Edição 79 - Revista Agronegocios

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TECNOLOGIA

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MÁQUINAS EVENTOS

790 expositores estarão presentes na Agrishow 2013

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No ano que completa 20 anos de história e consolidada como a principal feira do setor de agronegócios da América Latina, a AGRISHOW - Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação terá sua maior edição neste ano, com 440 mil metros quadrados e 790 expositores. O evento acontecerá de 29 de abril a 03 de maio, no Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro Leste, em Ribeirão Preto (SP).

LS Tractor inaugura revenda em Franca (SP)

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Concessionária Arábica será a primeira loja da empresa LS Tractor no Estado de São Paulo e será inaugurada no final de abril, conforme os empresários Liliana Jurdi e Eduardo Carui.

11ª Roda de Agronegócios de Piumhi (MG)

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De 15 a 17 de maio, no Parque de Exposições “Tonico Gabriel” acontece a 11ª edição do maior evento agropecuário do Oeste Mineiro.

DIREITO

Aquisição de Imóvel Rural e a compra segura

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Artigo do advogado André Antunes, que orienta os interessados em adquirir imóveis rurais, com orientações jurídicas imprescindíveis, eliminando futuras dores-de-cabeça.

Relatório Internacional de Tendências do café

CAFÉ

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com expectativa que aguardamos a abertura da 20ª AGRISHOW - Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação, que se realiza de 29 de abril a 03 de maio, em Ribeirão Preto (SP). Tratase da maior feira do agronegócio da América Latina e palco de encontro dos principais agricultores e pecuaristas de todo o país. Com o esmero de uma organização brilhante e com o apoio das instituições financeiras presentes no evento, a AGRISHOW transformou-se na principal vitrine do agronegócio. É durante a feira ou nos meses subsequentes que os “negócios” acontecem. Tratores, colheitadeiras, pulverizadores, grades, arados, sulcadores, plantadeiras, adubadeiras, roçadeiras, ordenhadeiras, tanques de resfriamento, equipamentos de irrigação, caminhões, camionetes, utilitários e muito mais são os atrativos dos mais de 150 mil visitantes esperados. A Revista Attalea Agronegócios estará presente - mais uma vez - com estande próprio. Aproveitamos a oportunidade para convidar os agricultores a visitar o nosso estande, o de número 03, instalado no Pavilhão Oeste, à direita da entrada principal. Ressaltamos nesta edição a inauguração da revenda da LS Tractor - multinacional coreana do ramo de tratores, que acontecerá no final de abril. Parabéns à Liliana e ao Eduardo pelo empreendedorismo e visão de mercado. Já em Piumhi (MG), a expectativa é de finalização da organização da 11ª Roda de Agronegócio, maior evento agropecuário do Oeste Mineiro. Parabenizamos o Sindicato Rural de Piumhi, com a certeza de que um grande público visitará o evento. Destacamos, nesta edição, uma síntese do Relatório Internacional de Tendências do Café, organizado pelo Centro de Inteligência em Mercados, capitaneado por Luiz Gonzaga de Castro Junior. Informações detalhadas sobre a cafeicultura, com ênfase na produção, nos diferentes tipos de mercados, no crescimento de consumo, em especial nas cafeterias. Parabéns a todos. Boa Leitura!!!

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Artigo de Luiz Gonzaga de Castro Junior, do Centro de Inteligência em Mercados, que estampa o universo do café nos quesitos produção, mercado, consumo, cafeterias, etc.

Interação da nutrição com doenças fúngicas

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Expectativa de bons negócios na AGRISHOW

DESTAQUE: Agrishow 2013

EDITORIAL

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Décimo artigo do pesquisador Renato Passos Brandâo, do Grupo Biosoja, sobre a interação da nutrição com doenças fúngicas na atividade cafeeira.


EVENTO

AGRISHOW 2013 serรก marcada noo no ononoo nononono AGRISHOW 2013 serรก marcada

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LEITE

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MÁQUINAS

Loja será a primeira concessionária paulista da marca coreana de tratores

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uma iniciativa que mostra a força empresarial da LS Tractor, marca sul coreana de tratores pertencente ao Grupo LS Mtron, a concessionária Arábica, de Franca, SP, será a primeira loja da empresa no Estado de São Paulo. A LS Mtron está construindo uma fábrica em Garuva, norte catarinense que deve ficar pronta no final do mês de julho deste ano.

Concessionária – A Arábica será inaugurada no final de abril. Conforme afirmam os empresários Liliana Jurdi e Eduardo Carui, a decisão de investir na marca sul coreana aconteceu porque é um produto que oferece ao mercado uma nova possibilidade de tratores para o produtor brasileiro.

FOTO: Nelson Moreira Agropress Marketing e Comunicação/Divulgação

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Revenda da LS Tractor é inaugurada em Franca (SP)

Sr Kwang Won Lee, Vice Presidente da LS Mtron

“São produtos que trazem uma série de benefícios, inovações tecnológicas e alto padrão de qualidade, o que é um grande diferencial”, ressalta Eduardo. “Os produtos LS Tractor vão atender muito bem ao mercado da região, especialmente a cafeicultura”, assinala. Para o presidente da LS Mtron Brasil, Mr James Yoo, é uma honra poder participar do crescimento econômico pelo qual passa o Brasil e de contribuir para o fortalecimento do agronegócio brasileiro, trazendo para o país, os tratores LS. “Mais ainda, estar presente no momento em que inauguramos a primeira loja paulista da LS Tractor”, assinala o executivo. Mr Yoo lembra que o projeto de entrar no mercado brasileiro foi desenhado em 2010 e começou a ser executado

MAIORES INFORMAÇÕES LS Mtron Brasil - André Rorato Diretor Comercial e de Marketing Tel. (47) 3422-4563 e (47) 9915-0662 Atendimento a Imprensa Agropress Marketing e Comunicação Nelson Moreira Tel. (51) 3022-6846 e (51) 9206-0957

no ano passado. “Estamos agora em estágio bem avançado da nossa fábrica e, quando terminarmos, estaremos prontos para oferecer tratores que vão de 25 a 100 cvs e mais, iremos fabricar cerca de cinco mil tratores ao ano, isto é um projeto ambicioso e temos certeza que vamos concretizar este sonho”, finaliza. Sobre a Empresa - A LS Mtron, é uma das principais indústrias do grupo LS, originário da gigante sul coreana LG. Uma empresa global que é o 13º maior grupo empresarial da Coréia do Sul com vendas anuais acima de 30 bilhões de dólares e com mais de 21000 funcionários em todo o mundo. Atua no segmento de máquinas e eletrônica. Uma das suas subsidiárias é a Divisão de Tratores, a LS Tractor, que é a maior fabricante deste produto da Coréia do Sul com capacidade de produção de 50 mil tratores/ano, fabricando tratores que vão de 20 a 110 cavalos que oferecem tecnologia embarcada presente hoje somente em tratores de grande potência. A exemplo do que já fornece em outros países, o objetivo da empresa é fazer com que os pequenos e médios produtores bem como agricultores familiares brasileiros também te-nham acesso a esta tecnologia.


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EVENTOS

Evento acontecerá de 29 de abril a 03 de maio em Ribeirão Preto (SP)

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o ano em que completa 20 anos de história, a AGRISHOW (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação) - consolidada como a principal feira do setor agro da América Latina -, terá sua maior edição em 2013 entre os dias 29 de abril e 03 de maio, no Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-Leste, em Ribeirão Preto (SP). Em uma área total de 440 mil m², 790 expositores apresentarão o que há de mais moderno em tecnologia para o agronegócio. Estarão presentes fabricantes de máquinas e equipamentos agrícolas, insumos, ferramentas, associações de classe, centros de pesquisa e universidades, instituições financeiras e a imprensa, com televisão e revistas. A expectativa para esta edição da AGRISHOW é receber um público visitante de mais de 152 mil pessoas e gerar um volume de negócios da ordem de R$ 2,5 bilhões.“Além dos negócios iniciados durante a feira, a AGRISHOW tem um papel fundamental de multiplicar a tecnologia existente para o agronegócio, contribuindo de forma decisiva para tornar a atividade cada vez mais produtiva, rentável e sustentável. Esse papel da AGRISHOW ao longo de sua história pode ser medido, por exemplo, ao avaliarmos os números comparativos de produtividade da safra 1992/93 e 2011/12”, analisa o presidente da AGRISHOW , Maurilio Biagi Filho. FOTO: Divulgação Agrishow

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AGRISHOW 2013 fortalece área de Dinâmicas de Campo

Demonstrações de Campo - Uma das novidades da AGRISHOW 20 anos é a ampliação das demonstrações de campo, uma oportunidade para que o produtor rural confira o desempenho das máquinas e implementos em ação. Além das demonstrações em agricultura de máquinas estacionárias, pulverização, preparo de solo, plantio e colheita e de tecnologias de manejo em pecuária, a edição de 2013 da AGRISHOW terá um Núcleo de Tecnologia, em que os agricultores poderão visualizar no campo em formato de plots as novas cultivares do mercado das culturas de milho, canade-açúcar, sorgo sacarino, soja, entre outras. “As demonstrações de campo são um dos grandes diferenciais da AGRISHOW e nesta edição da feira vamos oferecer mais oportunidades para que o produtor rural possa conhecer, perguntar e esclarecer dúvidas em diversas áreas, tomando conhecimento das novas tecnologias e tendências da nossa produção agrícola. Com o uso cada vez maior da biotecnologia, os novos materiais estão superando expectativas, alcançando maiores produtividades”, afirma Biagi.

