Edição nº 98 - Dezembro 2014

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GRÃOS

Coleta equivocada de amostras e a qualidade do leite

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A proibição do transporte e do processamento do leite cru não refrigerado foi, sem sombra de dúvidas, importante na implantação do programa de Pagamento pela Qualidade de Leite. Viabilizou melhorias no ponto final do leite. Porém, estampados na necessidade de frear os custos de produção, a maioria dos laticínios passou a delegar aos próprios caminhoneiros (muitas vezes terceirizados) a obrigação de proceder à coleta das amostras, sem nenhum treinamento específico, como se este ato não fosse extremamente importante.

Aplicação de fungicidas no manejo de doenças na cultura da soja

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Sandro Quinebre, da Du Pont Pioneer, aborda informações importantes para os produtores de soja de todo o Brasil sobre o controle de doenças fúngicas.

Georreferenciamento e Sensoriamento Remoto

CAFÉ

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A matéria aborda a importância da adoção de geotecnologias no sistema produtivo do café, principalmente através do uso de imagens de satélite, GPS e geoprocessamento.

Cultivo consorciado de Café e Noz-Macadâmia

HORTALIÇAS CAFÉ

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rente às expectativas de empresários e produtores rurais com relação à nova política econômica do Governo Federal, bem como a expectativa de quais serão os novos integrantes de cargos políticos importantes para a Agricultura e Pecuária em Brasília (DF) e nos Estados, o final de ano chega e a safra brasileira está a pleno vapor. Principalmente após a regularização das condições climáticas em praticamente todo o país. O Pagamento pela Qualidade do Leite demorou a ser implantado no Brasil. Como proposta, busca contribuir com todos os setores da cadeia produtiva e, por consequência, com o próprio consumidor. Contudo, pensando unicamente em reduzir os seus custos, grande parte dos laticínios brasileiros comprometem todo o processo ao promover a coleta equivocada de amostras. Mesmo acompanhando os altos e baixos do mercado físico e futuro, os cafeicultores procuram investir em suas propriedades, como forma de equilibrar os problemas climáticos que enfrentou nos últimos 6 meses. Atenção redobrada às pragas e doenças. Por outro lado, em artigo do cafeicultor, consultor e corretor de café Marco Antônio Jacob, este mostra que a falta de uma política pública para o setor cafeeiro compromete sobremaneira todo o investimento e suor dos cafeicultores no Brasil. Já o consórcio de café com noz-macadâmia confirma a possibilidade de geração de renda extra tanto para cafeicultores quanto para fruticultores. Na produção de hortaliças, destaque para as novas variedades de alface da Top Seed e da Isla Sementes, que buscam atender as exigências do mercado nacional, através do visual e do paladar agradável. Na pecuária suína, artigo importantíssimo sobre a Diarréia Epidêmica Suína. A ABCS - Associação Brasileira de Criadores de Suínos e o MAPA - Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento lançaram comunicado que orienta criadores sobre os cuidados e práticas gerais necessárias para garantir a biossegurança nos criatórios, sejam de grandes granjas ou criatórios pequenos. Queremos desejar a todos os nossos leitores, que nos acompanharam durante todos os meses de 2014, um Feliz Natal e um excelente Ano Novo que se inicia. Boa Leitura.

SUÍNOS

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Safra em pleno vapor, em final de ano de muita expectativa

DESTAQUE: Qualidade Leite

EDITORIAL

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Pesquisadores da APTA - Polo Centro Oeste publicam artigo voltado a cafeicultores e produtores de frutas, onde aborda o consórcio de Café com NozMacadâmia

Novos tipos de alface para a geração de renda

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Num mercado exigente como o atual, não basta apenas produzir alfaces bonitas. É preciso atrair o público consumidor através do paladar. Confira as novas variedades da TopSeed e Isla Sementes.

ABCS alerta sobre Diarréia Epidêmica em Suínos

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A ABCS - Associação Brasileira dos Criadores de Suínos e o MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento alertaram os criadores sobre a possibilidade de entrada da PED.


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MÁQUINAS

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rojetado para aumentar a execução do trabalho produtivo, é bem verdade que a utilidade de um trator está diretamente ligada aos diferentes tipos de implementos existentes e sua vasta gama de aplicações, gerando economia de tempo e maior rentabilidade em campo. Por isso, fatores como modelo, potência ou capacidade, que sempre foram fundamentais para o agricultor na hora de decidir em qual equipamento investir, agora ganham um novo ponto que também passa a ser levado em consideração na hora da escolha da máquina: um sistema forte e resistente para acoplar diferentes implementos agrícolas. Para suportar o esforço do trabalho em campo, “é indispensável contar com um sistema de alto desempenho para acoplamento de tratores adequado também ao solo de cada área agrícola”, afirma César Bonacini, gerente comercial da Tuzzi. Ele garante que tanto o Sistema de Terceiro Ponto quanto o de Tração já se tornaram itens de seleção na hora da escolha do trator. De acordo com Bonacini, uma demanda por sistemas mais resistentes para acoplamento de tratores, sobretudo no Brasil, surgiu nos últimos anos, o que levou a Tuzzi, fabricante de peças e componentes agrícolas, a desenvolver produtos até 30% mais robustos do que os projetos internacionais. “Diferentemente de regiões onde o índice de mecanização é elevado, como é o caso da Europa e EUA, fatores como topografia, solo e utilização do equipamento acabam sendo pouco favoráveis no Brasil, exigindo projetos diferenciados e de alta resistência”, explicou. Falhas neste elo de ligação podem acarretar perdas na produção horária da máquina e, consequentemente, prejuízos em campo, levando o agricultor a buscar por sistemas com maior resistência em campo, assegura Bonacini. Segundo o gerente comercial, hoje, a informação sobre o custo-hora máquina e o quanto isso influencia no dimensionamento dos custos de produção já é uma realidade ao alcance do produtor. Algumas tabelas disponibilizadas pela EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) conseguem estimar a vida útil de diversos implementos, máquinas, instalações e os ajudam nesses cálculos. De fato, máquina parada gera perda de produtividade e prejuízo, ainda mais quando a causa poderia ser evitada com a escolha de um sistema de acoplamento para tratores mais adequado à realidade de cada campo, submetido a rigorosos testes e, portanto, mais confiável. “Os Sistemas fabricados pela Tuzzi, por exemplo, são desenvolvidos em um moderno Centro Tecnológico de padrão mundial e passam por testes de carga e resistência que comprovam maior robustez para suportar as agressões severas do campo. É por isso que são aprovados e estão presentes nas máquinas das montadoras de tratores mais exigentes, oferecendo um rendimento muito superior”, finalizou. TUZZI FORNECE PARA 100% DAS MONTADORAS DE TRATORES INSTALADAS NO BRASIL - A Tuzzi é uma

FOTO: Divulgação Tuzzi

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Sistema de alto desempenho para acoplamento de tratores aumenta rendimento em campo

“Atender todas estas grandes montadoras nos faz ainda mais confiantes no nosso trabalho, mais responsáveis pelo que conquistamos e nos impulsiona para objetivos ainda maiores”, diz Alexandre Tuzzi.

empresa genuinamente brasileira que iniciou suas atividades no ano de 1985 com a aquisição de uma fábrica de molas e se especializou na produção de sistemas de suspensão para veículos. Com sede em São Joaquim da Barra (SP), ao longo dos anos a empresa diversificou mercados e investiu em um processo de ampliação nos negócios, construindo um parque fabril moderno, com unidades integradas e tecnologias de ponta. Com foco em soluções para a indústria, a Tuzzi desenvolve e produz peças e componentes como os sistemas de acoplamento para tratores de rodas e os sistemas de suspensão para os mercados agrícola e automotivo, respectivamente, além de laminados de aço e forjados para o ferroviário e construção civil, com projetos sob medida, desde o estudo até a produção das peças. A Tuzzi acaba de concluir mais uma das etapas previstas para 2014: tornar-se fornecedora de todas as maiores montadoras de tratores agrícolas instaladas no Brasil. A meta já estava nos planos deste ano da fabricante de sistemas de acoplamento para tratores, peças e componentes forjados e foi concluída recentemente com a entrada de uma grande fabricante de tratores americana na carteira de clientes da Tuzzi. A decisão de utilizar o máximo do potencial intelectual da empresa para oferecer não apenas um produto bem feito, mas com desenvolvimento e tecnologia competitiva tanto para o mercado interno quanto externo, foi fundamental para esta conquista. “Este foi o caminho que escolhemos e deu certo”, pontuou o diretor industrial Alexandre Tuzzi. “Quem olha para a Tuzzi agora, não faz ideia do longo caminho que percorremos para chegar onde estamos. Hoje, atender todas estas grandes montadoras nos faz ainda mais confiantes no nosso trabalho, mais responsáveis pelo que conquistamos e nos impulsiona para objetivos ainda maiores, que é o de estar presente também nas montadoras fora do Brasil com produtos de ponta e desenvolvimento tecnológico”, concluiu.


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EMPRESAS

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Nutreco adquire duas empresas brasileiras de nutrição animal

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Nutreco anunciou no início de dezembro que adquiriu duas empresas no Brasil, em linha com a estratégia de expandir seus negócios para regiões emergentes. A Nutreco adquiriu a Fatec Indústria de Nutrição e Saúde Animal Ltda (produtora e fornecedora brasileira de premixes e produtos de saúde animal para aves de corte e postura, suínos e gado de leite) e a BRNova Sistemas Nutricionais S.A. (fornecedora brasileira de premixes e nutrição animal principalmente para aves e suínos). Com essas duas aquisições, a Nutreco aumenta a sua presença no Brasil, o terceiro maior mercado de nutrição animal no mundo, e aumenta sua receita anual de R$ 375 milhões para aproximadamente R$ 600 milhões. O Brasil é um mercado em rápido desenvolvimento, com crescimento anual de 4% a 5% em nutrição animal. As aquisições fazem com que a Nutreco tenha um maior acesso aos estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e ampliam seu portfólio de espécies ao incluir suínos, aves de corte e postura. Elas também fortalecem o portfólio de produtos da Nutreco Brasil com a adição de premixes, produtos de saúde animal e alimentos especiais, incluindo Probióticos. As aquisições acelerarão a estratégia da Nutreco de expandir as vendas de suas marcas globais e soluções nutricionais. O CEO Nutreco, Knut Nesse afirmou que a aquisição da Fatec e da BRNova são operações estratégicas e complementares. “Estas empresas trazem consigo forte knowhow em premixes, sólidas posições de mercado, expandem nossos portfólios de produtos e espécies no Brasil e possuem um histórico de venda de produtos inovadores para seus clientes. Elas também são perfeitamente adequadas à nossa estratégia de expansão geográfica e à nossa missão, que é “Feeding the Future” (Alimentando o Futuro).” A Fatec e a BRNova serão parte da Nutreco Brasil, junto aos negócios já existentes da companhia no País: Bellman (marca de suplementos minerais para ruminantes) e Fri-Ribe (marca de rações, premixes e alimentos especiais para ruminantes, suínos, aves e aquicultura). Com a aquisição da Fatec e da BRNova, a receita aproximada da Nutreco Brasil será de aproximadamente R$ 600 milhões. FATEC - Estabelecida em 1966 e com sede em Arujá (SP), a Fatec possui uma planta com laboratório e sistema de rastreabilidade avançados. A empresa vende aproximadamente 20.000 toneladas por ano de premixes, produtos de saúde animal e Probioticos no Brasil, com principal foco em clientes de médio porte nos estados do Sul. A Fatec fornecerá à Nutreco uma forte plataforma comercial na Região Sul do Brasil, onde se produz principalmente aves, suínos e gado de leite, complementando a cobertura geográfica e de espécies da companhia. A Fatec emprega aproximadamente 240 pessoas e em 2014 terá uma receita aproximada de R$ 150 milhões. BR NOVA - Estabelecida em 2012 e com sede em Hortolândia (SP), a BR Nova é uma empresa guiada pela inovação, com fortes recursos de aplicação de soluções nutricionais e foco em grandes clientes. Vende aproximadamente 20.000 toneladas por ano de premixes e especialidades nutricionais, com maior foco nos estados da região Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A BRNova emprega aproximadamente 100 pessoas e em 2014 terá uma receita aproximada de R$ 75 milhões.

contatos ALINE MORAIS CRISTO (alinemoraiscm@hotmail.com) Administradora - Presidente Epitácio (SP). “Gostaria de assinar a Revista Attalea”. ALINE MARTINS (aline@equipesca.com.br) Consultora - Campinas (SP). “Trabalho com consultoria de vendas das telas de sombreamento e gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios”. BEATRIZ ODORCIK (bia_odorcik@hotmail.com) Estudante - Campinas (SP). “Gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”. WESLEY DAVID DOS SANTOS (wesleydavids@yahoo.com.br) Engenheiro Agrônomo - Presidente Olegário (MG). “Sou agrônomo com experiência em cafeicultura e quero receber a Revista Attalea Agronegócios”. LETICIA RAGAZZI DE PAIVA (leticiapaiva@cooxupe.com.br) Cooperativa Cooxupé - Itamogi (MG). “Gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios”. ERNESTO ROGERIO PEREIRA MELO (ernestobiguatinga@hotmail.com) Estudante - São Pedro da União (MG). “Sou filho de produtor rural e estudante de Agronomia na UNIFENAS, em Alfenas/MG e gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios”. ANDRÉ LUIZ DE PAULA (andre.ssp@hotmail.com) Engenheiro Agrônomo - São Sebastião do Paraíso (MG). “Gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”. ANDRÉ LUIZ VOLPE (andreluizzvolpe@hotmail.com) Produtor Rural - São Sebastião do Paraíso (MG). “Gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios”. MATEUS BARBOSA ARAUJO (mateus_barbosaaraujo@hotmail.com) Estudante - Lavras (MG). “Sou estudante de Agronomia e gostaria muito de receber a Revista Attalea Agronegócios”.

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LEITE

O pagamento pela qualidade do leite e a coleta equivocada de amostras: um enorme gargalo

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FOTO: Divulgação

Guilherme Alves Mello Franco1

o longo dos últimos dez anos, temos acompanhado, no Brasil, um intenso movimento de forças voltado à melhoria da qualidade do leite, sob o emblema da competitividade e, até mesmo, da sanidade do produto. Não restam dúvidas que o caminho que vem sendo percorrido é alviçareiro e merece aplauso, uma vez que atinge, de forma sistêmica e profícua, a toda a cadeia produtiva, desde a produção até o consumidor final. Em sendo o leite um dos alimentos mais completos e nutritivos que existem, não nos era mais possível tolerar a total irresponsabilidade, de todo o setor, com a higidez física daqueles que o consomem, que

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pululava pelos quatro cantos do País e que beirava a um sério problema de saúde pública. Muito embora não sejam normatizações ideais, ainda mais se nos ativermos a analisá-las sob o prisma da realidade nacional, as Instruções Normativas, do MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento n.º 51, de 04 de Novembro de 2011, e, 62, de 29 de Dezembro de 2011, vieram, como bombeiros, a apagar parte do grande incêndio que se avolumava dentro das prateleiras da cadeia produtiva do leite, mesmo que não possam, pelo menos a curto e médio prazo, ser consideradas uma panaceia, um salvo-conduto permanente para todos os agentes do mercado. A proibição do transporte e do processamento do leite cru não refrigerado foi, de forma indene de dúvidas, um grande divisor de águas em todo este processo, pois passou a promover uma melhor conservação do produto inicial, viabilizando melhorias no ponto final do mesmo, que é a prateleira do supermercado e a mesa do consumidor, onde o alimento pode permanecer por mais tempo, sem que se deteriorasse por completo. Por lado outro, a normatização exigiu, não só do produtor, mas, também, da indústria laticinista, um profissionalismo muito mais acentuado, promovendo uma radical tomada de decisões, que se encontra mergulhada no substrato entre o permanecer na atividade ou o fechar de portas. Surgiu, deste momento em diante, a necessidade de cobrar do pecuarista de leite uma melhoria em seu sistema de produção, com extremo controle da higiene no processo de extração e armazenamento do produto, bem como, da sanidade do seu rebanho, para que tivéssemos o cumprimento das determinações emanadas pelas Instruções Normativas n.º 51

AUTOR

1 - Advogado, Produtor de Leite e Proprietário da Fazenda Sesmaria - Alfa Milk, no município de Olaria (MG).

