EDITORIAL POR TIAGO KRUSSE
Tenho um interesse pela arquitectura, é algo que vou percebendo à minha maneira. Não me considero um estranho aos assuntos e tenho plena noção dos meus limitados conhecimentos da disciplina. Aqui há uns anos, intrigado pelas questões éticas e morais relativas à arte de edificar, perguntei a um amigo arquitecto de que forma eu podia avaliar a arquitectura. Sem grandes rodeios ou falsas pretensões, foi-me dito que existe a boa e a má arquitectura. Foi sem dúvida uma resposta curta e demasiado sucinta para o que na altura eu pretendia ouvir. Pretendia sentir-me um pouco mais próximo de uma classe a que não pertenço e ao invés fiquei remetido à posição que até este dia me encontro: alguém que, de forma interessada, olha de fora para as coisas da construção. Percebo agora que este meu bom amigo foi de uma grande generosidade para comigo, deixando-me livre para olhar, conhecer e criar a minha própria percepção da arquitectura. Poderia ter-me imposto uma visão ou debitado uma série de lugares comuns sobre o tema, o que sempre soube que nunca o faria ou venha a fazer. Agradeço-te por seres quem e como és. Nestes tempos de crise generalizada olho para a boa e a má arquitectura que se foi e vai fazendo por esse mundo fora. Com importantes eventos culturais dedicados à arquitectura, abertos à discussão sobre a mesma e ao papel que ela tem como transformadora de um lugar-comum, alguns peritos, sem a legitimidade ética e moral, lá se preparam para uma conveniente e politicamente correcta e cínica viragem política. E a política deve ser chamada ao barulho, porque a arquitectura e os interesses dos membros da classe têm vindo a responder às ordens presentes do interesse económico por parte de uma assumida plutocracia. Com isto se tem perdido as qualidades sensíveis da arquitectura e a natureza foi pornograficamente invadida pela materialidade que só enche bolsos. Não é com espanto que ficamos a par da existência de cidades construídas para milhões de pessoas em que nelas não habita uma única alma. É generalizado e não se confina apenas ao território chinês. É a arquitectura que deixa de servir o Homem e que vem até colocar em perigo os equilíbrios necessários à existência de vida no planeta. Exige-se da arquitectura uma responsabilidade social e um respeito, para além do exigido, pelo meio ambiente. tiago_krusse@netcabo.pt | 002 |
SUMÁRIO
OPINIÃO RODRIGO COSTA
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DESIGN VERDE
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ENTREVISTA A RICHARD LA GRAAUW
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REWASHLAMP
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PERFIL PEDRO GOMES
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SOFISTICADAS FORMAS DE VIDA
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FOOD DESIGN POR JOSÉ AVILLEZ
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VILLA FRENAY
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MUSEU DO DESIGN DE HOLON
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MORADIA SÃO ROQUE
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TWENTY – TWO
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LEITURAS
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design MAGAZINE
CRIADA EM 2011 PUBLICAÇÃO BIMESTRAL REGISTO DA ENTIDADE REGULADORA DA COMUNICAÇÃO 126124 FUNDADORES TIAGO KRUSSE JOEL COSTA EDITORA ELEMENTOS À SOLTA - DESENVOVIMENTO DE PRODUTOS MULTIMÉDIA LDA RUA ADRIANO CORREIA OLIVEIRA, 153, 1B - 3880-316 OVAR - PORTUGAL NIPC: 508 654 858 www.elementosasolta.pt DIRECTOR TIAGO KRUSSE tiago_krusse@netcabo.pt PRODUÇÃO GRÁFICA E PRODUÇÃO DIGITAL JOEL COSTA joel@elementosasolta.pt CÁTIA CUNHA catia@elementosasolta.pt COLABORADORES ANA LOPES JOSÉ LUÍS DE SALDANHA RODRIGO COSTA FOTOGRAFIA RUI GONÇALVES MORENO COMUNICAÇÃO E MARKETING NEWS ABILITY COMUNICAÇÃO ANA TEIXEIRA ALVES aalves@newsability.pt
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ESTA REVISTA NÃO ESTÁ REDIGIDA NOS TERMOS DO NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO.
