Edição 78 - Revista Agronegocios

Page 1

1

MAR 2013


2

MAR 2013


3

MAR 2013


EDITORIAL

DESTAQUE: leite ADUBO-VERDE

Mão de Obra compromete 20% da receita no leite

8

Artigo do CEPEA-ESALQ e da Superintendência Técnica da CNA mostra o peso da mão de obra na atividade leiteira, chegando a comprometer nos estados do Centro Oeste e no Sudeste brasileiro cerca de 20% da receita obtida com a venda do leite. Paralelamente ao custo, o produtor enfrenta a dificuldade de encontrar profissionais especializados. Segundo os pesquisadores: uma reclamação constante no setor.

Utilização de leguminosas na Adubação Verde

14

Artigo do pesquisador Carlos Barradas, da Pesagro-Rio, orienta os agricultores sobre a importância da utilização de leguminosas em sistemas de produção.

CAFÉ

Mancha Aureolada gera preocupação no setor

18

A incidência da bacteriose aumentou nos últimos meses e pode ser observada em várias regiões produtoras de café do país.

Reconhecimento e controle do Bicho Mineiro

CAFÉ

dade, corre o risco de “dar com os burros n’água”. Para que isto não aconteça, sugerimos que o produtor rural procure orientações técnicas. Também nesta edição, apresentamos três artigos importantes sobre a cafeicultura. No primeiro, mostramos a preocupação de cafeicultores de várias regiões produtoras do país com o aumento da incidência bactéria causadora da Mancha Aureolada. No outro - mais uma contribuição do pesquisador Renato Passos Brandão, do Grupo Biosoja, mostra a importância da nutrição do cafeeiro na fase de frutificação. E no terceiro, a pesquisadora Andréa Oliveira fala sobre o Bicho-Mineiro, praga que necessita de reconhecimento e controle efetivo, já que é um dos principais responsáveis por quedas na produção de café. A partir desta edição passaremos a contar com o articulista André Antunes, advogado especializado em assuntos do meio rural. Abraços e boa leitura!

16

Considerada uma das principais pragas da cafeicultura, o Bicho Mineiro é tema do artigo da pesquisadora Andréa Oliveira. Desde a biologia do inseto até indicação de controle.

Nutrição do cafeeiro na fase de frutificação

CAFÉ

N

ão há mais lugar para empresários rurais que não planejem o seu negócio. Não adianta mais apenas conhecer como plantar ou criar, adubar ou curar doenças, época ideal de colheita ou de abate, raça ou variedade. É preciso mais. A globalização, o aparecimento de novos concorrentes e a agressividade do mercado exige mais que simplesmente “gostar de ser agricultor ou pecuarista”. Nesta edição, apresentamos artigo importante do CEPEA Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da ESALQ - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, de Piracicaba, abrangendo a atividade leiteira nas principais bacias produtoras do país. No Sudeste e no Centro Oeste, o estudo comprovou que o custo da mão de obra na pecuária leiteira pode comprometer até 20% da receita obtida com a venda do leite. Desta forma, caso o pecuarista não tenha um planejamento bem feito de sua ativi-

DIREITO

4

MAR 2013

Planejamento é importante TAMBÉM NA PECUÁRIA DE LEITE

24

Nono artigo do pesquisador Renato Passos Brandâo, do Grupo Biosoja, sobre a importância da nutrição para o cafeeiro. Neste mês destaque para a fase de frutificação.

A inconstitucionalidade da cobrança do FUNRURAL

30

Artigo do advogado André Antunes, que busca, de forma sucinta e didática, mostrar as considerações feitas à cobrança já declarada inconstitucional pelo Superior Tribunal Federal.


EVENTO

AGRISHOW 2013 será marcada pela COMEMORAÇÃO DOS 20 ANOS DA FEIRA

A

Agrishow, consolidada como a principal feira do setor agro da América Latina, completa 20 anos de história em 2013. Programada para os dias 29 de abril a 03 de maio, em Ribeirão Preto (SP), a feira terá uma área total de 440 mil m², uma vitrine do que há de mais moderno em tecnologia para o agronegócio. A feira terá a participação de 790 expositores, entre fabricantes de máquinas e equipamentos agrícolas, insumos, ferramentas, associações de classe, centros de pesquisa e universidades, e instituições financeiras que apresentarão as mais modernas tecnologias e soluções para pequenas, médias e grandes propriedades rurais. A expectativa é receber um público visitante de 152 mil pessoas. Uma facilidade para os visitantes é a maior regionalização por áreas. Para otimizar sua visita, o produtor rural poderá ir diretamente a setores da feira que concentram expositores de irrigação, armazenagem, agricultura de precisão, ferramentas, aviação, caminhões, ônibus, transbordos, automobilístico, máquinas para construção, pneus, pecuária,

sementes, defensivos e adubos. Diversas melhorias serão implantadas no local do evento, graças, principalmente, à concessão da área de exposição por 30 anos, assinada na edição de 2012 da feira. “A concessão tirou a insegurança jurídica, criando um ambiente motivador para investimentos. Teremos um comitê que avaliará as melhorias que poderão ser implementadas para expositores e visitantes. Após a realização da feira deste ano, será elaborado um plano diretor de investimentos”, informa o presidente da Agrishow, Maurilio Biagi Filho. As demonstrações de campo, consideradas o DNA da Agrishow, terão novidades para o público. Uma delas é a criação do Núcleo da Tecnologia, com plots comparativos de sementes, adubos e defensivos agrícolas de culturas como milho, cana de açúcar e pastagens. A outra novidade é a implantação em parceria com a Embrapa de uma área de 16 hectares com diversos manejos de integração lavoura pecuária floresta (ILPF). A

5

MAR 2013


6

MAR 2013


7

MAR 2013


LEITE

O

aumento do salário mínimo federal para R$ 678,00, a partir de janeiro de 2013, com reajuste de 9%, traz à tona, mais uma vez, o peso da mão-de-obra na atividade leiteira. Nos Estados do Centro-Oeste e Sudeste, este peso é maior, comprometendo cerca de 20% da receita obtida com a venda do leite. Nos Estados do Sul, onde existe maior escala de produção e também grande participação da mão-deobra familiar, a contratação de funcionários compromete em torno de 10% da receita do leite. Paralelamente ao custo, o produtor enfrenta a dificuldade de encontrar profissionais especializados, reclamação constante no setor. Quando encontra bons trabalhadores, o produtor precisa pagar salários elevados face à disputa por seus serviços. A pesquisa de custos de produção do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP), em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), mostra que, dos 19 painéis (reuniões de pesquisadores com produtores e técnicos locais) realizados nos seis principais Estados (Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo), 95% contam com ordenha mecanizada – o parâmetro de produtividade para a ordenha manual e mecânica são de, pelo menos, 150 e FOTO: Divulgação CATI/SAA-SP

8

MAR 2013

Mão de Obra compromete cerca de 20% da receita do PECUÁRIA DE LEITE NO SUDESTE E CENTRO OESTE 1

1 - Publicado originalmente no Boletim Ativos da Pecuária de Leite, Edição 25, fevereiro 2013, elaborado pela Superintendência Técnica da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e do CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da ESALQ/USP.

Tabela 1: Produtividade da mão-de-obra e participação na receita do leite. PARÂMETRO DE SOLO 0-20cm PROFUNDIDADE

ÉPOCA

PR

27/01/2011 ANTES CVD 698,6

RS

343,6

11,7%

MG

322,0

19,1%

GO

241,9

20,9%

SC

194,0

9,2%

SP

169,8

23,9%

FONTE: Cepea/CNA

02/04/2012 DEPOIS CVD 9,2%

350 litros, respectivamente. O Estado de São Paulo foi o que apresentou a menor produtividade da mão-de-obra, apenas 170 litros/homem/ dia. No outro extremo, Paraná foi o mais eficiente, com 700 litros, seguido pelo Rio Grande do Sul e Minas Gerais, com 345 e 320 litros, respectivamente. Goiás e Santa Catarina, que completam a pesquisa, tiveram médias de 240 e 195 litros. Essa relação entre desembolso com mão-de-obra e produtividade indica a necessidade de elevação na eficiência produtiva, de modo a diluir o peso dos salários no custo de produção. A utilização de máquinas e equipamentos mais práticos, treinamento constante da mão-de-obra, estruturação e análise de indicadores relacionados ao uso do maquinário e insumos são algumas iniciativas que podem auxiliar o produtor a melhorar a produtividade de seus colaboradores. O Custo Operacional Efetivo (COE), composto por todos os gastos usuais da propriedade, e o Custo Operacional Total (COT), que considera também as depreciações dos bens de produção e o pró-labore do produtor, seguiram novamente estáveis, em dezembro, como vem ocorrendo desde setembro. Esse estudo leva em consideração os Estados de Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, cujos dados possibilitam o estabelecimento da “Média Brasil” do custo de produção da pecuária de leite Cepea, em parceria com a CNA.


MEIO AMBIENTE

9

MAR 2013


LEITE

10 MAR 2013

Se comparado a novembro de 2012, o COE teve leve queda de 0,14% e o COT de 0,10%. Goiás, São Paulo e Minas Gerais apresentaram pequenos aumentos no COE e COT, principalmente porque a soja e o milho são as principais alternativas para a alimentação concentrada do rebanho. E foi justamente nestes Estados onde se registraram os maiores aumentos do milho em relação a novembro do ano passado. Em Goiás, por exemplo, o grão teve acréscimo de 4,3%. Tal fato se justifica na elevação da demanda para o reabastecimento dos estoques num período de entressafra e exportações aquecidas. Nos três Estados do Sul, no entanto, a possibilidade de utilização de outros produtos para compor a ração animal permitiu ao pecuarista reduzir o custo de produção, já que o concentrado é o item de maior representação no COE. Goiás foi o que apresentou os maiores aumentos mensal e anual do COE. Em relação à novembro de 2012, o COE avançou 1,2% e, na comparação com dezembro de 2011, 23,5%. Mesmo com a queda de 1,3% do preço do farelo de soja, a alta na cotação do milho elevou em 1,3% os gastos com concentrado em dezembro. Outro item que afetou os dispêndios do produtor, no mês, foi a suplementação mineral, cujo aumento foi de 5,9%. Os demais itens do custo de produção continuaram estáveis. O COE e COT também registraram leves aumentos em Minas Gerais, de 0,6% e 0,5% em relação a novembro. Essas pequenas variações refletem a estabilidade da maioria insumos, mas também o aumento no preço de insumos importantes, como sementes forrageiras suplementação mineral (ambos com 4,3%) e do concentrado (1,6%). O COE de dezembro subiu 17,3% em relação ao índice de dezembro de 2011 e o COT se elevou em 14,2%. Em São Paulo, de novembro para dezembro, o COE aumentou 0,6% e o COT, 0,7%. As pequenas variações são consequência do aumento de 0,9% do gasto com concentrado, de 8,5% com sementes forrageiras e da estabilidade dos outros componentes do custo de produção. O aumento do preço das sementes decorre da maior demanda para implantação de pastagens com o início das chuvas. Em um ano, a contar de dezembro de 2011, o COE em São Paulo subiu 14% e o COT, 10,7%. Santa Catarina apresentou as maiores quedas no custo de produção, entre novembro e dezembro, sendo que o

Tabela 2 - Preço médio do leite pago ao produtor (em valores nominais) e do Custo Operacional Efetivo (COE) - média dos Estados de GO, MG, PR, RS, SC e SP.