Outra novidade, é uma área de 16 hectares que, através da parceria com a Embrapa, serão demonstrados alguns dos arranjos possíveis do Sistema de Integração LavouraPecuária-Floresta (ILPF), uma estratégia de produção sustentável, que traz grandes contribuições para recuperação de áreas degradadas, adequação ambiental, geração de renda e viabilidade econômica. Por meio da aplicação de várias técnicas, são promovidas a rotação de culturas, a exploração da atividade pecuária e a integração com a produção madeireira. Os visitantes poderão conhecer desde arranjos simples, como o Sistema Santa Fé, considerado o símbolo da ILPF no Brasil, até arranjos mais complexos envolvendo diversas gramíneas e leguminosas. Embrapa - No ano de comemoração de seus 40 anos de criação, a Embrapa participará de forma bastante ativa na 20a edição da Agrishow levando um grande número de tecnologias para o produtor rural, seja ele agricultor familiar ou grande empresário. “Nesse sentido, a empresa vem mantendo sua tradição e compromisso com a sociedade de desenvolver e apresentar opções tecnológicas diversificadas ao homem do campo”, destaca Ladislau Skorupa, Chefe Adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Meio Ambiente. Na área das Demonstrações de Campo, a Embrapa apresentará em plots cerca de 50 cultivares de diversas culturas desenvolvidas pela empresa e seus parceiros, entre as quais de arroz, feijão, milho, soja e sorgo. Além dessas, também será apresentada uma coleção de 20 forrageiras (gramíneas e leguminosas). Para o agricultor familiar está reservado um espaço especial na área de campo, onde serão apresentadas e demonstradas diversas tecnologias voltadas para o pequeno produtor, como pequenas máquinas e equipamentos destinados ao processamento de sementes, saneamento básico rural, esterilização de solo sem o uso de produtos quími-


EVENTOS cos e pulverizadores concebidos para otimizar a aplicação de pesticidas. Serão apresentados o processo de Produção Integrada de Morango (PIMO), com destaque para os pré-requisitos para a obtenção da certificação da produção, a criação de abelhas sem ferrão, entre outras. A agricultura de precisão também terá espaço no evento, com a apresentação de um robô (equipamento de cerca de 3 t) onde são acoplados sensores para medições e monitoramento em tempo real, no campo, de diversas variáveis relacionadas às condições ideais de produção agrícola. Máquinas e Implementos Agrícolas - O motivo principal que atrai a maior parte dos visitantes na AGRISHOW são as novidades das empresas fabricantes de máquinas e implementos agrícolas. Seja qual for a atividade ou a área a ser trabalhada, os agricultores procuram novidades em tratores, colheitadeiras, plantadeiras, grades, arados, ensiladeiras, trituradores, pulverizadores, equipamentos para irrigação, pneus, motores, ferramentas e uma infinidade de itens que compõe a agropecuária brasileira. Destaque para a Oimasa, representante Massey Ferguson em Orlândia/SP, Ituverava/ SP, Franca/SP, Batatais/SP, Nuporanga/SP, Bom Jesus (GO) e Itumbiara (GO); para a Sami Máquinas, representante Yanmar Agritech em Franca/SP e São Sebastião do Paraíso/ MG; para a Netafim, com a representante Bolsa Agronegócios, de Franca/SP; para a Betta Hidroturbinas, empresa fabricante de equipamentos para irrigação, de Franca/SP; para a Eurolatte, empresa de equipamentos para pecuária leiteira, com a LWS Equipamentos para Refrigeração, representante

em Franca/SP e região; para a Fafram - Faculdade de Agronomia Francisco Maeda, de Ituverava/SP; para a MIAC - Industrias Reunidas Colombo, de Catanduva/SP, especialista em recolhedora de grãos; para a Jacto - máquinas agrícolas, de Pompéia/SP; para a John Deere, com a representante Colorado, de Franca/SP e região; para a New Holland, com a representante A.Alves, de Orlândia/SP; e para o Palácio das Ferramentas, o shopping das ferramentas, máquinas e equipamentos para Franca/SP e região. AGRISHOW sustentável - Um dos principais focos da edição de 2013 da AGRISHOW é a sustentabilidade. Iniciado em 2012, o projeto AGRISHOW Sustentável engloba uma série de ações de responsabilidade ambiental, envolvendo organizadores, expositores, fornecedores, visitantes e sociedade. O projeto, que tem uma via preventiva e outra corretiva, visa minimizar os impactos que existem com a realização da feira, divulgar boas práticas ambientais e cases sustentáveis, e neutralização da emissão de carbono. Em um estande do projeto serão apresentados cases de empresas de diversos elos da cadeia do agronegócio com produtos, serviços e processos sustentáveis. Estarão disponíveis para visitação, por exemplo, um Porsche híbrido (há somente oito no Brasil) e um ônibus híbrido. O próprio estande será autossustentável com um protótipo que gera energia solar e térmica para o funcionamento do espaço. Haverá ainda “papa-pilhas” espalhados em pontos estratégicos da feira.

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PREÇO DO CAFÉ: UM BREVE ESTUDO Clayson Correia de Sousa - Engenheiro Agrônomo pela UNESP - Campus de Jaboticabal (SP)

Conab freqüentemente tem feito avaliações de custos de produção e para esta safra a ser colhida em 2013 a estimativa é de um custo total de R$400,00/sc de 60 kg, produtividade média de 35 sc/ha, para o espaçamento 3,5 x 0,7 m, na região de Franca (SP). Este valor está bem acima dos preços oferecidos pelo mercado, algo em torno de R$ 300,00/sc de 60 kg. Esta situação é bem diferente dos dois anos anteriores, cujos valores atualizados para Reais de dezembro de 2012 pelo Índice de Preços Pagos pelos produtores, o qual mede a inflação dos insumos agropecuários, estiveram em janeiro de 2011 e de 2012 equivalentes a R$ 484,92 e R$ 723,00/sc de 60kg (os valores reais correntes da época eram de R$ 409,5 e R$ 483,69 respectivamente)1. Na Tabela 1 são apresentados os valores dos

FOTO: Divulgação ABIC

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Tabela 1. Preços do café tipo 6 ao produtor. Valores atualizados para Reais de dezembro de 2012.

Fonte: Elaborados a partir dos dados do IEA (2013) e atualizados pelo IPP, da Fundação Getúlio Vargas (2013). 1 - Explicando melhor significa que os R$483,69 em janeiro de 2012 tinham o mesmo poder de compra que os R$ 723,00 em dezembro do mesmo ano, mostrando que em menos de 12 meses o custo dos insumos aumentou 50%.

preços pagos aos produtores pelo café tipo 6, em valores atualizados para Reais de dezembro de 2012, desde novembro de 1998 até dezembro de 2012. A escolha deste período na nossa análise se deve ao fato que o mesmo se caracteriza por uma relativa estabilidade das políticas macroeconômicas, já que em novembro de 1998 a taxa de câmbio passou a ser flutuante. Estes dados foram submetidos a uma análise estatística de regressão e, pretendeu-se inicialmente descrever a evolução destes preços por uma equação de 3º grau ou maior, de forma a se delinear um comportamento cíclico no longo prazo, como por exemplo, na Figura 1. Contudo, a análise não foi significativa pelo teste utilizado, o teste F, mostrando um comportamento descrito por uma equação de 2º grau, conforme a Figura 2. Logo explicaremos o que significa isso, vejamos então as


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FOTO: Revista Attalea Agronegócios

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Figura 1 - Exemplo hipotético pretendido mostrando um comportamento cíclico no longo prazo.

