Revista O conservador (O Que é o Conservadorismo?)

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O Que é o Conservadorismo?

POR RUSSELL KIRK

A Senhorita Worth não acreditava que o Progresso, com P maiúsculo, é uma coisa boa em si mesma. O Progresso pode ser bom ou mau, dependendo da direção a qual se está progredindo. É perfeitamente possível, e não raramente ocorre, de se progredir em direção à beira de um precipício. O pensamento conservador, jovem ou antigo, acredita que todos nós devemos obedecer à lei universal da mudança; mas muitas vezes está em nosso poder escolher quais mudanças aceitaremos e quais mudanças rejeitaremos. O conservador é uma pessoa que se esforça para conservar o que há de melhor em nossas tradições e em nossas instituições, conciliando o que é melhor com a reforma necessária de tempos em tempos. “Conservar” significa “salvar”… (Considere) a maldição do cupido: “Aqueles que mudam o amor antigo pelo novo, oram aos deuses para mudá-lo para pior.” Um conservador não é, por definição, um egoísta ou uma pessoa estúpida; em vez disso, ele é uma pessoa que acredita que há alguma coisa em nossa vida que vale a pena salvar. Conservadorismo, na verdade, é uma palavra com um significado antigo e honrado – mas, um significado quase esquecido pelos americanos até anos recentes. Abraham Lincoln queria ser conhecido como um conservador. “O que é o conservadorismo?”, disse ele. “Não é a preferência pelo antigo e experimentado, acima do novo e do não testado?” É isso; e é também um corpo de convicções éticas e sociais. Porém, a palavra “liberalismo” tem sido preferida entre nós por duas ou três décadas. Mesmo hoje em dia, embora haja um bom número de conservadores nas políticas nacional e estadual, em nenhum grande partido muitos líderes políticos descrevem a si mesmos como “conservadores”. Paradoxalmente, o povo dos Estados Unidos se tornou a principal nação conservadora do mundo exatamente quando deixou de chamar a si mesmo de conservador em seu próprio país.


No entanto, com a nossa severa oposição ao radicalismo dos soviéticos e nosso repúdio nacional do coletivismo em todas as suas variedades, um bom número de americanos agora têm muitas dúvidas quanto ao desejo de serem chamados liberais ou radicais. Os liberais, por um bom tempo, foram derivando para a esquerda em direção a seus primos radicais; e o liberalismo, nos últimos anos, passou a significar um anexo para o Estado centralizado e para a impessoalidade sombria do Brave New World, de Huxley, ou de 1984, de Orwell. Homens e mulheres que não se consideram liberais ou radicais estão começando a perguntar a si mesmos no que acreditam e do que deveriam se chamar. O sistema de ideias opostas ao liberalismo e ao radicalismo é a filosofia política conservadora. O que é o Conservadorismo? O conservadorismo moderno tomou forma por volta do início da Revolução Francesa, quando homens de grande visão na Inglaterra e na América perceberam que, se a humanidade existe para conservação dos elementos da civilização que tornam a vida digna de ser vivida, algum corpo coerente de ideias deve resistir ao nivelamento e ao impulso destrutivo de revolucionários fanáticos. Na Inglaterra, o fundador do verdadeiro conservadorismo foi Edmund Burke, cujas Reflections on the Revolution in France mudaram o rumo da opinião pública britânica e influenciaram incalculáveis líderes da sociedade no Continente e na América. Nos recém-criados Estados Unidos, os fundadores da República, conservadores por formação e por experiência prática, estavam determinados a moldar a Constituição que deveria guiar a sua posteridade em caminhos duradouros de justiça e liberdade. Nossa Guerra de Independência Americana não foi uma revolução real, mas antes uma separação da Inglaterra; estadistas de Massachusetts e da Virgínia não desejavam virar a sociedade de cabeça para baixo. Em seus escritos, sobretudo nos trabalhos de John Adams, Alexander Hamilton e James Madison, nós encontramos um conservadorismo sóbrio e provado, fundado sobre uma compreensão da história e da natureza humana.

A Constituição que os líderes daquela geração elaboraram tem provado ser o dispositivo conservador mais bem sucedido em toda a história.Os líderes conservadores, desde Burke e Adams, subscreveram certas ideias que podemos demonstrar, resumidamente, mediante definição. Os conservadores desconfiam do que Burke chamou “abstrações” – isto é, absolutos dogmas políticos divorciados da experiência prática e das circunstâncias particulares. Eles acreditam, todavia, na existência de certas verdades permanentes que regem a conduta da sociedade humana. Talvez, os princípios mais importantes que têm caracterizado o pensamento conservador americano são estes: 1. Homens e nações são governados por leis morais; e essas leis têm a sua origem em uma sabedoria superior à humana – a justiça divina. No fundo, problemas políticos são problemas morais e religiosos. O estadista sábio procura apreender a lei moral e reger sua conduta adequadamente. Nós temos uma dívida moral para com nossos antepassados, que nos concederam nossa civilização, e um dever moral para as gerações que virão depois de nós. Esta dívida foi ordenada por Deus. Portanto, não temos o direito de, impudentemente, mexer com a natureza humana ou com tecido delicado de nossa ordem social civil.