FONTE: Cepea-Esalq/USP

COE diminuiu 1,8% e o COT 1,5%. Além da estabilidade de alguns itens de produção, as quedas de 4,6% no gasto com concentrado (devido à escolha do produtor por fontes alternativas para a ração animal), de 2,6% do material de ordenha e de 1,7% dos defensivos agrícolas contribuíram para a redução do custo. Frente a dezembro de 2011, o COE aumentou 12,7% e o COT 10%. O produtor gaúcho também teve diminuição no desembolso para produzir leite. Apenas vacinas, medicamentos para controle parasitário e combustível apresentaram elevação, reajustados em 4,9%, 0,6% e 0,4% respectivamente, em relação a novembro. O restante dos itens se manteve praticamente estável. Já no caso dos fertilizantes e do concentrado, em dezembro, houve reduções de 2,3% e 0,9%, respectivamente. Essa combinação resultou na queda de 0,3% do COE e do COT, quando comparados aos de novembro. Já em relação a dezembro/11, o COE subiu 17% e o COT avançou 15%. No Paraná, a queda do COE e do COT foi bem reduzida de um mês para outro, sendo mantida a estabilidade do custo de produção dos meses anteriores. Em dezembro, o COE caiu 0,32% e o COT, 0,29%. As ligeiras quedas ocorreram em decorrência da redução de 4,8% no desembolso com fertilizantes, o que barateou a produção de alimentos volumosos. Apesar dos aumentos do concentrado e dos defen-

Tabela 3 - Relação de troca de leite por uréia, glifosato e rações com 18% e 22% de PB (proteína bruta). INSUMOS Uréia (t) Glifosato (L) Ração 18% PB (40kg)

INSUMOS Uréia (t)

ESTADO DO PARANÁ MESES VARIAÇÃO nov/12 dez/12 dez/11 mês ano 1.489,1 1.420,2 1.315,9 -4,6% 7,9% 8,5 -5,9% 31,8% 11,2 11,9 46,19

45,45

-

-

ESTADO DE MINAS GERAIS MESES VARIAÇÃO nov/12 dez/12 dez/11 mês ano 1.532,1 1.488,1 1.529,2 -2,9% -2,7%

Glifosato (L)

17,9

19,2

17,4

Ração 18% PB (40kg)

50,5

52,1

-

FONTE: Cepea/CNA

-1,6%

7,4% 10,3% 3,2%

-

ESTADO DO PARANÁ MESES VARIAÇÃO nov/12 dez/12 dez/11 mês ano 4,5% 5,1% 1.589,8 1.660,9 1.580,4 8,2 12,0 0,5% 46,3% 11,9 48,22

47,93

-

-0,6%

-

ESTADO DE SÃO PAULO MESES VARIAÇÃO nov/12 dez/12 dez/11 mês ano 1.492,1 1.430,4 1.363,9 -4,1% 4,9% 18,1

18,7

16,3

56,95

60,35

-

ESTADO DO SANTA CATARINA MESES VARIAÇÃO nov/12 dez/12 dez/11 mês ano 1.475,6 1.463,7 1.492,7 -0,8% -1,9% 7,1 -3,6% 59,6% 11,3 11,8 44,80

43,49

-

-3,2%

-

ESTADO DE GOIÁS MESES VARIAÇÃO nov/12 dez/12 dez/11 mês ano 1.507,3 1.533,1 1.600,0 1,7% -4,2%

3,3% 14,9%

10,4

9,1

6,0%

40,9

41,9

8,0 -12,6% 14,1% 2,5% -


LEITE

11

MAR 2013


LEITE Tabela 4 - Variação mensal e acumulada dos custos de produção de leite em dezembro. ESTADOS Goiás

12 MAR 2013

COE 1 dezembro Acumulado Acumulado 2012 no ano 12 meses 23,55% 23,55% 1,15%

COT 2 dezembro Acumulado Acumulado 2012 no ano 12 meses 18,05% 18,05% 0,94%

PREÇO BRUTO LEITE (R$/litro) 3 dezembro Acumulado Acumulado 2012 no ano 12 meses

Ponderações

-1,78%

8,38%

8,38%

14,5%

0,60%

17,33%

17,33%

0,54%

14,20%

14,20%

-1,06%

6,97%

6,97%

36,4%

Paraná

-0,32%

23,41%

23,41%

-0,29%

20,98%

20,98%

2,10%

6,03%

6,03%

15,9%

R. Grande do Sul

-0,36%

16,99%

16,99%

-0,31%

15,18%

15,18%

-0,45%

1,70%

1,70%

16,1%

Santa Catarina

-1,84%

12,69%

12,69%

-1,52%

10,01%

10,01%

1,43%

-0,21%

-0,21%

10,5%

São Paulo

0,66%

13,99%

13,99%

0,73%

10,74%

10,74%

0,26%

3,82%

3,82%

6,7%

BRASIL 4

-0,14%

20,00%

20,00%

-0,10%

17,15%

17,15%

0,65%

5,59%

5,59%

-

Minas Gerais

1 - Custo Operacional Efetivo; 2 - Custo Operacional Total; 3 - Inclui frete e impostos; 4 - Média ponderada dos estados de GO, MG, PR, RS, SC e SP. FONTE: Cepea/USP - CNA

sivos agrícolas, os custos de produção diminuíram no mês. Entre dezembro/11 e dezembro/12, no entanto, houve aumento de 23% do COE e de 21% do COT. Os preços de alguns insumos da atividade leiteira tiveram comportamentos distintos, de novembro para dezembro, entre as regiões pesquisadas pelo Cepea. No balanço, os custos de produção seguiram praticamente estáveis, mas se mantiveram num dos maiores níveis desde o início da pesquisa, em janeiro de 2008 - média ponderada dos custos de produção nos estados de Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. A alimentação concentrada subiu especialmente no Sudeste e Centro-Oeste. Em contrapartida, ficou mais barata na região Sul. A expectativa de agentes de mercado para o início de 2013 é de que, com a colheita da safra de grãos, os preços da alimentação concentrada recuem, o que poderá ajudar a contrabalançar o aumento do salário mínimo. É fato que, Tabela 5 - Variações dos itens que compõem o Custo Opera-

cional Efetivo (COE) da pecuária de leite - Média Ponderada para GO, MG, PR, RS, SC e SP * ITENS

% EM RELAÇÃO À RENDA DO LEITE (dezembro 2012)

VARIAÇÃO DO MÊS (dez. 2012)

Concentrado

42,8%

0,1%

Silagem

11,2%

-1,0%

Mão de obra contratada para manejo

10,6%

0,0%

Medicamentos

5,6%

1,1%

Forrageiras anuais

4,1%

-3,3%

Energia e combustível

3,8%

0,3%

Gastos administrativos, impostos e taxas

3,6%

0,0%

Suplementação mineral

2,2%

1,7%

Manutenção - Máquinas/Implementos

2,1%

0,0%

Manutenção - Benfeitorias

1,8%

0,0%

Assistência Técnica

1,7%

0,0%

Material de Ordenha

1,7%

-0,1%

Inseminação Artificial

1,1%

0,0%

Manutenção - Forrageiras Perenes

0,8%

-0,8%

Transporte do Leite

0,4%

0,0%

Outros

0,0%

0,0%

* A produção de leite dos 6 estados da pesquisa representa 75% do total produzido no Brasil (PPM-IBGE, 2011). O cálculo é baseado nos painéis do custo de leite e ponderado pela produção dos estados (IBGE), de modo que encontram-se na amostra sistemas de produção distintos em relação aos resultados técnico-econômicos, que refletem a realidade dos produtores naquele momento. FONTE: Cepea/USP - CNA

em dezembro de 2012, o poder de compra do produtor de leite piorou em relação à maioria dos insumos utilizados nos sistemas de produção típicos, captados nas pesquisas do Cepea em parceria com a CNA, no comparativo com dezembro/11. A alta na alimentação concentrada, cujo custeio requer cerca de 40% da renda obtida com a venda do leite veio do encarecimento de suas principais matérias primas, caso do milho e do farelo de soja. Já os fertilizantes e defensivos, que têm os preços de muitos de seus componentes atrelados ao mercado internacional, tiveram impacto da desvalorização do real frente ao dólar, em 2012 – que encareceu o produto no mercado interno. Na região Sul, a relação de troca de leite por glifosato em um ano (dezembro/12 frente a dezembro/11), por exemplo, piorou em média 46%, considerando os três Estados. A maior diferença foi para o produtor catarinense que, na comparação com dezembro/11, gastou 4,2 litros a mais de leite para adquirir um litro do herbicida. No caso da uréia, o produtor paranaense desembolsou, em dezembro/12, quase 105 litros de leite a mais, com um incremento de 8% em relação ao mesmo período do ano anterior.Na comparação com o mês de novembro, o preço da ração comercial na região Sul recuou, diferente do visto em outros Estados da pesquisa. Essa queda se deve, principalmente, segundo agentes consultados pelo Cepea, à maior gama de produtos capazes de substituir o milho e o farelo de soja na composição da mistura. Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, em dezembro, os gastos com alimentação concentrada ainda subiram mais um pouco. O destaque foi o Estado de São Paulo, onde a relação de troca de leite por ração com 22% de PB (proteína bruta) piorou 6%, um acréscimo de 2,5 litros de leite por saco de 40 kg. No caso dos fertilizantes, importantes para o estabelecimento das pastagens nessa época, os preços, em sua maioria, diminuíram. Em São Paulo, a pressão se justifica especialmente pela baixa demanda do fim do ano, decorrente dos menores preços recebidos por produtores de cana de açúcar e citros. Com isso, o poder de compra do produtor de leite melhorou cerca de 4% em dezembro, o que representou a economia de 62 L de leite para a compra de uma tonelada de uréia. A


