4 minute read

entrevista

entrevista | Fernando Brandão | por Elisangela Peres

FERNANDO “LONG BAI DU” BRANDÃO: O ARQUITETO QUE ENCANTOU OS CHINESES

Advertisement

Fernando Brandão

CONHEÇA O PROFISSIONAL QUE ESTÁ ENTRE OS 100 MAIS INFLUENTES DA CHINA.

Depois de ganhar o concurso, em 2009, para participar do projeto do Pavilhão Brasileiro na Expo Xangai 2010, o arquiteto Fernando Brandão deu um passo que mudaria a sua vida profissional para sempre. A sua ideia foi tão bem aceita – a fachada verde e amarelo, feita com madeira pinus em referência às florestas brasileiras - que ficou entre as cinco mais populares do evento na época. O sucesso foi tanto que Fernando ganhou não só prestígio como também notoriedade em terras chinesas.

“Naquele momento, o governo chinês queria colocar pelo menos 10 universidades entre as 100 melhores do mundo. No quesito professores estrangeiros, eles criaram uma instituição específica e, na área de arquitetura, convidaram oito arquitetos dos pavilhões mais populares da Expo Xangai e o Brasil estava entre eles”. A contrapartida do convite para Fernando foi abrir um escritório comercial, que ele podia escolher entre Xangai e Beijing. Por já conhecer pessoas em Xangai, o arquiteto já sabia qual seria a sua opção e, em 2012, já estava com sua filial chinesa funcionando.

A ponte aérea São Paulo – Xangai começou daí até o início da pandemia, em 2020, já que por motivos de segurança, os estrangeiros tiveram que parar de visitar a China. A adaptação em terras chinesas não foi tão simples. Pensar a arquitetura, segundo ele, foi algo mais fácil. “O meu trabalho já ia de encontro com a identidade chinesa, já fazia projetos conectados com as pessoas, então foi preciso entender mais a questão da cultura e da vontade dos clientes”. O escritório de Fernando decolou por lá e, em 2019, o arquiteto ganhou diversos prêmios locais. Foi incluído no Anuário Chinês de Arquitetos e Designers e ficou entre os 100 arquitetos mais influentes da China.

Para tamanha honraria local, Fernando trabalhou arduamente para entender todo o processo histórico e cultural do povo chinês e como eles habitavam as suas casas. “A maioria dos chineses tem origem humilde, são pessoas que não estão acostumadas à vida burguesa ocidental”, diz.

Livraria Cultura

Experiência profunda do outro lado do planeta

Em 2012, passou a dar aulas como professor de arquitetura em universidades chinesas e esta oportunidade fez com que o arquiteto conhecesse quase todo o país. “Conheço, hoje, mais de 120 cidades. Dei aulas em mais de 40 universidades por toda a China”, comenta Brandão.

Uma grata aquisição

Além do sucesso, Fernando ganhou também um nome chinês - Long Bai Du - inspirado em um dos seus mais renomados projetos, a Livraria Cultura do Conjunto Nacional, que ostenta o conhecido dragão no teto. O nome quer dizer “o dragão que ajuda as pessoas”, algo que virou um slogan e seu próprio marketing. Tudo começou com uma brincadeira em um jantar com membros de uma escola chinesa, quando Fernando reparou e questionou alguns colegas sobre o porquê eles tinham nomes ocidentais como Paul e Jared, por exemplo. “Se todos tinham um nome ocidental, eu poderia ter um nome chinês”. Um dos diretores levantou e batizou o arquiteto brasileiro de “Long” (dragão) e o complemento “Bai Du”, foi o que para eles chegou mais próximo de Brandão, já que os chineses não conseguem falar palavras com sons anasalados.

Cartão de visitas

A Livraria Cultura, do Conjunto Nacional, não é só um dos marcos da cidade, mas um dos projetos mais relevantes de Brandão. “Não é um dos mais marcantes, mas, sem dúvida, é um dos mais importantes porque todos conhecem. É o meu principal cartão de visitas”.

No entanto, na China, Fernando desenvolveu a sensibilidade conhecendo a realidade do outro lado do globo e enxergando o Brasil de longe. “Temos uma percepção mais atenta aos detalhes, aprendi mais sobre o meu país vendo de fora”.

A arquitetura hoje

Para Brandão, a arquitetura vai além do construído. A sombra, a luz, o vento, tudo faz parte de uma composição arquitetural. É uma grande preocupação do profissional, que inclusive, leciona sobre a perspectiva de sua profissão para os próximos anos. “Nas minhas aulas, defendo a ideia de que toda arquitetura e design sejam concebidas a partir de cinco conceitos básicos: acessibilidade, sustentabilidade, conexão, identidade - olhar o passado para pensar o futuro – respeitar e ser diferente para ser universal”. Atualmente, Fernando está trabalhando em uma exposição, que aborda o legado estético cultural brasileiro. A mostra, no Farol Santander em São Paulo, prevista para fevereiro de 2022, marca os 200 anos da Independência do Brasil e os 100 anos da Semana de Arte Moderna, e pretende conectar as duas datas. “A exposição faz uma reflexão do que é a cultura, do que é esse legado. Não somos uma nação tão antiga quanto a China, mas temos história. Está sendo muito satisfatório para mim”.

This article is from: