Revista Biomassa World

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EDIÇÃO 01 | ANO - 01 ABRIL 2018

O futuro da geração de eletricidade a partir de biomassa florestal Breve histórico - Um caso de sucesso em Cristalina, Goiás

Melhoramento florestal do eucalipto para biomassa florestal




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A HISTÓRIA DA RENABIO NO BRASIL

O FUTURO DA GERAÇÃO DE ELETRICIDADE A PARTIR DA BIOMASSA FLORESTAL NO BRASIL

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ARBO - COOPERATIVA FLORESTAL BRASIL CENTRAL, UM CASO DE SUCESSO EM CRISTALINA, GÓIAS


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CARVÃO VEGETAL COMO UM PRODUTO BIONERGÉTICO DA MADEIRA PARA A UTILIZAÇÃO DOMÉSTICA

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MELHORAMENTO FLORESTAL DO EUCALIPTO PARA BIOMASSA FLORESTAL PARA ENERGIA

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Umidade, volume e densidade, o caminho para a eficiência da biomassa

O PAPEL DA WBA NO SUPORTE AO DESENVOLVIMENTO OU USO DA BIOMASSA FLORESTAL PARA ENERGIA NO MUNDO


Editorial A Bioenergia impulsionando o Brasil e o mundo! Dedicação, comprometimento e qualidade são as palavras que resumem a concretização deste trabalho. Deixamos aqui registrado o orgulho e gratidão aos colaboradores desta edição. A Revista Biomassa World é um espaço para impulsionar a expansão do uso da Biomassa Florestal como fonte de energia por meio da compreensão do setor e identificação das oportunidades de negócios. Não é nenhuma novidade que a economia do nosso país vem desafiando milhares de empresas. Atualmente as indústrias sofrem com a recessão, o que reflete diretamente no consumo de energia. Mas o que poucos sabem é que, mesmo em tempos de crise, ela vem entregando resultados muito interessantes aos seus investidores, principalmente aos que apostaram em épocas de alto consumo de energia. Quem é do setor sabe, ao fim dessa crise, a demanda pela energia será grande, e novamente a BIOMASSA será o recurso imediato para produção de eletricidade. Nossa missão com esse projeto é proporcionar conteúdo e apresentar informações relevantes do setor de biomassa florestal. Aprecie o conteúdo da revista eletrônica Biomassa World. Boa leitura...

Equipe Biomassa World.

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NESTA REVISTA Laércio Couto I Renabio Emilio Rietmann I Impacto Energia Glêison dos Santos I UFV/SIF Armando JB Varella I ARBO Ananias JR e José Brito I UFRRJ/IPEF Remigijus Lapinskas I WBA Celso Marrari I Marrari EDIÇÃO 01 | ANO - 01 ABRIL - 2018 Publicação ONLINE EXPEDIENTE Elton Busarello I Diretor Comercial Adalcir Bär I Projeto Gráfico Cleomara Caetano I Revisão Leidiane Cardoso I Administrativo Rodrigo J S Araujo I Jornalista Conselho Editorial Presidente Laércio Couto I University of Toronto Vice Presidente Glêison dos Santos I UFV Membros: Paulo F Trugilho I UFLA Azarias M de Andrade I UFRRJ Rinaldo Ferreira I UFRPE Rodrigo S do Vale I UFRA Christovão Abrahão I UFVJM Jorge Alberto G Yared I Embrapa Alexandre S Pimenta I UFRN Conselho Consultivo Presidente Toru Sato I Tecflora Vice Presidente João Comerio I Innovatech Membros: Germano Aguiar Vieira I Eldorado Brasil Emilio Rietmann I Impacto Energia Vilmar Berte I Replantar Armando JB Varella I ARBO Luiz C Ramires Junior I Ramires Reflortec Gilson Borin I Pelletbraz André L C Rocha I Agrotora CONTATO Comercial +55 (17) 3304 5877 Whatsapp +55 (17) 98122 0545 contato@biomassaworld.com.br www.biomassaworld.com.br



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A HISTÓRIA DA RENABIO NO BRASIL ser convidado e aceitar a missão, fui nomeado Brazilian Team Leader do Task 30, iniciando desta maneira, o meu relacionamento profissional com o Ministério de Minas e Energia e a IEA.

Laércio Couto Fundador e Presidente do Conselho Consultivo da RENABIO

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m Março de 2001, os Engenheiros Marcelo Khaled Pope e Manoel Fernandes Martins Nogueira, do Ministério de Minas e Energia (MME), participaram de uma reunião em Uppsala, Suécia, quando o Brasil foi convidado a participar da International Energy Agency (IEA). Os representantes do MME aceitaram o convite e promoveram posteriormente, uma reunião conjunta dos Tasks 30 e 31 entre os dias 25 de Agosto e 03 de Setembro em Brasília quando meu nome foi colocado pelos integrantes do Task 30 como o pesquisador brasileiro mais indicado para representar o Brasil naquele grupo de trabalho da IEA. Ao

Em 2002, atendendo solicitação da IEA Bioenergy e do MME, realizei por meio da Sociedade de Investigações Florestais (SIF), um evento conjunto do Task 30 e 31, em Belo Horizonte, Minas Gerais, no período de 28 de Outubro a 01 de Novembro. Aquele evento sobre biomassa florestal para energia, contou com o apoio do Departamento de Engenharia Florestal (DEF) e da Universidade Federal de Viçosa (UFV) bem como do Ministério de Minas e Energia. Naquele evento em Belo Horizonte, os dois representantes do MME, Marcelo Khaled Pope e Manoel Fernandes Martins Nogueira, sugeriram a criação de uma rede em Viçosa, no Departamento de Engenharia Florestal da UFV, para a divulgação de trabalhos e pesquisas na área de biomassa florestal para energia. Ali nascia a ideia da Rede Nacional de Biomassa para Energia (RENABIO), com foco em energia da biomassa florestal. Em 18 de Novembro de 2002, no Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa, na www.biomassaworld.com.br |

