Edição 64 - Revista de Agronegócios - Dezembro/2011

Page 1

1

DEZ / 2011 www.revistadeagronegocios.com.br


www.revistadeagronegocios.com.br

2

DEZ / 2011


3

DEZ / 2011 www.revistadeagronegocios.com.br


EDITORIAL

Agricultura, Meio Ambiente e 2012.

E

m meio às festividades de final de ano, a agricultura brasileira vive um período importantíssimo. O novo Código Florestal foi aprovado pelo Senado Federal e volta agora para a Câmara dos Deputados para aprovação das alterações propostas pelos senadores. Somente após passar pela Câmara é que o texto será analisado pela presidenta Dilma. Que poderá aprová-lo ou vetá-lo. Assim como todo brasileiro,

torcemos para que a Verdade e a Consciência Ambiental Profissional prevalesçam sobretudo. A agricultura brasileira precisa ser respeitada, mas respeitando também o meio ambiente. Nesta edição publicamos, dentre várias matérias agropecuárias, um breve guia com as orientações aprovadas até então pelo Senado Federal. Aproveitamos a oportunidade para desejar a todos um Feliz Natal e um Excelente 2012.

4 Ministério do Trabalho altera NR 31 www.revistadeagronegocios.com.br

DEZ / 2011

F

oi publicada no Diário Oficial da União de sexta-feira, dia 16 de dezembro de 2011, a Portaria do Ministério do Trabalho e Emprego 2.546, que alterou o item 12, que trata das máquinas e implementos agrícolas, da Norma Regulamentadora 31 – NR 31. Estamos procedendo ao estudo comparado e interpretativo da nova redação dada aos mais de 80 subitens (a redação original da NR-31, no item 12, continha apenas 20 itens) para disponibilizarmos para os Sindicatos e para os produtores rurais. Uma das correções contidas no novo texto diz respeito à obrigação do fabricante de vender máquinas e equipamentos já atendendo à norma. Pelo texto anterior, a obrigação recaía apenas sobre o produtor rural, que era obrigado a fazer adequações, mesmo em máquinas novas, o que fazia com

que perdesse a garantia de fábrica. Outra alteração significativa é quanto a tratores fabricados antes de maio de 2008. Pela nova regra, ficam dispensados da cabine de tombamento, espelho retrovisor, sinal sonoro de ré, lanternas traseiras de posição – caso não tenham vindo de fábrica com tal equipamento. Esta alteração é fruto do trabalho realizado pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), FAEMG (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais) e todas as demais Federações, que, em conjunto com os Sindicatos de Produtores Rurais, reanalisaram a norma e propuseram modificações ao governo federal. A íntegra da Portaria está no site www.faemg.org.br, clicando em Plantão Jurídico: NR 31 – Item 12 – Nova Redação. A

e-mails ANTONIO JOÃO CAETANO (anjoca56@hotmail.com) Bancário. Sacramento (MG). “Recebi a Revista Attalea Agronegócios. Quero parabenizá-los pelo ótimo trabalho apresentado, em especial a matéria “Vacas Girsey”. Ótimo, parabéns. Grato pelo exemplar”. ALEXANDRE OLIVEIRA (alexandressparaiso@gmail.com) Agropecuarista. São Sebastião do Paraíso (MG). “Gostaria de parabenizálos pela excelente revista que, com uma linguagem simples e direta, traz informações importantes ao homem do campo. Já faz alguns meses que recebo a Revista Attalea Agronegócios e fico aguardando ansioso pela próxima edição. JOÃO PAULO FACURY (joaopaulofacury@yahoo.com.br) Agropecuarista. Franca (SP). “Trabalho com café, gado de leite e de corte. Gostaria de assinar a Revista Attalea”. AGRIMILHO CAFÉ & CEREAIS Empresa. São Sebastião do Paraíso (MG). “Gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios. VALMIR JOSÉ DE OLIVEIRAS (valmirjoseoliveira@hotmail.com) Gestor de Agronegocios e Técnico em Agropecuário. Rio Paranaíba (MG). “Gostaria de assinar a Revista Attalea. IVONE BARROSO Estudante. Brasília (DF). “Venho agradecer pela edição de outubro da revista. As informações estão sendo úteis em meu curso de agronegócios.


MÁQUINAS

N

5 DEZ / 2011 www.revistadeagronegocios.com.br

os dias 22, 23 e 24 de novembro, a Sami Máquinas comemorou, em suas lojas de Franca (SP) e São Sebastião do Paraíso (MG), o seu aniversário e quem ganhou o presente foram os produtores rurais que prestigiaram o evento. Grandes fornecedores e parceiros da Sami Máquinas fizeram-se presentes, como a Jacto, Yanmar-Agritech, Banco DLL, Kamaq, Dragão Sol, KO, Husqvarna, Incomagri, dentre outros. Durante todos os três dias as lojas estiveram cheias de clientes, que foram em busca da mais completa linha de tratores cafeeiros do mercado e dos vários tipos de implementos comercializados pela empresa. Inúmeros negócios de tratores, colhedoras de café e implementos foram fechados, fazendo desta comemoração de aniversário um grande sucesso. De acordo com Sami El Jurdi, diretor da Sami Máquinas, o sucesso do evento comprova que os produtores rurais das duas regiões reconhecem

FOTO: Sami Máquinas

Grande número de produtores prestigiaram o aniversário da Sami Máquinas


FOTO: Sami Máquinas

MÁQUINAS

6 www.revistadeagronegocios.com.br

DEZ / 2011

Geraldo Cintra Diniz (cafeicultor e ex-presidente do Sindicato Rural de Franca), Sami El Jurdi (diretor da Sami Máquinas), Antônio Augusto Jardim (cafeicultor), Manoel Oliveira Lima (cafeicultor), José Henrique Falleiros (cafeicultor) e Fabiano Jardim (cafeicultor)

a importância e a qualidade das máquinas e implementos comercializados pela empresa. “Além disto, preparamos três dias com preços e condições especiais para o agricultor”, afirmou Sami.

A grande facilidade de pagamento impulsionou as vendas, já que o produtor teve a oportunidade de parcelar a compra em 8 vezes, sendo uma entrada e sete pagamentos mensais.

As duas lojas foram devidamente enfeitadas para a comemoração e os visitantes ainda puderam degustar um delicioso café da manhã durante todos os dias do evento. A

Abimaq prevê crescimento de 9% no faturamento em 2011

C

om os dados de outubro já fechados, a Abimaq - Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos prevê um crescimento real de 9% no faturamento do setor neste ano em relação a 2010. A previsão no início do ano, antes do agravamento da crise internacional, era de alta de 12% a 15%. A expectativa para a balança comercial do setor no fechamento de 2011 é de déficit US$ 18 bilhões. A informação foi dada pelo assessor econômico da Abimaq, Mário Bernardini. Para 2012, o cenário é de incertezas. A Abimaq projeta crescimento do faturamento entre 7% e 8%, mas esse

patamar só será alcançado considerando uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) nacional de ao menos 3,5% no ano que vem e a concretização dos planos de investimento em infraestrutura para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, além de investimentos de grandes empresas nacionais, principalmente Vale e Petrobras. “Se todas essas promessas forem verdade, teremos um desempenho melhor do que em 2011”, afirmou Bernardini. Uma das medidas defendidas para estimular o crescimento do faturamento do setor em 2012 é o incentivo ao crédito, que, segundo o presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto, é fundamental para a indústria de máquinas e

equipamentos. Segundo Aubert Neto, hoje o único caminho para a compra de bens de capital no país é via financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), já que as instituições privadas cobram taxas muito mais elevadas. Segundo o presidente da Abimaq, os bancos privados chegam a cobrar taxas de no mínimo 20% ao ano, enquanto o BNDES exige 6,5%. Ainda assim, na avaliação da entidade, os juros cobrados pelo BNDES estão muito altos. “Na Alemanha, essa taxa é de 2%. Com uma taxa de 4,5%, já seríamos competitivos”, aponta Aubert Neto. A


7

DEZ / 2011 www.revistadeagronegocios.com.br


LEITE

Márcia Saladini Vieira Salles 1

A

8 www.revistadeagronegocios.com.br

DEZ / 2011

FOTO: Embrapa Gado de Leite

A importância do colostro na criação de bezerras leiteiras oferta do colostro para as bezerras logo após o nascimento é um manejo de extrema importância no sistema de criação da pecuária leiteira porque está diretamente relacionada à saúde e ao desenvolvimento das futuras matrizes do rebanho. O colostro é o primeiro leite secretado pela vaca após o parto, sendo produzido aproximadamente por três dias consecutivos. A oferta de colostro para as bezerras recém nascidas é fundamental porque os bovinos e outros ruminantes possuem uma placenta diferenciada de outros mamíferos. A placenta da vaca não permite a passagem de anticorpos da mãe para o feto. Desta forma os bezerros são totalmente dependentes do consumo de colostro para adquirir imunidade, chamada de imunidade passiva, até que seu organismo comece a produzir seus próprios anticorpos, chamado de imunidade ativa. As imunoglobulinas são responsáveis pela imunização do organismo, ou seja, realizam a defesa do organismo. O bezerro começa a produzir seus próprios anticorpos depois de duas a três semanas de vida. O colostro possui composição diferente do leite, menor quantidade de lactose (2,7 vs 5,0%), maior porcentagem de gordura (6,7 vc 3,7), maior porcentagem de minerais e vitaminas e maior porcentagem de proteínas (14 vc 3,1). Dentre as proteínas chamamos a atenção das imunoglobulinas ou anticorpos (48 vs 0,6 mg/ml). No colostro bovino são encontradas três importantes imunoglobulinas: IgG, IgM e IgA. A principal imunoglobulina presente no colostro e em maior quantidade (90%), é a IgG, responsável pela imunidade sistêmica do organismo do animal. A imunidade sistêmica compreende todos os mecanismos que o organismo do animal possui para se defender das doenças. A seguir é encontrado em menor quantidade a IgM e IgA que estão relacionadas com a imunidade local do intestino do bezerro. A IgM e a IgA são produzidas na própria glândula mamária da vaca enquanto que a IgG é transferida da corrente sanguínea da vaca para o colostro no final da gestação. Existe um manejo adequado para o fornecimento do 1 - Pesquisadora Científica do Pólo Centro Leste/APTA marciasalles@apta.sp.gov.br

