Edição 83 - Revista Agronegócios

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EQUINOS

Agricultura de Precisão ao alcance de todos

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Apresentamos nesta edição a primeira parte do Artigo do pesquisador José Paulo Molin, da Embrapa, que retrata a Agricultura de Precisão sobre todos os aspectos. Segundo o autor, a Agricultura de Precisão é um conjunto de tecnologias aplicadas para permitir um sistema de gerenciamento que visa a otimização do lucro, da sustentabilidade e da proteção do meio ambiente. Envolve etapas e ações específicas desde o solo até as plantas. Não percam na próxima edição a continuação deste artigo.

Franca sedia 35ª Nacional do Mangalarga

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A ABCCRM - Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo da Raça Mangalarga realiza de 19 a 29 de setembro, em Franca (SP) a etapa nacional, com 500 cavalos inscritos, leilões e muita festividade.

CAFÉ

AMSC realiza 11º Concurso de Qualidade Alta Mogiana

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185 amostras de cafeicultores de diversas cidades da região da Alta Mogiana participam do Concurso de Qualidade de Café Alta Mogiana - Edição Dr. Luiz Carlos Fazuoli.

Potenciais concorrente do café brasileiro

CAFÉ

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Artigo do Bureau de Inteligência Competitiva do Café que retrata a Colômbia, mais um país produtor de café (o 4º maior do mundo) e potencial concorrente do café brasileiro.

Nutrição do Cafeeiro (parte 14)

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uando comparada aos demais setores da economia mundial, a Agricultura - em vários aspectos - ainda não alcançou totalmente o nível de tecnologia capaz de atender todas as necessidades dos empresários e dos trabalhadores rurais. Retratando especificamente a Agricultura Brasileira, é claro que temos exemplos de alta tecnologia no cultivo de frutas, na produção de grãos, na produção de flores e de hortaliças, e também no cultivo do café em várias regiões do país. Mas na grande maioria das áreas cultiváveis do extenso país, a Agricultura ainda é praticada de forma obsoleta, arcaica, em alguns casos, quase primitiva. Porém, os avanços tecnológicos nas áreas de produção de sementes, de corretivos, de fertilizantes e de produtos para o controle de pragas e doenças em plantas e animais, associado à produção de máquinas mais eficientes, vem ganhando um importante aliado: a Agricultura de Precisão. Equipamentos, sistemas, máquinas, satélites... Tudo vem sendo utilizado para maximizar o potencial dos solos e dos insumos. Enfim, contribuir diretamente para que o produtor rural tenha êxito na produção de alimentos. Retratamos, ainda, nesta edição o 11º Concurso de Qualidade de Café da Alta Mogiana, edição Dr. Luiz Carlos Fazuoli. O evento é organizado pela AMSC - Associação de Produtores de Cafés Especiais da Alta Mogiana e conta este ano com a participação de mais de 180 amostras. Na pecuária, destaque para o estudo da FAPESP sobre um novo complemento alimentar para bezerros. Na cana-de-açúcar, artigo do Dr. Marcos Fava Neves que aborda questões importantes sobre o mercado mundial de açúcar. Destaque importante também para os criadores de equinos. Franca (SP) sediará pela segunda vez consecutiva a etapa nacional da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo da Raça Mangalarga. Parabéns à toda diretoria, em especial ao presidente Mário Barbosa, ao Jayme Rehder e ao amigo Paulinho Della Torre. Boa leitura a todos!

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Artigo do pesquisador Renato Passos Brandão, do Grupo Bio Soja, orienta o cafeicultor a otimizar os seus investimentos e aumentar a rentabilidade da atividade cafeeira.

10 Questões importantes para o mercado de açúcar

CANA

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Comitivas internacionais procuram cafés especiais

DESTAQUE: tecnologia

EDITORIAL

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Artigo do professor e pesquisador Dr. Marcos Fava Neves, da USP, que apresenta dez questões primordiais que irão moldar e até mudar o mercado de açúcar mundial.


LEITE

Novo complemento alimentar não causa prejuízo a bezerros durante aleitamento FOTO: FAPESP

Polpa cítrica, glicerina, melaço e xarope de milho substitui o milho em suplementos

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uando os bezerros nascem eles ainda não contam com o pleno funcionamento do rúmen – o primeiro de quatro compartimentos que formam uma estrutura semelhante ao estômago nos ruminantes. O desenvolvimento do órgão depende da ingestão de alimentos sólidos, que são fermentados por bactérias e resultam em produtos finais absorvidos e metabolizados pela parede interna do rúmen. Por esse motivo – e para reduzir os custos de se manter os bezerros em dieta líquida, o que diminui a quantidade de leite disponível para venda -, a dieta de bezerros em fase de aleitamento costuma ser complementada por concentrados à base de milho, alimento de alto valor energético, e por fontes de proteína, normalmente o farelo de soja. Pesquisadores do Departamento de Zootecnia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), em Piracicaba (SP), têm buscado uma alternativa melhor para esse complemento alimentar. “Procuramos alternativas que ajudem a diminuir o custo de produção e a regularizar o consumo alimentar pelos bezerros. O consumo do complemento é por vezes desequi-librado – com picos seguidos por dias sem se alimentar -, possivelmente devido à acidose ruminal. Trata-se de um distúrbio metabólico provocado pelo alto teor de amido (abundante no milho), que acaba comprometendo o consumo de alimento sólido, retardando o desenvolvimento do rúmen”, disse Carla Maris Machado Bittar, professora da Esalq/USP que conduziu

AUTOR

1 - Zootecnista, formado pela UNESP, mestre em Nutrição Animal e Pastagem pela ESALQ/USP e doutor em Zootecnia pela UNESP/Jaboticabal. Atualmente é professor-adjunto da UEPG, Campus de Castro (PR).

um projeto de pesquisa sobre o assunto com apoio da Fapesp. O primeiro objetivo da professora e de sua equipe – achar substitutos economicamente interessantes, sem prejudicar o desenvolvimento e o desempenho futuro dos animais – já foi alcançado. “Estabelecemos taxas seguras para a substituição do milho por polpa cítrica (50% ou 100%), glicerina bruta (até 10%), melaço de cana (5% ou 10%) ou xarope de milho (5%)”, disse a pesquisadora. As quatro alternativas são coprodutos industriais, gerados compulsoriamente a partir da fabricação de outros alimentos (a polpa cítrica, por exemplo, resulta da produção de suco de laranja). Também têm boa disponibilidade no Sudeste, por conta das indústrias de processamento, e já são comumente usadas na dieta de animais adultos. Além disso, segundo Bittar, esses ingredientes têm potencial para colaborar com a saúde do rúmen. “A polpa cítrica contém pectina (carboidrato considerado fibra so-

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LEITE FOTO: FAPESP

lúvel e totalmente utilizado por bactérias ruminais) e talvez ajude na diminuição da diarreia, principal causa de morte entre os bezerros com até 14 dias”, disse. “Já o melaço melhora a palatabilidade dos concentrados e, depois de ser fermentado, produz ácido butírico, capaz de estimular o desenvolvimento ruminal. Estudos posteriores podem investigar essas e outras características dos coprodutos”, destacou Carla. A comprovação de que o concentrado favorece a redução da acidose ruminal e, possivelmente, a regularização do consumo alimentar também requer novos estudos. “Nosso objetivo era avaliar os animais até a oitava semana de vida, mas é provável que existam benefícios após o desaleitamento, quando o consumo de concentrado cresce”, explica a pesquisadora. Um dos fatores que sugerem possíveis ganhos em animais adultos é o melhor desenvolvimento do rúmen, observado após a inclusão de polpa cítrica nos concentrados. Isso porque desenvolver o rúmen mais cedo pode resultar em maior consumo de alimentos, o que, por sua vez, colabora para uma produção mais eficiente no caso das vacas leiteiras.

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CONDUÇÃO DOS EXPERIMENTOS - O projeto da Esalq/ USP foi realizado em levas de experimentos com procedimentos semelhantes – a diferença consistiu no tipo de ingrediente usado nos concentrados em substituição ao milho (polpa cítrica, glicerina bruta, melaço de cana ou xarope de milho). Em cada etapa, dez bezerros da raça holandesa, com aproximadamente cinco dias de vida, foram alojados em abrigos individuais do Bezerreiro Experimental da universidade. Os animais receberam quatro litros diários de substituto de leite (leite em pó), sendo dois litros pela manhã e dois litros à tarde. A opção por essa quantidade não foi aleatória. “Hoje, há dois sistemas de alimentação de bezerros, com objetivos distintos. Um deles, o que utilizamos, visa ao desaleitamento precoce”, disse Bittar. Ou seja, estimular um maior consumo de concentrado e o desenvolvimento mais rápido do

rúmen, preparando os animais para o desaleitamento. “Dessa forma, garante-se um ganho de peso razoável e com menor custo, uma vez que a dieta líquida com leite onera a produção”, completou a professora da Esalq. Em oposição, o segundo sistema visa aumentar o ganho de peso, usando mais litros de leite ou de substituto de leite (6, 8 e até 12 litros diários), com possíveis benefícios no aumento do potencial de produção futura de leite. Os animais do estudo também receberam água e concentrado à vontade. Para parte dos bezerros, a composição dos concentrados ganhou porcentagens variadas dos ingredientes em teste. Para a outra parte, de controle, a principal fonte de energia dos concentrados permaneceu 100% milho, como o usual. “É importante lembrar que havia outros coprodutos na formulação, em quantidades pequenas, de forma a ajustar o teor necessário de fibras. É o caso da casquinha de soja e/ou do farelo de trigo”, explicou Carla. O consumo foi monitorado diariamente e os animais foram pesados e tiveram as medidas corporais anotadas uma vez por semana. A partir da segunda semana de vida, a equipe também colheu amostras de sangue para determinar parâmetros sanguíneos referentes ao metabolismo, como concentração de glicose. Foram coletadas ainda amostras de fluido ruminal, por meio de sonda, na quarta, sexta e oitava semana de vida, a fim de determinar o pH, a concentração de ácidos graxos (produzidos por bactérias por meio da fermentação no rúmen) e de N-amoniacal (nitrogênio em forma de amônia, que pode ser utilizado por bactérias para síntese de proteína). Ao final da oitava semana de vida, os animais foram pesados e em seguida abatidos para a avaliação de peso e volume dos compartimentos do trato digestório superior, assim como para a contagem e medição das papilas ruminais – estruturas que revestem a parede interna do rúmen. Quanto maior o número de papilas por área e maior a altura e a largura dessas papilas, maior a capacidade de absorver os produtos finais da fermentação – esclareceu a pesquisadora. (FONTE: Agência FAPESP)


PECUÁRIA

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TECNOLOGIA

Embrapa propõe o uso da tecnologia para aumentar a eficiência e manter a competitividade

