Quem é Quem na Industria Parte integrante da Revista Cult # 113, Brasil netcult.com.br
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Economia e Indústria Como enfrentar o ano do touro Cenário
A indústria está sufocada
Desafios
Distrito Industrial
Incentivos
A visão do setor público
Perspectivas
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Indústrias editorial
Indústria em Uberlândia: é hora de agarrar o boi pelo chifre. Há alguns meses, discutimos a possibilidade de publicar um suplemento que abordasse a questão da indústria em Uberlândia. A proposta nasceu de conversas com empresários apreensivos com o cenário macroeconômico, a alta carga tributária, aspectos de legislação cada vez mais restritivos. Muitos também abordavam sua preocupação com o cenário político anunciado para 2015, com novos gestores à frente do país e dos estados da federação.
Pressionada pelo poder público e pelo mercado, existe o temor da desaceleração da produção nacional. Se isso acontecer, há risco de desemprego e queda na arrecadação. Sem emprego, o trabalhador corta despesas e isso vai gerar impacto nos setores de comércio e serviços. Sem tributos, o governo corta benefícios sociais. Todos perdem quando uma das bases da economia nacional se vê enfraquecida.
Nossos leitores podem perguntar: mas o que a Cult tem a ver com isso? Afinal, é uma revista de variedades, que fala de saúde, moda, lazer, gastronomia, entre vários outros temas considerados “leves”. A resposta você vai encontrar nesse suplemento. Quando uma ponta da economia vai mal, todas acompanham. Sabe aquela história das asas da borboleta que batem em um continente e provocam um tsunami em outro? Então, o panorama atual da indústria pode enquadrar-se nesse efeito devastador.
Para esse suplemento, buscamos entrevistar industriais, líderes empresariais, consultores e homens públicos com amplo conhecimento em suas áreas. Pessoas que representam diferentes pontos de vista e conseguem analisar o setor de uma forma abrangente, embora com poucas divergências. O discurso é bem parecido, há insatisfação com a carga tributária e a legislação trabalhista. Empresários esperam mais apoio do poder público, em especial nas esferas estaduais e nacional. O parque industrial começa a ficar obsoleto porque faltam recursos para investir em modernização. A competição acontece em nível global. Dependendo do produto, importar da Ásia é mais barato que produzir no Brasil. Mas nem tudo são aspectos negativos. Uberlândia acaba de ganhar uma Agência de Desenvolvimento que vai gerir as áreas livres do Distrito Industrial Norte e atuar proativamente na atração de novos empreendimentos. Há profissionais qualificados e a cidade está parcialmente preparada para receber investidores. Ouvimos frases fortes também de esperança. Muitos empreendedores acreditam no associativismo como forma de pressionar o poder público e conseguir mudanças necessárias. A crise ronda a economia em 2015, a orientação é de cautela e de atenção. Mas todos foram unânimes ao afirmar que é preciso sobreviver e lutar. No modo mineiro de falar, é hora de agarrar o chifre do boi e entrar para a briga.
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Esperamos apresentar aos nossos leitores alguns pontos de vista. Sabemos que há outros e queremos continuar a discussão. Boa leitura!
Célio Cardoso, Diretor @revistacult
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“Se a gente for esperar a crise passar para poder crescer, vai ficar estagnado”.
“É preciso investir em inovação, adptação.”
“Cada vez mais o Brasil esta sendo invadido por produtos estrangeiros”.
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“O empresário brasileiro é, antes de tudo, um forte”
Acorda Brasil, o mundo mudou!
colaboradores desta edição Clarice Pereira, Ricardo Viola, ACIUB, FIEMG, UNEDI, G.A. Comunicação, Felipe Calixto, Odelmo Leão, Dilson Dalpiaz, Hélio Mendes, Pedro Lacerda e Paulo Romes Junqueira. capa Luciano Araújo assessoria de imprensa G.A. Comunicação consultores de mídia Célio Cardoso e Lena Marques assessoria jurídica Ferreira Viola Advogados redação e edição Adriana Sousa (Escritório das Letras) administrativo Naêssa Marques editor e revisor Chico Lúcio - MTB MG 03682 JP / Adriana Sousa (Escritório das Letras) design gráfico Jobcriativo - Jeferson Santos fotógrafos colaboradores Mauro Marques, Jorge H. Paul, Kaká Fotografias, Daniel Nunes e Divulgação críticas e sugestões diretor@netcult.com.br fotos conceito www.dreamstime.com e www.sxc.hu.com tratamento de imagens Jairo Santos impressão Sincopel Grráfica anúncios comercial@netcult.com.br - 34 3219-7949 representante São Paulo e Brasília - Essiê Publicidade e Comunicação Os anúncios, artigos e imagens publicados e assinados são de responsabilidade de seus autores. É expressamente proibida a reprodução, parcial ou total, sem autorização prévia dos seus autores. O conteúdo editorial desta edição não refete necessariamente a opinião da revista.
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conselho editorial: Célio Cardoso e Adriana Sousa (Escritório das Letras). www.netcult.com.br Av. Francisco Galassi, 990 - Salas 1/2 34 3219 7949 - Bairro Morada da Colina Uberlândia - MG - CEP 38411-120
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Indústrias economia
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Perspectivas para 2015: como enfrentar o Ano do Touro Clarice Pereira, Jornalista Ilustração, Luciano Araújo
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Monte em um touro: ele pula, esbraveja e não sossega antes de te derrubar e te pisotear. Pois bem, 2015 é o Ano do Touro. Teremos que domá-lo à unha, se quisermos passar ilesos os próximos 365 dias.
Segundo relatório da primeira pesquisa Focus, divulgada pelo Banco Central, sobre as perspectivas para 2015, a inflação anual deve superar a meta de 6,5% estabelecida pelo governo. Já o crescimento do PIB foi rebaixado de 0,55% para 0,50% ao ano. Ainda de acordo com a pesquisa, a taxa básica de juros será ampliada para 12,5% até o final de 2015 e a alta do dólar deve continuar até 2016. Isto sem falar de aumento das tarifas de serviços básicos de infraestrutura, como luz, água, transporte e alta de impostos, como já anunciou o novo ministro Joaquim Levy. É, parece que o touro está bravo mesmo! Para a indústria, a expectativa é de terminar o ano com crescimento de 1,04%. Um alívio, considerando o amargor dos últimos períodos. Basta lembrar que no primeiro semestre de 2014, a indústria nacional acumulou perdas de 2,6% em sua produção. Com os piores resultados, desde a crise econômica mundial de 2008, empresários têm de repensar suas atividades para superar o prejuízo. Para Ricardo Martins, diretor titular do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), Distrital Leste, “há muito por ser feito para que se atinja um ambiente favorável aos negócios. Resta aos empresários brasileiros unirem-se, arregaçarem suas mangas e tentarem reativar o ano que parece perdido. Em 2015, voltamos nossas expectativas para a retomada do crescimento econômico do Brasil, com ajustes feitos de maneira acertada pela nova equipe econômica”. Ricardo Martins, diretor titular do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo
Carreira é outro item que não pode deixar de ser planejado em 2015. Entre as profissões em alta estão: engenharia, logística, big data, tecnologia, ciências contábeis e administração. Segundo Carlos Perobelli, CEO da 5A Company e autor do livro “Construindo os 5 Ases”, a gestão de talentos é considerada, por executivos do mundo todo, a estratégia de negócios mais importante para uma corporação. Ainda assim, boa parte admite que a própria empresa não tem uma estratégia para essa área implementada e acha que não detém as pessoas certas para liderar. Os resultados são de uma pesquisa global, que incluiu o Brasil, feita pela consultoria de recrutamento para altos executivos Korn/Ferry com a participação de mais de cem profissionais. Para Perobelli, os líderes precisam compreender que ao contratarem uma pessoa, também contratam sua experiência profissional e, a tiracolo, os vícios adquiridos em trabalhos anteriores. Por isso, é necessário remover o “recipiente”, de forma que esse novo colaborador possa desenvolver raízes fortes que possibilitem a superação dos “ventos fortes”, da “seca” e dos demais fatores que podem comprometer seu sucesso na empresa.
Carlos Perobelli, CEO da 5A Company
No setor imobiliário, a compra da casa própria continua sendo o sonho de muitos brasileiros. No entanto, após conquistar a nova moradia, muitas famílias veem seus planos ruírem, de uma hora para outra, devido ao
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Indústrias economia atraso na entrega do imóvel ou por inadimplência no financiamento. Problemas financeiros, como desemprego e perda de renda, estão entre os principais motivos que têm levado os compradores de imóveis a pedirem a rescisão do contrato. A modalidade para financiar a casa própria, o comprometimento da renda e a documentação são alguns dos trâmites que envolvem a aquisição do financiamento imobiliário. Para evitar dissabores aos que pretendem adquirir crédito habitacional, a AMSPA - Associação dos Mutuários de São Paulo e Adjacências acaba de lançar cartilha com 26 perguntas e respostas sobre o financiamento imobiliário. Para Marco Aurélio Luz, presidente da entidade, na ânsia de realizar o sonho da casa própria, em muitos casos, o futuro proprietário não se atenta justamente nas perigosas letras miúdas inseridas no contrato ou, até mesmo, faz com que aceite as imposições do contratante no fechamento do negócio. “Durante o financiamento, o comprador pode enfrentar vários problemas, como desemprego, por exemplo. Esperamos que a Cartilha do Mutuário ajude esses consumidores e evitar que caiam em armadilhas”, recomenda. Em janeiro, foram anunciadas mudanças na cobrança de juros.
Para essa cruzada, sempre que soubermos da lisura dos atos de um cidadão, devemos procurar nos unir a ele ou fazer com que ele se una a nós, para que possamos, ainda que modestamente, contribuir em favor de uma sociedade melhor”. Já a jornalista Clarice Pereira, especialista em Marketing, acredita que os profissionais da área de comunicação podem colaborar, e muito, para a mudança dos paradigmas em 2015. “Forças instintivas levam as pessoas a fazerem algo, e quando suas necessidades básicas não são satisfeitas, levam ao impulso, como por exemplo, o efeito manada (quando todos querem a mesma coisa ao mesmo tempo). Em outras palavras, compreender o processo psicológico é fundamental para entender como as pessoas tomam decisões, qual é a sua expectativa de valor e como reagem a determinados sinais. Além da análise racional e consciente, fatores como cheiros, cores, luzes, sons e emoções podem ser capazes de maximizar valores determinantes, de acordo com a percepção de cada um”. Fica a dica: que venha o touro, mas que venha em forma de bife!
A corrupção, ativa ou passiva, no entanto, ainda é o maior dos entraves para que a economia brasileira volte a crescer. Em seu discurso de posse, a presidente Dilma disse que “a corrupção ofende e humilha os trabalhadores, os empresários e os brasileiros honestos e de bem. Proponho um grande pacto nacional contra a corrupção, que envolve todas as esferas de governo e todos os núcleos de poder. Devemos lutar contra os predadores internos e inimigos externos. A corrupção deve ser extirpada”, sentenciou.
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De acordo com o estudioso Antenor Batista, autor do livro “Corrupção: o 5° Poder - Repensando a Ética”, combater a corrupção não é uma tarefa fácil. Os riscos são muitos. “Mesmo assim, não devemos abandonar a luta. Para esse mister, a união dos incorruptíveis é por demais importante, para que formemos uma legião de pessoas afins, imbuídas de princípios éticos e elevado conceito de cidadania.