Figura 2 - Preços do café atualizados para Reais de dezembro de 2012. Médias anuais.

Figuras 1 e 2. Aqui então tentemos explicar de um modo mais simples. Tal série de dados não permitiu ajustar um modelo cíclico de preços o que nos poderia indicar um padrão típico de tendência de preços, ao passo que os preços neste período decresceram de 1999 até 2005 quando votaram a subir e atingindo a maior média anual em 2011. Esta queda sofrida a partir de janeiro de 2012 estatisticamente não pode ser explicada por uma tendência generalizada de baixa no longo prazo, provocada, por exemplo, por um excesso de produção até mesmo porque não foi significativa estatisticamente2 a análise para a interação entre os preços do café ao produtor e a produção nacional. Essas quedas de preços, mais acentuadas a partir de 2012, se devem mais a uma variação sazonal, provocada pela estacionalidade normal de safra/entressafra, associada também a uma forte pressão especulativa e ainda também pelo aumento da inclusão de café robusta nos blends, pelos torrefadores. A teoria microeconômica também prevê que preços podem ser afetados por produtos substitutos, o que ocorreu neste caso. Na Figura 3 é apresentado o gráfico de sazonalidade dos preços do café. A análise foi significativa estatisticamente pelo teste F. Ao longo destes quinze anos os preços tem se comportado de forma sazonal, apresentando um pico em Fevereiro e decresce até o último terço do mês de agosto, quando ocorre o menor preço 2 - Sousa (2013) dados ainda não publicados.

do ano, e apenas em 2010 e 2011 tivemos um comportamento atípico, mas no longo prazo o comportamento é esse apresentado na Figura 3. Estes dados nos dão um ensinamento prático, conhecendo estes dados a melhor época para comercialização do café são nos três primeiros meses do ano. Digamos que a colheita termine em julho, quando também se inicia o preparo da lavoura para a safra seguinte. Uma sugestão seria fazer uma CPR ou uma troca de café por insumos para execução de parte da colheita em agosto do ano seguinte (na safra corrente), dessa forma garante-se os tratos da lavoura e se disponibiliza capital para custear a colheita. A outra parte do café que sobra, pode ser armazenada até fevereiro ou março subsequente. O conselho é nunca deixar passar o mês de março sem se esgotar os estoques de café, pois esta é epoca de preços mais altos do ano, e depois disso, quem não vende terá que aguardar mais um ano inteiro para se conseguir um novo pico de preços, além do mais os custos financeiros tem sido muito altos somado a inflação dos insumos que em 2012 foi 50% a.a, enquanto a inflação geral tem sido de 4,5 ou 5 % ao ano.

Figura 3. Sazonalidade dos preços do café desde novembro de 1998.


CAFE

Alta Mogiana preza pela qualidade do café e intensifica participação em concursos

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om foco na qualidade dos grãos, os concursos de qualidade de café vem ganhando destaque no mercado e valorizando os produtores. Já tradicional na nossa região, o Concurso de Qualidade da Alta Mogiana, promovido pela AMSC (Associação dos Produtores de Cafés Especiais da Alta Mogiana) chega em 2013 a sua 11ª edição e é a prova de que a dedicação do produtor leva a resultados promissores. Após mudanças no cotidiano de trabalho e uma conscientização dos profissionais quanto a importância de investir em qualidade de produção e certificações para valorizar o produto, a Alta Mogiana apresenta uma evolução na produção de grãos. Segundo o presidente da AMSC, Gabriel Afonso Mei Alves de Oliveira, a dedicação dos cafeicultores visando a qualidade da produção é nítida. “Nos últimos anos podemos perceber que cada vez mais os produtores têm identificado as oportunidades de mercado para trabalhar os grãos especiais, os chamados cafés finos, possibilitando melhor renda para seu negócio”, analisa. Gabriel lembra que o processo necessita de atenção e procedimentos adequados para que o resultado seja positivo. “Para se alcançar um café de qualidade, é necessária uma atenção especial à lavoura como um todo, desde o plantio, tratos culturais, até a colheita, secagem e o armazenamento”, comenta. O presidente da Associação lembra que o enfoque na qualidade dos grãos é recente. “O produtor tinha a antiga mentalidade de que todo café era igual, de que não importava a qualidade e realizava as vendas apenas como commodities. Muitos cafeicultores tinham a idéia de que em uma determinada região o café era bom por si só, por ser cultivado em uma altitude favorável e com clima privile-

FOTO: Divulgação AMSC

AMSC já prepara o 11º Concurso de Qualidade da Alta Mogiana

Gabriel Afonso Mei Alves de Oliveira, presidente da AMSC.

giado”, lembra. A Alta Mogiana Paulista, por exemplo, é uma região cujo microclima e altitude favorecem a produção de ótimos cafés, o que levava muitos produtores a não investirem tanto nos processos de colheita. Mas especialistas no setor, já afirmam que o cenário está mudando e que muitas propriedades estão certificadas por importantes selos de reconhecimento internacional, como os da Rainforest Alliance e UTZ, que valorizam a produção e atestam a qualidade dos grãos daquela propriedade. Para o presidente da AMSC a mudança no cenário da cafeicultura da Alta Mogiana é positiva e os resultados favoráveis devem crescer ainda mais. Cafeicultores da região que tiverem interesse em se certificar ou conhecer mais sobre o processo de qualidade podem entrar em contato com a Associação e agendar um consultoria.

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ma vitrine tecnológica e de relacionamentos buscando longevidade e a sustentabilidade para as atividades desenvolvidas no campo. Essa a definição para a Roda de Agronegócios de Piumhi que entra em sua 11ª edição, na concepção de seus organizadores, encabeçado pelo Sindicato dos Produtores Rurais (SRP). A feira será realizada entre os dias 15 e 17 de maio – quarta, quinta e sexta-feira – nas dependências do PTG - Parque de Exposições “Tonico Gabriel”. A abertura oficial está prevista para as 10 horas do dia 15. Já nos dias 16 e 17 de maio, o funcionamento está previsto das 14 às 20 horas Considerada o maior balcão de negócios do setor rural do Centro Oeste de Minas Gerais, a Roda de Agronegócios de Piumhi vem se destacando ao longo dos anos como um canal de acesso e interação do produtor rural com as novas tecnologias. Contando com a participação de mais de uma centena de expositores, o evento é voltado a agricultores e pecuaristas de toda a região e especializado na divulgação e comercialização de máquinas, implementos, ferramentas, sementes, fertilizantes e diversos outros produtos do agronegócio regional. De acordo com José Donizete Silva, presidente do Sindicato Rural de Piumhi (MG), “este ano a feira será incrementada por palestras técnicas demonstrando meios eficientes para aliar maior produção em áreas cada vez menores e com reduzida utilização de insumos, tanto através da otimização do manejo quanto no melhor uso da terra. Outro

FOTO: Divulgação Roda de Agronegócios

11ª edição do evento acontece de 15 a 17 de maio no “Tonico Gabriel”

Helenice Miranda, coordenadora do evento

acontecimento interessante será a segunda edição do desfile para a escolha da Garota Café 2013”. Para os organizadores, a decisão por criar um evento como a Roda de Agronegócios em Piumhi procurou atender as necessidades de pequenos, médios e grandes agricultores e pecuaristas da região, que buscam novas máquinas, produtos ou serviços voltados ao agronegócio. “Em em único espaço comercial, dezenas de empresas ofertam produtos e serviços, trazendo novidades em tecnologias e oferecendo a oporFOTO: Revista Attalea Agronegócios

