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ORGÂNICOS ORGÂNICOS ENTREVISTA
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Falta de chuvas afeta agricultura e pecuária em todas as regiões
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Devido ao desabastecimento em praticamente todos os municípios do Estado de São Paulo, a agricultura e a pecuária foram os primeiros setores econômicos a serem “responsabilizados” pelo DESPERDÍCIO..... Além de ser ‘obrigado’ a manter por sua conta e expensas a preservação de nascentes, responsáveis por “matar a sede” da população e a indústria nos ambientes urbanos, o Agropecuarista Brasileiro necessita urgente do apoio e compreensão de todos.
Revista Attalea estimula realização de Dia-de-Campo
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O evento foi realizado pela CATI e APOFRAN no Sindicato Rural de Patrocínio Paulista (SP) e no Recanto Macaúbas e teve por objetivo observar o comportamento das variedades na Alta Mogiana.
Cool Seed “substitui” terreiros e secadores de café
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A Cool Seed vêm desenvolvendo desde o ano de 2004 um novo sistema de secagem para evitar o uso de terreiros e substituir a queima de lenha e gás: o Secador de Bandejas (SBJ).
Maurício Miarelli
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Em entrevista exclusiva para a Revista Attalea Agronegócios, o atual presidente da COCAPEC e diretor do CNC, fala sobre a importância do marketing para a promoção dos “Cafés do Brasil” e a polêmica da instalação da fábrica da Nestlé no Brasil.
AMSC realiza 12º Concurso de Qualidade de Café
CAFÉ
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falta de chuvas em praticamente todo o Sudeste brasileiro nos últimos meses foi o estopim para uma série de críticas que recaíram primeiramente sobre o Governo (Estadual ou Federal), sobre as práticas ‘levianamente’ materialistas, como a ocupação desenfreada da cana de açúcar em praticamente todo o Estado de São Paulo. Mas, acima de tudo, sobre quem ou o quê consome a maior parte da água doce que o País possui. Para grande parte da população - do qual considero deve ser por falta de conhecimento sobre o assunto - os grandes culpados pela falta de água são as práticas agrícolas e pecuárias. Sim, aquelas que produzem o alimento que chega à mesa do brasileiro todos os dias. Por um lado, considero sim que podem ser grandes usuários de água doce. Mas não os “criminosos” como estão sendo taxados. O Brasil é um dos poucos países do Mundo que possui uma legislação ambiental específica sobre o uso correto da água na agricultura e pecuária. Mas ainda possui muitos proprietários rurais que desconhecem a lei que obriga a outorga pelo uso da água para uso na agricultura ou pecuária. Nesta edição retratamos a situação crítica em algumas atividades, como a cafeicultura na Alta Mogiana, mas também a importância da conscientização da classe política brasileira e de toda a população sobre o papel do agricultor na “produção de água”, seja para o abastecimento urbano, seja para a produção de alimentos. Retratamos o excepcional exemplo da cidade mineira de Extrema, que pode servir de parâmetro para outros municípios de nossa região. Na atividade leiteira, publicamos importante artigo que mostra o comparativo econômico entre propriedades leiteiras em sistema intensivo de produção. Na produção orgânica, retratamos o Dia de Campo de Batata Orgânica, organizado pela CATI e APOFRAN em Patrocínio Paulista (SP), a partir de matéria publicada anteriormente por esta revista. Em entrevista especial, Maurício Miarelli, presidente da COCAPEC e diretor do CNC fala sobre a importância do marketing na promoção dos “Cafés do Brasil”. Boa leitura a todos!
EQUINOS
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Crise Hídrica: São Pedro, falta de investimento ou erros de estratégia?
DESTAQUE: Crise Hídrica
EDITORIAL
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O Concurso reforçou a necessidade de reerguer o nome da Alta Mogiana como importante região produtora de cafés no Brasil e no mundo e do seu reconhecimento pela inigualável qualidade.
Franca (SP) realiza neste mês a 1ª Festa do Cavalo
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Acontece de 06 a 09 de novembro o evento que passa a representar oficialmente todas as atividades equestres esportivas desenvolvidas e praticadas na região de Franca (SP).
MÁQUINAS
Primeira colhedora de café do mundo comemora 35 anos
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Produtores de café investem na tecnificação da lavoura
6 FOTO: Divulgação LS Tractor
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contatos GEOVANA FERNANDA JOANA (geovanajoana@yahoo.com.br) Estudante do IFET - Barbacena (MG). “Sou estudante de Agronomia e visitei o estande da Revista Attalea Agronegócios na Hortitec 2014. Ganhei um exemplar, que foram muito úteis em meus estudos. Gostaria de recebê-la”. DOUGLAS AVILA E SILVA (douglas.silva@syngenta.com) RTV Syngenta Café - São Sebastião do Paraíso (MG). “Gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios em minha residência. Aprecio muito as matérias publicadas”. JAIR SCHULZ (jairschulz@ig.com.br) Comércio de Café - Santa Maria de Jetibá (ES). “Gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”. GUILHERME PAZETO (guilhermep_@hotmail.com) Empresário - Franca (SP). “Quero receber a Revista Attalea Agronegócios”.
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redução da mão de obra no campo e a necessidade de aumentar a produtividade têm levado os pequenos produtores de café, do sul e sudoeste de Minas Gerais, e do noroeste de São Paulo, a tecnificarem cada vez mais a lavoura de café. Um dos vértices desta tecnificação é a mecanização e, geralmente, ela começa pela aquisição de um trator, pois é uma ferramenta que agiliza a realização de várias atividades do campo. E como na maioria das vezes são pequenas as propriedades, os tratores de baixa potência são os mais utilizados. Com o objetivo de atender a esta demanda, a sulcoreana LS Mtron, fabricante dos tratores LS, especialista em produtos para pequenas e médias propriedades, oferece para este mercado os tratores R60 e U60, especialistas e a melhor solução para a cafeicultura. “Entramos no mercado mineiro pela região sul e sudeste e ainda no noroeste paulista. Temos quatro concessionárias que atendem diretamente ao produtor de café e estamos percebendo a reação positiva que eles demonstram quando experimentam as tecnologias, as inovações que estão embarcadas nos nossos tratores”, ressalta o diretor comercial e de marketing, André Rorato. Ele cita como exemplo, o menor raio de giro da categoria, (55 º), inversor de frente e ré sincronizado (Syncro Shuttle) garantindo maior agilidade e rapidez nas operações, super redutor, direção hidrostática ajustável garantindo melhor ergonomia, maior vão livre (altura do solo de 50,7 cm), transmissão 16 x 16, super redutor de velocidade, (160m/h) e tomada de força de três velocidades standart, “Mesmo nos tratores de baixa potência, como é o caso dos modelos U60 C (cabinado), R60 e R50, que são os destaques da LS Tractor nesta feira e que já estão aprovados para financiamentos por todas as linhas do BNDES”, destaca Rorato.
ALEX PELENTIR (a.pelentir@hotmail.com) Produtor Rural e Tecnólogo em Agropecuária Integrada - Santo Antônio das Missões (RS). “Solicito a assinatura da Revista Attalea Agronegócios”. ADELINO ROBERTO BERNARDES SEMBOLONI (asemboloni@yahoo.com.br) Produtor de Cafés Especiais - Fazenda dos Tachos - Varginha (MG). “Tomei conhecimento da revista e gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios”. ROSANO DE SOUZA LIMA (rosano.s.lima@hotmail.com) Produtor Rural e Estudante de Agronomia - São Sebastião do Paraíso (MG). “Gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”. DÉBORA GOULART FERREIRA (deboragoulartferreira@hotmail.com) Médica Veterinária - Alfenas (MG). “Gostaria de atualizar o meu endereço, pois já sou cadastrada. Gosto muito da revista e gostaria de continuar recebendo a Revista Attalea Agronegócios”.
QUER ASSINAR? Para assinar a Revista Attalea Agronegócios, acesse o nosso site: www.revistadeagronegocios.com.br e preencha corretamente as informações na aba Fale Conosco.
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Arrefecem a produção e as vendas de máquinas agrícolas automotrizes Celso Luis Rodrigues Vegro Célia Regina Roncato Penteado Tavares Ferreira 2 1
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mercado de máquinas agrícolas automotrizes exibiu, no primeiro semestre de 2014, acentuada queda no total das vendas (-18%), frente a igual período do ano anterior. Nos primeiros seis meses do ano, foram produzidas 40.407 máquinas agrícolas, representando 7.970 máquinas a menos que a quantidade contabilizada no primeiro semestre de 2013. Tanto as vendas para o mercado interno quanto as exportações declinaram, empurrando para baixo o desempenho do segmento (Tabela 1). Dentre os tipos de máquinas fabricados (tratores de rodas, colheitadeiras, cultivadores motorizados, tratores
AUTORES 1 - Engº Agrônomo e Pesquisador do IEA - Instituto de Economia Agrícola. Email: celvegro@iea.sp.gov.br * Publicado originalmente na revista “Análise e Indicadores do Agronegócios”, vol. 9, nº 8, do IEA (www.iea.sp.gov.br), de agosto de 2014.
de esteiras e retroescavadeiras), a queda dos indicadores (produção, vendas para o mercado interno – nacionais/importadas - e exportações) foi generalizada, excetuando-se as exportações de tratores de esteiras e de retroescavadeiras, com elevação de 56,7% e 14,4%, respectivamente. Os cultivadores motorizados foram os itens com menores percentuais de queda nas vendas totais, com singelos -2,8% de declínio no período. Quanto ao trator de roda, item de maior procura pelos agricultores e de maior volume de produção pelas montadoras, houve encolhimento do mercado com decréscimo de -17,8% nas vendas totais. Com preços de seus produtos depreciados, segmentos como o sucroenergético, oleaginosas e milho não deverão alavancar a demanda por máquinas. Todavia, como existe sazonalidade na venda de tratores de rodas, é possível que essa tendência de encolhimento do mercado seja parcialmente mitigada pelas encomendas efetuadas para entregas no segundo semestre de 2014. Outros indicadores dos demais itens fabricados pelas montadoras seguiram alinhados com o desempenho dos tratores de rodas, ou seja, com queda nas vendas totais de 24,2% nas colhei-
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tadeiras e de 30% no segmento de retroescavadeiras. O declínio do mercado de máquinas agrícolas, aparentemente, não afetou o número de postos ocupados nas montadoras, pois, no primeiro semestre de 2014, houve contratação de 113 novos funcionários, totalizando 20.869 empregados. Em contrapartida, dificilmente a receita cambial repetirá os US$ 3,55 bilhões contabilizados em 2013, pois, entre janeiro e junho de 2014, ela foi de apenas US$ 1,53 bilhão. Tradicionalmente, o mercado externo para máquinas agrícolas automotrizes brasileiras é concentrado no bloco de países que compõem o MERCOSUL e alguns poucos países africanos. A crise econômica instalada na Argentina, principal destino das exportações brasileiras, puxou as vendas para baixo. As quantidades comercializadas mais expressivas são esperadas para o segundo semestre do ano, coincidindo com o plantio da safra de verão no Centro-Sul (Figura 1). Porém, o arrefecimento do mercado no princípio de 2014, após recorde de produção e vendas em 2013, dificilmente recuperará as vendas mensais para patamares acima das 6 mil máquinas ao mês. Considerando as vendas por unidade da federação, o Estado de São Paulo permanece líder na demanda por máquinas agrícolas automotrizes, representando 17,7% desse mercado, seguido pelo Paraná (15,4%), Rio Grande do Sul (15,3%) e Minas Gerais (10,7%) (Figura 2). Esses quatro estados concentram, aproximadamente, 60% das vendas para o mercado interno. Tão logo ocorra a recuperação econômico/financeira do segmento sucroenergético, as vendas em São Paulo deverão se distanciar ainda mais dos demais estados, uma vez que, no boom vivenciado no segmento entre 2006 e 2007, o mercado paulista representou
36% do total de vendas internas. O revigoramento adotado para o Moderfrota, no Plano Agrícola Pecuário 2014/2015, prevê recursos para aquisição de máquinas agrícolas automotrizes da ordem de R$ 3,5 bilhões, majoração superior a 2.000 pontos percentuais frente à alocação do plano anterior. Essa condição permite construir cenário prospectivo de melhoria de vendas e, consequentemente, da produção de máquinas agrícolas automotrizes. Ainda que o contexto do agronegócio brasileiro se diferencie do restante da economia, exibindo taxa de crescimento acima dos 3% para 2014, mesmo associado à recente injeção de recursos federais para o financiamento das compras do segmento, não se pode estar otimista com sua produção e vendas1. Dificilmente a produção ultrapassará as 90 mil máquinas, quantidade que sinaliza encolhimento de 10% desse mercado. A permanente renovação da frota de máquinas agrícolas é elemento sine qua non na estratégia de incremento da competividade dos cultivos e criações nacionais, pois vigora a tendência de substituição de máquinas de menor potência por equipamentos maiores, de menor custo operacional e melhor desempenho em campo, otimizando as tarefas com redução de custos. 1 - A queda das taxas de juros da economia em 2013 impulsionou as vendas totais que somaram mais de 83 mil máquinas, montante bastante razoável para o país.
ADUBAÇÃO VERDE
Piraí doa sementes para Associação Paranaense de Pequenos Agricultores
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FOTO: Divulgação Sementes Piraí
om o objetivo de disseminar a técnica de adubação verde e cobertura vegetal a Sementes Piraí doou 15 qualidades de sementes para a Associação Paranaense de Pequenos Agricultores (APPA), no município de Pinhão (PR). Segundo o técnico responsável pela APPA, Rafael Vaz Zubreski, está sendo realizado na associação um campo demonstrativo com cerca de 500m² para que os agricultores possam conhecer a diversidade das sementes crioulas. As qualidades de sementes doadas foram: Calopogônio, Crotaláriabreviflora, Crotalária-juncea, Crotalária-ochroleuca, Crotalária-spectabilis, Feijão de porco, (Feijão) Guandu-forrageiro, (Feijão) Guandu-forrageiro (anão), Lablab, Milheto, Mucuna-anã, Mucuna-cinza, Mucunapreta, Soja-perene e Puerária (Kudzu Tropical). “O objetivo das sementes é para realizar uma avaliação de adaptação na nossa região, sendo que não tem nem uma empresa que venda adubos verdes aqui em Pinhão. Já conhecia a Piraí através de um amigo que plantou Feijão-de-
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porco no ano de 2010, por isso o contato”, conta o técnico responsável pela associação. “Estamos com uma equipe técnica grande espalhada pelo Paraná e trabalhando forte com adubos verdes, mas por enquanto sem sementes de qualidade”, complementa Rafael Vaz Zubreski. Conheça mais sobre adubação verde: www. pirai.com.br. (Fonte: Equipe de Comunicação Join Agro)
EVENTOS
Encontro de Engº Agrônomos 2014 foi um sucesso
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FOTOS: Comissão Organizadora
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Engenheiro Agrônomo Dercy Pavão foi o grande homenageado no Encontro de Engenheiros Agrônomos 2014. Especializado na cultura do café, o homenageado recebeu as congratulações de todos os colegas de profissão, em especial o irmão Fernando Pavão. A confraternização profissional foi realizada este ano na noite de 11 de outubro, na Boipec Leilões, na Rodovia que liga Franca (SP) à Patrocínio Paulista (SP). A Comissão Organizadora 2014 foi formada pelos profissionais: Amanda Hernandes (CATI-Batatais), Shigueru Kondo (CATIFranca), Fabrício David (COCAPEC), Maria do Carmo Francisconi, Pâmela Radi, Felipe Ferreira, Ivam Mendonça (DEDEAGRO) e Allan de Meneses Lima (Grupo BOLSA). O evento é organizado anualmente com o intuito de homenagear os profissionais da região e promover o reencontro de EnDercy Pavão, Engenheiro Agrônomo 2014. genheiros Agrônomos de todas as faixas etárias. A Comissão Organizadora agradece todos os patrocinadores que contribuiram financeiramente para que este evento acontecesse, incluindo a Casa das Sementes, Agraria e Senhor Café - Cocapec.
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Comparativo econômico entre propriedades leiteiras em sistema intensivo de produção
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Marcos Aurélio Lopes1 e Glauber dos Santos1
produção de leite do Brasil “caminha” de sistemas menos produtivos para sistemas com animais de maior produtividade e, obviamente, que envolvem processos tecnológicos mais sofisticados (STOCK et al., 2008). Independente do sistema de produção explorado, faz-se necessário conhecer os custos de produção de cada produto, seja do litro de leite, de uma novilha ao parto, seja ainda, do quilo de forragem produzido, na intenção de localizar os pontos de estrangulamento e tomar as devidas decisões para maximizar os lucros. Para Oaigen et al. (2008), a metodologia dos centros de custos se baseia no mapeamento dos centros produtivos, o que permite ao empresário rural mensurar o custo de produção por meio desses centros e verificar o impacto que determinados processos e/ou tecnologias causam ao sistema, especificamente no custo final do produto. Dados de custo de produção têm sido utilizados também para quantificar ineficiências econômicas (TUPY & YAMAGUCHI, 2002), avaliar o efeito da escala de produção (LOPES et al., 2006), do tipo de sistema de criação (LOPES et al., 2007), e ainda do nível tecnológico (LOPES et al., 2009), bem como comparar propriedades leiteiras (CARVALHO et al., 2009). Porém, nenhum desses estudos apurou os custos de produção através da metodologia de centro de custos, em propriedades com alto volume de produção diária. Em tais pesquisas, adotaram a apuração de custo da atividade leiteira como um todo, talvez pela menor complexidade nas coletas de dados. Assim, objetivou-se, nesta pesquisa, comparar alguns indicadores econômicos de fazendas leiteiras, em sistema
AUTORES 1 - Publicado originalmente na Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, Salvador (BA), v.13, n.3, p.591-603, jul-set. 2012. www.universidade-doleite.com.br
intensivo de produção, em regime de semiconfinamento e confinamento total, localizadas no estado de Minas Gerais, através da metodologia de centro de custos, no intuito de elucidar o comportamento do custo de produção de cada um dos produtos da atividade leiteira, separadamente. Pretendeu-se, ainda, identificar os componentes que exerceram a maior influência sobre o custo operacional efetivo. MATERIAL E MÉTODOS - Foram utilizados os dados de seis sistemas de produção de leite, localizados na região central mineira e sul/sudoeste de Minas, coletados entre os meses de março de 2008 a fevereiro de 2009. Segundo o IBGE (2010), a produtividade média é maior que 2.500 e de 500 a 1.000kg de leite/vaca/ano, nas regiões central mineira e sul/sudoeste de Minas, respectivamente. Os sistemas de produção foram divididos em dois grupos: semiconfinamento e confinamento total, e cada grupo constituído por três sistemas de produção, o que correspondeu à produção média diária de 19.867,04 e 17.982,30 kg, respectivamente, em cada grupo. Considerou-se como centro de custo “produção de leite”, isto é, todos os custos atribuídos às matrizes em lactação, bem como com vacas secas. Para melhor controle das despesas, em todos os sistemas de produção havia um almoxarifado para estocar os itens de consumo e um funcionário com dedicação exclusiva. Para dar saída em algum desses bens, era necessária uma requisição, com a indicação para qual centro de custo tal produto se destinaria. Dentro do centro de custo existia um plano de contas, dividido em receitas e despesas. Como receitas, as opções, a saber, eram classificadas em: venda de leite, de animais ou subprodutos. As despesas foram divididas em: concentrado proteico, concentrado energético, minerais/aditivos, forragem, salários, encargos sociais, EPI/uniforme, diarista, assistência técnica, mão de obra de terceiros, sanidade, insumos de reprodução, hormônios, BST, higiene de ordenha, manutenção periódica, impostos e taxas, energia elétrica, combustível e lubrificante, aluguel de máquinas, despesas administrativas, material para manejo de animais, manutenção de benfeitorias, frete, telefone e outros. Os sistemas de produção em semiconfinamento foram caracterizados por apresentarem, na sua quase totalidade, matrizes mestiças Holandês-Gir, cujo grupos genéticos variaram entre 1/2, 3/4, 7/8 ou 15/16. A estimativa de produção de leite variou de 4.759,60 a 6.336,40kg/vaca/ano, o que corresponde à vacas em lactação com média de 13,04 a 17,36kg de leite/dia, respectivamente. Todas as matrizes em lactação eram ordenhadas duas vezes ao dia. Já os sistemas de produção em confinamento total, apresentavam vacas especializadas para produção de leite, cuja maioria dos animais eram puros de origem (PO), pertencentes à raça Holandesa, e apresentavam média de produção acima de 8.000kg/vaca/ ano. Durante todo o ano, os animais receberam, no cocho, dieta completa e eram ordenhados três vezes ao dia. Considerou a depreciação das matrizes da seguinte
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maneira: como valor final, Tabela 1 - Comparativo dos recursos disponíveis nos centros de custo de produção de adotou-se o valor da venda de leite em sistemas de produção em semiconfinamento (ScConf) e confinamento total uma vaca gorda (550kg de peso (ConfTo), durante o período de março de 2008 a fevereiro de 2009. vivo), vendida a preço de arroba Sc Conf Conf To (R$65,00); o valor inicial foi o ESPECIFICAÇÃO % DP MÉDIA MÉDIA DP % custo total de uma novilha, ao 46,59 42,32 Valor do patrimônio em terra (R$) 2.237.966,67 1.494.862,49 1.169.411,99 2.096.466,67 primeiro parto, e a vida útil foi Valor do patrimônio sem terra (R$ 2.403.481,07 1.712.831,66 53,41 3.049.746,78 1.677.709,79 57,68 estimada em função da taxa de = Valor beifeitorias (R$) 164.019,03 10,89 1.189.781,08 703.029,19 39,01 261.766,67 descarte involuntário de cada = Valor máquinas (R$) 114.640,33 6,70 310.561,00 215.913,24 10,18 161.115,87 sistema de produção. = Valor equip./implementos (RS) 84.071,37 37.952,34 2,40 3.398,80 2,76 57.765,20 A análise de rentabilidade = Valor animais (R$) 1.922.833,33 1.430.466,39 80,00 1.465.333,33 795.027,88 48,05 contemplou a metodologia do Área (ha) 214,18 149,35 87,95 203,18 custo operacional, proposta por Quant. média matrizes (lactação+seca) 339,33 537,01 179,02 571,00 Matsunaga et al. (1976) e do cusQuant. média matrizes lactação 277,33 447,95 130,48 465,67 to total, de acordo com Lopes et Quant. mão de obra (homem/dia) 10,67 5,51 4,62 8,67 al. (2007). Considerou-se como Média diária leite produzido (kg) 6.227,15 5.402,84 2.863,10 6.622,35 indicadores de rentabilidade: a - 5.287.713,45 2.753.945,18 Total imobilizado (R$) 4.499.947,73 3.138.982,51 margem bruta (receita menos Total imobilizado por ha (R$) 23.581,09 2.677,40 4.072,69 22.609,80 custo operacional efetivo), marTotal imobilizado/matriz lactação (R$) 18.516,08 5.133,76 2.907,76 11.974,84 gem líquida (receita menos custo Total imobilizado/kg leite produz./dia (R$) 825,90 281,54 110,17 761,43 operacional total) e resultado (re- * Valor considerando todas as áreas de produção de volumoso. DP = Desvio Padrão ceita menos custo total). Além desses, estimou-se ainda lucratividade 1, que foi calculada para o total imobilizado por kg de produzido por dia, a ao se obter o resultado e dividi-lo pela receita total (Lucra- diferença entre os sistemas foi baixa (R$64,47 = R$825,90 tividade 1 (%) = Resultado/Receita total); e a rentabilidade - R$761,43) - (Tabela 1), devido à maior produtividade das 1, obtida pela divisão do resultado pelo total imobilizado matrizes nos sistemas em confinamento total. Com relação ao capital imobilizado por matriz em lacmais o custo operacional efetivo (Rentabilidade 1 (%) = Resultado/(Total imobilizado + Custo operacional efetivo)) tação, observa-se, na Tabela 1, que os sistemas em semicon- (SEBRAE, 1998). Como lucratividade 2, considerou-se a finamento foram menores, possivelmente por apresentarem divisão da margem líquida pela receita total (Lucratividade uma quantidade bem mais elevada de matrizes em lactação 2 (%) = Margem líquida /Receita total); e como rentabili- (465,67) e menor preço médio de uma matriz (R$3.833,33). dade 2, considerou-se a divisão da margem líquida pelo to- Em contrapartida, os sistemas em confinamento total postal imobilizado mais o custo operacional efetivo (Rentabi- suíam, em média, 277,33 matrizes em lactação e cada uma lidade 2 (%) = Margem líquida/(Total imobilizado + Custo avaliada em R$4.266,67, o que explica parte do maior capital operacional efetivo)). Esses dois últimos indicadores foram imobilizado por matriz em lactação. O valor investido em matrizes (vacas em lactação estimados segundo Lopes et al. (2011). A variação do inventário em rebanho foi calculada como se a diferença fosse, em + vacas secas) foi o item com maior representatividade do reais (R$), do inventário em animais do final e do início do “patrimônio investido sem considerar a terra”, em média, 80,00% e 48,05% nos sistemas em semiconfinamento e conperíodo de estudo. Esta pesquisa foi desenvolvida com base no conceito finamento total, respectivamente. A alta representação desse de estudo de caso, descrito por Yin (1984). Os dados foram item, no total imobilizado, evidencia a importância do cuisumarizados por meio de estatísticas descritivas simples e dado que se deve ter com as mesmas, como, por exemplo, agrupados em tabelas, para uma melhor apresentação, com- no momento da aquisição, no manejo diário, no ambiente adequado, entre outros, de modo a proporcionar condições paração e discussão dos resultados (LOPES et al., 2004). A amostragem não probabilística por julgamento foi para que se possa ter máxima produtividade e, consequentrealizada ao se considerar a disponibilidade e qualidade dos emente, maior retorno do capital. Os valores investidos em dados por parte dos produtores. Todavia, a eles não foram matrizes são considerados custos fixos; portanto, devem-se aplicados testes estatísticos, pois o objetivo foi avaliar a atingir altas produções por animal para que eles possam ser rentabilidade, bem como identificar os componentes que “diluídos”, o que acarreta baixos percentuais do custo total. Na composição da receita total, a venda de leite, de aniexerceram influência sobre o custo operacional efetivo. mais e de subprodutos representou 85,34%, 14,46% e 0,20% RESULTADOS E DISCUSSÃO - O valor do “pa- no semiconfinamento e 97,76%, 2,19% e 0,00% no confinatrimônio investido sem considerar a terra”, é muito dife- mento total, respectivamente. A maior representatividade rente no item benfeitorias, devido às instalações destina- da comercialização de animais na receita total do semicondas aos animais em confinamento, ou seja, nos sistemas finamento contribuiu para que a rentabilidade média fosse em semiconfinamento ocorreu um maior investimento em 5,69%, enquanto, no confinamento total, ela foi negativa animais, enquanto nos sistemas de confinamento total os (-1,92%). Essa maior contribuição deveu-se, principalmente, maiores investimentos foram em benfeitorias. Ao analisar o ao fato de um dos sistemas de produção ter adotado uma cototal imobilizado por matriz em lactação, observou-se que a mercialização estratégica de animais, de forma a conseguir média nos sistemas em confinamento total foi R$6.541,25, bons preços nos animais comercializados. Ela pode ocorrer valor maior do que nos sistemas em semiconfinamento também em sistemas de produção que passam, principal(R$18.516,08 – R$11.974,84). Entretanto, quando se com- mente, pelas seguintes situações: pequeno produtor,
Tabela 2 - Resultados das análises de rentabilidades dos centros de custo
de produção de leite em sistemas de produção em semiconfinamento (ScConf) e confinamento total (ConfTo), durante o período de março de 2008 a fevereiro de 2009, em R$. SISTEMA DE PRODUÇÃO Receita = Leite = Animais = Subprodutos Custo Operacional Total (COT) = Custo Operacional Efetivo (COE)
Sc Conf DP MÉDIA
Conf To MÉDIA DP
2.192.794,05 2.154.893,99 1.914.745,20
926.602,35
1.875.097,03 1.642.896,22 1.872.744,27
895.537,49
317.048,34
517.025,32
42.000,93
648,68
1.123,55
36.483,37
0,00
0,00
1.584.962,04 1.386.710,94 1.870.555,18
846.491,46
1.549.399,83 1.365.183,98 1.788.143,72
834.424,95
35.562,21
21.581,23
82.411,46
17.172,84
Depreciação da infraestrutura
20.264,69
14.643,67
55.073,83
14.649,56
Depreciação de matrizes
15.297,51
9.092,63
27.337,64
13.190,41
1.700.328,12 1.470.624,88 1.995.276,41
899.743,78
= Depreciação
Custo Total (CT)
149.890,17
106.027,16
204.454,09
67.977,42
Remuneração da terra
88.992,84
65.416,11
93.812,30
38.523,91
Remuneração do capital investido
22.499,74
15.694,91
26.438,57
13.769,73
0,00
0,00
0,00
0,00
2.835,39
3.738.44
1.791,76
880,99
Depreciação
35.562,21
21.581,23
82.411,46
17.172,84
Depreciação da infraestrutura
20.264,69
14.643,67
55.073,83
14.649,56
Depreciação de matrizes
15.297,51
9.092,63
27.337,64
13.190,41
1.550.437,95 1.364.956,31 1.790.822,32
836.153,71
Custo operac. efetivo (s/impostos) 1.546.564,45 1.361.543,35 1.786.351,96
834.067,65
= Custo Fixo (CF)
Remuneração do empresário Impostos fixos (IPVA+ITR)
= Custo Variável
3.873,50
3.412,96
4.470,36
2.086,06
Margem bruta
643.394,22
791.095,52
126.601,48
217.679,23
Margem líquida
607.832,01
769.749,90
44.190,01
202.352,94
Resultado (lucro ou prejuízo)
492.465,93
685.364,50
- 80.531,21
182.482,68
47.166,67
10.128,34
97.433,33
102.786,01
Margem bruta + Vr
690.560,89
783.623,35
224.034,81
319.667,54
Margem líquida + Vr
654.998,68
762.306,62
141.623,35
303.933,93
Resultado (lucro ou prejuízo) + Vr
539.639,60
677.894,20
16.902,12
278.590,38
Lucratividade 1 (%)
15,63
10,46
-7,02
11,77
Rentabilidade 1 (%)
5,69
5,11
-1,92
3,30
Lucratividade 2 (%)
22,06
8,66
-0,33
11,33
7,60
5,11
-0,09
3,17
Remuneração do capital de giro
Variação do rebanho (Vr)
Rentabilidade 2 (%) Quantidade de leite (kg/ano)
2.417.156,53 1.972.037,74 2.294.544,92 1.068.987,84
Quantidade equivalente leite (kg/ano)
2.812.831,73 2.605.827,24 2.345.839,61 1.106,940,02
1 - Fórmula considerando o resultado da atividade. 2 - Fórmula considerando a margem líquida da atividade. DP = Desvio Padrão.
cujos animais não são especializados para a produção de leite, teoricamente seriam animais de dupla aptidão; produtores que passam por uma crise financeira, vendem animais, e produtores que têm boa genética e comercializam melhor os animais, que foi o caso dos sistemas de produção em semiconfinamento. Lopes et al. (2007) relataram que 11,66% da receita total foi com a venda de animais; essa porcentagem foi superior à encontrada pelos sistemas em confinamento total, possivelmente pelas diferentes produções 288,86kg de leite/dia (LOPES et al., 2007) versus 6.227,15kg de leite/ dia (presente estudo). Tal fato mostra que a venda de animais tende a ser mais representativa em sistema com menor comercialização diária de leite, exceto para sistemas de produção que adotam a venda estratégica de animais. Segundo outros pesquisadores (MARQUES et al., 2002; LOPES et al., 2005; 2007), a receita com a venda de animais variou de 28,08% a 4,16%. Tais valores evidenciam que ocorre grande variação no percentual da composição da receita. O que vai definir a maior ou menor venda de animais são as metas do sistema de produção, a necessidade de levantar receitas (LOPES et al., 2009), os aspectos referentes à saúde do rebanho (DEMEU et al, 2011), bem como a qualidade genética das matrizes. Quando se trata de apuração de custo por centro produtivo, a comercialização de matrizes aumenta as receitas e, em consequência dessas vendas, o item depreciação também aumenta, uma vez que reduz a
LEITE
vida útil das matrizes e eleva a depreciação das mesmas, o que torna o custo de produção um pouco mais elevado. No entanto, não foi isso que aconteceu entre os sistemas aqui comparados, pois, no confinamento total, a venda de animais foi menor e a depreciação de matrizes maior (Tabela 2). Fato explicado pela maior taxa de descarte involuntário (22,84 versus 17,49%) e, ainda, pelo maior custo total médio das novilhas de reposição (R$3.240,28 versus R$2.857,15) nos sistemas de produção em confinamento total e semiconfinamento, respectivamente. Dessa forma, o maior custo, com a depreciação das matrizes, contribuiu para que os sistemas em confinamento total apresentassem uma rentabilidade negativa. Isso evidencia que esforços gerenciais se fazem necessários na intenção de reduzir a taxa de descarte involuntário, bem como no custo das novilhas ao primeiro parto. Apenas nos sistemas em semiconfinamento ocorreu apuração de receita com a venda de subprodutos (esterco), o que representou 0,20% da receita total; já no confinamento total, esse foi utilizado na irrigação do tifton e ainda aplicado em áreas de agricultura destinadas às matrizes. Segundo Lopes et al. (2005), essa pode ser uma alternativa de renda e representar até 1,51% da receita total ou reduzir o uso de fertilizantes químicos, quando aplicados em áreas de agricultura. A variação do rebanho foi positiva e bem maior no confinamento total (Tabela 2). Tal fato pode ser um indício de que os rebanhos estejam em crescimento, ou seja, os produtores têm expandido a atividade em maior grau do que os produtores do semiconfinamento. Configura-se como um indicador da variação patrimonial em matrizes e é útil na tomada de decisão, pois podem existir sistemas de produção que obtenham resultado positivo na atividade, quando, no entanto, ocorre redução patrimonial em matrizes para apurar receitas e vice- versa. Portanto, alguns cuidados merecem atenção no que se refere a esse indicador e, sobretudo, pelo fato de não se tratar de dinheiro em espécie (moeda), palpável. No sistema de produção confinamento total, por exemplo, ocorreu valorização média do rebanho de R$97.433,33, durante o pe-
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LEITE
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ríodo estudado. No entanto, se o produtor quiser destinar esse valor para pagar algum compromisso, terá que vender animais. A venda, em determinadas ocasiões, pode não ser tão fácil, devido ao fato de a liquidez dos animais, em alguns momentos, não ser tão alta. Outro ponto que deve ser considerado é que a morte de animais pode ocorrer, o que reduzirá a receita futura da atividade, o que interfere na lucratividade e na rentabilidade. Os sistemas em confinamento apresentaram resultados negativos, de modo que não foi possível remunerar a terra e o capital investido; diferentemente dos sistemas em semiconfinamento. Na Tabela 3, pode-se visualizar a contribuição de cada item componente do custo operacional efetivo nos sistemas de produção em semiconfinamento e em confinamento total, em porcentagem. A alimentação representou 60,95 e 53,19% do custo operacional efetivo, no semiconfinamento e no confinamento total, respectivamente. Observa-se que a alimentação, percentualmente, foi maior no semiconfinamento, devido ao menor custo operacional efetivo, e os demais componentes do custo tiveram menor representação, quando comparados aos sistemas de confinamento total. Ressalta-se a importância no cuidado de se comparar percentuais de custo entre diferentes sistemas de produção, uma vez que os mesmos apresentam custos diferentes. Possivelmente, esse maior dispêndio com as despesas alimentares está relacionado à maior produtividade por matriz em lactação, o que leva a oferecer uma dieta mais rica nutricionalmente, a fim de atender à exigência do animal. No entanto, essas dietas diferentes podem ter contribuído para um leite com maior teor de sólidos totais no confinamento total, se comparado ao semiconfinamento, uma vez que os volumes médios diários de leite comercializado entre os sistemas foram semelhantes e ocorreu valorização de 4,96% a mais pelo leite do confinamento total. Outros fatores podem estar relacionados com essa valorização ou penalização, tais como: qualidade e estacionalidade da produção. Porém, nesta pesquisa, dados da qualidade do leite não foram levantados, o que impossibilita fazer uma análise financeira. Tozer et al. (2003), ao avaliarem a análise econômica de estratégias alimentar, concluíram que o custo diário de animais alimentados com dieta completa foi maior (U$$4,16) do que na pastagem (U$$2,38). Entretanto, a receita com a venda de leite, gordura e proteína proporcionou uma maior margem bruta que foi de U$$5,61 com a dieta completa e U$$5,31 para o sistema alimentar baseado em pastagem. No entanto, Silva et al. (2008), ao estudarem também a viabilidade de diferentes sistemas de alimentação, concluíram que o tratamento com 20% de suplementação apresentou o melhor resultado econômico, com a maior margem bruta de R$0,2198/kg de leite, enquanto, no sistema com 100% de suplementação, a margem bruta foi de R$0,1368/kg de leite. No item forragem, consideraram-se todas as despesas de adubação das pastagens e despesas com a forrageira utilizada na suplementação durante o inverno (cana-deaçúcar e silagem de milho), nos sistemas em semiconfinamento, e silagem de milho e tifton fresco picado no cocho, nos sistemas de confinamento total. As despesas com forragem representaram 19,44% do custo operacional efetivo nos sistemas em semiconfinamento e 10,41% nos confinamento total, respectivamente (Tabela 3). Esse maior custo, principalmente da pastagem, comparado ao da silagem de milho, foi devido, talvez, à adubação programada para produções
Tabela 3 - Contribuição de cada ítem no custo operacional efetivo nos centros de custo de produção de leite em semiconfinamento (ScConf) e confinamento total (ConfTo), durante o período de março de 2008 a fevereiro de 2009, em % do custo operacional efetivo (COE) e % da receita do leite (RL). ESPECIFICAÇÃO Alimentação
% do COE ScConf Conf To
% da RL ScConf Conf To
60,95
53,19
50,26
58,78
= Concentrado protêico
15,68
19,80
12,95
21,50
= Concentrado energético
22,89
16,29
18,85
18,21
2,94
6,69
2,43
7,58
= Forragem
19,44
10,41
16,03
11,49
Mão de Obra
11,76
15,81
9,71
16,83
= Salário
7,54
7,43
6,22
8,07
= Encargos
0,47
1,27
0,39
1,35
= EPI/Uniforme
0,14
0,16
0,12
0,17
= Diarista
0,15
0,28
0,13
0,29
= Assistência Técnica
2,65
5,80
2,19
6,05
= Mão de Obra de Terceiros
0,82
0,86
0,67
0,90
Sanidade
5,22
5,11
4,30
5,65
Reprodução
2,74
4,28
2,27
4,52
= Insumos reprodução
1,90
3,42
1,57
3,59
= Hormônios
0,84
0,86
0,69
0,93
BST
1,20
4,88
1,00
5,24
Ordenha
2,58
2,15
2,14
2,40
= Higiene de ordenha
1,61
1,10
1,34
1,24
= Manutenção periódica
0,97
1,04
0,80
1,16
Impostos e taxas
1,06
0,63
0,88
0,61
Energia
2,21
4,72
1,81
5,06
= Energia elétrica
1,67
3,18
1,38
3,46
= Combustível e lubrificante
0,53
1,54
0,44
1,60
1,84
1,89
1,53
2,09
10,42
7,33
8,16
8,42
= Despesas administrativas
4,90
4,38
4,05
5,23
= Manejo de animais
0,23
0,56
0,19
0,61
= Manutenção de benfeitorias
0,81
0,97
0,67
1,05
= Frete
1,32
0,04
1,10
0,04
= Telefone
0,33
0,23
0,27
0,24
= Outros
2,83
1,15
2,35
1,25
100,00
100,00
82,05
97,82
= Minerais/Aditivos
Aluguel de máquinas Despesas diversas
Total do COE
maiores de matéria seca do que a alcançada; à elevação no preço de adubos e/ou à eficiência na produção da silagem de milho, de modo a proporcionar altas produtividades. Parte da menor média de produção por matriz em lactação apresentada pelos sistemas em semiconfinamento pode estar relacionada à forrageira utilizada para suplementação (canade-açúcar), pois segundo Corrêa et al. (2003), ocorre maior produções de leite em dietas à base de silagem de milho, quando comparadas com cana-de-açúcar e ureia. As despesas com sanidade foram maiores no confinamento total do que no semiconfinamento (Tabela 3), principalmente, devido ao fato de esse sistema possuir animais mais propensos às principais doenças que acometem o rebanho bovino, ao maior desafio aos animais, às dietas com baixo teor de fibra e ao piso de concreto. Em um estudo de custos e resultados do tratamento de sequelas de laminite bovina em vacas em lactação no sistema free stall, Ferreira et al. (2004) constataram que elas provocaram um prejuízo de US$74,60 por animal alojado no rebanho. Esse valor ainda não incluía a perda na produção de leite e prováveis problemas reprodutivos. Animais mestiços, menor produção e ambiente
LEITE mais favorável à manifestação do estro podem ter sido alguns dos fatores que contribuíram para que o sistema semiconfinamento tivesse menor despesa com reprodução (Tabela 3). A utilização de uma maior quantidade de doses de sêmen por concepção e do uso da transferência de embrião em um dos sistemas do confinamento total afetou de maneira a aumentar as despesas com esse item. Em vários estudos, tem sido evidenciado que a eficiência reprodutiva de vacas leiteiras tem declinado com o aumento da produção, possivelmente pelo fato de vacas leiteiras de alta produção terem menores concentrações de progesterona no plasma (VASCONCELOS et. al., 1999), talvez, por causa da maior ingestão de matéria seca que aumenta o fluxo de sangue e altera a concentração de progesterona. O uso do BST foi utilizado nos dois sistemas de produção, porémmais acentuado no confinamento total do que no semiconfinamento (Tabela 3). Possivelmente, foi utilizado em uma quantidade maior de animais, com a intenção de aumentar a produção e “diluir” alguns custos, principalmente, os fixos, de modo a otimizar alguns itens do custo variável. Segundo Lucci et al. (1998), os resultados obtidos com a aplicação do BST aumentou o leite em 4,95kg/vaca/ dia e a gordura em 0,20kg/vaca/dia. Como indicador da eficiência reprodutiva, pode-se observar a porcentagem de vacas em lactação em relação ao total de vacas, que foi, em média, de 80,18% no semiconfinamento e de 83,27% no confinamento total. Essa maior porcentagem no confinamento total pode ser atribuída ao maior uso da técnica de transferência de embrião, à maior taxa de descarte e, ainda, devido à maior quantidade de funcionários em um dos sistemas de produção, os quais eram destinados a uma observação de cio mais intensa. Vale salientar que, em ambos os sistemas, essa relação pode ser considerada excelente. A observação mais intensa do cio pode-se ter exercido influência, pois, segundo Lopez et al. (2004), ocorre redução na duração do estro de vacas de leite com alta produção, o que pode estar associado com a redução do estradiol circulante. A produtividade média de leite por vaca em lactação foi de 15,62 e 22,58kg/vaca/dia, nos sistemas em semiconfinamento e confinamento total, respectivamente. Parte da diferença pode ser atribuída à fatores genéticos (mestiços Holandês-Zebu versus Holandês puro de origem) e, em parte, devido ao gasto de energia dos animais em pastejo. Segundo Bargo et al. (2002), vacas em lactação, que recebiam dieta completa, produziram 25,19% (38,1 versus 28,5kg/ dia) mais leite do que vacas sujeitas ao pastejo e suplementadas com concentrado. Kolver et al. (2000) e White et al. (2002) encontraram aumentos da ordem de 34,07% e 11%, com dietas completas, na comparação com pastagem mais concentrado. A diferença na produção de leite se dá, principalmente, por não atender aos requerimentos de energia no pastejo, uma vez que a
ingestão de matéria seca é menor (BARGO et al., 2002) e os animais gastam mais energia ao se alimentarem (AGNEW et al., 2000). Além disso, deve-se considerar a menor eficiência energética apresentada pelos animais no pastejo, em virtude da maior produção de metano, se comparados aos animais que recebem dieta com alto concentrado (LANA & RUSSUELL, 2001). A relação depreciação/custo operacional total fornece uma informação da eficiência de utilização dos recursos disponíveis para a produção de leite, quando se comparam sistemas semelhantes e dá uma idéia da infraestrutura necessária para a produção de leite, quando se comparam sistemas diferentes. A depreciação representou 2,62% e 4,97% do custo operacional total nos sistemas em semiconfinamento e no confinamento total, respectivamente. A diferença pode ser atribuída à maior depreciação de matrizes e ao alto maior valor imobilizado por vaca em lactação nos sistemas em confinamento total. Tal fato exige que esse tipo de sistema seja composto por animais de alta produção, para “diluir” o custo com a depreciação. O custo fixo é composto pela depreciação, impostos fixos e custo de oportunidade da terra, do capital investido e do empresário (quando houver). A relação custo fixo e o custo total foi de 9,83% e 6,02%, no semiconfinamento e no confinamento total, respectivamente. O custo fixo foi maior no semiconfinamento, devido ao grande impacto da remuneração da terra, ou seja, em sistemas de produção em semiconfinamento nos quais a terra é bem valorizada, o custo fixo pode se apresentar maior do que em sistemas de confinamento. Na análise econômica, por apresentarem margem bruta, líquida e resultado positivos, os sistemas de produção em semiconfinamento tiveram viabilidade econômica e condições de produzir no curto, médio e longo prazo, com consequente capitalização dos pecuaristas. Os sistemas de produção em confinamento total apresentaram margem bruta e líquida positivas e o resultado negativo, o que demonstra ter condições de sobreviver no médio prazo, e, a longo, os pecuaristas estão em fase de descapitalização. Os itens que exerceram maior “impacto” no custo operacional efetivo foram, em ordem decrescente, a alimentação, mão de obra, despesas diversas, sanidade, energia, ordenha, reprodução, aluguel de máquinas, BST e impostos.
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ORGÂNICOS
FOTO: APTA-SAA
adubação no sistema orgânico. De acordo com o pesquisador Dr. Valdir Ramos, estas cultivares foram desenvolvidas com o intuito de agregar maior resistência às principais doenças na bataticultura, como a Requeima e a Pinta-Preta. A adubação de plantio foi feita da seguinte forma: aplicação de Termofosfato (Yorin K): 50kg em 200 m2 em área total, aplicação de Silicato de Potássio (EKOSIL): 40kg em 200 m2 em área total, Composto Orgânico (capim napier picado e esterco bovino): 2,5 litros por metro linear e aplicação de Tricoderma no solo, sulco: (Tricodermil da KOPERT): 300ml/10 litros. Os próximos passos serão a Adubação de Cobertura, com a aplicação de Bokashi na ocasião da amontoa, que acontecerá após 30 dias após o plantio. Já a colheita está prevista para 100 dias após o plantio. A APOFRAN - A Associação de Produtores Orgânicos de Franca e Região possui atualmente 18 associados, todos certificados pelo IBD - Instituto Biodinâmico e que comercializam semanalmente diversas hortaliças, frutas, ovos, grãos, mel e alimentos processados na cidade de Franca (SP). Informações: Fernando Taveira (presidente) = fstaveira3@hotmail.com ou (16) 9.9122-1072 ou Carina Ferreira = ferreiralopescarina@gmail.com
FOTO: APTA-SAA
E
m matéria publicada na edição nº 91, de maio de 2014, posterior à realização da Agrishow 2014, a Revista Attalea Agronegócios destacou o trabalho desenvolvido pelo pesquisador Valdir Josué Ramos, da APTA - Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Unidade de Itararé (SP) com relação ao cultivo de batata-sementes orgânicas. O que imaginávamos ser apenas mais uma divulgação interessante para os agricultores da área de abrangência da revista, passou a ser o ponto principal para a realização de um Dia de Campo, organizado pela CATI - Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, com o apoio da APOFRAN - Associação dos Produtores Orgânicos de Franca e Região. O evento foi realizado no último dia 7 de outubro, sendo que as aulas teóricas foram realizadas no Sindicato Rural de Patrocínio Paulista (SP) e as aulas práticas no Sítio Recanto Macaúbas, de propriedade de Gustavo Rosa Lopes e Carina Ferreira Lopes, também em Patrocínio Paulista (SP). Estiveram presentes no evento produtores das cidades de Franca (SP) e de várias cidades da região. Foram realizadas quatro palestras teóricas, tendo o Dr. Valdir Josué Ramos (APTA) abordando o tema do “Cultivo da Batata Orgânica” e as “Cultivares Desenvolvidas na APTA Itararé”. O Engº Agrº Fernando Guerra (Yoorin) abordou o tema “Correção de Fósforo com Termofosfato” e o Engº Agrº Roberto Maegawa (Cocapec) apresentou os resultados do trabalho que a cooperativa vem desenvolvendo nos últimos anos com a apresentação de um produto natural (Bioisca) no “Controle de Formigas Cortadeiras no Manejo Orgânico”. No período da tarde foram desenvolvidas as atividades práticas, sendo plantadas 06 cultivares de batata: “IACAracy”, “IAC-Aracy Ruiva”, “IAC-Ibituaçu”, “IAC-Itararé”, “IAC-Vitória” e o “Clone IAC 3.31”. O objetivo do campo demonstrativo implantado foi acompanhar o desenvolvimento das cultivares na região da Alta Mogiana, além de demonstrar os tratos culturais necessários à cultura da batata, neste caso, com manejo de
FOTO: Fernando Taveira
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Matéria da Revista Attalea estimula Dia de Campo de Batata Orgânica
MEIO AMBIENTE
Não perca a oportunidade de regularizar sua captação de água Cristiano Crico 1
N
ão perca a oportunidade de regularizar sua captação de água através do ATO DECLARATÓRIO PARA O CADASTRO DE USOS DE RECURSOS HÍDRICOS SUPERFICIAIS E SUBTERRÂNEOS AOS USUÁRIOS RURAIS baixado pela portaria do DAEE n° 1.800 em 26 /06/13, para facilitar a legalização dos usuários de água irregulares, valido para todo o estado de São Paulo. Além de estar regularizado junto aos órgãos públicos, após receber a autorização, começa a contar o tempo, o que vai sacramentando seu direito, lembrando que no Brasil, como no caso dos outros recursos minerais, tudo aquilo que está abaixo do subsolo pertence à União, sendo sua extração autorizada pelo governo federal; logo não existe a posse e, sim, o direito de uso. Outro fato que é importante ressaltar é que o ATO DE-
AUTOR 1 - Graduado em Relações Públicas pela FAAP-SP, produtor rural de alimentos orgânicos, membro do CONDEMA-Franca, edita o programa de Educação Ambiental ECO-CONSCIENTE e representa a APOFRAN no Comitê de Bacias do Sapucaí-Mirim/Grande.
CLARATÓRIO facilita a vida do proprietário rural em relação aos financiamentos bancários para o uso de água, pois após preenchido a documentação, o protocolo de entrega coloca o usuário em regularidade tendo este um prazo de até dois anos para providenciar a documentação definitiva, não podendo ele ser atuado por quaisquer fiscalização, já que ganhou um prazo para regularizar sua outorga, ou a dispensa desta, conforme a quantidade de água pretendida. Se o uso é abaixo dos 4.999 litros por dia, ele pode requerer a dispensa da outorga, ou seja, fazer o cadastramento como uso insignificante; Lembrando que a prioridade dos recursos hídricos sempre vai ser para uso humano, dessedentação animal e abastecimento público. O prazo dado para quem fizer voluntariamente o Ato Declaratório vence no primeiro semestre de 2015, logo não percam a oportunidade de fazer o preenchimento deste e começar a gozar do beneficio da regularidade provisória, pois se em caso de denuncia o proprietário acaba tendo que cumprir uma exigência legal com tempo reduzido, não podendo se utilizar do Ato Declaratório e se não cumprido as exigências legais fica correndo o risco de multas diárias até que cumpra o que o órgão responsável está pedindo.
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ÁGUA E AGROPECUÁRIA
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uando na década de 80, do século passado, cursava “Ciências das Águas” no então Colégio Técnico Agrícola Profº Carmelino Corrêa Jr., em Franca (SP), fui um dos alunos que sempre discordava do professor e também Engº Agrº Cláudio Ribeiro Sandoval, nas aulas sobre “A Importância da Irrigação”. Lembro-me bem quando pedi a palavra a expus minha posição contrária de que, da forma como a disciplina estava sendo apresentada, o agricultor parecia um “marginal”, um “depredador”, um “usurpador de água”. Com todo o profissionalismo e conhecimento que o Prof. Cláudio possui, ele conseguiu mostrar-me que não era verdade o que eu pensava e dizia. A agricultura e a pecuária são atividades econômicas extremamente importantes no Brasil e em todo Mundo. Afinal, ninguém fica sem comer. Por outro lado, o setor é sim responsável por grande parte do consumo de água na bacia hidrográfica em que esteja instalado. E, mesmo considerando que a água ‘não se perde no ciclo hidrológico’, nada garante que a mesma água retorne para a bacia hidrográfica em que foi captada para irrigação. Com isto, ele me mostrou que, se não for utilizado de forma racional, sem desperdícios e com o acompanhamento de profissionais especializados na área de irrigação, a Agropecuária pode sim ser considerada uma das principais atividades consumidoras de água. Com a falta de chuvas neste ano em praticamente toda a região Sul e Sudeste, aliado à falta de investimentos no setor, provocaram uma grave crise, com reclamações de todos os lados, mas recaindo principalmente sobre a Agropecuária. Franca (SP) é uma das poucas cidades do Estado de São Paulo que, mesmo com a falta de água em alguns bairros em alguns períodos, encontra-se em situação bem melhor do que grande parte dos Municípios do Estado. A captação é superficial e, mesmo com uma curva crescente na urbanização, o volume atende muito bem toda a população. Neste início de outubro, porém, com o agravamento da crise hídrica na cidade, a Promotoria do Meio Ambiente, o Município e as empresas estatais e privadas envolvidas no tratamento e distribuição (SABESP) e fiscalização (DAEE e CETESB), realizaram várias reuniões em busca de soluções. Além do consumo excessivo da população, um dos fatos apontados como o principal responsável pela falta de água recairam sobre irrigações de cafezais não autorizadas (outorga) na bacia do Rio Canoas (principal manancial do Município). É extremamente importante que o produtor rural, seja qual for a sua atividade econômica, conheça a legislação ambiental brasileira e compreenda que a água é um bem público e, como tudo aquilo que está abaixo do subsolo, pertence à União, sendo sua extração autorizada pelo Governo Federal. Assim, é necessária autorização para sua captação e o volume utilizado é “controlado” pelo Estado. Para isto existem profissionais capacitados para esta orientação. Por outro lado, independente da necessidade da outorga no meio rural, a questão principal não é “quem usa o maior percentual de água existente”, mas sim o quanto este percentual é bem utilizado, sem desperdício e de prioridade para a manutenção da alimentação dos seres vivos”.