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INSPIRADO
“Não faço ideia” é o livro criado por Vasco Durão, director de planeamento estratégico da Mola Ativism. É de facto um livro inspirado. Começa logo na introdução, que nos chama para a leitura e que nos motiva a entrarmos por ele. Com toda a certeza é uma peça que vai andar sempre por perto da mesa de trabalho até o colocarmos numa prateleira, numa secção bem visível, de maneira a que possamos reencontrá-lo com facilidade. E se são as ideias que nos movem é também verdade que são as afinidades que nos levam a procurar perceber os factos que nos perseguem, no bom sentido, e pôr em ebulição a criatividade, colocando-a em termos práticos. Estamos perante um livro apaixonado, com intrínsecas afinidades, escrito numa linguagem acessível e sem um pingo de pretensiosismo, até porque o autor – talvez (?), não faça a mínima ideia do alcance que este trabalho terá nos leitores. O que nos transmite é desde logo um sem número de referências, que o inspiram e fazem parte da forma global como estrutura a sua percepção dos factos ligados ao seu mundo profissional. É uma visão muito pessoal e cheia de generosidade, no sentido em que nos abre a mente para diferentes tipos de reflexão. É um livro para se levar a sério mas não em demasia, até porque também somos chamados a olhar para os temas da criatividade, das metodologias e dos pensamentos postos em prática. Propõe-nos uma leitura e fomenta-nos a reflexão desse vasto mundo da comunicação. É um manual positivo pois olha para uma grande diversidade de factos que estão ligados à criatividade, desmistificando aqui e ali alguns axiomas enraizados no campo académico e profissional. As chamadas indústrias criativas e todos os agentes a elas relacionados têm aqui uma sumula de observações e de argumentos válidos para uma orientação dos desígnios. A DESIGN MAGAZINE tem a honra de anunciar que foi convidada para parceiro de comunicação de Reciprocity, um evento que pretende ser um laboratório e uma oficina das melhores práticas, juntado para o efeito profissionais de todos os cantos do mundo de forma a gerar um grande debate sobre o papel que o design tem no quotidiano das pessoas. A participação na Reciprocity está aberta para inscrições. www.mola.ativism.pt
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“Não faço Ideia” Autor: Vasco Durão Design: Rui Morais Ilustrações: Joaquim Albergaria
OPINIÃO POR RODRIGO COSTA
A CULTURA, A ARTE, AS MASSAS E A VERDADE DAS COISAS
… A situação que o mundo atravessa — visto daqui, parece submerso em camadas de crude; como praia invadida pelos reflexos do naufrágio de dois ou três petroleiros — trazia-me a pensar no que dizer, perante a debandada dos amantes, dos que proclamavam ser a Arte parte inseparável do seu destino. Dia em que não contemplassem ou não lessem, não visitassem uma exposição e ou não mastigassem um ou dois parágrafos de qualquer livro… tal dia era, tão-só, a noite donde e onde caíam todas as crises existenciais; a própria vida não fazia sentido. Nesse período de abundâncias, eu ouvia-os e, pior, ainda, via-os, mas sem conseguir compreender-lhes a obsessão que os levava a tanta angústia; até por não haver — que eu saiba — cadáver resultante da falta de leitura ou da falta de interesse por qualquer das artes… O caso é que, nos píncaros da economia, as máscaras podem ser criadas, erguidas e mantidas com facilidade; as carências reais estão controladas, e é possível adornar a imagem com fetiches caros e ineficazes, podendo ser-se fingidor à-vontade — a Humanidade é uma espécie com espécimes raros!... Sou insuspeito, por não ter fundado nem nunca ter colhido a ideia de que a Arte deveria ser democratizada; porque o seu destino devesse ser o povo e a rua. Sempre achei que a Arte, ela própria, é um universo aberto e de liberdade — como qualquer liberdade, condicional, entenda-se —, onde podem entrar, evoluir, envolver-se e serem envolvidos todos os que, realmente, sentem a apetência pelo fenómeno. Todos concordaremos, suponho, que as predisposições para a Escrita, para a Pintura, para a Escultura, para a Música, para a Dança, para a Fotografia, etc, etc, etc, não estão destinadas, em regime de exclusividade, a reis nem, sequer, a príncipes — quantos são os reis, presidentes ou ministros que podem pensar e ou escrever os seus discursos? —; e, para desespero de tanto medíocre afortunado o génio pode, até, habitar um mendigo, porque a Vida tem formas estranhas de se divertir; sendo Ela quem baralha, quem parte e quem dá; não vendendo, mesmo havendo quem possa e se disponha comprar. A Arte, a apetência, tal como a morte, já lá está, faz parte do kit, é parte intrínseca do produto; seja o sujeito activo ou, meramente, contemplativo. Não se pode tirar de onde não há. Há dez / quinze / vinte anos, o movimento era enorme; o | 010 |
País parecia ter despertado para as artes e para a Cultura, na sequência, lenta, de uma revolução, ela própria, inconsequente; na medida em que, como se pode ver, a índole, ameaçada, da Nação, recuperou o seu Estado. Das paredes cravejadas de exposições que eram visitadas e vendidas em corrupio e que, por isso mesmo, levaram à fermentação de malabaristas que supuseram ter encontrado o espaço de liberdade e de fácil sobrevivência, passou-se ou retomou-se a natureza crua, a realidade que enferma um País cujo destino parece ser o de ser doente, mentalmente doente, por não conseguir, mesmo depois de extinto Salazar, reformular os modos, a educação. Nesses períodos, foram semeadas e plantadas galerias e fundações; desabrocharam toneladas de devotos críticos, curadores e centros de estágio que funcionaram e funcionam como infantários; depois de Serralves, a Fundação Berardo, a Culturgest; e a própria EDP, que, entre vóltios e vátios, achou ser tão fácil promover a Arte como alterar as tarifa da energia — para citar, apenas, os espaços de maior evidência, aqueles que conjugam o maior número de concordâncias e de amizades, por não fazer sentido perder-se a oportunidade de se ser próximo de quem é grande, mesmo que inspire piedade; dó, que é mais conforme, menos misericordioso. Se estiveram atentos, aperceberam-se da horda insólita dos que se dedicaram ao golfe; não por gostarem do desporto, mas por ser ou por parecer ser uma actividade-reflexo de gente bem sucedida, rica, influente, distinta; havendo, até, quem não dispense o taco e o charuto, não vá o pessoal pensar que os noviços, para comprar o taco e os greens, se limitam a fumar piriscas… O fenómeno é o mesmo: a ignorância preocupada com a imagem, mais do que com a essência. No fundo, quer falemos das artes ou do golfe, falamos de áreas que não são imunes ao aparecimento, sazonal, dos patos-bravos — no que respeita às artes, o logro teve o seu tempo; apesar de tudo, nos greens, o animal está mais próximo do seu habitat. No entanto, previna-se a indústria das bolas, dos tacos e da jardinagem, porque todas as cópias retomam, mais tarde ou mais cedo, a sua originalidade Como cheguei a escrever na extinta Espaço&Design, a crise que atravessamos não é económica, mas afectiva, de amor-
-próprio; com reflexos económicos. A debacle tem tudo a ver com a natureza dos procedimentos de gente saída dos escombros da ditadura; de gente que combateu o Ditador, mas com o propósito de ditar; e que encontra, na redução dos lucros, o prejuízo como argumento para ser como é, menor; incapaz da medida equilibrada das coisas. Equivocou-se, redondamente, quem pensou ser a Arte um produto de e para as massas. Com a queda do Muro de Berlim teve início a queda de muitos dogmas, alguns dos quais, apesar de tudo, ainda estão a caminho das últimas pedras — cascalho e mais cascalho, ou os penedos em metamorfose. E pensou-se, achou-se, que qualquer revolucionário — por moto próprio ou por conta de organizações — metido a sarrabiscos ajudaria a divulgar e a enraizar a ideia de que a arte só fazia sentido quando ao serviço de qualquer revolução; quando podia ser usada como arma de intervir… seja isso o que for — Picasso, ele mesmo, ainda foi à comenda; revolucionário e eterno apaixonado da vida fácil e boa. Daí à proliferação de artistas e de obras de arte… foi um ver-se-te-avias! Ainda por cima, pagas a valores impensáveis. No exacerbo, os incautos julgaram poder perenizar a banalidade, sem compreenderem que só por pouco tempo é possível vender o ludíbrio por preços de excepção. Contrariando a filosofia simples e altruísta que instituíram, apareceram de negligée pensado, a modos como quem quer parecer simples, mas com tiques elitistas, com ares de distância; como poetas que, amando o povo, o preferem longe, distante do seu olimpo — Rotko, por exemplo, maldizia os poderosos, mas não prescindia dos hábitos de burguês; o último rapaz a ganhar o Prémio Turner esticou toda a corda em direcção à simplicidade: propôs o cesto e apresentou-se, à chamada, de cérebro espremido e embrulhado em design… Quem é que pode levar esta gente a sério?...
