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Festas de Ano Novo, Promessas

...E AS VELHAS ANSIEDADES?

Todo final de ano a rotina se repete, independentemente do lugar onde a gente esteja: paramos para refletir sobre os últimos 12 meses e, meio sem querer, nos comprometemos com mudanças (mesmo que seja em segredo). Trocar o carro, reformar a casa, emagrecer, encontrar um novo amor, viajar, fazer aquele curso, aquela viagem, parar de fumar... Na virada de ano, tudo parece possível. Por outro lado, também lembramos do que não foi alcançado, da promessa não cumprida. Se reflexões e metas, simpatias e rituais de final de ano são demonstrações de esperança e fé no futuro (do contrário não os faríamos), eles também ensejam perguntas: O quanto disso é viável? O quanto disso me faz feliz? Não raro, as repostas sinceras podem nos incomodar ou trazer de volta (e sempre) uma velha conhecida: a ansiedade! Companheira inseparável da autocobrança, ela sopra em nossos ouvidos, pretensões ou quereres impossíveis, minando planos, diminuindo a esperança e tornando cinzentos o que seriam maravilhosos dias de sol! Assim, quebrando a tradição de pauta

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de final de ano que impera em salas de redação mundo afora, a RDC fez a pergunta, título dessa matéria a diferentes vertentes: da psicologia à espiritualidade, como tratar ou defender-se da ansiedade, para que ela não atrapalhe os 365 dias de 2020?

O QUE NOS DIZ A PSICOLOGIA? A literatura traz várias definições para o que chamamos de Ansiedade. Uma delas afirma que Ansiedade é a sensação, às vezes vaga, de que algo desagradável está para acontecer, despertando sintomas como tensão, nervosismo, tremores, “frio no estômago”, entre outros. Tais sintomas, se acontecerem em situações corriqueiras da vida, como falar em público, são completamente normais, pois ajudam o sujeito a enfrentar dificuldades e a encarar situações sentidas como de perigo, seja ele real ou imaginário. Portanto, neste caso, a ansiedade não é nociva, e sim útil. Conta um conto que havia na floresta dois macacos, e em um arbusto próximo escondia-se um caçador. Um dos macacos, ao ouvir o barulho das folhas se mexendo no arbusto, assustado e ansioso, parou sua caminhada a uma certa distância. O outro, menos cauteloso, aproximouse do arbusto. Qual macaco não será aprisionado pelo caçador? Certamente aquele que ouviu sua reação corporal de ansiedade e não se aproximou. Temos, então, a ansiedade a serviço da nossa proteção. Mesmo quando a ansiedade é intensa a ponto de prejudicar o desempenho do sujeito, se for episódica e circunscrita, não se trata de um transtorno. Teremos um estado nocivo quando ela deixar de ser transitória. Em outras literaturas, a definição de ansiedade vem atrelada à questão temporal do indivíduo. Um autor chegou a afirmar: “ansiedade é a preocupação com o daqui a pouco”. Assim, são nossas expectativas que nos colocam cara a cara com a ansiedade. No entanto, ansiar pelo que está no futuro não é apenas uma questão individual e psíquica. Yuval N. Harari, na obra “Uma Breve Historia da Humanidade” (2016), nos fala sobre o conceito de Ordens Imaginadas. Elas são as crenças e mitos construídos pela coletividade social e que definem nossos desejos pessoais de forma predeterminada. Por exemplo: segundo o autor, no mundo ocidental os desejos também são definidos pelos mitos românticos que nos dizem que devemos aproveitar ao máximo nosso potencial humano, tendo tantas experiências diferentes quanto possível. Pronto! Está atiçada a elevação das expectativas para a vida e a consequente preocupação com o futuro. Resumindo, a ansiedade pode ser útil para organizar nosso movimento perante os imprevistos da vida, mas em nível mais elevado pode ser o resultado de um grau muito alto de expectativas e desejos para com o futuro. Cabe, a cada um de nós, revisar o que queremos para nossa vida em termos de futuro, mas cabe também a dedicação em viver o presente, de forma que a preocupação com o “daqui a pouco” não engula nosso aqui e agora! Wladinéia Campos Danielski

Psicóloga/ CRP 12-0523

“ VINDE A MIM VÓS TODOS QUE ESTAIS AFLITOS SOB O FARDO E EU VOS ALIVIAREI. (...) PORQUE MEU JUGO É SUAVE E MEU PESO É LEVE.” Com as palavras de Jesus Cristo em São Mateus (11. 28 e seguintes), o Senhor nos dá a chave para lidarmos com nossas ansiedades. A vida tornou-se agitada, fugaz e nos

impele a andar na velocidade da luz, em busca de algo a mais, sempre mais. Somos impulsionados a superar desafios a cada segundo. Começamos a segunda-feira já pensando no próximo final de semana. Antecipamos o tempo. Queremos viver o amanhã ainda hoje, esquecendo que a matéria do amanhã será outra. E quando essa ansiedade se transforma em angústia, os ensinamentos de Cristo nos recordam que somente Nele encontramos a verdadeira paz, alegria e serenidade, o oásis em que repousamos seguros. A oração é o meio eficaz para nos sintonizarmos com Deus e encararmos com naturalidade as tribulações. A fé e a confiança em Deus são o caminho seguro que nos levam ao alívio, ao refrigério da alma e nos dão a força que precisamos. Com esta sintonia e confiança, nossas preocupações e tudo o que há de vir são certificadas na providência de Deus, que a seu tempo transforma “terra árida em campo florido” - basta perseverarmos em seus ensinamentos. Pois nosso Deus não nos quer envolvidos com falsos deuses ou crenças. Ele nos dá a garantia de que caminha conosco em todos os nossos dias, mas espera de nós que o busquemos e nele confiemos. Ao passo que nos aproximamos de Deus e nos deixamos guiar por Sua luz, começamos a nos desobrigar de termos uma resposta pronta para tudo, de sempre termos uma opinião, de estarmos conectados o tempo todo. Com fidelidade à oração percebemos que, com Cristo, o nosso peso também vai se tornando leve. Sim, temos nossos desafios diários, nossas dores. Mas se estivermos firmes na fé, com a força da oração, saberemos conviver com as ansiedades, tensões e angústias, pois saberemos que, para todas as nossas fragilidades, poderemos contar sempre com o amparo celeste. Quando o sofrimento bate à nossa porta, somos antecipadamente habilitados a enfrentá-lo e vivê-lo, pois nunca estamos sós. Promessa do próprio Cristo. As coisas de Deus são simples, descomplicadas, pacíficas e suaves. “Senhor, eu entrego, eu espero, eu confio em Vós” Ricardo Bussato e Eliane Muneron Renovação Carismática Católica

O INDIVIDUALISMO E A SOLIDÃO A ansiedade é nunca foi tão falada e percebida quanto na atualidade. Uma das explicações, é porque vivemos em uma época que nos ensina um viver mais individualista, que prima pela eficiência pessoal, que exige dedicação de boa parte de nosso tempo e, ainda, em uma velocidade que nem sempre conseguimos acompanhar. Se refletirmos, perceberemos que por isso há tanta disputa, tanta concorrência, tanta competição e isso afeta nossa visão de mundo, nossos sonhos, desejos e buscas, produzindo medos e angústias. Essa forma de viver traz consequências: isolamento, falta da experiência do convívio, divisão, separação, virtualidade das relações, sensação de vazio = ansiedade. A espiritualidade Cristã afirma que Deus se faz presente. Em Jesus Cristo, Deus vem ao nosso encontro nos reconciliando com Ele, colocando-se ao nosso lado por amor, tornando-se assim “Deus conosco”, que significa: presença, parceria, fim da sensação de abandono, de vazio. Temos com quem contar. Nele encontramos amparo e esperança. A contribuição da espiritualidade Cristã para lidar com a ansiedade é justamente a perspectiva de que, em meio a tantas situações que nos angustiam e tiram o chão, sabemos que temos com quem contar, alguém por nós e conosco. Deus nos conhece desde sempre, tanto que nos diz: “Os meus pensamentos não são como os seus pensamentos, e eu não ajo como vocês” (Is 55.8). Ele sabe que é “melhor dois do que um” (Ec 4.9). Deus não fica apenas em palavras, Ele age. Durante sua estada entre nós, Jesus Cristo atuou

ensinando de forma concreta como amar, cuidar, como exercer solidariedade e partilha. A forma como Ele agiu é base e molda o discipulado da pessoa cristã, tornando nosso agir transformador. A partir da ação, Deus, do jeito Dele agir, afirmo com toda a convicção que não há vida plena de forma isolada. As diferenças que existem entre as pessoas nos mostram que precisamos umas das outras, uns dos outros. Somar nossas vidas, ser comunidade - viver comunitariamente é a resposta! Sabemos que as atividades comunitárias são possibilidades significativas para contrapor o que aprendemos no mundo, para vivermos vida plena e abundante! Jesus chamou pessoas diferentes e dispersas para, juntas, fazerem a diferença. Assim, vivendo juntos, somando forças, enfrentamos os males deste mundo e não nos sentimos sós e vazios. A esperança vence o medo! Pastor Marcos Aurélio de Oliveira Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil marcos@luteranos.com.br

QUANDO O ESPÍRITO SE ENCLAUSURA O homem moderno vive ansioso. Ansioso pela posse. Ansioso pelo fruir das paixões, pelo dia de amanhã, pelo enfrentamento dos desafios existenciais. No torvelinho em que se encontra, vivenciando apenas o hoje, sem nenhuma perspectiva do amanhã, ele se desespera ante a dor e o sofrimento, cujas razões não compreende, e se deixa levar pelo desânimo, angustia e ansiedade. O homem que se enclausura na vida terrestre, crendo que somente ela é verdadeira, vive atormentado pelo medo, pelo tédio, geradores de mais angústia e ansiedade. A sociedade lhe sufoca, os relacionamentos são rápidos, fugazes, na velocidade da internet ou do whatsapp. As amizades são superficiais, movediças. O trabalho, uma tortura necessária. Então a insatisfação lhe invade e ele tomba na ansiedade, na angústia, quando não em precipícios profundos com o álcool, a drogadição, o suicídio. Todavia, quando o homem respira num outro clima, alçando o olhar para mais longe, para além dos umbrais do túmulo, ele percebe um outro mundo, mais feliz, sem tormentos, o mundo dos sonhos, mas que é o mundo real. O mundo Espiritual, conforme nos ensina a Doutrina Espírita. O Espiritismo traz uma visão otimista da vida, pois mostra que a vida real é a vida do Espírito Imortal, conforme asseverou Jesus: “meu reino não é deste mundo”. Nesta maneira de encarar a vida terrestre como uma passagem de aprendizado, de aprimoramento moral, ele vislumbra um fim para as lutas, para as dores e sofrimentos, levando-o a diminuir a importância das coisas deste mundo, a moderar seus desejos, a contentar-se com sua posição sem invejar a dos outros, de atenuar a impressão moral dos reveses, das decepções que experimenta; ele haure nisso tudo uma calma e uma resignação que lhe trazem paz, segurança. Encontra, então, o homem um sentido existencial, uma razão para viver. A calma e a resignação hauridas na maneira de encarar a vida terrestre e na fé no futuro, dão ao homem uma serenidade que é a melhor prevenção contra a ansiedade e a angústia. A ansiedade, a angústia e a depressão podem ser combatidas pela crença em DEUS, pela prática da caridade e pela vivência do Evangelho de Jesus. 12ª URE União Regional Espírita/FEC

RESILIÊNCIA E ACEITAÇÃO Se todo fim de ano um “balanço” é inevitável, em anos de crise as decepções aparecem com mais frequência, trazendo autocobranças e medos. Afinal, o mundo ensina que não se pode perder, errar ou falhar. Assim, é preciso aprender a lidar com nossas ansiedades, lapidar nossos desejos e ressignificar o que realmente é importante. Alguns aprendem com o tempo, com a experiência, outros, com a espiritualidade, quando a fé nos conecta com o divino. Ela pode ser uma âncora para os medos e angústias; ajuda a olhar para dentro, a pensar, planejar e, muitas vezes, mantém a pessoa em pé. Em muitos momentos já me refugiei em minha fé. Há sete anos deixei de ser católico não praticante, decidi aceitar meu chamado e estou aprendendo mais sobre mim e sobre a umbanda, religião que faz parte da minha aprendizagem. Nessa caminhada me considero um aprendiz. Respeito o conhecimento que é uma bússola, me orientando na direção da compreensão do outro e, principalmente, me ensinando a respeitar meus limites e o tempo certo das coisas. Meu maior desafio sempre foi aprender a esperar as coisas acontecerem, a entender os sinais que a vida dá, e a umbanda tem me ajudado muito. Posso dizer que minha vida ficou diferente, pois respeito mais meus limites e meu tempo para as pessoas e os compromissos. Estou aprendendo a depositar a felicidade em outras coisas além do dinheiro, do sucesso e da ascensão. Também estou

aprendendo a construir pontes a partir do diálogo com os guias espirituais que me acompanham e me orientam pacientemente, acreditando em minha evolução como pessoa. Ouço muito sobre resiliência, sobre aprender a aceitar o que não se pode mudar no momento, buscando ser feliz hoje. Na umbanda, aprendi que o bem e o mal andam de mãos dadas e estão dentro de nós. Cabe a cada um decidir quem alimentar: o bem ou o mal! Sempre vigilantes, domamos o mal que vive em nós, lembrando que podemos fazê-lo mesmo quando estamos munidos de boas intenções. Outro grande aprendizado: fugir do radicalismo, do extremismo, buscando sempre o respeito e a compreensão. Em 2020, espero que sejamos mais resilientes, autoconfiantes, que tenhamos tempo para nos conhecermos melhor e às pessoas importantes na nossa vida - que a autorrealização seja a meta. Para a umbanda 2020 será regido principalmente por Xangô (São Jerônimo) e Oxalá (Jesus Cristo), que trarão justiça e fé. Xangô vem usar sua balança da justiça: 2020 será de cobrança de atitudes corretas e pagamento de nosso erros. Já Oxalá vem nos dar colo, compreensão, ensinar a fé e o amor. “A to tó meu pai.” Jairo Cesar Lunardi Umbandista

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