvimento psicomotor, linguagem, comunicação não-verbal e mais elevados níveis de auto-estima e competência social. Em um estudo com crianças com TEA em tratamento com cães, observou-se menos comportamentos indicativos de estresse e um maior número de comportamentos sociais em comparação a terapia sem o cão presente.

Com o cão ativamente envolvido nas atividades como mediador entre o terapeuta e a criança, o percentual de vezes que a criança realiza as instruções do terapeuta passa de 20% para quase 80% se a instrução implica interagir com o cão, facilitando o desenvolvimento das atividades e alcançando os objetivos terapêuticos mais facilmente. Além disso, a TAA com crianças Autista traz benefícios como: aumento do contato visual, aumento de condutas afetivas, sorrisos, diminuição de condutas negativas como condutas auto agressivas e auto estimulatórias, agressões verbais, agressões físicas ao terapeuta e a objetos e diminuição do isolamento.

www.terapiacomanimais.com.br Martina Sbrissa Bortolin - Psicóloga e Treinadora, Especialista em Terapia Assistida por Animais/ Espanha.

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ATMA TERAPIA

Arthur Santos de Ávila

Fotos André Santos

7 anos Mães: Ana Cláudia Santos e Cecilia Ávila Gato Chicão O Chicão veio bem novinho e apesar de ser um pouco arredio com as pessoas, se entrosou rapidamente com o Arthur. E até hoje brincam muito e o Arthur é muito carinhoso com ele. Muitas vezes quando o Arthur começa a rir na cama, já tarde da noite, podemos ter certeza: é o Chicão que pula a janela e corre para a cama dele.

REVISTA ATMA 83


Fotos André Santos

ATMA TERAPIA

Luis Gustavo - 7anos Mãe: Flávia Rosana Fatureto Pai: Luis Renato Ortiz Cavalo Arcor Luis Gustavo faz equoterapia na APAE há 1ano e a relação dele com o cavalo proporcionou melhora no comportamento e principalmente na socialização pois a terapeuta passa confiança, o animal é bem escolhido para lidar com crianças especiais, é manso e gosta de carinho. Luis Gustavo também aprendeu a ter paciência e espera a sessão acabar, coisa que ele não fazia no início. Ele usa o chapéu de proteção, o que é difícil para um autista sensível e isso também é uma vitória! Esse contato com a natureza é muito importante pois valorizo demais o respeito e o lado humano e lá eu vejo que ele aprende esse lado também.

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Fotos André Santos

ATMA TERAPIA

Gabriel Moura - 9 anos

Mãe: Polyanna Pai: Valmir Papagaio Zeca Nosso papagaio é o Zeca, mas o Gabri só o chama de Zequinha, foi a primeira coisa que chamou nossa atenção. A chegada dele despertou uma amizade e cumplicidade, que não existia. É amor incondicional, eles olham um no fundo do olho do outro, por minutos. O cuidado e preocupação do Gabri com ele é incrível, se expressa melhor. Existe um elo entre eles que é impossível explicar. Tudo para o Gabri é o Zeca. O Gabri morre de medo de chuva, então quando chove ele sofre dobrado, pelo medo dele e pelo Zeca, pois ele acha que o Zeca tem medo. REVISTA ATMA 85


Manuella Augusta

- 4 anos Mãe: Viviane Menezes Pai: Rodrigo Moura Marques Cadela Maia As duas gostam de brincar e correr juntas. A Maia mudou totalmente nossas vidas, ela ajudou a Manuella em todos os sentidos, a Manuella ficou mais calma, passou a interagir melhor com animais e com as pessoas, começou a demonstrar sentimentos. Ela se preocupa em alimentar e tudo que vamos fazer passeios, viagens, ela sempre se preocupa com a Maia, que praticamente vai em todos lugares com a gente!

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Fotos André Santos

ATMA TERAPIA



ATMA ODONTOLOGIA

A nova era da Odontologia Especial

A dor de dente pode desorganizar a pessoa com TEA-Transtorno do Espectro Autista. A afirmação é da especialista em Odontologia para Pacientes Especiais, Adriana Zink, em entrevista à revista ATMA. Ela tem apelido de “encantadora de autistas”, e é militante na causa tendo ajudado a aprovar em São Paulo, a Lei municipal 16380/2016 de Proteção à saúde bucal da pessoa com deficiência. Adriana alerta ser necessário motivar o graduando em Odontologia a se especializar em Odontologia para pessoas com necessidades especiais, pois há no país 2 milhões de pessoas com TEA, além dos sindrômicos, os com doenças infectocontagiosas e os sistemicamente comprometidos. Como é possível atrair o paciente com o TEA-Transtorno do Espectro Autista ao consultório, uma vez que os habituais estímulos não são filtrados por ele? Como é feito esse trabalho? O trabalho do cirurgião dentista especialista em Odontologia para pacientes com necessidades especiais está baseado no uso de técnicas lúdicas de condicionamento para essa abor88 REVISTA ATMA

Foto Cristiane Segatto

Após o contato visual, o paciente com Transtorno do Espectro Autista começa a interagir mais e a participar melhor das atividades

Adriana Zink é a primeira dentista a buscar o contato visual da pessoa no espectro autista durante a primeira abordagem e alcança ótimos resultados

dagem. Alguns estímulos presentes no consultório odontológico são realmente difíceis de aceitação por muitos pacientes no espectro (como o barulho do motor, alguns odores, a textura do algodão colocado na boca, etc) por isso indicamos uma dessensibilização e antecipação das fases do tratamento para minimizar o estresse e o medo do desconhecido. Quando a pessoa no espectro autista tem conhecimento prévio dos fatos, a sua ansiedade é minimizada. Individualizamos todos os atendimentos, não existem pessoas iguais, dessa forma não podem existir tratamentos iguais. Trabalho com pessoas no espectro autista desde 2003 e tenho mais de 250 prontuários no consultório, mesmo assim estou aprendendo a cada dia. A dor de dente pode desorganizar um autista tonando-o agressivo inclusive com ele próprio? Sim, a dor de dente desorganiza qualquer ser humano, em particular a pessoa no espectro por ser difícil a sua comunicação e às vezes sua família ou

cuidadores não conseguem identificar o que está acontecendo. Já recebi muitos pacientes desorganizados por dor, alguns muito agressivos e principalmente autoagressivos com mordidas enormes nos braços, pernas e lábios, hematomas na cabeça e face. Algumas crianças alteram seu comportamento na escola ou nas terapias e a causa pode ser dor em algum local do corpo, inclusive dente. Sempre que a criança está com quadro comportamental muito diferente do seu normal eu indico que procure um dentista para excluir a possibilidade de ser dor de dente. O método Son-Rise, criado nos Estados Unidos nos anos 70 pelos pais de um autista, inspirou a senhora. Por quê? Li muito sobre o método SonRise® e assisti a muitos vídeos inclusive o filme. Achei tudo fantástico e trouxe tudo o que podia para a Odontologia. Fui a primeira dentista a buscar o contato visual da pessoa no espectro autista durante a primeira abordagem e alcancei resultados incríveis com isso. Após a


busca do contato visual, a pessoa com autismo começa a interagir mais e participar melhor das atividades. Mensurei isso em minha dissertação do mestrado em que atendi 26 pessoas com o transtorno e agora na tese do doutorado em que estou trabalhando com 40 pessoas. Todo o foi mensurado. Em todos priorizo o contato visual como primeira forma de comunicação do dentista com a pessoa com TEA. Neste ano publiquei um artigo em uma revista internacional (Special Care in Dentistry) e cito o uso do método SonRise® na abordagem inicial. Como a senhora se apresenta para os pacientes com TEA? A antecipação da “figura dentista” é feita pelos pais ou cuidadores, combinamos isso em uma consulta sem a presença da pessoa com TEA. Quando o paciente chega ao consultório ele já teve contato com algumas imagens prévias e isso diminui sua ansiedade. Esse foi meu trabalho de mestrado que realizei na Unicsul sob orientação da professora doutora Renata Guaré. Ainda hoje ainda é pequeno o número de dentistas que atendem autistas e demais pacientes sindrômicos? É extremamente reduzido, costumo dizer que é um problema de saúde pública, porque não temos o profissional para acolher uma população que não para de crescer. No Brasil somos em torno de 600 especialistas para uma população de 2 milhões de pessoas com TEA, mas não atendemos apenas essas pessoas, também temos outros

precisando de nossos cuidados como os sindrômicos (Down, West, etc), os pacientes com doenças infectocontagiosas (HIV, Hepatites etc), os sistemicamente comprometidos e aí vai aumentando o número. Sem contar a população com microcefalia que vem aumentando e também é acolhida por nós. O que se pode fazer para reverter esse quadro? Temos que incentivar a especialidade nas universidades, motivar o graduando em Odontologia a se especializar em Odontologia para pacientes com necessidades especiais. É uma disciplina abrangente que requer muito estudo, dedicação e amor no que se faz. Muitas universidades não têm a disciplina nem mesmo na grade curricular da graduação. Isso dificulta muito porque a formação não inclui e o profissional não incluirá também. A senhora é conhecida por ter um dom especial, pois consegue controlar uma criança com TEA, que se acalma ao seu lado. A que a senhora atribui essa facilidade de se relacionar, sobretudo com os especiais? Recebi o apelido de “encantadora de autistas”, na verdade eles que me encantam. Posso te dizer apenas que Deus orienta meus atendimentos, peço ajuda antes e agradeço depois. Faço a minha parte estudando muito e acolhendo. Assim será até quando Deus permitir. A senhora ganhou o VI Prêmio Orgulho Autista Brasil e possui vários títulos relacionados à sua dedicação no aprendizado e especialização para tratar pacientes especiais. O que a levou a tomar essa decisão? Sou a única dentista a ganhar esse Prêmio e foi uma honra essa homenagem. Não tive nenhum “start” para iniciar esses atendimentos. Assim que me especializei começaram a aparecer pessoas no espectro autista para eu atender e eu tinha muita dificuldade então fui estudar, ler, assistir a filmes e palestras. Hoje desenvolvi uma técnica própria para esse atendimento e estou dividindo com meus colegas a minha experiência. É uma conquista por dia. Ainda erro muito, mas tenho que errar para tentar acertar. Quero uma odontologia mais humanizada.