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José Paulo Molin 1

FOTO: Geoplanta Brasil

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Agricultura de Precisão: uma ferramenta ao alcance de todos Agricultura de Precisão (AP) é um sistema de gerenciamento agrícola baseado na variação espacial de propriedades do solo e das plantas encontradas nas lavouras e visa à otimização do lucro, sustentabilidade e proteção do ambiente. Trata-se de um conjunto de tecnologias aplicadas para permitir um sistema de gerenciamento que considere a variabilidade espacial da produção. Existem relatos de que se trabalho com AP desde o início do século XX. Porém, a prática remonta aos anos 1980, quando na Europa foi gerado o primento mapa de produtividade e nos EUA fez-se a primeira adubação com doses variadas. Mas o que deu o passo determinante para a sua implementação foi o surgimento do GPS (Sistema de Posicionamento Global por Satélites), em torno de 1990. No Brasil, as atividades ainda muito esparsas datam de 1995, com a importação de equipamentos, especialmente colhedoras e-quipadas com monitores de produtividade. A AP tem várias formas de abordagem, mas o objetivo é sempre o mesmo - utilizar estratégias para resolver os problemas da desuniformidade das lavouras e se possível tirar proveito dessas desuniformidades. São práticas que podem ser desenvolvidas em diferentes níveis de complexidade e com diferentes objetivos. Hoje, especialmente no Brasil, as soluções existentes estão focadas na aplicação de fertilizantes e corretivos em taxa variável, porém, não se deve perder de vista que AP é um sistema de gestão que considera a variabilidade espacial das lavouras em todos os seus aspectos: produtividade, solo (características físicas, químicas, compactação, etc.), infestação de ervas daninhas, doenças e pragas. Sob a ótica do uso de fertilizantes e corretivos, resumidamente, existem duas estratégias que podem ser adotadas. A mais simples delas está relacionada ao manejo da fertilidade do solo por meio do gerenciamento da sua correção e adubação (fertilizantes, calcário e gesso) das lavouras com base apenas em amostragem georreferenciada do solo. Esta tem sido a estratégia para iniciação da grande maioria dos usuários brasileiros. É uma abordagem bastante simples e rápida. Do planejamento de uma amostragem sistemática de solo (amostragem em grade ou “grid”), passando pela sua retirada no campo, análise no laboratório, processamento dos

AUTOR

1 - Pesquisador da Esalq/USP. Boletim Técnico do MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. www.agricultura.gov.br

dados e geração dos mapas de aplicação, por vezes, não é necessário mais do que 15 dias. Essa agilidade satisfaz o usuário que parte para soluções dessa natureza, normalmente em busca de economia de insumos. A outra estratégia é mais ampla e mais elaborada e considera as plantas, pois leva em consideração a produtividade das culturas anteriores para se fazer a reposição dos nutrientes extraídos. É uma abordagem que exige a geração dos mapas de produtividade, portanto exige mais equipamento, mais trabalho e maior domínio por parte do usuário ou de seu consultor. É uma estratégia que demanda mais tempo para a construção de um consistente conjunto de dados, mas a solução é proporcionalmente mais acertada por considerar também a variabilidade da produtividade da lavoura e não apenas aquela do conteúdo de nutrientes no solo. A maior quantidade de dados implica em informação mais consistente e o consequente diagnóstico referente à variabilidade presente tenderá a ser mais acertado. Dessa forma, dados de produtividade expressos por mapas são fundamentais e a interpretação da variabilidade presente nas lavouras e evidenciada nos mapas de produtividade, implica em uma relação entre causas e efeito. A interpretação e explicação para os fatos é a tarefa mais complexa, em que devem ser identificados os fatores que podem estar causando as baixas produtividades onde elas se manifestarem. É nesse contexto que devem ser aplicados os conceitos agronômicos que hoje são conhecidos, porém, diferenciados para cada pequena porção da lavoura e esse não é um desafio simples. Outra grande diferença entre estratégias pode ser quanto aos objetivos que o usuário deve estabelecer. Uma abordagem pode ser a busca do aumento da produtivida-


de e a outra pode ser a redução do consumo de insumos. Parece simples, mas a confrontação dessas duas visões tem muitos desdobramentos e compromissos. Num primeiro momento, especialmente para aqueles que adotam AP apenas com base na amostragem georreferenciada de solo, as maiores chances estão na economia de calcário e de fertilizantes, com a aplicação destes em dose variável dentro de cada talhão. Este tem sido o resultado para a maioria dos usuários que se aventuram nessa técnica, indicando que a prática anterior, de aplicação de dose única, resultava em erro para mais, o que é perfeitamente compreensível quando a tomada de decisão pela recomendação de uma dose para toda a lavoura é feita de forma conservadora. A busca por maiores produtividades com o uso de AP implica em estratégias mais elaboradas que normalmente estão associadas a aqueles usuários que investiram mais em dados e conhecimento e dispõem de mapas de produtividade. Em AP, atestar aumento de produtividade não é algo que se faz simplesmente comparando resultados de fechamento entre safras. No entanto, para aqueles que optam por fazer intervenções na fertilidade do solo, mesmo que apenas com base nas amostragens, é de se esperar que com a realocação dos insumos sejam diminuídos os desequilíbrios e num segundo momento a produtividade das culturas tende a melhorar. Sobre esse aspecto, nas lavouras de grãos, em plantio direto, por exemplo, a opção pela economia de insumos, especialmente em anos em que os preços dos produtos estão baixos, parece ser uma boa seleção. Já um produtor de café,

FOTO: Embrapa Tecnologia

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que trabalha com cultura de valor agregado significativamente maior, normalmente não deve focar redução de consumo de insumos e sim a busca pelo aumento de produtividade e qualidade do produto, dentro dos limites econômicos. Especialistas ou empresas de consultoria e prestação de serviços na área de amostragem e geração de mapas têm se multiplicado pelo país. Os valores praticados pelos serviços variam dependendo de vários fatores, dentre eles a densidade de amostras. Para a aplicação dos produtos é indispensável a disponibilidade de um componente eletrônico que governa um motor hidráulico que aciona o dosador e regula a taxa


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de aplicação dos produtos pela máquina. Isso é feito com a instalação de um controlador em máquinas, que hoje ambos estão disponíveis no mercado brasileiro, com vários modelos nacionais e importados. Alguns controladores são mais sofisticados do que outros, mas a função básica de governar as doses de produtos a serem aplicadas, todos desempenham.

FOTO: Embrapa Tecnologia

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QUEM PODE FAZER? - É importante não esquecer que tudo isso só funciona se houver quem saiba fazer o sistema funcionar e o sistema só funciona com dedicação e organização, especialmente no que diz respeito aos dados gerados que devem ser rigorosamente analisados e armazenados. Essa é a tarefa que poucos agricultores se dão ao luxo de fazer e nesses casos a solução é ir em busca de quem sabe e pode ajudar. O tamanho da propriedade ou das áreas não é o mais relevante. Desde que se possa amortizar o valor dos equipamentos, tê-los na fazenda é sempre mais recomendável. Mas a terceirização da aplicação dos produtos em taxa variável também é uma opção, se houver esse tipo de serviço na região. Para o caso de não se ter nem um e nem outro, ainda resta a opção da aplicação de calcário e adubos por zonas previamente demarcadas na lavoura. Nesse caso a aplicação não vai ficar tão bem distribuída porque serão aplicadas doses constantes dentro de cada zona e tem que haver nova regulagem para cada uma. Esse é o papel do controlador eletrônico que automatiza todo esse processo.

FOTO: Embrapa Tecnologia

GPS, BARRA-DE-LUZ E PILOTO AUTOMÁTICO O maior impulso que a AP teve, sem dúvida, foi com o surgimento do GPS, que, com a existência do GLONASS (Rússia) e o anúncio de outros sistemas como o Galileo (União Européia) e Compass (China), dão origem à sigla GNSS ou Sistemas de Navegação Global por Satélites. Os primeiros usuários de tecnologia GPS na agricultura brasileira não foram especificamente para AP, mas sim na aviação agrícola, a partir de 1995. Nessa época, a única maneira de poder utilizar GPS era com alguma forma efetiva e prática de correção diferencial em tempo real. Esse sinal era suprido pelos próprios usuários a partir de estações temporariamente estacionárias, equipadas com rádio transmissor e em 1997 surgiram os serviços de correção via satélite, com sinal pago. Os dispositivos popularmente conhecidos como “barra de luz” tiveram inicialmente grande expansão na aviação

agrícola e depois na pulverização terrestre e hoje são largamente utilizados para direcionamento em passadas paralelas em várias operações que não exigem precisão com erros menores que 0,3 m entre passadas. Tais dispositivos, para oferecer essa precisão, exigem um receptor de GPS com boa especificação, normalmente não compatível com aqueles que equipam os controladores de taxa variável, por exemplo. A evolução natural para a orientação em faixas paralelas com as “barras de luz” deu origem aos sistemas de autoesterçamento ou piloto automático. Estudos sobre veículos autônomos agrícolas, principalmente relacionados ao desenvolvimento do sistema de piloto automático surgiram no início de 1960, apesar disso, apenas mais recentemente eles têm sido desenvolvidos com sucesso. O sistema de auto-esterçamento propicia aumento da capacidade de cultivar mais áreas com o mesmo maquinário em razão do aumento do número de horas trabalhadas devido ao menor cansaço, a maior velocidade alcançada e à redução da sobreposição. Também permite praticar o controle de tráfego das operações em campo, que é a organização e controle criterioso das passadas de máquinas sobre o solo das lavouras de forma organizada para minimizar a compactação, concentrado-a em locais que podem depois ser manejados localizadamente. Essa automação, ligada à orientação e auto-esterçamento de veículos tem um significado muito expressivo para a agricultura porque provavelmente marca o início de uma jornada que não se sabe exatamente onde vai chegar, mas certamente vai fomentar definitivamente a robótica aplicada à agricultura. OS MAPAS DE PRODUTIVIDADE - COMO SÃO GERADOS E PARA QUE SERVEM - O mapa da colheita é a informação mais completa para se visualizar a variabilidade espacial das lavouras. Várias outras ferramentas têm sido propostas para se identificar as manchas existentes em um talhão. É assim que as fotografias aéreas, as imagens de satélite, a videografia e outros têm sido testados e utilizados. Todas têm seu potencial, porém, o mapa de produtividade materializa a resposta da cultura com a melhor exatidão possível, considerando as tecnologias existentes para a sua mensuração. No final dos anos 1980 surgiram as primeiras tentativas de se medir o fluxo de grãos em colhedoras de cereais e


o primeiro monitor de colheita surgiu no mercado em 1991, na Europa. Uma característica importante é a presença de dois grupos distintos. O primeiro deles é aquele formado pelos equipamentos das empresas fabricantes das colhedoras e são fornecidos de fábrica. O outro grupo é de fabricantes de equipamentos próprios para a instalação em qualquer marca e modelo de colhedora. O mapa de produtividade de um talhão é um conjunto de muitos pontos e cada ponto representa uma pequena porção da lavoura. Para se saber qual a quantidade de grãos colhidos é utilizado um sensor de fluxo no elevador de grãos limpos da colhedora. Para que o mapa represente grão seco (padrão comercial) é necessário medir a umidade com que está sendo colhido e para isso é utilizado um sensor específico, normalmente entre o meio e a saída do elevador. A largura do retângulo é mesma da plataforma da colhedora e o comprimento é a distância percorrida pela máquina durante um período de tempo pré-determinado, normalmente de um a três segundos. A posição do ponto é obtida por meio de um receptor de GPS que dá o posicionamento correto da latitude e longitude da máquina. Os dados são instantaneamente armazenados em algum dispositivo de memória no monitor propriamente dito (computador de bordo dedicado). A forma dos arquivos gerados é particular para cada fabricante e pode ser visualizada

