Edição 13 - Revista de Agronegócios - Agosto/2007

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o meio ambiente, bem como o próprio consumidor final. São os exemplos vindos de Patrocínio Paulista (SP) e São José da Bela Vista (SP), região de Franca (SP). A partir desta edição, o leitor terá ainda a oportunidade de relembrar o

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Ninfa de joaninha preparando para alimentar-se de pulgões.

passado. Nesta edição, trazemos a história da família Costa e Lemos, da região de Franca (SP), responsáveis pelo melhoramento genético da raça Gir Leiteiro, desde os idos de 1940. Na ovinocultura, apresentamos uma nova abordagem sobre a alimentação de cordeiros lactentes, num artigo de pesquisadores do Instituto de Zootecnia de Nova Odessa (SP). A Embrapa-Café apresenta matéria a respeito dos efeitos das mudanças climáticas na cafeicultura da região. Na questão do beneficiamento do café, destaque para a proposta do Ministério da Agricultura de se estabelecer padrões mínimos de qualidade para os grãos. Na seção de fruticultura, contamos nesta edição com um artigo de pesquisadores da FAFRAM - Faculdade de Agronomia Francisco Maeda, de Ituverava (SP), que apresenta a Pitaya, uma nova alternativa para pequenas propriedades na região. Boa leitura a todos......

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É impossível falar aqui em Agricultura Natural sem falar em Mokiti Okada. Também pedimos licença ao Sr. Nelson Queiroz, por aproveitar alguns de seus ensinamentos. Segundo Okada, a nova civilização deve ser formada por pessoas felizes, com mente sã e corpo são, fazendo com que a espiritualidade de cada um reflita no próprio corpo físico, resultando assim num ser humano verdadeiro e plenamente sadio. Sabemos que o mundo necessita cada vez mais de alimentos para atender o número cada vez mais de bocas que nasce. Mas sabemos também do desperdício na distribuição das safras hoje produzidas. Somos conhecedores também das agressões que o homem provoca ao meio ambiente, principalmente ao solo e a água, principais responsáveis pela produção de alimentos. Buscando apresentar alternativas neste contexto, publicamos nesta edição alguns exemplos de explorações agrícolas que utilizam formas que beneficiem

FOTO: Bernard Shutterland

Agricultura do futuro requer cada vez mais retorno às origens


A Revista Attalea Agronegócios, registrada no Registro de Marcas e Patentes do INPI, é uma publicação mensal, com distribuição gratuita, reportagens atualizadase foco regionalizado na Alta Mogiana e no Sudoeste de Minas Gerais.

8 LEITE • Leite a partir da exploração agroecológica

TIRAGEM 3 mil exemplares

• Produtora de São José da Bela Vista usa homeopatia

EDITORA ATTALEA REVISTA DE AGRONEGÓCIOS LTDA. CNPJ nº 07.816.669/0001-03 Inscr. Municipal 44.024-8 Rua Eduardo Garcia, 1921, Resid. Baldassari CEP: 14.401-260 - Franca (SP) Tel. (16) 3723-1830 revistadeagronegocios@netsite.com.br

• Artigo: Entendendo a Mastite

DIRETOR E EDITOR Eng. Agrº Carlos Arantes Corrêa cacoarantes@netsite.com.br

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• Paixão, Tradição e Resgate de uma raça

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DIRETORA COMERCIAL Adriana Silva Dias adrianadias@netsite.com.br JORNALISTA RESPONSÁVEL Rejane Alves MtB 42.081 - SP PUBLICIDADE Sérgio Berteli Garcia (16) 9965-1977 Adriana Silva Dias (16) 9967-2486

• Fazenda Paraíso: a paixão continua.

ASSESSORIA JURÍDICA Raquel Aparecida Marques OAB/SP 140.385 FOTOS e PROJETO GRÁFICO Ed. Attalea Revista de Agronegócios COLABORADORES Méd. Vet. Josiane Hernandes Ortolan Biol. Saulo Strazeio Cardoso Mauro Sartori Bueno Eduardo Antonio da Cunha Luis Eduardo dos Santos

21 CAFÉ • Mudanças climáticas deixam cafeeiros desordenados

CTP E IMPRESSÃO Cristal Gráfica e Editora Rua Padre Anchieta, 1208, Centro Franca (SP) - Tel/Fax (16) 3711-0200 www.graficacristal.com.br

• Café terá padrões mínimos de qualidade

25 FRUTICULTURA • Pitaya: nova alternativa de renda a pequenos e médios produtores

CONTABILIDADE Escritório Contábil Labor Rua Campos Salles, 2385, Centro, Franca (SP) - Tel (16) 3722-3400 É PROIBIDA A REPRODUÇÃO PARCIAL OU TOTAL DE QUALQUER FORMA, INCLUINDO OS MEIOS ELETRÔNICOS, SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DO EDITOR. Os artigos técnicos e as opiniões e conceitos emitidos em matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores, não traduzindo necessariamente a opinião da REVISTA ATTALEA AGRONEGÓCIOS.

Foto da Capa: Maria Tereza Lemos Diana TE Kubera, na Fazenda Paraíso, em Franca (SP). Cartas ou e-mails para a revista, com críticas, sugestões e agradecimentos devem ser enviados com: endereço, município, número de RG e telefone, para Editora Attalea Agronegócios:- Rua Eduardo Garcia, 1921, Residencial Baldassari. CEP 14.401-260 - Franca (SP) ou através do email revistadeagronegocios@netsite.com.br


Sintoma de Podridão-Mole

Sintoma do Mofo-Cinzento, causado pelo fungo Botrytis cinerea.

da certificação”, explica Gisele de Oliveira. Na atual safra, o produtor plantou uma área menor e com uma variedade diferente das anteriores. “Plantamos 10 mil mudas da variedade Aleluia e uma pequena parcela da variedade Ventana. Esperamos estender a colheita até final de setembro”, explica. A colheita é realizada três vezes por semana e aproveita a própria mão-deobra da família. “Observamos este ano que a produção orgânica produziu bem. A receita principal é ter um solo bem corrigido. Detectamos apenas alguns problemas com doenças, o que foi imediatamente corrigido com produtos naturais, como super-magro.

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Doenças na cultura

foco principal é a produção de alface para o atendimento do mercado de Franca. Mas, aproveitando os ensinamentos que tivemos sobre agricultura orgânica, decidimos apostar na produção de morangos sem agrotóxicos”, afirma Felício. É a segunda vez que o casal investe na cultura. Há cerca de dois anos atrás, praticamente sem nenhuma experiência, o produtor plantou mudas das variedades Dover e Ozogrande. “Aprendi muito nesta primeira tentativa. Identifiquei a importância de ter um solo equilibrado já desde o plantio, bem como a mão-deobra para a atividade. O tamanho da área a ser plantada depende da disponibilidade adequada de nutrientes no solo, bem como a de mão-de-obra, principalmente na colheita dos frutos”, explica Felicio. O produtor afirma que o mercado de Franca absorve praticamente todo o seu produto, mas, por não possuir a certificação orgânica, acaba tendo que vender seu produto como se fosse convencional. “Estamos buscando apoio do Sebrae e de associações de produtores da região para organizarmos a questão

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Produtores da região de Franca (SP) estão se capacitando na produção orgânica e colhem os “primeiros frutos” dos treinamentos organizados pelo Programa SAI - Sistema Agroindustrial Integrado e do Senar - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, através dos Sindicatos Rurais. O Programa SAI é um convênio firmado entre o Sebrae - Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa e a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, através da CATI - Coordenadoria de Assistência Técnica Integral. O exemplo vem de Patrocínio Paulista (SP), onde o casal Pedro Donizete Felício e Gisele de Oliveira cultivam hortaliças - principalmente folhosas. “Nosso

FOTOS: Editora Attalea

Patrocínio Paulista produz morangos sem agrotóxicos


Sinais de área menor de milho em 2007/08

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FOTO: Editora Attalea

Os agricultores brasileiros devem seguir uma rota contrária à dos americanos na safra 2007/08. Cenários traçados por analistas e representantes do setor de grãos apontam redução de pelo menos 2% no plantio de milho e aumento de 5% da área de soja na próxima safra, que no país começa a ser plantada em setembro. Para algodão e trigo, são pessimistas as projeções, baseadas em mudanças nos estoques globais de grãos, no plantio nos EUA, no comportamento dos preços internacionais, no aumento de custos e em rentabilidade. Para o milho, a Agroconsult estima redução de pelo menos 2% na área da safra de verão em relação ao ciclo 2006/ 07, com quedas de 5% no Rio Grande do Sul, 3% no Paraná e de até 20% no Mato Grosso. André Pessôa, diretor da consultoria, citou como principais fatores de pressão a redução da rentabilidade da cultura e o aumento dos estoques finais brasileiros. A produção total de 2006/07 é estimada em 52,5 milhões de toneladas, com safrinha próxima a 15 milhões. A exportação está projetada em 8 milhões de toneladas em 2007, mas, segundo Pessôa, esse volume dificilmente será alcançado. “O Brasil exporta facilmente 5 milhões, para clientes já tradicionais em países como Irã, Coréia do Sul, Espanha e Portugal. Para escoar as outros 3 milhões, terá que concorrer com a Argentina em mercados como Malásia, Indonésia, Chile e Arábia Saudita, baixando preços”, disse Pessôa. A Agroconsult prevê para o ano aumento do consumo interno, de 40 milhões de toneladas para 43 milhões, graças à recuperação da avicultura e da suinocultura. “Mesmo assim os estoques ficarão maiores, em 7 milhões de tone-

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ladas, o que tende a pressionar os preços, reduzir margens e desestimular o plano na próxima safra”, afirmou. Pessôa também estimou, em um cenário mais provável, que os EUA atingirão produção de 313 milhões de toneladas de milho, com produtividade média de 9,5 mil quilos por hectare e relação estoque/consumo de 12%, o que deve levar os preços a uma faixa de US$ 4 por bushel. Ele observou que há nos EUA 115 usinas de etanol de milho em operação, que produzem 21,8 bilhões de litros, e que em 20 meses outras 86 usinas começarão a rodar, elevando a produção em mais 24 bilhões de litros. Para a soja brasileira, a Agroconsult prevê expansão de até 5% na área plantada em 2007/08, graças à melhora nos preços internacionais e à redução do endividamento dos produtores. A Agência Rural é mais otimista: prevê aumentos entre 5% e 10%. Fernando Muraro, da Agência Rural, observou que os custos dos fertilizantes subiram 30% e há pressão do mercado externo para que o Brasil não plante soja na Amazônia. Ao mesmo tempo, a expansão da cana no Triângulo Mineiro, São Paulo e sudoeste do Mato Grosso do Sul “empurra” a

soja para as regiões de fronteira do Centro-Oeste. “Se o preço futuro na bolsa de Chicago ficar entre US$ 8 e US$ 9 por bushel, é provável que haja expansão da área em 5%, para 22 milhões de hectares, com produção de até 62 milhões de toneladas”, afirmou Muraro. Caso as cotações ultrapassem US$ 9, o plantio poderá aumentar em até 10%. Ele estima que a produção americana ficará em 78 milhões de toneladas na temporada 2007/08, para um consumo de 85 milhões o que levará à redução da relação estoque/consumo no país dos atuais 20% para 11%. “Em 2008/09 os EUA terão que aumentar o plantio de milho em mais 4 milhões de hectares e vão avançar de novo sobre a soja. A tendência é de queda na produção americana, o que vai ajudar a elevar os preços do grão no mercado externo”, avaliou Muraro. O contrato para maio de 2008 negociado em Chicago fechou ontem a US$ 7,74 por bushel, o que confirma a curva de valorização. Carlo Lovatelli, presidente da ABAG - Associação Brasileira de Agribusiness também prevê expansão de pelo menos 3% na área de soja no Brasil no próximo ciclo. “O preço tende a melhorar no segundo semestre. Não me surpreenderia se a área aumentasse mais”, afirmou. Já no setor de algodão, observou João Luiz Pessa, conselheiro da Abrapa - Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, os preços vão bem, mas são os insumos que pesam na decisão de plantio. Pessa estima uma redução de 20% na área plantada em 2007/08, porque a lavoura de algodão usa três vezes mais fertilizantes que soja e milho, e os custos dos insumos aumentaram 30%.


