DESIGN MAGAZINE 9 - JANEIRO / FEVEREIRO 2013

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EDITORIAL

Tiago Krusse

Não entendo a razão pela qual o designer ainda não tem a sua profissão regulamentada em Portugal. Penso que seria benéfica a criação de uma classe profissional, com carteira reconhecida. Seria um primeiro passo importante que iria permitir uma regulação da actividade em todos os seus enfiamentos laborais. Há de facto uma necessidade de legitimação oficial de toda uma classe, que anda há uns largos anos remetida para a desorientação e a incompreensão da profissão. O País tem um rico historial em design, com nomes firmados e trabalhos que testemunham, nos seus mais distintos desígnios, a diversidade dos autores e a consistência dos mesmos. A juntar a tudo isto, todos os anos as universidades e escolas superiores vão formando mais designers que na sua grande maioria não encontram trabalho nas suas áreas e se deparam sem um bem ordenado enquadramento profissional nos diferentes sectores de mercado. Todas estas circunstâncias vão retirando dignidade à profissão, contribuindo para um retrocesso da disciplina e, em primeira análise, precaridade e desigualdade social. São tudo factores que acabam por impedir uma estratégia de desenvolvimento industrial, com ligações às tecnologias e à cultura, criando também desigualdades profissionais e fechando portas a novas oportunidades. É um mar de gente que se perde! Parece-me que deve partir dos designers esta legítima necessidade de afirmação profissional e uma consequente ordenação dos seus direitos de produzir. A classe também já percebeu que não pode ficar à espera dos governantes ou dos agentes públicos ligados às instituições do meio, por isso deve ser ela a travar o combate pela sua dignidade. Enquanto isso não acontecer, os designers continuarão a enfrentar as restrições no acesso ao trabalho, a encontrar um vazio de direitos e deveres laborais, mais todo um tratamento discriminatório em função das habilitações literárias. Apesar de todas as dificuldades que se apresentam no horizonte de 2013, tenho uma boa percepção dos designers, gente com talento e carácter que será capaz de se realizar a si mesma. Que este meu pequeno texto possa servir de estímulo à prossecução dos seus mais que legítimos objectivos. Fotografia da capa da autoria de Rui Gonçalves Moreno

tiago_krusse@netcabo.pt

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SUMÁRIO

Opinião de Rodrigo Costa

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Entrevista a Alzira Peixoto e Carlos Mendonça

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Joana Cabrita Martins

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Sputnik

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Johan Lindstén

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Cadeiras

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Nya Nordiska

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Gentle Giants

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João Gonçalves

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FontanaArte, 80 anos de inovação

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Um simples café

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Food Design por José Avillez

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Atelier em Monterrey

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Museu no Michigan

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Moradia em Lado de Como

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Centro de Design em Montpellier

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Leituras

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Escutas

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ESTA REVISTA ESTÁ REDIGIDA NA ORTOGRAFIA PORTUGUESA |4|


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design MAGAZINE

www.revistadesignmagazine.com DIRECTOR EDITOR TIAGO KRUSSE PRODUÇÃO GRÁFICA E DIGITAL JOEL COSTA / CÁTIA CUNHA REDACÇÃO tiago_krusse@netcabo.pt COLABORADORES ANA LOPES (LISBOA) CARLOS PEDRO SANT’ANA (ILHABELA) FRANCISCO VILAÇA (ESTOCOLMO) HELENA ABRIL LANZUELA (VALÊNCIA) JOSÉ LUÍS DE SALDANHA (LISBOA) RODRIGO COSTA (PORTO) FOTOGRAFIA FG+SG – FOTOGRAFIA DE ARQUITECTURA JOÃO MORGADO – FOTOGRAFIA DE ARQUITECTURA RUI GONÇALVES MORENO PUBLICIDADE http://revistadesignmagazine.com/publicidade/ COMUNICAÇÃO NEWSABILITY COMUNICAÇÃO ANA TEIXEIRA ALVES aalves@newsability.pt ENVIO DE CORRESPONDÊNCIA JARDIM DOS MALMEQUERES, 4, 2 ESQUERDO 1675-139 PONTINHA – PORTUGAL EDITORA ELEMENTOS À SOLTA - DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS MULTIMÉDIA LDA RUA ADRIANO CORREIA OLIVEIRA, 153, 1B - 3880-316 OVAR - PORTUGAL NIPC: 508 654 858 www.elementosasolta.pt PUBLICAÇÃO CRIADA EM 2011 PUBLICAÇÃO BIMESTRAL REGISTO DA ENTIDADE REGULADORA DA COMUNICAÇÃO 126124 |6|


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OPINIÃO

Rodrigo Costa

Amor e Amizade – ou como desfazer os estados de confusão

… Um tema que me pareceu interessante. Para mim, apaixonante, porque – independentemente de reunir concordâncias – penso poder ser útil, primeiro; e deixar clara a minha alergia às confusões, em consequência. Confesso ser, fisicamente, desarrumado, mas ter, mental e normalmente, cada coisa e cada ser no seu sítio; sendo, talvez por isso, que a desarrumação física pouco me incomode, na medida em que sei, sempre, o que é ou quem é que me importa, deixando, disso, físicos reflexos. E, se tiver que perder, que a perda seja a de menor importância – comercialmente, será uma ideia errada, porém, em mente, tenho outros destinos e tenho a consciência de que não se pode ter tudo. Padeço da objectividade, de gostar das distâncias mais curtas. Salvo se, por questão de exercício, escolha os caminhos mais longos e, tendo elevador, prefira subir as escadas de um prédio de dez andares – volta a discrepância entre o mental e o físico, porque posso, fisicamente, percorrer as maiores distâncias, com a calma do espírito que sabe para onde vai e o que ou quem o espera; dado que a paciência é isso, o plano resultante da consciência do lugar das coisas… e das raízes da fé. Nunca confundi o amor e a amizade. A amizade pode ser o confessionário onde deixamos alegrias e dores; o lenço que nos segura e enxuga as lágrimas da emoção – quaisquer lágrimas de qualquer emoção. Mas só o amor é isso, mais o que a amizade não é: o lençol; a membrana que comunga os corpos, que funde matéria e matérias, na vontade do encontro dos espíritos. – Mas de que amor falamos?... – perguntarão. Deixemo-nos de tretas! Eu falo do amor entre duas pessoas; entre dois seres que se apetecem – corpo e espírito –, porque não há outros amores, para além deste. E, havendo – porque há –, eles são a alcofa e o complemento do amor supremo, daquele que, real e conscientemente, se deseja e se espera; é o espaço onde ecoa a voz que nos entorpece, iluminado pela luz dos olhos que nos olham e nos iluminam; onde estão as memórias que nos fazem esquecer tudo; onde existe a saudade permanente, mesmo quando em presença – os amores dos amantes são mundos que se juntam, no reforço da concordância de dois seres que se amam. Não há outro amor. Ou, se se preferir, não quero falar de outro amor, por ser, este amor, a razão de tudo, das festas |8|

