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AUGUSTO DE CAMPOS

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MICHAEL ARMITAGE

MICHAEL ARMITAGE

campos,

Sem saída, 200/2009.

A BIBLIOTECA MARIO DE ANDRADE, A PRINCIPAL E MAIS ANTIGA DA CIDADE DE SÃO PAULO, TORNOU-SE UM ESPAÇO DE CELEBRAÇÃO DA OBRA DE AUGUSTO DE CAMPOS EM 2021, EM COMEMORAÇÃO AO ANIVERSÁRIO DE 90 ANOS DO POETA, ENSAÍSTA, TRADUTOR E ARTISTA

POR DANIEL RANGEL

Desde o começo do ano, a Biblioteca Mario de Andrade vem abrigando uma série de exposições em torno da produção de Augusto de Campos, como “Poema cidadecitycité pela cidade”, que gira em torno do poema que o artista escreveu para São Paulo. O poema (1963) é uma obra-prima da poesia verbivocovisual. O conceito foi apropriado de James Joyce, pelo grupo Noigandres – formado por Augusto, Décio Pignatari e Haroldo de Campos – e, em linhas gerais, ressalta uma preocupação simultânea do criador com as dimensões verbais, sonoras e visuais dos poemas ou obras. Uma definição que está atrelada à poesia concreta brasileira e às experimentações de suportes e ferramentas adotados pelos componentes do grupo. O resultado poético de é regido pela aleatoriedade artística de , de Stéphane Mallarmé, do de Marcel Duchamp e das composições sonoras de John Cage. Entre as décadas de 1960 e 1970, foi impresso como cartão dobrável em diferentes versões, mesmo período em que o poeta gravou distintas leituras sonoras. No entanto, foi a partir dos anos 1980 que o poema literalmente saiu dos suportes tradicionais e se tornou obra de arte. Primeiro como uma escultura de 70 metros, montada na fachada do edifício da Bienal de São Paulo, depois como gravação musical espacializada, realizada em parceria com o filho Cid Campos, que serviu de base para o vídeo editado nos anos 1990. Em 2016, na exposição REVER, o poema audiovisual foi apresentado em um painel de LED com mais de oito metros de comprimento, no corredor de entrada do SESC Pompeia.

Mito, 2018.

Luxo, 1965/2019.

Esta é uma das muitas versões apresentadas na exposição “Poema cidadecitycité pela cidade”. A obra em LED – instalada na fachada da Biblioteca Mário de Andrade, no centro de São Paulo, cidade central da poesia concreta – ganha a dimensão de um verbivocovisual. Uma obra que, apesar de nunca ter sido instalada ali, sempre pertenceu ao espaço. Criações de distintos tempos celebram o presente e, no interior da Biblioteca, na Sala Tula Pilar Ferreira, outra exposição, denominada , exibe uma série de cartazes inéditos de Augusto. No fim dos anos 1960, a tipografia passou a ser um dos principais campos de interesse do artista-poeta. As fotocomposições, incluindo aqui as “fotoletras”, começaram a ser amplamente utilizadas pelo meio gráfico com o advento do . Também o , ou letras transferíveis, tornou-se ideal para impressão de pequenos textos e passou a ser largamente utilizado por e publicitários. No Brasil, as fontes transferíveis disponíveis eram principalmente as da empresa inglesa , nome pelo qual ficaram conhecidas. Augusto viu naquele arsenal tipográfico uma verdadeira babel de possibilidades para organizar visualmente seus poemas. As dezenas de fontes disponíveis, carregadas de signos embutidos nas formas, traços e curvas dos variados desenhos das letras, impulsionaram o fazer criativo do poeta. Em 1974, Augusto realizou as

Transletras, 1974, 1985.

primeiras experiências utilizando para compor seus poemas, e seguiu recorrendo à ferramenta de forma constate até 1985. A exposição reúne essa produção na íntegra, pois o não recorte foi o caminho curatorial escolhido. Encontra-se exposto todo o material garimpado desse período relativo ao , incluindo os pôsteres formalizados, estudos e manuscritos inéditos. Ao todo, foram produzidos cerca de 50 cartazes, diferentes versões de aproximadamente 40 poemas, entre autorais e traduções, amparados pela facilidade de experimentar possibilidades compositivas com rigor formal. A simplicidade de acesso e execução da técnica permitiram ao poeta resgatar o conceito de filmletras – citado na introdução de – e colocar as palavras, sílabas e letras em constante deslocamento no papel, um movimento que antecipou sua produção audiovisual que se iniciou apenas alguns anos depois. Apesar de as letras transferíveis serem um recurso analógico para a composição dos poemas, o pensamento construtivo e a disposição delas já anteviam as possibilidades tecnológicas que se aproximavam com o advento da computação e do vídeo. Após essa fase dos , boa parte das criações de Augusto, segundo a professora Lucia Santaella (2004), “avançaram das mídias gráficas para as holográficas, infográficas e painéis luminosos”.

Abaixo: Tudo está dito, 1974. À direita: Quasar, 1975-1991

Em , apresentamos alguns desses desdobramentos surgidos a partir dos poemas em , como os vídeos de , e , o painel luminoso de e a serigrafia em placa de acrílico de . A fase do foi interrompida quando o artista-poeta adquiriu seu primeiro computador, e desde então este se tornou a principal ferramenta dele para compor poemas, traduções, artes gráficas e publicações. Há mais de 70 anos Augusto de Campos vem construindo uma trajetória cuja experimentação e cujo rigor caminham juntos e à frente de seu tempo, revelando questões que ainda não descobrimos, mas que algumas vezes encontramos!

Daniel Rangel é curador das exposições "Poema cidadecitycité pela cidade" e "Transletras", mestre e doutorando em artes visuais pela ECA USP.

AUGUSTO DE CAMPOS: TRANSLETRAS • BIBLIOTECA MÁRIO DE ANDRADE • SÃO PAULO • 12/2 A 13/8/2021

NOTAS do mercado,

POR LIEGE JUNG @dasartesmercado

Tendo em vista que o assunto da criptoarte e NFTs decolou no circuito internacional no último mês e que para muitos é nebuloso, dedicamos nossa seção ao tema.

Beeple, Illestrater, 2020. É uma espécie de livro contábil, compartilhado por várias entidades e empresas ao invés de apenas um banco ou instituição. Seu objetivo é facilitar o registro de transações e o rastreamento de ativos em uma rede de negócios. O blockchain é imutável, ou seja, uma vez registrada nele uma transação, ela não pode ser modificada ou apagada. Existem vários blockchains e os mais conhecidos são Ethereum e o blockchain utilizado para geração da criptomoeda bitcoin.

Sigla para non-fungible token, ou token não-fungível. Um bem fungível é algo que pode ser substituído por outro, por exemplo, uma cédula de dinheiro. Um token é um código único que identifica um item digital. Portanto, um NFT é uma espécie de documento de identidade de um bem digital único, registrado em um blockchain. Tem sido usado para identificar colecionáveis de todos os tipos, como "figurinhas" de basquete digitais lançadas pela NBA.

É uma obra de arte digital (uma imagem em Jpg, um gif, um vídeo, etc..) à qual foi atrelado um NFT, o que garante sua autenticidade. Toda vez que esta obra trocar de mãos, uma nova transação será registrada no blockchain, o que também garante sua rastreabilidade.

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