STÊVZ
A IMPORTANTE DAS PALAVRAS ORDEM É
COLEÇÃO SEM FIGURA
A etiqueta desconfia dos trocadilhos: medo dos não-ditos e de reviravoltas dos sentidos. Mas é assim que se prolonga a validade das palavras. E Stêvz as equaciona mostrando a versatilidade das coisas, comendo sua ordem natural pelas beiradas. É voda. MC
2 ª EDIÇÃO / RIO DE JANEIRO / 2013
ed i ç ão , ilus t r açõ e s , pro j e to g r á fi co e r e v i s ão
/ Stêvz
t e x to da o relh a e sq u er da
/ Maria Clara Carneiro
A IMPORTANTE DAS PALAVRAS ORDEM É
Stêvz, 2011
revistabeleleu.com.br
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PARA AS GÊMEAS
TODA E QUALQUER EMBALAGEM DE QUALQUER COISA QUE SEJA DEVERÁ VIR REDIGIDA, APENAS E TÃO SOMENTE, EM LETRAS GARRAFAIS E CAIXA ALTA, SEM MEIAS-PALAVRAS OU MEIAS-PORÇÕES, COM O PRAZO DE VALIDADE VISÍVEL E SEM TROCADILHOS NO TÍTULO
primeira parte
pela regulamentação das cascas de banana
comunidade cientĂfica
pesquisa pesquisa o que os pesquisadores tanto pesquisam
botânica
a planta carnívora de estimação do joão na verdade era vegetariana, o que fazia dela uma planta canibal
trânsito modelo
ao contrário do que se pensa, os engarrafamentos não surgiram com o automóvel: existem desde o tempo das navegações
coordenadas
minha terra tem setores onde moram superquadras
departamento de rimas cretinas
lá vem o horário de verão para apressar o cidadão
ponto de vista
o brasil ĂŠ a china da china
senso de direção
labirintite mesmo o minotauro ĂŠ que tinha
conteĂşdo
no fundo, todo mundo acha que bom mesmo ĂŠ mais recheio e menos massa
equação
quanto mais arranha-céu, menos céu
calculista
vai por mim, antes pedra no sapato que no rim
metafísica
de ontem em diante o amanhã é hoje
33 1/3 rpm
cautelosa ĂŠ a agulha da vitrola, que come o disco pelas beiradas
serendipite
sorte mesmo ĂŠ procurar agulha no palheiro e encontrar a filha do fazendeiro
galeria
hĂĄ algo de errado quando a moldura ĂŠ mais cara que o quadro
documento
a mentira tem perna curta, mas um pau desse tamanho
mau hábito
tem gente que diz que o apito é que faz o juiz
umbilical
o melhor amigo do egoísta é o próprio umbigo
higiene bucal
dentadura não tem cárie, mas também não lambe os beiços
decifra-me ou te devoro
a esfinge finge que sabe a resposta do enigma
física
não adianta ter medo do avião, e sim do chão
marchinha
o rato roeu a roupa do rei momo
segunda parte
semiótica no jardim de infância
fio dental
o chinelo ĂŠ o biquini do pĂŠ
caixa postal
o mar ĂŠ o correio dos nĂĄufragos
ectoplasma
a fumaça Ê o fantasma do cigarro
crossdressing
o guarda-chuva ĂŠ a bengala de vestido
pára-raio
o relâmpago é a idéia brilhante da nuvem
reforma ortográfica
o acento é a lâmpada da idéia
4’ 33”
a música é a pausa do silêncio
carcaça
o dominó é o dado desmontado
ambientalismo
o efeito estufa ĂŠ a menopausa da terra
concretismo
intervenção urbana é a cidade
relatividade
a morte ĂŠ um estado de espĂrito
etiqueta
caviar ĂŠ uma ova
fecha a conta
era um lugar que, de tĂŁo convencido, cobrava couvert por ouvido
beabรก
era uma sopa de letrinhas analfabeta
รณtica
era um olho mรกgico de truques baratos
polidactilia
era um proctologista cheio de dedos
versatilidade
era um sofรก-cama transformista
aparĂŞncia
era um lobo em casaco de pele de cordeiro
terceira parte
o ovo e a galinha atravessam a rodovia
loteria
13 - 36 - 69 - merda - merda
apagĂŁo
coronel mostarda com o castiçal na biblioteca
elementar
o mordomo matou o gato
ruminante
o tempo muge
inundação
não alimente o bueiro
resfriado
dariz endubido ĂŠ voda
anatomia
os pĂŠs justificam as meias
sorrateiro
o contra-filĂŠ Ă francesa chega sem avisar a ninguĂŠm da mesa
belelĂŠu
abel foi o primeiro a ir pro cĂŠu
evolução
que coisa feia, do topo da cadeia alimentar à cadeia
reviravolta
o mosquito do cocĂ´ do cavalo do bandido picou o mocinho, que morreu de dengue hemorrĂĄgica
saideira
os alquimistas estĂŁo saindo sem pagar a conta
classificados
procura-se par de botas de couro de cobra, tratar com judas
todos sabem
menos eu
nota de rodapĂŠ
vocĂŞ
linhas cruzadas
gilmar pediu a pizzaria em casamento enquanto vilma achava "uma calabresa grande" o pior pedido de desculpas que jĂĄ ouvira, alĂŠm de proposta muito indecente
quarta parte
nĂŁo-ditos impopulares
trauma
vĂŁo-se os anĂŠis, ficam os medos
o apressado come grama pela raiz
antes tarde do que morto
precaução
o seguro morreu de molho
oportunidade
a ocasiĂŁo faz o amigo
mão dupla
quando um não quer dois não brindam
inveja
o sol ĂŠ sempre mais quadrado na cela ao lado
prĂĄtica
dente mole em rapadura, tanto morde atĂŠ que fura
carrossel
casa de ferreiro cavalo de pau
cortesia
de cavalo alado nĂŁo se olham as penas
ramo errado
em terra de cego oculista vai Ă falĂŞncia
quebra-galho
cada macaco no seu porta-malas
meio-termo
lobisomem em lua crescente mal precisa de pente
abstinência
quem
não
bebe
não
treme
o amor é míope
o pior cego é aquele que não ama
este livro foi composto em chaparral pro e museo sans e impresso em papel pólen soft 80g/m² no inverno de 2013, sem dever nada a ninguÊm
Stêvz é brasiliense, quadrinista e músico. Editor do selo Beleléu, publicou o livro Aparecida Blues, com roteiro de Biu. Este é o seu primeiro livro solo.
Este livro não passa de uma brincadeira: saem os desenhos, ficam as palavras. Agora é com elas. — O Autor
ISBN ISBN978-85-912517-2-8 978-85-912517-2-8