13

MAR 2013


TECNOLOGIA

MAR 2013

A

Carlos Antonio de Almeida Barradas 1

técnica da adubação verde consiste em introduzir, em um sistema de produção, a espécie apropriada para depositar sobre o solo ou incorporar sua massa vegetal. Os benefícios da prática da adubação verde relacionam-se diretamente com o ganho de matéria orgânica no sistema, proporcionando melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo (ESPÍNDOLA et al., 1997), estimulando a atividade microbiana e, consequentemente, proporcionando, através da concorrência, redução do potencial de inóculo de agentes patogênicos que vivem no solo, como fungos, bactérias e nematóides. A introdução de cultivos de adubos verdes na propriedade promove, ainda, a quebra do ciclo vegetativo das várias espécies que compõem a vegetação espontânea, impedindoas de produzir e lançar sementes e propágulos vegetativos ao solo, ao mesmo tempo em que parte desse material perde sua viabilidade devido ao impedimento à sua germinação e desenvolvimento. Como consequência, obtém-se menor infestação de plantas concorrentes no plantio da cultura subsequente. Na maioria das propriedades rurais do Estado do Rio de Janeiro, predomina a pequena produção familiar, o uso intensivo do solo e o elevado aporte de insumos químicos nos sistemas de produção. O manejo inadequado, baseado no conhecimento empírico do produtor, cria desequilíbrios no solo, capazes de comprometer a produtividade dos cultivos comerciais, muitas vezes exigindo o aporte de elevadas quantidades de agrotóxicos para defender as lavouras do ataque de pragas e doenças. O restabelecimento do equilíbrio mineral e biológico do solo é meta que deve ser perseguida pelo produtor, pois plantas bem nutridas tendem a apresentar menores problemas fitopatogênicos e, consequentemente, demandam menores gastos com agrotóxicos. Assim, é recomendável que o produtor providencie a análise da fertilidade de suas terras, a fim de conhecer a capacidade de nutrição do solo antes de efetuar a calagem e a adubação mineral. A introdução do adubo verde deve ser prática previamente planejada dentro da propriedade, considerando as diferentes características das espécies que apresentam potencial para esse fim. Além disso, é recomendável que o produtor tenha em mente que os melhoramentos em seu sistema de produção podem não vir de imediato, pois, como se trata de sistema, é preciso que se dê tempo para que o processo possa dar resposta. 1 - Eng. Agr., M.Sc. Pesquisador da PESAGRO-RIO/Estação Experimental de Nova Friburgo. Rua Euclides Sólon de Pontes, 30 - Centro - 28601-970 Nova Friburgo-RJ. E-mail:almeidabar@click21.com.br

FOTO: Divulgação Piraí Sementes

14

Utilização de leguminosas nas práticas DA ADUBAÇÃO VERDE

Campo com Mucuna-Preta (Stizolobium aterrimum)

ESCOLHA DA ESPÉCIE A SER CULTIVADA - A escolha da espécie de adubo verde a ser introduzida no sistema é de suma importância, uma vez que cada uma apresenta características próprias que devem ser consideradas, objetivando, assim, melhor aproveitamento da prática. A espécie a ser introduzida deve, primeiramente, ser capaz de melhorar os fatores limitantes à produtividade, atendendo, em segundo plano, a objetivos secundários mais amplos, como a melhoria de todo o sistema. Assim, se o produtor detectar a presença de nematóides no solo que estejam limitando a produção da cultura comercial, a escolha deverá recair em espécie capaz de reduzir o potencial de inóculo desse microorganismo no solo, como as crotalárias. Se a intenção do produtor é elevar a disponibilidade de nitrogênio no solo, a escolha deverá ser por uma leguminosa, capaz de incorporar ao sistema elevadas quantidades de nitrogênio através da fixação biológica. Ao contrário, se o solo contiver elevadas quantidades de nitrogênio, fruto de repetidas adubações com esse nutriente, deve-se preferir o cultivo de espécies da família das gramíneas, pois a palhada produzida tem maior capacidade de promover a imobilização de parte desse nutriente livre e que pode trazer problemas à produtividade da cultura comercial. A fertilidade do solo é fundamental para a escolha da espécie do adubo verde, uma vez que a produção de massa verde vai depender do adequado suprimento de nutrientes pelo solo. As espécies diferenciam-se muito em relação à tolerância e à baixa fertilidade do solo. A escolha de espécie inadequada certamente comprometerá o seu rendimento. O produtor deve considerar, também, as características da sua propriedade, como topografia, altitude, tipo de solo e disponibilidade de água para irrigação.


TECNOLOGIA Outra preocupação é com a possível concorrência do adubo verde com as espécies econômicas que normalmente cultiva. Em pomares devem-se evitar adubos verdes de crescimento indeterminado, devendo a escolha recair em espécie capaz de formar colchão vegetativo nas entrelinhas e, assim, protegê-lo da erosão, auxiliando na manutenção da umidade. O produtor não deve perder de vista que, quando se trabalha com adubos verdes, almeja-se a melhoria de todo o sistema agrícola. Cultivos comerciais sequenciais, sem o mínimo de preocupação com a reposição da matéria orgânica e dos nutrientes do solo, levam ao seu rápido esgotamento, com consequências socioeconômicas às comunidades que vivem da produção agrícola. Assim como na vida, em que dos erros é que se tiram as experiências mais positivas, é com a experiência que o produtor aprende e tira o melhor proveito da técnica da adubação verde em sua propriedade. PLANTAS MAIS UTILIZADAS A) - Família das Leguminosas As leguminosas têm sido preferidas para a adubação verde devido à capacidade de se associarem simbioticamente às bactérias do gênero Rhizobium e Bradyrhizobium, que fixam o nitrogênio atmosférico. A bactéria forma nódulos nas raízes das plantas, sendo facilmente destacáveis sob leve pressão, diferenciando-se, assim, das estruturas formadas

pelos germes de solo denominados nematóides, que ficam fortemente aderidos e muitas vezes se confundem com as próprias estruturas da raiz. Os nematóides causam baixas importantes na produção de muitas espécies comerciais. A diferenciação das estruturas formadas por esses dois microrganismos é importante, pois muitas leguminosas, inclusive, apresentam elevada suscetibilidade aos nematóides. As sementes das leguminosas podem ser inoculadas com a bactéria Rhizobium, que é específica para cada espécie de leguminosa. A técnica está descrita em De-Polli e Franco (1985) e consiste em cobrir as sementes com inoculante à base de turfa, contendo elevadas concentrações da bactéria e pode aumentar a eficiência da simbiose, promovendo a elevação da capacidade de fixação biológica do nitrogênio atmosférico. Devido à simbiose com o Rhizobium, a palhada das leguminosas normalmente apresenta maiores teores de nitrogênio quando comparada à de outras espécies. Essa característica é importante, uma vez que possibilita maior rapidez na decomposição dos restos vegetais. B) - Família das Gramíneas Algumas espécies da família das gramíneas têm merecido destaque, pois são capazes de acumular elevadas quantidades de matéria verde, mesmo em condições de baixa fertilidade do solo. As gramíneas apresentam elevado

15

MAR 2013


TECNOLOGIA TABELA 1 - Algumas espécies de adubos verde, cultivo de verão.

16 MAR 2013

desenvolvimento radicular superficial, o que favorece a atividade dos microorganismos do solo, que exercem forte competição com muitos agentes causadores de moléstias das plantas cujas cepas conseguem sobreviver no solo. O milho é o melhor exemplo dessa família, sendo muito utilizado em sistemas de rotação de culturas por promover boa desinfecção do solo, reduzindo, assim, a população de fitopatógenos. A aveia-preta também é indicada para cultivo em áreas contaminadas por nematóides. A palhada das gramíneas normalmente é mais pobre em nitrogênio, sendo, por isso, de decomposição mais lenta no solo, o que pode ser benéfico ou não, dependendo do ponto de vista. Decomposição mais rápida significa maior mineralização e, consequentemente, maior disponibilização de nutrientes para as plantas; decomposição mais lenta, ao contrário, significa maior tempo de ação dos microrganismos no solo, o que traz benefícios de outra natureza, como, por exemplo, aumentar o período de residência da matéria orgânica no solo. Em solos excessivamente adubados com nitrogênio, como nas áreas de produção de hortaliças, a decomposição da palhada pode ocorrer de forma mais rápida, já que a atividade microbiológica será estimulada pela abundância desse elemento. Entretanto, o uso das gramíneas merece maior cuidado por parte do produtor, pois a maioria das espécies se propaga vegetativamente, podendo, em poucos anos, estabelecer-se na área e fazer concorrência direta por nutrientes, luz e água com a cultura comercial. Assim, o que deveria ser um benefício inicialmente, pode se transformar em problema. C) - Espécies de outras famílias Algumas espécies, como a colza e o nabo forrageiro, repTABELA 2 - Algumas espécies de adubos verde, cultivo de inverno.

resentantes da família das brássicas, têm sido utilizadas como adubos verdes. Entretanto, essas espécies são bastante exigentes em fertilidade do solo, além de não se adaptarem ao clima quente da maior parte do Estado do Rio de Janeiro. Nas regiões de serra, o cultivo é possível, embora não recomendável em áreas de cultivo de couveflor e brócolis, que são muito sensíveis ao fungo de solo que causa a hérnia das crucíferas. O girassol (família Compositae) e a espérgula (família Cariofilácea) são espécies que merecem menção, embora sejam muito exigentes em fertilidade do solo, o que tem limitado o seu cultivo em algumas regiões do país. 4. Recomendações para o cultivo de adubos verdes Ao decidir introduzir cultivos de adubos verdes em seu sistema de produção, o produtor deve atentar par algumas recomendações a fim de otimizar os benefícios da prática: • A espécie escolhida deve ser apta ao cultivo na época em que o produtor normalmente deixa suas terras em pousio. Assim, o produtor não estará deixando de obter remuneração da propriedade. • A espécie escolhida não deve ser da mesma família das espécies econômicas que o produtor normalmente cultiva. Isso evita a disseminação de pragas e doenças cujos agentes podem sobreviver no solo. • A espécie escolhida deve ser capaz de se adaptar às condições de fertilidade das terras, a fim de potencializar a produção de massa vegetal. • Espécies de adubos verdes são cultivadas para serem decepadas, incorporadas ou não ao solo, antes de serem capazes de produzir e jogar ao solo sementes viáveis, evitando que se estabeleçam na área e dificultem o seu controle. • A espécie de adubo verde deve concorrer minimamente em luz, água e nutrientes com a espécie comercial cultivada, procurando-se, assim, manter a produtividade da cultura. • Em casos de plantio consorciado, a espécie de adubo verde escolhida não deve ser trepadeira, já que, ao ganhar altura, dificultará os tratos culturais e promoverá redução da área fotossintética da cultura comercial, reduzindo a sua produtividade. 5. Indicadores técnicos do uso de adubos verdes Há muitos estudos sobre a economicidade do uso de adubos verdes na propriedade. A contribuição de nitrogênio ao sistema tem sido o parâmetro mais mencionado pelos pesquisadores do assunto. Ganhos apreciáveis desse nutriente têm sido relatados por diversos autores. Apenas como referência, pode-se citar o trabalho desenvolvido por Araújo e Almeida (1987), que relata que a adubação verde foi capaz de suprir as necessidade de N em quantidades equivalentes à aplicação de até 80kg de N/ha à cultura do milho sob a forma de uréia. Da mesma forma, muitos autores vêm recomendando o cultivo de espécies de adubos verde no controle de nematóides do solo. Resultados animadores no controle desses vermes de solo foram obtidos por diversos pesquisadores, destacando-se, recentemente, os tra-


