Edição nº 89 março 2014

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HORTALIÇAS

O potencial da Piscicultura no Rio Grande

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O Estado de São Paulo é o maior produtor de tilápias do Brasil e o ritmo de investimentos está acelerado. Através de um decreto-lei, o governador Geraldo Alckmin acelerou a legalização das áreas de cultivo. Ao mesmo tempo, também o governo mineiro alterou a legislação ambiental do Estado e gerou crescimento na procura por novas áreas de cultivo. Como prova do fomento gerado pelos dois estados, está sendo instalado em Rifaina (SP) o maior frigorífico de pescados do mundo, comandado pela multinacional M.Cassab Foods.

Embrapa lança cultivar de tomate ‘Zamir’

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Desenvolvido pela Embrapa Hortaliças, o cultivar do tipo cereja alongado (grape) F1 BRS Zamir é um representante da nova geração de tomates nutricionalmente enriquecidos.

LEITE

Controle do carrapato na atividade leiteira

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Artigos de pesquisadores da Embrapa orientam sobre a importância do controle do carrapato Boophilus microplus, responsável por várias doenças no rebanho e na redução da produção.

EPAMIG indica até 45% de café “chocho” em MG

CAFÉ

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Ainda é incerta a exata dimensão dos expressivos prejuízos causados pela seca aos cafezais de Minas Gerais, mas a EPAMIG indica até 45% de grãos “chochos” em algumas propriedades.

Manejo de micronutrientes em cafeeiro

CAFÉ

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natureza sempre proporcionou ao ser humano uma vasta condição de exploração natural e econômica. Desde a domesticação de algumas raças animais, passando pela confecção de ferramentas e máquinas e, finalmente, a adoção de técnicas de preparo do solo para o plantio de grãos e outras plantas, o ser humano obteve êxito para a produção de alimentos e também a geração de renda. Mesmo com o domínio das técnicas de criação e reprodução de peixes, porém, o ser humano demorou a enxergar nesta atividade o grande potencial econômico e gerador de renda e de empregos que é. ‘Podado’ inicialmente pela legislação ambiental, somente com o apoio governamental a atividade passou a tomar novos rumos. Com isto, praticamente todos os grandes lagos de hidrelétricas do Estado de São Paulo, com divisas com Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Paraná passaram a atrair investimentos vultosos na criação e instalação de empresas para o processamento de pescados. Destaque para o frigorífico M.Cassab, em Rifaina (SP), sendo considerado o maior do mundo. Já prevendo a importância da atividade, lembramos o destaque que a Revista Attalea Agronegócios deu ao publicar, há 7 anos atrás, matéria sobre a AAMOG - Associação dos Aquicultores do Médio Rio Grande, com sede e unidade de processamento em Cássia (MG) e com mais de 30 criadores de peixes. Nesta edição, também, destaque para os efeitos na cafeicultura da Alta Mogiana e em Minas Gerais. Informações importantes sobre a queda na safra, redução na infestação de ferrugem e o incrível aumento do percentual de grãos “chochos” nos cafezais. Na atividade leiteira, destaque para a importância do controle do carrapato Boophilus microplus e os danos causados por este agente. Destacamos, ainda, a ampliação de atuação da Revista Attalea Agronegócios em feiras do setor agropecuário. Além da participação (já comum) na AGRISHOW, a equipe da revista estará presente com estande próprio na HORTITEC, em Holambra (SP) e na EXPOCAFÉ, em Três Pontas (MG). Boa leitura a todos!!

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Artigo do pesquisador Renato Passos Brandão, do Grupo Bio Soja, orienta o cafeicultor a otimizar os seus investimentos e aumentar a rentabilidade da atividade cafeeira.

Syngenta comercializa novas variedades

CANA

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Aproveitamento dos recursos naturais e os efeitos do clima

DESTAQUE: Piscicultura

EDITORIAL

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Empresa desenvolve variedades de cana de açúcar dentro da plataforma de tecnologia de plantio PLENE, para viveiros pré-primários e mudas pré-germinadas.


EVENTO

BTS INFORMA busca conforto e comodidade e implementa mudanças na AGRISHOW 2014

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ara que a visita seja mais produtiva e aprimore a experiência dos visitantes durante a Agrishow 2014, a BTS Informa, organizadora do evento vem implementando, ano após ano, soluções que tragam mais conforto e comodidade a quem percorrerá os 440 mil m2 da exposição. Para a edição deste ano, a sistemática de regionalização foi aperfeiçoada ainda mais. Trata-se de uma iniciativa criada para agrupar expositores de um mesmo segmento de mercado, de forma que o interessado por produtos ou soluções gaste menos tempo em sua busca. Seguindo as avaliações resultantes de pesquisas feitas com os visitantes e também expositores da edição anterior, foi confirmada a boa aceitação da iniciativa e por isso reforçada para 2014. A Agrishow conta com os seguintes segmentos que foram regionalizados: aviação; irrigação; ferramentas; automotivo; ônibus; caminhões e implementos para trans-

FOTO: Divulgação AGRISHOW

Fortalecimento da regionalização, unificação de pavilhões e nova entrada de caravanas.

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NOTÍCIAS

Lançado o “Franca (SP) - Cidade do Cavalo” FOTO: Prefeitura de Franca

Kontentor customiza tronco de contenção

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FOTO: Syngenta

Syngenta lançou este mês no Brasil do fungicida ELATUS™, uma das mais importantes inovações já produzidas para o controle da ferrugem asiática. O Brasil é um mercadochave para o lançamento devido à importância da cultura da soja para a economia do país, sendo o segundo maior produtor e exportador mundial da cultura. A produção de soja no Brasil é responsável por 49% da área utilizada para o plantio de grãos e a ferrugem asiática já provocou perdas nas safras estimadas em US$ 20 bilhões, desde 2001. A tecnologia oferece um modo de ação de amplo espectro e um excelente controle sobre a ferrugem. O ELATUS™ tem como base a nova molécula da Syngenta, SOLATENOL™, misturada com o fungicida AMISTAR®. INF.: www.syngenta.com

Alltech realiza 30º Seminário Internacional

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xplorar as oportunidades e desafiar não apenas o presente, como o futuro são alguns dos propósitos do 30° Simpósio Internacional Anual da Alltech, que acontece entre 18 e 21 de maio em Lexington, Kentucky (EUA). Com o objetivo de levantar questionamentos, o evento contará com temáticas inovadoras, baseando-se nas necessidades que o mercado busca e o que a Alltech visa oferecer. Uma das divisões da Empresa, a Crop Science, trará novidades para a agricultura e discutirá os principais assuntos que propiciam um crescimento sustentável. Outra temática importante a ser discutida é o potencial e as oportunidades do continente africano, não apenas na agricultura, como também na tecnologia. Para complementar o quadro de inovações, a Alltech apresenta a capacidade das Algas de se transformarem uma fonte promissora de DHA (Ômega 3). INF.: www.pt.alltech.com/symposium FOTO: Alltech

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Prefeitura de Franca (SP) lançou neste mês de março o projeto “Franca (SP) - Cidade do Cavalo”. Trata-se de uma proposta de promover o nome da cidade de Franca (SP) e região através do apoio, organização, promoção e realização de todos os tipos de atividades equestres já existentes, como as provas de Hipismo Clássico (salto), Três Tambores, Team Penning, as Corridas Hípicas, as Cavalhadas da Franca, os jogos no Pólo Clube, além dos amantes de Cavalgadas e Encontros de Muladeiros. Estão sendo convidadas todas as empresas e atividades equestres que atendam a legislação sanitária brasileira, fiscalizadas pela equipe da Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo. INF.: www. facebook.com/FrancaCidadedoCavalo

contatos FABIANO FERNANDES SILVA (ca.pedregulho@cati.sp.gov.br) Engenheiro Agrônomo - Pedregulho (SP). “Gostaria de assinar a revista.”. MURILO NASCIMENTO DUARTE (murilonasc@live.com) Cafeicultor e Estudante de Agronomia - Ituverava (SP). “Gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”. FRANCISCO JOSÉ MARTINS (roselicaroli@yahoo.com.br) Pecuarista de Leite - Patrocínio Paulista (SP). “Mudei-me de Batatais (SP) para Patrocínio Paulista (SP) e solicito mudança de endereço para continuar recebendo a Revista Attalea Agronegócios”. SOMAR PROD. AGROPECUÁRIOS (bruno.terra@somarag.com.br) Revenda de Insumos - São Sebastião do Paraíso (MG). “Sou estudante na ETEC Prof. Carmelino Corrêa Jr. e gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”. JORGE VANDERLEI SILVA (jorgevanderlei38@hotmail.com) Técnico em Agricultura - Guaxupé (MG). “Gostaria de fazer o cadastro e assinar Revista Attalea Agronegócios. VINICIUS C. BARCELLOS GARCIA (viniciuscostabgarcia@yahoo.com.br) Estudante Técnico em Cafeicultura Franca (SP). “Gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”. DONIZETE DOS REIS BARBOSA (donizetecarregue@gmail.com) Cafeicultor - Franca (SP). “Gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios”. JOSÉ ROBERTO MARTINS (martins.rcm@globo.com) Representante Comercial - São João da Boa Vista (SP). “Gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”. LUCAS WELSH MIRANDA (lucas@nutrinorte.com.br) Supervisor Comercial Nutrinorte - Franca (SP). “Gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios”.

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bordo; máquinas para construção, pecuária, pneus, agricultura de precisão; armazenagem e plots. Outra melhoria significativa para a edição de 2014 será a unificação dos pavilhões cobertos, área que foi ampliada e contará com uma nova e moderna cobertura, totalizando 9.000 m2 de área. A localização também mudou e agora ficará mais próxima a entrada da feira. O pavilhão contará ainda com uma cobertura asfáltica, que deve favorecer a circulação de expositores e visitantes pelo espaço. A Revista Attalea Agronegócios estará presente neste Pavilhão Coberto Unificado e receberá os visitantes com um brinde especial. Além disso, está sendo promovida ainda uma ampla reforma da praça central da feira, assim como uma revitalização completa dos canteiros da avenida D, a principal da exposição. As praças de alimentação serão igualmente ampliadas para garantir mais conforto aos expositores e visitantes. Uma alteração no sistema de transporte interno dos visitantes que integram caravanas também deve propiciar mais conforto. Neste ano, quem for visitar a Agrishow 2014 em caravanas poderá, com o apoio de um monitor designado pela direção da feira, acessar, com o próprio ônibus que o trouxe, a portaria mais próxima do estande da empresa que o convidou. Ao deixar o evento, o visitante poderá utilizar tanto a saída norte quanto a saída sul para pegar o transporte da feira em direção ao local onde seu ônibus ficará estacionado. Também em relação à estrutura da sala de imprensa, os organizadores preparam melhorias. O Centro de Mídia, por

FOTO: Editora Attalea

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exemplo, onde ficam instalados os jornalistas, será ampliado e está sendo construída uma nova sala para entrevistas coletivas, que será mais espaçosa e confortável. Tudo para melhorar ainda mais a ação dos visitantes: produtores rurais, profissionais do setor e jornalistas.

MAIS INFORMAÇÕES 21ª AGRISHOW – Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação Data: 28 de abril a 02 de maio de 2014 Local: Rodovia Antônio Duarte Nogueira, Km 321 Ribeirão Preto (SP) Horário de Funcionamento: das 8h às 18h www.agrishow.com.br


EVENTOS

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rodutores de todo o país já estão na expectativa pelas novidades na área de tecnologia agrícola que estarão em exposição durante a HORTITEC - Exposição Técnica de Horticultura, Cultivo Protegido e Culturas Intensivas. A feira ocorre entre os dias 28 a 30 de maio, no Pavilhão da Expoflora, em Holambra (SP). No ano passado, em uma área de exposição superior a 40 mil metros quadrados, foi contabilizado público superior a 24 mil pessoas, que conferiram o que há de mais inovador em tecnologia agrícola, ferramentas, estufas, embalagens, vasos, telas, defensivos, fertilizantes, irrigação, sementes, mudas, bulbos, substratos, climatização, biotecnologia, assessoria técnica e em comércio exterior, literatura e produtos importados em mais de 370 estandes de expositores do Brasil e do exterior. A Revista Attalea Agronegócios, pelo primeiro ano, participará com estande próprio, apresentando em sua revista as novidades agropecuárias das regiões da Alta Mogiana, Triângulo, Sul e Sudoeste Mineiro.

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FOTO: Divulgação HORTITEC

Produtores rurais aguardam as novidades tecnológicas da Hortitec 2014

Estande da Sakata, empresa produtora de sementes de hortaliças.

equipamentos e implementos agrícolas, com mais de 70 anos de tradição no mercado. No ano passado, a empresa apresentou a Plantadora de Hortaliças JM2400 Natura, concebida com foco na precisão de plantio. “Este equipamento trouxe como principais avanços no ano passado, o plantio em linhas duplas com distribuidores de sementes individuais para cada linha e um novo distribuidor de sementes, indicada para pequenas, médias ou grandes áreas, podendo plantar até 4 ha/dia na configuração de 07 linhas, concebido especialmente para o plantio de hortaliças”, disse Fabio Chencci, gerente de engenharia da empresa.

