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EDITORIAL
Tiago Krusse
A DESIGN MAGAZINE celebra nesta sua 12.ª edição Julho/ Agosto o seu segundo aniversário enquanto órgão de comunicação social português. Dois anos passados e a paixão mantém-se, com uma entrega por parte de toda a sua pequena equipa que bimestralmente faz chegar a revista a mais de 3 mil subscritores, nacionais e estrangeiros, e a um sem fim de leitores que acedem às plataformas digitais em que marcamos presença. Obrigado a todos! Não escondemos que tem sido, para nós, um ano ainda mais exigente do que o inicial. Apesar dos bons números de leitura das edições, numa média superior aos 20 mil leitores por cada nova revista, a verdade é que o investimento publicitário retraiu-se de forma brutal e ainda com maior incidência para um órgão de comunicação social com as características do nosso, apenas existente em formato digital. O muito pequeno investimento publicitário continua a ser maioritariamente estrangeiro e decidido directamente pelas empresas, sem o intermédio das agências de meios. Aguardamos por visões mais largas… Como revista de subscrição sem custos, a nossa única fonte de receita é o investimento publicitário. Uma estratégia que delineámos antes de arrancarmos e que não iremos alterar. Este factor tem sido relevante para o aumento de subscritores da revista e para uma mais ampla penetração nos leitores que utilizam a língua portuguesa. Continuando e mantendo a versão apenas em língua portuguesa, a nossa decisão não se tem revelado um entrave à difusão da revista por leitores que não dominam o português. Escolhemos um trajecto mais exigente mas seguramente mais compensador, porque um dos nossos objectivos é chegar a toda uma comunidade lusófona espalhada por esse mundo fora. Estamos a concretizá-lo aos poucos e o Brasil é uma boa prova disso. Continuamos a difundir sem termos aceitado o Acordo Ortográfico. Nesta edição de aniversário decidimos pegar numa ideia, lançada há uns anos pela banda Radiohead, na qual propomos aos nossos leitores a possibilidade de contribuírem com um valor que julguem justo por cada nova edição da revista que recebem. Sem obrigatoriedades, cada um decidirá se apoiará ou não esta iniciativa que começamos a divulgar a partir deste número. A Vossa atenção para o link abaixo: http://revistadesignmagazine.com/apoie-a-design-magazine-support-the-design-magazine/ tiago_krusse@netcabo.pt |2|
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SUMÁRIO
Quadro Negro, opinião de Rodrigo Costa
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Individuaniilismo, ensaio de Francisco Vilaça
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Entrevista a Jader Almeida
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Michaël Bihain
20
Sandra Costa
28
DAM
32
Mr. Less & Mrs. More
36
Suri Collection
40
Raphaël Vivier
46
Tânia da Cruz
48
Two Six
52
Food Design por José Avillez
58
Entrevista a Sofia Mourato
60
Restaurante em Xangai
66
Rochus 1090
76
Baía de Luanda
84
Casa Bioclimática na Bretanha
90
Leituras e Escutas
100
Fotografia da capa é de Rui Gonçalves Moreno ESTA REVISTA ESTÁ REDIGIDA NA ORTOGRAFIA PORTUGUESA |4|
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design MAGAZINE Director Editor Tiago Krusse Produção Gráfica e Digital Joel Costa / Cátia Cunha Colaboradores Ana Lopes (Lisboa) Bruno Bailly (Chaponost) Carlos Pedro Sant’Ana, (Ilhabela) Francisco Vilaça (Estocolmo) Nathalie Wolfs (Bruxelas) Rodrigo Costa (Porto) Fotografia FG+SG - Fotografia de Arquitectura João Morgado - Fotografia de Arquitectura Rui Gonçalves Moreno Publicidade http://revistadesignmagazine.com/publicidade/ Comunicação Newsability Comunicação Ana Teixeira Alves aalves@newsability.pt Contacto de redacção DESIGN MAGAZINE Jardim dos Malmequeres, 4, 2.º Esquerdo 1675-139 Pontinha (Odivelas) Portugal tiago_krusse@revistadesignmagazine.com Editora Elementos À Solta - Desenvolvimento de Produtos Multimedia Lda. Rua Adriano Correia Oliveira, 153, 1B 3880-316 Ovar - Portugal NIPC: 503 654 858 www.elementosasolta.pt Media criado e registado em 2011 Registo da Entidade Reguladora da Comunicação: 126124 |6|
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OPINIÃO
Rodrigo Costa
Quadro Negro … Pareceu-me ser o título mais adequado, porque Portugal está transformado num quadro de quadros, a que se juntou, agora, o quadro escolar; uma guerra entre Governo e professores, com os alunos e os pais dos alunos pelo meio; e com renovada discussão sobre qual, de entre a moral e a Lei, deve ter a preponderância. Este é o segundo “round”. O primeiro foi aquando da submissão do Orçamento de Estado à análise do Tribunal Constitucional. Nessa altura, entenderam, uns, que o TC se limitou a cumprir os preceitos constitucionais; entenderam, outros, que a situação do País, por excepcional, exiria excepcionais tolerâncias; que se imporia ignorar a Lei, sem que isso representasse a mínima falta de respeito pelas normas estabelecidas. Quer dizer; havia um mapa legal; um conjunto de pessoas empossadas e pagas para fazer cumprir parâmetros antecipadamente pensados, acordados e inalterados, até ao momento da apreciação; mas que não poderiam ou não deveriam ser obstáculo no momento de desenrasca. Se já na altura fiquei sem saber, exactamente, para que serve a Constituição, as minhas dúvidas adensaram-se, depois que eclodiu o conflito entre a vontade do Governo e os receios dos professores. Se, por um lado, a mesma Constituição prevê o direito à greve, com datas decididas pelos sindicatos representantes dos trabalhadores; por outro, porque a época é de exames, o Governo, pais e outros cidadãos civis entendem que o momento é inapropriado, na medida em que, com o adiamento dos exames, fica em causa o futuro de pessoas que correm o risco de chegar dois ou três dias mais tarde à licenciatura e ao desemprego ou à partida do avião que os há-de levar daqui para fora, se já não tiverem que ir a pé. Em função do exposto, percebe-se que o futuro é imperdível, mesmo para quem, desenhadamente, não tem futuro — neste caso, alunos; muitos deles, crianças de que toda a gente gosta e gosta de proteger; sendo por isso, talvez, que ninguém quer crescer; e se diz que o que é pequenino é que é engraçado. Já escrevi isto várias vezes; mas, porque acho importante e porque não me canso, vou repetir a lengalenga: Num País em que, desde Abril, sucessivos governos delapidaram tudo quanto havia; com projectos ruinosos que começaram, desde logo, a hipotecar o futuro de todos os portugueses — menos os dos políticos, amigos e familiares —, como se pode, agora, lembrar o futuro dos alunos, quando, | 10 |
por imposição da situação a que conduziram isto, lhes têm roubado os pais, os avós e todos os familiares, próximos ou afastados; dificultando os planos de apoio das famílias aos seus descentes? Como e quando é que começa e acaba o futuro? O que é o futuro? O que é que os governos têm estado a roubar, senão o futuro? Não poderá, ele próprio, o futuro, em razão do momento excepcional, ser excepcionalmente adiado, enquanto não houver a possibilidade de as pessoas recuperarem o presente? ... Todas as guerras são guerras entre a legalidade e a moralidade, porque as sociedades vêm sendo dirigidas por gente imatura; por pessoas sem experiência de trabalho; que têm transitado do berçário para as acções governativas; com experiência acumulada na caca nas juventudes partidárias. Para se conhecer o Senso, é necessário bater-se com o cu nas lages; fazer sacrifícios; olhar, cá de baixo e ver e deparar-se com obstáculos que não fazem o mínimo sentido; e ver, no vértice da pirâmide, indivíduos que não valem um chavo. Sem pôr em causa o lado moral ou imoral dos despedimentos dos professores — questão para ser discutida em separado —, com tantos assessores a rodearem-nos, não houve um que, num aceso de luz que lhes é rara, fosse capaz de alertar o Ministro, para a inconveniência, pelas datas, de tornar públicas as medidas que pretendia tomar ? ... Do mesmo modo que os Governos entendem que as pessoas devem resignar-se, de cada vez que são tomadas medida, legais ou ilegais, os Governos devem resignar-se, também, quando a legalidade prevê e suporta as manifestações que os cidadãos entendam para reacção. É este o jogo da Democracia — regime, aliás, de que não sou adepto, porque, como se tem visto, não há nada que impeça a mediocridade de chegar ao poder; e diria, até, ser este o ponto-comum que liga todos os regimes. Dizer-se, agora — como o faz Miguel de Sousa Tavares, opondo-se à greve dos professores —, que o País não tem capacidade económica para suportar pessoas, quanto mais conflitos!, não deixa de ser o anúncio do que, de há muito, vem sendo escrito; já estava escrito; desde que o País se desfez do exercício de autonomia e confundiu a adesão à União Europeia com a reedição dos Descobrimentos — com um pouco de sorte, até acabaremos por saber quem foi ou é a reprise do Infante D. Henrique. Definitivamente, as sociedades não sobreviverão, se a ig-
Ilustração de Rodrigo Costa
norância e a perversão dos políticos continuar a apostar na intranquilidade das pessoas. Não se pode pedir estabilidade governativa, através de maiorias absolutas ou de alianças que garantam algum sossego, apostando na intranquilidade dos cidadãos, que se vêem sem hipóteses de planos para o dia seguinte, quanto mais para o futuro. Não se pode estimular a natalidade e perceber, mais tarde, que não há espaço nem empregos que cheguem para as pessoas. Não se pode temer o envelhecimento da população e retirar aos jovens a alegria de viver, como principal estímulo à reprodução e à constituição de família. Não se pode lamentar os custos do Serviço Nacional de Saúde, e criar modelos de vida que vitimam qualquer um. O problema de Portugal não são os professores; não são os alunos; não é ninguém, senão a classe política; senão a falta de alguém minimamente capaz de traçar um plano equilibrado; devidamente explicado; não só para que as pessoas percebam; mas para que se sintam envolvidas na reconstrução de um espaço dirigido por políticos íntegros e conhecedores. É este, verdadeiramente, o grande Problema de Portugal: a adolescência dependente; à espera de que a Europa lhe resolva os problemas; incapaz de se preparar e de pensar pela própria cabeça. www.rodrigo-costa.net | 11 |
ENSAIO
Francisco Vilaça
“Para mim são iguais, deuses ou homens, na confusão prolixa do destino incerto.” Fernando Pessoa in Livro do Desassossego
Individuaniilismo O caminho foi longo, alguns milhões de passos foram percorridos. As vivências foram-se acumulando com os recibos de compras na algibeira, e o oxigénio já não nutre surpresas. A idade avançou, os filhos cresceram, e nem se dá por isso. A vida vivida deixa o músculo confuso e a cabeça cansada. Perdido no tempo o homem vira personagem Twainiano. Não porque se esteja a iludir com uma juventude praticamente esquecida. Não porque queira embair quem o rodeia, ou quem simplesmente observa os seus desvairos de aparente exibicionismo. É a morte que ele pretende enganar, porque ao contrário da mulher, o homem assim que nasce começa a morrer. Mas será o medo de morrer ou a final urgência de não mais viver que lhe instiga a testosterona? Na vertigem do passado distante, a vontade da repetição ou quiçá a ausência absurda da experiência que ficou por saborear, apressam-se e assinam o papel sem reflexão prévia. No Teatro da vida, é tempo de rebelião tardia, de roupas berrantes e expressões ridículas. A sede que se embebe no espirito não permite esperas em demasia. Em breve a alma vai cobrar o devido descanso. Discretamente faz umas figas prolongadas para que a memória não comece a apagar e a pregar partidas desnecessárias, e com a brisa a afagar a face, abre bem os braços e agarra aquela sensação incógnita chamada vida. Ao pai, onde quer que esteja.