e das guerras; dos sussurros e das deselegâncias. E não há – porque não há – conflitualidade entre amizade e amor, porque não me parece que duas pessoas que se amem possam ser inimigas ou não nutram, entre si, amizade. Pode é acontecer que a amizade não passe de amor incorrespondido; alimento precário de almas desejosas de mais, mas reduzidas, pela míngua, à condição de famintas, escravas da utopia. Poderá perguntar-se, ainda, se a líbido, como parte interessada e interesseira, não poderá usar a amizade como camuflagem, como engodo, como sedativo, como entorpecente, de modo a saciar o desejo?… Pode. Claro que pode! Mas já não estamos a falar de amor nem de amizade; mas de simples desejo; do instinto que se mascara, na procura de matar a sede ou as sedes, a fome ou as fomes do corpo. O amor e a amizade vão mais longe, não usam a mimese. São ou não são, sem subterfúgios. A amizade conhece e reconhece os limites; o amor alimenta-se das afinidades íntimas, da comunhão de memórias e de projectos… e de sexo, naturalmente, mas como ponto final de textos mais profundos – depois do êxtase, o amor não olha para o relógio, não tem a mínima pressa de ir embora: abraça, beija, reconhece. Ficar é o princípio que não tem fim. E se é vulgar dizer-se que nenhuma relação tem futuro, se não houver entendimento na cama, não é menos vulgar assistir-se à separação de gente que, na cama, parecia ter tudo… Não tinha. Nunca teve, porque, ao fim de algum tempo, o corpo que pede apenas corpo quer outro, outros, porque lhe falta a comunhão dos espíritos… Pode, por salvaguarda de quaisquer compromissos – económicos ou não – ou por medo de ficar só, permanecer em relação falida, desgastada – se não partir, mesmo que, inconscientemente, à procura do seu espírito. Pode alguém, apaixonado, pensar que ama?... Pode. Mas pode, entre a paixão e o amor, haver a diferença que existe entre a inflamação e a doença; entre o alívio e a cura. Porém, as dúvidas desfar-se-ão, mal surjam os primeiros obstáculos. Pode alguém amar e querer fazer crer, por receios, que é, tão-só, digamos, uma forte amizade?... Pode. Mas cedo perceberá ser maior a dor de perder, por não usar as palavras, do que a dor de qualquer incorrespondência; porque,


… Ai, Joaquin, esse lacrimejar dolente da guitarra, esses dedos que erram e sofrem, que lhe adoçam as cordas e lhe tiram do ventre o grito harmonioso, desesperado e doce; que compõem o perfume nostálgico de dúvida e de ausência...

Ilustração de Sofia Brito, professora de artes visuais, licenciada em design gráfico e com pós-graduação em ilustração artística.

quem se dá, não sofre da dor do arrependimento por não se ter dado. E se é verdade que a inteligência, pela compreensão, não salva da tristeza, possibilita, no entanto, a percepção de que, quando nos damos, nos damos a nós mesmos, sem que, às vezes, aqueles a quem nos damos percebam – talvez porque não haja afinidade… ou porque lhes sobre, em líbido… o que lhes falte em inteligência… No fundo, nem o amor nem a amizade prescindem da coragem. Ambos exigem a lucidez, a consciência do espaço e do tempo; a abertura, grandiosa, das almas que puderam crescer e que, pela inteligência e pela profundidade, ultrapassaram a barreira das formas, os limites do corpo consentido e desejado, porque as ideias e as palavras – a expressão das ideias e a assunção das palavras – não são ferramentas ao alcance dos covardes nem da imaturidade. Deixo, como epílogo e última recta, o poema que compus sobre o Concerto de Aranjuez, depois de ouvir o Autor, Joaquín Rodrigo, explicar a origem do que considero tremenda oração. Num momento em que, durante o parto, perante a iminente necessidade de optar pela companheira ou pelo filho, Juaquín Rodrigo não encontrou melhor lugar para meditação do que a música e os Jardins de Aranjuez. De acordo com as suas palavras, a possibilidade de perder Victoria deixou-o à mercê de todos os medos. Ele queria o filho, mas não podia perder a companheira. Queria a descendência, mas não podia ficar sem a menina que, menino, lhe servia de berço… Romântico, assumo que Aranjuez não é um simples e belíssimo concerto. É mais, muito mais: é uma simples e belíssima história de amor entre espíritos, compreendendo a amizade e o corpo…

Em fundo, a voz Divina, o bâlsamo-oboé que te conforta, que ameniza e fecunda e lapida as agruras da alma, e que releva, em ti, a coragem de quem, por amor, não aceita fugir no desespero... Sabes, Joaquin!..., todos sonham o amor sem freio nem limite, em dádiva recíproca, que apequene quaisquer imensidões... mas sem terem noção do que seja o amor. Diz-lhes, Joaquin, que Aranjuez não é o devaneio de um encontro, é a angústia inspirada por muitos momentos; o louvor temeroso de adeus; o céu composto à Terra Prometida. Aranjuez, Joaquin, é a marca sublime do amor eterno sem juramento nem compromisso; o abraço prometido pelo Cosmos às almas certas que se encontraram; que, sem medos, esqueceram os cálculos de futuro, porque, Joaquim, à eterna juventude, basta o amor de cada momento... Diz-lhes, Joaquin, que as trevas tomam o lugar da luz e te iluminam e te fazem sábio e santo, na oração a Deus, quando a Vida te ameaça de ensaio e de pranto... porque outra alma, complemento da tua, se debate com a morte. Diz-lhes, Joaquin, que te ilumina o clarão da Terra Encontrada, e são porquês, as pausas entre os dedos; questões que a Deus colocas, tão de repente O ouves, tão de repente te perguntas e te respondes, te inquietas e te acalmas, na esperança de que a Vida sobreviva e permaneça... Ai, Joaquin, Joaquin!..., o teu temor e o teu presentimento!... O teu entrar em ti para te abeirares de Deus... Para colheres dos seus olhos a vontade que nEle se constrói... Há requiém, Joaquin... Mas há, sobretudo, ascensão e preguiera... (Trecho inicial do poema “Em Aranjuez meu Amor”, da autoria de Rodrigo Costa)

www.rodrigo-costa.net |9|


ENTREVISTA

Alzira Peixoto e Carlos Mendonça

A simpleformsdesign é, desde o seu início, um exemplo de prática de bom design. Fomos recebidos no atelier do Porto pela dupla de criativos que tem sido a responsável pela consistência e sedução de todo um percurso produtivo de grande qualidade. Quisemos entender um pouco as razões do seu êxito e da visão que têm da sua actividade. Por Tiago Krusse Fotografia: Cortesia da simpleformsdesign