trabalhos desenvolvidos por Inomoto et al. (2006). A maioria dos resultados de pesquisa, embora consistentes, mostram-se específicos, sendo incapazes de medir a real contribuição do adubo verde para o sistema como um todo. O retorno econômico já na cultura posterior à utilização da adubação verde depende, normalmente, da capacidade de essa prática modificar aqueles fatores que atuam na limitação da produtividade e da qualidade da cultura comercial cultivada em sucessão. Na região Serrana Fluminense, o cultivo de algumas variedades de tremoço branco, durante quatro meses, como adubos verdes de inverno, em substituição ao pousio das terras, foi capaz de produzir em torno de 9,0 toneladas de matéria seca por hectare e incorporar quase 250kg de N/ha (BARRADAS, 1992), demonstrando o potencial da prática em trazer benefícios aos sistemas de produção de hortaliças da região. Trata-se da geração de elevadas quantidades de material vegetal rico em nitrogênio em curto espaço de tempo, podendo até mesmo vir a substituir o uso de cama de aviário, insumo cada vez mais difícil e dispendioso devido à decadência da atividade avícola no estado. 6. Considerações finais O presente trabalho tem por objetivo sensibilizar os produtores familiares do Estado do Rio de Janeiro sobre a importância de se promover intervenções adequadas no sistema de produção a fim de torná-lo mais econômico e auto-sustentável. O manejo adequado da matéria orgânica do solo, a adubação racional com base na análise da fertilidade do solo, a rotação de culturas e a adubação verde são práticas indissociáveis para o atendimento a esse objetivo. O cultivo de espécies objetivando a prática da adubação verde, assim como a lida na terra, exige do agricultor muita atenção para compreender os fatores naturais que atuam diretamente sobre o sistema de produção. É certamente esse conhecimento que fará com que o produtor aperfeiçoe seu sistema e possa tirar o melhor proveito econômico dele, bem como da técnica da adubação verde. A produção de sementes das espécies mais adaptadas às condições da propriedade e mais produtivas é desejável. Para isso, basta o produtor separar e reservar uma pequena área da propriedade. A possibilidade do cultivo de espécies perenes, visando criar na propriedade bancos de proteína

FOTO: Divulgação Piraí Sementes

TECNOLOGIA

17

MAR 2013

Campo com Calopogônio (Calopogonium muconoides)

animal ou fontes de material vegetal rico em nitrogênio para deposição na superfície ou incorporação ao solo para utilização nos cultivos econômicos, também pode ser considerada. Como demonstrado, o cultivo de espécies para adubos verdes abre possibilidades para o produtor investigar e decidir o mais adequado ao seu sistema de produção. Entretanto, o aprofundamento sobre o assunto é desejável, devendo o produtor buscar esse conhecimento sempre que tiver oportunidade, seja através da Extensão Rural, da Pesquisa Agropecuária ou mesmo pela experiência compartilhada com outros produtores. ARAÚJO, A. P.; ALMEIDA, D. L. de. Efeito da adubação verde associada à adubação com fosfato natural na cultura do milho. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 21., 1987, Campinas. Programas e resumos... Campinas: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1987. p. 62-63. BARRADAS, C. A. A. Possibilidades da adubação verde de inverno na região Serrana Fluminense. 1992. 171 f. Dissertação (Mestrado em Ciências do Solo)-Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Serópedica, 1992. DE-POLLI, H.; FRANCO, A. A. Inoculação de leguminosas. Rio de Janeiro: EMBRAPA-UAPNPBS, 1985. 31 p. (EMBRAPA - Circular Técnica, 1). ESPÍNDOLA, J. A. A.; GUERRA, J. G.; ALMEIDA, D. L. de. Adubação verde: estratégia para uma agricultura sustentável. Seropédica: Embrapa Agrobiologia, 1997. 20 p. INOMOTO, M. M. et al. Reação de seis adubos verdes a Meloidogyne javanica e Pratylenchus brachyurus. Nematologia Brasileira, Brasília, v. 30, n. 1, p. 39-44, 2006. A


CAFÉ

U

ma das maiores preocupações dos cafeicultores atualmente são as bacterioses do cafeeiro, principalmente a mancha aureolada, doença que se espalha rapidamente causando grandes prejuízos em viveiros e no campo. Nos últimos meses a incidência do problema aumentou e já pode ser observado em várias regiões produtoras de Minas Gerais. De acordo com o coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Café (INCT Café), Mário Lúcio Vilela de Resende, é preciso ter atenção com as mudas dos viveiros de café, que são as grandes disseminadoras da bacteriose. “A doença começa no viveiro com as mudas contaminadas, onde há grande incidência de bactérias. Aí as mudas contaminadas são levadas para o campo. Há um grande risco de se levar a doença para regiões onde ela ainda não existe. Temos notado que a severidade da doença tem aumentado grandemente de uns cinco anos para cá”, explicou. A mancha aureolada (Pseudomonas syringae pv. garçae) é a bacteriose mais importante no parque cafeeiro estadual. A doença é caracterizada por lesões foliares de coloração parda e escura, que podem ou não ser acompanhadas por um halo amarelado, seca de ramos e lesões nas rosetas, inflorescências e frutos novos, o que provoca, posteriormente, a desfolha intensa dos ramos. O coordenador do INCT Café destacou ainda a importância dos cuidados com a doença no estágio inicial do cafeeiro e da busca por produtos sistêmicos no combate à bactéria, já que os produtos a base de cobre usados para este fim não se translocam pela planta, o que deixa as folhas no-

FOTO: Diulvação - Polo Excelência Café

MAR 2013

vas desprotegidas. “O tratamento deve ser preventivo no viveiro, ou seja, pode-se fazer o tratamento com produtos a base de cobre, que estão registrados no Ministério da Agricultura. A planta está em crescimento rápido, então as folhas novas não estão protegidas. O tratamento tem que ser semanal. É importante também reduzir a água e a umidade. Quanto mais água, mais bacteriose vai ocorrer”, explicou. A bactéria penetra no café por meio de ferimentos causados por outras pragas, colheita mecanizada ou não, ou por aberturas naturais, como estômatos, hidatódios e nectários. Segundo o Prof. Mário Lúcio, importantes medidas complementares podem ser adotadas como adubações periódicas, nutrição equilibrada e o roguing, que é a retirada e a queima ou compostagem das plantas doentes, principalmente nos viveiros. O cafeicultor José Lúcio de Carvalho, que possui cerca de 160 hectares de café em Três Pontas (MG), foi um dos muitos produtores afetados pela doença nos últimos meses. Aguardando uma solução e assustado, ele ressaltou que fiFOTO: Peabirus - Carlos Camacho

18

Incidência de Mancha Aureolada aumenta e GERA PREOCUPAÇÃO EM CAFEICULTORES


cou impressionado com a força da bacteriose. “Pensei que os danos foram causados por chuva de pedra porque o ataque foi muito rápido e destruidor. Está bem afetado, mais na parte onde venta mais na lavoura. É violento, bactéria como essa eu nunca tinha visto igual”, disse o produtor, que pensa em plantar alguma outra cultura para diminuir a incidência do vento nas lavouras de café. Pesquisadores da UFLA e Epamig, ligados ao INCT Café, estão estudando as espécies de bactérias responsáveis pelos danos nos viveiros e campo, bem como as condições climáticas que favorecem a doença e novas estratégias para o manejo da mesma. Os estudos passam pela resistência genética e novos produtos, menos nocivos ao homem e ao ambiente. Os pesquisadores também alertam que é necessário evitar que a mancha aureolada seja confundida com a mancha de phoma, doença causada pelo fungo Phoma tarda. A confusão resulta no agravamento dos danos porque as medidas adequadas de controle não são adotadas a tempo. O o diagnóstico correto da doença é fundamental para o seu controle. ATAQUE GENERALIZADO - Em todas as regiões produtoras de café do Brasil, os sintomas do ataque da Mancha Aureolada é observado com frequência. Na rede social Peabirus (www.peabirus.com.br) - com comunidades técnicas que debatem vários assuntos, inclusive a cadeia produtiva do café - vários são os relatos do problema. A foto da página anterior foi postado pelo cafeicultor Carlos Henrique, de Camacho (MG), no Peabirus. Segundo ele, “o problema está arrebentando com a lavoura e que já perdeu 60% da produção, com morte de parte das plantas”. Sérgio Martins Cerávolo, cafeicultor de Muzambinho

FOTO: Diulvação - Polo Excelência Café

CAFÉ

19

MAR 2013

Coordenador do INCT Café, Mário Lúcio Vilela de Resende, observando uma folha de café afe-tada pela mancha aureolada.