A senhora tem ampliado a sua atenção em defesa dos autistas. Como tem sido essa trajetória? Nessa caminhada já dei palestras em vários lugares e estive com mães de pessoas com TEA em Massachussets, Seattle, Lima, Santiago, Quito, Orlando e quase todos os estados do Brasil. Levo e trago conhecimento sobre TEA. Aprendo muito com as mães, afinal elas convivem 24h com eles e têm experiência para dar e vender. Aqui em São Paulo organizei alguns fóruns sobre o tema e com a ajuda do Dr. Natalini conseguimos a aprovação da Lei municipal 16380/2016 de Proteção à saúde bucal da pessoa com deficiência. Estou lutando para que essa Lei seja federal e beneficie o país todo. Sou militante na causa. E que alerta a senhora deixa à sociedade em geral? Temos que atuar na prevenção da saúde bucal: cárie e periodontal, dar condições que as mães escovem os dentes de seus filhos, orientar como fazer. A visita ao dentista precisa estar na rotina da criança com TEA. Dessa forma vamos diminuir o número de atendimentos com uso de restrição física ou necessidade de anestesia geral para que o atendimento seja possível. Família, dentista, pessoa com TEA e os demais profissionais que trabalham com ela devem trocar experiências e atuar multiprofissionalmente.

Fotos Arquivo Pessoal

Aprendo muito com as mães de quem tem TEA, afinal, elas convivem 24h com eles e têm experiência para dar e vender

ATMA ODONTOLOGIA

Adriana Zink

é especialista em Odontologia para Pacientes Especiais, mestre em Ciências da Saúde, doutoranda em Odontopediatria, presidente da Câmara técnica de Odonto para PNE do CROSP e responsável pelo blog Autismo e Odontologia (www. adrianazink.blogspot.com). REVISTA ATMA 89


ATMA NEUROLOGIA

Impacto de Down e autismo O autismo é uma comorbidade comum da Síndrome de Down, afetando até 7% das crianças com Down. O diagnóstico é muitas vezes atrasado em comparação com as crianças sem Down. A avaliação é do médico Janael Rodrigues, formado pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (2007), com experiência em Neurologia, inclusive possui o título de especialista em Neurologia pela Academia Brasileira de Neurologia. Em entrevista À ATMA, Dr. Janael observa que o tratamento para o Transtorno do Espectro Autista concentrase em intervenções comportamentais e educacionais. Ele ressalta que a Síndrome de Down pode ser diagnosticada no nascimento, já o autismo requer uma observação maior, mas nos dois casos o impacto é deferente de um paciente para outro . Confira!

sômica mais comum entre os recém-nascidos vivos. É a forma mais frequente de deficiência intelectual. Síndrome de Down é caracterizada por uma variedade de características dismórficas, malformações congênitas, e outros problemas de saúde e condições médicas. Nem todos eles estão presentes em cada indivíduo acometido. O impacto da Síndrome de Down para cada pessoa é individual, com alguns indivíduos que estão sendo profundamente afetados, enquanto outros são saudáveis e capazes de viver de forma independente como adultos. Em geral, os indivíduos com Down estão com melhores oportunidades secundárias a melhores programas de educação, avanços da medicina, recursos da comunidade, e o apoio da família e amigos. Transtorno do Espectro Autista é uma desordem do desenvolvimento neurológico de base biológica caracterizada por deficiências em dois domínios principais: déficits na comunicação social e interação social e restrição a padrões repetitivos de comportamento, interesses e atividades.

Essas síndromes têm fator genético? Ambas possuem características genéticas. A síndrome de Down consiste na trissomia do cromossomo 21. A patogênese do autismo não é completamente compreendida. O consenso geral é que há uma etiologia genética, o que altera o Qual a diferença entre a sín- desenvolvimento do cérebro, afetando o desenvolvimento social e drome de Down e o autismo? São síndrome distintas: a Síndrome comunicação e levando a interesde Down é a anormalidade cromos- ses restritos e comportamentos re90 REVISTA ATMA

petitivos. Isso é apoiado pela teoria epigenética. Nos últimos anos, tem havido um aumento no número de crianças com Síndrome de Down que estão sendo diagnosticadas com autismo ou Transtorno do Espectro Autista? O autismo é uma comorbidade comum da Síndrome de Down, afetando até 7 por cento das crianças com Down. O diagnóstico é muitas vezes atrasado em comparação com as crianças sem Down. Então, é possível haver esse duplo diagnóstico? Algumas crianças com Down apresentam nos anos em idade escolar o desencadeamento ou agravamento de características autistas-like, declínio cognitivo ao ponto de demência e insônia de início recente. O termo Síndrome de Down desordem desintegrativa" tem sido sugerido para descrever este conjunto de resultados clínicos, embora não esteja claro se isto é um transtorno único ou vários transtornos diferentes com apresentações semelhantes. A etiologia é desconhecida, mas a auto-imunidade é suspeita. Não há diagnóstico ou tratamento recomendações estabelecidas para esta associação clínica. É fácil diagnosticar o autismo em crianças que já têm uma dificuldade de aprendizagem? Autismo e transtorno do espectro autista pode ocorrer em pessoas


ATMA NEUROLOGIA

Com que idade pode ser diagnosticado o autismo e o Down? Há casos de a doença

surgir em adultos ou é sempre diagnóstico tardio? Síndrome de Down pode ser diagnosticado desde o nascimento, com testes de cariotipagem (genético). Diagnóstico de autismo requer observação do cuidador e nem sempre as condições clínicas e sociais permitem o diagnóstico precoce. Além disso, os sinais e sintomas do autismo podem surgir em idades mais avançadas, mas o diagnóstico no adulto é sempre tardio. Por que o neurologista deve ser procurado? O neurologista, mais notadamente o neuropediatra tem o papel de fazer o diagnóstico, bem como solicitar avaliações de outros profissionais e realizar avaliação complementar (laboratorial, neuroimagem, eletroencefalograma) para confirmar o diagnóstico ou encontrar diagnósticos diferenciais. Que tratamentos são eficazes para crianças autistas? O tratamento para o transtorno do espectro autista concentra-se em intervenções comportamentais e educacionais que têm como alvo os sintomas principais, ou seja, os déficits na co-

municação social/interação e restrição, padrões repetitivos de comportamento, interesses. Intervenções farmacológicas podem ser utilizados para tratar comorbidades médicas ou psiquiátricas ou fornecer o controle dos sintomas, mas não tratar os déficits principais. Além disso, muitas famílias procuram terapias alternativas ou complementares. Programas de tratamento específicos devem ser individualizadas de acordo com o funcionamento e as necessidades da criança. Os programas de tratamento devem ser monitorados para garantir uma resposta adequada à terapia. O programa deve ser revisto e modificado conforme as necessidades da criança mudem com o tempo. Além do neurologista que outros profissionais devem ser procurados para o tratamento? Pediatra, neurologista infantil, psiquiatra infantil, psicólogo ou neuropsicólogo, geneticista, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, assistente social e outros profissionais médicos que possam tratar as comorbidades de outros sistemas do corpo humano como otorrinolaringologistas, cardiologistas, etc.

Dr. Janael Rodrigues

Neurologista - CRM MG 46064 acha importante que o tratamento seja feito por equipe multidisciplinar REVISTA ATMA 91

Fotos André Santos

com déficit intelectual. As desordens de habilidades sociais e de comunicação que caracterizam o autismo devem ser distinguidas das habilidades sociais e de comunicação com atraso de desenvolvimento que normalmente afetam as crianças com deficiência intelectual. Além disso, o quociente de inteligência (QI) pode ser menos estável, onde ambos déficit intelectual e autismo estão presentes, especialmente em crianças pequenas. Em um estudo, nos Estados Unidos, 28 por cento das crianças com deficiência intelectual tinha transtorno autista, e metade destes casos não foi diagnosticada durante o atendimento de rotina. O transtorno autista ocorre mais comumente em deficiência intelectual sindrômica (por exemplo, em 25 a 47 por cento das pessoas com a síndrome do X frágil, de 5 a 10 por cento das pessoas com síndrome de Down); indivíduos com esclerose tuberosa, síndrome de Angelman, síndrome de Rett, síndrome de Joubert, e síndrome de Cohen também são mais propensos a ter autismo.


ATMA CARDIOLOGIA

A prevalência da Síndrome de Down é de uma por 700 crianças nascidas vivas e é considerada a alteração genética mais comum e que pode acometer os bebês de gestantes acima de 35 anos de idade e gestantes com maior exposição à radiação ionizante. Quem afirma é o cardiologista Marcelo Marra, acrescentando que nas gestantes citadas recomenda-se a investigação intrafetal da síndrome de Down, através de utrassonografia que mede a quantidade de um líquido atrás do pescoço do bebê chamado “translucência nucal”. De acordo com o médico, os fetos com a síndrome tendem a apresentar uma maior quantidade dessa substância. Outros exames são a biopsia do vilo corial, que analisa uma pequena amostra da placenta, e a amniocentese, que testa o líquido amniótico que envolve o bebê. Recentemente, com o avanço da tecnologia em genética, segundo Marra, desenvolveu-se o teste não invasivo de trissomia em sangue 92 REVISTA ATMA

materno capaz de avaliar os cromossomos do bebê e que pode ser realizado a partir da décima semana de gestação. A cardiopatia congênita ocorre entre 40 e 60% dos recém-nascidos com Síndrome de Down e o cardiologista diz que é a principal causa de mortalidade nos primeiros anos de vida, dependendo do grau de acometimento cardíaco. As cardiopatias mais frequentes são o defeito do septo atrial, a comunicação interatrial, a comunicação interventricular e a persistência do canal arterial que aumentam o shunt (fluxo sanguíneo) do lado esquerdo para o lado direito do coração, causando hiperfluxo pulmonar, desconforto respiratório e infecções respiratórias. Marra observa que fazendo o diagnóstico de Síndrome de Down intrafetal com acometimento cardíaco, é possível escolher um hospital com recursos de UTI neonatal e serviço de cirurgia cardíaca para melhor suporte clínico e intervenção precoce, melhorando a sobrevida dos re-

cém-nascidos. Quando o diagnóstico de Síndrome de Down é feito após o nascimento recomenda-se fazer um eletrocardiograma e um raios-x de tórax ou ecocardiograma para investigação de malformação cardíaca. O cardiologista alerta que nos adultos, o hipotireoidismo é uma afecção comum e pode levar a alterações cardíacas como cardiomegalia (aumento do coração), bradicardia e sintomas de insuficiência cardíaca. Também é importante uma orientação dietética e controle do peso para evitar a obesidade e aparecimento de síndrome metabólica (obesidade, glicemia de jejum elevada, hipertrigliceridemia), que aumenta a incidência de doenças cardiovasculares. Com modernos recursos diagnósticos, intervenções cirúrgicas, prevenções das infecções respiratórias e cuidados dos familiares e profissionais especializados, o médico destaca que o Down adquiriu inclusão social e maior expectativa de vida.