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condição de Professor do DEF-UFV, Diretor Científico da SIF e Brazilian Team Leader do Task 30 da IEA Bioenergy, tive o prazer e a honra de liderar um grupo de professores e pesquisadores para criar e presidir a RENABIO conforme havia sido prometido para os representantes do MME. A RENABIO, entidade civil sem fins lucrativos, com sede no Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa (DEF/UFV), na época de sua criação, criou seu website (www.renabio.org.br) e providenciou o lançamento do RENABIO News, da revista técnico-científica Biomassa & Energia, bem como o Informativo Técnico Renabio, o Boletim Técnico Renabio e o Documento Técnico Renabio. Na área de pesquisa, apoiou o projeto de doutorado do meu orientado Engenheiro Florestal Marcelo Dias Muller, junto a SIF e Cemig, sobre o plantio adensado de eucaliptos para produção de biomassa para energia em curta rotação. Em 2010, fui agraciado em Jonkoping, Suécia, com o World Bioenergy Association Award 2010 por esse trabalho científico, tendo competido com 75 pesquisadores de vários países do mundo. A área experimental instalada na empresa Aperam Bioenergia em Itamarandiba, Minas Gerais, foi utilizada posteriormente por várias teses de Mestrado na Universidade Federal de Viçosa e na Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri. Houve

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então uma reação em cadeia, com várias empresas, em várias regiões do Brasil, estudando o plantio adensado de eucaliptos para a produção de biomassa para energia. A exemplo as empresas: Ramires Reflorestamento no Mato Grosso do Sul, Suzano no Maranhão, GMR no Tocantins, Comigo em Goiás, Grupo Bertin, Usina Rio Pardo e Duratex em São Paulo e Energias Renováveis do Brasil na Bahia e Alagoas. Para colher as plantações adensadas de eucaliptos em curta rotação para a produção de biomassa para energia, realizei contatos com uma empresa na Inglaterra e com a New Holland na State University of New York em Siracuse, que atuavam principalmente na colheita de Willow e Populus. O melhor contato foi com a Bio Systems Engineering, da Austrália cujo CEO, Richard Sulman, havia desenvolvido o Bionic Beaver, testado naquele País, na colheita de eucaliptos para produção de cavacos para energia. Este é o equipamento mais adequado para ser introduzido no Brasil para a colheita de plantios adensados de eucaliptos destinados a produção de biomassa para energia em curta rotação. Tendo ocupado a posição de Presidente e Diretor Técnico da RENABIO, hoje, tenho a honra de ocupar o cargo de Presidente do Conselho desta ONG que tanto tem contribuído para o progresso do setor florestal brasileiro na área de biomassa para energia.

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O FUTURO DA GERAÇÃO DE ELETRICIDADE A PARTIR DA BIOMASSA FLORESTAL NO BRASIL

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om 14,5 GW de capacidade instalada, a fonte biomassa é a terceira principal fonte de geração de eletricidade no Brasil, ficando atrás das usinas hidrelétricas (101,3 GW) e das térmicas movidas a combustíveis fósseis (26,8 GW), segundo dados da ANEEL. Faz sentido, que num País onde o agronegócio tem tanta importância e uma vocação natural, que a biomassa esteja na linha de frente da geração de energia, e deveria ter um papel crescente no futuro, nesses tempos de mudanças climáticas e engajamento nos acordos firmados em Paris. Lembro que estamos falando de biomassa em geral e que mais de 80% da potência instalada mencionada acima tem no bagaço de cana seu principal combustível. Ainda mais, no último PDE (Plano Decenal de Energia), a EPE projetou que no período de 2020 a 2026 teremos uma expansão na potência instalada de biomassa de 3.204 MW. Grande parte dessa expansão ainda vem do bagaço de cana, já que a projeção de crescimento da biomassa florestal é de 400 MW. É um número tímido,

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considerando que o mercado regulado deveria ser o principal portão de entrada para a expansão da biomassa florestal na geração de eletricidade, correto? Eu sempre achei que sim, e imaginei que a necessidade de expansão da capacidade de geração térmica, para complementar a expansão das fontes eólicas e solar, poderia ser uma oportunidade de crescimento, já que podemos competir em preço com a fonte gás natural. No entanto não parece ser esse o entendimento da EPE, e, na verdade, temos que reconhecer que a biomassa florestal ainda não provou que pode ser uma fonte confiável de energia a longo prazo, o que é um fator primordial a ser considerado no planejamento da expansão. Mas ela tem diversas oportunidades de demonstrar seu potencial, senão vejamos. Em primeiro lugar, a biomassa florestal pode ocupar lugar de destaque como combustível complementar para as usinas movidas a bagaço de cana. Essas usinas ficam paradas durante 4 ou até 5 meses por ano por falta de combustível e a biomassa florestal


poderia aumentar essa disponibilidade de forma expressiva. O processo de queima de bagaço associado a cavaco de madeira nessas caldeiras é um assunto dominado e tenho visto diversas usinas em São Paulo queimar cavaco em momentos que o preço spot de energia atinge picos. Existem mecanismos nos leilões de mercado regulado para contemplar essa situação e obter receitas via CVU quando houver necessidade de usar esse combustível em uma usina. As maiores oportunidades, na minha opinião, encontram-se na geração distribuída. Desde 2014, a madeira também pode ser usada como combustível para unidades de geração com até 5 MW de capacidade instalada e, nesse caso, abastecer consumidores que estejam conectados em baixa tensão, que até agora não tinham outra alternativa senão comprar sua energia da Concessionária Local. A condição para isso é que o consumidor gere sua própria energia, mas acordos onde fornecedores de biomassa possam suprir essas plantas são uma alternativa bem atraente, visto que o custo de oportunidade dessa energia é elevado. Mais do que isso, em fevereiro último, o MME publicou o VRES – Valor de Referência Específico, que é o valor máximo que pode ser cobrado para contratos de geração distribuída firmados com as Concessionárias de energia. Dessa forma, uma concessionária poderia adquirir energia

para atender até 10% de sua demanda. Essa energia tem que ser gerada dentro da área de atuação da Concessionária e, no caso de biomassa, pode ter uma capacidade máxima instalada de 30MW, o que parece ser um tamanho adequado para essa fonte. A biomassa dedicada foi uma das fontes mais beneficiadas na definição do VRES, tendo atingido um valor de R$ 547,00/MWh. Somente para efeito de comparação, a biomassa residual recebe R$ 349,00/MWh e a eólica recebe R$ 296,00/MWh. Vamos torcer para que esse mercado se movimente, criando uma grande oportunidade para a biomassa florestal firmar-se como uma das fontes principais no País, a exemplo do que está ocorrendo com a eólica e solar.

