[lido, Dória] Roteiro da HQ de Jackson do Pandeiro_Débora Nascimento (a partir das falas dele colhidas em entrevistas) Balão Eu sou da Paraíba, meu camarada. Muita gente pensa que eu sou pernambucano, outros pensam que eu sou baiano. Sabe como é, todo crioulo… pensa logo que é da Bahia. Não sou. Eu sou da Paraíba, de Alagoa Grande. Meu nome é José Gomes Filho. Off Primogênito do oleiro José Gomes e da cantora de coco Flora Mourão (Flora Maria da Conceição), José Gomes Filho nasceu na Rainha do Brejo, como também era chamada Alagoa Grande, cidade distante 112 quilômetros de João Pessoa, que possuía 26 engenhos de cana-de-açúcar. Off O menino, descendente de índios e negros, cresceu numa casa de taipa perto do segundo açude do Engenho Tanques. Brincava nas águas do Rio Mamanguape e da Lagoa do Paó e à sombra dos frondosos cajueiros ao redor. Certa vez, a dona de um circo o viu e tentou comprar o garoto da mãe. Flora negou e, com medo de o filho ser sequestrado, o trancou em casa, só liberando após a debandada da trupe. Jackson acompanhava sua mãe nas apresentações dela pela cidade. Balão “No tempo de cinema mudo, tinha muito artista com nome de Jack, Jacques, Jackson, era uma imundície de Jackson. Então eu, moleque, brincando de artista, escolhi o nome de Jack. Mas, depois, o tempo vai passando, minha mãe quis dar pancada em mim. Uma vez ela disse assim: ´Mas é danado mesmo, batizar um filho com o nome de José e ver trocarem o nome assim pra Jack'. Eu digo: 'Mas, mãe, isso é por causa do cinema.' – 'Que cinema o quê, diabo!'.” Balão “Minha mãe era uma senhora que cantava coco, quando nova. Não tinha problema enquanto meu pai estava vivo. Enquanto ela cantou coco, o negócio foi muito bem, tudo positivo.” Off Quando José Gomes faleceu em 1930, a família enfrentou necessidades.
Balão “A minha cidade, rapaz, não sei se melhorou, não. Eu acho que faz mais de 900 anos que eu saí de lá. Mas eu até gostava de lá, entende, nego véio? Porque tinha o trem, que nas outras vizinhanças não tinha. Tinha as lagoas para a gente pescar. Também passei uma fome da bexiga lá. Por isso não quero voltar lá. Tinha que trabalhar na enxada. Era o que tinha lá em Alagoa Grande, outra coisa mais não tem. Aí eu fui para Campina Grande, onde já melhorou a situação.” Off Flora e seus três filhos, José (Jackson), Severina e João, seguiram para Campina Grande, numa viagem de quatro dias a pé. Jackson saiu de Alagoa Grande com a promessa de trabalhar como ajudante de padeiro, ao lado dos primos, na padaria São Joaquim, no centro da cidade. Nas feiras, ouvia cantadores, coquistas e violeiros. Off A maior parte do orçamento da família vinha do seu ordenado na padaria, complementando o pouco que Flora recebia com as lavagens de roupa. Para tentar aumentar a renda, Jackson pegava todo tipo de bico: pedreiro, pintor de paredes, limpador de fossa. Off Em 1944, a família mudou-se para João Pessoa, onde Jackson passa a integrar o elenco da Rádio Tabajara e toca no Cassino Eldorado. Off Após anos doente, Flora Mourão morreu em 14 de agosto de 1946, para desgosto de Jackson, que era muito apegado à mãe. O filho gastou todas as economias no enterro. Off Na rádio, Jackson conheceu Rosil Cavalcanti, compositor e ator pernambucano de Macaparana, sobrinho do ex-governador José Francisco Cavalcanti. Em meados de 1947, Rosil e Jackson formaram a dupla Café com Leite (a primeira foi criada por Jackson e Zé Lacerda, em Campina Grande). Off Quando o maestro Nôzinho, da orquestra paraibana Jazz Paraguary, foi contratado para trabalhar na Rádio Jornal Commercio, arregimentou alguns instrumentistas de seu conjunto, dentre eles,