AS EMPRESAS - A Agritech, fabricante da mais completa linha de tratores e cultivadores motorizados da marca Yanmar Agritech destinados às culturas de frutas, horticultura, floricultura, buscando fortalecer a produção no campo por meio da mecanização das propriedades. No ano passado, a empresa apresentou como destaque o modelo 1175 Agrícola Versão Cultivo, com potência 75cv, trator com grande capacidade, boa manobrabilidade, econômico e que possibilite o uso de vários tipos de implementos para tratos culturais. E o modelo Agristar 1235, com 30cv, um trator leve, com melhor performance, baixo consumo de combustível, baixa emissão de poluentes e apto para rodar com biodiesel B5. Os visitantes também esperam novidades no estande da Jumil, empresa sediada em Batatais (SP), especializada em FOTO: Divulgação HORTITEC

FOTO: Divulgação JUMIL

CAMPO EXPERIMENTAL - No ano passado, um dos destaques da feira ficou do lado de fora. Distante cinco quilômetros, foi montado um campo experimental de tomates pela empresa Agristar, onde foram demonstradas quatro novas variedades (Caribe, Vento, Centenário e Pioneiro), com frutos maiores e mais resistentes. Fica a expectativa para que este ano novos campos experimentais sejam montados.

Campo Experimental de Tomate organizado pela Agristar, em 2013.

Plantadora de Hortaliças JM2400, da Jumil, lançada no ano passado


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cadeia produtiva de tomate para consumo in natura ganhou mais um reforço com o recente lançamento de uma nova cultivar do tipo cereja alongado (grape): o híbrido F1 BRS Zamir, desenvolvido pela Embrapa Hortaliças (Brasília-DF). Esse híbrido é representante de uma nova geração de tomates nutricionalmente enriquecidos, ao mesmo tempo em que conserva todas as principais características típicas do segmento “grape” (textura, sabor e cor). “A demanda por tomates especiais, do tipo “gourmet”, tem crescido muito no Brasil. O desempenho do híbrido BRS Zamir, tanto na parte sensorial, conservação pós-colheita, como na produtividade, comprovadas em testes realizados em Goiás e São Paulo, colocam esse híbrido entre os melhores materiais genéticos em termos de desempenho agronômico”, avalia o pesquisador Leonardo Boiteux, coordenador do Programa de Melhoramento de Tomate da Unidade de pesquisa. Com relação a nutrientes, o BRS Zamir também apresenta vantagens como os elevados teores do carotenoide licopeno, em torno de 114 mg/kg de peso, o que confere ao tomate maior quantidade do antioxidante tido como um dos mais eficientes na prevenção de doenças degenerativas e cardiovasculares. De acordo com o pesquisador, do ponto de vista do consumidor, esse é um aspecto importante, mas não o único. “Além da nutrição antioxidante, os frutos desse híbrido apresentam uma combinação bastante equilibrada entre os teores de açúcares e ácidos, resultando num excelente impacto sensorial/gustativo. Essas características fazem desse tomate um dos mais saborosos dentro do segmento ‘grape’. Para os produtores rurais, essas vantagens são agregadas a outros componentes de cultivo, a exemplo da produtividade e durabilidade pós-colheita: são em média oito qui-

FOTOS: Divulgação EMBRAPA

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‘Zamir’ é a nova cultivar de tomate tipo “grape” lançada pela EMBRAPA

los por planta e duração de até 15 dias na prateleira, após ser colhido. O material, segundo Boiteux, possui um gene que estimula a bifurcação dos cachos e aumenta o número de frutos por penca, o que o torna extremamente atrativo para o produtor. “O BRS Zamir foi testado por grandes produtores de tomate de Goiânia e teve uma excelente aceitação”, registra. CULTIVO - O cultivo protegido é preferencialmente recomendado para o novo híbrido, embora, com manejo adequado, o plantio em campo aberto não diminua as suas qualidades. O pesquisador José Mendonça, um dos integrantes da equipe de lançamento do híbrido BRS Zamir, recomenda, no entanto, que seja priorizado o cultivo na época de sequeiro, durante os meses de maio a setembro, quando costuma haver menos chuva. A cultivar BSR Zamir foi desenvolvida via contrato de parceria em pesquisa e desenvolvimento agropecuário celebrado entre a Embrapa Hortaliças e a empresa Agrocinco Comércio de Produtos Agropecuários Ltda. O contrato é regido pelos termos da Lei nº 10.973, de 02 de dezembro de 2004, e pelo Decreto nº 5.563, de 11 de outubro de 2005, que dispõe sobre incentivos à inovação e garante exclusividade de comercialização das sementes pela empresa Agrocinco.


HORTALIÇAS

‘Hozan’ é uma cultivar de alho indicado para pequenos horticultores

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FOTO: Divulgação EMBRAPA

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om o intuito de oferecer ao pequeno produtor de alho um material produtivo e uniforme, a Embrapa Hortaliças lançou a cultivar BRS Hozan. O material foi obtido por meio de seleção clonal, que é quando uma planta se destaca em comparação às outras e, por isso, é multiplicada para gerar, assim, clones da planta original. Neste caso, somado à seleção, houve um aperfeiçoamento do material, que passou por um processo de limpeza de vírus para garantir sua qualidade fisiológica e sanitária e, assim, contribuir para o estabelecimento de uma lavoura vigorosa e uniforme. Considerado um alho semi-nobre, o BRS Hozan apresenta alta qualidade de bulbos (cabeças) e, nas condições tropicais do país, dispensa a vernalização - tratamento no qual o alho-semente fica armazenado por um período em câmara fria, com temperatura entre 3 e 5ºC. “A vernalização substitui a ausência de frio no campo e minimiza os impactos do clima quente no desenvolvimento da cultura. Como o alho BRS Hozan não necessita desse tratamento, ele é uma opção para o pequeno agricultor devido ao menor custo de produção, já que não há necessidade de investir em câmaras frias”, analisa o pesquisador Francisco Vilela. Outra vantagem do alho BRS Hozan é a aparência do bulbo que, quando comparada aos materiais de alho comum, geralmente plantados pelos pequenos produtores, destacamse pela homogeneidade, já que os bulbilhos (dentes) se encaixam perfeitamente na estrutura do bulbo. “O alho BRS

Hozan apresenta uma média de 15 bulbilhos, grandes e de qualidade. Por isso, ele é indicado para substituir cultivares com número excessivo de bulbilhos e baixa aceitação comercial”, recomenda Lenita Haber, analista de Transferência de Tecnologia da Unidade. Além de apresentar, em condições de campo, resistência parcial à mancha-púrpura e à ferrugem do alho, com manejo adequado, a produtividade do BRS Hozan pode ultrapassar 13 toneladas por hectare. Do ponto de vista da indústria processadora e do consumidor, o novo alho também agrada pelo aroma e sabor acentuados, facilidade de descascar e elevador teor de sólidos solúveis, que confere ao material boa aptidão para processamento.


LEITE

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Amaury Apolonio de Oliveira1, Hymerson Costa Azevedo1 e Tânia Valeska Medeiros Dantas1

carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus é um parasito externo que vive parte de sua vida sobre os bovinos (vida parasitária), alimentando-se de sangue e, quando infectado, transmite hematozoários, principalmente dos gêneros Anaplasma e Babesia, que vão infectar o animal. O Boophilus microplus causa muitos prejuízos pela ação espoliativa de ingestão de sangue, por lesões na pele, condicionando ao aparecimento de infecções secundárias com consequente desvalorização do couro do animal parasitado e pela transmissão dos hematozoários. Outras perdas relacionadas com esse parasito são diminuição de peso, redução da produção de leite, queda da natalidade, aumento da mortalidade e dos custos de mão de obra e materiais, principalmente na premunição e no tratamento da tristeza parasitária bovina (TPB). Com a contínua especialização da atividade leiteira, os problemas têm aumentado principalmente nos rebanhos de criação semiconfinada e naqueles criados a pasto, com um elevado padrão genético, principalmente das raças europeias. Sobre o animal estão carrapatos machos e fêmeas que se acasalam na fase adulta. Após o acasalamento, a fêmea ou “teleógina”, também chamada de jabuticaba ou mamona, ingere uma quantidade relativamente grande de sangue (cerca de 0,5 mL). Desprendem-se do animal e vão se localizar em lugares úmidos e ao abrigo da luz. Três dias após, iniciam a fase de postura por aproximadamente 18 dias, seguindo-se pela eclosão das larvas, fase que pode chegar a 30 dias. Decorridos aproximadamente cinco dias, essas larvas adquirem a capacidade para caminhar até atingir a extremidade do capim (geotropismo negativo) para infestar os bovinos e iniciarem a fase parasitária, alcançando a vida adulta dentro de aproximadamente 21 dias, quando novamente voltam ao solo, para pôr ovos e assim sucessivamente. Neste processo, O ciclo completo do carrapato dá ensejo a várias gerações por ano deste ectoparasito. Em climas quentes ocorre uma média de quatro a cinco gerações. O esquema mais utilizado do controle estratégico é iniciado nos meses mais quentes do ano pela aplicação de cinco a seis banhos com intervalos de 21 dias ou de quatro aplicações “pour on” com intervalos de 30 dias. O sucesso desses banhos está na tomada de algumas precauções: o bico do pulverizador deve ser em leque, forte, fino e com pequenas gotículas e estar funcionando adequadamente; todos os animais do rebanho devem ser banhados ao mesmo tempo ou num intervalo máximo de quatro dias; para a mistura, o carrapaticida deve ser adicionado de acordo com as recomendações do fabricante, em aproximadamente três litros de água e homogeneizado por dois a três minutos.

AUTORES

1 - Pesquisadores da Embrapa Tabuleiro Costeiros (Aracaju-SE)

FOTOS: EMBRAPA

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A importância do controle do carrapato na atividade leiteira

Aspecto do úbere traseiro de uma vaca de leite totalmente infestado por carrapatos.

À medida que se adiciona a água ao pulverizador, continua-se com o processo de homogeneização, a fim de que o carrapaticida sofra realmente um processo completo de diluição; para pulverizar, o produtor deve escolher um horário e local sem ventos e sol e que permita amarrar os animais. A pressão do jato deve ser suficiente para atravessar os pelos, atingindo e molhando a pele, sem machucar o animal; os animais devem ser contidos para o banho e o líquido deve atingir todo o seu corpo, especialmente as regiões de maior localização dos carrapatos; somente banhar animais na dosagem recomendada pelo laboratório fabricante

Banho de carrapaticida em vacas leiteiras.


EVENTOS LEITE LEITE

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FOTOS: EMBRAPA

LEITE

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Fêmeas adultas do carrapato Boophilus microplus.

para a obtenção do efeito terapêutico e profilático do produto; cada animal deverá ser pulverizado com a quantidade do produto especificada pela bula. No caso de que um pulverizador costal de 20 litros seja suficiente para quatro animais, recomenda-se que o produtor amarre-os e pulverize-os de uma por vez. A troca do produto carrapaticida deverá ser realizada quando for comprovada a resistência da população de carrapatos. Uma maneira prática de avaliar a resistência dos carrapatos ao produto carrapaticida é a seguinte: trinta teleóginas fêmeas, completamente ingurgitadas ou cheias de sangue, são retiradas dos bovinos sendo divididas em dois grupos de quinze; o primeiro grupo é colocado por cinco minutos na solução que vai banhar os animais; o segundo grupo é colocado em água, pelo mesmo tempo; ambos os grupos são colocados em caixinhas de fósforo ou recipientes de plástico e ao abrigo do sol; a partir do sétimo dia, não havendo resistência, ou seja, o produto sendo eficiente, as fêmeas banhadas morrerão ou colocarão poucos ovos, escuros e secos, enquanto aquelas não banhadas colocarão muitos ovos, aderidos, brilhantes e marronsclaros. As alternativas de combate ao problema, sobretudo ao con-

Macho do carrapato Boophilus microplus.

trole dos carrapatos onde a resistência está consolidada vêm sendo objeto de várias frentes de estudo com perspectivas bastante significativas a julgar pelas respostas alcançadas nas condições laboratoriais. A eficiência das vacinas vem sendo consideravelmente aumentada por meio da tecnologia molecular por meio de antígenos recombinantes de Boophilus microplus, entre outros, aumentando a resistência de diferentes grupos genéticos de bovinos. O controle natural pela ação dos fungos na infecção dos diferentes estágios dos carrapatos desde a ovoposição até as fêmeas ingurgitadas ou teleóginas, embora nas condições de campo a sua eficiência não seja ainda desejável. Resultados interessantes têm sido alcançados pelos métodos genômicos na adaptação de bovinos a ambientes onde o carrapato se mostra resistente aos métodos convencionais. Os biocarrapaticidas a base de extratos de diferentes óleos essenciais de plantas reconhecidamente acaricidas têm apresentado uma ação eficiente na fase parasitária e em laboratório, sendo necessários estudos mais apurados que possam mostrar uma eficiência mais prolongada e preços mais competitivos. Todas as novas alternativas de combate aos carrapatos são no sentido de reduzir a resistência existente frente aos carrapaticidas e possibilitar o uso de produtos de grande eficácia com menor risco de toxidez para o animal, o homem e o meio ambiente.