Emilio Rietmann Presidente da Impacto Energia www.biomassaworld.com.br |

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ARBO - COOPERATIVA FLORESTAL BRASIL CENTRAL, UM CASO DE SUCESSO EM CRISTALINA, GÓIAS

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Um Breve Histórico.

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silvicultura comercial no Estado de Goiás já passou por diversas fases desde seu início no final da década de 60 e início da década de 70 no século passado. O Estado era muito extenso territorialmente falando, englobando também o que hoje é o Estado do Tocantins. Um enorme desafio administrativo com tantas diversidades de culturas, solos, vegetação, clima, recursos e principalmente dificuldades de acesso, locomoção e comunicação. O Distrito Federal recém-criado a pouco mais de 10 anos como o centro administrativo federal e Goiânia e seu entorno, canalizando o potencial de se tornar uma grande metrópole comercial e industrial, iriam requerer um planejamento a longo prazo de recursos madeireiros de rápido crescimento para uma expansão imobiliária e industrial em seu entorno, gerando o consumo de toras, madeira serrada e aparelhada, mourões, cavaco, maravalha, carvão, celulose e papel, além de garantir a conservação do solo, preservação e manutenção dos mananciais. O governo militar então iniciou estudos junto com especialistas da área em determinar quais seriam os melhores locais, em distâncias economicamente viáveis, ao redor do DF e Goiânia com condições adequadas de clima, topografia e solo para se alavancar projetos florestais de rápido crescimento e incentivar através de recursos federais sua introdução e manutenção. Dentre

as diversas possibilidades, se destacou a região do município de Cristalina. Município localizado na Serra dos Cristais, é um dos mais altos do Estado, com 1.200 metros de altitude em sua sede, 1422 mm de chuvas anuais, clima Cwb, com duas estações bem definidas, uma seca e outra chuvosa, temperatura amena de 20,1 C° e distante apenas 90 Km de Brasília. Estrategicamente bem localizada, ela se situa no entroncamento de duas importantes rodovias federais, a BR 050 vinda de São Paulo, passando pelo Triângulo Mineiro e a BR 040, vinda do Rio de Janeiro, passando por Belo Horizonte. Ambas dão acesso ao DF, Goiânia e ao Norte do Estado, com saídas para a região norte do país, nordeste e demais regiões do centro oeste. Cristalina era uma pequena cidade goiana que já contava com mais de meio século de existência desde sua fundação quando Brasília foi erguida, dentro de uma zona econômica considerada como um bolsão de miséria no entorno da nova capital federal, cuja economia se baseava na extração de cristais de rocha para ornamentação e artesanato, areia, criação extensiva de gado e centro fornecedor de mão de obra para construção civil. Com topografia, solo, clima e distancia favorável, água e mão de obra disponível, através do Governo Federal e recursos do FISET (Fundo de Investimento Setorial do Banco do Brasil), foi incentivado empresas a investirem em projetos de reflorestamento na região com contrapartida de redução do Imposto www.biomassaworld.com.br |

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de Renda e outras vantagens fiscais. Este incentivo atraiu para a região diversos projetos de reflorestamento de Eucalipto e Pinus que por sua vez trouxeram em sua cadeia econômica outras empresas como de prestação de serviços mecanizados, de mão de obra, de transporte, venda de peças, manutenção mecânica, produção de mudas, material de irrigação, etc, alavancando o comércio local e incentivando o empreendedorismo comercial em diversos segmentos, como alimentação, hotelaria, abastecimento e outros mais. Terra barata, recursos federais e muita vontade, em pouco tempo o município redesenhou sua economia, paisagem e população. Empresas como Rebrace, Florest, Brasil Verde, entre outras proporcionaram à região um novo modelo econômico, técnico e cultural determinando fortemente a primeira fase profissional de uma silvicultura comercial no Estado, gerando recursos florestais, emprego e renda. Os primeiros consumidores desta madeira foram as olarias e cerâmicas da região e de Minas Gerais que produziam telhas e tijolos para o crescimento do DF e Goiânia. Cristalina forneceu muita lenha para este segmento, seguido de fábricas de cimento que consumia vorazmente. Passados alguns anos, projetos de abatedouros e frigoríficos de carnes, aves e suínos chegavam ao estado, necessitando de mais lenha. Fábricas de balas, curtumes e demais segmentos aumentavam a demanda. Com a descoberta de minas de fosfato

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na região de Catalão, Goiás, distante a apenas 180 km de Cristalina, trouxe toda uma cadeia produtiva de fabricação de fertilizantes que passaram a consumir mais lenha, iniciando uma segunda fase na silvicultura goiana, buscandose implantar materiais genéticos mais compatíveis com esta necessidade de mercado e exigência de volume e poder calorífico. Esta segunda fase perdurou até início dos anos 80. No início da década de 80, alguns agricultores perceberam o imenso potencial do solo da região para produção de grãos, soja e milho, principalmente para sementes. As primeiras tentativas em larga escala foram feitas, com resultados muitos promissores. Rapidamente a notícia correu o país de ponta a ponta provocando uma onda migratória de produtores, principalmente do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, onde o cultivo de soja já era mais tradicional, mas com um custo de produção muito elevado e terras muito caras. Um pequeno agricultor com 80 a 100 há de terra no interior do Paraná, poderia vender sua propriedade lá e adquirir 500 a 1000 há na região de Cristalina na época. Esta onda migratória trouxe rapidamente algumas consequências: Aumento do valor da terra, aumento do custo de vida, aumento por consumo de energia, aumento do valor de frete, aumento do valor imobiliário, aumento da quantidade de biomassa disponível para venda em função dos desmatamentos e abertura de áreas. Este último impactou