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Roda de Agronegócios 2013 traz novos conceitos para o campo


tunidade de ampliação da rede de contatos em negócio, favorecendo o agropecuarista na tomada de decisão por criar, plantar ou comercializar. Além disto, o evento contribui ainda com a oportunidade única de conseguir taxas especiais de financiamento e custeio oferecidos pelos agentes financeiros da região. O empreendedorismo e a profissionalização no campo são fatores que vêm consolidando Piumhi e região como protagonistas neste cenário no Centro Oeste mineiro”, afirma Flávio Garbin Filho, um dos coordenadores do evento. Segundo Helenice Miranda, também da coordenação do evento, restam poucos espaços comerciais e aquelas empresas interessadas em expor deve primeiramente acessar o site www.rodadeagronegociosdepiumhi.com.br e retirar o formulário de inscrição e o contrato de locação. “Preenchidos e assinados os formulários, orientamos que a empresa protocole o pedido no Sindicato Rural de Piumhi”, diz Helenice. A Roda de Agronegócios de Piumhi se move pela confiança dos expositores, agentes financiadores e dos produtores rurais. A cada edição buscamos melhorar a infraestrutura, visando proporcionar melhores condições para os expositores e visitantes, em uma área de 60.000 metros quadrados, com estacionamento próprio, ruas arborizadas e asfaltadas, serviços de bar, seguranças, banheiros amplos e confortáveis. O Potencial Agropecuário de Piumhi (MG) - O município se destaca pelas exportações de commodities, como é

FOTO: Divulgação Roda de Agronegócios

EVENTOS

Flávio Garbin Filho, coordenador do evento

o caso do café arábica, sendo o 4º pólo mineiro. Sua extensão geográfica e topográfica, segundo o IBGE, impulsiona a agricultura no município, permitindo possuir área com aproximadamente 15.000 hectares de café e uma produção média de 320.000 sacas anuais. Além disto, possui área de 10.000 hectares cultivada em cereais, um rebanho bovino em torno de 60.000 cabeças, sendo 12.000 vacas em lactação com uma produção de trinta milhões de litros de leite no ano de 2011.

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A ANÁLISE DA AQUISIÇÃO DO IMÓVEL RURAL SOB A PERSPECTIVA DA COMPRA SEGURA André Antunes - Advogado, especialista na área de Defesa do Consumidor e Direito Agrário.

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eralmente, depois da compra efetivada, as certidões exigíveis para a lavratura da escritura pública são obtidas após o fechamento do negócio, especialmente quando efetivada por um contrato particular com pagamento feito à prestação. A escritura pública, neste caso, somente será lavrada após o pagamento da última parcela. Juridicamente, quando adquirimos um bem, o adquirente desfruta da proteção legal contida nos artigos 441 à 457 do Código Civil, no que se refere aos vícios redibitórios e a evicção. O primeiro se refere a defeitos ocultos no bem adquirido onde o adquirente poderá redibir o contrato ou reclamar o abatimento do preço. Já o segundo se refere justamente a perda, que pode ser parcial ou total, de um bem por motivo de decisão judicial relacionada a causa preexistente ao contrato, como por exemplo a hipótese da venda de um bem de herdeiros cujo inventário ainda não foi aberto ou consumado com a partilha. Na verdade não é viável contentar-se com os artigos protecionistas do Código Civil para se efetivar a compra de um imóvel rural, haja vista que a busca do judiciário poderá ser evitada se atentarmos para algumas cautelas antes do fechamento do negócio rural. Em primeiro lugar, é aconselhável dirigir-se ao Cartório de Imóveis do local da propriedade para obtenção da Certidão de Propriedade com negativa de ônus vintenária. Ainda com relação à situação cadastral do imóvel rural, de posse do Código do Imóvel Rural, podemos emitir o CCIR - Certificado de Cadastro de Imóvel Rural. Este documento confirma se o imóvel rural está efetivamente cadastrado no Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR) e é documento indispensável para transações imobiliárias e crédito bancário. Ainda na situação cadastral, podemos verificar a situação do imóvel rural perante a Receita Federal, através do CAFIR – Cadastro do Imóvel Rural. Para tanto, temos que ter em mãos o número do Imó-

vel Rural na Receita Federal (NIRF). Peça ao vendedor, se for o caso, o ADA – Ato Declaratório Ambiental. É um instrumento legal que possibilita ao Proprietário Rural uma redução do Imposto Territorial Rural – ITR. Com relação à cautela para saber se o referido imóvel rural possui gravames, além da já mencionada Certidão de Propriedade com negativa de ônus vintenária é aconselhável, ainda, que se tenha ciência do teor da Certidão Negativa de Débitos de Imóvel Rural perante a Receita Federal. Através desta certidão podemos verificar, por exemplo, se o imóvel rural está com débitos de ITR (Imposto Territorial Rural). Já perante o IBAMA, é aconselhável também requerer a Certidão Negativa de Débitos. Ainda, se a compra for efetivada de porteira fechada, é aconselhável verificar a situação do gado, declarações de vacinas, etc, bem como os possíveis desmembramentos que poderá ter o imóvel, respeitando-se o mínimo legal. Com relação ao vendedor, podemos tomar algumas cautelas, como por exemplo, requerer Certidões Negativas da Justiça Federal, Certidões do Distribuidor Cível e Criminal; da Vara das Fazendas; da Justiça do Trabalho e as de Protestos de Títulos. Por fim, é aconselhável verificar se o imóvel rural está arrendado ou contratado por parceria, neste caso o contratado terá preferência pela compra do referido imóvel. Feito as cautelas necessárias e lavrada a escritura de compra e venda, imprescindível levar a escritura ao cartório de registro de imóveis do local do imóvel. Assim, efetuado o registro do imóvel rural, tem-se a efetivação da propriedade, ou seja, o comprador é efetivamente o dono do imóvel rural adquirido. Aqui estão basicamente algumas cautelas para a aquisição do imóvel rural, mas é aconselhável que haja um acompanhamento de um profissional habilitado para que haja respaldo seguro para a aquisição do bem pretendido.


CAFÉ

Bureau de Inteligência apresenta Relatório Internacional de Tendências Tendências atualizadas sobre produção e consumo em todo o mundo

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1. PRODUÇÃO alta incidência de ferrugem nos cafezais da América Central continua dominando o noticiário. A cada semana fica mais evidente que os prejuízos serão grandes para a região. O impacto vai muito além de uma redução na oferta mundial do grão, já que é preciso considerar os milhões de trabalhadores cuja renda está atrelada à cafeicultura. Os danos econômicos e sociais podem ser imensos. Os go-vernos dos países afetados começaram a articular uma reação, mas com pouca perspectiva de resultados para o curto prazo. Na Ásia, um cenário favorável para o crescimento da cafeicultura começa a se desenhar. Índia, China e Vietnã estão entre os países que podem elevar o consumo mundial de café, mas ocorre que também são produtores do grão. Ou seja, pode ser que o crescimento do consumo asiático seja suprido pela cafeicultura do próprio continente. O Brasil e a Colômbia seguem investindo em projetos que tragam desenvolvimento para a atividade, na forma de pesquisa e financiamento.

Panamá = Os produtores panamenhos, por meio do melhoramento genético, pretendem obter uma variedade de café similar a Geisha, uma das mais valorizadas do mundo. A pesquisa foi iniciada com 200 sementes adquiridas no Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino, localizado na Costa Rica, e tem como objetivo desenvolver variedades resistentes a doenças, como a ferrugem e o olho de gado (doença causada por um fungo, que afeta as folhas e os grãos de café e se desenvolve rapidamente em condições de umidade), e com qualidade sensorial da bebida. El Salvador = A Assembleia Legislativa de El Salvador aprovou um programa de US$ 3 milhões para combater a ferrugem, infecção fúngica (fungo roya) que tem afetado de forma abrangente os cultivos de café na América Central. Com um parque cafeeiro de 161 mil hectares, o café é o principal produto de exportação do país, representando cerca de 7% do total. Segundo dados oficiais, há 24 mil cafeicultores no país e, em

AUTOR

1 - Professor Doutor, Coordenador do Centro de Inteligência em Mercados, Depto de Administração e Economia, Universidade Federal de Lavras, Tel: (35) 3829-1443. E-mail: cim@ dae.ufla.br

FOTO: Divulgação ABIC

Luiz Gonzaga de Castro Junior 1

Colheita de café na América Central

2010-11, a cultura gerou 107.685 empregos diretos. Guatemala = Mais uma vez o fungo Roya é notícia nos cafezais da Guatemala, assim como vem sendo em toda América Central. O fungo vem se alastrando e pode causar redução de até 40% da safra 2013/2014 em relação a safra 2011/2012. A Anacafe (Associação Nacional do café, na Guatemala) está trabalhando com o governo da Guatemala para subsidiar fungicidas aos agricultores, um acordo que pode ser anunciado nos próximos meses.