A história do reconhecimento da Medicina Veterinária em nosso País teve seu início com um ilustre fluminense, o Presidente Nilo Peçanha, que criou o Serviço de Veterinária do então Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, em 31 de outubro de 1910. Quatro anos depois (17.01.1914), era inaugurada em São Cristóvão (Rio de Janeiro) a Escola de Veterinária do Exército, por iniciativa do Coronel-Médico João Moniz de Aragão. Por decreto presidencial de 9 de setembro de 1953, que tomou o número 23.133, a profissão foi regulamentada (iniciando-se aí a comemoração do Dia do Veterinário Veterinário, anualmente nessa data), e em 1968 veio a lume a lei federal nº 5.517, oficializando o exercício da profissão e criando os conselhos federal e estaduais de veterinária. Mais uma vez, com a participação de outro ilustre fluminense, o médico Sadi Bogado, então deputado federal pelo MDB-RJ, autor da lei. O médico veterinário não é apenas

aquele que trata dos animais de estimação ou dos animais de fazenda. Além do aspecto da saúde do animal, a veterinária está ligada diretamente à saúde do homem. Sem o veterinário não haveria o controle das doenças dos animais, doenças essas que em muitos casos podem afetar as pessoas, como a raiva, a brucelose, a tuberculose, a leptospirose e outras. É também o profissional veterinário que está nos laboratórios, produzindo vacinas e medicamentos para o bem estar dos animais e controle de doenças. A carne, os ovos, o leite e derivados, e até o peixe que você consome diariamente, antes de chegarem à sua mesa, passam pelo controle dos veterinários. O melhoramento genético dos animais que produzem alimentos ao homem, como aves, gado leiteiro ou de corte, é papel de veterinários e zootecnistas. Imagine que a população mundial cresce dia após dia, e temos que produzir cada vez mais alimentos e de melhor qualidade. Juntamente com os biólogos, os

veterinários ajudam na preservação e pesquisa das espécies animais de nossa fauna. Sem esse trabalho, a natureza corre o risco do desequilíbrio e o homem seria terrivelmente afetado. A extinção de algumas espécies, por exemplo, levaria ao desaparecimento de inimigos naturais de muitas pragas que destroem nossa agricultura. Agora você sabe um pouco mais sobre o que é ser veterinário. Nunca é tarde para cumprimentar o profissional que cuida da saúde do seu bicho e preserva a sua também. A você que não tem hora para dormir... Que não tem direito a umas férias... Que é retirado da cama, mesmo no dia da comemoração do Aniversário de Casamento... Que sente mais dor que seu cliente, na hora da injeção... Que sabe ser direto e carinhoso com aquele dono meio desligado... Parabéns antecipados de toda a equipe da Editora Attalea Revista de Agronegócios.

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9 de Setembro: dia do Médico Veterinário

Ter um diploma na mão já não é mais garantia de competitividade

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Leite a partir da exploração agroecológica

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João Carlos de Faria (Publicada na Revista Balde Branco , nº 512, de junho 2007)

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FOTOS: Editora Attalea

preocupação com o bem-estar animal, que se adotou definitivamente a agroecologia como base do modelo produtivo da fazenda. “A agroecologia busca o equiDepois de mais de 50 anos líbrio do ecossistema produtivo praticando a pecuária de leite pelo incremento da biodiversidade convencional, a antiga Fazenda da e auto-sustentabilidade, passando Conceição, localizada em Lorena necessariamente pela adequação (SP), no Vale do Paraíba, optou ambiental da propriedade, a partir pela implantação de um projeto da recuperação de suas áreas de de exploração baseada na agroepreservação permanente”, explica cologia. A situação da fazenda, Produtor adota princípios alternativos na atividade o agrônomo. A partir daí, se adoleiteira, recorrendo à agroecologia na exploração adquirida em 1975 pelo empre- do ambiente e a um manejo que inclui a homeopatia tou o sistema de Pastejo Racional sário Tamas Makray, era de deso- veterinária e tratamentos fitoterápicos. Voisin, que busca manter o equilação, com o solo totalmente líbrio entre o solo, pastagem e degradado por causa do processo mando a paisagem da fazenda. Cinco animal, sem que nenhum deles seja produtivo baseado em monoculturas anos depois de ser adquirida, o modelo prejudicado em benefício do outro. “O de produção de leite, antes, baseado no número de animais por área é definido como o café e a cana-de-açúcar. Uma de suas primeiras preocupações semiconfinamento tradicional, começou pela quantidade de forragem produzida foi iniciar o plantio de árvores de várias a ser mudado. “Os resultados eram defi- naturalmente, evitando o sobre-pastejo espécies, em áreas de declive e nas citários. Era necessário buscar outra alter- e a compactação do solo, resultando num margens de rios e nascentes, transfor- nativa”, afirma o Engenheiro Agrônomo custo muito baixo”, afirma. João Marcelino da Silva, que desde o Com o passar do tempo, segundo ele, início coordena o trabalho da fazenda. ocorre um aumento progressivo da As primeiras mudanças foram feitas fertilidade do solo, pelo acúmulo de sob a orientação da Médica Veterinária esterco, a cada passagem do gado pelo Fabíola Fernandes Schwartz, com a piquete. Isso aumenta a capacidade de introdução de tratamentos homeopáticos suporte e a produtividade por área. Cada e fitoterápicos e a adoção de uma forma animal deposita no solo, diariamente, 24 diferenciada no manejo dos animais. Mas kg de fezes e 14 litros de urina, em média. foi a partir de 2002, com o início da A fazenda possui 14 hectares ocupados produção de alimentos de alto valor por pastagens, divididos em piquetes de Num sistema agroecológico, o acompanhamento veterinário é imprescindível biológico, livres de resíduos químicos, e a 2.500 metros quadrados, que abrigam as

Produtora de São José da Bela Vista usa homeopatia Batalhadora e idealista. Este são os termos que melhor designam D. Marina de Lourdes Limonta Prior, produtora rural em São José da Bela Vista (SP), cidade próxima a Franca (SP). Tradicional cafeicultora e árdua defensora do meio ambiente, D. Marina decidiu há cerca de nove anos transformar a lavoura de café da propriedade em orgânica, hoje certificada pelo IBD - Instituto Biodinâmico. “Não foi e não está sendo fácil, pois falta orientação técnica especializada na região para a condução da lavoura de forma orgânica. Mas a atividade é rentável”, afirma D. Marina. Além do café, atualmente ela está trabalhando diversas atividades, como a horticultura, a ovinocultura e a

pecuária de leite, com o intuito de implantar um modelo orgânico de equilíbrio na propriedade. “Ainda não conseguimos a certificação para o leite, mas desde 2002 os animais da fazenda

são criados utilizando produtos homeopáticos para a prevenção de doenças e a aplicação de produtos naturais (como o óleo de neem) para o controle de ectoparasitos (carrapato e berne)”, explica. Na atividade leiteira, a propriedade está se adequando para obter a certificação, mas para isto precisa organizar desde o plantio do milho utilizado na silagem até a adubação orgânica das pastagens. “Atualmente, entrego minha produção para um laticínio da região, mas infelizmente, pelo preço de leite convencional. Meu sonho é estimular através da minha experiência outros agricultores e, assim, termos produção suficiente para atender o mercado da região com produtos orgânicos certificados”, finaliza.


FOTOS: Editora Attalea

Equilíbrio no sistema produtivo Outra vantagem desse tipo de pastejo está no favorecimento do controle de parasitas internos e externos do rebanho, que ocorre pelo rompimento do ciclo

A fazenda possui 8 hectares para produção de milho e sorgo para silagem

reprodutivo desses parasitas e pela presença de inimigos naturais em grande quantidade. Além dos piquetes, a fazenda também tem áreas de produção de silagem, sendo 2 hectares de cana-deaçúcar; 1 hectare de tifton utilizado para feno; 2 hectares de capim napiê para silagem e corte; e 8 hectares para produção de milho e de sorgo. São áreas adubadas com chorume e um composto produzido a partir de resíduos orgânicos. Tudo é distribuído mecanicamente. “Nada é desperdiçado”, ressalta Silva. Nas áreas de plantios anuais é feita adubação verde com espécies como guandu, mucuna-preta, feijão-de-porco, crotalárias, sendo também utilizadas fontes de fostato natural e torta de mamona no plantio. “Vamos produzir milho e soja orgânicos, em quantidade suficiente para suplementar a alimentação a pasto dos nossos animais”, cita. Cada animal em lactação consome de 1 a 2 kg de ração, com 20% de proteína, juntamente com ‘fubazão’, capim e cana picados, substituídos por silagem de sorgo

na época da entressafra, duas vezes por dia, antes de cada ordenha. “A implantação desse processo de mudança foi difícil, principalmente convencer todos que lidam diretamente com o gado sobre os novos procedimentos. Há muitos produtos químicos disponíveis, um para cada ocorrência, o que leva as pessoas a se acomodarem e perderem a capacidade de observação e entendimentos sobre as verdadeiras causas dos problemas que atingem a atividade. Passamos a buscar o equilíbrio do sistema produtivo, solucionando as causas e não atacando os sintomas”, ressalta. Também se exigiu investimentos para formação de pastagens e divisão dos piquetes com cercas elétricas. Por outro lado, houve economia na compra de alimentos e na utilização de mão-de-obra, pois o gado passou a ‘colher’ sozinho boa parte da alimentação. Hoje, três funcionários trabalham diretamente no manejo. A limpeza é uma das bases de todo o sistema e é cercada de cuidados extremos, com a desinfecção

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vacas secas e em lactação, com lotação média de 3,5 UA/hectare. Os piquetes são bastante diversificados e formados com napiê verde e roxo, tanzânia, mombaça, tifton, braquiária, pioneiro, leucena, feijão-guandu, além de algumas outras espécies que estão sendo introduzidas, como o amendoim-forrageiro, proporcionando aos animais uma dieta variada e nutritiva. Cada vaca permanece por um dia no piquete, cujo período de descanso varia de acordo com a época do ano e da área, em função da fertilidade do solo. Outra preocupação permanente é com a arborização dos piquetes, que está sendo feita com o plantio de espécies preferencialmente de leguminosas, para proporcionar adubação e fertilidade ao solo e variedade nutricional.