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Marco Aurelio Luz, da AMSPA
Indústria publi editorial
É mais que um Frigorífico, é REAL e É daqui!!! Foto, Divulgação Contribuir para a qualidade de vida das pessoas é a missão do Frigorífico Real em Uberlândia. Uma empresa daqui, que há 30 anos, vem oferecendo produtos de qualidade, sem esquecer as nossas responsabilidades, ambiental, social. Geramos mais de 250 empregos diretos, além dos indiretos com produtores e transportadores. Processamos diariamente o suficiente para atender a metade do consumo de carne suína e bovina, são aproximadamente 1800 empresas atendidas mensalmente. Dentre os valores do Frigorífico Real temos a responsabilidade com o meio ambiente e tratamos 100% de nossos resíduos em consonância com os órgãos ambientais. Isto tudo, para que você tenha em casa um produto de qualidade todos os dias, garantindo assim a satisfação de sua família e o sucesso em seus eventos, sempre com um produto REAL. A garantia de nossos serviços e qualidade de nossos produtos, traz a você nosso cliente a tranquilidade e segurança obtidos do Frigorífico Real. Nosso compromisso é oferecer saúde à sua família e sucesso ao seu negócio. Temos uma linha direta com o Produtor Rural para melhor negociação e satisfação dos nossos parceiros, tanto bovinos quanto suínos, comprovando assim a idoneidade e responsabilidade da nossa empresa.
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A indústria brasileira está sufocada Por, Adriana Sousa Foto, Mauro Marques
O empreendedor Lázaro Magalhães acredita que as empresas precisam se unir para evitar um cenário de crise
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Lázaro Magalhães é industrial na área química. Em 1989, ao lado da esposa, ele fundou a Politriz, fabricante de produtos de limpeza. O mix possui mais de 250 itens, segmentados em linha doméstica e institucional, que abrange os segmentos automotivo, tratamento de pisos e consumo. Nos últimos sete anos, esteve à frente da gestão da União das Empresas do Distrito Industrial de Uberlândia (Unedi), o que contribuiu para sua visão abrangente dos desafios enfrentados pela indústria nacional. Na visão do empreendedor, a indústria se vê pressionada por dois lados. Em um deles, o poder público, com um sistema tributário complexo e oneroso, leis trabalhistas obsoletas diante da realidade de mercado e regulamentação ambiental extremamente rigorosa e difícil de ser cumprida. Do outro lado, os compradores, principalmente as redes internacionais de varejo, que forçam a indústria a praticar margens cada vez mais reduzidas, em uma comparação com os preços praticados pelas grandes multinacionais.
mais agressivo e atraiu importantes indústrias, que contribuíram para seu nível de desenvolvimento. Para Lázaro, uma das primeiras coisas que o empreendedor busca quando pretende investir em uma cidade é o subsídio para aquisição de área, com valores que sejam mais razoáveis que aqueles oferecidos pelo mercado. Depois, busca incentivos municipais, como isenção temporária de alguns impostos. Em nível estadual, existem convênios específicos, como a isenção parcial ou temporária de ICMS. “Tudo vai depender do quanto o Estado enxerga esse investimento como algo que dará retorno a longo prazo, na forma de empregos, geração de renda e tributação futura”, avalia o empresário. No nível federal, um exemplo recente e bastante divulgado foi a redução do IPI para a indústria automobilística, que ainda assim, está com os pátios lotados.
“Uberlândia é uma cidade atrativa para novos negócios, mas quando não há diálogo em torno de benefícios, o empresário corre atrás de onde irá encontrá-los”
Falta de incentivo e fomento Nessa entrevista, Lázaro Magalhães avalia diferentes aspectos em sua atividade como industrial, a começar pela falta de incentivo e fomento. Instalado em Uberlândia há mais de 20 anos, ele confessa que algumas vezes teve vontade de migrar seus investimentos para outro Estado, onde receberia mais incentivos. “Em Goiás, por exemplo, existem áreas subsidiadas. Para crescer minha planta em Uberlândia, eu teria que pagar um valor muito alto pelo metro quadrado e não encontraria áreas próximas à minha planta atual”, analisa.
O grande desafio, de acordo com a visão do empresário, seria que cidade e Estado se planejassem para atrair investimentos, reservando dotação orçamentária, com vistas ao longo prazo. “Empresas como Souza Cruz e Cargill vieram para Uberlândia a preço de ouro. Teve um alto custo, mas os resultados vieram. Pode ser um investimento que demora a dar retorno, mas quando isso acontece, se converte em algo sustentável. São grandes empregadoras, arrecadam um valor significativo para os cofres públicos e estão consolidadas. Valeu a pena o esforço feito lá atrás”, explica. “Hoje, tenho a sensação que a cidade ficou estagnada”.
O empresário acredita que a cidade ainda não entrou em uma fase de perder empresas instaladas para outros Estados, mas já deixou de atrair investimentos pela falta de áreas e de benefícios concedidos. “Uberlândia é uma cidade atrativa para novos negócios, mas quando não há diálogo em torno de benefícios, o empresário corre atrás de onde irá encontrá-los”, diz. Na opinião dele, os gestores públicos em Minas Gerais optaram por uma política mais conservadora de incentivos, ao passo que Goiás foi
Regulamentação Lázaro Magalhães faz também sua avaliação sobre a regulamentação trabalhista e a realidade da indústria. Para ele, as leis brasileiras são ultrapassadas e a cada dia surgem novas obrigações, que oneram o empregador. Ele cita a licença maternidade de cinco meses e a lei do menor aprendiz, que obrigam a empresa a arcar com as despesas adicionais, sem nenhuma contrapartida do poder público. “Reconheço a importância dos bene-
“Tenho a sensação de que Uberlândia ficou estagnada”.
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fícios sociais, mas quem paga a conta é o empreendedor. O governo exige cada vez mais, mas não compartilha a responsabilidade por essa conta, que não fecha”, critica. Sobre a realidade tributária brasileira, as críticas continuam: “No Brasil, a cada dia se cria um imposto diferente, fica difícil produzir, principalmente para quem faz tudo direitinho”. Para o empresário, a saída está no controle rigoroso dos custos, no aumento da produtividade e na busca de processos cada vez mais eficientes para se evitar as perdas. “Estamos enxugando de todos os lados para tentar sobreviver”, conclui. Na área ambiental, as indústrias enfrentam uma regulamentação bastante rigorosa. Para Lázaro Magalhães, a adequação das empresas tem sido cada vez mais difícil e cara. Um dos problemas apontados por ele é que existem muitas leis e órgãos regulamentadores que não dialogam entre si. Dessa forma, as obrigações são feitas de forma fragmentada, sem planejamento. As leis ambientais se aplicam tanto à operação (ruídos, odores) quanto ao tratamento de resíduos, utilização e devolução da água ao ambiente.
agregado e de renda no país, mas corre o risco de sufocar diante de tanta pressão. Para o empresário, o achatamento das margens é consequência da política de negociação estabelecida por grandes redes do varejo, que trouxeram seu modelo de negócios para o país. “O varejo como um todo acabou copiando o modelo e hoje a indústria se vê forçada a reduzir ainda mais suas margens”, explica. A longo prazo, essa equação resulta na falta de investimento para modernização, margens pífias de crescimento e redução do nível de competitividade do produto nacional diante dos estrangeiros.
“A indústria brasileira está sufocada. Ela está num colapso muito grande porque ficou espremida entre as leis do poder público e do mercado.”
Margens cada vez mais restritas Além das questões legais e tributárias, Lázaro Magalhães aponta ainda um novo vilão da indústria nacional, representado pelo mercado entre empresas. No caso da indústria em que ele atua, as redes varejistas praticam negociações cada vez mais duras, para levar o produto às gôndolas por um preço mais competitivo. Esse processo, segundo ele, começou com a presença de grandes redes varejistas internacionais, que trouxeram para o Brasil a cultura de reduzir as margens de venda em função dos grandes volumes negociados. São as leis de mercado. “Nossa margem de lucro já é pequena depois de cumprirmos todas as obrigações. Aí vem o cliente e te aperta ainda mais. A indústria brasileira está sufocada. Ela está num colapso muito grande, porque ficou espremida entre as leis do poder público e do mercado. Estamos pagando a conta sozinhos”. Lázaro Magalhães faz esse alerta com o objetivo de lembrar que a indústria é uma das principais geradoras de empregos de valor
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Existe saída? Na visão mais pessimista, uma alternativa seria parar de produzir. Mas as barreiras de saída das indústrias são altas e a conta, na visão de Lázaro Magalhães, pode se tornar impagável. Por isso, ele aponta alguns caminhos, como a conscientização do varejo para negociações mais justas e baseadas no ganha-ganha. “A indústria é vista como a vilã pelo mercado e pelo Estado. No passado pode até ter sido, mas hoje é sacrificada”, compara. Segundo o empreendedor, são necessárias adequações para que as empresas possam arcar com a carga tributária, adequar-se às exigências do mercado e continuar produzindo e gerando riquezas e valor para o país. Lázaro defende ainda a organização da classe empresarial, por meio das associações de classe e de movimentos estruturados. “Precisamos protestar contra esse cenário e exigir formas de tratamento mais justas”, convida. Começa no município, com a Associação Comercial e Industrial de Uberlândia (ACIUB) e tem que chegar à esfera nacional, com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). “É preciso perceber que a indústria está sufocada, que ela está em perigo. Temos um comodismo em não lutar pelos nossos direitos, principalmente o empresário. Ele acha que não vale a pena, que não vai conseguir. Precisamos mudar esse quadro, parar de aceitar as coisas erradas, ir à luta para conseguir melhorias”.
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Distrito Industrial precisa crescer e se modernizar Por, Adriana Sousa Fotos, Dia D Filmes | Jorge H. Paul | Divulgação
Desafios vão desde ampliação de áreas industriais até mudanças no sistema viário A falta de áreas próprias para instalação de indústrias de médio e grande porte é um dos entraves à diversificação e ao crescimento do parque industrial na cidade de Uberlândia. O Distrito Industrial Norte, criado há mais de 40 anos, tem poucas áreas disponíveis e a maior parte delas não atende às necessidades de grandes empreendimentos. Além disso, suas ruas são estreitas para o tráfego das modernas carretas, há dificuldades de movimentação de carga e de serviços para os profissionais que circulam por ali. Atualmente, cerca de 50 mil pessoas trabalham naquela região.
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Para 2015, duas mudanças devem contribuir para a modernização do Distrito. A primeira foi a municipalização das áreas ainda disponíveis, que eram administradas pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig). No total, 53 áreas, o correspondente a cerca de 300 mil metros quadrados, serão transferidas para o município. A segunda mudança foi a criação da Agência Municipal de Desenvolvimento Econômico e Sustentável (Amdes), que tem o objetivo de atrair novos negócios para a cidade e fazer a gestão dessas áreas livres.
Para José Humberto Miranda, presidente da União das Empresas do Distrito Industrial (Unedi), as mudanças previstas para esse ano são positivas, mas a região apresenta ainda muitos desafios. A Unedi é uma associação sem fins lucrativos, criada para atuar de maneira conjunta em defesa dos interesses do setor. Por meio de sua representatividade, acontece a interlocução entre as empresas instaladas no Distrito, o poder público e outros setores da economia relacionados à indústria. Segundo Miranda, nos últimos governos, a região ficou estagnada e vários empreendimentos de grande porte deixaram de se instalar na cidade por falta de flexibilidade de áreas para instalação. A Ambev, por exemplo, não pode instalar-se ali por falta de disponibilidade hídrica. A estagnação não foi só local, faz parte de um contexto de investimentos que privilegiaram os benefícios sociais ao invés de políticas públicas voltadas ao fomento do setor industrial. Atualmente, o Distrito Industrial Norte abriga cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade de Uberlândia. São cerca de 300 empresas instaladas, muitas com capacidade de ampliar a produção, mas sem condições de crescer fisicamente. As mudanças previstas para acontecerem em 2015 trazem boas expectativas, segundo o presidente da Unedi. “Antes, quando uma empresa pretendia instalar-se aqui, tínhamos que negociar a área com o estado de Minas Gerais e outros aspectos com o governo municipal. Agora, ficará tudo na cidade”, esclareceu Miranda. Para ele, a centralização vai evitar que muitos empreendimentos acabem indo para outras cidades mineiras.