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bastante o setor de reflorestamento com florestas energéticas, como era chamado na época. As empresas consumidoras de matéria prima florestal não se importavam se a lenha que compravam vinham de um manejo consciente e elaborado para tal fim, com capacidade de poder calorifico melhor que as vindas de cerrado aberto pela nova fronteira agrícola que se instalava e se expandia. Queriam preço baixo, independentemente do tipo de madeira. Isto colocou o segmento de reflorestamento numa terceira fase, de competição pela sobrevivência. Muitas empresas fecharam, projetos foram exauridos ao longo do tempo e não repostos. A terra valia mais que o ativo florestal que estava sobre ela. Compensava mais vender, lotear, arrendar ou plantar soja e milho. Em meados da década de 80, com o crescimento das exportações de ferro gusa e ferro liga e o crescimento da indústria de construção civil, com obras federais em todo pais, a produção siderúrgica deu um salto, abrindo novas usinas em diferentes pontos, principalmente na região de Sete Lagoas e entorno, passando a consumir muito carvão. O Estado de Minas ainda não era autossuficiente em florestas comerciais e passou a consumir vorazmente toda a demanda reprimida de biomassa florestal do Estado de Goiás quer seja de cerrado oriundo das aberturas de áreas das novas frentes agrícolas ou de reflorestamento, agora sob a forma de carvão, pagando bem pelo produto colocado em seus autos fornos, dia

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e noite. Iniciava-se a quarta fase na silvicultura goiana. Novos conceitos tiveram que ser aprendidos e adaptados, parâmetros de produção, qualidade, eficiência, logística, treinamento de mão de obra, novas técnicas de manejo introduzidas, como a busca de novos cultivares mais indicados para produção de carvão e atender as suas exigências técnicas. Com o advento da clonagem, passou-se a usar clones ao invés de material seminal, aumentando e melhorando a produtividade e padronizando as florestas plantadas, quase todos de origem mineira, ainda não plenamente adaptados as condições da região. Nesta nova fase já se fazia em termos de mercado uma distinção em preço de carvão de origem de cerrado contra carvão de florestas plantadas, considerando que este último proporciona uma eficiência energética muito maior e consequentemente o custo da energia térmica produzida por ele é bem menor. Com o passar do tempo a quantidade de biomassa de cerrado foi diminuído e as leis federais passaram a proibir sua comercialização fazendo a balança econômica voltar favoravelmente novamente ao setor florestal. Foi uma das melhores fases do setor até hoje. As poucas empresas que investiram e sobrevirem a terceira fase, adquiriram novas áreas, plantaram mais, investiram em pessoal e maquinário, abrindo novas frentes de comercialização como secadoras de grãos e frigoríficos. No início da década de 90 até o início


do novo século, grandes empresas de secagem de grão, laticínios, indústrias alimentícias de enlatados, frigoríficos, atraídas pela alta produtividade de grãos e pelo uso sistemático da irrigação, começaram a chegar a região aumentando em muito a demanda por lenha. O preço do produto florestal foi aumentando cada vez mais devido a existência de pouco material disponível em face do aumento vertiginoso de consumo nos últimos anos com este crescimento industrial do segmento de grãos e proteína animal. Houve período que se chegou a pagar de R$ 80,00 a R$ 100,00 o metro estero de lenha colocado na indústria.Com preço elevado e mercado consumidor garantido, surgiram diversos comerciantes de lenha, chamados de atravessadores, que compravam as florestas em pé, muitas vezes por preços abaixo do mercado e se valendo da pouca experiência no segmento do produtor e tempo de se dedicar ao negócio madeireiro de seus proprietários, ou até mesmo o expropriando na metragem, vendendo esta lenha a preços muito mais vantajosos a eles, mas remunerando ao preço acordado entre ambas as partes. Este consumo seguro fez com que muitos agricultores incentivados por esta demanda aparentemente crescente, se entusiasmassem e plantassem pequenas e médias florestas em suas propriedades, em áreas de difícil mecanização ou não aptidão para lavouras, mas sem perder a qualidade de manejo e trato, seguindo fielmente

conceitos agronômicos e silviculturais, como calagem, gessagem, adubações parceladas na época certa, mudas de boa procedência, limpeza e controle de pragas. Esta motivação gerou em poucos anos num raio de 100 km ao redor de Cristalina, mais de 45.700 hectares de florestas de excelente qualidade e produtividade. Em 2004 a 2008, diversos pequenos viveiros florestais surgiram na região, proporcionando mais emprego e renda. Prestadoras de serviços de plantio chegaram a ser criadas, venda de equipamentos, assistência técnica, etc. se expandiram. Era o início da quinta fase da silvicultura comercial na região. Hoje Cristalina possui as melhores e mais produtivas florestas de eucalipto do Estado de Goiás com IMA superando muitas vezes 60 m³/ha ano. Com as alterações das políticas do governo, crise política, instabilidade monetária e de investimentos, desemprego em massa a crise iniciada em 2014/2015, as empresas do setor de alimentos, secadoras, abatedouros, frigoríficos retraíram seu investimentos e produtividade. Houve a partir de 2014 uma nova readequação no mercado atingindo em cheio o setor de florestas plantadas produtoras de energia, exatamente quando seus plantios iniciariam a fase de produção e colheita. Os preços despencaram, chegando a ser vendido na região a R$ 50,00/mst CIF. Pode-se imaginar por quanto os atravessadores estariam comprando esta lenha nas fazendas. Isto foi um balde de água fria no produtor. O mesmo www.biomassaworld.com.br |