FOTO: Teejet

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como mapa. O mapa é um conjunto de pontos; aqueles pontos delimitados por uma área de alguns metros quadrados composta pela largura da plataforma e a distância percorrida entre duas leituras. A montagem do mapa nada mais é do que o gráfico que contem cada um daqueles pontos num sistema cartesiano, onde o eixo “x” é a longitude e o eixo “y” é a latitude. Basta que se escalonem os pontos em diferentes cores ou tons para diferentes valores de produtividade, obtidos naquela tabela de dados gerados no campo. Essa é uma


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das formas de se visualizar o mapa. Outra forma bastante comum é a representação do mapa por linhas de “iso-produtividade”, ou seja, isolinhas que delimitam regiões com produtividades dentro de um mesmo intervalo. Para se obter esse mapa é apenas necessário se manipular alguma função específica do software de mapa que acompanha o monitor ou a colhedora. Por trás de tudo isso existe um método de interpolação entre os pontos e de atenuação das pequenas variações locais. Os dados coletados apresentam suas limitações e erros e é sempre necessário um tratamento preliminar antes de transformá-los em um mapa para análise e tomada de decisões. Tais erros são intrínsecos ao processo de geração dos dados e às limitações dos sistemas e não devem ser motivo para descrédito, apenas uma preocupação e uma tarefa (obrigatória) a mais. Além disso, a manipulação de alguns parâmetros de construção do mapa é de extrema importância para uma boa visualização. Se forem atribuídos intervalos de produtividades sem muito critério pode-se esconder informações importantes de manchas da lavoura. Todos os programas de visualização de mapas permitem alguma forma de manipulação desses parâmetros. A calibração é um processo que depende de cada equipamento, mas basicamente é necessário se transformar o número gerado pelo sensor de fluxo em um valor equivalente ao que a balança demonstra. Se o sensor tem boa linearidade e está ajustado para a máquina e o produto que está sendo colhido, a calibração será um processo de ajuste entre o que de fato está sendo colhido (peso da balança) e o que o monitor está mostrando. Normalmente uma seqüência de pesagem de alguns tanques graneleiros cheios é suficiente para se calibrar a máquina para um novo produto, lembrando que é importante repetir a calibração sempre que se mudar de cultura. Os mapas de produtividade são de primeira importância, não semente porque mostram a variabilidade das lavouras, mas também porque numa abordagem mais correta para a recomendação de adubação do ciclo seguinte, leva-se

FOTO: Embrapa Tecnologia

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em consideração a produtividade da cultura anterior para se fazer a reposição dos nutrientes extraídos. Isso significa que não basta a amostragem georreferenciada do solo, que somente considera os teores de nutrientes disponíveis no solo. Trata-se de uma estratégia que demanda tempo para a construção de um consistente conjunto de dados, mas a solução é proporcionalmente mais acertada por considerar também a variabilidade da produtividade da lavoura e não apenas aquela do conteúdo de nutrientes no solo. Muitas das demais culturas já têm solução comercial para a geração de mapas de produtividade. No caso da cana-de-açúcar, no Brasil já existem produtos tanto para colheita mecanizada como para corte manual. Também existe solução comercial para o café em colheita mecanizada e algumas soluções práticas para os citros. A PRÁTICA DA AMOSTRAGEM GEOREFERENCIADA DE SOLO - A técnica que tem se tornado bastante popular é a geração do mapa individual para cada indicador da fertilidade do solo. Para isso é necessário investimento na coleta de amostras na forma que se convencionou denominar de amostragem em grade. Ela tem o objetivo de determinar as necessidades do solo com maior detalhamento quando comparado a prática da amostragem convencional. Para tanto, divide-se o talhão em quadrículas imaginárias, regulares ou não, e em cada quadrícula retiram-se amostras de solo que irão para o laboratório. Podem-se usar diferentes estratégias para amostragem em grade. A mais comum delas é a amostragem pontual onde as amostras serão coletadas no centro de cada quadrícula. Utiliza-se GPS para localizar cada um desses pontos e retira-se algumas sub-amostras em torno do ponto para então juntá-las e compor a amostra que será enviada ao laboratório e representará aquele ponto. A composição da amostra é muito importante para eliminar ou pelo menos diminuir bastante a interferência de ocorrências locais, naturais ou não, tais como uma pequena mancha de alta fertilidade causada pela semeadora no ciclo anterior, ou então o local onde houve um acúmulo acidental de adubo. O número de sub-amostras é um aspecto bastante polêmico e de difícil definição. O solo é um ambiente bastante heterogêneo, mesmo a pequenas distâncias e para cada componente que se queira analisar, essa heterogeneidade terá um comportamento próprio. Na prática tem-se utilizado números de sub-amostras que vão de 3 a 12. Outra estratégia de amostragem é fa-


zer-se a coleta espalhada e aleatória dentro de toda a quadrícula ou célula. As várias sub-amostras são então combinadas para formar a amostra que irá ao laboratório. No primeiro caso, com amostragem de pontos, é possível adotar o procedimento denominado de interpolação, que consiste em estimar valores nas regiões não amostradas da lavoura. No caso da amostragem por célula não há como se fazer a interpolação porque não existe um valor para os atributos do solo centrado em um ponto e cada célula é então tratada com uma unidade de manejo. A estratégia da amostragem por células é recomendada para casos em que a densidade amostral, por algum motivo, é limitada e nesse caso utilizam-se células ou quadrículas grandes, da ordem de 5 a 20 hectares. Já na amostragem por pontos deve haver uma investigação preliminar para definir a distância entre amostras. Nesse caso é importante que haja o suporte de algum especialista que possa conduzir ou orientar essa investigação. Um projeto piloto dentro da propriedade, envolvendo uma área representativa e suficientemente grande, permite que essa investigação com o uso de conceitos da Geoestatística indique uma distância e, portanto, uma densidade amostral adequada. Aspectos relativos a ferramentas e métodos de coleta de amostras apenas devem respeitar os procedimentos que garantem a qualidade das amostras. Quanto à mecanização ou automatização da coleta, fica por conta do usuário, visando apenas à ergonomia, conforto e custo. Os itens de análise a serem solicitados do laboratório têm a ver com o que se está investigando. Portanto, a in-

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clusão de micronutrientes é válida para uma investigação mais detalhada, porém representará custos adicionais. Sabe-se que a distribuição granulométrica ou textura do solo tem uma participação importantíssima nas relações de trocas, disponibilidade de nutrientes, capacidade de armazenamento de água, tendência à compactação e tantas outras características do solo, o que sugere que na primeira amostragem seja feita também a análise granulométrica, que terá valor praticamente permanente. (CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO).


EVENTOS

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23º Encontro dos Engº Agrônomos da Região Franca (SP) será dia 19 de outubro Comissão Organizadora avisa que 11/10 é o prazo máximo para retirada de ingressos

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ais uma vez os profissionais Engenheiros Agrônomos organizam um evento para comemorar o dia 12 de outubro, Dia do Engenheiro Agrônomo. A Comissão Organizadora do 23º Encontro Anual de Engenheiros Agrônomos da Região de Franca (SP) informou que o evento deste ano será comemorado no dia 19 de outubro, sábado, durante todo o dia, no Condomínio Morada Arco Íris, chácara as margens da Rodovia Engº Ronan Rocha, em frente ao Villa Ventura. Será um dia comemorativo, com churrasco, piscina, drinks, reencontros, muito bate-papo, e mais uma vez com a opção de recreação infantil. Tudo embalado pela dupla Augusto e Mateus. O evento tem previsão de iniciar às 10 horas . Já ao meio-dia, um super-show: o violeiro Noel Andrade, nas-

O violeiro Noel Andrade será a grande atração do 23º Encontro Anual de Engenheiros Agrônomos da Região de Franca (SP)

cido em Patrocínio Paulista (SP) e conhecidíssimo nos mais importantes programas e apresentações do gênero em todo o país, em especial São Paulo (SP) e Campinas (SP). A Comissão Organizadora informa que os interessados em participar devem procurar um dos pontos de venda de ingressos (Dedeagro, Cocapec e Casa das Sementes, todas em

Franca) e adquirir rapidamente o seu. O prazo máximo para retirada será o dia 11 de outubro, para que a Comissão Organizadora tenha tempo hábil para organizar o evento. Os custos são de R$ 10,00 para o Engenheiro Agrônomo; R$ 25,00 para o 1º Acompanhante; R$ 35,00 para os demais acompanhantes. Crianças até 12 anos não pagam.


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Nacional do Cavalo Mangalarga começa dia 19 na cidade de Franca (SP)

Associação Brasileira confirma 500 inscrições para julgamentos, provas e leilões

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ontando com o apoio incondicional do Núcleo dos Criadores de Cavalo Mangalarga da Alta Mogiana, capitaneado pelo criador e diretor de exposições e copas Paulo Cornélio Della Torre e da diretoria da ABCCRM - Associação Brasileira dos Criadores de Cavalos da Raça Mangalarga, pelo segundo ano consecutivo a cidade de Franca (SP) sediará a etapa nacional da Exposição do Cavalo Mangalarga - o Cavalo de Sela Brasileiro. A XXXV Nacional Mangalarga acontecerá de 19 a 29 de setembro, nas dependências do Parque de Exposições “Fernando Costa”, em Franca (SP). A realização é da Associação Brasileira, com o apoio da Prefeitura de Franca e o apoio de várias empresas. A Comissão Organizadora confirma que 500 inscrições foram efetivadas. Segundo o Diretor de Exposições da ABCCRM Paulo Francisco Gomes Della Torre, a comunidade mangalarguista encontrará este ano uma estrutura ainda melhor. “O parque passou por reformas e adequações que com toda certeza irão proporcionar uma infraestrutura ainda melhor tanto para o público como para os expositores e profissionais que vierem a passar pelo recinto durante os oito dias de atividades. Além disso, a programação também passou por ajustes para ficar ainda mais atraente para toda a comunidade mangalarguista.” Por sua vez, o Presidente da ABCCRM, Mário Barbosa, destaca que a diretoria está se empenhando para que esta Nacional se caracterize por um ambiente de camaradagem e de harmonia entre os associados. “Para isso acontecer, teremos todos os dias eventos sociais com happy hour e música no camarote da ABCCRM”, ressalta o dirigente mangalarguista.