e 62 (ambas em vigência), quanto ao nível de contagem de células somáticas (CCS) – que diz respeito à sanidade do úbere dos animais – e de contagem bacteriana total (CBT), esta pertinente à higiene da ordenha. Em contrapartida, ainda que de modo tímido, os laticínios passaram a remunerar melhor ao leite de qualidade superior, o que impactou, de forma substancial, à renda das propriedades leiteiras e passou, em muitos casos a ser um plus indispensável à sua própria mantença. De todo este estado de coisas, surgiu a imbatível necessidade de controlar o cumprimento das normas aqui destiladas, para se auferir o nível de pureza, de higienização e segurança alimentar do leite produzido nas fazendas,


o que passou a ser efetivado através a análise do produto, pelos membros da Rede Brasileira de Laboratórios de Qualidade do Leite (RBQL), distribuídos por todo o Brasil. Apesar de a responsabilidade de manter o leite resfriado, as condições impecáveis de higiene da ordenha e dos animais envolvidos na produção, esteja a cargo, única e exclusivamente, do produtor, os Laticínios assumiram para a si as obrigações de coletar as amostras de cada propriedade fornecedora do produto in natura e de enviá-las a uma das unidades laboratoriais existentes na região, destinando o resultado a cada um dos interessados, através de relatórios elaborados por aquele complexo laboratorial. É a partir deste ponto que nosso assunto começa a ser desenvolvido com maior acuidade. Estampados na necessidade de frear os custos de produção, a maioria dos laticínios passou a delegar aos próprios caminhoneiros, muitas vezes terceirizados, a obrigação de proceder à coleta das amostras, sem nenhum treinamento específico, como se este ato não fosse, em nada, complexo e como se as falhas em seu procedimento não representassem o desvirtuamento final da análise e sua imprestabilidade para o fim a que se destina: avaliar a qualidade do leite recebido. Para que uma análise tenha sucesso em seu objetivo, mister se faz que a amostra esteja conforme os requisitos necessários para o bom desenvolvimento deste processo, o que só ocorre se – e, somente se – todas as fases e determinações forem cumpridas a contento. Antes de tudo, é preciso ter em mãos os frascos, fornecidos pelos Laboratórios de Qualidade do Leite, que contêm as condições necessárias para a conservação da amostra, de acordo com o fim a que se destinam e possuem cores de tampa diferentes, justamente para evitara troca das mesmas quando da efetivação da análise. Para a Contagem de Células Somáticas (CCS), utilizase o frasco de tampa azul ou transparente (de acordo com o Laboratório) e que possui, em seu interior, um comprimido de Bronopol (de cor vermelha), que determina uma coloração pêssego à amostra e, para a Contagem de Bactérias Total (CBT), o de tampa vermelha, que contém um comprimido

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FOTO:SEBRAE-MG

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de Azidiol (azul). Em ambos, devem ser colocadas as etiquetas de identificação, também fornecidas pelo Laboratório, que servirão para a discriminação da amostra, através de um código de barras, que contém todos os dados da propriedade, evitando confusão de dados. Completam o catálogo de equipamentos necessários para a coleta, uma concha arredondada, de aço inoxidável (que facilita a higienização), muito embora seja comum a utilização de um coletor tipo copo, luvas de silicone, caixa isotérmica para o transporte das amostras e gelo reciclável, para que sejam as mesmas conservadas. O gelo comum não deve ser utilizado, porque derrete e inunda de água as amostras, o que as contamina e as inutiliza. Após colhidas as amostras de leite, as mesmas devem ser agitadas até que os comprimidos conservantes que se encontram dentro dos frascos estejam dissolvidos, lembrando, sempre, que os mesmos são altamente tóxicos, razão pela qual a coleta nunca deve ser efetuada dentro do perímetro da boca do tanque, para que não se corra o risco de que estes venham a cair dentro deste, o que resultaria na perda de todo o seu conteúdo, por contaminação. Para que se tenha uma homogeneização do leite, evitando que a mostra demonstre valores de gordura e células somáticas alterados, de sorte que, sob repouso, estas se depositam na superfície, é necessário que se agite o tanque por período entre três a cinco minutos, distribuindo, regularmente, estes componentes por todo o volume a ser coletado. As amostras, tão logo sejam colhidas devem ser, imediatamente, conservadas em temperatura entre 4º e 7º centígrados, sob pena de perderem a sua capacidade para o fim a que se destinam, ou seja, para análise, e enviadas ao laboratório num prazo máximo de até quarenta e oito horas. Vencidas todas estas etapas, resta-nos, agora, entender porque a coleta de análises é um dos maiores gargalos para o pagamento pela qualidade do leite. O primeiro aspecto que merece atenção é quanto ao treinamento daqueles que farão esta coleta na propriedade. Negligenciadas pela grande maioria da Indústria Laticinista, algumas até mesmo utilizando-se disso para auferir vantagens espúrias, evitando pagar ao produtor os bônus


EVENTOS

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advindos de seu trabalho e, até mesmo, além disso, descontando os valores que seriam quitados a este título, quase nunca emprestam seriedade no ensino destas técnicas a seus prepostos que, via de regra, coletam as amostras sem atenção alguma às técnicas acima expendidas. O segundo aspecto que, muitas vezes advém do primeiro, está na acuidade da coleta. Tendo que operacionar a coleta em diversas propriedades e com tempo restrito para tanto, já que têm que retornar ao laticínio em prazos apertados, os coletores nunca se preocupam, por exemplo, com o agitar do tanque de expansão ou dos latões, pelo tempo necessário, promovendo a coleta na sua superfície ou no seu fundo, onde os resultados serão muito diversos daqueles aferidos quando o leite se encontra devidamente homogeneizado (os índices de gordura e de contagem de células somáticas, quando a amostra se restringe ao leite superficial do tanque, são extremamente altos, porque as bactérias se unem às placas de gordura que, por serem menos densas, se depositam à flor do líquido). O terceiro aspecto está colecionado na higienização dos materiais e do operador da coleta. Para que se tenha uma coleta perfeita, todos os materiais que entraram em contato com a amostra devem estar rigorosamente limpos e desinfetados, já que o que se pretende é a análise das bactérias e sujidades que se encontram no leite e, não nos utensílios que são utilizados para colhê-lo. Em sendo um líquido muito susceptível à contaminação, qualquer descuido no seu manuseio pode ser desastroso para fins de análise, podendo trazer resultados infinitamente mais graves do que a realidade guarda. Assim, o uso de luvas descartáveis, a desinfecção do material de coleta (conchas), com a utilização de álcool a, pelo menos, 70º GL, e a higienização das mãos e braços do responsável pela coleta, são imprescindíveis para o bom andamento do serviço. Todavia, o usual é o coletor utilizar a concha de coleta sem qualquer desinfecção, apenas, quando muito, passando uma ligeira quantidade de água na mesma, não usar luvas descartáveis e nem se preocupar com a higiene pessoal, mesmo nos dias de maior calor e de mais acentuada percentagem de poeira nas estradas.

FOTO: UFPR

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Por fim, a conservação destas amostras se faz em recipientes que estão na estrada durante horas a fio, sendo certo que, nestes casos, pelas variações de ambiente e de contato com o ar exterior, mediante a constante abertura da caixa isotérmica, o gelo, ainda que reciclável, vai perdendo suas características conservadoras, fazendo com que a temperatura em seu interior seja superior aos 7º C, pondo em xeque, portanto, toda a veracidade da análise. Além disso, a remessa das amostras aos Laboratórios credenciados também se faz de forma equivocada, porque, quase nunca, se encontram na temperatura final necessária, ou porque foram destinadas a eles sem refrigeração (alguns laboratórios aceitam este tipo de material) ou porque estão fora dos prazos máximos de envio e recepção pela unidade laboratorial. O resultado prático de tudo o que acima descrevemos é o prejuízo inestimável do produtor que, muitas vezes, se queda apenado por um leite que não foi bem coletado, deixa de receber o que lhe seria devido e, ainda, perde valores que poderiam ser utilizados para o pagamento dos custos de produção. Enquanto não tivermos um sistema de coletas eficiente, sério, honesto e dentro das normas, o pagamento por qualidade, no Brasil, nunca deixará de ser uma utopia, em detrimento de produtores e da própria indústria, já que a confiabilidade do sistema sempre será limitada e a dúvida sobre a realidade dos níveis de qualidade do leite brasileiro sempre pairarão, tanto a nível interno quanto ao externo, impedindo que o produto aqui produzido seja recebido nas diversas partes do mundo consumidor. De nada nos terá valido ter acabado com o transporte de leite quente se a sistemática de coleta de análises se constituir em verdadeira Espada de Dâmocles sobre o pagamento por qualidade, trazendo insatisfação a todos os atores do mercado lácteo pátrio. Resolver a totalidade dos gargalos existentes na produção de leite nacional é dever de quaisquer dos agentes da cadeia produtiva, mas, principalmente, da Indústria que é o elo mais preparado para que estes sejam evitados, ao invés de, simplesmente, apenar ao produtor, como se ele fosse o único e exclusivo culpado.


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Aplicação de fungicidas no manejo de doenças na soja

FOTO: Marina Harumi Fujiwara

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Sandro Rossano Quinebre1 FOTO: José Ferreira dos Santos

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entre os principais cultivos agrícolas mundiais,a cultura da soja se destaca e vem crescendo significativamente a cada ano, já que é uma fonte de alimento muito importante para a crescente população mundial. No Brasil esta evolução é bem nítida. Há alguns anos atrás não se falava em cultivo de soja nas regiões de cerrado, mas graças a pesquisa e melhoramento genético, hoje é a principal atividade econômica das regiões, conquistando novas fronteiras agrícolas como, por exemplo, a região norte. Para safra 14/15, serão cultivados pouco mais de 31 milhões de hectares, com estimativa de produção de 91 milhões de toneladas de grãos – isto será possível devido Aspecto da folha de soja atacaba pelo fungo da Ferrugem Asiática às inúmeras estratégias de manejo que viabilizam a ativi(Phakopsora pachyrhizi) dade, tornando o Brasil, um país cada vez mais produO complexo de doenças existente no sistema de cultivo tivo e competitivo, perante o mercado mundial. No entanto, para alcançar os números citados ante- da soja é muito amplo, vai desde patógenos que se instalam riormente, as condições de campo devem fluir quase que na semente, no solo, na parte aérea da planta, até aqueles perfeitamente. Há fatores sobre os quais não temos controle que sobrevivem na matéria morta (fungos necrotróficos). (como chuva, luminosidade, etc.) e outros, que podemos in- Entre as principais doenças, damos destaque para a Ferruterferir com técnicas de manejo adequadas. Um dos fatores gem Asiática (Phakopsora pachyrhizi), amplamente adapque podemos controlar é o manejo de doenças através da tada em diferentes regiões de cultivos; Antracnose (Colletoutilização de fungicidas – hoje indispensável para atividade trichum truncatum) que tem ganhado evidência devido à alta – isto porque, junto com o crescimento da cultura em área, severidade; Mancha Alvo (Corynespora cassiicola); e Mofo também vem o aumento da pressão de doenças, o que pode Branco (Sclerotinia sclerotiorum), que depois de instalado na reduzir significativamente a produtividade, chegando a lavoura só resta o manejo para conviver com o ele. A utilização de fungicidas para o controle das doen100% de perda da lavoura. ças na soja é uma ferramenta fundamental, que faz parte do AUTOR manejo integrado. A pesquisa para este segmento avançou 1 - Coordenador de Agronomia da DuPont Pioneer. muito nos últimos anos e hoje o produtor pode proteger a * Publicado originariamente no blog Agronegócio em Foco = www.pioneersementes.com.br/blog sua lavoura desde o princípio, através da utilização do Tratamento de Sementes, que irá conferir proteção na fase inicial e auxílio na viabilidade do estande inicial da lavoura contra o complexo de fungos de solo e que se instalam na semente, até a pré-colheita através das aplicações de manutenção – que nesta situação podem trazer retornos significativos, superando ganhos de até 3 sacos por hectare. O mercado disponibiliza várias moléculas, que dentro do manejo correto entregam resultados satisfatórios. Como exemplo dos grupos de moléculas mais utilizados, temos: estrobilurinas, triazóis, benzimidazóis e outros mais atuais, como os carboxamidas. No entanto, o conhecimento da região (histórico de doenças), das características da cultivar plantada e o monitoramento da lavoura (avaliação das condições climáticas e estágio da cultura) são indispensáveis para tomada de decisão, ou seja, saber qual produto aplicar e quando, são ponVagens de soja atacada pelo fungo da Mofo Branco (Sclerotinia sclerotiorum) tos fundamentais que somam na hora da colheita. Vale


PRODUTOS NATURAIS

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FOTO: Tiago Parati

FOTO: Tiago Vieira de Camargo

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Vagem de soja atacada pelo fungo da Antracnose (Colletotrichum truncatum)

Folha de soja atacada pelo fungo da Mancha Alvo (Corynespora cassiicola)

ressaltar que a melhor estratégia é agir com precaução, fazendo aplicações preventivas principalmente para doenças como a Ferrugem Asiática (Phakopsora pachyrhizi), que devido a sua severidade, pode causar grandes prejuízos em pouco tempo e uma tomada de decisão errada pode ser fatal para a produtividade. Segundo a EMBRAPA (2013), as perdas em grãos foram reduzidas nos últimos anos graças ao eficiente controle realizado com os fungicidas. Atualmente, aproximadamente 100 fungicidas possuem registro no MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o controle dessa doença. Outras ferramentas também são importantes para o controle de doenças na soja, como por exemplo, a rotação de produtos. Os patógenos possuem ampla variabilidade genética e a utilização sequencial de um princípio ativo (ou princípios ativos), pode reduzir a eficiência do fungicida e aumentar a seleção de indivíduos resistentes, fato qual já evidenciaram uma menor eficiência no grupo dos triazóis, devido à sua elevada exposição, doses fora da recomendação e aplicações em épocas inadequadas. Vale ressaltar que respeitar o período sem a cultura no campo (vazio sanitário), também contribui para o manejo eficiente de doenças, assim como possibilita o aumento indireto da longevidade dos produtos. Além destas observações, o produtor deve estar atento e seguir as recomendações posicionadas pela empresa fabricante da sua semente. A DuPont Pioneer, além de disponibilizar aos agricultores produtos diferenciados geneticamente, também possui uma equipe técnica treinada, serviços e informações embasadas em pesquisas, que irão auxiliá-lo na condução da sua lavoura. Você teve algum caso de doença na sua lavoura? Conte pra gente como foi superar este desafio e como está a safra deste ano na sua propriedade. O seu comentário vai nos ajudar a trazer conteúdos mais ricos e colaborativos para o agronegócio.

Primeira aplicação de fungicida é decisiva na soja

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s primeiras aplicações de fungicida são essenciais para o desenvolvimento da planta e o sucesso no controle de doenças na cultura da soja. Pensando nisso, a Bayer CropScience disponibiliza em seu portfólio o FOX®, que contribui para o manejo das principais doenças da cultura. “Diferente de 10 anos atrás, quando a maioria dos produtores usava fungicida no estágio final do cultivo, hoje, os produtores precisam iniciar as pulverizações mais cedo, pois temos um cenário diferente de doenças, que incluem oídio, mancha alvo, ferrugem e antracnose”, diz Everson Zin, gerente de Estratégia de Marketing de Produto Fungicida. Ainda de acordo com Zin, quanto mais cedo o cliente iniciar a proteção da lavoura, mais chances ele tem de controlar as doenças. “Lembrando que o plantio da oleaginosa no Brasil vai até o mês de janeiro, ainda dá tempo de se organizar”. Zin fala também de como a estatura da planta pode influenciar na eficácia da aplicação e do produto. “Quando o cultivo é maior, a dificuldade aumenta, pois o espaço entre as plantas, as famosas ‘ruas’, diminui. Utilizar o produto nesta fase requer muito mais cuidados, já que o terço mediano e o inferior não são protegidos por FOX®”, afirma. Vale ressaltar que o funcionamento do fungicida depende de outros fatores para ser eficaz. “Clima, ciclo da cultura, fatos isolados como chuva de pedra, ataque de pragas, solo compactado, e se o produtor faz ou não rotação de culturas, impacta diretamente na quantidade de sacas por hectare”, explica o executivo. Tão importante quanto aplicar o produto logo no início do desenvolvimento, conta Zin, são as boas práticas agrícolas. Para ele, a regra básica de aplicação do produto deve ser respeitada conforme orientação do fabricante. Alguns cuidados como a dose recomendada, horário de aplicação, a quantidade de água aplicada por hectare, se o produto requer um adjuvante, água limpa e até os filtros do pulverizador devem ter extrema atenção por parte de agrônomos e empresários rurais.


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Microquimica conclui Yara conclui aquisição de investimentos de R$ 1,7 mi participação majoritária em fábrica de inoculantes da Galvani

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Microquimica, empresa brasileira que atua na produção e comercialização de fertilizantes, inoculantes e agroquímicos, concluiu seus investimentos de R$ 1,7 milhões na sua fábrica de inoculantes em operação desde 2000 no município de Monte Mor, interior de São Paulo. O investimento inicial na construção da fábrica foi de R$ 1,2 milhões entre 2010 e 2011. Nos anos seguintes a empresa realizou uma série de melhorias e em 2014 houve uma grande ampliação na estrutura que elevará em 44% a capacidade de produção em 2015, de 4,5 milhões doses para 6,5 milhões. Desde 2006 a empresa é a única no Brasil com fábrica dedicada à produção de aminoácidos exclusivamente para uso agrícola, através de processo fermentativo controlado. Para o diretor industrial da Microquimica, Rafael Leiria Nunes, a alta competitividade do mercado de inoculantes e a necessidade de diferenciação em qualidade foi o impulso para a verticalização da produção do Atmo®, marca registrada da empresa. “O início da produção própria de inoculantes líquidos foi um marco de nossa capacitação em bioprocessos e o lançamento de mais uma solução diferenciada, em linha com o trabalho que já realizávamos com os fertilizantes”. Os inoculantes da Microquimica são altamente efetivos e têm ótima aceitação no mercado por clientes de todas as regiões produtoras de grãos do Brasil. Atualmente as maiores vendas da empresa ocorrem nos estados de Mato Grosso, São Paulo e Paraná, que contribuem com 36%, 10% e 7%, respectivamente, dos volumes comercializados no país. “Em 2013 iniciamos as exportações de inoculantes para o Paraguai, sob a marca Bio-Rhizo®. A aceitação do produto no país tem sido muito boa, com evolução de 343% de 2013 para 2014. Temos boas expectativas futuras para este mercado”, garante o executivo.

