Edição nº 101 março 2015

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Colheita manual de café em Minas Gerais. Artigo publicado no site da CCCMG, tendo como fonte o jornalista Roberto Samora, da Reuters.

AGRISHOW

Quebra de safra de café deve ficar entre 5% e 11%

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A safra 2015 de café do Brasil está prevista entre 40,300 milhões e 43,250 milhões de sacas de 60 kg, implicando quebra de 4,61% a 11,12% na comparação com as 45,342 milhões de sacas colhidas em 2014. Os números fazem parte do levantamento de campo contratado pelo CNC Conselho Nacional do Café junto à Fundação Procafé. Do total estimado, entre 30 milhões e 32,150 milhões de sacas se referem à variedade arábica e a de café conilon (robusta) foi prevista entre 10,3 milhões e 11,1 milhões de sacas.

AGRISHOW 2015 inicia no dia 27 de abril

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De 27 de abril a 1º de maio, o setor agrícola do Mundo estará em Ribeirão Preto (SP) para a 22ª AGRISHOW Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação.

Manejo nutricional durante o pré-parto de fêmeas leiteiras

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HORTALIÇAS FENICAFÉ

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m meio a uma iminente quebra de safra em decorrência ao forte veranico do final do ano passado e início de 2015, toda a cadeia produtiva do café no Brasil (ressaltando o PRODUTIVO), exige maior “transparência” dos números sobre a safra 2015 e sobre os estoques oficiais e privados em todo o Brasil. Tudo bem. Compreendemos que “oferta e procura” fazem parte de estratégias de mercado, das bolsas de valores aqui, em Nova Iorque e em Londres. Mas se não houver um conhecimento o mais próximo possível do que existe em estoque e o será colhido nesta safra, o Brasil e o Mundo corre o risco de “ficar sem café”. O levantamento de campo contratado pela CNC - Conselho Nacional do Café e realizado pela Fundação Procafé é extremamente realista, como explica o consultor Marco Antônio Jacob. “Na mediana do PROCAFÉ vamos colher ( (40.300 + 43.250) / 2 ) igual a 41,775 milhões. Com um consumo interno de 21 milhões, restará apenas 20,775 milhões de sacas para exportar”. E aí? Na cadeia produtiva do leite, destaque para os artigos “Efeitos da redução da duração do período seco ou de sua omissão sobre as performances das vacas leiteiras” e do “Manejo nutricionjal durante o pré-parto de fêmeas leiteiras”. Na produção de grãos, destaque para dois artigos da DuPont Pioneer, onde abordamos dois sistemas: “Plantio de milho em linhas pareadas (linhas gêmeas)” e o “Sistema de Combinação de Cultivares de Soja”. Destaque também para a produção de Mandioquinha-Salsa, com o artigo da Embrapa em que aborda o “Tratamento e pré-brotação de mudas sob Manejo Orgânico”. Boa leitura a todos!!!

FRUTAS

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Quebra de safra do café acirra críticas sobre “transparência”

DESTAQUE: quebra de safra

EDITORIAL

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Artigo dos zootecnistas Glayk Humberto Vilela Barbosa e Vânia Mirele Ferreira Carrijo que aborda a importância do Manejo Nutricional durante o pré-parto de fêmeas leiteiras.

20ª FENICAFÉ bate todos os recordes

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Mais de 35 milhões em negócios foram realizados na edição comemorativa de 20 anos da FENICAFÉ - Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura, em Araguari, no Triangulo Mineiro.

AMSC realiza 1º Fórum de Cafés Especiais

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O evento reuniu no último dia 11 de março mais de 60 pessoas, entre cafeicultores e representantes de entidades e associações da região, para debater o tema “Cafés Especiais”.

Novas Técnicas no Manejo de doenças no Maracujazeiro

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Artigo de pesquisadores da APTA e do IAC recomendam novas técnicas para o controle de doenças no Maracujazeiro, como mudas de porte alto, enxertia, controle de viroses, etc.


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Feira é presença obrigatória para conferir as tendências e novas tecnologias do agronegócio

AGRISHOW 2015 mostrará as principais tendências tecnológicas, garantindo o aumento da produtividade no campo

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e 27 de abril a 1º de maio, o setor agrícola do Brasil e do exterior estará reunido no município de Ribeirão Preto (SP) para participar da Agrishow 2015 – 22ª Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação, uma das maiores e mais completas feiras deste segmento no mundo. A exposição é a principal vitrine de lançamentos e palco das tendências e tecnologias do agronegócio que garantem o aumento da produtividade no campo. Já estão confirmadas as presenças das principais marcas que atuam em segmentos como: agricultura de precisão, agricultura familiar, armazenagem (silos e armazéns), corretivos, fertilizantes, defensivos, equipamentos de segurança (EPI), equipamentos de irrigação, ferramentas, implementos e máquinas agrícolas, máquinas para construção, peças, autopeças, pneus, pecuária, produção de biodiesel, sacarias e embalagens, seguros, sementes, software e hardware, telas, arames, cercas, válvulas, bombas, motores e veículos (pick ups, caminhões e utilitários, além de aviões agrícolas). Em 2014, a Agrishow contou com a participação de aproximadamente de 800 marcas em exposição, em uma área de 440.000 m2. Em termos de visitação recebeu cerca de 160.000 visitantes do Brasil e do exterior, um público altamente qualificado, formado por pequenos, médios e grandes produtores, agricultores, empreendedores rurais, empresários, lideranças setoriais, e representantes dos governos federal, estadual e municipal. Idealizada pelas principais entidades do agronegócio no país: ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio, ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, ANDA – Associação Nacional para Difusão de Adubos, FAESP – Federação da Agricultura e da Pecuária do Estado de São Paulo e SRB - Sociedade Rural Brasileira, o evento é organizado pela BTS Informa, integrante do Grupo Informa, maior promotor de feiras, conferências e treinamento do mundo com capital aberto.

INFORMAÇÕES

VISITE NOSSO ESTANDE

AGRISHOW 2015 22ª FEIRA INTERNACIONAL DE TECNOLOGIA AGRÍCOLA EM AÇÃO De 27 de Abril a 1º de Maio de 2015 HORÁRIO = das 8h às 18h LOCAL = Rod. Antônio Duarte Nogueira, km 321 Ribeirão Preto (SP) www.agrishow.com.br INGRESSOS A VENDA DURANTE O EVENTO

A equipe da Revista Attalea Agronegócios participará mais uma vez da AGRISHOW com estande próprio. Convidamos produtores rurais, empresários e profissionais do setor de agronegócios a visitarem o nosso estande. ESTANDE F045 PAVILHÃO COBERTO OESTE

contatos PAULI E. TRANI (petrani32@hotmail.com) Pesquisador - Campinas (SP). “Gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios”. GUIDO FONTGALANT V.A.SOBRINHO (guido@univox.com.br) Cafeicultor - Itamogi (MG). “Gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”. TAISA SOUSA PRADO (taisa.zootecnista@hotmail.com) Assistente Técnica da Cooxupé - Alfenas (MG). “Gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”. IVAN LEMOS (ivanlbjr@gmail.com) Cafeicultor - Boa Esperança (MG). “Gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios. Estou começando na cafeicultura e necessito de informações para desenvolver bem os cultivares”. VICTOR MOREIRA DE AQUINO (vic_moreiradeaquino@hotmail.com) Estudante em Agronomia - Uberlândia (MG). “Gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios”. ELOISA DE CÁSSIA VIEIRA (andrade_eloisa@yahoo.com.br) Empresária - Araguari (MG). “Trabalho em um escritório de engenharia, levantamentos cadastrais de fazendas. Gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios”. ROBERTO SILVA XAVIER (robertosxavier54@yahoo.com.br) Estudante em Agronomia - Uberlândia (MG). “Gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”. DIEGO CÉSAR VELOSO REZENDE (diegoformiga@yahoo.com.br) Engenheiro Agrônomo - Monte Carmelo (MG). “Gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios”.

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MÁQUINAS

Trator do Ano Brasil 2015: 31 modelos em disputa e somente um ganhador. A resposta virá na AGRISHOW

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urante a Expodireto Cotrijal 2015, aconteceu a reunião onde foram abertos os envelopes com os finalistas de cada categoria concorrente ao prêmio Trator do Ano Brasil 2015. O prêmio contou com 10 empresas inscritas, somando 31 modelos de tratores que foram avaliados por seis Professores Doutores da área de mecanização agrícola de quatro diferentes regiões do Brasil. Além da avaliação técnica, o público pôde votar em seus tratores favoritos através do site www. tratordoano.com.br, um concurso cultural que movimentou quase 25.000 votações. Este ano, ainda participou com seu voto a mídia especializada do país elegendo o me-lhor design dentro dos produtos inscritos. Foram definidos dois finalistas para cada categoria de produto e três finalistas para a categoria Especiais. O grande Trator do Ano será aquele que, entre os fina-

listas, obtiver a melhor avaliação do júri técnico. Os finalistas são: Especiais: John Deere 5075EF; LS R60; e New Holland TL 75 com carregadeira frontal. Até 80 cv: John Deere 5078E; e New Holland TL75 Power Shuttle. De 80 a 130 cv: Massey Ferguson 6711R Dyna-4; e New Holland T6 120. De 130 a 200 cv: John Deere 7195J; e New Holland T7 175 SPS. Mais de 200 cv: John Deere 6205J; e New Holland T8.385 FPS

O Trator do Ano Brasil 2015 e o Trator do Ano na Categoria Especiais serão divulgados durante a AGRISHOW 2015, em Ribeirão Preto (SP). O trator com maior votação da mídia especializada receberá o título de “Design do Ano”. Os vencedores do concurso cultural, que aconteceu paralelamente às votações, também serão anunciados neste mesmo evento.

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Netafim apresentará Trator de 85cv será o sistema de irrigação destaque da Agritech que economiza água durante a feira

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Netafim, empresa pioneira e líder mundial em soluções de irrigação por gotejamento, apresentará, durante a Agrishow 2015, o sistema de irrigação por gotejamento que gera uma economia no volume de água entre 30% e 50%, em relação a outros sistemas, que resulta em mais água para o consumo humano – de 20% a 40%. No estande da empresa, localizado na Rua B 20 D, haverá uma área de demonstração da tecnologia. “É fundamental ver na prática como o gotejamento funciona: utilizamos a água na medida necessária e ela mesma irriga a planta. Funciona como um conta-gotas: com alta frequência de aplicação e baixo volume”, explica Carlos Sanches, gerente agronômico da Netafim. Um exemplo da eficiência da tecnologia é que uma planta de café necessita de cinco litros de água por dia para se desenvolver, na irrigação localizada são usados os exatos cinco litros, enquanto que outras tecnologias e métodos convencionais gastam cerca de oito litros. Com o método do gotejamento, portanto, a economia é de 33%. Além de economizar a água, outros benefícios são evidentes ao adotar o sistema de irrigação por gotejamento como a fertirrigação, que aplica os nutrientes necessários direto na raiz da planta fazendo com que ela cresça mais rápido que as demais. “Temos casos de incremento de produtividade na ordem de até 200% em relação a outros métodos”, destaca Sanches. A solução apresentada durante a Agrishow é para diversos tipos de cultura: milho, soja, citrus, café, seringueira e cultivos de horticultura. “Participar da Agrishow é sempre uma oportunidade para trocar conhecimentos e fazer novos contatos, desde pequenos até grandes produtores, que estão interessados em conhecer novas tecnologias que contribuem para produtividade e sustentabilidade no campo”, finaliza o gerente. INFORMAÇÕES: www.netafim.com.br

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Agritech, fabricante dos tratores e cultivadores motorizados Yanmar Agritech, pioneira na indústria brasileira na fabricação de linhas voltadas especialmente para pequenas e médias propriedades, passa a atuar no mercado de tratores com potência acima de 80 cv. Lançado este ano, o modelo 1185 S Turbo conta com motorização de 85 cv e por se tratar de um trator maior, permite que a empresa passe a atuar com culturas que exigem máquinas mais potentes e implementos mais robustos. O modelo será apresentado ao público durante a 22ª Agrishow, feira agrícola que ocorre entre os dias 27 de abril e 1º de maio, em Ribeirão Preto. Segundo o Gerente da Divisão de Vendas da Agritech, Nelson Watanabe, o novo modelo representa um novo momento para a empresa ao permitir que a companhia passe a explorar novos mercados, ampliando a atual área de atuação. “Este lançamento não traz apenas diferenciais tecnológicos, ele traz novas culturas para o leque de atuação da Agritech. Isso nos permite explorar novos horizontes e ampliar nossas possibilidades”, explica. O Gerente da Divisão de Vendas da Agritech, porém, não deixa de destacar os diferencias que a nova máquina traz. “O modelo 1185 S Turbo é um trator que conta com um motor Turbo de 85 cv, o que proporciona mais torque e operações silenciosas e econômicas”, afirma. Segundo o Watanabe, o câmbio sincronizado, o sistema de direção hidrostática com grande precisão, o eixo dianteiro mais robusto e com maior eficiência de tração, o sistema de refrigeração de água e óleo integrado e o levantador hidráulico com Sistema Autolift são os outros diferencias que o trator possui. INFORMAÇÕES www.agritech.ind.br


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m período seco (PS) de 60 dias vem, há muito tempo, sendo adotado pela maioria dos criadores de gado leiteiro a fim de permitir, entre uma lactação e outra, a regeneração dos tecidos epiteliais desgastados da glândula mamária, acumular colostro e assegurar o desenvolvimento do feto, e por último completar as reservas corporais, quando estas ainda não ocorreram. Desde 1805, já se questionavam sobre o tempo necessário para o descanso entre lactações. Neste mesmo ano, Dikerson (1805, citado por Arnold et al.,1936) publicou: “Existem divergências entre criadores ingleses...alguns são à favor de dois meses de período seco, enquanto outros acreditam que períodos tão curtos quanto dez dias são suficientes”. FOTO: Embrapa CNPGL

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Efeitos da redução da duração do período seco ou de sua omissão sobre as performances das vacas leiteiras

AUTORA

1 - Aluna da Pós-graduação em Zootecnia – Melhoramento Animal, Universidade Estadual de Maringá.

Os motivos que levam à adoção de um período seco reduzido, são: Possível incremento na produção de leite, na lactação em questão, pelo aumento do número de dias em que a vaca é ordenhada; simplificação do manejo de vacas secas; diminuição de desordens metabólicas; alívio na superlotação das instalações para vacas secas. Para que o PS possa, talvez, ser reduzido ou eliminado, alguns fatores devem ser considerados, como: Se a produção de leite adicional excede a perda na produção de leite da lactação seguinte; a produção dos componentes do leite; a qualidade do colostro produzido na lactação seguinte; a incidência de doenças metabólicas e infecciosas; a performance reprodutiva do animal, entre outros. O efeito da duração do PS na produção de leite, foi alvo de inúmeras pesquisas, sendo que muitas relataram que a adoção de um período seco de 30 dias ou sua total eliminação reduz, respectivamente, em 10 e 20 - 25% a produção na lactação seguinte; mas se a produção adicional na lactação estendida for computada, a perda líquida cai para 5 - 10%. Quando 366 vacas de rebanhos comerciais passaram por 4, 7 e 10 semanas de período seco (Sorensen e Enevoldsen, 1991), a produção de leite nos primeiros 84 dias da lactação subsequente foi reduzida à medida que o PS foi reduzido (25,1; 24,5; 22 Kg/dia). Segundo Rastani et al. (2003), para os primeiros 70 dias pós-parto a produção de leite foi significativamente reduzida quando a comparação foi entre 56


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e 28 dias de PS (42,4; 37,9 Kg/dia). Annen et al. (2003) observaram que vacas que não tiveram período seco, mas foram tratadas com 500 mg de bST 14 dias pré e pós-parto produziram quantidades similares de leite nas 17 primeiras semanas pós-parto, quando comparadas com animais que passaram pelo PS padrão de 60 dias. Em alguns trabalhos, foi evidenciada a interação entre a duração do período seco e características do animal na produção de leite, desta forma, vacas que são mais promissoras a responderem favoravelmente à redução do PS podem ser identificadas. Dickerson e Chapman (1939) observaram que a vantagem de um período seco mais longo é maior em rebanhos de baixa produção. Diversos estudos têm indicado que a redução do período seco para menos de 60 dias tem maior efeito prejudicial entre a primeira e a segunda lactação do que entre lactações posteriores. Wilton et al. (1976) concluíram que se aumentando os dias secos de 0 para 50, aumenta-se a produção de leite na lactação seguinte, em 954 Kg na segunda lactação e em 354 Kg em lactações posteriores, sugerindo ser importante, então, respeitar o PS padrão em animais jovens a fim de que eles possam crescer e se desenvolver sem o estresse adicional causado pela eliminação

Mercado de sêmen teve crescimento de 4,49%

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ASBIA – Associação Brasileira de Inseminação Artificial – acaba de divulgar os resultados de 2014. De acordo com a ASBIA, o mercado geral de sêmen no Brasil teve crescimento de 4,49% em 2014 ante o ano de 2013. O movimento total foi de 13.609.311 em 2014 diante de pouco mais de 13 milhões em 2013. Já a Alta Genetics – maior empresa de inseminação artificial no país - cresceu em 2014, 9%, ou seja, o dobro do mercado. De acordo com Heverardo Carvalho, presidente da Alta, o mercado é promissor e tem muito para crescer. “Batemos mais um recorde o ano passado, vendemos quatro milhões de doses de sêmen bovino. Este ano, no primeiro bimestre, crescemos 17% em doses vendidas e 23% em faturamento. Nossa meta para o ano é de crescer 9% em doses e 11% em faturamento. Hoje a Alta tem quase 30% de participação de mercado. O objetivo da Alta, segundo Carvalho, é crescer entre 10 e 12% (por ano) nos próximos cinco anos. Mercado tem de sobra para desenvolver. Somente 10% ou 11% das mais de 90 milhões de fêmeas em idade reprodutiva no Brasil são inseminadas. “Precisamos conscientizar melhor o criador. Mas, com toda certeza, quem não adotar este sistema em sua propriedade, num futuro muito próximo, deixará de ser competitivo e estará fora do mercado”, alerta.