colostro para o bezerro. A diminuição da incidência de doenças e mortes no bezerreiro está diretamente relacionada ao sucesso neste manejo. O bezerro deve mamar seu primeiro colostro em até 3 horas após o nascimento, diretamente da sua mãe, e permanecer com ela no mínimo até 12 horas após o nascimento para ter a oportunidade de mamar a vontade e mais vezes. É imprescindível o bezerro mamar o colostro o quanto antes porque a quantidade de imunoglobulinas diminui no leite conforme a vaca vai sendo ordenhada. E também devido ao fato de que a absorção de imunoglobulinas no intestino do bezerro também é diminuída com o passar do tempo. Manejo adequado para as vacas em mojo e bezerros recém nascidos seria: a) - Alimentar adequadamente as vacas secas para estas produzirem um colostro de boa qualidade; b) - O piquete maternidade deve ser em um local de fácil acesso e bem visível por todos os funcionários da fazenda; c) - A maternidade deve ser um local limpo; d) - Ordenhar a vaca somente depois que a bezerra mamou bem o colostro, o bezerro deve mamar no mínimo dois litros de colostro por mamada; e) - Se notar que a bezerra não mamou o colostro nas primeiras 6 horas de vida, ordenhar a vaca e dar o colostro na mamadeira. Após a bezerra ser separada da mãe o colostro deve ser oferecido até o terceiro dia de vida. Depois deste período o fornecimento de colostro pode causar diarréia porque o intestino da bezerra vai modificando suas células por outras que não permitem a absorção das imunoglobulinas.


9

DEZ / 2011 www.revistadeagronegocios.com.br

A


LEITE

10 www.revistadeagronegocios.com.br

DEZ / 2011

lado deve ser descongelado lentamente em água morna (50o C), ou microondas em baixa potência. O produtor economiza em medicamentos e consegue desmamar animais com maior desempenho. A

FOTO: Embrapa Gado de Leite

Após esta data o colostro pode ser fornecido em pequenas quantidades diluído no leite. A qualidade do colostro, ou seja, a quantidade de imunoglobulinas pode variar entre as ordenhas, entre raças, entre vacas da mesma raça, por exemplo, vacas de primeira cria possuem concentrações menores de imunoglobulinas do que vacas de duas ou mais crias. Existe um densímetro chamado colostrômetro que pode ser utilizado na prática para verificar a concentração de imunoglobulinas do colostro. Assim o criador pode avaliar a qualidade do colostro e reservar o de melhor qualidade para a sua criação. O colostro é considerado de baixa qualidade quando possui concentração de imunoglobulinas abaixo de 20 mg/ ml, de 20 a 50 mg/ml de média qualidade e de alta qualidade com concentrações superiores de 50 mg/ml. O colostro pode ser conservado em geladeira por até uma semana ou congelado por até um ano sem perder

Considerações práticas para o manejo de colostro para bezerras leiteiras

sua qualidade. Este banco de colostro deve conter colostro de boa qualidade. Deve ser armazenado em porções pequenas (2 litros), para facilitar o descongelamento e evitar desperdício. Pode ser armazenados em garrafas plásticas ou bandejas e devidamente datados para o controle da validade. O colostro conge-

a) - Fazer a bezerra mamar o colostro o quanto antes após o nascimento; b) - Fornecer o colostro (4 litros/dia) em duas refeições por até três dias; c) - Fornecer o colostro da mãe ou se for do banco de colostro um de boa qualidade; d) - Caso o animal não queira mamar o colostro sozinho na mãe dar na mamadeira ou forçar o consumo através de sonda esofagiana; e) - Não fornecer colostro com sangue ou com mastite.

Embrapa propõe adiamento da IN 51 para 2016

O

s novos parâmetros para qualidade do leite estabelecidos pela Instrução Normativa 51 (IN 51), que deveriam ter entrado em vigor este ano podem ser adiados para 2016. Isto é o que prevê uma proposta da Embrapa enviada à Câmara Setorial do Leite e Derivados, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Pela IN 51, desde julho deste ano, o leite entregue à indústria deveria ter no máximo 400 mil Contagens de Células Somáticas (CCS) por ml e 100 mil unidades formadoras de colônias de bactérias (CTB) por ml. No entanto, segundo dados do Laboratório de Qualidade do Leite da Embrapa Gado de leite, 45% dos rebanhos analisados não atendem as exigências para CCS. No caso da CTB, os dados são ainda piores: 95% dos rebanhos produzem leite com CTB acima de 100 mil. O fato da maioria dos produtores não se enquadrar nas exigências da IN 51 fez com que o MAPA adiasse a vigência da norma para o início de 2012. Segundo a proposta da Embrapa, a diminuição da CCS e CTB

até o limite de 400 mil e 100 mil respectivamente deve ser gradativa e realizada nos próximos quatro anos para os estados das Regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte do país. Segundo o chefe geral da Embrapa Gado de Leite, Duarte Vilela, a mudança no cronograma de implantação da IN 51 não representa uma derrota do setor. “A pecuária de leite no Brasil apresenta múltiplas realidades. Enquanto temos rebanhos produzindo leite com padrão de qualidade do primeiro mundo, há propriedades que ainda não estão preparadas para se enquadrarem nos atuais índices. Precisamos criar condições para que estas diferenças diminuam”, afirma Vilela. A proposta da Embrapa não busca apenas atrasar o cronograma vigente. Várias ações que dependem do MAPA e de outros ministérios são necessárias. a) - Padronizar e apresentar periodicamente os resultados da RBQL para auxiliar os governos e empresas na definição de estratégias para a tomada de decisão em relação à melhoria da qualidade do leite, já previsto na IN 37. b) - Criar no âmbito da Secre-

taria de Defesa Agropecuária (SDA/ MAPA), um Programa Nacional de Controle e Prevenção da Mastite. c) - Garantir investimentos em infraestrutura de energia elétrica e estradas, condições básicas e prioritárias para que o leite, produzido com a qualidade higiênico-sanitária desejada, seja mantido durante o transporte para a indústria, e dentro da mesma. d) - Propor programas de qualificação e capacitação dos técnicos da extensão rural e autônomos que atendem os produtores de leite. e) - Propor programas de capacitação para os produtores e transportadores de leite com foco em educação sanitária e qualidade do leite. f) - Incentivar as empresas de lácteos a adotarem programas de pagamento de leite baseado em indicadores de qualidade. g) - Melhorar o acesso ao crédito para financiamento da produção de leite. h)- Finalmente, sensibilizar os consumidores da importância da qualidade do leite. (Fonte: Embrapa Gado de Leite) A


CAFÉ

11

DEZ / 2011 www.revistadeagronegocios.com.br


CAFÉ

Ensei Neto 1

12 www.revistadeagronegocios.com.br

DEZ / 2011

23o 27’. Grave bem esse número! Ele nada mais é do que o ângulo correspondente à inclinação da Terra em relação ao seu Eixo Norte-Sul. Essa inclinação é um fantástico truque da Natureza para criar um fenômeno chamado Estações do Ano! Primavera, Verão, Outono e Inverno. Determinadas também pelo movimento de Translação do nosso planeta e que cria a percepção do Ciclo Anual em que se baseia o Calendário Gregoriano e seus 12 meses. Caso essa inclinação da Terra não existisse, esta giraria em torno do Sol sempre com o mesmo alinhamento, de forma que o Equador corresponderia ao ponto de maior insolação de forma muito mais concentrada, enquanto que os pólos continuariam extremamente frios, porém sem o famoso efeito do Sol da Meia Noite, que acontece uma vez por ano. O fato é que esse ângulo também corresponde à localização das linhas dos Trópicos de Capricónio e Câncer. Só para lembrar, o Trópico de Capricórnio passa na Grande São Paulo. Assim, quanto mais distante da linha do Equador, mais evidentes são as Quatro Estações do Ano, principalmente entre as linhas dos Trópicos e dos Círculos Polares. O cafeeiro foi descoberto nas florestas da Etiópia, onde parte de sua produção ainda continua da mesma forma, em 1 - Consultor em Marketing e Qualidade de Cafés Especiais. Email: bureaucoffee@uol.com.br. Site: www.coffetraveler.net

Região montanhosa de Haraz, no Yêmen, produtora de café.

FOTOS: Ensei Neto

Subtropical, Serjão, Subtropical! (1)

modelo extrativista. Daí seguiu para o Yemen, onde começou o seu cultivo sistematizado. Logo, os yemenis descobriram que os locais mais adequados eram as suas regiões montanhosas, como Haraz (foto) e Jabal Bura, entre estonteantes 1.800 m e 3.000 m de altitude. Se recordarmos um pouco das aulas de geografia climática, no Brasil existe uma faixa que tem o predomínio do Clima Subtropical de Altitude, tendo as Serras da Mantiqueira, Órgãos e Caparaó como eixos principais, além de um outro que segue em direção a Poços de Caldas. Sabe-se que, num determinado local, subir 100 metros em altitude em geral observa-se uma queda da temperatura por volta de 0,7o C. Em regiões de montanha, por vezes encontram-se variações de até 500 m de altitude, o que levaria a uma variação de temperatura em torno de 3,5o C. Isso tem grande impacto, sim, em qualquer tipo de planta! Segundo os botânicos, as plantas podem ser agrupadas a partir de sua capacidade de adaptação ou de como seu metabolismo responde a determinados estímulos climáticos. O cafeeiro, por exemplo, é uma árvore frutífera cujos frutos tem um ciclo, que vai de sua florada até quando maduros, determinado inclusive pelo clima da região onde é cultivado. Isso acontece também com outras frutíferas, como a videira e a macieira. A região do Vale dos Vinhedos, no Rio Grande Sul, é reconhecida hoje pela qualidade de seus vinhos brancos, principalmente de uvas Chardonnay, e dos excepcionais espumantes, de tão boa estirpe quanto os vinhos franceses. Porém, essa vocação levou certo tempo para ser compreendida pelos produtores e técnicos da região, que tinha como propósito inicial a produção de castas vermelhas como o Merlot e Cabernet Sauvignon. Para felicidade de todos, houve essa importante correção de rota, seguindo em direção às belas uvas brancas, e grande espumantes brasileiros já borbulham em muitas taças mundo afora. Portanto, observar o conjunto que compõe um território é decisivo para compreender porque uma determinada cultura se impõe pela excelência de seus produtos. Esse caso é emblemático para entender o que se passa com o café. As origens de café em todo o mundo estão esparramadas entre os Trópicos de Câncer e Capricórnio.