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Passados oito anos do início da vossa marca, quais foram os objectivos que concretizaram? Esta primeira fase estratégica assentou em três vectores principais: design português, distribuir design português e editado em Portugal no mercado internacional e construir a marca. Há oito anos atrás pensámos uma ideia clara e evidente de comunicar a marca. Comunicámos que Alzira Peixoto e Carlos Mendonça são os responsáveis de uma editora portuguesa, sedeada no Porto, que a produção é feita em Portugal e cujo nome é global. A estratégia clara é comunicar globalmente conteúdos que, supostamente através das matérias-primas ou através do desenho e do projecto, possam credenciar uma identidade portuguesa. Isto foi pensado há oito anos e hoje é uma realidade. Foi um risco contabilizado ou uma paixão que vos levou a decidir o que têm vindo a fazer? No design se começas a fazer as coisas pela via management estás tramado, pois vais ter de massificar o produto e vais estar com o intuito de fazer mossa em determinado segmento de mercado. Portanto aí tens problemas de compras… ou te amassam ou deitam fora o produto. Se tiveres paixão fazes isto com alguma poesia e alguns que te levam a sério… acabas por chegar ao sítio. Claramente nós não somos gestores, somos designers. Houve turbulências nessa paixão? Quando apresentámos pela primeira vez a colecção de aços na Ambiente, em 2000, regressámos a Portugal e o nosso fornecedor tinha falido. Fomos apanhados desprevenidos e tivemos de procurar um novo produtor. Estivemos numa reunião com um gestor da indústria que nos disse que o nosso projecto era fabuloso, muito bonito mas o melhor que poderíamos fazer era desistir desde logo. A simpleformsdesign nasce em 2004 mas nós começámos a preparar a marca em 1999, altura em que parámos de trabalhar para os nossos grandes clientes, no intuito de avançar com ela. Ao começarmos a construir uma marca fizemos vários testes ao mercado, apresentámos os produtos alicerçados nos nossos nomes para percebermos a sua receptividade. Não íamos queimar uma marca se o produto definido, independentemente de tudo, fosse mal aceite. Existiu uma estratégia, iniciada com muito dinheiro investido de capitais próprios. Podemos dizer hoje que no primeiro ano investimos o valor equivalente a dois automóveis de luxo. E como foi o arranque oficial? Em 2004 nós estávamos perfeitamente aptos a responder ao mercado. Estivemos a investir em viagens e a falar com

pessoas entendidas, durante quatro anos, para percebermos como iriámos conseguir, para além do facto de sermos designers, colocar a marca a andar. E estamos a falar de outras áreas que estão circunscritas ao processo. Para que os nossos conteúdos entrassem em processo industrial e de distribuição para os mercados, tivemos que estudar todo esse processo. Munimo-nos de conhecimento e de pessoas que nos pudessem auxiliar a colocar a marca em funcionamento. Do ponto de vista de emoção temos a que é necessária, a quanto basta, assim como de management e conhecimento profundo dos canais. O êxito surge de que forma? O produto pode ter algum sucesso, pode ser premiado e a imprensa faz um grande trabalho… a imprensa que também promove conteúdos e também se enriquece como projecto à custo disso, portanto há aqui processo simbiótico muito interessante em que o parasita passa ao parasitado e vice-versa, que é óptimo e é assim que deve funcionar. Mas há outra questão, o produto tem de chegar ao mercado. E chegando às pessoas tentamos perceber por que razões compram os nosso produtos e a partir daí é maturar o nosso conhecimento e transformá-lo em saber para poder desenhar novo produto. Que paralelo existe entre a dificuldade de sedimentar uma marca e os desafios que se levantam neste momento de crise? As crises são fundamentais para podermos arrumar a casa. Nós, como designers, somos interlocutores com a sociedade pois projectamos para o bem-estar e temos de fazê-lo com várias linguagens. As crises não são um problema para nós, são obstáculos. A empresa tem conseguido ultrapassar todos esses obstáculos. Se o projecto for fiável e tiver caminho para andar, não é o facto de existir dinheiro ou não haver financiamento ou até mesmo se verificar se se vende ou não que o vai tolher. Todos nós sofremos consequências desta crise mas também não deixámos de reparar em algumas situações que são bem características do país em que vivêmos. Por exemplo, em 2004 nós participávamos em feiras e verificávamos que tínhamos muitos parceiros ao nosso lado. No ano seguinte voltávamos a marcar presença nessas feiras e para nosso espanto olhávamos para esses parceiros que demonstravam um crescimento inacreditável, em comparação com a nossa estrutura. Mas percebíamos muito bem como esse crescimento era fruto de todo um conjunto de apoios oriundo de uma série de estruturas do país. No nosso caso, era notório que todo o crescimento que a simpleforms apresentava era consequência de um

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esforço inacreditável, apoiado em capitais próprios. Crescemos por nós e foi uma opção tomada desde logo. Estruturámos a empresa de forma rigorosa, cuidando do nosso trabalho e dando-nos a capacidade de poder ultrapassar os diferentes obstáculos. Por isso a crise… Existem oportunidades neste momento? Hoje não conseguiríamos fazer este projecto, isso é claro. Mas repara, se nós vendemos um conceito português que está alicerçado em três vectores que é a nossa estratégia e se estamos num país sem estratégia a marca do país não funciona lá fora. Por outro lado, se vais para o estrangeiro com um produto premiado isso exige logo outro tipo de respeito. Quando tens um projecto que é bem feito, que não sei se é o nosso, mas que vinga, aí então ninguém acredita que é sendo português. Não existindo auto-estima isso cria um mau clima interno que quando chegas lá fora os estrangeiros são levados a fazer a mesma leitura. Se hoje nós fôssemos avançar no preparatório para daqui a três anos termos uma marca e chegarmos ao mercado, sabemos que iria ser muito mais difícil. Porque decidiram trabalhar com matéria-prima portuguesa? Nós começámos a trabalhar com uma matéria-prima que não era portuguesa. O que pensámos é que sendo designers portugueses, tendo uma empresa portuguesa e trabalhando com produção portuguesa era impossível não termos chegado até à cortiça. Foi sempre um material que nos chamou a atenção mas nós também já andávamos há algum tempo a namorá-la.

pequenas quantidades. Ao trabalharem com um conjunto específico de matérias-primas e tendo em conta a performance delas, o que tudo isto vos obriga em termos de pesquisa e de análise de novas tecnologias ligadas à produção? Essa pergunta é uma resposta e só temos de dizer que sim. Obriga-nos a entrar por esse caminho. Damos o exemplo da cortiça pois há muita gente agora a trabalhar com cortiça e cada um faz o que pode e o que sabe. No nosso caso pudemos dizer que nos desenhamos a nossa cortiça. É uma matéria que levamos para laboratório e que é desenhada por nós. As novas tecnologias são importantes no vosso trabalho? São importantes e interessam-nos porque temos o propósito de maturar e levar até à exaustão o material. O engraçado é que as pessoas não fazem ideia de que nós desenhamos matéria-prima. Entendem o design no sentido de desígnio ou de desenho? Entendemo-lo com as duas componentes, do desenho e do desígnio. Há uma função, que existe, e que tem de existir no objecto e podes fazer isso com desenho. Não conseguimos ver as coisas em separado. www.simpleformstudio.com

E com as madeiras e o aço? Quando a empresa surgiu era maravilhoso ser designer em Portugal. Tínhamos a oportunidade de experimentar tudo e mais alguma coisa a nível de produção industrial, com um volume pequeno e controlado. Sentíamo-nos como uma criança numa loja de brinquedos. E a indústria nacional contínua a ter capacidade de resposta, em termos de materiais e de maquinaria? Sim, continua a ter. A indústria é feita por pessoas e não por máquinas. Podem existir máquinas excelentes mas se não se souber trabalhar com elas e se as pessoas que estão à frente delas não tiverem a vontade de trabalhá-las então não se faz nada. Há menos indústria mas ela existe. Temos capacidade de produzir bem, de uma forma óptima mas em