Diz-se que faz parte do processo provocatório; que só assim é possível fazer com que os media peguem nas coisas, lembrem os eventos… Meus queridos, quem é que quer ser pasto de ignorantes?... A ignorância, claro! De anormalidade em anormalidade, chegamos de um tempo em que qualquer acaso era vendida por exorbitâncias; e situámo-nos, agora, num período em que coisas sérias ficam por ser vendidas… mesmo a preços de saldo. Por quê?... Recuo no texto, para repetir que a Arte não é, realmente, para as massas, sejam ou não economicamente poderosas. Para além de não dever confundir-se o atelier com a padaria de pão apressado e quente, as pessoas que gostam, que sentem, que têm real necessidade, porque, de facto, apreciam, são poucas; daí ter sido imprudente cair na tentação de industrializar um sector cuja essência vive de tempo pensado e de peças únicas. O resultado está aí: uns escondidos e em fuga; outros, incrédulos e contidos; todos em maravilhosa fotografia de conjunto, porque o amor nunca perdoa a quem tanto ama… www.rodrigo-costa.net | 011 |
DESIGN VERDE ÉS TU E EU TAMBÉM POR ANA LOPES
O IMPACTO DO CONSUMISMO NO AMBIENTE E NO PLANETA É, HOJE EM DIA E CADA VEZ MAIS, UMA PROBLEMÁTICA RECORRENTE NA MENTE DE DESIGNERS E CONSUMIDORES. NO ENTANTO, SERÁ UMA EMBALAGEM “VERDE” SUFICIENTE PARA GARANTIR UM RESULTADO POSITIVO NO DESIGN ECOLÓGICO?
Até há algumas décadas a sustentabilidade e os campos de estudo da ecologia pertenciam quase exclusivamente à biologia. Progressivamente, e principalmente devido à constatação de que os recursos do planeta são finitos, as questões ambientais começaram a ser abordadas por outras áreas científicas. Também o design, como disciplina e profissão, desenvolveu uma forte preocupação na forma como poderia contribuir para soluções ecológicas relativas de toda a produção. À medida que se tornavam óbvios os danos que o consumismo trazia, cabia aos designers apresentarem produtos com uma vida mais longa e com um impacto ecológico mais pequeno. O design, enquanto área teórica e prática, tem um grande potencial para provocar uma mudança no modo de vida das pessoas. Usá-lo como método de consciencialização para os problemas ambientais é uma forma de induzir mudanças nos hábitos consumistas, e, portanto, melhorar a relação entre consumidor e objecto. De forma gradual, começou-se a redesenhar os produtos através de padrões de sustentabilidade e ecologia. Hoje, os produtos característicos pelos seus materiais biodegradáveis, recicláveis ou reutilizáveis são uma realidade crescente. No entanto, uma pergunta impõe-se: bastará uma embalagem verde, um material reciclável ou um mecanismo sustentável para assegurar o design ecológico? O designer tem a obrigação de pensar nos seus produtos através de um ponto de vista verde ou sustentável, mas não basta pensar somente no impacto ambiental da produção. É necessário estruturar um produto para que seja ecológico em todos os aspectos e não apenas numa forma que obedeça aos padrões verdes. Não há nenhum interes| 012 |
se na concepção de um produto sustentável se, no final, o produto não é utilizado e descartado da forma correcta. Ter uma vida verde é tão importante quanto ter uma morte verde. Por exemplo, possuir um carro híbrido, que, numa condução ecológica consome mais energia eléctrica que gasolina, e fazer uma condução desregrada, anula qualquer impacto positivo que o produto possa oferecer. Trata-se de um desperdício de recursos e de duas falhas graves. Falha no propósito da sua utilização e em infligir uma consciência ecológica no utilizador. E é neste ponto que começa a má interpretação do papel do design ecológico. Torna-se, portanto, essencial que haja uma responsabilidade social no design que parta do designer mas que também exista da parte do consumidor. É da responsabilidade do designer, ao projectar um produto, de atribuir um significado específico ao mesmo e imaginar em que contexto ele será usado: por quem e com que finalidade. É parte do trabalho dos designers antecipar como os seus produtos serão utilizados, a fim de agregar um – chamemos-lhe – “script” nos produtos. Algo que actue como uma espécie de manual, incorporado nos objectos, a fim de sensibilizar as pessoas para a verdadeira finalidade de um produto verde, em todas as etapas da sua vida. Sem um script, um mau uso de um produto cai na responsabilidade do designer, não importa então o quão verde era a sua intenção inicial. No entanto, a existência de um script incute uma responsabilidade moral e social no consumidor, mostrando que também a eles caberá a tarefa de tornar o design mais ecológico. Desta maneira, o mau uso deliberado de um produto também recai sobre o consumidor e não somente sobre quem o fez.
