Revista Diversifica 003

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EXPEDIENTE DIVERSIFICA EDITORES-CHEFES Paco Souza Gabriel Prata EDIÇÃO EXECUTIVA Pedro Rangel ASSISTÊNCIA À PRODUÇÃO Bernardo Azevedo Wilson Sanchez REVISÃO Paco Souza PROJETO GRÁFICO Gabriel Prata EDIÇÃO DE ARTE E FOTOGRAFIA Gabriel Prata Larissa Mercury A revista DIVERSIFICA é uma publicação semestral do coletivo Diversifica. REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO Av. Doutor Armando Panunzio, 1893 Bl. 3 Ap. 301 - Jd. Vera Cruz. 18050-000 - Sorocaba - SP.

COLABORADORES DESTA EDIÇÃO CAPA Meu corpo, minhas regras FOTO Lucas Moratelli, 2O14 Adriano Silva Anita Costa Prado Anna Alchuffi Aurineide Alencar Bárbara Guazzelli Chrysthopher Dekay Deidimar Brissi María Virginia Esparza Guilherme Ferreira Aniceto Rafael Guerche Raphael Ortiz Rulio Borges Ulisses Tavares

IMAGENS Felipe Stucchi Maria Lima Mariana Silveira Gabriel Prata Itamara dos Santos Ribeiro Lucas Moratelli Marcel Trindade Nery Tainá Rei


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Ilustrações de Gabriel Prata São Carlos, 2014.


EDITORIAL

ENSAIO SOBRE ESSA NOSSA CEGUEIRA por Paco Souza

"(...) E tentou outro poema E o intitulou de 'Absolutamente Nada’ Porque era o que estava em toda parte E ele se deu um A e um corte em cada maldito pulso E se encostou na porta do banheiro porque nessa hora ele não pensou que poderia alcançar a cozinha". (Retirado do livro "As vantagens de ser invisível")

Chamou-me a atenção o recente caso do adolescente que se suicidou em São Paulo, a discussão que gerou pela dúvida se havia sido homicídio por homofobia ou não. Surpreendeu-me que, quando constatado que foi suicídio muitas pessoas disseram; "ah, ok", e o caso acabou sendo mais um que "saiu de moda" e sumiu da mídia… Como ok?! Por acaso o suicídio é um ato de menor "midialidade"? Talvez a sociedade esteja com as mãos sujas demais para o caso ir adiante na mídia. Sujas demais por descriminar jovens gays, sujas demais por condenar a existência deles. Milhares de jovens LGBTs sofrem diariamente por homofobia. Talvez as mãos de ninguém o empurraram, mas quiçá palavras. O adolescente se tornou só mais um ser indigesto que caiu na contramão atrapalhando o tráfego. Houve também o caso de outro jovem em São Paulo que foi agredido até a morte na região da Augusta. Você que como eu já passou de madrugada naquela região sabe que a diversidade de pessoas é ampla, e apesar de sempre termos (ou tentarmos ter) cautela, nunca se espera que alguém vá lhe fazer algo, principalmente pelo simples fato de sua forma de agir (não digo nem sexualidade, pois a pessoa julga pela aparência física) ser "diversificada".


São Paulo, à primeira vista, parece uma cidade bem resolvida. Vemos casais gays caminhando nas ruas de mãos dadas, trocando carícias dentro do metrô, fazendo carão em bares, tudo aparenta estar bem. Porém ao chegar a noite, bestas feras aparecem e acabam covardemente com a vida de jovens que ainda tinham muito o que viver. Refletindo sobre estes e outros casos nós poderíamos culpar o adolescente por se matar, poderíamos culpar um determinado grupo por espancar até a morte um homossexual, poderíamos culpar varias pessoas por tudo. A verdade é que varias pessoas realmente são culpadas: eu, você leitor, a policia, os skinheads, os g0ys, a igreja, o seu vizinho, o "machodiscreto_cam", dona Anália, senhora que mora no quarteirão de baixo da minha casa... Somos todos culpados por estes e por diversos outros crimes: somos omissos. É o pensamento fundamentalista da sociedade que cria os homofóbicos, é esse olhar fechado que mata travestis, que coloca negros amarrados em postes à deriva de justiceiros, que lança bananas à seres humanos (e não a macacos). E por falar em g0ys, é curioso como noticias relacionadas a eles ganharam a internet no ultimo mês, gerando amplas discussões (PRINCIPALMENTE na comunidade LGBT). Se olharmos pelo âmago da coisa não há nada de novo nesse grupo: homens "heteros" que unem-se para fazer sexo, e neste caso (como em muitos de décadas atrás) não envolve penetração anal. Ou seja: é um mais do mesmo, mas com uma denominação mais "geração Z". Estou comentando sobre os g0ys, tema mais mainstream ultimamente, para exemplificar aquilo que já sabemos e que talvez não queiramos aceitar: nossa revolucionaria geração não é tão revolucionária! Acalme-se, porém, jovem padawan hightec, não estou querendo generalizar. Quero apenas chamar a atenção do leitor para o fato de que muito do que vemos hoje e acreditamos ser algo novo, é apenas uma releitura do passado, e as questões referentes à diversidade sexual não PACO SOUZA