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Bath Collection


Cork Collection

Brushes Collection

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PERFIL

Joana Cabrita Martins

Fomos ao encontro da designer portuguesa cuja aposta de investimento na feira 100% Design, em Londres, lhe permitiu encetar parcerias e desenvolver novos projectos. Texto: Ana Lopes Fotografia. Pedro M. Barreiros

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A designer Joana Cabrita Martins nasceu em 1984. Natural de Faro, veio para Lisboa tirar o curso de Design de Equipamento na Faculdade de Belas-Artes – com uma breve passagem antes no curso de arquitectura do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa –, mas actualmente reside na sua cidade natal onde, acredita, o design está menos concentrado. O design sempre foi uma área que a fascinou e onde se sentia realizada. Em 2010 expôs publicamente as suas peças pela primeira vez. Em Setembro de 2012 conseguiu expor numa das feiras internacionais de design mais competitivas e dispendiosas da área, a 100% Design, em Londres. Segundo nos contou, teve dúvidas sobre se deveria participar ou não até ao último minuto, pensando muitas vezes no risco que estava a correr e no investimento que teria de fazer. Apesar dos muitos patrocínios pedidos e dos poucos concedidos, decidiu embarcar na aventura para aproveitar uma oportunidade que, confessa, acredita que dificilmente teria em Portugal. As peças que expôs em Londres, e nas quais continua a trabalhar, foi uma colecção de candeeiros que destacavam a ideia da reutilização de objectos velhos e usados. A designer arranja candeeiros antigos e remodela-os utilizando cápsulas de café da Nespresso, talheres e louça usados. O resultado são peças originais, com uma composição que se distingue pelo jogo entre o antigo e o moderno. À estrutura sóbria dos candeeiros, junta-se a vasta gama de cores das cápsulas e a mistura de texturas e formas diferentes. Visualmente, é um choque positivo; as diferentes combinações dão força às peças, que captam facilmente a atenção do espectador. Este conceito de reciclagem/reutilização vem do tempo do estágio da designer na empresa ReBrinca, que construía os seus brinquedos recorrendo quase exclusivamente à reutilização de materiais. A especificidade das cápsulas da Nespresso deve-se, no entanto, à sua parte estética. Infelizmente, não tem o patrocínio da marca, nem bebe café, mas, diz, conta com a ajuda da família e dos amigos que lhe fornecem e auxiliam com a recolha das cápsulas. A sua presença na feira de Londres, explica, foi “a melhor

coisa que fiz”. Valeu-lhe novos contactos e encomendas, estando actualmente a desenvolver projectos em parceria com a Vista Alegre. E embora comece também a trabalhar em objectos que não se assemelham tanto com as peças que apresentou na 100% Design, a Joana espera, no entanto, que as características das suas peças sejam, um dia, uma marca sua, identificável enquanto designer que é. http://joana-cabrita.wix.com/jc

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Sputnik Fotografia: Cortesia do estúdio Sputnik

Destacamos alguns dos mais recentes trabalhos do estúdio de design Sputnik, sedeado em Valência, em Espanha. A empresa é composta por Majo Fernández, María de la O Reyna, María Salar e Borja Sepulcre, elementos todos eles com percursos diferentes. A criação do estúdio dá-se pela vontade de produzir e com a missão de criar projectos inovadores e funcionais. A equipa faz uma abordagem nova a cada peça produzida, exigindo uma renovada visão sobre alguns objectos do quotidiano e dando-lhes formas ousadas. O espírito do design passa por uma identidade forte e um desejo de promover uma interacção com o utilizador promovendo a utilização de materiais reciclados. Deixamos uma pequena mostra de uma série recente de produtos que explanam não só a abordagem criativa e produtiva como também alguns princípios orientadores deste colectivo de designers. TK www.estudiosputnik.com | 16 |

Candeeiros Santorini, compostos em vidro e madeira natural e lacada


K collection, composta em cerâmica esmaltada e madeira natural

Sputnik, banco e mesa, composto em aço lacado e cortiça

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EM FOCO

Johan Lindstén

Nascido na Suécia em 1981, Johan Lindstén licenciou-se em design em Estocolmo, em 2008. Após completar o curso começou, como trabalhador independente, a projectar para algumas empresas e desde logo evidenciou conhecimento para abraçar uma diversidade de gamas de produtos. Concebeu e produziu algumas edições limitadas, direccionadas a museus, assessórios para dispositivos electrónicos, mobiliário e material para insonorização. Em 2011 no Salone Satellite, do Salão Internacional do Móvel de Milão, Johan Lindstén é distinguido com um prémio por ter apresentado um dos melhores produtos da exposição dedicada aos novos talentos. Com o Lindstén Form Studio a operar, a partir de Estocolmo, como empresa de design, o criativo tem vindo a merecer o interesse de companhias estrangeiras. Na sua abordagem ao processo criativo e produtivo, Lindstén advoga que forma e expressão combinadas com função é essencial para o resultado final. O designer encara a profissão como uma oportunidade de expressar emoções e pensamentos para objectos físicos. Sente-se grato por ter a liberdade para influenciar o estado de espírito das pessoas fazendo chegar ao seu ambiente produtos que contribuem para uma atmosfera mais elegante e alegre. TK www.lindstenform.com | 18 |

Meltdown, para a Cappellini

Speed, para a Johanson Design


Gravity, para a FontanaArte

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CADEIRAS

“Zueco Little Perillo blue”, design de Martin Ballendat para a Dauphin Fotografia: Dauphin HumanDesign Group

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“Friday 1� da Zeitraum Fotografia: Cortesia da Zeitraum

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“Kobi�, design de Patrick Norguet para a Alias Fotografia: Cortesia da Alias

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“Saya�, design de Lievore Altherr Molina para a Arper Fotografia: Cortesia da Arper

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“Husk�, design de Patricia Urquiola para a B&B Italia Fotografia: Cortesia da B&B Italia

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“Raviolo�, design de Ron Arad para a Magis Fotografia: Cortesia da Magis

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“Broom”, design de Philippe Starck para a Emeco Fotografia: Cortesia da Emeco

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“Moon�, design de Tokujin Yoshioka para a Moroso Fotografia: Cortesia da Moroso

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nya nordiska

Uma experiência quase táctil por um actual conjunto de propostas da empresa alemã produtora de bom design têxtil. Centramonos na colecção “Best Of” divulgando algumas das novas edições dos seus 25 básicos. Fotografia: Cortesia da nya nordiska

Aida

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Inpetto

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Lea

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Logo

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Rio Bravo

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Rio Grande

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Rio Uni

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Sahara

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York

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York korr

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Gentle Giants Fotografia: Cortesia da Gentle Giants

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Michael Breschi nasceu em Itália em 1984, tendo-se licenciado em design industrial na Universidade de Florença em 2010. No ano passado decidiu iniciar o seu estúdio Gentle Giants. Já com um bom currículo produtivo numa abrangente gama de projectos, o designer tem vindo a explorar as fronteiras da arte e do design. Divulgamos um conjunto de colecções que tornam evidente uma identidade própria e um interessante conceito de utilidade estética.