PISCICULTURA

Potencial da piscicultura na bacia do Rio Grande aqüicultura é o cultivo de organismos cujo ciclo de vida ocorre total ou parcialmente na água. Existem diferentes tipos de criação, tais como a carcinicultura (cultivo camarões), a malacocultura (cultivo de ostras, mexilhões e outros moluscos), a ranicultura (criação de rãs), a piscicultura (criação de peixes) e tantos outros. Dentro das atividades agropecuárias a aqüicultura é a que mais cresce, numa média mundial de 8% ao ano. A pesca a nível mundial vem decaindo desde a década de 80, culpa da super exploração dos estoques pesqueiros. Apesar dos grandes investimentos em tecnificação, os custos de captura do pescado estão subindo ano a ano. Isso fez com que o mundo se voltasse para a produção de pescado. No Brasil, a piscicultura tem crescido num ritmo aceleradíssimo, onde os dados do Ministério da Pesca e Aquicultura apontam um aumento de 62% da produção de peixe entre os anos de 2011 e 2013. Atualmente o país vive um frenesi de investimentos, oriundos de capital privado e públicos. Exemplo disso é o Plano Safra, onde o governo disponibilizou R$ 4 bilhões de reais para investimentos na área. O consumo de pescado também está impulsionando os produtores. Os dados do Ministério apontam um crescimento de 23,7% no consumo de pescado, entre 2009 e 2011, e a tendência se manteve nos anos posteriores. No Sudeste não é diferente. O estado de São Paulo já é o maior produtor de tilápia do Brasil e o ritmo de investimentos está muito acelerado. Em 2013 o governo do estado assinou um decreto de lei que acelera a legalização das áreas de cultivo, o que impulsionou a piscicultura no estado. Minas Gerais alterou sua legislação ambiental e isso já gerou um crescimento na procura por novas áreas de cultivo. O governo está fomentando a estruturação da cadeia produtiva do pescado no estado, pois entende seu potencial. Em nossa região temos a bacia do Rio Grande, cujas águas têm uma transparência grande devido a pouca concentração de nutrientes, além de uma temperatura média anual de 25°C, o que torna o ambiente adequado para a produção em tanques-rede. Todavia percebesse um grande potencial de desenvolvimentos e poucos projetos de grande porte. Considerando as represas de Jaguara, Estreito e Peixoto

AUTOR

1 - Engenheiro de Aquicultura, Supervisor Comercial na empresa Nutrinorte Nutrição Animal, Franca (SP). lucas@nutrinorte.com.br.

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FOTO: Nutrinorte - Lucas

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Lucas Welsh de Miranda1

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Criação de tilápias em tanques-rede em represa no Rio Grande.

temos um potencial de produção de milhares de toneladas ano, mas ainda estamos produzindo uma pequena parcela deste montante. As cidades com a maior quantidades de projetos nesta região são Rifaina (SP), Ibiraci (MG), Delfinópolis (MG) e Cássia (MG), sendo que a maior parte deles ainda é voltada para os mercados locais. Atualmente o maior projeto de piscicultura do país está alocado em Rifaina, onde está sendo construído um frigorífico de pescado. Na região de Cássia temos o exemplo da associação de piscicultores que está com um frigorífico praticamente pronto. Ambos os projetos trarão novos horizontes para os piscicultores da região, uma vez que o filé de peixe atinge mercados antes inalcançados pelos produtores. Hoje o desenvolvimento das rações e as novas linhagens genéticas da tilápia estão tornando a produção em tanque-rede a mais eficiente e cada vez mais barata. O aumento da quantidade de fornecedores de tanques-rede também contribui para a redução do custo de implantação dos projetos. Por fim, um dos maiores gurus da gestão, Peter Drucker, declarou: “A aquicultura, não a Internet, representa a oportunidade de investimento mais promissora do século XXI”. Ele visualizou essa oportunidade a mais de uma década e hoje vemos que ele realmente tinha razão quando disse com tanta ênfase sobre tal mercado. Sem dúvida não faltam oportunidades para investir em projetos de aqüicultura e precisamos de empreendedores com visão de mercado e vontade para aprender sobre essa tão recente atividade em nosso país.


PISCICULTURA

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ão Paulo tem potencial para produzir 600 mil toneladas de peixes de água doce por ano apenas em represas de hidrelétricas (cerca de um milhão de hectares ou um quinto das represas de hidrelétricas de todo o Brasil). Atualmente, o Estado produz apenas 45 mil toneladas de peixes na aquicultura, por causa da impossibilidade de se conseguir a licença ambiental, diz o pesquisador João Donato Scorvo Filho, do Polo Leste Paulista/APTA Regional, vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA). Desse total, cerca de 80% são peixes produzidos nas represas das hidrelétricas, porém de forma “ilegal”. Os principais reservatórios de hidrelétricas no Estado estão no Rio Grande (Igarapava, Estreito, Volta Grande, da Cemig, na região de Franca, divisa com Minas Gerais); no Rio Paraná (Jupiá e Ilha Solteira); Rio Paranapanema (represas da Ducky Energy e da Cesp); Rio Tietê (da AES); e Rio Paraíba do Sul (Paraibuna, da Cesp), além de represas pequenas. Até o início do século 21, pisciculturas em viveiros escavados sustentavam a atividade em São Paulo, com destaque para as regiões do Vale do Ribeira, Paranapanema e de São José do Rio Preto. No final da década de 1990, existiam cerca de três mil pesqueiros para lazer no Estado, relata Scorvo. “Essas pisciculturas criavam grande diversidade de peixes para abastecer, principalmente, o mercado de ‘pesque-pagues’. Com as crises econômicas no início do século, fechou-se a maior parte dos pesqueiros.” A piscicultura paulista já era grande, com criações em fazendas particulares, acrescenta o diretor comercial da M. CASSAB Foods, Silvio Romero Coelho. “Não havia percepção de ‘cadeia’, pois as ações eram individualizadas, e muito poucas empresas dedicavam-se ao processamento e filetamento.” Em outras palavras, não se observava ainda o elo final da cadeia – processamento/industrialização e foco específico no consumidor final – explica ele. “O cliente final das pisciculturas era o pesque-pague... A tendência começa a ser evidente já a partir de 2000-2003, quando vários projetos de frigoríficos são discutidos e implantados.” De fato, nos últimos 20 anos, a piscicultura passou por grandes transformações, tornando-se uma atividade econômica relevante, observa Scorvo. Os pesqueiros ganharam estrutura mais diversificada, associada a restaurantes, hotéis etc.. O grande salto veio com as exportações que exigiam a montagem de processadoras e, mais recentemente, com o fortalecimento do mercado interno, prossegue o pesquisador. “Além dos pesqueiros, os tanques-redes começaram a atender o mercado de peixe fresco e também as processadoras (produção de filé de tilápia, por exemplo), mas diminuiu a diversidade de peixes.” De acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), em 2010, o Estado de São Paulo produziu 79,262 mil toneladas de pescado (extração e criação), das quais 45 mil toneladas (57%) oriundas da aquicultura e 34 mil (43%) da pesca. Das 45 mil toneladas da aquicultura, ínfimas 150 toneladas foram tiradas da água salgada. Em 2000, segun-

FOTO: APTA-SP / SAA-SP

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São Paulo pode aumentar em mais de 10 vezes a produção de peixes

do o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), a produção foi de 57 mil toneladas de pescado (67% ou 38 mil toneladas originárias da pesca e 33% ou 19 mil toneladas da aquicultura). Isto significa que nesse período houve uma inversão entre as produções da aquicultura (tilápia, por exemplo) e da pesca (sardinha, camarão, etc.), resume Scorvo. A produção paulista é inteiramente comercializada dentro das fronteiras do Estado, complementa Coelho. “Isto traz outra vantagem que vai ao encontro da tendência mundial de buscar produtos com ‘menor pegada de carbono’ (produtores estão próximos do consumo), ou seja, produção local para atender mercado local. São Paulo tem vocação para criar peixes subtropicais e tropicais, é o maior consumidor, tem a maior renda e, além disso, concentra a maioria dos centros de pesquisa e universidades. Todo esse arcabouço faz com que a atividade seja sustentável, ambiental, social e economicamente.” CRESCIMENTO PEQUENO - No cenário nacional, o crescimento ainda é pequeno diante do potencial do País, observa Scorvo. Quando o governo federal criou em 2003 a Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (SEAP), uma das metas era produzir cerca de dois milhões de toneladas de produtos aquícolas. Em 2011, a produção brasileira atingiu 1,3 milhão de toneladas de pescado, dos quais 480 mil toneladas (36%) da aquicultura (os outros 64% são produtos da pesca). Em 2000, a produção somava 850 mil toneladas (78% da pesca e 22% da aquicultura). Para 2012, Scorvo estima uma produção de 600 mil toneladas para a aquicultura, ainda distante da meta de 2015. O Brasil importa dois terços das suas necessidades (US$ 1,116 bilhão de produtos de pescado em 2011), mesmo consumindo apenas 9 kg per capita (a recomendação da FAO/ ONU é de 12 kg), pondera Coelho. “Tanto as importações quanto o consumo de pescado crescem 30% ao ano no país.” De fato, o brasileiro ainda come pouco peixe, concorda


Scorvo. “Na verdade, são poucos os que comem, mas estes comem bastante. Nas últimas duas décadas, os pesque-pagues foram os grandes disseminadores do hábito. Mas, hoje, o que dificulta esse hábito alimentar é principalmente a falta de peixe.” Além de suprir o mercado interno, outra oportunidade para o setor é o mercado externo, sugere Scorvo. Em 2010, o Brasil exportou 38 mil toneladas e importou 285 mil toneladas, um saldo negativo de 247 mil toneladas que é equivalente a mais de 50% do que foi produzido com aquicultura. Ou seja, “existe espaço para a substituição de importações e aumento das exportações, principalmente para o mercado europeu”. LICENÇA AMBIENTAL - Entre as razões porque o peixe é caro no Brasil, Silvio Coelho destaca a falta de escala na produção; a alta tributação (em cascata); e o alto custo da cadeia de frios (exige logística bem montada). Para Scorvo, a lentidão no avanço do setor deve-se principalmente à questão ambiental. Desde a primeira legislação, em 1998, para o uso de reservatórios, luta-se pela atualização das normas de maneira a permitir o recebimento da licença ambiental. “A licença ambiental é o início de tudo”, diz o pesquisador, “desde o financiamento em banco e o acesso a políticas públicas (linhas de crédito especiais, assistência técnica, etc.) até a implantação de fábricas de equipamentos, desenvolvimento de novas tecnologias etc.. A ´ilegalidade´ gera insegurança nos investidores.” Com isso, não se pode adotar tecnologias mais avançadas, investir na formação de profissionais e criar um mercado mais amplo que permita a produção em escala tanto para o consumo doméstico quanto as exportações. Coelho reconhece os avanços no setor com a criação da SEAP, atual Ministério. “Hoje, o processo está organizado, tem-se um ordenamento do que fazer em aquicultura. O MPA conseguiu estabelecer uma sequência lógica do processo de cessão de área junto aos diferentes órgãos do governo federal (antes, o produtor ficava perdido, indo e voltando aos diversos escritórios). Então, o MPA recebe toda a documentação exigida e encaminha para a Marinha do Brasil, ANA (Agência Nacional de Águas), IBAMA, SPU (Secretaria do Patrimônio da União)” INFORMAÇÃO E TECNOLOGIA - Como a visão de cadeia produtiva é extremamente recente, tem se desconhecimento muito grande da atividade por parte dos órgãos reguladores de meio ambiente, observa Coelho. “Para a atividade ser regulamentada, precisa-se de licença ambiental.” No caso de São Paulo, a responsabilidade por fornecer a licença ambiental foi estabelecida com a reorganização da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA). “A Cetesb nunca teve esta função antes e, portanto, é normal que não tenha a informação total para isso.” A aquicultura inclusive pode ser ferramenta de povoamento de espécies nativas (em extinção ou dizimadas pela ocupação desordenada), o que já vem sendo feito em escala pequena, lembra Silvio Coelho. Por outro lado, o Estado de São Paulo tem a maior massa crítica de C&T do Brasil na área de aquicultura, diz Scorvo. Só de pesquisadores das instituições da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) são quase 100, sem falar das universidades públicas e particulares. “Os grandes centros de pesquisa em aquicultura e pesca estão aqui. Isto dá condições de se criar e adaptar tecnologias para a nossa situação.”

FOTO: M.Cassab

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Uma destas tecnologias é o tanque-rede, cuja versão de pequeno porte (um, dois, no máximo quatro metros cúbicos) foi introduzida no início dos anos 2000. “Isto deu as bases para se iniciar a produção de tilápias em tanque-rede. Hoje, a busca do piscicultor é por escala de produção: tanques-rede de maior volume (já se fala em dois mil a 10 mil metros cúbicos).” Esses tanques-rede de maior porte exigem equipamentos para alimentação, despesca e o próprio manejo do tanque, explica Scorvo. “A expansão dessa criação fez as fábricas desenvolverem ração mais adaptada a tilápia em tanques-rede. Isto fez com que produtores de alevinos (material genético) trouxessem de fora linhagens mais produtivas (Supreme e Gift são as mais utilizadas no Brasil).” Em resumo, a cadeia produtiva está pronta para atender à ampliação da demanda, assegura o pesquisador. Coelho atesta a qualidade dos técnicos e a competência na geração de tecnologias para o setor. “Nossa relação com a Secretaria de Agricultura, em especial com a APTA Regional e o Instituto de Pesca, é excelente. Esperamos continuar o relacionamento com este grupo que é muito conceituado, de alta competência.” PROJETO EM RIFAINA (SP) - O Grupo M. CASSAB, empresa nacional que atua em 15 áreas entre elas a de alimentos, conseguiu no final de 2010 aprovação do MPA para a implantação de projeto de produção de tilápia destinada a atender prioritariamente o mercado paulista. Segundo Silvio Coelho, trata-se de projeto de grande porte no longo prazo (horizonte de 5 a 8 anos), que incorpora os mais recentes conhecimentos e tecnologias disponíveis e tem caráter sustentável (ambiental, econômica e socialmente). Com a produção de peixe no município de Rifaina (região de Franca), o projeto será verticalizado, contemplando a formação de matrizes e reprodutores, a produção de alevinos, a engorda do peixe até o tamanho comercial, entre 0,8 e 1,0kg, e o processamento do peixe em frigorífico para obtenção de produtos destinados ao consumo final, como filés frescos, filés congelados etc.. No seu auge, a idéia é empregar mais de 250 pessoas diretamente, atingir o vo-lume de 600 toneladas/mês de peixes e atuar nos mercados de filé, peixe inteiro, supermercados, peixarias e restaurantes. Todo o processo será certificado, ou seja, é construído com base em requerimentos por órgãos de certificação. Um desses órgãos é o ACC (Aquaculture Certification Council) – um dos principais grupos de certificação da aquicultura - do qual Silvio Coelho é membro, que discute boas práticas de manejo de aqüicultura.