Vaso 2.0, de The Home Project (2007) – Um produto útil, feito a partir de material reciclável – cortiça – que pode ser reciclado e usado noutros produtos infinitamente. É um produto destinado a ter uma vida longa e uma morte útil. Solar Bottle, de Alberto Meda and Francisco Gomez Paz (2007) – Este design usa a energia solar como meio para purificar água. O uso de fontes renováveis torna possível o seu uso contínuo sem desgastar recursos naturais. Toyota Prius (1997) - Um carro híbrido requer uma condução económica para que o motor eléctrico actue e se gaste menos gasolina. Possuir um carro destes, mas conduzir sem ter isto em atenção é um caso em como os consumidores podem interpretar mal a finalidade de um produto. Asus Bamboo (2007?) – A finalidade de um computador portátil ladeado a lascas de Bamboo é, do ponto de vista ecológico, nulo. É um exemplo de uma forma verde que desgasta recursos naturais e não contribui para a eficácia do produto.
Os designers têm uma grande responsabilidade ética, moral e social. O consumidor também deve ter este sentido de responsabilidade e é algo que cada vez mais tem de ser levado em consideração. É essencial que haja uma responsabilidade partilhada. O público precisa estar ciente de que eles compartilham responsabilidades na extensão da vida dos produtos; têm de contribuir para a sua extensão, minimizando a sua pegada ambiental. O designer não pode estar mais sozinho. Tem de existir um trabalho colectivo, embora esta iniciativa deva sempre partir de quem produz. Mais do que produzir uma mudança no consumismo, o design precisa de fazer uma profunda transformação na mentalidade do público (designers incluídos); uma revolução social na interpretação do seu modus operandi, que vá para além de pensar numa embalagem verde. É necessária uma promoção de responsabilidade, a fim de proporcionar aos produtos uma vida, uso e morte mais correctas. Imponha-se de uma vez por todas o tão necessário design responsável e uma mentalidade verde! | 013 |
ENTREVISTA RICHARD LA GRAAUW
O DIRECTOR DE COMUNICAÇÃO E DE DESIGN DE INTERIORES DA IKEA EM PORTUGAL FALOU-NOS DE DESIGN, METODOLOGIA E DA SUA PERCEPÇÃO DO MUNDO NOS MAIS DE 18 ANOS A TRABALHAR NA EMPRESA. PARA ESTE ARQUITECTO, COM UMA ESPCIALIZAÇÃO EM ESTILISMO, A EXIGÊNCIA NA QUALIDADE DO TRABALHO E A CAPACIDADE EM ENCONTRAR NOVAS SOLUÇÕES QUE OPTIMIZEM O USO DE MATÉRIAS-PRIMAS E REDUZAM OS CUSTOS INERENTES AO TRANSPORTE SÃO CRITÉRIOS-CHAVE PARA A EMPRESA. POR TIAGO KRUSSE FOTOGRAFIA: CORTESIA DA IKEA
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Onde é que nasceu? Nasci em Delft, na Holanda, numa pequena localidade que se tornou famosa por ser a cidade berço do pintor Vermeer. Qual é a sua formação académica? Eu estudei arquitectura e completei o curso. Ser um bom arquitecto, encontrar trabalho e vingar na profissão é de facto uma tarefa muito difícil. Daí que eu tenho procurado uma via no campo do design tirando uma especialização em estilismo, focada em moda e design de interiores. Era o caminho para o qual eu estava mais virado e interessado. O que retira dessa fase educacional? A melhor faceta do nosso sistema de educação é o facto de juntar pessoas que já estão a trabalhar nas suas áreas de especialidade com os estudantes. Portanto não se tem apenas o professor a dar aulas, encontramos os profissionais e as empresas que marcam a sua presença deixando-nos uma perspectiva diferente sobre o que uma profissão significa. Gostei muito. Quando é que começou a trabalhar para a IKEA? Comecei há 18 anos atrás. Tenho hoje 41 anos. Comecei a trabalhar cedo e a IKEA é a companhia! Foi através do seu trabalho que a empresa chegou até si. Qual a razão que o levou a aceitar o desafio? Eu era muito novo e a empresa deu-me a possibilidade de trabalhar a um nível internacional. Trabalhar nesse nível para uma multinacional dava-me uma ampla margem de possibilidades no que poderia fazer. Eu já conhecia a IKEA e pensei logo que deveria aproveitar a oportunidade para explorar uma grande empresa. Pensei que iria ficar por apenas um ano mas a realidade é que nunca a deixei. Nas quase duas décadas de experiência de trabalho, quais foram as mais significativas alterações que encontrou ao nível da produção e do consumo? A maior alteração que eu identifico, nos últimos anos, está relacionada com o ambiente. É a forma como tomamos conta do ambiente e a responsabilidade que temos. Penso que é um tema que não podemos negar e ao qual não podemos escapar. É uma obrigação de todos nós. É da opinião que o consumidor de facto já reflecte sobre a importância do tema ou, pelo contrário, que tudo ainda se encontra numa tendência de momento?