FOTO: Embrapa CNPGL

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ou redução do PS. O período seco ideal foi estimado em 27 dias para vacas de quarta lactação e aumentou para 65 para vacas seguintes à primeira lactação (Dias e Allaire, 1982). Vários estudos vêm sendo realizados, principalmente em países onde se paga pela composição do leite, a fim de se observar o comportamento dos componentes do leite quando o PS é reduzido ou eliminado. Remond et al. (1992, 1997) indicaram que a lactação contínua, assim como seu prolongamento, aumenta a porcentagem de gordura do leite; no entanto, isto só foi significativo em um de seus trabalhos. A porcentagem de proteína aumentou durante a lactação seguinte em dois experimentos com vacas continuamente ordenhadas; e em dois experimentos (Gulay et al., 2003a; Rastani et al., n.p.) em que o PS foi reduzido de 8 para 4 semanas. A possível explicação para tal, é que quando a diminuição do PS resulta em redução na produção de leite, o impacto é maior na produção de lactose do que na produção de gordura e proteína. Rastani et al. (n.p.) observaram concentrações de IgG de 4,98; 7,79; 6,99 g/dL no colostro de vacas com período seco de 0; 28; 56 dias de período seco. A diferença entre 0 e 28 dias foi significativa, sugerindo que a qualidade do colostro é desfavoravelmente afetada em vacas impedidas de ter período seco, mas não em PS de 28 dias. No início da lactação, as vacas entram em balanço energético negativo, o que torna o animal mais susceptível à doenças e faz com que ocorra a mobilização dos ácidos graxos do tecido adiposo. A mobilização excessiva resulta em desordens metabólicas relacionadas à gordura, como síndrome do fígado gordo e cetose; e também os elevados níveis sangüíneos de ácidos graxos não-esterificados (NEFA) estão associados com retenção de placenta e torção de abomaso. A redução ou eliminação do período seco pode ser uma ferramenta de manejo para se reduzir os problemas associados ao período periparto. Alguns autores encontraram que reduzindo ou eliminando o PS, se reduz a produção de leite na lactação seguinte, e assim a perda de peso corporal e escore de condição corporal também é reduzida (diminuindo riscos de desordens metabólicas). Remond et al. (1997) mensuraram concentrações plasmáticas de glicose maiores (67,7;58,2 mg/dL) e


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concentrações de beta hidróxido butirato (BHBA) e NEFA menores (0,58 e 1,01 / 0,29 e 0,75 mmol/L) nos 10 dias pós-parto, em vacas continuamente ordenhadas, quando comparadas com vacas de 60 dias de PS. Davicco et al. (1992) sugeriram que a lactação contínua pode proteger a vaca contra hipocalcemia, pois as concentrações plasmáticas de cálcio e fósforo foram significativamente maiores, 12 horas após o parto, em vacas que não tiveram período seco. Natzke et al. (1975) observaram que vacas com 30 dias ou menos de PS, tiveram melhor resposta a infecções. A duração do período seco (60 ou 30 dias) parece não afetar alguns parâmetros reprodutivos, como período de serviço, número de inseminações e taxa de prenhez (Lotan e Alder, 1976). Grumen et al. (2003) registraram que o tempo entre o parto e a primeira ovulação foi de 14,5; 21,5; 28,9 dias para vacas com 0; 28; 56 dias de PS, sendo o número de serviços por concepção reduzido à medida em que o número de ovulações, antes dos 60 dias após o parto, é aumentado. Não apenas as investigações a respeito de parâmetros produtivos e reprodutivos podem auxiliar na determinação de um período seco ideal, o conhecimento da biologia da glândula mamária pode ser muito útil na tomada das decisões. Tradicionalmente, o PS foi definido como tendo 3 estágios funcionais: involução ativa (regressão dos tecidos secretores); período de descanso; lactogênese (retorno da capacidade de síntese do tecido secretor). Evidências recentes desafiam esta configuração. Capuco et al. (1997) indicaram que a perda de células mamárias é insignificante durante o período seco e, portanto, o termo involução e regressão pode ser inapropriado. Foi demonstrado que o desenvolvimento mamário começa no 25º dia do período seco, portanto, neste contexto, não existiria período de descanso. Pela comparação de vacas que foram continuamente ordenhadas, com as que tiveram PS padrão de 60 dias, os mesmos autores concluíram que a importância do PS foi permitir reparos ou substituição de danos, perdas ou envelhecimento de células e aumentar a porcentagem de células epiteliais na glândula mamária, antes da próxima lactação. Isto teve início no 35º dia antes do parto. Algumas estratégias, como o uso do bST e o aumento no número de ordenhas para aumentar a proliferação celular, podem, então, ser aplicadas durante os 35 últimos dias de gestação, a fim de aumentar a persistência da lactação, levando em conta a contínua lactação e o desejado sucesso na eliminação do período seco. Pesquisas, cada vez mais, buscam métodos de redução ou eliminação do período seco que não prejudiquem, direta

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ou indiretamente, a produção, a reprodução e a saúde do animal. Assim, será possível a simplificação do manejo e diminuição de desordens metabólicas, sem que a produção de leite seja afetada.


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Glayk Humberto Vilela Barbosa1, Vânia Mirele Ferreira Carrijo2

o Brasil, muitas vezes, os bovinos leiteiros são criados sob pastejo não recebem adicionalmente nutrientes e minerais em quantidade e taxa suficiente para atender as suas necessidades de manutenção das atividades básicas do organismo (manutenção e produção). Isso faz com que os animais dependam exclusivamente da pastagem para fornecer estes elementos que muitas vezes suas concentrações nas plantas forrageiras são variáveis. Portanto o animal para não ter problemas deve parir com escore corporal adequado, isto é nem muito gorda e nem muito magra. Para produzir satisfatoriamente ao longo da lactação, devem chegar ao parto em boa condição corporal. Razão: estresse fisiológico a que são submetidas no final da gestação e no início da lactação é muito grande. O período compreendido entre três últimas semanas de gestação e as três primeiras semanas de lactação é chamado Período de Transição. E quando o animal passa do estado gestante, não lactante, para um estado em que a gestação já se encerrou e a produção de leite está iniciando. Para prevenção de distúrbios metabólicos durante este período refere-se à alimentação, há algumas particularidades no manejo dessa fase, que merecem uma reflexão mais aprofundada. A recomendação tradicional para o manejo nutricional dos animais em transição é aumentar a densidade energética da dieta para compensar a redução no consumo préparto. Portanto o animal naturalmente vai ingerir quanti-

AUTORES

1 - Zootecnista, mestrando em Produção Animal Sustentável pelo Instituto de Zootecnia-IZ. Email: glaykhumbertovilela@yahoo.com.br 2 - Médica Veterinaria, MSc.Produção Animal Sustentável pelo Instituto de Zootecnia-IZ.

FOTOS: Glayk H. Vilela Barbosa

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Manejo nutricional durante o préparto de fêmeas leiteiras

dade menor de alimento, mas se a densidade energética for maior, a ingestão de energia pode não ser tão prejudicada. Segundo Pedroso (2007), formular dietas com 64-70% NDT (Nutrientes Digestíveis Totais), 14% PB (Proteína Bruta) e 45-48% FDN (Fibra em Detergente Neutro), o que se consegue aumentando-se a oferta de carboidratos não fibrosos, geralmente através do concentrado e utilizando volumosos de alta qualidade. Novilhas exigem densidade energética e protéica ainda mais alta em suas dietas, devido ao menor consumo e as exigências adicionais para atender ao crescimento. A qualidade do volumoso assume importância ainda maior nessa fase em que o consumo cai. Quanto melhor a forragem maior a capacidade de ingestão de volumoso, o que é fundamental para animais em transição. Sempre devemos lembrar que o objetivo é minimizar a queda no consumo, e se os animais recebem volumosos (pasto, silagem, cana de açúcar e feno) de alta qualidade poderão consumir quantidade maior de nutrientes. A fim de otimizar a utilização da energia fornecida pelos alimentos, a suplementação mineral têm sido utilizada para amenizar essa carência e reduzir suas conseqüências clínicas. As exigências desses minerais são diretamente dependentes de alguns fatores ambientais e características do animal: raça, produtividade, idade, alimentação e situação reprodutiva entre outros. Há diferença também entre raças leiteiras. Por exemplo, as fêmeas da raça Gir Leiteiro, mesmo produzindo menores volumes de leite que a da raça Holandês, é comumente afetada pela hipocalcemia (febre do leite ou paresia puerperal) após o parto. Na prevenção de distúrbio metabólico que exerce importância econômica na atividade leiteira ao redor de 5% podendo chegar a 10%, a dieta no pré-parto precisa ter um equilíbrio ácido-básico, devendo ser aniônica para evitar hipocalcemia, que é caracterizada pelas grandes necessidades de cálcio para produção de leite, diminuindo as concentrações de cálcio no sangue. Essa dieta é baseada no forne-


LEITE FOTOS: Glayk H. Vilela Barbosa

cimento de sais aniônicos que irão causar um balanço cátion-aniônico negativo. Esse mecanismo favorece a ação de alguns hormônios que liberam cálcio dos ossos e aumenta a absorção intestinal e renal, ocasionando menor declínio dos níveis de cálcio do sangue, reduzindo, desta maneira, a possibilidade de ocasionar a febre de leite. Segundo Silva (2010), existem dosagens padronizadas de sais aniônicos utilizados no pré-parto, como 113 g de sulfato de magnésio ou 113 g de cloreto de amônia, no entanto, esta estratégia de dosagem não pode ser utilizada se houver suplementação mineral nas dietas. O cloreto de amônia e cloreto de cálcio pode deprimir o apetite no período pósparto. O sulfato de cálcio além de ser barato palatável e de fácil obtenção, não traz danos à saúde e tem sido recomendado para suprir 1% da matéria seca da ração. Portanto, a utilização correta do manejo nutricional no

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pré-parto adotando o fornecimento de dieta de alto valor nutricional associado com sais aniônicos é de grande importância, tanto produtivamente, quanto economicamente, pois pode reduzir a incidência de distúrbios metabólicos e elevar a eficiência produtiva e reprodutiva de sistema de produção leiteira. REFERÊNCIAS PEDROSO,A.M. Estado da vaca no momento do parto: por quê isso é tão importante.Mundo do Leite,São Paulo,n.23,p.16-18,fev-mar/2007. SILVA,E.A.da. Dieta da vaca Leiteiro,SãoPaulo,n.11,p.154-156,nov/2010.

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ais de 35 milhões em negócios foram realizados na edição comemorativa de 20 anos da Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura, a Fenicafé, que acontece todos os anos em Araguari, no Triangulo Mineiro. Promovida pela ACA - Associação dos Cafeicultores de Araguari (MG), a feira tem como objetivo divulgar a importância da irrigação e seus sistemas, mostrando lançamentos de produtos e equipamentos, bem como os resultados de pesquisas para o incremento da produtividade e da qualidade do café do cerrado brasileiro. O presidente da ACA, Cláudio Morales Garcia, fez um balanço dos 20 anos do evento, que este ano bateu recorde de inscrições para as palestras, o que mostra que a Fenicafé é o mais importante da cafeicultura irrigada do país. “Ficamos muito contentes, pois a feira este ano superou nossas expectativas. Foram três dias em que o público nos prestigiou com mais volume do que no ano passado, recebemos muitas pessoas da região sul de Minas, que sofreram com o período de estiagem. Isso mostra a necessidade dos produtores em buscar informações importantes e novas tendências para essa cultura”, disse. Em 2015, mais de 25 mil pessoas visitaram a Feira, sendo que todo o ciclo de palestras, nos três dias de evento, contou com presença de 1600 participantes, entre cafeicultores, estudantes, pesquisadores do assunto e especialistas e público em geral que também se interessa pela cultura de café. “Mais uma vez, toda a diretoria da ACA trabalhou para que a Feira conseguisse alcançar um de seus maiores objetivos, que é promover o nome de Araguari em todo o Brasil”. PALESTRA INTERNACIONAL – Um dos destaques de 2015 foi o workshop internacional ‘Como o cafeicultor brasileiro pode se tornar um produtor de água?’ com a palestra ‘Reservação e alocação negociadas da água para a agricultura irrigada – o caso americano’, proferida pelo Dr. Steve Deverel, do Hydrofocus/Californonia Department of

O auditório do Pica Pau Clube, onde foi realizada a feira, sempre lotado durante as palestras e os cursos.

FOTOS: Revista Attalea Agronegócios

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Edição de 20 anos da FENICAFÉ bate todos os recordes

Na mesa oficial de abertura da 20ª FENICAFÉ, Lafayette Andrada, Deputado Estadual; Cláudio Morales Garcia, presidente da ACA; e Raul José de Belém, prefeito de Araguari (MG).

Cláudio Morales Garcia, presidente da ACA, recepciona pessoalmente caravana de cafeicultores e representantes de entidades patronais e de trabalhadores do Estado do Espírito Santo.

O Engº Agrº Carlos Arantes Corrêa, diretor da Revista Attalea Agronegócios; Cláudio Morales Garcia, presidente da ACA; e o Dr. Luiz Carlos Fazuoli, um dos maiores especialistas em café do Mundo.


PECUÁRIA DE CORTE

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Water Resources, nos Estados Unidos. “Eu tenho muito prazer de vir aqui e compartilhar a história que eu conheço profundamente na Califórnia, nos Estados Unidos, sobre o uso, transposição e reservação de água para a agricultura. O que eu trouxe para a Fenicafé foi um sistema de muito sucesso na cultura agrícola americana”, ressalta. Steven também falou sobre a crise hídrica e efeitos biológicos e hidrológicos que afetam o sistema de irrigação.