CRESCIMENTO - Em 2014 as vendas totalizaram 3,2 milhões de doses de inoculantes para soja e gramíneas, o que representa um crescimento de 312% em apenas quatro anos de trabalho mais focado nesse tipo de produto. Com base nos dados oficiais da ANPII - Associação Nacional de Produtores e Importadores de Inoculantes e nas estimativas de volumes de empresas não associadas, a participação de mercado da Microquimica avançou de 3% para 6,8% desde a construção da unidade, o que comprova a aceitação cada vez maior do produto pelo mercado.

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Yara anunciou no início de dezembro a conclusão da aquisição de 60% de participação da Galvani Indústria, Comércio e Serviços S/A (“Galvani”), permitindo o início do processo de integração. A Galvani atua na mineração de rocha fosfática e produção de fertilizantes fosfatados (Super Fosfato Simples - SSP), atendendo principalmente aos mercados das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil. A empresa tem planos de expansão que incluem dois novos projetos (greenfield) de mineração de rocha fosfática no Brasil. As receitas totais da Galvani registraram, em 2013, US$ 352 milhões, com Ebitda de US$ 48 milhões. “Com a aprovação dos órgãos regulatórios e da conclusão da operação, podemos iniciar o processo de integração. A aquisição complementa a presença da Yara no Brasil, potencializado a partir da aquisição da Bunge Fertilizantes, e fortalece a posição da empresa na região agrícola com mais rápido crescimento no mundo”, disse Torgeir Kvidal, presidente e CEO da Yara International. O valor de US$ 318 milhões corresponde por 60% da participação na Galvani. Este valor compreende US$ 132 milhões para os negócios existentes e US$ 186 milhões para os projetos de mineração e produção, cujo pagamento será realizado caso certas condições relacionadas aos projetos sejam atingidas. Haverá também um ajuste pós-fechamento do capital de giro. “A conclusão nos permite aumentar a produção brasileira de fosfatados, ajudando a reduzir a dependência de fertilizantes importados no País. Conseguimos concluir esta transação rapidamente e dentro do planejado. Estamos motivados por unir forcas com Galvani e fortalecer nossos negócios em prol da agricultura brasileira”, afirmou Lair Hanzen, presidente da Yara Brasil. A Galvani possui capacidade de produção de SSP de cerca de 1 milhão de toneladas por ano nos complexos industriais de Paulínia (SP) e Luís Eduardo Magalhães (BA). As duas unidades utilizam rocha fosfática originária das minas próprias de Lagamar (MG) e Angico dos Dias (BA), e da mina arrendada de Irecê (BA). Para cobrir a demanda futura de rocha fosfática, os principais projetos em desenvolvimento que a Galvani possui são: • Salitre/MG (greenfield): cerca de 1,2 milhão de toneladas de rocha fosfática por ano • Angico dos Dias/BA (brownfield): cerca de 150 mil toneladas adicionais de rocha fosfática por ano • Santa Quitéria/CE (greenfield): cerca de 800 mil toneladas de rocha fosfática por ano


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COCAPEC bate recorde de recebimento de café

Destaque para a entrega através do sistema de granelização

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FOTO: Divulgação COCAPEC

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seca inesperada do início de 2014 anunciava um período de incertezas sobre a safra deste ano. Mas apesar da quebra da região ter ficado entre 10 e 15%, a cooperativa teve um recorde de recebimento em suas 7 bases de armazenamento, superando 1.300 milhão de sacas de 60 kg. De toda a produção regional a Cocapec recebeu mais de 60%. Por conta desse alto volume a logística foi um desafio. A movimentação gerou grandes demandas para diversos setores internos. Horários especiais de entrega foram criados, funcionando seus armazéns inclusive aos sábados. Mas grande parte do êxito da última safra foram os investimentos corretos realizados nos últimos anos. Destaque para as conclusões de 2014 das obras dos armazéns em Cristais Paulista e Pedregulho e também a reforma e ampliação do núcleo de Capetinga, reinaugurado em agosto deste ano. A granelização, que entrou em sua 3ª safra, se consolida como a melhor opção de entrega por parte dos cooperados. No 1º ano de recebimento granelizado a participação foi de 29%, já em 2013 passou para 42%, este ano superou os 65%. Vale lembrar que nas colheitas anteriores Cristais Paulista e Capetinga não estavam em operação. Destaque para o núcleo mineiro que no 1º ano de funcionamento já recebeu 63% através do sistema granelizado, conferindo economia e maior praticidade aos cooperados.

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Cerca de 65% do café entregue na cooperativa foi através do sistema de granelização

as condições oferecidas pela cooperativa como seguro do café, taxa administrativa competitiva e certificações de armazéns se tornam atrativos para que os cafeicultores depositem sua produção na Cocapec e se tornem cada vez mais participativos.


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J.B. Matiello1 e S.R. Almeida1

s ramos laterais, produtivos, dos cafeeiros, também conhecidos como ramos plagiotrópicos, podem apresentar ramificações saíndo deles, dando origem a ramos, também produtivos, chamados de secundários ou terciários, formando o que se chama de palmetamento da ramagem. O palmetamento dos ramos depende do espaçamento da lavoura, da variedade, do numero de hastes ortotrópicas. Quanto menor o espaçamento entre plantas e mais hastes por planta menor vai ser a bifurcação de ramos e nas variedades “Catuaí” e “Acauã” esta formação de secundários e terciários é mais pronunciada. Condições que provocam deficiências ou estresse nos cafeeiros também ativam a bifurcação da ramagem, vez que promovem a redução da dominância apical, assim facilitando a emissão de ramos laterais, saindo dos ramos produtivos. São causas mais frequentes a deficiência de boro, a queima da ponta do ramo por frio, o ataque de Phoma e, especialmente, na situação atual, o déficit hídrico. Como tudo na vida um pouco é bom e o que é demais

FOTOS: Fundação Procafé - J.B.Matiello

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Brotação lateral excessiva em cafeeiros nem sempre é desvantajosa

Figura 1 - Emissão excessiva de ramos secundários a partir de ramos produtivos primários. Alfenas (MG), outubro/2014.

AUTOR

1 - Engenheiros Agrônomos do MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Fundação Procafé. Tel. (35) 3214-1411 - Site = www. fundacaoprocafe.com.br

Figura 3 - Na mesma planta da Figura 2, alguns ramos secundários (assinalados com setas brancas), já com início de abotoamento. Realeza (MG), setembro/2014.

Figura 2 - Ramo de planta jovem com intensa emissão de brotos secundários. Realeza (MG), setembro/2014.

acaba prejudicando. Assim ocorre com a bifuração da ramagem do cafeeiro. Técnicos e produtores ficam alarmados quando os ramos laterais ao invés de emitirem botões acabam emitindo brotações, dizendo-se que diferenciaram gemas vegetativas no lugar das produtivas. Isto parece verdade, mas não chega a ser inteiramente prejudicial. Primeiro por que esta ramificação adicional vai representar maior área produtiva na safra seguinte. Em segundo lugar por que tem sido observado, especialmente quando estes ramos saem mais cedo, e, ainda, nas regiões mais quentes, que logo iniciam a abotoar, um pouco mais tarde é claro, recuperando parte do problema.


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FOTO: Gustavo Martins Sturm

cafeicultura brasileira, além da sua grande importância econômica e social para o Brasil, necessita de mais informações complementares de seu sistema produtivo, sobretudo em relação a sua extensão, distribuição e o ambiente em que são cultivadas. Neste sentido, a utilização de geotecnologias apresenta-se como a alternativa mais recomendada para a coleta de dados sobre a cafeicultura com o emprego de imagens de satélites, técnicas de geoprocessamento e sistemas de posicionamento global (GPS). O georreferenciamento de imóveis rurais é a medição da área do terreno em questão e a descrição das características, limites e confrontações. A obtenção das coordenadas dos pontos de controle pode ser realizada em campo, a partir de levantamentos topográficos e/ou GPS, ou através de imagens de satélites ou mapas (em papel ou digitais) georreferenciados com precisão na posição fixada o INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. São utilizados sensores a bordo de satélites e aeronaves para capturar informações sobre a superfície e atmosfera terrestre, e assim, os sinais capturados pelos sensores são transmitidos para a Terra, recebidos em estações onde eles são transformados em imagens digitais. A utilização do GPS necessita-se um maior cuidado,

FOTO: JY Technologies

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Georreferenciamento e Sensoriamento Remoto na cafeicultura brasileira

para levantamentos topográficos, este pode apresentar um pequeno erro em metros que pode alterar a metragem do terreno, consequentemente modificando a localização de uma parede de um armazém, ganhando ou perdendo alguns metros de cercas. Por ser ainda o mais comum, podemos citar algumas das múltiplas aplicações do uso do GPS na agricultura, sendo elas: no levantamento topográfico, demarcação do terreno, agricultura de precisão, dentre outros. Em consequência deste fato, algumas empresas estão apresentando outros métodos de levantamento, um pouco diferentes do habitual, como o caso do uso de Vants (Veículos Aéreos Não Tripulados) que são como pequenas aeronaves. Essas aeronaves são comandadas por controle remoto e com câmeras de grande resolução conseguem tirar fotos de alta qualidade dos terrenos e com isso fazer o detalhamento do terreno e alguns casos até o levantamento do relevo do terreno, e levantam voo em pequenas áreas, não necessitando de grandes extensões. Entretanto, por ainda ser uma tecnologia nova e necessita do uso de mão-de-obra especializada, é um serviço mais caro que os demais, porém, levando em consideração suas vantagens e a sua utilização em propriedades com difícil acesso ou com dificuldades de se fazer uso de aviões essa tecnologia pode ser uma alternativa interessante. Na agricultura de precisão o uso do sensoriamento remoto é de grande importância, pois ele supriu a necessidade de repetidas informações


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Kátia Abreu é cotada para ser Ministra da Agricultura FOTO: O Globo

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FOTO: EMBRAPA Monitoramento de Satélites

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das condições do solo e necessidades da cultura em questões de nutrição ou disponibilidade de água. Verificamos que, atualmente, levamos em consideração que o solo as áreas de plantio são iguais, assim utilizamos uma média da fertilidade da área para uma posterior adubação, com isso não se leva em conta a fertilidade específica de cada área, porém, na agricultura de precisão, com uso do sensoriamento remoto se analisa cada área, metro a metro, de maneira independente. Com isso, a agricultura de precisão proporciona grandes benefícios para os seus usuários, tais como: Redução do grave problema do risco da atividade agrícola; Redução dos custos da produção; Tomada de decisão rápida e certa; Controle de toda situação, pelo uso da informação; Maior produtividade da lavoura; Mais tempo livre para o administrador; Melhoria do meio ambiente pelo menor uso de defensivo. Outra possível utilização na agricultura é através do estudo e análises de imagens de satélites podemos obter informações sobre: as características funcionais dos cafezais (resistência, resiliência, entre outros); a duração e a intensidade da seca; nutrição da planta; dentre outros, sendo de estas informações de grande importância estratégica para a tomada de decisão. Na cafeicultura temos como o sensoriamento remoto o Cafesat que visa espacializar as lavouras de café e o monitoramento das mesmas nas principais regiões produtoras do Brasil. No momento, o mapeamento está disponível apenas para os estados de Minas Gerais e São Paulo. O projeto Cafesat surgiu no ano de 2005 com um grande desafio, ou seja, provar que é possível mapear a cafeicultura brasileira nas principais regiões produtoras do País, por meio de imagens de satélites e disponibilizar essas informações num ambiente web. É evidente que a metodologia adotada para mapear soja, cana-de-açúcar, trigo, não é adequada para o café. Assim, foram precisos muitos esforços no sentido de estabelecer uma metodologia apropriada e quase que exclusiva para o café, fundamentada na interpretação visual das imagens na tela do computador. Em outras palavras, quase tudo que foi projetado para esse estudo e levantamento das áreas cafeeiras e teve que ser investigado inicialmente. (FONTE: UFLA).

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presidente da CNA - Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil e senadora Kátia Abreu será a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no próximo mandato da presidente Dilma Rousseff. A informação foi dada pelo jornal Folha de São Paulo e deve ser confirmada oficialmente neste final de ano. Ela assume o cargo no lugar de Neri Geller, que estava na função desde março deste ano. A nomeação confirma rumores que sinalizavam a indicação de Kátia para o cargo desde o início da corrida eleitoral para a presidência da República. Havia expectativa de que a pasta continuasse sobre o comando do PMDB, fato que fortaleceu os indícios de que a parlamentar assumiria o posto. Embora tenha feito oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva, ela se aproximou da gestão de Dilma Rousseff ao apoiá-la durante a disputa do segundo turno das últimas eleições. O destino de Geller ainda é incerto. No início desta semana retornou de uma viagem internacional com rodadas de negócio realizadas na China e na Arábia Saudita, onde ele conseguiu por fim aos embargos impostos a compra de carne produzida no Brasil. Em Brasília o movimento foi visto como uma manobra política para tentar convencer a presidente Dilma a mantê-lo no cargo. Kátia Abreu foi presidente do Sindicato Rural de Gurupi (TO) nos anos 1990 e comandou por cinco mandatos a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins (1995-2005). Em 2008 ela assumiu o comando da CNA, posto que ocupa até hoje. Sua última disputa pelo comando da entidade nacional foi controversa, e a eleição chegou a ser suspensa por liminar obtida pela Federação, que apontava irregularidades no processo eleitoral. A decisão foi revertida e a senadora foi reeleita para a liderança da CNA. (Fonte: Gazeta do Povo)


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Sistema economiza até 50% da água usada no beneficiamento do café

Além da economia de água, projeto gera energia para os moinhos e residências

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FOTO: Divulgação UTZ Certified

esenvolvido em fazendas na Nicarágua, em Honduras e na Guatemala, o projetoThe Energy from Coffee Wastewater agora será implementado no Brasil e no Peru. A partir de sistemas de tratamento da água de reuso e de tratamento de resíduos sólidos, fazendas de vários portes obtiveram até 50% de redução na quantidade de água utilizada durante o processamento de café – e passaram a gerar energia para os moinhos e para as residências a partir de biomassa, reduzindo também o descarte de resíduos, como as cascas do grão. O café é a segunda mercadoria mais valiosa do mundo. Em 2010, seu consumo atingiu a marca de 8 bilhões de kg. O efeito colateral da sua produção, no entanto, ainda não é considerado no custo final do produto. O beneficia- Beneficiamento de café na Nicarágua. mento do grão gasta muitos e muitos litros de água para separar o fruto da semente: são necessários 140 destinado ao processo de secagem de grãos do café. As medidas reduzem consideravelmente a emissão litros para processar os grãos que rendem uma única xícara. Essa água, carregada de resíduos orgânicos, é descartada de gases de efeito estufa. A água tratada pode ser devolvida sem qualquer tratamento e polui bacias, rios e águas subter- sem prejudicar o meio ambiente ou ainda ser reutilizada râneas potáveis. As águas residuais do café também geram na produção do café. As fazendas que adotaram o sistema uma quantidade considerável de gases de efeito estufa, como economizaram até metade da água antes utilizada durante o o metano. A fauna e a flora da região também podem ser beneficiamento do grão. A América Latina produz 70% de todo o café consumiafetadas, inclusive a vida marinha, em caso de plantações do no mundo e guarda 31% da água doce disponível no planepróximas às zonas costeiras. Para reduzir os danos, a UTZ Certified, um escritório ta. Além de proteger o meio ambiente e a água doce da região, de certificação internacional para agricultura sustentável, a iniciativa pode ajudar a levar energia para 7 milhões de pesimplementou o projeto piloto em 19 fazendas da Nicarágua, soas que ainda têm pouco ou nenhum acesso a eletricidade. A produção de café envolve mais de 100 milhões de de Honduras e da Guatemala. A água carregada de resíduos orgânicos do café passa por um processo de decomposição pessoas em todo o mundo, mas os efeitos das mudanças anaeróbica em biodigestores, que transformam a matéria climáticas tornam seu futuro imprevisível. O café é uma orgânica contida na água em biogás. Este gás vem sendo cultura degradante, mas o café sustentável traz benefícios utilizado para cozinhar, substituindo a lenha e evitando o diretos e imediatos. E pode ser a solução para transformar desmatamento. Em fazendas maiores, o biogás pode virar potenciais poluentes em oportunidades de negócio. (FONcombustível para máquinas, bombas de água e também é TE: Caminhos para o Futuro e GE)