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A qualidade do café pode ser perceptível pelo consumidor?

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Raquel Machado de Souza1

iariamente, milhares de pessoas têm por hábito tomar café. Uns tomam para ficarem acordados e ativos, outros para relaxarem seja no intervalo de um trabalho ou durante uma reunião. Enfim, cada um ao seu jeito. O prazer de tomar um bom café e saborear seus componentes aromáticos já virou quase uma unanimidade. Mas, nem sempre a qualidade do café torna-se perceptível pelo consumidor. A determinação de um café de qualidade pode ocorrer em diversas etapas: a espécie / variedades dos grãos, o clima da região produtora, localização da lavoura, plantio, adubação, etapas da colheita e da pós colheita, beneficiamento, torração, moagem, empacotamento e, até mesmo, o preparo do café pelo consumidor, ou seja até a xícara. Alguns atributos da qualidade não podem ser observados visualmente no produto final, mas podem ser perceptíveis através do paladar como o sabor da bebida. A maioria da população tem por hábito tomar um café mais torrado ou “extra torrado”, queimados, há um conceito de quanto mais cor tiver a bebida, maior é o rendimento,

A autora, Rachel Machado de Sousa.

AUTORA

1 - Engenheira Química, com habilitação em alimentos, Pós Graduada em Gerenciamento de Micro e Pequenas Empresas e com MBA em Gestão Executivo Empresarial, Pós Graduada em Gestão Ambiental pelo Centro Universitário do Sul de Minas. Email: rachelsmachado@uol.com.br

Figura 1 – Escala da Qualidade Global do Café

ou seja, usa-se menos pó, maior o rendimento porém, menos qualidade. O café que apresenta uma torra muito escura “extra torrado” interfere negativamente na qualidade da bebida, ou seja esconde problemas que poderiam se tornar identificáveis, como impurezas e até mesmo o gosto da bebida, podendo ter sabor de queimado. O consumo de café, nos últimos anos tem aumentado, com isso surge a necessidade de se trabalhar novos hábitos em relação à escolha do café que melhor atenda ao paladar e o bolso do consumidor, sem, contudo, interferir na qualidade. Apesar do café ser uma bebida mundialmente conhecida, observa-se que uma grande parcela da população ainda tem dificuldade em entender o conceito da qualidade do café.


Figura 2 – Características sensoriais recomendáveis e qualidade global da bebida

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Assim, para facilitar o entendimento de como consumir um café com a qualidade desejável, a escala global de café apresentada pelo programa da ABIC demonstra, através de pontuações, as categorias de um café em relação à qualidade o que impactará no preço. O objetivo da escala é facilitar o entendimento do consumidor acerca da qualidade do café. Quando mais alta a escala melhor a qualidade. A escala da qualidade global pode ser observada conforme demonstrado na Figura 1. A história de um café de qualidade não para por aqui. Durante a seleção, avaliase também às características sensoriais tais como: aroma, acidez, amargor, sabor, adstringência, corpo, tipo de bebida, ou seja, todos os atributos que estão presentes na bebida, chegando-se ao nível de aceitação da escala da Figura 3 – Nivel de torra

Fonte: www.abic.com.br. Imagem ilustrativa.

qualidade global à qual o produto será enquadrado, Figura 2. Outro fator que influência diretamente o paladar é o processo de torração, um dos mais importantes na fabricação do café, o qual influenciará diretamente na qualidade da bebida. Um torra adequada extrai as melhores características do café: sabor, aroma e acidez. Os níveis de torra podem ser diferenciados pela cor do grão de café figura 3 . Uma torra clara acentua a acidez, o aroma, proporciona um sabor suave, preserva mais os óleos aromáticos (grãos permanecem secos), com isso, obtém–se um café menos encorpado. Na torração média obtem-se o ponto de equilíbrio entre várias características do café como acidez, aroma e amargor. O ponto na cor escura a tendência e de se obter um café menos ácido, e menos encorpado, deixando-o mais amargo, o que pode ser confundido com um café mais forte. Uma torra muito escura pode queimar intensificando o amargor e, praticamente, eliminando a acidez e o corpo. Alguns conceitos apresentados podem ajudar o consumidor na decisão da compra do café, uma vez que esses podem ser percebidos nas embalagens dos produtos que a maioria das empresas certificadas disseminam através dos selos de qualidade. Às vezes, a preferência do consumidor pode não estar associada a qualidade da bebida mas sim a hábitos de consumo, marcas que estão mais presentes no mercado ou, até mesmo, em relação ao preço. Entender algumas informações em relação aos selos de qualidade presentes nas embalagens pode ser um bom ponto de partida para se apreciar um bom café. Então pode-se dizer que a qualidade do café pode ser perceptível pelo consumidor. Afinal, Café não é tudo igual! REFERÊNCIAS Disponível em: http://www.abic.com.br/publique/cgi/ cgilua.exe/sys/start.htm?sid=2,


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J.B. Matiello1 S.R. de Almeida1 Iran B. Ferreira1

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ivenciamos um período anormal de seca e de muito calor nas regiões cafeeiras do centro-sul do país. Em consequência, são esperadas perdas significativas na produção de café, nesta e na próxima safra. Por outro lado, tem-se observado que, no aspecto das doenças do cafeeiro, algumas delas vêm dando uma trégua, justamente pelas condições climáticas desfavoráveis. Assim verifica-se que o ataque de Pseudomonas e de Phoma, relacionado a temperaturas mais baixas e a maiores umidades, ficou muito reduzido. A cercosporiose, ao contrário, se tornou mais grave, pela falta de nutrição (N) e pelo calor. Quanto à ferrugem, principal doença do cafeeiro e motivo desta nota técnica, estamos vendo, no campo, que seu ataque praticamente ficou paralisado nestes 2 últimos meses, isto na maioria das lavouras. Examinando a folhagem, pode-se verificar que existem poucas lesões da doença e elas apresentam elevado nível de abortamento. Sabe-se que a evolução da ferrugem nas lavouras de café, ou seja, o seu nível de infecção, em determinada situação (região, local, lavoura, etc) e em certos períodos, está relacionada a três grupos de fatores, ligados ao ambiente (clima), ao hospedeiro (cafeeiro) e ao patógeno, havendo interação entre eles. Os fatores climáticos favoráveis à doença são: a temperatura, na faixa de 20-24ºC; a umidade, necessária à germinação dos esporos, favorecida pelas chuvas frequentes, principalmente as finas, pelo orvalhamento noturno e por ambientes sombrios. Por isso, a doença evolui mais no período chuvoso e quente, que vai de novembro a maio. Com a evolução da doença, sob condições normais, as pústulas ficam recobertas de esporos, de cor alaranjada, responsáveis pela multiplicação e disseminação do fungo na planta. Mas, essas pústulas de ferrugem podem se mostrar, também, como lesões completamente sem esporos, em função de abortamento, situação que pode ser causada por altas temperaturas, por chuvas pesadas, que lavam os esporos e pelo efeito de fungicidas sistêmicos. Veja-se que a

FOTOS: Fundação PROCAFÉ/MAPA

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Grande abortamento de pústulas da ferrugem do cafeeiro devido ao calor e à seca

Lesões abortadas de ferrugem em folhas de cafeeiro, em fevereiro de 2014 (FEX, Varginha/MG)

AUTORES

1 - Engenheiros Agrônomos da Fundação Procafé. Informações: www.fundacaoprocafe.com.br. Publicado em FOLHA TÉCNICA.

Detalhes das lesões abortadas em cafeeiros arábicas, em fevereiro de 2014 (FEX, Varginha/MG)


CAFÉ FOTOS: Fundação PROCAFÉ/MAPA

temperatura média de jan/14, na FEX Varginha, no Sul de Minas, foi de 24,1º C, contra 22,4º C da média histórica. Assim, se por um lado o aumento de temperatura influiria positivamente na redução do período de incubação, favorecendo a ferrugem, as temperaturas excessivas, como as atuais, combinadas, ainda mais, com a falta de umidade, provocam o abortamento das pústulas, e, assim, reduzindo o inóculo disponível e sua germinação. As lesões abortadas podem ou não voltar a esporular, não se conhecendo bem qual seria o nível de recuperação dessas lesões. Analisada a situação, foi possível verificar que a ferrugem deu Detalhes das lesões abortadas, sem esporos, em cafeeiros robustas, em fevereiro de 2014 (FEX, Varginha/MG) uma paralisada. Agora, então, é preciso avaliar o que poderá acontecer no futuro, com a Deste modo, a recomendação é no sentido de se manevolução da doença. Já vimos algo sobre a situação do clima ter a aplicação normal do controle químico, previsto em e do patógeno, que, até o momento, facilitaram o controle. fevereiro-março, a partir da retomada normal das chuvas, e, No entanto, voltando a chover, a doença pode, com certeza, caso lá pra meados de abril o nível de infecção for superior a retornar, beneficiada pela fraqueza das plantas (hospedeiro), 10-15% deve-se efetuar uma 3ª aplicação de fungicidas, para evitar a ferrugem tardia. este o fator mais importante na evolução da doença.

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nquanto a exata dimensão dos expressivos prejuízos causados pela seca aos cafezais de Minas Gerais ainda é incerta, um estudo do governo mineiro aponta para problemas de qualidade em boa parte do café arábica da principal região produtora do Estado, com índices de até 45 por cento de grãos chochos em algumas áreas. O estudo da Epamig, da Secretaria Estadual de Agricultura, indicou o maior índice de grãos chocos - avariados ou secos - em fazenda do governo em Três Pontas, no Sul de Minas Gerais, região que é a principal produtora do Estado que responde por cerca de metade da produção do Brasil, líder global no mercado de café. Depois de Três Pontas, com um índice de grãos chochos de 45 por cento, a pior situação foi verificada em Machado, também no Sul de Minas, com 25 por cento de café de qualidade inferior; São Sebastião do Paraíso (Sul de Minas) registrou 20 por cento; Lavras, 12 por cento; e Patrocínio (Cerrado Mineiro), 7,7 por cento. Em anos normais, o teste apontaria menos de 5 por cento de frutos chochos. “Essa é a uma visão da situação atual, ela pode ser amenizada ou agravada... Se as chuvas retomarem, o que perdeu está perdido, mas pode amenizar para 2015, porque ainda temos pelo menos 60 dias de crescimento vegetativo (para a próxima safra)”, disse o coordenador do programa de Cafeicultura da Epamig, Gladyston Carvalho. As preocupações com o tamanho da safra do Brasil levaram os preços do café arábica na bolsa de Nova York a uma máxima de mais de 16 meses a 1,8125 dólar por libra-peso. Os volumes de chuvas previstos para as principais regiões produtoras de Minas Gerais variam de 1 a 3 milímetros, por dia, até o início do próximo mês.

Proporção de cafés “chochos” chega a 85% na região de Três Pontas (MG)

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este realizado pelo Departamento Técnico da COCATREL - Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas (MG) demonstrou que a proporção de cafés chochos e granados de grãos colhidos em lavoura da região chegaram a 85%/15%. Pelas informações de vários cooperados, esta é a real situação da maioria das lavouras de café nos municípios de atuação da cooperativa. A COCATREL afirmou que haverá quebra de produção de café da região de Três Pontas, no Sul de Minas Gerais. “O teste mostra que os grãos boiando são os mal granados e chochos, que acabam não dando o café de verdade. Acaba saindo apenas escolha”, afirmou Nivaldo Mello Tavares, diretor comercial da COCATREL e um dos diretores do CCCMG.