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CRISE DA ÁGUA - O coordenador técnico da Embrapa Café, Antônio Fernando Guerra, salientou que a troca de informações que ocorre nesse tipo de evento é muito importante para a atividade. Guerra questionou se a atual crise hídrica é resultado de falta de chuvas ou de falta de gestão. “Estamos utilizando o recurso de forma errada. A crise hídrica representa uma oportunidade para o produtor formar seus reservatórios, salientando que as plantas não consomem água, elas utilizam água”, afirmou. Já o presidente da Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem (ABID), Helvécio Mattana Saturnino, comentou que há espaço no setor rural para a boa gestão da água. “A responsabilidade é muito grande. Se esquece do negócio com base na agricultura irrigada. Os planos para ela são elaborados com base no regime de chuvas. A cafeicultura irrigada trouxe um diferencial enorme para o setor. Temos algo a mostrar para a sociedade, temos que mudar a imagem que foi construída. Se a torneira for fechada para o setor rural a segurança alimentar será afetada. Vai custar muito caro para a sociedade”, alertou Saturnino, sugerindo discussão da questão entre todas as instituições. POLÊMICAS - O climatologista Luis Carlos Molion, professor-doutor da Universidade Federal de Alagoas, esteve na Fenicafé. Ele afirmou que é necessário desmitificar “a história de que a agricultura e a pecuária provocam mudanças climáticas e que o desmatamento na Amazônia provoca seca no Sudeste”. Segundo ele, o clima varia através de um processo natural e já esteve mais quente no passado. “O homem pode interferir apenas no clima local. Nos últimos dez mil anos, ocorreram no mínimo quatro períodos mais quentes que o atual. A variabilidade do clima independe do homem e de suas atividades”, garantiu. O climatologista demonstrou que entre 1920 e 1940, quando se queimava pouco carvão e a agricultura e a pecuária ainda eram incipientes, a temperatura global subiu cerca de quatro graus, em média. Já de 1945 a 1976 a temperatura caiu, apesar do aumento das emissões de carbono com a queima de carvão

FOTOS: Revista Attalea Agronegócios

FENICAFÉ 2015


e petróleo. “Portanto, o homem não tem interferência. O gás carbônico (CO2) não controla o clima global. A quantidade emitida de CO2 pelo homem, inclusive, é ínfima em relação aos fluxos naturais”, frisou. FENICAFÉ 2016 - ”Dentro de um mês já nos reuniremos para discutir a Fenicafé 2016, inclusive levantaremos nomes da cafeicultura que possivelmente estarão aqui na próxima edição”, ressalta Garcia, que complementa: “ainda não há data definida para o evento de 2016, mas será no mês de março. Muito em breve a data será divulgada”, adianta. Para finalizar, Claudio Garcia, agradeceu a todos que prestigiaram o evento e também aos colaboradores. “A ACA é uma família, que se envolve com o grande projeto que é a Fenicafé. O sucesso da feira é a prova de que o trabalho em equipe funciona”.

FOTOS: Revista Attalea Agronegócios

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ealizada pela COOXUPÉ - Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (MG) e com o tema “Viabilizando o futuro da cafeicultura sustentável”, a 14ª edição da FEMAGRI - Feira de Máquinas, Implementos e Insumos Agrícolas aconteceu de 18 a 20 de março último. Em uma área superior a 100 mil metros quadrados, sendo 30 mil metros quadrados inteiramente cobertos, a FEMAGRI 2015 abriu 140 estandes de mais de 100 marcas nacionais e internacionais. Até o fechamento desta edição não havia ainda sido contabilizada a movimentação em negócios. A previsão era de R$ 60 milhões. Posicionada como uma importante ferramenta de troca de informações e atualização para o cafeicultor, a Feira propôs alinhar a sustentabilidade com a mecanização, para trazer ao produtor a importância de novos processos que permitam um plantio de qualidade, baixo custo, produtivo e sem agressões ao meio ambiente. “Para sermos competitivos temos que inovar uma série de processos na lavoura. Acredito que a mecanização hoje permita que façamos não

FOTOS: Revista Attalea Agronegócios

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Organização e forte presença de cafeicultores fortalece a importância da FEMAGRI

só uma melhoria neste sentido (maior produtividade), mas também promova a sustentabilidade em diversos procedimentos. A mecanização é o alicerce para a cafeicultura do futuro”, avaliou Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da Cooxupé.


FOTOS: Revista Attalea Agroneg贸cios

FEMAGRI 2015

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Cocapec inaugurou oficialmente no dia 20 de fevereiro um novo armazém de café no município de Cristais Paulista. Com isso, a cooperativa completa sua 6ª unidade. A estrutura tem cerca de 9 mil m², com capacidade para aproximadamente 400 mil sacas. A área total chega a 72 mil m², o que permite futuras expansões. O local já está em operação e recebeu a produção da safra 2014 totalmente através do sistema de granelização. Centenas de pessoas, entre cooperados, familiares e colaboradores, acompanharam a entrega da

FOTOS: Divulgação COCAPEC

COCAPEC inaugura novo armazém em Cristais Paulista

A estrutura já funciona plenamente desde a última safra.

O prefeito Miguel Marques destacou as inúmeras vantagens de ter a Cocapec em seu município.

Todos os envolvidos na instalação da unidade prestigiaram a cerimônia.

obra que contou também com a presença de toda a diretoria da Cocapec e dos membros da administração pública de Cristais Paulista. Em seu discurso, o diretor presidente da cooperativa Maurício Miarelli ressaltou a força do cooperativismo. “Os nossos cooperados devem se orgulhar desta unidade, pois foram eles que sabiamente olharam para o futuro e decidiram destinar os recursos para essa construção”. O prefeito de Cristais Paulista (SP), Miguel Marques, disse que é um orgulho ter uma empresa do porte da Cocapec. “A vinda da Cocapec para cá é um marco, e sabemos a importância de trazer uma empresa séria e comprometida com seus associados e que busca sempre prestar bons serviços”. Futuramente será instalada uma usina de rebeneficiamento de café que auxiliará no processo de a comercialização da produção dos cooperados. Desta maneira, a economia da região, que é fortemente pautada na cafeicultura, ganha um novo incentivo e o benefício de mais esta conquista do cooperativismo será de todos.


CAFÉ

IBGE diminui sua estimativa de produção de café

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segunda estimativa de 2015 para a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas totalizou 199,6 milhões de toneladas, 3,5% superior à obtida em 2014 (192,8 milhões de toneladas). A previsão de fevereiro em relação a janeiro caiu 1,8 milhão de toneladas (-0,9%). A estimativa da área a ser colhida (57,2 milhões de hectares) foi 1,5% maior que a área colhida em 2014 (56,3 milhões de hectares). Em relação ao café, o Brasil deverá produzir 2.563.375 toneladas de café , 42,7 milhões de sacas , queda de 2,73% em relação a previsão de janeiro que era de 2,6 milhões de toneladas ou 43,9 milhões de sacas CAFÉ ARÁBICA :- Em 2015, o Brasil deverá produzir 1.892.109 toneladas de café arábica, o que equivale a 31,5 milhões de sacas . Em 2014, a cultura sofreu danos significativos com a estiagem e o calor, notadamente em Minas Gerais e São Paulo, maiores produtores de café arábica. O percentual de decréscimo da produção em relação à estimativa de janeiro é de 2,1%. Há registros pontuais de queda de rendimento médio, pois as altas temperaturas e a baixa

pluviosidade neste início de 2015 são ocorrências negativas, nesta época crucial de “enchimento” dos grãos. Minas, o maior produtor brasileiro de café arábica, aponta decréscimo de 0,4% na produção estimada de fevereiro em relação a janeiro, que totaliza 1.345.091 toneladas (22,4 milhões de sacas de 60 kg). Já a área a ser colhida está estimada em 983.078 ha, 1,6% maior e o rendimento médio de 1.368 kg/ ha está 1,9% menor. CAFÉ CANEPHORA :- Para o café canephora, a estimativa realizada em fevereiro de 2015 é de que sejam produzidas, neste ano, 671.226 toneladas (11,2 milhões de sacas), 4,4% menor que a estimativa de janeiro. A área total ocupada com esta espécie é de 518.532 hectares (0,2%maior). A produção do Espírito Santo, principal produtor de café canephora do País, está estimada em 457.404 toneladas (7,6 milhões de sacas). Apresenta decréscimo de 6,3% em relação a estimativa anterior. Devido à estiagem e elevadas temperaturas, o rendimento médio cai 6,6%, influenciando a queda da produção do estado. (FONTE: Café da Terra)

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CAFÉ

Rasgaduras e escoriações em folhas do cafeeiro

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s folhas do cafeeiro, como as de quaisquer outras plantas, são as responsáveis pela fotossíntese, ou seja, pela produção de toda a energia, que vai promover o crescimento e a produção. Os frutos, em pequena escala, também acabam fazendo fotossíntese e, em algumas plantas, mesmo o caule é capaz disso. Deste modo, a integridade das folhas é importante para que elas façam sua função primordial na planta. Machucaduras, escoriações, rasgaduras, lesões e outros tipos de problemas, que venham a ocorrer nas folhas, acabam reduzindo a área foliar e atrapalham o processo de fotossíntese. Assim, no manejo da lavoura cafeeira, as causas de machucaduras na folhagem devem ser conhecidas e seu efeito precisa ser minimizado. Na prática temos observado que são 3 as principais causas de escoriações e rasgaduras em folhas, todas de origem mecânica. São elas – o efeito de chuva de granizo, efeito de vento e da colheita do café. A chuva de granizo provoca rasgaduras e buracos nas folhas e, em caso severo, chega a dilacerar e derrubar a folhagem, bem como causa lesões nos ramos. O vento atua, de forma mecânica, pelo atrito constante, sobre a folhagem mais nova, provocando rasgaduras nas margens dessas folhas novas, inclusive pelo contato de uma com outra. Estas causas e seus sintomas na folhagem já são bastante conhecidos. Uma causa pouco divulgada e, assim, menos conhecida é a que aqui estamos detalhando. Trata-se do efeito dos trabalhos da colheita do café, especialmente do maquinário usado e, em menor escala, da própria mão do colhedor, causando escoriações nas folhas. Sabia-se que a operação de colheita provoca a derrubada de folhas, isto sendo muito visível ao se observar, no pano de colheita, alem dos frutos, um bom volume de folhas, o que também é verdade no uso da colhei-

Rasgaduras em folhas de cafeeiro, igualmente por efeito do uso da derriçadeira motorizada na colheita do café. Pode-se ver, curiosamente, até o rompimento da nervura principal, próximo ao pecíolo da folha.

AUTOR

1 - Engº Agrônomo da Fundação Procafé. www.fundacaoprocafe.com.br

FOTOS: Fundação Procafé

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J.B. Matiello1

Escoriações, de diferentes formas, em folhas de cafeeiro, causadas pela colheita, com uso de derriçadeira motorizada de operação manual. Manhuaçu (MG), agosto de 2014.

ta mecanizada, a qual, mal conduzida, chega até a desfolhar mais do que a manual. Com o trabalho de derriça dos frutos, seja com as mãos, seja, em maior escala, com as derriçadeiras, os elementos derriçadores, as varetas, ao baterem nos ramos, para, por contato ou vibração, derrubarem os frutos, também atingem as folhas que se encontram na ramagem do cafeeiro. Uma parcela das folhas pouco sofre, outras recebem escoriações e outras acabam sendo derrubadas. Parece que a derriçadeira motorizada, de operação manual, talvez pelo elemento derriçador, conhecido por “mãozinha”, passar mais vezes no mesmo local, acaba causando maior efeito sobre a folhagem e a própria ramagem dos cafeeiros. Alem do efeito de reduzir a área fotossintética das folhas, as rasgaduras e escoriações podem, devido ao tecido necrosado, aumentar a produção de etileno e provocar a caída das folhas. Podem, ainda, servir de porta de entrada de patógenos, fungos e bactérias(como Phoma/Ascochyta, Colletotrichum, Pseudomonas), que ampliam a área necrosada.

Outros tipos de escoriações, como riscos ou pequenos pontos, pela causa citada nas fotos anteriores. Em condições favoráveis de temperatura e umidade, estas escoriações podem dar origem à entrada de patógenos, e, assim, gerando maiores problemas.


CAFÉ

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MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento prorroga por mais um ano a declaração de estado de emergência fitossanitária em Minas Gerais por conta da infestação de broca-de-café (Hypothenemus hampei), besouro cuja lagarta se alimenta das sementes de café. A decisão foi publicada na edição do dia 19 do Diário Oficial da União. A medida permitirá que os produtores continuem importando agroquímicos que combatem a praga, principalmente aqueles baseados em Ciantraniliprole, de baixa toxidade, já registrados nos Estados Unidos, na União Européia (UE), no Canadá e no Japão. Inicialmente promulgada em 12 de março de 2014, a portaria que declara estado de emergência fitossanitária em Minas Gerais alerta para o risco “iminente de surto” da broca-de-café no estado, devido à grande capacidade de proliferação da praga e a baixa capacidade de resposta disponível na ocasião, pela falta de produtos para manejar o problema. À época, os produtores buscavam novas formas de controlar a situação, uma vez que o agroquímico Endosulfan, bastante eficaz no combate à praga foi banido do mercado. A broca-do-café ataca no período de novembro a abril, do fruto verde ao seco, aparecendo na lavoura principal-

FOTO: Embrapa

MAPA estende medidas de combate à broca

Adulto e larvas da Broca-do-Café (Hypothenemus hampei) em fruto.

mente por colheitas mal realizadas em safras anteriores. O ataque ocorre na fase de granação e maturação. A lagarta se instala no interior do grão e prejudica a qualidade da bebida. Um em cada cinco frutos atacados pela praga apresenta defeito. Em uma saca de 60 quilos de café beneficiados, a perda pode chegar a 20%. (FONTE: Canal Rural)

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ARTIGO

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AS ASSOCIAÇÕES E O ASSOCIATIVISMO André Luis da Cunha - Cafeicultor, diretor-presidente da AMSC - Associação dos Produtores de Cafés Especiais da Alta Mogiana [ altamogiana@amsc.com.br ]

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vida associativa está presente em diversas esferas do dia a dia da pessoa comum, seja no trabalho, na família, na escola. Ela vem para contribuir com o equilíbrio e a estabilidade social, sendo caracterizada pela organização de duas ou mais pessoas, sem a finalidade lucrativa, mas que visam um objetivo comum. As associações têm o propósito de melhorar a qualidade de vida da sociedade em que atua através da promoção do desenvolvimento e crescimento econômico da região, advindos dos esforços coletivos focados na melhoria da competitividade e eficiência produtiva. Isso decorre do fato do associativismo ser uma forma de instrumentalizar os mecanismos que concretizam as demandas sociais. Através de uma associação, pode-se partilhar de uma estrutura coletiva da qual todos os membros se beneficiam; e, de forma organizada, promover discussões de temas referentes a necessidades e objetivos comuns. Neste momento, é possível a troca de experiências entre indivíduos com talentos, competências e capacidades singulares, que estimulam o fortalecimento do capital humano e social – fundamentais para a promoção do desenvolvimento territorial. As associações que prosperam, costumam apresentar organização e garantir um processo participativo dos seus integrantes. Com isso, além de partilhar informações e conhecimentos, estimula a confiança e o espírito de cooperação. Mas há outros fatores igualmente, ou até mais, importantes para o sucesso da entidade: • O estabelecimento de objetivos comuns aos associados, que agreguem valor demonstrável e efetivo; • Planejamento estratégico das atividades e metas a serem alcançadas em prol dos objetivos comuns; • A estruturação de uma Diretoria com liderança robusta e autonomia para centralizar as decisões com foco no bem maior; • Equipe de execução de alto desempenho, capaz de

apoiar sua Diretoria e associados, sendo eficiente e ágil na implantação das ações delineadas; • Transparência nas ações e nas relações estabelecidas, além de uma boa administração das finanças da entidade; • Associados comprometidos e atuantes, conscientes de que o sucesso da associação é de responsabilidade de todos; • Comunicação integrada; • Relacionamento institucional pró-ativo, com equipe e associados trabalhando em parceria. O relacionamento institucional envolve o estabelecimento de conexões com outras pessoas e entidades, visando levantar informações e compartilhar recursos. É uma forma de se chegar a soluções para problemas comuns, além de estruturar o alicerce para a inovação – outro fator crítico de sucesso para associações de alto desempenho e elemento de agregação de valor para associados. São diversos os modelos de associações no Brasil, sendo os tipos mais comuns: filantrópicas, pais e mestres, em defesa da vida, de consumidores, de classe, de produtores e culturais, desportivas e sociais. As associações de produtores rurais são caracterizadas por ser uma organização civil, constituída por produtores rurais e suas famílias, com o objetivo de dinamizar o processo produtivo rural, desenvolvendo ações que beneficiam a comunidade por eles constituída. Geralmente elas são referentes à educação, saúde e técnicas de produção e comercialização de alimentos e produtos artesanais. O potencial de crescimento e desenvolvimento a partir de ações promovidas pelo associativismo rural é enorme, sendo a competência e a responsabilidade de promovê-lo dos produtores rurais, através dos esforços coletivos em prol de um objetivo comum. É preciso consciência entre os integrantes da classe de que juntos há mais força, faz-se melhor e chega-se mais longe do que sozinhos.