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Embalagem de café comercializado no Vietnã.

Índia = Com a finalidade de incentivar a cafeicultura no país, o ministério do turismo de Karnataka está criando rotas de excursões no sul da Índia. A finalidade do projeto é levar aos turistas e amantes do café o dia-dia da atividade. O roteiro prevê: aprender sobre a história do café e do processamento do grão; se envolver com as tradições e culinária da cultura local; hospedar-se em casas de antigos produtores, plantações e resorts; caminhadas nas montanhas e passeios de bicicleta; visitas a templos e palácios antigos, safáris de jipe e conhecimento da fauna local. Vietnã = Maior produtor de café robusta do mundo, se beneficia com os crescentes investimentos da Starbucks no continente. A expectativa de aumento de consumo na região tem estimulado os investimentos no setor. Os investimentos se concentram em regiões como Dak Lak, onde a produção de café cresceu 10% na ultima safra e vão desde a assistência técnica até os financiamentos para implantação de lavoura. No Vietnã existem cerca de 540 mil produtores de café que empregam aproximadamente 1,6 milhão de pessoas, fato que deixa evidente a importância do café robusta para o país. Quênia = Produtores do Quênia apostam na certificação como meio de melhorar a qualidade do seu café e assim conseguirem agregar valor ao seu produto. Com isso, mais de 30 mil produtores do país têm obtido prêmios devido à alta qualidade de seu café. Apesar da produção no país ser relativamente pequena, cerca de 850 mil sacas, mais de 80% dessa produção é de cafés especiais, o que torna o país um importante polo de produção. Uganda = Tem se firmado como um dos grandes produtores de café robusta da África e um dos mais importantes países exportadores do continente. A atual tendência no país é quadruplicar a produção através de investimentos do setor público e privado a fim de providenciar cultivares resistentes a pragas e doenças, bem como assistência técnica. A atual produção do país é de cerca de 3 milhões de sacas, o que o coloca como o maior produtor de robusta do continente africano. Até 2020 o governo tem como objetivo a produção de 12 milhões de sacas/safra, que será alcançado

por meio do aumento do parque cafeeiro em 20 milhões de plantas. Deve-se considerar que tal objetivo é extremamente otimista uma vez que a cafeicultura de Uganda vem crescendo, a partir de 2005, em 5% ao ano, o que viabiliza uma produção em 2020 de aproximadamente 4,5 milhões de sacas. A produção do país é favorecida pela crescente demanda de café robusta por empresas europeias e americanas, que têm adicionado mais grãos desse tipo com o objetivo de redução de custos. Colômbia = O país espera ter a maioria dos seus cafezais renovados com variedades resistentes a doenças até 2016, o que poderá permitir ao país elevar gradativamente a sua produção. Atualmente tem 930 mil hectares cultivados com café, dos quais 45% já foram renovados com variedades resistentes a doenças fúngicas. Em 2011 e 2012, renovaram-se cerca de 245 mil hectares, sendo esperado completar outros 100 mil hectares em 2013. O país que até os anos 80 era o segundo maior produtor mundial de café hoje ocupa a 4ª posição. De acordo com análises, é o pior momento para a produção de café dos últimos 36 anos, com apenas 7.8 milhões de sacas colhidas em 2011. Foi a menor safra considerando um período de mais de 30 anos. Como medidas para ajudar os agricultores, o ministro da agricultura colombiano, em comunicado, analisou o cenário como preocupante e decepcionante, afirmando que para 2013 as melhoras devem ser urgentes. Para isso, subsídios e outros tipos de ajuda serão disponibilizados aos agricultores. O governo colombiano concordou em continuar a subsidiar os produtores de café em meio a um ambiente de preços hostil. Contudo, muitos agricultores têm reclamado que o subsídio ainda é muito baixo. 2. MERCADO DE MONODOSES O sistema de monodoses ficou mundialmente conhecido pela praticidade que o mesmo pode oferecer ao se preparar uma xícara de café. Entretanto, recentes artigos jornalísticos têm abordado alguns “pontos críticos” ou desvantagens do sistema em suas matérias. Um dos pontos abordado pelos críticos diz respeito à baixa qualidade do espresso preparado pelo conjunto de cápsulas e máquinas. Segundo eles, os problemas se iniciam nas embalagens, que são FOTO: Divulgação

FOTO: Divulgação

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Embalagens de monodoses na Europa.


feitas a base de plástico ou alumínio. Ao preparar o café, a água quente em contato com o recipiente pode adquirir as características do material, alterando a composição e o sabor final da bebida. Outra característica criticada foi o alto preço do café das cápsulas se comparado ao café preparado manualmente. Como exemplo, a máquina mais acessível da Nespresso é comercializada a US$ 129, enquanto suas cápsulas mais populares custam em média US$ 1 a unidade. O café utilizado nas cápsulas também tem um preço muito elevado. As cápsulas da Arpeggio, da Nespresso, são comercializadas a US$ 5,70 o conjunto de 10 unidades. Cada cápsulas contém 5 gramas de café. Retirando-se o custo de fabricação (10 cápsulas US$ 0,60) da cápsula, 1 quilo do café custaria US$ 112,00 - valor superfaturado e que pode ser comparado ao segmento de blends de grãos de cafés especiais muito bem conceituados. Mercado de Monodoses no Brasil = Apesar de evoluir a passos largos em todo o mundo, no Brasi este segmento ainda está em fase inicial de crescimento. Com a chegada da D.E Master Blenders, com suas cápsulas alternativas, o mercado de monodoses brasileiro poderá começar a mostrar resultados a partir deste ano. Várias empresas nacionais estão substituindo o sistema de encapsulamento, que é feito manualmente, para o industrial, com produção em maior escala para atender o aumento da demanda. O Brasil conta com um amplo setor industrial cafeeiro, que, ao visualizar o sucesso do setor no mundo todo, passou

FOTO: Divulgação

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Barista preparando café em cafeteria na China

a demonstrar grande interesse em expandir e possivelmente inovar o sistema de monodoses no país. Empresas como a paranaense, Lucca Cafés Especiais já começaram a produção de cafés em cápsulas no ano de 2012. Em 2013, outros fabricantes já anunciaram o lançamento de seus próprios produtos, como aconteceu com a Café do Ponto e Café do Moço.


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3. CAFETERIAS Países emergentes como o China, Índia e Brasil são os principais focos das grandes redes de cafeterias, especialmente pelo aumento do poder aquisitivo de suas populações, crescimento da classe média e elevado número populacional. Contudo, países como o Vietnã, Emirados Árabes Unidos e México também são visados por companhias que desejam diversificar o risco de expansão, não “colocando todos os ovos na mesma cesta”. Mercados como o britânico e o norteamericano, com maior grau de maturidade, continuam recebendo investimentos, mas em menor escala. Para destacar-se de suas concorrentes, as companhias investem em novos produtos, formatos de lojas e diversificação de seus negócios, comercializando também bebidas como sucos, chás e outros produtos alimentícios, como produtos de panificação. É tendência a comercialização de bebidas alcóolicas, como vinho e cerveja, em horários de “happy hour”, aumentando o tráfego de consumidores em horários mais lentos. A utilização de redes sociais é cada vez mais comum nestas empresas, que visam potencializar seus programas de fidelidade e estreitar seu relacionamento com o consumidor, divulgando promoções e postando conteúdos sobre as atividades da empresa. Brasil = O segmento de cafeterias no Brasil continua a crescer, especialmente pelo aumento interno do consumo de café e melhoria no poder aquisitivo da população. As re-