2. Variedade e diversidade são as características de uma grande civilização. Uniformidade e igualdade absoluta são a morte de todo verdadeiro vigor e liberdade na existência. Conservadores resistem, com imparcial virilidade, à uniformidade de um tirano ou de uma oligarquia e à uniformidade a qual Tocqueville chamou “despotismo democrático”. 3. Justiça significa que todo homem e toda mulher têm direito ao que lhes é próprio – às coisas que melhor se adaptam à sua própria natureza, às recompensas de sua capacidade e integridade, à sua propriedade e à sua personalidade. A sociedade civilizada requer que todos os homens e mulheres tenham direitos iguais diante da lei, mas essa igualdade não deve se estender à igualdade de condição: isto é, a sociedade é uma grande associação, na qual todos têm direitos iguais – mas não para igualar coisas. A sociedade justa requer liderança sólida, recompensas diferentes para habilidades diferentes e um senso de respeito e dever. 4. Propriedade e liberdade são inseparavelmente conectadas; nivelamento econômico não é progresso econômico. Os conservadores valorizam a propriedade para seu próprio interesse, é claro; mas a valorizam muito mais porque, sem ela, todos os homens e mulheres estão a mercê de um governo onipotente. 5. O poder é repleto de perigos; portanto, o bom estado é aquele no qual o poder é controlado e equilibrado, restringido por constituições e costumes sólidos. Na medida do possível, o poder político deve ser mantido nas mãos de instituições privadas e locais. A centralização é normalmente um sinal de decadência social. 6. O passado é um grande depósito de sabedoria; como Burke disse, “o indivíduo é tolo, mas a espécie é sábia.” Os conservadores acreditam que precisamos nos guiar pelas tradições morais, pela experiência social e por todo o complexo corpo de conhecimentos legados a nós por nossos antepassados. Os apelos conservadores estão para além da opinião precipitada do momento, pela qual Chesterton os denominava de “a democracia dos mortos” -

Imagem da Capa – Internet pixabay

isto é, as opiniões consideradas dos homens e mulheres sábios que morreram antes de nosso tempo, a experiência da espécie humana. O conservador, em suma, sabe que não nasceu ontem. 7. A sociedade moderna necessita urgentemente de uma verdadeira comunidade: e verdadeira comunidade é um mundo distante do coletivismo. A comunidade autêntica é regida por amor e caridade, não por força. Através de igrejas, associações voluntárias, governos locais e uma variedade de instituições, os conservadores se esforçam para manter a comunidade saudável. Os conservadores não são egoístas, mas zelosos do bem-estar público. Eles sabem que o coletivismo significa o fim da comunidade genuína, e substituem uniformidade por variedade e força por cooperação voluntária. 8. Nos assuntos das nações, o conservador americano acredita que seu país deve ser um exemplo para o mundo, mas que não deve tentar reconstruir o mundo à sua imagem. É uma lei da política, bem como da biologia, que todo ser vivente ama, acima de tudo – até mesmo acima de sua própria vida –, sua identidade distintiva, que o diferencia de todos os outros seres. O conservador não aspira à dominação do mundo, nem aprecia a perspectiva de um mundo reduzido a um padrão único de governo e de civilização.


9. Os conservadores sabem que homens e mulheres não são perfectíveis; e nem o são as instituições políticas. Nós não podemos criar um paraíso na Terra, embora possamos fazer um inferno. Somos todos criaturas nas quais bem e mal estão misturados; e, quando as boas instituições negligenciam e ignoram os antigos princípios morais, o mal tende a predominar em nós. Por isso, o conservador suspeita de todos os esquemas utópicos. Ele não acredita que, pelo poder do direito positivo, nós podemos resolver todos os problemas da humanidade. Podemos ter a esperança de fazer nosso mundo tolerável, mas não podemos torná-lo perfeito. Quando o progresso é alcançado, o é através do reconhecimento prudente das limitações da natureza humana. 10. Os conservadores estão convencidos de que mudança e reforma não são idênticas: inovação política e moral pode ser tanto destrutiva como benéfica; e se a inovação é empreendida com espírito de presunção e entusiasmo, provavelmente será desastrosa. Todas as instituições humanas, em certa medida, se alteram de época para época, pois o lento processo de mudança é o meio de conservar a sociedade, exatamente como é, para o corpo humano, o meio de sua renovação. Mas, os conservadores americanos se esforçam para conciliar o crescimento e as modificações essenciais para nossa vida com a força de nossas tradições sociais e morais. Com Lord Falkland, eles dizem: “quando não é necessário mudar, é necessário não mudar.” Eles entendem que homens e mulheres são mais satisfeitos quando podem sentir que vivem em um mundo estável de valores duradouros. O conservadorismo, então, não é simplesmente o interesse das pessoas que têm muitas propriedades e influência; não é simplesmente a defesa de privilégios e de status. A maioria dos conservadores não são nem ricos nem poderosos. Porém, eles fazem até mesmo o mais simples deles obter grandes benefícios de nossa República estabelecida. Eles têm liberdade, segurança pessoal e de sua casa, igual proteção das leis, o direito aos frutos de sua indústria e oportunidade para fazer o melhor que neles há. Eles têm um direito de personalidade em vida e um direito de consolo na morte. Os princípios conservadores são o abrigo das esperanças de todos na sociedade.

E o conservadorismo é um importante conceito social para todo aquele que deseja justiça igualitária e liberdade pessoal e todos os amáveis caminhos antigos da humanidade. O conservadorismo não é simplesmente uma defesa do “capitalismo”. (“Capitalismo”, na verdade, é uma palavra cunhada por Karl Marx, projetada desde o início para significar que a única coisa defendida pelos conservadores é a grande acumulação de capital privado.) Mas, o que o verdadeiro conservador faz corajosamente é defender a propriedade privada e uma liberdade econômica, ambas para seu próprio bem e porque elas são meios para atingir grandes fins. Esses grandes fins são mais do que econômicos e políticos. Eles envolvem dignidade humana, personalidade humana, felicidade humana. Eles envolvem até mesmo o relacionamento entre Deus e o homem. Pois o coletivismo radical de nossa época é ferozmente hostil a qualquer outra autoridade: o radicalismo moderno detesta a fé religiosa, a virtude privada, a individualidade tradicional e a vida de satisfações simples. Tudo o que vale a pena ser conservado está ameaçado em nossa geração. A mera oposição negativa e irracional à corrente de acontecimentos, agarrando-se com desespero ao que ainda mantemos, não será suficiente nesta época. Um conservadorismo de instinto deve ser reforçado por um conservadorismo de pensamento e imaginação. Original adaptado de The Intelligent Woman’s Guide to Conservatism (New York: The Devin-Adair Company, 1957). Do Russell Kirk Center. Tradução: José Junio Souza da Costa