Um outro lado da mudança é que, quando entrar em funcionamento, a Agência de Desenvolvimento terá que empreender um trabalho proativo na busca de investimentos. “Será necessário profissionalizar essa busca de investimentos. Uberlândia é uma cidade que oferece todas as condições para receber novas empresas, mas muitos outros municípios brasileiros fazem o mesmo”, explica Miranda, da Unedi. As agências de desenvolvimento são modelos criados por governos municipais e estaduais com esse objetivo de atrair novos empreendimentos. “Não estamos inventando nada, o modelo já existe em muitos lugares. Trata-se de uma organização mista, onde o público e o privado vão trabalhar para trazer benefícios para toda a cidade, seja na forma de novos empregos, inovação, investimentos e tributos”, conta Paulo Romes. Retrato do Distrito O Distrito Industrial Norte nasceu da vontade de um grupo de empreendedores uberlandenses que se organizou para consolidar, em uma única região da cidade, indústrias locais e nacionais, que tinham interesse em instalar-se em uma área adequada. Foram anos de trabalho - que envolveu a doação da área, infraestrutura elétrica, hídrica, viária, de telecomunicações, sistema de acesso, entre outros aspectos - até que as primeiras empresas estivessem em pleno funcionamento. Isso aconteceu na década de 1970. É o único distrito preparado para receber as indústrias chamadas poluentes, que geram resíduos, odores e ruídos.
“Uberlândia é uma cidade que oferece todas as condições para receber novas empresas, mas muitos outros municípios brasileiros fazem o mesmo”. - José Humberto Miranda, presidente da Unedi
Paulo Romes Junqueira, Ex-Secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo, avalia positivamente a doação das áreas disponíveis para a gestão do município. Antes, quando uma empresa procurava a Prefeitura buscando apoio para o investimento privado, era necessário que o empreendedor negociasse com o Município e com o Estado. Uberlândia precisava também oferecer contrapartidas que eram negociadas diretamente com o governo estadual, em uma espécie de livro caixa, com débitos e créditos de ambos os lados. “Com a criação da agência, a cidade terá mais autonomia para avaliar os investimentos necessários e a contrapartida que cada empresa trará na forma de geração de empregos, renda e tributos”, analisa.
Atualmente, abriga empresas locais, nacionais e internacionais dos mais diversos segmentos. A rotatividade entre os empreendimentos é baixa, até mesmo pelas altas barreiras de saída presentes na indústria de transformação. Segundo o presidente da Unedi, José Humberto Miranda, nos últimos anos registraram-se poucas empresas deixando o Distrito. “Trata-se de um bairro industrial consolidado, bem-sucedido, que apresenta inúmeros aspectos positivos para o empreendedor”, avalia. Embora consolidado e com poucas áreas disponíveis para locação e venda, a região apresenta hoje inúmeras dificuldades, entre elas o trânsito de caminhões e
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Indústrias distrito
a logística de carga e descarga. “As ruas são estreitas, os pátios ficaram pequenos para o porte dos caminhões. Temos um plano de readequação que prevê mudanças na circulação de carros e caminhões, melhoria na sinalização e criação de áreas comuns de estacionamento e circulação de pessoas”, conta José Humberto. O Distrito Industrial também busca soluções comuns para as questões ambientais. Existe uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) e cada empresa desenvolve também seus processos de gestão de resíduos. “Procuramos levar conhecimento e orientação. Algumas empresas estão mal posicionadas e acabam gerando impacto ambiental, principalmente por causa da proximidade de bairros residenciais”, diz Miranda. Atualmente, segundo José Humberto, há pouco espaço para que o Distrito Industrial Norte possa crescer. Estudos em andamento avaliam a possibilidade da criação de novas áreas, em novos bairros da cidade, onde se possam criar polos de desenvolvimento. Para Paulo Romes, a melhor alternativa seria a de ampliar o Distrito Industrial em uma área próxima à atual.
ção. Para ficar em um exemplo, o caso da Braspelco ilustra bem essa história. Foi feito um trabalho para a atração da empresa, que depois não conseguiu controlar os resíduos relacionados aos odores. O resultado foram multas sucessivas que levaram ao seu fechamento e consequentes perdas dos benefícios conquistados. “É preciso considerar todos os elementos nessa equação”, conclui o secretário. O empresário Lázaro dos Reis Magalhães foi presidente da Unedi durante sete anos. Saiu recentemente, mas possui um profundo conhecimento dos pontos fortes e fracos do Distrito Industrial. Para ele, a indústria deveria ser vista como o braço direito da cidade em termos de empregabilidade e arrecadação. “Infelizmente, essa importância não tem sido dada”, afirma Lázaro Magalhães. Para ele, o Distrito Industrial encontra-se estagnado, com empresas que deixam de vir para Uberlândia e investem em cidades de Estados vizinhos, que oferecem áreas e incentivos tributários. “O investimento industrial se traduz em benefícios de longo prazo. Empresas hoje consolidadas se instalaram em Uberlândia a preço de ouro anos atrás. Hoje geram emprego, riqueza, tributo e há muito já fizeram o investimento valer a pena. É nesses termos que precisamos conversar”, finaliza o empreendedor.
“As ruas são estreitas, os pátios ficaram pequenos para o porte dos caminhões.” - José Humberto Miranda, presidente da Unedi”
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Ele acredita que empresas que geram resíduos, odores ou ruídos precisam ser mantidas em regiões específicas, a fim de não causar transtornos para a popula-
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Indústria gestão pública
Altamir de Araújo Rôso Filho
Ronaldo Alves
Armando Monteiro Neto
Novos gestores públicos na área de desenvolvimento Por, Adriana Sousa Fotos, Divulgação
Ano começa com renovação do poder público em nível estadual e federal Em janeiro, ocorreram mudanças nas esferas municipal, estadual e federal. O ano começou com a renovação do poder público em nível estadual e federal. O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT) e a presidenta reeleita, Dilma Roussef, anunciaram secretários e ministros no final de dezembro. Em Uberlândia, uma pequena reforma administrativa também alterou o titular da pasta de Desenvolvimento Econômico e Turismo. Saiba um pouco mais sobre o perfil desses novos gestores.
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Ronaldo Alves é o novo titular da pasta de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Uberlândia. É graduado em Direito e diretor executivo da Unipac Uberlândia. Atualmente, preside o Partido Social Cristão (PSC). Passou pela Câmara Municipal de Uberlândia como vereador (2009 - 2012). Substituiu Paulo Romes Junqueira, originalmente entrevistado para esse suplemento (*). Em nível estadual, Altamir de Araújo Rôso Filho, natural de Uberaba, assumiu a pasta da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, em substituição ao empresário uberlandense Rogério Nery. É graduado em Ciências Econômicas e Engenharia Civil. Atua no ramo de construção civil. Já ocupou cargos de liderança no Sinduscon, na Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Uberaba (ACIU), na Associação das Empresas dos Distritos Industriais I e II (Assediu). Ao ser nome-
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ado para o cargo, ocupava a vice-presidência regional da Federação das Indústrias de Minas Gerais e a presidência da FIEMG Regional Vale do Rio Grande, em seu segundo mandato. Nacionalmente, o responsável pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio é o pernambucano Armando Monteiro Neto, senador pelo PTB. Foi três vezes deputado federal por Pernambuco e candidato derrotado ao Governo do Estado em 2014. Em seu currículo como empresário, presidiu a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Sesi e o Senai nacionais. Participou ainda do Conselho de Administração do Sebrae. Ele substituiu Mauro Borges Lemos, que ficou pouco tempo à frente da pasta, assumida depois do afastamento de Fernando Pimentel para a disputa do governo mineiro. (*) A entrevista com Paulo Romes Junqueira foi gravada em dezembro, quando ele ainda era o responsável pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo. Optamos por manter o conteúdo, apesar da reforma administrativa, por questões de cronograma da publicação. Fontes: sites oficiais da Prefeitura de Uberlândia, Governo de Minas e Governo Federal.
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A visão do poder público Por, Adriana Sousa Fotos, Divulgação
O que os empresários buscam não é o arrefecimento das leis, mas que se faça a reforma tributária tão sonhada, tão desejada, tão prometida _cult
A indústria brasileira depende fortemente do ambiente político legal para seu direcionamento estratégico. Isso porque uma boa parte dos custos relaciona-se à carga tributária. Os impostos são pagos em todas as esferas (municipal, estadual e federal), podem variar de acordo com a cidade ou o Estado, envolvem processos complexos de contabilidade, pagamento e controle. Além disso, é necessário ficar atento às leis que regulam as relações de trabalho, o meio ambiente, o transporte de carga, o consumo de água e energia, a gestão de resíduos, entre vários outros.
cura tributária, com sistemas que não dialogam, impostos a serem pagos diariamente e que ainda podem ser questionados. Isso acontece em todas as esferas. Abrir os ouvidos Os empresários reclamam, se organizam para pedir melhorias. É necessário que a classe política abra os ouvidos às reivindicações da indústria. O Judiciário tem que julgar. O Fisco tem que fiscalizar. Ambos agem de acordo com as leis que possuem. O que os empresários buscam não é o arrefecimento das leis, mas que se faça a reforma tributária tão sonhada, tão desejada, tão prometida. Talvez seja impossível mudar a quantidade de tributos e as altas taxas impostas à indústria. Vamos fazer uma coisa de cada vez. Em minha opinião, deveríamos promover uma simplificação tributária. As taxas que mais afetam à indústria acontecem no âmbito estadual (ICMS) e federal (IPI, PIS, Cofins). No âmbito municipal, não há muito que se possa resolver. Mas temos o poder de influenciar. Prefeitos e vereadores têm contato com deputados estaduais e federais, que elaboram e aprovam leis. Tudo começa no município, onde a classe política tem que enxergar o empresário como peça importante do desenvolvimento local.
“Se a gente for esperar a crise passar para poder crescer, vai ficar estagnado. Por isso Uberlândia nunca parou de se desenvolver”.
No Brasil, alguns Estados adotaram políticas fiscais agressivas para a atração de indústrias de alto valor agregado. Concederam isenção de impostos e subsídio de áreas, de olho em benefícios futuros, resultantes da geração de empregos e impostos. Em alguns casos, estabeleceu-se a “guerra fiscal”, onde os Estados se tornavam atrativos na medida em que ofereciam ao empreendedor maiores benefícios, que poderiam ou não comprometer a geração de caixa para pagamento dos serviços públicos. Quando se trata de Uberlândia, as políticas públicas voltadas para o setor industrial envolvem o trabalho da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo, até dezembro do ano passado liderada pelo empresário Paulo Romes Junqueira. Na entrevista a seguir, ele aborda os principais pontos da sua pasta, além de indicar os desafios do poder público para oferecer melhores condições para atrair e reter indústrias em Uberlândia. Vivemos uma loucura tributária Por muitos anos, nós imaginávamos que estávamos concorrendo tão somente com nosso vizinho de porta, com uma indústria da mesma cidade ou até de outro Estado. Está na hora de compreendermos e aceitarmos que nesse mundo globalizado, a China está a um clicar de dedo. Estamos concorrendo com a indústria do mundo inteiro. Por isso, os governos deveriam encarar algumas realidades que precisam mudar, entre elas, a questão tributária. Se eu tivesse que escolher, ao invés de pedir redução na carga tributária, eu pediria uma redução no número de tributos, para que a gente tivesse um sistema mais simples, difícil de sonegar. Isso traz segurança jurídica. Atualmente, as leis tributárias são muito complicadas e mudam constantemente. Vivemos uma lou-
Alinhamento e cultura empreendedora Não tenho conhecimento político para abordar esse alinhamento de gestões do Partido dos Trabalhadores em nível municipal, estadual e federal. Acredito que o Prefeito, estando alinhado com o Estado e a União, vai ter um espaço importante, com oportunidade para trazer investimentos e benefícios para Uberlândia. Independente disso, estamos trabalhando para fomentar uma cultura empreendedora. Criamos a lei Pró-Micro, que visa oferecer o máximo de facilidades na nossa legislação para que o pequeno e o micro empreendedor abram suas empresas e se mantenham no mercado. Promovemos a desburocratização do atendimento à pequena e micro empresa desde o início, facilidade de recolhimento de tributos, legislação mais enxuta para que tenha menos obrigações a cumprir. Temos também o programa Cultura Empreendedora, que acontece na escola pública, a fim de estimular o surgimento de futuros empreendedores. Oferecemos cursos de qualificação e estímulo para aqueles que queiram ter suas próprias empresas. Trabalhamos próximos ao Sebrae e buscamos sempre novas parcerias.