13

DEZ / 2011 www.revistadeagronegocios.com.br


14 www.revistadeagronegocios.com.br

DEZ / 2011

Imagine a riqueza de combinações de fatores que influenciam a produção dessa fruta tão especial: solo, clima, insolação, variedades e tecnologias empregadas. No entanto, um aspecto chama a atenção: em geral, quanto mais próxima à linha do Equador está a origem, tanto mais elevada se encontra. Casos de Boquete, no Panamá, região ativamente vulcânica, com lavouras a 1.800 m de altitude, e Jabal Bura, no Yemen, com estupendos 3.000 m! E quanto mais distantes do Equador, as lavouras de café ficam em altitudes menos impressionantes, como as que encontramos no Brasil, entre 750 m e 1.100 m. Como referência, as origens dos Cafés do Brasil se localizam entre as Latitudes Sul 12. e 24. . O ângulo de inclinação da Terra em relação ao seu Eixo Norte-

FOTOS: Ensei Neto

CAFÉ

Sul é de 23. 17’ e que corresponde, não por coincidência, aos números de Latitude dos Trópicos de Câncer e Capricórnio. Na verdade, essa latitude foi pensada como forma de compensar a inclinação da Terra. Deve ficar claro que quanto mais próximo do Equador, mais intensa é a incidência dos raios solares. Por outro lado, se o local de maior incidência da luz do sol fosse exatamente a linha do Equador, caso a Terra não tivesse a inclinação, e tenha se tornado uma ampla faixa de 46. 34’ (que corresponde a pouco mais de 5.100 km percorridos pela superfície terrestre ou a distância entre Buenos Aires e a Cidade de Panamá!) no total, com a inclinação, é razoável pensar que a

faixa de maior concentração dos raios solares fique por volta de um pouco menos que a metade (isso devido ao fato da Terra ter um formato esférico), algo como 12. de latitude de cada hemisfério. Nossos estudos tem encontrado com muita freqüência esse número em diversas origens, expressando um ponto em comum: a necessidade de sombreamento. Sim, o sombreamento em origens de café com esta ou menor latitude é um modelo quase obrigatório em razão da intensidade dos raios UV. E aqui de novo uma outra característica inerente às coisas da Natureza: aquilo que dá a vida, também tira! Raios Ultra Violeta são fundamentais para ativar o processo de fotossíntese das plantas, gerando energia e, portanto, vida. Porém, em excesso, necrosa as folhas, resultando num efeito mortal… Portanto, a saída, na impossibilidade de se aplicar protetor solar em larga escala, é o emprego de árvores maiores que o cafeeiro e prover de sombra. Ou seja, é o retorno ao habitat original das primeiras plantas identificadas de Coffea arabica nas florestas da Ethiopia! O sombreamento parcial, que ainda permite a passagem direta dos raios solares, é empregado sistematicamente em lavouras até essa latitude para dar melhores condições produtivas às plantas. Conforme a localização das lavouras cafeeiras se distanciam do Equador, tanto menor tem de ser o sombreamento. Isto é fundamental para que um outro fator seja compensado: a “temperatura de trabalho” do cafeeiro, ligada ao seu metabolismo. Se as condições de trabalho são no mínimo boas, certamente o desempenho será muito bom! Temos um dilema em casa. - Minha filha adora banhos com água muito quente, diria que quase pronta para despelar tomates, enquanto que eu prefiro aquela com temperatura morna a fria. Da mesma forma, eu me sinto muito bem em temperaturas baixas (algo como 12º a 18º C me fazem feliz), enquanto que minha filha adora dias calorosamente quentes. O ser humano tem notável capacidade de adaptação aos diferentes climas porque fazemos parte de seleto


CAFÉ ta decai gradativamente até a temperatura crítica de 32o C, condição em que o consumo de energia é maior do que sua produção (lembre-se da fotossíntese!). Em sentido contrário, temperaturas abaixo de 17o C tendem a iniciar processo de dormência no cafeeiro. Naturalmente, esses números podem sofrer discreta variação devido à variedade (= sua base genética) e insolação, entre outros fatores. Assim como aconteceu com a produção de maçã nos altiplanos de Santa Catarina, estamos observando algo semelhante na cafeicultura. Sim, estou comentado sobre o Norte Pioneiro do Paraná. Preste atenção neste mapa ao lado. Estes são os municípios que compõem essa região. No sentido da seta verde, que corresponde ao alinhamento Sudoeste-Nordeste, a altitude diminui à medida que segue para o Nordeste (de quase 1.000 m para menos de 500 m). Outro detalhe: aproximadamente 40% dessa região está abaixo do Trópico de Capricórnio, isto é, em autêntica área Subtropical, que é diferente do clima Subtropical de Altitude. Levando-se em conta que nessa região as Estações do Ano são bastante distintas, principalmente ao verificar como os dias são muito longos no verão e curtos no inverno, é razoável se esperar um comportamento diferente dos cafeeiros. Certamente a mais importante constatação é o tamanho do ciclo de frutificação, que vai da florada ao ponto cereja (maduro): algumas variedades ultrapassam surpreendentes 300 dias! Sim, o cafeeiro pode se comportar como uma típica planta de clima subtropical… (CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO) A

15 DEZ / 2011 www.revistadeagronegocios.com.br

grupo chamado de Animais de Sangue Quente, isto é, que tem um sistema para manter a temperatura corporal constante, conhecida como Homeostase. A temperatura do corpo humano é de 36,7o C e se subir acima dos 42o C nosso corpo literalmente começa a cozinhar, enquanto que abaixo dos 35o C um colapso vem pela hipotermia. De forma semelhante, plantas frutíferas como o cafeeiro, a macieira e a videira, que estão no grupo de vegetais mais sofisticados, tem uma temperatura ideal de trabalho, quando sua performance é máxima, ou seja, naquela que o metabolismo da planta está a 100%, como dizem os Fisiologistas. É provável que você tenha ouvido dizer que as maçãs precisam de uma certa quantidade de horas de temperaturas baixas para obterem excelente qualidade. Até a década de 1980 haviam plantações de maçãs, principalmente da variedade Rainha, no Oeste de São Paulo, na região de Paranapanema. Nessa época as maçãs argentinas dominavam o mercado brasileiro com sua variedade Gala, de cores vibrantes e mais saborosas que as brasileiras de então. Foi nessa época que se iniciou o cultivo da maçã Fuji nos planaltos de Santa Catarina, tendo Fraiburgo e São Joaquim como importantes pólos. Rapidamente essas maçãs conquistaram o consumidor brasileiro pela sua grande doçura em equilíbrio com uma esplêndida acidez, junto a uma textura divertidamente crocante. Tudo isso é resultado do ajuste entre clima e macieiras, lembrando que essa é uma das regiões mais frias do Brasil, com nevascas certeiras em todos invernos. A temperatura de 23o C é considerada a ideal para o cafeeiro, quando seu metabolismo está em seu auge. No entanto, conforme a temperatura sobe, a performance da plan-


CAFÉ

F

16 www.revistadeagronegocios.com.br

DEZ / 2011

lávia Lancha Oliveira é a entrevistada deste mês da Revista Attalea Agronegócios. Nesta reportagem, a cafeicultora comenta um pouco sobre cafés especiais e dá algumas dicas para produtores que querem investir neste mercado. Sócia-proprietária e diretora da Labareda Agropecuária, empresa produtora de cafés especiais, Flávia tem anos de experiência e uma ótima visão de mercado. Referência na região, a Labareda começou a vender cafés especiais em 2006, depois de conquistar a certificação pela Utz Capeh. Atualmente, a empresa é certificada pela Rainforest Alliance e exporta mais de 90% da produção. Os grãos produzidos na Labareda são exportados principalmente para a Europa e o Japão, mas parte da produção também é destinada ao mercado norte-americano, Austrália e Nova Zelândia. Como você avalia o mercado de cafés especiais? O mercado de cafés especiais é um mercado em expansão, interessante e muito atrativo. É um conceito que ainda está em desenvolvimento, mas a procura é crescente. O mercado de cafés especiais engloba vários pontos. O primeiro é qualidade. O café precisa ter uma pontuação acima de 80 pontos na escala SCAA (Associação Americana de Cafés Es-

FOTOS: Divulgação AMSC

“Cafés Especiais é um mercado em expansão”, afirma Flávia Lancha Oliveira

A empresária Flávia Lancha em sua propriedade

peciais) para ser tido como especial. Outro ponto é a sustentabilidade, que hoje está muito ligada com as certificações. Qualidade e sustentabilidade caminham juntos e o mercado está buscando aliar os dois pontos. O café para exportação segue um padrão? O café exportado normalmente segue um padrão que é por tipo de peneira. Existem três tipos: 17/18, 14/16 e abaixo de 13. O café 17/18, é um grão graúdo e pode ter no máximo 12 defeitos. O 14/16 é mais miúdo e tem que ter no máximo 30 defeitos. E depois o grinder, abaixo de 13, que resida desses outros cafés. O preço da saca varia conforme a peneira. Como são feitos os negócios?

Auditoria Rainforest na Fazenda Labareda.


O mercado tem algumas variáveis: pode ser vendido diretamente aos compradores ou por grandes exportadores que compram e exportam. Na venda direta os cafés são entregues em containers no Porto de Santos e vão direto, por navio, para o comprador. Hoje trabalhamos principalmente através de uma corretora que faz contato com exportadores e a parte burocrática, mas também temos este contato com os compradores. Nós já estivemos no Japão e na Europa e eles já vieram ao Brasil conhecer nossas fazendas.