PROGRAMAÇÃO MOVIMENTADA - Os julgamentos da XXXV Nacional terão início na manhã do sábado 21 de setembro. Neste mesmo dia, às 17h, está marcada a cerimônia oficial de abertura, durante a qual ocorrerá o tradicional desfile das bandeiras dos criatórios participantes. Em seguida, às 18h, o Núcleo Feminino Mangalarga promoverá um coquetel de recepção, cujo programa incluirá um leilão de coberturas em prol desta

ativa representação da raça. No domingo (22), assim como no decorrer da semana, os julgamentos prosseguirão sempre no período das 8h às 18h. Já a noite da quinta-feira (26) promete ser muito movimentada. As atividades incluirão uma palestra de João Pedro Rodrigues (Coudelaria de Alter do Chão), às 18h, e o aguardado Jantar dos Criadores, que será organizado pelo Núcleo Feminino e promete proporcionar um agradável momento de confraternização à comunidade mangalarguista, incluindo ainda um leilão de barrigas em prol da ABCCRM. Além disso, a sexta-feira (27) também reservará momentos especiais. Ao meio-dia, está marcada a apresentação do Carrossel Mangalarga, realizada pelas amazonas do Núcleo Feminino com inspiração nas tradicionais escolas de arte equestre da Europa. À noite, a partir das 21h, será a vez do Leilão Gênesis, organizado pela Fênix Leilões, movimentar o mercado da raça. As atrações, no entanto, não param por aí, pois a programação deste ano inovará com a realização da Festa Vip Mangalarga, a partir da meia-noite. A Nacional abrirá ainda um importante espaço para as qualidades funcionais da raça. Na manhã do sábado (28), acontecerá a quarta etapa aberta do Campeonato Funcional Mangalarga 2013. A prova contará com uma atraente premiação de R$ 30 mil para os competidores da categoria destinada aos cavaleiros mais experientes, a Aberta. Além disso, a competição terá a participação das categorias Mini-mirim, Mirim, Juvenil, Feminina e Amadora (Patrão). A Nacional receberá também a visita de ilustres personalidades da equinocultura internacional, como a renomada escritora norte-americana Mary Midkiff e o texano Louis Rocha. O momento mais aguardado da exposição ocorrerá, entretanto, na tarde deste mesmo dia, quando ocorrerão os julgamentos responsáveis por eleger os Grandes Campeões Nacionais da temporada 2013. A organização lembra ainda que é importante que os criadores garantam o mais rápido possível suas reservas nos hotéis parceiros do evento: o Tower Franca Hotel, cujo contato deve ser feito com Michelle Mattos pelo e-mail reservas@towerfrancahotel.com.br ou pelo telefone (16) 3713-7000, e o Comfort Hotel, cujo contato deve ser feito com Mariana Kelly pelo telefone (16) 2103-5100.


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Nove propriedades da Cooperativa dos Cafeicultores de Marília (SP) irão a leilão

Medida será tomada para o pagamento de dívidas dos cooperados em torno de R$ 20 milhões

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ssim como ocorreu com o imóvel, localizado na avenida Nelson Spielmann, 1.367, a COOPEMAR - Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Marília (SP) deve levar a leilão outras nove propriedades nos próximos anos. De acordo com o presidente da cooperativa, François Regis Guillaumon, a medida será tomada para o pagamento de dívidas dos cooperados - referentes a financiamentos rurais - que estão em torno de R$ 20 milhões. Segundo Guillaumon, os débitos recaem sobre a Cooperativa, pois a mesma entra como avalista dos procedimentos. A maior parte dos débitos é com o Banco do Brasil que repassou a dívida para União. Além destas nove propriedades que já estão no nome da cooperativa outras três também penhoradas estão com processo em andamento. Entre as propriedades que deverão ir para venda estão campo de futebol, galpão de mais de 50 mil m2 no distrito industrial e chácaras. “A intenção é deixar apenas a estrutura utilizada pelos cooperados como posto de combustíveis, galpão e viveiro. As áreas ociosas serão vendidas. Na sede, por exemplo, te-

mos mais de 100 metros quadrados inutilizados. Todas estas decisões foram aprovadas em assembleia com os associados, já que as dívidas serão supridas e ainda sobrará dinheiro para a cooperativa. No entanto, é preciso aguardar algumas decisões judiciais”, lembra François. No caso do prédio, localizado na Nelson Spielmann, avaliado em R$ 6 milhões, o procedimento é feito por meio da Justiça Federal, pois como o bem está penhorado em processo de execução fiscal é necessário autorização da justiça para venda. “A dívida já está parcelada, mas para que nós vamos pagar isto em cinco anos, se temos um prédio ocioso que pode ser vendido? Com isso o dinheiro será todo encaminhado direto para o credor”, explica François. Para participar deste leilão é necessário apresentar uma proposta escrita que deverá ser entregue através de petição no Setor de Protocolo do Fórum Federal de Marília, localizado na rua Amazonas, 527. O prazo para a apresentação foi fixado entre 26 de agosto a 4 de setembro. Será mantida no Fórum uma tabela com a relação dos lances apresentados, sendo esta atualizada a cada nova petição recebida. Caso haja a apresentação de duas ou mais propostas que atendam os parâmetros do edital de alienação, será designada posteriormente uma data em que será permitida aos interessados escritos a apresentação do lance oral, para que superem a melhor proposta escrita. François lembra que outros leilões de propriedades da Cooperativa foram realizados ainda neste ano. Como exemplo uma fazenda, em Assis, de 47 alqueires por R$ 2,8 milhões. “Acreditamos que o leilão é a melhor forma, pois não corremos o risco de no futuro sermos questionados sobre os motivos pelos quais não vendemos por valores mais altos”, fala o presidente. Já em 23 de abril foi realizado o leilão do prédio da sede da Coopemar em que o arremate no valor de R$ 7,5 milhões foi feito pela empresa Avant Administração Ltda. Entretanto, em maio, o Juiz da 1ª Vara da Justiça Federal, Alexandre Sormani, acatou o recurso da entidade que pediu o embargo do arremate. Como o recurso tem efeito suspensivo, o leilão realizado não foi concretizado. De acordo com a decisão, a execução da dívida nesta fase poderia prejudicar a Cooperativa. No momento o caso aguarda decisão do juiz. O débito da cooperativa neste caso era de R$ 2,8 milhões. “A sede está avaliada em mais de R$ 40 milhões e foi para leilão com lance mínimo de R$ 7 milhões, por isso o juiz acatou nosso recurso”, informou. A COOPERMAR possui 1.260 cooperados. Na região são mil cafeicultores. A cooperativa é responsável ainda pela assistência de mais de 200 mil cabeças de gado. (Fonte: Jornal de Marília/ Cibele Martins)


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AMSC realiza em setembro o 11º Concurso de Qualidade de Café Serão premiados os 5 melhores lotes de café natural e cereja descascado e 3 microlotes

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FOTO: Divulgação AMSC

afeicultores de diversas cidades da região estão participando do 11º Concurso de Qualidade do Café da Alta Mogiana - Edição Dr. Luiz Carlos Fazuoli. O evento, promovido pela AMSC (Associação dos Produtores de Cafés Especiais da Alta Mogiana), tem como objetivo selecionar os melhores cafés da região e valorizar os produtores locais que investem em qualidade. 185 amostras foram inscritas no Concurso. Este ano, a seleção acontece em três cate-gorias: café arábica preparado por via seca (café natural), café arábica preparado por via úmida (cereja descascado ou despolpado) e micro lote, preparado em qualquer forma, proveniente de propriedade com até 10 hectares de área total. A fase de pré-seleção das amostras foi realizada nos dia 07 e 08 de setembro, na sede da AMSC. A seleção e julgamento dos cafés serão realizados entre os dias 17 e 20 de setembro, no Salão de Eventos do Tower Hotel, em Franca (SP), por uma comissão formada por classificadores de reputação nacional. Serão cinco jurados. Todos com experiência em competições internacionais e também no Cup of Excellence. Para garantir a credibilidade do evento, todas as amostras inscritas foram codificadas e registradas em cartório. A festa de premiação dos melhores cafés da Alta Mogiana será realizada no dia 21 de setembro, sábado, no Espaço Cedro, em Franca (SP). Na oportunidade, serão premiados os cinco melhores lotes de café natural, cinco lotes de cereja descascado e três microlotes. Puderam se inscrever no concurso, cafés produzidos nas seguintes localidades: Altinópolis, Batatais, Buritizal, Cajuru, Cristais Paulista, Franca, Itirapuã, Jeriquara, Nuporanga, Patrocínio Paulista, Pedregulho, Restinga, Ribeirão

Corrente, Santo Antonio da Alegria e São José da Bela Vista, pertencentes no Estado de São Paulo; bem como os municípios de Capetinga, Cássia, Claraval, Ibiraci, Itamogi, Sacramento, São Sebastião do Paraíso e São Tomás de Aquino, pertencentes ao Estado de Minas Gerais. EDIÇÃO DR. LUIZ CARLOS FAZUOLI - Este ano, o concurso homenageia o Dr. Luiz Carlos Fazuoli, pesquisador científico do Centro de Café “Alcides Carvalho” do IAC (Instituto Agronômico de Campinas). Fazuoli é agronomo, possui mestrado em Agronomia (Genética e Melhoramento de Plantas), doutorado em Biologia Vegetal; e atualmente desenvolve pesquisas relacionadas a Genética e Melhoramento do setor cafeeiro.

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Terceiro artigo da equipe do Bureau de Inteligência Competitiva do Café

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República da Colômbia é um país localizado na América do Sul, com fronteiras terrestres com Brasil, Venezuela, Equador, Peru e Panamá, tendo ainda saídas para o Mar do Caribe ao norte e para o Oceano Pacífico a oeste. Sua população é de 46,9 milhões de habitantes e possui um Produto Interno Bruto de US$ 333,4 bilhões, composto principalmente pela área de serviços (55,1%), seguido pela indústria (38,1%) e agricultura (6,8%). Sua área agrícola corresponde a aproximadamente 40% de sua área total e seus principais produtos do agronegócio são café, flores, arroz, banana, milho, tabaco e feijão. A topografia montanhosa e a existência de vários micro climas tropicais geram condições muito favoráveis à cafeicultura no país, cuja produção é exclusivamente de Coffea arabica L. ARTE: Wikipedia

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Colômbia: um potencial concorrente do Café Brasileiro.

PONTOS FORTES = a) - Condições favoráveis ao plantio de café arábica em elevadas altitudes. b) - Reconhecimento internacional do café colombiano, não só pela qualidade dos grãos, mas também pelo marketing da cafeicultura nacional. c) - Utilização crescente de certificações, como Rainforest Alliance, Utz Certified e 4C, voltadas para a sustentabilidade ambiental e social, agregando valor ao produto e contribuindo com as comunidades produtoras. d) - Denominações de origem protegida, em estados como Huila e Nariño e) - Novos subsídios governamentais à atividade, como o recente acordo nomeado Produção para a Renda dos Agricultores f) - Replantios para substituir árvores velhas com baixa produtividade. PONTOS FRACOS = a) - Pragas e doenças, como a ferrugem e a broca, afetam a produção do café arábica. b) - Aumento da frequência de fenômenos climáticos, como o La Niña, que causam grandes prejuízos à produção.