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ARTIGO

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SOBRE BARRIGAS NEGATIVAS E BARRIGAS ESTUFADAS Ensei Neto - Consultor em Marketing e Qualidade de

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eu cunhado tinha uma frase muito engraçada sobre como a produção de café se comportava ao longo dos anos: “O típico é que todo ano é atípico”!!! Genial essa frase, não? A mente humana tem como característica encontrar padrões em tudo que nos cerca, para, digamos, nos passar a sensação de que vivemos em um mundo que é um porto seguro. Se encontramos uma relação minimamente matemática em algum evento ou fenômeno, temos a sensação de que tudo está bem. Quer um bom exemplo: existe algo mais insano do que querer encontrar uma fórmula mágica para se ter as dezenas vencedoras de um jogo de Loto ou Mega Sena? Pois é, existem diversos “magos matemáticos” que publicaram livretos arapucas que apresentam esse milagre, que são exclusivos a você e tantos quanto forem os leitores… Cada Ano Safra do Café, por exemplo, tem algum evento da Natureza que acaba criando grande impacto na produção e, por vezes, na qualidade dos cafés que serão servidos. No caso da Safra Brasileira 2014/2015, por exemplo, sua “tipicidade” é a grande incidência de sementes denominadas em outros países como Floatersou Flotadores. Para refrescar a memória, o final do Inverno e início da Primavera em 2013 teve surpreendente onda de frio que fez nevar até em Curitiba e cobriu de neve os morros de Florianópolis! Enquanto isso, Janeiro e Fevereiro foram marcados pelas altas temperaturas, longa seca e atordoante ausência de chuvas, que se refletiu dramaticamente em diversos pontos do país como na assustadora diminuição do nível das represas. Para as lavouras de café, esse clima foi particularmente perverso porque coincidiu com a fase em que os frutos tem sua maior demanda por água! O Verão é geralmente chuvoso e quente, condição perfeita para o crescimento dos frutos do cafeeiro. Só que o Verão 2013/2014 foi quente e seco, com raríssimas chuvas no Cinturão dos Cafés do Brasil. Resultado: muitos frutos cresceram e amadureceram, enquanto que suas sementes ficaram com bom tamanho; porém, devido ao clima desfavorável de janeiro e fevereiro, debilitando as plantas, o preenchimento, digamos assim, das sementes não foi o que se esperava. Assim, a quantidade de sementes com o que chamo de Barriga Negativa é surpreendente! As temperaturas elevadas alteram significativamente o comportamento do cafeeiro, que é uma planta que fun-

Cafés Especiais.. [ www.coffeetraveler.net // bureaucoffee@uol.com.br]

ciona muito bem em clima temperado (basta lembrar que é originária de florestas tropicais e que fica sob a sombra de grandes árvores), mas que sofre tanto quanto nós com o calor excessivo. Ao se somar toda essa série de fatores, agravada pela impossibilidade das plantas aproveitarem as parcas adubações feitas, as sementes não tiveram o seu devido preenchimento, ficando, depois de secas para o armazenamento, com o aspecto de Barriga Negativa. Alguns outros fatos decorrem disso: o teor de açúcares é mais baixo (haja visto que a planta não tinha condições suficientes de fazer a seiva chegar a todos os frutos como deveria ser, além do fato da estrutura celular da parede externa se tornar mais frágil (é a famosa “falta de material”…) E aí começa outro desafio: o comportamento na torra dessas sementes é diferente das normais! Como antecipei, várias pessoas conversaram comigo sobre a dificuldade que estavam tendo ao torrar alguns lotes da nova safra de café: “parece que o grão não desencrua…”, “dei muito calor e… nada!”, “está deixando o aspecto de torrado pouco uniforme”, “os grãos estão queimando mais”, “o sabor está esquisito…” e por aí afora. O cafeeiro segue duas premissas básicas em sua vida: perpetuar a espécie (produzindo frutos e sementes férteis) ou se preservar para no melhor momento atender a primeira premissa. Nesta safra aconteceu uma mescla dessas duas: começou bem, em ritmo de forte florada e frutificação (por isso que o mercado esperava uma grandiosa safra brasileira!), mas que, com o clima maroto, passou a se preservar, cortando parte da energia que deveria ser direcionada aos frutos. Quando isto acontece, a composição da semente muda dramaticamente, ficando em maior teores as moléculas que são formadas numa fase de menor necessidade de energia e praticamente deixando de sintetizar as que demandam muito mais, como os açúcares. Isso significa, que essa semente com Barriga Negativa tem composição muito diferente de uma normal. Como decorrência, a torra fica diferente com sua Curva de Torra se tornando similar ao de um Robusta! Efeitos colaterais: como a parede celular é mais frágil, durante a Pirólise, sua expansão é mais intensa, formando Grãos Barrigudos, de agudo som ao serem quebrados. Também, maior presença do sabor de “Borracha Queimada” e de notas de especiarias. Ou seja, um típico resultado de outro ano atípico…


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Pesquisa da EPAMIG alerta cafeicultores para o controle da mancha de Phoma

FUNGICIDAS - Caso a Mancha-de-Phoma tenha se instalado, é recomendado o controle químico por meio da aplicação de fungicidas registrados junto ao MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, além de orientação técnica para aplicação. “No surto da doença, não é possível identificar a espécie do fungo, mas isso não impede o controle, que deve ser imediato”, diz o pesquisador da Epamig Vicente Luiz de Carvalho. Ele explica que a doença pode causar desfolha, queda de botões florais, mumificação e queda dos chumbinhos, seca de ponteiros e de extremidade dos ramos, resultando em perdas na produção.

Ataque da Mancha de Phoma em folhas novas do cafeeiro.

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FOTOS: Fundação Procafé - J.B.Matiello

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esquisadores da EPAMIG - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais alertam para o controle da Mancha-de-Phoma, doença causada por um fungo que ataca cafeeiros, principalmente nos períodos de florada e pós-florada. A doença pode encontrar condições favoráveis para maior incidência nesta época do ano, em função dos períodos de chuva, com alternância de temperaturas altas e baixas em períodos curtos. Um dos sintomas para identificação da doença são folhas do cafeeiro com manchas escuras e bordas encurvadas. “A doença é causada por um fungo que ataca a parte jovem da planta de cultivares de café arábica, como novas brotações e folhas, e rapidamente se instala, causando danos à planta”, explica a pesquisadora Sara Chalfoun. Ela alerta para o controle preventivo das lavouras com a instalação de quebra-vento, dispositivos que servem para desviar o vento. O plantio de árvores, por exemplo, forma uma barreira que protege a lavoura de ventos fortes e frios. “A instalação de quebra-vento é necessária em cafezais onde há exposição das plantas às frentes frias, em lavouras novas em início de produção e naquelas localizadas em altitudes acima de mil metros”, orienta. Sara afirma que sucessivos ataques da doença causam danos diretos e indiretos sobre a produção e o desenvolvimento das plantas e podem tornar a lavoura economicamente inviável. “A elevação das temperaturas tende a paralisar o desenvolvimento da doença, no entanto, já terá causado danos sobre a produção”, explica.

Acima, aspecto do ataque da Mancha de Phoma na folha do cafeeiro. O cafei-cultor deve ficar atento para diferença do ataque da Mancha de Aschochyta (ao lado).

Na NKG Fazendas Brasileiras, em Santo Antônio do Amparo (MG), o controle químico da doença é feito com cobre e, em alguns casos, com fungicida registrado. “O período de maior incidência da Mancha-de-Phoma nessa fazenda é normalmente em março e meados de outubro, mas neste ano mudou em função do atraso da chuva”, afirma o agrônomo Patrik Lage, gerente da unidade. O controle preventivo da lavoura de café arábica, área com mais de 1,6 mil hectares, é feito por meio de barreiras naturais formadas por árvores nativas e de árvores plantadas, como a grevílea, que funcionam como uma cortina de vento. “Em locais mais altos, que correspondem a cerca de 20% da área, expostos à umidade e ventos frios, a incidência é maior, mas o nosso monitoramento apontou neste ano um índice menor, se comparado aos últimos cinco anos”, afirma Patrik. Ainda de acordo com o pequisador da EPAMIG, estudos mostram que plantas nutridas de forma equilibrada e livres de incidência de outras doenças e pragas terão naturalmente melhores condições de responder ao controle específico da Mancha-de-Phoma, até pela própria resistência natural das plantas. A Mancha-de-Phoma do cafeeiro é uma doença fúngica que ocorre em vários países onde se cultiva café em áreas de altitudes mais elevadas. O gênero phoma compreende mais de 2 mil espécies que estão agrupadas em nove seções. No Brasil já foram encontradas mais de cinco espécies desse fungo. No Sul de Minas, as lavouras são mais suscetíveis à doença em função da instalação de grande parte dos cafezais em regiões montanhosas, de altitude elevada. Lavouras que recebem pouca insolação e sujeitas a ventos fortes e frios também são suscetíveis. (FONTE: Epamig).


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FOTOS: Fundação Procafé - J.B.Matiello

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Anormalidades na floração de cafeeiros por excesso de chuvas e a vantagem do ovário ínfero

ão somos especialistas em fisiologia, mas temos visto que esta área de conhecimento é muito importante para analisarmos as coisas que ocorrem nas lavouras de café. Particularmente, no aspecto da floração das plantas, creio que ainda temos algo a aprender. Por isso, trago aqui duas novas observações. A primeira diz respeito ao que ocorreu, recentemente, na Chapada Diamantina (BA), em cafezais que abriram a florada em um período de chuva intensa e continuada, onde choveu cerca de 300 mm em 15 dias de novembro de 2014. Nos cafezais sob estas condições verificou-se que a abertura da florada ficou retardada e muitas flores não chegaram a abrir normalmente. Muitos botões ficaram maiores, de cor branca, mas ou não abriram antes de cair ou abriram em flores com aspecto anormal, conforme se pode ver nas fotos. Isto é estranho, Figura 1 - A comparação entre botões que não abriram ou abriram de forma anormal (acima) em relação ao florescimento normal (abaixo) pois o que sabemos é justamente o contrário, vez que o diferencial hídrico, por chuvas ou irrigação, facilita a abertura das flores. As hipóteses formuladas para a falta de abertura das flores sugerem que a umidade excessiva reduziu a transpiração das plantas, e, assim, não deu condições ideais de suprimento de água para o desenvolvimento da florada, e, ainda que a falta de luminosidade tenha interferido na abertura, uma vez que os dias ficaram inteiramente nublados e com cerração. A segunda observação tem a ver com Figura 2 - Flores de cafeeiros com abertura anormal sob período de chuvas excessivo. Bonito (BA) o tipo de flor do cafeeiro, a qual apresenta o ovário ínfero, ou seja, as pétalas ficam presas acima do ovário. Como, no cafeeiro arábica, a fecundação, em sua quase totalidade, ocorre antes da abertura da flor, parece que o botão, mesmo fechado ou mal aberto, ao possuir, já, sua parte sexual completa, acaba fecundando normalmente o fruto. Assim, a queda desses botões e flores não levam consigo o ovário, o qual formará o fruto, ou seja, suas estruturas de proteção e dispersão das sementes. Caso a flor tivesse o ovário súpero, seria provável que a queda do botão anormal levaria junto o fruto.

AUTOR

1 - Engenheiro Agrônomo do MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Fundação Procafé. Site = www.fundacaoprocafe.com.br

Figura 3 - Botões bem desenvolvidos, fechados ou mal abertos, que se despreendem e caem, vendo-se como normal a parte sexual da flor (gineceu) e o fruto abaixo do conjunto de pétalas.


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Um Brasil sem políticas públicas cafeeiras 30

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Marco Antonio Jacob1

Figura 1 - Comparativo de Produção - Café Beneficiado - Terceiro Levantamento de Safra da CONAB, Setembro 2014.

e o Brasil desejar criar uma política pública para o setor cafeeiro, a primeira coisa a fazer é verificar seu parque cafeeiro, sua produção, seus estoques de café e as demandas de consumo brasileiro e mundial. Na Figura 1 apresento os dados de produção brasileira extraídos do Terceiro Acompanhamento de Safra Brasileira de Café realizados pela CONAB em Setembro de 2014 (fonte: http://www.conab. gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/14_09_16_08_47_43_boletim_setembro_2014.pdf). Pelos dados apresentados, a previsão de produção brasileira para a safra 2014/2015 é de 45,141 milhões de sacas, sendo 32,107 milhões de sacas de arábicas e 13,033 milhões de sacas de conilons. Na Figura 2 temos os dados do Levantamento de Estoques de Café Brasileiros de acordo com a CONAB, com data de referencia em 31 de Março de 2014 (fonte: http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/14_07_23_12_08_46_relat_cafe_final.pdf) Pelos dados apresentados, os estoques privados brasileiro são de 15,218 milhões de sacas, sendo 14,163 milhões de sacas de arábicas e 1,054 milhões de sacas de conilons. Na Figura 3 segue os dados de Estoques Governamentais apresentados pela CONAB , também com data de referência em 31 de Março de 2014. Somando os estoques privados e governamentais, conFigura 3 - Estoques Governamentais por UF - Café Beneficiado - CONAB, Setembro 2014.

AUTOR

1 - Produtor, consultor e corretor. Trabalho no mercado de café desde 1980: gerente geral de torrefação (1980/83), corretor de café verde (1985/1992), gerente de exportação de café verde (1993/2007). Pós-Graduação em Economia do Sistema Alimentar pelo CeFAS (Centro di Formazione e Assitenza allo Svillupo), Viterbo - Italia (1983/1984).

Figura 2 - Demonstrativo dos Estoques Privados e Produção por UF - Café Beneficiado - CONAB, Setembro 2014.

forme os dados apresentados pela CONAB, apontam um estoque total de café brasileiro na data de 31 de Março de 2014 de 16,871 milhões de sacas. As últimas informações da ABIC indicam um consumo doméstico brasileiro é de 21 milhões de sacas por ano, assim sendo, um consumo linear de 1,75 milhões de sacas/mês. Na Figura 4 segue uma tabela com projeção de Suprimento e Demanda, com o Estoque Inicial somando a Produção, deduzindo o Consumo Interno e as Exportações. Os dados de exportações são fornecidos pelo CECAFÉ, as colunas em azul são projeções de exportações lineares, com um adendo que a produção de arábicas se atrasará devido a principal florada ter sido em Novembro. Dentro da projeção apresentada na Figura 4, se o Brasil exportar 3,00 milhões de sacas em Novembro e 2,80 milhões de sacas em Dezembro de 2014, no primeiro semestre de 2015 terá capacidade de exportar apenas 8,49 milhões de sacas , com uma média de 1,41 milhão de sacas ao mês, para se ultrapassar esta quantidade na exportação, terão que ser usados cafés da nova colheita , safra 2015/2016. CONCLUSÃO E SUGESTÃO - Todos haverão de concordar que estes números projetados de exportação brasileira conforme tabela anterior serão extremamente baixos mesmo com o uso de estoques públicos, e, estando corretos os dados


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Figura 4 - Projeção de Suprimento e Demanda, Estoque Inicial, Produção, Consumo Interno da CONAB, o carryover tenderá e Exportações. CECAFÉ. a ZERO em 01 de Julho de 2015. É voz corrente no setor cafeeiro brasileiro e mundial, que tanto os estoques iniciais em 31 de Março de 2014 como também a previsão safra de 2014/2015 estão subestimados pela CONAB. Dado às estas incongruências, devido a falta de credibilidade dos dados oficias brasileiros , sugiro que Figura 5 - Quadro demonstrativo de chuvas em Guaxupé (MG), nos anos 1963/1985/2013/2014. para o ano de 2015, o próximo levantamento de estoques realizado pela CONAB seja feito em parceria com o Banco do Brasil, pois esta instituição já têm pessoal qualificado nas Figura 6 - Produção Brasileira de Café. USDA. suas redes de agências; e o custo desta parceria será ínfimo, trazendo credibilidade aos dados oficiais. É de suma importância para todo o setor cafeeiro saber a realidade dos estoques brasileiros, pois através deste estoque é possível aferir a safra derivada, somando-se estoques finais mais o desaparecimento (uso) de café no mercado doméstico e nas exportações brasileiras e subtraindo os estoques iniciais. Vale lembrar que tivemos uma gravíssima anomalia climática desde o inicio de 2014, com altíssimas temperaturas e poucas chuvas, a partir da segunda quinzena de Novembro as chuvas foram abundantes nas principais regiões produtoras de cafés arábicas brasileiras. No momento ainda não é possível mensurar os danos para a safra de 2015/2016 de cafés arábicas, mas se observarmos o histórico da cafeicultura brasileira, poderemos constatar que é urgente uma política pública cafeeira, abaixo segue os dados do USDA de produção brasileira de café, pois nos anos 1963 e 1985 tivemos a mesma anomalia climática de severa seca. Pelos dados do USDA, no ano de 1964 o Brasil colheu menos 52,59% que em 1963, e em 1986 a colheita foi de apenas 1/3 (um terço) de café arábicas que o ano de 1985. Para que a história não se repita, vamos aproveitar o Natal e pedir para que o Papai Noel seja generoso com a próxima safra de café arábicas do Brasil, e, que as lideranças cafeeiras brasileiras se conscientizem da necessidade uma política pública cafeeira no Brasil, assim como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Brasileiro, basta de indolência.