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parecem ser tão diferentes. As barbáries continuam acontecendo, assim como as tentativas de enquadramento em grupos e de fugir de estereótipos considerados disfóricos (ser gay afeminado, por exemplo). Mamãe, assim como muitos da geração dela, olha indignada para essa sodomia toda, dizendo que antes as coisas eram melhores, que este é o fim dos tempos, e que na época dela não existiam essas coisas. Sempre fico pensativo quando ouço esse tipo de frase. Esse "antes" era quando? Durante a ditadura? Ou ela esta avançando mais profundamente no passado e pensando na maravilha que era a segunda guerra mundial? E o que dizer sobre os que fortemente condenam a transexualidade? Esses que dizem que isso é coisa do capeta, que antes não tinha nada disso não? Só digo uma coisa: um beijo pra você Roberta Close. Por onde será que anda Roberta Close? A sociedade precisa tirar suas máscaras e assumir seus preconceitos. A homofobia e a transfobia ainda existem sim. As mortes que citei no início do texto são provas inegáveis do fato. LGBTs precisam ser aceitos, por mais óbvio que isso pareça. As diferenças de gênero existem. Ponto. O preconceito de gênero infelizmente não se restringe aos heterossexuais. Parte da comunidade LGBT também é homofóbica. O exemplo dos g0ys deixa isso bem claro: esse medo de ser tachado como gay, essa preocupação com o que a sociedade irá pensar, a tentativa de achar vocábulos que fujam do esteriótipo... Um recado para os g0ys: não importa sua sexualidade, o que te dá tesão só importa para você. Não intervenha porém no tesão alheio. Grupos como este exaltam características extremamente machistas, e é o machismo que espanca gays nas ruas e os empurra do alto das pontes. Mais uma vez passamos pela crise da pertença: negros, brancos, iii

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heteros, gays, g0ys, bissexuais, assexuados, lésbicas, transexuais, feministas, machistas, virgens e putas... Fico chocado quando vejo um grupo de "feministas" que impedem gays ou mesmo transexuais de participarem do movimento; gays que acham que travestis não deveriam usar o banheiro feminino... Nossa geração vai às ruas nos dias de hoje pela foto tirada para o Instagram, o gigante acorda e rapidamente dorme. Convido você leitor a refletir: qual o nosso papel nas mudanças

O que podemos fazer para mudar os paradigmas atuais?

que se dão na sociedade?

Cada pessoa tem um papel para desempenhar, não devemos ser omissos a questões que interferem na nossa vida e em nossa forma de se relacionar com o mundo, não devemos virar as costas quando alguém necessita de nosso apoio, olhando apenas para o próprio umbigo. Suplico: deixemos de ser homicidas e não atiremos mais gays de pontes. Reajamos! Diversifiquemo-nos! Paco Souza É bailarino, escritor, produtor e integrante do corpo editorial da revista. Adora dançar, escrever e fofocar sobre tempos vindouros da atualidade. Acha que é rica, fina e hétero. Seu drink favorito é champagne com Rivotril.

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COMUNICAÇÃO Já está aberta a chamada de trabalhos para a Quarta edição! Atualmente, estamos estudando a possibilidade da próxima edição ter um formato impresso, reunindo os melhores trabalhos já recebidos desde as primeiras edições. Portanto fique atento e não deixe de participar. Você pode ter seu trabalho divulgado em um belíssimo volume impresso! =] Envie-nos seu trabalho! A Revista Diversifica é aberta às mais diversas produções relacionadas ao tema da diversidade sexual. Se você possui trabalhos nesta área e quer divulgá-los, fique atento às nossas chamadas de trabalhos. Por se tratar de uma revista digital, são aceitos os mais diversos formatos de produção: contos, crônicas, poesias, artigos científicos, entrevistas, fotografias e ensaios, músicas, desenhos, charges, cartoons, vídeos, dentre outros. Visite nosso site para acessar as edições da revista, novidades, informações e chamadas de trabalhos [ revistadiversifica.blogspot.com.br ]

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COMUNICAÇÃO


Ilustração de Marcel Trindade Porto Alegre, 2011.


SUMÁRIO

GÊNERO

crônica de Adriano Silva

NO DIA SETE DE FEVEREIRO crônica de Bárbara Guazzelli

A LEI DO GÊNERO NA ARGENTINA artigo de Maria Virginia Esparza

NA PARADA 16

conto de Gabriel Prata

PRECONCEITO VELADO

crônica de Chrysthopher Dekay

IMUNES À FERRUGEM

poema de Guilherme Aniceto

A REPRESENTAÇÃO DA HOMOSSEXUALIDADE NA TELENOVELA BRASILEIRA

artigo de Rulio Borges

EU MULHER, EU LÉSBICA, EU SER HUMANO!

poema de Anna Alchuffi

KATITA

quadrinhos de Anita Costa Prado

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64 66 74 89 93

SPOILER

poema de Ulisses Tavares

SOU HUMANO, O QUE BASTA É SER FELIZ cordel de Aurineide Alencar

MENINOS TAMBÉM AMAM

poema cênico de Rafael Guerche

FOI ASSIM

crônica de Deidimar Brissi

A EDUCAÇÃO DE PARES ENTRE GAYS E HSH NO PERCURSO DO ENFRENTAMENTO dA EPIDEMIA DE HIV/AIDS NO BRASIL artigo de Raphael Ortiz

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AUDIOVISUAL

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AGRADECIMENTOS

curtas, drops, docs e trailers Gender Obsolescence Amapô Não gosto dos meninos Hoje eu quero voltar sozinho Praia do Futuro Tatuagem texto de Diversifica