Fotos André Santos

Foto Divulgação

Síndrome de Down e cardiopatia

Dr. Marcelo Marra

Cardiologista – CRM MG 26298 O médico garante que fazendo o diagnóstico de Síndrome de Down intrafetal com acometimento cardíaco, é possível melhorar a sobrevida dos recém-nascidos



ATMA CULTURA

O Desenvolvimento do Autismo O livro traz todas as informações que pais e profissionais que lidam com a síndrome precisam para conhecer a infinidade de caminhos que existem em todas as áreas, inclusive médicas!

Um Certo Olhar Alex (Alan Rickman) é um taciturno inglês que está no Canadá para se encontrar com a mãe de seu falecido filho. No caminho ele dá carona para Vivienne (Emily Hampshire), jovem que vai visitar a mãe. Na viagem um caminhão atinge o carro, matando Vivienne. Alex sai então à procura da mãe da jovem. Ao encontrá-la, descobre que ela (Sigourney Weaver) é autista. Linda não tem qualquer reação ao saber da tragédia, mas Alex decide ficar com ela até o funeral. É quando ele conhece Maggie (Carrie-Anne Moss), a vizinha sexy com quem se envolve.

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Autismo Esperança Pela Nutrição O filho da autora, então com 5 anos de idade foi diagnosticado como Autista e partir daí Claudia , sua mãe, passou a dar um atenção muito especial a alimentação do menino , e desenvolveu uma serie de receitas de comidas que tem proporcionado a seu filho uma melhor qualidade de vida.

Autismo na Escola Este livro busca discutir o trabalho do professor, com base em questões fundamentalmente pedagógicas, apontando alguns caminhos diante dos desafios do autismo. Em razão disso, procuramos abordar as práticas de ensino, estabelecendo vínculos com situações concretas da escola. Vínculos, principalmente, com a condição do aluno.

Mary and Max Cinebiografia da jovem autista Temple Grandin (Claire Danes) que tinha sua maneira particular de ver o mundo, se distanciou dos humanos, mas chegou a conseguir, entre outras conquistas, defender seu doutorado. Com uma percepção de vida totalmente diferenciada, dedicou-se aos animais e revolucionou os métodos de manejo do gado com técnicas que surpreenderam experientes criadores e ajudaram a indústria da pecuária americana.

Mundo Singular Primeiro livro da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa escrito em parceria com especialistas da sua equipe, com experiência em crianças e adolescentes, Mundo singular, é um guia voltado para o público leigo, com foco no funcionamento mental da criança com autismo.




ATMA ARTE

REVISTA ATMA 97


ATMA MOVIMENTO DOWN

Síndrome de Down e garantir a inclusão. Nesse sentido, os materiais produzidos pela organização são uma ferramenta importante do processo de efetivação da inclusão e foram reconhecidos até mesmo pela ONU, ao passo em que tiveram destaque na Conferência do Dia Internacional da Síndrome de Down. O Movimento acredita que o ensi-

O Movimento Down foi criado em 2012. Atualmente, a sede fica no bairro Cidade Nova, Rio de Janeiro. A organização, apesar de concentrada no Rio de Janeiro, atua no Brasil todo através de profissionais e instituições parceiras, e, principalmente, com a rede de ativadores. A rede de ativadores é o braço do Movimento no país. São grupos de voluntários que visitam consultórios médicos, hospitais, escolas e outros levando informação a quem precisa. A bandeira é a da inclusão! O Movimento Down produz conteúdos informativos para auxiliar famílias, profissionais e o público em geral a combater preconceitos 98 REVISTA ATMA

no em escolas regulares deve ser regra para todas as pessoas, já que é um importante instrumento de socialização e de conscientização para todos os envolvidos. Assim, as crianças e jovens reconhecem através da convivência com seus colegas que as pessoas são diferentes, têm diferentes etnias, crenças, origens e diferentes formas de se de-

Fotos Movimento Down

Diálogo e conscientização tiram inclusão do papel

senvolver plenamente. É um exercício constante de combate ao preconceito e de formação de um corpo educacional inclusivo, que forma jovens aptos a atuar na construção de uma sociedade que garanta que a inclusão saia do papel em todos os sentidos. Para isso, o Movimento acredita no diálogo e na conscientização como elementos-chave do processo. Grande parte das barreiras à educação de pessoas com deficiência é imposta pela própria sociedade, que, através de comportamentos preconceituosos, faz com que a pessoa sinta que não pertence a nenhum lugar. Além de uma conscientização individual e construída


ATMA MOVIMENTO DOWN

Filme Colegas - Rita Pokk com o marido Ariel Goldenberg

no seio familiar, é necessário o fomento de políticas públicas que atuem nesse sentido e, também, de forma a minimizar barreiras físicas, tendo como referência o conceito de Desenho Universal. As iniciativas da organização não se restringem a temas específicos e são bastante abrangentes, variando de questões de saúde a garantia de direitos no trabalho ou na escola. Além disso, alguns projetos vão além do papel, promovendo formas criativas de estimulação. É o caso do TO Brincando, apenas um dos diversos projetos desenvolvidos pelo Movimento Down. São eles: Escola para Todos Reúne conteúdo sobre os direitos dos alunos na escola, que foram reforçados com a aprovação da Lei Brasileira de Inclusão.

Cartilha sobre o direito dos trabalhadores Em parceria com o Ministério Público do Trabalho, a cartilha reúne direitos da pessoa com síndrome de Down no trabalho. Desde documentos a garantias no dia a dia, são apresentados conteúdos em fácil leitura para que a inclusão fique na ponta da língua de todos. TO Brincando Conta com o apoio institucional da UFRJ e congrega Terapia Ocupacional com brincadeiras que visam a estimular a capacidade cognitiva, a motora e a memória das crianças. Cartilhas de saúde Em parceria com profissionais do Hospital Albert Einstein, o material é dividido em 13 categorias.

Dentro dessas categorias, há uma introdução em que são apresentados os mais frequentes problemas de saúde das pessoas com síndrome de Down e 12 áreas de atenção, divididas em “Problemas do Sono”, “Problemas de Visão”, “Problemas de Audição”, “Problemas Cardíacos”, “Espasmos Epiléticos”, “Disfunções na Tireóide”, “Questões Gastrointestinais”, “Diabetes”, “Cuidados com a Saúde Bucal”, “Alterações Ortopédicas”, “Alterações no Sangue” e “Alterações Dermatológicas”. Três Vivas para o Bebê Preparada por pais e mães que têm filhos com síndrome de Down, a publicação apresenta o relato sobre o que eles sentiram, além de informações que gostariam de ter adquirido quando o bebê nasceu. Guia de Estimulação Elaborado em parceria com especialistas em estimulação, o Guia conta com dicas para o desenvolvimento de crianças com síndrome de Down desde o nascimento até três anos de idade. Colabore O projeto busca formar uma rede de apoio à organização, que atuaria através de doações com ou sem recompensa e que levaria a mensagem da inclusão para o mundo.

www.movimentodown.org.br

REVISTA ATMA 99


ATMA ENTREVISTA

Amor incondicional ajuda a lidar com Down, diz Romário

Romário de Souza Faria, o Baixinho, o Peixe, o artilheiro de gols e de votos, mas, sobretudo, o pai especial, amoroso e exemplar! Quando a sua princesinha Ivy nasceu, apesar de já ter cinco filhos, se sentiu diferente. “Ela deu um novo colorido à minha vida”. Houve quem pensasse que o tetracampeão mundial de futebol evitaria a exposição do fato, mas foi justamente o contrário. Ele convocou entrevista para contar sobre o nascimento da filha e da alteração genética. Este gesto, mais a comemoração do gol na sua despedida da Seleção contra a Guatemala, quando homenageou Ivy, ajudaram os pais e diminuiu o preconceito dos outros em relação aos que têm Síndrome de Down. Romário conta que Ivy é brincalhona, feliz e alegre. Que deu a ele a estabilidade para se tornar um homem menos egoísta, mais calmo e para melhorar sua relação com os seus outros filhos. Para entender quais seriam as limitações da filha e os cuidados especiais que precisariam ser tomados, o tetracampeão recorreu a um geneticista e a fóruns sobre o assunto na internet. Contudo, o mais importante foi o apoio da família. Romário tem consciência de que sua atitude foi importante para que pais e irmãos com down sejam vistos com mais frequência em shoppings, parques e ruas. 100 REVISTA ATMA

Qual foi sua reação ao receber o diagnóstico de Síndrome de Down da princesa Ivy? Seu nascimento era esperado com entusiasmo, mas com certa tranquilidade, afinal, eu já não era um marinheiro de primeira viagem. Ivy, no entanto, tinha algo diferente. Fisicamente enxergamos olhos puxados e mãos muito pequenas. Eram os traços da Síndrome de Down e isso me causou um grande susto. Fui sugado para um mundo novo, onde eu nada conhecia, exceto o modo de amar. E foi assim, amando incondicionalmente, que aprendi tudo sobre essa característica genética.