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Falta de chuvas e crise hídrica provocam alterações no cotidiano rural e urbano
Exemplo de desperdício de água no ambiente agropecuário, quando a técnica importante da irrigação é utilizada de forma não profissional.
Há enormes desperdícios também no ambiente urbano. Na tubulação das empresas subsidiárias, no uso indiscriminado em “lavar calçadas” ou banhos demorados, piscinas, saunas, duchas, etc. É extremamente discriminatório acusar apenas um setor econômico, além de não solucionar a falta de água. Agora pergunto. De onde vem a água? Do céu? Da terra? Como se faz para garantir reservatório suficiente para suprir as necessidades do ser humano, dos animais, das plantações e de todas as atividades econômicas? Atualmente, o produtor rural é “obrigado” a manter por sua conta (às suas expensas) áreas de nascentes e de reserva-legal. Além de “perder” área suficiente para produzir e manter sua família, se não cumprir a legislação, é multado e corre o risco até de ser preso, sem fiança. Já no ambiente urbano, quantas nascentes foram “entupidas”? Quantas áreas de matas foram suprimidas por conta da urbanização? Quem foi punido por isto? Assim, novamente pergunto. Qual deveria ser o papel do Estado (governos Federal, Estadual ou Municipal) com relação ao produtor rural, aquele que pode garantir a manutenção de reservas hídricas importantes para o abastecimento de pequenas e grandes cidades? No Estado de São Paulo há trabalhos iniciados anteriormente que dão idéia da importância do tema, como o Programa de Microbacias Hidrográficas (Secretaria Estadual de Agricultura) e os Comitês de Bacias Hidrográficas (Secretaria Estadual de Meio Ambiente). Porém, com a crise hídrica que passamos atualmente, o planejamento de uma política hídrica mostrou-se ineficaz e insuficiente para atender a crescente demanda populacional, industrial e agropecuária. A CULPA DA AGROPECUÁRIA - Mas não é somente no Brasil que o “agropecuarista é o culpado pela falta de água”. Segundo estimativas do Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), o setor que mais consome é também o que mais desperdiça água doce no Brasil. A agropecuária usa 70% da água no
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país, porém quase metade desse montante é jogada fora. Para o consultor nacional da FAO, José Roberto Borghetti, entre os motivos do desperdício estão irrigações mal-executadas e falta de controle do agricultor na quantidade usada em lavouras e no processamento dos produtos. Os impactos recaem sobre o ecossistema, já que lençóis freáticos e rios sofrem com a falta de chuvas e correm o risco de secar ao longo dos anos. Wilson Bonança, consultor para assuntos de recursos hídricos da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), discorda da tese de que a agricultura é a maior consumidora de água. “Isso é um mito. Na região de São Paulo, o uso no setor não chega a 30% do total. Existe desperdício de água em tudo, até na hora de tomar banho. Mas existem, por exemplo, técnicas de irrigação adequadas para cada região e cada cultura”, ressalta. O último levantamento do Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades, mostrou que a média de consumo diário de água de cada brasileiro é de 150 litros, o que resulta em um consumo médio anual de 10,4 trilhões de litros no país. Desse total, pouco mais de 7 trilhões são destinados à agricultura, que acaba desperdiçando cerca de 3 trilhões de litros de água. José Roberto Borghetti, diz acreditar ser necessário encontrar um caminho para a agropecuária utilizar a água com eficácia. “O produtor rural precisa ter maior rendimento na produtividade usando menos água possível”, afirma. Segundo ele, caso não sejam tomadas medidas emergenciais no setor, o país pode viver o que ele denomina de estresse hídrico. “O que resultaria em falta de água e má distribuição em diferentes regiões do país”, explica. De acordo com o coordenador de Estratégia para Água Doce da organização The Nature Conservancy, Albano Araújo, a retirada excessiva e uso desordenado do líquido na agricultura culminarão em impactos nocivos ao meio ambiente. “A irrigação só deve ser usada quando não chove. Mas em períodos de seca o rio fica com menos água. Dessa forma, o rio corre o risco de sofrer com pouco volume. Quando a irrigação é feita diretamente de um lençol freático, o aquífero ou os poços artesianos podem ser afetados com baixa vazão ao longo dos anos”, explica. A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA - A legislação sobre águas no Brasil é um conjunto de normas jurídicas direcionadas às águas no Sistema Legislativo Nacional. Nos termos do artigo 22, inciso IV, da Constituição Federal, compete privativamente à União legislar sobre águas. O dispositivo constitucional é complementado por legislação ordinária e resoluções que disciplinam a matéria. A Lei nº 9.433/1997, de 8 de janeiro de 1997 instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH). Outra criação salutar da PNRH são os institutos da outorga de água para uso exclusivo de particulares, e a cobrança pelo uso da água, instrumento de arrecadação de verbas para o SINGREH que serve como forma racionalização do uso dos recursos hídricos. A outorga de direito de uso de recursos hídricos é o ato administrativo que o poder público outorgante (União, Estado ou Distrito Federal) faculta ao outorgado (requerente) o direito de uso de recurso hídrico, por prazo determinado, nos termos e nas condições expressas no respectivo ato administrativo. A competência para emissão de outorga de uso de recurso hídrico de domínio da União é da Agência Nacional de Águas (ANA) e em corpos de água de domínio dos Estados e do Distrito Federal é das respectivas autoridades outorgan-
FOTO: Robinson Grego - Cafepoint
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Modelo de irrigação localizada, a microaspersão, em cafezal de Conilon.
tes, responsáveis pelo gerenciamento dos recursos hídricos. O gerente para uso sustentável da Agência Nacional de Águas (ANA), Devanir dos Santos, acredita na possibilidade de redução do desperdício nas lavouras. “Às vezes trocar a forma de irrigação ou as peças do mecanismo já ajuda a minimizar gastos desnecessários”, diz. No entanto, revela que falta a devida orientação para que os produtores se conscientizem do uso racional da água. “Não existe assistência técnica eficaz em todo o País para que os agricultores aprendam a melhorar o sistema de irrigação e entendam o quanto de água deve ser usada em diferentes culturas”, ressalta. O DESPERDÍCIO NO AMBIENTE URBANO - A agropecuária não pode ser apontada como única vilã quando o assunto é desperdício de água. Em média, metade do volume destinado à distribuição domiciliar é jogado ralo abaixo no Brasil. “A estimativa é que de cada 100 litros que saem para distribuição 50 são perdidos. É necessária uma reforma no sistema”, afirma o coordenador da The Nature Conservancy, Albano Araújo. Segundo dados da FAO, 10% da água utilizada no Brasil têm como destino o abastecimento residencial e 20% o setor industrial. De acordo com Devanir dos Santos, da Agência Nacional de Águas, há municípios em que 70% da água que sai para distribuição não chegam ao destino. “Instalações antigas, adutor estourado e até ‘gatos’ na ligação da água contribuem para isso”, explica. DEMANDA POR ALIMENTOS - O Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos estima que o mundo necessite de 70% a mais de alimentos até 2050. Este aumento poderá refletir em um incremento de 19% na água utilizada pelo setor agrícola. Isso porque a previsão é de que a população mundial possa dobrar até metade do século. Segundo o relatório, 86% da população dos países em desenvolvimento terão acesso garantido à água potável em diferentes regiões do mundo até 2015. Contudo, hoje, um bilhão de pessoas ainda não têm acesso. A UNESCO destaca ainda a falta de saneamento básico, que não acompanha o crescimento das cidades e hoje não oferece uma estrutura condizente com o tamanho da população. Atualmente, aproximadamente 80% da água consumida no mundo não é tratada.
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Cafeicultura terá que se adaptar às mudanças
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urante o 1º Fórum da Agricultura Sustentável, realizado durante a Semana Internacional do Café, que aconteceu em Belo Horizonte entre os dias 15 e 18 de setembro, o pesquisador do setor de agrometeorologia da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP), Paulo Cesar Sentelhas, ministrou palestra sobre as “Consequências das Mudanças Climáticas para a Cafeicultura”. Segundo Sentelhas, apesar de haver um certo consenso a respeito do aquecimento global e dos cenários futuros de temperatura, esses ainda apresentam alto grau de incerteza e, portanto, requerem cautela na avaliação dessas informações. Os estudos relativos às consequências das mudanças climáticas na agricultura indicam que caso os cenários previstos de elevação nas temperaturas se estabeleçam no futuro, a cafeicultura sofrerá com: aumento da necessidade de irrigação; maiores problemas fitossanitários; e redução da qualidade da produção, o que se deve ao alto grau de dependência da cultura do cafeeiro em relação ao clima. O aquecimento global vai continuar ocorrendo, muito provavelmente, disse Sentelhas. “Haverá necessidade, no caso mais extremo, de migração de lavouras para áreas mais
frias, como já ocorreu em São Paulo, onde a cafeicultura se concentra agora nas áreas mais altas, de temperaturas mais amenas”, exemplificou. No futuro, estados como Santa Catarina e Rio Grande do Sul poderão estar produzindo café. Contudo, ponderou o pesquisador, a cafeicultura tem condições de ser mantida onde está, com ou sem mudanças climáticas. Mas serão necessárias ações para adaptação da cultura a elas. Essas ações visam minimizar os efeitos das mudanças climáticas na cultura do cafeeiro, tornando-o mais resiliente, ou seja, mais capacitado a enfrentar certos níveis de estresses ambientais. Entre estas ações, estão o melhoramento genético, que é o desenvolvimento de variedades de cafeeiros mais resistentes a altas temperaturas, e o desenvolvimento tecnológico, que é o uso de técnicas e práticas agrícolas que atenuam o efeito da elevação das temperaturas no cafezal. Entre estas práticas, estão o uso de áreas adensadas e sombreadas, além de incremento no uso da irrigação. “O caso da soja é emblemático. Antigamente ela era cultivada apenas no Rio Grande do Sul, onde as temperaturas são mais baixas. Hoje em dia, a sojicultura está espalhada por todo o Brasil, graças à tecnologia”, salientou Sentelhas. (FONTE: Agência Safras)
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Extrema (MG): a multiplicação das águas
O rio Jaguari se avoluma com as fontes de Extrema para, a seguir, transformar-se no principal veio do Sistema Cantareira, que abastece a região metropolitana de São Paulo. Extrema, pioneira na implantação do PSA no Brasil: restauração de 7,5 mil hectares de 161 propriedades e pagamento para quem mantém as fontes conservadas.
Adriana Arantes1
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xtrema, cidade de 32 mil habitantes do sul de Minas Gerais, à beira da rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte. Independentemente de sol ou de chuva, é às 6 horas da manhã que a equipe de 30 pessoas da Secretaria de Meio Ambiente do município parte para um dos maiores desafios da atual realidade: preservar o ouro azul do planeta. Munidos de enxadas, mudas e mourões, os soldados verdes marcham para mais uma batalha diária a fim de manter preservadas as milhares de nascentes da região, cujas águas, desembocadas no caudaloso rio Jaguari, ajudam a formar o principal veio que alimenta o Sistema Cantareira, um dos maiores do mundo, o qual sustenta 55% da região metropolitana de São Paulo. A equipe sobe cedo as ribanceiras da serra e trabalha nas nascentes mapeadas e controladas por outros quatro funcionários da Prefeitura. E o que eles fazem? Basicamente plantam árvores nativas e fincam cercas em volta dos mananciais e dos cursos d’água. A ideia é tão simples e antiga quanto ambiciosa: restaurar ou preservar as matas que circundam as nascentes, cabeceiras e aquíferos, ajudando assim a estocar os líquidos na própria natureza, formando bolsões freáticos que irão liberar água na medida das necessidades. Até o final da jornada diária, às 16h, a equipe terá cumprido a meta de levar ao solo entre 800 e mil mudas. Quase todas as árvores são
AUTORA 1 - Doutoranda em Direito pela Universidade de Coimbra, Portugal, onde pesquisa o tema “Água potável como direito fundamental das futuras gerações”.
plantadas em propriedades privadas. Os produtores, por sua vez, ao abrirem mão de uma área que poderia ser explorada com pastagens ou agricultura, recebem dinheiro da Prefeitura como compensação pelos serviços ambientais prestados. Esse programa, batizado de Conservador das Águas, é pioneiro na regulação e aplicação efetiva do chamado Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), conceito surgido em 1990, na França, inicialmente para preservar a qualidade da fonte da água mineral Perrier. Desde que o programa foi instituído, em 2007, foram plantadas quase 510 mil árvores e restauradas 250 nascentes, em um total de 7,2 mil hectares protegidos por 187,5 mil metros lineares de cercas construídas pela Prefeitura. Foram investidos R$ 1,6 milhão, beneficiando 161 propriedades rurais pelos serviços de preservação das nascentes. No ano passado, Extrema investiu R$ 632 mil. “O Conservador das Águas é exemplo de como pode ser bem aplicado o Código Florestal”, diz o prefeito Luiz Carlos Bergamin, implementador do programa, que está em seu quinto mandato. “Um dos nossos desafios é preservar os mananciais para as futuras gerações. Todo esse trabalho vai de fato frutificar lá na frente, para nossos netos e bisnetos”, acrescenta. RECONHECIMENTO - O projeto Conservador das Águas é considerado pelos especialistas uma iniciativa ambiental audaciosa e a mais bem-sucedida do Brasil no campo da preservação de nascentes e produção de água potável. Por essa razão, já coleciona uma dezena de prêmios – fora menções honrosas, teses acadêmicas, livros e reportagens nacionais e internacionais. Entre as honrarias mais relevantes, ganhou o Prêmio Caixa de Melhores Práticas em Ges-
tão Local 2011/2012, que conta com o apoio do Ipea, e o prêmio internacional Greenvana Greenbest 2012, na categoria Iniciativas Governamentais. No ano passado, em meio a 360 projetos concorrentes, sendo 30 do Brasil, o Conservador das Águas recebeu o Prêmio Internacional por Melhores Práticas para a Melhoria das Condições de Vida, concedido pelo Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos, o ONU-Habitat, em uma grande festa promovida em Dubai. A região metropolitana de São Paulo bebe as águas de oito sistemas de abastecimento. O Cantareira, com seis represas, é o maior deles. Com vazão de 33 mil litros por segundo em média anual, abastece 8,8 milhões de habitantes de São Paulo e 5,5 milhões no interior do estado – no total, mais de 14 milhões de cidadãos. O Jaguari, por sua vez, fornece nada menos que 22 mil litros por segundo em média para o Cantareira, ou 67% do total. Significa que cerca de 9,5 milhões de paulistas sorvem das águas do Jaguari. O rio passa por várias cidades, mas é em Extrema que se torna volumoso. Em épocas de chuvas, chega a 200 mil litros por segundo. No início de 2014, o Cantareira entrou em alerta vermelho por causa da pequena densidade pluviométrica. Na virada de março para abril, estava com menos de 8 mil litros por segundo, baixando o nível dos reservatórios para menos de 13% do total, marca que não se via desde 1974, quando foi criado. No ano passado, no mesmo
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Replantio de nascentes é uma prática extremamente importante.