FOTO: EPAMIG

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Estudo da EPAMIG indica até 45% de café “chocho” em algumas propriedades

Produtor de café Márcio Diogo mostra um grão de café que não se desenvolveu em decorrência da seca, em um plantação no município de Santo Antonio do Jardim (SP)

As amostras de café do estudo foram obtidas em fazendas da EPAMIG - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais em regiões que representam 75 por cento da produção do Estado. “O Sul de Minas foi muito afetado”, acrescentou Carvalho, referindo-se à região que produz cerca de metade do café do Estado. Antes da seca, a safra de café do Brasil havia sido estimada, em média, em 48,3 milhões de sacas de 60 kg, com o Sul de Minas respondendo por 13,7 milhões de sacas, segundo levantamento da CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento. O pesquisador explicou que o teste de qualidade do café realizado pela Epamig foi relativamente simples. Os pesquisadores colocaram os grãos em uma vasilha com água, e aqueles que boiam estão chochos (ou só tem café de um lado, ou não tem nada - só a casca - ou tem café pouco desenvolvido, mal formado). Esse tipo de café de qualidade inferior, quando comercializado, remunera menos os produtor. O agricultor ainda pode ter gastos na colheita para colher um café sem polpa, sem valor comercial. Embora tenha evitado fazer previsões, acreditando que um volume de colheita só poderá ser efetivamente aferido quando o produto estiver beneficiado, o pesquisador disse que é “fato concreto” que a safra nacional terá uma redução de 10 por cento, considerando números do Sul de Minas. “É muito cedo para falar quanto vai colher, o fato é que afetou. Está comprometida a qualidade também, isso está sendo amenizado em função dos preços, mas nem todo mundo tem café para vender”, afirmou Carvalho. Ele disse que a EPAMIG fará mais dois levantamentos do gênero. Segundo o pesquisador, apesar da seca, o Brasil ainda produzirá café de qualidade, mas a proporção será menor na comparação com anos anteriores. (FONTE: Reuters)


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s altas temperaturas e a escassez de chuvas nos primeiros meses do ano preocupam os cafeicultores da região deFranca (SP), que já calculam os prejuízos da safra 2014/2015. Em dezembro, a Secretaria da Agricultura e Abastecimento de São Paulo estimava que seriam colhidas 4,4 milhões de sacas de 60 quilos de café em todo o estado. A mudança no clima, entretanto, fez com que a expectativa fosse reduzida entre 10% e 20%. Em alguns casos, a situação é ainda pior, como na propriedade de José Ricardo Cunha, em Ribeirão Corrente (SP): dos 200 hectares de café plantados, ele esperava colher 12 mil sacas do grão, mas a estiagem fez a previsão ser reduzida para 8,5 mil. “Por enquanto, não tem como fazer nada. É uma experiência que a gente nunca viveu”, diz o produtor, que é a terceira geração da família na cafeicultura. O problema é que o clima quente e seco

FOTO: Márcio Meirelles/EPTV

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Clima quente e seco fez expectativa de colheita reduzir entre até 20% na região de Franca (SP)

José Ricardo Cunha estima prejuízo em seu cafezal em Ribeirão Corrente (SP)

fez com que os grãos não se desenvolvessem como deveriam, conforme explica o engenheiro agrônomo Fabrício Andrian Davi. Segundo ele, o calor também contribuiu para prejudicar o desenvolvimento da planta e a maturação do café. “A temperatura foi a maior vilã da história porque provocou a paralisação da fotossíntese, então a planta para de mandar nutrientes para o grão. O grão dessa safra vai ter um tamanho menor e vai ser de baixíssima qualidade.” CAFÉ MAIS CARO - O medo de faltar produto fez com que o preço do café, que estava baixo há pelo menos dois anos, desse um salto no mercado internacional. A cotação média está em torno de R$ 430, quase 53% acima do valor praticado em março do ano passado. “O momento é de grande incerteza tanto para compradores, torradores e produtores. Ainda não sabemos o prejuízo e o estrago que essa seca vai provocar. Nós estamos em campo avaliando o tamanho desse dano”, explicou o coordenador do Conselho Nacional do Café, Maurício Miarelli. Além disso, apesar de ainda não haver dados oficiais em relação às perdas, os produtores já falam em quebra da safra 2015/2016. Isso porque, segundo Miarelli, a falta de umidade está debilitando as plantas e prejudicando a produtividade dos cafezais. “O Brasil pode ter uma quebra de safra muito grande em dois anos consecutivos e quem poderá substituir nosso país na oferta de um volume tão grande de café? Essa é a grande incerteza que o mercado está vivendo nesse momento”, finalizou Miarelli


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Cafeicultores pedem liberação de produto no combate à broca do café

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rodutores de café do Brasil pedem que o governo federal regularize agrotóxicos com princípios ativos Cyantraniliprole e o Chlorantraniliprole/Abamectin para o combate a broca-do-café (Hypothenemus hampei). Os ingredientes entrariam em substituição ao Endosulfan, que saiu de circulação em 2012 sem a aprovação de produtos substitutivos. De acordo com o setor, a praga tem causado prejuízos nas lavouras. Para cada 5% de frutos atacados pela broca, até 1% dos grãos apresenta defeito, interferindo diretamente na renda, na qualidade da bebida e, consequentemente, no preço ao cafeicultor. De acordo com o presidente executivo do CNC - Conselho Nacional do Café, Silas Brasileiro, a declaração de estado de emergência fitossanitária em Minas Gerais é importante porque, conforme o Art. 6º do Decreto Nº 8.133, de 28 de outubro de 2013, “declarado o estado de emergência fitossanitária ou zoossanitária, fica o MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como instância central e superior do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária, autorizado a importar ou anuir com a importação e a conceder autorização emergencial temporária de

produção, distribuição, comercialização e uso de produtos não autorizados, nos termos do art. 53 da Lei 12.873, de 2013, desde que a indicação de diretrizes e medidas (...) e a solicitação de priorização (...) não sejam suficientes para o combate à situação epidemiológica”. Segundo ele, o MAPA deverá anunciar, em breve, a autorização, em caráter emergencial, para uso de produtos substitutos ao Endosulfan no combate à broca-do-café. ESTADO DE EMERGÊNCIA - O estado de emergência fitossanitária para Minas Gerais foi publicado na quintafeira (13), no Diário Oficial da União pelo MAPA. A portaria Nº 188 declara que, por prazo de um ano, foi considerado o “estado de emergência fitossanitária relativo ao risco iminente de surto pela infestação da praga Hypothenemus hampei, no Estado de Minas Gerais, considerando a gravidade pelo ciclo curto e grande capacidade de proliferação: a baixa capacidade de resposta disponível pela ausência de alternativas eficientes para seu manejo e os efeitos sobre a economia agropecuária por causar grandes perdas na produtividade e na qualidade de café”. (FONTE: Portal G1)

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Café irrigado como nova cultura no Vale do São Francisco

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ara oferecer alternativas de cultivo para a região do Vale do São Francisco, em Petrolina (PE), no sertão pernambucano, a EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do Semiárido está realizando um estudo de viabilidade para o plantio irrigado do café na região. Segundo o pesquisador de genética e melhoramento de plantas, o engenheiro agrônomo Flávio de França Souza, o vale do São Francisco tem sua produção concentrada na manga e uva, o que torna o mercado vulnerável e o café pode ser uma boa alternativa de cultivo. “A pesquisa surgiu da necessidade de diversificar a matriz agrícola e de buscar variedades que possam se adaptar às mudanças climáticas. E como existem vários estudos sobre o aquecimento global, isso abrande as culturas que terão que se deslocar ou se adaptar para manter os cultivos nas regiões tradicionais”, relata. A região do Semiárido tem funcionado como um laboratório. De acordo com Flávio, o estudo começou em 2011 e ele considera que as pesquisas estão em fase inicial. Na área experimental da Embrapa estão sendo testadas 53 variedades do café arábica e 20 clones da canephora. “Trouxemos variedades comercializadas no Brasil. Plantamos as mudas e estamos acompanhando. O que já per-

cebemos foi que não houve prejuízos no desenvolvimento da planta, em relação a outras regiões”, revela Flávio. A primeira produção de café deve ser colhida ainda neste semestre. Os frutos serão avaliados quanto a produtividade dos grãos, a qualidade da bebida e a viabilidade econômica. O resultado da pesquisa poderá ser divulgado após 7 ou 8 anos. Este tempo prolongado é necessário devido às análises das safras do café, como explica o agrônomo. “O café só produz uma vez por ano. E tenho que avaliar quatro safras. Um ano ele tem alta na produção e no outro tem uma queda. Para que eu saiba qual foi a média da produção, teremos que aguardar esse período”. Embora não tenha um parecer do estudo, o pesquisador conta que as plantas produziram bem, mas é preciso saber a viabilidade econômica. Já que a produção na região é feita com irrigação, em sistema de gotejamento, o que pode aumentar o custo. A expectativa de Flávio é que o estudo possa confirmar as variedades que se adaptam melhor a região. “O nosso produtor gosta de tecnologia e a nossa região é dinâmica. Temos vantagem na hora da secagem, por conta do sol do sertão. Aqui temos sol a vontade”, conclui com otimismo o pesquisador.


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COCAPEC aprova a criação de Fundo de Recuperação do ICMS mineiro

PRÓXIMOS PASSOS - Após a homologação pela Secretária da Fazenda de Minas Gerais, a cooperativa irá adquirir bens, que devem permanecer pelo menos um ano no

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FOTO: COCAPEC

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Cocapec aprovou no dia 19 de fevereiro, em uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE), a criação do Fundo de Crédito Presumido de ICMS, referente a comercialização de café cru das suas unidades no Estado de Minas Gerais. A proposta foi aprovada por unanimidade por cerca de 300 cooperados presentes. A partir de agora, a cooperativa irá tentar recuperar o imposto dos cafés vendidos pelos produtores mineiros à Cocapec referente a meados de 2009 até final de 2013. O Fundo será regido por um regulamento, que contém 10 cláusulas, e gerido pelo Conselho de Administração e Diretoria Executiva, acompanhado por um comitê de cooperados. A proposta foi apresentada e amplamente discutida previamente através das reuniões de Comitê Educativo nas cidades de Capetinga (MG), Claraval (MG), Ibiraci (MG), Franca (SP) e Pedregulho (SP), abrangendo assim toda área de atuação da Cocapec.

Por unanimidade, os cooperados aprovaram a proposta da Cocapec

seu ativo imobilizado e, após este período, serão transformados em recursos e repassados aos seus cooperados que aderirem a proposta. Vale lembrar que a adesão é voluntária, e os associados não terão nenhum dispêndio financeiro para fazer parte do Fundo.


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José Donizeti Alves1

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m vista dessa catástrofe que a cafeicultura brasileira está vivendo, gostaria de acrescentar alguns pontos que ainda não foram discutidos ou se foram, foi feito de maneira hipotética. Muita coisa já se falou sobre os efeitos da seca na produção do café. E eu, me desculpe o trocadilho, não quero “chover no molhado”. O fato que ninguém contesta é que essa anormalidade meteorológica havia décadas não se manifestava. Pelo menos em termos de intensidade e durabilidade. Infelizmente dessa vez ela veio acompanhada de temperatura e luminosidade extremamente altas e ocorreu/ ocorre em fases fenológicas das mais exigentes em termos de água, temperatura e luminosidade adequada. As consequências práticas disso tudo também já foram mostradas e debatidas nesse espaço. Em termos de produção o que se vê é escaldadura das folhas; frutos pequenos, desidratados com descolamento do pergaminho (endurecido) da semente, mumificados, grãos mal formados, altíssima percentagem de grãos chochos. Todas essas anormalidades fisiológicas devem ser vista como BASTANTE ELEVADAS. Esta é a diferença fundamental dessa seca com as outras em anos passados. Ou seja: sem qualquer intenção de ser alarmista ou partidário do “quanto pior melhor”, a situação da cafeicultura brasileira desta vez é extremamente grave. Conclusão óbvia: a safra de 2014 está fortemente comprometida tanto em termos de quantidade quando de qualidade. Em minha opinião, depois de visitar várias regiões cafeeiras, deduzo que a perda vai variar entre 20 a 45% dependendo da região. Em termos de crescimento vegetativo, a seca e o calor vieram em uma época de pleno crescimento de folhas e ramos. Portanto, ele também foi prejudicado. Isso equivale a dizer que a safra de 2016 também sofrerá reflexos negativos dessa estiagem. Como a fase de floração (não de florescimento) vai se iniciar nas próximas semanas, provavelmente, teremos problemas de indução de gemas reprodutivas o que vai refletir negativamente também na safra de 2015. Mas isso são assuntos para outra análise. Preocupado com o momento atual, minha equipe foi ao campo (antes dos chuviscos da semana passada) para fazer um mapeamento da copa do cafeeiro mensurando vários parâmetros fisiológicos em um gradiente horizontal (da ponta dos ramos até o interior da copa, próximo ao tronco) e vertical (do ápice das plantas até a base da saia). Os dados estão sendo copilados, pois são objetos de uma dissertação de mestrado, mas preliminarmente revelaram aspectos interessantes e ainda não publicados na literatura cafeeira. As folhas que às 5 horas da manhã tinham uma tem-

AUTOR

1 - Professor do Departamento de Biologia, Setor de Fisiologia Vegetal, da Universidade Federal de Lavras (MG).