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Chorume da própria atividade leiteira e composto orgânico adubam o cultivo de milho e as pastagens na fazenda.


Leite com alta qualidade

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no

das áreas de trabalho e dos equipamentos, o que já resultou numa queda de 90% dos casos de mastite, por exemplo. O controle de carrapatos também é totalmente natural, cuja eficiência acabou com os índices de tristeza bovina. Atualmente, o rebanho da fazenda é composto por 78 animais Holandeses PO, sendo 28 vacas em lactação, 14 vacas secas, 16 novilhas prenhes e 20 animais em crescimento, de bezerros a novilhas. Segundo o agrônomo, o desequilíbrio na composição do rebanho se deve à atual pressão da seleção, uma fase que representa custos mais elevados na produção. Mesmo assim, considerando todas as despesas, está gastando R$ 0,52 para produzir um litro de leite, o que deixa praticamente equilibradas as contas das despesas e receitas. São 400 litros diários, com média de 14 litros por animal, enviados à Cooperativa de Laticínios de Lorena e Piquete. Embora a produção ocorra em condições diferenciadas, a remuneração é a mesma dos outros produtores, com bonificação apenas por qualidade. Segundo Silva, a escolha de animais da raça Holandesa – que não é a mais adequada para o sistema agroecológico por causa de sua baixa rusticidade – se deu em função de sua vocação para a produção de leite. “Essa decisão se tornou um grande desafio, mas promoveu um grande aprendizado”, diz. No entanto, se adotou a linha genética neozelandesa para melhor adaptação ao sistema de produção a pasto. As primeiras novilhas estão parindo agora. São animais menores, com peso médio de 500 kg, com características de úbere, aprumos e pés adaptados ao pastejo e com produtividade e longevidade assegurados.

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Produtos ajudam homeopáticos controle sanitário do rebanho.

A reprodução é feita por inseminação artificial, com controle reprodutiva anotado diariamente, com índice de aproveitamento de sêmen de 1,2 dose por prenhez confirmada. As novilhas são inseminadas com 180 dias ou 300 kg e as vacas, no primeiro ou segundo cio pósparto. Quando faltam 65 dias para o parto, são casqueadas e encaminhadas para o período de secagem. Um mês antes recebem medicamento homeopático para facilitar o parto, que, na maioria das vezes, ocorre normalmente, sem a necessidade de assistência. Também mantemos uma programação de parição ao longo do ano, o que nos garante uma regularidade na produção”, complementa o agrônomo. Todos os meses, o leite produzido na fazenda é enviado para análise química na Clínica do Leite, na Esalq – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, em Piracicaba (SP). Em abril último, os índices médios foram de 3,85% de gostura; 3,49% de proteína; 12,85% de sólidos totais; e uma contagem de células somáticas de 267 mil/ml. Na análise de tanque, feita pela cooperativa, os índices foram praticamente confirmados, apontando ainda uma contagem bacteriana de 3.000 unidades formadoras de colônia/ml, o que significa um acréscimo de R$ 0,075 no preço do litro do leite. A baixa contagem bacteriana está diretamente relacionada à extrema higiene na ordenha, conseguida depois de muito treinamento dos funcionários e com a introdução do uso de ácido peracético na higienização dos equipamentos. Esse desempenho despertou, inclusive, o interesse de produtores vizinhos, gerando um trabalho conjunto com o Instituto Biológico de São Paulo (SP) e a empresa fornecedora do produto. A homeopatia animal é adotada na fazenda como uma ciência de resultados comprovados. Diversos trabalhos nesse sentido são desenvolvidos nos laboratórios da fazenda, pela médica veterinária homeopata Ana Maria Claro Paredes Silva, em parceria com instituições públicas e privadas, abordando os diversos usos dessa ciência. A manutenção da saúde do rebanho é trabalhada com uma visão holística.

“Buscamos sempre a adoção de práticas que visem primordialmente ao bemestar dos animais, criados em ambientes livres de estresse e menos sujeitos à ocorrência de afecções”, diz ela. O controle sanitário do rebanho é realizado de forma individualizada e com a utilização de homeopatia ou fitoterapia, quando necessário. Essas práticas justificam, por exemplo, o uso de música clássica durante a ordenha e exigem tratadores calmos na lida com os animais, resultando, segundo ela, em aumento de produção e gado sadio. “Elas chegam a comer na mão da gente”, ilustra um funcionário. Segundo Silva, essa situação antes era inimaginável, quando o ponto de fuga – termo que denomina a distância permitida pelos animais para a aproximação do homem – não era de menos que 40 metros. “Hoje as vacas reconhecem que serão bem tratadas”, justifica. Além disso, a veterinária destaca o custo mais reduzido dos medicamentos homeopáticos como vantagem. “O controle de verminoses, por exemplo, é feito por amostragem no laboratório da fazenda. Dependendo da incidência, o tratamento é feito associando fórmulas com folhas de bananeira e sementes de gentio”, cita. Completando, destaca a criação de um espaço na fazenda para divulgar os conceitos de produção adotados, o que deverá aderir produtores numa associação, cujo objetivo será a adoção de práticas sustentáveis marcadas pelos princípios da agroecologia. INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES: Fazenda da Conceição – telefone (12) 3152-2023 ou pelo email: fazendaconceicao@uol. com.br.


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Entendendo a Mastite: uma abordagem simples

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A mastite continua sendo a doença que mais causa prejuízos à atividade leiteira, apesar do desenvolvimento de diversas estratégias de controle e prevenção. É a principal doença que afeta os rebanhos leiteiros no mundo e causa as maiores perdas, pois diminui sua produtividade e aumenta os custos de produção. Pode ser classificada em dois tipos principais quanto a sua forma de manifestação: Mastite Clínica e a Subclínica. A mastite clínica ocorre quando há sinais evidentes, tais como edema, aumento da temperatura, endurecimento e sensibilidade na glândula mamária e/ ou aparecimento de grumos, pus ou qualquer alteração das características do leite. Além disso, pode ocorrer aumento da temperatura retal, desidratação, depressão, diminuição da ingestão de alimentos e da produção de leite. Já a mastite subclínica caracteriza-se pela ausência de alterações visíveis no leite e no úbere. Ocorre, entretanto, redução da produção de leite e mudanças na composição de leite: aumento da CCS, dos teores de Cl- e Na+ e proteínas séricas, e diminuição de caseína, gordura e lactose do leite. A forma subclínica é a mais importante, pois causa maiores prejuízos devido à redução da produção e à alteração da composição do leite e à dificuldade de detecção. A prevenção de novas infecções tem maior valor do que a tentativa de curar casos clínicos para controlar a mastite em um rebanho. Mesmo que a taxa de novas infecções seja reduzida, as infecções existentes que são tratadas podem ser curadas com sucesso limitado. A luta contra mastite é um esforço de longo prazo que tem que ser persistente porque é impossível prevenir completamente a transmissão de bactéria ou outros organismos que causam a doença. Prejuízos da mastite São inúmeros os prejuízos que a mastite pode causar. Dentre eles, pode-se citar: 1

queda na produção, descarte de leite, gastos com antibióticos, gastos com veterinários e punição do leite com alta CCS. CCS Contagem Células Somáticas Mais de 98% das células somáticas encontradas no leite vêm dos leucócitos (glóbulos brancos) que entram no leite em resposta à invasão bacteriana no úbere. Uma alta contagem de células somáticas está associada a perdas na produção de leite. Quando o leite de todas as vacas num rebanho é misturado, como no tanque de expansão, a contagem de células somáticas numa amostra composta é um bom indicador da prevalência de mastite no rebanho. Quando a CCS for maior que 200.000 cél/ml indica a presença de mastite subclínica. Contagens de célula somática menores que 400.000 cél/ml são típicas de rebanhos que têm boas práticas de manejo, mas sem ênfase particular no controle de mastite. Rebanhos com um controle de mastite eficaz têm, constantemente, contagens abaixo de 100.000 cél/ml. Ao contrário, CCS maiores que 500.000 cels/ml indica que um terço das glândulas mamárias estão infectadas e a perda de leite devido à mastite subclínica Tabela 11). é de, pelo menos, 10% (Tabela Classificação da mastite Existem diferentes tipos de patógenos causadores da mastite. Estes podem provir do ambiente em que as vacas vivem ou então da glândula mamária e superfície dos tetos. A mastite ocasionada por patógenos vindos do ambiente é chamada de Mastite Ambiental. Já a mastite que ocorre por microrganismos que provêm dos tetos e glândula mamária é chamada de Mastite Contagiosa.

ambiente em que a vaca vive, principalmente onde há acúmulo de esterco, urina, barro e camas orgânicas. A maior parte das infecções ocorre no período entre as ordenhas. Dada a grande disseminação desses agentes, é praticamente impossível erradicar esse tipo de mastite. No entanto, a melhora do ambiente em que as vacas vivem reduz a contaminação por este tipo de agente. Mastite Contagiosa Casos de mastite contagiosa caracterizam-se pela baixa incidência de casos clínicos e alta incidência de forma subclínica. Além disso, são geralmente de longa duração e alta CCS. Este tipo de mastite é causado por microrganismos cujo habitat preferencial é o interior da glândula mamária e a pele dos tetos. A transmissão ocorre principalmente na ordenha, pelas mãos dos ordenhadores e nos momento de limpeza e secagem dos tetos. As perdas econômicas da mastite contagiosa estão associadas principalmente à queda na produção de leite que ocorre nos casos subclínicos, o que na maioria das vezes passa despercebido pelos produtores. Da mesma forma que ocorre com a mastite ambiental, é difícil estabelecer a prevalência da mastite contagiosa sem um diagnóstico específico. Porém, é possível basear-se na CCS para estimá-la.