GÊNERO por Adriano Silva

O que é o corpo? Será que o corpo é apenas um aparato bioló gico que nos permite transitar pelo mundo? Será que ele se reduz a uma m´quina perfeita ou a um mero objeto esté tico a ser contemplado segundo os padrõ es de beleza vigente? O que torna uma pessoa homem ou mulher? Será o ó rgã o genital que tem entre as pernas? Ser homem ou ser mulher está muito alé m de ter um pê nis ou uma vagina. Na sociedade em que vivemos existem pessoas que sã o transexuais. As pessoas transexuais podem estar no seu trabalho, na sua escola e principalmente na sua casa. As mulheres e homens transexuais tê m uma identidade de gê nero que nã o coincide com o sexo designado no seu nascimento. E, portanto, necessitam de uma mudança que vem de dentro para fora. As pessoas Trans sã o incompreendidas por seus pais e nã o sã o aceitas pela sociedade em geral. Vivemos em uma sociedade homofó bica, lesbofó bica, bifó bica e transfó bica. A transfobia consiste na violê ncia cometida contra Transexuais e Travestis. Muitas jovens travestis e transexuais sã o expulsas de casa, tendo como ú nica alternativa de sobrevivê ncia a prostituiçã o. Mulheres travestis e transexuais foram mortas esse ano no Brasil. Luana Riany, Fernanda Queiroz, Gabriela Santana, Monica Santclair, Inete... No entanto, a notıćia que é propagada é “O travesti foi assassinado”, cria-se um contexto que criminaliza a pró pria vıt́ima morta. E um crime “nascer homem e querer ser mulher”, “onde já se viu um cabra vestido de mulher?” sã o pensamentos como esses que sã o propagados nessa sociedade machista na qual vivemos. A mulher transexual ou travesti passa sua vida defendendo sua identidade feminina, no entanto apó s seu sangue ser derramado por intolerâ ncia ela é citada como apenas um dado a mais, a�inal foi só um travesti

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que morreu, quem se importa? Viver como mulher e morrer como homem, ou será morrer nã o sendo nem homem nem mulher, sendo reduzida a uma estatıśtica, essa estatıśtica nã o entra nos dados de violê ncia contra a mulher, a�inal se tratava de um ser desprezıv́ el, restituıd ́ o, marginalizado, sem lar, sem famıĺia, sem sentimentos. E assim que a sociedade vê as mulheres Trans. Sociedade que discrimina, segrega e mata.

Quem chorará a morte das travestis e transexuais?

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GÊNERO


Adriano Silva Nascido em Santa Cruz - RJ, em junho de 1987, militante do movimento LGBT de João Pessoa, tesoureiro do MEL (Movimento do Espirito Lilás). Atualmente cursa serviço social na Unopar de João Pessoa - PB. Ilustração de Nery

AUTOR

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NO DIA SETE DE FEVEREIRO por Bárbara Guazzelli

No dia sete de fevereiro de 2014, o Google lançou em sua página oficial o Doodle das Olimpíadas de Inverno sediadas em Sochi, na Rússia. Junto a uma imagem que carregava as cores do arco-íris, havia uma passagem presente na Carta Olímpica:

"A prática esportiva é um direito humano. Todas as pessoas devem ter a possibilidade de praticar esporte sem qualquer tipo de discriminação e conforme o ideal olímpico, que exige compreensão mútua e um espírito de amizade, solidariedade e fair play." A Rússia recentemente aprovou uma lei que pune qualquer tipo de “propaganda” homossexual que possa ser vista por menores de idade, causando revolta em vários lugares. A lei russa é claramente preconceituosa e legitimou a homofobia naquele país, dando margem para que extremistas abusem de direitos básicos do cidadão. Uma rápida busca no YouTube, por exemplo, mostra vídeos em que homossexuais russos são agredidos na rua em plena luz do dia. Outro exemplo é o caso da saltadora russa Yelena Isinbayeva. Na rodada classificatória de salto em altura, uma das atletas pintou as unhas com as cores do arco-íris, símbolo do movimento LGBTT, em claro protesto às medidas homofóbicas então tomadas pela Rússia. Em uma coletiva de imprensa, Isinbayeva foi infeliz em dar declarações dizendo que isso era desrespeitoso, em meio a frases como: “Se permitirmos promover e fazer essas coisas (referindo-se a apoiar o movimento gay) nas nossas ruas, ficaremos com medo de

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nosso próprio país. Nós nos consideramos pessoas normais, homens com mulheres e mulheres com homens", disse Isinbayeva, após receber sua medalha de ouro. Muitos atletas chegaram a declarar boicote às Olimpíadas de Inverno, mas o movimento LGBTT russo afirmou, com razão, ver esse evento como uma ótima oportunidade de visibilidade mundial. O evento ocorreu normalmente, com a promessa do governo russo de que a lei não se aplicaria aos participantes das competições. As manifestações contrárias à nova lei, porém, ocorreram principalmente fora da Rússia durante as Olimpíadas. A principal justificativa por parte do governo russo a respeito das medidas tomadas é que eles estariam protegendo as crianças. Há muita semelhança nesse discurso com o que foi falado a respeito do beijo gay na Rede Globo. Mas não há qualquer fundamento para que posturas assim existam, já que independente do que é falado, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e trangêneros existem, sempre existiram e sempre vão existir. Isso não depende de beijo gay em novela, de manifestações em olimpíadas, ou da opinião de quem quer que seja. Isso existe e ponto. É momento de entender que a sexualidade humana é muito diversa, como as cores do arco-íris, e nunca vai mudar a despeito de comentários contrários a esse fato. O problema em "ser contra" e disparar comentários sob a proteção da liberdade de expressão é que atitudes assim contribuem para que pessoas sejam agredidas no mundo inteiro. Há uma verdade sobre a apatia da maioria das pessoas que se limitam ao "eu não sou preconceituoso, mas quero longe de mim": Elas fecham os olhos para aqueles casos em que a pessoa não quis longe, mas quis extinguir da face da terra. Casos que são tão chocantes que entram para as estatísticas como “crimes de ódio”. Aqui no Brasil crimes assim também existem. Para essas pessoas, que usam a liberdade de expressão como desculpa para oprimir, só posso pedir que entendam que sua postura contribui para esse tipo de violência.