COMO SER UM CONSERVADOR – ROGER SCRUTON "Uma obra de extrema relevância para o atual cenário político brasileiro O filósofo político inglês Roger Scruton construiu sua reputação ao empregar a sua inteligência na reflexão e divulgação do pensamento conservador. É um pensador que sabe conjugar de forma exemplar um raciocínio profundo com um texto sofisticado e preciso. O tema central deste livro é o conservadorismo. E é a partir da apresentação teórica e prática do pensamento conservador em suas várias dimensões na vida em sociedade que Scruton examina e explica como ser um conservador. E o faz com uma habilidade grandiosa para expor teoria e análise de maneira clara e concisa sem simplificá-las ou vulgarizá-las. Essa mestria permite ao leitor encerrar a leitura com a percepção de que aprendeu algo valioso e com o sentimento de que pertence a uma tradição, mesmo que ainda tenha que descobri-la. Mais sobre o livro na (AMAZON) AS IDEIAS CONSERVADORAS – JOSÉ PEREIRA COUTINHO Em um país de democracia recente e marcado historicamente por ditaduras como o Brasil, o pensamento político conservador costuma ser associado ao autoritarismo e à supressão das liberdades individuais. O audacioso objetivo deste livro é desfazer esse equívoco e apresentar ao leitor as ideias conservadoras, que não se confundem com as doutrinas-reacionárias. Para o jornalista e cientista político João Pereira Coutinho, o conservadorismo é o modo de a sociedade preservar o melhor que, com base na tradição democrática, ela criou para garantir a paz, a liberdade dos cidadãos e o vigor das instituições. Com linguagem clara e envolvente, o autor expõe o pensamento dos principais filósofos conservadores, ao mesmo tempo que tece uma reflexão política de importante significado para a atualidade. Contra radicalismos crescentes à direita e à esquerda, Coutinho defende o primado da lucidez e do equilíbrio. Saiba Mais (AMAZON)


Os Dez Princípios Conservadores Por Russell Kirk (Adaptado por Kirk de The Politics of Prudence)

Não sendo nem uma religião nem uma ideologia, o corpo de opiniões denominado Conservadorismo não possui um Livro Sagrado nem um Das Kapital para prover dogmas. Até onde é possível determinar em quê acreditam os conservadores, os primeiros princípios da convicção conservadora são derivados do que professaram os principais escritores e homens públicos conservadores durante os últimos dois séculos. Após algumas observações introdutórias neste tema geral, prosseguirei e listarei dez destes princípios conservadores. Talvez fosse melhor, na maioria das vezes, usar a palavra “conservador” principalmente como um adjetivo. Pois não existe um Modelo Conservador, e o conservadorismo é a negação da ideologia: é um estado da mente, um tipo de caráter, um modo de olhar para ordem social civil. A atitude a que chamamos conservadorismo é sustentada por um corpo de sentimentos, mais do que por um sistema de dogmas ideológicos. Em geral um conservador pode ser definido como alguém que se define como tal. O movimento conservador, ou corpo de opiniões, pode acomodar uma considerável diversidade de perspectivas em muitos temas, não havendo um “Test Act” ou “Trinta e Nove Artigos” do credo conservador. Em essência, a pessoa conservadora é simplesmente aquela que acha as coisas permanentes mais satisfatórias do que o “Chaos and Old Night” (NT: Kirk alude aqui ao poema épico Paradise Lost de John Milton). (Embora os conservadores saibam, como Burke, que a “mudança saudável é o meio de nossa preservação”). A experiência histórica continuada de um povo, dizem os conservadores, oferece um guia para a política muito melhor que os projetos de filósofos de cafeteria.

Mas, é claro, há muito mais para a convicção conservadora do que esta atitude geral. Não é possível esboçar um catálogo simples das convicções dos conservadores. Entretanto, ofereço a você, sumariamente, dez princípios gerais. Parece seguro dizer que a maioria dos conservadores subscreveria a maior parte destas máximas. Em várias edições de meu livro The Conservative Mindlistei certos cânones do pensamento conservador – a lista difere, de algum modo, de uma edição para outra; em minha antologia, The Portable Conservative Reader, ofereço variações sobre este tema. Agora apresento a você um resumo dos pressupostos conservadores que difere de algum modo de meus cânones naqueles dois livros. Em si, a diversidade de maneiras pelas quais as perspectivas conservadoras podem encontrar expressão é por si prova de que o conservadorismo não é uma ideologia fixa. Quais princípios são enfatizados por conservadores durante determinada época variará com as circunstâncias daquela época. Os dez itens de crença que se seguem refletem a ênfase dos conservadores na América hoje em dia. Primeiro, o conservador acredita na existência de uma ordem moral perene.


Que a ordem é feita pra o homem, e o homem é feito para a ordem: a natureza humana é constante, e as verdades morais são perenes. Ordem significa harmonia. Há dois aspectos ou tipos de ordem: a ordem interior da alma, e a ordem externa da comunidade. Vinte e cinco séculos atrás Platão ensinou esta doutrina, mas mesmo os instruídos de hoje em dia acham-na difícil de entender. O problema da ordem tem sido sempre a principal preocupação dos conservadores desde que conservador tornou-se um termo político. O mundo do século XX experimentou as consequências hediondas do colapso da crença na ordem moral. Como as atrocidades e desastres da Grécia cinco séculos antes de Cristo, a ruína das grandes nações no século XX mostra-nos o fosso no qual caem as sociedades que erradamente tomam o hábil interesse próprio ou engenhosos controles sociais como agradáveis alternativas a uma ordem moral “antiquada”. Tem sido dito por intelectuais liberais que os conservadores acreditam que todas as questões sociais, em essência, sejam questões de moralidade privada. Propriamente entendida, esta afirmação é totalmente verdadeira. Uma sociedade na qual homens e mulheres sejam regidos pela crença numa ordem moral permanente, por um forte senso de certo e errado, por convicções pessoais sobre justiça e honra, será uma boa sociedade – qualquer que seja a organização política que ela possa utilizar; enquanto que uma sociedade na qual homens e mulheres estejam moralmente à deriva, ignorantes das normas e intencionem principalmente a satisfação dos apetites, será uma sociedade má – não importa quantas pessoas votem e não importa quão liberal sua constituição formal possa ser. Segundo, o conservador adere ao costume, às convenções e à continuidade. É a antiga tradição que capacita as pessoas a viverem juntas pacificamente. Os destruidores de costumes destroem mais do que desejam ou sabem. É através da convenção – uma palavra muito violentada em nossa época – que conseguimos evitar a disputa perpétua a respeito de direitos e deveres:

a lei, em seus fundamentos, é um corpo de convenções. A continuidade é o significado de vincular geração a geração, importa tanto para a sociedade como para o indivíduo, sem isto a vida é sem sentido. Num tempo em que revolucionários bem sucedidos têm apagado antigos costumes, escarnecido de antigas convenções, e quebrado a continuidade das instituições sociais, porque atualmente descobriram a necessidade de estabelecer novos costumes, convenções e continuidade. Porém este processo é doloroso e lento, e a nova ordem social que eventualmente emerge pode ser muito inferior à antiga que os radicais derrubaram em seu entusiasmo pelo Paraíso Terrestre. Os conservadores são defensores dos costumes, convenções e continuidade porque preferem o diabo conhecido ao diabo que não conhecem. Ordem, justiça e liberdade, acreditam, são produtos de uma longa experiência, o resultado de séculos de testes, reflexões e sacrifícios. Então, o corpo social é um tipo de corporação espiritual comparável à igreja. Pode mesmo ser chamado de comunidade das almas. A sociedade humana não é uma máquina para ser tratada mecanicamente. A continuidade, sangue vital de uma sociedade, não deve ser interrompida. O lembrete de Burke sobre a necessidade de mudança prudente, está na mente do conservador. Mas a mudança necessária, argumenta o conservador, deve ser gradual e discriminada, nunca quebrando antigos interesses imediatamente.


Terceiro, conservadores acreditam no que pode ser chamado princípio da prescrição. É o senso conservador de que as pessoas modernas são anões nos ombros de gigantes, capazes de enxergar mais longe que seus ancestrais apenas devido à grande estatura daqueles que nos precederam no tempo. Consequentemente os conservadores quase sempre enfatizam a importância da prescrição – isto é, das coisas estabelecidas pelo uso imemorial, de modo que a mente humana não caminhe ao contrário. Há direitos para os quais o principal reconhecimento público é a antiguidade – incluindo, quase sempre, direitos de propriedade. Similarmente, nossa moral é em grande parte prescritiva. Conservadores argumentam ser improvável que nós modernos façamos qualquer grande descoberta em moral, política ou propensão. É perigoso pesar cada questão passageira na base do julgamento e racionalidade particulares. O indivíduo é tolo, mas a espécie é sábia, declarou Burke. Em política fazemos melhor obedecendo ao precedente, ao preceito e mesmo ao preconceito, pois a grande incorporação misteriosa da raça humana adquiriu uma sabedoria prescritiva muito maior que qualquer insignificante racionalidade particular. Quarto, conservadores são guiados por seu princípio de prudência. Burke concorda com Platão que num homem de estado a prudência seja a maior virtude. Qualquer medida pública deve ser julgada por suas prováveis consequências de longo prazo, não apenas por sua vantagem temporária ou popularidade. Liberais e radicais, dizem os conservadores, são imprudentes: pois eles traçam seus objetivos sem dar muita atenção ao risco de novos abusos, piores que os males que esperam eliminar. Como colocou John Randolph, de Roanoke, a Providência move-se lentamente, enquanto o diabo sempre se apressa. Sendo a sociedade humana complexa, os remédios, para serem eficazes, não podem ser simples. O conservador declara que age apenas após reflexão suficiente, tendo pesado as consequências. Reformas repentinas e profundas são perigosas como cirurgias repentinas e profundas.

Quinto, conservadores prestam atenção ao princípio da diversidade. Conservadores sentem afeição pela intrincada proliferação de instituições sociais de longa data e pelos modos de vida, distintos da estreita uniformidade e sufocante igualitarismo dos sistemas radicais. Para a preservação de uma diversidade saudável, em qualquer civilização, devem sobreviver ordem e classes, diferenças nas condições materiais e muitos tipos de desigualdades. As únicas formas verdadeiras de igualdade são a igualdade do Julgamento Final e igualdade perante um justo tribunal da lei. Todas as outras tentativas de nivelamento levarão, na melhor das hipóteses, à estagnação social. A sociedade requer líderes capazes e honestos, e se as diferenças institucionais e naturais são destruídas, brevemente algum tirano ou algum bando de oligarcas sórdidos criarão novas formas de desigualdade. Sexto, conservadores são refreados por seu princípio de imperfectibilidade. A natureza humana sofre irremediavelmente de certas faltas graves, sabem os conservadores. Sendo homem imperfeito, nenhuma ordem social perfeita pode ser criada. Devido à inquietação natural, a espécie humana se rebelaria sob uma dominação utópica e eclodiria uma vez mais em descontentamento violento, ou senão, expiraria em tédio.