CAFÉ

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ma manhã para falar sobre cafés especiais. Realizado pela AMSC - Associação dos Produtores de Cafés Especiais da Alta Mogiana, em conjunto com os Sindicatos Rurais de Altinópolis (SP), Batatais (SP), Franca (SP) e Pedregulho (SP), com apoio institucional do Escritório Regional de Franca do Sebrae-SP e patrocínio da TRX Assessoria Agrícola, o 1º Fórum de Cafés Especiais da Alta Mogiana reuniu no último dia 11 de março mais de 60 pessoas, entre cafeicultores e representantes de entidades e associações da região, para debater um tema que hoje é vanguarda quando se fala em cafeicultura. O evento abordou em um único momento informações sobre tendências de mercado - passando pelas três ondas de consumo de café, contextualizando-as com a Indicação Geográfica da Alta Mogiana e apresentando as oportunidades que se apresentam para os cafeicultores; e técnicas de produção e de pós-colheita para que o produtor possa aprimorar a qualidade dos seus cafés e se inserir neste mercado com sustentabilidade. Daniel Friedlander, da Ag1Vida, iniciou sua apresentação “A Indicação Geográfica e o Café” definindo a época atual como de evolução e de oportunidades para a diferenciação

Participantes do 1º Fórum de Cafés Especiais da Alta Mogiana.

FOTOS: Revista Attalea Agronegócios

1º Fórum de Cafés Especiais da Alta Mogiana

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Rafael Marques, Elias Generoso, Daniel Friedlander e André Luis da Cunha.

do café, diante das exigências pelos consumidores por alimentos mais éticos e de alta qualidade. O café passa a ser reconhecido por seus atributos organolépticos, com evidência para as sutilezas de sabor e aroma, destacadas pelos diferentes métodos de preparo. O consumidor atual está mais consciente quanto ao respeito aos trabalhadores e ao meio ambiente nos processos produtivos; e conectado com informações sobre os produtos – sobre a origem e história - e com as mídias sociais, nas quais repassa as experiências de consumo vividas. São dessas tendências que nascem as oportunidades e transformam o


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o mundo do café, exigindo novos posicionamentos e atitudes ao longo da cadeia. A qualidade do café continua a ser fundamental, assim como as certificações. Abre-se espaço para que a origem passe a ser o diferencial, fator de agregação de valor. E é neste contexto que a Indicação Geográfica ganha relevância. A Indicação de Procedência do Café da Alta Mogiana torna-se uma ferramenta para distinguir os cafés produzidos na região tanto para o cafeicultor, como para o torrefador e o consumidor. Ela demonstra a autenticidade e conecta-se com o novo perfil do consumidor, sendo exclusiva da Alta Mogiana. Já Elias Generoso, do Escritório Três Irmãos, em sua palestra “Segredos para a produção de cafés altamente diferenciados” falou sobre os principais fatores que influenciam na qualidade e apresentou técnicas para a produção de cafés diferenciados, desde a escolha do talhão da propriedade até métodos de pós-colheita que melhor preservam o potencial de qualidade do grão. Dentre os aspectos discutidos, pode ser destacado o ponto de maturação ideal para a colheita do café e os cuidados com a seca dos grãos. O consultor abordou também detalhes sobre como os cafés são avaliados nos concursos e quais os cuidados a serem tomados com os lotes a serem inscritos.

FOTOS: Revista Attalea Agronegócios

CAFÉ

André Luis da Cunha, presidente da AMSC.

É primordial destacar a importância do cafeicultor em buscar mais informações sobre o mercado e sobre tecnologias para melhorar os processos produtivos e a qualidade do café produzido. É preciso que a região se prepare para atender um mercado consumidor cada vez mais exigente, com aptidão a fornecer cafés com origem e qualidade diferenciada.

Elias Generoso, Escritório Três Irmãos.

Rastreabilidade do Selo de Origem e Qualidade da IG do Café da Alta Mogiana.

Daniel Friedlander, da AG1Vida

Luis Otávio e Vinicius Marques, da TRX Assessoria Agrícola.


CAFÉ

CATI realizará no dia 11 de abril o 3º Encontro de Cafeicultores de Batatais (SP)

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FOTO: Revista Attalea Agronegócios

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CATI - Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo e o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural de Batatais (SP), realizarão no dia 11 de abril, sábado, o 3º Encontro de Cafeicultores do Município de Batatais e Região. O evento será realizado na “Casa do Criador”, do Parque de Exposições “Antônio Carlos Prado Batista”, com início previsto para as 8h30. Os organizadores esperam a participação de pelo menos 100 produtores de café do município e da região. De acordo com o levantamento LUPA da CATI atualizado em 2015, possui cerca de 200 propriedades produtoras de café, que ocupam cerca de aproximadamente 2.800 hectares. De acordo com a Engª Agrª Amanda Hernandes Stefani, diretora da Casa da Agricultura de Batatais (SP), os temas a serem abordados serão: Uso Racional da Água em Sistemas de Café Irrigado, Poda do Cafezal em cenário de Seca, e Atualizações sobre a Indicação de Procedência Geográfica da Alta Mogiana, que contará com o apoio da AMSC - Associação de Cafés Especiais.


CAFÉ

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s fungicidas cúpricos são muito importantes para a cultura do café, pois atuam sobre várias doenças que incidem na cultura e também têm um efeito tônico muito interessante, que promove o vigor das plantas e a retenção foliar, mesmo depois da colheita. Os fungicidas cúpricos vêm sedo utilizados na cultura do café desde que a ferrugem, causada por Hemileia vastatrix, apareceu no Brasil, na década de 1970. O controle químico é técnica mais utilizada para o controle desta doença em lavouras de café instaladas com cultivares suscetíveis, que representam em torno de 90% do Ferrugem do cafeeiro causada por Hemileia vastatrix. parque cafeeiro brasileiro. A partir da década de 1980, formulações aplicadas, via solo, de fungicidas forAtribui-se o aumento de importância da mancha aumulados com triazóis passaram a ser utilizadas para o con- reolada a vários fatores, como a expansão da cafeicultura trole da ferrugem no Brasil e, gradativamente, substituíram com mudas doentes para regiões com incidência de ventos, o cobre, pois mostravam maior poder residual e a forma de sem o plantio de quebra-ventos, a ampliação do uso de podas aplicação era mais prática para a cafeicultura de montanha. para a condução da lavoura, especialmente a técnica da safra A partir dos anos 2000, a ferrugem passou a ser con- zero, em que se produz um ano sim e outro não, o aumento trolada com fungicidas triazóis aplicados via solo e/ou via da colheita mecanizada, na qual ferimentos podem favorecfoliar e, mais recentemente, com misturas de fungicidas dos er a penetração da bactéria, e a redução no uso de cobre na grupos dos triazóis e das estrubilurinas, aplicados via foliar. cultura do café. Estes fungicidas, além de serem eficientes para o controle da ferrugem, também reduzem a incidência da cercosporiose, POR QUE É INTERESSANTE UTILIZAR O COBRE causada por Cercospora coffeicola. NA CULTURA DO CAFÉ? - Os fungicidas cúpricos são reNos últimos anos os fungicidas cúpricos voltaram a ser comendados para a cultura do café, mesmo para lavouras utilizados na cafeicultura, especialmente por causa do agra- que recebem tratamento com fungicidas triazóis e estruvamento de epidemias de mancha aureolada, causada pela bilurinas, pois reduzem os prejuízos causados por doenças bactéria Pseudomonas syringae pv. garcae, que ocorreram como a mancha aureolada, e atuam como coadjuvantes no em várias regiões do país. controle da ferrugem e da cercosporiose, além de proA importância da doença aumentou a partir de 2008, em lavouras do Sul de Minas, Cerrado Mineiro, Alta Mogiana, na região de Garça e no Paraná. As lavouras mais afetadas pela doença foram as localizadas em áreas sujeitas à incidência de ventos, e muitos viveiros dessas regiões foram atacados pela doença. De maneira geral, as plantas jovens, com até quatro anos de idade, e as que sofreram podas são as mais atingidas pela mancha aureolada. FOTO: Flávia R.A. Patrício

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Flávia R. Alves Patricio1, Irene M. Gatti Almeida2, Luis O. S. Beriam3 e Carlos A. V. Becker4

FOTO: Flávia R.A. Patrício

Cobre na cultura do cafeeiro

AUTOR

1 - Pesquisadora do Centro Experimental Central do Instituto Biológico. Email: flavia@biologico.sp.gov.br 2 - Pesquisadora do Centro Experimental Central do Instituto Biológico. Email: gatti@biologico.sp.gov.br 3 - Pesquisador do Centro Experimental Central do Instituto Biológico. Email: beriam@biologico.sp.gov.br 1 - Pesquisador da Uniagro. Email: carlos.becker@uniagro.com.br

Cercosporiose do cafeeiro causada por Cercospora coffeicola.


CAFÉ FOTO: Flávia R.A. Patrício

mover um efeito tônico nas plantas. Entretanto deve-se tomar o cuidado de evitar aplicações seguidas em períodos muito secos do ano, pois estes fungicidas podem promover aumentos nas populações de ácaros e de bicho mineiro.

QUANDO UTILIZAR O COBRE NA CULTURA DO CAFÉ? - Para o controle da ferrugem são sugeridas 4 a 6 aplicações de fungicidas cúpricos, realizadas em intervalos de 30 dias, que têm início em novembro/dezembro e terminam em abril. Quanto mais alta a carga da lavoura, e mais favoráveis as condições climáticas para a ferrugem, maior o número e menor o intervalo entre as aplicações. Para o manejo da mancha aureolada sugerem-se uma aplicação de fungicidas cúpricos após colheita e duas ou mais aplicações de coMancha aureolada em folha de cafeeiro causada por Pseudomonas syringae pv. garcae. bre no início do ciclo produtivo da cultura, do florescimento até o início da formação dos frutos, ou nos concentração de cobre metálico e tipo de formulação, sameses de setembro a novembro. lientando-se que os fungicidas cúpricos são produtos de conOs fungicidas cúpricos também têm sido sugeridos em tato que só se redistribuem por lixiviação, e por isso devem aplicações em pós-colheita mesmo para as lavouras não afe- ser aplicados de forma preventiva. As formulações de cobre têm variada solubilidade, e as tadas pela mancha aureolada. Estas aplicações são benéficas pelo efeito cicatrizante e tônico destes fungicidas, que pro- formulações menos solúveis tendem a serem as mais persismovem aumento da retenção foliar, favorecendo a recupe- tentes, mas a solubilidade e a tenacidade são muito influenração das plantas, e também podem reduzir os inóculos de ciadas pelos componentes das formulações, como adesivos e ferrugem e de cercosporiose que restaram da safra anterior, tamanhos das partículas. De maneira geral, os produtos de melhor qualidade são ajudando no manejo destas doenças. formulados com partículas menores e adesivos de alta QUAIS FUNGICIDAS CÚPRICOS PODEM SER UTILIZADOS NA CULTURA DO CAFÉ? - Os fungicidas cúpricos que podem ser utilizados na cultura do café são formulados como calda bordaleza, oxicloreto de cobre, hidróxido de cobre e óxido cuproso. A calda bordaleza pode ser preparada na propriedade, mas há formulações comerciais registradas como fertilizantes foliares, contendo em torno de 100 g de cobre metálico por kg. Há quase trinta formulações de fungicidas cúpricos registradas no Brasil para a cultura do café, sendo formuladas como pó molhável (WP), granulado dispersível (WG) e suspensão concentrada (SC). Estima-se que a dose de cobre necessária para o controle da ferrugem seja o equivalente a 800 g de cobre metálico por hectare. A dose recomendada para o controle da mancha aureolada não foi até o momento determinada, mas deve ser próxima ou superior a esta, por se tratar de uma doença bacteriana, de mais difícil controle. A dose do fungicida cúprico pode variar bastante em função do alvo biológico, da natureza química do produto,

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qualidade. Quanto menor a partícula, melhor a distribuição do fungicida nas partes vegetativas dos cafeeiros e os melhores adesivos promovem maior retenção dos fungicidas, protegendo-os da degradação e lixiviação pelas chuvas e vento. Os fungicidas cúpricos são produzidos por meio da purificação de sucatas de metais de cobre ou a partir de minas de cobre. A qualidade do fungicida pode ser aferida pela formulação e pelos teores de poluentes encontrados na sua composição (chumbo, arsênio, cádmio, etc), sendo os fa-bricantes responsáveis pela seleção de sucatas de qualidade para garantir que seus produtos fiquem isentos destes contaminantes. Para fungicidas cúpricos é importante salientar que maior quantidade de chuvas após as aplicações, significa que pode haver maior perda de cobre e, consequentemente, menor deve ser o intervalo entre as aplicações. Nas culturas de citros, que usam muito cobre no manejo de doenças, observam-se melhores resultados quando são realizadas várias aplicações com doses médias de cobre, do que menor número de aplicações com doses mais elevadas. As formulações de cobre são pouco solúveis em pH próximo a 7 que é o pH ideal para sua aplicação. Por esta razão convém evitar as misturas de cobre com compostos químicos que abaixam muito o pH da calda. Quanto menor o pH da calda, maior a solubilidade do cobre, que pode se tornar tóxico, embora o cafeeiro seja uma planta muito tolerante a este elemento. COMO SÃO APLICADOS OS FUNGICIDAS CÚPRICOS PARA O MANEJO DA MANCHA AUREOLADA? - As proteções com cúpricos precisam ser feitas antes da penetração da bactéria na planta, especialmente quando esta ocorre pelas brotações jovens ou inflorescências. Em períodos muito chuvosos, de intensa brotação e/ou no período do florescimento, os intervalos entre as aplicações devem ser reduzidos (20 a 30 dias). Como os fungicidas cúpricos são produtos de contato que não penetram na planta, os equipamentos de pulverização devem ser regulados para uma distribuição homogênea

em toda planta, mas especialmente na parte superior e interna, onde se concentra a carga da lavoura. Há um efeito negativo sobre o controle muito grande de vento – em áreas com elevada incidência de ventos o controle químico é muito menos eficiente, embora reduza a mancha aureolada. Por esta razão sempre se recomenda o plantio de quebra-ventos nas culturas de café instaladas em locais afetados por ventos constantes. Nas áreas com histórico da doença, resultados mais consistentes têm sido obtidos quando as aplicações são iniciadas antes de aparecerem os sintomas. No início do ano a elevação da temperatura desfavorece a colonização dos cafeeiros pela bactéria e a epidemia da mancha aureolada, de maneira geral, é naturalmente reduzida. Por esta razão, sugere-se que os meses mais quentes do ano fiquem sem aplicações de cobre, visando a promover o equilíbrio nas pragas que ocorrem na lavoura. LITERATURA CONSULTADA Matiello, J.B.; Almeida, S.R. A ferrugem do cafeeiro no Brasil e seu controle. Varginha: PROCAFÉ, 2006. 98p. Patricio, F.R.A.; Oliveira, E.G. Desafios do manejo no controle de doenças do cafeeiro. Visão Agrícola, v.12, p.5154, 2013. Thomaziello, R.A.; Fazuoli, L.C.; Pezzopane, J.R.; Fahl, J.I.; Carelli, M.L.C. Café arabica: cultura e técnicas de produção. Instituto Agronômico: Campinas, SP, 82p. Boletim Técnico, 187, 2000. Zambolim L.; Vale F.X.R.; Zambolim E.M. Doenças do cafeeiro. In: Kimati, H.; Amorim, L.; Rezende, J.A.M.; Bergamin Filho, A.; Camargo, L.E. (Eds.) Manual de Fitopatologia, vol. 2: Doenças das plantas cultivadas, 4.ed. São Paulo: Ceres. p.165-180, 2005. Hardy, S.; Fallow, K.; Barkley, P. Using copper sprays to control diseases in citrus. Primefacts, .v.757, p.1-5, 2007.