AUTOR

O Bureau de Inteligência Competitiva do Café é um programa desenvolvido no Centro de Inteligência de Mercados (CIM) da UFLA-Universidade Federal de Lavras (MG). Informações: www.incafebr.com. Telefone (35) 3829-1443.

c) - Aumento significativo dos custos de produção, como custos trabalhistas e dos insumos agrícolas. d) - Desvalorização recente do café e êxodo rural. e) - Consumo muito baixo em comparação a outros países produtores. f) - Moeda nacional forte, cuja apreciação frente ao dólar foi de 276,6% entre 11/07/1990 e 11/07/2011, prejudicando as exportações. g) - Grande dependência dos EUA para as exportações de café (mais de 40%). AÇÕES = 1) - Replantio de árvores ve-lhas e de baixa produtividade, buscando aumentos na produção dos próximos anos; 2) - Incentivo da Federação dos Cafeicultores da Colômbia (FEDECAFÉ), organização de representação internacional e apoio à cafeicultura do país, ao plantio de variedades resistentes à ferrugem e outras doenças, como a Castilla. Contudo, observa-se resistência por parte de muitos cafeicultores, já que a variedade possui menor produtividade média e baixa qualidade de bebida. 3) - Diferenciação do café por meio da adoção de certificações e Indicações Geográficas de Origem, agregando valor; 4) - Disponibilização governamental de assistência financeira a todas as commodities agrícolas, por meio do Incentivo ao Financiamento Rural (RFI - Rural Funding Incentive). CONSIDERAÇÕES = • O aumento dos custos de produção, levando em conta o valor pago aos trabalhadores, fertilizantes e pesticidas químicos para combater a ferrugem e pragas como a broca, junto à baixa remuneração do cafeicultor, tem reduzido suas margens de rentabilidade, ocasionando até a inviabilização da atividade; • A produção de café no país deverá alcançar 8,3 milhões de sacas no ano comercial 2012/2013, acréscimo de 8% em comparação ao ano anterior. Este aumento deve-se ao plantio de variedades resistentes à ferrugem em 2010, que agora se aproximam da idade produtiva. As novas plantas cultivadas nos anos subsequentes deverão alcançar sua maturidade no final de 2013, dando suporte a novos aumentos na produção, que deve chegar a 9-10 milhões de sacas


CAFÉ no ano comercial 2013/2014; • Apesar do aumento do consumo interno de cafés industrializados e de alta qualidade, o consumo nacional permanece pequeno. Isto distingue o país de outros países produtores, como o Brasil, onde há tendência de aumento significativo do consumo para os próximos anos; • Estima-se que as exportações colombianas de café alcançarão 8,2 milhões de sacas no ano comercial 2012/2013, volume 12% superior ao observado no período anterior. No ano comercial 2013/2014 esta previsão alcança 8,9 milhões de sacas. • As exportações nacionais de cafés especiais cresceram mais de 800%, passando de 220 mil sacas em 2006 para 2 milhões de sacas em 2012. • Problemas comerciais decorrentes da valorização do peso colombiano devem diminuir, já que além das políticas cambiais e fiscais para desvalorizá-lo, com a retomada do crescimento norte-americano, o dólar tem se apreciado frente às moedas de praticamente todos os países do mundo; • O país busca diferenciar seu produto e adotar políticas de melhoria para atender aos critérios de degustação e classificação exigidos para a certificação dos grãos, o que agrega valor e garante uma melhor remuneração. Aqueles produtos com valor agregado baseados no café, especialmente os cafés especiais, correspondem a 36% das exportações da Colômbia. • Algumas cidades colombianas, como Cartagena, criaram hotéis internacionais de luxo em fazendas produtoras de café, muitas delas ainda em atividade. Desta forma, divulgam o produto por meio de diversas estratégias de marketing, o que impacta em seu reconhecimento nacional.

CENÁRIO = A Colômbia experimentou significativa queda de produção nos últimos anos, principalmente devido aos fenômenos climáticos, ocorrência de pragas e doenças e a idade avançada das árvores. Desta forma, o país deixou de ser o segundo maior produtor mundial, ocupando a quarta posição atualmente atrás do Brasil, Vietnã e Indonésia. Contudo, com o alcance da maturidade produtiva das novas árvores e a utilização de variedades resistentes à pragas, espera-se um importante aumento de produção nos próximos anos. O aumento dos custos de produção, especialmente de mão de obra, reduz o lucro auferido pelos produtores e desestimula a atividade, já que esta passa a ter lucratividade nula ou resultar em prejuízos. Outro problema encontrado é a forte varolização da moeda nacional em relação ao dólar, prejudicando suas exportações. Desta forma, as soluções são agregar valor ao produto por meio de certificações e indicações de origem, resultando em um maior preço pago ao produtor e a adoção de políticas cambiais favoráveis às exportações. Incentivos do governo colombiano e da FEDECAFE à atividade também são importantes, garantindo um preço mínimo ao produtor e subsidiando parte de suas operações. Como o país é exclusivamente produtor de Coffea arabica L., principal espécie produzida pelo Brasil, é um dos nossos principais concorrentes, especialmente com a previsão de aumento da produção nos próximos anos. A valorização de sua marca nos países importadores é uma ameaça ao Brasil, já que estes países podem reduzir suas importações de café brasileiro e substituir parte delas pelo café colombiano.

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Nutrição do Cafeeiro (parte 14) - Como melhorar a eficiência da adubação fosfatada no cafeeiro - parte I Renato Passos Brandão 1

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a edição anterior da Revista Attalea Agronegócios foi abordado as práticas culturais que devem ser adotadas para melhorar a eficiência da adubação nitrogenada no cafeeiro. A adubação nitrogenada representa uma parcela significativa dos investimentos dos cafeicultores em nutrição de plantas. Portanto, é necessário que o cafeicultor adote práticas culturais que melhorem a eficiência agronômica dos fertilizantes nitrogenados. Nesta edição e na próxima serão publicados dois artigos sobre o manejo da adubação fosfatada com o intuito de melhorar a sua eficiência agronômica na cultura do cafeeiro. O fósforo, depois do nitrogênio, é o nutriente mais limitante à produção do cafeeiro. Os solos brasileiros possuem baixos teores do fósforo e grande capacidade de fixação deste nutriente reduzindo a sua disponibilidade ao cafeeiro. O suprimento do fósforo na fase inicial do cafeeiro mostra-se extremamente importante. A baixa disponibilidade nas etapas iniciais de desenvolvimento do cafeeiro, afeta de forma irreversível, o metabolismo e o desempenho da planta, que não poderá ser compensado com o suprimento adequado deste nutriente em estádios posteriores (Fancelli, 2010). Portanto, não basta apenas a aplicação dos fertilizantes fosfatados nos solos cultivados com o cafeeiro. O cafeicultor deve adotar práticas culturais que possam melhorar a eficiência agronômica das adubações fosfatadas no cafeeiro. 1. Funções do fósforo no cafeeiro O fósforo é imprescindível ao crescimento e a reprodução das plantas, as quais não alcançam o seu máximo potencial produtivo sem um adequado suprimento deste nutriente (Marschner, 1995). O principal papel do fósforo nas plantas é o armazenamento e a transferência de energia (Malavolta, 2006). É componente dos nucleotídeos utilizados no metabolismo energético das plantas e está presente nas moléculas de açúcares intermediários da respiração e fotossíntese (Taiz & Zeiger, 2004). Uma nutrição adequada de fósforo no cafeeiro minimiza a bienalidade da cultura, permite maior uniformidade na maturação dos frutos, colheita com baixa incidência de grãos defeituosos e plantas mais vigorosas mesmo após altas produtividades (Guerra et al., 2007). 2. Dinâmica e disponibilidade do fósforo no sistema solo-planta O fósforo no solo encontra-se na fase líquida ou na solução do solo e na fase sólida (Raij, 1991). O fósforo da

AUTORES 1 - Engº agrônomo, Mestre em Solos e Nutrição de Plantas pela UFLA e Gestor Agronômico do Grupo Bio Soja.

solução do solo (P solução) está em equilíbrio com o fósforo da fase sólida (P lábil e o P não lábil), Figura 1.

Figura 1. Dinâmica do fósforo no sistema solo-planta. Fonte: Adaptado de Goedert & Sousa (1984) e Vitti (comunicação pessoal).

O cafeeiro absorve o fósforo da solução do solo, cujo teor é muito baixo, com valores da ordem de 0,1 mg de P/ kg de solo. A camada arável do solo com 25% de umidade possui apenas 50 g/ha de P2O5, quantidade insuficiente para atender as necessidades das culturas (Raij, 1991). Portanto, a maior parte do P do solo encontra-se na fase sólida e é dividida em P-lábil e P-não lábil (Figura 1). O P-lábil é aquele que está adsorvido aos colóides minerais e orgânicos do solo mas em equilíbrio com o P da solução do solo, podendo ser considerado como disponível às plantas. O P-não lábil é o fósforo precipitado em compostos insolúveis (comumente com Ca, Fe e Al) ou adsorvido por sítios de elevada energia e deste modo, o seu aproveitamento pelas plantas é incerto (Goedert & Sousa, 1984). A aplicação do P proveniente dos fertilizantes fosfatados solúveis aumenta momentaneamente o teor de P na solução do solo. Entretanto, mais de 90% do P aplicado ao solo é adsorvido na primeira hora de contato com o mesmo, formando, inicialmente, o P lábil e, posteriormente, com o passar do tempo, o P não lábil (Novais et al., 2007), conforme equação abaixo. P fertilizante

P solução do solo

P não lábil

P lábil

3. Fixação do fósforo A retenção do fósforo nos solos é conhecida como “fixação” reduzindo a disponibilidade deste nutriente ao cafeeiro. Ocorre nos solos ácidos pela reação do fósforo com óxidos de ferro e alumínio formando fosfatos pouco solúveis. Em solos alcalinos, a reação do fosfato ocorre com o cálcio formando fosfato tricálcio de baixa solubilidade em água.


Várias propriedades do solo afetam a fixação do fósforo nos solos, sendo as mais importantes: textura, tipo e quantidade de colóides (minerais de argilas e húmus), pH do solo e quantidade de outros ânions que podem competir com o íon fosfato por sítios de adsorção, por exemplo, sulfato e silicato (Goedert & Sousa, 1984). A fixação do fósforo é influenciada pelo teor de argila do solo. Quanto maior o teor de argila do solo, maior é a fixação do fósforo (Tabela 1). Tabela 1: Teores de argila e a capacidade máxima de fixação de fósforo em dois solos tropicais. CARACTERÍSTICAS DOS SOLOS Teor de Argila (%)

LATOSSOLO MONTE SANTO (MG) PATROCÍNIO (MG) 14

59

Adsorção de fósforo (mg/cm³)

0,33

0,94

Retenção estimada de P2O5 (kg/ha)

1.518

4.324

FONTE: Dias (1992), citado por Favarin et al., (2010).

A fixação do fósforo também é afetada pelo pH do solo (Figura 2). Maiores informações serão abordadas no item 5.1.