“Precisamos atuar nas duas pontas: atrair novas empresas e manter as que já estão aqui e geram riqueza”.
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Indústrias incentivos
Atratividade de Uberlândia Nós recebemos visitas de muitos empresários querendo conhecer a cidade pra fazer investimentos. Eles buscam informações sobre diferentes cidades e escolhem aquelas que forem mais atrativas, a partir de uma série de critérios. Muitas vezes, a cidade concede alguns benefícios porque precisa crescer. Se a gente for esperar a crise passar para poder crescer, vai ficar estagnado. Por isso, Uberlândia nunca parou de se desenvolver. Uma empresa, uma cidade, é como andar de bicicleta. Se parar de pedalar, cai. Temos novos empreendimentos sendo abertos em Uberlândia com frequência. No entanto, grandes investimentos como a fábrica da Ambev são mais raros. Recentemente, recebemos uma nova loja do grupo Pão de Açúcar. Vários outros supermercados estão sendo abertos ou já foram anunciados. Uberlândia é uma cidade pujante, que acontece independente do partido político e de quem está à frente da Prefeitura. Queremos facilitar e desembaraçar ao máximo a vida do empreendedor que quer se estabelecer aqui. Uberlândia oferece também um nível muito bom de profissionais qualificados. Temos 26 instituições de ensino superior na cidade, incluindo a Universidade Federal de Uberlândia. Temos potencial para preencher vagas de trabalho de alto valor agregado, para que nossos estudantes possam continuar na cidade e na região, desenvolvendo seu potencial, gerando riqueza e inovação.
forma conjunta, avaliando também os aspectos econômicos e sociais. Precisamos de desenvolvimento econômico para gerar emprego e renda a fim de que todos possam se manter com seu trabalho. Precisamos cuidar do meio ambiente para que nossos filhos e netos possam viver em um planeta melhor. Precisamos de bem-estar social para que as pessoas possam viver com saúde, usufruindo de serviços como educação, transporte, etc. Precisamos cuidar das três pontas. Temos complicado muito as questões ambientais. Mesmo que o empresário não agrida o meio ambiente, ele encontra dificuldades para adequar-se a uma legislação cada vez mais rigorosa, que em algum momento, será impossível de ser cumprida. Ou, então, vai inviabilizar o investimento no negócio. Na Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo procuramos atuar para alinhar os interesses da classe empresarial ao da cidade, envolvendo as secretarias, promovendo diálogos, encurtando as distâncias. Buscamos costurar os interesses da comunidade empresarial e do município.
“Todo empresário que chega em Uberlândia, quando você apresenta a estrutura da cidade, ele enche os olhos. Nós temos pessoas diferentes, gente que pensa lá na frente e que respira essa cultura empreendedora, com os olhos no futuro”.
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O Brasil é um país atrativo. O estado de Minas Gerais é atrativo e Uberlândia é uma das cidades mais atrativas do Estado, é uma cidade pronta. Temos hoje 2,8 mil indústrias estabelecidas, com espaço para muitas outras. Todo empresário que chega em Uberlândia, quando você apresenta a estrutura da cidade, ele enche os olhos. Não vou falar de localização geográfica, exclusivamente. Nós temos pessoas diferentes, gente que pensa lá na frente e que respira essa cultura empreendedora, com os olhos no futuro. Sustentabilidade Não podemos fechar os olhos para a questão ambiental, mas também temos que considerá-la de
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Atração e retenção de empresas Precisamos atuar nas duas pontas: atrair novas empresas e manter as que já estão aqui e geram riqueza. Temos empresas de outras cidades, estados e países querendo investir aqui. Acabo de chegar de uma viagem internacional onde fomos apresentar Uberlândia como uma cidade pronta para receber investimentos no campo esportivo. Divulgamos a cidade em eventos internacionais, participamos de missões específicas. Recentemente visitamos Irlanda e Inglaterra. Quando começamos a apresentar a cidade, muitos já conhecem seus atributos, graças ao advento da internet e das mídias digitais. Existe uma competição pelos investimentos externos. Ela é sadia, natural e lícita. Estamos atraindo investimentos para a região. Se o investidor entender que Tupaciguara é a melhor cidade para investir, vamos ajudar porque isso contribui com o desenvolvimento do Triângulo Mineiro. Uberlândia tem uma forte vocação para a indústria e para a logística. Queremos fortalecer outras áreas, principalmente em função da qualidade de nossas universidades. Estamos ativando uma lei para fazer de Uberlândia uma cidade polo na área de desenvolvimento tecnológico. Já temos fábricas de software, queremos incentivá-las a crescer e atrair novos investidores.
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Indústrias opinião
Expectativas para 2015 Pedro Lacerda, Presidente da FIEMG Regional Foto, SXC
“Do ponto de vista da economia, sobretudo da indústria, a mensagem é de que precisamos de mudanças - e precisamos já Novamente, com Dilma no poder, porém com vitória magra, devido à quantidade de votos conquistados pela oposição, surgiram com grande espera os nomes que comporão a administração da economia nacional - Fazenda (Joaquim Levy), Planejamento (Nelson Barbosa), Agricultura, Desenvolvimento e Banco Central (Alexandre Tombini). Os resultados das últimas eleições mostraram que o povo brasileiro espera por mudanças e espera que elas sejam feitas respeitando os interesses do país, e não de grupos que defendem interesses corporativos inaceitáveis. Do ponto de vista da economia, sobretudo da indústria, a mensagem é de que precisamos de mudanças e precisamos já. O Boletim Focus da primeira semana de dezembro, elaborado pelo Banco Central com base em estudos realizados pelas 100 mais importantes organizações do mercado financeiro, confirmou para 2014 um crescimento quase nulo do Produto Interno Bruto (PIB), da ordem de 0,2%. Também sinalizou a taxa de inflação roçando perigosamente o teto da meta estabelecida pelo próprio BC, de 6,5%. É o retrato fiel do desempenho da economia nos últimos quatro anos: no período, o crescimento médio do PIB será de 1,6% e a inflação esteve sempre elevada, ameaçando fugir ao controle.
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Este é o cenário que aguarda os novos ministros e para revertê-lo é preciso mostrá-lo nas suas cores reais, por mais fortes que possam ser. É preciso reconhecer que nos aproximamos perigosamente do fundo do poço para que possamos perceber a necessidade de nos mobilizarmos todos - governo, parlamentares, empresários e trabalhadores - para buscar novos caminhos. O mesmo Boletim Focus do Banco Central, que prevê resultados decepcionantes na economia este ano, também mostra que no médio e longo prazo a situação não é diferente. Para 2017 e 2018, o PIB potencial - crescimento possível e sustentado da economia nas atuais condições - é de 2,5%. Muito pouco para um país que chegou a crescer 4,5% nos primeiros quatro anos do governo do presidente Lula e muito menos que os 5% ou 6% prometidos pelo ministro Guido Mantega desde 2011.
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A indústria, principalmente a de transformação, responsável pela geração de empregos de qualidade e agregação de valor ao produto nacional por meio da utilização da inovação e de alta intensidade tecnológica, é a principal vítima desse processo que corrói a sua capacidade de crescer. Estudo que acaba de ser divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que, cada vez mais, os brasileiros estão comprando produtos importados: no terceiro trimestre deste ano, quase 22% dos produtos consumidos no nosso país vieram de países estrangeiros - é a maior porcentagem desde 2007, quando as estatísticas começaram a ser feitas. Como nossas exportações também definham, a conclusão é de que estamos perdendo mercados internacionais duramente conquistados no passado e - ainda mais grave - estamos entregando o nosso mercado interno à concorrência internacional. A participação da indústria de transformação no PIB, que chegou a quase 30% nos anos 80, está hoje ao redor de 13%, mesmo patamar dos anos 50 do século passado. Pagamos hoje o preço de não termos feito, no tempo certo, as grandes reformas estruturais necessárias nos campos tributário, das relações trabalhistas, Previdência Social e a reforma política, que continuam sendo postergadas. Também fomos lenientes, nos últimos anos, com o controle da inflação, a gestão das taxas de juros e as concessões no setor de infraestrutura indispensável ao bom funcionamento do setor. Perdemos competitividade e, via de consequência, estamos perdendo mercado. Neste cenário preocupante, a posição da indústria é clara. Reconhecemos e defendemos a importância dos programas sociais do governo para atender segmentos carentes da população, em regiões de economia ainda menos desenvolvida, mas também entendemos que é igualmente necessário que a economia cresça e gere os impostos necessários para financiar esses programas. E isso, com certeza, não se fará com a invasão de produtos importados que enfraquecem as empresas brasileiras e eliminam empregos.
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Indústrias entidades
Fábio Pergher Presidente da ACIUB
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A visão das entidades de classe Por, Adriana Sousa Fotos, Mauro Marques | Divulgação
Presidentes fazem sua avaliação da indústria em Uberlândia e Minas Gerais _cult
A indústria brasileira pede socorro. Pressionados pelo governo, pela sociedade, pelos consumidores e pela produção global com custos cada vez menores, os empresários buscam maneiras de reinventar a produção industrial. Discutem-se novas formas de operar dentro de um contexto de competição acirrada, consumidores exigentes, carência de profissionais qualificados e incertezas em relação às políticas públicas. Entre os problemas apontados por empresários e presidentes de entidades entrevistados para esse suplemento, os principais foram os relacionados à carga tributária, leis trabalhistas, falta de profissionais especializados, sucateamento dos parques fabris, regulamentações relativas ao meio ambiente, falta de incentivos municipais para instalação e crescimento das plantas. Além disso, quem vende para as grandes redes de supermercados, por exemplo, aponta a redução das margens de lucro, achatadas pelo poder de negociação exercido pelos compradores. São problemas que afetam direta ou indiretamente a indústria brasileira, em vários níveis. Para fazer um retrato dessa situação em Uberlândia, foram entrevistados os presidentes de duas importantes entidades representativas do empresariado: Associação Comercial e Industrial de Uberlândia (ACIUB), cujo presidente eleito recentemente é Fábio Pergher e Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), presidida por Pedro Lacerda. Eles avaliaram aspectos que geram impacto direto sobre a atividade industrial. Um retrato realista do cenário de negócios atual e das necessidades de mudanças profundas e imediatas, que devem vir tanto da esfera pública quanto da privada. Confira os principais tópicos abordados por eles.
equipamentos mais modernos, que dependem de investimento e geram muitos tributos mesmo antes de entrarem em operação. Nosso parque fabril está ficando obsoleto, o que reduz nosso nível de automação e produtividade, aumenta a demanda por profissionais com baixa qualificação e remuneração limitada. Consequentemente, todo mundo perde com essa equação”, analisa Pergher. Segundo Pedro Lacerda, da FIEMG, cerca de 20% dos produtos consumidos no Brasil tem origem em algum país asiático, caracterizados pela utilização de mão de obra barata, que possibilita preços finais menores que os praticados pela indústria nacional. Empresas brasileiras terceirizam parte de sua produção aproveitando-se desse modelo, que acaba sendo nocivo, embora de baixo custo. Sobre a questão da obsolescência dos parques fabris, o sistema tributário brasileiro é apontado como um complicador. “As máquinas utilizadas no Brasil são, em grande parte, importadas. Antes mesmo que comecem a produzir, o empresário tem que arcar com vários tributos”, explica Lacerda. “O Governo continua onerando fortemente quem quer produzir, gerar empregos e riqueza. É preciso repensar essa equação injusta”, completa.