Qual a diferença entre vender commodity e vender cafés especiais? Existem muitas diferenças. Primeiro, no café especial, apesar de agregar valor, você tem que conquistar o seu cliente. Isso demanda um tempo. É preciso estar preparado, ter paciência até conseguir conquistar credibilidade para agregar valor. O grande problema é que as pessoas não têm paciência. O cafeicultor não tem essa cultura de esperar, de vender quando o mercado quer comprar, ele vende quando precisa. Em commodity seu café é mais um, não é diferenciado, porém você vende a hora que quiser do jeito que quiser. Você tem alguma dica para quem quer começar? A primeira dica é: faça café de qualidade. Café especial é especial! A segunda dica: separe um lote, pode ser pequeno, e faça especial, venda especial, tenha paciência, espere, amadureça, não disponha deste café. Outra dica é buscar uma certificação. Com a certifi-

17 DEZ / 2011

Flávia Lancha recebe premiação pelo 2º lugar nas categorias Natural e Cereja Descascado, no 9º Concurso da AMSC, outubro último.

cação a fazenda ganha muita visibilidade e credibilidade. O cliente já sabe que na sua fazenda não tem exploração, trabalho escravo ou infantil e que você cuida do meio ambiente. Isso já é um grande passo para abrir o mercado. E como funciona o processo de certificação? Primeiro é preciso se adequar as normas regulamentadoras. Siga a NR-31 (Norma Regulamentadora de segurança e saúde no trabalho na agricultura) ao pé da letra! A certificação é uma empresa internacional que vem assegurar se você segue as normas do país. Então você tem que seguir normas trabalhistas e ambientais. Este é o passo básico. Como você avalia os cafés especiais da Alta Mogiana? A região da Alta Mogiana tem um solo e um clima propício para a produção de cafés especiais. Tem muito potencial, mas faz menos do que poderia. Em comparação com outras regiões, como Sul de Minas e Cerrado, a Alta Mogiana está muito atrás. É questão de o próprio produtor estar atento. Ele não vai ter um gasto a mais para produzir um café de qualidade, apenas precisa de um cuidado a mais. A

www.revistadeagronegocios.com.br

Existe venda futura de cafés especiais? Sim, existe e tem muita procura. As primeiras vendas só são feitas com amostra, depois que o café já está colhido, pronto. No primeiro ano é preciso fazer este estoque. O mercado de cafés especiais é muito interessante. A partir do momento que você já tem uma credibilidade, o comprador aparece no mercado em uma determinada época, compra o quanto precisa e paga o preço. Cada comprador tem uma época de vir ao mercado. Essa é uma diferença em relação a commodity, que você vende quando precisa. Em exportação direta o ideal é vender quando o cliente vai comprar. Eles vêm naquela determinada época, compram o quanto precisam e saem do mercado.

FOTO: Divulgação AMSC

CAFÉ


DESTAQUE

O

18 www.revistadeagronegocios.com.br

DEZ / 2011

projeto de reforma do Código Florestal (PLC 30/11) que foi aprovado pelo Senado no início do mês de dezembro e agora volta à Câmara dos Deputados para que os mesmos analisem as modificações feitas pelos senadores. Vários são os questionamentos de agricultores e ambientalistas a respeito da novo projeto. Buscando orientar o nossos leitores, apresentamos a seguir os principais pontos do texto, que está dividido em duas partes: as disposições permanentes (sobre as normas gerais) e as disposições transitórias (sobre a adaptação das regras vigentes à nova lei).

FOTO: Divulgação

Entenda melhor o projeto de reforma do Código Florestal

I) - DISPOSIÇÕES PERMANENTES 1. PRINCÍPIOS E NOVOS CONCEITOS a) - Fundamento: proteção e uso sustentáveis das florestas e demais formas de vegetação nativa em harmonia com a promoção do desenvolvimento econômico. b) - Hipóteses para Supressão de Vegetação em Área Protegida: Utilidade pública: atividades de segurança nacional e proteção sanitária; obras de infraestrutura para serviços públicos de transporte, sistema viário, saneamento, gestão de resíduos, salineiras, energia, telecomunicações, radiodifusão e mineração (exceto extração de areia, argila, saibro e cascalho); atividades e obras de defesa civil; atividades que proporcionem melhorias em Área de Preservação Permanente; outras atividades definidas pelo Executivo Federal. Interesse social: atividades para proteção da vegetação nativa (controle do fogo, da erosão, proteção de espécies nativas); exploração agroflorestal na pequena propriedade ou povos e comunidades tradicionais; implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e atividades educacionais e culturais; regularização de assentamentos ocupados por população de baixa renda; instalações necessárias à captação e condução de água e de efluentes tratados; extração de areia, argila, saibro e cascalho, outorgadas pela autoridade competente; outras atividades definidas pelo Executivo Federal. Atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental: abertura de pequenas vias de

acesso interno para travessia de curso de água, acesso de pessoas e animais para a obtenção de água; instalações para captação de água; implantação de trilhas para ecoturismo; pequeno ancoradouro; construção de moradia de agricultores familiares e populações tradicionais onde o abastecimento de água se dê pelo esforço próprio dos moradores; cercas de divisa de propriedade; pesquisa relativa a recursos ambientais; coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e produção de mudas; plantio de espécies nativas; exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário e familiar; outras ações definidas pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente ou dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente. c) - Pousio: prática de interrupção temporária de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais, por até, no máximo, 5 anos, em até 25% da área produtiva da propriedade ou posse, para possibilitar a recuperação da capacidade do uso do solo; d) - Manguezal: ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à ação das marés, formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida como mangue, com influência flúvio-marinha, típica de solos limosos de regiões estuarinas e com dispersão des-


19 DEZ / 2011

e incorpóreo, transacionável, após o devido registro junto ao órgão competente. 2. CADASTRO AMBIENTAL RURAL (CAR): o novo Código Florestal determina a criação do CAR e torna obrigatório o registro para todos os imóveis rurais, em até dois anos. Prevê a disponibilização do cadastro na internet, para acesso público.

3. ÁREA DE PROTEÇÃO PERMANENTE (APP) O que é considerado APP: é a faixa de proteção de recursos hídricos: a) - 30m para rios com até 10m de largura; b) - 50m para rios entre 10 e 50m de largura; c) - 100m para rios entre 50 e 200m de largura; d) - 200m para rios entre 200

www.revistadeagronegocios.com.br

contínua ao longo da costa brasileira, entre os estados do Amapá e Santa Catarina; e) - Área Abandonada: área não efetivamente utilizada ou que não atenda aos índices de produtividade previstos na Lei 8.629/1993, ressalvadas as áreas em pousio; f) - Área Verde Urbana: espaços, públicos ou privados, com predomínio de vegetação, preferencialmente nativa, natural ou recuperada, previstos no Plano Diretor, nas Leis de Zoneamento Urbano e Uso do Solo do Município, indisponíveis para construção de moradias, destinados aos propósitos de recreação, lazer, melhoria da qualidade ambiental urbana, proteção dos recursos hídricos, manutenção ou melhoria paisagística, proteção de bens e manifestações culturais; g) - Faixa de Passagem de Inundação: área de várzea ou planície de inundação adjacente aos cursos d’água e que permitem o escoamento da enchente; h) - Áreas Úmidas: superfícies terrestres cobertas de forma periódica por águas, cobertas originalmente por florestas ou outras formas de vegetação adaptadas à inundação; i) - Crédito de Carbono Vegetal: título de direito sobre bem intangível

FOTO: Divulgação

DESTAQUE


a 600m de largura; e) - 500m para rios com largura superior a 600m; f) - Entorno de lagoas naturais: 100m na zona rural e 30m em zonas urbanas. g) - Entorno de reservatórios artificiais: faixa definida na licença ambiental; h) - Entorno das nascentes: no raio mínimo de 50m; i) - Encostas com declividade superior a 45°; j) - Restingas, fixadoras de dunas/estabilizadoras de mangues; Manguezais, em toda a sua extensão; Bordas dos tabuleiros ou chapadas; k) - Topo de morro com altura mínima de 100m e inclinação média maior que 25°; l) - Altitude superior a 1.800 metros. m) - Vereda, faixa com largura mínima de 50 m. (Obs: Não é APP a várzea fora dos limites de mata ciliar).

20 www.revistadeagronegocios.com.br

DEZ / 2011

3.1. Regime de proteção de APPs e exceções a) - Supressão de vegetação: somente nas hipóteses de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental; b) - Recomposição: proprietário é obrigado a recompor a vegetação, ressalvados os usos autorizados na lei. c) - Propriedade familiar: é admitida cultura temporária e sazonal em terra de vazante, sem novos desmatamentos; d) - Imóveis com até 15 módulos fiscais: admitida, na faixa de mata ciliar, a aquicultura e infraestrutura associada; e) - Área urbana: mata ciliar em rio que delimite faixa de passagem de inundação terá largura fixada pelo plano diretor, ouvido o conselho estadual de meio ambiente. f) - Defesa civil: fica dispensada autorização do órgão ambiental para a execução, em caráter de urgência, de atividades de segurança nacional e obra de interesse da defesa civil. g) - Encosta: proibida a conversão de floresta nativa situada em áreas de inclinação entre 25º e 45º, sendo permitido o manejo florestal sustentável. (Obs:- Os senadores vedaram permissão, contida no texto da Câmara, para culturas de espécies lenhosas, perenes ou de ciclo longo e atividades silviculturais). h) - Apicuns e salgados: A produção de camarão e sal poderá ser expandida, desde que a área total ocupada seja de até 10% dos apicuns e salgados existentes em estados do bioma amazônico e de até 35% nos demais estados. Essa regra vale para produções a partir de 2008, uma vez que toda a