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ENTREVISTA
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Jader Almeida
Nascido em 1981, em Santa Catarina, no Brasil, Jader Almeida começou a ganhar experiência profissional trabalhando na indústria de mobiliário da região. Uns anos mais tarde viria a estudar arquitectura e urbanismo e logo após formado nesses estudos aceitava uma proposta de trabalho para a Lin Brasil. A editora de móveis Lin Brasil dedicada essencialmente à produção de mobiliário da autoria do arquitecto Sérgio Rodrigues, foi uma excelente oportunidade para Jader Almeida se inteirar da criatividade e dos processos de produção levados a cabo por um conjunto de arquitectos e designers brasileiros, todos eles reconhecidos pela sua qualidade de trabalho, pesquisa e desenvolvimento de técnicas. Jader Almeida prosseguiu o seu caminho e, talvez da percepção que fez ao trabalho de Sérgio Rodrigues, decidiu também ele trabalhar com matéria-prima brasileira. A partir de 2004 começa a produzir as suas próprias ideias, sob a marca Sollos, sedeada em Santa Catarina. Na evolução do seu trabalho, outras matérias-primas foram surgindo com naturalidade, tal como por exemplo o aço. Concorrendo a uma série de concursos de design internacionais, os produtos de Jader Almeida são reconhecidos e premiados. O reconhecimento do seu trabalho deve-se em grande parte ao facto dos seus produtos revelarem uma elevada qualidade de produção e uma entidade estética sem sombra de dúvidas nova. A partir deste ano de 2013, Jader Almeida é convidado para integrar a equipa de designers da marca alemã ClassiCon. Foi em Janeiro, durante uma reportagem no decorrer da imm em Colónia, na Alemanha, que deparámos com a cadeira Euvira de Jader Almeida para aquela conhecida marca. Olhando agora para as suas cadeiras e mesas percebemos um gosto pela racionalidade, pela simplicidade geométrica e uma propensão para retirar das matérias-primas todas as suas genuínas elegâncias. Não nos parece existir no apelo estético encontrado nos produtos desenhados por Jader Almeida esse estafado estereótipo de um imaginário intemporal. Olhamos para eles e entendemos desenlaces que seguem um percurso natural, não só derivado pelas características estruturais dos materiais mas também pelo luxuriante imaginário orgânico de um país como o Brasil.
“Loose”
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Quando começou o seu envolvimento com o design? Costumo dizer que desde sempre. Sempre gostei de saber o funcionamento das coisas, de desenhar e planear. Mas, profissionalmente falando, foi no ano 2001 que comecei a realizar alguns projectos para industrialização. Nesse tempo, não eram projectos tão autorais, existiam muitos “ruídos” pela minha falta de experiência. No entanto, com o tempo fui (estou) aprendendo e afinando meu olhar e minha percepção acerca da estética das coisas. Quais são as vantagens e as desvantagens de ter começado a trabalhar mais cedo do que é normal? Não vejo desvantagens. Minha formação académica andou em paralelo com a prática, isso é muito positivo do ponto de vista profissional. O trabalho nunca foi limitador, sempre consegui realizar estudos, viagens etc. Penso que em alguns casos isso possa atrapalhar a formação de um jovem, mas comigo não houve nenhum tipo de problema. Porque decidiu ser designer? Tudo ocorreu naturalmente. Minha graduação superior é Arquitectura e Urbanismo. Trabalhar com design de produtos foi algo que ocorreu naturalmente, quase como aptidão. Ainda antes de entrar para a faculdade fiz alguns cursos técnicos que me deram bastantes bases. Somado à prática diária, os encontros, o contacto com profissionais da área etc…, minha visão acerca da estética dos objectos em geral foi modificando. Tudo isso deu-me a certeza de que devia seguir as minhas convicções. A criatividade e a técnica nascem com o designer? Isso é algo bastante difícil de abordar. Penso que a criatividade é algo intuitivo, particular de cada individuo. A técnica, é algo desenvolvido já que existem inúmeras facetas da técnica... O adjectivo genial é cada vez mais empregue nos diferentes circuitos artísticos e profissionais. Há génios do design? Acredito que há pessoas que pensam além dos seus contemporâneos. Estes, sim, criam um caminho que muitos outros seguirão. No campo do design não é diferente, basta olharmos | 16 |
para trás que veremos grandes nomes, que hoje chamamos de mestres. O seu trabalho com a Lin Brasil foi importante para si a que níveis? Aprendi a perceber que os detalhes, são muitas vezes, determinantes num produto. Às vezes é algo quase imperceptível o que faz toda a diferença num projecto. Gosta de trabalhar com matéria-prima brasileira. Esse gosto deriva de que tipo de motivações e que importância tem na sua produção? Não me limito a isso. Gosto de pensar o design de forma global, não me prendo a estereótipos. Trabalho com inúmeros materiais em meus projectos. A tecnologia que peso toma nos seus desejos de inovar e de oferecer soluções inovadoras? Uso a tecnologia sempre que possível. Leia-se isso na pesquisa, matéria-prima, desenvolvimento etc. Muitas vezes, algo que parece simples do ponto de vista formal, tem em sua confecção ou materiais o uso das últimas tecnologias disponíveis. Aproprio-me dessas possibilidades, para garantir maior qualidade nos meus projectos. Cresce profissionalmente com as marcas ou são elas que evoluem com as suas propostas? Penso que há uma troca. O designer, por vezes se apropria de algo já existente, uma solução por exemplo. Noutros casos oferece soluções, outros pontos de vista ou desenvolve mesmo algo que agrega maior valor para as marcas. Acredito nessa dualidade, ambos fazem parte do processo não há como dissociar. Como é que define o mercado de design brasileiro, quer em termos de produção quer numa perspectiva de consumo? A produção nacional é bastante diversificada, o consumo está em ascensão. Há muitas pessoas que procuram produtos com conceitos de bom design, logo, o consumo se torna cada dia mais sólido. O designer é reconhecido no Brasil como um profissional? Sim, e nos dias actuais muitos jovens querem seguir a carreira de designer, em todos seus desdobramentos.
“Às vezes é algo quase imperceptível o que faz toda a diferença num projecto”
“Mirah”
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Sente que há alguma evolução dos comportamentos ao nível da produção e do consumo do design a nível mundial? Percebo que os media têm ajudado na difusão da cultura do design. Isso faz com que toda a cadeia seja beneficiada, desde o fornecedor de matéria-prima até ao consumidor que tem maior discernimento na hora da escolha de um determinado produto.
Qual é a sua visão dos circuitos do design, no que se refere aos seus agentes e à competição existente entre profissionais e marcas? Fomentar a prática e o exercício de qualquer assunto, em geral, sempre é muito construtivo. Já que se estabelece uma grande troca de ideias e de pontos de vista variados acerca do mesmo assunto. Além de aproximar as pessoas envolvidas. O que são as características diferenciadoras do seu trabalho? A racionalidade e a simplicidade podem ser a definição do meu trabalho. Como lida com o sucesso no seu percurso? Não sou uma pessoa deslumbrada. Gosto de ouvir e prestar atenção no que dizem as pessoas acerca dos meus produtos. Projectos bem sucedidos, sempre servem de base para os próximos. Em que projectos está neste momento a trabalhar? Acabei de realizar um projecto de uma bicicleta para um evento. Foi algo bem interessante. Também, estou desenvolvendo alguns projectos de arquitetura de interiores. A pesquisa e desenho de produtos é uma constante na minha rotina, e, alguns viram realidade... Quais os desafios que perspectiva no seu futuro profissional? Acredito que o grande desafio é manter-me curioso e sempre a aprimorar a percepção. Para si design é…? Atitude, quotidiano. Entevista: Tiago Krusse Fotografia: Cortesia de Jader Almeida
“Cigg”
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www.jaderalmeida.com
“A racionalidade e a simplicidade podem ser a definição de meu trabalho”
“Mark”
“Bak”
“Roots”
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EM FOCO
Michaël Bihain
Michaël Bihain é um dos mais interessantes e criativos designers europeus. A par dos ensinamentos obtidos enquanto talhante e carpinteiro, estudou design de interior no Instituto Saint-Luc, em Liège, na Bélgica, e na Universidade de Hull, no Reino Unido. Com o seu estúdio em Londres, o BIHAINprod, que trabalha em exclusivo na concepção de criações únicas para clientes privados, e um segundo na sua terra natal, Bruxelas, Michaël Bihain também produz por conta própria como é um exemplo o “Oyon”, o primeiro cesto de fruta de muro. Neste momento o designer está a trabalhar com empresas e distribuidoras como a Swedese, a galeria Chez Pascale, a Tolerie-Forezienne, a Wilspirit ou a Oboe. Tem vindo a desenvolver para elas, no essencial, produtos de mobiliário, joalharia e acessórios. Para além desta actividade profissional como designer e arquitecto de interiores, também acumula o cargo de professor de design industrial e arquitectura de interiores no Instituto | 20 |
Saint-Luc em Liège. Enquanto designer, Bihain não pretende posicionar-se no final do processo criativo. Ao invés permite que o mobiliário criado possa ser utilizado como uma peça única ou em combinação com outra, possibilitando que o cliente final possa complementar ou ajustar o produto conforme o seu desejo. Por este intermédio ele delega o processo criativo no utilizador deixando o seu design trabalhar de uma forma individualizada. Se repararmos para a premiada escada/estante Libri, para a Swedese, percebemos a dupla funcionalidade do produto, posicionando-se como uma escultura ou como uma tradicional estante de parede. O design de produto de Bihain pode ser caracterizado pelas suas linhas direitas e por uma forte autonomia. O seu processo conceptual representa um ponto de convergência entre os novos modos de viver e a memória colectiva. As suas concepções preenchem o seu desejo
“Libri”
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“Structure”
“Mosquito”
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de produzir mobiliário com um elevado grau de dignidade para aplicações individualizadas. O seu trabalho é uma simbiose de um estilo de vida contemporâneo e dos hábitos correntes na utilização dos objectos. Neste seu universo produtivo vamos encontrar estantes rolantes, Patatras, frutos que se tornam parte integrante das paredes, Oyon, uma cadeira em que poucos ousam sentar-se, Paradise Chair, ou outra que de tão viva quase podemos ter uma conversa com ela, Mosquito. Os produtos de Bihain têm sido premiados por diversas ocasiões e alguns deles têm sido selecionados para integrar em exposições internacionais. Em 2007, o designer foi nomeado para o Award Design Report, em Milão, ganhou o prémio “Help para criatividade e inovação” e foi escolhido para produzir o mobiliário para o British Council em Paris. A estante Libri foi nomeada por diversas ocasiões em 2008, recebeu o “+1 Award” na Feira de Mobiliário de Estocolmo assim como o Melhor Design de Produto Novo e foi distinguida pelo prémio de design sueco, “Design S”. Na Bélgica recebeu o prémio “Henry van de Velde” e o “Region Wallone”. A cadeira Mosquito foi nomeada no prémio Design Report de Milão. Na última edição da bienal de design em Liège, a “Reciprocity”, o banco Diaphragm foi distinguido com o prémio “Euregio”. Para além deste somatório de reconhecimento pelas suas
“Lalinea”
“Patratas”
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“Oyon”
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“Ondine”
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capacidades criativas e inovadoras, Bihain recebeu o prémio cultural “Coup d’éclat” e ganhou a competição ParckDesign com o produto Ondine, um projecto desenvolvido em colaboração com o arquitecto belga Cédric Callewaert. O seu trabalho é frequentemente apresentado em exposição nacionais e estrangeiras, em galerias e alguns dos seus produtos já fazem parte de colecções permanentes de museus tais como o Museu Nacional de Estocolmo, o Museu de Design de Seul e o Museu de Design de Liège . Por Nathalie Wolfs / Design In Belgium Fotografia: Cortesia da Bihain Studio
www.bihain.com | 27 |
EM FOCO
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Sandra Costa
“Espinheiro”
É licenciada em design industrial, tendo-se especializado em moda e merchandising visual, Sandra Costa encetou entre 2000 e 2006 uma colaboração com um grupo nacional de indústrias de fabrico de mobiliário e de design de interior. Tem vindo a desenvolver a sua actividade profissional ao nível da concepção, acompanhamento de fabrico e comercialização de produto. Em 2007 torna-se num dos fundadores do grupo logoexisto, dedicado à arquitectura, design e comunicação, e toma para si a autoria e coordenação no desenvolvimento de projectos no campo do design de interior e de equipamento. É um trabalho de equipa e que respeita o carácter multidisciplinar do grupo, com uma atenção ao respeito dos interesses de promotores e investidores. O desenvolvimento e apresentação da marca BoutiquEdition é o novo passo dado por Sandra Costa que assume, dentro do grupo logexisto, a direcção criativa desta colecção de objectos que tem no seu conceito o objectivo de promover a identidade cultural do país. A fonte de
inspiração é oriunda de um conjunto de monumentos, tradições e culturas nacionais que a marca sintetiza em produtos que prestam assim uma homenagem ao imaginário português. Está estruturada numa produção nacional, numa manufactura com padrões elevados de qualidade e que procura colocar em evidência estes atributos numa produção singular. Esta primeira colecção é composta pela mesa Cartuxa, o candeeiro Carmo, a chaise-longue Espinheiro e o tabuleiro Cástris. Cada um destes produtos surge acompanhado de uma ficha informativa na qual se difunde o historial do edifício que lhe serviu de inspiração, sensibilizando o utilizador para aspectos da cultura nacional. A mesa Cartuxa homenageia o Convento de Santa Maria Scala Coeli, o candeeiro Carmo o Convento de Nossa Senhora do Carmo, a chaise-longue Espinheiro o Convento do Espinheiro e o tabuleiro Cástris o Mosteiro São Bento de Cástris. www.logoexisto.pt | 29 |
“Cartuxa”
“Cástris”
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“Carmo”
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EM FOCO
DAM
A união de esforços entre Joana Santos e Hugo Silva deu origem à DAM cujo enquadramento é orientado para soluções de design integradas, a que se junta um pensamento estratégico, tecnologia e identidade. Ambos formados em design pela Universidade de Aveiro, Joana concluiu em 2009 um mestrado e de igual modo o fez Hugo. A designer desenvolveu a dissertação “Design de informação e intermodalidade nos transportes de Aveiro”, apresentando a sua investigação no IIID Traffic & Transport, no Tech Gate, em Vienna, na Aústria. No seu percurso destaca-se ainda a colaboração com o atelier Providência Design e a empresa MM+A, desenvolvendo projectos da branding e comunicação gráfica. Realce ainda para uma colaboração com a sua universidade para a qual elaborou mapas e infografias para manuais escolares utilizados para uma reestruturação curricular do ensino secundário em Timor Leste. O designer integrou o Laboratório SAPO/Universidade de Aveiro e viu o | 32 |
seu trabalho nomeado para melhor aplicação multimedia educativa de 2009. Produziu uma investigação intitulada “Do pensável ao impossível: a intervenção do design na concepção de um portal universitário”, sob a orientação de Vasco Branco e Nuno Dias. A nível profissional trabalho para as empresas CreativebitBox, B-Around e o atelier Providência Design para o qual colaborou nos projectos do Museu de Tróia e do Museu de Penafiel. A DAM junta assim dois profissionais com formação e experiência, trabalhando essencialmente o design de equipamento, o design gráfico e o design de interfaces de rede digital. O grupo integra ainda parcerias com outros profissionais e empresas. A sua missão visa a construção de experiências e de discursos que promovam a comunicação e a divulgação dos projectos. Exploram a capacidade criativa por intermédio das emoções transmitidas pelas formas, cores, texturas, materiais e tecnologias.
“Maria da Silva”, 2013. Design de Joana Santos e Hugo Silva para a DAM
“Nel da Silva”, 2013. Design de Joana Santos e Hugo Silva para a DAM
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“Nandos da Silva”, 2013. Design de Joana Santos e Hugo Silva para a DAM
“Dress my Table”, 2013. Design de Joana Santos, Hugo Silva e Vasco Pinto para a DAM
O trabalho de Joana Santos e Hugo Silva para a DAM ganhou um novo patamar de notoriedade ao colocarem duas bem-humoradas mesinhas de cabeceira, Nel da Silva e Maria da Silva, como as vencedoras do prémio de mobiliário da 5:ª edição dos POPs – Projectos Originais Portugueses, uma iniciativa promovida pela Loja de Serralves no Porto. O humor estende-se para outra peça, o guarda-fatos Nandos da Silva. Apesar da graça, os designers transpõem as suas ideias com uma notória preocupação com o detalhe e a consistência material e racional empregue nos produtos. As colecções Da Silva e Dress Me são um bom reflexo das capacidades e das qualidades de execução dos designers. Uma produção que traz uma abordagem por vezes esquecida pelo design industrial, a junção entre os conhecimentos do trabalho manual e as capacidades industriais do território. Uma parceria fundamental para preservar não só a memória das tradições como também promover a evolução dos sistemas produtivos pela diferenciação e pela especificação.
“Dress my Chair”, 2013. Design de Joana Santos, Hugo Silva e Vasco Pinto para a DAM
Por Tiago Krusse Fotografias numa cortesia da DAM
www.dam.pt
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EM FOCO
Mr. Less & Mrs. More
Os italianos Antonela Di Luca e Ubaldo Righi decidiram criar no ano passado uma nova editora de design, com uma produção suportada quase na sua exclusividade no artesanato local. Sedeados em Bolonha, decidiram investir na produção de pequenas séries de produtos que dão especial atenção às qualidades de mão-de-obra qualificada e aos acabamentos bem executados. A Mr. Less & Mrs. More é uma marca que apresenta um conceito de produtos pensados para o universo casa e com um espírito que, pela sua funcionalidade e qualidades visuais, foge à simples racionalidade conceptual. As formas e as cores adoptadas potenciam a toda a funcionalidade dos objectos produzidos criando uma maior afectividade nos seus usos ou contemplações. Há uma dinâmica bem-disposta que passa por toda a colecção, do simples cabide ao conceito construtivo de uma estante para livros. Percebemos a propensão para um resultado final inovador em termos da idealização de uma utilidade dos objectos, que vai um pouco mais para além da sua função primária. São peças que preten| 36 |
dem criar afinidades com os seus utilizadores. Há um trabalho no lado afectivo e poético dos produtos. Nascida em 1982, Antonela Di Luca estudou design industrial no Instituto Europeu de Design em Roma. Entre 2005 e 2011 foi chefe do departamento de design da Iosa Ghini Associati, em Bolonha, trabalhando no desenvolvimento de produtos, design de interior, retalho e exposições. Ubaldo Righi, nascido em 1965, é um interessado em design e em identidade corporativa. Em 2009 fundou a Esagono Cremisi na qual deu continuidade a aspectos teóricos e de pesquisa mas dando também resposta a trabalhos de comunicação, gestão e coordenação para empresas públicas e privadas. A simplicidade e o minimalismo adoptado nas peças da Mr. Less & Mrs. More são mais perceptíveis nos produtos Citybook e Housebook mas também espelham a graça conceptual na qual assentam. A série de bases para bolos é aquela que revela mais explosão de formas e de cores, não deixando de manter um desígnio e funcionalidades específicas. A esco-
“Bring”
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“Battista”
lha do ferro revela, talvez, o objectivo dos designers em trabalharem directamente com as tradições artesanais no processo de transformação e depuração das matérias-primas. Trabalhar um minério com estas características exige um profundo conhecimento dos processos de tratamento da matéria-prima e do seu comportamento no processo de estruturação dos produtos. Agrada-nos esta incursão no artesanato que se complementa com um visão industrial e gráfica mais contemporânea. Por Tiago Krusse
www.mrless-mrsmore.com
“Housebook”
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“Diecifette”
“Citybook”
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NOVIDADE
Suri
A Pedro Gomes Design apresentou em Maio passado a colecção Suri, tendo escolhido para palco da sua estreia oficial a Clerkenwell Design Week, em Londres, no Reino Unido. São seis modelos de um produto desenvolvido por Pedro Gomes que expressa, numa sucinta memória das intenções com que foi concebida a colecção, uma procura de conciliação de elegância com conforto. O designer destaca nas suas reflexões a simplicidade das linhas, a escolha de materiais, a harmonização de texturas, a forma e a identidade do produto. Para lá da concepção realça-se a consistência como é apresentada e comunicada a colecção. Fotografia: Cortesia da Pedro Gomes Design
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www.suri-collection.com
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EM FOCO
Raphaël Vivier
Relógio com tecnologia LED para a Philips
Raphaël Vivier tem 25 anos, formação em design industrial e tornou-se autodidacta na arte fotográfica. A formação é feita no polo superior de design de Villefontaine, Academia de Grenoble, em França, onde se licenciou em design de produto e embalamento. A sua carreira profissional arrancou ao serviço da empresa Allizé, na qual adquiriu um conjunto de técnicas e procedimentos de produção empregues na indústria dos plásticos. Para Raphaël a ideia e o projecto de design têm de assentar no desenvolvimento técnico. É através desta reflexão sobre a sua actividade enquanto profissional que ele tem conseguido assimilar variados constrangimentos e técnicas bem como uma melhor percepção do campo do design no desenvolvimento de projectos muito diferentes. Tendo abraçado o seu interesse pela arte fotográfica, este novo caminho permitiu-lhe apurar e desenvolver o seu sentido pelo detalhe. A fotografia também lhe trouxe | 46 |
uma melhor noção do processo comunicativo e sua relação com a componente da imagem. Enquanto trabalhador em regime livre teve a oportunidade de desenvolver estudos para algumas empresas para as quais produziu, essencialmente, modelos tridimensionais e imagens virtuais para apresentações comerciais de clientes. A postura de Raphaël Vivier vai no sentido de produzir um design minimalista e inteligente, que funcione fora dos padrões estereotipados. Promove e segue nos trilhos da seguinte filosofia: “ não há inovação sem desobediência”. Artigo produzido em parceria com Bruno Bailly / DESIGN !NDEX Imagens: Cortesia de Raphaël Vivier
www.raphaelvivier.fr
Esboços de projecto do relógio
Trabalho de apresentação de produto para a Pioneer
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EM FOCO
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T창nia da Cruz
Escreve no seu sítio que nasceu em Lisboa, cresceu em Bruxelas e foi aterrar em Itália. Em Milão, na Faculdade de Belas Artes de Brera, tira um bacharelato e ao abrigo do programa Erasmus vai para Utreque, nos Países Baixos, frequentando aí a Faculdade de Artes. Motivações e inspirações diferentes levam-na a prosseguir os estudos, concluindo com mérito um mestrado em design de produto em Brera, Milão. Uns meses após a conclusão do mestrado encontra-se a colaborar no estúdio de Marcel Wanders. Em 2011 apresenta a sua primeira colecção no SaloneSattelite, na Feira Internacional do Móvel de Milão, e agora em 2013 ganha o primeiro prémio no SaloneSattelite. A distinção é dada ao produto Braque, um azulejo modular em cortiça expandida que tem como propriedades a absorção de som. O desenvolvimento deste trabalho de Tânia da Cruz contou com a produção de um protótipo feito em parceria com a Amorim Isolamentos e a Technosugheri. Fotografia: Manuel Rio Casali
“Braque”
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“Popcork”
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“Braque”
www.taniadacruz.com
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EM FOCO
Two Six
“Pinkit”
A Two Six é uma editora de design portuguesa que tem atraído as atenções através da criatividade da arquitecta Cristina Macedo e dos designers Hélder Ferreira e Ana Fonseca. A editora tem como princípios uma vontade reflectir sobre o design e como a produção dos dias de hoje se integra nas preocupações, exigências e ritmos de vida do Homem. A funcionalidade e a qualidade final dos produtos são as linhas orientadoras que depois permitem reforçar outros pontos importantes no design de produto. Há uma notória preocupação para a versatilidade e adequação dos produtos, não só aos ritmos de época como à procura das harmonias visuais. Outro aspecto que importa salientar é que todos os produtos da Two Six são fabricados em Portugal, promovendo mais a real capacidade de resposta das pequenas indústrias nacionais do que assentando meramente na estoicidade de colocar apenas um selo de origem. Em primeiro plano, destacamos desta nova editora as duas peças desenvolvidas por Cristina Macedo, a YPSY e a Pinkit. A primeira é o resultado de uma inspiração na estrutura formal de um escadote, dotando-o de novas
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funcionalidades. A Pinkit é uma mesa que se distingue pela sua leveza, linhas depuras e com uma identidade bem definida. Sendo a cor um factor que dá maior expressividade ao produto, a mesa possui um acabamento anti-riscos que pretende conferir maior durabilidade à qualidade do acabamento cromático. Gostámos das preocupações com as qualidades estéticas e o complemento com uma exigência de uma produção rigorosa. Depois seguem-se em grande destaque o banco Swithy e a cama Play Nest, que representam a capacidade de fascinar com uma identidade própria. A editora lançou um novo segmento a Two Six For Kids, pois que as crianças são ainda mais intuitivas do que os adultos no que ao bom design diz respeito. Apreciámos a boa forma de comunicar a editora e o sítio da empresa espelha um pouco essa sua missão. Por Tiago Krusse Fotografia: Cortesia da Two Six
www.twosix.pt
“YPSY”
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“Swithy”
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“Play Nest”
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FOOD DESIGN
José Avillez
Ingredientes para 4 pessoas Para os Papos de Anjo 4 gemas 1 ovo ½ colher de café de fermento em pó Manteiga q.b.
Papos de Anjo 1. Juntar todos os ingredientes numa taça e bater com uma vara de arames a gemada levantar e ficar fofa. 2. Colocar em formas pequenas untadas com manteiga e levar ao forno aquecido a 180ºC, durante 4 minutos.
Para o Creme de Limão 60 g. de sumo de limão 90 g. de ovos 90 g. de açúcar 100 g. de manteiga ½ folha de gelatina
Creme de limão 1. Num pequeno tacho colocar o açúcar, o sumo de limão e os ovos. Cozer em lume brando, mexendo sempre com uma vara de arames, até atingir 85ºC. 2. Deixar arrefecer até que a temperatura chegue aos 50ºC. Juntar a folha de gelatina previamente demolhada e espremida, mexendo continuamente. De seguida, adicionar a manteiga amolecida e mexer novamente. 3. Tapar com a película aderente, reservar e deixar repousar no frio até que adquira a consistência desejada. 4. No momento de servir, voltar a bater com as varas de arames.
Para o Merengue 150 g. de açúcar 75 g. de claras 2 g. de corante negro Água q.b.
Merengue 1. Bater as claras e juntar o açúcar pouco a pouco até a consistência ficar bem dura. 2. Diluir o corante com algumas gotas de água, adicionar ao merengue e envolver com cuidado. 3. Colocar o preparado num tabuleiro forrado com papel vegetal e deixar secar no forno a 50ºC durante 24 h.
Para a Calda de Laranja 50 g. de sumo de laranja 100 g. de calda de açúcar 2 g. de licor Grand Marnier
Calda de Laranja 1. Colocar todos os ingredientes num recipiente e misturar muito bem.
Para as Natas Batidas 10 g. de natas batidas Raspa de laranja q.b. 12 gomos de laranja sem pele
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Modo de Preparação
Natas Batidas Aromatizar as natas batidas com a raspa de laranja.
LARANJA E XISTO
Fotografia: AgênciaZero.net
Empratamento Num prato redondo colocar no fundo um círculo de creme de limão. À volta do círculo colocar 3 gomos de laranja alternados com 3 papos de anjo previamente demolhados na calda de laranja (espremer um pouco para não ficarem demasiado embebidos). No centro do prato e por cima do creme de limão, colocar uma colher de chá de natas batidas aromatizadas e por cima uma colher de gelado de laranja. Por fim, colocar 3 placas de merengue (o xisto) sobre o gelado. Para decorar o prato, esfarelar um pouco de merengue e salpicar o prato. Servir de imediato.
www.joseavillez.pt
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ENTREVISTA
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Sofia Mourato
Com uma sólida experiência profissional na coordenação de eventos internacionais que unem o cinema e a arquitectura, fomos ao encontro de Sofia Mourato e tentar perceber o que a motivou a arrancar com o Arquiteturas Film Festival Lisboa, que terá lugar no Cinema City Alvalade entre os dias 26 e 29 do próximo mês de Setembro. Uma promessa pessoal que se vai cumprir através da iniciativa da Do You Mean Architecture, da qual se ficam a aguardar por outras boas surpresas. Entrevista: Tiago Krusse Fotografia: Cortesia de Sofia Mourato / Do You Mean Architecture
O que é a Do You Mean Architecture? A DYMA é um projecto iniciado em 2012 com o objectivo de investigar a relação entre aquitetura, imagem em movimento e fotografia. Trata-se de uma plataforma que visa o cruzamento do conhecimento de várias disciplinas para criar inovação no pensamento crítico. Surge então um primeiro projecto, a realização de um festival dedicado à longa e estreita relação entre a arquitectura e o cinema – o ARQUITETURAS. Quando é que surgiu a ideia para criar o Arquiteturas Film Festival Lisboa? Em 2010, tornei-me coordenadora daquele que seria também o primeiro Festival de Cinema e Arquitectura de Nova Iorque. Nessa altura, prometi a mim mesma que um dia traria um projecto similar até Portugal. Acabei por rumar primeiro à Holanda, onde tive oportunidade de trabalhar como curadora e colaboradora do Festival de Arquitectura de Roterdão e de ter participado no projecto de digitalização do arquivo holandês, no EYE Film Institute. Essas duas experiências internacionais foram extremamente importantes para que o ARQUITETURAS chegue agora a Lisboa no formato em que estamos a pensá-lo: uma plataforma relevante que sirva como instrumento de consciencialização e interesse na preservação e promoção do nosso património arquitectónico, e que apresente Lisboa como uma cidade de espírito aberto ao diálogo criativo internacional. E, sobretudo, realizado na perspectiva de captar investimento estrangeiro e solidificar a imagem de Portugal como um dos melhores países do mundo para a rodagem de filmes. Que razões estiveram na origem desta primeira edição e quais os objectivos traçados? Há uma razão óbvia: não existe nenhum festival de cinema dedicado a arquitectura em toda a Península Ibérica. Só por isso, a realização do ARQUITETURAS já se justifi-
cava, mas a esta acrescentam-se outras. Uma delas é o excelente timing: 2013 foi declarado oficialmente como o Ano da Arquitectura em Portugal, ano em que decorrem também eventos altamente direccionados para o nosso público-alvo, como a Trienal de Arquitectura de Lisboa, a cerimónia oficial do prémio Aga Khan e a experimentadesign. A actual conjuntura nacional também contribui bastante, já que não há melhor momento para que as indústrias do cinema e da arquitetura se “descubram” mutuamente e desenvolvam uma relação que tem produzido excelentes resultados ao nível internacional, mas que, no nosso país, está há muito tempo subvalorizada. E isso leva-nos directamente aos objectivos do festival: de forma geral, o ARQUITETURAS ambiciona tornar mais evidente esta relação possível, para não dizer quase obrigatória, entre arquitectura e cinema, não somente para o público especializado mas também para o público em geral, quer numa perspectiva cultural, quer numa vertente económica. Que parcerias foram estabelecidas para este arranque? Ao nível nacional, a primeira parceria do ARQUITETURAS foi feita com o Cinema City Alvalade, que acreditou no projecto e nos deu força para avançar. De seguida contámos com o apoio institucional da Ordem dos Arquitectos Secção Regional do Sul, Trienal de Arquitectura de Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, Ruptura Silenciosa e diversas universidades de arquitectura. Os nossos media partners são a Magnética Magazine, Vida Imobiliária, Jornal Construir e Anteprojectos, os Archmov e a Platform-A. Internacionalmente, contamos com o apoio dos Festivais de Cinema e Arquitectura de Roterdão, Nova Iorque, Santiago do Chile e Budapeste, bem como com media partners italianos como a Image e o Archiworld. A entrega a um projecto desta dimensão é conta| 61 |
bilizada de que formas? Julgo que a experiência adquirida em outros festivais de cinema ao longo dos últimos anos e o conhecimento necessário que daí resultou foi determinante para a realização de um evento deste nível. No caso do ARQUITETURAS, o mais importante foi perceber que iria preencher uma lacuna cultural em Lisboa e em Portugal. A partir daí, a visibilidade do projecto advém da aceitação e interesse por parte das principais entidades que gerem as indústrias do cinema e arquitetura, que nos deram todo o apoio. Por outro lado, o apoio financeiro é sem dúvida essencial – e, nesse sentido, o ARQUITETURAS é uma plataforma extremamente interessante para dar visibilidade a empresas que pretendam criar um meio de comunicação privilegiado com este público-alvo, uma dimensão que também pretendemos que tenha muita força no festival. Estamos a trabalhar no sentido de escolhermos os major sponsors que mais se identificam com o projecto para podermos criar o que se pode chamar de uma situação win-win: maior qualidade do festival e novas oportunidades económicas. Que métodos e critérios de avaliação estabelece| 62 |
ram para as inscrições de participação no festival? Participar no ARQUITETURAS é fácil – basta ter realizado um filme que tenha sido finalizado até Janeiro de 2011 e que se enquadre numa das categorias de ficção, documentário, cinema experimental ou animação. Depois, só é necessário preencher a ficha de inscrição no nosso website e enviar-nos o link do filme ou DVD para avaliação até 1 de Agosto. E é isso! Em relação aos critérios de avaliação, esperamos receber filmes com um registo inovador, que comuniquem efectivamente um interesse não só na parte de investigação mas também no cuidado com a fotografia, argumento e montagem. Em suma, estamos à procura de filmes que destaquem a arquitectura como mediadora dos momentos extraordinários e banais das nossas vidas. O local escolhido para o evento foi o pretendido? O ARQUITETURAS poderia realizar-se em vários espaços, mas pode dizer-se que o Cinema City Alvalade assenta “como uma luva”. Em primeiro lugar, devido à sua história: o antigo cinema Alvalade foi demolido e reconstruído pelos arquitectos Rui Rosa e Carlos Rui Sousa, mantendo a memória do antigo edifício mas acrescentando-lhe uma
componente habitacional. Desde 2008, altura em que o City Alvalade abriu as portas, tem conseguido com sucesso oferecer um programa diversificado entre o comercial e o alternativo, e essa flexibilidade do espaço, bem como a disponibilidade da gerência para a realização de actividades paralelas na zona do foyer e do café, foram cruciais para esta escolha. Para além disso, ainda temos uma excelente localização e bons acessos e o charme que só um cinema “de bairro” histórico como o City Alvalade pode emprestar a um evento como o ARQUITETURAS. É lá que vamos estar de 26 a 29 de Setembro, e não poderíamos deixar de destacar o profissionalismo da equipa que gere actualmente o cinema, que acreditou no ARQUITETURAS e apostou connosco numa primeira edição ambiciosa, mas realista. Para além da exibição dos filmes, o programa do festival tem previsto outro tipo de iniciativas? O ARQUITETURAS foi pensado como um festival multidisciplinar. Nesse sentido temos uma série de actividades paralelas previstas, das quais fazem parte uma exposição de fotografia, conversas informais entre personalidades da arquitetura, arte e cinema, uma sessão de pitching, uma visita guiada por locais em Lisboa que já serviram de cenário para filmes e uma actividade para os mais jovens. Há muito para ver e para fazer, e com isto esperamos chegar a um público mais alargado. Nos últimos tempos alguns profissionais, críticos e agentes têm falado que a Arquitectura se esqueceu da realidade. Esta ligação à sétima arte vem com que género de interrogações? O cinema e a arquitectura são, desde os seus primórdios, fabricantes de sonhos. O cinema revela arquiteturas que só existem na mente, compostas por sensações, memórias e imaginação, e por vezes essa arquitectura cinematográfica confunde-se com a percepção que temos na vida real. Não concordo que a arquitectura se tenha esquecido da realidade: da mais modesta casa à maior torre da cidade, os arquitectos querem que os seus edifícios consigam ir mais além do que apenas a sua funcionalidade. O desejo faz parte da linguagem das duas artes e todas as civilizações tiram o máximo partido dos seus edifícios. Todas as culturas esperam que a sua arquitectura contenha uma mensagem que perdure, e é através da narrativa que a realidade e a ficção se confrontam na cultura da imagem contemporânea que atravessamos. O cinema e a arquitectura atravessam estilos ao longo da história, mas na minha opinião estão sujeitos a uma versão da evolução de Darwin. Para além de promover uma ponte entre profissionais de duas áreas distintas, que outras preocupações foram tomadas em conta? Mais do que promover a ponte, há que a construir. Na actual era digital, é necessário que os estudantes e profis-
sionais de arquitectura utilizem a ferramenta da imagem em movimento globalmente para comunicar informação e conteúdos locais. É essencial que tenham conhecimento de técnicas cinematográficas e de narrativa para serem competitivos. Para além desta preocupação fulcral, queremos promover a internacionalização da arquitectura e cinema português, promover Portugal como um país ideal para produção de filmes, aumentar o interesse geral nas transformações urbanas e da sua importância e valorizar a dinamização interdisciplinar. Na sua opinião o cinema tem vindo a criar que tipo de visão sobre a arquitetura? O cinema não cria uma visão sobre a arquitectura porque o cinema não existe sem arquitectura. Todos nós conhecemos milhares de edifícios, ruas e cidades, não por experiência táctil mas através de imagens, fotografias e filmes. Adicionalmente, habituámo-nos a experienciar a arquitectura através da janela do nosso carro, do autocarro ou do comboio e porque temos sempre mudanças de ponto de vista isso modifica a nossa percepção da urbanidade que nos rodeia. Neste caso, a nossa visão edita as imagens. O cinema interpreta o espaço, confere-lhe narrativas – mas apresenta-se como um veículo de interpretações individuais. A arquitectura nos filmes está sempre contida na experiência de cada espectador. É da opinião que a arquitetura e o cinema são muitas vezes distorcidos pelos media e pelas instituições do meio? A arquitectura é a mais íntima das artes, pelo menos na forma como se relaciona connosco – dormimos, comemos, trabalhamos e vivemos nela, todos os dias. Contudo, nunca houve grande interesse da parte do público em assistir a documentários sobre o tema. Os que foram produzidos em toda a história do cinema, até aproximadamente uma década, têm a tendência para serem biografias de arquitectos e do seu trabalho. Mas assistimos hoje em dia a uma grande mudança: especialistas, governantes e académicos prestam cada vez mais atenção à importância de obras arquitectónicas e à sua influência positiva, não só na estrutura urbana, mas também como instrumento de promoção e distinção no âmbito da competitividade económica global. Esta nova tendência, aliada ao corrente avanço da tecnologia do aparato de documentação da imagem em movimento, faz com que o cinema seja a melhor e mais rápida ferramenta de divulgação. E a arquitectura e o cinema sempre foram, ao longo da sua história, ferramentas de “propaganda” positiva e negativa, reflexos da sociedade onde se inseriam. Isso continua a acontecer. Para si qual é o filme que melhor contempla a arquitectura? Por muitas razões, o filme “Conformista”, de Bernard Bertolucci. | 63 |
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Já há planos para uma segunda edição? O que vai ela trazer de novo? Esta é a primeira edição, pelo que a nossa prioridade passa por levar a cabo os seus objectivos a curto, médio e longo prazo, nomeadamente através da criação de circuito itinerante ao nível nacional e internacional a partir da programação inicial, oferecendo uma plataforma de exposição mais alargada. Mas sem dúvida que a ideia passa por transformar o ARQUITETURAS em mais do que um evento pontual, desenvolvendo ao longo do ano projectos de colaboração com diversas instituições, como museus, escolas, universidades, produtoras de cinema e outras organizações culturais. Depois destes objectivos concluídos, podemos começar a pensar nas próximas edições – e acredito que uma das mais-valias possíveis em edições futuras passa pela apresentação de documentos visuais que resultem de colaborações entre profissionais do cinema e arquitectura geradas no âmbito do festival. Neste aspecto, já temos inclusivamente alguns projectos em cima da mesa, mas ainda são “top secret”. Para já. Mas, de maneira geral, a filosofia da Do You Mean Architecture passa por construir através deste e de outros projectos futuros uma plataforma de projecção, divulgação e distribuição da arquitectura e cinema contemporâneos portugueses, ao nível nacional e internacional. Esse é, sem dúvida, o nosso principal objectivo, e que irá certamente dar o mote não somente a esta primeira edição, como às que se lhe seguirem. www.doyoumeanarchitecture.com | 65 |
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RESTAURANTE EM XANGAI Design: Prism Design Construtor: Shanghai Zhao bo Zhuang Huang Engineerings of & Construction Co,.Ltd Texto: Tiago Krusse Fotografia: Nacasa & Partners / Eiichi Kano
O atelier japonês Prism Design, liderado por Tomohiro Katsuki, é responsável pela concepção do restaurante Kemuri Shangai, em Xangai, na República Popular da China. A construção do restaurante, iniciada em concluída no final de 2012, foi da responsabilidade da construtora Shanghai Zhao bo Zhuang Huang Engineerings of & Construction, que também teve a seu cargo a produção do mobiliário idealizada pela equipa de Tomohiro Katsuki. O programa de design desenvolvido por Tomohiro Katsuki, Masanory Kobayashi e Reiji Kobayashi, respeitou o conceito de restauração do Edo Robata kemuri, localizado na praça Kagurazaka, em Tóquio, no Japão, transpondo um conceito de cozinha japonesa numa atmosfera de restaurante/bar. Os requisitos solicitados por Hiroki Okada, dono da obra, foram os de prestar homenagem à atmosfera do filme Kill Bill, de Quentin Tarantino, e produzir pela imagem da sua estrutura a sensação de linhas de fumo, dando ênfase à palavra japonesa para fumo: kemuri. O filme de Quentin Tarantino assentou sobretudo no imaginário japonês e norte-americano, para a equipa da Prism Design o importante foi buscar inspiração nas imagens dos cenários de Kill Bill e atribuir-lhes uma complementaridade entre as culturas chinesas e japonesas. O vermelho da fachada em vidro do restaurante simboliza a fusão dos vermelhos presentes nas bandeiras da China e do Japão. A inspiração cinematográfica pretende também conferir uma identidade cultural universal. Este objectivo universalista e cosmopolita vai de encontro à atmosfera de Xangai, uma cidade-estado que é uma das mais importantes em termos industriais e comerciais do território chinês, apresentado também os maiores níveis de desenvolvimento nos seus principais sectores económicos e financeiros. É uma cidade que tem vindo a seguir um grande investimento no seu processo de renovação, atraindo e captan-
do o interesse de investidores regionais e estrangeiros. Neste processo de desenvolvimento as melhorias de infra-estruturas têm sido também uma aposta na melhoria da qualidade de vida dos seus mais de 12 milhões de habitantes, como também parte de uma estratégia que permita manter os grandes fluxos de turistas nacionais e estrangeiros. O segundo requisito lançado, em torno da palavra kemuri, foi alcançado através de estudos sobre o comportamento do fumo dos cigarros, observando as linhas desenhadas nessa acção. Neste segundo requisito foi também solicitado o objectivo de trabalhar o consciente dos visitantes para uma valorização dos valores do relacionamento entre pessoas, da cooperação e da colaboração. A presença da corda tem esse efeito simbólico, o de reforçar laços e o de aludir a uma utilização que vem desde tempos longínquos. Mas a utilização desta corda vai para além disso, pois os elementos da Prism Design criaram com ela uma estrutura bidimensional que funciona como uma interpretação do modelo da casa antiga. Numa área total com 200 m2 a iluminação tem um papel preponderante no reforço do imaginário pretendido e vai de encontro ao desejo de uma proposta para uma experiência com contornos de espectacularidade, mas acolhedora e intimista. A junção dos materiais utilizados – madeira, aço, cerâmica, corda e bambu – estão em sintonia com uma selecção de cores que coloca em evidência o contraste do vermelho com todas as outras tonalidades. Na pequena memória descritiva que nos enviou Tomohiro Katsuki, é destacado o trabalho do artista cerâmico Atsuki Tanaka, cujos obejctos são colocados em evidência numa galeria que presta homenagem à antiga tradição de fabrico manual de loiças, tão presentes na cultura chinesa e japonesa sem com isto esquecer a influência coreana nessa arte. | 67 |
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O trabalho da Prism Design foi para lá de uma simples tentativa de assemelhar o espaço a um cenário de um popular filme. No conceito desenvolvido foram atendidas a criação de inúmeras percepções imaginárias e simbólicas. Conseguiu-se uma expressão artística singular, utilizando identidades para sintetizá-las numa nova. Foi criada toda uma linguagem de valor universal e cuja percepção abre interpretações para além daquelas que foram solicitadas pelo proprietário.
http://prism_design.prosite.com/ | 72 |
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ROCHUS 1090 Arquitectura: Sรถhne & Partner Architects Texto: Tiago Krusse Fotografia: Sverin Wurnig
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Em Viena, na Áustria, a equipa da Söehne & Partner colocou mãos à obra do emblemático edifício do Rochus 1090, um novo bar/restaurante localizado na praça Bauernfeld no 9.º distrito da cidade. Ao planear a reabilitação e reformulação do edifício, a equipa de arquitectos e construtores levaram em atenção todos os requisitos exigidos pela edilidade local, sem negligenciar espírito de uma linha arquitectónica unificada. Ao dar início ao novo projecto a prioridade foi a de ligar os diferentes níveis do edifício e abrir o restaurante para a rua. O elemento emblemático do Rochus a manter foi o seu Jardim de Verão, uma construção de 1913. Ao invés de deitá-lo abaixo tendo em conta o seu estado de degradação, foi tomada a decisão de reabilitá-lo. Ao abrir os portais até as janelas de tecto, o Jardim de Verão passou a um programa que liga o interior ao exterior como também cria uma ligação a todos os pisos do edifício. Antes de iniciada a construção, a Söhne & Partner apercebeu-se de um mau funcionamento do espaço e a forma como ele estavam acomodados pelas divisões criadas. A cozinha apresentava-se num mezanino, por exemplo, ou a sala de convidados era enfiada para a cave. A escadaria antiga, para além de estar mais do que desgastada tinha o inconveniente de tornar a circulação entre divisões num verdadeiro desconforto para os clientes. Com o desenho | 78 |
de uma nova escadaria tornou-se mais eficaz e espaçosa a ligação entre os diferentes pisos, oferendo uma circulação confortável e mais adequada aos ritmos e fluxos de pessoas. A reorganização espacial das divisões tornou-se mais fácil e pensada de uma forma racional, colocando a cozinha na cave e estando na sala de convidados agora usufrui-se as boas vistas para a praça. O apelo estético da sala de convidados, em forma de u, toma para si o coração do edifício. Como nos salienta a memória descritiva, esta opção desmaterializa a estrutura em termos visuais, tendo sido utilizados revestimentos escuros e espelhos. Em contraste, o espaço de bar e as quatro lareiras ganharam maior expressividade por intermédio de pavimento dourado. Na sala de convidados acomodada no mezanino, há duas áreas delimitadas para fumadores e não-fumadores. Localizada a 2,40 metros sobre a estrada, esta sala ganha um especial enquadramento. A remoção de parapeitos por colocação de janelas do chão ao telhado, a sala dá a impressão de flutuar, ganhando luz e ar e abrindo-se para o espaço exterior.
www.soehnepartner.com
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BAÍA DE LUANDA Arquitectura: Land Plan e Costa Lopes Arquitectos Texto: Memória descritiva do projecto Fotografia: Cortesia da Sociedade Baía de Luanda
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Divulgamos um projecto de parceria desenvolvido por ateliers angolano e português, a Requalificação e Dinamização da Marginal de Luanda, em Angola, que venceu o Prémio Nacional De Arquitectura Paisagista 2013, promovido pelo jornal Arquitecturas. O projecto venceu a categoria Obra de Integração Paisagística tendo a distinção sido entregue, no decorrer da 9.ª edição Urba Verde – Fórum das Cidades Sustentáveis, realizada em Maio passado em Oeiras, à arquitecta paisagista Margarida Quelhas, que representou as equipas de Angola e de Portugal, nomeadamente a Costa Lopes Arquitectos e a Land Plan.
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Localização A Marginal de Luanda estende-se por mais de 3 Km ao longo da baía, desde o Forte de S. Miguel, a Poente, ao Porto de Luanda, a Nascente, constituindo a linha limite da primeira fase de expansão da cidade. A ligação entre a Marginal de Luanda e a Cidade faz-se a partir de largos e praças, que se abrem da baixa da cidade para a baía, a que estão associados os principais eixos de estruturação urbana. Condicionantes Tendo sido um dos principais espaços públicos da cidade de Luanda, a marginal encontrava-se degradada e insegura, quer pelo assoreamento e poluição da baía, quer pela ineficácia das várias redes de infraestruturas e pela saturação de trânsito, devida à insuficiência da rede viária e de lugares de estacionamento. | 86 |
Programa e âmbito de intervenção O programa proposto para a Requalificação e Dinamização da Marginal de Luanda previa reforçar a sua centralidade no contexto da cidade enquanto principal espaço público; dar continuidade à sua identidade construída ao longo do tempo, inscrevendo-a simultaneamente numa visão contemporânea de cidade; reforçar os pontos de ancoragem da estrutura da cidade à marginal, através da localização estratégica de pólos de atracção direccionados tanto para quem reside como para quem trabalha; promover a interacção social, permitindo actividades diversificadas vocacionadas para todas as classes e idades; apostar na vertente cultural, de desporto e lazer e privilegiar e facilitar a deslocação a pé ou de bicicleta. Proposta Foram criadas as condições para cumprir o objectivo de requalificar o espaço público da marginal de Luanda, em
primeiro lugar através de dragagens e limpeza das águas da baía, da reabilitação das redes de infraestruturas e ainda pela execução de um aterro que permitiu aumentar e melhorar a capacidade da rede viária e disponibilidade de estacionamento, ampliando a área destinada ao recreio e lazer. Tirando partido de uma nova área mais vasta entre a via e o mar, propôs-se a criação de um parque linear, com uma distribuição equilibrada de programação ao longo de toda a sua extensão. Geram-se pontos de concentração que se constituem como pólos de atracção e cuja localização reage à situação urbana especial de ancoragem com a cidade, ligados por elementos contínuos, que permitem uma imagem unitária de todo o espaço. O parque é constituído por áreas ajardinadas entrecortadas por zonas pavimentadas, parques infantis, estações de um percurso de manutenção e campos de “street basket”. Criou-se um passeio arborizado junto à via e um
passeio marginal contínuo ao longo da baía, acompanhado de uma ciclovia que corre sobre uma caleira técnica. As áreas ajardinadas organizam-se em faixas e canteiros de herbáceas ou arbustos, para enquadramento de espaços, e áreas relvadas, planas ou inclinadas, para recreio ou estadia informal. As áreas pavimentadas podem ser pequenas zonas de estadia, planas ou em anfiteatro aberto para a baía, ou ainda praças de alguma dimensão, que surgem no prolongamento das praças de ligação à malha urbana. Os materiais e desenho destas estendem-se para os dois lados da via, mantendo a continuidade independente das faixas de rodagem. A escolha do material vegetal, para além das características a que deve normalmente obedecer, foi ainda limitada pela disponibilidade de espécies e quantidades que estavam previamente condicionadas. Também a escolha dos materiais inertes teve de obede| 87 |
cer à facilidade de obtenção dos mesmos e à possibilidade de uma execução rápida. O mobiliário urbano proposto, a iluminação confortável e os futuros equipamentos de pequena restauração e comércio irão possibilitar uma utilização segura do espaço, por todos, a qualquer hora. Cumpre-se, assim, o propósito de devolver a Luanda um dos seus espaços públicos fundamentais tanto para a vida urbana como para a imagem da cidade.
www.landplan.pt www.costalopes.com | 88 |
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CASA BIOCLIMĂ TICA NA BRETANHA Arquitectura: Patrice Bideau Texto: Tiago Krusse Fotografia: Armel Istin
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A sua construção é de 2005, ano em que o dono desta moradia em Pluvigner, na Bretanha, em França, viu realizada a sua intenção de ter uma casa que estivesse em sintonia com os regulamentos energéticos decretados naquele ano pelas autoridades francesas. O arquitecto Patrice Bideau foi ao encontro do desejo do dono da obra e através de uma combinação de materiais como o metal e a madeira, consegui criar uma casa com divisões espaçosas e aquecimento central geotérmico. As especificidades do projecto mais as normativas energéticas levaram a que o arquitecto designa-se uma selecção de materiais composta por madeira, estruturas de betão, juntas de metal e telhado de zinco. Estes materiais | 92 |
permitiram criar uma solução de habitabilidade com conforto, prática e espaçosa. No texto de Patrice Bideau é mencionada uma ruptura com uma concepção tradicional para ser adoptada uma inspiração de linhas harmoniosas inspiradas pela arquitectura orgânica criando assim um nicho próximo da natureza e dos habitantes locais. A orientação da moradia, exposta a Sudoeste e a Norte, apresenta blocos de betão, com duplo enchimento, combinado com madeiras de espessura grossa e acabamentos de isolamento e quebra térmica. As paredes da casa, em arco, produzem um contraste entre os painéis e as paredes de betão pintadas. A casa assenta num pavimento de betão que preencheu a superfície de imple-
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mentação, assegurando assim um factos importante na acumulação de calor. O isolamento do tecto é efectuado por intermedio de 220 milímetros de lâ de rocha, sendo que a espessura das paredes, 120 milímetros no caso das madeiras e 100 milímetros no caso do betão, dotam o edifício de uma excelente performance. No Inverno as grandes janelas em vidro aumentam a exposição solar e por conseguinte ajudam a reduzir a despesa com o aquecimento. No Verão são sobretudo as portadas e a projecção do telhado que servem como protecção solar. A estrutura maciça do edifício permite resguardar-se das temperaturas mais baixas da noite. Com um programa de interiores bem delineado, colocou os quartos de criança no primeiro piso e a suite principal, com divisão para roupeiros, no piso térreo, virada para Este. A cozinha e sala de estar tiveram em consideração a circulação dentro da casa como também a relação para o jardim exterior. A sala de estar e o mezanino têm uma vista para uma área de refeições no exterior, pensada para os dias mais quentes e soalheiros de Primavera e Verão. A performance energética da casa cumpre as mais recentes normas de excelência estipuladas pela legislação francesa, aumentando para quase o dobro a sua intenção
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de sustentabilidade. Para além do edifício, os donos desta moradia solicitaram também um jardim bioclimático que veio assim preencher todos os desejos a uma arquitectura inspirada pela natureza, pela procura das harmonias, pela conservação dos equilíbrios e pela preservação da diversidade. Um projecto sóbrio que revela um aprofundamento no estudo dos materiais e nas mais adequadas técnicas construtivas que permitiram obter um resultado final em termos de sustentabilidade bom. Todos os elementos estruturais do edifício tiveram de corresponder às exigências de um mais elaborado comportamento térmico mas sem com isso esquecer a qualidade da habitabilidade e sua relação com o todo. A arquitectura do jardim reforça também essa intenção concretizada de uma melhor harmonia com o meio-ambiente.
http://atypiquepatricebideau.wordpress.com/
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LEITURAS
O Homem e a sua infinita complexidade parece ser o enquadramento que nos é permitido fazer deste Export, livro dedicado à actividade da Saraiva+Associados em mais uma boa publicação da Uzina Books. A nossa ideia sobre o Homem e toda a sua complexidade enquanto ser dentro de um colectivo é-nos sugerida por Miguel Saraiva, que nos expressa a importância do relacionamento humano e que vai muito para além da simples comunicação. Os comportamentos humanos como princípio de aprendizagem mas também como uma melhor percepção do Mundo com todas as diferentes expectativas, ambições e realizações. Pelo trabalho da Saraiva+Associados somos levados por um conjunto de finalidades, estratégias, valores e padrões que toda a equipa partilha no sentido de produzir bons resultados mas também de acrescentar maiores capacidades para passos futuros. Muito para lá da orientação estratégica do atelier e dos expressos desejos de Miguel Saraiva em querer deixar uma marca consistente nas obras, há como que o sonho de imortalidade pela qualidade do trabalho. E toda essa postura de fazer e pensar arquitectura parece-nos que não se deixa abalar pela competitividade desenfreada em produzir-se projecto em todos os cantos do globo. Há esse tereno comum que, não sendo apenas exclusivo dos arquitectos, tem vindo a ser explorado de várias formas e intenções. Em algumas verificamos uma maior tendência para a procura dos equilíbrios e noutras puramente a voracidade das ambições económicas. É neste contexto mundial que Miguel Saraiva e o seu atelier percebem o ambiente que vão encontrando nos países em que trabalham. É-nos revelado também em que condições são sentidas e vividas as actividades de toda uma equipa, que tem de ser competitiva perante uma concorrência muito agressiva. Dá-nos o retrato de um conjunto de pessoas que encara as exigências e as adversidades que estão associadas às legítimas ambições de internacionalização mas sem nunca esquecer o espírito da arquitectura do atelier. Entendemos bem a defesa de uma identidade e dos métodos desenvolvidos para que os objectivos sejam concretizados com êxito. E este desejo de sucesso nunca porá em causa as expectivas e ambições de todos aqueles com quem a Saraiva+Associados lida em Portugal ou no estrangeiro. Export Saraiva+Associados Uzina Books
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ESCUTAS
Com letras e música de João Correia este The Good & The Mean dos Tape Junk é um trabalho que nos agrada. O que nos atrai é esse imaginário sonoro que é universal, em que o composto de letras e melodias resulta num trabalho que com facilidade criamos afinidades. O rock e os blues surgem-nos em atmosferas bem trabalhados, não só pelos predicados da gravação como pelo sentido da composição. Se nos dois primeiros temas percebemos uma perigosa colagem às técnicas e propostas de Beck, não só pela voz e efeitos na gravação, em The Good & The Mean, terceiro tema que dá título ao álbum, deparamos com uma postura que contendo um sem fim de referências autorais se expressa com personalidade. Percebendo bem as gramáticas em que gosta de navegar, pensamos que João Correia pode soltar mais a sua criatividade.
The Good & The Mean Tape Junk Optimus Discos
O dj Thomas Herb vai ao baú da Black Label da editora bávara Compost Records e reúne 16 temas de autores que melhor espelham a atitude desta chancela. Se percebemos uma certa nostalgia e uma vontade de regresso às bases, sobretudo explorando os ambientes sonoros da escola de Chicago, há também lugar para dar espaço a novas posturas como as de Emil Seidel, Philipp Stoya ou Emilie Nana. Uma mistura cuidada de géneros da soul, house, techno e disco que se estende num alinhamento no qual a elegância das propostas expõe todas as capacidades de Thomas Herb como dj. Apesar da mais variada electrónica rítmica minimal, que sobressai no todo, este volume 5 acaba por conseguir trazer ao de cima uma notória capacidade de criar um balanço quente, relaxante e sedutor. Os menos inclinados para este género de música têm aqui uma boa forma de perceber e apreciar certos tribalismos sonoros. Surge-nos esta boa surpresa, numa fase de aparente estagnação dos géneros.
Black Label Series Vol. 5 Compilado e misturado por Thomas Herb Compost Black Label
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LEITURAS
Estamos perante um bom enquadramento sobre o projecto do edifício sede da empresa Iperforma, localizado na Rua do Esteiro de Campanhã, no Porto. Um projecto de reabilitação e reforma liderado pela equipa da própria empresa, que evidencia mais do que um respeito pela arquitectura do lugar e traz também consigo uma visão para a evolução harmoniosa da cidade. É livro bem coordenado, com um bom seguimento e enquadramento de todos os assuntos ligados ao projecto. As fotografias, os textos, desenhos e esboços reflectem a consistência de uma unidade que quer deixar registada todas as etapas e desígnios que marcaram a obra. A qualidade dos textos não nos deixa indiferentes pois existem neles, para além da memória descritiva da obra e seus propósitos, um contributo crítico que muito nos agradou no que ao urbanismo do Porto diz respeito. Sem querer desvalorizar o bom contributo de pensamento de outros autores de textos presentes nesta edição, marcaram-nos sobretudo as mensagens de José Bernardo Távora e o enquadramento histórico do lugar produzido por Margarida Quintã. São dois documentos escritos que nos fazem reflectir sobre a relação entre espaço, tempo e arquitectura. Sem reduzi-los apenas a isso, o que nos ficou é essa importância da preservação da identidade dos lugares e como afinal Homem e Arquitectura vivem mais associados do que se possa imaginar. Como todo e qualquer projecto é bem mais do que apenas desenhar novos conceitos, construir bem e trazer consigo todas as evoluções positivas. Fica-nos esse vinco de que o Homem é sempre factor a ter em primeiro lugar, quer pelos aspectos objectivos das suas necessidades como pelas legítimas aspirações na preservação de uma memória, sempre colectiva. Tal como nos é transmitida a forma elevada com que todo este projecto de arquitectura foi programado e concluído, também a edição álbum se colocou num alto grau de exigência e que fica bem expresso na elegância desta edição. Ficam assim reunidas todas as condições que nos permitem registar na memória a boa arquitectura feita Portugal, mesmo quando as condições sociais e políticas não são as mais propícias à forma séria com que alguns se entregam ao trabalho.
Iperforma – Edifício Sede Uzina Books
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ESCUTAS
Os irmãos Guy e Howard Lawrence criaram a banda Disclosure e com ela trazem o lançamento do primeiro álbum de longa duração. Uma introdução e mais 13 temas lançam-nos numa atmosfera sonora toda ela muito bem trabalhada, no ponto de nos oferecer toda uma frescura de elementos e ao mesmo tempo referências da história recente da cena down tempo e big beat britânica. As cristalinas sequências rítmicas aliadas ao poder das vozes, que são distintas e calorosamente diferentes, recuperam a identidade dos meados da década de 90 e trazem com uma inovadora pujança. O tema When A Fire Starts To Burn é como um libreto, uma bem depurada sinopse do que se pode esperar pelo que virá adiante. O que nos chega é puramente batida e atitude, com uma elegância instrumental e um fascínio vocal fora do baralho. Temas bem estruturados, com esquemas simples e aos quais se vão juntado pequenos “arranjos” que trazem a tal frescura inovadora de abordagem. E se olharmos para um tema como F For You percebemos como de pouco se consegue ganhar uma profundidade hipnótica. E parece-nos que o segredo está na forma como todos os registos electrónicos foram conjugados, em equalização, efeitos e mistura. Sem dúvidas que é para retirar o melhor proveito!
O rapper Kanye West vem com este seu sexto álbum, Yeezus, trazer-nos um retrato fiel de quem perdeu as referências. Isto é, parece-nos que depois de tão inspirados e inovadores registos musicais, West quis ir para além do tecto que já tinha estabelecido através do seu mais valioso reportório. O que para muitos poderá parecer arrojo, para nós soa-nos apenas a um testamento agressivo de quem quis estabelecer novas regras, não só de comportamento social como também musical. A forma como a própria embalagem do cd se apresenta diz um pouco do vazio que ficou quando o rapper decidiu atirar-se para fora de pé e entrar num suposto novo estádio de existência. Ao anular coordenadas que até aqui tinham orientado a sua produção musical, West acabou apenas por se revelar um homem insatisfeito e num registo triste e monocórdico que roça uma parolice transvestida de suposta vanguarda. Fica-nos a ideia de um pseudo revolucionário que se pode dar ao luxo de tais inconsequências pois tem várias formas que lhe podem aparar as quedas, os insucessos e esta inequívoca ausência de criatividade. Pensamos que lhe faltou a capacidade para discernir o que é bom do que é mau. Não gostámos.
Settle Disclosure Universal Music
Yeezus Kanye West Universal Music
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