“O industrial que sentar dois minutos na cadeira e achar que está em berço esplêndido, ele já começou sua morte ali. É preciso investir em inovação, adaptação”Fábio Pergher, da Aciub”.
Produção globalizada Para Fábio Pergher, da ACIUB, a indústria brasileira hoje, compete com o mundo. Há indústrias que produzem do outro lado do planeta e colocam seus produtos no mercado brasileiro com valores competitivos e qualidade aceitável. Para ele, isso é possível porque o custo de produção no Brasil é um dos mais altos do mundo, considerando-se todos os fatores, como pessoas, energia, maquinário e impostos. “Nossa carga tributária e os custos trabalhistas são altos. A indústria vem se sucateando com o tempo pela dificuldade na aquisição de
Regulamentação e tributos O industrial brasileiro convive hoje com um sistema tributário e trabalhista antiquado, que necessita de ampla discussão e modernização. Pautas como reforma tributária, trabalhista e da previdência se arrastam há algum tempo na esfera pública e são temas frequentes de campanhas políticas. Por outro lado, para Fábio Pergher, os empresários convivem com certas normas de padrão internacional, que ainda não são exigidas em países de primeiro mundo. “Vivemos em um sistema contraditório. Cumprimos leis ambientais de primeiro mundo, que oneram a indústria, mas são seguidas à risca pelos empresários mais sérios. Em contrapartida, recebemos serviços públicos caros, temos custos hídricos e de energia elevadíssimos, apesar de nossa capacidade de geração nesses setores”, compara Pergher. Todo esse cenário é complexo e exige investimentos altos do industrial, na opinião do presidente da
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Indústrias entidades
“Minas Gerais é maior que alguns países da Europa. Nossa economia é fortemente baseada no processamento de commodities. O desafio é a busca de novos modelos econômicos, que gerem maior valor agregado, empregos qualificados e novas oportunidades para empreendedores” Pedro Lacerda Presidente da FIEMG Regional Vale do Paranaíba
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ACIUB. Para ele, o governo está literalmente matando a “galinha dos ovos de ouro” ao exigir que as indústrias arquem com os atuais níveis de tributo e cumpram toda a regulamentação. Para ele, falta diálogo entre os próprios órgãos públicos. “A vigilância sanitária, por exemplo, tem leis que variam de Estado para Estado. As normas de transporte de carga perigosa variam de acordo com cada órgão fiscalizador”, explica. O presidente da Fiemg aborda ainda a questão do foco das políticas públicas federais nos últimos anos, que privilegiou os aspectos sociais e passou a onerar a indústria. “Os benefícios sociais são pagos com a geração de impostos. Acontece que, com o achatamento da capacidade de produção, cai também a arrecadação e, em consequência, a conta não fecha”, diz Lacerda. Na opinião dos dois líderes empresariais, a equação formada pelos custos de produção (matéria prima, energia, instalações, pessoal), somado à alta carga tributária (que incide sobre a produção, a comercialização e o lucro) formam uma equação cujo resultado encontra-se em desequilíbrio. A falta de políticas públicas que contribuam para desonerar um pouco a produção industrial é apontada como um dos principais problemas a serem discutidos com os governos. Tanto a FIEMG quanto a ACIUB buscam abrir canais de diálogo em busca de melhorias que possam beneficiar a todos. Apagão profissional As leis trabalhistas também são apontadas pelos dois empresários como parte dos desafios que se impõem à indústria. Para Fábio Pergher, está cada vez mais difícil contratar profissionais produtivos e qualificados. Além disso, existe um nível alto de rotatividade e um crescimento de ações trabalhistas, que aumentam os custos desse segmento. O próprio governo federal parece reconhecer o problema, uma vez que propôs ajustes no sistema de Seguro Desemprego e pagamento de pensões, nos últimos dias de 2014. Pergher aponta que o Brasil caminha a passos largos para o modelo europeu, onde há um grande número de trabalhadores que sustentam um sistema de previdência e assistência social prestes a explodir. Ele acredita que a solução seria o processo de reversão da aposentadoria, já possível no Brasil, que pode trazer de volta para as empresas profissionais qualificados e produtivos. Além desses aspectos, Pedro Lacerda, da FIEMG, aponta ainda a preocupação com a falta de profissionais especializados em funções operacionais. “Historicamente, profissões mais técnicas passaram a
ser desvalorizadas. Hoje, temos carência de pessoas aptas a operar máquinas, cuidar de processos fabris. Houve uma supervalorização da formação acadêmica, em detrimento da técnica. A longo prazo, isso pode acabar com algumas profissões e deixar a indústria cada vez mais carente de pessoas”, avalia. Atratividade local Para os representantes da ACIUB e da FIEMG, outro ponto que dificulta a ação dos empresários é a falta de incentivos locais e estaduais para atração de novos empreendimentos e manutenção das operações no município. Isso passa por aspectos como a cessão de áreas, redução de impostos ou benefícios para a instalação de parques industriais. Alguns Estados competem entre si, levando à chamada “guerra fiscal”, que pode ser interessante a curto prazo, mas insustentável ao longo dos anos, levando ao esvaziamento dos cofres públicos para a manutenção dos serviços básicos. Na ACIUB, um dos objetivos é de se atuar junto aos gestores municipais para melhorar as condições para que novas indústrias se estabeleçam em Uberlândia. A entidade busca vantagens também para aquelas que já estão estabelecidas, a fim de que se tornem mais saudáveis. Para Pergher, atualmente, a cidade não tem conseguido atrair indústrias devido à falta de flexibilidade e prontidão de áreas, em especial para os empreendimentos de grande porte. “Estamos buscando uma maior aproximação nas esferas municipal e estadual, para entender o que pode ser feito em cada setor. As indústrias locais querem ficar em Uberlândia, mas estão sendo atraídas pelas ofertas de outros Estados. Não podemos deixar isso acontecer, mas temos que lembrar que o capital vai para onde as vantagens forem maiores”, conclui. O estado de Minas Gerais, segundo o presidente da FIEMG, Pedro Lacerca, tem evitado, ao longo do tempo, entrar em disputas de redução de impostos. Em parte, isso acontece por causa do tamanho e das complexidades do Estado. A renúncia tributária, mesmo que temporária, pode inviabilizar o fechamento das contas públicas, já que são mais de 850 municípios, sendo que cerca de 50% deles tem menos de dez mil habitantes. “Minas Gerais é maior que alguns países da Europa. Nossa economia é fortemente baseada no processamento de commodities. O desafio é a busca de novos modelos econômicos, que gerem maior valor agregado, empregos qualificados e novas oportunidades para empreendedores”, analisa Lacerda. Atualmente, entre os projetos que a FIEMG está acompanhando, há um que trata da instalação de um centro de pesquisas
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Indústrias entidades aeroespacial em diferentes regiões do Estado. Lacerda fala também sobre ações criativas que possam ser implantadas para gerar desenvolvimento econômico e gerar riquezas. Ele cita, por exemplo, um planejamento de logística reversa aproveitando-se o fluxo de caminhões que se dirigem ao entreposto da Zona Franca de Manaus, instalado em Uberlândia. Para o empresário, a utilização dessa capacidade ociosa pode reduzir custos e gerar receita. O futuro da indústria Embora boa parte dos problemas relacionados à indústria estejam ligados diretamente à falta de políticas públicas (ou à sua inadequação ao cenário atual), o empresário precisa assumir seu papel de protagonista. Para Fábio Pergher, o industrial brasileiro hoje está assumindo o risco da produção, mesmo em meio a várias adversidades. Para ele, cabe ao empreendedor reinventar-se, buscar novos modelos de negócios, lançar produtos inovadores, modernizar a fábrica, qualificar os empregados e buscar canais de diálogo no que diz respeito àquilo que depende do poder público. Ele aponta que a abertura desses canais é um dos principais desafios da ACIUB para os próximos anos. Pedro Lacerda explica que a Confederação Nacional da Indústria (CNI), elaborou uma carta da indústria, a ser entregue para a Presidente Dilma Roussef em seu segundo mandato. Ela contempla propostas para os
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campos da educação, eficiência do Estado, ambiente macroeconômico, segurança jurídica e redução da burocracia. “São propostas que esperamos que sejam analisadas. Vamos acompanhar junto aos ministérios e trazer essas discussões para o âmbito local”, diz. Quanto ao empreendedor, cabe a ele investir em processos mais modernos de gestão, formação de pessoas, inovação. O profissional brasileiro pode ser mais produtivo, mas para isso precisa investir no desenvolvimento de novos conhecimentos. Tanto a ACIUB quanto a FIEMG oferecem vários programas de formação. Escolas como o Sesi são modelos do desenvolvimento de profissionais técnicos. 2015 Na visão dos dois empresários, apesar das dificuldades, o próximo ano será marcado pela necessidade de se manter o foco no trabalho e no aumento da produtividade. Para Pedro Lacerda, da FIEMG, o ano será bom para aqueles empresários dispostos a ir à luta. “Sempre fui otimista. Desde que sou menino, em dezembro ouço dizer que o próximo ano vai ser difícil. E tudo indica que vai mesmo, mas quem levantar da cadeira e correr atrás, vai vencer”, finaliza. Fábio Pergher, da ACIUB, acredita que o Brasil ainda é o país do futuro e tem tudo para crescer. “Eu nunca vi ninguém de sucesso ou rico, que não fosse otimista. Temos que perseverar, pois as dificuldades sempre vão existir. Alguns vão sobreviver, outros não. Temos que fazer do limão uma limonada”, brinca.
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Indústrias entrevista
“O empresário brasileiro é, antes de tudo, um forte”
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Por, Adriana Sousa Fotos, Fabrizio Oppes
Com ampla experiência nas gestões privada e pública, Dilson Dalpiaz avalia panorama da indústria no Brasil e na região _cult
Para Dilson Dalpiaz, os desafios para o desenvolvimento industrial passam por três importantes caminhos: gerar empregos de alto valor agregado, ter prontidão de áreas para instalação de novos empreendimentos e melhorar o nível de competitividade por meio da qualificação de pessoas. Embora objetivos, são aspectos complexos, que envolvem o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para o setor produtivo, o engajamento dos empresários na busca de modelos de negócios inovadores e a transformação social no sentido de tornar as cidades e regiões atrativas para investidores locais, nacionais e internacionais. Consultor empresarial, diplomata corporativo, palestrante e professor universitário de programas de pós-graduação, Dilson Dalpiaz esteve até o ano passado na diretoria do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (INDI), foi secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Uberlândia, durante a gestão do prefeito Odelmo Leão (2005- 2012). Em 2008, acumulou também a Secretaria de Gestão Estratégica e Comunicação Social. Na iniciativa privada, iniciou sua carreira na atual Algar Telecom (antiga CTBC), onde trabalhou por 33 anos, em diferentes posições executivas. Em seu currículo, constam negociações com diferentes empresas nacionais e internacionais, com o objetivo de atraí-las para Uberlândia e região.
Esses blocos tornaram as transações entre os países mais frequentes e, em alguns casos, mais desburocratizadas. Ocorreu uma quebra de paradigmas e uma reinvenção de processos. Empresas negociam entre si, sem restrições impostas por barreiras geográficas. Buscam em cada país as vantagens para os seus negócios. Acordos bilaterais entre países facilitam ou dificultam as negociações. Nesse cenário ocorre um comércio de alto valor agregado que dá posicionamento econômico aos países. O Brasil ainda é reconhecido por exportar commodities, produtos minimamente processados como minérios, proteínas vegetais como a soja e animais como o frango. O país avança no agronegócio, mas na indústria de transformação, considerando os novos modelos econômicos de alta escala, ainda estamos na primeira infância. Nesse novo modelo econômico, como as cidades podem se estruturar para buscar investimentos em indústrias? Dilson: Uma cidade, por si só, não tem poder decisório determinante diante de aspectos que são contextualizados em âmbito nacional e internacional. Atualmente, as grandes marcas espalham suas unidades de manufatura em diferentes países pelo mundo, de acordo com as vantagens para o capital investido. Empresas como a Nike, por exemplo, fazem a gestão da marca e do produto. A fabricação está em diferentes países, de acordo com aspectos como menor custo, carga tributária, nível de especialização, oferta de mão de obra. Os Estados Unidos, por exemplo, perderam boa parte de suas indústrias. O capital vai em busca dos lugares onde encontra as melhores condições. Em alguns casos, procuram profissionais adequados, em outros, estabelecem plantas robotizadas. Há empresas que se estabelecem apenas como montadoras, adquirindo seus componentes de diferentes países. Ainda assim conseguem se manter mais competitivas do que no velho modelo de linha de produção. Temos o exemplo da Hyundai, que começou em Anápolis-GO, importando peças e componentes de outros países para a montagem do carro no Brasil.