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5. Manejo da adubação fosfatada no cafeeiro O solo é um sistema heterogêneo e ocorrem reações complexas envolvendo os nutrientes adicionados pelos fertilizantes que, muitas vezes, embora em quantidades adequadas, não estão disponíveis às plantas (Martinez et al., 1999). A eficiência da adubação fosfatada em solos tropicais é muito baixa. De maneira geral, a eficiência dos fertilizantes fosfatados no primeiro ano após a sua aplicação situa-se entre 5 e 20% (Favarin et al., 2010). O cafeicultor precisa conhecer e levar em consideração os fatores que afetam a eficiência agronômica dos fertilizantes fosfatados no solo. Na prática, pouco se pode fazer para modificar a textura e o tipo dos colóides do solo. Entretanto, o cafeicultor pode alterar os demais fatores do solo, dentre os quais, o pH, a umidade do solo, teor de matéria orgânica e a densidade do solo. As características do sistema radicular do cafeeiro também são importantes no manejo da adubação fosfatada. A eficiência da adubação fosfatada será tanto maior, quanto maior for o volume do solo explorado pelo sistema radicular do cafeeiro. Portanto, para melhorar a eficiência dos fertilizantes fosfatos é necessário levar em consideração os aspectos relacionados com o sistema solo-planta e a fonte de fósforo. 5.1. Correção da acidez do solo Conforme comentando anteriormente, o pH do solo afeta a disponibilidade do P ao cafeeiro. A faixa de pH em água do solo que proporciona maior disponibilidade do fósforo ao cafeeiro situa-se entre 6,0 e 6,5 (Figura 2). A correção da acidez do solo deve ser a primeira prática cultural a ser adotada nos solos ácidos para aumentar a eficiência da adubação fosfatada na cultura do cafeeiro.

Figura 2. Efeito do pH na disponibilidade do fósforo. FONTE: Instituto de Potassa & Fosfato (1998).

4. Absorção do fósforo pelo cafeeiro A absorção do fósforo pelo cafeeiro ocorre predominantemente pela difusão. A difusão é o movimento do íon fosfato de uma região com alta concentração para uma região de baixa concentração no solo e é um processo extremamente lento no solo. Portanto, para que o fósforo chegue às raízes por difusão, deve haver no solo alto teor disponível deste nutriente, de modo a favorecer a formação de um gradiente de concentração (Novais & Smyth, 1999). A quantidade de P que chega a superfície das raízes do cafeeiro pela difusão é diretamente proporcional: • Concentração de P na solução do solo; • Volume do solo explorado pelo sistema radicular do cafeeiro; • Teor de umidade do solo; • Densidade do solo (compactação); • Temperatura do solo.

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A calagem diminui o tamanho do “reservatório” de P não lábil através da redução do número de sítios de troca de alta energia (Goedert & Sousa, 1984). Os íons Fe, Al e Mn solúveis na solução do solo dos solos ácidos são imobilizados pela hidroxila do calcário formando hidróxidos ou óxidos de baixa solubilidade (Vitti & Domeniconi, 2010). A calagem também aumenta a quantidade das cargas negativas nas superfícies dos colóides do solo promovendo maior repulsão dos ânions fosfatos resultando em menor adsorção ou fixação desses íons (Goedert & Sousa, 1984). Le Mare & Goedert (1983) verificaram que a elevação do pH do solo para 5,5 diminuiu em cerca de 30% a quantidade de P adsorvido (P não lábil) em um Latossolo Vermelho Escuro. Além disso, a calagem estimula a atividade microbiana do solo, responsável pela decomposição dos compostos orgânicos liberando o fósforo para a solução do solo (Anghinoni, 2004). Além do efeito do calcário no pH do solo, este insumo agrícola também fornece cálcio, nutriente que promove maior crescimento das raízes do cafeeiro no perfil do solo favorecendo a absorção do fósforo. A absorção do fósforo é proporcional ao volume do solo explorado pelo sistema radicular das plantas (Sousa et al., 2010). A calagem deve ser realizada com antecedência ao florescimento do cafeeiro, época com grande demanda pelo fósforo. Entretanto, a supercalagem eleva demasiadamente o pH do solo causando a reação do fósforo com o cálcio formando fosfato tricálcio, composto de baixa solubilidade no solo e reduzindo a disponibilidade deste nutriente ao cafeeiro (Favarin et al., 2010). 5.2. Silicatagem De forma similar a calagem, os silicatos também elevam o pH do solo minimizando a fixação do P no solo e aumentando a disponibilidade do P ao cafeeiro. Além disso, os ânions silicatos (H3SiO4-) competem com o fosfato (H2PO4-) pelos sítios de adsorção reduzindo a fixação do fósforo nos solos (Pozza et al., 2007). 5.3. Controle do processo erosivo O fósforo é um nutriente pouco móvel no solo e as perdas por lixiviação são desprezíveis. Ao longo dos cultivos do cafeeiro em produção ocorre acumulo deste nutriente na superfície do solo. É usual lavouras de café com altos teores de P nos primeiros centímetros do solo (P resina > 40 mg/dm3). A erosão do solo é uma das principais formas de perdas de P do solo. A erosão tem início com o impacto da gota d’água na superfície do solo destruindo os agregados e predispondo as partículas ao escorrimento superficial (Sharpley, 2010). Portanto, o cafeicultor deve adotar práticas conservacionistas, tais como, cobertura vegetal e curva de nível principalmente em solos declivosos para minimizar as perdas do fósforo e demais nutrientes causadas pela erosão hídrica. 5.4. Modo e época de aplicação do fósforo O fósforo proveniente dos fertilizantes solúveis é rapidamente adsorvido no solo e é transformado em compostos de menor solubilidade através de reações de precipitações (Figura 1). A intensidade das reações químicas é diretamente proporcional ao volume do solo em contato com os fertilizantes fosfatados solúveis (Goedert & Sousa, 1984). Portanto, é necessário reduzir o volume do solo em contato com os fertilizantes fosfatados solúveis realizando as

adubações fosfatadas no sulco ou em faixas. Na implantação do cafezal, realizar a aplicação do fertilizante fosfatado no sulco de plantio. Desta forma, o cafeicultor aumenta a relação do fósforo aplicado por volume de solo na região adubada reduzindo a fixação do fósforo. A importância da aplicação do fósforo na implantação do cafeeiro é que esta é a primeira e única oportunidade de se aplicar este nutriente em profundidade. Nesta camada do solo, o teor de umidade é bem maior proporcionando maior difusão e absorção do fósforo pelo cafeeiro. Conforme comentado no item 4, a difusão do fósforo é facilitada em solos com maior teor de umidade. Em lavouras de café em formação e em produção, a aplicação do nutriente deve ser realizada em dose única no início da estação das chuvas e do florescimento da cultura, respectivamente. Aplicar os fertilizantes fosfatados em faixas para reduzir o contato com o solo, diminuindo a fixação do fósforo e desta forma, aumentando a sua disponibilidade ao cafeeiro. Eventualmente, o fósforo pode ser aplicado nas primeiras fertirrigações. 5.5. Irrigação Conforme comentado anteriormente, a absorção do fósforo pelo cafeeiro ocorre em sua maior parte pela difusão e este mecanismo é influenciado pelo teor de umidade do solo. Quanto maior o teor de umidade do solo, maior é a difusão do fósforo. Portanto, as lavouras de café irrigadas tem maior quantidade de P disponível do que as lavouras em sistemas convencionais de cultivo. Segundo Favarin et al. (2010), baixos teores de umidade no solo podem induzir baixos teores do fósforo nas folhas do cafeeiro. Em muitas situações, o teor de fósforo no solo está adequado mas o teor nas folhas do cafeeiro pode estar abaixo da faixa adequada. 5.6. Descompactação dos solos De forma similar ao baixo teor de umidade no solo, a compactação do solo reduz a difusão do fósforo no solo e pode induzir a deficiência deste nutriente no cafeeiro mesmo em solos com teor adequado. Quanto maior a compactação do solo, maior é a sua densidade do solo e menor a taxa de difusão do fósforo nos solos. O deslocamento do fósforo no solo é muito mais difícil e lento em solos com alta densidade. Portanto, o cafeicultor deve adotar práticas culturais que reduzam a compactação do solo, tais como: • Aumentar o teor de matéria orgânica no solo; • Evitar o trânsito de máquinas agrícolas em solos úmidos; • Realizar a avaliação da presença de camadas compactadas e se houve necessidade, realizar a descompactação ou a escarificação dos solos. Entretanto, a mecanização das práticas culturais, dentre as quais, a colheita do cafeeiro, tende a aumentar o tráfico de máquinas e aumentar a compactação dos solos. 5.7. Adubação no solo com magnésio O magnésio é um carreador de fósforo às plantas melhorando a eficiência das adubações fosfatadas no cafeeiro (Favarin et al., 2010). A saturação do magnésio na CTC dos solos cultivados com cafeeiro deve estar entre 13 e 18%. A relação Ca/Mg e Mg/K nos solos deve ser de 1,5 a 3,5 e 3 a 6, respectivamente.


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CAFÉ Portanto, o cafeicultor tem que manter o teor de magnésio no solo na faixa adequada ao cafeeiro e em equilíbrio com o cálcio e potássio. Realizar a aplicação do Gran Boro Mag ou Gran Mix Visão na dose de 150 a 200 kg/ha no início do florescimento do cafeeiro.

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5.8. Aplicações dos fertilizantes organominerais fosfatados com substâncias húmicas Os fertilizantes organominerais fosfatados com substâncias húmicas possuem maior eficiência agronômica no fornecimento deste nutriente às plantas, dentre os quais, o cafeeiro. As substâncias húmicas aumentam a eficiência das adubações fosfatadas através de três mecanismos: • Reduzem os locais de “fixação” do fósforo no solo recobrindo estes locais com radicais orgânicos, formação de complexos organofosforados e substituição de íons fosfatos por íons orgânicos nos sítios de adsorção; • Estimulam o maior desenvolvimento das raízes das plantas aumentando o volume explorado do solo e a absorção do fósforo; • Liberação de parte do fósforo fixado (P lábil). O cafeicultor deve realizar a aplicação do Fertium® Phós no sulco de plantio e na projeção da copa em lavouras em formação e em produção. O Fertium® Phós é um fertilizante organomineral fornecedor de fósforo solúvel com altos teores de substâncias húmicas. Em lavouras com fertirrigação, realizar a aplicação de substâncias húmicas líquidas (NHT® Humic ou Fertium® Líquido) no bulbo de irrigação iniciando as aplicações com as primeiras fertirrigações. O NHT® Humic e o Fertium® Líquido também podem ser aplicados em lavouras sem irrigação na projeção da copa do cafeeiro. 6. Considerações finais O fósforo, ao lado do nitrogênio, é um dos nutrientes mais limitantes à cultura do cafeeiro. A eficiência da adubação fosfatada no cafeeiro no primeiro ano após a aplicação no solo é muito baixa. O cafeicultor tem que adotar práticas culturais que possam melhorar a eficiência agronômica das adubações fosfatadas otimizando os investimentos realizados com este insumo agrícola. Basicamente, são práticas que reduzem o contato do fósforo com o solo e aumentam o volume do solo explorado pelas raízes do cafeeiro. Entretanto, o cafeicultor também precisa utilizar fertilizantes fosfatados organominerais e adotar práticas conservacionistas para melhorar a eficiência da adubação fosfatada. Na próxima edição da Revista Attalea Agronegócios será abordado a importância da utilização dos fertilizantes fosfatados organominerais com substâncias húmicas na nutrição fosfatada no cafeeiro. Não sabendo que não era impossível, foi lá e fez. (provérbio chinês) 8. Literatura consultada ANGHINONI, I. Fatores que interferem na eficiência da adubação fosfatada. In: YAMADA, T: ABDALLA, S.R.S. (Ed.). Fósforo na agricultura brasileira. Piracicaba: Potafos/Anda, 2004. p. 537-558.