Bárbara Guazzelli Nascida em São Miguel Paulista, zona leste da capital paulista, em 17 de agosto de 1983, porém mora há 10 anos em São Carlos - SP, onde formou-se mestre em Arquitetura e Urbanismo. Devoradora de livros, tem interesse na vida pessoal de amigos novos e antigos e em viajar. Ilustração de Nery

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Ilustração de Nery São Carlos, 2014.


остановить насилие



A LEI DO GÊNERO NA ARGENTINA Uma perspectiva comparada sobre seu surgimento e processo histórico por María Virginia Esparza

Programa Universitario de Diversidad Sexual Facultad de Humanidades y Artes UNR - Universidad Nacional de Rosario

Perante a promulgação da Lei de Identidade de Gênero na Argentina, em maio de 2012, surge a necessidade de uma análise pormenorizada dos elementos que a compõem. A intenção do presente trabalho é estudar em detalhe os artigos mais relevantes da norma, que modificam diretamente a forma de vida da comunidade trans. Os artigos, tratados individualmente, são comparados e relacionados com a legislação anterior sobre o tema para depois articular a totalidade da lei com o projeto precedente e, dessa forma, obter um foco jurídico capaz de observar avanços e retrocessos históricos nos direitos das pessoas trans em particular. A partir do trabalho pretende-se demonstrar que a incorporação da lei à estrutura jurídica argentina produz uma especificação legal em relação ao assunto que não se produzia com a vinculação de tratados internacionais à Constituição Nacional, estabelecendo a possibilidade de uma mudança de nome sem a necessidade de um processo de psiquiatrização ou de uma correspondência genital que a justifique. Identifica-se na lei um avanço muito importante, porém não suficiente para abranger as mudanças sociais necessárias que garantam a integração social das pessoas que historicamente têm sido consideradas “diferentes”. Palavras-chave Lei; Gênero; Trans ARTIGO 31


Algunas consideraciones sobre la Ley de Identidad de Género Como es de público conocimiento el día 9 de mayo de 2012 se sancionó en la Argentina la Ley de Identidad de Género (en adelante L.I.G.) que fue promulgada el veintitrés del mismo mes. Esta ley generó el reconocimiento explícito de la identidad de género de personas trans, incluyendo con ello a travestis, transexuales y transgénero. Si bien ella no resuelve todos los problemas que sufre la comunidad trans, a corto plazo permite el acceso al trabajo, a la educación, a la justicia, a la vivienda y a la salud y logra dar un piso de igualdad en términos de ciudadanía. La ley comienza diciendo: toda persona tiene derecho al reconocimiento de su identidad de género y al libre desarrollo de acuerdo a ella. Define su concepto de la siguiente manera: Se entiende por identidad de género a la vivencia interna e individual del género tal como cada persona la siente, la cual puede corresponder o no con el sexo asignado al momento del nacimiento, incluyendo la vivencia personal del cuerpo. La diferenciación entre el sexo y el género de una persona se hace notar en la primera oración. El sexo hace referencia a lo genital, y en cambio el género gira en torno a la “vivencia interna” y personal del cuerpo. Es claro que esta idea se basa en la visión tradicional que distingue entre sexo y género, y los plantean como dos espacios de actuación completamente separados. Esta distinción surge de un paradigma biomédico que establece la división entre sexo masculino y femenino a partir de los órganos genitales de las personas, produciendo una norma sexual binaria. Tradicionalmente se ve, entonces, que el género es la construcción social del sexo y que va a ser también binario y heterosexual, el sexo sería la base sobre la que se desarrollará el género, primero es el sexo y después el género. Parafraseando a Aristóteles, el sexo sería la materia y el género la forma. En oposición a esta postura, surge la idea de la artificialidad de la heteronormatividad, que logra internalizar la mutabilidad del género comprendiendo que las pautas que lo hacen surgir son culturales, por lo tanto van a cambiar a lo largo de la historia. En este sentido, para Judith Butler (2002), género y sexo actúan uno sobre otro. La autora rompe con el esquema tradicional cuando dice: El 32 ARTIGO

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sexo es una construcción ideal que se materializa obligatoriamente a través del tiempo. No es una realidad simple o una condición estática de un cuerpo sino un proceso mediante el cual las normas reguladoras materializan el sexo y logran tal materialización en virtud de la reiteración forzada de dichas normas (p.18). No ve al sexo como algo estático y meramente material. El sexo deja de tener una función inactiva. Ambos sexo y género influyen uno sobre el otro desde el mismo momento. El sexo deja de ser un dato corporal dado, sobre el que se impone la construcción artificial del género y pasa a ser una norma cultural que gobierna la materialización de los cuerpos (p.19). A pesar de que la ley toma ideas que están alejadas de pensamientos más novedosos como el de Butler, nos parece importante señalar que la promulgación de este tipo de leyes es fundamental para la sociedad aun cuando tenga errores o defectos que puedan mejorarse. Pero, ¿qué entiende el derecho, y particularmente los derechos humanos por identidad de género y cómo la reconoce? En ellos, la identidad de género hace referencia, también a la vivencia interna e individual, la cual podría corresponder o no con el sexo asignado al momento del nacimiento, incluyendo la vivencia personal del cuerpo que podría involucrar la modificación de la apariencia o del cuerpo. Gracias al artículo 75 inciso 22 de nuestra Constitución Nacional, agregado con la reforma de 1994, quedaron incorporados a ella una serie de Tratados Internacionales que establecen pautas claras en materia de derechos. Este artículo luego de enumerar cuáles son los Tratados, determina que ellos pasan a tener jerarquía constitucional, que no derogan artículo alguno de la primera parte de esta Constitución y deben entenderse complementarios de los derechos y garantías por ella reconocidos. Los principales instrumentos sobre derechos humanos enumeran en términos casi idénticos las formas de discriminación prohibidas por el derecho internacional. Así, por ejemplo, la Declaración Universal de los Derechos Humanos dice en su artículo n° 2: Toda persona tiene todos los derechos y libertades proclamados en esta Declaración, sin distinción alguna de raza, color, sexo, idioma, religión, opinión política o de cualquier otra índole, origen nacional o social, posición económica, nacimiento o MARÍA VIRGINIA ESPARZA