Considerações finais É evidente que a mastite é uma doença de grande importância econômica para a atividade leiteira e que esta associada a grandes perdas econômicas geradas por ela. Não deve se esquecer que a mastite subclínica é a que mais afeta o bolso do produtor de leite devido às perdas de produção ( Tabela 11) e à alta CCS no leite. Mastite Ambiental No entanto, é sabido que a ordenha é A mastite ambiental é causada por um dos pontos mais críticos de contaagentes cujo principal reservatório é o minação do rebanho. É necessário que haja a Tabela 1. Relação entre contagem de células somáticas (CCS) medidas conscientização dos funem amostra composta de tanque, perda de produção e prevalência da cionários, principalmente mastite subclínica no rebanho. dos ordenhadores, buscanCCS Quarto Perda de Mastite do métodos interativos e Infectado (%) Produção (%) Subclínica didáticos para que eles <200.000 6% 0-5 Próxima a zero possam compreender co200.000-500.000 16% 6-9 Alguns casos mo cada ação por eles pra500.000-1.000.000 32% 10-18 Muitos casos ticada pode influenciar a >1.000.000 48% 19-29 Epidêmica qualidade do leite.

- Médica Veterinária, mestre em Qualidade e Produtividade Animal e Doutoranda em Qualidade e Produtividade Animal FZEAUSP. Email: josiortolan@hotmail. com. Artigo escrito com a colaboração do Zootecnista Luiz Fonte: Instituto Babcock para Pesq. Desenv. Pecuária Leiteira Internacional Henrique Oliveira Silva.


Paixão, tradição e o resgate de uma raça

FOTOS: Fazenda Paraíso

A raça gir é considerada uma das tram animais bem padronizados e raças mais antigas do planeta e também também “girados” na região de Conquista a principal responsável pela conso- (MG). lidação do gado zebuíno no Brasil. De Mas, segundo Hélio Ronaldo Lemos, acordo com a ABCZ – Associação Bra- jurado da ABCZ e sobrinho de Nilo sileira de Criadores de Gado Zebu, o Jacintho Lemos – pecuarista da região de sangue Gir está presente em 82,4% dos Franca (SP) e profundo conhecedor da rebanhos leiteiros do país. raça Gir –, os animais precursores de Originária da planície de Gyr, na qualidade só vieram após 1932, com as península de Kathiawar, na Índia, a importações de Francisco Ravísio Lemos, raça Gir já era considerada sagrada por para a região de Franca (SP) e, posteriorexcelência, devido à eficiência leiteira, mente, em 1957, com Celso Garcia Cid, rusticidade, docilidade e fertilidade. As na região de Londrina (PR). características raciais também são de uma riqueza genuinamente peculiar. É a única raça puro-sangue com chifres voltados para baixo e para trás e com crânio ultra convexo e proeminente. As orelhas são pendentes e encartuchadas nas pontas. Na pelagem, a raça expressa sua maior diferença, podendo variar entre o vermelho e o branco. As primeiras importações de Gado Gir trazidos da Índia datam de 1911, onde fontes históricas mosTouro Gaiolão, na Fazenda Santa Gema.

A região de Franca é considerada um dos berços do Gado Gir no Brasil. A história conta que muito se deve ao touro Gaiolão, que veio em uma das importações de Ravísio Lemos. Em 1936, o Gaiolão foi adquirido por Nilo Lemos e seu sócio e cunhado, o Dr. Julio Batista da Costa. Dr. Julinho, como era conhecido. Dr. Julinho era advogado por profissão e fazendeiro por vocação. Casado com Dona Honorina Jacintho Lemos, ambos desenvolveram sua criação da Fazenda Santa Gemma, município de Franca (SP). Para os padrões da época, Gaiolão apresentava uma qualidade racial diferenciada, o que em pouco tempo, transformou-o em um dos melhores da sua raça. Uma cobertura sua passou a valer dezenas de contos de réis e o seu valor praticamente incalculável. Eram muitas as pessoas interessadas em adquirir o touro Gaiolão, por valores suficientes para comprar terras e muito e muitos lotes de bois gordos. Mas o

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Diana TE Kubera e a filha Aline.

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Gir Leiteiro


Vale quanto pesa O Dr. Julinho e a D. Honorina não esperavam, mas a história daquele bezerrinho extraordinário não terminaria ali. É claro que de uma forma traumática para todos os criadores de Gir no país. Em 1944, durante a Expozebu, no recinto do Parque Fernando Costa, em Uberaba (MG), o então presidente Getúlio Vargas talvez não imaginasse, mas foi considerado o principal responsável pela derrocada da raça Gir no país. Após

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O touro Triunfo na Fazenda Santa Gemma. Em destaque, na mesma foto, Nilo Lemos Baptista da Costa, quando criança.

o seu discurso de abertura oficial na exposição, Vargas dirigiu-se à pista de julgamento e apresentaram-lhe o grande campeão da raça Gir do ano anterior. Indagado pelo proprietário sobre qual seria o valor daquele animal, Vargas respondeu em alto e bom tom: “Vale quanto pesa”. Com isto, ele estava querendo estimular a criação extensiva de gado de corte, principalmente buscando atender as constantes necessidades por alimentos, reflexo da Segunda Guerra Mundial. Contudo, ao mesmo tempo, a frase de Vargas comprometeu significativamente a criação da raça no país. Muitos criadores estavam com capital inteiramente comprometidos com animais Gir. O pecuarista Brasiliano Barbosa foi um destes. Proprietário do então tourinho Triunfo, Barbosa reco-

Acima, reprodução do cheque utilizado na compra do touro Triunfo. Ao lado, reprodução do folder impresso para a festa de retorno do touro Triunfo à fazenda Santa Gemma.

nhecia o potencial daquele animal e do interesse do Dr. Julinho e da D. Honorina Lemos pela raça Gir. “A alma do comerciante falou mais alto que o juízo do advogado. Num relance, Dr. Julinho visualizou a grande oportunidade que batia em sua porta. Adquiriu o touro Triunfo por meio milhão de cruzeiros”, afirmou Paulo Lemos (observe abaixo a cópia de cheque emitido pelo Dr. Julinho a Brasiliano Barbosa ) Ele sabia que a raça Gir ainda era a única matriz para qualquer tipo de cruzamento ou melhoramento genético que se desejasse obter naquela época. Sabia também que, com um FOTOS: Fazenda Paraíso

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Dr. Julinho, como bom comerciante que era, preferia sempre no lugar de vendê-lo, vender a sua produção. “Em 1943, a ‘barrigada’ de uma vaca chamada Manchinha e de Guilherme touro filho do Gaiolão -, estava vendida aos criadores Bruno Silveira e Nenê Costa, ambos de Barretos (SP) por oito contos de réis por bezerro. Só para se ter idéia deste valor, um boi gordo na época valia menos que um conto de réis”, ilustra o veterinário Paulo Lot Calixto Lemos, em reportagem da Revista Globo Rural Rural. A história desta mesma ‘barrigada’ dá início à história do touro Triunfo, filho de Guilherme e da vaca Manchinha. D. Honorina Lemos bem que tentou que o Dr. Julinho adquirisse de volta aquele bezerro extraordinário. Mas não foi possível. Adquirido por Bruno Silveira e Nenê Costa por oito contos de réis, o ainda bezerro Triunfo foi levado de “avião” no segundo dia de vida para Barretos (SP) e vendido, no mesmo dia, para o criador Brasiliano Barbosa, de Paulo de Faria (SP), noroeste do estado de São Paulo, pela quantia assustadora de 600 contos de réis.


FOTOS: Fazenda Paraíso

Paixão, Tradição e Resgate Mesmo com a morte de Triunfo, a família não se abateu e manteve a tradição na criação da raça Gir Leiteiro. “Meu pai ficou um tanto quanto desanimado e preferiu voltar a atenção para o gado de corte, mas minha mãe era tremendamente apaixonada e manteve a criação aqui mesmo na Santa Gemma”, afirma Maria Tereza Lemos, proprietária da Fazenda Paraíso e filha do casal Dr. Julinho e Honorina Mesmo com a morte de Dr. Julinho (1979) a paixão da família pelo gir foi mantida e alimentada por D.Honorina. Posteriormente, com seu falecimento em 2003, os animais remanescentes foram divididos entre os filhos: Maria Helena

(casada com José Altenfelder), Maria Julia (Zazu – diretora do Colégio Agrícola de Franca/SP e esposa de Jamil Bittar), Maria Angela (casada com o criador Orlando Olivieri), Nilo (casado com Anna Lucia) e Maria Tereza. Coube a Maria Tereza um plantel de 13 matrizes que passou a desenvolver a criação na Fazenda Paraíso. Criados desde pequenos neste meio, Maria Tereza e seus irmãos foram testemunhas da importância da raça Gir Leiteiro na região de Franca (SP). “Vinha criadores do Brasil inteiro para ver os animais do meu pai e do meu tio Nilo Jacintho. Eles participavam das principais exposições de animais do país, principalmente na Expoagro, em Franca (SP), e na Expozebu, em Uberaba (MG), no Parque da Água Branca, em São Paulo (SP) e até mesmo no Rio de Janeiro”, finaliza.

Em foto da década de 40, a sede da Fazenda Santa Gemma, conservada até hoje. Em destaque, Nilo Lemos, cunhado do Dr. Julinho.

Maria Tereza e o tourinho Guatambu, (filho de Triunfo). Em destaque, a capa sobre o animal, inédito para a época e que retrata toda a paixão da família pela raça Gir Leiteiro.

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foi embalsamada e ainda hoje está preservada e mantida pela família. Será em breve acolhida e exposta na Fazenda Paraíso.

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trabalho de marketing adequado, o touro Triunfo se pagaria. E se pagou. Dr. Julinho e D. Honorina organizaram uma verdadeira recepção para o touro Triunfo. Deputados, senadores, bispos, pecuaristas de expressão nacional, médios e pequenos pecuaristas da Alta Mogiana, Triângulo e Sul de Minas Gerais e a banda da polícia militar foram convidados para animar uma festa para 4.500 pessoas, organizada na Fazenda Santa Gemma, em Franca (SP). A festa foi um sucesso e a estratégia do Dr. Julinho e da D. Honorina Lemos foi espetacular. No final da festa, haviam sido comercializadas, só em ‘coberturas’, quase duas vezes o valor pago por Triunfo. O touro Triunfo viveu por 11 anos na Fazenda Santa Gemma e acabou morrendo em 1955, vítima de um raio, juntamente com sua mãe, Manchinha e mais uma dezena de vacas. Sua cabeça

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Na foto à direita, Dr. Julinho na pista do Parque Fernando Costa, em Franca (SP), durante a Expoagro. Na foto à esquerda, Dr. Julinho (ao centro, de óculos escuros e camisa branca) com o seu filho Nilo Lemos Baptista da Costa. À esquerda, de terno branco, o Dr. Continentino Jacintho, grande pecuarista francano, proprietário do touro Bombaim (vendido depois ao Dr. Gabriel Andrade e uma das bases do atual plantel da Fazenda Calciolândia (Arcos/MG).