FANCELLI, A. L. Milho. In: PROCHNOW. L. I.; CASARIN, V. & STIPP, S.R. (Eds.). Boas práticas para uso eficiente de fertilizantes: culturas. v.3. Piracicaba, IPNI. 2010. p.39-93. FAVARIN, J.C.; TEZOTTO, T.; NETO, A.P. & PEDROSA, A.W. Cafeeiro. In: PROCHNOW. L. I.; CASARIN, V. & STIPP, S.R. (Eds.). Boas práticas para uso eficiente de fertilizantes: culturas. v.3. Piracicaba, IPNI. 2010. p.411-467. GOEDERT, W.J. & SOUSA, D.M.G. Uso eficiente de fertilizantes fosfatados. In: ESPINOZA, W.; OLIVEIRA, A.J. de (Ed.). Anais do Simpósio sobre fertilizantes na agricultura brasileira. Brasília, DF, EMBRAPA. 1984. p.255-289. GUERRA, A.F.; ROCHA, O.C.; RODRIGUES, G.C.; SANZONOWICZ, C.; RIBEIRO FILHO, G.C.; TOLEDO, P.M.R.; RIBEIRO, L.F. Sistema de produção de café irrigado: um novo enfoque. ITEM, Brasilia, n.73, p. 52-61, 2007. INSTITUTO DA POTASSA & FOSFATO. Manual internacional de fertilidade do solo. 2 ed. Piracicaba, Potafos 1998. 177p. LE MARE, P. & GOEDERT, W.J. Effects of liming on sorption and desorption of phosphorus by some acid soils of South America. Proceedings of the 3rd International Congress on phosphorus compounds. IMPHOS. Marrocos,1983. MALAVOLTA, E. Manual de nutrição mineral de plantas. São Paulo: Agronômica Ceres, 2006. 631p. MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants. New York: Academic, 1995. 887p. MARTINEZ, H.E.P.; GUIMARAES, P.T.G.; GARCIA, A.W.R.; ALVAREZ, V., V.H.; PREZOTTI, L.C.; VIANA, A.S.; MIGUEL, A.E.; MALAVOLTA, E.; CORRÊA, J.B.; LOPES, A.S.; NOGUEIRA, F.D.; MONTEIRO, A.V.C.; OLIVEIRA, J.A. Cafeeiro. In: COMISSAO DE FERTILIDADE DO SOLO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais: 5ª aproximação. Viçosa, MG, 1999. p.143-168. NOVAIS, R.F.; SMYTH, T.J. Fósforo em solo e planta em condições tropicais. Viçosa, MG: UFV/DPS, 1999. 399p. NOVAIS, R.F.; SMYTH, T.J.; NUNES, F.N. Fósforo In: NOVAIS, R.F.; ALVAREZ V., V.H.; BARROS, N.F.; FONTES, R.L.F.; CANTARUTTI, R.B.; NEVES, J.C.L. (Ed.). Fertilidade do solo. Viçosa, MG; SBCS, 2007. 471-550p. POZZA, A.A.A.; CURI, N.; COSTA, E.T.S.; GUILHERME, L.R.G.; MARQUES, J.J. G.S.M.; MOTTA, P.E.F. Retenção e dessorção competitivas de ânions inorgânicos em gibbsita natural de solo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.42, n.11, p.1627-1633, nov. 2007. RAIJ, B. van. Fertilidade do solo e adubação. São Paulo: Ceres/Potafos, 1991. 343p. SHARPLEY, A. manejo de fósforo en sistemas de producción agrícola ambientalmente sustentables: desafios y oportunidades. IPNI International Plant Nutrition Institute. Acassuso, Argentina, p. 1- 9, 2010. SOUSA, D.M.G. Manejo da adubação fosfatada. In: PROCHNOW. L. I.; CASARIN, V. & STIPP, S.R. (Eds.). Boas práticas para uso eficiente de fertilizantes. v.2. Piracicaba, IPNI. 2010. p.411-467. TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. 719p. VITTI, G. & DOMENICONI, R. Fósforo. In: PROCHNOW. L. I.; CASARIN, V. & STIPP, S.R. (Eds.). Boas práticas para uso eficiente de fertilizantes. v.2. Piracicaba, IPNI. 2010. p.411-467.


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Falta de produto para o controle da broca preocupa o setor cafeeiro

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lém dos preços baixos do café, o setor produtivo também está preocupado com a falta de um produto adequado e economicamente viável para combater a broca, uma das principais pragas que afetam a cultura. A broca pode ser controlada com inseticida, sendo que o ativo endossulfam era muito usado desde a década de 1970, mas sua comercialização está proibida desde o final de julho último, conforme resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), baixada em agosto de 2010. Diante da falta de produto adequado para controle, somada à falta de investimentos dos produtores em função dos preços baixos, o Conselho Nacional do Café (CNC) estima que a praga poderá atingir 20% da produção de café da próxima safra (2014/15). Banido em 45 países, o endossulfam fazia parte de uma lista de 14 agrotóxicos submetidos à reavaliação pela ANVISA, por causa das suspeitas de estarem associados a problemas graves de saúde. Mas alguns representantes do setor dizem que, na Europa, por exemplo, o calendário de proibição da substância seguiu aproximadamente o do Brasil, enquanto em alguns países em que foi proibido, o endossulfam

FOTO: Embrapa Café

Banido em 45 países, importações do produto foram proibidas em julho de 2011

sequer era utilizado. O Ministério da Agricultura afirma que já existem três produtos no mercado para a broca do café: extrato de neen, clorpirifós e o etofenproxi, mas o setor produtivo considera que não são eficazes. Embora um fabricante de um dos produtos considere que o custo seja maior ante o endossulfam.

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Semanas atrás, foi realizada uma reunião com o Comitê Técnico de Assessoramento para Agrotóxicos, formada por Ministério da Agricultura, Anvisa e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) para discutir sobre o pleito da Agricultura de apreciação de dois produtos substitutos ao endossulfam: as moléculas Ciantraniliprole e uma mistura de Clorantraniliprole e Abamectina. Esses produtos são de multinacionais e representam um novo grupo de inseticidas, segundo o pesquisador Júlio César de Souza, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG). Eles são considerados de “tarja azul” — toxicidade média a baixa —, enquanto o endossulfam é classificado como “tarja vermelha” — extremamente tóxico, afirma Souza. As moléculas substitutas ao endossulfam foram testadas por quatro anos e são eficientes no combate à broca. “É um avanço”, diz Souza. Antes da entrada do endossulfam no mercado, nos anos 1970, a broca infestava quase 100% das lavouras, conta o pesquisador. Mas, atualmente, o índice de infestação é de 3% a 5% dos cafezais. Se for maior que estes percentuais, cerca de 40% das lavouras precisam de controle químico, afirma Souza. A broca é um besouro cuja fêmea coloca ovos que vão se transformar em larvas que consomem a semente do café, trazendo perda de peso e de qualidade para os frutos, o que deprecia o produto, explica Souza. O pesquisador da EPAMIG foi um dos responsáveis pelo documento sobre a eficiência agronômica dos produtos. A proposta de registro dos dois produtos foi enviada pelo Ministério da Agricultura à ANVISA e IBAMA há mais de um ano, mas há cerca de duas semanas foi incluído o documento da EPAMIG com mais dados técnicos sobre a necessidade de se priorizar a análise dos produtos, conta Carlos Venâncio, chefe da divisão de agrotóxicos do Ministério da Agricultura. Entretanto, a ANVISA afirmou que primeiramente estava focada na apreciação de produtos para combater a ferrugem da soja, conforme Venâncio. Segundo ele, ANVISA e IBAMA estariam com defasagem de técnicos para a demanda. A Anvisa informou, em nota, que vem solicitando sistematicamente ao Ministério da Agricultura a indicação de quais são os produtos substitutos para a broca do café a fim de que estes sejam priorizados. Infelizmente, o órgão afirma que a informação foi encaminhada somente na reunião do dia 3 de julho deste ano, três anos após a publicação da resolução. A nota diz ainda que avaliação toxicológica será priorizada, “todavia temos que atender a prioridade da ferrugem da soja que foi estabelecida anteriormente

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pelo Ministério da Agricultura e na qual a nossa equipe está envolvida”. De acordo com Venâncio, o Ministério da Agricultura está estudando a melhor forma para suspender o uso do produto. Na prática, serão aceitos como regulares os resíduos de endossulfan nas culturas para o qual ele hoje é registrado (café, cana-deaçúcar, algodão e soja). Após a data de 31 de julho de 2014 , o ativo estará totalmente proibido, afirma Venâncio. De acordo com a ANVISA, após o fim da comercialização do endossulfam, em 31 de julho de 2013, o produto começa a ser retirado em 15 dias, com prazo de 30 dias para a retirada total do inseticida em cooperativas e propriedades. O pesquisador da EPAMIG estima que o registro dos substitutos ao endossulfam deve sair ainda este ano. Caso isso não ocorra, “será um caos” para a cafeicultura diante de uma safra volumosa e preços baixos, observa. “Teremos novamente a broca se proliferando, é inevitável e extremamente grave”, disse Silas Brasileiro, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), que representa cooperativas e associações de cafeicultores. A incidência da broca hoje é considerada baixa, mas o dirigente do CNC estima que o problema vai aumentar diante dos preços baixos do café. Segundo ele, o produtor não estaria fazendo o repasse — como se fosse um “pente fino” na lavoura para não ficar grão no pé — favorecendo assim o aparecimento da broca. “Mesmo com colheita bem feita, teremos ataque de no mínimo 20% da produção nacional, cerca de 10 milhões de sacas que serão atingidas pela broca”, declara Brasileiro. Fonte do setor diz que a existência do inseticida proibido nas propriedades favorecerá eventuais aplicações ilegais, colocando em risco a imagem da cafeicultura nacional e também ameaçando a quantidade de sacas produzidas com certificação. Por outro lado, uma outra fonte afirma que não existe indicação de estoques do produto. Muitas cooperativas, que são as grandes compradoras do produto, pararam de adquirir o endossulfam há algum tempo, algumas antes mesmo do prazo de proibição de produção, segundo a fonte. E nunca existiu, do lado dos compradores internacionais, questionamentos sobre o uso do produto na cafeicultura. (FONTE: CNC Café / Rede Social do Café)


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Dez Questões que devem moldar e até mudar o mercado do Açúcar Marcos Fava Neves - Professor de Planejamento Estratégico e Cadeias Alimentares da Escola de Economia e Negócios da USP Universidade de São Paulo e palestrante internacional.