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cualquier otra condición. Este y otros Tratados Internacionales prohíben la discriminación por razones de raza, color, sexo, idioma, religión, etc. Pero la prohibición de la discriminación a partir de la identidad sexual quedaría incluida en la frase: “cualquier otra condición”. A pesar de su falta de especificación no debemos considerar que la protección de estos Tratados sea menor, porque como ya se dijo, tienen jerarquía constitucional. Pero desearíamos una cláusula particular en torno a la identidad, aunque se sabe que esto no es posible a menos que se reforme la constitución y se incorporen nuevos Tratados o el reconocimiento de nuevos derechos en su parte orgánica. A pesar de esto nos parece que el derecho a la igualdad está ampliamente reconocido en nuestra constitución y que el derecho a la propia identidad de género queda incorporado dentro de él. Estudiando el proceso de reconocimiento de dicha identidad en la Argentina observamos que en la década de los ´90 el movimiento trans comienza a poner en debate público la legitimidad sobre sus cuerpos, haciéndose cada vez más visible como fuerza política. Es en esta época en donde se van a dar los primeros pasos de lucha en un camino cada vez más transitado para llegar al reconocimiento de su identidad. Si nos remontamos al año 1967 en la Argentina el entonces presidente de facto, Juan Carlos Onganía, dictaba el decreto ley n° 17.732, que regula el ejercicio profesional de la medicina. Allí se hace mención a la situación de las personas trans en términos de acceso a la medicina con fines de hormonización y reasignación sexual quirúrgica. El artículo 19 dice claramente: Los profesionales que ejerzan la medicina están, sin perjuicio de lo que establezcan las demás disposiciones legales vigentes, obligados a no llevar a cabo intervenciones quirúrgicas que modifiquen el sexo del enfermo (el resaltado es propio de la autora de este trabajo), salvo que sean efectuadas con posterioridad a una autorización judicial. Esta prohibición se mantendrá vigente hasta la promulgación de la ley que estamos estudiando. Son aproximadamente 45 años en donde las personas trans que desearan someterse a cualquier tipo de tratamiento quirúrgico para modificar su sexo, debían hacerlo de forma clandestina o en el exterior, en países en donde esto no estuviera prohibido. Pero a pesar de ello, una persona trans que 34 ARTIGO

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hubiera accedido a la operación no podía obtener un D.N.I. que reflejara su nueva identidad ya que la Ley de Nombre, N° 18.248, de 1969 establece en su tercer artículo que no se pueden elegir nombres que susciten equívocos respecto del sexo de la persona. En este contexto ser trans en la Argentina implicaba estar condenada/o a distintas prácticas de persecución sistemática, represión, discriminación y exclusión social, además del proceso de criminalización de la identidad de género. Esta situación se ve reflejada en la mayoría de los códigos de faltas de las diferentes ciudades del país que incluían al travestismo como una contravención contra la decencia pública. Por ejemplo, el código de faltas de la ciudad de Santa Fe decía: Travestismo. El que se vistiere o se hiciere pasar por persona del sexo contrario y ocasionare molestias, será reprimido con arresto hasta veinte días, antes de que fuera derogado en el año 2010. Es así que en el 2007 se comienza el proceso de derogación de estas figuras en los diferentes códigos.

El derecho al nombre La Ley del Nombre, n° 18.248, era clara con respecto a la elección del nombre, debía tener un correlato con el sexo de la persona. En este sentido la Ley 26.743 (L.I.G.) modifica completamente lo anterior. No impone la necesidad de correspondencia entre nombre y sexo, ya que no obliga a quienes deseen reasignar su identidad a realizarse operaciones de cambio de sexo que vayan de la mano con el cambio de nombre. Dice en su primer artículo: Toda persona tiene derecho a ser tratada de acuerdo con su identidad de género y, en particular, a ser identificada de ese modo en los instrumentos que acreditan su identidad respecto de el/los nombre/s de pila, imagen y sexo con los que allí es registrada. Además continúa diciendo: Artículo 3º — Ejercicio. Toda persona podrá solicitar la rectificación registral del sexo, y el cambio de nombre de pila e imagen, cuando no coincidan con su identidad de género autopercibida. Debemos establecer que uno de los principales puntos a favor de esta ley es la no necesidad de algún tipo de trámite judicial para realizar la rectificación del nombre de la persona. Se busca que sea un trámite sencillo, a realizar en el Registro Nacional de las Personas y sin la obligación de la participación de médicos o MARÍA VIRGINIA ESPARZA