des Casa Pilão e Café do Ponto, subsidiárias da D.E. Master Blenders, alcançarão juntas 300 unidades no país num período de cinco anos. A Casa Pilão, que conta atualmente com apenas uma loja, instalará 180 estabelecimentos, enquanto a Café do Ponto, que possui 90 unidades, abrirá 30 novas cafeterias. A rede Fran’s Café, que possui 148 lojas, planeja chegar a 185 estabelecimentos ainda este ano. Até 2014, a previsão é que o número de unidades atinja entre 250 e 280 unidades. O foco de expansão da empresa está nas regiões Nordeste e Centro-Oeste do país, especialmente nas cidades de Recife, Teresina, Salvador e Brasília. Para obter sucesso nesta estratégia, a companhia investe em bebidas e alimentos gelados, que constituem 62% de seu cardápio, tornando-a adequada às operações no Nordeste. China = Apesar de ser um país tradicionalmente consumidor de chá, a China experimenta intenso aumento de demanda de café, bebida cada vez mais associada a jovens e profissionais bem sucedidos. Para o público alvo das redes de cafeterias que passaram a atuar no país, a ambientação das lojas é fator essencial para a experiência do consumo da bebida. Este segmento de mercado é liderado pela Starbucks, que detém 62% da fatia de mercado e tem planos de rápida expansão. O número de cafeterias no país mais que dobrou entre 2007 e 2012, passando de 15.898 para 31.783 estabelecimentos. Enquanto isso, o segmento de casas de chá cresceu 4%, alcançando 50.984 unidades. Desta forma, o chá continua sendo a bebida dominante na China, mas perde espaço para o café. O valor do mercado de cafeterias e casas de chá no país alcançou os 11,37 bilhões de dólares em 2012 e, segundo a empresa de pesquisa Mintel, este deve atingir os US$ 19,35 bilhões entre 2012 e 2017 4. CONSUMO Países asiáticos, tradicionalmente consumidores de chá, como o Japão, experimentam intenso aumento de consumo de café à medida que adotam hábitos de consumo ocidentais. No país, o consumo cresceu cerca de 300% desde meados da década de 1990, enquanto na Coreia do Sul e em Taiwan este percentual foi de 1800% e 400%, respectivamente. Enquanto isso, nos EUA, o número de consumidores de café passou de 71% para 76% de sua população na última década, sendo que seu consumo médio é de 3,5 copos por dia. Segundo pesquisa do NPD Group, é notável o aumento do consumo de café entre jovens. Em 2002, aproximadamente 15% deste público (entre 18 e 24 anos) afirmou consumir a bebida num período de duas semanas no país. Em 2012, este percentual atingiu 39%. A principal razão citada pelos jovens para este fato é a maior demanda de seu tempo, que leva a menos horas de sono e à necessidade de maior energia. Contudo, observa-se que a disponibilização de diversos complementos e o melhor direcionamento de estratégias de marketing também contribuem para este acréscimo. De acordo com a Organização Internacional do Café (OIC), o consumo mundial de café cresce aproximadamente 2,5% a.a. desde o ano 2000, impulsionado principalmenmente pelo crescimento de consumo médio anual de


4,7% em mercados emergentes no mesmo período. Starbucks = Como forma de difundir seu café embalado de torra leve - pesquisas indicam que, atualmente, cerca de 40% dos norte-americanos preferem cafés de torra leve e aumentar suas vendas nos EUA, a maior rede de cafeterias do mundo lançou uma nova campanha, que permitirá a milhões de americanos experimentar o produto e compartilhar sua experiência com outros consumidores. A companhia disponibilizará cafeterias móveis em cidades como Washington, Nova Iorque e Chicago durante três semanas. Elas distribuirão amostras grátis do produto e vales para cafés da Starbucks. Além disto, os consumidores podem conseguir cafés grátis utilizando um aplicativo da empresa no Facebook, no qual podem compartilhar conteúdos com seus amigos. Mais de 8.000 localidades, entre elas supermercados e farmácias também ajudarão na distribuição do produto, tornando esta a maior campanha de amostragem já realizada pela Starbucks. A Starbucks investe também na inserção e expansão de seus negócios em países como a China e a Índia, de forma a aumentar sua lucratividade, já que os principais mercados em que atua são considerados maduros e estão cada vez mais competitivos. Atualmente, a companhia possui sete lojas na Índia, país que deverá tornar-se seu quinto maior mercado em alguns anos. A empresa anunciou também que investirá inicialmente nas 53 maiores cidades do país e firmará parcerias com empresas para abertura de quiosques em parques tecnológicos e centros corporativos. A Starbucks anunciou a abertura de sua primeira loja

FOTO: Divulgação Starbucks

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Aspecto de uma das cafeterias da Starbucks pelo mundo.

no Vietnã, continuando com sua estratégia de expansão para países asiáticos e crescente interesse pelo estilo de vida ocidental. Este é o 62º mercado em que a companhia atua. A empresa não informou o número exato de lojas que pretende inaugurar no país, mas espera-se que sua inserção seja cuidadosa: ao contrário de China e Índia, o Vietnã já possui uma forte cultura de consumo de café e concorrentes estabelecidos no mercado, como o grupo Trung Nguyen e a Highlands Coffee. Além disto, há um grande número de cafeterias independentes no país e redes internacionais recéminseridas.


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Nutrição do Cafeeiro (parte 10) - Interação da nutrição com doenças fúngicas no cafeeiro

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A

Renato Passos Brandão 1 Cássio de Souza Yamada 2

incidência e a severidade das doenças nas culturas no Brasil está aumentando e o cafeeiro não é exceção a esta regra. Atualmente, o Brasil é o maior consumidor mundial de defensivos agrícolas superando países com áreas cultivadas bem maiores, tais como, Estados Unidos, China e Índia. Há várias hipóteses para explicar o aumento no consumo de defensivos agrícolas no Brasil nas últimas décadas. As condições climáticas favorecem a incidência de pragas e doenças. O Brasil, sendo um país tropical, não possui um inverno rigoroso que reduza o inóculo das doenças fúngicas. Outro fator que dificulta o controle de pragas e doenças é a monocultura em grandes extensões do território nacional e a ausência de rotação de culturas. A maior parte do interior paulista é ocupada pela cana de açúcar. Atualmente, a área cultivada com cana em São Paulo é de aproximadamente 5,5 milhões de hectares e há uma tendência de aumento nos próximos anos. O Sul do Brasil e o Brasil Central possuem extensas áreas cultivadas no verão com soja e com milho no inverno. Recentemente, o Ministério da Agricultura adotou o vazio sanitário com o intuito de reduzir o inóculo das doenças em soja com destaque para a ferrugem asiática. No Sul de Minas e Zona da Mata de Minas Gerais, a cultura do cafeeiro ocupa uma área expressiva. A rotação de culturas ainda é uma prática cultural adotado por um pequeno grupo de produtores rurais brasileiros tornando o controle das pragas e doenças muito mais complexo e oneroso. 1. Interação da nutrição com doenças fúngicas no cafeeiro O cafeeiro está sujeito à infecção por diversos patógenos de origem fungica. A doença é o resultado da interação entre o hospedeiro (cafeeiro), o patógeno (fungo) e o ambiente, influenciados pelo homem. (Pozza et al. 2004 e Pozza et. al. 2010) A maioria das cultivares do cafeeiro são susceptíveis às doenças fúngicas e é necessário o seu controle para a obtenção de produtividades econômicas. As principais doenças fúngicas que afetam o cafeeiro são a cercosporiose, a ferrugem e a mancha de phoma. A partir deste momento, vamos abordar estas doenças fúngi-

AUTORES

1 - Engº agrônomo, Mestre em Solos e Nutrição de Plantas e Gestor Agronômico do Grupo Bio Soja. 2 - Estudante de agronomia da Fafram, Ituverava (SP) e estagiário do Deptº. Agronômico do Grupo Bio Soja

Figura 1. Sintomas da cercosporiose nas folhas do cafeeiro. Fonte: http://www.flickr.com/photos/scotnelson/8247164741/

cas, as medidas de controle e a influência da nutrição na sua incidência e severidade. a. Cercosporiose A cercosporiose também conhecida como mancha-deolho-pardo ou olho-de-pomba é uma doença fúngica causada pelo fungo Cercospora coffeicola. A cercosporiose possui uma ampla distribuição geográfica nas regiões cafeeiras e pode causar grandes perdas na produção. A cercosporiose também afeta negativamente a qualidade dos grãos do café. a.1. Sintomas A mancha-de-olho pardo ou olho-de-pomba ataca as folhas e os frutos do cafeeiro. Os sintomas da cercosporiose nas folhas são caracterizados por manchas circulares com coloração castanhoclara a escura, com o centro branco-acinzentado e quase sempre envolvidas por um halo amarelado (Figura 1).