Fazenda Paraíso: a paixão continua

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Remanescente da Fazenda Santa Gemma, a Fazenda Paraíso tem como foco principal o leite e o melhoramento genético. “Buscamos desenvolver um gado realmente de qualidade, que tenha cada vez mais aptidão leiteira, para poder transferir esta qualidade a seus filhos”, explica Maria Tereza Lemos, proprietária da Fazenda Paraíso e uma das filhas do casal Dr. Julinho e Honorina. A Fazenda Paraíso seleciona a raça com uma visão clara de que os níveis de produção do gado Gir apresentam produtividade mais do que adequada para o clima brasileiro e condições de criação. Diana “O gir leiteiro é uma raça que ainda apresenta excelente capacidade de produção leiteira, além de sua destacada rusticidade. Isto acontece porque os animais estão bem adaptados ao clima nacional e ao sistema de produção empregado na maior parte das propriedades do país, que é baseada em pastagem”, ressalta Maria Tereza. A raça gir, desde muito tempo já demonstrou sua aptidão para a produção de leite e hoje é a zebuína de maior uso e reconhecimento pelos produtores brasileiro. Está em processo de contínuo aperfeiçoamento por várias gerações, com produções aferidas que permitem distinguir os animais pelo desempenho. “A persistência de lactação não é problema nos rebanhos de nosso país,

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Enfim, o gir leiteiro expressa seu potencial produtivo com menos alimento e sofre menos com a restrição alimentar, pois sua exigência, seu índice de metabolismo e de ingestão de alimentos é baixo. Outra característica importante da raça é a sua longevidade. É comum vacas com 10 crias estarem ainda em atividade leiteira. Por todas estas características, o Gir Leiteiro tem sido preferido para cruzamentos com as raças européias especializadas, principalmente a Holandesa, na produção do Girolando. Apesar de ser uma raça direcionada à produção de leite, o Gir Leiteiro apresenta TE Kubera, que está em sua primeira lactação, ainda uma característica muito em aberto, com 6.000kg em controle oficial interessante. O criador pode também recriar e engordar os animais já que encontramos vacas Gir produzindo leite além dos 305 dias”, afirma Maria machos, possibilitando um ganho Tereza. De acordo com a pecuarista, com adicional ao produtor de leite. A raça é uma produtividade nacional média em também bastante resistente aos torno de 3.233kg, torna-se possível man- ectoparasitos, principalmente os ter o rebanho com níveis de suplemen- carrapatos. Portanto, por acreditar e amar a tação mínima, com possibilidades de ser mantida apenas com manejo em pasta- raça, Maria Tereza vem se dedicando gens melhoradas. “No período da seca, com afinco na criação e no melhoraas vacas não apresentam queda na pro- mento genético, com investimentos dução do leite, desde que atendidas em quer no gado de sua mãe, quer com a termos de exigência nutricional mínima aquisição de animais de outros criatópara os seus níveis de produção. Além rios renomados, através de controle disto, os animais desta raça são extre- leiteiro oficial, reprodução, transfemamente dóceis, de boa índole, de lida rências de embriões, etc. Daí a combinação que tem tudo fácil, as vacas se adaptam adequadapara o sucesso: TRADIÇÃO, PAIXÃO mente à ordenha e o bezerro é facilRESGATE.E muito Leite!. mente criado”, complementa.

Ao centro, a pecuarista Maria Tereza Lemos. Mantendo a tradição da família, as netinhas Catarina (esquerda) e Isabela (direita), que curtem participar das atividades da fazenda e adoram ir para o curral e para os pastos.


Alimentação de cordeiros lactentes

1 - Pesquisadores científicos do Instituto de Zootecnia, IZ/Apta-SAA-SP CP 60, Nova Odessa (SP). CEP: 13.460-000. Email: msbueno@iz.sp.gov.br

Introdução Cordeiros apresentam capacidade ganho de peso máximo entre o nascimento e a puberdade, entre 4-5 meses, acima dessa idade tem conversão alimentar (kg de alimento/kg de ganho de peso) muito elevada, portanto baixa eficiência para transformar alimento de origem vegetal em carne de qualidade. A fase de amamentação é a fase de maior ganho de peso, contudo está ligada a maior exigência nutricional dos animais. Em muitos casos o leite materno não é suficiente para garantir desempenho máximo individual, principalmente em ovelhas

eleição para esta categoria, pois estes têm elevada exigência nutricional e pequeníssima capacidade de fermentação ruminal não aproveitando alimentos fibrosos e de baixa digestibilidade. O milho e o farelo

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Cordeiros lactentes podem ter desempenho melhorado através de fornecimento de alimento sólido, ração concentrada ou volumoso de excelente qualidade. O fornecimento é realizado em cochos privativos (creep-feeding), bem localizados, tranqüilos e iluminados. O ganho de peso dos cordeiros lactentes pode ser aumentado entre 30-50%, elevando-se o seu peso ao desmame e adaptando-os à dieta sólida posterior à desmama. Respondem muito bem à alimentação suplementar, pois nessa fase apresentam capacidade máxima de transformação de alimento em ganho de peso. Ração concentrada é o alimento de

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Resumo

de soja são os ingredientes de maior palatabilidade e de eleição, sendo que os volumosos, somente os de excelente qualidade. A idade ao desmame pode ser antecipada, liberando as fêmeas para nova cobertura. O consumo de alimento é pequeno e a resposta interessante economicamente.

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com gêmeos. A exigência nutricional da ovelha é muito diferente da do cordeiro e muitas vezes estes competem pelo mesmo alimento, portanto o fornecimento de alimentação direcionada para os cordeiros em espaços privativos inacessíveis às ovelhas pode resultar em ganhos econômicos, por direcionar o melhor alimento para os animais mais exigentes. A curva de lactação da ovelha apresenta uma maior produção de leite nos primeiros 30 dias e um decréscimo posterior, o que pode levar a um menor desempenho dos cordeiros após esta idade, por suprimento insuficiente de nutrientes para suportar sua elevada capacidade de ganho de peso. Após 60 dias, a produção de leite e muito diminuída, mesmo na raça Santa Inês. O cordeiros gêmeos são muito propenso a apresentarem menor desempenho por menor disponibilidade de alimento (leite) e geralmente apresentam menor peso ao desmame, assim como pesos subseqüente, que pode ser melhorados através de alimentação direcionada a essa categoria. O consumo de alimento sólido pelos cordeiros lactentes é inversamente proporcional ao seu consumo de leite materno. Cordeiros filhos de ovelhas com grande produção de leite não buscam alimento sólido e no momento do desmame podem não estar adaptados à dieta posterior, o que resulta em estresse de desmama muito acentuado. Tentar aumentar a produção de leite da ovelha após os 30 dias de lactação, através de suplementação à sua dieta não é uma boa estratégia, pois resulta em aumento de sua condição corporal sem resposta eficiente e econômica na produção láctea. Redução progressiva da qualidade da dieta da ovelha após os 30 dias de lactação leva a diminuição da produção láctea e estimula o consumo de leite pelos cordeiros. O desmame de cordeiros mais pesados e adaptados à alimentação sólida é uma estratégia muito conveniente para produzir carne com qualidade, abates precoces. Animais que já consomem alimento sólido ao desmame, apresentam melhor resposta no seu desempenho posterior, pois são mais pesados e adaptados à alimentação sólida e sentem menos o estresse do desmame.

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Continuam a ganhar peso eficientemente após o desmame, principalmente quando lhes é oferecido o mesmo alimento que já estão adaptados. A quantidade de alimento sólido ingerido pode ser uma observação a ser levada em conta para decisão de quando desmamar. Animais acima de 45 dias que já consomem mais de 250 gramas de alimento sólido (ração concentrada) /dia já podem ser desmamado. Os cordeiros lactentes são muito exigente nutricionalmente, principalmente os de elevado padrão zootécnico, com elevada capacidade de ganho de peso. Desta maneira, a suplementação de sua dieta láctea com alimento sólido para poder suprir sua grande demanda por nutrientes para construção de tecido corporal (ganho de peso) é um técnica viável e aconselhável, visto o preço favorável dos ingredientes para rações concentradas e o elevado potencial de transformação desses animais. Cordeiros lactentes podem tem conversão alimentar nessa fase ao redor 23kg de ração concentrada /kg de ganho de peso. Assim, cordeiros que ingerem 200 gramas de ração/dia (ao redor de 1820% de PB, 80% e NDT, 0,6% de Ca e 0,4%P), podem ter acréscimo de ganho de 100g/dia. Iniciam a lamber e ingerir pequenas quantidades, já nos primeiros dias de vida, junto à sua mãe, contudo, após os 15 -20 dias devem ser estimulados a entrarem nos cochos privativos e acima dos 30 dias devem ingerir maiores quantidades. Fisiologia ruminal dos cordeiros lactentes Cordeiros lactentes têm o rúmenreticulo pouco desenvolvido e o abomaso, ou estomago químico, muito desenvolvido. O leite ingerido, através da goteira esofágica, vai diretamente ao

abomaso para ser digerido, como um monogástrico. O desenvolvimento ruminal é efetuado através de estímulo às papilas da sua parede. Esse estímulo é feito pelos produtos oriundos de fermentação ruminal, os ácidos graxos voláteis. Alimentos ricos em energia, como os concentrados, são excelentes estimulantes para o desenvolvimento ruminal, pois produzem maior quantidade de acido graxos. Alimentos volumosos ricos em fibras de baixa digestibilidade produzem menor quantidade de produtos de fermentação ruminal e podem acumular-se no rumem e dificultar a ingestão de mais alimentos, sendo portanto não aconselhável para essa categoria. Animais que consomem grande quantidade de leite por longos períodos não desenvolvem seu rumem e, portanto, não podem ser desmamados, pois não estão aptos a consumirem alimentos sólidos. Alimentos Cordeiros lactentes tem o rumem não desenvolvido e não podem conseguir energia da fermentação da fibra. Devem ser alimentados como monogástrico, com alimentos com pouca parede celular (fibra) e muito conteúdo celular (amido, proteína verdadeira). Dessa maneira, os ingredientes concentrados são os mais indicados. Como respondem eficientemente a alimentos ricos em energia e proteína, devemos direcionar os ingredientes de maior valor nutritivo para animais jovens e deixar os alimento ricos em fibra para os animais mais velhos, com completa capacidade fermentativa ruminal. O milho e outros cereais são os ingredientes energéticos mais indicados. O milho é o principal ingrediente energético de ração animal em nosso meio e tem preço bom. É composto basicamente por amido e é pobre em proteína e cálcio. Possui excelente palatabilidade para cordeiros muito jovens. Fonte de cálcio é necessária (calcário calcítico) para corrigir sua deficiência nesse elemento. A forma de fornecimento da ração concentrada é importante, pois está ligado ao consumo voluntário. Cordeiros muito jovens até ao redor de 35 dias, preferem rações finamente moídas; entre 35 e 60 dias rações peletizada, e a partir


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ovelhas permanecem, em local seco e confortável.