Jackson. Em maio de 1948, os músicos migraram à capital pernambucana, no preparo para a inauguração da emissora pernambucana, ocorrida no dia 3 de julho de 1948. Off No Recife, Jackson foi morar em um pequeno apartamento na Rua Nova, em cima da antiga Alfaiataria Londres. Morava lá com o papagaio Forró. Na rádio, tocou com alguns dos artistas mais populares da época, como Carlos Galhardo, Sílvio Caldas, Orlando Silva, Emilinha Borba, Vicente Celestino e Francisco Alves. Off Na capital pernambucana, também consegue um bico como cantor no restaurante O Flutuante, que pairava sobre as águas do Cais de Santa Rita. Balão “E dali comecei tocando bateria, tocando tamborim, ganzá, reco-reco e pandeiro. E a raça foi me chamando de Zé Jack, passaram a chamar Zé Jack. Depois aí perguntaram: 'Você não conhece Zé Jack? Jack do Pandeiro, rapaz'. Quando cheguei em Recife, depois de uns tempos, porque minha vida levantou como um avião quando levanta da pista, o negócio veio vindo, veio vindo, o negócio foi indo, foi indo, na Rádio Jornal do Commercio, que eu comecei cantando, não pela primeira vez, mas cantando quase oficial, então me botaram mais um S-O-N para acabar de ajustar o negócio. Então ficou Jackson do Pandeiro”. Off Em 25 de dezembro de 1949, o artista ganha elogio no Jornal do Commercio: “Jackson do Pandeiro é o homem-orquestra. Em seu gênero, há poucos artistas que merecem a mesma classificação. Sob todos os aspectos, Jackson do Pandeiro pode ser apontado como o maior cantor de sambas do norte do país”. Off O estilo de Jackson misturava os sambas de Jorge Veiga, os cocos de Flora, o floreio de cantadores e repentistas e as emboladas de Manezinho Araújo, de quem copiou o uso do chapéu de lado. Considerado o Rei da Embolada, Manezinho, frustrado com o mercado musical, abandonou a carreira no final da década de 1950, após gravar 50 discos. Do repertório dele, Jackson gravou Como tem Zé na Paraíba (1962) e Seguro morreu de velho (1963). “Vejo agora, satisfeito, alguém para continuar minha obra”, escreveria Manezinho, em sua coluna na Revista do Rádio, em 8 de
maio de 1954. Balão “Quando chegou o Rosil Cavalcanti, que foi um rapaz que fez uma dupla comigo, um tipo assim Venâncio e Corumba, eu fazia violão, ele fazia pandeiro, e a gente cantava uns negocinhos. Ele tinha Sebastiana preparado para lançamento depois do Carnaval. Mas tinha pego umas músicas do Rio, para cantar no Carnaval. Então, chegou o produtor do programa e disse: ´Como é, Jackson, você tem alguma boa para o Carnaval?´. Minto. Aí foi uma revista de Carnaval lançada na Rádio Jornal. E o Dr. Pessoa mandou me vestir todo de branco: sapato branco, cinturão branco, camisa, estava eu e Zé Pilintra!” Off O programa A pisada é essa, com título baseado na música de Capiba, estreia no dia 17 de janeiro de 1953, a partir das 20h35. Nesse dia, nasce o mito Jackson do Pandeiro. Balão Jackson, todo vestido de branco, chega o diretor, perto de começar no programa, e diz: – Escuta, rapaz, qual é a música que você vai cantar? – Eu estou com um samba e uma marca que eu aprendi anteontem. – Não, você vai cantar aquele negócio que você canta, aqueles coquinhos do tempo da sua mãe, daquele povo todo. – Mas, rapaz, Nicéas, você vai me botar pra cantar coquinhos aqui, agora que é uma revista de Carnaval? Todo mundo vai cantar com uma grande orquestra e eu com regional? – Não, Jackson, não fica afobado, isso é um programa que tem que ter de tudo! Balão “Eu fiquei com uma tromba grande porque eu tinha ensaiado carnaval. E Sebastiana estava ensaiado para fazer o lançamento novo depois do carnaval. Então, eu passei Sebastiana com os rapazes do conjunto, ensinei o coro a uma senhora, Luíza de Oliveira, mãe das Três Marias, que trabalha com o Luiz Bandeira. Era um programa feito pela primeira vez no rádio, estava superlotado de gente. Mas quando eu deixei o 'a, e, i, o, u, ipsilone' pra ela, ela não se conteve, era uma senhora de idade, mas caricata, meio gordinha e tal. Veio do microfone dela e veio toda jeitozinha e me deu uma umbigada. Uma mulherzinha pequena, toda entroncada, me deu uma umbigada. Com aquilo, o auditório explodiu tudo. 