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Os desequilíbrios nutricionais entre o nitrogênio, potássio e cálcio também predispõem o cafeeiro à cercosporiose. Baixas dosagens de nitrogênio em solos com alto teor de potássio e baixo teor de cálcio tornam o cafeeiro mais susceptível à cercosporiose. Em viveiros de mudas de café têm sido observado redução na incidência da cercosporiose com a aplicação de doses adequadas de calcário. O silício quando utilizado em viveiros de mudas de café também reduz a incidência da doença. O cálcio e o silício atuam na síntese da lignina que é responsável pela maior rigidez da parede celular proporcionando maior resistência à penetração do patógeno.

Figura 2. Sintomas da cercosporiose nos frutos do cafeeiro. Fonte: http://www.ctahr.hawaii.edu/fb/coffee/Dis_cbsearly.jpg

Nos frutos ocorrem pequenas manchas necróticas e deprimidas, de cor marrom a negra, estendendo-se no sentido dos polos do fruto (Figura 2). Os frutos com cercosporiose têm o seu processo de maturação acelerado, caindo antes da colheita. Aqueles que permanecem nas plantas têm redução na sua qualidade. a.2. Condições favoráveis à doença As condições climáticas que favorecem a cercosporiose no cafeeiro estão especificadas abaixo: • Alta umidade relativa do ar; • Temperaturas entre 10 e 25ºC; • Excesso de insolação ou luminosidade. A disseminação do fungo da cercosporiose nas lavouras de cafeeiro ocorre pela água das chuvas e irrigações, vento e insetos. a.3. Danos causados pela cercosporiose • Viveiro: Queda das folhas e pequeno desenvolvimento vegetativo das mudas. • Lavouras em formação: Nesta fase do cafeeiro, a cercosporiose causa desfolha e reduz o crescimento das plantas. • Lavouras em produção: A cercosporiose causa desfolhamento precoce das plantas e seca dos ramos do cafeeiro. Os frutos atacados pelo fungo têm a sua maturação acelerada causando queda prematura e redução na sua qualidade (redução na quantidade de açúcares). Pode está associada ao aumento nos teores de cafeína e maior incidência de fungos e bactérias nos frutos do café. Ocorre também maior aderência da casca ou pergaminho ao fruto causando fermentação inadequada. a.4. Cercosporiose vs. nutrição do cafeeiro A maior incidência e severidade da cercosporiose ocorre em lavouras com desequilíbrios nutricionais. A incidência da cercosporiose é maior em lavouras de café cultivada em solos com baixo teor de matéria orgânica.

a.5. Medidas de controle A cercosporiose pode ser controlada por meio de práticas culturais, dentre as quais, manejo adequado da nutrição do cafeeiro. Se a incidência e a severidade da cercosporiose for alta, realizar aplicações de fungicidas. a.5.1. Práticas culturais Conforme comentado anteriormente, as condi-

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ções abaixo predispõem o cafeeiro à cercosporiose principalmente em safras com alta carga pendente. • Solos com baixo teor de matéria orgânica; • Dose de nitrogênio abaixo das necessidades do cafeeiro; • Solos ácidos com baixos teores de cálcio e com altos teores de potássio. Realizar o acompanhamento periódico do estado nutricional do cafeeiro através das análises de solo e foliares. Conforme comentado nas edições anteriores, é inadmissível que um cafeicultor não utilize a análise foliar como uma ferramenta para o manejo nutricional do seu café. As adubações de solo e foliares devem ser realizadas evitando-se as deficiências e os desequilíbrios nutricionais principalmente entre o nitrogênio, potássio e cálcio. Realizar a calagem mantendo a saturação de bases na faixa adequada ao cafeeiro. A saturação de bases em cafeeiros cultivados em solos sob cerrado deve ser de 50 a 60% e nas demais regiões cafeeiras do Centro-Sul na faixa de 60 a 70%. Manter a porcentagem do cálcio, magnésio e potássio no solo na faixa adequada ao cafeeiro e um equilíbrio entre estes cátions (Tabela 1). O gesso agrícola pode ser uma alternativa para o fornecimento de cálcio em solos com saturação de bases na faixa adequada ao cafeeiro. Evitar a aplicação de doses elevadas de potássio em solos com alto teor do nutriente (K resina > 3 mmolc/dm3). Manter o teor foliar do nitrogênio na faixa adequada ao cafeeiro. A dose de nitrogênio depende da expectativa de produtividade e do teor de N nas folhas do cafeeiro. Manter o equilíbrio dos nutrientes nas folhas do cafeeiro notadamente a relação N/Ca principalmente em anos de carga pendente alta. a.5.2. Controle químico Em determinadas condições onde as práticas culturais não são suficientes para manter a cercosporiose sob controle, o cafeicultor terá que utilizar os fungicidas. Os fungicidas utilizados no controle químico da cercosporiose pertencem aos grupos químicos dos cúpricos, estrobilurinas, benzimidazóis e triazóis ou as misturas destes

Tabela 1: Porcentagem dos cátions na CTC do solo e relação entre os cátions. CÁTIONS DO SOLO

PORCENTAGEM IDEAL DOS CÁTIONS NA CTC DO SOLO

Cálcio (Ca)

40 a 50%

Magnésio (Mg)

12 a 20% 4 a 5%

Potássio (K) Ca / Mg

RELAÇÃO ENTRE OS CÁTIONS DO SOLO 2a4

Ca / K

8 a 16

Mg / K

3a6

Fonte: Adaptado de Romero & Romero (2000), Matiello et al.(2010) e Quaggio (2011).

produtos. b. Ferrugem do cafeeiro A ferrugem é causada pelo fungo Hemileia vastratix e é uma das principais doenças fungicas que afeta o cafeeiro. Ocorre praticamente em todas as regiões produtoras de café do Brasil e do mundo. No século XIX, a ferrugem foi responsável pela destruição do café em regiões anteriormente tradicionais e grandes produtoras, tais como, Sri Lanka (Ásia) e Haiti (Caribe). A incidência da ferrugem é maior em lavouras com cargas altas pendentes. Quanto maior a área foliar, maior é quantidade de inóculo residual. b.1. Sintomas Os sintomas da ferrugem nas folhas do cafeeiro são pequenas manchas circulares de cor amarelo-alaranjada, com diâmetro de 0,5 cm, que aparecem na face inferior da folha. Sobre a mancha surge uma massa pulverulenta de uredosporos (Figura 3). b.2. Condições favoráveis à doença Em lavouras em produção, a incidência da ferrugem está relacionada com a carga de frutos no cafeeiro. Quanto maior a carga pendente, maior é a severidade da doença. As condições climáticas que favorecem a cercosporiose no cafeeiro estão especificadas abaixo: • Molhamento foliar prolongado; • Temperaturas entre 21 e 23ºC; • Ausência de luz direta. A disseminação do fungo nas lavouras de cafeeiro ocorre pela água das chuvas e irrigações, vento e insetos. A disseminação da doença a longas distâncias ocorre pelo vento. gem

Figura 3. Sintomas da ferrugem nas folhas do cafeeiro. Fonte: Fotos de Edson Ampélio Pozza citado por Pozza et al. (2010).

b.3. Danos causados pela ferru-

O principal dano causado pela ferrugem é a desfolha do cafeeiro e a redução na produtividade que pode atingir até 50%. Ocorre também redução no tamanho dos grãos do café.