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têm grande preferência por rações com ingredientes grosseiramente moídos, ou grão inteiros. O melaço seco, rico em açúcar solúvel, sacarose e pobre em proteína, apresenta elevada palatabilidade e pode ser incorporado às rações concentradas, ao redor de 2-5%, para aumentar a palatabilidade e atrair os animais ao consumo de alimento sólido. O farelo de soja, o melhor ingrediente protéico para dietas dos animais, tem elevada palatabilidade, além de elevado teor protéico, com proteína de ótima qualidade. O farelo de algodão tem boa palatabilidade também, um pouco inferior à do de soja. O farelo de algodão no mercado atualmente tem dois tipos: 28% de PB e 38% de PB. Obviamente o farelo de algodão com maior teor protéico e menor teor de fibra (cascas) é mais indicado para compor ração concentrada para essa categoria. Óleos vegetais podem ser incorporados à ração concentrada dessa categoria no intuito de aumentar o seu teor energético. Adição de 1-4% de óleo soja pode ser aconselhado, contudo, deve-se prever a necessidade de aumento de vitamina E na ração (20mg/dia) e a compatibilidade da mistura homogênea dos ingredientes. Uréia não é aconselhável nessa fase, pois além de ser de baixíssima palatabilidade, não é aproveitada por essa categoria, incapaz de fermentar a fibra e ter crescimento microbiano ruminal. Volumoso pode ser utilizado, principalmente no intuito de adaptar os animais a sua dieta posterior, pós desmame. Devese lembrar que os cordeiros abaixo de 70 dias têm capacidade fermentativa muito reduzida e elevadíssima exigência nutricional e que volumosos tem elevado teor de fibra, pouco aproveitada pelos animais. Contudo, pode-se direcionar para estes animais volumosos de excelente qualidade, como fenos de gramínea excelente qualidade, com teor protéico acima de 14%. Uma boa sugestão seria feno de leguminosa, principalmente o de alfafa. A silagem de milho, devido seu elevado teor energético (68-70% de NDT) pode ser utilizada, contudo é deficiente em proteína.

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Estratégias de manejo: mamada controlada

Pode-se adicionar farelo de soja com fonte de proteína. É importante adaptar os animais a sua dieta pós desmame para evitar a perda de desempenho devido à demora em aceitar o novo alimento. Geralmente os cordeiros lactentes aprendem a comer com suas mães e o volumosos consumido por elas são bem aceito por eles. Tentar fornecer alimento não conhecido pelos animais após a desmama leva tempo para adaptá-los e resulta em baixo consumo e perda de peso. Localização dos cochos privativos Cordeiros jovens, até 45 dias, são muito tímidos e não se afastam das ovelhas mais de 10 m. Acima dos 60 dias tornamse mais independentes e podem distanciar-se mais. Desta maneira o cocho privativo para os cordeiros lactentes deve situar-se em local muito próximo onde as

As mamadas podem ser efetuadas em períodos predeterminados, possibilitando a separação de mãe e cria por algumas horas por dia, permitindo a mamada somente durante a noite. Apresenta a vantagem de poder alimentar essas duas categorias separadamente, podendo-se encaminhar as matrizes, durante o dia, para as pastagens, sem expor suas crias a problemas sanitários (verminose), longas caminhadas e alimento inadequado. Estimula o consumo de alimento sólido pelas crias que permanecem longos períodos sem mamar. Os cordeiros podem permanecer fechados e fornecerlhes alimento de qualidade, sendo a amamentação realizada somente a noite. Trabalho realizado no Instituto de Zootecnia comparando o desempenho de cordeiros Santa Inês criados com suas mães até os desmame (60 dias) e outro grupo com mamadas controladas, com acesso somente duas vezes ao dia às ovelhas, tendo á sua disposição ração concentrada com 18% de PB e 80% de NDT. Os resultados de ganho de peso no período de amamentação e peso ao desmame mostraram que não houve prejuízo para o desempenho dos cordeiros, além de estimular a entrada antecipada das ovelhas ao cio e assim, diminuir o intervalo parto-primeiro cio das ovelhas. Assim pode ser aconselhada como prática de manejo. Esta pratica estimula o consumo de alimento sólido pelos cordeiros e permite a cobertura antecipada das fêmeas (40-60 dias pós-parto), diminuindo o intervalo entre partos para 7 meses. Exemplo de formulação de ração para ser usada para cordeiros lactentes - (20% de proteína bruta, 80% de NDT, 0,7% de cálcio e 0,5% de fósforo) - 33,0% de farelo de soja - 64,5% de milho em grão moído - 1,5% de calcário calcítico - 1,0% de mistura mineral para ovinos


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- Embrapa Café. www.embrapa.br/cafe. Email: cibele@sapc.embrapa.br

Diferenciação foliar: lavoura de Catuaí recepada em 2002: as gemas dos ramos produtivos que deveriam florescer na primavera estão sendo diferenciadas em gemas vegetativas

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Primeiro, a associação de fatores verificados no início de 2006, com temperaturas máximas elevadas em janeiro e fevereiro, acompanhado de um veranico nas principais regiões produtoras, contribuíram para uma generalizada frustração da florada. Depois, as lavouras apresentaram floradas fora de época, sem consenso entre especialistas sobre os efeitos do fenômeno. Ao contrário do que acreditavam, muitas dessas flores vingaram e contribuíram para uma maturação irregular, afetando sobremaneira a qualidade e o rendimento da safra que está sendo colhida. Outro detalhe, ainda mais preocupante no campo, é que em algumas lavouras as gemas dos ramos produtivos que deveriam florescer na primavera estão sendo diferenciadas em gemas vegetativas, o que deverá influenciar a produtividade da próxima safra.

21 Agosto de 2007

Cibele Aguiar 1

FOTO: Embrapa Café

Mudanças climáticas deixam cafeeiros desordenados


R E VI S TA ATTALEA AGRONEGÓCIOS Agosto de 2007

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O cafeicultor Arnaldo Reis Caldeira Júnior, na região de Carmo da Cachoeira (MG), já contabiliza os prejuízos. Segundo ele, a florada desordenada prejudicou a maturação e aumentou significativamente a porcentagem prevista de café conhecido como “escolha”, de pior qualidade. Conseqüentemente, está havendo quebra na produção de cafés valorizados pelo mercado. Professor e cafeicultor em Machado (MG), Ivan Franco Caixeta relata que o problema é agravado pela maturação muito rápida, onde os frutos verdes e maduros estão apresentando rachaduras numa intensidade muito alta, com queda, o que irá prejudicar a quaÀ esquerda floração tardia em fevereiro de lidade da bebida. 2007 (São Carlos/SP) e à direita frutos em Consultor em Cafeicultura na estádios fenológicos atrasados para a época, região das Matas de Minas, Sérgio em junho de 2007 (Machado/MG) Situações atípicas Moraes Gonçalves sintetiza: “Depois Na opinião dele, a explicação fisio- do extenso veranico de janeiro do ano Para piorar ainda mais a situação, a lógica para as floradas atípicas, espe- passado, fisiologicamente, as plantas estão Estação de Avisos Fitossanitários da cificamente no Sul de Minas, é que de malucas”. Ele observa, principalmente Fundação PROCAFÉ emitiu, no dia 04 dezembro de 2006 a janeiro 2007 as em lavouras de maior altitude, que as de julho, alerta de déficit hídrico significa- plantas restabelecerem o seu status gemas reprodutivas diferenciaram-se em tivo e atípico para o Sul de Minas, princi- hídrico e reativaram o desenvolvimento vegetativas e que a produção desta safra pal região produtora. O gráfico aponta dos botões florais. está aquém da expectativa, com grande uma diferença de déficit superior a 100 Com a paralisação das chuvas em porcentagem de grãos verdes. mm quando comparada ao mesmo pe- fevereiro, associado a um aumento de até No Vale do Jequitinhonha, na região ríodo de 2006 e de 200mm em relação à 2 0C na temperatura média, as plantas das Chapadas de Minas, o engenheiro média histórica, projetando um período floresceram. Para complicar mais ainda agrônomo e cafeicultor João Marcos Alde seca severa com reflexos negativos na a situação, ele ressalta que desde fevereiro tieri Ramos também observa maturação safra futura. O crescimento e desenvol- o índice pluviométrico ficou abaixo da muito desuniforme. “Estamos colhendo vimento vegetativo observado também média histórica. Isto pode projetar pro- chumbinhos, chumbões e até cabeças de estão abaixo da média. Os técnicos suge- blemas na indução floral que se esta- alfinetes para não ter que depois levantar rem a utilização de irrigação caso haja beleceu em finais de fevereiro e começo café seco e fermentado do chão”, ressalta, de março. “Comparativamente ao ano lembrando que a colheita está mais cara disponibilidade. passado, o ciclo está se repetindo”. e com pior rendimento. Revendo conceitos Doutor em fitotecnia, Marcelo AntôDistúrbios em nio Tomaz acredita que os contratempos todas as regiões Para o coordenador do Núcleo de fisiológicos vão continuar ao longo do Fisiologia do Cafeeiro do CBP&D/Café e ano também na região de Martins Soares professor da UFLA (ES). Ele relata ter veriUniversidade de Lavras, ficado plantas florescendo e outras com boJosé Donizeti Alves, o tões florais bem adianintenso déficit hídrico de tados. março a novembro de 2006 impediu o desenConsultor no Sul de volvimento das peças Minas e região da Mogiaflorais, mesmo havendo a na em São Paulo, Pedro indução e diferenciação Paulo de Faria Ronca floral. “É importante que descreve os mesmos sinse diga que um botão já tomas, com destaque para diferenciado somente se as floradas em junho e transformará em flor caso brotações secundárias. as condições climáticas Segundo relato do entre os períodos forem engenheiro agrônomo satisfatórias, o que não Marco Antônio dos Sanocorreu”, diz. tos, na região de Morungaba (SP) também esta FOTO: Embrapa Café

O tópico “Contratempos fisiológicos” ganhou destaque mais uma vez na comunidade de Manejo da Lavoura Cafeeira, da subrede do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café), no ambiente Peabirus. No início de julho, o fórum, proposto pelo mediador Sérgio Parreiras Pereira, já havia ultrapassado 600 visitas, com 22 depoimentos de profissionais das principais regiões produtoras. O resultado aponta para uma situação preocupante. “Em algumas lavouras é possível observar flores, grãos granando, café maduro e seco, tudo no mesmo pé”, conforme depoimento do engenheiro agrônomo Rodrigo Serpa Vieira, do projeto Educampo-Café, em Guaxupé (MG).