'Deixa ela vir de vorta, agora, que eu vou lascar ela de umbigada'. Quando ela veio de lá, me preparei de cá, bati o pé no chão, castiguei a mulher na umbigada. Daí o negócio
virou frege, viu? Todo santo dia, durante 29 dias de revista, nós cantávamos Sebastiana três, quatro vezes. Foi o primeiro sucesso local que eu fiz”. Música “Convidei a comadre Sebastiana Pra cantar e xaxar na Paraíba Ela veio com uma dança diferente E pulava que só uma guariba E gritava: a, e, i, o, u, y Já cansada no meio da brincadeira E dançando fora do compasso Segurei Sebastiana pelo braço E gritei, não faça sujeira O xaxado esquentou na gafieira E Sebastiana não deu mais fracasso Mas gritava: a, e, i, o, u, y” Off Com pouco tempo, Dona Luíza foi substituída por uma jovem contratada pela Rádio Jornal do Commercio, Almira Castilho. Descendente de espanhóis e indígenas, Almira era formada em Pedagogia, tinha sua própria escola, mas desistiu para seguir a carreira de cantora e dançarina, contrariando a família. Off O sucesso de Jackson no Recife chegou aos ouvidos das gravadoras no Rio de Janeiro. A Copacabana acabou conseguindo o contrato com o novo artista. Em 1953, foram gravados no Recife os cinco discos 78 rpm, com 10 músicas no total, que projetariam nacionalmente o nome Jackson do Pandeiro. Oito das 10 músicas foram arranjadas pelo sanfoneiro Gaúcho. As duas restantes pelo maestro Clóvis Pereira, como Micróbio do frevo. O primeiro lançamento escolhido por Jackson foi Forró em Limoeiro (lado A) e Sebastiana (lado B). Balão “A primeira música que eu gravei foi Forró em Limoeiro.” Ilustração para a letra:
“Eu fui pra Limoeiro E gostei do forró de lá. Eu vi um caboclo brejeiro Tocando a sanfona, entrei no fuá No meio do forró houve um tereré Disse o Mano Zé, aguenta o pagode Todo mundo pode, gritou o Teixeira Quem não tem peixeira briga no pé" Off Com o evidente chamego do baixinho desengonçando Jackson pra cima da elegante e disputada Almira, os colegas da rádio ficavam de gozação: – Esse mulherão não é para o teu bico! – Almira, andam comentando sobre a gente… Estão dizendo que a gente tá se namorando e que tenho um banquete de cem talheres nas mãos… – Imagina “o sapo namorando com a lua, numa noite de verão” No final de dezembro de 1953, quando sai o primeiro disco de Jackson, depois de uma ida ao cinema, os dois começam o namoro. A primeira providência de Almira foi alfabetizar o namorado, para que ele não fosse ludibriado ao chegar no Rio de Janeiro. O casamento aconteceu no dia 30 de outubro de 1954, no Recife. Off Quatro meses depois do lançamento do disco, Jackson foi ao Rio de Janeiro, atender ao pedido da gravadora, da imprensa e das rádios que queriam conhecê-lo. Com 1x1 e A mulher do Aníbal, o segundo disco já estava fazendo tanto sucesso quanto o primeiro. A demora de Jackson para dar as caras deveu-se ao medo de avião. Saiu do Recife no dia 15 de abril de 1954 para uma viagem de três dias no Rio, onde é recebido por Vitorrio Latarri e alguns jornalistas. A primeira pergunta: – Jackson, o que achou do Rio de Janeiro? – Home, parece um tabuleiro de cuscuz. Ao chegar em Copacabana, Jackson é recebido pelo presidente Vicente Vitale, que não deixou de expressar sua surpresa: “Rapaz, como você é feio!”.