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Dalyse Toledo Castanheira1, Arthur Henrique Cruvinel Carneiro2 e Giovani Belutti Voltolini3

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FOTO: Giovani Belutti

A importância do enxofre para o cafeeiro

crescimento da planta e do vingamento das flores. A recomendação de adubação sulfatada é baseada no diagnóstico da fertilidade do solo e na diagnose foliar, que quantifica a absorção do S pela planta.

enxofre é considerado um elemento químico essencial para a produção agrícola, assim como o nitrogênio, fósforo e potássio. Ele possui um papel de AMOSTRAGEM DE SOLO destaque na nutrição das plantas, pois - Para a análise de solo deve-se reestá intimamente ligado ao desenvolvializar uma amostragem bem feita, mento vegetal, sendo um constituinte nas camadas de 0 a 20 cm e 20 a importante das proteínas e essencial 40 cm de profundidade. É imporna fotossíntese, além de conferir maior tante uma interpretação da análise resistência às plantas em relação a coerente com a situação atual do condições adversas de cultivo, como solo. Solos arenosos e com baixo teor baixas temperaturas. de matéria orgânica têm maior predisEfeitos da aplicação foliar de enxofre no cafeeiro: Atualmente, o enxofre está se planta equilibrada nutricionalmente. posição à deficiência de S, sendo assim tornando um nutriente limitante na em sistemas irrigados deve-se conprodutividade das culturas. Pesquisas indicam um aumento siderar a contribuição do enxofre presente na água da irrigação. O enxofre disponível (sulfato) é um nutriente muito de até 40% na produção de café com o uso de fertilizantes a base de enxofre. Além do aumento da produtividade, o móvel no perfil do solo e pode acumular em camadas mais enxofre está relacionado com características de qualidade do profundas. Por isso, é importante a amostragem em duas café, em que açúcares e aminoácidos, são responsáveis pela profundidades, de 0-20 cm e de 20-40 cm. A existência de uma relação N:S adequada nas proteícor caramelo desejada nos grãos de café após a torra. Existem diversas formas de incrementar enxofre à nas leva à necessidade de um adequado balanço na nutrição planta, podendo ocorrer por meio da mineralização da ma- das plantas quanto a estes elementos. téria orgânica, pela adição de fertilizantes orgânicos ou miFONTES DE ENXOFRE - As fontes mais comuns de nerais, e, em determinadas culturas, pelo uso de fungicidas à base de enxofre. As perdas de S no solo estão associadas a fertilizantes para o suprimento de enxofre são o superfosfaprocessos como lixiviação, exportação pelas culturas, erosão, to simples (12% de S), sulfato de amônio (23% de S), gesso agrícola (17% de S), enxofre elementar (30 – 99% de S) e queimadas e emissão de gases sulfurados. diversas combinações, principalmente de fertilizantes nitroO ENXOFRE - O enxofre é absorvido pelas plantas genados, como nitrato de amônio e ureia, com fertilizantes principalmente na forma inorgânica de sulfato (SO4-2), que sulfatados, todas de aplicação via solo. O gesso agrícola se destaca como uma das fontes de é muito suscetível ao processo de lixiviação. A maioria dos solos agrícolas cultivados apresenta deficiência de enxofre, enxofre mais usadas e vantajosas economicamente. principalmente em áreas com baixo teor de matéria orgâniNOVIDADES - Recentemente, uma prática rentável e ca. Solos argilosos possibilitam maior adsorção do S, e solos eficaz que vem sendo utilizada pelos produtores é o supriarenosos apresentam maior ocorrência de lixiviação. Os sintomas de deficiência de enxofre e de deficiên- mento do enxofre via adubação foliar, como forma de comcia de nitrogênio são muito parecidos, porém, os sintomas plementação da adubação via solo, sendo uma das grandes de S ocorrem em folhas jovens. Os principais sintomas de vantagens dessa técnica o alto índice de aproveitamento do deficiência de enxofre são o amarelecimento das folhas, o enxofre pelas plantas. Os resultados observados com a utilização da adubaencurtamento dos internódios e, posteriormente, o desfolhamento da planta. Além disso, pode ocorrer a redução do ção via foliar podem variar de acordo com a dose, produto e nível tecnológico do produtor. É importante ressaltar que AUTORES a adubação foliar de S deve ser usada como complemento 1 - Engenheira Agrônoma, Doutoranda em Fitotecnia pela UFLA. Email: dalyda adução via solo, visto que as plantas obtêm a maioria do secastanheira@hotmail.com enxofre necessário para seu desenvolvimento via sistema ra2 - Graduando em Agronomia pela UFLA. Email: arthurhcruvinel@hotmail.com dicular. 3 - Graduando em Agronomia pela UFLA. Email: giovanibelutti77@hotmail.com

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safra 2015 de café do Brasil está prevista entre 40,300 milhões e 43,250 milhões de sacas de 60 kg, implicando quebra de 4,61% a 11,12% na comparação com as 45,342 milhões de sacas colhidas em 2014. Os números fazem parte do levantamento de campo contratado pelo CNC - Conselho Nacional do Café junto à Fundação Procafé. Do total estimado, entre 30 milhões e 32,150 milhões de sacas se referem à variedade arábica, o que representa recuo de 0,48% a 7,14% na comparação com as 32,306 milhões de sacas de 2014. A produção brasileira de café conilon (robusta) foi prevista entre 10,3 milhões e 11,1 milhões de sacas, intervalo que implicará queda de 14,85% a 20,99% em relação às 13,036 milhões de sacas cultivadas no ano passado. PRODUÇÃO POR UF - O Estado de Minas Gerais, com uma produção total entre 21,500 e 22,950 milhões de sacas, colherá um volume muito próximo ao de 2014 (-5% a +1,3%) – graças à recuperação ocorrida na Zona da Mata Mineira –, que foi de 22,644 milhões de sacas, mantendose na liderança do ranking nacional. Na sequência vem o Espírito Santo, Estado que, diferente de 2014, foi impactado fortemente pelo clima na safra atual. Com isso, a produção capixaba apresentará recuos entre 15,66% e 21,91% frente ao ano passado e deverá somar entre 10 milhões e 10,8 milhões de sacas. São Paulo e Bahia também apresentarão perdas na colheita 2015. Com previsão para produzirem volumes de 3,7 milhões a 3,9 milhões e de 1,9 milhão a 2,1 milhões de sacas, paulistas e baianos registrarão, respectivamente, diminuições de 15% a 19,37% e de 11,43% a 19,87%. Paraná é a exceção. O Estado produzirá entre 1,0 milhão e 1,1 milhão de sacas de café, registrando substancial FOTO: CCCMG e Reuters

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Fundação Procafé afirma que safra de café do Brasil terá quebra entre 5% e 11% em 2015 COMPARATIVO ENTRE SAFRAS DE CAFÉ DO BRASIL (MIL SACAS DE 60 KG)

crescimento de 78,89% a 96,78% na comparação com 2014. Esse fato se justifica porque a produção paranaense do ano passado foi severamente afetada pela geada de 2013. CLIMA E QUEBRA DE SAFRA - O principal motivador para a redução do volume a ser colhido foram as adversidades climáticas registradas de 2014 até o início de fevereiro de 2015, além do ciclo produtivo das plantas de arábica, que estão em ano de bienalidade negativa, e a redução dos tratos culturais por parte dos produtores, motivados pelos baixos preços do café, que incentivaram podas nos cafezais e até mesmo a erradicação das plantas devido à incompatibilidade das cotações de mercado com os custos de produção. Para os cafeeiros nacionais, a influência climática tem sido extremamente prejudicial nos últimos dois anos, quando foram registrados déficits hídricos severos na maioria das regiões produtoras do Brasil. No caso do arábica, esse cenário teve início no começo de 2014 e perdura até atualmente, ao passo que, para o conilon, a falta de água no solo é mais recente, sendo observada no ciclo 2015. A deficiência hídrica foi gerada pelo índice de chuvas aquém das médias históricas desde janeiro de 2014 e agravada pelas altas tempera-


CAFÉ FOTO: ABIC

turas registradas no cinturão produtor de café, em especial nos meses de crescimento das plantas, florescimento, “pegamento” das floradas e desenvolvimento dos grãos, impactando diretamente no tamanho e no rendimento dos cafés e, consequentemente, na geração de receita aos produtores, que necessitam de um maior número de grãos para encher uma saca. Em relação à cafeicultura de arábica, a falta de precipitações no início do ano passado prejudicou as adubações e os tratos culturais como um todo. O déficit hídrico, que continuou durante 2014, agravou a fragilidade das plantas, fazendo com que os cafeeiros chegassem à pré-florada mal nutridos e estressados pela carga, com menor crescimento dos ramos (nós mais curtos) e do número de internódios, queda pronunciada de folhas, ramos secos, especialmente nas suas pontas, e com indução de gemas vegetativas no lugar das florais, portanto, com menor potencial produtivo. Já nas principais regiões de café robusta do País, como o norte do Espírito Santo e o Sul da Bahia, as condições climáticas transcorreram normalmente, diferente do cenário observado nas áreas de arábica. No entanto, a partir de meados de dezembro de 2014, principalmente em janeiro e parte de fevereiro de 2015, verificou-se um forte veranico nessas localidades, com 50 dias sem chuva e temperaturas muito elevadas, o que conduziu os cafeeiros à seca da folhagem e ao “chochamento” dos frutos, com efeito prejudicial na safra esperada. É oportuno destacar, embora seja do conhecimento da maioria dos profissionais ligados ao setor cafeeiro, que a retomada das chuvas na segunda quinzena de fevereiro de 2015 — não beneficiando as regiões produtoras de café de forma homogênea — não garantem a reversão da tendência de perdas de safra aqui estimadas, pois, especialmente para as áreas de café arábica, os fatores mais influentes na produtividade e na produção deste ano foram os vigentes desde o início de 2014. Ao contrário, fica o alerta que podem até haver perdas adicionais, pois as últimas floradas ainda resultam frutos não granados e a sequência das chuvas se faz necessária. Por fim, pode-se confirmar que os efeitos negativos desse clima adverso também reduzirão o potencial produ-

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tivo dos cafezais na temporada 2016, haja vista que o crescimento dos internódios está de dois a quatro números atrasados em relação à normalidade, o que reduz a área para o surgimento dos frutos a serem colhidos no próximo ano. SOBRE O LEVANTAMENTO - O levantamento foi feito em campo, da segunda quinzena de janeiro até a segunda quinzena de fevereiro de 2015. As propriedades foram visitadas por técnicos especializados em cafeicultura dos quadros da Fundação Procafé e de outras instituições ligadas a cooperativas e órgãos de assistência ao produtor, sempre com a coordenação da Procafé, os quais avaliaram in loco o estado vegetativo das plantas e a capacidade produtiva para a safra deste ano. Foram visitadas 2.700 propriedades cafeeiras do Brasil, nas quais se aplicou um questionário contendo indagações sobre a área cafeeira total, a área com cafeeiros jovens, a área podada e as produções obtidas em 2013, 2014 e a previsão para 2015. Para a apuração dos dados, os questionários foram tabulados em planilha Excel e foram feitos os cálculos das médias e razões de produtividade, chegando-se aos resultados da safra estimada. Em função da ocorrência de forte veranico nas regiões de café robusta do Espírito Santo e do extremo Sul da Bahia, considerou-se, também, uma quebra adicional sobre os números levantados, conforme o índice de “chochamento” previsto nos frutos.


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Perspectivas de preços e exportação de café 36

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Marco Antonio Jacob1

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Relatório do PROCAFÉ está extremamente realista com todo o ocorrido nas lavouras de café brasileiras no ano de 2014 e também com ocorrido até o presente momento, neste ano de 2015. Na mediana do PROCAFÉ vamos colher ( (40.300 + 43.250) / 2 ) igual a 41,775 milhões. Com um consumo interno de 21 milhões, restará apenas 20,775 milhões de sacas para exportar. Nos últimos 12 meses, o Brasil exportou 36 milhões de sacas. Com um consumo de aproximadamente 21 milhões de sacas, desapareceram 57 milhões de sacas. Como a colheita de 2014 foi de aproximadamente 46/47 milhões de sacas, foram usadas aproximadamente 10 milhões de sacas de estoques remanescentes. O Brasil deverá entrar na safra de 2015 (Julho/15) com estoques baixíssimos e com uma safra pequena. O potencial de exportação será proximo de 20/21 milhões de sacas. Entre JUNHO de 2015 a MAIO de 2016, qualquer número maior terão que ser retirados de estoques. Na minha opinião, serão extremamente pequenos. Comercialmente dizendo, serão próximos a ZERO. Daí a importância para que o Levantamento de Estoques pela CONAB, com base em 31 de Março de 2015, seja bem feito e auditado, pois só a transparência com credibilidade poderá mostrar ao mundo cafeeiro a vulnerabilidade

AUTOR

1 - Produtor, consultor e corretor. Trabalha no mercado de café desde 1980. gerente geral de torrefação (1980/83); corretor de café verde (1985/1992); gerente de exportação de café verde (1993/2007). Pós-Graduação em Economia do Sistema Alimentar, pelo CeFAS (Centro di Formazione e Assitenza allo Svillupo), Viterbo - Itália (1983/1984).

da oferta de café. O CNC, CNA, Cooperativas, Federações e Sindicatos devem exigir que este Levantamento de Estoques, que é obrigação legal da CONAB, seja o mais transparente possivel. Resumindo, não tem nenhum país para substituir esta falta do Brasil (Vietnan, Colômbia, Indonésia, India, Etiópia, Guatemala, Peru, Honduras, etc). Os estoques que os países importadores tem hoje na mão estão todos hedgiados (já vendidos) em Bolsas. Conforme for necessário o uso, terão que recomprar nas Bolsas. (desfazer o hedge). O consumo mundial está em 150 milhões de sacas por ano. Uma hora as disponibilidades mundiais vão se mostrar escassas, mesmo com as contra-informações que muitos vão fazer. Na minha opinião, existe real potencial para o café subir muito. No último dia 12 de março, NY MAIO fechou em US$1,3500 por lb. Podemos almejar ver NY, num futuro próximo, a US$2,30, US$3,00, quiçá rompendo o topo histórico de US$3,49 alcançado em 1977, portanto 38 anos atrás. Isto é plausível pois, se considerarmos a inflação americana e transformarmos a cotação de 38 anos atrás, ano de 1977, esta cotação corrigida pela inflação corresponde a US$13,00 por libra, portanto 10 vezes mais que a cotação atual. Outra coisa, os cafeicultores produzem dólares. Com a instabilidade econômica e a política brasileira, o café é um ótimo ativo. Por isto, os cafeicultores devem dosar bem sua vendas. Por isto, os cafeicultores não devem se iludir com o “canto da sereia” que muitos compradores de café e participantes do jogo do mercado vão fazer. Por isto a necessidade de transparência nas ações governamentais.


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UFLA avalia tecnologia para economia de água e sustentabilidade da cafeicultura Polímero hidroretentor mantém a umidade do solo e otimiza sistemas de irrigação

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tecnologia, denominada “polímero hidroretentor”, vem sendo pesquisada na Universidade Federal de Lavras - UFLA, é de fácil aplicabilidade e vem sendo confirmada sua eficácia em plantios de café tanto em lavouras de sequeiro como irrigadas. Trata-se de um gel, que adicionado às covas de plantio, na medida certa, serve como uma reserva de água em períodos de estiagem e também como condicionador de solo. Já validados para a cultura do eucalipto, os resultados das pesquisas com o uso de polímeros na cafeicultura são muito promissores. Essa é a avaliação do professor Rubens José Guimarães, responsável pela pesquisa na Ufla, instituição integrante do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café. “Em consequência da má distribuição de chuvas que tem ocorrido na maioria das regiões cafeeiras, a tecnologia tem se mostrado opção eficiente, pois mantém a umidade do solo, evitando altos índices de replantio que elevam, consideravelmente, o custo de implantação de novas lavouras”, considera. A linha de pesquisa é alicerçada na economia de água e na sustentabilidade, desafios que têm norteado os estudos na Universidade, especialmente em épocas de seca, como ocorreu este ano, sendo objetivo da pesquisa justamente amparar o cafeicultor com tecnologias que contribuam para o uso racional da água na agricultura. Desde que foram iniciados os estudos, em 2009, já foram publicadas quatro dissertações de mestrado e uma tese de doutorado confirmando a eficácia da tecnologia.

POTENCIAL PARA LAVOURAS DE SEQUEIRO Pesquisas anteriores já haviam concluído que a utilização do polímero hidratado na implantação de lavouras cafeeiras interfere positivamente no crescimento das plantas em campo, sendo a melhor dose de aplicação o volume de 1,5 litros por cova da solução composta por 1,5 quilos do polímero diluídos em 400 litros de água. Com essa dose, o cafeicultor gastaria em torno de 28 quilos de polímero para o plantio de um hectare com cerca de cinco mil plantas. Tecnologia também se mostrou economicamente viável, já que o produto no mercado gira em torno de R$15,00 o quilo. Além de o polímero reduzir a necessidade de replantio, garante maior crescimento das plantas. Esse investimento deve ser avaliado levando-se em consideração que a implantação de novas lavouras está vinculada às condições climáticas, sendo fator determinante para o sucesso do plantio. VANTAGENS PARA LAVOURAS IRRIGADAS - A tecnologia que já era atraente para as lavouras de sequeiro

agora começa a chamar a atenção dos cafeicultores de lavouras irrigadas. A tese defendida pelo pesquisador Antônio Jackson de Jesus Souza, atualmente em pós-doutoramento com bolsa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Café (INCT – Café), confirmou a eficácia do polímero em solos de diferentes texturas, promovendo maior crescimento de cafeeiros e potencializando o uso da irrigação em cafeeiros irrigados. Os resultados dessa pesquisa confirmaram que o uso de polímeros otimiza a disponibilidade de água à planta, reduzindo as perdas de água em percolação e lixiviação de nutrientes e ainda na melhoria da aeração e drenagem do solo. No caso de lavouras irrigadas, o polímero pode reduzir o consumo de água, sugerindo uma nova metodologia de aplicação, ainda em estudo. Novas pesquisas deverão ser iniciadas em lavouras da Bahia, para avaliação da tecnologia em solos arenosos. “O polímero permite a reposição de água no solo ou turnos de rega, de forma mais espaçada, sem que as plantas apresentem sintomas de estresse hídrico”, considerou. Quanto à facilidade que as plantas têm de extrair do polímero a água necessária para sua sobrevivência, Antônio Jackson conta que em suas avaliações foram visualizadas raízes aderidas aos grânulos do polímero hidratado, promovendo maior superfície de contato entre as raízes, água e nutrientes. Ele comenta ainda que foram observados resíduos do produto mesmo depois de um ano do plantio.