(MG) disse que já fez todos os tipos de tratamentos, mas afirma que são “paleativos”. “Quando a temperatura cai abaixo de 20°C, com chuva e/ou ventos, não há produto químico que segure o patógeno. Agora, consegui reduzir 90% da doença com o plantio de barreiras de vento, associada a aplicações com hidroxido de cobre, usando adesivo siliconado e evitando excesso de adubações nitrogenadas”. Já o pesquisador Alexandre Henrique Leonel, de Franca (SP), afirma estar desenvolvendo trabalhos de campo junto a cafeicultores orgânicos que tiveram problemas com Mancha Aureolada. Lavouras que estão recebendo tratamento com preparados homeopáticos apresentam menor sensibilidade à doença e uma recuperação bem destacada após episódios agudos. (Fonte: Peabirus e Polo de Excelência do Café - CarA los Camacho)


CAFÉ

O

Andréa Oliveira

bicho-mineiro é considerado a principal praga do cafeeiro, por ser sua ocorrência generalizada nos cafezais e pelos prejuízos quantitativos e econômicos causados por esse inseto na produção de café O bicho-mineiro das folhas do cafeeiro, Leucoptera coffeellum, foi disseminado, no Brasil, a partir de 1851, por meio de mudas de café, provenientes das Antilhas e da Ilha de Bourbon. É uma praga restrita à região Neotropical (América do Sul e Central e à maior parte das ilhas do Caribe). Atualmente, é considerado a principal praga do cafeeiro, por ser sua ocorrência generalizada nos cafezais e também pelos prejuízos quantitativos e econômicos causados por esse inseto na produção de café. O bicho-mineiro recebeu este nome vulgar pelo fato de a lagarta minar as folhas do cafeeiro. É uma praga monófaga, ou seja, só ataca o cafeeiro. Biologia do bicho-mineiro - As mariposas (adultos) do bicho-mineiro são microlepidópteros de hábito crespuscular-noturno. São bem pequenos, medindo aproximadamente 6,5 mm de envergadura, coloração geral prateada, apresentando em cada ponta das asas anteriores uma mancha circular preta e de halo amarelado. As asas posteriores são franjadas. Quando em repouso, as asas anteriores cobrem as posteriores. Durante o dia, as mariposas ocultam-se sob as folhas dos cafeeiros, na metade inferior das plantas. Para

FOTO: UFLavras

MAR 2013

FOTO: UFLavras

20

Bicho-Mineiro das folhas do cafeeiro RECONHECIMENTO E CONTROLE

vê-las, basta agitar a folhagem do cafeeiro a fim de que saiam voando. À tardinha, início do anoitecer, abandonam o esconderijo e iniciam suas atividades. Minas ou lesões nas folhas - “As minas ou lesões nas folhas, causadas pelo bicho-mineiro, transformam-se em áreas necróticas, mortas, e, consequentemente, em uma menor área fotossintetizadora, afirmam os professores Júlio César de Souza e Paulo Rebelles Reis, do curso “Pragas do Cafeeiro – Reconhecimento e Controle”, elaborado pelo CPT – Centro de Produções Técnicas. Como resultado do ataque do bicho-mineiro, ocorre, no período seco do ano, a queda das folhas minadas a partir do topo das plantas. Foto: reprodução. Queda das folhas minadas - Como resultado do ataque do bicho-mineiro, ocorre, no período seco do ano, a queda das folhas minadas a partir do topo das plantas. Dependendo da intensidade de infestação da praga, ocorrem desfolhas drásticas dos cafeeiros na época das floradas, com consequente redução na produção de café na safra seguinte. Mesmo nas infestações antecipadas do inseto, como, em abril, as folhas minadas também caem, resultado da presença de minas ou lesões nelas. Como o cafeeiro no Sul de Minas vegeta até maio, em uma grande emissão de folhas, a queda destas, nesse período, não resulta em desfolha drástica das plantas como aquela verificada no período seco do ano. Controle biológico natural - O controle biológico natural ocorre pela ação dos parasitoides (microhimenópteros) e vespas predadoras, encontrados naturalmente nas lavouras de café. Estes insetos procuram nas minas ou lesões das


folhas dos cafeeiros, lagartas do bicho-mineiro para parasitar ou predar. Alguns patógenos (bactérias e fungos) podem ocorrer, causando doenças e mortes em lagartas do bichomineiro. As bactérias Erwinia herbicola e Pseudomonas aeruginosa são apontadas como os microrganismos mais eficientes, até agora conhecidos, em epizootias de lagartas de bicho-mineiro. Os microhimenópteros parasitam e matam as lagartas do bicho-mineiro. Já as vespas predadoras, que constroem os seus ninhos, nos próprios cafeeiros ou em árvores e arbustos e outros suportes próximos das lavouras de café, voam e procuram, nas plantas, as lesões. Em seguida, rasgam com a mandíbula a epiderme da folha, na lesão, retiram as lagartas e as comem. Os inimigos naturais auxiliam o cafeicultor no controle do bicho-mineiro. A presença desses insetos e patógenos, nas lavouras de café, limita o controle químico dessa praga em determinadas épocas do ano. A eficiência dos insetos predadores está em torno de 69% de controle e dos parasitoides, em torno de 18%. No entanto, sob condições climáticas ideais, em determinadas épocas do ano, a infestação do bicho-mineiro evolui rapidamente, ocasião em que os inimigos naturais, por si só, não mais controlam a praga eficientemente, devendo o cafeicultor lançar mão também do controle químico. Controle químico - inseticidas granulados no solo - Os inseticidas sistêmicos granulados destacam-se pela elevada

FOTO: UFLavras

CAFÉ

21

MAR 2013

eficiência no controle do bicho-mineiro e pela importância que eles exercem no moderno conceito de manejo integrado de pragas. Estes devem ser aplicados no período chuvoso, no início ou ao seu final, dependendo da natureza dos produtos recomendados. Sua aplicação deve ser feita no solo, com incorporação, sempre que houver umidade, evitando-se, assim, qualquer contaminação de águas, pela erosão laminar, além da morte de aves, de animais e até do homem. Esta incorporação pode ser feita com o auxílio de granuladeiras (tratorizada ou tração animal), matracas e outros aplicadores próprios.


FOTO: UFLavras

CAFÉ

22 MAR 2013

A partir de sua aplicação no solo, os inseticidas granulados protegem os cafeeiros por um período máximo de 110-160 dias, aproximadamente, ou um pouco mais, dependendo de sua natureza (lipofílica ou polar), da dosagem e da época de sua aplicação dentro do período chuvoso. Da mesma forma, dependendo de cada produto, gastam de 25 a 40 dias para que sejam absorvidos pelas raízes e levados à parte aérea do cafeeiro (folhas) via xilema, quando é iniciado o controle do bicho-mineiro. Já atuando, matam as lagartas da praga, presentes em algumas poucas lesões nas folhas e previnem posteriores infestações. Esses produtos, uma vez absorvidos pelos cafeeiros via xilema e acumulados nas folhas, voltam ao floema e, depois, ao xilema para serem posteriormente levados e depositados em folhas novas emitidas nas extremidades de ramos, protegendo-as. Inseticidas em pulverização - O bicho-mineiro também pode ser controlado por meio da aplicação de inseticidas em pulverização,

em talhões, após constatação de 20% ou mais de folhas minadas no terço superior dos cafeeiros, em regiões de clima quente, ou 30% ou mais de folhas minadas, nos terços médio e superior, em regiões de clima ameno, como o Sul de Minas, considerando-se somente as folhas minadas com minas intactas, de qualquer tamanho, inclusive aquelas diminutas, denominadas de “cabeça-de-alfinete”. Portanto, devem-se descontar as folhas minadas com todas as suas minas ou lesões dilaceradas (rasgadas) por vespas, ou aquelas com todas as suas lesões sem epiderme superior. O controle químico deve ser feito somente nos talhões ou parte de talhões mais infestados, a fim de auxiliar na preservação dos inimigos naturais. Os inseticidas fosforados apresentam efeito de choque e uma ótima ação de profundidade, penetrando na folha e matando as lagartas da praga no interior das minas ou lesões. Como desvantagem, apresentam um curto efeito residual, aproximadamente de 20 a 35 dias, dependendo do produto. Ao contrário, os inseticidas piretróides apresentam um longo efeito residual e, praticamente, nenhuma ação de profundidade, não devendo, portanto, ser aplicados isoladamente, quando a praga já estiver ocorrendo no campo. Assim, a atuação dos inseticidas piretróides, pulverizados nas folhas, só se dará naquelas lagartinhas que eclodem dos ovos postos após a pulverização, pois estas penetram nas folhas para iniciar a formação das minas pela alimentação, ocasião em que ingerem o alimento, junto ao inseticida, e morrem. Os inseticidas recomendados para o controle do bicho-mineiro em pulverização poderão ser utilizados: - Em regiões cafeeiras, nas quais as infestações desse inseto são menores, em razão do clima ameno, tal como ocorre no Sul de Minas, onde se recomendam até duas pulverizações por ano; - Para complementar, durante o ano, o controle dos inseticidas granulados sistêmicos, naquelas regiões em que sempre ocorrem altíssimas infestações do bicho-mineiro, devido ao clima favorável; - Em qualquer região cafeeira, onde poderão ser feitas até três pulverizações por ano; - Em qualquer uma das três situações, cada pulverização a ser realizada dependerá de levantamentos da infestação do inseto nos talhões da lavoura. (Fonte: CPT– Centro de Produções Técnicas - www.cpt.com.br) A


CAFÉ

Três Pontas (MG) sediará em JUNHO A 16ª EDIÇÃO DA EXPOCAFÉ

A

16ª edição da EXPOCAFÉ será realizada entre os dias 11 e 14 de junho na Fazenda Experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - EPAMIG - em Três Pontas (MG). A programação terá início com o 4º Simpósio de Mecanização da Lavoura Cafeeira que acontece no dia 11. O Simpósio, que reúne pesquisadores, técnicos, produtores e estudantes, é exclusivo para participantes previamente inscritos. Nos dias 12, 13 e 14, a EXPOCAFÉ será aberta ao público, com a realização da exposição de equipamentos, máquinas e insumos e de eventos paralelos, como as dinâmicas de campo, nas quais produtores e operadores conhecerão o funcionamento de máquinas e equipamentos demonstrados pelas empresas fabricantes; cursos; palestras e reuniões técnicas. Considerada a maior feira do agronegócio café no Brasil e uma das principais difusoras de tecnologias no segmento, a EXPOCAFÉ oferece a produtores e representantes da indústria a oportunidade de conhecer e adquirir novidades em máquinas, equipamentos e insumos. Pelo quarto ano consecutivo, o evento será organizado pela EPAMIG que

iniciou, no último mês de dezembro, a comercialização das áreas para a edição 2013. 45% dos estandes já estão vendidos. “Até o dia 8 de fevereiro estamos atendendo aos expositores que participaram da edição 2012 e fizeram a pré-reserva de estandes. Após este período a venda será aberta a novas empresas. Até o momento temos uma lista de espera de 14 expositores”, informa Antônio Augusto Braighi, coordenador de Comercialização da EXPOCAFÉ. Para a edição 2013 estão previstos 180 estandes em uma área de exposição, de aproximadamente, 10 mil m2 . A expectativa é que 140 empresas participem do evento. Com o objetivo de melhorar a infraestrutura e facilitar o acesso de expositores e visitantes, a Comissão Organizadora da EXPOCAFÉ elaborou um projeto buscando o apoio dos governos estadual e federal para adequação da área de exposição. “Como a feira acontece em uma área aberta, ficamos sujeitos às variações climáticas. Para evitar que imprevistos e fenômenos naturais prejudiquem o acesso e a circulação do público estamos propondo três módulos de ações”, informa o A coordenador-geral da EXPOCAFÉ, Mairon Mesquita.