ças raras. Estou na vida pública para garantir políticas públicas de qualidade voltadas a essas pessoas.

Nós pensamos que as pessoas Com relação à alimentação da Ivy, existe alguma restrição, com Síndrome dieta específica? Nós garantimos que ela tenha uma de Down é que alimentação saudável. Isso garante ela tenha um peso adequado e são diferentes, que previne doenças no futuro. mas os diferentes Que avaliação você faz do trasomos nós. Eles balho desenvolvido pela Revista ATMA? vivem em um Gosto bastante de veículos que tratem de temas humanos com sensimundo de paz, bilidade e responsabilidade social. amor, felicidade Parabéns a toda equipe! A importância da e harmonia

Você pessoalmente mudou em relação a esse Universo? Mudei minha relação com o mundo depois da Ivy. Hoje sou uma pessoa mais atenta e uso minha imagem para ajudar outras pessoas. Para lançar luz sobre temas que têm pouca ou nenhuma visibilidade. Como pessoa pública hoje, qual o seu trabalho em prol da causa? Tenho um mandato a serviço das pessoas com deficiência e doen-

prática de esportes

O geneticista Zan Musttacchi, autor dos livros Genética Baseada em Evidências - Síndromes e Heranças e Síndrome de Down - Aspectos Clínicos e Odontológicos, afirmou à FOXSports.com.br, que praticar esportes é essencial para as pessoas com a síndrome. “Esporte é fundamental, tão importante quanto a alimentação. Além do benefício do prazer, da boa sensação de energia, o individuo terá sua função de equilíbrio emocional muito bem

traduzida e se sentirá bem durante a atividade em que estará compartilhando e competindo”, afirmou. Contudo, o médico ressaltou que não deve ocorrer choque ou traumatismo corporal nas atividades escolhidas. Segundo ele, as modalidades mais indicadas são o vôlei e natação. “Para entrar na natação, quanto mais cedo, melhor. Os outros esportes devem ser introduzidos a partir dos cinco anos de idade”, completou. O primeiro passo, porém, é a realização de uma avaliação prévia determinada pelo Ministério da Saúde. Trata-se de um raios x para afastar o risco de instabilidade entre a primeira e a segunda vértebra da coluna cervical. O exame é exigido aos três e aos 10 anos de idade, mas pode ser feito em qualquer momento em que o down ou os responsáveis julgarem necessário. Ivy pratica natação e ecoterapia, realizada com passeios a cavalo na casa do avô materno. A filha de Romário segue com acompanhamento de fonoaudiólogo e com terapia ocupacional. Porém, seu esporte favorito é dançar.

Fotos Roque de SáAgência Senado

ATMA ENTREVISTA

REVISTA ATMA 101


ATMA HISTÓRIAS

Viver é Amar

Há alguns anos, Maria Cristina Borges Moreno, a cunhada do jornalista e colunista Marcos Moreno, em um exame de rotina de gravidez do seu segundo filho, recebeu a notícia impactante de que o bebê, do sexo masculino, teria Síndrome de Down. No primeiro momento, o susto. O irmão de Marcos, Fernando Moreno, deu a notícia para a família. Sim, houve lágrimas, questionamentos, mas, em momento algum, rejeição. Pelo contrário, a constatação de que a criança nasceria no lugar certo, no seio de uma família que o amaria incondicionalmente. “É fantástico ver a interação perfeita entre ele, Tiago, e sua irmã mais velha, Maria Fernanda”, ressalta Marcos Moreno. Ele acredita que o amor - que é a manifestação de Deus - é o grande milagre da vida. E assim se expressou no texto que escreveu e dedicou a ele, naquele momento em que Deus, em Sua infinita misericórdia, presenteava a família com um ser tão especial. O tio costuma dizer que Tiago não é especial por que tem esse cromossomo a mais. Ele tem esse cromossomo porque É especial. Convidado pela revista ATMA para falar sobre o tema, Marcos Moreno reedita o texto assinado por ele, que traduz não só o seu sentimento, mas o de toda a família. “Tiaguinho veio para coroar de bênçãos a nossa família.” 102 REVISTA ATMA


ATMA HISTÓRIAS

Crescem os filhos e a expectativa continua, naturalmente. Passa pela adolescência e chega à idade adulta, às profissões, ao sucesso, aos seus casamentos e netos. Mas, novamente, se os padrões de comportamento estabelecidos nesse tipo de sociedade não podem ser controlados, quanto mais a vida, ainda mais independente

da vontade humana. Isso sem falar na imaturidade de muitos pais que insistem em pensar pelos filhos como se “donos” deles e de suas vidas fossem. Aquele filho saudável e bonito, presente de Deus, pode ser arrebatado do seio familiar trágica e repentinamente, ou por algum desumano mal que fere de morte qualquer expectativa. Aquela linda e esperada filha pode se revoltar contra todo esse sistema e também frustrar, de maneira irreversível os anseios dos pais. A vida é assim, não dá receita, não estabelece regras, não tem sobrenome. Enfim, as expectativas dos pais têm infinitas maneiras de ser frustradas. Desse modo, ela, a vida, pode golpear quem a gera a qualquer momento, desde o nascimento dos filhos esperados. E esses golpes são absolutamente imparciais e, inclementes, nada ou ninguém perdoam. Portanto, receber um filho sem as características idealizadas e/ ou esperadas, ou perdê-lo para a vida ou para a morte em seus mais variados e sofisticados métodos, é apenas

uma questão de item. É o paradoxo maior que junta dor e amor. Que não pode ser explicado, expresso em palavras, lágrimas ou risos. Mas, claro, a vida também usa seus métodos para nos fortalecer. Ou nos fortalecemos à mercê dela, pelo instinto de preservar quem recebeu dela seu sopro, e pela autossobrevivência. Iluminados por uma subjetiva luz que acredita-se Divina, esses pais que geram outras vidas superam toda e qualquer dor, armados pela mais poderosa arma contra esses golpes, o amor. Sem esse arsenal de sentimentos não dá para seguir adiante e a vulnerabilidade faz tombar no caminho. Os pais, desde que aceitam o direito de dar a vida, perdem automaticamente o direito de cansar. É a escolha que, claro, vem sempre acompanhada da renúncia. A escolha dos homens e não da vida porque essa não escolhe, cumpre apenas o seu destino. A vida não dá garantias. O que nos garante sobre ela é única e exclusivamente o amor. E a escolha do amor é a vida. Viver é amar. Com muito amor no coração dedico esse texto ao meu sobrinho Tiago, que nasceu no dia 22 de fevereiro de 2008 para me dar a alegria e a bênção de apadrinhá-lo. Por Marcos Moreno

Fotos André Santos

Dentro dos padrões ocidentais na contemporaneidade, a união pelo casamento de um homem e uma mulher gera a expectativa de filhos belos, inteligentes e saudáveis que irão dar continuidade ao clã. Padrões que, mesmo alicerçados na base tradicional da família, vêm sendo modificados paulatinamente, exatamente pela mudança comportamental, de ortodoxa para um sem número de opções e/ou condições de vida. Mas ainda é maior o número de casamentos que respeitam a tradição, o sonho, e tudo o que isso implica. Mas se as alianças e as palavras do juiz, padre, pastor, ou outra categoria de celebrante das núpcias, em nada garantem o compromisso assumido, o que se dirá da vida em relação aos filhos, frutos da união? Nascem então as meninas que, por mais humildes que sejam os pais, vão querer enfeitá-las de cor-de- rosa. Nascem os meninos, que são esperados para acompanhar o pai ao estádio de futebol. Expectativas de uma infância.

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ATMA HISTÓRIAS

Clara: meu bem mais precioso! Essa semana minha filha completou 4 anos! Uma menina saudável, esperta, carinhosa e tão encantadora que transformou a nossa vida!! Como acontece com a maioria das mães, essa data me remete àquele dia, uma quinta-feira, feriado de Corpus Christi, em que a minha médica me ligou enquanto eu acabava de limpar o apartamento, que tinha passado por uma reforma.

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Naquele feriado seria feita a mudança. O ultra-som, feito no dia anterior, indicava que Clara estava muito abaixo do peso esperado para as 37 semanas de gestação, e ela poderia estar em sofrimento. Era chegada a hora. Clara deveria nascer. Correria, angústia, hospital, médicos, luzes e... um choro! O choro dela, forte e seguro! Nos-

so rápido encontro ali na sala de parto e logo Rodrigo já deveria levá-la para o berçário! Depois de poucas horas separados, estávamos todos juntos no quarto ! Nossa nova família, e vários amigos e familiares todos alegres comemorando!! O quarto cheio de balões de uma decoração improvisada! Parecia uma festa! Alegria, alegria, alegria!


Um mundo surpreendente, em que o importante é acreditar no outro e na sua capacidade. Um lugar onde não existem olhares estranhos, prejulgamentos nem preconceitos, onde não se limita a pessoa por sua característica física ou intelectual.

No dia seguinte, veio o inesperado! O pediatra veio nos ver e examinar a Clara... mexeu, virou e revirou a pequena. Disse algumas coisas que ouvíamos orgulhosos e atentos!! Em seguida ele usou outro tom... sombrio e preocupado... Trissomia do 21, ele disse. Depois não me lembro mais de muita coisa! Um buraco se abriu e eu continuava a me afundar nele à medida que eram feitos mais exames: cardiopatia grave! Seria um pesadelo? Fiquei anestesiada por algum tempo .... chorei muito e tive muito medo! Estava de luto por minha filha, aquela pela qual sonhamos e construímos toda uma vida imaginária! A partir daquele momento, teríamos que refazer os nossos sonhos, redefinir conceitos, nos livrar de preconceitos. Um processo complexo de redefinição de toda uma vida. Demorado, rápido?