www.gentlegiants-studio.com

Glenda, da colecção D. Wood produzida pela Tessitura Di Rovezzano

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Criswell, da colecção D. Wood produzida pela Tessitura Di Rovezzano

Porcelain Industry, vasos de porcelana com base metálica

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Boyo, vaso produzido pela Plust

Harbo, vaso produzido pela Plust

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EM FOCO

Joรฃo Gonรงalves

Fotografia: Mรกrio Guilherme

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“Maraca-mealheiro” Fotografia: Mário Guilherme

O designer João Gonçalves possui já um pequeno mas consolidado percurso de trabalho, que deriva de habilitações académicas e técnicas que lhe permitem transpor a criatividade em bem estruturados produtos. Em 2008 termina um bacharelato de artes em design industrial, na ESAD das Caldas da Rainha, a que juntou um semestre na ESAD em Reims, França, ao abrigo do programa Erasmus. A partir de 2009 enceta um percurso profissional, quer em Portugal como no estrangeiro, do qual se destaca a passagem pelas marcas Hülsta, Formfjord, Branco Sobre Branco e Toni Grilo Design Studio. São trabalhos essencialmente focados em design industrial e de ambientes. Todos eles pautados por uma preocupação relativa ao utilizador, no sentido de que ele possa beneficiar da experiência com o produto e não esquecendo os requisitos de acompanhamento providenciados ao cliente. Aos propósitos do seu trabalho, João Gonçalves gosta de praticar um design com preocupações ambientais, económicas e emocionais enquadradas dentro uma estratégia delineada para cada projecto. A viver e a trabalhar em Berlim, na Alemanha, estes seus últimos dois anos preenchidos por trabalhos de design de iluminação, produção de assessórios para cozinha e aplicação eléctricas para clientes estrangeiros. Ao nível do reconhecimento do seu trabalho, em eventos de design, concursos ou feiras, sobressai a “Maraca-mealheiro”, o projecto vencedor, em 2011, no POPs – Projectos Originais Portugueses, promovido pela Fundação de Serralves e a cadeira “Serena”, que foi um dos produtos vencedores do concurso internacional Art On Chairs, organizado e promovido pelo Polo de Design de Mobiliário de Paredes. www.joaogoncalves.me

“Serena”, design de João Gonçalves e produção da Cadeiras Machado Fotografia: Polo de Design de Mobiliário de Paredes

“Rolhiça” Fotografia: João Gonçalves

“Waterfactory”, conceito de equipamento para casa-de-banho

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FontanaArte, 80 anos de inovação

“Pangen”, de 1961

Fundada em 1932, a empresa italiana FontanaArte tem vindo a deixar um conjunto de produtos que através da sua inovação, ideias e estilo marca alguma da história do design italiano e mundial. Nascida de uma ideia de Gio Ponti, tem sabido preservar a sua orientação e focado o seu interesse nos campos da iluminação e do design de interiores. Divulgamos aqui a edição limitada de produtos emblemáticos que comemora oito décadas de percurso criativo. Fotografia: Cortesia da FontanaArte

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“Ashangai”, de 1955, design de Max Ingrand

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“Mano�, de 1932, design de Pietro Chiesa

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“Corteccia”, de 1937, design de Pietro Chiesa

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Um simples café

Ao olharmos para “Unplugged”, da Koziol, esboçamos de imediato um sorriso espontâneo. Percebemos logo esse regresso à simplicidade e como se pode descomplicar um acto tão usual como fazer um café. A marca alemã habitua-nos sempre a melhor design com uma boa dose de humor. É interessante percebermos como algumas empresas brincam com os próprios conceitos do design colocando em cheque reflexões e princípios propostos por grandes nomes na área. E dentro da filosofia do “menos mas melhor”, difundida por Dieter Rams, este “Unplugged” chama de novo à razão para esse voltar à pureza e ao menos design possível. E torna-se quase inevitável voltarmos aos anos 70, quando o próprio Dieter Rams começou uma série de projectos de máquinas de café expresso para a Braun. E esse processo de design industrial de máquinas de café Braun estendeu-se até aos naos 90, tendo dado origem a outras gamas de produtos eléctricos direccionados à área alimentar. Não há excessos de simplicidades em “Unpluged”. É uma peça bem desenhada e que recusa na sua função todo um composto baseado numa complicação de elementos. | 48 |

Os peritos e amantes desta bebida são unânimes em afirmar que o melhor café do mundo é feito à mão. A Koziol foi ao encontro dessa opinião e produziu esta “máquina” de café que permite efectuar o modo de preparação vencedor. A receita é simples e junta o filtro de papel, café moído e água bem quente. Foge aos excessos tecnológicos optimizando os gastos de tempo com cuidados de manutenção ou limpeza. Tem também uma vertente ambiental pois que os filtros de papel e borras de café são biodegradáveis. Este “Unplugged” lança o repto a que compradores e utilizadores voltem a um cerimonial de tirar café tradicional, através de um produto útil, com um preço razoável e com respeito pelo meio ambiente. TK

www.koziol.de


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FOOD DESIGN

José Avillez

LEITÃO REVISITADO

Ingredientes para 4 pessoas

Preparação

Para o Leitão 1 manta de leitão Sal q.b. 2 ramos de Tomilho 2 ramos de Alecrim 3 folhas de Louro 6 dentes de Alho 10 grãos de pimenta preta 2 laranja

Leitão Limpe a manta de gorduras e coloque numa salmoura líquida durante 1h30m. Limpe com uma toalha e deixe secar bem no frigorífico. Cozinhe a 68ºC durante 36 horas e arrefeça 30 minutos à temperatura ambiente, 30 minutos dentro de água fria e, por fim, 1 hora em água com gelo. Retire os ossos e as cartilagens e reserve.

Para o Puré de casca de laranja 100 g de casca de laranja (sem a parte branca) 30 g de água 75 g de açúcar 100 g de sumo de laranja 40 g de calda de cozedura 15 g de azeite Vinagre de cidra q.b.

Puré de casca de laranja Prepare uma calda com a água e o açúcar e coza a casca da laranja (só o vidrado) durante 10 minutos. Escorra, mas reserve 40 g da calda da cozedura. Triture a casca de laranja cozida com o sumo de laranja, a calda da cozedura e o azeite. Passe por um superbag e reserve. Tempere com vinagre de cidra.

Para o Molho de pimenta 400 g de aparas de leitão 2 g de Pimenta preta em grão para 500 ml de molho

Molho de pimenta Faça o molho com as aparas de leitão e aromáticos. Ligue com os grãos de pimenta escaldados.