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Marcos José Perdoná1, Juliana Cristina Sodário Cruz2 e Ivan Herman Fischer3

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Cultivo consorciado de Café e Macadâmia cafeeiro arábica é originário das florestas da Etiópia e do Sudão, no continente Africano. Estas regiões apresentam clima ameno, com precipitações bem distribuídas durante o ano. Lá o cafeeiro desenvolveu-se, em condições de sub-bosque, ou seja, sob a sombra de outras árvores. Sabe-se que temperaturas elevadas prejudicam o desempenho vegetativo e reprodutivo do cafeeiro, e que, regiões com faixas de temperaturas médias que variam entre 18 a 22º C, são consideradas as mais adequadas ao seu cultivo. Temperaturas acima de 30ºC podem provocar amarelecimento e “escaldadura” na folhagem, além de má formação dos botões florais ou “estrelinhas”, Figura 1 - Cultivo consorciado de café e macadâmia. diminuindo a produtividade. Na atualidade, países como Etiópia, Indonésia, Nova Guiné, México, Nica- tenção de cafés com bebida mais suave, melhor utilização da rágua, Costa Rica, El Salvador, Peru, Panamá e Guatemala mão de obra na entressafra e manutenção da biodiversidade utilizam árvores para sombrear os cafezais. Já no Brasil, o e como refúgio para aves migratórias. cultivo a pleno sol ou café solteiro é a principal modalidade Porém, em função das características gerais de cada de cultivo. região, arborizar o cafezal pode ter objetivos diferenciados. As principais vantagens relatadas no sombreamento O ingresso de recursos extras, provenientes da árvore somdos cafezais são: atenuação das temperaturas máximas e breadora, por exemplo, pode tornar a cafeicultura arborizamínimas do ambiente (menor incidência de escaldadura e da um negócio mais viável que a solteira em diversas regiões geadas), atenuação da ação prejudicial dos ventos, redução cafeeiras. Assim, recomenda-se o consórcio com espécies da bienalidade de produção, menor incidência da seca de florestais de alto valor econômico, especialmente no caso de ponteiros e da cercosporiose, diminuição da desfolha, com pequenas propriedades rurais. baixo ataque de bicho mineiro, presença de controladores Uma das plantas mais promissoras para a arborização naturais de pragas e doenças, redução da infestação de plan- de cafezais é a nogueira-macadâmia. Essas árvores são natitas daninhas na lavoura, maior ciclagem de nutrientes, ob- vas das florestas tropicais da Austrália. Sua amêndoa é muito valorizada, e pode ser consumida crua ou torrada, sendo AUTORES muito utilizada em confeitaria e sorvetes. O quilo da noz em 1 - Engº Agrº, Dr., PqC do Polo Centro Oeste/APTA. marcosperdona@apta. casca varia entre R$ 3,50 a 4,50 ao produtor e confere bom sp.gov.br retorno econômico quando as produtividades são superiores 2 - Engª Agrª, Dr., PqC do Polo Centro Oeste/APTA. cruzjcs@apta.sp.gov.br a três toneladas por hectare. Sua amêndoa é rica em óleos 3 - Engª Agrª, Dr., PqC do Polo Centro Oeste/APTA. ihfische@apta.sp.gov.br monoinsaturados, contendo os ômegas 6, 7 e 9. No atacado, o óleo é comercializado em tambores de 50 litros por R$ 180,00 o litro, e no varejo a R$ 60,00 o frasco de 185 mL (Garbelini, 2009). O desenvolvimento tecnológico dessa cultura ocorreu no Hawaii Agricultural Experiment Station (HAES), onde foram selecionadas as principais cultivares plantadas no mundo. No Brasil, os trabalhos de adaptação e melhoramento da espécie foram iniciados com o plantio de nogueiras-macadâmia provenientes do HAES, na década de 1940, pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) (Sobierajski et al., 2006) que, na década de 1970, lançou dezessete cultivares adaptadas às condições climáticas brasileiras. Hoje, estes dois centros são responsáveis por produzir as cultivares mais utilizadas em nosso país: HAES 344, HAES 660, HAES 741, HAES 816 e IAC 121, IAC 4-12B, IAC Campinas B, IAC 9-20 e IAC 4-20. Nota-se que nos últimos anos as culti-


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vares nacionais têm conquistado a preferência dos produtores pela maior produtividade. Por suas condições climáticas, o Brasil se apresenta entre os países com maior potencial para produção de noz macadâmia no mundo (Perdoná et al, 2013). O zoneamento agrícola da cultura indica áreas com condições favoráveis ao cultivo em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, sul de Minas Gerais, leste do Mato Grosso do Sul e oeste do Paraná (Schneider et al., 2012). Atualmente no Brasil, o cultivo da macadâmia está concentrado em regiões que tradicionalmente são produtoras de café. Nos Estados de São Paulo, Espírito Santo, Bahia e Rio de Janeiro estão as maiores indústrias de processamento da noz, que exportam a maior parte de suas produções. Porém, no Estado de São Paulo, existem pelo menos outras vinte pequenas indústrias que atendem ao mercado interno. Assim, a macadâmia é a principal nogueira cultivada no Estado, ocupando uma área de aproximadamente 3.000 ha. A árvore é de porte alto e bem encopada, chegando a atingir 20 metros de altura e 15 metros de diâmetro de copa e as variedades HAES e IAC apresentam características de conformação de copa bastante diferentes. As nacionais apresentam maior crescimento lateral, formando uma copa arredondada e as cultivares havaianas têm maior crescimento vertical, com formato cônico. Essas características devem ser bem observadas quando se deseja utilizar as nogueiras em cultivos consorciados, pois a conformação da copa influência na escolha do arranjo espacial, ou seja, no espaçamento das plantas. O cultivo do café arborizado ou consorciado com árvores macadâmia (Figura 1) ocorre Figura 2 - Produção em cultivo consorciado de café e macadâmia. desde a década de 1970 no Brasil. A consorciação é utilizada pelos produtores com diversos objetivos: 1) a tretanto, em todas as situações, a intenção final é proporimplantação de um consórcio permanente, com a produção cionar rendimento financeiro superior ao do cultivo solteiro de ambas as culturas se mantendo ao longo dos anos; 2) (Perdoná et al., 2012). Trabalhos científicos verificaram que no consórcio um consórcio temporário, para viabilização econômica da implantação de um pomar de nogueira-macadâmia; 3) a macadâmia-café, há redução de 72% na incidência do venmaximização da produtividade do café, pela atenuação de to e em 2,2 ºC na temperatura média, em relação ao culcondições climáticas adversas, por meio da arborização. En- tivo solteiro de café. Assim, plantas de nogueira-macadâmia produtivas e que ofereçam pouca concorrência aos cafeeTabela 1 - Médias das produtividades das safras de 2012 e 2013 iros, têm potencial para aumentar a rentabilidade dos cafeide café e nogueira-macadâmia, em lavouras com 6 anos, em três cultores e oferecer uma alternativa de medida mitigadora sistemas de cultivo (café solteiro, macadâmia solteira e consór- às condições climáticas adversas à produção cafeeira. Essas cio entre elas), com e sem irrigação, em Dois Córregos/SP. condições são encontradas em diversas regiões, como por exemplo, no oeste do Estado de São Paulo, ou ainda que NOZ CASCA RENDA BRUTA CAFÉ SISTEMA DE CULTIVO poderão ocorrer, em breve, nas regiões consideradas mais (kg/ha) (R$/ha) * (sc/ha) favoráveis, em virtude do anunciado aquecimento global. 3.351,04 Macadâmia solteira sequeiro 761,6 Estudos recentes, desenvolvidos por pesquisadores da 6.999,60 Café solteiro sequeiro 22,8 APTA, mostraram que o cultivo do café com macadâmia 8.498,16 Macadâmia solteira irrigada 1.931,4 apresenta rentabilidade superior ao cultivo solteiro dessas 12.111,30 Consórcio sequeiro 931,5 26,1 culturas. Os resultados são ainda melhores quando o consór16.301,70 Café solteiro irrigado 53,1 cio é irrigado (Tabela 1). 22.899,26 Consórcio irrigado 1.820,4 48,5 O plantio das culturas pode ser simultâneo, ou ain* Considerando o preço de venda da saca de café beneficiado de R$ 307,00 e da noz macadâmia em casca de R$ 4,40


CAFÉ da, pode-se plantar macadâmia em áreas onde já exista o cultivo do café solteiro. Diversos arranjos podem ser executados, porém, é necessário estar atento para a manutenção da mecanização do cultivo e de um estande mínimo de plantas para cada uma das culturas. Um arranjo elaborado pela APTA tem se mostrado bastante eficiente nesses aspectos. Utilizando cafeeiros de porte baixo no consórcio, os espaçamentos sugeridos são de 0,6 a 0,7m entre plantas e 3,5 a 3,7m entre linhas, para os cafeeiros, e, para as macadâmias, de 4,7 a 5,6m entre plantas e 10,5 a 11,1m entre linhas (Figura 4). Esses arranjos garantem uma população próxima a 4.000 Figura 4 - Representação esquemática do consorcio de plantas de café (círculos menores) e cafeeiros e 200 nogueiras por hectare, que nogueira-macadâmia (círculos maiores). são àquelas recomendadas nos cultivos macadâmia em função de doses de nitrogênio. Pesquisa Agrosolteiros. Além do melhor aproveitamento da área, maior produ- pecuária Brasileira, v.48, n.4, p.395-402, 2013. SCHNEIDER, L.M.; ROLIM, G.deS.; SOBIERAJSKI, tividade e maior rentabilidade, o cultivo consorciado do café com macadâmia oferece maior estabilidade, uma vez que o G.daR.; PRELA-PANTANO, A.; PERDONÁ, M.J. Zoneamento ingresso dos recursos provenientes da venda da macadâmia agroclimático de nogueira-macadamia para o Brasil. Revista acontece anualmente. Isso reduz os efeitos econômicos dano- Brasileira de Fruticultura, v.34, n.2, p.515-524, 2012. SOBIERAJSKI, G.da R.; FRANCISCO, V.L.F. dos S.; sos causados pela bienalidade da produção e pela oscilação do mercado cafeeiro, aos produtores. Além disso, as colheitas de ROCHA, P.; GHILARDI, A.A.; MAIA, M.L. Noz-macadâmia: café e macadâmia ocorrem em épocas distintas, melhorando o produção, mercado e situação no Estado de São Paulo. Inforaproveitamento da mão de obra, em especial, nas pequenas pro- mações Econômicas, v.36, n.5, p.25-36, 2006. priedades (Figuras 2 e 3). REFERÊNCIAS

FOTO: Marcos José Perdoná

GARBELINI, R.C.B.S. Reguladores vegetais na emergência e desenvolvimento de plantas de macadamia (Macadamia integrifolia Maiden e Betche). 2009. 94p. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas) - Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2009. PERDONÁ, M.J.; MARTINS, A.M.; SUGUINO, E.; SORATTO, R.P. Crescimento e produtividade de macadâmia em consórcio com cafeeiro arábica irrigado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.47, n.11, p.1613-1620, 2012. PERDONÁ, M.J.; MARTINS, A.M.; SUGUINO, E.; SORATTO, R.P. Nutrição e produtividade da nogueira

Figura 3 - Produção em cultivo consorciado de café e macadâmia.

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Nestlè vai produzir cápsulas em Minas

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multinacional suíça Nestlé vai inaugurar sua primeira fábrica de cápsulas de café fora da Europa. A unidade será em Montes Claros (MG) e demandará investimentos de R$ 186 milhões, segundo documento enviado pela empresa ao governo mineiro. A nova instalação vai abastecer os mercados interno e externo a partir do segundo semestre de 2015, com cerca de 360 milhões de cápsulas ao ano. A brasileira 3corações também terá uma fábrica de cápsulas em Montes Claros (MG), com investimento inicial de R$ 45 milhões e previsão de aplicar outros R$ 45 milhões, caso a demanda continue em alta. Os projetos das duas fabricantes somam R$ 276 milhões. A 3corações informa que a fábrica começa a ser construída no primeiro trimestre de 2015 e vai produzir cápsulas de diversas bebidas. Atualmente, os produtos são encapsulados na Itália. A fábrica da Nestlé será em propriedade anexa à unidade da companhia que produz leite condensado. O documento do governo mineiro diz que serão empregadas 120 pessoas. Segundo fontes do setor, a Nestlé vem negociando, há meses, uma autorização do governo brasileiro para importar café verde de outros países, para compor seus “blends” nas cápsulas. Não há proibição de importação da matéria-prima, mas é exigido um certificado de análise de risco de pragas do Ministério da Agricultura. O assunto ainda está sendo discutido dentro do governo e se houver alguma decisão, será deliberada pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), informou o ministério. Uma fonte afirmou que a Nestlé, ao instalar sua fábrica no Brasil, tenderia a usar inicialmente 60% de grãos brasileiros em suas cápsulas, e o restante de outras origens. O percentual de café nacional poderia logo passar para 90%, diante dos altos custos de importação de grãos verdes do exterior. O volume de cápsulas de café comercializado no Brasil cresceu 52,4% em doze meses, segundo pesquisa da Nielsen para a ABIC - Associação Brasileira da Indústria de Café. Em valor, o crescimento é de 55,5%. O consumo ainda está concentrado nas classes A e B, no Estado de São Paulo e no Sul do país. As cápsulas começaram a ser comercializadas no país há pouco mais de uma década, pela Nestlé, com a marca Nespresso. Outras empresas vieram depois, como a D.E. Master Blenders, as brasileiras Café Utam e Lucca Cafés e a portuguesa Delta Cafés. No segmento de monodoses, a D.E. Master Blenders trabalha com duas marcas: L’OR (compatível com o Nespresso) e Senseo. Os sachês Senseo são fabricados no Brasil desde 2011, em Jundiaí (SP), mas as cápsulas são importadas. (FONTE: Valor Econômico)

O café avança no país do chá

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Johanna Nublat

um raio de 2 km de onde eu estou agora em Pequim existem 27 lojas da Starbucks, me informa o site da empresa. Por mais indevida que seja a comparação, a marca ainda não desembarcou em Brasília (DF), onde eu morava até vir para cá. Na China, como um todo, são mais de mil de lojas. E a empresa anunciou, essa semana, que pretende dobrar sua presença no país no prazo de cinco anos – ou seja, a ideia é ter mais de 3.000 lojas até 2019. A China é “o mais importante e, potencialmente, o maior mercado” fora da América do Norte, ideia reafirmada pela Starbucks durante o lançamento do seu plano para cinco anos. Nesse plano, o Brasil também é citado como mercado estratégico. Para mim foi uma grande surpresa me deparar com tantos cafés – sejam Starbucks ou não – na China, um país que eu entendia ser um consumidor de chá. De fato, o consumo de café pelos chineses ainda é muito baixo. O consumo médio per capita não passou de 50 g em 2012, segundo estima a OIC - Organização Internacional do Café – no Brasil, o consumo per capita anual é próximo de 5 kg. Por outro lado, é um mercado que cresce: 12,8% de crescimento médio anual do consumo entre 1998 e 2012, diz a OIC em um estudo de 2013 sobre a China. “Cafés são frequentados principalmente por um pequeno grupo da classe média urbana. Nessas circunstâncias, um aumento no consumo per capita depende fortemente de fatores socio-econômicos”, resume o estudo. E esse prazer, especificamente, não é barato por aqui. Em Pequim, um café espresso ou americano sai por pouco menos ou pouco mais de R$ 10 a depender do local (na Starbucks, o café coado pequeno custa pouco mais de R$ 7). Com esse dinheiro é possível pagar um prato de comida em um restaurante chinês simples. Mas isso não impede, como já vimos pelos números, a proliferação de cafés nas grandes cidades chinesas. Somam-se à gigante do setor inúmeros outros lugares charmosos. Em Pequim, por exemplo, eu citaria a Bookworm (livraria e café) e o Moka Bro’s em Sanlitun, e o Barista Coffee num hutong (bairros antigos da cidade) em frente ao Lama Temple. Todos sempre cheios de chineses e estrangeiros. (FONTE: Blog “China in Town”)


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crescimento do consumo de café na Ásia foi o mais dinâmico do mundo entre 1990 e 2012, segundo estudo da OIC - Organização Internacional do Café. Em média, o avanço foi de 4% ao ano na região no intervalo, e o percentual aumentou para 4,9% a partir de 2000. Com isso, o consumo do grão mais que dobrou no período, passando de 8,4 milhões de sacas de 60 quilos, em 1990, para 19,5 milhões em 2012. Em diversos países da região, a expansão tem sido impulsionada pela maior demanda por café robusta, mais usado em bebidas instantâneas e em produtos prontos para beber. É o que ocorre em mercados do Sudeste Asiático, como Indonésia, Filipinas e Tailândia, que têm grandes populações e um consumo per capita ainda baixo, mas crescente. Em mercados asiáticos mais desenvolvidos, como Japão, Taiwan e Coreia do Sul, a tendência é de maior expansão do consumo de café arábica e já se destacam os grãos especiais, de maior qualidade. O Japão é o maior mercado de café do Leste e do Sudeste Asiático. Quase duas vezes maior que a Indonésia, o mercado japonês, onde o consumo per capita é de 3,4 quilos por ano, absorveu 7,1 milhões de sacas em 2012. A população total do Leste e Sudeste Asiático é esti-