Procurar pela utopia é terminar desastre, dizem os conservadores: não somos feitos para as coisas perfeitas. Tudo que podemos esperar razoavelmente é uma sociedade aceitavelmente ordenada, justa e livre, na qual alguns males, desajustamentos e sofrimentos continuarão a espreitar. Pela atenção adequada à reforma prudente podemos preservar e melhorar esta ordem aceitável. Mas se as antigas salvaguardas institucionais e morais de uma nação são esquecidas, então a o impulso anárquico da espécie humana desprende-se: “a cerimônia da inocência é suprimida”. Os ideólogos que prometem a perfeição do homem e da sociedade têm convertido grande parte do mundo, desde o século XX, num inferno terrestre. Sétimo, conservadores estão persuadidos de que propriedade e liberdade estão intimamente vinculadas. Dissocie propriedade de posse privada e o Leviatã torna-se o dono de tudo. Sobre o fundamento da propriedade privada grandes civilizações são construídas. Quanto mais ampla a posse de propriedade privada, tanto mais estável e produtiva é a comunidade. Nivelamento econômico, sustentam os conservadores, não é progresso econômico. Ganhar e gastar não são os principais propósitos da existência humana, mas uma sólida base econômica para a pessoa, a família e a comunidade, é muito desejável. O Sr Henry Maine, em seu Village Communities, expressa robusta defesa da propriedade privada como distinta da propriedade comunal: “Ninguém é livre para atacar a múltipla propriedade e dizer ao mesmo tempo que valoriza a civilização. As histórias de ambas não podem ser desentrelaçadas”. Pois a instituição da múltipla propriedade – isto é, propriedade privada – tem sido um poderoso instrumento para ensinar responsabilidade a homens e mulheres, por prover motivos de integridade, por estimular a cultura geral, por elevar a espécie humana acima do nível de mera labuta, por fornecer tempo para pensar e liberdade para agir. Ser capaz de conservar os frutos do trabalho de alguém; ser capaz de assegurar que o trabalho de alguém seja duradouro; ser capaz de legar a propriedade de alguém para a posteridade;

ser capaz de elevar o homem da condição natural de pobreza opressiva para a proteção da realização duradoura; possuir algo que seja realmente sua propriedade– são benefícios difíceis de negar. Os conservadores sabem que a posse de propriedade estabelece certas obrigações sobre o proprietário, eles aceitam alegremente estas obrigações morais e legais. Oitavo, conservadores apoiam a associação voluntária, tanto quanto se opõem ao coletivismo involuntário. Embora os Americanos tenham sido fortemente vinculados à intimidade e à privacidade, eles também têm sido um povo notório por um bem sucedido espírito de comunidade. Numa comunidade genuína as decisões que afetam mais diretamente as vidas dos cidadãos são tomadas voluntariamente e localmente. Algumas destas funções são realizadas por entidades políticas locais, outras por associações privadas: tanto quanto elas sejam mantidas locais, e sejam marcadas pela concordância geral daqueles que são afetados, elas constituem uma comunidade saudável. Mas quando estas funções passam, por definição ou usurpação, a uma autoridade centralizada, então a comunidade está sob séria ameaça. Tudo o que seja beneficente ou prudente na democracia moderna torna-se possível através da cooperação voluntária. Se, então, em nome de uma democracia abstrata, as funções da comunidade são transferidas para uma direção política distante, o governo real, pelo consenso dos governados, cederá a um processo de padronização hostil à liberdade e à dignidade humana. Pois uma nação não é mais forte que as numerosas pequenas comunidades das quais é composta. Uma administração central, ou um grupo de seletos administradores e servidores civis, embora bem intencionado e bem treinado, não pode oferecer justiça, prosperidade e tranquilidade sobre uma massa de homens e mulheres despojados de suas antigas responsabilidades. Este experimento foi feito antes, e foi desastroso. É o desempenho de nossas obrigações na comunidade que nos ensina a prudência, a eficiência e a caridade. Nono, o conservador compreende a necessidade de restrição prudente sobre o poder e sobre as paixões humanas. Falando politicamente, poder é a capacidade de fazer algo que alguém queira, indiferente às vontades dos demais.


Um estado no qual um indivíduo ou pequeno grupo é capaz de dominar as vontades de seus companheiros sem consulta é um despotismo, seja ele chamado monárquico ou aristocrático ou democrático. Quando cada pessoa afirma ser um poder por si mesma, então a sociedade cai na anarquia. Sendo intolerável para todos e contrária ao fato inelutável de que algumas pessoas são mais fortes e mais engenhosas que seus vizinhos, a anarquia nunca dura muito. À anarquia sucede-se a tirania ou a oligarquia, na qual o poder é monopolizado por alguns poucos. O conservador empenha-se então em limitar e equilibrar o poder político para que a anarquia ou a tirania não possam surgir. Em cada época, entretanto, homens e mulheres são tentados a derrubar as limitações sobre o poder, por amor a alguma vantagem temporária imaginária. É característico do radical que ele pense no poder como uma força para o bem – desde que o poder esteja em suas mãos. Em nome da liberdade, os revolucionários Franceses e Russos aboliram as antigas limitações ao poder, mas o poder não pode ser abolido, ele sempre encontra seu caminho para as mãos de alguém. Aquele poder que os revolucionários pensavam opressivo nas mãos do antigo regime tornouse, muitas vezes, tirânico nas mãos dos novos controladores radicais do estado. Conhecendo a natureza humana como sendo uma mistura de bem e mal, o conservador não coloca sua confiança na mera benevolência. Restrições constitucionais, pesos e contrapesos políticos (divisão de poderes), cumprimento adequado das leis, a velha intrincada teia de restrições sobre desejos e apetites – são restrições que os conservadores aprovam como instrumentos de liberdade e ordem. Um governo justo mantém uma saudável tensão entre a afirmação da autoridade e a afirmação da liberdade. Décimo, o pensador conservador entende que permanência e mudança devem ser reconhecidas e reconciliadas numa sociedade vigorosa. O conservador não se opõe ao aperfeiçoamento social, embora duvide que haja qualquer força tal como um místico Progresso, com P maiúsculo, em funcionamento no mundo.