Para finalizar 4 corações de alface Alho negro 28 batatas chips caseiras 4 sacos de obulato

Finalização Com um peso por cima, salteie o leitão no tepan até ficar bem crocante e dourado. Coloque as batatas dentro do saco de obulato e sele com a ajuda de um aparelho próprio para o efeito. Salteie os corações de alface e emprate com o molho á parte. Sirva de imediato. www.joseavillez.pt

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ATELIER EM MONTERREY Arquitectura: S-AR staci贸n ARquitectura Texto: Tiago Krusse Fotografia: Ana Cecilia Garza Villarreal

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No noroeste do México fica a cidade de Monterrey, cujas produções mais importantes são a cerveja e os têxteis. A empresa S-AR stación ARquitectura é composta por quatro jovens arquitectos mexicanos: César Guerrero, Ana Cecilia Garza, Carlos Flores e Maria Sevilla. Nesta última década a empresa tem vindo a acumular distinções pela obra feita e o seu trabalho tem merecido difusão internacional em publicações da especialidade. É em Monterrey que esta jovem equipa decide fazer a sua base de trabalho. Um lote de terreno com 100 m2 foi o espaço desejado e necessário para construir o seu atelier. O projecto é de 2009 e a obra foi concluída em 2011. Os principais materiais utilizados foram o betão, o aço e o vidro. O atelier está localizado na parte posterior de um terreno e o seu volume está parcialmente enterrado, o que permitiu manter a profundidade visual aí existente. O volume integra duas áreas de trabalho. O módulo de serviços, composto por uma casa-de-banho, um quarto para armazenamento e uma área de limpezas divide as áreas de trabalho. Uma clarabóia, de abertura manual, serve também como ventilação do atelier.

O espaço interior cria uma relação nas suas extremidades com os seus dois pátios. Um é utilizado como o principal acesso ao atelier, através de uma escada produzida em aço e um pavimento em pedra. O outro situa-se ao lado de uma sala de reuniões, permitindo não só a entrada de luz natural como também funcionando para a ventilação. As portas, o mobiliário e as mesas de trabalho são feitas em laminados de madeira, um material que acaba por gerar uma linguagem comum entre os objectos e as maquetas produzidas pelo atelier. O perímetro do volume consiste numa parede estrutural produzida em betão reforçado em forma de u. Ele aguenta um sistema de paredes de enchimento em betão e uma cobertura metálica. No seu lado longitudinal estão enterradas paredes duplas em conformidade com o sistema de drenagem das águas da chuva. Também drena a água absorvida do terreno adjacente. A água recolhida é armazenada em tanques, situados nos pátios, sendo depois utilizada para irrigar as plantas e árvores existentes. O aspecto natural dos materiais foi deixado exposto, o desígnio foi o de permitir uma observação limpa de todo | 57 |


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o sistema construtivo desde o interior do edifício. O ferro trabalhado foi feito à mão, assim como os puxadores e os fechos das caixilharias metálicas das portas envidraçadas. Estas portas foram colocadas sobre o ferro trabalho, fixas com fita adesiva e silicone estruturadas do lado de fora. Este processo evita a exposição do ferro reduzindo assim os seus cuidados regulares de manutenção. O acesso ao telhado é feito através de uma escada de marinheiro metálica e que torna possível a manutenção das máquinas da ar-condicionado colocadas dentro de uma caixa feita em madeira reciclada. Alguma da vegetação do terreno entra pelo espaço do atelier. A claraboia e as janelas produzem enfiamentos e uma ligação com essa vegetação. A orientação do volume ganha a sombra das árvores que mais o muro do vizinho permite reduzir o consumo do ar-condicionado. Estamos perante um projecto simples, composto apenas pelos seus elementos essenciais e em que foi dada uma atenção à contenção de custos e ao bom uso dos mate-

riais. É um atelier depurado, feito com precisão e elegância tendo em mente a sua utilização e localização. www.stacion-arquitectura.com

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MUSEU NO MICHIGAN Arquitectura: Zaha Hadid Architects Texto: Tiago Krusse Fotografia: Iwan Baan

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O Eli and Edythe Broad Art Museum é um projecto da autoria da Zaha Hadid Architects para a universidade estatal do Michigan, nos Estados Unidos da América. O museu, com uma área de construção de 46 mil m2, é de 2007 e foi concluído o ano passado tendo aberto as portas ao público em Novembro. Vamos buscar a origem etimológica da palavra topografia, na junção de topos (lugar) e graphein (desenhar ou escrever) para dissertarmos um pouco sobre este trabalho liderado por Zaha Hadid. É que mais do que uma boa medição do campo universitário ou de um rigoroso levantamento do cadastro da propriedade, o novo museu quis ocupar o seu lugar e ao mesmo tempo preservá-lo na sua riqueza de enfiamentos visuais, com uma rede de caminhos pedonais que se interligam naquela área e se estendem na sua relação com a cidade. Junta-se a isto mais uma camada de ligações, entre avenida e ruas, que torna ainda mais complexa a manutenção dos movimentos de circulação existentes neste ponto intermédio entre a cidade e campo universitário. Foi a partir das ligações visuais e das linhas de circulação que se criaram dois planos dimensionais. Ao dobrar estes dois planos, a composição formal do museu ganhou um carácter de espaço tridimensional que define uma paisagem interior que congrega e estabelece um diálogo com | 70 |

os diferentes caminhos pelos quais as pessoas atravessam ou circundam o lugar. Esta comunicação que interliga geometrias descreve uma série de espaços que se tornam numa variedade de imediações que permitem criar diferentes interpretações ao elaborar exposições. Por intermédio desta complexidade é oferecida uma maior liberdade aos curadores para estabelecerem os seus próprios programas e distintos desígnios expositivos. A pesquisa detalhada da paisagem, topografia e circulação no lugar permitiu verificar e compreender a importância de todas as redes de ligação. Ao utilizar estas linhas para comunicar o design, o museu encaixa-se no contexto da Universidade Estatal do Michigan preservando a sua forte ligação com as zonas envolventes. Estamos perante um volume de aparência afiada, com as suas dobras direccionadas que reflectem as características topográficas e circulatórias da paisagem. A sua pele é como que um jogo de espelhos dessas diferentes direcções e orientações. Com tudo isto o edifício ganha uma aparência camaleónica que desperta curiosidade sem nunca revelar o seu conteúdo. O espírito desta arquitectura sublinha a função de polo cultural que o museu tem para a comunidade. No interior do museu os ângulos criados estabelecem uma complementaridade com os programas definidos


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para cada piso. São ângulos que se abrem e se fecham mas sempre com um sem número de enfiamentos, quer na sua relação interna como na dialogante ao exterior. O contraste dos materiais e suas cores estabelecem diferentes atmosferas com os seus distintos propósitos. A luz faz realçar ainda mais toda a força gráfica e a dimensão dada a cada área específica do edifício. Há neste trabalho da Zaha Hadid Architects um interessante compromisso urbanístico, tendo em consideração não só o contexto em que se insere a Universidade Estatal do Michigan mas também o lugar que o museu ocupou, e a expressão de um espírito de arquitectura. Há um espaço que foi bem interpretado, preservando a harmonia dos pontos principais do lugar em torno do novo edificado mas criando um elemento “vivo” que assim permite projectar para outra dimensão o carácter do lugar, estabelecendo mais uns interessantes percursos a explorar pelas comunidades locais e visitantes.