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psiquiatras o incluso jueces que cuestionen el motivo del cambio de nombre, o que busquen la coincidencia entre sexo, género y nombre. Si bien la ley establece requisitos para iniciar el trámite, son meramente formales, como lo es presentar una solicitud ante el registro pidiendo que se realice la rectificación. En lo que si hace hincapié, es en la necesidad de que la persona sea mayor de edad, es decir mayor de 18 años, ya que en caso contrario se hará necesario la autorización de sus representantes legales, padres o tutores. Nos parece importante aclarar que el proyecto de ley anterior establecía como requisitos, para la rectificación del sexo y cambio de nombre que conste: La existencia de disonancia entre el sexo inicialmente inscrito y la identidad de género autopercibida por la persona solicitante, (pauta establecida en la actual ley) y, la estabilidad y persistencia de esta disonancia. Por último decía: La persona solicitante podrá aportar, a efectos de dicha constatación, todo medio de prueba fehaciente. Son estos 2 elementos los que, en nuestra opinión, fueron removidos favorablemente del proyecto definitivo. Por un lado se establecía la necesidad de que haya cierta estabilidad y persistencia entre el sexo y la identidad de género autopercibida. Frente a pautas así cabe preguntarnos: ¿Cuánto tiempo tiene que transcurrir para que algo sea considerado estable? Por otro lado establece la obligación de demostrar esta diferencia a través de pruebas fehaciente. Pero, ¿a qué se consideran pruebas fehacientes? Legalmente, El concepto de prueba fehaciente es un criterio que puede ser muy flexible. Este proyecto dejaba, erróneamente, márgenes discrecionales en los que actuarían los funcionarios de la Oficina de la Identidad de Género que este creaba. Es por esto, que nos parece que la ley promulgada es más coherente en relación con su proyecto anterior, pero ambos continúan teniendo elementos propios de la heteronormatividad como pauta que rige a la sociedad. Ambos obligan a la comunidad trans a elegir entre masculino o femenino. No existe la posibilidad de que haya otro casillero en el D.N.I, no existe una tercera opción. Se impone el binomio masculino – femenino, estableciendo obligatoriamente la elección heteronormativa. Para la ley sólo existen hombres y mujeres, nada más. 36 ARTIGO

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Despatologización de las identidades trans. Eliminación del proceso de psiquiatrización Un punto clave en la ley es la eliminación del proceso de psiquiatrización, que va unido de la mano de la despatologización de las identidades trans. Por “psiquiatrización” comprendemos a la práctica de definir y tratar a la transexualidad bajo la norma de trastorno mental. La ley en ninguno de sus artículos establece la necesidad de acudir a un médico psiquiatra para que de fe que esta “vivencia interna” no coincide con el sexo asignado al nacer. Esta eliminación de la medicina como medio para categorizar a las personas trans es un gran avance. La medicina ofrecía tratamientos específicos hacia la otredad sexual en los siglos XIX y XX. En el XIX, esta disciplina ofrece a la burguesía nuevas herramientas para el control social de la sexualidad y de las personas “diferentes”. Así el término sodomita hacía referencia a las distintas clases de transgresiones sexuales, pero apenas se las diferenciaba, y entre ellas se encontraban los homosexuales, travestis, transgénero, personas que tenían sexo con animales o sadomasoquistas. Por eso posteriormente, la psiquiatría va a vaciar esta categoría y la va especificar, va a ordenar su contenido. Nace el perverso sexual, categoría que incluye a homosexuales, a la práctica de la necrofilia o el travestismo y las sexualidades no ortodoxas, que son perseguidas a partir de estas ideas. Oscar Guasch (2000) dice claramente: El modelo de normalidad sexual definido por la medicina a lo largo del siglo XIX, es un modelo heterosexual, reproductivo y moral (p.73). Luego de la Segunda Guerra Mundial, la heterosexualidad comienza a cuestionarse y a partir de los años 50 se produce un lento proceso de cambio con respecto a la sexualidad en la medicina. Un ejemplo reciente de ello nos parece la Campaña Internacional Stop Trans Pathologization STP 2012, que es una plataforma de activistas internacionales que surgió especialmente en España, y que nace con el objetivo de impulsar acciones por la despatologización trans en diferentes partes del mundo. Este movimiento nos demuestra que la lucha contra la patologización médica no ha terminado, pero en la Argentina ha avanzado gracias a la L.I.G. y particularmente gracias a nueva Ley Nacional de Salud Mental, N° 26.657, promulgada el 2 de diciembre MARÍA VIRGINIA ESPARZA

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de 2010 que en su artículo n°3 establece: En ningún caso puede hacerse diagnóstico en el campo de la salud mental sobre la base exclusiva de: (luego de enumerar varios ítems dice) c) Elección o identidad sexual, (el resaltado es propio de la autora de este trabajo).

La ruptura genital La ruptura genital implica la no correspondencia entre la identidad como “vivencia interna individual” y el sexo a nivel orgánico. Para que la ley Argentina dé un nuevo nombre e identidad a la persona que lo desee no es necesario que esta persona demuestre haber modificado su cuerpo para que coincida con el nuevo nombre que desea tener. El artículo 2 de la L.I.G. plantea que las operaciones o modificaciones corporales sean voluntarias: Esto puede involucrar la modificación de la apariencia o la función corporal a través de medios farmacológicos, quirúrgicos o de otra índole, siempre que ello sea libremente escogido. Además el artículo 11 asegura a las personas la posibilidad de acceder a tratamientos hormonales, o intervenciones quirúrgicas sin la necesidad de manifestar la voluntad de cambiar su genitalidad. Este artículo establece la posibilidad de realizarse las intervenciones deseadas sin la obligación de que haya una autorización judicial y administrativa. El artículo dice: Derecho al libre desarrollo personal. Todas las personas mayores de dieciocho (18) años de edad podrán, conforme al artículo 1 de la presente ley y a fin de garantizar el goce de su salud integral, acceder a intervenciones quirúrgicas totales y parciales y/o tratamientos integrales hormonales para adecuar su cuerpo, incluida su genitalidad, a su identidad de género autopercibida, sin necesidad de requerir autorización judicial o administrativa.