período, o volume do sistema era quase seis vezes maior. A previsão era a de que chegasse abaixo de 10% em meados de maio e 5% em agosto. Das águas que ainda chegam ao Cantareira, 2 mil litros por segundo brotam em Extrema. Assim, numa leitura simplificada da crise, pode-se concluir que o Conservador das Águas está ajudando a salvar São Paulo do colapso. “Há coisas que vieram realmente para ficar”, observa o prefeito Bergamin. Com a aprovação do marco regulatório do programa, em 2005, Extrema passou a atrair parceiros, como gover-
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nos, ONGs e empresas privadas. A Agência Nacional de Águas (ANA), por exemplo, que já tinha em curso o Programa Produtor das Águas, forneceu hidrômetros à Prefeitura e financiou a construção de cacimbas para represar águas da chuva, investindo R$ 250 mil em obras e equipamentos. O governo de Minas ajudou com a declaração da reserva legal das propriedades e forneceu insumos, como cercas, adubos e herbicidas. A ONG nacional SOS Mata Atlântica cedeu mudas e a The Nature Conservancy (TNC) contribui com dinheiro para ações de plantio de mudas (R$ 250 mil). WOODSTOCK AMBIENTAL - A ideia de conservar as nascentes da cidade surgiu em 1996, quando a Prefeitura entrou para um programa de recuperação de mananciais da bacia do rio Sapucaí, liderado pelo Ministério do Meio Ambiente. Bergamin era prefeito e o biólogo Paulo Henrique Pereira, o secretário de Meio Ambiente. Com as metas atingidas, o secretário convenceu o prefeito a avançar em novas frentes ambientais. Então, idealizou o projeto Conservador das Águas, inspirado principalmente em um programa similar que desde o início da década de 1990 vinha sendo implantado no condado de Greene, a 200 quilômetros de Nova York – microrregião cultuada pelos alternativos de todo o mundo por ter abrigado o Concerto de Woodstock. No programa norte-americano, a Prefeitura de Nova
York financia os produtores rurais das montanhas de Catskill, onde ficam as principais nascentes de Greene. Lá, Nova York compra propriedades, arrenda terras, paga os produtores pela preservação dos mananciais, investindo na infraestrutura do local, como na construção de pontes para a travessia de animais e de tanques para estocagem de estrume. Paga até mesmo o sistema de esgoto da região. A água tem chegado límpida à metrópole. Nova York investiu nos últimos 20 anos 1,5 bilhão de dólares na preservação dos mananciais de Catskill. Em compensação, economizou 10 bilhões de dólares no tratamento convencional das águas – numa relação de sete para um. No caso brasileiro, a Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (Sabesp) gasta cinco vezes mais com o tratamento das águas do complexo de Guarapiranga, na zona sul da cidade, do que com o Sistema Cantareira, cujas águas, tratadas na fonte pelo município de Extrema, possuem padrão de qualidade superior aos exigidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS). MULAS E MÁQUINAS - Até cinco anos atrás, o programa vinha sendo executado de forma rudimentar. Mudas de árvores e mourões eram levados para as propriedades do alto da Mantiqueira em cima de carroças puxadas por mulas. “Começamos com nossas mulas e poucas enxadas”, recordase o gerente do programa, Arlindo Cortez. “Ainda assim conseguíamos plantar até 100 mudas por dia”, calcula. Hoje, depois de colher os primeiros frutos, a Prefeitura conseguiu disponibilizar três veículos e um trator para o programa. Com o prêmio ONU-Habitat, compraram recentemente uma caminhonete zero quilômetro. Também adquiriram um perfurador de solo especial que permitiu elevar a produtividade para até mil mudas plantadas por dia. O programa começou pela área mais degradada da região, a sub-bacia das Posses, de 1.200 hectares, onde 90% da área estava desmatada. Em meio às pastagens sem fim, uma curiosa árvore ficara em pé. Trata-se de uma laranjeira, conhecida por produzir o fruto mais doce da região. Hoje cercada por uma intensa mata, a laranjeira sobrevivente e a área recuperada se tornaram símbolos do programa. “Agora a laranjeira está em boa companhia”, ressalta o gerente Cortez. Em todo o Brasil, há cerca de duas dezenas de outros programas de recuperação de nascentes, nos quais governos ou prefeituras disponibilizam algum tipo de incentivo. Em quase todos, fornecem apenas as mudas de árvores aos proprietários rurais. O grande diferencial de Extrema está na manutenção da área plantada feita exclusivamente pela Prefeitura, sem qualquer ônus para os produtores. A Prefeitura planta e, depois, responsabiliza-se totalmente pela irrigação, coroamento das árvores, cobertura de adubo, poda e controle, fiscalizando o antes e o durante para um depois pra lá de recompensador. O pagamento aos produtores começou em 2005, logo após a aprovação, pela Câmara de Vereadores de Extrema, da primeira lei brasileira sobre PSA, a de nº 2.100. Preocupada com o futuro do programa, em 2009, a Câmara
municipal publicou a Lei nº 2482, que instituiu o Fundo Municipal para Pagamentos por Serviços Ambientais, o qual assegurou a continuidade das parcelas mensais aos ruralistas e a extensão do programa para os futuros prefeitos. Os pecuaristas têm recebido da Prefeitura R$ 150 mensais para cada hectare de pastagem que deixaram de utilizar. Se fossem alugar seus pastos, ganhariam R$ 120. Ou seja, financeiramente, também é vantajoso aderir ao programa. Os casos de sucesso são muitos. Na propriedade de José Lopes Rezende, com 107 hectares, a Prefeitura gastou R$ 59 mil plantando na área 25 mil mudas e construindo cinco quilômetros de cerca para afastar o gado dos cursos d’água. Paga hoje ao proprietário R$ 1,8 mil a título de PSA. Só a propriedade de Hélio de Lima, de 90 hectares, também com nove minas conservadas, tem um volume capaz de abastecer 6 mil cidadãos paulistanos. Ele recebe por isso R$ 1,6 mil mensais. PEGADA ECOLÓGICA - “A meta para 2030 é subir de 20% para 40% a cobertura vegetal do município”, anuncia o secretário Paulo Henrique. Com 24 mil hectares de área total, Extrema já tem quase um terço – 7.500 hectares – dentro do Conservador das Águas. E o programa já se desdobrou em outros projetos locais. Dentre eles, o Compromisso com as Águas, que tem o objetivo de conseguir parcerias com a iniciativa privada. A ideia é prática: calcula-se o quanto as empresas consomem de recursos naturais com sua produção e elas devolvem com responsabilidades ecológicas efetivas. Esse conceito é chamado de “pegada ecológica”. Como compensação pela “pegada”, as empresas custeiam a manutenção das áreas de mananciais, diminuindo o impacto ambiental das atividades. A primeira parceria já foi fechada em 2013. A indústria de alimentos Bauducco, que tem uma grande fábrica de biscoitos na cidade, adotou uma área de 50 hectares. A multinacional Panasonic está na fila para ser a segunda. Outra novidade foi lançada em 2013: o programa-piloto Guardião de Carbono nas propriedades parceiras do Conservador das Águas, pelo qual a Prefeitura também passou a pagar para que o proprietário rural mantenha suas florestas intactas. O objetivo é contribuir igualmente, tal como as águas, com o sequestro de carbono. Por conta da restauração nos mananciais, hoje, cada hectare em Extrema é capaz de sequestrar 15 toneladas de carbono por ano, de acordo com a certificação da Climate, Community e Biodiversity International (CCBI). O primeiro “guardião” a aderir foi o produtor Rubens Carbone. Ele receberá R$ 4,2 mil por mês, até o ano 2043, para preservar 20 hectares de floresta, duas nascentes e 1,2 quilômetros de margens em torno dos mananciais cercados. “O produtor rural não é o vilão da degradação”, afirma o secretário Paulo Henrique Pereira. “Estamos conscientizando que árvore em pé tem mais valor”, acrescenta Marília Borgo, da The Nature Conservancy no Brasil, organização presente em 35 países, que apóia com recursos as iniciativas de Extrema desde o seu início: “O desenvolvimento de um projeto florestal de carbono é bastante oneroso. A associação
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desses dois serviços ambientais onde já existe uma iniciativa consolidada de PSA de água potencializa o alcance dos resultados, garantindo manutenção e preservação a longo prazo, já que projetos de carbono têm usualmente duração média de 30 anos”. Eis, enfim, uma cidade repleta de boas práticas para ins-pirar autoridades e cidadãos de todo o Brasil.
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floração do cafezal é um momento muito esperado pelo cafeicultor, pois é o primeiro anuncio da safra vindoura. Neste ano, agora em setembro/ outubro, teve início a florada nas lavouras, em algumas áreas onde já choveu, mas existiam e permanecem dúvidas sobre o volume, a abertura e o pegamento desta florada. O que se tem visto no campo já pode começar a aclarar estas dúvidas. Primeiro, havia o receio de que o estresse hídrico, mais cedo, em fevereiro até maio, poderia dificultar a indução floral, na fase inicial de formação das gemas. Podese observar, sobre isso, que houve a indução normal, pois, agora, os ramos e as rosetas estão com grande numero de botões florais, com boa uniformidade no amadurecimento das gemas, pelo próprio efeito da seca, de maio a setembro. Como as chuvas, na maioria das regiões, ainda foram
AUTOR FOTO: Guapé (MG) - 02 Outubro 2014
1 - Engenheiro Agrônomo da Fundação Procafé - www.fundacaoprocafe.com.br
Figura 2 - Botões tipo “grãos de arroz” e alguns já secos, devido ao baixo volume de chuvas.
FOTO: FEX Varginha (MG) - 1º Outubro 2014
Problemas pelo efeito da estiagem sobre a floração das lavouras cafeeiras
Figura 1 - Problemas na abertura da florada em cafeeiros, por pouca chuva. Flores pequenas, outras semi-abertas, botões amarelados sem abrir e alguns “grãos de arroz”
em pequeno volume e mal distribuidas, existem variações no comportamento da florada. Em muitas áreas houve uma pequena florada, de ponteiro e mais nas lavouras novas. Em outras, com um pouco mais de chuvas, a florada foi maior, com cerca da metade dos botões abrindo, precisando de mais chuva para a abertura total. Neste ponto surgem indagações e afirmações diversas, dos produtores e dos técnicos. Será que estas flores, por terem ocorrido em período de pouca chuva e pela persistência da seca, vão pegar, ou seja, vão se transformar em frutos. A primeira resposta a esta indagação depende do que virá de chuva em seguida. Se dentro de pouco tempo as chuvas se normalizarem, a falta de chuvas no período da pós-abertura das flores não causará prejuízos, de certo modo até favorece, pela menor ocorrência de fungos, que atacam no momento da floração e na formação inicial dos chumbinhos. O stress prejudicial à frutificação ocorre quando os frutos começam a crescer rapidamente e a formar as sementes, que acontece a partir de 60-80 dias pós florada, aí que mora o perigo.
A segunda resposta diz respeito às lavouras em áreas mais quentes e secas e que chegaram a secar ramos, sofrendo muita desfolha Nestas, é claro, a floração vai ficar prejudicada pela morte de gemas e pelo menor pegamento da floração, pois as reservas que se acumulam nas folhas, ficaram prejudicadas. Por último, existe, em campo, uma terceira situação, onde a florada ocorreu com pouca chuva, com 5-20 mm apenas. Aí já podem ser observados alguns problemas com a floração. Onde a água foi pouca estão ocorrendo os botões chamados de grãos de arroz. Eles foram estimulados a crescer, pelo diferencial hídrico ocorrido, porem a pouca água não foi suficiente para o crescimento completo e para a abertura dos mesmos. Então estes botões ficam amarelecidos e acabam caindo, sem que se abram em flores. Nas condições com um pouco mais de água as pétalas das flores ficam menores, algumas abrem parcialmente e outras abrem normalmente, com flores de pequeno tamanho. Nesta última condição não se espera perdas. Em conclusão pode-se dizer que, apesar de não conhecermos perfeitamente o processo de florescimento e o que está acontecendo na fisiologia, internamente, nos cafeeiros, em voltando, nesses próximos dias, a ocorrer chuvas
FOTO: Fundação Procafé
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Figura 3 - Na comparação, o ramo abaixo com flores de tamanho quase normal e o outro, acima, com flores pequenas, especialmente na extremidade do ramo, onde chega menos água.
normais, as lavouras que produziram pouco em 2014 estão preparadas para dar uma boa safra em 2015. Aquelas que produziram bem em 2014 se encontram desfolhadas e tem poucas condições de florescimento e de pegamento da florada. De fato, a estiagem pode prejudicar a próxima safra de café. O quanto vai depender da retomada das chuvas e só mais a frente é que poderemos avaliar melhor.
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OS “BEM” DE VIDA Celso Luis Rodrigues Vegro - Engenheiro Agrônomo, M.S. Desenvolvimento Agrícola. Pesquisador Científico do IEA - Instituto de Economia Agrícola - SP. [ celvegro@iea.sp.gov.br ]
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Federação Russa compreende território composto por 21 Repúblicas – dentre elas; Ucrânia; 7 Territórios; 48 Províncias; 10 Distritos Autônomos, 2 Cidades Federais e 1 Oblast Autônomo (tipo divisão geopolítica eslava). Com taxa de crescimento próxima a 7% ao ano e contando com mais de 145 milhões de habitantes, trata-se reconhecidamente de potência global. Os recentes conflitos territoriais (Península da Criméia) e separatistas (liderados por milicianos residentes nas províncias ucranianas de maioria russa) produziram escalada da violência que culminou com o decreto de embargos comerciais entre EUA/UE e Rússia (território ampliado uma vez que existe pacto aduaneiro da Rússia com algumas de suas Repúblicas). A retaliação veio na mesma proporção, concentrando-se no embargo de 12 meses às importações de alimentos oriundas da EUA/UE. Parceiro tradicional nas importações de gêneros do agronegócio brasileiro, a Federação Russa se destaca nas compras do segmento das carnes. Nos primeiros sete meses de 2014 foram embarcadas 184mil t de carne bovina, alçando-os para segundo posto no ranking dos maiores importadores desse produto. Nos suínos o incremento das exportações também foi notável com 48,8% de elevação na quantidade e 35,51% no valor entre janeiro a junho desse ano. A tendência é para crescimento ainda mais significativo, pois a autoridade russa credenciou 100 novos frigoríficos brasileiros como aptos a exportar para a Federação. A expectativa no segmento de aves é de incrementar seus embarques em 150 mil toneladas ainda em 2014. Portanto, essa iniciativa da autoridade russa tem potencial de transformarse em marco para o segmento das carnes pela dimensão dos negócios que poderá propiciar no curto prazo. Tabela 1: Exportações Brasileiras de Café Solúvel para a Federação Russa, jan./jun 2012, 2013 e 2014. PERÍODO Jan a Jun/2014
Jan a Jun/2013
Variação 2013/14 (%)
Jan a Jun/2012
Variação 2012/13 (%)
{ { { { {
Valor (US$ mil)
FED. RUSSA
TOTAL
29.556,22 265.291,00
Quant. (t)
3.995,81
36.639,00
Preço Médio (US$/t)
7.396,80
7.240,67
Valor (US$ mil)
37.793,84 328.255,00
Quant. (t)
4.251,77
39.101,00
Preço Médio (US$/t)
8.888,96
8.395,05
(21,80)
(19,18)
Valor (US$ mil) Quant. (t) Preço Médio (US$/t) Valor (US$ mil)
(6,02)
(6,30)
(16,79)
(13,75)
39.728,03 317.132,00
Quant. (t)
4.049,11
34.981,00
Preço Médio (US$/t)
9.811,54
9.065,84
Valor (US$ mil) Quant. (t) Preço Médio (US$/t)
(4,87)
3,51
5,01
11,78
(9,40)
(7,40)
Fonte: Elaborada a partir de dados básicos de: http://www.agricultura.gov. br/vegetal/estatisticas. Consulta efetuada em 13/08/2014.
Outros segmentos do agronegócio brasileiro estão também se beneficiando do embargo russo. O patamar de importações de alimentos da Federação Russa supera os US$40 bilhões ao ano, tendo as exportações do agronegócio brasileiro participado em menos de 7% desse montante. Segmentos como: açúcar; suco de laranja; soja; frutas; tabaco e café solúvel compõem a maior parte das exportações brasileiras. O incremento dos embarques para a Federação Russa é por si só um fato formidável para o agronegócio brasileiro. Todavia, mais importante ainda é a oportunidade concedida para que a indústria brasileira suplante os concorrentes europeus e estadunidenses nesse mercado, consolidando seu já destacado papel entre os maiores players no suprimento global de alimentos, fibras e bebidas. Mas o que era para ser motivo de júbilo, quando se olham os detalhes (sempre neles mora o diabo), constata-se que as exportações de café solúvel brasileiro declinam ano após ano, em valor e volume, para a Federação Russa. Na comparação entre os primeiros semestres de 2014, de 2013 e 2012, o declínio no valor dos embarques foi de 21,80% entre 2013/14 e de 4,57% entre 2012/13. Refletindo a queda no valor apurado constata-se também queda na quantidade de 6,02 entre jan.jun/2013/20141. Ao longo de 2013, frente ao ano anterior, as exportações totais de café solúvel brasileiro exibiram declínio nos valores apurados (-4,53%), assim como no preço médio (-7,81), provocado por incremento nas quantidades embarcadas. Quando se especula sobre as potencialidades da exportação de café brasileiro com maior valor agregado, os produtos da agroindústria T&M e solúvel se destacam. A Federação Russa exemplifica “case” em que as exportações contemplam produto rotulado em português, exemplo quase que único na pauta exportadora do país. Constatar o encolhimento dos embarques para esse destino, conforme apontam as estatísticas apuradas, produz frustração naqueles que ainda sonham com a constituição de imaginada “Plataforma Exportadora” do complexo café em território nacional. As reexportações de café T&M efetuadas pela UE para a Federação Russa totalizaram 14.203 toneladas (14,0% do total reexportado pelos países membros) em 2013, ou seja, aproximadamente 289 mil sacas de café verde. Outras 11.569t de café solúvel (25,6% do total reexportado) foram igualmente importadas dessa origem, representando 598 mil sacas de café verde. Essa é parte da dimensão de mercado que se ignora na terra de pindorama! As lideranças cafeeiras do País e seus mais destacados produtores permanecem como que anestesiados pela gloriosa história da economia cafeeira pregressa. Desperdiçar essa oportunidade de deslocar os nossos concorrentes no mercado da Federação Russa denota que embalados em berço esplêndido, aguardam pela próxima crise no ciclo de preços que, na estultice de seu sonhar, não os afetará. Na carona do representante diplomático israelense, não passam de anões empresariais bem de vida.
CAFÉ
O desafio das mudanças climáticas e a importância de um bom manejo para manutenção da produtividade seca no início de 2014 trouxe grandes prejuízos para nossos cafezais. Lavouras perderam produtividade e rendimento em sua produção, a renda que costuma ser de 490 litros de café em coco para 1 saco de 60 kg de café beneficiado, chegamos a observar em alguns casos a necessidade de 1000 litros para conseguir uma saca. Nem bem a safra 2013/2014 acabou, e os cafeicultures já sofrem problemas graves de falta de água para o pegamento da florada da safra 14/15. Lavouras que já vieram depauperadas da safra anterior, não possuem condições fisiológicas para manter a produtividade e o desafio das mudanças climáticas se torna cada vez mais presente na produção de café da alta mogiana causando grandes riscos para o produtor. Se permanecer a situação de secas prolongadas, cada vez mais severas e recorrentes, podemos encontrar nosso atual sistema de produção, que foi exitoso e lucrativo nos últimos anos, em xeque. Eventos climáticos extremos como estamos vivendo atualmente, nos faz refletir para aonde devemos conduzir nossos sistemas de produção de café. Compartilho com vocês a situação de uma fazenda que tenho a felicidade de assistir desde 2010. A fazenda possui café (plantado em 2009) consorciado com seringueira (plantado em 2008) e está indo para sua 4° safra de café, que foi plantado para reduzir o custo de implantação do seringal. A seringueira inicia a produção(sangria) este ano. A média de produtividade da fazenda é de 25 sacas/ha com um stand de 2000 plantas de café e 450 plantas de seringueira por hectares. Devido ao sombreamento, a lavoura mesmo com a severidade da seca pouco sofreu estresse hídrico e não prejudicou a renda da safra 13/14. A florada para safra 14/15 apresenta bom potencial e as plantas se encontram com folhagem vigorosa, fato raro na região. O “sombreamento” de lavouras cafeeiras no Brasil ainda é pouco utilizado e carece
AUTOR
1 - Engenheiro Agrônomo, sócio da Via Verde Consultoria Agropecuária em Sistemas Tropicais. www.viaverde.agr.br
Foto da lavoura ainda sem sombreamento (Agosto 2010).
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OUT2014
FOTOS: Murilo Betarello
A
Murilo Martins Ferreira Betarello
1
Florada em 10 de outubro de 2014.
de mais estudos técnicos e econômicos, porém com os desafios climáticos que nos apresentam, pode ser uma boa alternativa de produção. Juntamente é claro, com outras praticas conservacionistas que também são praticadas na cafeicultura como manejo do mato, adubação equilibrada, MIP e outras.