ATMA HISTÓRIAS

Alessandra Conradt é gestora de projetos do Grupo Minas Down e mãe da linda Clarinha

Só sei que um dia percebi que não havia chorado, e que não tinha mais vontade de chorar. Minha vontade agora era viver, era caminhar, era estar ao lado do meu bem mais precioso: minha filha. Desse dia em diante, tudo ficou mais fácil e nossa vida se transformou novamente. Veio a cirurgia cardíaca, com Clara ainda bebê, com 7 meses, mas já com a determinação de viver!! A força dela nos dava mais impulso e nos fazia vibrar a cada conquista! Vejo na minha filha um exemplo de determinação e força. Me orgulho imensamente das suas conquistas e das suas lutas. Ela passa por tudo com um sorriso no rosto, e tem sempre um carinho pra dar! Ela me deu a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas. Mães e pais, terapeutas, crianças e adultos com SD! Um mundo que era desconhecido pra mim, e que ago-

ra nos pertence também! Me envolvi na organização do grupo Minas Down, como gestora de projetos de informação relacionadas a direitos, saúde e educação de pessoas com Síndrome de Down. Promovemos palestras, cursos e encontros festivos para família. Essa convivência nos faz sonhar com um mundo um pouco diferente. Esse mundo poderia ser nosso se todos mudassem um pouco o seu olhar. Um mundo surpreendente, onde o importante é acreditar no outro e na sua capacidade. Esse lugar onde não existem olhares estranhos, prejulgamentos nem preconceitos, um lugar onde não se limita a pessoa por sua característica física ou intelectual. Onde se estimula o saber, a convivência com o outro, com o diferente. Será sonho? Porque se tudo fosse igual não seria tão legal!! REVISTA ATMA 107


ATMA HISTÓRIAS

normal

Ser diferente é ser

A felicidade sempre foi o primeiro pilar na família de Edmur da Silva Carneiro Júnior, o Ju. Aliás, é ele a alegria da casa em que mora com os pais, o irmão, Edcarlo, o Kaká, que é amigo e o “pai”. Quem tem down é feliz por natureza, pelo instinto deles, pois são muito puros, adoram música, dança, shows, pura alegria e festa. “Eles já vêm com uma felicidade incorporada em seu espírito”. A inclusão social do Ju aconteceu naturalmente, nunca o esconderam. Ele está sempre junto em tudo o que a família faz. “Pensamos primeiro nele, depois nos demais. Tudo o que podemos fazer pra ele ter qualidade de vida, nós fazemos. O segredo da nossa felicidade é o Ju e quem tem um down em casa sabe o que estou falando”, enfatiza Kaká. Kaká faz questão de parabenizar a revista ATMA por trazer à tona temas importantes para a sociedade uberabense. Observa que em 1976, quando o Ju nasceu, a medicina não tinha muita informação. Na época não existia Síndrome de Down. “Eles eram chamados mongolóides, já pelo nome era uma discriminação”, cita. Os médicos chamaram seus pais e disseram que o garoto viveria até 15/16 anos, o que deixou o jovem casal assustado. Ju já tinha 4 anos quando começou a andar. O nascimento de Kaká, sete anos depois, foi importante para que ele tivesse companhia para brincar. Ju não passa por nenhum tipo de tratamento ou terapia alternativa. Ele é perfeito, não toma remédio controlado, nada, apenas um sal de frutas quando precisa de ajuda para fazer a digestão. A mãe abriu mão de sua vida pessoal e profissional para cuidar da família e, em especial, do Ju. Na época, 108 REVISTA ATMA


Quem tem down é feliz por natureza, pelo instinto deles, pois são muito puros, adoram música, dança, shows, pura alegria e festa. Eles já vêm com uma felicidade incorporada em seu espírito.

ATMA HISTÓRIAS não havia profissionais especialistas, havia poucos no mundo que entendiam de down. Assim, quando o Ju tem de ir ao médico, vai a um médico comum; ele tem independência e frequenta o que eu frequento, diz Kaká, acrescentando que tem essa estrela dentro da sua casa, que ilumina toda a família. É uma dádiva, uma bênção. A vida do Ju vale uma festa todos os dias. A família celebra a vida, só de estar com ele todos os dias, convivendo com ele, já é uma vitória. O segredo da felicidade da família está no dia a dia, pois Ju é o ouro deles. É a luz que ilumina o caminho deles, a estrela maior. “Ele é meu irmão, mas o considero como meu primeiro filho. É o grande amor da minha vida.” O vereador Kaká cumprimenta a revista por ter elencado esse maravilhoso tema que hoje a sociedade respeita, afinal “Ser diferente é ser normal”.

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ATMA MODA

FABIANA MILLAZZO

A estilista Fabiana Milazzo, desde criança brincava desenhando, criando e vestindo suas bonecas. O que a princípio era apenas uma brincadeira, transformou-se na vontade de empreender e fazer do seu sonho, realidade, criando assim sua própria marca.

Graduada em moda pela Academia Italiana de Moda, Arte e Design, especialista em modelagem pelo Instituto Callegari, também na Itália, Fabiana sempre foi apaixonada por criar, não só roupas, mas tudo que envolvesse qualquer tipo de processo criativo.

O grande interesse por arte e vontade de inovar fez com que ela desenvolvesse novas técnicas de bordados, associadas às tradicionais, resultando em um hand made de efeito único nas texturas, relevos e padronagens coloridas. A natureza também é uma grande fonte de inspiração, nela, busca a magnitude do simples. Por isso a vontade de criar roupas de festas mais leves, jovens, sofisticadas sim, mas ao mesmo tempo, despretensiosas.

Fabiana se preocupa sempre com a qualidade, beleza, conforto, sofisticação e originalidade das peças que cria, no intuito de oferecer às suas clientes o que ela acredita que deve estar presente em um produto de luxo.

34. 3231-6541 / 34. 9 9817-8686 www.fabianamilazzo.com.br

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ATMA INDÚSTRIA

PROPOSTAS DA INDÚSTRIA O Brasil celebra em 25 de maio o Dia da Indústria, instituíd o pelo presidente Juscelino Kubitschek em 1957. Mais de meio século depois comemoramos a data em um cenário de grave crise e preocupação. O país sofre a mais profunda recessão em 25 anos. O PIB registrou queda de 3,8% em 2015 e este ano não será diferente. O tombo da indústria de transformação - a que mais produz inovação, avanço tecnológico, gera empregos de qualidade e agrega valor aos produtos – foi ainda maior, de 6,2%. Os investimentos caíram 14,1%. Na verdade a participação da indústria de transformação no PIB não para de cair. Nos anos 80, o percentual chegou a 35%. Em 2005 regrediu a 18%, para chegar a 11,7% em 2014 e a apenas 11,1% ano passado. Mesmo assim achamos que ainda cabe o otimismo responsável e realista ser formos capazes de fazer o for preciso ser feito. É isso que move a indústria e entidades como a FIEMG.

a ser encaminhado ao presidente Michel Temer.

É também, cenário que pode ser revertido se trabalharmos com competência e compromisso com o país – e o primeiro passo é justamente entender e compreender a capacidade da indústria em propagar o progresso econômico social – e é isso que estamos fazendo. Com base em propostas dos presidentes dos 137 sindicatos de indústria filiados à FIEMG e naturalmente dos milhares de empresas a eles associados em todas as regiões mineiras, estamos concluindo a elaboração de um documento propositivo

Nossa disposição é contribuir para que o Brasil inicie um novo ciclo de prosperidade.

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Nossa disposição é contribuir para que o Brasil inicie um novo ciclo de prosperidade. A proposta elaborada pela FIEMG e seus sindicatos associados alerta para a necessidade de ações de curtíssimo, médio e longo prazo, abordando as questões políticas, fiscal, investimentos e microeconômica, conformando uma agenda que contemple as urgências do país neste momento. O primeiro desafio é a reconquista da confiança da população e dos agentes econômicos. Para isso é necessário firme compromisso com princípios e valores éticos, com o equilíbrio fiscal e controle da inflação – estas são ações indispensáveis para a reconquista da governabilidade perdida. A ações de médio e longo prazo precisam contemplar, obrigatoriamente, uma agenda mínima de reformas estruturantes e indutoras da melhoria do ambiente de negócios.


ATMA INDÚSTRIA

No campo da política, a agenda começa pela continuidade das investigações da Operação Lava-Jato, pela aprovação da Lei de Responsabilidade das Estatais, atualmente em discussão no congresso nacional, com o objetivo de assegurar transparência e governança a essas empresas. Também deve integrar a agenda política a aprovação de uma lei anticorrupção que tenha por base a proposta do Ministério Público Federal, da qual a FIEMG é signatária. Na área dos investimentos, as prioridades são muitas: aperfeiçoamento dos marcos regulatórios relacionados aos investimentos na infraestrutura, criação de lei geral das agências reguladoras, ampliação do programa de privatizações e concessões (portos, aeroportos, saneamento). Na agenda microeconômica que impacta fortemente o cotidiano das empresas o destaque é para o crédito e financiamento, redução do spread bancário, incentivo à concessão de capital de giro na economia por meio da utilização de parcela dos depósitos compulsórios e revisão do papel do BNDES, que deve concentrar seus financiamentos nas micro e pequenas empresas, bem como nas empresas inovadoras. Na área trabalhista, a principal sugestão é a prevalência dos acordos coletivos sobre as normas legais, regulamentação da terceirização e a revisão das Normas Regulamentaras, n° 8, 9, 12, 13, 17, 24 e 28.

Na área tributária, propomos a reforma do ICMS visando à simplificação do sistema harmonização das normas dos diferentes estados, eliminação do tributo como instrumento de guerra fiscal, estadual e agilização da recuperação de créditos tributários. Há questões igualmente prioritárias nas áreas do comercio exterior – novos acordos de livre comércio, reinstituição do Reintegra e a criação do programa de internacionalização da indústria brasileira. Na área do Meio Ambiente, é urgente a melhoria do ambiente regulatório, especialmente na simplificação dos processos de licenciamento ambiental, com atenção prioritária aos empreendimentos de infraestrutura. Há, como se vê, uma longa agenda a ser cumprida, no seu dia, a indústria mineira renova e reafirma o seu compromisso com o Brasil e com os brasileiros. Em essência aas medidas que propomos visam gerar crescimento econômico, riqueza para o Brasil e empregos de qualidade. Que os políticos nos ouçam e não atrapalhem!