Há uns anos atrás o tema apareceu e propagou-se um pouco como uma tendência. Nos dias que correm tornou-se algo mais realista e as pessoas realizam que, no final, é bom para os seus bolsos. As pessoas estão mais despertas para os assuntos relacionados com o meio ambiente e as empresas começam a reagir a estas alterações de comportamento. Agora fala-se de sustentabilidade mas se olharmos para o que a IKEA tem vindo a fazer desde o início, na forma como gerimos as questões ligadas ao transporte ou a forma como minimizamos o uso de materiais, essa preocupação manteve-se sempre presente. E no que diz respeito à forma como as pessoas vivem ou como os designers pensam para essa forma de estar? Penso que aí não há grandes alterações. É claro que os conceitos de casa evoluíram e que as tecnologias nos têm dado outro tipo de possibilidades. Mas o modo como vivemos é o mesmo do dos nossos avós, temos as mesmas necessidades e particularidades. O que se alterou foi o uso das tecnologias que nos permitem chegar a outros tipos de artefactos. O que mudou na IKEA nestes últimos anos? Os valores que encontrei há 18 anos atrás mantêm-se mas é claro que a empresa desenvolveu-se nos seus diferentes segmentos e nesse aspecto penso que estamos mais rigorosos e directos. Uma das coisas que aprecio ao estar nesta empresa é que posso confiar naquilo que somos e no que defendemos. E há um tipo de abordagem em termos de design? Regressando aos tempos de universidade em que nos ensinavam e aprendíamos a abordagem modernista no campo do design, isso é algo com o qual sempre me identifiquei. Se olharmos para o passado, a Suécia sempre esteve nesta vanguarda. Em termos pessoais, gosto muito de minimalismo e de design japonês e penso que os dois têm uma interligação. Como é que programa o seu trabalho? Trabalhamos com uma grande equipa de designers de interiores, vendedores e designers gráficos. O que fazemos é sair para vermos como os portugueses vivem, para perceber quais são as suas expectativas, os seus desejos relativos à forma como poderão levar uma vida melhor. Depois de reunirmos essas impressões traduzimo-las para as nossas lojas. E há um perfil para o consumidor português?
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“PENSO QUE É FÁCIL CRIAR UM PRODUTO E COLOCAR-LHE UM PREÇO ELEVADO. O DESAFIO É ENCONTRAR A FORMA COMO PODEMOS CONSTRUIR UM PRODUTO FUNCIONAL, DE BOA QUALIDADE E COM UM PREÇO REDUZIDO.”
A experiência que temos como marca internacional, olhando para a forma como as pessoas vivem e como gostariam de viver, dá-nos uma visão global. O que há de facto distinto são as diferentes especificidades da arquitectura, nomeadamente o espaço, no que diz respeito às dimensões e à forma como foi programado. O nível de rendimentos é um factor importante e de diferenciação entre consumidores. Os dois aspectos mais importantes que encontrei aqui em Portugal, que são semelhantes aos que encontrei na Ásia ou na América, é o armazenamento e a forma como se trabalha a iluminação. De que forma estas pesquisas influenciam a produção? São sempre ponderadas em duas direcções. Por um lado seguimos o nosso conceito, que é a forma como podemos melhorar a qualidade de vida das pessoas em casa. O outro lado está relacionado na maneira como nós, enquanto empresa, evoluímos em termos de produção e de sustentabilidade. Qual é a essência da inovação? | 016 |
Em termos de inovação tem a ver com as formas como podemos reduzir cada vez mais os preços. Podemos dividir em duas frentes, na forma como optimizamos a matéria-prima e como organizamos o transporte. Nestes dois aspectos a tecnologia conta muito. Como trabalham os aspectos estéticos? Nesse contexto penso que aí vem sempre a identidade sueca, na sua abordagem modernista. É claro que trabalhamos com agências especializadas em tendências mas a nossa abordagem é sempre global e nas nossas lojas estão sempre presentes as raízes suecas. Os designers que trabalham para a IKEA têm liberdade total na abordagem conceptual ao produto ou estão condicionados a um programa específico de produção e distribuição? Nesse sentido não têm uma liberdade total. Penso que é fácil criar um produto e colocar-lhe um preço elevado. O desafio é encontrar a forma como podemos construir um produto funcional, de boa qualidade e com um preço reduzido. Não é sempre um trabalho apenas do designer
e de pesquisas, é uma combinação entre ele, as fábricas com quem trabalhamos e o processo de desenvolvimento do produto. Nós começamos pelo preço pois ele tem que se adequar ao custo de transporte e à nossa política de sustentabilidade. Há todo um conjunto de critérios que tornam ainda mais complicado o trabalho dos designers, exigindo-lhes o melhor que podem dar para que no final do processo ainda consigam colocar a sua assinatura no produto.
sibilidade de discuti-lo de uma forma concreta e não para abordá-lo com algo que pertence a um museu. Temos a necessidade de discutir com gente nova e de levantar questões concretas sobre diferentes tipos de assuntos. O design, a inovação e a pesquisa são as portas para o futuro. Uma empresa com a nossa dimensão tem a obrigação de discutir sobre estes temas, pois eles têm importância na forma de evoluirmos e de obtermos uma vida melhor.