Com o sucesso no Rio, também havia convites de São Paulo. E Jackson teve que pegar a ponte área. Antes, porém, tomava algumas lapadas de cachaça para tomar coragem. Jackson e Almira estavam demorando mais tempo do que o previsto no Rio. Mas, no sexto aniversário da Rádio Jornal do Commercio, foi exigida a presença da dupla. De volta ao Recife, o artista comprou para ele e Almira um apartamento no Edifício Ouro, na Rua Sete de Setembro, 197, no bairro da Boa Vista e acomodou os irmãos numa pensão no Pátio de São Pedro. A ideia era, por ora, permanecer no Recife, mas uma festa mudaria rapidamente os planos. Em fevereiro de 1955, Jackson e Almira foram convidados para tocar numa festa do ex-presidente do Náutico, Eládio Barros de Carvalho, em comemoração ao título do Campeonato Pernambucano. Quando chegaram à mansão, viram que não havia um palco ou tablado. Tocaram no jardim mesmo. Um dos convidados da festa achou que seria apropriado passar a mão na perna de Almira. Na primeira vez, Jackson disse: “Êpa!”. Na segunda, parou o show e foi tomar satisfação com o desaforado. Quatro convidados seguraram o cantor e passaram a bater nele. Almira foi esmurrada e chutada. O casal só escapou porque alguém sacou uma arma em sua defesa. Jackson quase ficou cego de um olho. E teve que cancelar várias apresentações. Revoltado porque a Rádio Jornal do Commercio não justificou ao público o motivo da ausência, Jackson decidiu sair da cidade e ir morar no Rio. De volta ao Rio em 1955, o casal ficou instalado em um hotel em Copacabana. A recuperação de 50 mil cruzeiros que estavam retidos no Banco Central de Pernambuco, que, ao falir, havia confiscado o dinheiro dos clientes, foram usados para pagar a multa da rescisão do contrato com a Rádio Jornal do Commercio. Compraram apartamento na Rua Benjamin Constant, 136, na Glória. A dupla vivia o auge do sucesso. Tinha aparições constantes na TV Record, paulista, e na Tupi, carioca, na qual apresentavam o programa O Forró do Jackson. O contrato com a emissora foi rescindido após uma briga com o apresentador Flávio Cavalcanti, depois que criticou uma letra de Jackson, que nem havia sido gravada. Entre 1956 e 1962, o casal participou de nove chanchadas. José Gomes Filho, ainda sem ligações formais com entidades arrecadadores e editoras, só começaria a assinar suas composições a partir de 26 de junho de 1957, quando se filiou à União Brasileira de Compositores, a UBC. E deixava de assinar outras, quando o parceiro era da Sociedade Brasileira de Autores (Sbacem).
Com o lucro dos shows, dos contratos e das vendas de disco, Jackson e Almira compraram uma cobertura na Glória, onde viveram de 1958 a 1967. O cantor costumava acordar cedo, tomar um gole de café, acender seu cigarro Hollywood e pegar o violão. Nesse terraço, ele compunha, ensaiava, consertava e construía instrumentos. Lia cordéis e livros sobre temas folclóricos, indígenas e africanos. Em 1958, Luiz Gonzaga o visitou em casa. No terraço, ele com a sanfona, Jackson com o violão, o anfitrião mostrou uma música nova e passou as instruções vocais para Gonzaga seguir dedilhando seu instrumento. O Rei do Baião ficou surpreso: – Rapaz, tu é um cabra da peste mesmo, né? Tu é um sanfoneiro de boca. Tudo o que eu tenho que fazer aqui tu fica dizendo… Oh, desgraçado, por que tu não aprendesse a tocar sanfona? – Primeiro, porque a sanfona era muito cara e minha mãe não podia comprar… Segundo, porque eu achava que era muito difícil. Jackson costumava dar abrigo e comida a quem precisasse: – Jackson, você devia parar de gravar compositor pobre, disse, certa vez, Almira, ao vê-lo dar abrigo ao jovem maltrapilho José Bezerra da Silva, que saiu de Pernambuco para tentar a sorte no Rio e chegou a procurar comida no lixo para matar a fome. – Mas, Almira, só quem sabe fazer música bonita são os pobres. Anos mais tarde, o jovem maltrapilho se tornou o sambista Bezerra da Silva. Outro que procurou o artista na Rádio Nacional foi Antonio Barros, e com uma missão pra Jackson: – Você é quem vai dar um jeito na minha vida! – Cícero, apanha a mala de Antonio Barros e leva esse desgraçado lá pra casa. Antonio Barros, depois ao lado da esposa Cecéu, seria compositor de alguns dos maiores sucessos do forró, como Procurando Tu, É proibido cochilar, Bate coração, Homem com H. Off Em 1967, após descobrir uma traição de Jackson, Almira pediu a separação. Inicialmente, combinou com ele de continuarem com a dupla. Mas, incomodada com as investidas dele para que reatassem, ela decide encerrar a parceria. Música ilustrada “A ema gemeu No tronco do juremá