Quando uma sociedade está progredindo em determinados aspectos, está regredindo em outros. O conservador sabe que qualquer sociedade saudável é influenciada por duas forças, as quais Samuel Taylor Coleridge chamou Permanência e Progressão. A Permanência de uma sociedade é formada por aqueles interesses e convicções duradouros que nos dão estabilidade e continuidade. Sem a Permanência, as nascentes de grande profundidade são interrompidas, a sociedade decai na anarquia. A Progressão numa sociedade é aquele espírito e aquele corpo de habilidades que nos instigam à reforma prudente a ao aperfeiçoamento. Sem esta Progressão, o povo estagna. Portanto o conservador inteligente empenhase em reconciliar as afirmações de Permanência e as afirmações de Progressão. Ele pensa que o liberal e o radical, cegos às justas afirmações da Permanência, arriscariam a herança que nos foi legada numa tentativa de nos conduzir para um duvidoso Paraíso Terrestre. O conservador, em resumo, prefere o progresso razoável e moderado. Opõe-se ao culto ao Progresso, cujos adeptos acreditam que qualquer coisa nova seja necessariamente superior a qualquer coisa antiga. A Mudança é essencial para o corpo social, raciocina o conservador, assim como é essencial ao corpo humano. Um corpo que tenha cessado de se renovar, começou a morrer. Mas para que este corpo seja vigoroso, a mudança deve ocorrer de forma regular,Opõe-se ao culto ao Progresso, cujos adeptos acreditam que qualquer coisa nova seja necessariamente superior a qualquer coisa antiga. Mudança é essencial para o corpo social, raciocina o conservador, assim como é essencial ao corpo humano. Um corpo que tenha cessado de se renovar, começou a morrer. Mas para que este corpo seja vigoroso, a mudança deve ocorrer de forma regular, em harmonia com a forma e a natureza daquele corpo. De outra maneira a mudança produz um crescimento monstruoso, um câncer, que devora seu hospedeiro. O conservador preocupa-se com que nada na sociedade deva ser inteiramente antigo, e que nada deva ser, nunca, inteiramente novo. Este é o significado de conservação de uma nação, tanto quanto seja o significado de conservação de um organismo vivo. Quanta mudança uma sociedade requer, e que tipo de mudança, depende das circunstâncias da época e da nação. Tais, então, são dez princípios que têm amplamente emergido durante dois séculos de pensamento conservador. Outros princípios poderiam ter sido discutidos aqui: por exemplo, o entendimento conservador de justiça, ou a perspectiva conservadora de educação. Mas tais temas, com o passar do tempo, devo deixar para sua própria investigação. Traduzido por Flávio Ghetti – Tradutores de Direita



Por: Luis Dufaur A Terra ingressou numa mini-era de gelo que poderá durar entre 60 e 80 anos e diminuirá a temperatura global em 0,2º C, segundo relatório do Instituto de Geofísica da Universidade Nacional Autônoma de México (UNAM). O investigador Víctor Manuel Velasco explicou que o fenômeno é causado pela diminuição da atividade solar, que vem sendo registrada há anos. Velasco estudou os períodos glaciares e interglaciares da Terra e a variabilidade solar. Os resultados apoiam uma teoria que poderá quantificar a diminuição da atividade solar e seu impacto na Terra. “Hipótese alguma sobre mudança climática consegue explicar por que acontecem esses períodos”, esclareceu ele. Para o cientista, a diminuição da temperatura global é devida a “um ciclo natural da natureza” já verificado em outros séculos com lapsos de 120 anos e que depende exclusivamente do sol. Já em 2010 partes do planeta entraram nessa “mini” era de gelo e “as ondas de neve históricas que estão acontecendo no mundo são mostra disso”, acrescentou. Por exemplo, no século VI houve um mínimo de atividade solar conhecida como “mínimo medieval”. Posteriormente veio o “período quente medieval”, seguido de mais uma mini era de gelo no Ancien Regime e um novo período quente que se prolongou até o fim do século XX. O fenômeno, aliás, é bem conhecido pelos cientistas sérios. Porém, como fere o mito do “aquecimento global” a mídia e os ativistas alarmistas menosprezavam-no aduzindo ser invenção de “céticos” pagos pelas multinacionais. O fracasso da última conferência do IPCC, COP-23 realizada em Bonn, para a aplicação do acordo de Paris atingido de morte pela saída dos EUA, tornou mais fácil que informações importantes como as fornecidas, aliás há tempos, pela UNAM, cheguem ao grande público. Luis Dufaur, escritor, jornalista, conferencista de política internacional, é sócio do IPCO e editor de diversos blogs, dentre os quais o “Verde, a Cor Nova do Comunismo”. (Mídia sem Máscara)


Definir o que é o conservadorismo não é uma tarefa simples para conservadores nem para os filósofos políticos. Porque conservadorismo em si não é uma ideologia, nem uma filosofia e muito menos um programa de aplicação política. Trata-se, contudo, de um espírito, de uma disposição – para usar o termo do filósofo político Michael Oakeshott – que se alicerça ou se manifesta num conjunto de princípios, valores, hábitos, práticas e ideias que emergem da rica experiência da vida em sociedade, dentro da qual se localiza a política.

Para o conservador, a política é apenas um dos vários instrumentos de exercício do conservadorismo, mas está longe de ser o mais nobre ou o mais eficaz. Não é sem razão que o Partido Conservador Inglês nasce da aversão pela política partidária, segundo mostra Roger Scruton no seu precioso The Meaning of Conservatism, que recomendo vivamente.

Qualificar o conservadorismo como um espírito ou como uma disposição é o mais próximo que podemos ter de uma concepção abrangente, mas talvez a imagem mais adequada sobre o que é o conservadorismo seja a do trimmer, extraída da terminologia náutica pelo Marquês de Halifax. O trimmer, ferramenta responsável por manter o equilíbrio da embarcação quando o seu curso é ameaçado, serve perfeitamente ao objetivo de Halifax de realçar o exercício suave do conservadorismo, que, no caso da política, não muda de posição com o advento das modas ideológicas e se caracteriza pela reação às ameaças de alterações radicais ou mudanças que provoquem sofrimento e que rompam aquela ligação de familiaridade que o indivíduo tem com o presente e com aquilo que possui.

No entanto, acredito que há uma pergunta prévia a ser feita: o que é e onde está o conservadorismo brasileiro? Porque para que uma Margaret Thatcher fosse possível – e ela é apenas uma dentre tantos políticos conservadores britânicos – foi preciso, antes, haver um conservadorismo que conquistasse e influenciasse uma parcela da sociedade.

Essas observações são necessárias para tentar obter uma resposta à legítima pergunta: onde estão os políticos conservadores brasileiros?