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se retraiu. Os que possuíam florestas pequenas, as venderam e transformaram em pasto ou deram outro destino. Outros, a maioria na verdade, manteve a floresta e não sabia o que fazer com ela, aguardando uma melhora no preço de mercado, porém sujeito a incêndios, roubo de madeira, pragas, etc. Porém um grupo de 32 produtores buscou uma outra saída. Pensaram como se diz, fora da caixa: Se a margem de lucro está em boa parte nas mãos dos atravessadores, vamos elimina-los da equação. Se a floresta é nossa e a biomassa resultante é de interesse das empresas consumidoras, vamos nos organizar e garantir abastecimento continuo, por longo prazo, com qualidade superior, logística adequada, técnica e preço adequado ao produtor, proporcionando ao cliente um relacionamento muito mais profissional, seguro, transparente, legalmente instituído e proporcionando ao mesmo, vantagens fiscais indiscutíveis. Vamos criar a primeira Cooperativa Florestal do Estado de Goiás e reorganizar o mercado regional de madeira de origem de florestas plantadas! Em fins de 2014, nasceu a ARBO Cooperativa Florestal Brasil Central. Legalmente constituída passou-se um ano até que entrasse efetivamente no mercado, afiliada a OCB/GO-Organização das Cooperativas do Brasil, possui em seu quadro Engenheiros Florestais, Técnicos e Agrônomos. Se balizando pelas decisões e acompanhamento sistemático no dia a dia nos CAD (Conselho Administrativo)

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e COF (Conselho Fiscal) que se reúnem mensalmente para deliberações, análises, apresentação de resultados, projeções e investimentos em novos negócios. Em pouco mais de um ano, todos os atravessadores deixaram o mercado de madeira regional, migrando para outros segmentos. Alguns inclusive nos ajudando a localizar novos possíveis clientes e captando novos cooperados. O Preço médio da lenha aumentou 5% em termos reais em 10 meses, o volume de vendas cresceu e a fidelização do cliente se estabilizou. A silvicultura Goiana e em especial do polo de Cristalina está entrando em sua sexta fase. O mercado de fornecimento de cavaco em substituição a lenha. Goiás que ainda é movida a lenha, a reboque em comparação a outros estados, está se modernizando, lentamente é verdade, mas está no caminho certo. Antigas caldeiras ainda trabalham sofregamente em muitas indústrias da região, mas percebemos que o cavaco será um novo produto oriundo de nossas florestas. As vendas têm aumentado mensalmente e as consultas por pedidos vem crescendo, inclusive uma proposta recebida recentemente de uma grande rede de hipermercado em comprar carvão ensacado para churrasco. Armando JB Varella Superintendente da ARBO


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CARVÃO VEGETAL COMO UM PRODUTO BIONERGÉTICO DA MADEIRA PARA A UTILIZAÇÃO DOMÉSTICA Professores: Ananias Francisco Dias Júnior - UFRRJ e José Otávio Brito - IPEF

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carvão vegetal tem sido essencial para a humanidade desde longa data, existindo inúmeras possibilidades para sua utilização. Como matéria prima ou fonte de energia, associa-se o seu uso na indústria química e farmacêutica, mas é na siderurgia e metalurgia que a sua utilização é ampla e fortemente difundida. As pesquisas realizadas no Brasil em relação à qualidade do carvão vegetal têm sido voltadas, principalmente, para as demandas do setor siderúrgico, devido ao caráter econômico fortemente envolvido nesta cadeia produtiva, sendo escassos, consequentemente, os estudos voltados para os aspectos do carvão vegetal para fins de cocção. Todavia, segundo o autor, para os consumidores, o seu uso mais comum é para a cocção de alimentos ou popularmente conhecido como churrasco, por meio do qual se tem o contato direto com o produto.

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Para atender as diversas aplicações, a atividade carvoeira no Brasil é líder mundial em produção e, ao mesmo tempo em consumação, porém tem se evidenciado que ainda é caracterizada pelo pouco reconhecimento e valorização do setor, sendo muitas das vezes relacionada à discriminação, marginalização e ao pouco valor econômico, ambiental e social. É importante mencionar que tais fatos não se difundiram em função das atuais pressões ambientais que vem sendo feitas com o intuito de proteger o planeta. Isso é decorrente de diversas manifestações de um mau julgamento técnico e que até hoje implica em alguns mecanismos de utilização. Exemplo disso é o de que, há algumas décadas, após a sua produção era imposto que o seu armazenamento fosse feito por um período de oito dias a fim de evitar combustão espontânea. Além


disso, recomendações para sua rápida utilização, uso imediato (não armazenar) e até o desprestígio pela aquisição e utilização do carvão oriundo de pequenos produtores (argumento de produção não controlada) eram práticas observadas no Brasil e em alguns países da Europa. Hoje, já se sabe que o carvão necessita de elevada temperatura para iniciar a combustão assim como, a técnica da carbonização é bem conduzida e dominada pelos produtores de carvão no país. As metodologias utilizadas para produção de carvão vegetal no país, em boa parte, ainda são artesanais, e apesar de diversos estudos sobre o tema, ainda não há planos estratégicos de controle de qualidade voltados para averiguação do carvão através da rastreabilidade do produto que sai do forno até o consumidor final. São vários os meios de produção do carvão, assim como os trabalhos de logística, que envolvem desde a sua obtenção, passando pelo empacotamento, transporte e armazenamento até a disponibilização ao consumidor. O produto pode ser adquirido no mercado varejista em diferentes categorias comerciais, como supermercados, casas

de carnes, auto postos de combustíveis, padarias entre outros. A sobrevivência do setor dependerá da valorização da cadeia, englobando os diversos agentes envolvidos na produção, distribuição e comercialização, mas acredita-se que para isso será preciso a participação ativa dos consumidores introduzindo as suas necessidades aos produtos, como forma de contribuição para o fortalecimento do setor. No Estado de São Paulo no ano de 2000, o Sindicato de Carvão e Lenha (SINCAL), com o apoio do Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas de São Paulo (SEBRAE/SP) promoveu o lançamento do Prócarvão. Por meio deste, o programa envolveu um bom número de micro e pequenas empresas, onde se observou que as mesmas encontravam-se desestruturadas e despreparadas para atenderem minimamente as demandas sociais, culturais e econômicas a elas impostas (PRÓCARVÃO, 2000). Esta iniciativa culminou com a criação do Selo Carvão Premium do Estado de São Paulo regido pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA), a Resolução SAA n°. 10 de 2003. De adesão voluntária, ela atribui requisitos mínimos para as características do carvão vegetal

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para cocção de alimentos (churrasco) e para o atendimento de exigências legais, ambientais e sociais durante a sua produção. Essa resolução foi atualizada onde atualmente vigora a Resolução SAA n°. 40 de 2015, com algumas alterações em relação a do ano de 2003. Não obstante, além do Estado de São Paulo ser o pioneiro a subsidiar, mesmo que de adesão voluntária, mecanismos para controle de qualidade dos produtos distribuídos no Estado, o mesmo oficializou no ano de 2014, junto a Câmara de Produtos Florestais, a Comissão Especial em Carvão Vegetal do Estado de São Paulo (CECV/SP). Dela participavam produtores de carvão vegetal com objetivos de atender o comércio de carvão para a cocção de alimentos. Integravam a ela ainda, comerciantes, gestores, agentes ambientais, sociais e de saúde pública e diversos interessados na sua cadeia produtiva. Importante ainda ser mencionado, que existem no Estado de São Paulo unidades produtoras de carvão (para fornecimento doméstico) que podem ser consideradas exemplos do seguimento. Apesar da utilização de fornos considerados artesanais, as unidades se apoiam em boas práticas de qualidade, rastreabilidade e bom exemplo de trabalho funcional, já que observa a boa conduta frente a força de trabalho. Mesmo sendo um trabalho considerado “duro”, é possível produzir atendendo aos diversos aspectos que permeiam a sua produção. As ações ecoaram e as

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unidades recebem constantes visitas de comitivas internacionais, como da África Subsaariana, com vistas a adequar o modelo produtivo de seus países, assim como participam de programas exclusivos frente a diversos meios de comunicação (Discovery Chanel). A unidade contribui ainda com Instituições de educação e pesquisas visando adquirir conhecimentos para posteriormente serem incorporados no sistema produtivo, e mais recentemente, buscam a adequação e exportação para países dos continentes Norte Americano e Asiático. Apesar da existência de normas de padronização, como as da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que regulamentam ensaios e análises no carvão vegetal, a resolução Selo Carvão Premium é a única disponível na federação brasileira com caráter de padronização visando a qualidade dos produtos distribuídos. Sabe-se que na Europa e nos EUA existem normas oficiais que estabelecem parâmetros mínimos de uso de combustíveis, como para carvão, briquetes e dos aparatos envolvidos utilizados na cocção de alimentos. As normas citadas, no entanto, abordam somente as características regulares do carvão vegetal, enquanto que outras particularidades, como o caso da presença de compostos, potencialmente tóxicos, não é levada em consideração. É o caso, dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) considerados mutagênicos e carcinogênicos e que


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têm recebido atenção especial da Food and Agriculture Organization (FAO), World Health Organization (WHO), International Agency for Research on Cancer (IARC) e destacados em diversos estudos pela capacidade de contaminar os alimentos. Os níveis máximos admitidos de HPAs, em certos gêneros alimentícios, estão fixados pela legislação europeia através da Comissão de Regulamentação (CE) 208/2005. O carvão vegetal quando mal produzido (tempo e/ou temperatura insuficiente para a total carbonização) pode possibilitar um maior risco de contaminação dos alimentos por compostos tóxicos. Há referências que indicam que mais de 4 milhões de mortes foram atribuídas à poluição atmosférica doméstica (HPA) em todo o mundo em 2012. A exposição frentes aos gases da combustão da biomassa aumenta o risco de sintomas respiratórios crônicos, principalmente, entre as pessoas de baixa renda, que têm na biomassa a principal fonte de energia. Vale mencionar que, na região de Uganda, Leste Africano, os compostos tóxicos derivados de biomassa de má qualidade são os maiores causadores de doenças pulmonares. Essas informações reforçam o sentido de valorizar a cadeia produtiva do carvão vegetal, sendo que para isso, os consumidores devem compreender e valorar o produto que os permeiam. Diante desses aspectos, uma prática efetiva de interação com o consumidor contribuiria com a melhoria

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da cadeia produtiva do carvão vegetal, aumentando a eficiência de produção, redução de custos, capacitação da força de trabalho e ampliação de mercados e novos clientes, possibilitando a harmonia do setor. Em termos de qualidade, a sazonalidade é outro fator muito importante. A manutenção da disponibilidade do produto nas prateleiras (neste caso do carvão vegetal), ao longo do tempo, promove um feedback de informações que suportem decisões estratégicas com o intuito de melhorar a qualidade do carvão e adaptá-lo, quando necessário, às necessidades do consumidor. Isso poderia culminar, por exemplo, com a constante disponibilidade do produto aos consumidores no momento da compra. Para finalizar, o consumidor precisa considerar a qualidade do carvão vegetal da mesma forma que considera a cerveja, a carne ou os legumes utilizados no churrasco. Para isso, deve estar atento ao adquirir produtos que atendam aos quesitos mínimo de qualidade, sociais e ambientais. Respeitando-se isso, vamos continuar fazendo nosso churrasco. Essa valorização resultaria na melhoria de toda a sua cadeia produtiva que, há um bom tempo, vem exigindo atenção especial, por envolver centenas de milhares de agentes, desde a produção até a comercialização.