FOTO: Divulgação

DESTAQUE

produção existente até esta data está automaticamente regularizada, nas disposições transitórias. 4. ÁREAS DE USO RESTRITO a) - Planície Pantaneira: permitida exploração ecologicamente sustentável, com recomendações dos órgãos oficiais de pesquisa. Supressões de vegetação nativa condicionadas à autorização do órgão estadual do meio ambiente. b) - Encostas com Inclinação entre 25º e 45º: permitido o manejo florestal sustentável e o exercício de atividades agrossilvopastoris, bem como a manutenção da infraestrutura física associada. 5. RESERVA LEGAL a) - Delimitação de Reserva Legal: – Imóvel rural localizado na Amazônia Legal: i) - 80% no imóvel situado em área de florestas; ii) - 35% no imóvel situado em área de cerrado; iii) - 20% no imóvel situado em área de campos gerais; iv) - Nas demais regiões do país: 20% b) - Excepcionalidades para propriedades em área de floresta na Amazônia Legal c) - Para fins de recomposição, possível redução de reserva legal para até 50% quando o município tiver mais de 50% da área ocupada por unidades de conservação e terras indígenas homologadas. d) - Possibilidade de redução da reserva legal para até 50% da área da propriedade quando o estado tiver mais de 65% do seu território ocupado por unidades de conservação e terras indígenas. e) - Para regularização, redução de recomposição para até 50% da propriedade quando indicado por zoneamento ecológico/ econômico (ZEE), nos imóveis com área rural consolidada. Estados terão prazo de cinco anos, a partir da data da nova lei, para a aprovação do ZEE. f) - Cálculo da Reserva Legal: admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente (APP) no cálculo do percentual da Reserva Legal do imóvel desde que não implique a conversão de novas áreas; a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação; o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no CAR. g) - Proteção e Uso: admitida a explora-


ção econômica mediante manejo sustentável, com procedimentos simplificados para pequena propriedade ou posse rural familiar. Será obrigatória a recomposição da reserva legal, em até dois anos, em caso de desmatamento ilegal a partir de 22 de julho de 2008, sem prejuízo das sanções administrativas e penais cabíveis. É obrigatório o registro da reserva legal no CAR.

FOTO: Divulgação

DESTAQUE

6. ÁREAS VERDES URBANAS: a) - Percentual Mínimo: 20 metros quadrados de área verde por habitante em novas expansões urbanas. Prefeituras terão até 10 anos para rever plano diretor e leis de uso do solo. b) - Instrumentos para Implantar Áreas Verdes: prioridade na compra de remanescentes florestais; transformação de reserva legal em área verde; exigência de áreas verdes nos loteamentos, empreendimentos comerciais e na implantação de infraestrutura; aplicação de recursos oriundos da compensação ambiental.

DEZ / 2011

No Estado de São Paulo, com o apoio da fiscalização da Polícia Ambiental e do Ministério Público, várias propriedades rurais efetivaram o plantio e recomposição de APPs e Reserva Legal.

para a sociedade, como sequestro de carbono, conservação da beleza cênica natural, da biodiversidade, dos recursos hídricos e do solo, entre outros. ii) - Benefícios creditícios, fiscais e tributários: crédito agrícola com taxa de juros menores e prazos maiores; se-

www.revistadeagronegocios.com.br

7. INCENTIVO À PRESERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO DO MEIO AMBIENTE a) - Programa Federal: autoriza Executivo federal a criar, em até 180 dias da publicação de lei, programa de incentivo à conservação do meio ambiente e à adoção de tecnologias agropecuárias que combinem aumento de produtividade e proteção florestal. O programa deve seguir critério de progressividade, dando prioridades àqueles que mantiveram áreas protegidas conforme a legislação e depois aos que buscam recuperar APP e reserva legal desmatadas. b) - Ação e instrumentos sugeridos: i) - Pagamento por serviços ambientais: remuneração pela manutenção de florestas que resultam em benefícios

21


DESTAQUE guro agrícola em condições melhores; dedução de APP e de reserva legal da base de cálculo do Imposto Territorial Rural (ITR); isenção de impostos para insumos e equipamentos; prioridade em políticas de comercialização; dedução do imposto de renda de parte dos gastos efetuados com a recomposição de matas; iii) - Recursos para investimentos: Destinação de pelo menos 30% da arrecadação pelo uso da água para manutenção e recuperação de APP. Investimentos a serem feitos pelas concessionárias de serviços de abastecimento de água e de energia. Utilização de fundos públicos para concessão de crédito para recomposição de APPs e reservas legais desmatadas até 22 de julho de 2008. iv) - Conversão de multa: autoriza o governo federal a implantar programa para conversão das multas por desmatamento ilegal para imóveis rurais autuados até 22 de julho de 2008.

22 www.revistadeagronegocios.com.br

DEZ / 2011

8. AGRICULTURA FAMILIAR a) - Simplificação das Regras: retirada de vegetação em APP e reserva legal para atividades de baixo impacto ambiental será autorizada com simples declaração a órgão ambiental. Para registro da reserva legal de pequenas propriedades no Cadastro Ambiental Rural (CAR), o órgão ambiental ficará responsável pela captação de coordenadas geográficas. Também o licenciamento ambiental será simplificado. b) - Cálculo da Reserva Legal: poderão ser computados plantios de árvores frutíferas, ornamentais ou industriais, cultivadas em consórcio com espécies nativas. c) - Manejo Florestal: exploração da reserva legal sem propósito comercial independe de autorização dos órgãos ambientais, estando limitada a retirada anual de dois metros cúbicos de madeira por hectare. Com propósito comercial, depende de autorização simplificada do órgão ambiental. d) - Apoio Técnico: determina a criação de programa de apoio técnico e de incentivos financeiros, com linhas de financiamento para preservação de vegetação nativa acima dos limites estabelecidos na lei, proteção de espécies ameaçadas de extinção; implantação de sistemas agroflorestal e agrosilvipastoril; recuperação ambiental de APPs e de reserva legal; entre outros. 9. VALORIZAÇÃO DO PRODUTOR QUE PRESERVA:

a) - Barreira Ambiental: autoriza a Câmara do Comércio Exterior (Camex) a adotar medidas de restrição às importações de bens de origem agropecuária ou florestal produzidos em países que não observem normas e padrões de proteção do meio ambiente compatíveis com as estabelecidas pela legislação brasileira. b) - Acesso ao Crédito: após cinco anos da data da publicação do novo código, os bancos oficiais só concederão crédito agrícola para proprietários rurais que estejam inscritos no CAR e que comprovem sua regularidade legal. DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

1. REGRAS GERAIS: a) - Programa de Regularização: os estados terão dois anos para criar Programas de Regularização Ambiental (PRAs), cujas normas gerais serão definidas pela União em até 180 dias após a publicação do novo código. O CROQUI DE PROPRIEDADE LEGAL produtor rural deve aderir ao PRA em, no máximo, dois anos e a inscrição no Cadastro Ambiental Rural RESERVA LEGAL (CAR) é condição para participar do programa. (uso através do manejo b) - Termo de Compromisso: após aderir ao sustentável) PRA, o produtor assinará um Termo de CompromisAPP (apenas uso indireto) so e, a partir de então, não poderá ser autuado por AGRICULTURA infrações cometidas antes de 22 de julho de 2008, por (fora da APP) desmatamento em APP ou reserva legal. SAF´s (recuperação PECUÁRIA c) - Sanções: a partir da assinatura do Termo de APP) (fora da APP) de Compromisso, ficam suspensas sanções por desPISCICULTURA matamento ilegal. Durante a vigência do termo fica (fora da APP) suspensa a punibilidade dos crimes previstos na Lei INFRAESTRUTURA 9.605 de 12 de fevereiro de 1998. RESERVA LEGAL (fora da APP) d) - Regularização: Cumpridas as obrigações, (uso através do manejo as multas serão consideradas como convertidas em APICULTURA sustentável) serviços ambientais, estando regularizadas as áreas (na RL e na APP) rurais consolidadas.


Com a regularização, extingue-se a punibilidade. e) - Área Rural Consolidada: conceito incluído na Câmara, não previsto no código em vigor. Poderão ser regularizadas atividades agrossilvopastoris mantidas em área protegida, existentes em 22 de julho de 2008. A data coincide com a publicação do Decreto 6.514/2008, que define penas para crimes ambientais, previstos na Lei de Crimes Ambientais.

FOTO: Divulgação

DESTAQUE

2. REGRAS PARA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP)

atividades agrossilvipastoris nas bordas de tabuleiros. f) - Manguezais - em apicum e salgado, serão mantidas ocupações em 2008. 3. REGRAS PARA RESERVA LEGAL a) - Regra geral – regularização de propriedade com área de reserva legal desmatada até 22 de julho de 2008 a partir da recuperação da vegetação, sendo permitido plantio de espécies nativas e exóticas ou da compensação no mesmo bioma. Proprietários que desmataram seguindo lei em vigor à época, ficam dispensados de recomposição. b) - Pequena propriedade (até quatro módulos fiscais) - regularização com percentual de reserva legal existente em 22 de julho de 2008. A

23 DEZ / 2011 www.revistadeagronegocios.com.br

a) - Regra geral - serão autorizadas em APPs atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e turismo rural consolidadas até 22 de julho de 2008. b) - Margens de rios - será obrigatória a recomposição de 15m de mata em rios com largura de até 10m, a partir do leito regular. Para rios maiores, a pequena propriedade deverá recompor entre 30 e 100m. Médias e grandes propriedades seguirão regra dos conselhos estaduais de Meio Ambiente, observado o mínimo de 30m e máximo de 100m. c) - Nascentes – serão admitidas atividades consolidadas no entorno de nascentes e olhos d’água, sendo obrigatória a recomposição do raio mínimo de 30m. d) - Bacia hidrográfica degradada - a consolidação de atividades rurais dependerá do crivo do comitê de bacia ou Conselho Estadual de Meio Ambiente. e) - Encostas e morros - serão admitidas, em encostas com declividade superior a 45°, bordas dos tabuleiros ou chapadas e topo de morros, a manutenção de atividades florestais, culturas de espécies lenhosas, perenes ou de ciclo longo. Pastoreio extensivo apenas em áreas de vegetação campestre natural. Para pequena propriedade é admitida