No Brasil, antes de pensar num político conservador é preciso que tenhamos um pensamento conservador que possa influenciar culturalmente a sociedade. Só depois disso é que será possível esperar o surgimento de uma elite política apta a defender princípios e valores conservadores. A batalha, antes de ser política e econômica, é cultural.


Se a política conservadora vier antes do conservadorismo poderá acontecer o que um conservador britânico rejeitaria de forma absoluta: a criação artificial de um estímulo conservador pelo exercício centralizado da política partidária. Isso seria uma forma rápida de destruir o que esse mesmo conservador preza: uma sociedade na qual a família, a liberdade, a propriedade e a ordem seriam preservadas porque garantem seus modos de vida, sua tradição e a busca livre pela prosperidade. Bruno Garschagen é cientista político pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica de Lisboa e University of Oxford, e podcaster do Instituto Ludwig von Mises. Publicado na revista Vila Nova. Midiasemmascara.org

Uma obra fundamental para o momento que vive-o-país. Por qual razão nós brasileiros, apesar de não confiarmos nos políticos, a quem dedicamos insultos dos mais criativos e variados, pedimos que o governo intervenha sempre que surgem problemas? Por que vamos para as ruas protestar contra os políticos e ao mesmo tempo pedir mais Estado – como se este não fosse gerido pelos... políticos? Uma Obra Grandiosa, que fará você ver o Estado com outros olhos.

Imagem da Internet – Cultura e Política (Guerra Cultural)


ARTIGOS

Perdendo a Guerra Cultural (Fim da Esquerda?) Por Olavo de Carvalho

“Cultura é o novo nome da propaganda”, explicava o crítico literário português Fernando Alves Cristóvão. Bem, quando ele disse isso, o nome não era tão novo assim. Fazia quase setenta anos que os comunistas haviam reduzido a cultura a instrumento de propaganda e manipulação, rejeitando todos os seus demais usos e significados como superfetações burguesas puníveis, eventualmente, com pena de prisão. A novidade, nos anos 90, era que esse conceito havia se universalizado, tornando-se regra usual em círculos que antes o teriam desprezado como mero sintoma da barbárie comunista. A expressão mais visível desse fenômeno é a mudança drástica do sentido do título de “intelectual”, hoje conferido automaticamente a qualquer um que engrosse por escrito alguma campanha de propaganda político-ideológica, mesmo que o faça em termos intelectualmente desprezíveis e numa linguagem de ginasiano relapso. O plano de colocar o sr. Lula na Academia Brasileira de Letras, lançado anos atrás pelo falecido cientista político Raymundo Faoro, não foi levado adiante, mas já era um sinal visível de que a acepção elasticamente gramsciana do termo “intelectual” se tornara moeda corrente fora dos meios comunistas estritos. Mais ou menos na mesma ocasião, o sr. William Lima da Silva, líder do Comando Vermelho, por ter escrito um livro de memórias onde alegava que bandidos eram os outros, recebia tratamento de autor respeitável em plena Associação Brasileira de Imprensa, enquanto na Folha de São Paulo a jornalista Marilene Felinto dava estatuto de filósofo ao estuprador e assassino Marcinho VP, que salvo engano tinha também olhos verdes. Olavo de Carvalho


ARTIGOS

Imagem da Internet - Ilustração: Socialismo

O silogismo aí subentendido fundia Herbert Marcuse e Antonio Gramsci. O primeiro dizia que os bandidos eram revolucionários. O segundo, que os revolucionários eram intelectuais. Logo, os bandidos eram intelectuais. A ABI e a Folha não eram instituições formalmente comunistas. Apenas tinham-se deixado dominar pela mentalidade comunista ao ponto de obedecer os seus mandamentos sem ter de aderir conscientemente à sua proposta política. Mas o pior veio uns anos depois, quando a redução da cultura à propaganda começou a parecer natural e desejável aos olhos dos conservadores — ou “liberais”, como são chamados usualmente no Brasil (mais uma curiosa inversão numa república onde tudo cresce de cabeça para baixo, como as bananas). Aconteceu que o conservadorismo brasileiro foi, em essência, uma criação de pequenos empresários. Essas pobres criaturas, acossadas pelo fisco, pelas leis trabalhistas, pela concorrência das multinacionais e pela crença estatal de que os capitalistas só não comem ...

criancinhas porque preferem vendê-las sob a forma de salsichas, estavam tão preocupadas com a sua sobrevivência imediata que mal tinham tempo de pensar em outra coisa. Seu conservadorismo – ou liberalismo – foi assim reduzido à sua expressão mais frugal, ascética e descarnada: a defesa pura e simples do livre mercado, tomado como se fosse uma realidade em si e separado das condições civilizacionais e culturais que o tornam possível. O primado do econômico, adotado inicialmente por mera urgência prática, acabou adquirindo, por força do hábito, o estatuto de uma verdade axiomática, da qual se deduziam as conclusões mais estapafúrdias e perigosas. Talvez a pior delas fosse a de que o progresso econômico é a melhor vacina contra as revoluções sociais. O fato de que jamais tivesse acontecido uma revolução social em país de economia declinante não abalava em nada o otimismo progressista daqueles risonhos empreendedores, que julgavam o estado geral da nação pelo balancete de suas respectivas empresas e se julgavam tremendamente realistas por isso.