FOTOS: José Donizeti Alves

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A seca e a cafeicultura: o que a fisiologia vegetal tem a explicar

peratura média de 21 °C (vejam que a noite estava quente) às 15 horas da tarde este valor subiu para 38°C. A temperatura da saia próxima ao tronco nesta mesma hora era de 33°C. Essas altas temperaturas, irá comprometer seriamente a fotossíntese, como se vera mais adiante. O potencial hídrico que revela o grau de hidratação da planta, ou seja, a água que pode realizar trabalho, medido às cinco horas da manhã estava em -1,1 Mpa. Isto equivale a dizer o cafeeiro não recuperou à noite, a água perdida durante o dia. Isso porque a quantidade de água armazenada no solo não foi suficiente para tal. E para piorar, detectamos intensa morte de radicelas. De meio-dia até às 15 horas da tarde, o potencial hídrico tornou-se extremamente baixo atingindo, valores de -2,3 MPa. Este valor, para certas culturas significa “murcha permanente” ou morte da planta. Para o cafeeiro, segundo inúmeras pesquisas, é um valor que causa sérios danos, como queda na fotossíntese e translocação de carboidratos, murcha e queda de folhas, seca dos pon-


teiros, morte de raízes, queda no número e no rendimento de colheita, entre outros. O mais importante, o cafeeiro não morre e com a volta das chuvas ele recupera sua turgescência. Mas os danos causados pela perda de matéria seca (queda de folha, frutos e seca dos ponteiros) são irreversíveis. Às nove horas da manhã, a fotossíntese, como é de se esperar, era a mais alta, mas o seu valor nas folhas da saia, foi em média, 64% menor quando comparado com aquelas do ápice. Da mesma maneira, as folhas mais internas da copa fotossintetizaram 54% menos que aquelas expostas ao sol. A partir dessa hora, a fotossíntese caiu substancialmente e às 15 horas, a região da copa com fotossíntese máxima apresentou uma taxa 75% menor quando comparada com a fotossíntese dessa mesma região as 9 horas. As folhas mais internas da copa, bem como as mais baixeiras, apresentaram taxas fotossintéticas próximas a zero. Resumindo, considerando toda a copa do cafeeiro, a fotossíntese na maior parte do tempo operou em taxas extremamente insatisfatórias e em certos momentos negativa. Isso que dizer que o aporte de carbonos para o crescimento da planta, que equivale aos tijolos de uma parede em construção foi mínimo e em alguns casos, foram quebrados. E para quem entende pelo menos um pouco de bioquímica de plantas vera que esse ganho de carbono é suficiente apenas para a manutenção da planta viva. Muito pouco ou quase nada vai sobrar para o crescimento da planta, ou seja, se fosse uma construção não teria novas paredes e em alguns caso, haveria parede demolidas. Com base nesses dados, agora, respondendo a inúmeras consultas que me fizeram, penso que, mesmo que as chuvas

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voltem, não haverá tempo suficiente (até que a estação seca e fria chegue) para o “enchimento dos frutos” e isso equivale a dizer que aquele espaço vazio, que muitos estão observando quando cortam os frutos transversalmente, não serão mais preenchidos, ou se forem, será muito pouco. Concluindo, a perda de rendimento na colheita, como muitos estão, empiricamente supondo, vai acontecer, com toda a certeza. Essas minhas colocações vem no sentido de dar uma satisfação às pessoas que me perguntam por que até agora não me manifestei. Não o fiz, pois estava coletando dados de campo para poder fazer a afirmação que fiz no paragrafo anterior. Para não me prolongar mais, nos próximos dias darei continuidade ao assunto.


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Manejo dos micronutrientes em cafeeiro Renato Passos Brandão 1 Jhony Cintra 2

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a edição anterior foram abordados os oito elementos químicos classificados como micronutrientes às plantas. São elementos químicos absorvidos em pequenas quantidades pelo cafeeiro na ordem de g/ha. Além disso, foi também enfatizado os fatores que afetam a disponibilidade dos micronutrientes ao cafeeiro e as respectivas funções e sintomas de deficiência. Nesta edição será abordado o manejo dos micronutrientes no cafeeiro com o intuito de maximizar o potencial produtivo do cafeeiro. 1. Necessidade dos micronutrientes pelo cafeeiro Os micronutrientes são exigidos em pequenas quantidades pelo cafeeiro (Tabela 1). Os micronutrientes exigidos pelo cafeeiro em maiores quantidades são por ordem decrescente, o ferro, manganês, boro, cobre, zinco e molibdênio. A razão desta baixa necessidade dos micronutrientes pelo cafeeiro e demais culturas é a sua atuação como catalisadores das reações enzimáticas, que por sua vez, condicionam as reações químicas específicas necessárias ao normal desenvolvimento das plantas (Orlando Filho et al., 1996, citados por Penatti, 2013). Entretanto, este aspecto não diminui a sua importância na nutrição das plantas sendo necessário para o crescimento, desenvolvimento e para a obtenção de

altas produtividades no cafeeiro. 2. Interpretação dos micronutrientes nos solos cultivados com cafeeiro A avaliação da disponibilidade dos micronutrientes ao cafeeiro está na tabela 2. Tabela 2: Avaliação da disponibilidade dos micronutrientes nos solos cultivados com o cafeeiro NUTRIENTE EXTRATOR Boro Cobre

Água quente 1

<0,6

0,6-1,2

>1,2

-

<0,20

0,21-0,40

0,41-0,6

>0,60

DTPA 1

<2

2-5

>5

-

<0,50

0,6-1,0

1,1-1,5

>1,5

DTPA 1 Mehlich-1 2

Zinco

CLASSE DE FERTILIDADE MÉDIO BOM ALTO Teor no solo (mg/dm3)

Água quente 2 Mehlich-1 2 Manganês

BAIXO

<3

3-6

>6

-

<5,0

5,1-10,0

10,1-15

>15

DTPA 1 Mehlich-1 2

<2

2-5

>5

-

<2,0

2,1-4,0

4,1-6,0

>6,0

1/ Extrator de micronutrientes adotados pelos laboratórios de análise de solos vinculados ao Instituto Agronômico de Campinas, IAC (Quaggio, informação pessoal). 2/ Extrator de micronutrientes adotados pelos laboratórios de análise de solos vinculados a Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais (Ribeiro et al., 1996).

Atualmente, o extrator mais utilizado para a avaliação da disponibilidade do B é a água quente. Em relação aos demais micronutrientes há Tabela 1: Médias de nutrientes contidos nas diferentes partes da planta em duas variedades dois extratores, o DTPA e o Mehlich-1. O primeiro extrade cafeeiro arábica. tor é mais utilizado no Estado FLORES RAMO TOTAL FOLHAS de São Paulo e nos laboratóriNUTRIENTES Mundo Mundo Mundo Mundo Catuaí Catuaí Catuaí Catuaí Novo Novo Novo Novo os vinculados ao controle MACRONUTRIENTES - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - kg/ha - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - de qualidade do Instituto 79 197,4 68,6 335,7 79,8 406,0 69,7 247,2 Nitrogênio (N) Agronômico de Campinas 17,9 22,7 8,5 45,2 19,9 60,2 14,0 22,4 Fósforo (P2O5) (IAC). O segundo extrator é 93,1 234,8 91,8 424,9 104,1 451,0 98,3 253,8 Potássio (K2O) utilizado nos laboratórios que 76,1 112,8 67,6 242,6 73,5 290,6 62,2 141,0 Cálcio (Ca) são vinculados aos métodos 42,5 17,6 12,4 65,4 15,4 84,1 35,4 26,2 Magnésio (Mg) de avaliação da fertilidade 5,9 16,3 6,0 27,2 7,3 29,6 4,9 16,4 Enxofre (S) do solo da Comissão de Fer- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - g/ha - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - MICRONUTRIENTES tilidade do Solo do Estado de 95,7 281,2 137,6 514,1 166,1 811,6 95,3 549,8 Boro (B) Minas Gerais. 62,2 94,2 225,4 394,1 135,8 294,6 74,6 96,9 Cobre (Cu) 1.735,6

1.059,7

4.142,2

3.877,1

1.378,9

1.272,8

7.256,7

6.209,6

Manganês (Mn)

477,5

261,0

3.309,0

1.512,8

874,0

412,2

4.660,5

2.186,0

Molibdênio (Mo)

0,2

0,1

0,4

0,3

0,2

0,2

0,8

0,6

37,8

32,1

92,6

85,8

48,8

68,3

179,2

186,2

Ferro (Fe)

Zinco (Zn)

Fonte: Malavolta.

AUTORES 1 - Engº agrônomo, Mestre em Solos e Nutrição de Plantas pela UFLA e Gestor Agronômico do Grupo Bio Soja. 2 - Estagiário do Departamento Agronômico do Grupo Bio Soja.

3. Manejo dos micronutrientes no cafeeiro

3.1. Boro (B) 3.1.1. Dinâmica do boro no solo O B do solo é absorvido pelo cafeeiro na forma de H3BO3 (Malavolta, 2006). A principal fonte natural de B às plantas nos solos tropicais é a matéria orgânica. Portanto, o manejo dos resíduos vegetais em lavouras cafeeiras é


essencial para um suprimento ade-quado de B ao cafeeiro. O B é um nutriente com alta mobilidade nos solos sendo susceptível as perdas por lixiviação principalmente nos solos com baixa CTC e com textura média a arenosa localizados em regiões com altas precipitações. 3.1.2. Fornecimento de boro ao cafeeiro O B pode ser fornecido ao cafeeiro nas adubações de solo e nas pulverizações foliares. A forma mais eficiente para o fornecimento do B ao cafeeiro é no solo. Desta forma, é possível manter um fornecimento constante deste nutriente ao longo do ciclo da cultura para atender as necessidades do cafeeiro. As adubações foliares com o B devem ser realizadas para a complementação da nutrição com este nutriente no cafeeiro. a. Adubações de boro nos solos O B deve ser aplicado antes do florescimento do cafeeiro e se houver necessidade, reaplicá-lo entre dezembro e janeiro, após a análise foliar. A dose do B aplicado em cafeeiro em produção varia de 2 a 6 kg/ha. A maior dose de B pode ser aplicada em solos com baixo teor de B e em lavouras com alto potencial produtivo (>60 sc. beneficiadas/ha). Nas demais lavouras de café, a dose do B no solo varia entre 2 e 4 kg/ha de B. A dose máxima de B por aplicação é de 3 kg/ha. Se houver necessidade da aplicação de doses de B superior a este valor, dividi-la em duas aplicações conforme comentado anteriormente. A Granorte, empresa coligada do Grupo Bio Soja, possui fertilizantes granulados fornecedores de B ao cafeeiro (Tabela 3). Conforme o artigo publicado na Revista Atallea

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Tabela 3: Fertilizantes granulados de solo fornecedores de cálcio, magnésio, enxofre, boro e zinco ao cafeeiro. PRODUTO

GARANTIAS (%) B S

Zn

Ca

Mg

10

-

3,26

10

Gran Boro Magnésio

-

30

3,2

2

-

Gran Mogiana

-

25

2,0

3

4

Gran Boro 10

-

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Agronegócios nº 82 em setembro de 2013 (páginas 25 e 26), atualmente, o magnésio é um dos nutrientes mais limitantes a obtenção de altas produtividades no cafeeiro. Cerca de 84% dos solos analisados em 2012 no laboratório do Procafé de Varginha/MG tinham baixa saturação de magnésio (Matiello et al., 2013). O Gran Boro Magnésio e o Gran Mogiana são fertilizantes granulados de solo fornecedores de B e Mg ao cafeeiro. Numa única operação, é possível o fornecimento do B e Mg, nutrientes deficientes na maioria dos solos cultivados com cafeeiro. b. Adubações foliares com boro Nas lavouras com a aplicação do B no solo, realizar de 2 a 4 adubações foliares anuais. A primeira adubação foliar deve ser realizada antes do florescimento e a segunda adubação foliar, cerca de 30 dias após a primeira adubação. As demais aplicações foliares com B devem ser realizadas até o final de março em lavouras com baixo teor foliar de B constatado através das análises foliares. Normalmente, antes e logo após o florescimento do cafeeiro, o teor de B nas folhas do cafeeiro está abaixo da faixa adequada. O período seco que antecede o florescimento do cafeeiro causa redução na disponibilidade do


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B (menor liberação do B proveniente dos resíduos orgânicos) e diminuição na absorção deste nutriente pelo cafeeiro. Recentemente, a Bio Soja lançou no mercado nacional, um fertilizante foliar fluido com uma formulação diferenciada (NHT® P-Boro-P). O B é complexado com polióis, garantindo maior translocação do nutriente no floema proporcionando um melhor aproveitamento deste nutriente pelo cafeeiro. A dose do NHT® P-Boro-P por aplicação é de 500 mL a 1 L/ha dependendo do teor de B nas folhas e do manejo do B nas adubações de solo. 3.2. Cobre (Cu) 3.2.1. Dinâmica do cobre no solo O Cu2+ é a forma do Cu absorvida pelas plantas (Malavolta, 2006). Entretanto, ocorrem reações químicas nos solos que reduzem a sua disponibilidade às plantas. O pH do solo é um dos fatores que afetam a disponibilidade do Cu às plantas. Quanto maior o pH do solo, menor a disponibilidade deste micronutriente ao cafeeiro e menor é o teor nas folhas do cafeeiro (Abreu et al., 2007). Os solos com alto teor de matéria orgânica possuem menor disponibilidade de Cu podendo induzir deficiência nas culturas. Ocorre formação de complexos muito estáveis do Cu com as substâncias húmicas notadamente os ácidos húmicos (Stevenson, 1982). 3.2.2. Fornecimento de cobre ao cafeeiro O Cu pode ser fornecido ao cafeeiro nas adubações de solo e em pulverizações foliares. A adubação foliar é a forma mais eficiente para o fornecimento do Cu ao cafeeiro em formação e produção. Desta forma, as reações químicas do solo que afetam a disponibilidade do Cu ao cafeeiro são eliminadas. a. Adubações de cobre nos solos Em solos com baixo teor de Cu, aplicar o nutriente no sulco ou na cova de plantio do cafeeiro. As fontes de cobre com liberação gradual do nutriente (oxi-sulfatos) possuem maior eficiência agronômica proporcionando um suprimento constante deste micronutriente ao cafeeiro (Malavolta, 2006). A dose do Cu em cafeeiro varia de 2 a 4 kg/ha (Ribeiro et al., 1996).

b. Adubações foliares com cobre Preferencialmente, o fornecimento do Cu ao cafeeiro em formação e produção deve ser realizado nas adubações foliares. O Cu deve ser aplicado após a colheita do cafeeiro e se houver necessidade, reaplicálo após a análise foliar, para manter o teor na faixa adequada. Atualmente, são utilizadas várias fontes de cobre no cafeeiro. Existem os fertilizantes fornecedores de Cu solúveis em água, tais como, os sulfatos e cloretos e os produtos com liberação gradual do nutriente, por exemplo, o oxicloreto, o hidróxido, carbonato, óxido cuproso e a calda bordaleza. Além do efeito nutricional, o segundo grupo de produtos tem ação fungica colaborando para o controle das principais doenças fungicas no cafeeiro, por exemplo, a ferrugem e a cercosporiose e eventuais ataques de Pseudomonas, Colletotrichum e outros fungos. Além disso, tem também efeito tônico, atuando na supressão do efeito do etileno, produzido nos processos de necrose das folhas ou pela morte de fungos que vivem no cafeeiro. Portanto, o cobre evita a queda prematura das folhas do cafeeiro promovendo maior retenção foliar (Guimarães et al., 2010). Recentemente, a Bio Soja lançou no mercado nacional, dois fertilizantes foliares fluidos fornecedores de Cu ao cafeeiro (NHT® Cobre Super e Phitopress® Cobre). O NHT® Cobre Super é um fertilizante fluido possui uma formulação diferenciada. A fonte do Cu do NHT® Cobre Super é o carbonato de cobre proporcionando maior efeito residual e menores danos fisiológicos ao cafeeiro (baixo índice salino). A dose do NHT® Cobre Super por aplicação é de 100 a 150 mL/ha dependendo do teor de Cu nas folhas e do manejo do Cu nas adubações de solo. O Phitopress® Cobre é um fertilizante foliar fluido fornecedor de Cu ao cafeeiro. A fonte de fósforo é o fosfito que estima o cafeeiro a síntese de fitoalexinas aumentando a tolerância às doenças. A dose do Phitopress® Cobre por aplicação é de 1 L/ha. 3.3. Ferro (Fe) 3.3.1. Dinâmica do ferro no solo O Fe2+ é a forma do Fe absorvida pelas plantas (Malavolta, 2006). Entretanto, ocorrem reações químicas nos solos que reduzem a sua disponibilidadeàs plantas. O pH do solo é um dos fatores que mais afeta a disponibilidade do Fe às plantas. Quanto maior o pH do solo, menor a disponibilidade deste micronutriente ao cafeeiro e menor é o teor nas folhas do cafeeiro (Abreu et al., 2007). Entretanto, um dos fatores que mais afeta a disponibilidade do Fe ao cafeeiro é o potencial de oxiredução dos solos. Os ambientes redutores (alto teor de umidade) possuem os maiores teores do íon Fe2+ na solução do solo, forma disponível às plantas. Em ambientes oxidantes (baixo teor de umidade), o íon Fe2+ é oxidado ao íon Fe3+ reduzindo


CAFÉ a sua disponibilidade às plantas (Camargo, 1988). 3.3.2. Fornecimento de ferro ao cafeeiro O Fe pode ser fornecido ao cafeeiro nas adubações de solo e em pulverizações foliares. Normalmente, os solos cultivados com cafeeiro possuem teores adequados de Fe. Portanto, não há necessidade da sua aplicação no solo. Em lavouras com deficiência de Fe, a forma mais eficiente para o fornecimento deste micronutriente cafeeiro é a adubação foliar. Desta forma, as reações químicas do solo que afetam a disponibilidade do Fe ao cafeeiro são eliminadas.

Figura 1. Efeito da aplicação de quatro doses do sulfato de manganês no teor de Mn no solo disponível às plantas durante um período de sete meses.

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a. Adubações foliares com ferro A forma mais eficiente para o fornecimento de Fe ao cafeeiro é a aplicação foliar. Realizar aplicações foliares do Fertilis® Ferro na dosagem de 2 L/ha. 3.4. Manganês (Mn) 3.4.1. Dinâmica do manganês no solo O Mn2+ é a forma do Mn absorvida pelas plantas (Malavolta, 2006). Entretanto, ocorrem reações químicas nos solos que reduzem a sua disponibilidade às plantas. O pH do solo é um dos fatores que mais afeta a disponibilidade do Mn às plantas. Quanto maior o pH do solo, menor a disponibilidade deste micronutriente ao cafeeiro e menor é o teor nas folhas do cafeeiro (Abreu et al., 2007). A calagem eleva o pH do solo e induz a oxidação do Mn2+ às formas químicas com maior valência e menor disponibilidade ao cafeeiro (Mn3+ e Mn4+). O processo de oxidação do Mn pode ser representado pela seguinte reação química (Borkert et al., 2001). Mn2+ + 2MnO2

Mn3O4

Miyazawa et al. (1996) verificaram que o aumento no teor de Mn disponível no solo é proporcional a quantidade de sulfato de manganês aplicado ao solo. Entretanto, com o passar do tempo, ocorre uma diminuição no teor do Mn disponível no solo. O teor do Mn2+ no solo é reduzido a níveis próximos do tratamento sem a aplicação do sulfato de manganês (teor inicial de Mn) devido às reações de oxidação e redução. A oxidação do Mn2+ para as formas não disponíveis ao cafeeiro é mais acentuada em solos com baixo teor de umidade (períodos de estiagem). 3.4.2. Fornecimento de manganês ao cafeeiro O Mn pode ser fornecido ao cafeeiro nas adubações de solo e em pulverizações foliares. A forma mais eficiente para o fornecimento do Mn ao cafeeiro é a adubação foliar. Desta forma, as reações químicas do solo que afetam a disponibilidade do Mn ao cafeeiro são eliminadas. a. Adubações nos solos com manganês As adubações de Mn no solo devem ser realizadas na projeção da copa do cafeeiro. Nesta faixa do

Fonte: Adaptado de Miyazawa et al. (1996)


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solo, o teor de umidade é maior mantendo por maior tempo, o Mn na forma prontamente disponível ao cafeeiro, Mn2+. Além disso, ocorre maior difusão do Mn no solo, processo predominante na absorção do Mn pelo cafeeiro. Cerca de 80% do Mn absorvido pelas culturas ocorre por difusão (Malavolta et al., 1997). Em lavouras irrigadas, o Mn pode ser aplicado via fertirrigação por gotejo, microaspersão ou pivot central (lepa). b. Adubações foliares com manganês A forma mais eficiente para o fornecimento de Mn ao cafeeiro é a sua aplicação foliar. Em solos com baixo teor de Mn, realizar pelo menos 4 aplicações foliares. Matiello e Vieira (1993) avaliaram a resposta do cafeeiro a aplicação do Mn cultivado em solo com baixo teor deste micronutriente (Tabela 4). Verificaram que a aplicação do Mn em aplicações foliares proporcionaram os maiores aumentos na produtividade do cafeeiro. A aplicação do sulfato de amônio no solo também proporcionou aumento na produtividade do cafeeiro devido a acidificação do solo aumentando a disponibilidade do Mn.

produto em três aplicações: antes e depois do florescimento e no início da granação do cafeeiro. 3.6. Níquel (Ni) 3.6.1. Dinâmica do níquel no solo O Ni2+ é a forma do Ni absorvida pelas plantas (Malavolta, 2006). Entretanto, ocorrem reações químicas nos solos que reduzem a sua disponibilidade às plantas. O pH do solo é um dos fatores que afetam a disponibilidade do Ni às plantas. Quanto maior o pH do solo, menor a disponibilidade deste micronutriente ao cafeeiro e menor é o teor nas folhas do cafeeiro (Abreu et al., 1984). 3.6.2. Fornecimento de níquel ao cafeeiro A forma mais eficiente para o fornecimento do Ni ao cafeeiro é via foliar. A dose do Ni varia de 30 a 50 g/ha parcelado em duas ou três aplicações iniciando logo após o florescimento do cafeeiro. 4. Literatura consultada

ABREU, C.A.; LOPES, A.S.; SANTOS, G.C.G. Micronutrientes. In: NOVAIS, R.F.; ALPRODUÇÃO TRATAMENTOS VAREZ V., V.H.; BARROS, N.F.; FONTES, R.L.F.; RELATIVA CANTARUTTI, R.B.; NEVES, J.C.L. (Eds.). Ferti1. Sulfato de manganês, 10g/L, 2 aplicações foliares 388 lidade do solo. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira 2. Sulfato de manganês, 10g/L e sulfato ferroso, 20g/L, 2 aplicações foliares 357 de Ciência do Solo, p.645-736. 2007 3. Sulfato de manganês, 100g/planta, solo 314 CAMARGO, O.A. Micronutrientes no solo. 4. Esterco de curral, 20L/cova 119 In: BORKERT, C.M.; LANTMANN, A.F. Eds. 5. 1 + 4 232 Enxofre e micronutrientes na agricultura brasilei6. Sulfato de amônio, 200g/cova 238 7. Testemunha - sem aplicação de Mn ra. Londrina. Anais. p.103-120. 1988. 100 1/ Teor de Mn no solo (Mehlich-1): 5 mg/dm3 de Mn. Teor de Mn nas folhas do cafeeiro GUIMARÃES, J.G.; MENDES, A.N.G.; (testemunha): 10 mg/kg. Fonte: Matiello e Vieira (1993). BALIZA, D.P.; Semiologia do cafeeiro: Sintomas de desordens nutricionais, fitossanitária e fisiRecentemente, a Bio Soja lançou um fertilizante fluido ológicas. Lavras: UFLA, 2010. 215p. fornecedor de Mn ao cafeeiro com uma formulação diferenLOPES, A.S.; CARVALHO, J.G. Micronutrientes: criciada (NHT® Manganês +). A fonte do Mn do NHT® Man- térios de diagnose para solo e planta. Correção de deficiênganês + é o carbonato de manganês proporcionando maior cias e excessos. In: BORKERT, C.M.; LANTMANN, A.F. efeito residual e menores danos fisiológicos ao cafeeiro (Eds.). Enxofre e micronutrientes na agricultura brasileira. (baixo índice salino). A dose do NHT® Manganês + por apli- Londrina. Anais. p.133-178. 1988. MALAVOLTA, E. Manual de nutrição mineral de cação é de 1,0 a 1,5 L/ha dependendo do teor de Mn nas plantas. São Paulo. Editora Agronômica Ceres, 2006. 638p. folhas e do manejo do Mn nas adubações de solo. MALAVOLTA, E.; VITTI, G.C.;OLIVEIRA, S.A. Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e aplica3.5. Molibdênio (Mo) ções. 2 ed. Piracicaba:POTAFOS, 1997. 319p. 3.5.1. Dinâmica do molibdênio no solo MATIELLO, J.B.; GARCIA, A.L.; PAIVA, A.C.R.S. O MoO42- é a forma do Mo absorvida pelas plantas (Malavolta, 2006). Conforme comentado no artigo anterior, Análise de solo é importante para a economia na lavoura de os maiores teores de Mo são encontrados nos solos argilosos. café. Revista Attalea Agronegócios. Franca, v.82. p. 25-26, A calagem e as adubações fosfatadas aumentam a disponibi- setembro de 2013. PENATTI, C.P. Micronutrientes. In: PENATTI, C.P. lidade do Mo ao cafeeiro e as adubações com o gesso agrícola (sulfato) reduz a sua disponibilidade. Entretanto, mesmo em Adubação da cana-de-açúcar: 30 anos de experiência. Itu. solos argilosos, a calagem por si só não está sendo suficiente Ottoni Editora. p.237-251. 2013. RIBEIRO, A.C.; GUIMARAES, P.T.G.; ALVAREZ V.; para atender as necessidades do cafeeiro em sistemas com V.H. (Eds.). Recomendações para o uso de corretivos e feraumento potencial produtivo. tilizantes em Minas Gerais. Viçosa: Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999. 359p. 5ª aproxi3.5.2. Fornecimento de molibdênio ao cafeeiro A forma mais eficiente para o fornecimento do Mo ao mação. STEVENSON, F.J. Humics chemistry. Genesis., comcafeeiro é via foliar. Aplicar 1,5 L/ha do Fertilis® Mol parcelando a dose do position, reactions. New York, John Wiley, 1982. 443p. Tabela 4: Resposta do cafeeiro em produção a aplicação de manganês.