Folhas ao invés de frutos

Associadas da CCAC SERVIÇOS • Beneficiamento • Rebeneficiamento • Armazenagem

saca, enquanto a média da região em outros anos é de 420 litros do produto. De acordo com o pesquisador da Embrapa Cerrados/CBP&D/Café, Antônio Fernando Guerra, em área experimental no Oeste da Bahia, a floração indesejável não foi significativa em cafeeiros submetidos a estresse hídrico controlado. Segundo seu relato, no período de suspensão das irrigações (sugerido de 24 de junho a 04 de setembro) ocorrerá o sincronismo do desenvolvimento das gemas para florescerem em torno de 10 a 12 dias após o retorno das irrigações. E completa: “Essas mesmas lavouras, que recebiam irrigações freqüentes durante todo o ano, apresentavam vários períodos de floração que se estendiam de maio a novembro. Isso já não ocorre após a adoção da tecnologia do estresse hídrico controlado”. No Sul de Minas (Fazenda Santa He-lena) em lavoura irrigada por gotejamento, a suspensão das irrigações contribuiu para reduzir o número de floradas. Para o consultor e cafeicultor, Guy Carvalho, a safra atual será menor do que o previsto, com quebra de produtividade e rendimento. Ele acredita que a soma dessas perdas deve variar de 10 a 30%.

Câmara do Comércio Atacadista e Armazenagem de Café (CCAC / ACISSP) A Câmara do Café de São Sebastião do Paraíso mostra a força da união dos empresários do setor atacadista e armazenagem Nossos serviços:

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Estudos e serviços de informação da legislação municipal, estadual e federal; ► Promoção de cursos e palestras sobre o setor; ► Notícias gerais do ramo (mercado, exportação, clima, preços, etc.); ► E-mail diário com preços dos tipos de café mais comercializados na praça de São Sebastião do Paraíso; ► Parcerias com pessoas e empresas ligadas ao ramo; ► Atualização diária do site com fechamento das bolsas (Nova Iorque, Londres e BM&F). Parceria Exata Corretora, São Sebastião do Paraíso - Tel: 35 - 3531-1448). ►

Acesse nosso site: www.acissp.com.br/armazenagem_cafe.htm ► Nova São José Comércio de Café

23 Agosto de 2007

Para o diretor da Cocapec - Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas, em Franca (SP), Ricardo Lima de Andrade, as variedades e até linhagens de café apresentam reações diferentes. “Lavouras com a cultivar Catucaí 6/ 30 de primeira safra deram 50 sacas/ha e estão mais adiantadas em termos de diferenciação reprodutiva, porém já apresentam algumas definições vegetativas em alguns nós, aparentemente concorrendo com a produção”. O consultor Carlos Roberto Piccin acredita que as oscilações de temperaturas baixas estão afetando a formação de gemas floríferas que com certeza irá prejudicar as próximas floradas. “No momento é difícil de projetar, mas que irá ter reflexos negativos isso não podemos descartar”.

No Oeste da Bahia, o consultor ligado a Fundação Bahia, Marcos Antônio Pimenta Menezes afirma que também naquela região a alta porcentagem de café verde tem dificultado a colheita mecânica, exigindo mais passadas e encarecendo o processo. Edmilson Figueredo, que trabalha com experimentação científica em cafeicultura irrigada na Bahia, confirma a situação de desordem. Segundo ele, os contratempos têm dificultado a tomada de decisão sobre suspensão da água de irrigação para uniformização da florada e traz perspectivas para a safra 2007/ 2008 nada animadoras. Quanto ao rendimento da safra atual, Figueiredo observa grande redução comparada ao ano anterior. “Na maioria dos tratamentos analisados foi necessário acima de 540 litros de café da roça para se obter 60 kg beneficiados”, destaca. No Sul de Minas, onde 35% da área em produção já foi colhida, o baixo rendimento também faz parte das reclamações. Para o gerente técnico, Joaquim Goulart de Andrade, o veranico de fevereiro prejudicou o enchimento dos grãos. Nesta safra, em média, estão sendo necessários 455 litros para compor uma

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ocorrendo tudo o que não se pode querer, pois no mesmo ramo são encontrados grãos secos, verdes, quase maduros e chumbinhos. Ele também reclama da alta porcentagem de grãos verdes e do baixo rendimento. “E ainda florada em pleno mês de junho!”, desabafa.

Para se associar, ligue: (35) 3539-4415 Falar com Helena

Sede Avenida Oliveira Rezende, nº 1350, Braz, São Sebastião do Paraíso (MG) Fone/Fax (16) 3539-4415 Email: acissp_ccac@paraisonet.com.br


Café terá padrões mínimos de qualidade

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FOTOS: Editora Attalea

Até o final deste ano, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) deve concluir a elaboração da Instrução Normativa que estabelecerá os padrões mínimos de identidade e de qualidade para a classificação do café torrado e moído comercializado no mercado interno e importado de outros países. Com isso, os fiscais federais agropecuários passarão a monitorar as condições do produto oferecido à população brasileira. A instrução normativa está sendo elaborada pelo Departamento de Café (Dcaf/Mapa), Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov/Mapa) e Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Quando for concluída, será submetida à consulta pública por 60 dias. Nesse prazo, a cadeia produtiva da cafeicultura e os consumidores poderão apresentar propostas para análise do grupo responsável por definir os padrões.“Ainda não existe essa norma na esfera federal”, assinala a diretora do Dipov/Mapa, Ângela Peres.

Agosto de 2007

24

“A elaboração da instrução normativa é importante porque tornará obrigatória a classificação do café oferecido ao consumidor brasileiro, além de priorizar a avaliação da qualidade da bebida”, diz Peres. Ela esclarece que a fiscalização não é obrigatória para o produto exportado pelo País. “Esse monitoramento é feito pelos exportadores e importadores.” Para o diretor do Dcaf/ Mapa, Lucas Ferreira, a elaboração da instrução normativa vai coroar o esforço feito pelo ministério e o setor privado para melhorar a qualidade do café, com o estabelecimento de um padrão mínimo de qualidade para o consumo do produto. “Dessa forma, os consumidores poderão saber, ainda nas gôndolas dos super-

mercados, os padrões mínimos de qualidade do produto que estão comprando”, afirma Ferreira. Com essa medida, o governo preencherá um vácuo existente na área de café torrado e moído, diz o diretor executivo da Abic, Nathan Herszkowicz. “Há algum tempo, o setor produtivo, especialmente a Abic, esperava por essa providência, que é uma atribuição do Mapa. Como o mercado de café evoluiu tanto em tecnologia quanto no consumo, é preciso estabelecer a regulamentação, da qual a indústria se ressente”. Nathan ressaltou que a instrução normativa definindo os padrões mínimos de identidade e de qualidade para a classificação do café será importante para coibir adulterações, protegendo as indústrias e os consumidores. “A regulamentação reforçará o trabalho da Abic, que desde 2004 desenvolve o Programa de Qualidade do Café (PQC). Isso contribuirá para manter o crescimento contínuo do consumo de café internamente”, finaliza Nathan. (Fonte: Ministério da Agricultura)


FOTO: Editora Attalea

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A pitaya é uma planta originária das Américas, onde se encontra distribuída em diversos países, sendo a Colômbia e o México os principais produtores mundiais (CANTO, 1993). É uma planta perene, rústica, pertencente a diferentes espécies e gêneros de plantas cactáceas que é conhecida, mundialmente, Pitaya Vermelha (Hylocereus undatus) como “Dragon Fruit”, ou seja, Fruta-do-Dragão, devido ao grande esterco de gado curtido, calcário calcítico porte das brácteas de sua casca, que se e farelo de osso (GLOBO RURAL, 2005). assemelham as escamas de dragões Seu custo de implantação esta em torno (BARROSO et al., 1978; MERTEN, e U$ 10.000 por hectare e o custo de 2003; ANDRADE et al., 2005; TODA produção de U$ 6.000 por hectare, inFRUTA, 2006). cluindo irrigação e adubação (TODA Segundo Barroso et al., (1978), a FRUTA, 2006). Segundo esta mesma pitaya, por seu caráter rústico e por ser fonte, sua produção anual média é de 14 uma frutífera já adaptada as condições toneladas de fruto/hectare. adversas de plantio, apresenta-se como Sua propagação é feita através de uma alternativa potencialmente viável mudas produzidas de sementes, ou de para o aproveitamento de solos pedre- estacas ou de cladódios. As sementes são gosos, arenosos, maciços rochosos e até coletadas de frutos maduros, lavados e, sobre árvores, pois é cultivada na forma imediatamente, semeadas em bandejas de de parreira. polietileno estendido (72 a 128 células), É considerada uma planta bastante com areia ou substrato comercial. O resistente a pragas e doenças. É também índice de germinação pode variar de 70% espécie de clima tropical seco, requeren- a 95%. A adubação, com dois gramas por do para o seu cultivo, precipitação anual célula, de um fertilizante de liberação de chuva de 600 a 1500mm e tempera- lenta, promove um rápido crescimento tura média de 18 a 26ºC, entretanto inicial das mudas, e aos cinco meses depois chuvas em excesso provocam queda das da semeadura, estão aptas para serem flores e apodrecimento dos frutos plantadas definitivamente (JUNQUEIRA (GLOBO RURAL, 2005). et al., 2002). Entretanto, a propagação A manutenção da cultura é simples e através do uso de sementes, de relativo baixo custo, sendo necessários não é aconselhável devido à para o plantio de um hectare, 530 variabilidade genética entre quadros de tutoramento, 1.060 mudas, as plantas e demandar mais tempo até o inicio da 1 Acadêmico do Curso de Agronomia da produção (JUNQUEIRA et Faculdade “Dr. Francisco Maeda” /FE. Rodovia al., 2002; TODA FRUTA, Jerônimo Nunes Macedo, km 01, CEP: 14500000 - Ituverava-SP. E-mail: strazeio@yahoo. 2006). com.br Mudas produzidas de 2 Professora Adjunto Aposentada da Faculdade estacas ou cladódios devem de Ciências Agrárias e Veterinárias de ser coletadas de plantas Jaboticabal/UNESP e Professora Pesquisadora da Faculdade “Dr. Francisco Maeda”/FE. adultas produtivas, mantidas Rodovia Jerônimo Nunes Macedo, km 01, CEP: por trinta dias em um galpão 14500-000 - Ituverava-SP. E-mail: brunini @feituverava.com.br para cicatrização dos feri-

mentos, após plantadas em sacos preto perfurados, contendo substrato comercial, e no fundo, brita granítica ou pedrisco. Observando-se a formação de raízes, mais ou menos aos trinta dias depois do plantio, estas podem ser transplantadas para locais definitivos. As espécies mais conhecidas são a Selenicereus megalanthus, de coloração externa amarela (Figura 2) e a Hylocereus undatus, de coloração externa vermelha (Figura 3). É uma cactácea muito atrativa e exótica, apresenta flores de coloração branca com tonalidades amareladas que se abrem durante a noite e possuem grande potencial para ornamentação (TODA FRUTA, 2006). As polpas são de coloração esbranquiçada, levemente adocicada, apresentando um grande número de diminutas sementes de coloração preta. Em algumas espécies a polpa é de coloração vermelha com tonalidade mais forte que a casca, sendo, atualmente, a mais procurada para plantios comerciais (BARBEAU, 1990; JACOBS, 2001; PITAYA, 2001; LUDERS, 2001). Tem larga utilização na culinária, principalmente, na preparação de sorvetes, sucos, vinhos, saladas, geléias, mousses e até mesmo ser consumida in natura, como fruta fresca, devido seu sabor suave e refrescante, lembrando uma mistura de kiwi com champagne (TODA FRUTA, 2006).