“Uma cidade, por si só, não tem poder decisório determinante diante de aspectos que são contextualizados em âmbito nacional e internacional”.
Nessa entrevista, o consultor apresenta uma ampla visão a respeito dos fatores favoráveis para tornar uma cidade mais competitiva e, com isso, atrair e manter investimentos no segmento industrial. Ressalta a importância das políticas públicas e da integração entre Municípios, Estado e União para a promoção de um crescimento sustentável, que gere impactos positivos na economia. Parafraseando o escritor Euclides da Cunha, Dalpiaz compara: “O empresário brasileiro é, antes de tudo, um forte”. Qual o contexto atual em que devemos avaliar a questão do desenvolvimento industrial das cidades brasileiras? Dilson: Nas últimas décadas, as economias mundiais começaram a consolidar-se em blocos econômicos. A primeira foi a União Europeia, um projeto que levou décadas e ainda está em andamento. Temos o bloco da América do Norte e o Mercosul, aqui na América do Sul.
E o que acontece com o velho modelo de produção industrial? Ainda existe espaço para as grandes fábricas? Dilson: As fábricas hoje estão dispersas geograficamente, ou seja, a linha de produção não fica concentrada apenas em um espaço. Esse desmembramento se
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Indústrias entrevista deve principalmente pela busca de melhores custos e vantagens competitivas para fabricação de um produto. As empresas também não veem mais vantagem em deter todo o processo de fabricação de um produto. A tecnologia muda em escala exponencial e os custos de inovação ficam altíssimos. Por isso, muitas optam por contratar fornecedores especializados na fabricação de determinado componente e no final realizam a montagem do seu produto. Essa situação é muito comum com empresas de telefonia celular e tablets. Ao invés de deter toda a produção, contratam um fornecedor altamente especializado que vende para várias marcas, mesmo as que concorrem entre si. Em meu trabalho no INDI, atuava para atrair empresas para Minas Gerais. Ao conversar com empresários, percebi que adotaram modelos de fabricação por encomenda junto a uma gama de fornecedores dispersos. Assim, lidam melhor do ponto de vista econômico, com os vales e picos do processo produtivo. O termo grande fábrica requer também uma nova conceituação e análise, não somente ao tamanho físico da planta industrial, número de empregos gerados, mas também quanto ao seu nível de qualificação e a consequente qualidade da remuneração. Tudo vai depender de quanto mais tecnologia estiver aplicada não só no processo produtivo, mas também na sofisticação tecnológica dos produtos finais.
Quando estudamos a competitividade da indústria brasileira, ela ainda é baixa. Tivemos um aumento de custos, em especial de pessoal e tributário, descasado do aumento da produção. Isso faz com que o Brasil perca em competitividade e produtos estrangeiros cheguem ao país a preços melhores que os nacionais. Temos um grande mercado interno e grandes possibilidades de exportação, mas é preciso aumentar nossa competitividade no cenário global e isso passa pela discussão de políticas públicas, participação do empresário e engajamento da sociedade. Quais seriam os componentes necessários para a discussão e estabelecimento dessas políticas públicas necessárias ao desenvolvimento industrial? Dilson: O primeiro deles independe de barreiras geográficas. O mundo está carente de profissionais especializados, como por exemplo, a engenharia, uma das profissões mais necessárias para a modernização dos parques industriais brasileiros, que estão se tornando obsoletos. Nos últimos anos, houve uma flexibilização muito grande das políticas educacionais, requerendo dos estudantes menos esforços intelectuais. Formam-se muitas pessoas, mas poucas com a capacidade analítica e criativa necessária para inovar e fazer com que a indústria avance. Os investimentos em educação precisam ser feitos em curto, médio e longo prazo. Precisam ser adotados como um projeto de Estado, e não de Governo. Isso quer dizer que, independente do partido político à frente das estruturas do poder, os investimentos em educação devem ser consistentes e duradouros. Precisam também de alinhamento entre Município, Estado e União. Quando uma empresa analisa a possibilidade de investir em uma cidade, ela quer saber se encontrará profissionais qualificados. Quanto mais especializado o negócio, mais esse fator é relevante e pode se tornar o aspecto decisivo.
“Os países que estão à frente no desenvolvimento industrial foram aqueles que reformularam seus programas educacionais e investiram pesado na formação profissional”.
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Como podemos situar o empresário brasileiro nesse cenário de alta especialização e comércio global? Dilson: Parafraseando Euclides da Cunha, “o empresário brasileiro é, antes de tudo, um forte”. É um empreendedor nato, criativo e corajoso. É um obstinado navegando num mar emaranhado de leis e procedimentos burocráticos - alguns arcaicos como a CLT que oneram a sua estrutura administrativa somada a um modelo tributário draconiano e complexo. Torna-se imperativa a adoção de uma política industrial que compreenda as principais demandas do setor com menos impostos, burocracia, flexibilidade nas negociações dos contratos de trabalho, infraestrutura eficiente com privatizações e abertura comercial visando a recuperação da competividade perdida. A presença do Estado é importante, não para intervir, mas para atuar como facilitador. O Brasil hoje carece de termos claros e atuais que contribuam para tornar as empresas mais competitivas. E isso passa por diversos componentes.
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Além dessa questão do fator humano, qual seria o segundo componente? Dilson: As facilidades logísticas. Nesse aspecto, Uberlândia é privilegiada. Ela está no centro do Brasil, se desenvolveu pela facilidade de fazer esse trade entre os produtos ‘in natura’ e os manufaturados. Veio a ferrovia, depois a rodovia, as aerovias. Além disso, é um campo fértil para todos os demais fundamentos e atributos do
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Indústrias entrevista que se chama logística. Esse é um dos pilares da economia local. Foi também um dos atributos que levou o governo do estado do Amazonas a implantar na cidade um entreposto da Zona Franca de Manaus, que funciona como uma embaixada, por onde os produtos passam antes de seguir para outros pontos do país, a preços mais competitivos. A localização é um fator importante para atrair investimentos e as facilidades de distribuição existentes na cidade fazem com que ela seja bem vista por novos empreendimentos.
de forma aleatória para todas as empresas que quiserem, de que maneira vão prover os serviços básicos de saúde, educação, transporte, água, esgoto? Incentivos tributários precisam ser bem estudados, ter prazo definido, ter regras claras. A manutenção de programas genéricos em longo prazo pode desequilibrar as contas públicas, como o que aconteceu em Goiás, que ofereceu isenções tributárias como atrativo para um grande número de empresas se instalarem no Estado. Com o tempo, a política fiscal se mostra ineficiente, pois faltam recursos para gerir as crescentes demandas dos serviços públicos.
“Não é papel do poder público distribuir áreas aleatoriamente para empresas. O Estado deve atuar como um facilitador”.
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E a questão do apoio da gestão pública, seja na cessão de áreas ou redução da carga tributária? Dilson: Não é papel do poder público distribuir áreas aleatoriamente para empresas. O Estado deve atuar como um facilitador. Quando o município cede uma área para instalação de uma indústria, contribui para reduzir os custos do investidor, previsto em um plano de negócios. E espera ter contrapartidas, seja na geração de empregos ou de tributos. O poder público opera como um facilitador em uma equação na qual o empresário espera obter lucro na busca da prosperidade sustentável de seu negócio. Empresas geram tributos sobre receitas, sobre lucro, sobre a folha de pagamento. Isso acontece em todas as instâncias, sendo que a maior parte do bolo fica com o governo federal. Dessa maneira se mantém os serviços básicos prestados à população. Os empregos gerados, em especial os de maior valor agregado, movimentam a economia por meio do consumo. Uma empresa consolidada traz todas essas contrapartidas e cabe ao poder público analisar de qual maneira se pode investir junto, visando o desenvolvimento econômico com evolução do equilíbrio social. Existem órgãos de fomento e modalidades de investimento público no qual o governo pode se tornar sócio do empreendimento por algum tempo, com cláusulas de saída previstas em contrato. Além das parcerias suportadas por modernos modelos de concessão, a exemplo das PPP’s (Parcerias Público-Privada). Quando o Estado resolve ceder no campo dos tributos, quais os riscos da chamada guerra fiscal? Dilson: Oferecer redução de carga tributária é uma das maneiras do Estado apoiar a atração de novas indústrias. Mas não se pode perder de vista que os municípios e estados brasileiros sobrevivem do que arrecadam. Se os governos começarem a oferecer isenção
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Atualmente, qual fator tem mais peso na atração de novos investimentos para determinado município? Dilson: Existe uma disputa para atração de negócios que gerem empregos de alto valor agregado. Cidades, estados e países oferecem o que têm de melhor para atrair capital que vai resultar em produção. A oferta de áreas adequadas ao perfil dos negócios é um dos fatores de maior relevância, bem como a flexibilidade tributária aliadas a credibilidade da interlocução. Mas perdem-se investimentos por falta de profissionais qualificados, por dificuldades logísticas. Cada investidor tem um plano de ne-
gócios único, que depende da combinação de diferentes variáveis. Em Uberlândia, vive-se atualmente a escassez de áreas adequadas aos grandes negócios. A cidade tem boa infraestrutura, tem profissionais qualificados, mas o crescimento do Distrito Industrial e disponibilidade de áreas adequadas com prontidão de ‘utilities’ é um gargalo. Isso dificulta a atração de novos investimentos. Que outro componente entra nessa equação que favorece a escolha de uma cidade para um novo empreendimento industrial? Dilson: É a qualidade de vida. Uma empresa, quando quer se instalar, avalia como é viver naquela cidade. Serviços, moradia, escolas, meio ambiente, opções de lazer, transportes e segurança física e patrimonial. Os empreendimentos buscam cidades que investem no desenvolvimento humano e bem-estar das pessoas Considerando-se esses componentes, como se posiciona a cidade de Uberlândia? Dilson: Sobre isso, a comparação que faço é com aquele famoso comercial da Brastemp. A fábrica foi símbolo de qualidade de produtos, mas aos poucos, esse atributo foi se perdendo e ela teve que reinventar-se. Hoje, Uberlândia ‘não é mais a top’, mas tem vários atributos positivos. É preciso estratégia para vender a cidade para investidores, pois eles precisam enxergar valor e perceber que ao instalar-se aqui, terão vantagens que permitam a sustentabilidade de seus negócios. Não basta apenas a cessão de áreas ou incentivos fiscais, que são fundamentais, mas outras cidades também podem dar. A equação precisa envolver, em diferentes aspectos, todos os componentes que permitam oferecer uma proposta de valor imbatível.
houve um tempo em que essa especialização era vantajosa para atrair determinado tipo de indústria. Hoje só isso não é mais suficiente. Tem que ter cuidado porque quando se olha sob o ponto da vista da especialização, é importante ter foco, mas é arriscado, em qualquer setor, colocar todos os ovos na mesma cesta. Uberlândia é uma cidade de vocações múltiplas, o que proporciona um melhor equilíbrio socioeconômico. Quando se avalia a geração de emprego, a maior concentração na cidade se encontra no comércio e serviço. Depois vem a geração de emprego na indústria e na agroindústria. A agricultura, propriamente dita, no sentido ‘stricto sensu’, responde por uma pequena parte dos empregos. Pensando no futuro, como o senhor vê a atividade industrial em Uberlândia e Minas? Dilson: Ela tem que se reinventar e se posicionar de forma competitiva para as grandes demandas do mercado global. A estratégia de nichos pode ser uma alternativa viável, bem como a fabricação de softwares e a criação de empresas que dão suporte às indústrias com o objetivo de torná-las mais competitivas. Lembrando que hoje os concorrentes não estão na mesma cidade ou Estado, mas podem estar em outro país, com fórmulas muito mais eficazes de aumentar a produtividade e a competitividade. É preciso inovação, diversificação, desenhar novos caminhos e implementá-los.
“Uberlândia é uma cidade de vocações múltiplas, o que proporciona um melhor equilíbrio socioeconômico”.
Existe o risco de empresas já instaladas quererem migrar para outros lugares, atraídas por uma combinação mais favorável desses componentes? Dilson: O capital é apátrida. Da mesma maneira que empresas de fora decidem investir aqui, as daqui podem ir para outras cidades. É uma questão de oferta de ambiente de negócios adequado. O capital vai para onde as condições são mais vantajosas e apresentam maior potencial de gerar lucros. Uberlândia tem uma vocação industrial? Ou precisaria desenvolver isso, embora ela tenha um parque industrial? Dilson: Eu enfrento essa pergunta há décadas, porque
Para concluir, quais seriam os caminhos para melhorar o desenvolvimento industrial em Uberlândia? Dilson: Em primeiro lugar, propiciar condições para gerar empregos de alto valor agregado. Não que se desprezem os outros, mas não pode tirar esse foco. Os outros postos de trabalho vêm naturalmente. É preciso também criar modelos de negócios atrativos para novos investidores, como por exemplo, os ‘clusters’ ou polos empresariais inovadores. Por fim, precisamos melhorar a competitividade da indústria. Se existe aqui um grande núcleo de formação de mão de obra especializada, as empresas tendem a dar preferência. Os investidores preferem empregar as pessoas do lugar a transferir funcionários, administrar toda essa fase de adaptação. Essas empresas de alto valor agregado que se instalam na cidade têm contribuído no repatriamento de muitos uberlandenses. No passado, muitos profissionais qualificados foram buscar oportunidades em outros locais e hoje estão voltando, pois surgiram novas oportunidades. É dessa forma que se cria, desenvolve, reinventa e consolida uma cidade competitiva e sustentável.
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Indústrias empreender
Acorda Brasil, o mundo mudou! Felipe Calixto, Empreendedor Fotos, Divulgação
“O governo, como todos sabem, dificulta e complica a vida de quem quer empreender, quem quer produzir” Interessante como as pessoas tratam o capitalismo no Brasil. Uma herança do velho e ultrapassado Marxismo e uma insistência do Petismo Socialista, sempre separando as pessoas em duas classes: empresários e trabalhadores, ricos e pobres, uma dicotomia onde um representa o poder e o capital, o outro é a parte frágil e que significa o trabalho. Acontece que o mundo mudou. Conheço centenas de pessoas que se tornaram empresários sem terem um centavo de capital, trabalhando uma vida, lutando bastante para cada conquista em seu negócio. Trabalham muito até hoje, não se aposentam e nem ganham benefícios do governo ou de outras instituições, não ganham terras, não ganham cestas, não ganham dinheiro do governo para construírem e mobiliarem suas casas, não têm sequer direito ao bom uso dos altos impostos que recolhem, tendo que pagar para terem educação, segurança, saúde e um meio de transporte decente.
sistenciais, ao “seguro desemprego”, alguns se tornam funcionários fantasmas em repartições públicas, outros se aposentam sem motivo real, alguns se instalam nos acampamentos dos Sem Terra, outros no Sem Teto, mas em geral, dentro da filosofia trabalhar pra que? Temos o direito, queremos igualdade. Mas me explica, igualdade só de direitos? Claro que existem os bons trabalhadores, pessoas talentosas, obstinadas, trabalhadoras no sentido puro da palavra, apaixonadas pelo que fazem. Esses geralmente são os profissionais que fazem a diferença e que hoje detêm o poder. Eles escolhem a empresa na qual querem trabalhar, conquistam excelentes remunerações, não se sentem vítimas do empresário, são parceiros e conversam de igual para igual com seus líderes. Aprendi com meu pai que, para você conquistar algo, precisa merecer, precisa estudar, trabalhar, ralar muito para fazer jus à conquista. Não pode ser na força bruta ou no discurso barato e cômodo de que todos temos direitos iguais. Se é assim, onde está o mérito de quem luta pela conquista, já que no final todos terão a mesma colheita?
“Aprendi com meu pai que, para você conquistar algo, precisa merecer, precisa estudar, trabalhar, ralar muito para fazer jus à conquista.”
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Por outro lado, essa cultura promove na classe dos “trabalhadores” pessoas indispostas a trabalhar, pois muitos destes preferem aderir aos programas as-
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Há 25 anos, eu fazia parte do grupo dos trabalhadores, como funcionário de uma grande imobiliária da cidade. Resolvi me tornar um empresário com meu irmão, sem nenhum capital. Para surpresa minha, tive o incentivo de vários outros empresários, nossas maiores dificuldades foram com o governo e com a formação da equipe, vejam que irônico. Quem contrata, sabe que de cada 100 candidatos é difícil tirar 5. Outra ironia, como empresário trabalho muito mais do que antes. O governo, como todos sabem, dificulta e complica a vida de quem quer empreender, quem quer produzir. Deveria ser como nos países desenvolvidos, exatamente o contrário, buscar facilitar as coisas para quem quer fazer a economia girar.
mas principalmente para servir. Enquanto convivemos com esse discurso inútil de separação de classes, os países avançados aprenderam num passado já distante a uni-las e estão fazendo o mundo girar. O que restou pra nós? Vendermos commodities e assistirmos a essa evolução como telespectadores e consumidores. Vamos mudar o Brasil, somos todos cidadãos brasileiros que devemos nos unir para fazermos um país melhor, quer sejamos trabalhadores, empresários, profissionais liberais, políticos, professores ou pesquisadores. Vamos participar do jogo do mundo, temos pessoas talentosas para isso, precisamos trabalhar essa nossa cultura que nos puxa para trás e nos subjuga a país de terceiro mundo, e, o pior, em decadência.
Se você pertence ao time que pensa que empresário ganha dinheiro fácil e não trabalha, o que te impede de entrar no grupo? Ele é aberto e totalmente acessível, qualquer um pode abrir um negócio. Venha, aposte suas fichas! Comece pelo desafio de abrir uma empresa no Brasil, contrate pessoas... Com certeza, já nestes dois primeiros passos começará a mudar sua visão. Mas enfrente a complexidade tributária brasileira, as exigências trabalhistas, os fiscais, os terríveis e incontáveis impostos, os desafios de gestão, a grande concorrência, a disputa apertada pela viabilização dos custos. Como em toda classe, claro que existem maus empresários, geralmente amigos do Rei (ou Rainha) e são seguramente uma minoria, talvez seja até mais correto chamar alguns de “especuladores” do que empresários, mas não tenham dúvidas de que existem também maus trabalhadores. A questão é acabar com essa dicotomia e se unir para construir um país melhor. O empresário precisa do trabalhador, precisa do governo, precisa do meio acadêmico, assim como a economia precisa do empresário, o trabalhador precisa do empresário, o governo precisa do empresário. Sem o empresário a nação não sobrevive. Quem produzirá e comercializará os alimentos, os vestuários, os eletrônicos, e tudo mais que consumimos? Imaginem o mundo sem o Steve Jobs, que mudou a vida de todos com suas fantásticas inovações. Imaginem o mundo sem a padaria do seu bairro, que luta para te prover o conforto diário de ter um pão quentinho para o seu café. Imaginem o mundo sem a TV de Led, o Smartphone, o avião, o carro, a geladeira, a comida industrializada, ou seja, tudo que está ao nosso redor depende de um criador, de um investidor, de alguém que teve coragem para apostar, para perder, para ganhar,
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Felipe Calixto é um empreendedor uberlandense, fundador da Sankhya.
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Indústrias meio ambiente
Desenvolvimento econômico e o meio ambiente Hélio Mendes, Consultor e Professor Fotos, Daniel Nunes
“Devemos olhar Uberlândia com mais responsabilidade, podemos aprender muito com a geração que está chegando”
42 Conciliar desenvolvimento econômico e meio ambiente é um desafio necessário e possível, já está ocorrendo em alguns segmentos. O número de organizações que têm o meio ambiente como um dos pilares de sustentabilidade cresce ano a ano, como também o número de cursos, publicações, ONGs (Organizações Não Governamentais). Soma-se ainda a atuação do Ministério Público. A mudança está acontecendo, mas falta muito - foram vários séculos considerando os recursos natu-
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rais como infinitos. Foi na metade do século XX que o mundo começou a acordar. Maus exemplos não faltam: os países considerados “desenvolvidos”, tidos como modelo em vários aspectos, não tiveram o cuidado necessário com as suas riquezas naturais. Uberlândia faz parte desse todo. Recentemente foi entregue à população o Mapa Azul e Verde de nossa cidade; está sendo distribuído nas escolas e empresas. A maioria da população, por “viver no seu quadrado”, não tem conhecimento do potencial ambiental da cidade. São trinta córregos e um rio dentro do perímetro urbano,
“A deterioração do meio ambiente acontece hoje muito mais por ações individuais: temos um batalhão de formiguinhas destruidoras”. pela população, há queixas generalizadas por parte do segmento industrial. Resíduo industrial não é mais ameaça, é oportunidade: o Mapa Azul e Verde da cidade dá grande visibilidade ao potencial ambiental, permite ao Poder Público e à sociedade a elaboração de um plano estratégico capaz de construir uma cidade exemplo na área ambiental. Mas, por questões culturais, a preocupação até agora é tratada por todos de forma tímida. A estrutura municipal esta aquém da demanda e a falta de educação na maioria das pessoas, em todas as camadas sociais, é grande. Temos tudo para ser uma cidade sustentável, Uberlândia tem ainda um potencial ambiental que poucas cidades do mundo possuem, mas se a população não reconhecer essa riqueza e cada um fizer a sua parte, vamos perdê-la em pouco tempo. Os holofotes normalmente são voltados para grandes organizações, mas a maioria está adotando boas práticas. A deterioração do meio ambiente acontece hoje muito mais por ações individuais: temos um batalhão de formiguinhas destruidoras. os quais, se houver um esforço coletivo, poderão ser preservados e otimizados. Hoje as empresas de Uberlândia, de forma individual ou por intermédio de suas associações, têm debatido e criado ações a fim de contribuir para que se tenha uma cidade sustentável, mas a maioria da população ainda não faz sua parte. A falta de educação predomina; jogam parte de seu lixo em terrenos vazios, vias públicas e nos cursos d’água. Nesta edição, o foco é a indústria, que não tem tido o apoio devido em nossa cidade. Há falta de ações efetivas nos planos municipal e estadual. O Distrito Industrial, onde se concentra a maioria das empresas, ainda permanece, na área ambiental, com visão do século passado. Não há projeto de modernização em andamento. Seu entorno tem sido feito de depósito de lixo
Devemos olhar Uberlândia com mais responsabilidade, podemos aprender muito com a geração que está chegando. As escolas e muitas empresas estão fazendo o que lhes cabe; temos legislação, Ministério Público, ONGs, inúmeros órgãos governamentais e alguns idealistas buscando soluções justas, orgulhamo-nos da nossa cidade. Cuidar dela é responsabilidade de todos. Esse é grande o desafio. Mas reafirmamos: em Uberlândia infelizmente a preservação do meio ambiente não tem sido prioridade dos governos e dos seus habitantes. Nesse aspecto a cidade tem que ser repensada. Para ser uma cidade sustentável, ainda tem que percorrer um longo caminho.
“Resíduo industrial não é mais ameaça, é oportunidade”.