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A LEI DO GÊNERO NA ARGENTINA


Conclusión Para concluir, entendemos que frente a la promulgación de la L.I.G. en la Argentina se abrió un gran camino de oportunidades para las personas con sexualidades e identidades no normativas. Si bien la ley no sale de la pauta heteronormativa, la posibilidad de elegir un nombre, es la base para el ejercicio de múltiples derechos básicos de la persona, como puede ser el acceso a la salud o a la educación pública. Junto a este derecho se establecen la eliminación de la psiquiatrización y la ruptura genital como los pasos más importantes tomados en el camino del reconocimiento. Aún cuando la ley es un avance, no representa la totalidad de los cambios que la sociedad debería adoptar para lograr la total integración de las personas que históricamente han sido consideradas “diferentes”. A pesar de lo novedoso de esta norma, ella trae aparejada consecuencias para el sistema jurídico implicando una ruptura profunda del mismo, llevando a la sociedad a replantearse la multiplicidad de normas que colisionan con la L.I.G. Se hace necesario un recorrido legal más profundo que estudie la compatibilidad de esta nueva ley con regímenes jubilatorios, de derechos sociales y políticos que están atravesados por la pauta heteronormativa. La L.I.G. es sólo el inicio de un largo proceso que necesita que la sociedad en su totalidad atraviese por él. Aún quedan leyes tradicionalmente establecidas en la Argentina, que deben ser modificadas para lograr una igualdad total. Es necesario que el recorrido de las comunidades trans por un reconocimiento pleno de derechos no termine sólo aquí. Esta ley es sólo el puntapié inicial.

MARÍA VIRGINIA ESPARZA

ARTIGO 39


Bibliografía BUTLER, Judith, “Acerca del término queer”, en Cuerpos que importan. Sobre los límites materiales y discursivos del sexo. Paidós, Buenos Aires, 2002, pp. 17-49. FOUCAULT, Michel, “La hipótesis represiva”, en Historia de la sexualidad. La voluntad de saber. Siglo XXI, Buenos Aires, 2011, pp. 19-51. GUASCH, Oscar “Sodomía: del pecado al delito“, “La medicalización de la sexualidad” en La crisis de la heterosexualidad, Editorial Leartes, España, 2000, pp. 39-61, 63-90. HERNANDEZ, Carlos y Ot., La teoría queer: la de- construcción de l a s s e x u a l i d a d e s p e r i f é r i c a s , e n http://www.revistasociologica.com.mx Ley de identidad de género. Por el derecho a ser quien cada uno y cada una es. Por los derechos a todos los derechos, en http://www.mesaporlaigualdad.com.ar MOURATIAN, Pedro, Hacia una ley de Identidad de Género, en http://www.diariofemenino.com.ar PRECIADO, Beatriz, Biopolítica del género, en http://www.cnm.gov.ar/generarigualdad

María Virginia Esparza Pesquisadora de Historia na Facultad de Humanidades y Artes, da Universidad Nacional de Rosario. Integrante do Programa Universitário de Diversidade Sexual da universidade. Natural de Paraná, Entre Rios, vive atualmente na cidade de Rosário, Santa Fé, na Argentina. Ilustração de Tainá Rei

40 ARTIGO



PARADA 16 por Gabriel Prata

O ônibus estava saindo de Gravatá, indo pra Recife. No último ponto antes do fim da cidade, saltos altos com o fundo de oncinha, esmalte café nas unhas, saia amarela, blusa preta, duas bolsas, uma preta e outra vermelha. No rosto um pouco velho, um sorriso de Miss banguela pela idade ou pela rapadura. Óculos gigantes cobriam-lhe os olhos e seus poucos cabelos ao vento conseguiam-lhe encontrar a visão. O ônibus parou. Muitos dos homens começaram a apontar e rir. - Travesti! Travesti! Outros poderiam pensar em uma senhora de maior altura usando roupas não muito convencionais àquela hora da manhã. A curiosidade e a malícia despertou todos daquela chatice cotidiana. Se era travesti, se era velha, se era velha travesti. Não importava. Disse o cobrador: - Mais respeito com a senhora! Mais respeito com a senhora travesti. O que mais impressionou não foi a missão quase impossível que era classificá-la segundo moldes predefinidos. O que mais impressionou foi o equilíbrio e destreza em plena manhã sobre um par de saltos 16. 42 CONTO


Gabriel Prata Arquiteto e urbanista, pesquisador e aspirante a artista. Aquariano, ĂŠ um dos editores-chefes da Diversifica. Adora viajar, mas tambĂŠm ama o aconchego do lar no inverno com pizza, filme e um bom vinho.

CONTO 43


PRECONCEITO VELADO por Chrysthopher Dekay

"Nã o t enho nada contra gays, até tenho amigos que

são

."

negros, branco. escurecer

"Jamais tive preconceito com mas prefiro que minha filha case com um Sabe como é, não quero

"Acho que as mulheres são tão importantes como os homens, afinal elas que alimentam o mundo, que cuidam de nossos filhos.

contra a violência , Aí eu posso acabar agredindo ele ."

Esse é o papel

a família."

delas ."

"Sou totalmente

mas se um gay me cantar está sendo desrespeitoso comigo.

"Ele é escuro sim, tremendo de um negão, mas não lhe falta educação e respeito." (Trecho de uma música da Kelly Key)

"Não tem mais isso de a mulher ser inferior ao homem, mas também não pode reclamar porque tem muita coisa pra fazer. Não lutaram tanto pra ter direito a trabalhar? Não pode esquecer da família."

"Meu filho não será gay. Ele terá uma

boa educação."

(Claudinha Leite)

"Prefiro ter fama de pegador do que viado né?" (Caio Castro) “Ver dois homens de mãos dadas é uma 44 CRÔNICA

agressão”.

(Agnaldo Timóteo)


Apenas alguns exemplos de falas corriqueiras e que muitas vezes nos passam despercebidas. O que nos resta pensar é : o que é o preconceito? Seria algo natural?

Para qualquer tipo de comparaçã o é preciso ter um ideal. Se o arroz bom é aquele que �ica soltinho, entã o aquele que está saindo em blocos da panela para seu prato é ruim. Pode estar gostoso, mas nã o é o ideal. Aplicando essa analogia tosca (Risos) à s relaçõ es humanas, podemos perceber que existem padrõ es a serem seguidos, e para de�inirmos o que é bonito, certo, correto e aceitá vel, nó s comparamos com esse padrã o estabelecido.