FOTOS: Revista Espresso

Ásia já puxa o aumento do consumo no Mundo

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mada em 2,2 bilhões de pessoas, o que corresponde a um consumo per capita de café de pouco mais de 0,5 quilo por pessoa, enquanto na União Europeia, tradicional mercado consumidor do grão, essa média é de quase 5 quilos. Na América do Norte, conforme a pesquisa da OIC, chega a 4,4 quilos. A renda disponível vem aumentando na Ásia e diversas multinacionais do segmento estão investindo para expandir sua presença na região. Na Coreia do Sul, o consumo de café cresce a uma taxa anual média de 3,3% desde 1990 e a média per capita chegou a 2,1 quilos. A demanda total foi de cerca de 1,7 milhão de sacas em 2012, o que fez do país o 18º no ranking dos maiores consumidores do grão. Atualmente, o mercado estima em 2 milhões de sacas as importações do grão pelo país. Após um pico de US$ 701 milhões em 2011, o valor total das importações sul-coreanas de café baixou para perto de US$ 538 milhões em 2012, em decorrência da queda de preços. Os dados da OIC, bastante discutidos durante o evento Café Show, em Seul, sugerem que a demanda pelo café arábica no país aumentou a uma taxa anual de cerca de 5% desde 2000, enquanto a de robusta registrou ligeira queda, de 0,4%. Com 31% da população mundial e 29% do PIB global, os 16 países do Leste e Sudeste da Ásia analisados pela OIC atualmente respondem por 14% do consumo mundial de café. (FONTE: Valor Econômico)


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Cooparaiso já registra este ano resultados positivos depois de enfrentar um balanço de 2013 com perdas em função de operações com o café. A volta por cima da cooperativa é fruto de um corajoso processo de reestruturação apresentado pela diretoria e aprovado pelos produtores em Assembléia, visando melhor prestação de serviços aos cooperados, com um processo amplo de redução de custos e adoção de um novo modelo de governança. Na prática, com o aval do cooperado, a Cooparaíso demonstrou tato na reversão de uma séria situação e, mesmo enfrentando conhecidos problemas de endividamento do setor cafeeiro e uma caótica adversidade climática cuja seca provocou quebra de safra, os resultados são bastante promissores. A Cooparaiso já apresenta lucro de R$ 1,6 milhão, no acumulado entre janeiro a outubro, e o custeio está em R$ 32,7 milhões (em 2013 foi de R$ 41,5 milhões), próximo do cumprir o planejado em relação a redução do custeio, o que deve se confirmar até o final do deste ano. Até outubro a redução de custos estava em 21%. Outro dado bastante importante a ser enfatizado diz respeito às entradas de café, registrando até 31 de outubro o ingresso de 687.249 sacas de cooperados e terceiros. Se considerarmos a quebra de safra, o produtor acreditou na Cooparaiso. RECEITA CASEIRA - “O plano de reestruturação, conforme orientações dos Conselhos de Administração e Fiscal da Cooparaíso, foi desenvolvido por um Grupo de Trabalho composto por funcionários da própria cooperativa, com o suporte das consultorias MB Associados e INEPAD, resultando em um novo modelo de Gestão Empresarial estratégica orientado para a produtividade, qualidade, competitividade e lucratividade, sempre com foco no associado”, explica o vice-presidente José Rogério Lara. A linha central foi uma mudança de modelo com a criação de uma estrutura eficiente e competitiva que pudesse atender os anseios do cooperado com foco na oferta de melhor prestação de serviços. A metafoi uma redução no custo operacional da cooperativa em relação ao exercício de 2013,que equivale a uma diminuiçãosignificativa de até 31,5% nas despesaspara o ano de 2014, o que equivale a uma redução aproximada de até R$ 16,2 milhões. “O conceito do plano a curto prazo envolve uma racionalização na estrutura, que resultou numa adequação do quadro funcional, bem como num conjunto de ações adequando a estrutura existente neste novo modelo, o que foi bem recebido pelos produtores, uma vez que o momento dosetor de café exige austeridade”, destaca o diretor Rogério Couto Rosa Araújo, coordenador do Grupo de Trabalho responsável pela reestruturação. “É importante destacar que no novo conceito as diversas áreas foram fundidas, para dar maior agilidade, eficiência e competitividade à cooperativa, ou seja, aos poucos a organização perde a identidade de vários departamentos e ganha

FOTO: Divulgação COOPARAÍSO

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Reestruturação dá resultados e COOPARAÍSO anuncia novas medidas

uma estrutura mais leve, com maior velocidade na tomada de decisões e com custos operacionais muito mais baixos, sem comprometer em nada o atendimento ao produtor”, pontua o presidente da cooperativa, Carlos Melles. Neste sentido, com a melhoria dos indicadores obtidos na primeira fase do plano de reestruturação, a diretoria da cooperativa tomou a decisão de prosseguir com o modelo de gestão, anunciando uma série de novas medidas. PREMISSAS: a) - Reclassificação de todas Unidades Comerciais em: Filiais e Núcleos, baseados em análises de viabilidade financeiro/econômico, posicionamento geográfico e participação de Market Share. b) - Fechamento imediato do Núcleo de Espera Feliz e readequação das demais principalmente Piumhi e Guapé.. c) - Grupo Café e Armazéns = Redução das Charges Operacionais; Restruturação do modelo organizacional; Remodelação e revalidação das Normas e Processos internos; Análise e controle de integridade (Controle de qualidade); Otimização da capacidade instalada através de centralização de preparo de café; Mudanças de processos logísticos na captação de café; Parcerias com terceiros (Preparo de café para terceiros) d) - Administração = Readequação na governança; Mudança na modelagem organizacional; Implantação dos comitês (Gestor e Comunicação); e Decisões colegiadas em análise de risco. e) - Resultado = Até outubro/14, o Custeio está em R$ 32,7 milhões; Cooparaiso já apresenta lucro de R$ 1.627.965 (Acumulado de Janeiro a Outubro); As entradas de café (até 31/10/14 - 687.249 sacas de cooperados e terceiros). (FONTE: Cooparaíso)


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Projeto “Melhoramento Genético Sustentável do Café Conilon” vence 10º Prêmio Inoves

PROJETO VENCEDOR - O projeto do INCAPER teve início em 1985. Desde essa época, o Instituto, em parceria com outras instituições, desenvolve pesquisa em melhoramento genético, com o objetivo de obter variedades superiores para os produtores capixabas. As pesquisas proporcionaram o desenvolvimento de nove variedades, que têm sido a base da renovação de 8% do parque cafeeiro capixaba por

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FOTO: Augusto Barraque

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INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, órgão vinculado à Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca, brilhou na cerimônia de premiação do Inoves, que ocorreu no Centro de Convenções de Vitória. O projeto “Melhoramento Genético Sustentável do Café Conilon” foi o vencedor da categoria Resultados para a Sociedade, uma das mais concorridas do prêmio. A divulgação do resultado foi recebida com entusiasmo pela equipe vencedora. “Estamos muito felizes e nos sentindo recompensados. A vitória nessa categoria do Inoves é dedicada aos principais beneficiários do nosso trabalho. São mais de 150 mil pessoas e 40 mil famílias, que estão localizadas em 25 mil propriedades rurais capixabas, que utilizam uma tecnologia que vai ao encontro da sustentabilidade nos aspectos econômicos, sociais e ambientais”, afirmou o pesquisador do INCAPERe coordenador do programa Estadual de Cafeicultura, Romário Gava Ferrão. Ele também disse que, como pesquisador de carreira, há cerca de 30 anos, a premiação representa o ápice na vida profissional, sobretudo pelo reconhecimento da sociedade. “O prêmio é consequência de um trabalho de uma equipe coesa, que trabalha com dedicação, paixão e talento. Nós compartilhamos esse resultado com cada servidor do Incaper, desde o auxiliar de campo ao profissional mais graduado, uma vez que todos contribuíram para a concretização desse projeto vencedor. Os extensionistas, em especial, tiveram o papel fundamental de levar essa tecnologia aos agricultores”, afirmou Romário. De acordo com o pesquisador do INCAPER e da EMBRAPA CAFÉ, Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca, as parcerias institucionais estabelecidas desde o início dos trabalhos, há 29 anos, foi fundamental para o desenvolvimento de pesquisas científicas para o café conilon, o que se constituiu como importante fator para o êxito desse projeto. “Àquela época, buscamos orientações e as expertises de outras instituições. Esse fator contribuiu também para alcançarmos agora a premiação do Inoves. Nos últimos anos, apresentamos os resultados dessas pesquisas na comunidade científica e recebemos visitas de comitivas nacionais e internacionais, o que já era um demonstrativo do êxito desse trabalho”, disse Aymbiré. Ele também falou que o resultado do prêmio foi uma forma de a sociedade avaliar e referendar os resultados obtidos ao longo de anos. “O resultado do projeto é concreto na vida do agricultor porque ele adota a tecnologia, o que proporciona uma grande credibilidade à instituição”, disse Aymbiré.

ano. Nesse período, foram renovados 50% do parque cafeeiro com essas tecnologias. Essas variedades, associadas a outras tecnologias, que já atingiram cerca de 40 mil famílias e 150 mil produtores, promoveram o incremento de cerca de 300% na produção, com redução de custo e de uso de defensivos, contribuindo, assim, para a sustentabilidade da cafeicultura capixaba. A cafeicultura de conilon é a principal atividade de 80% dos municípios do Espírito Santo, que, com a produção de 9,9 milhões de sacas/ano, responde por 78% do total do Brasil e 20% do café robusta do mundo. A equipe responsável pela coordenação do projeto é composta pelos seguintes servidores: Romário Gava Ferrão: Engenheiro Agrônomo, Doutor em Genética e Melhoramento, Pesquisador do Incaper e Coordenador Estadual do Programa de Cafeicultura do Espírito Santo; Maria Amélia Gava Ferrão: Engenheira Agrônoma e Doutora em Genética e Melhoramento, Pesquisadora do Incaper/Embrapa; Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca: Engenheiro Agrônomo, Doutor Fitotecnia, Pesquisador do Incaper/Embrapa; Paulo Sérgio Volpi: Administrador Rural e Pesquisador Incaper; Abraão Carlos Verdin Filho: Mestre em Produção Vegetal, Pesquisador Incaper; José Antônio Lani: Mestre Solos e Nutrição de Plantas, Pesquisador Incaper; e Liliam Maria Ventorim Ferrão. Administradora, Mestre em Economia Doméstica, Comunicação e Marketing Incaper. As instituições parcerias no projeto e envolvidos na iniciativa, além do Incaper, são o Governo do Espírito Santo, Embrapa Café, Consórcio Pesquisa Café, Fapes, CNPq, Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo (CCA/UFES), Universidade Federal de Viçosa (UFV), Intituto Agronômico de Campinas (IAC), Banco do Nordeste, Nestlé, Conilon Brasil e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). (FONTE: Extraído e modificado de Augusto Barraque)


CAFÉ

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Sílvio Leite é o novo Melhores Cafés de presidente da BSCA São Paulo - 2014

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o dia 1º de dezembro, tomaram posse os conselheiros diretores da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), que, como primeira ação, elegeram Silvio Leite para a presidência da entidade. O mandato tem vigência de dezembro de 2014 ao fim de novembro de 2015, podendo ser prorrogado por mais um ano. A gestão nos próximos 12 meses terá Javier Faus Neto como vice-presidente e Edgard Bressani como conselheiro secretário. A responsabilidade administrativa da Associação está a cargo de Marina Figueiredo, que tratará do relacionamento com associados, da administração e dos procedimentos internos da instituição. A diretora Vanusia Nogueira será responsável pelas promoções nacionais e internacionais e pelo relacionamento com os parceiros, incluindo a esfera governamental e organizações como Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e Sebrae. O novo presidente informou que pretende fortalecer a promoção dos cafés especiais brasileiros nos mercados interno e externo, além de consolidar a Associação como principal plataforma de visibilidade do produto. “Todo o caminho percorrido pela BSCA até agora é exemplar e ajudou a fixar a imagem do nosso país como um fornecedor de qualidade e em quantidade, sendo fiel aos compromissos assumidos com os compradores. Vamos manter isso e explorar alguns novos pontos que o mercado tem sinalizado”, destaca. De acordo com Leite, sua gestão visa dar continuidade à ampliação do fornecimento dos cafés especiais internamente. “Existe uma demanda crescente nesse sentido. O brasileiro é apaixonado por café e tem descoberto sabores dos nossos produtos jamais oferecidos por aqui anteriormente. Essa é uma abertura de mercado promissora e precisamos consolidá-la”, explica. Silvio Leite é classificador e degustador certificado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Foi um dos idealizadores, é hedge judge do Júri Internacional e coautor da metodologia de provas do Cup of Excellence, principal concurso de qualidade do planeta, que premia anualmente os melhores cafés de 10 países. Especialista em classificação, degustação e controle de qualidade do café, tem mais de 30 anos de experiência no setor. Desses, 12 foram vividos no Grupo Bozzo, onde desenvolveu e implantou o controle qualitativo da empresa e foi responsável pelo controle de qualidade de todas as unidades do Grupo, em Genebra, na Suíça. Na Agribahia, empresa do Grupo Espírito Santo, passou mais 14 anos, exercendo as funções de diretor comercial e industrial e se destacando como especialista em controle de qualidade do café em todas as etapas do processamento.

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om a presença da secretária de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Monika Bergamaschi, foi lançada no dia 16 de dezembro, no “Salão dos Pratos” do Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo (SP), a Edição Especial dos Melhores Cafés de São Paulo – Safra 2014. São 12 marcas elaboradas com grãos gourmet vencedores do 12º Concurso Estadual de Qualidade Café de São Paulo – Safra 2014, realizado em outubro, e que foram adquiridos no início de novembro, durante disputado leilão, por indústrias e cafeterias e que agora chegam ao mercado: Café Gran Reserva, 3Corações, Espresso Brasil, Il Barista, Café Toledo, Café Excelsior, San Babila, Café Suplicy, Café Morro Grande, Café Caiçara, Café Rodeio e Santo Grão. Durante o evento, esses cafés excelentes produzidos nas principais regiões cafeeiras paulistas, puderam ser degustados. Todos esses cafés podem ser adquiridos em supermercados e lojas gourmets e também no site das empresas participantes. PREMIAÇÕES - Durante o evento foi feita também a premiação das empresas campeãs do leilão. Na categoria Ouro, a empresa campeã foi o Café Gran Reserva, da Coopinhal, que ofereceu o maior valor de aquisição por saca, para um mínimo de 4 sacas adquiridas de cafés Naturais ou Cereja Descascado. A empresa ofereceu R$ 2.777,77 por saca do café natural produzido por Carlos Alberto Galhardo no Sítio Ravello, de Espírito Santo do Pinhal (SP). Nas 6 sacas que a empresa adquiriu, a média atingiu R$ 2.278,00/saca. O certificado de premiação foi entregue pela secretária Monika a Thiago Françoso, da Coopinhal. Na categoria Diamante, a empresa campeã foi a StarSantos Trading, pelo maior investimento feito: R$ 17.950,00 na compra de 10 sacas premiadas. Esses cafés serão exportados para a China, conforme explicou Cynthia Chen, representante da empresa, ao receber o certificado da secretária Monika Bergamaschi. Já na categoria Especial, concedido à empresa que oferece o maior valor por saca para aquisição de um microlote, a empresa campeã foi a cafeteria Santo Grão, que pagou R$ 1.500,00 / saca, no microlote de 2 sacas do produtor Nilson Mengali, no Sítio Pirapitinga, em Divinolândia (SP). A secretária Monika Bergamaschi entregou a Vanessa Mills o certificado de premiação do Santo Grão. O produtor campeão desta edição do concurso, Arnaldo Alves Vieira, da Fazenda Baoba, de São Sebastião da Grama (SP), conseguiu ofertas compradoras para suas 8 sacas, obtendo um total de R$ 18.694,44, com media de R$ 2.336,75 por saca. “Este é um valor 400% maior que o de uma saca de café no mercado”, disse Nathan Herszkowicz, presidente da Câmara Setorial do Café de São Paulo.


CAFÉ

Frota cresce e cafeterias sobre rodas avançam em SP

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notícia não poderia ser melhor. Está ficando cada vez mais fácil encontrar bons cafés na capital paulista. Nestes últimos meses, mais dois furgões de café foram inaugurados e já estão circulando pelas ruas de São Paulo, levando grãos de qualidade ao público. Agora, o Cafe Racer e o Black’n Load Coffee Truck se juntam aos veteranos Bike Café e Bio Barista para a sorte dos amantes de café da cidade.