25 Agosto de 2007

Saulo Strazeio Cardoso 1 Maria Amália Brunini 2

FOTO: www.mfrural.com.br

Pitaya: nova alternativa de renda a pequenos e médios produtores


FOTO: www.tiosam.com

É considerada fonte de vitaminas A e C, e de ferro (BARBEAU, 1990; JACOBS, 2001; LUDERS, 2001). Devido a exigência de produção, ocorre oscilações de preço, variando de R$ 10,00 a R$ 60,00 o quilo, dependendo da época (DIÁRIO WEB, 2006).

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REFERÊNCIAS ANDRADE, R. A.; OLIVEIRA, I. V. de M.; MARTINS, A. B. G. A influência da condição e período de armazenamento na germinação de sementes de pitaya vermelha. Revista Brasileira de Fruticultura Fruticultura, Jaboticabal, v. 27, n. 1, p. 168-170, Apr. 2005. BARBEAU, G. La pitaya rouge, um nouveau fruit exotique. Fruits Fruits, v. 45, p. 141-147, 1990. BARROSO, G. M. et al. Sistemática de angiosperma do Brasil. São Paulo: EDUSP, 1978. v. 1. 225p. (v.1).

Pitaya Amarela (Selenicereus megalanthus).

CANTO, A. R. El cultivo de Yucatán. Gobierno del pitahaya en Yucatán Estado de Yucatan: Universidad Autónoma Chhapingo, 1993. 53p.

Premix apóia torneio no Pólo Clube de Franca

Agosto de 2007

FOTOS: Editora Attalea

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DIÁRIO WEB. Frutas exóticas pouco cultivada na região faz sucesso. Disponível em: <http:// www.diarioweb.com.br/noticias/ imp.asp?id=42237>. Acesso em: 06/12/ 2006. GLOBO RURAL. Conheça a exótica pitaya. Disponível em: <http:/ /www.globorural.com.br/ frutasexoticas>. Acesso em: 24/03/2006. JACOBS, D. Pitaya ( Hylocereus unatus ), a potencial New Crop for Australia. The Australian New Crop Newsletter Newsletter, n. 11, 1999. Disponível em: <http://www.newcrops.uqau/newslett/ nen11163.htm>. Acesso em: 10 dez. 2001. JUNQUEIRA, K. P.; JUNQUEIRA, N. T. V.; RAMOS, J. D. et al. Informações preliminares sobre uma espécie de pitaya (Selenicereus setaceus) nativa do cerrado, In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 17, 2002, Belém do Pará. Anais... Belém do Pará: SBF, 2002. (Trabalho 717). Jornal da Fruta: Pitaya é rica em vitaminas, ano 9, n. 94, p. 12, nov. 2001. TODA FRUTA. Características da pitaya pitaya. Disponível em: <http:// www.todafruta.com.br/mostra_ conteudo.asp?>. Acesso em: 24/03/2006.

II Seminário de Agregação de Valor em Horticultura 30 de agosto de 2007

Realizou-se no último dia 31 de julho, no Pólo Clube de Franca (SP), um torneio envolvendo três equipes: o Invernada, de Orlândia (SP), a Premix, de Franca (SP) e o Santa Rita do Morro

Grande, também de Franca (SP). Sagrouse campeã a equipe do Invernada. Para a premiação e para o churrasco no final, o evento contou com o apoio de várias empresas, dentre elas a Premix.

ORGANIZAÇÃO Secr. Agricultura Est. São Paulo SAA / APTA - Pólo Regional do Centro Leste LOCAL Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - AEAARP Rua João Penteado 2237, São Luis Ribeirão Preto (SP) INFORMAÇÕES Site: www.aptaregional.sp.gov.br/ eventos.php Telefone: (16) 3637-1849 c/ Sally Blat e Carla Lea E-mail: polocentroleste@aptaregional. sp.gov.br

Premiação da equipe do Invernada.

Premiação da equipe do Santa Rita


CURSO DE GERENCIAMENTO NA CAFEICULTURA dias 13 a 17. FAEPE. Lavras (MG). INF. www.faepe.org.br

DIA DO AGRICULTOR dia 24. Prefeitura. Cristais Paulista (SP). INF. (16) 3133-1124 ou 31331388 c/ Gérson Rocha.

SIMPÓSIO SOBRE PLANTIO DIRETO NA PALHA dias 29 a 31. Febrapdp. Ponta Grossa (PR). INF. (42) 3223-9107. www.febrapdp.org.br

7º CURSO ATUALIZAÇÃO CAFÉ dias 21 a 22. IAC. Campinas (SP). INF. (19) 3212-0458 / 3241-5188. fazuoli@iac.sp.gov.br ou rthom@iac.sp.gov.br

CURSO DE GESTÃO DA PECUÁRIA DE LEITE dias 24/08 a 29/03/2008. ReHAGro. Sindicato Rural. Muriaé (MG). INF. (32) 3721-5250. www.rehagro. com.br

AQUIPESCA 2007 - Feira de Negócios de Aquicultura e Pesca dias 21 a 23. Dipemar. São Paulo (SP). INF. (11) 3885-4265 www.dipemar.com.br

6º CONGRESSO BRASILEIRO DE AGRIBUSINESS dias 27 a 28. ABAG e Wenter Eventos. Hotel WTC. São Paulo (SP). INF. (11) 3285-3100. www.abagbrasil.com.br

4º ENCONTRO SOBRE A CULTURA DO AMENDOIM dias 23 a 24. UNESP. Centro de Convenções da FCAVJ. Jaboticabal (SP). INF. www.fcav.unesp.br

5º SIMPÓSIO DE GESTÃO E MARKETING AGROPECUÁRIO dias 28 a 30. NEMA. Fazenda Lageado. Botucatu (SP). INF. (14) 3811-7164. www.fca.unesp.br

CONGRESSO BRASILEIRO DE TOMATE INDUSTRIAL dias 29/08 a 1º/09. Embrapa, FAEG. Win Eventos. Goiânia (GO). INF. (62) 3241-3939. www.congressotomatel.com.br

1º SEMINÁRIO CIENTÍFICO, INDUSTRIAL E POLÍTICO SOBRE BIOCOMBUSTÍVEIS dias 1º a 02. UNESP e IBRAPAM. Centro de Convenções da FCAVJ. Jaboticabal (SP). INF. www.fcav.unesp.br

CURSO GESTÃO DA PECUÁRIA DE LEITE dias 04/09/2007 a 05/03/2008. ReHAgro. São José do Rio Preto (SP). INF. (31) 3233-3002. www.rehagro.com.br 4º CURSO ATUALIZAÇÃO EM AVICULTURA COMERCIAL dias 13 a 14. UNESP, Inst. Biológico e APA. Centro de Convenções da FCAVJ. Jaboticabal (SP). INF. www.fcav.unesp.br

TREINAMENTO EM BRUCELOSE, TUBERCULOSE E EET. dias 17 a 21. APTA - Pólo Regional do Extremo Oeste. Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento. Andradina (SP). INF. c/ Vera e Adriana (18) 3722-3447. Email: vlmcursi@aptaregional.sp.gov.br 9º SEMINÁRIO SOBRE CIENCIAS BÁSICAS EM HOMEOPATIA dias 28 E 29. UNESP e UFV. Fazenda Experimental Lageado. Campus de Botucatu. Botucatu (SP). INF. (14) 3811-7172. Email: chicocamara@fca.unesp.br ou ch21ch@fca.unesp.br.

- SENAR MINAS - SENAR MINAS Produção de melado e rapadura em Cássia FOTO: Editora Attalea

Produtores de melado e rapadura de Cássia (MG) receberam treinamento, podendo melhorar em até 50% a fabricação desses produtos. FabricaO curso gratuito “Fabricação de Rapadura, Açúcar Mascavo e Melado de Cana Cana” foi ministrado pelo Senar-Minas (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) para 11 participantes da comunidade rural do Itambé e imediações. A parceria é do Sindicato dos Produtores Rurais de Cássia e prefeitura. O curso foi realizado na Fazenda Itambé, a cerca de 20km de Cássia. “O objetivo do treinamento foi de fabricar rapadura, açúcar mascavo e melado de cana para o consumo familiar e comercialização de maneira eficiente”, afirmou o instrutor Armando César Del Bianco. A mobilizadora do Senar em Cássia (MG), Mariângela Batista Silva, informou que o curso atraiu produtores de melado que já atuam na atividade no

município e ainda pessoas que pretendem iniciar a fabricação dos produtos. “Alguns produtores já produzem e comercializam esses produtos aqui, mas sem técnica alguma. O treinamento foi para aperfeiçoá-los e incentivar quem quer começar a atividade”, disse a mobilizadora. Conforme ela, rapadura e melado já são produzidos na cidade, com venda para o mercado interno. A produção de açúcar mascavo exige técnicas mais apuradas, o que eles vão aprender no

treinamento. “Esses produtos têm muita saída na cidade e os visitantes procuram demais. Com o curso, sairá um produto com mais qualidade, atendendo aos produtores que mexem com a atividade em Cássia”, afirmou Mariângela. Dentre as atividades ensinadas no aperfeiçoamento teórico e prático, destacam-se identificação de instalação da unidade produtora, uso correto de equipamentos, instrumentos de controle do processo de fabricação, plantio adequado da cana-de-açúcar, moendas mecanizadas, preparo do caldo, técnicas de produção de rapaduras, melado e açúcar mascavo, enformar a massa, envase e embalagens. “Alguns produtores estão há 40 anos na área e já perceberam, com o curso, que plantavam a cana em época errada. Com as técnicas e fabricação corretas, eles terão um aumento de 50% na produção”, avaliou a mobilizadora.

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27 Agosto de 2007

MBA EM AGRONEGÓCIO de 10.08.2007 a 10.02.2009. ESALQ/USP. Piracicaba (SP). INF. (19) 3429-8856. www.pecege. esalq.usp.br

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Agosto de 2007

28

R E VI S TA ATTALEA AGRONEGÓCIOS


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