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Crônicas

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Sua Saúde

Sua Saúde

Roberto Espíndola

Texto copiado do livro: Crônicas de Amor, Paixão e Dor Por: Roberto Espíndola (in memória)

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Meu Velho

Hoje eu quero falar de você, meu velho, que por tantas e tantas primaveras já passou neste mundo. Você, que vendo o tempo passar, ajudou a construir tanta coisa. Você, que teve tantos amores, ou quem sabe até um único grande amor a quem dedicou todo o carinho de sua existência, já que nos velhos tempos, a união dos casais era mais estável e a fidelidade uma virtude a ser cultivada. Meu velho, lembra de sua juventude, num tempo em que as cidades eram mais calmas, pacatas e a ausência da televisão aproximava as pessoas em visitas e conversas que se prolongavam, às vezes, por horas?

E as brincadeiras da criançada?

As meninas sempre brincando de roda, pulando amarelinha ou chicote queimado. Os meninos jogando bola de gude, soltando pipas, pião, pulando carniça e tantos outros folguedos que hoje não se veem mais. Bom tempo em que você começou a namorar. Primeiro os ‘‘flertes’’ na pracinha ou no parque de diversão que funcionava junto à Igreja

Matriz, para arrecadar fundos para a construção que não terminava nunca. As mocinhas passeavam, circulando de um lado para o outro. Os rapazes ficavam parados em grupos, trocando olhares lânguidos com suas eleitas. Depois o namoro propriamente dito. Pegar, só na mão e olhe lá! Os encontros eram mesmo na praça e quando se tinha um pouco mais liberdade podia-se namorar em pé no portão da casa da moça. Isso quando a família aprovava o namoro.

Depois os encontros dentro de casa. Um separado do outro, sempre com alguém por perto vigiando para ninguém avançar os limites de boa conduta. Beijos? Só roubados e às escondidas, ou então depois do casamento. Beijar já era uma grande intimidade. Olha, me velho, vivendo no mundo de hoje, até que dá saudades do romantismo daquela época. Época em que você conseguiu seu primeiro emprego-como aprendiz, e apesar da pouca idade todos o tratavam por senhor, o que fazia você se sentir importante e respeitado, da mesma forma que respeitava os seus superiores. O trabalho era duro. Nada das regalias de hoje, mas você gostava de seu emprego. Via nele futuro. Aprendendo, estudando e se desenvolvendo, poderia fazer carreira. Quem sabe chegar a gerente? Ou então ser o guarda-livros? Pois é, meu velho. Um dia você se casou. Não sem antes ter sido um longo namoro, tempo durante o qual foi ajudando a fazer o enxoval, guardando dinheiro para comprar os móveis, construindo, já a partir do noivado, que era um compromisso sério, aquilo que seria seu futuro lar. Chegou o dia do casamento. Uma grande festa, cheia de alegrias. cheia de esperanças. E você prosseguiu pela vida. Vieram filhos. Como foi difícil cria-los. Não pelas dificuldades financeiras que você sempre soube vencer com o suor de seu trabalho. Mas pelas mudanças do mundo, que alteraram todos os valores que lhe eram sagrados. Mas, meu velho, também esta etapa da vida conseguiu ultrapassar. Os filhos casaram. Vieram os netos e você se aposentou. E diga se a bem verdade, com muito sacrifício. Além dos anos de trabalho a burocracia lhe exigiu mil papéis, até que o benefício lhe fosse concedido. E hoje, passado tanto tempo, revivendo todos os momentos, você recorda com carinho toda uma existência, para concluir que ‘‘valeu a pena viver’’.

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