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açúcar é reconhecido mundialmente como a fonte básica de energia para o metabolismo, e o setor de alimentos e bebidas depende do açúcar. Este artigo tem como objetivo discutir os principais números dessa cadeia e compartilhar minhas principais questões quanto ao seu futuro. O consumo, de acordo com a Organização Internacional do Açúcar (ISO) e outras fontes, cresce em torno de 2% a 2,24% ao ano. Saiu de cerca de 143 milhões de toneladas consumidas em 2005/06 para 171 milhões em 2012/13. Os maiores consumidores de açúcar são Índia (23 mi t), União Europeia (19 mi), China (15 mi), Brasil (13 mi), EUA (10 mi), Federação Russa (5,8 mi), Indonésia (5,2 mi), Paquistão (4,7 mi), México (4,5 mi) e Egito (2,9 mi). O consumo médio pode crescer até 4 milhões de toneladas/ano, expandindo o mercado em cerca de US$ 1,6 bilhão (considerando um preço de US$ 400/t). Projeções com esse padrão de crescimento podem elevar o consumo de açúcar a 204 milhões de toneladas em 2021, sendo 131 mi produzidas e consumidas localmente e 73 mi exportadas, expandindo o mercado de exportação em 15 milhões de toneladas na comparação com 2013. A seguir-se o atual padrão, o mercado de importação de açúcar em 2021 poderá ser US$ 60 bilhões maior. No lado da produção, por causa da sua importância, quase todos os países produzem açúcar, seja a partir de cana-de-açúcar, de beterraba-açucareira ou outras fontes. A produção mundial de açúcar aumentou de 145 milhões de toneladas em 2005 para 175 milhões em 2012. Os maiores produtores são Brasil (39 mi), Índia (25 mi), União Europeia (17 mi), China (13 mi), Tailândia (10 mi), EUA (8 mi), México (6,5 mi), Rússia (4 mi) e Austrália (4 mi). O Brasil teve o

maior crescimento desde 2005, 40% (de 27 mi para cerca de 39 mi), enquanto o crescimento nos demais países ficou em torno de 16%. Isso fez com que a participação da produção brasileira aumentasse de 19% para 22% do total. A produção continuará crescendo no mundo, com uma estimativa de cerca de 206 milhões de toneladas para 2021. O Brasil respondeu por 50% do total de 58 milhões de toneladas de açúcar comercializadas em 2012/13, seguido por Tailândia (16%), Austrália (5%), Índia (4%), União Europeia (4%) e vários outros países, que somam os restantes 21%. As exportações brasileiras saltaram de 17 milhões para 28 milhões de toneladas nos últimos 7 anos, um crescimento de quase 60%, enquanto as exportações dos outros países caíram quase 6%. Os maiores importadores de açúcar em 2011 foram EUA (2,7 mi), Rússia (2,4 mi), Indonésia (2,2 mi), Índia (1,9 mi), China (1,9 mi), Irã (1,8 mi), Malásia (1,4 mi), Argélia, Coreia e Bangladesh (1,2 mi cada). As reservas correntes de açúcar estão altas devido aos três anos de produção acima da demanda. Os preços em 2013 estão na faixa de US$ 0,16 -0,17/libra-peso, o menor patamar dos últimos anos. Essa produção maior é uma reação às boas cotações de 2009 a 2011. Os preços atuais talvez desincentivem a produção, e os estoques devem ser usados nas próximas duas ou três safras, levando a um novo equilíbrio. Se o futuro imediato da cadeia de açúcar é relativamente previsível, o que esperar para os próximos dez anos? Depois desse panorama do mercado de açúcar, a segunda parte do artigo explora dez questões que eu acredito devem moldar e até mudar o futuro deste mercado: 1) - Os países asiáticos são responsáveis por 60% do crescimento no consumo. O consumo per capita de açú-

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car na China e na Índia, assim como em outros países populosos da Ásia e da África, é menor do que nos EUA, Europa e Brasil. O crescimento da renda/urbanização, que puxa o mercado de refrigerantes, chocolate e doces, sucos e vários outros produtos que utilizam açúcar, pode causar um enorme impacto nesses números. Para dar um exemplo, o consumo per capita da China corresponde a 40% da média mundial, e uma mudança de 5 kg/ pessoa na China criaria um mercado de 7 milhões de toneladas. Será que o consumo per capita crescerá nesses países a uma taxa maior, alterando a média anual de 2,4% de crescimento no consumo? 2) - A Índia foi responsável pela maior volatilidade no preço do açúcar, devido a uma variação na produção e também ao alto consumo. Com a pressão por terra e a necessidade de produzir mais grãos para o consumo interno, terá a Índia capacidade de expandir a produção de açúcar com vistas à demanda interna ou se concentrará mais em outras culturas para anteder a crescente população, consolidando-se como importadora de açúcar? 3) - Alguns países produtores de açúcar estão adotando misturas compulsórias de etanol na gasolina. A Índia deve começar uma mistura de 5% em 2013, e outros países como Tailândia, União Europeia, Austrália, México e Brasil já possuem ou estão discutindo a adoção de misturas. Como isso irá afetar a produção de açúcar, já que criará um mercado de etanol que compete pela cana e pela beterraba-açucareira? 4) - Com as atuais cotações do açúcar, a produção não é economicamente viável em algumas áreas e para alguns grupos da indústria. Quais indústrias (petrolíferas, empresas de comércio, indústria de alimentos etc.) e países terão condições de consolidar e liderar a expansão do açúcar com baixo custo total (produção + logística), aproveitando o crescimento dos mercados importadores? 5) - Que novas plantas ou tecnologias de produção podem surgir para dar um impulso a essa indústria açucareira tradicio-

nal e relativamente antiga? 6) - Embora a cana tenha custos de produção menores do que a beterraba-açucareira e outras fontes, será que os substitutivos, como os adoçantes (com seu próprio preço e estrutura de custos), e outras fontes de açúcar roubarão uma fatia do mercado da cana? 7) - A União Europeia tem uma produção de beterraba-açucareira altamente subsidiada. O que acontecerá nos próximos anos com a reforma da Política Agrícola Comum e como isso vai afetar o equilíbrio produçãoconsumo na Europa? O Brasil é o maior player neste mercado. Em torno de 40% a 60% da cana brasileira é destinada ao etanol, que é consumido principalmente no mercado interno pela crescente frota de carros flex fuel. Será que o etanol vai ser competitivo com a gasolina, desviando mais cana para o etanol no futuro e retirando açúcar do mercado internacional? 9) - Como as mudanças climáticas e as condições gerais do clima influirão na capacidade de produção de diferentes regiões? 10) - Já que tanto o milho como o açúcar são fontes de etanol, há uma crescente relação no preço dessas commodities; portanto, como os futuros preços do milho poderão afetar os preços e o consumo do açúcar? Da mesma forma, o petróleo e a gasolina competem diretamente com o etanol como combustível. E o etanol também está diretamente vinculado ao açúcar. Como os preços do petróleo afetarão os preços e o consumo do açúcar? Essas são as grandes questões a respeito do futuro da indústria do açúcar que eu queria partilhar com os leitores. Tentar respondê-las é um ponto de partida, mas não será fácil!


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rganizada pelo SinRural - Sindicato Rural de Passos, a 5ª SINAGRO - Feira de Agronegócios do Sudoeste Mineiro foi realizada no início do mês de agosto, no Parque de Exposições “Adolfo Coelho Lemos”, em Passos (MG). Em reunião de avaliação pós-feira, o presidente do SinRural e da CASMIL - Cooperativa Agropecuária do Sudoeste Mineiro, Leonardo Medeiros; o coordenador comercial da SINAGRO, Anselmo Figueiredo; o gerente do Banco do Brasil, Nilton Cesar de Resende; o gerente regional da EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural-MG, Edson Gazeta; e o tesoureiro do SinRural, Gilberto Cardoso confirmaram que a maioria dos 61 expositores ficou satisfeita com a organização desta edição da feira e também com as perspectivas de vendas futuras, mesmo com o cenário econômico nacional não contribuindo para vendas. “Muitas empresas fecharam excelentes negócios durante a feira e algumas não fecharam mas, entenderam a importância de estar presentes e garantiram espaço na mente dos consumidores”, disse. Como presidente da CASMIL, Medeiros aponta o crescimento nas vendas desde a primeira edição da feira. “Foi um crescimento de 125%. Na primeira nós tínhamos como intenção vender R$ 200 mil e foram feitos negócios de R$ 800 mil. Na segunda edição que participamos a expectativa era de R$ 1,5 milhão e vendemos R$ 1,8 milhão. Agora nossa proposta era de vender R$ 3 milhões e superamos com a negociação de R$ 4 milhões”, conta. Ainda conforme Medeiros, as empresas devem ir para feira com algum diferencial. “Nós da Casmil conseguimos de 10 a 28% de descontos junto aos laboratórios parceiros. Isso, aliado ao marketing feito junto aos produtores rurais, com certeza fez a diferença”, aponta. O gerente do Banco do Brasil, Resende conta que a agência de Passos fechou negócios da ordem de R$ 8 milhões e prospectou vários outros clientes que devem ir negociando ao longo dos próximos dias. “Na realidade a Sinagro é uma feira para mostrar nossos produtos. Entendo que o objetivo foi completamente consolidado. A feira marca presença no calendário nacional como uma das maiores do Brasil no ramo de agronegócio e nós, do banco, entendemos que a grande sacada da feira é defender a bandeira do setor agropecuário, que a propósito passa por uma crise nacional”, assegura Resende. O gerente da EMATER, Edson Gazeta explica que a feira de agronegócio não é apenas para vender, mas para troca de informações e de conhecimento. “Neste sentido a feira é positiva, não temos que ver apenas como um espaço para negociação de mercado, mas para informação e tecnologia. Vimos coisas aqui que há muito não víamos”, afirma Gazeta. O produtor rural Luciano Goulart Souza, de São João Batista do Glória (MG) deu nota 10 à feira. “Participei das duas últimas edições e, pra mim, como consumidor, está ex-

FOTO: Divulgação SINAGRO

5ª SINAGRO alcança os objetivos

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celente. Consegui comprar medicamentos para a fazenda já para os próximos oito meses com preço diferenciado”, disse. A coordenadora da COOPARAÍSO, Cidely Alves Sousa afirmou que a empresa fez excelentes negócios durante os dias da Sinagro. “Para nós está dentro das expectativas. O mercado está naturalmente retraído, e por ser cooperativa de café, as vendas estão ainda mais baixas, porém, conseguimos vender aproximadamente R$ 1 milhão em máquinas e implementos. Com certeza na próxima edição estaremos presentes”, garantiu. Para o iniciante no setor Marcos Roberto Barbosa, da GranMaq que trabalha com carreta refeitório e banheiro, entre outros produtos, a possibilidade de apresentar seus novos produtos foi ótima. “Estamos a pouco mais de um ano no mercado e vendemos cinco produtos que somam R$ 20 mil. Fizemos bons contatos e temos intenção de voltar nas próximas”, conta. Vinícius Estevão Martins, consultor de negócios da RRX Máquinas conta que foi a primeira edição em que participou e que considerou muito boa a receptividade, muito embora seus produtos sejam mais voltados para a construção civil. “Confesso que a SINAGRO foi uma vitrine para apresentarmos nossos produtos para Passos e região e ainda fizemos negócios de mais de R$ 800 mil. Com certeza nossa gerência deve aprovar nossa vinda na 6ª edição”, finaliza Martins.


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