O Broad Art Museum tem como finalidade explorar a cultura contemporânea e dar uma abrangente perpspectiva das ideias através da produção artística. Tem também como propósito servir como fonte de cultura para a sua comunidade universitária e como centro cultural. O museu exibirá trabalhos contemporâneos dentro de um contexto histórico e permitirá o acesso a uma colecção de estudo, composta por mais de 7 mil e 500 objectos que vão desde os períodos da antiguidade clássica até à arte moderna. www.zaha-hadid.com

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MORADIA EM LAGO DE COMO Arquitectura: Studio Marco Piva Texo: Tiago Krusse Fotografia: Cortesia do Studio Marco Piva

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O Studio Marco Piva procedeu a uma reforma numa moradia localizada perto do Lago de Como, no norte de Itália. Um trabalho concluído em 2012 e que teve como intuito criar um novo ambiente, exterior e interior, de uma habitação unifamiliar já existente. O arquitecto Marco Piva traçou um novo programa no qual deu importância à introdução de novas janelas e a criação de um estúdio envidraçado com uma relação próxima com o jardim. Com uma área interior com mais de 532 m2 e um total de 227 m2 de áreas exteriores cobertas, o cliente requisitou um espaço marcado pelo conforto e a tranquilidade. O objectivo do design foi o de harmonizar a habitação com a natureza. O trabalho de exterior foi desenvolvido com o propósito de preservar a estrutura formal e o seu enquadramento no terreno. Foram adoptadas cores mais suaves para as fachadas e a inclusão de materiais naturais foram essenciais para estabelecer uma complementaridade com o novo programa de arquitectura paisagista implementado no lote. A alteração e colocação de novas e maiores janelas trou| 88 |

xeram um novo dinamismo na relação interior/exterior. Para além de tornar a transparência num ponto forte, encetando uma interacção com a paisagem, o vidro trouxe consigo uma nova luminosidade e leveza à construção pré-existente. No interior o ritmo é marcado pelo design de iluminação, explorado por diferentes opções técnicas e estéticas, bem como por uma selecção de mobiliário de linhas simples. A cor banca impera e permite que assim se crie um forte contraste não só com as cores do mobiliário como também nas cores dos materiais de construção. Tudo isto permite realçar o ambiente elaborado, dando uma maior sensação de espaço e estabelecendo uma continuidade pelas diferentes áreas da casa. Um projecto simples, com o objectivo de criar uma atmosfera elegante e confortável. Foi alcançada também uma harmonia com a natureza e uma mais feliz integração no ambiente da região. www.studiomarcopiva.com


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CENTRO DE DESIGN EM MONTPELLIER Arquitectura: Jean Nouvel Texto: Tiago Krusse Fotografia: Erik Saillet

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O RBC Design Center, em Montpellier, em França, é um edifício projectado por Jean Nouvel. Inaugurado em Junho de 2012 para celebrar o 25.º aniversário da rede de lojas RBC – fundada em Nimes em 1987 por Franck Argentin – esta nova construção, localizada no distrito de Port Marianne, expressa desde logo o seu propósito de servir de inspiração para um conjunto de profissionais ligados à arquitectura e ao design. Mas a sua transparência, sem revelar o recheio, e as palavras em grande formato, colocadas na fachada, convidam a entrar todos aqueles que se interessam pelo espírito do design. Com os seus 2 mil m2 de área coberta, o edifício vai para além de uma simples loja pois que o seu programa de interiores designou um percurso de pisos com áreas destinadas a diferentes propósitos, desde uma livraria, passando pelos expositores de marca e chegando ao restaurante MIA. No princípio o dono da obra imaginou um edifício de 3 pisos mas Jean Nouvel apresentou antes um projecto com 8 mezaninos. O edifício é suportado por imensa estrutura em aço que permitiu libertar o espaço dos tradicionais pilares que seriam exigidos. Esta estrutura em aço, coberta | 104 |

por painéis em vidro, foi providenciada por uma empresa especializada, a Castel & Fromager. A estrutura, em forma de h, eleva-se a 18 metros, sendo através dela que se suportam as vigas, posicionadas de ambos os lados de um eixo central. Esta solução técnica permite criar a ilusão de um efeito de levitação dos mezaninos. Para criar um efeito ainda maior de levitação, foram aplicadas malhas em aço inoxidável pelos mezaninos, que para além de funcionarem como barreiras de protecção e de segurança entre os diferentes pisos também permitiram potenciar toda a transparência idealizada para existir entre eles. O próprio elevador, concebido em vidro e aço, funciona por intermédio de um êmbolo e sem criar qualquer tipo de ruído visual derivados da casa das máquinas ou dos cabos. À exigência técnica da obra e a arquitectónica junta-se a capacidade de Jean Nouvel em corresponder às expectativas do funcionamento do centro. Foram tomadas em consideração a circulação de trabalhadores e visitantes assim como as especificidades exigidas por cada espaço expositivo, onde cada marca e designer poderão definir


o seu conceito. Há também uma agradável relação do interior com o exterior, nesse enfiamento de dentro até aos terraços e vice-versa. Os detalhes de funcionamento no seu todo foram levados em consideração, quer na concepção de mobiliário para cada específico lugar como na fluidez de todos os tipos de circulação. Estamos perante um edifício que se revela de aparência simples, com uma identidade própria e com a capacidade de atrair visitas.

www.jeannouvel.com | 105 |


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LEITURAS Foram editados mais 3 volumes da Colecção D, desta feita dedicados a Pedro Falcão, Paulo-Guilherme e Marco Sousa Santos. O investimento na Colecção D parte da Imprensa Nacional Casa da Moeda e conta com a parceria do MUDE – Museu do Design e da Moda. Depois de editados os primeiros volumes, R2 e Victor Palla, juntam-se mais três autores com trabalho nas áreas do design de comunicação, design de produto e design de interiores. A edição e produção desta colecção, da responsabilidade de Jorge Silva, fascina-nos pela boa qualidade gráfica mas também pela consistência dos textos e das imagens dedicados a cada um dos autores seleccionados. Registamos com agrado mais uma iniciativa que vem contribuir para o levantamento e enquadramento histórico dos designers portugueses, deixando uma boa mostra, sobretudo visual, de boa prática da disciplina protagonizada por estes autores. É interessante registarmos a iniciativa da Imprensa Nacional Casa da Moeda que aposta numa temática que sai fora da sua tradicional linha de trabalhos editoriais. Para lá das considerações possíveis sobre a selecção destes primeiros autores, pensamos que estes volumes são um bom utensílio para a reflexão e valorização do trabalho dos designers portugueses. É um bom caminho iniciado, que terá novos volumes, e que estimula uma desejável compilação do trabalho de criativos nacionais difundindo a importância que eles também assumem para uma melhor compreensão da profissão. D3, D4 e D5 Imprensa Nacional Casa da Moeda Conceito: Jorge Silva