MELHORAMENTO FLORESTAL DO EUCALIPTO PARA BIOMASSA FLORESTAL PARA ENERGIA PESQUISA DESENVOLVIDA NA SIF/UFV, REVELA MÉTODO QUE REDUZ TEOR DE CLORO NA BIOMASSA FLORESTAL EM ATÉ 91%

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teor dos elementos minerais na biomassa vegetal varia principalmente em função da necessidade da planta, disponibilidades no solo e entre espécies/clones. Os minerais são encontrados em vários órgãos e tecidos dos vegetais. O acúmulo de alguns componentes minerais no processamento industrial da biomassa desencadeia uma série de problemas na indústria como entupimentos, corrosões e incrustações. Tais infortúnios podem provocar a redução da vida útil dos

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materiais e interferir na produtividade industrial, levando ao aumento de custos do processo de produção. O Cloro (Cl) é um dos principais minerais que promovem essa corrosão de tubos e caldeiras. Diante da importância da redução do teor deste elemento na biomassa florestal o professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Glêison dos Santos foi procurado pelo grupo empresarial Forestalia, que se dedica a projetos de energias renováveis (eólica, fotovoltaica e biomassa) na Espanha, França e Itália,


para verificar como o Melhoramento Florestal poderia ajudar a reduzir o teor de cloro na biomassa. Um dos trabalhos realizados com o objetivo de avaliar a possibilidade de reduzir a quantidade de cloro na biomassa de Eucalyptus, foi a lavagem da biomassa em água corrente. Os testes foram realizados em biomassas da copa (galhos e folhas) e fuste provenientes de florestas de Eucalyptus benthamii e Eucalyptus dunnii, ambas com 3,0 anos de idade. As biomassas foram lavadas em água corrente, com diferentes volumes de água, em relação ao volume das biomassas. A pesquisa avaliou 5 níveis (tratamentos) de lavagem da biomassa. Os resultados surpreenderam ao revelar a possibilidade de reduzir o teor de cloro na biomassa total (galhos, folhas e tronco) em até 91% para a biomassa de E. dunnii e 65% para E. benthamii. Segundo o professor, essa maior redução de cloro na biomassa total de E. dunnii, deve-se ao fato que o mesmo possui copa mais densa (com mais folhas) quando comparado com a biomassa total de E. benthamii e como a concentração de cloro é maior nas folhas, a biomassa total que contém maior percentagem de folhas e galhos apresenta maior redução no teor cloro.

solúvel nas plantas, isso acontece porque ele não participa de nenhum componente estrutural (formando compostos orgânicos) na formação dos tecidos. Ou seja, ele está livre nas células e não está ligado em outros compostos, de maneira que não possa ser retirado. Assim, a água tira o cloro por “arraste”. Além disso, a maior concentração de cloro está nas folhas, onde ele participa do controle osmótico (abertura e fechamento de estômatos). Por sua vez as folhas são tecidos tenros, o que facilita ainda mais o arraste do cloro promovido pelo processo de lavagem com água. Ademais ao referido trabalho, também se está discutindo com a empresa Forestalia um programa de melhoramento genético específico para selecionar progênies e clones de Eucalyptus que apresentem geneticamente uma menor fixação de cloro em seus tecidos vegetais, trabalhos preliminares indicam que a seleção na direção de menor percentual de cloro na biomassa é possível. Glêison dos Santos Professor Melhoramento Florestal da UFV e Diretor Científico da SIF Caio Oliveira Mestrando em Ciência Florestal pela UFV

O professor explica ainda, que é possível reduzir o cloro lavando a biomassa, porque o cloro é altamente www.biomassaworld.com.br |

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Umidade, volume e densidade, o caminho para a eficiência da biomassa Celso Marrari - CEO Marrari

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s processos industriais exigem controle rigoroso sob a pena de resultarem em produtos de baixa qualidade ou custos de produção elevados. Neste artigo você conhecerá como caracterizar materiais de acordo com o teor de umidade, volume, densidade, e como essas informações podem resultar em maior eficiência do processo. Além disso, você conhecerá quais as tecnologias disponíveis para medição de umidade, volume e densidade, suas aplicações, vantagens e desvantagens.

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UMIDADE O teor de umidade é um parâmetro que afeta inúmeros processos de utilização da biomassa:

Biomassa para combustível de caldeiras O teor de umidade de um combustível impacta diretamente na sua capacidade de geração de energia. O poder calorífico do combustível diminui com o aumento do teor de umidade. Conhecer o teor de umidade da biomassa que alimenta uma caldeira geradora de vapor é essencial para manter uma operação estável e economizar combustível, garantindo alta performance. Além


disso, a caracterização da biomassa no seu recebimento garante a justa remuneração do fornecedor, afinal, o objetivo é a compra de energia (Kg/kcal).

Cavacos de madeira para celulose Na entrada do digestor, tipo batch ou contínuo, conhecer o teor de umidade dos cavacos de madeira é essencial para a correta dosagem de produtos químicos e tempo de processo. Os resultados são o maior aproveitamento da madeira (menor perda de fibras e menor índice de palitos), o menor consumo de álcalis e, ainda, a estabilidade do número Kappa. Estes ganhos podem representar muitos milhões de reais no balanço geral de uma fábrica de celulose. Ainda na área de produção de celulose, a aquisição de madeira em toras pode ser mensurada e caracterizada medindo-se o teor de umidade dos cavacos produzidos, o que gera remunerações mais justas e maior controle de entrada de matéria prima.