CAFÉ

Nutri Bokashi, o condicionador biológico de solo que beneficia a cafeicultura

C

24 www.revistadeagronegocios.com.br

DEZ / 2011

FOTOS: Leonardo Gosuen

om a realização de vários experimentos em grandes lavouras, os cafeicultores da Alta Mogiana, norte de São Paulo, e os do Sudoeste e Cerrado Mineiro confirmaram o que muitos pequenos agricultores já conheciam. Para se ter uma lavoura sadia e produtiva, o agricultor deve atentar-se não somente com as condições físicoquímicas do solo. “O solo precisa estar vivo”, afirma Leonardo Gosuen Pera, consultor da Korin Agricultura Natural, empresa fundada em 1994 e que desenvolve o método agrícola preconizado por Mokiti Okada. Leonado retrata especificamente a filosofia da Fundação Mokiti Okada, onde seu fundador afirmava que o princípio básico da agricultura consiste em fazer manifestar a Força do Solo. Vista aérea do Centro de Pesquisa Mokiti Okada (CPMO), em Ipeúna (SP) “Segundo Mokiti, na agricultura Alicerçada neste método filosófico, a Korin tradicional, um solo doente promove o desequilíbrio ambiental e nutricional das plantas. Isto acarreta doenças e pragas na lavoura. Já o Agricultura Natural desenvolve suas atividades aplisolo sadio promove o equilibrio, tanto ambiental quanto nutricional, cando um método agrícola sustentável integrando valores ecológicos e sociais, produzindo alimentos acarretando em plantas sadias na lavoura”, afirma Leonardo. “Até agora o homem desconhecia a verdadeira natureza do solo. naturais (livres de agroquímicos) em dois Pólos de Tal desconhecimento levou-o a adotar o uso de adubos e acabou por Agricultura Natural, em Ipeúna (SP) e Atibaia (SP). A Korin Agricultura Natural tem como colocá-lo numa situação de total dependência em relação a eles, tornando essa prática uma espécie de superstição” - palavras de Mokiti princípio básico a aplicação de um método de agricultura que privilegie o perfeito equilíbrio entre Okada, falecido em 1953. preservação e uso dos recursos naturais. Busca estimular e orientar tecnicamente agricultores, para o fortalecimento de unidades agrícolas familiares sustentáveis, adotando e transferindo iniciativas


FOTOS: Leonardo Gosuen

CAFÉ

Cafeeiro com Nutri Bokashi

tecnológicas inovadoras, capazes de gerar o desenvolvimento econômico e social de seus praticantes.

produtos agroindustriais como farelos de arroz, trigo e mamona. Esses elementos funcionam como fermentadores da matéria orgânica e ativadores da microbiota benéfica do solo, úteis ao desenvolvimento e sanidade vegetal. Com ele, a matéria orgânica é manejada para melhorar as qualidades físicas e biológicas do solo e não como um adubo que venha substituir o fertilizante químico. “Afinal, a agricultura natural não é uma simples mudança de insumos e sim do processo com um todo. Nesse caso, o papel do Nutri Bokshi é resgatar o que denominamos de a Vida do Solo”, diz Leonardo.

DESAFIO - O primeiro desafio de quem deseja plantar é avaliar a condição do solo. Mas não somente as condições físico-químicas, mas também a vida presente neste solo. Caso o solo não apresente o teor de matéria orgânica adequado para o cultivo, o produtor deve promover o incremento de matéria orgânica, seja através da introdução de materiais de fora da propriedade (o que muitas vezes encarece sobremaneira a técnica) ou adotar o manejo deste solo através da introdução do Nutri Bokashi Trata-se de um composto seco feito a partir de sub-

CONDICIONADOR BIOLÓGICO - O Nutri Boka-

25 DEZ / 2011 www.revistadeagronegocios.com.br

Cafeeiro sem Nutri Bokashi


FOTOS: Leonardo Gosuen

CAFÉ

Efeitos do Nutri Bokashi em viveiros de café: sistema radicular exuberante

26 www.revistadeagronegocios.com.br

DEZ / 2011

shi tem sido muito bem recebido pelos agricultores de um modo geral, por ser um produto de conceito moderno e diferenciado, que causa menos impacto ao ecossistema na área cultivada, pois sua aplicação se dá em baixo volume, de 300 a 800 kg/ha contra 15.000 a 30.000 kg/ha dos compostos orgânicos comumente utilizados, que normalmente são fabricados com estrumes de animais e resíduos de abatedouros. Seu princípio é utilizar os recursos gerados dentro da própria área cultivada ou ao seu redor, tais como o próprio mato (vegetação espontânea usualmente chamada de plantas daninhas ou invasoras), a adubação verde ou capineiras implantadas nas proximidades. Por ser de natureza farelada, conter umidade abaixo de 12% e ser devidamente embalado, é de fácil transporte, armazenagem e aplicação sendo compatível com a maioria dos equipamentos aplicadores de calcários disponíveis no mercado. “Os resultados surgem relativamente rápidos e, em médio prazo, a área tratada adquire estabilidade requerendo apenas aplicações esporádicas a título de manutenção”, acrescenta Leonardo. O condicionador biológico faz a compostagem no próprio solo; Promove a atividade da microbiota benéfica do solo; Promove o equilíbrio do fluxo nutricional; Estimula a expansão do sistema radicular; Inibe patógenos de solo (exclusão competitiva). Os resultados em viveiros de café e em várias lavouras das três principais regiões cafeeiras do país comprovam os benefícios do manejo correto da matéria orgânica, bem A como o papel ativo do Nutri Bokashi.

Aplicação do Nutri Bokashi na linha, antes do manejo da braquiária

Braquiária manejada e disposta protegendo a linha do cafezal.

Palhada da braquiária em início de decomposição


CAFÉ

artigo

Pane na Produção II

Armando Matielli - Engº Agrônomo com MBA na UFV, Presidente Executivo da SINCAL [www.sincal.org.br] e cafeicultor em Guapé (MG)

A

Armando Matielli -.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.Reconstruindo a verdade, já é possível prever perdas na safra 12/13 Em 2 de Dezembro, o diretor do Cecafé, Guilherme Braga , através de declaração a Reuters ,tentou desconstruir uma realidade que se encontra a cafeicultura brasileira, para desfazer estes equívocos, afim de restabelecer a verdade e transparência, vamos aos fatos :

*Em azul, os esclarecimentos de Marcos Antônio Jacob sobre os equívocos de Guilherme Braga. ENTREVISTA - Para Cecafé, é prematuro prever perdas na safra 12/13 [sexta-feira, 2 de dezembro de 2011] Por Roberto Samora SÃO PAULO (Reuters) - Cafeicultores do Brasil têm dito que a próxima safra de café (2012/13) poderia cair em relação ao último ano de alta na produção por conta de problemas na florada, o que afetaria os embarques do país, mas os exportadores avaliam que ainda é cedo para afirmar que parte da colheita nacional não vingará como esperado. Não é cedo para avaliar as condições das lavouras e perspectivas para a próxima safra. Quando os cafeicultores fazem a afirmação , e alertam sobre o fato de que haverá quebra para a próxima colheita (2012/2013), se baseiam tanto no estado fisiológico, e de sanidade das lavouras de café, como também no histórico climático dos anos de 2010 e 2011

27 DEZ / 2011 www.revistadeagronegocios.com.br

SINCAL parabeniza o Sr. Marco Antônio Jacob, que faz uma análise prática e coerente. A SINCAL teve a coragem e o conhecimento sobre o exposto, pois no outro dia após a florada de 12/13 de outubro, emitiu para o mercado em diversos sites o artigo “Pane na Produção”, no site da SINCAL, em outros sites, como na Revista Attalea Agronegócios e também no site da Revista da Cafeicultura por três semanas seguidas. Artigo esse baseado em dados técnicos incontestáveis e, já emitimos a opinião que teríamos uma safra 2012/2013 menor que a última safra recém colhida (2011/2012). No momento, aproveitando os esclarecimentos muito bem colocados pelo Sr. Marcos Antônio Jacob, e também pela entrevista do Sr. Lúcio Araújo Dias, da Cooxupé, na Bloomberg, (do qual transcrevo a seguir) reafirmando os grandes prejuízos provocados pela seca. Com tudo isso, voltamos a afirmar e confirmar que a próxima safra 2012/2013 será menor que a safra 2011/2012. Dentro desse contexto a somatória das duas safras (colhida e a colher) deverão ficar ao redor de 80-85 milhões de sacas, contra uma necessidade ao redor de 105 milhões de sacas (exportação mais consumo interno) no biênio, com isso teremos um déficit de 20-25 milhões de sacas, praticamente 03 colheitas da Colômbia (patamares atuais da produção da Colômbia) após a entrada da ferrugem do cafeeiro (Hemileia vastatrix). Portanto, senhores cafeicultores os compradores e exportadores estão fazendo o máximo possível para esconder o fato, pois, querem continuar comprando o nosso café pelo mínimo preço possível pelo maior prazo pos-sível. Com isso senhores, os preços subirão a níveis difíceis prever, mas podendo ser R$700, R$900, R$1.100. Acredito que R$1.100/ saca seria um valor justo para cobrirmos os aumento do custo de produção de 549,5% de 1994 a 2010 (fonte FEALQ/ USP/Cooparaiso) pois, naquela época vendíamos nosso café arábica na faixa de R$200/saca. Portanto o preço atual de R$500,/saca mal cobre o custo de produção dos cafés produzidos nas regiões montanhosas que corresponde a 70% do nosso parque cafeeiro.