TECNOLOGIA
Cool Seed desenvolve equipamento que substitui terreiros de café e secadores a lenha ou gás
32 FOTO: Divulgação - Cool Seed
OUT/2014
P FOTO: Revista Attalea
rodutos nobres como café, castanhas de caju, cacau e outros são secados com frequência em terreiros, que geralmente não asseguram a higiene necessária e permite a ação de fungos que acabam degradando a qualidade do produto e podem gerar toxinas, perigosas para a saúde. Na atualidade, as exigências do consumidor são muito superiores daqueles de cem anos atrás e as normas sanitárias mais exigentes. Estas mudanças vieram acompanhadas da incorporação de tecnologias no campo, de modo a dar condições ao setor de competir em um mercado globalizado, ávido por qualidade. Grandes terreiros são manuseados por meio de tratores que circulam sobre o produto em estado natural ou por meio de animais de tração, com todas as consequências desagradáveis em termos de higiene e qualidade. Houve grandes avanços na genética, no manejo da lavoura e da colheita, mas algumas práticas no manejo da póscolheita estão fora dos tempos atuais e ficaram presas ao passado. São práticas que permaneceram por falta de opção e não por capricho do produtor ou por rejeição as novas tecnologias. Os atuais secadores foram desenvolvidos nos primór-
Washington Luis, Reinaldo Spongoski Jr., Mário Domingos, Geraldo Bianchi e Profº Adilio Flauzino de Lacerda Filho.
dios do século passado e continuam utilizando como fonte de energia a lenha ou gás. Os grandes esforços de genética, da agronomia no campo e de colheita acabam sendo assim comprometidos pela adoção de políticas e ferramentas de pós-colheita inadequadas. A Cool Seed, por meio de convênio celebrado com a Universidade Federal de Viçosa - UFV, vêm desenvolvendo desde o ano de 2004 um novo sistema de secagem para evitar o uso de terreiros e substituir a queima de lenha e gás. Surgiu assim um novo equipamento para secagem de produtos sólidos de baixa fluidez: o Secador de Bandejas (SBJ).
ROBUSTO, COMPACTO E EFICIENTE - O SBJ se apresenta como alternativa viável, técnica e economicamente, para a substituição dos terreiros, para a secagem de produtos como café e produtos nobres como castanhas e sementes de diversas espécies, devido a flexibilidade operativa, robustez, economia de espaço, qualidade de secagem e custo. “Este secador pode ser utilizado, também, como pré-secagem, reduzindo a umidade do produto para 25% b.u. de modo a finalizar a secagem em outros tipos de secadores. Assim podese evitar a passagem do produto pelo terreiro”, afirmou Reinaldo Spongoski Jr., gerente comercial da Cool Seed. A Unidade de Tratamento de Ar (UTA) complementa o sistema proporcionando ar de secagem limpo, não agressivo e com excelente custo & benefício em termos de consumo de energia elétrica. Trata-se de um equipamento desumidificador de ar, totalmente automatizado, que pode ser operado de forma não assistida e substitui a fornalha/lenha ou queima de gás. Assim, ambos os sistemas, SBJ e UTA, compõem um pacote tecnológico revolucionário e vem mudar de vez a forma de secar café. No início do mês de outubro, no Hotel Dan Inn, em Franca (SP), a Cool Seed organizou o Workshop de Café onde, dentre as palestras, o Profº Adilio Flauzino de Lacerda Filho abordou o tema “Secagem Cortez, Osmar de Café” e apresentou o equipamento.
CANA DE AÇÚCAR
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OUT2014
CAFÉ
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COCAPEC realiza o 11º Concurso de Qualidade de Café - Seleção Senhor Café
O
s melhores cafés da Alta Mogiana são de Pedregulho (SP) e Ibiraci (MG). Dois produtores destas cidades são os grandes vencedores do 11º Concurso de Qualidade de Café – Seleção Senhor Café, realizado pela Cocapec. A novidade deste ano foi justamente valorizar os cafeicultores dos dois estados que compõem a área de atuação da cooperativa (São Paulo e Minas Gerais). Sendo assim, foram reconhecidos os 5 mehores grãos paulistas e os 5 mineiros. Os premiados tiveram suas amostras enviadas para os respectivos concursos estaduais e terão a oportunidade de estar entre os melhores do Brasil. As amostras analisadas são referente à safra comercial 2014/2015 e apenas da espécie Coffea arabica, seguindo a tabela oficial brasileira de classificação de bebida dura para melhor, nas peneiras 16 e acima, com vazamento de no máximo 2% da peneira 16 e com teor de umidade de no máximo 11%. OS FINALISTAS DO 11º CONCURSO DE QUALIDADE DE CAFÉ OS 5 MELHORES CAFÉS DE SÃO PAULO 1º - Rodolfo Salim Almeida Feres Faz. Rodolfo Almeida
Pedregulho (SP) Rib. Corrente (SP)
2º - Luis Carlos Lopes Ferreira
Sítio Montreal
3º - Cássio Alexandre Chiarelo
Sítio Chave da Taquara Cristais Pta (SP)
4º - Ailton José Rodrigues
Faz. São Domingos
Pedregulho (SP)
5º - Wilson Moscardini
Sítio Santo Antônio
Jeriquara (SP)
OS 5 MELHORES CAFÉS DE MINAS GERAIS 1º - José Augusto Peixoto
Faz. São José Boa Vista Ibiraci (MG)
2º - Tarlei Neves de Castro
Faz. Santa Maria
Ibiraci (MG)
3º - José Roberto Pimenta
Sítio Alto da Boa Vista
Capetinga (MG)
4º - Luis Guilherme Carrion
Sítio N.Sra. Aparecida
Capetinga (MG)
5º - Geise Cintra e Outros
Sítio Santo Antônio
Claraval (MG)
FOTO: Divulgação - Cocapec
OUT/2014
O alto grau de excelência dos grãos fizeram da 11ª edição do concurso uma das mais disputadas.
Segundo o gerente comercial do café da Cocapec, Jandir da Cruz Castro Filho, o clima mais seco durante o período da colheita, que é a característica da Alta Mogiana, manteve as reconhecidas propriedades dos cafés da região tais como equilíbrio entre acidez e corpo, doçura natural, fragrância caramelizada nas amostras recebidas. Tudo isso resulta em uma bebida de elevado padrão e concede um diferencial aos grãos produzidos aqui. Veja no quadro ao lado os cooperados que mais uma vez primaram pela qualidade de sua produção. A Cocapec parabeniza a todos os participantes e enfatiza o seu apoio na busca de valorização do café da Alta Mogiana.
CAFÉ
OIC prevê déficit mundial de 4 a 5 milhões de sacas de arábica por seca no Brasil
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OUT2014
FOTO: Globo G1
A
Organização Internacional do Café (OIC) fez um diagnóstico pessimista sobre as perspectivas do mercado global do café. A entidade entende que a seca que afeta as principais regiões produtoras do Brasil deverá reduzir a produção brasileira e fará com que o Planeta tenha déficit na oferta de café na atual safra 2014/2015 e também na futura safra 2015/16. Após uma semana do seminário que reuniu os principais produtores de café em Londres, capital britânica, a entidade que representa o setor divulgou estimativa de que o mercado mundial teve registrar déficit entre 4 milhões e 5 milhões de sacas de café arábica - o mais produzido pelo Brasil - na atual safra que está na fase final de colheita. A oferta inferior à demanda também deve se repetir na safra 2015/16, mas a entidade não deu detalhes sobre o prognóstico. A queda na oferta, diz a Organização, é resultado da forte seca que afeta o Centro-Sul brasileiro. “Foram dois anos de muita seca no Brasil, o que reduziu a produção do café, especialmente do tipo arábica”, disse o chefe de Operações da OIC, Maurício Galindo, em entrevista à imprensa na
sede da entidade em Londres. Segundo Galindo, o fenômeno climático prejudicou especialmente Minas Gerais, maior produtor de café arábica do País. “Isso mudou as condições do mercado, que passou a ter déficit na oferta”, disse. A OIC espera que o Brasil encerre a atual safra com 45,14 milhões de sacas produzidas, volume 8,2% inferior ao registrado na safra 2013/14. (FONTE: Estadão)
ENTREVISTA
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OUT/2014
N
A IMPORTÂNCIA DO MARKETING PARA A PROMOÇÃO DOS “CAFÉS DO BRASIL” Maurício Miarelli - Engenheiro Agrônomo, diretor-presidente
da COCAPEC - Cooperativa dos Cafeicultores e Agropecuaristas e Coordenador do CNC - Conselho Nacional do Café. [ www. cocapec.com.br ]
eto de italianos e natural de Campos Gerais (MG), Maurício Miarelli é o atual presidente da COCAPEC - Cooperativa dos Cafeicultores e Agropecuaristas e coordenador do CNC - Conselho Nacional do Café e tem sua vida envolvida desde criança na cafeicultura. Engenheiro Agrônomo de formação, graduado pela Escola Superior Agronômica de Lavras (MG) e com MBA em cooperativismo pela FEA/USP, de Ribeirão Preto (SP), Miarelli foi presidente do Conselho Nacional do Café (CNC) de 2005 a 2007. Foi membro da Câmara Consultiva da BM&FBovespa, da Câmara Consultiva da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo e também foi integrante do Grupo de Trabalho nomeado pelo MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para a implementação do Plano Nacional de Desenvolvimento do Agronegócio Café. Em entrevista neste mês à Revista Attalea Agronegócios, Miarelli falou sobre drawback, destacou o trabalho desenvolvido no CNC para promover os Cafés do Brasil no mercado externo e mostrou o seu posicionamento e o do CNC sobre os rumores a favor e os contrários à proposta da multinacional Nestlé em instalar uma fábrica de cápsulas no Norte de Minas Gerais. Revista Atallea – No final do ano passado, o CNC junto com a OCB realizou o seminário “Rumos da Política Cafeeira no Brasil” e, entre vários temas debatidos, estava o de Estratégias para ampliação do Market Share do Brasil. Ficou definido que o Brasil precisa investir no marketing do “Cafés do Brasil”. Esta decisão tem alguma relação com a proposta da Nestlé? Maurício Miarelli – Não. Quando o Seminário foi realizado, em dezembro de 2013, o CNC ainda não tinha conhecimento da proposta da Nestlé. O seminário foi uma iniciativa para unir os representantes de todos os elos da cadeia produtiva do café em torno de um objetivo comum: delinear os rumos da política cafeeira, definindo onde e quando queremos chegar. Na oportunidade, foram elencadas ações prioritárias para ampliar a competitividade da cafeicultura nacional, sendo que os participantes elegeram como mais
prementes as ações de promoção do consumo doméstico e internacional dos cafés do Brasil, visando conquistar fatias crescentes de mercado para absorver nossas produções, garantindo renda aos nossos cafeicultores. O trabalho iniciado no Seminário está em continuidade no âmbito do Projeto Rumos, que transformará a matriz de ações prioritárias construída pelos participantes do evento em projetos estratégicos para a cafeicultura brasileira. RA – O CNC entende que a proposta da Nestlé é interessante para o “café brasileiro”, seja no mercado interno, seja no mercado externo? MM – A proposta da Nestlé vem ao encontro da idéia de transformar o Brasil em uma grande plataforma de exportação de cafés industrializados, uma estratégia fundamental para a agregação de valor à cafeicultura nacional. Observamos que a balança comercial do segmento de cafés industrializados tem sido negativa, principalmente devido aos crescentes volumes importados desses cafés processados. Além disso, as cápsulas que entram no nosso País já contêm grãos verdes de outras nações produtoras. Assim, trazer o processo de industrialização desses cafés para nosso País, com a meta de aumento da participação da matéria prima nacional no blend e da promoção da mesma no mercado internacional é interessante para o café brasileiro, até porque há o compromisso da empresa de expor em suas embalagens a expressão “Contém Cafés do Brasil”. Por isso, estamos abertos a discutir também com outras empresas que tenham interesse em realizar esse tipo de investimento no Brasil, nessas condições. RA – Porque a Nestlé apresentou a proposta primeiramente para o CNC e não ao Governo Brasileiro? MM – Isso não é verdade. A Nestlé procurou primeiramente o governo brasileiro para apresentar seu projeto de instalação de uma indústria de cápsulas no Brasil. O Governo, por sua vez, sabendo da possibilidade de resistência da classe produtora em relação a certos pontos do projeto, encaminhou a Nestlé para apresentar a proposta ao CNC, por ser o órgão representante do segmento da produção de café do Brasil. As reuniões entre a Nestlé e o CNC tive-
ENTREVISTA ram como objetivo esclarecer as dúvidas do segmento produtivo e estabelecer condições que garantam a ampliação do mercado para os Cafés do Brasil. RA – Quais as repercussões na cadeia produtiva do café brasileiro, caso o projeto da Nestlé seja aprovado? Há risco de diminuição de postos de trabalho e redução de preços do café no mercado nacional? MM – Não existe esse risco devido ao compromisso de aumento da participação dos Cafés do Brasil no blend das cápsulas, inclusive com substituição imediata dos grãos do Vietnã por café conilon produzido no Espírito Santo. A Nestlé ressaltou que o aumento do café brasileiro no blend, além de um compromisso assumido com o setor produtivo, é uma condição primordial para a viabilidade econômica do projeto industrial. Atualmente, o Brasil importa cerca de 300 milhões de cápsulas. A meta da Nestlé é atingir a produção de 2,2 bilhões de cápsulas nos próximos 10 anos. O investimento para os dois primeiros anos do projeto (2014 e 2015) será de R$ 180 milhões, coma criação de mais de 400 empregos diretos. O blend das cápsulas é composto por 65% de Cafés do Brasil e o restante de grãos da Colômbia, Vietnã e Quênia. Há compromisso deaumento de participação de café brasileiro no blend para, no mínimo, 85%. Além disso, a proposta prevê o pagamento de um prêmio de US$ 10 a US$ 17 por saca de café brasileiro de elevado padrão de qualidade. A Nestlé também se compromete a investir em pesquisa, destinando um total de R$ 3,2 milhões em 10 anos, sendo R$ 2,2 milhões nos primeiros anos (2014 e 2016), para prospectar, desenvolver e produzir variedades no Brasil com atributos sensoriais que possibilitem a substituição total dos cafés importados. RA – A introdução de novas variedades de café vindas de outros países produtores também é um fator muito questionado por entidades da cadeia produtiva brasileira, pelo risco de trazer novas doenças e pragas. O que a Nestlé apresentou para sanar ou conter este problema? MM – A Nestlé terá que cumprir as exigências já previstas na legislação fitossanitária brasileira, como Análise de Risco de Pragas (ARP) e quarentena vegetal para proteger a sanidade dos cafezais brasileiros. Cabe ao Governo autorizar a importação, garantir e fiscalizar o cumprimento das medidas fitossanitárias. E o setor produtor também estará atento a essa tramitação, de forma que se cumpra nossa legislação e o acordado entre a empresa e nossa representação. RA – Qual o posicionamento do CNC com relação ao drawback? O Brasil perde mercado por não adotar o regime de drawback, como afirmou Ruy Barreto? MM – O drawback é um mecanismo de incentivo às exportações que concede benefício fiscal à matéria-prima importada, no caso café verde, que será utilizada exclusivamente na fabricação da mercadoria exportada (café industrializado). A proposta da Nestlé não prevê a realização de drawback. Ela está focada, em seu estágio inicial, no abastecimento do mercado doméstico de cápsulas e prevê a elimi-
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nação paulatina da necessidade de importação de café verde para isso. A questão do drawback para a indústria de café deve ser discutida entre o governo, a indústria e o segmento da produção, em especial com o Estado do Espírito Santo, principal produtor da variedade conilon. RA – Muitas entidades representantes de classe na cafeicultura consideram que o Governo Brasileiro deveria primeiramente incentivar a indústria nacional em Inovação Tecnológica. A indústria brasileira está preparada para atender todos os segmentos do exigente mercado de cafés nacional e internacional? MM – O Brasil possui grandes empresas de solúvel e de torrado e moído, que se comprometem com a qualidade dos cafés produzidos. Como o mercado brasileiro é pujante, da ordem de 20 milhões de sacas, tem sido o principal foco de abastecimento de grande parte do setor industrial. Para atuar no mercado internacional, não basta produzir bem, é necessário grande volume de recursos e ter acesso a canais de comercialização para colocar os produtos nas prateleiras das redes de varejo. A escolha entre comercializar no mercado doméstico ou exportar, e a busca da capacidade tecnológica ou financeira para isso, é uma decisão de negócio de cada empresa. Cabe ao governo incentivar a inovação tecnológica na indústria nacional. Porém, a proposta da Nestlé não exclui, nem inviabiliza, as ações governamentais para fomentar a competitividade da indústria nacional de café. Cabe às lideranças desse setor promover o encaminhamento de suas demandas.
EVENTOS
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Casa das Sementes organiza palestra com o tema nutrição e fosfatagem do cafeeiro FOTOS: Divulgação - Casa das Sementes
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o último dia 9 de outubro, os cafeicultores do bairro rural do Taquari, município de Pedregulho (SP), recepcionaram uma palestra das empresas Fertec e Embrafós, organizado pela equipe da Casa das Sementes, revenda de produtos agrícolas sediada em Franca (SP). O tema abordado foi a nutrição equilibrada e a fosfatagem na cultura do café. A Fertec é uma empresa pioneira e especializada na produção de fertilizantes líquidos nano particulados para todos os tipos de cultura, aos quais foram especialmente desenvolvidos para serem aplicados via solo, visando uma prática agrícola eficiente e sustentável. A tecnologia da nanopartícula está presente em todos os produtos do portifólio da empresa e é capaz de garantir ao produtor economia no frete, facilidade de aplicação, aumento do enraizamento, rapidez e eficácia na percolação do solo. Facilita a reatividade, disponibiliza maior absorção pelas raízes, maior aproveitamento dos nutrientes e maior produtividade, melhorando os resultados no campo.
A palestra da Fertec foi apresentada pelo RTV Engº Agrº Jorge R. Takahashi, que abordados dois produtos muito utilizados na região. O Nyon solo café (B, Zn e Mg), que garante uma nutrição balanceada, proporcionando melhor granação aos frutos, menor queda de flores, folhas maiores com coloração intensa, maior internódios, sendo utilizada uma dosagem de 5 litros/ha, junto com a aplicação dos fungicidas e inseticidas de solo. O segundo produto abordado foi o Sponger, que tem como característica melhorar a retenção de água, estimular e potencializar o enraizamento, com fornecimento especialmente de Cálcio e Magnésio, proporciona uma maior reatividade e percolação no perfil do solo, sendo utilizada uma dosagem de 5 litros/ha. A palestra da Embrafós - empresa brasileira especializada em fósforo, com sede em Barretos (SP) - foi apresentada pelo gerente comercial Marcelo Moreira, acompanhado pelo RTV Luis Coutinho, que abordaram o tema fosfatagem e sua eficiência. Foram apresentados os resultados e os traba-lhos realizados com o produto FF Organic, que proporciona aumento de produtividade, sendo um produto de liberação lenta e 100% disponível para as plantas, além de conter MSP (microrganismos solubilizadores de fósforo) e matéria orgânica. A indicação de utilização são para dosagens de 400 a 600kg/ha de acordo com a análise de solo.