FOTOS: Revista Espresso

Cafe Racer Inaugurado em novembro de 2014, o furgão tem como foco principal a cidade de São Paulo. Entretanto, tem disponibilidade para viagens curtas para eventos, por exemplo, em Curitiba e no Rio de Janeiro. O blend servido é composto pelas variedades iapar 59 vermelho e icatú precoce amarelo, da Fazenda Camocim, localizada no Espírito Santo. Oferece espresso, latte, macchiato, cappuccino, pana, afogatto, ice coffee e smoothies de frutas. Para acompanhar, serve croissants, paninis, cookies, brownies e doces. Para encontrar o Cafe Racer siga em: www.facebook.com/caferacerfoodtruck

Bio Barista Cafés Especiais Do barista Alex Pereira Santos, a Kombi 1974, apelidada carinhosamente de Black Bean, foi a primeira a circular por São Paulo divulgando os bons cafés. Em 2012, o barista teve a ideia de transformar o veículo em uma cafeteria ambulante, servindo cafés orgânicos de alta qualidade em eventos particulares. Após a regulamentação da lei que trata do comércio de alimentos nas ruas da capital, o barista passou a estacionar em diversos pontos, levando espressos, ristretos, macchiatos e cappuccinos ao público, preparados com grão da Fazenda Ambiental Fortaleza (FAF). Para encontrar a Bio Barista Cafés Especiais siga em: www.facebook.com/ BioBaristaCafesEspeciais Bike Café Lançado em maio de 2013, o projeto do Instituto Aromameiazero reúne café e bicicleta, em busca de uma cidade com mais qualidade de vida. Instalado em uma bike, o café sobre rodas circula pela capital e em eventos particulares, levando o blend composto por grãos de Guaxupé (MG), da variedade catuaí vermelho, com notas de chocolate e doçura pronunciada. Serve espresso e café coado. A marca de Cadu Ronca e Murilo Casagrande reverte 10% do faturamento para ações de mobilidade urbana e projetos socioculturais do Aromameiazero. Para encontrar o Bike Café siga em: www. facebook.com/bebabikecafe (FONTE: Revista Espresso)

COFFEE TRUCK PELO MUNDO

Black’n Load Coffee Truck Dos baristas Gabriel Peres Malta e Hiram Moyano, a Kombi, toda estilizada nas cores preto e dourado, é uma cafeteria que serve grãos especiais, preparados em uma máquina de espresso Aurelia, da Nuova Simonelli, e também na japonesa Hario V60. Um blend próprio está sendo elaborado para atender os consumidores paulistanos. Para encontrar a Black’n Load siga em: www.facebook.com/blacknload

Espresso Bus Intelligentsia Coffee

Der Kaffefreund Myrtle & Mae

Starbucks Coffee

Lucky Lab Coffee Co.

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CAFÉ

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ma parceria entre o Projeto SOMA e a Associação dos Agricultores Familiares da Comunidade da Pontinha e Região (AAFAPO), foi realizado um dia de campo sobre boas práticas agrícolas com cafeicultores de Fama (MG) e Paraguaçu (MG). O evento aconteceu no Sítio Barreiro, propriedade do Sr. Jairo Luiz Pezoti em Fama (MG), e contou com a participação de diversos cafeicultores integrantes da associação assistidos pelo Projeto. O dia de campo abordou diversas temáticas sobre boas práticas agrícolas, como: Identificação de pragas e doenças do cafeeiro, técnicas de amostragem para o uso sustentável de defensivos agrícolas, manejo integrado de pragas e doenças, tecnologia de aplicação de defensivos, regulagem e manutenção de equipamentos agrícolas, segurança do trabalhados no manuseio de defensivos agrícolas e primeiros socorros. O evento contou com a participação de estudantes de diferentes cursos do IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho (MG). Dentre eles, alguns professores e alunos dos cursos Técnico em Enfermagem, Técnico em Segurança do Trabalho, Superior em Tecnologia em Cafeicultura e Engenharia Agronômica. O Projeto SOMA é um trabalho de extensão que existe desde 2009 e atualmente envolve o trabalho de mais de 40 estudantes de quatro cursos diferentes que atendem diver-

FOTOS: IFSULDEMINAS

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Projeto SOMA realiza dia de campo sobre boas práticas em Fama (MG) e Paraguaçu (MG)

sos cafeicultores em quatro estados diferentes: Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Espírito Santo. Em todos esses locais, a iniciativa visa somar o conhecimento técnico que os alunos possuem com a carência na assistência técnica que os cafeicultores necessitam. (FONTE: IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho)


HORTALIÇAS

Cultivo de novos tipos de alface é boa oportunidade para o produtor obter renda

FOTO: Agristar do Brasil

AGRISTAR - A Topseed Premium (linha de sementes profissionais de alta tecnologia da Agristar do Brasil) possui uma linha completa de alfaces, diferenciadas em cores, formatos, texturas e sabores para atender as necessidades de cada região do país e oferecer exatamente o que o mercado consumidor busca. Dentre as variedades, estão as alfaces americana “Maisah”, crespa “Camila”, mimosa “Imperial”, roxa “Redstar”, lisa “Regina 500” e ainda cultivares da linha Especialidades, como baby leafs e mini-alfaces. “Além das cores que agradam e atraem o consumo, principalmente por crianças, o sabor é um ponto que não pode passar despercebido, pois

Alface Americana “Maisah”. FOTO: Agristar do Brasil

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alface é a hortaliça folhosa mais consumida no Brasil, com cerca de 1,5 Kg por habitante ao ano. Esse índice é baixo se comparado aos padrões mundiais de consumo. Em geral, o consumo de hortaliças pelo brasileiro está em 27 Kg por habitante ao ano. Em países como Itália, por exemplo, o consumo passa dos 150 kg, e a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 400 g por dia ou 146 Kg por habitante ao ano. Isso mostra que o cultivo de hortaliças é uma atividade com oportunidades de crescimento, principalmente pela entrada de novos tipos de alface com maior valor agregado, somados aos tradicionais que ainda representam o grande volume. “O mercado está passando por mudanças e uma grande variedade de cores e formas é oferecida dando mais opções aos consumidores, além do aumento de áreas de hidroponia fora dos cinturões-verdes do Sul e Sudeste, que oferecem a alface fresca mesmo a quem está longe dos grandes centros”, explica Silvio Nakagawa, especialista em Folhosas da Agristar.

FOTO: Agristar do Brasil

Num mercado exigente, não basta a alface ser bonita, é preciso ser atrativa ao paladar

Alface Roxa “Redstar”.

Alface Crespa “Camila”.

com maior nível de exigência do consumidor não basta ser uma alface bonita, tem que ser atrativa ao paladar também”, afirma o especialista. Segundo Silvio, a indicação da melhor variedade para cada região é diferente devido ao clima e solo. Por isso, é importante consultar um técnico especializado antes de iniciar o cultivo. A escolha também deve ser baseada na cultivar que ofereça o maior número de resistências para minimizar os efeitos das doenças no campo para que o produtor tenha sucesso na lavoura. Os principais polos de produção se encontram en-

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Alface Batavia“Cacimba”.

Alface Crespa“Palmas”.

torno das grandes cidades do Sul e Sudeste do Brasil, como São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. As principais doenças que atingem a alface no verão são o LMV, Vira-Cabeça, Fusarium e Rhizoctonia.

Alface Mimosa“Prado”.

ISLA - Nos últimos cinco anos, a Isla desenvolveu um intenso projeto de pesquisa para criar uma linha de alfaces dirigida à nova realidade de consumos de folhosas no Brasil. A linha leva em conta tanto as necessidades dos produtores quanto as expectativas dos consumidores finais. Os quatro novos cultivares podem ser cultivados durante todo o ano em todas as regiões brasileiras através dos diferentes métodos de cultivo – hidropônico, convencional e orgânico. Nas quatro alfaces, estão presentes importantes propriedades organolépticas, como crocância, sabor diferenciado e cores diversificadas, todas características cada vez mais desejadas pelos consumidores. Veja a seguir algumas características específicas de cada cultivar. Alface Crespa Palmas: Cultivar que apresenta alta tolerância ao pendoamento e resistência ao Tomato Bushy

Stunt Virus (TBSV). Planta grande com folhas brilhosas, crespas e coloração verde-escura. O ciclo é de 45 a 50 dias no verão e de 60 a 65 dias no inverno. Alface Mimosa Prado: Cultivar de folhas tenras, brilhosas e coloração roxa. A planta é compacta e a cabeça, fechada. Possui alta tolerância ao pendoamento e resistência a Míldio (Bremia Lactucae –BI) Raças 1-17,19,21 e 23. Ciclo de 45 a 50 dias no verão e de 50 a 60 dias no inverno. Alface Batávia Cacimba: Planta de porte pequeno com boa tolerância ao pendo-amento e resistência a Míldio (Bremia Lactucae –BI) Raças 1-17,19,21 e 23. Folhas cres-pas com tonalidade vermelho-escura. O ciclo é de 45 a 50 dias no verão e de 55 a 65 dias no inverno. Alface Batávia Joaquina: Planta de porte pequeno, folhas de coloração vermelho-clara com leve tonalidade de rosa. Destaca-se no rendilhando do limbor foliar. Boa tolerância ao pendoamento e resistência a Míldio (Bremia Lactucae –BI) Raças 1-17,19,21 e 23. O ciclo é de 45 a 50 dias no verão e de 55 a 65 dias no inverno. (FONTE: Isla Sementes e Agristar do Brasil)

Alface Lisa “Regina 500”.

Alface Romana “Bonnie”.

FOTOS: Agristar do Brasil

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FOTOS: Divulgação Isla Sementes

HORTALIÇAS


ABELHAS

Prefeitura de Franca (SP) realizou o 5º Seminário de Meliponicultura

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om a participação de 45 pessoas entre pesquisadores e produtores de mel de abelhas melíponas, a Prefeitura de Franca (SP) e a AMESAMPA - Associação dos Meliponicultores do Estado de São Paulo relizaram entre os dias 20 e 22 de novembro último o 5º Seminário de Meliponicultura de Franca e Região. Idealizado pelo então Secretário de Desenvolvimento e atual prefeito de Franca, Alexandre Ferreira, o Seminário de Meliponicultura se consolida com um espaço e ambiente voltados ao fortalecimento da Meliponicultura do Estado de São Paulo. “Nossa proposta é a de promover e valorizar a criação e conservação das Abelhas sem Ferrão (ASF), seja para a preservação ambiental, seja para a geração de renda. Mas, acima de tudo, queremos ressaltar o papel fundamental dos meliponicultores para o incremento do desenvolvimento sustentável no meio rural”, disse Alexandre Ferreira. O evento foi realizado no Auditório “Fábio de Salles Meirelles” (aulas teóricas) e no Meliponário Municipal (aulas práticas), ambos instalados no Parque de Exposições “Fernando Costa”, sede da Secretaria Municipal de Desenvolvimento. O biólogo Célio Augusto Pereira Rodrigues foi o coordenador do Município no evento e contou com o apoio dos pesquisadores Ricardo C.R. Camargo (Embrapa Meio Ambiente, de Jaguariúna/SP); Marco Pignatari (Meliponário Abelha Brasil); América F. Mota (CBA - Confederação Brasileira de Apicultura); da AMESAMPA - Associação dos Meliponicultores do Estado de São Paulo; e da FAAMESP - Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores do Estado de São Paulo.

Célio Augusto Pereira Rodrigues, coordenador do 5º Seminário de Meliponicultura de Franca e Região

FOTOS: Célio A.P. Rodrigues

Franca recepcionará em 2015 o 2º Congresso Paulista de Apicultura e Meliponicultura

Acima, pesquisadores, palestrantes e coordenadores do 5º Seminário de Meliponicultura de Franca e Região. Abaixo, participantes das palestras.

Nesta 5ª edição, o evento contou mais uma vez com especialistas nas mais variadas áreas da meliponicultura e em sua interação com os sistemas de produção no campo e na educação ambiental, além de meliponicultores profissionais de inúmeros locais do país, que ao trazerem suas experiências regionais, demonstram como essa atividade produtiva pode ser tão apaixonante e ser ao mesmo tempo rentável economicamente, socialmente justa e ambientalmente correta. Além das palestras, o seminário reuniu ainda discussões sobre legislação, minicurso, assembléias, eleição da nova diretoria da FAAMESP e a interação entre os presentes, oportunidade para rever amigos e conhecer novos. A primeira palestra abordou o tema “Biologia das Abelhas Sem Ferrão”, por Airton Vollet, da USP-Ribeirão Preto. Logo após foi falado sobre a utilização das ASF na edu-

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FOTOS: Célio A.P. Rodrigues

ABELHAS

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Pesquisador orienta participantes em mini-cursos práticos.

Participantes recebem orientações de pesquisador durante mini-curso

cação ambiental e ainda a palestrante Letícia Mariano da Costa, da UFSCAR de Araras (SP) mostrou resultados de uma pesquisa em que ficou constatado que agrotóxicos são mais prejudiciais às Abelhas Sem Ferrão do que às abelhas do gênero Apis. Uma palestra muito interessante foi a do Raoni da Silva Duarte, da USP-Ribeirão Preto, que foi sobre a criação de abelha Borá (Tetragona clavipes) - que foi sua tese de mestrado -, uma abelha difícil de ser criada principalmente devido a sua vulnerabilidade aos forídeos. Em seu estudo fez análise do polén encontrado nas colméias de Borá para saber o tipo de plantas visitadas por essa espécie, e uma das árvores citadas foi a Sibipiruna, onde a Borá coleta polén. No dia 21 tivemos alguns relatos de histórias de sucesso de meliponicultores. O primeiro a falar foi o Sr. Paulo Menezes, meliponicultor de Mossoró (RN), que falou de sua criação de abelhas Jandaíra, inicialmente como hobby até os dias de hoje, uma empresa com mel registrado no Serviço de Inspeção. Depois foi o relato da Sra. Rosilene Padilha, presidente da Cooperativa Agroecológica dos Meliponicultores da Baixada Maranhense, contando como conseguiram agregar mais valor aos produtos das Abelhas Nativas, em especial da abelha Tiúba. No sábado foram realizados dois minicursos: um de

Meliponicultura Básica, ministrado pelo José Mauro de Souza (Furnas/MG), e o outro de “Produção de Cosméticos com produtos das ASF”, ministrado pela Sra Rosilene. Durante o seminário também foi passado aos presentes um pouco do que aconteceu no CONBRAPI e da escolha do Diretor de Meliponicultura da CBA. De acordo com a diretora de comunicação da CBA, América Mota, a escolha do novo diretor se deu de forma democrática e transparente, segundo ela, foram enviados e-mails para todas as Federações para que indicassem seus representantes regionais. Os únicos Estados que indicaram seus representantes foram: Santa Catarina (Sigfrid), São Paulo (Ricardo Camargo), Distrito Federal (Carlos Alberto) e Maranhão; este último por não estar em dia com a CBA, não pode concorrer. O escolhido como diretor de Meliponicultura da CBA foi o Dr Ricardo Camargo e o suplente Carlos Alberto, representante do Distrito Federal. Ficou definido, ainda, que a cidade de Franca (SP) recepcionará o 2º Congresso Paulista de Apicultura e Meliponicultura, que acontecerá no mês de novembro de 2015. A realização é da FAAMESP, com o apoio da Prefeitura de Franca, da Embrapa-Meio Ambiente, CBA, AMESAMPA e Meliponário Abelha Brasil.

Aspecto interno de uma colméia de ASF

Imagem aproximada de uma colméia de ASF.


SUÍNOS

ABCS alerta sobre medidas para a prevenção da Diarréia Epidêmica

Comunicado do MAPA reforça cuidados e práticas para evitar a entrada da doença nos rebanhos

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FOTOS: Divulgação ABCS

Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) alerta aos produtores e administradores de granjas de todo país sobre a necessidade de manter e redobrar os procedimentos de biossegurança em seus plantéis, em especial neste momento, por conta da epidemia de PED (do inglês, Porcine Epidemic Diarrhea) que afeta diversos países, inclusive vizinhos do Brasil. A doença, ainda não diagnosticada em território nacional, é causada por um vírus de alta capacidade de transmissão indireta e grande resistência. Em comunicado, o MAPA apresentou informações e medidas como alerta aos criadores. A Diarreia Epidêmica Suína é uma doença que ocorre apenas em suínos, causada por um coronavírus. A diarreia epidêmica suína produz surtos agudos e graves de diarreia que se transmite rapidamente entre todas as idades de suínos e entre os criatórios (epidemias). A introdução do vírus da PED em um rebanho susceptível normalmente resulta em surtos agudos de diarreia grave, vômito, alta taxa de morbidade (muitas vezes 100%) e mortalidade variável (até 100% em leitões lactantes). A diarreia não atinge humanos ou outras espécies de animais. A doença foi primeiramente identificada em 1971, na Grã-Bretanha, e em 1982, na Ásia, tornando-se endêmica em muitos países nessas regiões. Em 2010, uma cepa variante do vírus foi identificada na China, resultando em ocorrências da doença de forma mais grave com alta taxa de morbidade e mortalidade. Em maio de 2013, foi confirmado o primeiro

caso nos Estados Unidos. Os resultados de estudos genéticos de cepas dos EUA indicam ser muito semelhantes a cepas isoladas na China, sugerindo a provável origem da doença no país. Dados fornecidos por laboratórios de diagnóstico veterinário americanos sugerem que há 40-50 novos casos de vírus PED diagnosticados a cada semana, com a doença agora relatada em 27 estados. Como os sinais clínicos da doença são de fácil reconhecimento, estima-se que muitos casos não estão sendo diagnosticados em laboratório, o que leva a uma sub-notificação dos casos e dificulta o conhecimento da real situação. Atualmente já há registros da forma grave da doença em vários outros países como: Canadá, México, Peru, Colômbia, Japão, República Tcheca, Hungria, Itália, Alemanha, Espanha, Coréia, Filipinas, China e Tailândia. No Brasil não há casos da PED. PROPAGAÇÃO DA DOENÇA - Uma grande quantidade de partículas virais é eliminada nas fezes de animais doentes, as quais contaminam os alimentos, a água e objetos que, em contato com a boca de outro suíno, provoca a infecção. Uma pequena quantidade de fezes contém vírus suficiente para infectar diversas granjas de suínos. O vírus da PED está sendo detectado em amostras coletadas de instalações da criação, abate, transporte e inúmeros objetos, demonstrando o vasto potencial para a transmissão da doença. PREVENÇÃO - Os produtores devem manter-se informados e procurar o médico veterinário que atenda

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SUÍNOS FOTOS: Divulgação ABCS

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aos suínos na região, que é o profissional indicado para prestar maiores orientações, de acordo com as características de cada criatório. Os cuidados e práticas gerais com a biossegurança nos criatórios devem ser redobrados para evitar a introdução das doenças no rebanho, principalmente em situações críticas, tais como: 1. - Ingresso de animais de outros criatórios deve ser de origem certificada e confiável. Os animais devem ser mantidos isolados dos demais por pelo menos 15 dias; 2. - Ingresso de veículos, objetos ou equipamentos que possam ter passado por outros criatórios; 3. - Ingresso de pessoas que tiveram contato com outros suínos; 4. - Se houver quaisquer sinais clínicos compatíveis com a PED, o produtor ou o veterinário devem procurar imediatamente o veterinário do serviço oficial (estadual ou federal) para que seja providenciado o diagnóstico precoce e a adoção de medidas para evitar a disseminação da doença. COMO O VÍRUS ENTROU NOS EUA - Não há nenhuma confirmação de fonte específica ou local de entrada do vírus nos Estados Unidos. As principais hipóteses apontam para a entrada via ingredientes de ração para suínos importados da China. SITUAÇÃO NO BRASIL - O MAPA está em estado de alerta para a doença, buscando informações atualizadas sobre a doença e atuando em conjunto com o setor privado

para discutir e implementar as melhores ações para prevenir a entrada da PED. Já foram adotadas medidas para reforçar a prevenção da introdução da enfermidade no país, dentre as quais estão: • Todas as importações de suínos vivos, das quais nossa indústria é dependente para melhoramento genético, somente serão autorizadas pelo DSA/SDA/Mapa, que analisará caso a caso; os animais devem ser originados de estabelecimentos certificados pelo serviço veterinário do país exportador da ausência da doença nos últimos 12 meses e deverão cumprir quarentena na origem e também serão quarentenados por no mínimo 30 dias nas novas instalações da Estação Quarentenária de Cananéia, sob permanente supervisão do serviço veterinário oficial, antes de serem transportados para fazendas no Brasil. • Em relação à importação de sêmen suíno, somente serão emitidas autorizações de importação pelo DSA/SDA/ Mapa, que analisará caso a caso. Os semens deverão ser oriundos de centros de coleta credenciados pelo serviço veterinário oficial do país exportador e que não registraram ocorrências da doença nos últimos 12 meses; • Com relação ao plasma suíno para ração animal, somente serão autorizadas importações pela SDA/Mapa e que sejam oriundas de estabelecimentos registrados pelo serviço veterinário oficial do país de origem; com certificação sanitária oficial quanto aos rigorosos requisitos estabelecidos pelas autoridades brasileiras para importação. Também serão realizadas missões de fiscais federais agropecuários aos estabelecimentos exportadores do insumo para averiguar “in loco” o cumprimento dos requisitos sanitários. (Fonte: ABCS).


CANA DE AÇÚCAR

Produtividade da cana em função do ambiente e disponibilidade hídrica

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André Cesar Vitti1 e Helio do Prado2

produtividade de cana-de-açúcar (Saccharum ssp.) em seus ciclos agrícolas, depende das condições químicas e físico-hídricas das camadas superficiais e sub-superficiais dos solos, juntamente com as condições climáticas, formando os chamados ambientes de produção. O manejo básico da cultura nos ambientes considera que é feito corretamente o preparo do solo e plantio, o controle das ervas daninhas e o manejo fitossanitário; época de plantio e colheita, além da escolha varietal em relação aos ambientes; doses adequadas de corretivos e fertilizantes; controle local evitando erosão e que não ocorra impedimentos químicos, físicos e biológicos no solo que limitem o desenvolvimento do sistema radicular. Esses ambientes originais se alteram muito favoravelmente quando é feito manejo intensivo com a aplicação de vinhaça, torta de filtro, com a adubação verde, irrigação semiplena e plena; e também se alteram muito desfavoravelmente quando as condições climáticas são anormais, como má distribuição de chuva, seca prolongada e geadas. Prado (2008) apresenta para a cultura da cana-deaçúcar uma tabela contendo cinco ambientes de produção, sendo cada ambiente subdividido literalmente em dois, destacando a importância da disponibilidade hídrica, além das condições químicas de fertilidade do solo. Nos ambientes de produção existem diferenças quanto à capacidade de armazenamento de água (CAD) para o Nitossolo e o Latossolo, de 125-150 mm e 60-80 mm, respectivamente. No estudo desenvolvido por Prado et al. (2011), em cana-planta, na estação experimental da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Pólo Centro-Sul, em Piracicaba/SP, em dois solos semelhantes na textura e diferentes na química e morfologia, sendo eles, Latossolo Vermelho distrófico textura muito argilosa A moderado (LVd) e o Nitossolo Vermelho eutrófico textura muito argilosa A moderado (NVe), foi constatado que houve um ganho na produtividade de 15 t/ha para o NVe, ou seja, 11% superior, quando comparado ao LVd.. As maiores produtividades no NVe foram atribuídas a maior disponibilidade de água e nutrientes, especialmente o

AUTORES

1 - Engº Agrônomo, Dr. PqC do Polo Regional Centro Sul/APTA, acvitti@apta.sp.gov.br 2 - Engº Agrônomo, Dr. PqC do Centro de Cana/IAC-APTA, heprado@terra.com.br

Tabela 1. Classes de água disponível (AD) em função da evapotranspiração potencial (ETP) e da CAD na profundidade de 0-100 cm do solo (PRADO et al, 2008).

Figura 1. Produtividade da cana-de-açúcar em função dos ambientes de produção: latossolo e nitossolo, em Piracicaba/ SP. (Foto: modificado de Prado et al., 2011).

cálcio, e baixo teor de alumínio, comparados com o LVd corrigido com calcário e gesso (Prado et al., 2011). Essas diferenças poderiam ter sido maiores se houvesse maior restrição hídrica, ou seja, menor pluviosidade e distribuição ao longo do ciclo agrícola da cultura. De acordo com as projeções de Prado (2011), dentro do projeto sobre ambientes de produção da cana-de-açúcar (projeto AMBICANA), as estimativas de produtividade em cinco ciclos agrícolas para o Nitossolo (ambiente A1) e o Latossolo (ambiente C1), res-pectivamente, podem ultrapassar 110 t/ha e 84-88 t/ha, res-pectivamente. Em relação a camada sub-superficial do horizonte B do Nitossolo apresenta estrutura do tipo prismático e subangular com grau forte de desenvolvimento, ao contrário do Latossolo (Figura 1). Essa morfologia especial é responsável pela drenagem interna moderada no NVe de cana-deaçúcar, ou seja, após a chuva, a água é removida no perfil numa velocidade moderada. Por outro lado, no Latossolo, por apresentar estrutura granular, a drenagem interna passa a ser acentuada, sendo que a água é removida mais rapidamente se comparada ao NVe. A maior disponibilidade hídrica do NVe (140 litros de água/m3 de solo) e o maior tempo de permanência de água no perfil, devido a sua estruturação, foram os principais fatores responsáveis pelo menor estresse hídrico na cana-deaçúcar. Já o LVd disponibilizou cerca de 70 litros de água/m3 de solo, ressecando-se mais rapidamente (Prado et al., 2011). De acordo com esses valores e considerando uma evapotranspiração média diária de 5 mm/dia, o NVe disponibilizaria água por cerca de 30 dias e o LVd apenas por 15 dias (Tabela 1). Além disso, a morfologia tipicamente prismática (estrutura do horizonte B) no NVe, como pode ser observado na Figura 1, poderá contribuir por um período maior de

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CANA DE AÇÚCAR Figura 2. Latossolos ácricos na região de Itumbiara (MG) e Goianésia (GO).

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2- Épocas de plantio e colheita relacionadas aos tipos de solo quanto à capacidade de água disponível e evapotranspiração; 3- Manejo de fertilizantes e corretivos com a finalidade de aumentar o vigor da cultura e evitar o impedimento químico no desenvolvimento do sistema radicular; 4- Evitar a compactação do solo, que funciona como barreira física no desenvolvimento do sistema radicular tanto em superfície como em profundidade, bem como a infiltração de água no solo. A compactação está relacionada aos tipos de solo, teor de umidade, tráfego intenso, principalmente associado ao espaçamento e umidade do solo; 5- Preparo do solo - a época e a forma de preparo devem estar associadas com os tipos de solo e com objetivo de incorporar corretivos e resíduos, eliminar camadas compactadas, expor pragas de solo e adequar o terreno (sistematizar); 6- Manejo das variedades nos diferentes ambientes de produção quanto à eficiência do uso da água; 7- Controle de pragas do solo contribuindo para a melhoria do desenvolvimento do sistema radicular em profundidade. Enfim, a realização de manejos que venham a favorecer o desenvolvimento do sistema radicular, evitando os impedimentos químicos, físicos e biológicos, associados à tipos de manejos da cultura de forma a diminuir a evapotranspiração, são fatores que irão favorecer a permanência de água disponível no solo por um tempo maior, garantindo a produtividade dos canaviais.

disponibilidade de água para a cultura em relação ao LVd. Isso sem levar em consideração a ascensão capilar da água no ciclo de alternância do secamento e umedecimento, ao longo do perfil do solo e os atributos químicos do solo que o NVe apresentou e que certamente contribuiu para a maior produtividade. Os Latossolos, ao contrário dos Nitossolos, possuem estrutura granular e consistência muito friável, fracamente desenvolvidos no horizonte B, não armazenando água por longo tempo, mesmo os mais argilosos (Figura 1). Outro aspecto limitante dos Latossolos diz respeito aos seus microagregados da fração argila, responsáveis pela rápida permeabilidade de água no perfil, especialmente se forem ácricos, o que faz com que a cana seque muito na estiagem (Figura 2). Além da capacidade água disponível no solo, deve-se levar em consideração a evapotranspiração que está relacionada principalmente com o local, época e desenvolvimento da cultura. A Tabela 1 mostra essa relação entre a CAD de um solo, com a evapotranspiração. Exemplificando, solos com CAD de 60 e 140 litros de água por m3 de solo, respectivamente, e em locais com diferentes evapotranspiração de 3 e 7 mm/dia, terão 20 dias de agua disponível para as plantas. Já para uma mesma evapotranspiração, a CAD irá diferenciar no número de dias conforme visto anteriormente no REFERÊNCIAS trabalho de Prado et al. (2011), uma diferença de cerca de 15 PRADO, H. Pedologia fácil-aplicações na agricultura. dias a mais de água disponível para o NVe. Piracicaba. 205p. 2008. 2ª edição. Com relação aos Argissolos, quanto maior a distância do PRADO, H. Pedologia fácil-aplicações na agricultura. horizonte B em relação à superfície do solo, maior o resseca- Piracicaba. 180p.: il. 2011. (3ª edição revisada e ampliada). mento, porque as raízes dependem muito da proximidade PRADO, T.A.B.; VITTI, A.C.; PRADO, H.; ROSSETdesse horizonte reservatório para absorver água e nutrientes TO, R. Produtividade de cana-de-açúcar nos ambientes de (Figura 3). Se o horizonte B ocorre na superfície, comum em produção: nitossolos e latossolos vermelhos da região de argissolo erodido, o solo também se resseca muito pela ação Piracicaba. In: XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências do direta da radiação solar, o que diminui a produtividade. Solo, 2011, Uberlândia/MG. No estudo desenvolvido pelo AMBICANA, Figura 3. Argissolo com horizonte B na superfície (lado esquerdo) e a 50 constatou que a produtividade, média de 5 corcm de profundidade (lado direito). tes, variou de 90 (horizonte A preservado) a 50 t/ ha de colmo, quando o solo foi erodido expondo o B textural. A particularidade do Argissolo favorecer a disponibilidade hídrica por longo tempo deve-se não só a grande diferença de argila e micro porosidade dos horizontes A e B (Figura 3 lado direito), mas também em qual profundidade se inicia o horizonte B. Portanto são vários os fatores que estão relacionados com a permanência de água no solo e disponibilidade para as plantas, que refletem diretamente na produtividade da cultura, a saber: 1- As classes e os diferentes solos dentro de cada classe que irão compor os ambientes de produção;


ARTIGO

A MP Nº 656/2014 E AS OPERAÇÕES DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS RURAIS Luis Felipe Dalmedico Silveira - Sócio na empresa MTC Advogados. [ felipe@mtcadv.com.br - www.mtcadv.com.br ]

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s operações de compra e venda de imóveis, apesar de relativamente simples (do ponto de vista jurídico), sempre são precedidas por uma série de atos destinada à verificação de algumas situações referentes ao imóvel, em si, e à pessoa do vendedor. Trata-se do custoso e demorado processo de levantamento de certidões: o proprietário do bem, interessado na venda do imóvel, fornece ao comprador a certidão de matrícula com negativa de ônus, a certidão negativa de imóvel rural emitida pelo INCRA, certidão negativa de débitos da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, além de outras certidões que deem conta da inexistência de outros débitos sobre o imóvel e contra a pessoa do vendedor. Duas questões giram em torno da solicitação dessas certidões: (i) o imóvel é de propriedade do vendedor? (ii) o vendedor possui dívidas que podem comprometer a eficácia da operação? A respeito dessa última questão, destacase o art. 593 do Código de Processo Civil (CPC), segundo o qual atos de alienação de bens durante a pendência de ações fundadas em direito real ou enquanto tramitava contra o vendedor ação judicial capaz de reduzi-lo à insolvência são consideradas como em “fraude de execução” e, portanto, são consideradas ineficazes em relação aos credores do vendedor – possibilitando, por exemplo, a esses credores, levar o imóvel objeto da transação à hasta pública para venda judicial. Objetivando simplificar e agilizar essas operações, o governo federal editou a Medida Provisória nº 656/2014. Essa MP, dentre outros assuntos, trata, em seu art. 10º, da eficácia das operações de compra e venda em relação a atos jurídicos anteriores não levados à registro ou à averbação junto à matrícula imobiliária. O referido art. 10º da MP nº 656/2014 estabelece, em resumo, que, para fins de fraude à execução – isto é, para fins de decretação de ineficácia da compra e venda rea-

lizada entre comprador e vendedor -, eventuais credores do vendedor só estarão protegidos caso tenham registrado ou averbado na matrícula do imóvel a citação, decisão judicial, constrição judicial ou restrição que, de algum modo, interessam ao bem. Em outras palavras: para comprovar ao comprador que inexiste qualquer ação judicial ou direito alheio que possa por em risco a eficácia (isto é, os efeitos) da operação, basta ao vendedor apresentar a matrícula sem qualquer das restrições acima mencionadas. A grande controvérsia, todavia, está no parágrafo único do art. 10º da MP nº 656/2014. E por uma razão: para além dos fatores de ineficácia dessas operações de compra e venda, há a fraude contra credores (que é diversa da fraude de execução), prevista no art. 158 do Código Civil, e que se relaciona com a validade (e não eficácia) da operação. Além disso, existem os débitos conhecidos, no Direito, como propter rem (em razão da coisa), como o ITR ou os débitos condominiais, por exemplo. Tais obrigações seguem o imóvel, obrigando o seu novo titular, independentemente do momento no qual esse débito foi constituído (ainda que no período anterior à operação de compra e venda). O parágrafo único do art. 10º da MP nº 656/2014, todavia, estabelece que “não poderão ser opostas situações jurídicas não constantes da matrícula do registro de Imóveis ao terceiro de boa-fé que adquirir ou receber em garantias direitos reais sobre o imóvel”. Note, aqui, que o dispositivo fala em “situações jurídicas”, que é termo mais amplo do que simplesmente “atos jurídicos”, conforme consta do caput do mesmo art. 10º. Essas “situações jurídicas” englobam os aspectos de que se fala acima. Trata-se de uma resposta que a jurisprudência brasileira deverá dar nos próximos anos. De qualquer forma, a MP nº 656/2014 representa um passo importante para simplificação e otimização do processo de compra e venda de imóveis.

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