E existe alguma série de produtos que saia deste método produtivo? Por vezes temos um design que é mais extravagante, se assim pudermos classificar, que denominamos a colecção Post Scriptum. É uma série de produtos concebidos para um grupo mais restrito de consumidores. A IKEA marca presença e apoia alguns eventos específicos em design como por exemplo as Workshops de Verão em Boisbuchet. Que importância a empresa retira da presença nesses eventos? É uma oportunidade para falar de design e de ter a pos| 017 |
DESIGN: TÓ MARTINS TEXTO TIAGO KRUSSE Num dos conhecidos princípios do design enunciados por Dieter Rams, faz-se uma reflexão sobre a honestidade. A frase expressa que “um produto desenhado honestamente não reclama para si características que não tem – mais inovador, mais eficaz, ou mais valioso”. O designer Tó Martins não esconde a forma honesta como criou um produto, tendo como base o princípio da sustentabilidade e a gestão dos recursos materiais. E assim nasce o projecto Rewashlamp, com um conceito simples, uma estrutura simples e uma estética muito apelativa. O designer foi recolhendo tambores de máquinas de lavar roupa em fim de vida, prontos para ir para o lixo, tratando e reutilizando-os de maneira a se tornarem a cabeça e quebra-luz de um candeeiro de pé. O corpo do candeeiro é assumido por um tripé de câmara fotográfica, permitindo regular a gosto a altura da iluminação. Em termos estéticos os quebra-luz são complementados com a aplicação de tecidos sintéticos ou outros produtos com uma forte componente visual. Com uma produção toda ela manual e em pequena escala, Tó Martins faz salientar ainda a mais-valia que advém de um produto estruturado em duas peças, de montagem e transporte simples. www.rewashlamp.com | 018 |
REWASHLAMP
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PERFIL PEDRO GOMES
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EcoBall, sistema portátil de som
O designer Pedro Gomes foi recentemente galardoado com um prémio internacional e uma menção especial no Faces of Design Award 2012. Oriundo de Aveiro, Pedro Gomes, com percurso académico na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, fundou no ano passado o seu atelier, especializando-se em design de produto. O seu trabalho reparte-se nas áreas ligadas à produção de mobiliário, iluminação, electrónica, acessórios, calçado e design conceptual. O atelier fornece também serviços e apoio nas áreas da comunicação estratégica e consultadoria. A experiência profissional do designer fica marcada pela passagem e pelo trabalho desenvolvido para duas agências de design estrangeiras, a Designaffairs, em Munique, na Alemanha, e a One&Co, em São Francisco, nos Estados Unidos da América. Com trabalho desenvolvido em Portugal e no estrangeiro, quer para clientes privados como para outros ateliers e marcas, Pedro Gomes destaca projectos desenvolvidos para a HTC, Huawei, LG, Pearl Izumi, K2, Arctic e Inzu Concepts. www.pedrogomesdesign.com | 021 |
Lacie S2.0, disco rĂgido externo
Architect Stylus
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Glow office phone
Sleepy
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SOFISTICADAS FORMAS DE VIDA A WALTER KNOLL INTRODUZ NOVOS PRODUTOS NAS SUAS GAMAS DE SOFÁS, CADEIRAS E MESAS. SELECCIONÁMOS 5 NOVAS PEÇAS QUE REVELAM O ESPÍRITO DA MARCA E EXPRESSAM A SUA VISÃO EM TERMOS DE ESTILO DE VIDA E CONCEPÇÃO DE AMBIENTES DE INTERIOR.
“Bao”, design da EOOS para a Walter Knoll
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“Gordon”, design da EOOS para a Walter Knoll
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“Deen”, design da EOOS para a Walter Knoll
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“Tobu�, design de Wolfgang C. R. Mezger para a Walter Knoll
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“Jaan Living”, design da EOOS para a Walter Knoll
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FOOD DESIGN POR JOSÉ AVILLEZ
PUDIM ABADE DE PRISCOS Ingredientes para 4 pessoas Para o pudim 250 g açúcar 125 g água 10 g toucinho 15 g vinho do Porto 240 g gemas Caramelo q.b. Para o crocante de frutos secos 25 g amêndoa 25 g noz 25 g avelã 25 g pinhão 100 g açúcar 25 g água Para o ar de lima 100 g sumo de lima 135 g água 0,8 g lecitina de soja Para as filhós 2 ovos 2 colheres sopa açúcar 1 laranja sumarenta 1 colher chá de manteiga 3 ½ colher sopa farinha Sal q.b. Óleo q.b. Açúcar q.b. Canela q.b. Para finalizar Polpa de framboesa com hortelã da ribeira 6 framboesas Groselhas passadas por açúcar em pó Raspas de lima
Preparação Para o pudim Ferva a água, o açúcar e o toucinho durante 5 minutos. Junte o vinho do Porto e as gemas. Coloque o caramelo numa forma sem buraco e coza o pudim em banho-maria durante 15 minutos a 180ºC. Para o crocante de frutos secos Faça a calda de açúcar e leve a 123ºC. Junte os frutos secos picados, mexa bem e deixar secar até estar crocante. Para o ar de lima Junte tudo e emulsione com a varinha mágica. Para as filhós Bata os ovos com o açúcar e a manteiga. Junte o sumo de laranja, mexa bem e, por fim, adicione a farinha. A massa deve ter a consistência de um polme fino. Com a ajuda de uma colher, retire um pouco de massa e frite em óleo bem quente. Polvilhe com açúcar e canela. Para finalizar Sirva o pudim com as filhós e finalize com um pouco de polpa de framboesa com hortelã da ribeira, framboesas, groselhas passadas por açúcar e raspas de lima. www.joseavillez.pt
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FOTOGRAFIA DE NUNO CORREIA
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VILLA FRENAY ARQUITECTURA: 70F TEXTO: TIAGO KRUSSE FOTOGRAFIA: LUUK KRAMER | 036 |
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Ficámos a par to atelier de arquitectura 70F através de um livro da Taschen, dedicado ao uso da madeira. Após o envio de uma mensagem solicitando informação sobre trabalhos do atelier, recebemos uma simpática resposta do arquitecto Bas ten Brink, que nos deixou à vontade para publicarmos um dos seus projectos. O atelier 70F foi fundado em 2000 por Bas ten Brinke e Carina Nilsson. Ele nascido em Amesterdão, Holanda, em 1972, com o curso de arquitectura da Universidade Técnica de Eindhoven, ela nascida em Lund, Suécia, em 1970, formada em arquitectura na Universidade Técnica Chalmers, em Gotemburgo. A Villa Frenay é um projecto iniciado em 2008 e concluído em 2010. Localizada na região de Almere, a Este de Amesterdão, na Holanda, o terreno da villa tem uma área bruta de 386 m2. A moradia familiar foi programada com um único piso e o seu encaixe no local exigia uma resposta adequada ao facto de se viver sobre a água. Esse afeiçoamento conveniente ao lugar foi alcançado por intermédio de uma varanda, criando uma linha que percorre todo o comprimento do edifício, a Sul, que abrange as mais importantes divisões da casa, quarto, vestuário, casa de banho, escritório, cozinha e sala de jantar, fazendo ainda um canto da sala de estar. Ao longo desta linha é criado um plano da água para a varanda e de seguida uma divi-
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sória em fachada de vidro, com portas de correr para cada uma das designadas divisões. Para atenuar a paisagem baixa do polder, o telhado das salas de estar e jantar é ligeiramente inclinado. Sobre área da moradia não circundada por água, a Norte, encontram-se os quartos das crianças com casa de banho, uma sala de arrumos e a sala de estar. As colinas artificiais existentes no jardim foram acentuadas e a garagem criada ficou semi-enterrada numa delas. A sauna com divisória de jardim foi construída na outra colina, sendo o edifício mais alto dos três existentes. Da sauna foi criado um bonito enfiamento através da colocação de uma cascata de água, produzida em Cor-Ten, que percorre o jardim até do terraço e chegando por fim à água que circunda o local. Com a implementação dos edifícios é criada uma área residencial, que é mais do que uma moradia com anexos, é um espaço de vida. E da mesma forma que a moradia tem corresponder às exigências do lugar e às especificidades da natureza, a casa tem também de proporcionar a quem nela vive essa boa experiência que deriva da boa relação entre interior/ exterior e vice-versa. A qualidade estrutural e expressiva da obra é feita com grande simplicidade e denota um espírito elegante.
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MUSEU DO DESIGN DE HOLON ARQUITECTURA: RON ARAD ARQUITECTOS TEXTO: TIAGO KRUSSE FOTOGRAFIA: YAEL PINCUS
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O Museu do Design de Holon, em Israel, é um projecto do atelier Ron Arad Arquitectos. Foi inaugurado em Janeiro de 2010 e está inserido num contexto de alguma densidade urbana. O museu surge de forma harmoniosa numa ampla praça, marcando uma presença monumental e escultórica. Não se impõem em volumetria ao parque edificado que o circunda. Ocupa uma área bruta de 4 090 m2 e evidencia uma monumentalidade contida, que apela à visita das pessoas, funcionando ao mesmo tempo como uma peça de orgulho para os moradores do bairro. Expressa uma dinâmica através de 5 longas bandas de aço, em Cor–Ten, com mais de um quilómetro de extensão, que envolvem, como que encobrindo e protegendo, as duas caixas de cada piso. A disposição das bandas realça a gradação das suas diferentes tonalidades, cuja textu| 054 |
ra também se vai alterando com desgaste causado pelo passar do tempo, e foram pensadas com a ideia de fazer uma referência às estrias geológicas tão particulares dos desertos do país. É o primeiro trabalho que Ron Arad faz com uma escala destas dimensões. A cidade de Holon leva quase duas décadas de um ambicioso projecto de regeneração urbana. O museu vem na estratégia de um programa que pretende potenciar a força da cidade nas suas componentes culturais e educacionais. A sua ambição vai para além de um mero chamariz turístico sustentado por sazonais romarias culturais. Ele traz para dentro da cidade as pessoas estimulando em diversas formas a zona onde foi construído. O trabalho do atelier de Ron Arad expressa um espírito escultórico, em que a engenharia se revelou fundamental
não só para a qualidade e funcionalidade do museu como também deixa um fascinante atractivo visual. Ron Arad diz-nos que foi criada uma hierarquia de espaços exteriores para que se pudesse entrar por debaixo do edifício e por aí chegarmos até a um pátio semi-coberto. No que à expressividade em que o aço é trabalho e ao efeito visual conseguido diz respeito, há mais do que apenas os olhos conseguem ver. Foram utilizadas inovadoras engenharias, que vindas de Itália como de Israel, bem como algumas pesquisas químicas. “O sobrescrito do edifício não é só um espaço bonito, é também uma estrutura”, conclui. O Museu do Design de Holon é composto por duas galerias principais e um número considerável de espaços alternativos que se adequam a outras formas de utilização, quer para exposições ou para áreas destinadas a serviço-
es educativos. Os dois pisos são ligados por uma rampa externa. A galeria superior, com 500 m2, é banhada por luz exterior e o seu miolo foi concebido com as infraestruturas necessárias para albergar objectos tridimensionais. Em termos de design de iluminação, esta galeria tem um programa flexível que permite trabalhar o uso da luz artificial a diferentes níveis. A galeria inferior, com 200 m2, tem um pé direito alto e o seu espaço funciona de maneira a criar aos seus visitantes um passeio mais intimista por entre os objectos expostos.