FotoDivulgação

No campo fiscal, devemos começar pela revisão das vinculações constitucionais previstas no orçamento público federal, da ordem 91% dos desembolsos realizados. Igualmente necessária é a revisão dos gastos públicos, custeio da máquina pública e a revisão das regras de reajustet do salário mínimo, bem como a reforma da Previdência, com a discussão de temas fundamentais, especialmente a idade mínima de aposentadoria.

Dr. Olavo Machado Júnior

Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais – Sistema FIEMG. Publicação do Jornal Estado de Minas dia 25/05/2016 REVISTA ATMA 117






ATMA ODONTOLOGIA

O Autismo e o tratamento odontológico

O autismo infantil é um transtorno global do desenvolvimento caracterizado por um desenvolvimento alterado, manifestado antes dos três anos de idade, e apresentando uma perturbação característica do funcionamento em cada um dos três domínios seguintes: interações sociais, comunicação, comportamento focalizado e repetitivo. Além disso, o transtorno se acompanha comumente de numerosas outras manifestações, por exemplo: fobias, perturbações de sono ou da alimentação, hetero ou autoagressividade, hand flapping (agitar as mãos), rodopiar etc. Onde entra a Odontologia? Devido à dificuldade de relacionamentos das crianças com autismo

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infantil, o tratamento odontológico fica comprometido, pois as ações do profissional são consideradas invasivas. Situação esta que, muitas vezes, exige que o tratamento seja feito em ambiente hospitalar, sob anestesia geral. A aversão ao tratamento dentário pode ser menor quando o paciente acostuma-se com o ambiente odontológico desde pequeno, o que muitas vezes não acontece. Como a criança com autismo apresenta outras dificuldades, o tratamento odontológico é deixado de lado, por ser considerado menos importante. A criança só fará sua primeira visita ao cirurgião dentista quando sentir algum dente doendo, quando a criança já está com mais de sete anos. Nesses casos, o problema dentário é mais grave e exige um tratamento mais intensivo e, consequentemente, mais invasivo para a criança.

O correto seria que o contato com o profissional acontecesse desde o nascimento dos primeiros dentes, como deve ser com qualquer criança. Assim, haveria um maior contato com o profissional e a aversão passa a ser menor, portanto os tratamentos se tornariam mais simples, sem a necessidade de anestesia geral.

Os autistas são pessoas hipersensíveis, que se sentem incomodados facilmente. Por isso, contatos físicos, ou até mesmo determinados sons, podem transformar-se em tortura para eles. Até mesmo o uso de perfumes pode incomodar e dificultar o tratamento.

Existem situações em que as pessoas com necessidades especiais possuem grande dificuldade na hora de encontrar um atendimento personalizado, inclusive na área odontológica. Entre as situações que exigem um tratamento especial do profissional odontológico está o autismo.


ATMA ODONTOLOGIA

Um tratamento diferenciado O tratamento de quem tem autismo infantil pode ser feito por qualquer profissional, desde que ele esteja disposto a buscar informações e adaptar o tratamento tomando alguns cuidados: Os autistas são pessoas hipersensíveis, que se sentem incomodados facilmente. Por isso, contatos físicos, ou até mesmo determinados sons, podem transformar-se em tortura para esses pacientes. Até mesmo o uso de perfumes pode incomodar e dificultar o tratamento.

como idade, grau de severidade da síndrome e as habilidades específicas de cada indivíduo. O profissional precisa entrar no mundo do autista, fazendo-o se sentir ‘em casa ‘, seja usando desde brincadeiras lúdicas, usar sempre a mesma vestimenta, usar tom de voz calmo, evitar movimentos bruscos, sempre fazer elogios, ou seja conquistar o paciente de forma amiga, trazendo a confiança deste paciente especial junto com estimulos de aconchego e segurança!

Fotos: Divulgação

Um requisito principal para o sucesso da consulta é manter o paciente calmo. Para isso, escolha um ambiente tranquilo e evitando ao máximo mudar os móveis de lugar, pois os autistas são muito sensíveis a qualquer tipo de mudança, e não costumam reagir de maneira positiva. “Ainda no campo das mudanças, é muito importante que o paciente seja atendido sempre pelo mesmo profissional e no mesmo consultório, para que ele se habitue e crie uma identificação com o local.“ Não se pode esquecer que cada indivíduo é único, e isso também vale para os pacientes autistas. É necessário levar em consideração alguns aspectos

Dr. Fabio Azevedo

É cirurgião dentista - CRO MG 24974. Pós-graduado em Ortodontia, implantodontia, e estetica orofacial (34) 3322 9935

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ATMA GASTRONOMIA

Gnocchi de mandioca, mandioquinha, batata doce, inhame ou cará sem glúten Ingredientes • 1 quilo do tubérculo que agrade mais o paladar • 50 gramas de amido de milho, fécula de batata ou polvilho doce • Sal a gosto (de 10 a 20 gramas) • Farinha de arroz, creme ou farelo de arroz ( o quanto baste) • 20 gramas de óleo de coco • 2 gemas de ovos (opcional) Modo de preparo Coloque 2 litros de água para ferver com 30 gramas de sal em uma panela de pressão. Descasque o tubérculo de sua preferência. Quando a água já estiver fervendo coloque o tubérculo para cozinhar com a panela fechada por 15 minutos. Passe o tubérculo cozido no espremedor ou moedor ainda quente. Coloque os outros ingredientes todos com a massa ainda quente e misture bem com o auxílio de uma colher ou espátula de silicone.

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Espere a massa esfriar fora da geladeira. Leve uma outra panela com 2 litros de água para ferver. Deixe ao lado uma tigela com dois litros de água e algumas pedras de gelo. Em uma mesa,coloque uma tábua de corte e coloque um punhado de farinha, creme ou farelo de arroz (50 gramas). Coloque uma colherada grande (100 a 150 gramas) da massa sobre o arroz. Misture e deixe homogêneo. Com o auxílio das mãos, faça rolinhos com a massa e corte-os para que virem pequenos pedaços que lembrem quadrados. Leve para cozinhar na água fervente onde eles afundarão. Quando boiarem pode retirar e colocar na água gelada. Na próxima vez que colocar os gnocchis na água fervente retire os que estavam na água gelada e coloque em uma travessa seca. Repita o processo até finalizar a massa. Regue com azeite de oliva para que não grudem. Esquente um molho de sua preferência e estarão prontos para serem servidos. Bom apetite!

Fotos Arquivo Pessoal

Gnocchi sem glúten Chef Luciano Muradas

é professor de gastronomia no Senac de Porto Seguro e ministra seus cursos de gastronomia funcional e diversos outros temas pelo Brasil. Foi o chefe de cozinha responsável pela alimentação da seleção alemã de futebol que ganhou a copa em 2014. Possui um Buffet especializado em casamentos que atende aos noivos de Trancoso e de outras cidades de nossa região. Faz consultorias para resorts, hotéis e restaurantes onde melhora a qualidade da comida, reduz custos e treina os profissionais da equipe. Para conhecer melhor o trabalho do nosso chefe: @lmuradas no instagram e Muradas Gastronomia no facebook Dúvidas e contato para os cursos: muradas@gmail.com ou whatsapp: 073 9 8815 9471


ARQUITETURAViva

Em um mundo cada vez mais artificial e eletrônico parece maluquice falar em construções com terra crua, iluminação natural, ventilação cruzada, hortas orgânicas, paisagismo comestível, mas é isso!!! Esse é o movimento das arquiteturas vivas, saudáveis, permaculturais, bio compatíveis, slow construccion. Como o slow food, o couchsurfing, carona solidária, economia criativa, movimentos colaborativos, enfim, como diversos outros que compõem o mesmo pacote. A busca é pela qualidade da relação, em seu mais amplo espectro, seja ela com o próximo, consigo mesmo, com o tempo, com aquilo que se nutre, com quem convive ou com as paredes de onde se mora ou trabalha, a busca é essa, por um espaço que contribua de forma positiva com aquele que a habita. Este perfil de projeto demanda um estudo não só de toda a cadeia produtiva dos materiais especificados, da forma como eles afetam o planeta, sua pegada de carbono ou sua composição química, vai além, busca cada vez mais como

estes materiais irão interagir com as pessoas em níveis mais sutis. A forma com que cada experiência possa ser traduzida por cada um que passe por aquele espaço, através de texturas, cheiros, sons, cores, pelas sensações que cada elemento que compõe aquele espaço possa provocar. A intenção maior é esta, espaços projetados de forma a interagir, mesmo que sutilmente, com seus usuários. A experiência de cada ser, em sua frequência específica, deve ser observada e se possível projetada, de forma que seja a melhor. É desta forma que buscamos desenvolver cada projeto, identificando na relação homem x espaço as diretrizes para o partido arquitetônico, buscando a harmonia e o bem estar integral de cada ser que por ali passa. Acreditamos que a arquitetura saudável, viva, é o próximo passo da arquitetura sustentável. Onde o sutil ganha a mesma importância do material de alto desempenho e assim, o desempenho humano entra em um novo nível!

Fotos Arquivo Pessoal

ATMA SUSTENTABILIDADE

Luana Lousa De Almeida

Arquiteta e urbanista, formada pela PUC-Goiás, pós-graduada em Planejamento Urbano e Ambiental pela PUC, especializando em Construçõess sustentáveis pelo UNIP-INBEC, Permacultora e Bioarquiteta pelo Instituto IPEC(Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado) e TIBÁ(Instituto de tecnologias Intuitivas e Bioarquitetura) em Nova Friburgo-Bom Jardi. Whatsapp (62) 999221384 www.arquiteturaviva.com.br

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ATMA EMPREENDEDORISMO

Inovações e oportunidades de novos negócios

Os indivíduos atualmente, principalmente a nova geração, literalmente tem deixado os estatísticos e os economistas de cabelo em pé. A meu juízo, a ciência não mais será capaz prever o desvio padrão (variação em relação à média) ou a elasticidade do consumo (mede a reação dos consumidores) de forma coerente, pois a regra é a efemeridade. Segundo o escritor e profissional Walter Longo, a efemeridade é uma das mais intensas tendências do mundo moderno, e só serão capazes de se perenizar no ramo de negócios aqueles que forem igualmente efêmeros no acompanhamento das tendências e do comportamento humano. Produtos e/ou serviços tidos como essenciais perdem, da noite para o dia, sua unanimidade, e passam a ser questionados, seja por questões de utilidade ou mesmo pela qualidade e preço de sua prestação. O exemplo mais comum e amplamente conhecido no país talvez seja a história do UBER. Um novo modelo de negócio que colidiu “de frente” com os serviços de taxi. A legislação Brasileira ainda não foi capaz de regular esta situação e o que vemos é uma batalha campal por nichos de negócios. Em vão essa briga, o consumidor vai definir a maneira que deseja usar... Fácil enumerar outros tantos novos

negócios seja para contratar um local para se hospedar (AIRBNB), seja para fazer um pedido, comprar algo online, baixar algumas músicas, jogos ou filmes, arranjar um namoro ou outras atividades antes só realizadas pessoalmente. Assunto para outro texto é o fenômeno “a revolução blockchain” e a “era bitcoin”, pouco conhecida do cidadão comum, esta linguagem e prática já está na área desde 2009. Tratam-se das transações de negócios via “dinheiro privado”. As mais impactadas por este assunto serão as transações bancárias. As instituições financeiras e as cooperativas de crédito que se preparem. Os consumidores não mais aceitarão os serviços que hoje lhes são oferecidos e entrarão de cabeça nesta nova era (ver matéria inovação HSM edição especial maio/ junho 2016). Ademais, apresento aqui dois atributos, dentre outros, que devem ser considerados por qualquer desejoso em ter seu próprio negócio: experimentação e personalização. EXPERIMENTAÇÃO - É importante que o cliente sinta o produto ou o serviço, que ele seja capaz de experimentar antes de TER, que seja criada uma identidade de valor no consumo do mesmo. Esta é a ideia que os produtores de café, a exemplo do Cerrado Mineiro apresentam. Trata-se de café feito com atitude, que respeita as regras e os limites de aplicação de insumos de controle, que respeita e valoriza os trabalhadores envolvidos em todo seu processo de produção. Isto gera uma identidade com o produto e consequente fidelidade às marcas. PERSONALIZAÇÃO - A questão da personalização é outro atributo que seduz a muitos. Algo que produzido com alto valor agregado, mas é único, é meu estilo. Feito do jeito que pedi.

As grandes marcas e a moda, de uma maneira geral, tem se atentado para estes detalhes. De fato, o novo conceito de consumo colaborativo (por Elisabeth Leite), veio para ficar e modificar completamente as relações de consumo. Uma nova regra que valoriza o SER em detrimento do TER. Importará mais a capacidade de experimentação do que a capacidade de aquisição, então melhor que o consumo seja compartilhado. Mais atual que o velho jargão - “o sucesso do passado não garante o futuro” – impossível. Fique atento, atualize-se, ouça os jovens e observe seus comportamentos. O comportamento dos mais tradicionais também tem acompanhado uma acentuada curva de mudanças e adaptações. Do contrário, diminuirão as chances de permanecer mais tempo no mercado. O comportamento dos políticos evoluiu pouco e pagarão caro por isso, vide noticiário diário. Outro assunto que merece atenção é o respeito às mulheres e à sua condição. Nada mais velho, obseno e nojentas certas práticas inaceitáveis, que devem sem punidas exemplarmente. Pensem nisso!!

Fotos Arquivo Pessoal

Naturalmente quando ouvimos algo relacionado à inovação, rapidamente tendemos a nos ligar em novos produtos, invenções ou algum aperfeiçoamento de ordem tecnológica. Sim, estas particularidades também representam inovações significativas, porém nada mais novo e mutante do que o comportamento humano, suas atitudes cotidianas, sua forma de olhar o mundo e participar dele, bem como seus hábitos de consumo.

William Rodrigues de Brito Gerente Sebrae Regional Triângulo

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ATMA PROJETOS SOCIAIS

Franco Cartafina

A aprovação do projeto do vereador Franco Cartafina, que cria o Dia Municipal do Autismo, em 2 de abril, muda a história dos autistas em Uberaba. A avaliação é de Luiza Coelho, que integra o Grupo Laço Azul-Grupo de Apoio aos Autistas, após a votação do projeto aprovado por unanimidade no Plenário da CMU, em 2015. Ela diz que a medida torna possível conseguir apoio da PMU, das secretarias e da população de um modo geral.

Fotos Divulgação

Criação do Dia Municipal do Autismo

“Agradecemos muito ao vereador Franco Cartafina, que abriu as portas da Câmara Municipal para nós e tem nos ajudado de forma efetiva nessa luta. Estamos muito felizes por poder contar com o apoio dele”, frisa. Conta que o vereador os ajudou a realizar um piquenique em prol da conscientização, com a distribuição de panfletos explicativos, e que atraiu mais de 200 pessoas em 2015 e mais de 1000 em 2016. Luiza acrescenta que o grupo continuará envolvendo a população para que todos saibam as características de autismo e também para engajar futuros trabalhos visando a melhorar a educação, a saúde.

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Luiza explica que ela, sua irmã Karla e sua mãe fazem parte do Laço Azul, grupo de mães com filhos autistas, número que cresce a cada dia e muitos não sabem ou não conhecem as dificuldades e as necessidades da área. Ela argumenta que é preciso melhorar muito o diagnóstico e o encaminhamento das famílias para os profissionais adequados e melhorar o Caps da cidade, onde há uma fila imensa, que não consegue atender a todos. O vereador Franco destaca que trabalha para melhorar Uberaba e apoiar sua gente. Considera o Laço Azul e a revista ATMA importantes, pois difundem informações sobre o autismo ajudando as famílias da cidade.


ATMA PROJETOS SOCIAIS

Caminhada Solidária Com a proposta de ser uma empresa socialmente responsável a River Auto Peças realiza desde 2008 a Caminhada Solidária River. Considerando o caráter de solidariedade que permeia o município de Uberaba, bem como o anseio das empresas em realizar ações e projetos de responsabilidade social, a CAMINHADA SOLIDÁRIA visa estabelecer parcerias para evento, em que todos os envolvidos possam assumir uma postura ética comprometida com o resgate da cidadania. O Projeto vem se consolidando ano após ano devido ao interesse tanto da comunidade em fazer parte desse momento de solidariedade quanto das empresas parceiras de Uberaba e região que apoiam e patrocinam. Para os diretores da River, Nereu Alves, Miguel Faria e Nilvio Alves, a importância das empresas e da comunidade se envolverem no projeto está diretamente relacionada com a grande contribuição que chegam até as Instituições

Fotos Divulgação

River Auto Peças

por meio dos alimentos arrecadados em cada edição da Caminhada Solidária, bem como incentivar a prática de atividade física tão importante para nossa saúde.

2016

Angela Dib Rezende Menos Palavras e mais Amor

Profissional da área de Educação Física, articulada e ousada com histórico acadêmico com relevantes experiências profissionais na área de atividade física, Angela Dib, há mais de 15 anos dedica-se ao trabalho voluntário

e assistencial. Altamente comprometida com os ideais de vida e sempre em busca de novos desafios para geração de resultados positivos no campo pessoal e profissional. Casada com o engenheiro Joaquim Alberto, mãe de Juliana (internacionalista) e José Neto (veterinário), Angela não mede esforços para que sua família seja sempre o alicerce para a realização de todos os seus sonhos. Atualmente, atua como assessora de Novos Projetos da Prefeitura Municipal de Uberaba, espaço em que se permite realizar um conceituado trabalho junto ao Terceiro Setor, envolvendo todas as organizações não governamentais da cidade, bem como as organizações da sociedade civil. “Parceria Cidadã – Pessoas Cuidando de Pessoas”, poe exemplo, é um “movimento” inovador na forma de se trabalhar com as ONGs e pelas ONGs. “Devemos dar espaço para a construção de uma nova história, com valores dignos e honestos, mas não usando “ideologias” como palco de comoções.” Angela entende que o trabalho que realiza é uma forma de empoderamento para as ONGs, pois ele lhes dá voz própria e as instrumentaliza para transformar realidades e como se não bastasse, nos “alimenta a alma”. Explica que atende pela Prefeitura, mais de 50 organizações, de diversos segmentos e movimentos, sem distinção de valores, crenças,

raças ou gênero, tendo o compromisso com o desenvolvimento das Organizações do Terceiro Setor. Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Angela coordena ações de prevenção e eliminação de todas as formas de discriminação contra a pessoa com deficiência propiciando sua plena inclusão à sociedade; estimulando que todas as políticas públicas e os programas contemplem a promoção, a proteção e a defesa dos direitos da pessoa com deficiência. Atuo também como presidente do Lions Clube de Uberaba Centro, trabalhando continuamente para destacar os problemas que afetam a comunidade, colaborando para a solução deles. Atividades como “Como engajar os Jovens”, “Mutirão da Saúde”, “Criança Feliz” ou “Alivio à Fome” são destaques em meio a tantas campanhas que Angela realiza junto à comunidade mais carente e em situação de vulnerabilidade social e pessoal. “A realização de ações sociais, na certeza de que podemos transformar vidas com um pequeno gesto, faz com que sempre tenhamos em mente os deveres de cidadania, devotando lealdade em palavras, atitudes e conduta. Dedicando assim desinteressadamente meu tempo, meu trabalho e meus recursos.” REVISTA ATMA 129



ATMA PROJETOS SOCIAIS

Lar André Luiz

Fotos Divulgação

Caminhada em prol da instituição

O Lar André Luiz, instituição sem fins lucrativos, é uma (ILPI- Instituição de Longa Permanência de Idosos), sendo um departamento da Comunhão Espírita Cristã, fundado em 18/04/1959. A Ata de Fundação foi assinada por 10(dez) pessoas entre elas Chico Xavier e Dalva Borges que hoje reside no LAR com mais de 28 idosos, sendo a maioria mulheres. O trabalho de assistência aos idosos consiste em: Serviço de enfermagem 24 horas, assistência social, acompanhamento médico, psicológico, fisioterapêutico, nutricional, enfermagem, lazer e recreação dentro e fora da instituição. Atividades ocupacionais terapêuticas e de inclusão social. Com intuito de promover em parte sua sustentabilidade a Diretoria do Lar idealizou no ano de 2015 junto aos seus colaboradores e voluntários a Caminhada de Apoio ao Lar André Luiz tendo como objetivo arrecadar fraldas geriátricas e assim garantir a qualidade dos serviços prestados aos seus usuários. Para o ano de 2016 o projeto da Caminhada já toma forma e as articulações e parcerias estão sendo feitas para que até o mês de novembro novamente possa haver um momento de lazer, saúde e fraternidade onde todos os envolvidos colaboram diretamente com o bem-estar dos idosos abrigados no Lar.