Foi um sinal bem triste, morena Fiquei a imaginar Será que o nosso amor, morena Que vai se acabar?” Off Após a separação, a carreira de Jackson sofreu um baque. Almira era quem organizava a vida profissional do marido e as finanças. Nesse período, o artista enfrenta a concorrência com a Bossa Nova, a Jovem Guarda e a avalanche de músicas estrangeiras no Brasil. Ainda em 1967, conhece, em um show, a fã Neuza Flores dos Anjos, baiana radicada em São Paulo. No dia seguinte, pede ela em casamento aos pais. Neuza fica com ele até o final da vida. No ano seguinte, Jackson quebrou os dois braços num grave acidente de carro e tem a alegria de ser redescoberto pela nova geração de cantores, com a gravação de Sebastiana, no primeiro disco de Gal Costa, lançado em 1968. Off Em 1970, lança o disco Aqui tô eu, cuja capa faz uma referência à do disco Abbey Road (1979), dos Beatles. Off Para tentar sobreviver, Jackson, além de continuar cantando, também participa da gravação de discos de diversos artistas do país, como Raul Seixas, Clara Nunes, Wanderléa, Beth Carvalho, Elba Ramalho, Alceu Valença, Gilberto Gil, Bezerra da Silva, Jair Rodrigues, Geraldo Azevedo, João do Valeu, Benito de Paula. Off Papagaio do futuro, de Alceu, havia sido selecionada para o VII Festival Internacional da Canção, em setembro de 1972. O compositor, ladeado por Geraldo Azevedo, foi à casa de Jackson tentar convencê-lo de defender a música junto com ele. Jackson acabou aceitando. Depois que Alceu cantou para ele a música, Jackson falou para o irmão: – Olha, Cícero! Esse pessoal é cabeludo, mas não é caba safado, não! Off Em 1975, repetiram a dose com Vou danado pra Catende, durante o Festival Abertura, da TV Globo. Em 1976, fizeram o projeto Seis e Meia, e, depois o Pixinguinha. Em 1979, Alceu compôs Coração bobo, seu primeiro sucesso nacional, em homenagem a Jackson.
Balão [Alceu Valença] “Com Jackson, aprendi a dividir melhor, a cantar com mais ritmo, a valorizar as palavras, as inflexões, a quebrar. Essa coisa do ritmo foi o convívio com Jackson”. Balão “Esse dois rapazes, na minha opinião, estão entre os melhores artistas brasileiros: o Caetano é cem por cento e o Gil ainda acho um tiquinho mais à frente, porque o Gil canta num balanço da pesada, como eu gosto, como eu quero, como eu acho que deve ser. Ele regravou O canto da Ema, regravou Chiclete com banana. A Gal Costa regravou Sebastiana. A Gal Costa também é outra excelente artista. E esses rapazes me deram um apoio muito grande. Eu quero agradecer, já agradeci em vários programas e vou aproveitar a oportunidade, porque eles puseram a juventude de agora para conhecer Jackson do Pandeiro. Deram um sumiço em Jackson do Pandeiro de 10 a 12 anos passados. Jackson do Pandeiro só não, deram um sumiço na música brasileira.” Off Em 20 de setembro de 1976, Jackson e Gilberto Gil se apresentam juntos, no Teatro Carlos Gil, em Copacabana. Off No final da década de 1970, Jackson se apresentou com Fagner, Moraes Moreira e Zé Ramalho no Teatro João Caetano. Em 1980, Zé Ramalho compôs Frevo mulher, inspirado em Casaca de couro, de Jackson. Segundo Caetano, Frevo mulher mudou o rumo do Carnaval na Bahia. Off Jackson veio a Pernambuco, pela última vez, em junho de 1982, onde se apresentou no dia 23 de junho em Santa Cruz do Capibaribe, e, no dia 24 em Caruaru. Passou mal nos dois shows. Veio ao Recife, ficando hospedado num hotel na Rua do Rosário. Queria visitar a Rádio Jornal do Commercio, mas novamente não se sentiu bem. Mesmo debilitado por conta da diabetes, viajou a Brasília para cumprir um show. E lá entrou em coma. Quando recobrou a consciência, perguntou sobre Zico, seu maior ídolo no futebol, que jogava na Seleção Brasileira durante a Copa de 82. Descobriu que a canarinha foi desclassificada após o 3 x 2 com a Itália. Off Após a morte de Jackson do Pandeiro, várias pessoas prestaram tributos. Uma delas foi Albino
Pinheiro, criador do projeto Seis e meia, que comentou: “A preocupação dele era pagar aquela irmanada toda que trabalhava com ele. Era uma coisa engraçada. E vou dizer: pouca gente tinha consciência do seu valor. Porque ele era uma pessoa tão fácil, estava sempre à disposição. Depois que ele morreu, é que a gente viu que ele era único.” Balão “Eu sempre quis mesmo ter nascido na Paraíba, porque se não tivesse nascido por lá talvez as forças divinas não tivessem me dado o dom que me deram. O dom de tocar esse pandeiro, que me trouxe até cá”.