CAFÉ
Cafeicultores da Alta Mogiana relatam situações críticas com a falta de chuvas
OUT2014
FOTO: Wanderley Cintra
A
falta de chuvas na região da Alta Mogiana provocou quebra de 20% em média na produção de café. Porém, em alguns casos, a perda foi total, principalmente em talhões plantados no começo deste ano e talhões com manejo que expõe o solo à ação do sol e com problemas nutricionais. A equipe da Revista Attalea Agronegócios visitou várias propriedades nos últimos dias para averiguar a real situação de cada uma das regiões na Alta Mogiana. O cafeicultor Wanderley Cintra Ferreira, ex-presidente da Cocapec e do Sindicato Rural de Franca e atual presidente do Hospital Allan Kardec, em Franca (SP), apresentounos uma situação alarmante em sua propriedade. Wanderley considera que 2014 foi um ano perdido para a cafeicultura brasileira. “Em nossa região (Franca-SP) - onde se produz café da melhor qualidade -, aqueles plantios efetuados em dezembro de 2013 e janeiro/fevereiro de 2014 que conseguiram sobreviver à falta de chuvas estão praticamente da mesma maneira como foram plantados, ou seja, não cresceram e não se desenvolveram. No período de janeiro a agosto choveu na região em torno de 580 mm, a metade da
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Aspecto do talhão de café plantado no início de 2014, na propriedade de Wanderley Cintra Ferreira. “Vivo graças à aplicação de gel na cova”
FOTO: Toninho David
Talhão da Fazenda Experimental de Café Alta Mogiana, com sintomas claros da falta de água.
Talhão severamente afetado com a falta de água na propriedade do Toninho David, entre Franca (SP) e Ribeirão Corrente (SP)
média dos últimos cinco anos. Diante deste quadro as perspectivas para os próximos anos será de uma quebra de safra muito grande, pois o replantio nessas lavouras é inevitável, agravadas pela debilidade das lavouras em produção. As consequências deste ano, com a falta de chuvas, certamente refletirá nos próximos anos”, afirmou Wanderley Cintra. Para o Antônio Carlos David, o Toninho David, cafeicultor especializado no cultivo de café com o manejo da braquiária nas entrelinhas, a seca também afetou a sua lavoura.
Em intensidade menor do que em outras lavouras, mas vai provocar quebras consideráveis, segundo afirmou o cafeicultor. “A seca está provocando muitos danos na cafeicultura na região de Franca (SP). As lavouras mais novas, onde as raízes ainda não estão profundas, as plantas não conseguem buscar a água no solo. Muitos estão perdendo 100% dos talhões e da produção. Já a lavoura mais velha, tem uma perda de uns 20%, que vai agravar muito a produção de 2015 em nossa região. Se a estiagem persistir, a perda vai ser maior”, disse Toninho. Já na Fazenda Experimental do Café Alta Mogiana, sediada em Franca (SP) e que tem como gestores a Cocapec, a Fundação Procafé, a Prefeitura de Franca, o Sindicato Rural e a Credicocapec, a situação também não é diferente. O pesquisador Marcelo Jordão Filho, da Fundação Procafé postou na Rede Peabirus fotos dos talhões experimentais mostrando os sintomas lastimáveis da falta de água dos últimos meses.
FOTO: Marcelo Jordão - Fund. Procafé
FRAGMENTOS DA HISTÓRIA DA CAFEICULTURA NA ALTA MOGIANA Botões florais literalmente queimados na Fazenda Experimental de Café Alta Mogiana.
FOTO: Revista Leituras de História
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FOTO: Marcelo Jordão - Fund. Procafé
CAFÉ
Foto de lavoura cafeeira, na Alta Mogiana, por volta de 1900, com forte atuação de imigrantes italianos. O desenvolvimento da cafeicultura foi oportuno e, de fato, mostrou-se capaz de reverter a crise econômica.
CAFÉ
A nova indústria de café da Nestlé Jânio Zeferino da Silva1
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companho o processo de instalação da nova fábrica de café monodose da Nestlé desde o seu início. Sei que os líderes da produção e da indústria tem posições antagônicas e convergentes neste caso. Convergem na defesa do seu subsetor da cadeia produtiva e divergem quanto a forma de atender o pleito da multinacional. O que se discute é a concessão ou não de autorização exclusiva para a importação de café de outras origens para preparação dos blends que serão produzidos na nova planta industrial. Há muito tempo a indústria nacional de solúvel luta pelo drawback e até o momento não há consenso sobre o tema. Existe uma “barreira não-tarifária” que é a falta da ARP-Análise do Risco de Pragas que impede a importação, já que sob os aspectos econômicos, fiscais e tributárias não há nenhuma restrição. O argumento da indústria de solúvel é de que o Brasil tem capacidade instalada e mercado para transformar 4 a 5 milhões de sacas de café em solúvel e só consegue processar 3,5 milhões há vários anos pela falta e custo elevado do robusta brasileiro, o que vem enfraquecendo o setor ano após ano. A indústria da torrefação teme a entrada, através das grandes redes de varejo, de produto importado mais competitivo pelas vantagens fiscais dos países da Ásia, África e União Européia. A produção alega concorrência dos cafés asiáticos e africanos que chegariam mais baratos e prejudicariam a colocação dos cafés inferiores no mercado interno. A Nestlé sinaliza com a nova indústria que agregará valor ao café, aumento de empregos, exportações e ao mesmo tempo pede um “privilégio” mesmo que temporário de importar livre das amarras burocráticas atuais. Todos tem suas razões, argumentos e propostas. Quero aprofundar um pouco sob o ponto de vista de todos os intervenientes e ao final dar a minha opinião: NESTLÉ - usa muito café brasileiro em todo o seu mix de produtos e a nova planta reduzirá muito seu custo de produção, além de criar uma plataforma mundial de exportação para seus principais mercados; INDÚSTRIA DO SOLÚVEL - fica neutra mas apóia discretamente porque vê a possibilidade de ter seu pleito histórico de drawback atendido por insonomia; INDÚSTRIA DA TORREFAÇÃO - contrária porque será uma vantagem fiscal muito grande para o maior empresa do setor. Além disso, tem o risco das redes de varejo aproveitarem a situação e importarem ou ameaçarem importar forçando a redução das margens e a participação no mercado interno que é o 2º maior do Planeta; CAFEICULTORES - contrários por entenderem que a importação causará queda nos preços e tem o mesmo temor da indústria de torrefação, já que a entrada de café torrado do exterior vai gerar excedentes nos cafés inferiores tradicionalmente direcionados para o mercado interno e de solúvel. O que fazer com o PVA-pretos, verdes e ardidos que representam cerca de 15% da produção nacional? GOVERNO FEDERAL - quer mais indústria, emprego e
AUTOR 1 - Diretor do Departamento do Café do MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
agregação de valor, mas como controlar a entrada do produto importado sem ferir as regras da OMC e demais acordos internacionais? Agora gostaria de opinar. Esse pleito vai forçar o setor a dar um passo adiante no que se refere a posição do Brasil no mundo cafeeiro, a partir de umas questões objetivas: => o mundo prefere o café robusta porque ele é mais barato e produtivo; => hábito de consumir café começa pelo café solúvel que utilizar cerca de 85% de robusta na sua composição; => países asiáticos e leste europeu são os novos mercados para o café. Os ricos como Coréia do Sul querem café de qualidade e nós temos produção para atendê-los. Os demais querem preço e aí sem uma oferta abundante de robusta continuaremos perdendo participação para o Vietnã e Indonésia como vem acontecendo atualmente, e, pior ainda, abrindo espaço para novos entrantes como Laos e Camboja. Quanto ao arábica, a guerra da qualidade no mercado internacional já está perdida para a Colômbia e América Central. Nossos cafés são tão bons quanto os deles, porém como convencer os consumidores? Enquanto o setor privado esperar que o Governo faça tudo sozinho e não colocar a mão no bolso para ampliar as campanhas promocionais continuaremos a ouvir lamentações e nenhum resultado prático. Com a palavra as lideranças para com maturidade, equilíbrio e pensando nos 1.900 municípios, 2,3 milhões de ha, 12 milhões de produtores, US 6 bilhões de exportações, mais de 300 anos de história que construíram as bases do desenvolvimento nacional. Palavras claras, transparentes e responsáveis! É o que penso!
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O negócio das cápsulas e o drawback de café 42
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Mara Luiza Gonçalves Freitas1
assei a tarde do último sábado, 23 de agosto, ouvindo entrevistas e pesquisando os materiais para compreender melhor o motivo pelo qual a Nestlé dirigiu-se ao Conselho Nacional do Café (CNC) e não ao Governo Brasileiro para conquistar apoio ao projeto de implantação de mais uma fábrica no Brasil. Considerando que se trata de ano eleitoral, uma contribuição racional pode reduzir e muito os riscos causados por ‘tomadas de decisão emocionais’. Para facilitar o raciocínio, sumarizei o artigo em três partes distintas. A primeira, refere-se a extrato de relatório da Nestlé disponibilizado a acionistas, segundo, a questão do mercado de cápsulas no Brasil e o terceiro, considerações sobre pontos positivos e negativos sobre a discussão em voga no mercado brasileiro: a implantação da Nestlé e a necessidade do drawback. 1) - Relatório Financeiro - na página de qualquer empresa enquadrada como sociedade anônima e que negocia papéis em bolsas de mercadorias, é possível ler os relatórios financeiros voltados a mercados e a investidores. Com a Nestlé não seria diferente. Em razão disso, realizei a leitura dos documentos financeiros disponíveis e realizei a tradução de trechos que considerei relevantes de alguns deles. O relatório semestral de Janeiro a Julho de 2014 da companhia, demonstra que no primeiro semestre do ano o grupo “conquistou um crescimento orgânico de 4,7%, oriundos da conjugação de um crescimento interno de 2,9% da companhia e 1,8% decorrente de variações de preço. As vendas totais da companhia cresceram no período FR 43 milhões [francos suíços]” (tradução nossa). De acordo com o relatório, a ’força do franco suíço continuou a gerar um impacto negativo substancial [sobre o faturamento da companhia], contribuindo para a redução de 4,8% do total de vendas [realizadas no período]’(tradução nossa) (RAPPORT SEMESTRIEL DU GROUPE NESTLÉ, 2014). “Na América Latina, o crescimento registrado no período foi de 4,9%, sendo que as vendas totais foram de FR 12, 5 milhões. A margem operacional corrente na região foi 18% maior do que a do semestre anterior, proporcionando um crescimento orgânico da companhia na ordem de 1,7%. O relatório aponta que na maioria dos mercados latino-americanos a companhia registrou bom desempenho. No caso brasileiro, o crescimento orgânico foi sólido, na ordem de dois dígitos, na maior parte do portfólio de produtos aqui negociados. O desempenho foi ajudado pela adaptação de preços” (tradução nossa) (RAPPORT SEMESTRIEL DU GROUPE NESTLÉ, 2014). Já no Press Release publicado pela empresa em 07 de Agosto de 2014, é possível ler sobre o desempenho da companhia no segmento de cafés. Nesse documento, assim como
AUTORA
1 - Mestre em Administração pela UFLA e Coordenadora do Curso de Administração e do Curso Técnico em Logística pela FAMINAS, em Muriaé (MG). www.marafreitas.adm.br
no Rapport Semestriel Du Groupe Nestlé, é possível observar que houve uma redução de custos de marketing e despesas administrativas na ordem de 30%, entretanto, ambos documentos ressaltam a importância do investimento em marketing para o desempenho comercial das marcas comercializadas pela empresa (tradução nossa) (NESTLÉ PRESS RELEASE, 2014). Embora a empresa aponte crescimento no consumo de cafés das marcas Nestlè Dolce Gusto e Nescafè em mercados latino-americanos, asiáticos, do Leste Europeu, África e Oceania, é interessante notar que em relação à marca Nespresso, a companhia ressalta que no primeiro semestre de 2014, “graças a sua estratégia de valorização de Grand Crus e investimento em tecnologia, conseguiu manter-se estável no mercado europeu, apesar do acirramento da concorrência” (tradução nossa) (idem, ibidem). Ressalta ainda “que a expansão geográfica é acelerada, com a abertura de 14 boutiques ao redor do mundo” (tradução nossa). A empresa ressalta ainda em seu relatório voltado aos investidores que houve “redução do lucro operacional devido aos substanciais investimentos em marketing de apoio, desenvolvimento de negócios e variações cambiais”. (NESTLÈ PRESS RELEASE, 2014). 2) - Mercado de cápsulas no Brasil - com crescimento anual consolidado na ordem de 20%, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Café – ABIC, a monodose de café vem se consolidando como a mais novo e bilionário negócio do agronegócio café no Brasil, embora ainda não supere a marca de 3% do volume total negociado no país, ainda dominado pelo café torrado e moído e ou em grão, que responde por 92% do volume total do café consumido no país (FREITAS, 2014). Esse movimento, denominado por alguns segmentos da academia de onda, vem se consolidando na verdade desde os anos 1990, com a construção do mercado de cafés especiais estimulado, particularmente, pela introdução do espresso Illycafè. No espresso, portanto, está a origem do café porcionado. A parte dessa ação empresarial bem-sucedida que modificou parâmetros da cadeia produtiva, a formação do consumidor, em particular do paulistano através de ações ostensivas de estado, sem dúvida, foram relevantes para esse processo de rápida expansão que se assiste hoje. A importação de café industrializado, que começou a se viabilizar timidamente sem qualquer tipo de restrição em 1992 também (FREITAS, 2014). Atualmente, marca Nespresso do Grupo Nestlé responde por 83% do mercado brasileiro de cápsulas, 14,5% com a Nestlé Dolce Gusto, também do Grupo Nestlé, e 1,8% com as demais marcas. A parte disso, estima-se que que o mercado de máquinas destinadas ao consumo de café em cápsula cresça cerca de 40% ao ano. É importante ressaltar ainda, que no caso da Nespresso, líder no mercado brasileiro, o crescimento do volume de vendas tem crescido cerca de 50% ao ano. Além de boutiques de cafés situadas nas principais capitais do país, a empresa investe em forte canal de comercialização na internet, o que especializa o negócio voltado para o segmento de luxo. Já a marca Nestlé
CAFÉ Dolce Gusto insere-se fortemente no varejo. Marcas como a Três Corações, Utam, Meridiano, são consideradas as novas entrantes desse mercado, que entre 2003 e 2014 saiu de um patamar de negócios na ordem de R$ 24,5 milhões para um patamar de R$ 245,9 milhões (FREITAS, 2014). A parte das cápsulas, não se pode deixar de citar que no Brasil o segmento de sachês está em franca expansão e no campo da monodose é mais antigo, tendo como um dos principais ícones atuais a marca Senseo, da Douwe Egberts, em razão de concorrer com a Dolce Gusto. Estima-se que se consuma no Brasil cerca de 18,7 milhões de sachês ao ano, o gera um faturamento aproximado de R$ 14,96 milhões de reais ao ano, considerando-se o preço médio de R$ 0,80 por sachê (FREITAS, 2014). Entre 1996 e 2014 foram consumidos aproximadamente 286 milhões de sachês de café no Brasil, o que denota que a tecnologia sustentável também tem bom apelo junto ao consumidor nacional. Essas duas estimativas convergem para a projeção divulgada em 2013 pela Associação Brasileira da Indústria de Café que afirma que dentro de uma década, entre 40 e 50% do café consumido no Brasil será proveniente do segmento de cafés fracionados (envasados em sachês ou em cápsulas). 3) - Considerações sobre a implantação da Nestlé e o drawback - Em Minas Gerais se diz que “quando a esmola é demais, o santo desconfia”. Bão, em convergência com a análise dos pontos um e dois, verifica-se que a implantação da indústria de café Nestlé para a produção do café Nespresso será realmente vantajosa para dois segmentos: o primeiro beneficiado, a própria Nestlè que reduzirá custos e conseguirá realizar uma ação de mercado mais agressiva, com base na variável preço e fortalecimento da sua distribuição dentro de um dos seus principais mercados-alvo; e o segundo, para os produtores de café que conseguirem atingir os padrões da Nestlé para Nespresso e vender a matériaprima para a indústria nos padrões da sua certificação AAA Sustentable Quality. O drawback nesse contexto torna-se irrelevante frente a expatriação de divisas para os países-sede de multinacionais e os danos ao mercado doméstico. Drawback de café é um tema antigo e milhares de estudos sérios já foram empreendidos, demonstrando sua importância para a competitividade nacional. A pauta nunca se consolidou em ato, em virtude de lobby, assim como aconteceu na dinâmica da regulamentação do café industrializado (quem se lembra da IN 16/2010) e das discussões em torno da construção de aparato que trate de barreiras fitossanitárias para o café. Se o Brasil tivesse política cafeeira séria, já se teria avançado desse lugar comum para um outro mais sofisticado: a promoção internacional do café brasileiro industrializado. Não haveria esperado uma oferta da Nestlé para que o discurso se flexibilizasse e as imprescindíveis ações e aparatos legais para a promoção da competitividade nacional se consolidasse. Não cabe ingenuidade, portanto, sobre a urgência da demanda da Nestlé em instalar uma planta industrial no Brasil, nem tampouco ingenuidade sobre essa aparente flexibilidade do Conselho Nacional do Café em viabilizar a importação de café para atender só a multinacional. O setor cafeeiro, através de sua ONG, não pode rasgar a Constituição, criando um precedente que mais a frente pode ser
questionada para atender um único ente estrangeiro em detrimento dos interesses de seus pares nacionais. A Nestlé, mesmo importando todo o café da marca Nespresso, tem quase 100% do segmento de mercado que melhor remunera o café industrializado, na ordem de quase 5 vezes o valor do café envasado na segunda tecnologia industrial mais cara, que é o café valvulado. A dobra de joelhos frente ao CNC, portanto, é bilionária e compatível com a presença de uma das maiores corporações globais especializadas em alimentos industrializados do mundo, que entende a grandeza e a importância do mercado brasileiro. É uma dobra estratégica, em tempos de quebra de patente de tecnologia no seu mercado de origem. Não cabe ingenuidade portanto, tomando como verdade a ideia de que a exposição da frase “possui café do Brasil” no rótulo é suficiente. O mercado brasileiro é tão interessante que arrisco-me a dizer que se a importação de café verde não sair da gaveta, vale a pena torrar as outras origens na Suíça, envasar a vácuo em bags de alumínio, despachar por avião industrial, para realizar o blend e o envase das cápsulas no Brasil, porque 60% da matéria-prima de Nespresso é brasileira e um dos maiores e mais promissores mercados consumidores da marca é o Brasil. O café que a indústria produzir no Brasil ficará no Brasil, porque o consumidor brasileiro está ávido por novidades e de tecnologia e comodidade. Como o Brasil não tem uma política consistente de transferência de lucro de filiais de multinacionais aqui sediadas para as suas sedes localizadas no seu país de origem, considero que a discussão devesse se concentrar na longevidade da indústria nacional frente a gigantes que enxergam o mercado brasileiro na exata dimensão do que ele é e que condições excepcionais de captação de recursos no mercado internacional a juros extremamente mais baratos do que os praticados no mercado nacional. O que são 400 novos empregos criados por uma inversão estrangeira, perto dos mais de 2.000 postos de trabalho encerrados no Brasil, pelo fechamento ou modificação de estratégias de produção de indústrias brasileiras por terceirização? Pessoalmente, não li nada sobre a Café Toko, mas a gôndola do supermercado não mente e a 11ª indústria de café nacional agora assina Bom Dia. As marcas estão cada vez mais reduzidas nas gôndolas e o discurso de valorização das pequenas indústrias, das micro torrefações, esvaindo-se como uma chuva que precipita no verão. A discussão sobre a longevidade da indústria nacional é relevante, à medida que esse segmento não está atualizado tecnologicamente para o novo cenário que se desenha. A parte disso, o Estado ainda não conseguiu ainda estabelecer um planejamento estratégico que contemple adequadamente o disposto no do Decreto nº 94.874, de 15 de setembro de 1987 que institui o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira e nem o Conselho Deliberativo de Política Cafeeira – CDPC não consegui mostrar a que veio desde a sua recondução realizada através do Decreto nº 4.623/2003. Se a indústria de café nacional no primeiro quarto do século XX foi estimulada para dar vazão ao excedente de produção da lavoura e viabilizar o surgimento do mercado consumidor nacional, é importante lembrar que no século XIX, em tempos de globalização ela deixou de ser necessária, assim como a produção. Qualquer um dos dois pode ser substituído pela vontade e pelo direito de escolha do consumidor.