Hélio Mendes é consultor e professor no curso de pós-graduação da ESAMC.
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Emmig, 47 anos de tradição em estruturas metálicas Fotos, Mauro Marques A Emmig - Estruturas Metálicas Minas Gerais Ltda - é uma empresa que atua no mercado em aço desde 1967. Nesses 47 anos de existência, a Emmig foi se modernizando para oferecer um produto de melhor qualidade e que atendesse às necessidades dos clientes. Especializada em estruturas metálicas para edifícios de múltiplos andares, galpões, torres, silos, armazéns e cobertura para ginásio e residências, há quase dois anos, a Emmig possui nova sede, agrupando através de logística moderna a administração, a fábrica e a expedição. A produção das estruturas metálicas é realizada com equipamentos modernos de última geração e equipe capacitada. A Emmig projeta, fábrica e monta estruturas metálicas em todo o território nacional.
ESTRUTURAS METÁLICAS MINAS GERAIS LTDA. EMMIG
34 3212 2122 | 34 3229 9100 Rodovia BR 452, Km 140 | CEP: 38402-343 Distrito Industrial Leste | Uberlândia - MG Email: emmig@emmig.com.br
Direito publi editorial
É proibido trafegar com excesso de carga. O Brasil será multado? Fotos, Mauro Marques
Nós devemos ser os protagonistas da necessária mudança salvadora Não canso de ouvir todo mundo reclamando da mesma coisa: a estratosférica carga tributária brasileira. A reclamação é geral. Não há um filho de Deus neste país que não se sinta pilhado pela mão-grande e ávida dos Governos que entram e fazem tabula rasa de nossos Direitos Fundamentais à liberdade e à propriedade. É doído!!! Não tenho dúvida alguma de que quem reclama está coberto de razão. Insano será aquele que discordar da lamúria coletiva. Não é possível concordar cordeiramente com uma carga tributária que atinja aproximadamente 40% do PIB Nacional. Recentemente assisti a um vídeo sobre o período ditatorial, quando vi João Goulart em 1964, na praça da Central do Brasil no Rio de Janeiro, em um comício, bradando a quem quizesse ouvi-lo, que o Brasil deveria implementar urgentemente as três grandes reformas inadiáveis para o progresso do país: a reforma política, a reforma social e a reforma, pasmem, tributária. Assistam no YouTube às campanhas políticas de todos os presidenciáveis do período pós-ditadura. Inevitavelmente nos deparamos com um item comum em todas as campanhas: a reforma tributária. Balela!!!! Tudo balela!!! Ninguém jamais fará reforma tributária neste
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país!!! Mas algo há de ser feito, e urgentemente!!! Estão nos sufocando!!! A asfixia é lenta e a morte é inevitável, salvo alguma intervenção salvadora e imediata! Mas quem poderá nos ajudar? Dilma Roussef e sua trupe de companheiros? Aécio e seus correligionários enfurecidos pela derrota nas urnas? Não acredito!!! Acredito, isto sim, que nosso futuro está relegado a nós mesmos. Nós devemos ser os protagonistas da necessária mudança salvadora. E a mudança não passa pela reforma tributária. Passa pela reforma de nossa postura passiva e medíocre diante da péssima gestão dos 40% do PIB que vão sabe lá para onde!!! Se não tomarmos as rédeas de nossas vidas de cidadãos e colocarmos um basta na sangria de nossa economia, assistiremos o Brasil trafegar por estradas sinuosas e esburacadas, com excesso de carga tributária, o que provocará mais e mais buracos na estrada, até que a vaca irá para o brejo!!! E aí? Vai esperar? Ricardo Viola é advogado (OAB/MG 82.055), sócio do Ferreira Viola Advogados Associados (OAB/MG 1.198). É professor de Direito Tributário da Universidade Federal de Uberlândia e da ESAMC/Uberlândia. É mestre em Direito Público pela Universidade Federal de Uberlândia e especialista em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários. É Coordenador Regional da ESA/OAB - Escola Superior de Advocacia da Ordem dos Advogados do Brasil - Núcleo Uberlândia.
Juntos crescemos fortes. Vem aí a nova indústria da CALU.
O Ã Ç A R U G U INA
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Mercado de Trabalho cme
Perspectivas para o mercado de trabalho em 2015 Por, G.A. Comunicação Fotos, SXC
“O primeiro passo do interessado por uma vaga é a humildade, ele precisa aceitar funções mais simples, onde possa crescer” Mais um ano começou e com ele veio a posse dos novos governos, já anunciando as mudanças que ocorrerão no Brasil a partir de 2015. Muitos se preocupam com possíveis crises que o país enfrentará, por isso será comum ver as peças no tabuleiro do mercado de trabalho se moverem com mais cautela. Mas as perspectivas são positivas. A empresária Creusa Batista, que integra o Conselho da Mulher Empresária (CME), da Associação Industrial e Comercial de Uberlândia (Aciub), acredita que a onda de crescimento do País não irá estagnar. “O Brasil levou muitos anos para atingir um bom estágio de crescimento, por isso esta visão ainda é positiva quanto ao mercado. Vários são os setores da economia que ainda continuam se desenvolvendo, investindo e empregando. Há vagas e outras ainda surgirão”, afirma a consultora empresarial.
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Mesmo em um país com grande potencial para investimento, na visão da conselheira as empresas uberlandenses deverão ter prudência quanto aos gastos, evitando compras desnecessárias, avaliando onde e como investir, mas também deverão criar produtos periféricos dentro do seu negócio que possam gerar renda adicional. “A estratégia é avaliar a rentabilidade de produtos e/ou serviços. Os que não estão se adequando, corte-os, os que estão bons, dê um upgrade. Buscar novos direcionamentos também é essencial. Não ser o empresário que chora, mas sim o que vende lenços para os que choram”, enfatiza. Mão de obra Não basta ter um bom produto ou uma boa ideia se o vendedor não acreditar e fizer com que o terceiro compre com a mesma paixão que ele vende. Em Uberlân-
dia, ou em qualquer lugar do Brasil, a gestão de pessoas é o carro-chefe de um empreendimento de sucesso e os empresários aos poucos vêm percebendo isso, buscando soluções para o contentamento dos colaboradores. “A grande movimentação da mão de obra não se dá, necessariamente, em busca de um salário melhor, mas sim por melhores condições de trabalho. Um posicionamento em que haja respeito, valorização, treinamento, amparo de sua família. Visando essa demanda, o empresário deve realmente buscar soluções para evitar o corte ou a perda de mão de obra qualificada, pois essa poderá encarecer com o tempo. Conseguir pessoal com qualidade é a maior dificuldade do mercado atual”, orienta a conselheira do CME. Em uma perspectiva positiva para as empresas, a Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), publicou, no fim de 2014, um estudo apontando que 66% dos profissionais brasileiros não têm medo de perder o emprego nos próximos 12 meses. Segundo a mesma pesquisa, esse pensamento gera mais motivação e planos para o futuro do profissional, fazendo com que ele se dedique mais ao trabalho e assim contribua para a evolução dos negócios da empresa em que trabalha. Qualificação Se o mercado de trabalho continua oferecendo vagas, em contrapartida encontra-se um cenário com déficit de qualidade. Há algum tempo vem sendo detectada a insatisfação dos empresários quanto à mão de obra
disponível. Pesquisas sobre a importância do Brasil no cenário internacional informam que as empresas brasileiras que não investem em educação e qualificação profissional não conseguem competir com outros países também em crescimento, como a Índia, por exemplo. Outros perigos que o despreparo oferece são aqueles referentes à ineficiência, desperdício e outros, o que resulta em potenciais problemas de qualidade, custos mais elevados e lucros menores. Percebe-se que hoje no Brasil há postos de emprego em diversos setores e por isso torna-se vital o investimento em um curso de graduação de qualidade. De acordo com o estudo da ABRH, 75% dos entrevistados afirmaram que desejam investir em sua formação ou na continuidade dela. Entre as qualificações mais citadas estão o curso de língua estrangeira, a pós-graduação ou MBA, cursos de desenvolvimento pessoal (liderança, gestão de pessoas) e cursos técnicos. “O primeiro passo do interessado por uma vaga é a humildade, ele precisa aceitar funções mais simples, onde ele possa crescer. Os recém-formados têm o costume de já querer começar por cargos maiores, mas isso é algo que hoje o mercado de trabalho não aceita. É preciso galgar espaço e somente através da aliança do conhecimento teórico com o prático, com a experiência devida, ele irá sair de assistente para diretor, por exemplo”, finaliza a conselheira do CME, Creusa Batista.
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Política opinião
Vivemos com a metade do que temos direito Por, Odelmo Leão Fotos, Divulgação
É muito importante acompanhar as decisões tomadas em nosso nome. Isso afeta a todos nós. Começo este texto propondo uma comparação simples e bastante cotidiana. Nós trabalhamos para garantir os meios para suprir nossas necessidades de desenvolvimento e crescimento e da nossa família, certo? É assim desde que nascemos. Vimos nossos pais fazerem isso e ensinamos nossos filhos da mesma forma. Quando conseguimos economizar, teremos reserva, quando gastamos demais, vai faltar na outra ponta. Se aparece uma conta a mais, que não estava planejada, e não temos de onde tirar, outra vai ficar sem pagamento. Por isso é importante fazer um planejamento do que entra e do que sai. Esse equilíbrio é difícil, mas fundamental. É mais ou menos igual à história do cobertor curto. Você cobre os ombros, mas descobre os pés. Nos órgãos públicos funciona da mesma forma. O dinheiro arrecadado por meio dos impostos e contribuições entra para garantir o suprimento dos serviços oferecidos à população. Se este dinheiro é mal administrado ou, como temos visto atualmente, desviado, falta na saúde, na educação, na segurança e nos im-
portantes setores da nossa economia. Imagine que de todo o dinheiro que você ganha por mês, metade fosse para pagar juros de contas que você não sabe bem quem fez em seu nome. É mais ou menos assim, de maneira bem obscura, que funcionou o orçamento da União em 2014. Quase 50% de tudo o que foi arrecadado com impostos e contribuição social foi empregado no pagamento de juros e refinanciamento de dívidas da União. Para se ter ideia bem clara de como a má administração do dinheiro público afeta diretamente nossa vida, basta pensar que os serviços que temos hoje poderiam ser o dobro, ter qualidade em dobro, médicos em dobro, escolas com o dobro do potencial e assim por diante. A pergunta que fica é: até quando vamos aguentar viver com a metade? Até quando vão nos levar a outra metade? É muito importante acompanhar as decisões tomadas em nosso nome. Isso afeta a todos nós. Posso propor uma coisa? Comece a acompanhar as notícias do caderno de política. Em poucos dias sua percepção sobre pessoas, partidos e até mesmo sobre a condução do país vão mudar. Veja como foi aplicado o dinheiro em 2014 Quase a metade de toda a verba pública (48,16% - R$ 1.005,42 trilhão) foi destinada ao pagamento de juros e refinanciamento de dívidas. Enquanto isso, a saúde recebeu apenas 4,37% (R$ 91,34 bilhões - um décimo do valor das dívidas), para a agropecuária só 0,33% (R$ 6,9 bilhões), ciência e tecnologia 0,29% (R$ 6,19 bilhões) e para a educação, 3,5% (R$ 73,3 bilhões). Vale lembrar que o lema do governo federal, assim como do municipal é ser destaque na educação. Imagine se não fosse. Para os portos foram destinados 0,01% (R$ 207 milhões - e emprestou mais de R$ 500 milhões para Cuba). E o que mais chama atenção é o valor destinado ao apoio às micro e pequenas empresas. Um dos setores que mais contribuem com a economia recebeu investimentos de 0,002% (apenas R$ 44 milhões). Vale lembrar que ainda é preciso contabilizar os bilhões desviados com a corrupção.
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Odelmo Leão é deputado federal, ex-prefeito de Uberlândia por dois mandatos e sempre publica suas ideias e ações em facebook.com/odelmoleao. Acompanhe.
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