CAFÉ

28 www.revistadeagronegocios.com.br

DEZ / 2011

2010 e 2011, todos históricos de chuvas que mencionarei abaixo, referem-se a dados fornecidos pela COOXUPÉ em Guaxupé , visto que seu banco de dados climáticos inicia-se em 1960 , portanto compreende 50 anos. 1 - No ano de 2010, entre o período de maio à setembro, já houve uma estiagem em algumas regiões produtoras, pois o índice pluviométrico foi aquém do ideal, chovendo apenas 120 mm, quando na média dos últimos 50 anos, o índice pluviométrico é de 200 mm. Assim sendo, já houve um desvio de 40% da média histórica. Para termos uma idéia mais clara, no ano de 2009, neste mesmo período, foi registrado na estação meterológica de Guaxupé, 456 mm, fato este que colaborou para que a safra de 2010 fosse abundante. 2 - No ano de 2011, em 05 de agosto, tivemos um frio intenso, ocasionando geadas em algumas localidades. 3 - Neste mesmo ano de 2011, no período compreendido de maio à setembro, tivemos uma das mais severas estiagens registradas na maioria dos parques cafeeiros brasileiros, registrando chuvas de apenas 73 mm; isto é, um desvio de 65% da média. Para efeito comparativo, no ano de 1985, foi registrado 75 mm de chuvas no período mencionado, portanto no presente ano de 2011, podemos considerar semelhante ao ano de 1985. Notar que estes 73 mm registrados em Guaxupé (MG) não foi uma exceção, pois muitos municípios produtores de cafés arábicos registraram índices pluviométricos inferiores, a exemplo de Campestre (MG) com 28 mm, Monte Santo de Minas (MG) com 45mm, Martins Soares (MG) com 33 mm, etc. 4 - Dado o atraso do fim desta estiagem , e devido ao clima estar extremamente seco e quente no mês de setembro deste ano, as pulverizações pré-florada foram relegadas e, quando iniciaram-se as chuvas em meados de outubro, os produtores tinham 2 opções a escolher : uma era a decisão de adubar e a outra seria a decisão de pulverização com fungicidas, dado ao frio atípico em outubro e novembro, tivemos uma grave infestação de Mancha de Phoma e Ascochyta, prejudicando ainda mais o vingamento da florada. Segundo o diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Guilherme Braga, cafeicultores do Sul de Minas, Cerrado Mineiro, Zona da Mata e Bahia apontaram em um evento recente em Varginha (MG) que a safra 12/13 poderá ter uma queda de 5% em relação ao último ano de alta no ciclo bianual do arábica (2010/11), por problema do não vingamento da florada em função de poucas chuvas. 5 - Desde o 37º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras, realizado entre os dias 01 e 04 de outubro de 2011 em Poços de Caldas (MG), agrônomos e respeitáveis pesquisadores de todas as regiões cafeeiras já alertavam e apontavam problemas graves nos parques cafeeiros brasileiros, devido as condições climáticas já mencionadas. O diretor do Cecafé lá estava presente, mas fez ouvidos moucos a estas observações, ou melhor, se cala e não divulga quanto as observações lá alertadas. 6 - A função de um dirigente de uma associação não é desdenhar as informações de participantes da cadeia produtiva, inclusive ignorando informação até de seus associados. Mas Braga, com longa experiência no setor, afirma que ainda não é possível concluir que a produção cairá como estão dizendo, e que apenas em janeiro o setor produtivo poderá ter uma eventual confirmação de suas avaliações. “É um pouco prematuro fazer exercícios de adivi-

nhação, o pessoal que fala em possíveis perdas olha esse fato que ainda não se manifestou: o abortamento (da florada). Se ocorrer, vai ser visível a partir de janeiro”, disse o executivo do Cecafé em entrevista à Reuters. 7 - Não é prematuro fazer avaliação quanto a produção vindoura. Já podemos visualizar, pois estamos na fase de expansão dos frutos. O que notamos é baixo vingamento, pois as rosetas se apresentam com 6 à 8 frutos, quando na normalidade seriam 12 à 16 frutos. Também se nota que as ramas dos cafeeiros estão ralas, com poucas rosetas e frutos, é visual, de fácil observação . Daqui para a efetiva colheita, a única coisa que pode acontecer é diminuir a quantidade de frutos, devido as quedas, mas para aumentar a quantidade, como diz Guilherme Braga, talvez com sua inteligência e expertize, sugerirá colar grãos nas árvores, importando grãos verdes do Peru. Mas para fazer tal façanha, primeiro ele deverá combinar com os produtores, pois será uma inovadora e árdua tarefa. Para Braga, “objetivamente” houve uma florada “muito boa”, que aconteceu há dois meses, e um período de chuva “muito bom”. “Tudo é no sentido de termos uma boa safra. Temos de partir desses elementos objetivos... A safra deveria vir com um número maior. Agora esse negócio do pegamento (da florada), de que isso pode frear um pouco aquilo que seria um volume maior de safra, ainda é muito com base em opiniões”, acrescentou. 8 - Objetivamente, a florada foi normal, devido ao fato das árvores estarem desenfolhadas. A impressão para os leigos foi de florada espetacular, pois só se viam as flores nitidamente por falta de folhas. 9 - Se Guilherme Braga tivesse ao menos visitado lavouras - e ele teve e tem essas oportunidades -, veria que os elementos objetivos apontam para uma safra muito menor, com uma quebras preponderantes. Eu pessoalmente visitei lavouras com quebra de safra de aproximadamente 40% do potencial , sendo estas fazendas com até 1.100 ha de lavouras no Cerrado, e de 400 ha em lavouras no Sul de Minas. E o pior, Guilherme Braga têm conhecimento disto, basta consultar seu superior no Cecafé, pois são propriedades deste. Dados da Somar Meteorologia indicam que importantes regiões de Minas Gerais, maior Estado produtor do país que é o principal produtor e exportador global de café, efetivamente fecharam os meses de outubro e novembro com déficit de chuvas em relação à média histórica. Em outubro, o déficit foi menor, de até 14 por cento. Mas em novembro choveu menos, com algumas regiões do Sul de Minas vendo um desvio de até 38 por cento, embora não tenha faltado chuva, com um acumulado no mês de mais de 100 milímetros. De acordo com Braga, é importante aguardar também a primeira estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento, no início de janeiro, quando deverá ser informado o tamanho da área de produção, que pode crescer. “Elementos como esse da área não são conhecidos, não se tem uma visão de conjunto, vamos dizer que ela detecte um aumento de área, é possível, não diria muito, o que a gente sabe é que houve uma tendência forte de adensamento, mas estamos ai há três anos em cenário de preços positivos...”, ressaltou. 10 - Todos sabemos, que temos apenas um ano de preços positivos, iniciados em setembro de 2010, sabemos também que o setor produtivo está extremamente descapitalizado, com dívidas juntos a instituições de créditos.


CAFÉ

TABELA 1 - Exportações Totais de Café (milhões de sacas) ANO

2004/2005 2005/2006 2006/2007 2007/2008 2008/2009 2009/2010 2010/2011 2011/2012

QUANTIDADE 28,0 24,5 29,3 27,4 31,5 29,7 35 (recorde histórico) 11 (incompleto - de jul a outubro)

Fonte: Cecafé (incluindo café verde, solúvel e torrado; ano-safra - julho/ junho)

IMPACTO NAS EXPORTAÇÕES DO BRASIL - Segundo o diretor do Cecafé, se a safra 12/13 cair 5% na comparação com o último ano de alta, a produção seria de 52,5 milhões de sacas, contra 55 milhões de sacas de 2010/11, conforme dados do mercado, sempre superiores aos do governo. 16 - Para sabermos quanto realmente se colheu de café, usa-se a metologia de safra derivada, pois refere-se a estoques iniciais, menos os usos de café, e, estoques finais, encontrando assim a safra colhida. De acordo com esta metodologia, a CONAB aponta a safra de 2010/11 em 53,283 milhões de sacas. Porém, como o Guilherme Braga diz que dados do governo sempre são subestimados, o setor privado, em palestra proferida por Luiz Otávio Araripe durante o VI Seminário Internacional do Café, realizado em 5 e 6 de

setembro do corrente ano, usando a metodologia de safra derivada, indica uma safra brasileira de café em 2010/2011 de apenas 50,400 milhões de sacas. Esclarecendo que este Seminário foi patrocinado pelo Cecafé. 17 - Neste mesmo Seminário, realizado na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em palestra, Lucio Dias diretor da Cooxupé alertou os presentes das más condições vegetativas do parque cafeeiro. Em ambas as palestra Guilherme Braga esteve presente. “Como eles estão dizendo que a safra da alta vai ser menor do que a anterior, você teria que trabalhar com um número um pouco mais baixo (para exportação)... Claro que haveria uma pequena redução na exportação. No ano-safra (10/11), a exportação foi 35 milhões de sacas, este ano, anocalendário, deve fechar em 33 milhões... já mostra um recuozinho.” 18 - A redução na exportação deste ano não será um pouco mais baixo, como Guilherme Braga quer distorcer, pois quer confundir dados. Usando ano-safra, com ano calendário, para o ano safra de 2011/2012 o Brasil embarcará próximo de 26 milhões de sacas, portanto uma diminuição de aproximadamente 25%. Na hipótese de se confirmar a queda na produção esperada pelos cafeicultores, a redução na oferta para exportação não seria elevada. “Não creio que exerça uma importância grande no volume”, disse o diretor, acrescentando que não será uma produção menor que a esperada que evitará que o Brasil continue ganhando mercados, especialmente num momento de oferta global mais apertada, no qual são pagos prêmios atípicos pelo produto brasileiro. 19 - É fato consumado a redução da safra vindoura, exclusivamente nos cafés arábicos, dado a todas as considerações acima expostas, esta redução exercerá uma grande quebra no volume exportado para o ano safra 2012/2013.Fazendo uma pequena reflexão, se considerarmos uma quebra de apenas de 13% da safra de arábicos em relação a safra de 2010 de 50,400 mihões de sacas (a safra derivada apontada por Araripe), teremos uma safra para 2012/2013 de aproximadamente 46 milhões de sacas. Assim sendo, teremos disponibilidade de exportamos apenas 27 milhões de sacas. Como atualmente há uma oferta global mais apertada, conforme relata Guilherme Braga, vide problemas na Colômbia e Indonésia, vivenciaremos num futuro próximo uma maior diminuição dos estoques nos países importadores, chegando a níveis críticos. Concluindo, informo aos cafeicultores brasileiros que a nova safra brasileira de cafés arábicos só estará disponível ao mercado em Julho de 2012, pois houve um atraso generalizado das floradas, que só ocorreu em meados de Outubro. Sendo assim, recomendo que comercializem com prudência o saldo de sua colheita de 2011. Fico à disposição dos membros da Cecafé e membros da comunidade cafeeira, para os devidos esclarecimentos e visitas as áreas produtoras brasileiras . Esta resposta não têm o intuito do conflito, e sim, restabelecer a verdade dos fatos. Espírito Santo do Pinhal (SP), 4 de dezembro de 2011. Marco Antonio Jacob - pós-graduado latu-senso em Economia do Sistema Agro-Alimentar, com 30 anos de experiências no mercado cafeeiro, e, atualmente, Cafeicultor. A