23

MAR 2013


CAFÉ

24 MAR 2013

Nutrição do Cafeeiro (parte 9) NA FRUTIFICAÇÃO DO CAFEEIRO

N

Renato Passos Brandão 1

a edição anterior da Revista Attalea Agronegócios foi abordado a interpretação da análise foliar de um determinado talhão de café arábica irrigado de um cafeicultor da região de Franca/ SP, cliente da Bio Soja. A produtividade do cafeeiro na safra 2011/12 foi de 75 sc. beneficiadas/ha e na safra anterior foi de 70 sc. beneficiadas/ha. Portanto, a produtividade média nas duas primeiras safras foi de 72,5 sc. beneficiadas/ha, bem acima da média nacional. Nesta safra, a expectativa de produtividade é de 50 a 55 sc. beneficiadas/ha proporcionando uma boa rentabilidade ao cafeicultor mesmo com a redução nas cotações do café. Até o presente momento, o café desta propriedade

1 - Engº agrônomo, Mestre em Solos e Nutrição de Plantas e Gestor Agronômico do Grupo Bio Soja.

Figura 1. Desenvolvimento vegetativo e carga pendente do cafeeiro arábica (talhão 7) no Sitio Rancho Alegre, Jeriquara/SP.

está com um exuberante desenvolvimento vegetativo e uma carga pendente que comprova a viabilidade agronômica e econômica do manejo nutricional com o acompanhamento através das análises de solo e foliares (Figura 1). A partir deste momento, será abordada a importância da nutrição na frutificação do cafeeiro e a sua influência na produtividade e no desenvolvimento vegetativo da cultura. Quando escutamos a palavra frutificação automaticamente passa pela nossa mente, lavouras de café com os ramos carregados de frutos vermelhos ou amarelos (Figura 2). Esta imagem nos remete para o momento que antecede a colheita do café. Entretanto, muita coisa ocorreu desde janeiro ou fevereiro de 2012 quando as gemas vegetativas induzidas pela fotoperiodismo (dias curtos) transformaram-se em gemas reprodutivas.

Figura 2. Cafeeiro em produção em plena frutificação.


A frutificação é a fase do cafeeiro na qual ocorre a formação dos seus frutos e é dividida em três fases: vingamento floral, desenvolvimento dos frutos e a maturação. O vingamento floral é a maturação das flores após a antese ou abertura das flores. No Sudeste Brasileiro, o vingamento floral ocorre entre setembro e dezembro. O desenvolvimento dos frutos do cafeeiro é caracte-rizado pelo aumento na massa seca e alterações na sua composição química e na sua coloração e pode ser dividida em três etapas: chumbinho, expansão dos frutos e granação. A primeira etapa do desenvolvimento dos frutos é denominada de chumbinho e ocorre entre setembro e novembro dependendo do início das primeiras chuvas. Nesta etapa, os frutos não apresentam crescimento visível. Na segunda etapa denominada de expansão dos frutos, ocorre uma rápida expansão dos frutos do cafeeiro até atingirem crescimento máximo por volta de dezembro. A granação, terceira fase do desenvolvimento dos frutos do cafeeiro, ocorre normalmente em pleno verão entre janeiro e março. A maturação dos frutos normalmente ocorre entre abril e junho. Nessa etapa, a evapotranspiração do cafeeiro decresce significativamente e as deficiências hídricas moderadas beneficiam a qualidade do produto. Neste momento, o cafeeiro em produção está na terceira etapa do desenvolvimento dos frutos que é denominada de granação. Conforme comentado anteriormente, a granação ocorre em pleno

CAFÉ

25

MAR 2013

Figura 3. Efeito das doenças, pragas, estresse hídrico e desequilíbrios nutricionais no cafeeiro.


CAFÉ Tabela 1 - Teores adequados dos nutrientes no cafeeiro arábica

em produção.

NUTRIENTE

26 MAR 2013

TEORES

Nitrogênio

29 a 32 g/kg

Fósforo

1,6 a 1,9 g/kg

Potássio

22 a 25 g/kg

Cálcio

13 a 15 g/kg

Magnésio

4,0 a 4,5 g/kg

Enxofre

1,5 a 2,0 g/kg

Boro

50 a 60 mg/kg

Cobre

11 a 14 mg/kg

Ferro

100 a 130 mg/kg

Manganês

80 a 100 mg/kg

Zinco

15 a 20 mg/kg

Fonte: Malavolta et al. (1997).

verão entre janeiro e março. É caracterizada pela solidificação dos líquidos dos frutos com acumulo de massa seca e alterações na composição química e na coloração dos frutos do cafeeiro originando os grãos. A partir de janeiro acentuase a cor verde do fruto (fase grão verde) e a partir de março ocorre a solidificação dos líquidos internos formando a semente propriamente dita. A granação é uma das fases que mais desgasta o cafeeiro. Os frutos em pleno desenvolvimento necessitam de grande quantidade de carboidratos ou fotoassimilados. Em safras de grande produção, o desenvolvimento vegetativo que será o responsável pela produção da próxima safra é seriamente afetado, pois as reservas de carboidratos e aquelas produzidas pela fotossíntese são preferencialmente direcionadas para o desenvolvimento dos frutos. Um estresse hídrico prolongado na granação do cafeeiro afeta negativamente a produtividade atual. Além disso, prejudica também a qualidade dos grãos do cafeeiro e o cresTabela 2 - Principais funções dos nutrientes no cafeeiro. NUTRIENTES Nitrogênio (N) Fósforo (P) Potássio (K) Cálcio (Ca) Magnésio (Mg) Enxofre (S) Boro (B) Cloro (Cl) Cobre (Cu) Ferro (Fe) Manganês (Mn) Molibdênio (Mo) Silício (Si) Zinco (Zn)

FUNÇÕES • Desenvolvimento vegetativo e síntese de clorofila • Estimula a formação e o desenvolvimento das gemas floríferas • Formação das raízes • Armazenamento e transferência de energia •Estimula o enchimento dos grãos diminuindo o chochamento • Maior tolerância do cafeeiro a seca, geadas, pragas e doenças • Formação da estrutura do cafeeiro (raízes, caules e folhas) • Aumenta a resistência do cafeeiro às doenças • Síntese de clorofila (fotossíntese) • Aumenta a absorção de fósforo do solo • Constituinte de três aminoácidos cistina, cisteína e metionina • Atua no desenvolvimento vegetativo e na frutificação do cafeeiro • Formação das raízes • Pegamento da florada • Enchimento dos grãos do cafeeiro • Atua na fotossíntese • Síntese de lignina aumentando a resistência do cafeeiro às doenças • Atua na fotossíntese. 70% do ferro das folhas estão nos cloroplastos • Atua na fotossíntese • Resistência do cafeeiro às doenças • Constituinte da enzima, redutase do nitrato, responsável pela conversão inicial do nitrogênio mineral em compostos nitrogenados orgânicos • Maior resistência do cafeeiro às pragas e doenças • Produção do triptofano, precursor do hormônio de crescimento, ácido indol-acético (AIA)

cimento vegetativo reduzindo a produtividade futura (Figura 3). De forma similar ao estresse hídrico, o desequilíbrio nutricional também afeta a atividade fotossintética reduzindo a síntese de carboidratos. Neste momento, qual a missão do cafeicultor? A missão do cafeicultor na frutificação do cafeeiro é manter a lavoura enfolhada com folhas sadias, com concentração adequada dos nutrientes e adotar práticas culturais que estimulem o aparecimento de novas folhas. Basicamente, o cafeicultor tem que realizar os procedimentos abaixo: 1. Manter as lavouras de café nutricionalmente equilibradas; 2. Adequado controle fitossanitário mantendo sob controle a infestação de pragas e doenças; 3. Minimização dos estresses hídricos. 1. Lavoura nutricionalmente equilibrada O equilíbrio nutricional é de extrema importância em todas as fases do cafeeiro com destaque para a fase da frutificação (Lei do Mínimo - “A produtividade de uma cultura é limitada pelo nutriente que estiver em menor disponibilidade no solo, mesmo que os demais estejam disponíveis em quantidades adequadas”). Qualquer desequilíbrio nutricional pode comprometer um ou mais processos metabólicos prejudicando o desenvolvimento do cafeeiro e a sua produtividade na safra corrente e nas próximas safras. Além disso, dependendo da intensidade dos desequilíbrios nutricionais, pode ocorrer também redução na longevidade do cafeeiro. Na Tabela 1 têm-se a faixa adequada dos nutrientes nas folhas do cafeeiro arábica em produdução. Atualmente, há tabelas regionalizadas que devem ser utilizadas pelos cafeicultores e profissionais envolvidos com a cafeicultura. Por exemplo, no Estado de Minas Gerais, há tabelas de interpretação da análise foliar em cafeeiro para as diversas regiões produtoras. Conforme comentado na edição anterior, a análise foliar realizada na fase do chumbinho (dezembro a janeiro) é essencial para avaliação do estado nutricional do cafeeiro. Se o teor de um ou mais nutrientes estiver fora da faixa adequada (Tabela 1), é possível realizar as devidas correções nas adubações de solo e foliares a serem realizadas entre fevereiro e março maximizando o potencial produtivo do cafeeiro. Na Tabela 2 há um resumo das principais funções dos nutrientes no cafeeiro. É importante mencionar que todos os nutrientes estão interrelacionados. Por exemplo, o magnésio é constituinte da clorofila que realiza a fotossíntese. A energia produzida na fotossíntese é utilizada pelo cafeeiro e o excedente é armazenado como ATP que necessita do fósforo. O nitrogênio é o constituinte da clorofila conferindo o verde característico das folhas bem nutridas e é responsável pelo bom desempenho fotossintético do cafeeiro.


CAFÉ Tabela 3 - Análise foliar do cafeeiro arábica realizada em 9 de

janeiro de 2013 (Talhão 7 - Sítio Rancho Alegre, Jeriquara/ SP) NUTRIENTE

UNIDADE

TEOR DO NUTRIENTE

FAIXA ADEQUADA1

Nitrogênio (N)

g/kg

32,71

29 a 32

Fósforo (P)

g/kg

1,34

1,6 a 1,9

Potássio (K)

g/kg

24,76

22 a 25

Cálcio (Ca)

g/kg

11,35

13 a 15

Magnésio (Mg)

g/kg

4,12

4,0 a 4,5

g/kg

2,47

1,5 a 2,0

Boro (B)

mg/kg

93,12

50 a 60

Cobre (Cu)

mg/kg

11,99

Ferro (Fe)

mg/kg

128,70

100 a 130

Manganês (Mn)

mg/kg

189,60

80 a 100

Zinco (Zn)

mg/kg

12,99

15 a 20

Enxofre (S)

11 a 14

* Fonte: Malavolta et al. (1997).