A primeira edição foi um sucesso atraindo centenas de participantes. REVISTA ATMA 131


ATMA ADMINISTRAÇÃO

GESTÃO DE CRISE Definição: Gestão é a ciência social que estuda e sistematiza as práticas usadas para administrar. Crise é uma mudança de situação brutal de bom para ruim. A Gestão da crise é a ciência de administrar as mudanças brutais que apareceram agora e fizeram que nosso mundo passasse de bom, para ruim. Seja na empresa ou em casa, a situação atual exige reações apropriadas. Podemos falar que o Brasil esta passando por uma crise política e econômica. Como administrar essa crise? Politicamente, vou até me atrever a dar palpites. As instituições políticas brasileiras precisam passar por uma remodelagem profunda de maneira que o povo tenha voz. Participar mais das decisões políticas da comunidade, da cidade, do estado e da união são diretrizes urgentes para enxergar a saída da crise. Participar no Facebook não seria a melhor opção no meu entender, mas participar ativamente “Hic et Nunc”, aqui e agora, quer dizer em casa, na minha empresa, no meu bairro, na minha cidade, hoje e já. Neste exato momento, você conhece sua associação de bairro? Você já participou de uma reunião de vizinhos? Participa das audiências públicas? Você quer melhorar a situação da sua rua, da sua empresa, do seu setor, o que você faz para isso? É importante perceber que a política não é o privilégio de alguns, mas sim um dever de todos. Só assim o Brasil poderá caminhar até uma democracia madura. Deixar que alguns decidam para todos sem olhar e sem controlar não dá certo. Vamos procurar as instituições, os sindicatos, as associações! E se não existirem, vamos reunirmos para criar e fazer acontecer. Economicamente, a crise se manifesta cruelmente através da inflação: o custo 132 REVISTA ATMA

de vida aumentou e muito (de 5% em 2012 para mais de 10% em 2015), o custo do dinheiro também (a taxa SELIC passou de 2,75% em 2012 a 9,45% em 2016). A renda média do brasileiro baixou, o desemprego e a estagnação dos salários fazem hoje, que uma família brasileira tenha menos dinheiro para comprar produtos mais caros. No setor empresarial, os investimentos estão estagnando também, assim como as vendas e o lucro. Os juros altos não incentivam as empresas a investir. Contenção de gastos, estagnação das contratações, desligamento de funcionários, e o circulo vicioso começa a rodar: Menos emprego, menos renda, menos consumo, menos clientes, menos produção, menos contratações... O que fazer? Primeiro, é importante conhecer sua estrutura econômica. O que entra, o que sai? Quais são os gastos fixos e os custos variáveis, quais são os valores que eu posso baixar e os que não. Nada mais importante, em tempo de crise então do que por tudo direitinho na ponta do lápis para caçar o desperdício e os famosos custos escondidos (gastos escondidos em itens não centrais de uma despesa). Um belo exemplo de custo escondido: Para economizar 10 centavos em um produto de limpeza, eu faço 7 kilômetros a mais com meu carro... A gasolina é um dos maiores gastos domésticos dos custos variáveis e geralmente não é considerado como tal. Em tempo


ATMA ADMINISTRAÇÃO

No mundo empresarial, cada funcionário é um centro de custo, e tem que se tornar um centro de lucro. Em tempos de crise, a cultura do resultado se torna imprescindível. Na hora de contratar ou de ser contratado, a empresa/ ou candidato deve enxergar o quanto ele vai trazer para a empresa, e não o quanto ela vai custar para a empresa. Isso deve ser tabelado e devidamente valorizado de maneira contínua. Então, também está na hora de se formar, ler e aprender não gasta dinheiro.

Por exemplo, a Sala do Empreendedor em Uberaba (rua Vigário Silva, 309) oferece cursos gratuitos de desenvolvimento administrativo e de como elaborar controles financeiros em parceria com o Sebrae e o Sindicato dos contabilistas, é só um exemplo das muitas maneiras que existem para se informar e se capacitar sem gastar. Os tempos de crise, por fim tem que ser vislumbrados como invernos. Na Europa, o inverno é frio, escuro, chuvoso, as árvores secas, o verde inexistente e os animais recolhidos. Após o inverno chega a primavera com o renascimento da natureza, o verde brota com seu lote de cores florais e cheiros vegetais, o sol volta a esquentar a vida que acaba explodindo numa sinfonia de produção e reprodução. Não adianta deprimir, tem que aguentar firme e se manter aquecido, recolhido, até chegar a primavera!

Foto Sebastião Santos

de crise, temos que aprender a caçar o desperdício. Luzes acesas, água vazando, telefone exagerado, comida sobrando, insumos armazenados... É uma verdadeira cultura da economia que tem que enxergar e por em prática diariamente. Além de economizar facilmente 20% dos seus gastos fixos, você estará fazendo sua parte para o meio ambiente! Chegou a hora de agir!

Anne Roy

Formada na École de Management De Lyon e Pós Graduada na FGV (Fundação Getulio Vargas) em São Paulo. Trabalhou em grandes grupos na França como Carrefour e Decathlon, trabalhou 7 anos na Espanha, como chefe de mercado para uma empresa francesa de gastronomia e virou empresária quando se mudou para o Brasil, antes de entrar no Governo Piau, como Assessora em Comércio Exterior e Gerente de Projetos. Hoje é Presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social de Uberaba (COMDESU) e desenvolve projetos na Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo (SEDEC).


ATMA GASTRONOMIA Fotos Arquivo Pessoal

Bolo de caneca Por Real Gastronomia

Partilharemos uma receita, fácil, muito saudável e que todo mundo pode fazer em casa! Super saboroso e muito nutritivo ele ainda tem uma capacidade de saciar a fome fenomenal. Afinal, é a combinação perfeita de gordura, proteína, e triglicerídeos de cadeia média (do coco), então tá aí, perfeito para autistas, pra quem precisa emagrecer, ou tem intolerância a glúten e leite. Ingredientes • 1 ovo caipira • 1 colher de sobremesa óleo de coco (ou manteiga clarificada/ghee) • 1 colher de sopa cheia de farinha de coco ou outra farinha sem glúten ou coco ralado (NÃO adoçado!!) • 1/3 colher de chá de fermento químico • 1 colher de sopa de mel

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• 1/2 banana orgânica madurinha Opcionais - 3 castanhas do Pará - Uma colher de sobremesa de goji berry ou passas Modo de preparo E aí mais fácil impossível! Amasse a banana e coloque na caneca, ali misture O ovo, o óleo, o mel, farinha de coco, fermento e se quiser, castanhas quebradinhas e o goji. Mexa bem e coloque no micro-ondas por 2minutos e 20 segundos potencia alta (observe seu micro, varia de acordo com cada aparelho). E delicie-se!!

Mirella Granato Dellazzari Souto

é mãe do Bento e do José. Advogada, empresária, pós graduanda em nutrição e cozinheira.

Selma Granato

é chef de cozinha e empresária. Real Gastronomia Funcional ~ whats 34 9 9922-1548 e instagram @realgastronomiafuncional






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ATMA PRÓXIMA EDIÇÃO

ALZHEIMER... Foto: Divulgação

enquanto os demais 95% são classificados como esporádicos. Dicas de prevenção da doença O caminho mais seguro para evitar Alzheimer em jovens, assim como em idosos, é a prevenção, que deve começar desde cedo, através de um estilo de vida com hábitos saudáveis e, principalmente, estímulos cotidianos ao cérebro. Confira algumas dicas: Atividades intelectuais - Manter o cérebro ativo, com pelo menos 15 minutos diários de estímulos cognitivos, é essencial. Procure sempre novos desafios, como aprender um novo idioma ou instrumento. Leitura, jogos de estratégia, quebra-cabeças ou memorização também são bastante indicados. Exercícios físicos - Atividades físicas regulares reduzem o risco de Alzheimer em jovens em até 50%, conforme especialistas. Exercícios moderados, com prioridade para jogos em equipe, com duração mínima de 30 minutos, entre 3 e 5 vezes por semana já são o suficiente para resguardar a saúde cerebral.

O Alzheimer é uma doença degenerativa grave e ainda incurável, que costuma se manifestar a partir dos 65 anos. Mas cada vez mais, o Alzheimer em jovens tem sido diagnosticada. Caracterizada pela degeneração progressiva e irreversível de certas funções cerebrais como memória, aprendizado, linguagem e pensamento abstrato, a patologia se divide em dois tipos: o primeiro, deno144 REVISTA ATMA

Dieta do Mediterrâneo - A chamada dieta mediterrânea, rica em vegetais, peixes e frutas contribui efetivamente para a nutrição do mimado “familiar”, acomete diversos cérebro, prevenindo diversos males membros de uma mesma família e e, principalmente, todos os tipos de tem relação direta com o fator here- demência. ditário e atinge toda faixa etária. Vinho tinto - Uma taça da bebida O outro é considerado “esporá- por dia é também uma boa aliada na dico” e apresenta causas ainda prevenção, graças aos flavonóides e indeterminadas, atacando somen- outros antioxidantes que oferece. Eles te pessoas a partir dos 50 anos, ajudam a proteger a atividade neurosem relação genética. Atualmente, lógica e previnem lesões cerebrais. a proporção de ocorrências é de apenas 5% para casos familiares, Fonte: www.doutissima.com.br






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