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Em comemoração aos cafeicultores da Alta Mogiana
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Mesa oficial da cerimônia, com Alberto Rocchetti (Cocapec), Carlos Arantes Corrêa (representando o prefeito Alexandre Ferreira), Iroá Nogueira Arantes (Sebrae-SP), Dr. Fábio de Salles Meirelles (FAESP e patronono do evento), André Luiz Cunha (presidente AMSC), Dr. Ubiali (Dep. Federal), Celso Vegro (IEA/SAA-SP), Rafael Pedro (Cocred) e Eli Vieira Brentini (Sind. Rural Pedregulho)
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12º Concurso de Qualidade do Café da Alta Mogiana chega ao seu final celebrando os melhores cafés da Alta Mogiana, a região em que são produzidos e os cafeicultores que a enaltecem. O Concurso, cuja edição de 2014 adotou como tema o produtor rural, reforçou a necessidade de reerguer o nome da Alta Mogiana como importante região produtora de cafés no Brasil e no mundo, e do seu reconhecimento pela inigualável qualidade e características dos grãos aqui produzidos. “Se em 2013 conquistamos o sonho da Indicação de Procedência do Café da Alta Mogiana, em 2014 demos os primeiros passos para tornar este sonho em realidade” afirmou André Luís da Cunha, Diretor Presidente da AMSC, realizadora do Concurso.
E grandes conquistas merecem reconhecimento e comemoração. O evento de premiação do 12º Concurso de Qualidade do Café da Alta Mogiana, que aconteceu no último dia 04, contou com a presença de mais de 350 pessoas, entre cafeicultores, patrocinadores e convidados, que prestigiaram os 58 finalistas e os 13 vencedores. Marcaram presença na premiação Dr. Fábio de Salles Meirelles, Presidente da FAESP – Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo - e homenageado da 12ª edição; Marco Aurélio Ubiali, Deputado Federal; Celso Vegro, Pesquisador do IEA – Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo; Iroá Nogueira Arantes, Gerente do Escritório Regional Sebrae Franca; e Rafael Pedro, Gerente do Sicoob Cocred Franca.
Roberto Luis Cardoso Tofeti e Tércio Renato Tostes, representantes do Sindicato Rural de Batatais (SP).
Carlos Arantes Corrêa (Secretário de Desenvolvimento em Franca/SP), Dr. Fábio de Salles Meirelles (presidente da FAESP) e Adriana Dias (Diretora Comercial da Revista Attalea Agronegócios).
FOTOS: Revista Attalea
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Iroá Nogueira Arantes, diretora do Escritório Regional do Sebrae-SP em Franca (SP)
Dr. Fábio de Salles Meirelles, presidente da FAESP, da AGRISHOW e patrono do evento.
José Domingos Cardoso Guasti, diretor-secretário da AMSC.
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contece de 06 a 09 de novembro, no Parque de Exposições “Fernando Costa”, em Franca (SP), 1ª Festa do Cavalo de Franca. Planejada pelo prefeito Alexandre Ferreira desde o início de seu mandato, em 2013, o evento busca promover o “Complexo do Agronegócio Cavalo”, fortemente baseado em toda a Alta Mogiana e cidades mineiras circunvizinhas. A proposta é o de promover as atividades esportivas equestres que são praticadas regularmente na região de Franca (SP), aliando-as à realização de atividades musicais e de diversão para a população. “Queremos dar ênfase às atividades econômicas envolvidas na Cadeia Produtiva do Cavalo da região, como a comercialização de insumos do setor - como lojas e revendas de ração, medicamentos, roupas, botas, selas, acessórios, feno e pastagem -, e os profissionais do setor - como médicos veterinários, zootecnistas, tratadores, transportadores, empresários de escolas de hipismo e as diversas pessoas envolvidas na equipe operacional”, explicou o prefeito Alexandre Ferreira. A realização do evento é da Prefeitura de Franca em parceria com a Associação dos Produtores Rurais do Paiolzinho, a AEAF - Associação das Entidades Assistenciais de Franca, a FAESP/SENAR - Federação da Agricultura do Estado de São Paulo e a Câmara Municipal de Franca. Em um concurso que reuniu 29 candidatas, Bruna Gonçalves foi eleita a Rainha da 1ª Festa do Cavalo de Franca no último dia 16 de outubro. Rubbya Ferraz e Taisa Paiva foram eleitas, respectivamente, 1ª e 2ª Princesa. A corte passou a promover a Festa do Cavalo de Franca em diversos outros eventos equestres da região. A 1ª Festa do Cavalo de Franca contará com provas disputadíssimas, com premiações vultosas. De 06 a 09 acontecerão provas de Team Penning, que estão sendo organizadas pelo Rancho FT, dos empresários Fábio Pimenta e Paulo Toledo. As provas acontecerão na pista nº 1 do Parque Fernando Costa, que receberá uma estrutura diferenciada, com arquibancada, bretes e currais, e contarão com a supervisão, juria e regulamento da ABQM - Associação Brasileira do FOTO: Revista Attalea
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Rubbya Ferraz, Bruna Gonçalves e Taisa Paiva.
FOTO: PBR - Team Penning
Prefeitura de Franca (SP) realiza em novembro a 1ª Festa do Cavalo de Franca
Team Penning, um dos destaques do evento
Quarto de Milha. A premiação supera os R$ 40 mil. As provas de Três Tambores acontecerão no sábado, dia 08 de novembro, na pista nº 2, e serão realizadas pela MN Provas Cronometradas, dos empresários Miguel Camargo e Nei Batista. A empresa está sediada em Colina (SP) e também é muito respeitada no setor, principalmente por organizar provas em todo o Brasil, principalmente em Avaré (SP). As provas de Três Tambores também seguirão o regulamento da ABQM e as inscrições serão realizadas durante o evento. A premiação total é superior a R$ 10 mil reais, além das fivelas e troféus dos campeões, o que atrairá competidores de diversos municípios da região. As provas de Hipismo acontecerão no domingo, dia 09 de novembro, na pista nº 2, e serão realizadas pela Equestrian Center, do empresário Fabiano Meneghetti. A empresa está sediada em Franca e organiza durante o ano um campeonato com 8 etapas, envolvendo todas as escolas de hipismo de Franca e atraindo participantes de toda a região. A premiação total é superior a R$ 8 mil reais. Uma das grandes atrações da Festa do Cavalo de Franca será o Grande Prêmio de Corridas Hípicas. O evento está sendo organizado pela Liga de Corridas Hípicas, que reúne a diretoria dos sete clubes participantes do campeonato regional. De acordo com Helder Souza Gomes, diretor da Liga de Corridas Hípicas, a proposta é realizar um Grande Prêmio que reunirá participantes para uma disputa festiva com todas as modalidades já reunidas (chapéu, lenço, bandeira e agilidade). Já com relação ao Rodeio em Carneiros, a Comissão Organizadora pretende promover a diversão para o público e para os participantes. Definiu a contratação de um profissional capacitado na modalidade, o ex-peão Plínio Paçoca, com conhecimento na atividade por ter sido 77 vezes finalista quando participava do circuito de rodeios em todo o Brasil. O evento abrigará a participação de crianças até 7 anos, com inscrição feita no dia, na pista nº 1 (principal). Informações = site www.festadocavalodefranca.com.br ou no facebook www.facebook.com/festadocavalodefranca
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A nova Ford-150, 2º Espaço Cafés a “Picape do Texas”. Especiais em Jaguara
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FOTOS: Editora Attalea
FOTO: Ford
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nova Ford F-150, que traz uma série de avanços no segmento, abre a sua temporada de prêmios, conquistando o cobiçado título “Picape do Texas”, região que mais consome este tipo de veículo no mundo. Entre outras inovações, a picape da Ford usa, pela primeira vez, liga de alumínio de aplicação militar na carroceria. Além deste, a F-150 concorre ao “Truck of the Year”, prêmio máximo dos Estados Unidos. Aguardada com muita expectativa no mercado norte-americano, a nova picape começa a ser vendida no final do ano. Mas já conquistou seu primeiro grande prêmio, de “Picape do Texas”, concedido pela associação de jornalistas especializados do Texas (Texas Auto Writers Association - TAWA), no chamado “país das picapes”. Os membros da TAWA representam a voz dos consumidores do Texas, o maior mercado de picapes da América. “Depois de testar exaustivamente 75 veículos de 18 marcas, a nova Ford F-150 é a nossa clara escolha para a Picape do Texas”, disse o presidente Mike Marrs. Ao projetar a estrutura da nova F-150, os engenheiros da Ford aprimoraram o seu chassi em formato de escada, usando aço de alta resistência para torná-lo mais forte e mais leve. O alumínio de nível militar usado na carroceria já é empregado na indústria aeroespacial, transporte comercial, energia e outras indústrias pesadas - para aumentar a resistência e reduzir o peso em mais de 317 kg. Com essa redução de peso, a nova F-150 também é mais econômica em todas as versões. Ela pode rebocar até 450 kg a mais e transportar mais 240 kg, com um consumo de combustível 5% a 20% menor que a F-150 atual, dependendo do modelo. A linha conta com dois novos motores, um 2.7 EcoBoost e um 3.5 V6 normalmente aspirado, além do 3.5 EcoBoost e um 5.0 V8 aprimorado. No seu desenvolvimento, passou por mais de 10 milhões de quilômetros de testes para atender os padrões de durabilidade da Ford. (FONTE: Alpha Autos)
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om a participação de mais de 150 pessoas, o 2º Espaço em Jaguara de Cafés Especiais foi realizado no último dia 23 de outubro, no Parque Náutico de Jaguara (MG). A realização foi de Ivan Barbosa e Mogiana Assessoria em Cafés Especiais, Fernanda Maciel e Orlando Belotti (cafeicultores de Pedregulho/SP) e Borá Agropecuária (Sacramento/MG). Maurício Miarelli, presidente da Cocapec e diretor do Conselho Nacional do Café, e o consultor Carlos Brando foram os principais palestrantes do evento. No período da tarde, o evento contou com a comercialização de lotes de cafés especiais. O Escritório Regional do Sebrae, em Franca (SP), foi parceiro do evento e contou com a participação da diretora Iroá Nogueira Arantes e da gestora em agronegócios, Simone Goldman Ribeiro.
COLUNA JURÍDICA
A estiagem e os contratos do agronegócio
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Luis Felipe Dalmedico Silveira1
estiagem que, durante este ano, atinge boa parte do Sudeste brasileiro, vem causando enormes prejuízos à agropecuária nacional. A falta d’água limita a produção, impede a recuperação dos investimentos realizados pelos produtores, prejudica o abastecimento e, no limite, gera desemprego, escassez e inflação de produtos alimentícios. Essa é a face mais visível do problema. Há, todavia, uma face oculta: a que interfere nas relações jurídico-econômicas estabelecidas entre os atores do agronegócio. Essas relações – ainda que de forma não aparente, regidas por contratos – acabam abaladas por eventos desta natureza. São vários os contratos do agronegócio que, de um modo ou de outro, são afetados pela estiagem. Neste primeiro momento, nos concentraremos sobre um dos contratos mais importantes do agronegócio e que, no mais das vezes, instrumentaliza a operação econômica primária da atividade agropecuária: o arrendamento rural. O arrendamento rural é o contrato por meio do qual se transfere a alguém o direito temporário de uso ou gozo de imóvel rural em troca de uma retribuição. O contrato é regido pelo Estatuto da Terra (Lei nº 4.504/64) e pelo Decreto nº 59.566/66. Esse é um contrato fundamental do agronegócio e existe ainda que não tenha sido firmado por escrito – trata-se de um contrato consensual e que, portanto, dispensa forma específica. Ou seja, ainda que nada tenha sido assinado, basta que aqueles elementos acima mencionados – uso e gozo da terra, caráter temporário e retribuição – estejam presentes para que se configure a relação. Durante o processo de formação desse contrato, vários aspectos são levados em conta no momento da negociação. A depender do tipo de atividade que se pretenda desenvolver na área, aspectos geológicos, geográficos e climáticos (mas não somente eles) são considerados durante a negociação, inclusive para efeitos de determinação da retribuição devida pelo arrendamento. Há, portanto, riscos que são ponderados até que, de fato, um contrato de arrendamento rural seja concluído. A legislação brasileira (art. 478 do Código Civil) permite, no entanto, que as condições de um contrato sejam revisadas - ou, no limite, que o próprio contrato seja extinto -, caso algum fator não ponderado inicialmente (e que não poderia ter sido inicialmente considerado) advenha durante a execução do contrato, causando um desequilíbrio na estrutura econômica da operação. Dentro desta perspectiva, a pergunta inevitável é: uma estiagem, nas proporções em que se apresenta nesse momento, pode ser considerada um risco inicialmente imprevisto pelas partes? Esse questionamento é especialmente relevante porque o padrão climático da região onde o imóvel está localizado é, inegavelmente, um fator que influencia a fixação do preço do arrendamento – de modo que uma alteração brusca dessas condições faz com que o preço do arren-
AUTOR 1 - Sócio na empresa MTC Advogados. Email: felipe@mtcadv.com.br. Site: www.mtcadv.com.br
damento custe mais do que efetivamente vale o uso do imóvel. O Judiciário brasileiro, no entanto, tende a responder àquele questionamento de forma negativa. Considerando que o clima é um elemento essencial da atividade agrária, variações climáticas (ainda que abruptas) deveriam ser sempre consideradas. Nesse sentido, estiagens como a de agora não poderiam ser consideradas “imprevisíveis”, nem “extraordinárias” – embora, de fato, assim sejam. Este argumento, no limite, pode levar a alguns exageros: uma nevasca (um fator climático) no Sudeste também não poderia ser considerada como um fato imprevisto e extraordinário a ponto de fundamentar uma revisão contratual. Ainda a respeito do preço do arrendamento, a legislação autoriza que o seu pagamento seja feito “em frutos ou produtos” (art. 13, III do Decreto nº 59.566/66), embora o valor deva ser sempre fixado em moeda corrente (art. 18 do Decreto nº 59.566/66). É claro que a aceitação do produto da safra pode ocorrer após a celebração do contrato, mas é fato que o contrato pode prever que todo ou parte do valor da retribuição será pago por meio da dação de seu equivalente em “frutos ou produtos”. Neste caso, por razões várias, pode ser de interesse do arrendatário (ou do próprio arrendante) a fixação do pagamento desta forma. E, então, uma quebra de safra causada por uma estiagem de grandes proporções – como a atual - pode ser desastrosa para os interesses do arrendatário – que, sem recursos financeiros e sem o produto da safra, pode ficar impossibilitado de realizar o pagamento – e, em alguns casos, para o próprio arrendante – a escassez do produto eleito no contrato como forma de pagamento pode gerar a sua valorização no mercado e a redução da quantidade esperada pelo arrendante como retribuição. Em situações como essa, a cooperação entre as partes, visando renegociar o excedente da operação, ainda é o melhor caminho. Uma última implicação importante diz respeito ao prazo do arrendamento. Estiagens rigorosas tendem a encurtar o tempo total necessário para colheita – a última safra de cana-de-açúcar é um exemplo próximo. A lei brasileira, no entanto, apenas regula as hipóteses em que a colheita se estende para além do prazo pactuado para vigência do contrato (art. 95, I do Estatuto da Terra) – hipóteses em que a vigência do arrendamento se prorroga até o fim da colheita. Nos casos em que a safra é mais breve que o esperado, o arrendatário segue vinculado ao arrendamento, mesmo que a sua permanência ali passe a ser inútil – experimentando, assim, os riscos de ser o possuidor da coisa até que findo o contrato. Por outro lado, caso o arrendatário pretenda iniciar uma nova cultura – cuja colheita se daria após o fim do prazo inicialmente pactuado -, nova retribuição deverá ser negociada com o arrendante para o período que exceder ao arrendamento (art. 95, III do Estatuto da Terra). Estiagens rigorosas, portanto, impactam diretamente vários aspectos do contrato de arrendamento rural. É essencial, desse modo, que as partes prevejam a possibilidade de que circunstancias dessa natureza venham a interferir na relação durante a sua execução e pré-estipulem as soluções aplicáveis a cada um dos cenários possíveis.
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