VOLUME Outro aspecto importante no controle dos processos é a quantificação dos materiais recebidos ou em processamento. A solução tradicionalmente utilizada são balanças de vários tipos: balanças rodoviárias, balanças de fluxo ou ainda integradoras. Os medidores de volume quantificam

materiais a granel movimentados em esteiras transportadoras. De aplicação muito simples – não exige modificações mecânicas no transportador – o sistema oferece alta precisão e pode ser aplicado em qualquer tipo de transportador de correia: correia plana, correias em V, transportadores fechados e até mesmo em transportadores de taliscas. As balanças integradoras ou de fluxo apresentam várias dificuldades de aplicação: instalação mecânica, alterações no transportador, roletes calibrados, dificuldades na calibração, precisão das medições ao longo da utilização, etc. Por outro lado, os medidores de volume foram desenvolvidos para resolver muitas dessas dificuldades, pois possuem instalação muito simples, não exigem modificações mecânicas no transportador, a calibração é feita por padrões, os erros causados pela deformação mecânica do transportador são eliminados e sensíveis mesmo com materiais com baixo volume ou baixa densidade. A precisão e o desempenho é garantido pela tecnologia laser de alta precisão e velocidade. O conjunto destas características resulta num sistema simples, robusto e preciso. Na medição de materiais cujo teor de umidade é variável, os medidores de volume podem receber a informação de umidade e compensar as variações de densidade provocadas pela umidade. www.biomassaworld.com.br |

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Áreas de aplicação dos medidores de volume Balanço de massa em caldeiras Quantificar o volume de biomassa fornecido a uma caldeira permite medir o desempenho da caldeira em tempo real e assim atuar de maneira a otimizar o processo. Em caldeiras que utilizam um mix de combustíveis o sistema é ferramenta fundamental para dosar cada um dos componentes e assim obter o melhor rendimento da caldeira e do combustível. Nas caldeiras que utilizam bagaço de cana como combustível há um ganho adicional, pode-se mensurar a quantidade de bagaço de cana que foi estocado para consumo nos períodos de entressafra.

Produção de cavacos de madeira para celulose Medir o volume de toras na entrada de um picador e também o volume de cavacos produzidos é tarefa simples para o sistema. Com a medição do volume de toras pode-se otimizar o rendimento do picador, este trabalhará no regime ótimo de produção ajustando o volume de toras na entrada. Por outro lado, a medição de volume na saída permite o controle preciso do estoque de cavacos e facilita os inventários de matéria prima disponível.

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DENSIDADE Uma aplicação específica para o setor de produção de celulose envolve a utilização simultânea de medidores de umidade e volume. Na alimentação de digestores contínuos ou batch é muito importante o conhecimento do volume de cavacos, do teor de umidade e de sua densidade aparente. Estes parâmetros permitem um controle muito mais eficaz do processo aumentando o rendimento do digestor. Para isso são utilizados os medidores de volume (acoplado a uma integradora) e de umidade na linha de alimentação do digestor. As informações obtidas permitem o cálculo da massa seca de madeira, da quantidade de água e da densidade aparente dos cavacos (que se correlaciona com a densidade básica da madeira). Com essas informações o controle do digestor é mais eficaz e proporciona: a) Melhor aproveitamento da matéria prima (redução de palitos e da perda de fibras); b) Redução no consumo de álcalis no processo; c) Redução de produtos químicos no branqueamento; d) Estabilidade do Kappa, permitindo o trabalho mais próximo ao limite.


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O PAPEL DA WBA NO SUPORTE AO DESENVOLVIMENTO OU USO DA BIOMASSA FLORESTAL PARA ENERGIA NO MUNDO

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World Bioenergy Association (WBA) é a organização global dedicada a apoiar e representar a ampla gama de entidades no setor de bioenergia. Nossos colaboradores incluem organizações de bioenergia, instituições, empresas e pessoas físicas. Desde sua fundação em 2008, a WBA tem trabalhado para resolver uma série de questões prementes, incluindo certificação, critérios de sustentabilidade, promoção da bioenergia e os debates sobre o impacto da bioenergia. A WBA possui 201 membros em 50 países - África (24), Américas (28), Ásia (32), Oceania (7) e Europa (110). Através de nossa rede de membros, a WBA

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estima ter uma audiência de mais de 100.000 pessoas trabalhando no setor de bioenergia e energias renováveis. Nosso papel é promover a crescente utilização da bioenergia globalmente de maneira eficiente e sustentável e apoiar o ambiente de negócios para a bioenergia, com as mais diversas atividades, como: • Melhorar as estatísticas globais de bioenergia; • Publicação de materiais informativos sobre temas bioenergéticos; • Banco de dados global de fabricantes de equipamentos; • Fazer lobby a nível regional e global em prol da bioenergia;


• Auxiliar no desenvolvimento de critérios de padronização e sustentabilidade para bioenergia;

• Limpeza de gás;

• Ajudar a formação de novas associações de bioenergia globalmente;

• Consultoria.

• Organizar e participar de workshops, eventos paralelos e conferências em todo o mundo; • Fornecer conhecimentos técnicos no desenvolvimento de planos de ação de bioenergia; • Colaboração com organizações internacionais - REN Alliance, IRENA, REN21, UNFCCC, ISO, etc. Destacando-se o banco de dados global de fabricantes de equipamentos que é um banco de dados abrangente de empresas fabricantes de equipamentos para a indústria de bioenergia. O objetivo é facilitar o conhecimento e transferência de tecnologia entre clientes que procuram equipamentos de bioenergia e empresas que buscam vender equipamentos de bioenergia. O diretório é composto por empresas classificadas de acordo com o setor:

• Segurança e Monitoramento;

Dentro dos mais diversos trabalhos a WBA possui um o relatório Global Bioenergy Statistics é a principal publicação anual da WBA. O relatório centra-se no desenvolvimento global da biomassa para o fornecimento, produção e consumo de energia. Os dados são apresentados em diferentes níveis geográficos - global, continental e regional. Três relatórios (2014, 2015 e 2016) foram publicados até agora e foram baixados por governos, instituições financeiras, universidades e empresas. O acesso para participar como membro jurídico ou individual é muito simples, por intermédio do site: http://worldbioenergy.org

• Cadeia de fornecimento de biomassa, agricultura, silvicultura e resíduos; • Combustão (fornos a pellets e caldeiras); • Gaseificadores de biomassa; • Biomassa para pellets; • Biomassa para biocombustíveis líquidos (Etanol, Biodiesel, etc.); • Biomassa para biogás; • Biomassa para outros biocombustíveis sólidos (carvão vegetal, biomassa torrefada, etc.);

Remigijus Lapinskas Presidente Mundial Laércio Couto Vice-presidente para a América do Sul www.biomassaworld.com.br |

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