CAFÉ A ferrugem proporciona redução da área foliar das plantas causado pelas leões e pela desfolha, sendo mais visíveis na safra do ano seguinte. A desfolha acentua a seca dos ramos laterais e provoca, gradualmente, uma deformação das plantas e o aparecimento de ramos ladrões, exigindo desbrotas e a antecipação das podas. Ocorre também redução na longevidade das plantas. (Pozza et. al., 2010) b.4. Ferrugem vs. nutrição do cafeeiro Uma adubação equilibrada tem a capacidade de aumentar a tolerância do cafeeiro à ferrugem. Além disso, a aplicação de fungicidas protetores a base de cobre (fungicidas cúpricos) tem a capacidade de proteger o cafeeiro. b.5. Medidas de controle A incidência e a severidade da ferrugem é influenciada por fatores ligados ao hospedeiro (cafeeiro), ao patógeno (fungo) e ao ambiente. Os fatores do cafeeiro relacionados com a ferrugem são a carga pendente (produção), enfolhamento, estado nutricional e densidade de plantas por área. Quanto maior a carga pendente, maior será a intensidade da doença. Quanto maior o enfolhamento do cafeeiro, maior será o inóculo residual para o próximo ciclo da ferrugem. Quanto melhor o estado nutricional do cafeeiro, menor a intensidade da ferrugem. Quanto maior a densidade de plantas, maior é o teor de umidade e do sombreamento do cafeeiro, favorecendo a ferrugem. b.5.1. Práticas culturais De forma similar a cercosporiose, realizar o acompa-

nhamento periódico do estado nutricional do cafeeiro através das análises de solo e foliares. As adubações de solo e foliares devem ser realizadas evitando-se as deficiências e os desequilíbrios nutricionais. b.5.2. Controle químico O controle químico da ferrugem pode ser realizado com fungicidas protetores, fungicidas sistêmicos de solo e foliares. b.5.2.1. Fungicidas protetores O tratamento preventivo ou protetor deve ser realizado com fungicidas cúpricos, como o hidróxido de cobre, óxido cuproso e oxicloreto de cobre. A calda bordaleza, cujo princípio ativo é o sulfato de cobre com cal hidratada, também pode ser utilizado no controle preventivo da ferrugem do cafeeiro. Os fungicidas de contato e protetores, como os cúpricos devem ser utilizados quando ainda não foi constatada a ferrugem nas lavouras ou quando o índice da ferrugem estiver próximo de zero. Normalmente, as pulverizações tem início entre outubro e dezembro e são realizadas até março e abril com 4 a 5 pulverizações com intervalos de 25 a 30 dias. b.5.2.2. Fungicidas sistêmicos de solo Os fungicidas sistêmicos de solo pertencem ao grupo dos triazóis. Recomenda-se a aplicação entre meados de outubro e no máximo final de dezembro, de acordo com a região. A aplicação deve ser feita com o solo úmido e podem ser misturados com inseticidas. b.5.2.3. Fungicidas sistêmicos foliares Os fungicidas sistêmicos foliares também pertencem ao grupo dos triazóis. Há programas de aplicação dos

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fungicidas sistêmicos foliares baseados em datas pré-programadas com intervalos de 60 dias. O mais adequado é fazer um programa de controle envolvendo um produto de contato (cúprico) e um sistêmico, para evitar a seleção de populações do fungo resistente aos princípios ativos dos fungicidas. Outra medida para evitar a seleção de populações do fungo resistentes aos fungicidas é a mistura de triazóis com estrobilurinas. c. Mancha de phoma A Phoma é uma doença fungica causada pelo fungo Phoma spp. De maneira geral, a doença está disseminada nas regiões cafeeiras acima de 900 metros de altitude ou em lavouras expostas a ventos fortes e frios, com as faces voltadas para o sul, sudeste e leste.

Figura 4. Seca dos ponteiros no cafeeiro causado pela mancha-de-phoma. Fonte: http://www.cientec.net/cientec/InformacoesTecnicas_Irriga/Imagens/Cafe_SecaPonteiros.jpg

c.1. Sintomas Nos ramos do cafeeiro, o fungo causa lesões profundas e escuras podendo causar a seca da extremidade ou do ponteiro (Figura 4). Nos frutos, ainda verdes, pode ocorrer mumificação, ou seja, apodrecimento com cor escura. c.2. Condições favoráveis à mancha da phoma • Lavouras localizadas em altitudes elevadas acima de 900 metros; • Lavouras expostas a ventos fortes e frios e com faces voltadas para o sul, sudeste e leste; • Temperaturas de 18 e 19ºC. c.3. Danos causados pela mancha da phoma A Phoma pode causar desfolha, queda de botões florais devido à necrose nos ramos ou rosetas, mumificação e queda

dos chumbinhos, seca dos ponteiros e das extremidades dos ramos com diminuição na produtividade do cafeeiro. c.4. Mancha da phoma vs. nutrição do cafeeiro O excesso de adubações nitrogenadas associada à deficiência de cálcio e micronutrientes favorecem a maior intensidade da doença. A deficiência de boro também pode predispor o cafeeiro à mancha-da-phoma. c.5. Medidas do controle

frios;

c.5.1. Práticas culturais • Evitar o plantio do cafeeiro em áreas sujeitas a ventos • Instalar quebra-ventos desde o plantio da lavoura cafeeira; • Realizar adubações equilibradas com o nitrogênio, cálcio e micronutrientes. c.5.2. Controle químico Realizar o controle químico procurando alternar o princípio ativo ou grupo químico dos fungicidas, minimizando a seleção de populações do patógeno resistente aos fungicidas. Realizar o controle preventivo, principalmente nas fases de pré e pós-florada (chumbinho), nas áreas com maior probabilidade da ocorrência da doença d. Nutrientes vs. doenças no cafeeiro Na tabela 2 há um resumo da influência dos nutrientes na severidade


CAFÉ Tabela 2 - Principais funções dos nutrientes no cafeeiro com interferência nas doenças fúngicas. NUTRIENTE

Nitrogênio (N)

Fósforo (P)

Potássio (K)

Cálcio (Ca) Enxofre (S) Boro (B)

Cobre (Cu)

Ferro (Fe) Manganês (Mn) Silício (Si)

INFLUÊNCIA DA DEFICIÊNCIA DO NUTRIENTE NAS DOENÇAS DO CAFEEIRO • A deficiência do nitrogênio diminui a síntese de lignina e suberina. As paredes celulares ficam menos espessas facilitando a penetração dos patógenos. Mudas de cafeeiro com teores adequados de nitrogênio são mais resistentes à cercosporiose. • A deficiência deste nutriente proporciona menor síntese protêica, redução dos alcalóides e lignina. As adubações fosfatadas estimulam o desenvolvimento das raízes das plantas. Sistemas radiculares saudáveis e vigorosos suportam melhor as infecções por patógenos. • A deficiência do potássio proporciona acúmulo de açúcares e aminoácidos de baixo peso molecular e menor síntese e acumulo de compostos fenólicos. Os compostos fenólicos atuam na resistência das plantas às doenças fúngicas. • Menor estabilidade da parede celular e das membranas. Mudas de cafeeiro deficientes em cálcio são mais susceptíveis a cercosporiose. O fornecimento de cálcio reduz linearmente a incidência desta doença fúngica. • Baixos teores do enxofre favorecem o acúmulo das frações nitrogenadas solúveis (nitrato) e menor síntese de proteínas. • Baixos teores do boro no cafeeiro causam acúmulo de açúcares nas folhas. As paredes celulares ficam mais finas com menor lignificação dos tecidos e com menor síntese de calose. • O cobre tem ação antifúngica. Plantas com deficiência de cobre tem menor resistência às doenças fúngicas. A deficiência de cobre proporciona menor lignificação dos tecidos e ocorre perda do efeito direto do fungicica. • A deficiência de ferro resulta em maior susceptibilidade das células às doenças, pois é essencial para a síntese de fitoalexinas que induz resistência do cafeeiro às doenças. • A deficiência do manganês proporciona menor síntese de lignina pelo cafeeiro. • O silício promove aumento na concentração de lignina e reduz a incidência de doenças fúngicas nas mudas do cafeeiro.

Fonte: Pozza et. al. (2004).

das doenças no cafeeiro. 2. Considerações finais Há uma estreita correlação ente a incidência e a severidade das doenças fungicas e o estado nutricional no cafeeiro. Quanto melhor o estado nutricional do cafeeiro, menor é a incidência e severidade das doenças fungicas. O desequilíbrio nutricional é mais prejudicial ao cafeeiro do que a deficiência ou excesso de um determinado nutriente. Em anos de carga pendente alta, a incidência da ferrugem e da cercosporiose é maior. Ao contrário, em anos de carga pendente baixa, o controle destas doenças é mais fácil com a redução no número das pulverizações com fungicidas. A primeira providência do cafeicultor é conhecer a fertilidade dos talhões cultivados com café através da análise de solo. Além disso, realizar anualmente pelo menos duas análises foliares para avaliar o estado nutricional do cafeeiro e se houver necessidade, realizar os ajustes necessários nas adubações de solo e foliares. Infelizmente, o cafeicultor brasileiro ainda tem um enorme preconceito sobre o enorme potencial da análise foliar no manejo nutricional das lavouras de café e também na redução da severidade das doenças fungicas através de uma nutrição mais equilibrada das lavouras de café.

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