Nem os demovia da sua crença a obviedade histórica, já reconhecida pelos próprios marxistas, de que a classe revolucionária não se forma entre os proletários ou camponeses, muito menos entre os miseráveis e desempregados, mas entre as massas afluentes de classe média alimentadas de doutrina comunista nas universidades. De outro lado, aconteceu que os liberais, ao mesmo tempo que se inchavam de entusiasmo ante a modesta recuperação econômica do país, eram cada vez mais excluídos da representação política. As eleições presidenciais de 2002 ofereceram à escolha do eleitorado quatro candidatos esquerdistas, dos quais nenhum, ao longo de toda a campanha, disse uma só palavra em favor da livre empresa. Nos anos subseqüentes, o partido nominalmente liberal – PFL – adaptou-se às circunstâncias aceitando sua condição de mero coadjuvante da esquerda light , mudou de nome para ficar parecido com o Partido Democrata americano (o partido preferido de Hugo Chávez e Fidel Castro) e nem mesmo resmungou quando foi declarado, pelo presidente petista reeleito, “um partido sem perspectiva de poder”. Condenados à marginalidade política, mas ao mesmo tempo anestesiados pelos sinais crescentes de recuperação da economia capitalista no país, os liberais apegaram-se mais ainda ao seu economicismo, desistindo do combate nos demais fronts , quando não aderindo ao programa esquerdista em todos os pontos sem relevância econômica imediata, como o gayzismo, o abortismo, as quotas raciais e o anticristianismo militante, na esperança louca de concorrer com a esquerda no seu próprio campo, sem perceber que com isso concediam ao adversário o monopólio da propaganda ideológica e se transformavam em dóceis instrumentos da “revolução cultural” gramsciana. É compreensível que, nessas condições, toda a atividade mental da “direita” brasileira acabasse se reduzindo às análises econômicas e à propaganda de um produto único – o livre mercado –, perdendo toda relevância no debate cultural e rebaixando-se ao ponto de passar a aceitar como “intelectual representativo” qualquer moleque idiota capaz de dizer duas ou três palavrinhas contra a intervenção estatal no mercado. Ironicamente, a esquerda, no mesmo período, decaiu intelectualmente ao ponto de raiar a barbárie pura e simples, mas, como os liberais

Imagem da Internet Artigo Publicado Primeiramente em: Diário do Comércio por Olavo de Carvalho.

liberais não se interessavam pela luta cultural, continuou desfrutando do prestígio inalterado de suprema autoridade intelectual no país, sem sofrer nenhum abalo mais forte desde a publicação do meu livro “O Imbecil Coletivo” (1996). Nunca, como ao longo das últimas décadas, o esquerdismo esteve tão fraco intelectualmente: um ataque maciço a esse flanco teria quebrado a máquina de doutrinação esquerdista nas universidades e na mídia, destruindo no berço a militância em formação e mudando o curso das eleições subseqüentes. Mil vezes tentei mostrar isso aos liberais, mas eles só davam ouvidos a quem falasse em PNB e investimentos. Trancaram-se na sua torre-de-marfim economicista e lá se encontram até hoje, perdendo mais terreno para os esquerdistas a cada dia que passa e conformando-se com sua condição de forças auxiliares, destinadas fatalmente a tornar-se cada vez mais desnecessárias à medida que a esquerda não-petista acumule vitórias contra o partido governante. Fora dos círculos do liberalismo oficial, noto com satisfação algumas iniciativas novas destinadas a formar uma intelectualidade conservadora e liberal apta a oferecer uma resistência séria à “revolução cultural”. Essas iniciativas partem de estudantes, de intelectuais isolados, e não têm nenhum apoio nem dos partidos “de direita”, nem muito menos do empresariado. Mas é delas que dependerá o futuro do país, se algum houver.


Porque o Marxismo odeia o Cristianismo? O marxismo autêntico sempre odiou e sempre odiará o cristianismo autêntico. Se não puder pervertê-lo, então terá que matá-lo. Sempre foi assim e sempre será assim. E por que essa oposição manifestada ao cristianismo por parte do marxismo? Por que o ódio filosófico, a política anticristã, a ação assassina direcionada aos cristãos? Por que o país número um em perseguição ao cristianismo não é muçulmano e sim a comunista Coréia do Norte? As pessoas se iludem quando pensam no marxismo como doutrina econômica ou política. Economia e política são meros pontos. Marx não acreditava ter apenas as resposta para os problemas econômicos. Acreditava ter todas as respostas para todos os problemas. Marxismo na verdade é uma crença, uma visão de mundo, uma fé. O socialismo nada mais é do que a aplicação dessa fé por um governo totalitário. O comunismo, por sua vez, é apenas a escatologia marxista, o suposto mundo paradisíaco que brotaria de suas profecias. E esta fé não apresenta o caráter relativista de um hinduísmo ou de um budismo. Tendo nascido dos pressupostos cristãos, o marxismo roubou seus absolutos e se apresenta como a verdade absoluta, como o único caminho para redenção da humanidade. E ainda que tenha se apossado dos pressupostos cristãos, inverteu tais pressupostos tornando-se uma heresia anticristã. No lugar do teísmo o ateísmo, no lugar da Providência Divina o materialismo dialético. Ao invés de um ser criado à imagem e semelhança de Deus, um primata evoluído cuja essência é o trabalho, o homo economicus. O pecado é a propriedade privada, o efeito do pecado, simplesmente a opressão social. O instrumento coletivo para aplicar a redenção não é a Igreja, mas o proletariado, que através da ditadura de um Estado “redentor” conduziria o mundo a uma sociedade sem classes. E o resultado seria

Baixe Gratuitamente a Revista Cristã não os novos céus e a nova terra criados por Deus, mas o mundo comunista futuro, onde o Estado desaparecerá, as injustiças desaparecerão e todo conflito se transformará em harmonia. Está é a fé marxista, um evangelho que não admite rival, pois assim como dois corpos não ocupam o mesmo espaço, duas crenças igualmente salvadoras não podem ocupar o mesmo mundo, segundo o marxismo real. Sim, o comunismo de Marx era um evangelho, a salvação para todos os conflitos da existência, fosse o conflito entre homem e homem, homem e natureza, nações e nações. Assim lemos em seus Manuscritos de Paris: “O comunismo é a abolição positiva da propriedade privada e por conseguinte da auto-alienação humana e, portanto, a reapropriação real da essência humana pelo e para o homem… É a solução genuína do antagonismo entre homem e natureza e entre homem e homem. Ele é a solução verdadeira da luta entre existência e essência, entre objetivação e autoafirmação, entre liberdade e necessidade, entre indivíduo e espécie. É a solução do enigma da história e sabe que há de ser esta solução”. Texto de Eguinaldo Hélio Souza – Veja completo na revista O Cristão Erudito (Marxismo Cultural)




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