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MORADIA Sテグ ROQUE ARQUITECTURA: BRUNO MARQUES TEXTO: TIAGO KRUSSE FOTOGRAFIA: FILIPE POMBO
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A freguesia de São Roque, em Oliveira de Azeméis, no distrito de Aveiro, tem uma forte herança histórica e por conseguinte cultural. Em pleno século XV a localidade afirma-se como a primeira terra do reino a fabricar vidro, na famosa indústria vidreira da Quinta do Côvo, terreno esse que uns séculos mais tarde serviu de poiso criativo à inspiração literária de Eça de Queiroz. Mas escritor, também célebre, oriundo da terra é Ferreira de Castro, nascido em Salgueiros, em 1898. No que à arquitectura diz respeito, São Roque têm um forte património religioso do qual se destaca uma pequena capelinha barroca, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, na Quinta do Côvo e as capelas de São Pedro e Santo António. A construção contemporânea e nova tem vindo a surgir de uma forma gradual nos últimos anos, tendo Oliveira de Azeméis um bom conjunto de projectos com a assinatura de bons arquitectos portugueses. A moradia de São Roque é um projecto do arquitecto Bruno Marques, tem uma área total com 600 m2 e foi concluída em 2011. Apresenta-se em dois distintos volumes tendo no piso térreo, de forma mais regular, espaço de hall, sala de jantar e de estar, cozinha, sala, casa de banho e uma suite. No piso superior desenvolvem-se as zonas mais privadas, com os quartos com casa de banho. Cada uma dessas di| 064 |
visões joga com forma e volumes, que criam perspectivas distintas e um contraste com o piso inferior. No piso -1 o espaço foi pensado para garagem, uma zona de arrumos e de lavandaria. A moradia expõe-se ao exterior de uma forma interessante e aproveita as suas fachadas para uma boa captação de luz natural ao longo do dia. O arquitecto designou grandes portas e janelas, num conjunto extenso de envidraçados que vieram aumentar as exigências relativas aos isolamentos térmico e acústico. E é neste ponto que se deve ter a primordial preocupação relativamente à eficiência energética e ao conforto, no que diz respeito à circulação de ar e de som. São aspectos fundamentais e que bem trabalhados contribuem não só para a redução de custos na obra como também para uma eficaz e racional dependência energética da casa. É nossa opinião que são mais importantes a escolha e a montagem das caixilharias para a eficiência energética de uma casa do que a estranha imposição de caros e complexos sistemas de engenharia para a circulação e controlo térmico do ar. O arquitecto Bruno Marques teve em atenção o seu projecto térmico e acústico, tendo decidido pela colocação de dois sistemas da Technal, um de correr e outro de batente, ambos com ruptura da ponte térmica.
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Para além das caraterísticas técnicas dos produtos, o apelo estético também foi considerado pois se enquadrou com a expressividade da obra. O desenho da moradia, edificada entre dois arruamentos, teve em atenção o facto o impacto que três pisos poderiam causar na envolvente. Nesse aspecto, ela parece que se esconde pois a Norte evidencia três pisos e a Sul apenas dois. Foi uma boa solução encontra para reduzir o impacto volumétrico. A moradia tem ainda um factor que contribuiu para a sua leveza estética, produzido através da diferenciação cromática dos volumes. O piso térreo em cinza, contrastando com o verde do jardim e o branco no piso superior.
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TWENTY – TWO ARQUITECTURA: AIRES MATEUS E FREDERICO VALSASSINA TEXTO: TIAGO KRUSSE | 068 |
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FREDERICO VALSASSINA E AIRES MATEUS
O edifício Twenty - Two tem a assinatura dos arquitectos Aires Mateus e Frederico Valsassina. Localizado na zona da Junqueira, em Lisboa, ele beneficia da beleza do Tejo e seu enfiamento da foz até ao mar, da presença da ponte e da luz particular que se encontra à beira rio. Os arquitectos, numa descrição sobre o projecto, frisam que o primeiro instinto para o lugar teria de passar pelo erguer de uma solidez, um corpo, num edifício transparente. A solidez para conferir a segurança e a transparência para reflectir a leveza. Captar a luz e o rio para dentro do edifício foi um objectivo de muita importância. Num vídeo promocional do empreendimento, Aires Mateus diz que “a nossa evolução como arquitectos é desenhar cada vez menos e pensar cada vez mais”. Salienta que esta máxima traduz uma menor preocupação com aspectos particulares ou imagéticos do edifício e um enfoque cada vez maior à sua durabilidade e à relação que se estabelece entre a construção e os seus futuros utentes. Frederico Valsassina expressa que “quanto mais simples for o desenho mais fácil é a adaptabilidade das pessoas à sua nova casa”. Julgamos que é importante salientar a postura destes arquitectos pois mesmo que alguns possam entendê-la como
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demasiado simplista, não deixa de reforçar que um dos desígnios primeiros da arquitectura é servir o Homem. Não foram desenhados apartamentos mas antes dez casas diferentes, em espaços cujos valores foram a abertura e a exclusividade. Sendo cada casa única, de áreas particulares e dimensões generosas, as suas tipologias encontram-se foram das tradicionais classificações de mercado. Pormenor não menos importante, fora do comum até, é o facto de não terem sido desenhadas para um cliente final determinado. Os arquitectos propõem assim espaços únicos “que se transformam numa morada”, possuindo um programa simples, com grande flexibilidade e que são personalizados, com naturalidade, no “desenvolvimento do uso da casa”. Os materiais escolhidos foram o betão, a madeira, a pedra e o vidro. A naturalidade dos materiais e a forma harmoniosa e complementar com que foram dispostos, no exterior e no interior, foram aspectos importantes nessa intenção de se assumir como um edifício de casas ímpar num lugar igualmente ímpar da cidade.
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LEITURAS
É a primeira edição sobre o atelier ARX, de José e Nuno Mateus. O livro reúne duas décadas de construção por vinte casas, numa selecção que nos deixa perceber as estruturas e a expressão que os irmãos Mateus têm vindo a deixar ao longo dos anos. Destacamos o prefácio desta obra da autoria de Joseph Grima, o director da revista italiana Domus.
ARX 20 Years / 20 Houses Uzina Books | 080 |
O livro arranca com uma conversa entre Jorge Figueira e António Belém Lima, intitulada Máquinas Burguesas. Seguem-se depois 12 depoimentos pela pena de Ana Vaz Milheiro, Bernardo Pinto de Almeida, Emído Agra, Fernando Guerra, João Miguel Fernandes Jorge, José Luís Gordo Porfírio, Jorge Figueira, Maria Filomena Molder, Rui Chafes e Susana Camacho. Um bom conjunto de expressas afinidades com o arquitecto, potenciadas pelos registos da sua obra. Belém Lima 12 Regards Uzina Books | 081 |
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