CAFÉ

Fertirrigação ameniza problemas com estiagem

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estiagem que o Sudeste sofreu neste verão trouxe sérios problemas às lavouras, principalmente aos cafezais. O verão é a época de principal desenvolvimento das plantas, devido ao calor, luminosidade e abundância de chuvas e, uma vez que um desses fatores falha, todo o desenvolvimento é comprometido. Como o café é uma cultura perene, a estiagem causa dois grandes danos: prejudica a produção deste ano, diminuindo a quantidade e também a qualidade do café. Além disso, prejudica também a safra do próximo ano, pois com a seca o cafeeiro não teve a capacidade de gerar ramos novos, e somente a partir destes ramos novos, o café pode produzir no próximo ano. “Não há como calcular de forma exata, pois ainda não foi feita a colheita, mas a previsão é que a quantidade e a qualidade tenham uma redução entre 15% e 30%, além de que deve diminuir a quantidade da safra do ano que vem também”, avalia o especialista em nutrição de café e consultor da Tradecorp, Ricardo Teixeira. As plantas que estão em lavouras sem irrigação sofreram até 60 dias com pouquíssima água, provocando um período de estresse, o que quer dizer que o metabolismo dessas plantas praticamente paralisou, ficou muito lento, portanto não conseguiram se desenvolver de forma adequada. O que se pode fazer agora com a volta das chuvas é oferecer uma nutrição que auxilie a planta a acelerar o metabolismo

para que volte a vegetar. Embora essa ação não consiga evitar os estragos causados pela estiagem, pode diminuir o efeito da perda. “A recuperação pode acontecer através de algumas substâncias, que podem ser aplicadas ou via folha ou no solo, para que o cafeeiro tenha uma aceleração do metabolismo, aproveitando esse período que ainda tem iluminação e calor para recuperar um pouco do que perdeu. Não que vá conseguir diminuir totalmente o dano da seca, mas é possível auxiliar bastante. Para o produtor que não tem sistema de irrigação, minha sugestão é que consulte um técnico qualificado, faça um projeto e implante o sistema. E para quem já tem irrigação, mas não faz fertirrigação, que comece a fazer, pois está subutilizando o equipamento e a fertirrigação traz uma série de benefícios”, explica Teixeira. Para a recuperação dos cafezais, Teixeira recomenda a utilização de compostos orgânicos e uma nutrição complementar adequada às necessidades do cafezal, que precisa se recuperar do estresse a que foi submetido. Esse problema comprova que a fertirrigação é muito importante, pois ameniza problemas como a estiagem, e a nutrição pode ser feita de forma parcelada, assim a planta é alimentada mais vezes, o que pode melhorar a sua formação e, assim, a qualidade de seu grão.

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CAFÉ

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esquisadores do Departamento de Entomologia da UFV - Universidade Federal de Viçosa (MG) testaram a eficácia de produtos utilizados na produção de café orgânico para controlar ácaros e avaliaram os efeitos subletais dos produtos sobre inimigos naturais. Na pesquisa conduzida pelo estudante de doutorado, Edmar Souza Tuelher, foram avaliados três produtos no controle do ácaro vermelho do cafeeiro (Oligonychus ilicis) e seus efeitos sobre o ácaro predador Iphiseiodes zuluagai. Os produtos testados foram: biofertilizante Supermagro, calda sulfocálcica e calda Viçosa, cujo nome comercial é Viça Café Plus. Embora os cafeicultores orgânicos no Brasil utilizem uma gama de produtos para controle de pragas, ainda não foi comprovada a eficácia da maioria deles para o controle de ácaros. Também não há informações a respeito dos efeitos subletais desses produtos sobre inimigos naturais. O artigo “Toxicity of organic-coffee-approved products to the southern red mite Oligonychus ilicis and to its predator Iphiseiodes zuluagai”, publicado na Crop Protec-

FOTO: UFV

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Eficácia de produtos utilizados na cafeicultura orgânica é testada para controle de ácaros

tion no mês de janeiro, revela que, com base nos bioensaios de concentração letal aguda, para os três produtos analisados, o ácaro predador I. zuluagai foi mais tolerante do que a sua presa, o ácaro herbívoro O. ilicis. Apenas a calda sulfocálcica mostrou efeitos letais agudos em concentrações menores do que as doses recomendadas no campo (20 e 40 ml / L). Para conduzir o experimento, o ácaro herbívoro e o seu predador foram coletados numa lavoura de café não pulverizada, no Campus da UFV, em Viçosa. Os ácaros foram levados para laboratório, onde a criação foi mantida e foram realizados testes para verificar o efeito letal e subletal dos três produtos. Além dos testes em laboratório, a eficácia dos produtos foi testada em casa de vegetação. O estudo conclui que a utilização de calda sulfocálcica na produção de café orgânico é uma boa alternativa para prevenir e controlar a infestação do ácaro O. ilicis. O mesmo não se aplica aos outros produtos testados. Embora Supermagro e Viça Café Plus apresentem controle satisfatório das espécies de ácaros-praga em casa de vegetação, nas concentrações testadas, esses produtos têm baixa seletividade. Isso compromete o seu potencial para utilização no manejo de pragas na produção de café orgânico, nas doses atualmente recomendadas para controle de ácaros no campo. No entanto, o Supermagro e Viça Café Plus são importantes produtos que podem ser utilizados para a nutrição do cafeeiro.


CAFÉ

Fazendas de Pedregulho (SP) criam Programa Internacional de Estágio

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FOTOS: O’Coffee - Divulgação Facebook

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teinarr Ólafsson, da Islândia, é o recém-chegado estagiário da O’Coffee Brazilian Estates, uma das maiores empresas produtoras de cafés especiais, com sede em Pedregulho (SP), região da Alta Mogiana paulista. O estudante chegou no dia 12 de março e ficará no Brasil por três meses, na Fazenda Nossa Senhora Aparecida, para adquirir mais conhecimentos sobre café, da semente à xícara. Steinarr participa do Programa Internacional de Estágio, criado pela empresa para promover a maior sinergia de conhecimentos a partir de atividades multidisciplinares sobre o mundo do café. “Nós estamos sempre abertos a idéias novas e eu pessoalmente acredito muito na troca de experiência entre culturas”, diz Edgard Bressani, superintendente da O’Coffee. A O’Coffee Brazilian Estates, pertencente às Organizações Sol Panamby, foi criada em 2011 e passou a ser a marca dos cafés diferenciados produzidos em suas seis propriedades, todas em Pedregulho (SP): Fazenda Nossa Senhora Aparecida, Fazenda Santa Maria, Fazenda Santa Rita, Fazenda Fazendinha, Fazenda Santa Adélia e Fazenda São José. Todas instaladas a uma altitude média de mil metros, juntas, as fazendas possuem mais de 4 milhões de pés de café distribuídas em 5 mil hectares, sendo metade de sua área

Edgard Bressani, superintendente da O’Coffee, e o estagiário islandês Steinarr Ólafsson.

irrigada. Em média são produzidas 35 mil sacas de café com terroirs e características diversas. A O’Coffee trabalha a criação de perfis de sabor de acordo com a preferência de seus clientes. Este é um de seus diferenciais. Com colheita seletiva, manual e mecânica e centro de preparo moderno, 20 tipos de café são comercializados, entre eles diferentes naturais, descascados, despolpados, desmucilados, microlotes e blends, que posteriormente serão degustados por consumidores de paladar exigente. As demais áreas das propriedades são dedicadas ao cultivo da cana-de-açúcar, à plantação de eucalipto, banana, soja e à criação do gado Nelore PO e carneiro Dorper. Em virtude de sua altitude, clima favorável e larga experiência na produção de cafés finos, a região da Alta Mogiana, no interior paulista, é conhecida mundialmente por oferecer produto de qualidade excepcional, como o café arábica, bebida de corpo e acidez equilibrada, com excelente doçura natural e fragrância caramelizada.


CANA DE AÇÚCAR

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Syngenta anunciou em março deste ano a expansão de suas parcerias com os principais centros de pesquisa e tecnologia do setor sucroenergético para a comercialização de variedades de cana-deaçúcar. A inclusão de um acordo com o CTC – Centro de Tecnologia Canavieira, e a continuação dos acordos com a Ridesa (Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético) e com o IAC (Instituto Agronômico de Campinas), tornarão disponíveis os bancos genéticos dessas instituições para toda a base de clientes da Syngenta. As variedades serão utilizadas dentro da plataforma de tecnologia de plantio PLENE para os produtos Plene Evolve (mudas desenvolvidas para viveiros pré-primários) e Plene PB (mudas pré-germinadas). “Com as parcerias,temos agora à disposição o melhor e mais completo portfólio de variedades para o plantio de cana-de-açúcar do mercado”, afirma Adriano Vilas Boas, diretor Global de Marketing da Syngenta. “Com isso, reforçamos nossa oferta de soluções integradas com tecnologia para o aumento de produtividade e qualidade na produção brasileira de açúcar e etanol”, conclui o executivo. Entre as variedades do CTC, que serão utilizadas exclusivamente no Plene Evolve, estão a CTC21, que confere maior tolerância às principais doenças, e a CTC7, apta ao plantio de inverno. Entre as opções do IAC estão a IACSP95-5000, que garante alta produtividade e adaptação à mecanização, e a IACSP95-5094, com alto teor de sacarose e florescimento raro. Como destaques da Ridesa estão a RB965902, de alto teor de sacarose e excelente sanidade, e a RB928064, com alto teor de sacarose em final de safra e menor florescimento. As variedades do IAC e da Ridesa estão disponíveis tanto para Plene Evolve quanto para Plene PB. As novas ofertas possibilitarão atender aos clientes que antes não tinham acesso a tecnologias específicas para suas necessidades, como, por exemplo, aqueles localizados

Perfil de solo com muda já brotada de cana de açúcar com tecnologia PLENE da Syngenta.

FOTOS: Divulgação Syngenta

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Syngenta comercializa novas variedades para seus produtos Plene Evolve e Plene PB

Luis Eduardo Batista, responsável pelo viveiro de mudas de cana da Syngenta em Itápolis (SP).

em ambientes produtivos desafiadores. “A parceria é benéfica por fortalecer ainda mais a presença do CTC nos canaviais brasileiros, isso porque teremos mais um canal para não apenas multiplicar nossas variedades sadias, como também entregá-las aos nossos clientes”, conta Osmar Figueiredo Filho, diretor Comercial do CTC. Os investimentos em pesquisas para as soluções em cana-de-açúcar da Syngenta são sustentados pela aplicação de recursos global da empresa, de US$ 1,4 bilhão por ano em P&D. O foco da Syngenta em cana-de-açúcar, incluindo o desenvolvimento de um território comercial dedicado exclusivamente a essa cultura, possibilitou que a empresa construísse uma proximidade inigualável com os clientes e, consequentemente, no crescimento de vendas de produtos de proteção para cana acima dos 50% ao ano em 2012 e 2013. As variedades de cana de açúcar com esta tecnologia já estão disponíveis para a safra 2014/2015.

Gemas de cana de açúcar tratadas com a tecnologia PLENE contra pragas e doenças.


CITROS

Brasil testa laranja transgênica resistente a pragas

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Brasil, maior produtor mundial de laranja e de suco, avança nas pesquisas para a produção da primeira planta transgênica resistente a pragas. Um grupo de pesquisadores comandados pelo FUNDECITRUS - Fundo de Defesa da Citricultura e coordenado pelo cientista espanhol Leandro Peña - um dos pioneiros em biotecnologia de citros no mundo - iniciou este ano um teste inédito no Brasil com o cultivo de pomares de laranjeiras geneticamente modificadas. Já foram plantadas 650 mudas transgênicas em uma propriedade rural na cidade de Ibaté (SP). Elas são derivadas de 40 borbulhas (ramos) de laranja doce importadas da Espanha, que passaram por um período de quarentena e ainda por autorização da CNTBio - Comissão Técnica Nacional de Biossegurança. Em dois anos e meio as plantas devem gerar as primeiras laranjas transgênicas produzidas em campo no Brasil. As frutas serão inéditas porque nas pesquisas anteriores em campo eram proibidos o florescimento e a frutificação da árvore, o que impedia a avaliação dos efeitos da transgenia na laranja. Foi o que ocorreu com a Alellyx, empresa de biotecnologia do Grupo Votorantim, incorporada em 2010 pela Monsanto, que deixou de pesquisar citros após a operação. No entanto, a partir de maio do ano passado a CTNBio autorizou o cultivo de plantas transgênicas com o ciclo completo. Os pesquisadores acreditam que, por meio da modificação genética, as plantas já cultivadas no interior paulista sejam resistentes à pinta preta dos citros e ao cancro cítrico,

pragas severas aos pomares brasileiros, que movimentam por ano cerca de US$ 6,5 bilhões. Segundo o gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Fundecitrus, Antonio Juliano Ayres, ainda este ano outros pomares transgênicos serão cultivados. O primeiro na região sul de São Paulo, para avaliar os efeitos do clima mais ameno nas plantas, e outro no norte do Paraná, para testar a resistência ao cancro, já que a pesquisa com a doença em ambientes abertos é proibida nas lavouras paulistas. “Em dois anos e meio as plantas começarão a produzir “, explicou Ayres. Os resultados finais só devem ser verificados em mais de sete anos, já que é necessário avaliar se a planta seguirá resistente à doença e com boa produtividade. Assim, as primeiras frutas transgênicas só devem ser viáveis comercialmente na próxima década. GREENING - Paralelamente, o Fundecitrus realiza estudos em busca de uma variedade transgênica de laranja capaz de ser resistente ao greening, a pior praga da citricultura mundial. No entanto, Ayres alerta que as futuras laranjeiras transgênicas não deverão ser a solução exclusiva para o fim das pragas, principalmente do greening, nos pomares. Para ele, o uso das plantas geneticamente modificadas terá de ser consorciado com o manejo dos pomares, com aplicação de inseticidas, o controle biológico das pragas, fiscalização e erradicação de plantas doentes.

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