29 DEZ / 2011 www.revistadeagronegocios.com.br

11 - Quando ele sugere um aumento de área produtiva, é capcioso em sua afirmação. Sabemos que não houve aumento de área plantada. Muito pelo contrário, cafeeiros em idade produtiva foram erradicados nos últimos anos. Se temos novas áreas plantadas, em função de melhores preços como ele afirma, estes novas áreas recém plantadas estão longe de estarem em produção. Contrariamente, cafés novos, com seu sistema radicular em formação aflorados à superfície são os primeiros a sentirem os impactos da estiagem. 12 - Quando Guilherme Braga afirma que houve uma tendência forte de adensamento, novamente é capcioso, pois se esquece que nos últimos anos tratos culturais importantes estão sendo renegados, principalmente a desbrota, pois encontramos nas maioria das lavouras brasileiras um excesso de ramos ortotrópicos. 13 - Dado a desfolha atual dos cafeeiros, com a entrada de luminosidade, haverá maior necessidade de desbrota, pois germinarão mais ramos ortotrópicos, vulgarmente chamados de “ladrões”. O diretor do Cecafé disse que não se pode descartar possíveis prejuízos, mas lembrou que tais comentários sobre o tamanho da safra ocorrem todos os anos. “Um cara vem com uma coisa, outro vem com outra, não digo que sejam opiniões querendo torcer fatos, porque na maior parte as pessoas acreditam nisso... Agora, tantas vezes no passado eu vi esse tipo de coisa não dar em nada... Eu não desconsidero, mas prefiro avaliar isso à vista de uma coisa objetiva”. 14 - Realmente ele têm alguma razão. Um gringo (Macquaire) vem com uma coisa, outro gringo (Rabobank) com outra, enfim , sempre o mesmo papo: o Brasil vai ter super-safra, etc , esta ladainha conhecemos decor e salteado. 15 - Já há fatos objetivos, basta ele querer se inteirar, não distorcendo a realidade.


SILVICULTURA

E 30 www.revistadeagronegocios.com.br

DEZ / 2011

m até seis anos, Minas Gerais, o maior Estado produtor e consumidor de madeira do País, com cerca de 18 milhões de metros cúbicos por ano, terá que cumprir uma lei estadual que obriga ao uso de praticamente 100% de madeira de árvores plantadas. Madeira de floresta nativa deverá compor só 5% da demanda até 2018, reza a Lei 14.309, de 2002. E, desde 2010, todo usuário de madeira - das siderúrgicas ao dono do disque-pizza - deve comprovar a origem da matéria-prima. Grande desafio para um Estado que tem 50% de sua matriz energética calcada em lenha e derivados, ante 25% do País, e que importava 30% de seu consumo, diz a Associação Mineira de Silvicultura (AMS). Atualmente, a relação entre demanda e oferta de madeira em Minas está relativamente equilibrada por causa da crise econômica mundial. Entretanto, há preocupação quanto à capacidade de o Estado se abastecer quando a crise passar. “Se a economia lá fora estivesse nos eixos, já teríamos, hoje, um déficit de 50% de florestas plantadas”, diz o diretor-superintendente da AMS, Antônio Tarcizo de Andrade e Silva. “Hoje Minas tem 1,4 milhão de hectares de eucalipto e 136 mil hectares de pinus”, diz. “Seria preciso até 2018 plantar 200 mil hectares/ano, mas cultivamos 120 mil a 130 mil hectares/ano.” A demanda à qual o representante da AMS se refere diz respeito sobretudo à necessidade de carvão para o polo siderúrgico. Dos 130 mil hectares de florestas plantadas em 2010, 43.960 hectares, ou 34%, viraram carvão vegetal para

FOTO: Divulgação

Correndo contra o tempo, MG planta eucalipto

fabricação de ferro gusa, cuja composição é 50% de carvão e 50% de minério de ferro. Para gerar energia, o Estado utiliza em média 70% de suas florestas plantadas. Sem contar o uso para outros fins, como papel e celulose. Poupança Verde - Numa situação dessas, o termo “poupança verde” se encaixa perfeitamente à iniciativa de agricultores que decidiram investir no eucalipto. Com previsão de demanda aquecida e crescente, eles apostam nesta árvore, mesmo que a primeira colheita ocorra em seis ou sete anos. “É uma poupança em pé”, confirma o produtor rural Leonardo Resende, de Coronel Pacheco (MG), que planta eucalipto há sete anos, tanto para geração de energia quanto para serraria. “Queria algo que desse maior rentabilidade por hectare, e o eucalipto dá retorno de 20% a 30% ao ano, ante 6% da pecuária”, diz. “É um negócio estável, que não depende de variações anuais de preço e com perspectiva de alta por várias décadas, já que toda a legislação ambiental joga para isso.” Em Uberaba, no Triângulo Mineiro, o eucalipto avança até sobre áreas de cana, que já havia avançado há dez anos sobre pastos. A fusão, em 2009, entre a Satipel e a Duratex, ambas fabricantes de placas e paineis de madeira, tem provocado alterações na paisagem. Atualmente, diz o gerente executivo da Unidade Minas da Duratex, Heuzer Saraiva Guimarães, a empresa cultiva 45 mil hectares de eucalipto no Triângulo. A política


FOTO: Divulgação

SILVICULTURA

Dois Cortes - Oliveira diz que é possível fazer dois cortes na mesma planta. “Após o primeiro corte, a planta rebrota e sete anos depois corto de novo”, diz ele, acrescentando que o trabalho inicial, com o plantio, adubação e controle de formigas é o principal. “Com os clones nem o desbaste de galhos é necessário; eles caem sozinhos. E os tocos que so-

31 DEZ / 2011 www.revistadeagronegocios.com.br

da empresa, porém, é focada no arrendamento de terra em vez do regime de parceria, em que a empresa entra com mudas, assistência técnica e colheita e o produtor, com a terra. “É importante ressaltar que a Duratex utiliza, nos arrendamentos, o mesmo sistema de gestão socioambiental das áreas próprias”, diz. O fato é que, no meio do pasto, entremeando áreas de cana e lavouras de grãos, já despontam na paisagem do Triângulo, cada vez mais, os eucaliptos. Mas desta vez o velho conceito de instalar a cultura em terra ruim e declivosa tem sido revisto. “Eucalipto é uma lavoura; tem de adubar, controlar pragas e monitorar focos de incêndio”, diz o produtor Luís Felipe Leite Sabino de Oliveira, que plantou 35 hectares de eucaliptos clonados, “muito mais produtivos e fáceis de manejar do que os provenientes de sementes”, diz. “O eucalipto comum produz 35 metros cúbicos por hectare/ano. O clonado resulta em 90 metros cúbicos hectare.” Oliveira optou pelo plantio próprio, sem contrato. “Assim vendo para quem pagar melhor.” No primeiro plantio, feito em junho, as plantas já alcançam a marca de quase 2 metros de altura. A expectativa de lucro é excelente, garante. No plantio adensado, em que se instalam 2.400 plantas por hectare, após dois anos desbasta-se metade das plantas. Cada planta deve render 7 metros cúbicos, que, multiplicados por 1.200 plantas desbastadas por hectare, resultam em 8.400 metros cúbicos. “Vendendo o metro cúbico por R$ 1, cada hectare renderá R$ 8.400 logo no segundo ano. E este valor já paga o custo inicial de produção, além do custo de colocar a madeira no mercado, num total de R$ 1.500 por hectare, resultando em lucro de R$ 6.900”, diz. “Se eu descontar daí o crédito rural - R$ 107 mil para os 35 hectares, com 5 anos de carência e pagamento em 2 parcelas, no sexto e no sétimo anos, com juros de 6,75% ao ano -, ainda me sobram cerca de R$ 2.500 de lucro por hectare no segundo ano”, festeja. “E cinco anos depois corto o restante, com toras que devem render R$ 25 mil por hectare.”

bram na área são eliminados com produtos que desintegram a madeira, reincorporada ao solo ao longo dos anos.” Outro produtor que apostou no eucalipto em Uberaba foi Rodrigo Piau. Em 50 hectares - “Uma área pequena para cana ou grãos”, diz - instalou o eucaliptal. Com mudas clonadas, cultivadas há cinco anos, fez duas formas de plantio: adensado, com 1.100 árvores por hectare, e não adensado, com 350 árvores/hectare . “Ano que vem já faço o primeiro corte”, diz. “O eucalipto é uma opção, mas em áreas mecanizáveis, onde se pode plantar cana ou grãos, não vale a pena por eucalipto.” Para ele, qualquer que seja a atividade o produtor deve se profissionalizar e elevar a produtividade. “Já não há só pasto por aqui. O cenário diversificou-se com grãos, cana, seringueira e eucalipto, entre outras lavouras.” Diversificação, aliás, é a palavra de ordem na propriedade arrendada pelo zootecnista Augusto Landim de Macedo Júnior. Em 350 hectares - sendo 70 hectares de mata nativa -, Landim mantém 250 cabeças de gado leiteiro puro e meio-sangue, das raças guzerá, gir, guzolando e girolando. Além do leite, vende animais, planta capim para feno e, no meio dele, eucalipto. “Planto eucalipto há 12 anos, na média de 4 a 5 hectares/ano”, diz Macedo Jr., cujo último plantio fez no mês passado, em 15 hectares. “Quando preciso de dinheiro, vou lá e corto. Há dois anos, cortei 1 hectare e lucrei R$ 15 mil”, explica. “O principal combustível da região é a lenha, por isso optei pelo eucalipto.” Mesmo assim, ele deixa algumas árvores engrossarem para vender como vigotas para construção civil. “O retorno demora, mas é líquido e certo.” A


www.revistadeagronegocios.com.br

32

DEZ / 2011


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.