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O German Design Council apresenta-nos os dois volumes do German Design Award 2012, em versão bilingue Alemão/Inglês. Num primeiro volume estão catalogados todos os produtos nomeados, perto de 470 páginas nas quais podemos depreender não só a extensão das diferentes categorias de produtos analisadas bem como a qualidade dos projectos proponentes. No segundo volume, menos extenso, o destaque é dado aos produtos premiados com ouro e prata. Estes dois volumes servem-nos como um bom registo da abordagem feita ao design pelo German Design Council mas expressam também uma contínua actividade entre designers e industrias. Dão-nos uma visão da profundidade da profissão e a forma como ela se estende por diversos sectores de actividade. Entende-se uma capacidade de produção que nos permite perceber os avanços da tecnologia e de nos rendermos à infinita capacidade criativa do Homem em apresentar soluções inovadoras. É curioso como entendemos de forma quase intuitiva, através das fotografias, a função primária de cada produto. Se nalguns a componente tecnológica é primordial já noutros os humores estéticos revelam-se também mais-valias. É notória uma maior quantidade de produtos direccionados para o consumo de massas e aí encontramos um pouco do propósito das marcas em irem ao encontro da insatisfação permanente dos consumidores. Neste aspecto é revelado um pouco como alguns produtos sofrem mais com a desactualização, sobretudo ao nível do desenho. Nos produtos de grande utilização o factor da durabilidade sobressai e aí compreendemos como as diferentes industrias gerem os seus negócios. Há muitos anos atrás, a produção, por exemplo de electrodomésticos, foi toda ela pensada para que a durabilidade e fiabilidade dos mesmos durasse quase um ciclo inteiro de vida. Essa abordagem levou à falência algumas marcas de referência e trouxe consigo uma nova missão e estratégia aos negócios. É curiosa a forma como hoje a generalidade dos consumidores dá por consumado um ciclo menor de durabilidade dos produtos. Se por um lado alguns destes produtos perderam em durabilidade também é um facto que muitos deles passaram a contabilizar outro tipo de factores como a eficiência ou a precisão. Estes factores são agora contabilizados não só nos produtos finais como também no decorrer de todo o processo de produção. Apesar do incremento de novas e mais complexas características tecnológicas, os produtos continuam a tender para uma simplificação na utilização e para o ganho de comodidade. Não deixa de ser curioso registar que no volume dedicado aos premiados, os 10 produtos distinguidos com ouro são tão distintos na sua função ou utilidade. O júri não deixa um traço de defesa de uma tendência ou de uma propensão para a defesa de um conceito. De entre eles ficámos surpreendidos pela concepção de uma muleta, design de

Ganymed, que pela sua estrutura e estudos ergonómicos consegue atingir uma interessante harmonia entre as suas qualidades estéticas e funcionais. Nos 39 produtos distinguidos a prata a decisão dos jurados mantém a coerência da decisão na atribuição do prémio. Foram tidos em conta um conjunto de parâmetros de avaliação que permitiram abrir a um maior leque de produtos a oportunidade de evidenciarem o seu bom desgin. Em ambas as distinções, ouro e prata, registamos duas nomeações para o designer Stefan Diez, nomeadamente para a cadeira CH04 Houdini, para a e15, e a cadeira Chassis, para a Wilkhahn. German Design Award 2012 German Design Council

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ESCUTAS Para celebrar o 35.º aniversário do álbum Slowhand, a Universal lançou uma edição de luxo de um dos mais memoráveis registos de Eric Clapton. São os 9 temas mais complexos de analisar desde músico não só pela época, 1977, como também pelos estilos musicais que aglomera. Se a versão de Cocaine ou Wonderful Tonight ficam como caixas iconográficas da memória sonora que fazemos de Clapton, a verdade é que The Core ou Mean Old Frisco dão-nos essa eterna identidade do guitarrista. Mas juntam-se mais preciosidades nunca antes editadas, Looking At The Rain, Greyhound Bus e Stars, Strays And Ashtrays. Para além destes extras, a edição conta com um segundo disco, o registo de um concerto no Hammersmith Odeon, a 27 Abril de 1977. Um duplo álbum que revela todo a potencial criativo de Eric Clapton, nas suas diferentes sensibilidades de instrumentista e compositor. É também um bom registo histórico da amálgama criativa da música popular do final da década de 70.

Eric Clapton Slowhand Universal Music Group

É mais um prolongamento na carreira musical de João Gil, agora com este primeiro leque de temas de Vitorino Voador e o seu Vitorioso Voo. Seis temas que explanam um gosto pessoal pela mistura dos géneros musicais e por uma tendência a cair para a canção quase falada. Teclas, cordas e voz em diálogos melódicos quebrados por efeitos de produção e batidas mecânicas. Há ao longo dos temas um fio condutor, sobretudo na mistura dos géneros e no quase monocórdico cantar dos poemas. Sentimos uma vontade de criar todo um dramatismo sonoro em que as letras complementam essa busca de intensidades. Pensamos que a tentativa de harmonizar camadas de som com texturas diferentes acabou por não ser a mais feliz. Talvez uma produção mais simples e depurada tivesse permitido criar uma maior proximidade ao espírito intimista do álbum. O título Vitorioso Voo poderá ser uma analogia para um libertar de amarras rumo a um novo destino. A impressão que nos deixa é de um músico à procura da sua identidade.

Vitorino Voador – Vitorioso Voo Optimus Discos

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A frescura da voz áspera de Neneh Cherry continua intacta. E neste The Cherry Thing vamos apanhá-la numa sedução jazzística e por terrenos rítmicos menos convencionais. Se Cashback sai fora, sem grandes exageros, das cadências ou de um ritmo básico, já o segundo tema do álbum, Dream Baby Dream, vai até às raízes do jazz vocal, com uma vertente para os blues e outra para o cântico. A partir do terceiro tema, Neneh e o colectivo The Thing partem numa verdadeira desbunda de sopro, percursão e uma voz apurada e encaixada nesse aparente caos melódico. Há uma coerência e a indisciplina não resvala nem um pouco para o insuportável improviso matemático. Isto explica-se na intensidade de Sudden Moment e a partir daí a elegância avança por um estilo intenso, forte e mais estruturado. É como se Neneh Cherry se deixasse impor a uma camisa de forças mas sem que isso a fizesse perder o à-vontade de espernear a sua voz pelas libertinas fúrias dos instrumentos de sopro. E tudo acaba bem com What Reason, de Ornet Coleman, em atmosfera de fantasia.

Neneh Cherry & The Thing – The Cherry Thing Smalltown Supersound Distribuição: Distrijazz

A partir de 1960 alguns dos amantes e seguidores da história do jazz distinguem os músicos de maior reputação sendo eles Milles Davis, John Coltrane, Thelonious Monk e Bill Evans. E este conceito de reputação não derivava tanto da fama que os seus intervenientes mereciam dos seus públicos distintos mas antes da sua capacidade de fascinar audiências e peritos na matéria. E no piano eram dois “monstros”, Thelonious Monk e Bill Evans, que reuniam as preferências das audiências mais ecléticas e das mais populares também. O parecer melhor era derivado das performances de espectáculos ao vivo e da sua capacidade de fascinar audiências tão distintas. Este Momentum é um registo especial, pois resulta de uma cópia de um concerto preservado em fita por mais de 40 anos. Um registo de um pequeno concerto em Groningen, na Holanda, em 1972, em que Bill Evans se fazia acompanhar pelos seus companheiros de estrada, o baixista Eddie Gomez e o baterista Marty Morell. É mais uma prova, com toda a qualidade, do génio do pianista. Uma pérola!

Bill Evans – Momentum Limetree Distribuição: Distrijazz

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http://revistadesignmagazine.com/subscreva/

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