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O objetivo é auxiliar com a melhor solução em nutrição complementar

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umentar a produtividade, melhorar a qualidade do café e quebrar a bi-anualidade da safra do café são três importantes objetivos do Clube da Fertirrigação, que foi criado para levar aos produtores informações sobre as melhores técnicas de nutrição via fertirrigação no cafezal. O clube, uma iniciativa da Tradecorp do Brasil, reúne cafei-cultores das principais regiões produtoras do país. “Levamos informações importantes sobre nutrição complementar com fertilizantes especiais, feita por meio da fertirrigação, que me-lhora e equilibra a produtividade do cafezal”, explica o engenheiro agrônomo Renato Belisário, da Tradecorp. Os dados que Belisário apresenta indicam que a produção média de 70 sacas em uma safra, seguida de 18 em outra, mudam e ficam mais estáveis, em torno de 55 sacas em ambas as safras, com o uso da nutrição complementar. Além de melhorar a produtividade, há também um incremento na qualidade do café, já que o cafeeiro, por estar melhor nutrido, está mais bem preparado para enfrentar adversidades, como a seca, e fica mais resistente às pragas e doenças. A menor oscilação na produção pode gerar ganhos financeiros ao cafeicultor, em função das altas e baixas do mercado. Ao ingressar no clube, um especialista em café da Tradecorp elabora um mapa de fertilidade do solo e da folha.

Programa que olha para o sucesso da cafeicultura

FOTOS: Futura Agronegócio

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Clube da Fertirrigação Tradecorp contribui para mais resultados nos cafezais

Cafeeiro com tratamento indicado pelo Clube da Fertirrigação. À esquerda, Ricardo Teixeira, doutor em nutrição do café.

“A partir disso, da idade da cultura e do desenvolvimento do café, junto com o produtor, criamos uma estimativa de safra e, então, busca-se fazer a fertirrigação, para chegar aos resultados estimados”, explica. Os interessados em participar do Clube da Fertirrigação podem contatar Renato Belisário, no telefone (34) 9941.2904 ou Fabiano Denis de Paula, da Futura Agronegócios, no (34) 3241.2033.

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om o objetivo de estar mais próximo aos produtores de café, a Bayer CropScience desenvolveu o programa Muito Mais Café, plataforma de soluções integradas fundamentada em importantes pilares para o aumento da produtividade no campo. “A proposta é entender as necessidades dos produtores e oferecer soluções que possam contribuir para melhores resultados. Além do portfólio de produtos, o programa oferece serviços personalizados e ferramentas comerciais diferenciadas, contribuindo para a sustentabilidade do negócio dos nossos clientes.”, ressalta Bruno dos Santos, gerente de Marketing de Clientes – Café da Bayer CropScience para a região Sudeste.

Dia de Campo da Tradecorp com cafeicultores.


AGRICULTURA ORGÂNICA

Fert Bokashi® promove redução de mais de 80% na população de nematóides

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empresa Korin Agropecuária, com sua linha Bokashi Tecnologia & Solo Vivo, juntamente com o Centro de Pesquisa Mokiti Okada (CPMO), realizaram um experimento científico no controle de nematoides utilizando o Fert Bokashi® Premium, um dos produtos produzidos pela empresa.

O teste foi realizado em vasos com solo autoclavado, e com tomates da variedade “Santa Clara”, onde foram inoculados os patógenos e posteriormente foram aplicadas dosagens de Fert Bokashi® Premium. Entre os tipos de nematíides inoculados estão: Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica. A utilização dessa variedade de tomate se deu devido a sua suscetibilidade ao ataque do patógeno em estudo. A seguir, imagens referentes a postura e ao ataque dos patógenos em estudo.

Figura 1. Patógeno liberando ovos (postura).

Figura 2. Danos, sintomas do ataque da espécie Meloidogyne.

Como podemos observar na Tabela 1, em ambas as espécies de patógenos o índice de controle do Fert Bokashi® Premium foi expressivo, mostrando uma eficiência de mais de 80% no caso do M. incógnita e mais de 70% no caso do M. javanica com apenas uma aplicação. Consequentemente, com o uso continuo do produto, podemos ver uma melhor eficiência no controle de doenças, além das outras vantagens já conhecidas da Linha Bokashi Tecnologia & Solo Vivo.

Tabela 1 - Efeito do Fert Bokashi® sobre o percentual de redução populacional dos nematoides-das-galhas (M. incognita e M. javanica) em relação a testemunha.

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HORTALIÇAS

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s cultivares de batata “BRS IPR-Bel” e “BRS Ana”, da Embrapa, destacam-se pela adaptação às diversas regiões do país; elevado rendimento para processamento, tanto na forma de chips como de batata palha; alto potencial produtivo e rendimento de tubérculos comerciais com características de qualidade para a industrialização. Antonio Bortoletto, analista da Embrapa Produtos e Mercado, unidade responsável pela comercialização e inserção de tecnologias produtos e serviços da Embrapa no mercado, explica que, devido à adaptação das variedades nas diferentes regiões de cultivo de batata no país, será possível a sua utilização e adoção tanto por pequenas, médias ou grandes indústrias. Já foi realizado um teste de fritura no laboratório, cujo resultado foi um sucesso, segundo profissionais das cooperativas e da indústria. Como parte do processo de promoção das cultivares, foram enviados cerca de 2.200 kg de tubérculos comerciais de Canoinhas, SC, para testes de fritura na linha de produção da Yoki, indústria parceira. “Com estas variedades, estamos dando um passo à frente para obtermos estabilidade na bataticultura”, disse Tsutomu Massuda, presidente da Cooperativa Unicastro, parceira na pesquisa destas cultivares de batata há três anos, durante o Dia de Campo no ano passado (2014), feito para demonstrar as aptidões das novas cultivares. É fato, disse Massuda na época, que a agricultura é uma atividade de alto risco e sujeita a diversos fatores como clima, aumento dos preços, de insumos, política cambial e econômica, marcos regulatórios trabalhistas e ambientais. No caso da batata existe ainda a forte dependência na importação de sementes, por isso, é imprescindível o trabalho que vem sendo feito pelos órgãos de pesquisa como Embrapa e Iapar em parceria com o produtor e a indústria para atender melhor o nosso consumidor, concluiu o presidente da Cooperativa. Após três anos de parceria com a pesquisa, instalando campos de teste nos produtores da Unicastro, o desempenho das cultivares no campo e no processamento industrial tiveram resultados surpreendentes tanto no aspecto industrial, como nos aspectos agronômicos, com uma boa avaliação nos dados de aparência, cor, sabor e textura. O presidente da Unicastro foi enfático ao afirmar: “Acredito que estão nascendo duas novas opções para a cadeia da bataticultura, as cultivares BRS IPR- Bel e BRS Ana”. Na avaliação dos técnicos da Cooperativa, as cultivares merecem destaque pela superioridade agronômica e qualidade industrial que agregam produtividade e resultados satisfatórios ao sistema, o que sinaliza o potencial de adaptação às condições climáticas da região produtora e a possibilidade de se tornarem comercialmente competitivas. Ainda no Dia de Campo do ano passado, Luis Henrique de Carvalho, agrônomo da General Mills &Yoki, indústria de processamento de alimentos, também conheceu o manejo da variedade nacional e disse: “Vimos o nível de resistência a pragas, a doenças, a seca e também a produtividade e formato de tubérculos, observamos que a variedade anali-

FOTO: Embrapa Hortaliças

Cultivares de batata da Embrapa para indústria

sada tem potencial inicial para boas práticas tanto no campo como no processamento, além de serem adaptadas ao nosso clima. Elas têm potencial para alavancar o nível de fritura e a produtividade dos batatais por esse Brasil afora”. No momento posso confirmar que os testes realizados na nossa indústria foram muito bons e que depositamos uma esperança grande na variedade BRS IPR-Bel e também na BRS Ana, concluiu o representante da Yoki. CARACTERÍSTICAS DAS VARIEDADES - “BRS IPRBel” foi desenvolvida para uso no processamento industrial nas formas de chips e de batata palha. Pode eventualmente ser utilizada para consumo fresco, desde que sejam tomados os cuidados para prevenir o esverdeamento dos tubérculos. É uma cultivar que apresenta plantas medianamente vigorosas, com hábito de crescimento semiereto e porte médio, possuem tubérculos de formato oval, olhos medianamente rasos; película amarela e lisa, com suscetibilidade ao esverdeamento e polpa creme. É moderadamente suscetível a requeima (Phytophthora infestans) e moderadamente resistente à pinta-preta (Alternaria solani). Destaca-se pelo alto teor de matéria seca e pelo grande número de hastes e tubérculos por planta. “BRS Ana” é uma cultivar adequada para fritura à francesa (palitos), com potencial de processamento na forma de palitos pré-fritos congelados, palha e de flocos. Suas características de maior destaque são a aparência, o rendimento de tubérculos, peso específico e qualidade de fritura. Os tubérculos têm película vermelha, levemente áspera, polpa branca, formato oval e olhos rasos. Seu potencial produtivo é alto. No ecossistema subtropical, apresentou maior produtividade que as cultivares mais plantadas no país, quando cultivada no outono, e não diferiu na primavera. Apresenta, também, menor exigência em fertilizantes que as principais cultivares importadas e também mostra moderada tolerância à seca. A “BRS Ana” possui boa resistência à pinta preta, apresentando baixa degenerescência de sementes por viroses, conferida pela resistência ao vírus Y da batata e baixa incidência ao vírus do enrolamento da folha da batata. Apresenta ciclo tardio de 110-120 dias.


HORTALIÇAS

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diversificação de espécies é preconizada em manejos agroecológicos e a mandioquinha-salsa é alternativa interessante por sua rusticidade e mercado cativo. Entretanto, cuidados especiais devem ser tomados na fase inicial de seu desenvolvimento. A mandioquinha-salsa é espécie cujo cultivo é realizado pela propagação vegetativa, originária de regiões com altitudes de 1.500 a 2.500m de países andinos como Peru, Equador e Colômbia. Foi introduzida no Brasil no início do século XX, tendo se adaptado plenamente em regiões serranas do Sudeste e do Sul do país. Seu ciclo é relativamente longo (8 a 12 meses) e o custo de produção é baixo, sendo em geral produzida por agricultores de base familiar d evido a grande demanda por mão-de-obra cuidadosa, especialmente nas fases de produção de mudas, plantio e colheita. Tradicionalmente, o cultivo de mandioquinha-salsa é realizado Figura 1: Planta matriz pelo plantio de propágulos (filhotes saudável e vigorosa. ou perfilhos) diretamente no local definitivo, após seu destaque das plantas de cultivos recém-colhidos, muitas vezes sem um devido tratamento fitossanitário o que promove o acúmulo de doenças e consequente degeneração a cada ciclo de cultivo. Contudo, observam-se em campo diversos problemas relativos à desuniformidade no desenvolvimento e consequentemente no ponto de colheita, que comprometem FOTOS: Nuno Rodrigo Madeira

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Tratamento e pré-brotação de mudas de mandioquinha-salsa sob manejo orgânico

Figura 2: Propágulos de mandioquinha salsa após tratamento com solução de água sanitária a 5% por 10 minutos.

a rentabilidade da atividade. RECOMENDAÇÕES PARA A PRODUÇÃO DE MUDAS - O primeiro passo para a produção de mudas de qualidade é a seleção de plantas matrizes saudáveis e vigorosas (Figura 1). Selecionadas essas plantas, elas devem receber manejo específico com maior aporte de composto orgânico e mais irrigação, de modo a não entrar em processo de dormência. Para o preparo das mudas, devem-se efetuar os seguintes passos: 1 - individualizar os propágulos das coroas das plantas; 2 - lavar os propágulos com água corrente (Figura 2); 3 - tratar os propágulos com solução de água sanitária diluída a 5% por imersão durante 10 minutos; 4 - enxaguar os propágulos com água corrente para retirada do excesso de cloro; 5 - deixar os propágulos secarem em local sombreado; de mandioquinha-salsa 6 - fazer o corte com ferramenta afiada (estilete), dei-xando cerca de 2cm de estrutura de reserva e entre 2 e 3cm de pecíolo (Figura 3); PRÉ-BROTAÇÃO DAS MUDAS DE MANDIOQUINHA-SALSA EM ÁGUA - Mesmo quando se utilizam mudas de plantas matrizes selecionadas e o manejo adequado para a produção de mudas, é comum a desuniformi-

Figura 3. Aspecto dos propágulos cortados prontos para a pré-brotação.


FOTOS: Nuno Rodrigo Madeira

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Figura 4. Pré-brotação de mudas de mandioquinha salsa em recipientes com água.

dade no desenvolvimento das mudas. Esse problema seja na em ergência, no crescimento ou na colheita, é resultado da diferença de idade e consequentemente de vigor dos propágulos quando de sua formação nas coroas das plantas matrizes. Para minimizar esse problema, sugere-se a prébrotação de mudas que provoca um estresse que estimula a brotação dos propágulos mais uniformemente. No Sul do Brasil, é comum o plantio de mudas prébrotadas em serragem ou areia durante os meses frios de junho e julho. Contudo, esta prática é delicada, especialmente em locais ou épocas mais quentes, sendo comum a ocorrência de apodrecimento dos propágulos. é frequente encontrar mudas chochas, já em estágio avançado de apodrecimento que são descartadas, entretanto, mudas na fase inicial de apodrecimento não são facilmente detectadas, sendo então plantadas, o que ocasiona falhas no estande. O que se propõe é a pré-brotação de mudas em recipientes com água. Sugere-se o uso de recipientes circulares com capacidade de 200 mL (tamanho de potes de manteiga de 200g), onde são feitos dois orifícios na parte lateral (Figura 4) que funcionam como “ladrão” para o escoamento do excesso de água quando se irriga. Deve ser mantido um máximo de lâmina de água de 2cm nesse recipiente. As mudas são então dispostas nos recipientes em quantidade suficiente para que se entalem, impedindo assim que tombem. Somente depois de colocadas nos recipientes é que se procede ao molhamento das mudas, que deve ser feito sempre que necessário, em geral, a cada dois dias. As mudas devem

Figura 5. Mudas de mandioquinha salsa com detalhe dos orifícios para escoamento de água.

ser dispostas em local sombreado, de preferência próximo à residência, e protegidas de animais domésticos que possam ser atraídos a beber água dos recipientes (Figura 5). Essa prática apresenta as seguintes vantagens: • maximiza o índice de pegamento; • reduz custos com tratos culturais; • elimina a ocorrência de florescimento precoce no campo definitivo; • possibilita a seleção apurada de mudas; • uniformiza a emergência, o crescimento e a colheita • permite o plantio o ano inteiro para escalonamento da produção em regiões de clima ameno. TRANSPLANTE DAS MUDAS - O transplante para o local definitivo nas leiras de plantio deve ser feito quando as mudas estiverem bem brotadas e iniciando o enraizamento (Figura 6). Não se deve esperar muito, pois pode ocorrer esgotamento da reserva das mudas. Assim, a área deve estar previamente molhada e/ou, deve ser irrigada logo após o transplantio. A utilização de mudas selecionadas e bem manejadas permitirá o estabelecimento de um campo vigoroso (Figura 7), com estande próximo a 100% e desenvolvimento uniforme, fundamental para uma colheita promissora e rentável. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: MADEIRA, N. R.; SANTOS, F.F (Eds.). Mandioquinha-salsa. Disponível em: <http://sistemasdeproducao. cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Mandioquinha/MandioquinhaSalsa/apresentacao.html> Acesso em: 24 jul. 2012.

Figura 6. Mudas enraizadas de mandioquinha salsa prontas para o transplante.

MADEIRA, N. R.; SOUSA, R.J.de Mandioquinhasalsa: Alternativa para a pequena propriedade. Editora Ufla: Lavras, 77p. 2004 (Boletim técnico).


FRUTICULTURA

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José Carlos Cavichioli1 , Laura Maria Molina Meleti2 e Nobuyoshi Narita3

Brasil é o maior produtor e, ao mesmo tempo, o maior consumidor de maracujá. Uma parte dessa produção é destinada ao processamento industrial, havendo neste segmento uma enorme capacidade de absorção de aumento de oferta, o que se traduz em segurança de preços para o produtor (TOMAZ, 2012). A outra parte da produção é destinada ao mercado de frutas in natura. Assim, o potencial de produção do maracujá no Brasil e a demanda de mercado, tanto nacional como internacional, indicam a importância do cultivo desta fruta para a economia brasileira. Para o segmento da agricultura familiar, o maracujá oferece o mais rápido retorno econômico entre as frutíferas e uma receita distribuída pela maior parte do ano. A produtividade média nacional do maracujazeiro, de 14,8 t/ha, é considerada baixa. Isto está relacionado a vários fatores, sendo o principal os problemas fitossanitários (BANDEIRA, 2012). Os fungos de solo constituem um dos principais problemas na maioria dos estados produtores. O uso de tecnologias apropriadas pode garantir a manutenção da qualidade obtida inicialmente com esta cultura. Nos últimos anos diversas tecnologias estão sendo incorporadas ao cultivo desta frutífera, como forma de contornar alguns problemas fitossanitários. Entre estas tecnologias, destacam-se:

1. PRODUÇÃO DE MUDAS - A produção de mudas é uma etapa fundamental para o êxito da cultura do maracujá. Até o ano 2000, a maioria dos pomares era implantada a partir de sementes de frutos de plantios anteriores ou adquiridos no mercado atacadista. O surgimento das primeiras cultivares de maracujá, lançadas em 1999 pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), permitiu que os produtores utilizassem sementes selecionadas para a melhoria do pomar. As novas cultivares são híbridos selecionados para qualidade de fruto e produtividade. As cultivares mais plantadas atualmente são ‘IAC 273 (Monte Alegre), ‘IAC 275 (Maravilha)’ e ‘IAC 277 (Jóia)’. Com esses cultivares, o produtor passou a obter elevado padrão de qualidade em ambos os segmentos de mercado (MELETTI et al., 2012). Mais recentemente, outras cultivares foram disponibilizadas no mercado, com indicativos de certa tolerância a alguns patógenos em algumas regiões produtoras, como ‘BRS Gigante Amarelo’, ‘BRS Ouro Vermelho’ e ‘BRS Sol do Cerrado’, desenvolvidas pela Embrapa Cerrados. São materiais com alta produtividade e com tolerância a algumas doenças

AUTORES

1 - Engº Agrônomo, Dr., PqC do Polo Regional Alta Paulista/APTA. Email: jccavichioli@apta.sp. gov.br 2 - Engª Agrônoma, Drª, PqC IAC - Centro Experimental Central/APTA. Email: lmmm@iac.sp. gov.br 3 - Engº Agrônomo, Dr., PqC do Polo Regional Alta Sorocabana/APTA. Email: narita@apta.sp. gov.br

FOTO: José Carlos Cavichioli/APTA

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Novas técnicas recomendadas no manejo de doenças do Maracujazeiro

Figura 1. Produção de mudas de maracujazeiro de porte alto.

foliares, incluindo a virose. Em alguns locais, o ‘BRS Ouro Vermelho’ mostrou-se tolerante a patógenos de solo, o que pode conferir maior longevidade às plantas e à produção. As sementes das cultivares ‘FB-200 Yellow Master’ e ‘FB 300 Araguari’ são produzidas e comercializadas pelo viveiro Flora Brasil, localizado em Araguari (MG). 2. MANEJO DA VIROSE - A cultura do maracujazeiro pode ser infectada por diversas viroses, porém o vírus do endurecimento dos frutos é o que predomina e o que causa os maiores prejuízos (YUKI et al., 2006). É causado principalmente pelo Cowpea aphid-borne mosaic vírus (CABMV), doença de etiologia viral mais importante no Brasil e que está disseminada na maioria das regiões produtoras (NASCIMENTO et al., 2006). Em virtude da alta incidência, a cultura vem tornando-se anual, pois antes de ocorrerem às epidemias, a cultura era perene e cultivada por pelo menos três anos consecutivos (YUKI et al., 2006) A virose é uma das mais importantes doenças do maracujazeiro, podendo atingir até 100% das plantas em pomares afetados. Plantas infectadas podem apresentar 50% de redução na área foliar, frutos deformados, pequenos e duros e têm a produção e longevidade comprometidas. Com os conhecimentos hoje existentes sobre a vi-


rose do maracujazeiro, a Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, o Fundo Passiflora e a Unesp recomendam várias medidas visando prolongar a exploração econômica da cultura e minimizar os prejuízos decorrentes da doença. As medidas recomendadas são: a) - uniformizar regionalmente as épocas de plantio em fevereiro ou agosto de cada ano agrícola; b) - nunca realizar plantios novos próximos de pomares em produção contendo plantas com sintomas de virose; c) - adquirir mudas de maracujá produzidas em estufas fechadas com tela anti-afídeo e de viveiristas registrados no MAPA; d) - eliminar plantas com sintomas da doença até o início do florescimento; e) - eliminar pomares abandonados ou improdutivos, para que não sirvam de fonte de inoculo de vírus; f) - instalar os pomares novos distantes de locais onde ocorre a doença; g) - evitar o plantio de leguminosas (feijão, crotalária, amendoim, mucuna, soja) nas entrelinhas do pomar; h) - manter as entrelinhas do pomar vegetadas com gramíneas e roçadas; i) - lavar as ferramentas de corte utilizadas nos pomares com detergente ou água sanitária, antes que essas sejam empregadas em uma nova planta. 3. SISTEMA DE PRODUÇÃO DE MUDAS DE PORTE ALTO - No sistema tradicional, as mudas vão para o campo com cerca de 30 cm nos meses de março/abril, coincidindo com o período de produção da safra anterior, ou seja, a infecção precoce da planta resulta em queda de produção e qualidade do fruto. No modelo proposto, com a produção de mudas de porte alto em viveiros protegidos com telado antiafídeo, as mudas podem ser levadas para o campo com mais de 1,5 m de altura (Figura 1) em agosto, após a colheita e a eliminação da cultura anterior. O objetivo é quebrar o ciclo da doença e produzir o maracujá nos meses de dezembro a março, que é o período de maior demanda de suco. 4. ENXERTIA - Trata-se de uma prática relativamente recente na cultura do maracujazeiro, que ainda não foi incorporada nos plantios comerciais, devido a falta de informações como taxas de pegamento, vigor e desenvolvimento das plantas no campo e tolerância às doenças dos porta-enxertos. Entretanto, nos últimos anos diversos trabalhos vêm sendo conduzidos e publicados para responder a estas questões. A enxertia é uma técnica apropriada para solucionar problemas fitossanitários do solo. As doenças provocadas por patógenos do solo em maracujazeiro constituem-se em um dos principais problemas para essa cultura no Brasil. A vida útil do maracujazeiro tem-se reduzido sensivelmente, ocorrendo à morte prematura de plantas, em qualquer estágio de desenvolvimento, responsável pela redução de área plantada e pelo caráter itinerante da cultura. A adoção da enxertia e o uso de porta enxertos resistentes à morte prematura de plantas parece ser o único caminho para regiões com histórico de doenças. O método mais usado é o de garfagem por fenda cheia, pela facilidade de realização. De acordo com Cavichioli et al. (2009) a enxertia hipocotiledonar (Figura 2) ou convencional por garfagem tipo fenda cheia mostrou-se viável para formação de mudas de maracujazeiro amarelo, visando ao controle de morte prematura de plantas. Várias espécies de passifloras nativas vêm sendo utilizadas como porta-enxertos por sua rusticidade e resistência a maioria das doenças que acometem o maracujazeiro. Os porta-enxertos mais recomendados são P. gibertii e P. alata, por serem tolerantes à morte prematura de plantas.

FOTO: José Carlos Cavichioli/APTA

FRUTICULTURA

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Figura 2. Muda de maracujazeiro enxertada.

O uso de câmara úmida proporcionou 100% de sobrevivência de mudas enxertadas sobre P. gibertii, na enxertia hipocotiledonar. Já na enxertia convencional, o uso de câmara úmida favoreceu a sobrevivência do enxerto de 87,5% em P. alata. Entretanto, quando se utilizou P. edulis e P. gibertiicomo porta-enxerto não houve a necessidade do uso de câmara úmida, já que estes atingiram 100% de sobrevivência. REFERÊNCIAS BANDEIRA, A. L. Qualidade e produtividade. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.33, n.269, jul./ago., p.3, 2012. CAVICHIOLI, J.C.; CORRÊA, L.S.; BOLIANI, A.C.; OLIVEIRA, J.C.. Uso de câmara úmida em enxertia hipocotiledonar de maracujazeiro-amarelo sobre três porta-enxertos. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.31, n.2, p.532-538, jun. 2009. MELETTI, L.M.M.; CAVICHIOLI, J.C.; PACHECO, C.A. Cultivares e produção de mudas. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.33, n.269, p.35-42, 2012. www. aptaregional.sp.gov.br ISSN 2316-5146 Pesquisa & Tecnologia, vol. 11, n. 1, Jan-Jun 2014 NASCIMENTO, A.V.S.; SANTANA, E.N.; BRAZ, A.S.K.; ALFENAS, P.F.; PIO-RIBEIRO, G.; ANDRADE, G.P.; CARVALHO, M.G.; ZERBINI, F.M. Cowpea aphidborne mosaic vírus (CABMV) is widespread in passion fruit in Brazil and causes passionfruit woodiness disease. Archives of Virology, New York, v.151, p.1797-1809, 2006. TOMAZ, A. Planejamento é fundamental para o sucesso no cultivo do maracujá. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.33, n.269, jul./ago. p.4-5, 2012. YUKI, V.A.; MIZOTE, F.A.; NARITA, N.; HOJO, H.; DELFINO, M.A.; OLIVEIRA, D.A. Epidemiologia do vírus do endurecimento dos frutos do maracujazeiro na região produtora da alta Paulista-SP. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.32, p.19, 2006. Suplemento.


GRÃOS

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José Madaloz1 e Tiago Hauagge2

produtividade do milho por área tem aumentado significativamente nos últimos anos, incremento atribuído à adoção de manejos mais intensificados, novos híbridos com genética superior, introdução de biotecnologias (Bt) e novas tecnologias de plantio. Dentre estes podemos citar a redução da velocidade de plantio, o que possibilita uma melhor distribuição das sementes na linha de plantio, o uso de semeadoras com sistema de distribuição a vácuo e a utilização de espaçamento entre as linhas de plantio que possibilitem a melhor distribuição das plantas na lavoura. O espaçamento entre linhas de plantio é um assunto muito discutido pelos produtores e que, atualmente, tem ganhado maior importância em vista das altas produtividades obtidas e a otimização do maquinário na propriedade, principalmente no que se refere ao trabalho de montagem e configuração das linhas na semeadora, uma vez que esta atividade é trabalhosa e demorada. Tem-se observado que a utilização de espaçamentos reduzidos se intensificou nos últimos anos como forma de otimizar o maquinário e melhorar a distribuição de plantas. Além disso, novas tecnologias de plantio foram desenvolvidas na busca de incrementos de produtividade, dentre estas, podemos citar o plantio em linhas pareadas ou gêmeas (em inglês, twin row). O conceito de plantio em linhas pareadas, assim como o próprio nome diz, é o plantio de duas linhas próximas com espaçamento reduzido e afastadas das próximas duas linhas por um espaçamento maior, ou seja, plantio de duas linhas pareadas próximas uma da outra. O objetivo disto é melhorar a distribuição das plantas na área, evitando-se a competição intraespecífica, ter uma melhor interceptação da luz, maior espaço para o desenvolvimento foliar, radicular e melhor absorção de água e nutrientes. O plantio de linhas pareadas pode ser feito com um espaçamento de 17 cm a 25 cm entre as linhas pareadas, em espaçamento de 70 cm a 80 cm. Um ponto importante a ser observado neste arranjo de plantas é a distribuição das sementes na linha, uma vez que ela nas duas linhas pareadas, deve ser intercalada, de modo que a precisão de plantio dever ser a melhor possível. Para melhor compreensão, vamos simular a distribuição de duas populações de plantas: uma

AUTORES

1 - Coordenador de Agronomia SC2 da DuPont Pioneer. 2 - Coordenador de Agronomia PR2 da DuPont Pioneer. * FONTE: www.pioneersementes.com.br

FOTO: DuPont Pioneer

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Sistema de Plantio de Milho em Linhas Pareadas (Linhas Gêmeas)

com 70.000 e outra com 100.000 plantas por hectare no espaçamento de 70 cm normal e pareado (20 cm nas linhas pareadas) (Figura 1). Comparando a distribuição das plantas na linha pareada e normal, a distância entre plantas duplica na pareada. Assim, a planta terá espaço maior para a captação de recursos e desenvolvimento. Outro ponto interessante é que à medida que aumentamos a população de plantas, o plantio pareado demonstra ser mais eficiente que um espaçamento normal (ex. 70 cm) no que se refere à distribuição de plantas na área. Em ensaio conduzido por Nafziger (2006), da Universidade de Illinois, comparou os plantios no espaçamento normal de 76 cm (30”), reduzido a 38 cm (15”) e pareado, quanto à interceptação de luz pelo dossel das plantas. Durante o período vegetativo (V10), o plantio pareado e o reduzido interceptaram mais luz que o plantio normal a 76 cm, 79.5%, 83.3% e 70.3%, respectivamente. Contudo, durante o período reprodutivo (R2) não houve diferença na interceptação de luz entre pareado (98.9%), o reduzido (98.5%) e o normal (98.8%). Resultados obtidos de ensaios conduzidos pela Pioneer USA na região do Corn Belt, em 2010, comparando o plantio no espaçamento normal de 76 cm (30”) com o plantio pareado, em 179 observações, demonstrou uma diferença de 0,73 sc/ha (0,7 bu/ac) a favor do plantio a 76 cm ou 30”. No entanto, estes produtores têm observado maior produção de Massa Verde nos plantios pareados, o que é interessante para a produção de silagem. No Brasil, infelizmente as informações sobre equipamentos e resultados do plantio em linhas pareadas ainda são escassos. Baseado nestas informações da Pioneer USA, foi desenvolvido um trabalho na região de Guarapuava


GRÃOS (PR), na safra 2013/14, tendo como objetivo a comparação dos sistemas de distribuição de plantas no espaçamento normal, reduzido e linhas pareadas. O híbrido utilizado foi o P1630H em 6 tratamentos (Tabela 1) e 4 repetições. As parcelas eram compostas por 14 linhas de plantio com comprimento de 100 m, o manejo adotado foi o mesmo das demais áreas do produtor colaborador. A velocidade de plantio foi monitorada a 5,5 km/h para que a distribuição de sementes na fosse a melhor possível. A produtividade dos plantios no espaçamento reduzido e pareado foi superior ao plantio no espaçamento normal de 80 cm (Gráfico 1). Quando comparamos a produtividade do plantio no espaçamento reduzido e pareado, o reduzido foi superior em 3 a 4 sc/ha, mas não houve diferença estatística. Resultados semelhantes foram obtidos pela Pioneer USA em ensaios conduzidos ao norte da região do Corn Belt, onde há uma tendência aos plantios pareado e reduzido produzirem mais, mas também não diferindo entre si. A planta de milho é classificada como uma planta C4 e ela precisa da maior quantidade de luz possível no perío-

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do em que apresenta maior índice de área foliar (IAF) para expressar seu potencial produtivo. Esta fase compreende o pendoamento e melhores serão as condições para o milho, quanto mais próximo do período com maior número de horas diárias de luz ocorrer o florescimento. No hemisfério Sul esta fase corresponde ao dia 21 de dezembro - solstício de verão - o que explica esta ausência de resposta a uma melhor distribuição espacial de plantas. Já nos plantios de Safrinha, onde o florescimento das plantas de milho se dá a partir do final do mês de março, dependendo da região de cultivo, a duração do dia já é bem menor e o espaçamento reduzido ou pareado possibilita uma melhor interceptação da luz solar e, consequentemente, uma mitigação deste aspecto negativo à produtividade. Em resumo, baseados nos dados deste ensaio e lavouras acompanhadas, onde o plantio de milho já é realizado em espaçamento reduzido, isto tem contribuído no ganho de produtividade. Na região de Guarapuava (PR), aonde foi conduzido o ensaio, já é uma realidade o plantio com espaçamento entre linhas reduzido, onde muitos produtores têm conseguido alcançar patamares de produtividades em lavouras comerciais acima dos 16.000 kg/ha, aliado ao plantio de híbridos de alto potencial produtivo e a um elevado nível de manejo.


GRÃOS

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Ricardo Zottis1 e Bernardo Tissot2

esde os anos 70, a cultura da soja vem crescendo em importância dentro do sistema de produção da agricultura brasileira. Para a maioria dos agricultores, a soja é a principal fonte de renda dentro das propriedades, que estão perto da capacidade máxima de área cultivável. Com a dificuldade de expansão, uma das alternativas é o aumento dos rendimentos dentro da mesma área, o que demanda a melhoria da fertilidade do solo aliada ao uso de técnicas mais eficientes como tratamento de sementes, herbicidas, fungicidas e inseticidas e, ainda, adoção da biotecnologia. Para os pesquisadores, um dos maiores desafios é criar a “Cultivar Perfeita”, a qual deve atender aos principais interesses dos produtores, quais sejam: precocidade, resistência aos herbicidas, pragas e doenças, mantendo sempre alto rendimento e perfeita qualidade de grãos. Também deve ter a flexibilidade de plantio em qualquer época e em diferentes condições de solo e clima. Devido a essa complexidade, a melhor alternativa é encontrar a “Cultivar Ideal” para cada região, propriedade ou talhão. Para isso, são realizados testes com diferentes cultivares em diferentes ambientes por vários anos, identificando-se qual o posicionamento correto a ser adotado. Esses testes são baseados na interação Genótipo x Ambiente, resultando no ajuste das melhores práticas de manejo a fim de obter o máximo rendimento e a estabilidade produtiva de cada cultivar. Hoje, existem cultivares recomendadas para todas as regiões produtoras de soja do Brasil, sendo que o rendimento é resultante da menor ocorrência dos diferentes tipos de estresses durante o ciclo da cultura, ou seja, quanto menor o estresse sofrido pelas plantas durante o desenvolvimento, melhor será seu desempenho. SISTEMA DE COMBINAÇÃO DE CULTIVARES (SCC) - Uma estratégia inteligente na escolha das cultivares é a adoção do Sistema de Combinação de Cultivares (SCC), que visa proporcionar o aumento do rendimento médio da propriedade, combinando cultivares de soja de diferentes ciclos e características. Neste sistema, as cultivares são divididas proporcionalmente entre os talhões, havendo menor prejuízo no rendimento caso ocorra deficiência hídrica, excesso de chuvas, ataque de pragas e incidência de doenças em determi-

AUTORES

1 - Engenheiro Agrônomo, MSc, Coordenador de Agronomia da DuPont Pioneer. 2 - Engenheiro Agrônomo, Coordenador de Agronomia da DuPont Pioneer. * FONTE: www.pioneersementes.com.br

FOTO: DuPont Pioneer

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Sistema de Combinação de Cultivares de Soja

nados períodos críticos do desenvolvimento da cultura. ÍNDICE DE ÁREA FOLIAR (IAF) - No sistema de produção deve-se buscar, em uma lavoura de soja, um Índice de Área Foliar (IAF) entre 4 e 4,5 m² de área foliar para cada m² de área de solo (relação aproximada de 4:1) para que se tenha rendimentos elevados. Esse IAF proporciona um aproveitamento de, aproximadamente, 95% dos raios solares pelas folhas distribuídas nas plantas, o que acarreta o melhor aproveitamento da luminosidade para fotossíntese. Para que se entenda melhor a necessidade das plantas de soja e para que se conduza a um excelente sistema de combinação, basta observar como eram as características das plantas entre as décadas de 1980 e 1990. Nessa época, as cultivares se caracterizavam por grupos de maturação maiores (mais tardias) e potencial de IAF de aproximadamente 8:1 (muito acima do que a cultura necessita). Contudo, ao emergirem, sofriam ataques de insetos, que ocasionavam a perda de algumas plantas pela ineficiência dos tratamentos de sementes que não possuíam inseticidas. Também ocorriam perdas de IAF no controle de plantas daninhas, pois os herbicidas apresentavam fitotoxidez à cultura. E, quando as plantas estavam quase recuperadas, era necessário o uso de inseticidas para controle de lagartas, onde o nível de dano somente era atingido ao apresentar 40 lagartas por batida de pano (recomendação da época). Assim, o IAF, que iniciava com potencial de 8:1, era reduzido a aproximadamente 4:1, ou seja, a soja era induzida a perder elevadas quantidades de área foliar, mas ainda sobrava o suficiente para produtividades entre 2.400 e 3.000 kg/ha. Atualmente, as práticas culturais estão direcionadas à redução de perda de área foliar, sendo que as cultivares mais produtivas são as que conseguem desenvolver IAF em torno de 4:1 no talhão onde são inseridas, utilizando, com isso, toda a energia disponível no ambiente (água, luminosidade, nutrientes). Para isso, os produtores e os profissionais


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da área agronômica devem ter muito “conhecimento” das características das cultivares e, principalmente, do local onde elas serão inseridas. O manejo ideal da cultura deve ser realizado objetivando a menor perda de área foliar possível, resultando em IAF próximo aos 4:1 programados. Assim, as cultivares com grupos de maturação menores (mais precoces) e com menor porte (plantas mais baixas) tornamse mais eficientes em comparação àquelas utilizadas em anos anteriores. CARACTERÍSTICAS E RESULTADOS PRÁTICOS As cultivares de soja, de acordo com seu ciclo e hábito de crescimento, possuem características diferentes entre elas em relação aos períodos da fase juvenil, do florescimento, do enchimento de grãos e da maturação. Podemos observar esses diferentes comportamentos no Gráfico 1, referente a um experimento conduzido na região Sul, com as cultivares amplamente utilizadas naquela região. É importante considerar que as diferenças entre as diversas cultivares de soja disponíveis para semeadura em cada região podem fazer com que as mais produtivas em determinado ano não sejam tão produtivas no seguinte e vice-versa. Analisando-se os Gráficos 2 e 3, podemos observar como a influência das diferentes características dos dois últimos anos em relação ao clima, ao ataque de pragas e às doenças influenciaram no rendimento de cultivares com ciclos diferentes. Na safra 2012/2013, as cultivares de ciclo mais longo (exceto a cultivar de Grupo de Maturação 6,2 que acabou sendo prejudicada em razão do seu hábito de crescimento determinado) sobressaíram-se nos resultados de produtivi-

dade nas regiões que apresentaram deficiência hídrica nas fases críticas da cultura (como na região de latitude 28°11’13” com altitude de 670 m inserida na ZAH 1.1), conforme se verifica no Gráfico 2. Na safra 2013/2014, o fator mais prejudicial à soja na região Sul foi a forte incidência deFerrugem Asiática (Phakopsora pachyrhizi) com pico de infestação no final do mês de fevereiro e no início do mês de março, justamente quando as cultivares mais tardias necessitavam de toda a sua área foliar preservada para um excelente enchimento de grãos. Já as cultivares mais precoces foram colhidas com alta produtividade, uma vez que a ferrugem asiática não chegou a atingí-las de forma considerável (Gráfico 3). As cultivares mais precoces e com porte mais baixo (IAF menor) devem ser utilizadas nas melhores épocas de semeadura, em áreas com baixo risco de deficiência hídrica e com boa fertilidade de solo. Necessário, ainda, que sejam adotadas boas práticas culturais a fim de se obter a menor perda possível de IAF. As cultivares mais tardias e com porte mais alto (IAF maior), por sua vez, devem ser utilizadas nas datas de semeadura fora do ideal e em áreas novas, desuniformes e com fertilidade mais fraca. Portanto, a adoção do Sistema de Combinação de Cultivares (SCC) permite maximizar o rendimento das diferentes cultivares de soja, diluindo os riscos que não estão sob o controle do produtor - riscos climáticos - e os danos por pragas e doenças inerentes a cada safra, bem como possibilitar a melhor organização na utilização das máquinas agrícolas nas práticas culturais e, também, no escalonamento da colheita.


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RISCO ÀS EXPORTAÇÕES DO AGRONEGÓCIO Gustavo Diniz Junqueira - Administrador de Empresas e Presidente da SRB - Sociedade Rural Brasileira. [ www. srb.org.br ]

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pirataria e a falsificação de produtos para o setor rural ameaçam a aceitação e a competitividade de nossas mercadorias no exterior. O Brasil perde R$ 100 bilhões por ano com o contrabando de produtos. Mercadorias de diversos setores entram ilegalmente no país sem certificação técnica e sanitária nem recolhimento de impostos, gerando uma gigantesca sonegação. Além disso, prejudicam a saúde da população, extinguem empregos, desestimulam investimentos, aumentam a insegurança e são capazes de ameaçar a soberania e a defesa nacionais. Apenas entre 5% e 10% dos produtos contrabandeados são apreendidos. O agronegócio também sofre com o contrabando, a falsificação e a pirataria, especialmente nos segmentos de saúde animal e defesa vegetal. No setor de medicamentos veterinários, os produtos falsificados já representam em torno de 15% do mercado, movimentando cerca de R$ 600 milhões e trazendo danos à sanidade dos animais e ameaças ao bemestar das pessoas. No segmento de defensivos, o problema também cresce. De 2010 a 2013, o percentual de produtos falsificados saltou de 5% das apreensões para 50%, chegando ao mesmo patamar dos contrabandeados. No ano de 2013, as apreensões na área cresceram 166% ante o ano anterior. De 2001 a 2013, cerca de 500 toneladas de defensivos ilegais foram apreendidas. O agronegócio brasileiro chegou a um ponto em que não pode regredir na sua internacionalização. É o setor da economia que tem mais carimbos no passaporte e que tem agora o desafio de avançar da dimensão quantitativa para a qualitativa nas cadeias globais de valor. Critérios sanitários, que protegem a saúde e a vida humana e animal, e fitossanitários, que protegem as plantas de doenças e pestes, entretanto, ganham cada vez mais força como argumentos para barreiras comerciais, e o contraban-

do, a pirataria e a falsificação de produtos destinados ao setor rural ameaçam a aceitação e a competitividade do produto agrícola brasileiro nos mercados internacionais. O uso, por exemplo, de um medicamento veterinário ilegal em um bovino pode acarretar resíduos na carne, provocando problemas seriíssimos, entre os quais restrições de vendas para o exterior, embargo, perda de confiança e de credibilidade da produção do país. Os prejuízos seriam imensos, atingindo toda a cadeia produtiva e, obviamente, a balança comercial, que é dependente do setor. Um dano ao agronegócio é um buraco nas contas do país. É imprescindível que o governo adote medidas rápidas e concretas contra o contrabando, a pirataria e a falsificação, principalmente no momento em que o Brasil passa por um período de ajuste fiscal. Imaginem só se, em vez de abrirmos um novo mercado para as carnes, perdermos algum. Seria um tiro na receita das exportações. Nossos principais polos de atividade pecuária estão em regiões de fronteira, o que se configura em risco iminente de ingresso de produtos ilegais, além de pragas e doenças. Cabe ao Estado aumentar o rigor da fiscalização. Da parte do setor, também é necessário maior ganho de consciência de que o uso de produtos contrabandeados, pirateados ou falsificados é crime e de que seus “eventuais benefícios de curto prazo” são meramente ilusórios. É ainda de responsabilidade do Estado facilitar o ambiente de negócios, oferecendo segurança jurídica e previsibilidade, avançando em uma visão pró-mercado --com simplificações tributárias, bem como promoção de um arcabouço regulatório amigo do investidor e dos setores produtivos. A aprovação de uma nova molécula de um defensivo, por exemplo, não pode demorar anos e anos, como ocorre hoje. Com isso, certamente, a atratividade da mercadoria contrabandeada, falsificada ou pirateada cairá drasticamente em relação ao produto legalizado. O Brasil ganhará.


Arnaldo Jardim - Secretário de Agricultura do Estado de São

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CONTRA O OBSCURANTISMO, PARA CONSTRUIR O FUTURO. Paulo e Deputado Federal licenciado. [ www.arnaldojardim. com.br ]

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ois fatos, separados pela distância mas unidos pelo caráter sectário da intolerância, do obscurantismo e do atraso, deixaram-me perplexo no mês de março: a destruição da antiga capital assíria de Nimrod, no Iraque, pelo Estado Islâmico (EI) – notável pelas atrocidades que pratica – e a invasão pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras (MST) da FuturaGene Brasil Tecnologia Ltda., da Suzano Papel e Celulose, no município de Itapetininga (SP), para destruir mudas de eucalipto transgênico objeto de pesquisas biotecnológicas. A diretora da Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (UNESCO), Irina Bokova, condenou com firmeza em comunicado os atos do EI. Disse que “a destruição deliberada do patrimônio cultural constitui um crime de guerra”. Aqui, o MST assim intitulou em seu site a invasão: “Mulheres contra o eucalipto transgênico! Pela soberania alimentar, contra a violência e o agronegócio!” No mesmo dia, cerca de 300 manifestantes organizados pela Via Campesina ocuparam em Brasília (DF) o local onde se realizava a reunião da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em que se discutia a liberação de três novas variedades de plantas transgênicas no Brasil entre elas a do eucalipto geneticamente modificado da FuturaGene. A reunião foi interrompida e a votação adiada para abril. As invasões integram a Jornada Nacional de Luta das Mulheres Camponesas e segundo o MST pretendem denunciar os males que uma possível liberação de eucalipto transgênico pode causar ao meio ambiente. O grupo encapuzado e armado de facões e pedaços de pau destruiu milhares de mudas. A FuturaGene afirma que a planta pesquisada traz ganhos de produtividade da ordem de 20% em relação ao eucalipto natural – por conta do seu maior crescimento em altura e em diâmetro – e é avaliada em campo pela empresa desde 2006. Em entrevista à TV TEM, em Avaré (SP), onde participava de evento do agronegócio, repudiei a ação do MST, comparando-a a ataques terroristas. Acho que essas pessoas têm o mesmo ímpeto irracional do EI quando destroem estátuas e lembranças de 2,5 mil anos. Uns tentam sepultar a história e afogar a humanidade nas trevas e outros querem impedir o caminho ao futuro, à inovação. Quem destrói os

legados da civilização, como o EI, ou quem busca comprometer o futuro, faz o mesmo trabalho. Querem simplesmente que as coisas permaneçam como estão. Arautos do avanço na verdade são conservadores, o combate à desigualdade se faz com avanço do conhecimento e da ciência, com a ampliação das oportunidades e da produtividade e eles negam isto! No nosso caso, o agravante é que ações como essas arranham a democracia, diminuem os espaços de discussões, negam o conhecimento e sua importância para diminuir as desigualdades. Além de faltar com o respeito a outros brasileiros que se empenham sincera e honestamente na construção de um País melhor, mais desenvolvido e produtivo. Não me engano quanto à prevalência das notícias mais impactantes sobre os cidadãos de qualquer lugar do mundo. Mas aqui, especialmente em São Paulo, sinto-me reconfortando em poder contrapor ao lamentável episódio de inconsequências o exemplo de uma iniciativa que promove e multiplica o trabalho de pesquisa de desenvolvimento de produtividade da cultura de cana-de-açúcar com as Mudas Pré-Brotadas (MPB), do nosso Instituto Agronômico de Campinas (IAC), desta Secretaria de Agricultura e Abastecimento. O sistema MPB foi desenvolvido com o objetivo de multiplicar mudas, com alto padrão de fitossanidade, vigor e uniformidade de plantio, direcionado ao aumento da eficiência e dos ganhos econômicos na implantação de viveiros, renovação e expansão de áreas de cana. Em Guariba (SP) por meio do IAC, a Coplana – Cooperativa Agroindustrial e a Socicana – Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba lançaram a iniciativa “+ CANA”, como instrumento para manter o produtor competitivo e na atividade. A iniciativa pretende levar o modelo de produção para outro patamar, por meio da capacitação de recurso humano e fomento à produção de mudas de qualidade, incluindo critérios para a escolha da variedade e o sistema MPB. E cumpre a missão mútua de auxiliar o crescimento sustentável e promover o aprimoramento tecnológico do produtor, resgatando o seu papel e promovendo sua permanência no campo, que tem sido ameaçada por sérias crises. Essa, sim, me parece uma intervenção a favor da luz. Uma “invasão” do campo contra o obscurantismo, para construir o futuro.

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