O cafeeiro demanda uma grande quantidade de água e nutrientes que são fornecidos pelo solo. Portanto, para que o cafeeiro tenha um sistema radicular bem desenvolvido e exuberante é necessário quantidades adequadas de fósforo, cálcio e boro nos solos. Portanto, o diagnóstico do estado nutricional do cafeeiro com análises foliares na frutificação permite as correções das deficiências e toxidez dos nutrientes maximizando o potencial produtivo da cultura (Tabela 3). O teor do nutriente em vermelho está abaixo da faixa adequada necessitando de uma maior dosagem do nutriente em relação as adubações anteriores. Por exemplo, se o teor de zinco nas folhas estiver abaixo da faixa adequada (Tabela 3) na próxima adubação foliar aumentar a dosagem do fertilizante foliar fornecedor deste nutriente.

O teor do nutriente em azul está acima da faixa adequada ao cafeeiro em produção. Neste caso, as adubações programadas na frutificação do cafeeiro podem ser eliminadas ou a dosagem dos fertilizantes pode ser reduzida levando-se em consideração o teor foliar do nutriente e o histórico do talhão. Por exemplo, o teor de boro nas folhas do cafeeiro em produção (Tabela 3) está acima da faixa adequada. Neste caso, teríamos que analisar o histórico das adubações com boro. O boro foi aplicado no solo e via foliar? Qual a dosagem do nutriente aplicado desde o início da safra 2012/13? Como foi o regime pluviométrico neste período e como estão as chuvas a partir da coleta das folhas do cafeeiro em produção? Na safra 2011/12, um talhão de café em produção estava também com o teor de boro nas folhas acima da faixa adequada. Neste talhão não tinha sido aplicado boro no solo e foi realizado três adubações foliares com fertilizantes fornecedores de boro. A adubação foliar com boro foi eliminada da última adubação foliar (fevereiro de 2012). Cerca de 35 dias após a última adubação de solo e foliar foi realizada uma reamostragem das folhas do cafeeiro e foi constatado que o teor de boro nas folhas estava abaixo da faixa adequada. Portanto, para que possamos ter sucesso no manejo nutricional do cafeeiro é importante conhecer muito bem o histórico do talhão. As adubações de solo e foliares a serem realizadas na frutificação têm por finalidade manter os nutrientes na faixa adequada ao cafeeiro (Tabela 1). Os desequilíbrios nutricionais também aumentam a susceptibilidade do cafeeiro às doenças fungicas (ferru-

27

MAR 2013


CAFÉ

28 MAR 2013

gem, cercosporiose ou mancha de olho pardo ou olho de pomba, phoma, mancha de aschocita e complexo seca dos ponteiros). Teores foliares de cálcio na faixa adequada proporcionam menor intensidade das doenças no cafeeiro. A deficiência de nitrogênio, cálcio e magnésio aumenta a incidência da cercosporiose principalmente em lavouras com alta carga pendente e em solos com alto teor de potássio. O desequilíbrio entre o nitrogênio e o potássio favorece a incidência da doença. Os mecanismos de defesa das plantas, dentre os quais, o cafeeiro, são regulados por vários nutrientes. O manganês, o cobre, o ferro, o boro e o cobalto estão envolvidos na síntese de vários compostos orgânicos que auxiliam nos processos de defesa das plantas, como na dos fenóis, quinonas e ligninas. 2. Adequado controle fitossanitário mantendo baixa infestação de pragas e doenças Um dos objetivos do controle fitossanitário é manter o maior enfolhamento do cafeeiro. Quanto maior o enfolhamento do cafeeiro, maior é o pegamento da florada e provavelmente, a produtividade será bem maior. Entretanto, em safras com alta carga, o cafeeiro tente a ficar muito mais susceptível às pragas e doenças. Portanto, os cuidados para o controle das pragas e doenças devem ser redobrados em cafeeiros com altas cargas pendentes para evitar o desfolhamento precose do cafeeiro. 3. Minimização dos estresses hídricos. A irrigação é um dos principais aliados do cafeicultor. A irrigação é um fator de garantia dos investimentos realizados nas lavouras do cafeeiro. Os déficits hídricos sucessivos na frutificação do cafeeiro causam uma série de prejuízos ao cafeeiro, dentre os quais: a) - Redução no desenvolvimento do cafeeiro; b) - Redução no tamanho dos frutos; c) - Redução no rendimento coco/beneficiado; d) - Compromete a produtividade e a qualidade dos frutos do cafeeiro. O estresse hídrico também provoca a morte das raízes finas e pode causa dependendo da sua intensidade, uma maior desfolha do cafeeiro. Adubações de solo e foliares na frutificação do cafeeiro a) - Adubações de solo Nesta fase do cafeeiro, realizar a última ou as últimas adubações nitrogenadas e potássicas no solo. A dosagem de nitrogênio e potássio a ser utilizada no cafeeiro em produção leva em consideração a carga pendente (expectativa de produtividade), o teor de potássio no solo e o histórico do talhão (por exemplo, análises de folhas, desenvolvimento das plantas e aspecto visual). A dosagem destes nutrientes deve ser ajustada levando-se em conside-

ração uma nova avaliação da expectativa de produtividade e os teores foliares destes dois nutrientes, ambas as etapas realizadas na granação do cafeeiro (dezembro a janeiro). Se o teor de nitrogênio e potássio nas folhas do cafeeiro estiver na faixa adequada, manter a dosagem de nitrogênio e potássio previamente ajustadas no início da safra. Se os teores destes dois nutrientes, estiverem abaixo da faixa adequada (Tabela 1), aumentar a dose dos nutrientes em 25%. Utilizar preferencialmente o nitrogênio na forma nítrica ou amoniacal (nitrato de amônio ou nitrato de cálcio). Desta forma, o cafeicultor minimiza as perdas de nitrogênio por volatilização (N-NH3). Umas das melhores fontes de nitrogênio para o cafeeiro é o nitrato de cálcio fornecendo o nitrogênio nítrico (N-NO3-) e cálcio prontamente disponível. Entretanto, o preço do nitrato de cálcio é bem superior aos demais fertilizantes nitrogenados. Se o teor de fósforo nas folhas do cafeeiro estiver na faixa adequada, na próxima safra, manter a dosagem do fósforo aplicada no início da estação das chuvas. Caso contrário, aumentar a dose do fósforo aplicado no solo em pelo menos 25%. Sempre utilizar fertilizantes fosfatados com substâncias húmicas para minimizar as perdas do fósforo por fixação. As substâncias húmicas tem a capacidade de “proteger” o fósforo no solo melhorando a eficiência das adubações fosfatadas no cafeeiro. Neste momento, é importante salientar a importância da adubação com cálcio no cafeeiro em produção. O cálcio é um dos nutrientes mais absorvidos pelo cafeeiro e tem uma grande influência na resistência do cafeeiro às doenças fungicidas. Tem sido verificado que teores adequados de cálcio nas folhas do cafeeiro aumentam a sua resistência às doenças. Portanto, é necessário que o cafeicultor sempre acompanhe através da análise de solo, os teores dos nutrientes no solo com destaque para o cálcio, magnésio e potássio. Altos teores de potássio no solo reduz a absorção do cálcio e predispõe o cafeeiro às doenças. Na Tabela 3 verifica-se que o teor de cálcio nas folhas do cafeeiro está ligeiramente abaixo da faixa adequada. Neste caso, verificar a saturação de bases do solo e a porcentagem das bases do solo (cálcio, magnésio e potássio). A fonte mais econômica para o fornecimento de cálcio ao solo é o calcário e o gesso agrícola. Eventualmente, pode ser aplicado o nitrato de cálcio. Se o teor de enxofre nas folhas do cafeeiro estiver abaixo da faixa adequada, realizar a aplicação do sulfato de amônio como fonte de enxofre e nitrogênio. Eventualmente, aplicar o gesso agrícola como fonte de enxofre (500 kg/ha). Se o teor de magnésio nas folhas do cafeeiro estiver abaixo da faixa adequada, realizar a aplicação do Gran Magnésio 30 na dosagem de 150 a 200 kg/ha (45 a 60 kg/ha de Mg). Na análise foliar (Tabela 3), o teor de magnésio está na faixa adequada ao cafeeiro. O Gran Boro Mag na dosagem de 200 kg/ha aplicado antes do florescimento do cafeeiro


CAFÉ foi eficiente fornecimento do magnésio. Neste caso, o Gran Boro Mag só será utilizado antes do florescimento do cafeeiro (agosto ou setembro de 2013). O teor de boro nas folhas do cafeeiro está bem acima da faixa adequada. De forma similar ao magnésio, o Gran Boro Mag também foi eficiente no fornecimento de boro ao cafeeiro em produção. Neste caso específico, não há necessidade da aplicação do boro via foliar em fevereiro/março deste ano pois o boro no solo está sendo suficiente para manter o seu teor na faixa adequado no cafeeiro em produção. Em solos arenosos e de textura média, se o teor de zinco nas folhas do cafeeiro estiver abaixo da faixa adequada, realizar a aplicação do NHT® Zinco no drench na dosagem de 2 L/ha. b) - Adubação foliar Baseado nos resultados da análise foliar, realizar a aplicação dos fertilizantes foliares na frutificação do cafeeiro. Bioamino® Extra: realizar uma aplicação foliar na dosagem de 1 L/ha. Em cafeeiros com desfolha ou desenvolvimento vegetativo abaixo do adequado, aumentar a dosagem para 2 L/ha Fertilis® Fosfito 28-26: fertilizante foliar responsável pela síntese de fitoalexinas pelo cafeeiro aumentando a resistência do cafeeiro às doenças. A dose do produto é de 1,0 a 1,5 L/ha. Naft® ou Silkon®: realizar uma ou duas aplicações destes produtos na dosagem de 100 a 200 mL/ha. NHT® Cobre Super: realizar uma ou duas aplicações foliares na dosagem de 300 mL/ha. A maior dosagem do produto deve ser aplicada em lavouras com o teor de cobre abaixo da faixa adequada. NHT® Magnésio: realizar de uma a duas aplicações foliares na dosagem de 1 L/ha. Em cafeeiros com teor do magnésio abaixo da faixa adequada, realizar a aplicação do Gran Boro Mag ou do Gran Magnésio no solo na dosagem de 150 a 200 kg/ha. NHT® Manganês +: em solos sob cerrado ou com baixo teor de manganês, realizar uma ou duas aplicações foliares na dosagem de 1,5 a 2,0 L/ha. NHT® Mega K: realizar duas aplicações foliares na dosagem de 1 a 1,5 L/ha com intervalo médio de 30 dias. NHT® P-Boro-P: realizar uma aplicação foliar na dosagem de 500 mL a 1 L/ha. A maior dosagem do produto deve ser aplicada em lavouras com o teor de boro abaixo da faixa adequada. NHT® Zinco: realizar uma aplicação foliar na dosagem de 150 a 300 mL/ha. A menor dosagem

do NHT® Zinco é para a manutenção do teor foliar do zinco na faixa adequada. Se o teor de zinco nas folhas for muito superior a faixa adequada, cancelar a adubação foliar com o NHT® Zinco. Considerações finais A frutificação é a fase que antecede a colheita do café e neste momento, o cafeicultor não pode descuidar do manejo das suas lavouras. A manutenção da área foliar é premissa para a obtenção de uma boa produtividade e a manutenção do potencial produtivo para as próximas safras. Realizar o manejo nutricional e o controle fitossanitário minimizando ao máximo os estresses que possam proporcionar desfolha do cafeeiro. Se houver disponibilidade de água, o cafeicultor precisa fazer uso da irrigação visando a obtenção de altas produtividades no cafeeiro. Mesmo nas regiões cafeeiras tradicionais aonde o déficit hídrico não é muito acentuado, a irrigação quando bem manejada proporciona maior uniformidade da florada e do pegamento das flores e dos chumbinhos, maior enfolhamento do cafeeiro e aumenta a produtiviA dade da cultura.

29

MAR 2013


MAR 2013

ARTIGO

30

A ANÁLISE DA INCONSTITUCIONALIDADE SOBRE A COBRANÇA EXIGIDA DE PRODUTORES RURAIS (físico ou jurídico) André Antunes - Advogado, especialista na área de Defesa do Consumidor e Direito Agrário.

O presente artigo busca, de forma sucinta e didática, mostrar as considerações feitas à cobrança já declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal exigida de produtores rurais, sejam pessoas naturais (físicas) ou jurídicas – o Funrural. Procurou-se evitar, na medida do possível, o excesso de citações de artigos de Lei, para que haja uma maior compreensão do leitor sobre o tema, bem como propiciar uma explanação simples e prazerosa. 1. INTRODUÇÃO Segundo FREITAS1: “Há muito tempo a agropecuária desempenha um papel de grande importância no cenário da economia nacional, além disso, foi uma das primeiras atividades econômicas a serem desenvolvidas no país. (...) A atividade agropecuária no Brasil representa 8% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro e gera emprego para pelo menos 10% da população economicamente ativa do país”. No Brasil, em tempos antigos, os escravos é que foram os trabalhadores que se dedicaram às atividades agrícolas, pecuárias ou extrativistas, atividades estas que foram gradativamente evoluindo para a dedicação dos trabalhadores informais - os exploradores de pequenas propriedades. Porém não se tinha, à época, qualquer mecanismo legal que visasse proteger esta classe de trabalhadores de forma diferenciada daqueles mecanismos protetivos aplicados ao trabalhador urbano, eis que não eram contribuintes diretos da previdência social. Assim, diante desta necessidade protetiva, foi sancionada no ano de 1955 a Lei 2.613 (FUNRURAL) que, com o passar dos anos, aperfeiçoou-se até a promulgação da Lei complementar nº. 11 de 1971, vindo a instituir o Programa de Assistência do Trabalhador Rural, mais conhecido como PRORURAL, legislação essa que definiu a hipótese de incidência, base de cálculo e o próprio sujeito passivo da obrigação tributária/previdenciária, incidente sobre a venda dos produtos rurais, e também sobre a folha de salários. Após diversas alterações, principalmente no que se refere às alíquotas definidas pela Lei complementar nº. 11 de 1971, para fins de custeio do PRORURAL, fora promulgada

a Carta Política de 1988, sendo que a partir da nova Constituição, o sistema Previdenciário brasileiro fora unificado, independente de ser o trabalhador urbano ou rural, de sorte que a matéria é hoje disciplinada pela Lei 8.212/91, legislação essa que veio regulamentar o disposto no artigo 195 da Constituição Federal, que sofrera algumas modificações desde sua entrada em vigor, até a presente data. 2. A INCONSTITUCIONALIDADE DO FUNRURAL A partir da Constituição de 1988, no Brasil passou a existir apenas um único regime de previdência, o qual abriga toda a sociedade (seja pessoa física ou jurídica), de sorte que novas contribuições diversas daquelas já definidas no texto constitucional, somente poderiam ser criadas por meio de Lei Complementar. Conforme mencionamos a Lei que regula o Funrural é a Lei 8.212/91, e como tal, trata-se de uma Lei Ordinária. Além disso, veio a estabelecer de maneira equivocada uma nova fonte de contribuição para a seguridade social, qual seja, a cobrança de contribuição incidente sobre a comercialização da produção do EMPREGADOR RURAL, contribuição essa que deveria ter se limitado tão somente sobre a produção daqueles que trabalhem exclusivamente em REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR, SEM EMPREGADOS PERMANENTES, nos exatos termos do § 8º. do artigo 195 da CF/88. 2.1 A DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DO FUNRURAL PELO STF Basicamente a inconstitucionalidade do Funrural teve enfrentamento perante o Supremo Tribunal Federal através do Recurso Extraordinário número 363.852, originário do Estado de Minas Gerais, cuja relatoria ficou a cargo do Ministro Marco Aurélio Mello, deixando claro que: “Assevera-se que o resultado da comercialização da produção constituía base de cálculo da contribuição social apenas para os produtores rurais que exercessem suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados, sendo inviável que se estendesse tal hipótese de incidência, mediante lei ordinária, aos demais empregadores rurais, equiparando-os aos segurados especiais”. A contribuição a qual menciona o art. 195, § 8º. da Constituição Federal (Funrural), é para uma classe diferenciada ou seja, para o SEGURADO ESPECIAL.


ARTIGO O segurado especial é o produtor rural que exerce a sua atividade individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com auxílio eventual de terceiros, sem utilização de empregados, ou seja, o produtor rural que não exerce suas atividades em regime de economia familiar e que tem empregados está, segundo o STF, isento desta cobrança. 3. CONSIDERAÇÕES ACERCA DO FUNRURAL E AS PESSOAS JURÍDICAS Além das inconstitucionalidades supra citadas para as pessoas físicas no que pertine à cobrança do Funrural, a pessoa jurídica possui ainda uma peculiaridade a mais. Em 1991 a União instituiu a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – a COFINS, exercendo a competência conferida para tributar o faturamento (receita bruta) de toda e qualquer pessoa jurídica. A Cofins, portanto, fora criada com o objetivo de levar a efeito a competência conferida a União para a tributação dos ingressos financeiros inerentes à atividade das pessoas jurídicas, sejam elas rurais ou urbanas, produtoras, vendedoras ou prestadoras de serviço, exaurindo, portanto, qualquer possibilidade de a União instituir “nova” contribuição sobre a mesma base de cálculo. Todavia, como já sinalizado, não foi o que ocorreu: em seguida à instituição da Cofins, em 1994, o legislador instituiu outra contribuição sobre o faturamento ― desta vez sobre o faturamento da pessoa jurídica produtora rural ―, passando, no caso, tal entidade a recolher duas contribuições de hipóteses materiais idênticas - a COFINS e o Funrural - o que, na forma como está posto, é vedado pelo sistema. Em suma, na forma que está na Lei, hoje cobra-se da pessoa jurídica duas contribuições com idênticos fato gerador e base de cálculo – a Cofins e o Funrural. 4. PRESCRIÇÃO Segundo a maioria da jurisprudência, estão prescritas, ou seja, não dá mais para discutir em juízo, as parcelas anteriores à 5 (cinco) anos do ajuizamento da ação do Funrural, sendo restituíveis os valores pagos em 5 (cinco) anos anteriores ao ajuizamento do processo judicial. 5. SENAR A contribuição devida ao SENAR, de 0,2% sobre a receita bruta da comercialização da produção, prevista no artigo 1º da Lei nº 8.315/91, artigo 2º da Lei 8.540/92 e na Lei 9.528/97, com a redação dada pela Lei 10.256/2001, continua sendo obrigatória, eis que a mesma não faz parte do FUNRURAL, ainda que seja sobre o valor da comercialização da produção e recolhida na mesma GPS – Guia da Previdência Social, pois possui natureza jurídica distinta e o SFT declarou inconstitucional tão somente a contribuição devida à previdência social, não eximindo nenhum produtor rural de efetuar o recolhimento da contribuição ao SENAR. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como visto, o Funrural foi criado para beneficiar uma classe de trabalhadores rurais, por isso que é chamado de tributo extra-fiscal. Porém, não fora criado de forma correta,

ou seja, pelos ditames esculpidos na Constituição Federal, haja vista que fora criado por Lei Ordinária ao invés de ter sido instituído por Lei Complementar. Assim, os trabalhadores rurais, pessoas físicas e jurídicas, possuem o direito de restituição deste tributo por sua flagrante inconstitucionalidade, devidamente explicitadas nos tópicos anteriores. Neste sentido, o que veio com o objetivo de ser uma proteção aos trabalhadores rurais acabou por prejudicar uma classe de trabalhadores que são isentos desta cobrança – os trabalhadores rurais que não trabalham sobre o regime de economia familiar e possuem empregados, bem como as pessoas jurídicas que comercializam seus produtos rurais. Portanto, muitos produtores rurais que serão beneficiados com a restituição dos valores cobrados indevidamente, poderão investir estes valores agregando-os em insumos e matérias-primas para beneficiar a sua própria produção rural. Assim, pensamos que acertou o Supremo Tribunal Federal quando declara a inconstitucionalidade da cobrança do Funrural para pessoas físicas que não trabalham sobre o regime de economia familiar e que tenha empregados, bem como as pessoas jurídicas, posto que já contribuem com a Cofins. Este artigo não se esgota em si mesmo, sendo apenas um breve explicativo do tributo Funrural bem como a declaração de sua inconstitucionalidade proferida pelo Supremo Tribunal Federal. BIBLIOGRAFIA FREITAS, Eduardo de. A Importância da Agropecuária Brasileira. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/brasil/aimportancia-agropecuaria-brasileira.htm>. Acesso em 13/02/2012. SABBAG. Manual de Direito Tributário. São Paulo: Editora Saraiva. 2012. SENAR. Serviço Nacional de Aprendizagem Rural . Disponível em: http://www.senarminas.org.br/. Acesso em 2012. A

31

MAR 2013


32 MAR 2013


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.