Já ouvi algumas vezes que o preconceito é algo natural, e me coloco contra essa opiniã o. O preconceito surge da naturalizaçã o desses padrõ es ditos no pará grafo anterior. Poré m, mesmo nã o sendo algo natural, é algo que está presente nas nossas relaçõ es sociais, por diversos motivos. Esses motivos també m podem ser analisados, para um melhor entendimento, mas nesse momento vou me aproximar da negaçã o desse preconceito.

Os padrõ es sociais sã o instaurados atravé s de diversas instituiçõ es, como escola, famıĺia, religiã o, mıd ́ ias, etc. Isso atravessa nosso entendimento em relaçã o a qualquer tó pico, seja gê nero (o que é ser homem e mulher ou mesmo ter que se encaixar em um desses padrõ es), sexualidade (com quem e como devemos nos relacionar), moral (certo e errado), e vá rias outros. Por sua vez, cada uma dessas se relaciona entre si. Em nossa sociedade podemos veri�icar vá rios exemplos dessa naturalizaçã o dos padrõ es, como monogamia e heteronormatividade. Essa naturalizaçã o instaura os conceitos de normal e anormal. Atravé s desses conceitos, orientamos nossas atitudes para nos adaptar e estarmos dentro dessa normalidade. Tudo o que é anormal é marginalizado.

gão, to."

CHRYSTHOPHER DEKAY

Mas existe um processo contın ́ uo de mudança entre o que é instituıd ́ o e as novas formas instituintes. Isso signi�ica que esses modelos sofrem alteraçõ es, nã o é algo estagnado. Poré m, nesse processo nem tudo que era instituıd ́ o deixa de existir. Simpli�icando com um exemplo: há algum tempo a populaçã o negra era escravizada, e a ordem social considerava-os inferiores, incapazes, nã o-humanos. Bem, essa concepçã o hoje mudou, pero no mucho bambino. Veja a frase: ele é negro, mas é uma boa pessoa. O mas que une as duas oraçõ es indica que uma é o contraponto da outra. A primeira diz que uma pessoa é negra, e a segunda diz que esse sujeito é uma boa pessoa, ou seja, tem bom cará ter. O mas entre as duas indica que mesmo sendo negro ele é uma boa pessoa. Podemos supor entã o que negro é sinô nimo de mau-cará ter. Esse

CRÔNICA 45


negro em questã o foge à regra. Como outra expressã o infeliz diria: é um negro de alma branca. O natural seria que ele fosse uma má pessoa. O mas indica que ele está indo contra ao normal dos negros.

Esse exemplo traz à tona o que hoje há de mais delicado em nossa cultura: a questã o racial. Nó s, brasileiros, continuamos negando o preconceito que temos devido a uma dıv́ ida histó rica e cultural com a populaçã o negra, ao invé s de admitirmos que nossa cultura ainda é impregnada de elementos racistas. Essa dıv́ ida se coloca nã o apenas pela escravidã o, que é um fato marcante em nossa histó ria, pois a todo o momento o racismo é criado e recriado. Nã o existe mais a vinculaçã o à escravizaçã o, mas os desdobramentos de uma falta de polıt́ ica social na inclusã o da populaçã o negra e da desvalorizaçã o da cultura afro ainda perpetuam o racismo como forma de entender nossa sociedade. Nã o somos racistas por natureza, somos construıd ́ os dessa forma. Enquanto negarmos esse fato, perpetuaremos o racismo sob diversas formas, principalmente veladamente. Recentemente o ator global Caio Castro declarou que prefere ser chamado de pegador do que viado. Muitas pessoas reclamaram dessa declaraçã o, e o mesmo informou que nã o era preconceituoso, inclusive muitos amigos e pessoas de sua equipe eram homossexuais. Ou seja, ele nã o tem preconceito, ATE aceita que gays estejam pró ximos a ele. Já dizia Falcã o: ele é viado mas é meu amigo. A cantora Claudinha Leite disse numa resposta infeliz ao ser perguntada se tivesse um �ilho com orientaçã o gay, ela disse "Meu �ilho nã o será gay Ele terá uma boa educaçã o.’’ Além das citadas, diversas falas demonstram como nós aceitamos esses padrões e ajudamos a marginalizar parcelas sociais que não se adequam. Ser gay é ser promiscúo e/ ou cômico. Ser negro é ser bandido, ser mulher é ser frágil, ser travesti é ser prostituta, ser gorda é ser feia.

A padronizaçã o pretende uniformizar pessoas, e esse fenô meno ocorre até mesmo em movimentos sociais. Pretende-se vender a imagem do gay hetero, limpinho. Ou seja, é a famosa frase: nó s gays somos iguais aos hé teros. A questã o é : os hé teros sã o iguais aos hé teros? Com essa histó ria de igualdade estã o querendo padronizar nosso comportamento. Seja gay, mas seja igual ao hé tero. Seja negro, mas seja igual ao branco. Temos direito a uma igualdade perante a lei, mas jamais poderemos aceitar sermos iguais como uma massa uniforme. Porque jamais seremos. 46 CRÔNICA


Chrysthopher Dekay Presidente da AGQE – Associação & Grupo Quatro Estações, também é conselheiro municipal de saúde de São João da Boa Vista, interior de São Paulo. Ilustração de Lucas Moratelli

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IMUNES À FERRUGEM por Guilherme Aniceto

Eu não quero fazer alarde, tampouco causar pânico, asco ou inveja. Me mostro assim, de fato, para jogar na cara deste mundo, lavado pela lama, carcomido e encardido da vil ferrugem do ódio, que o diferente também ama, e ama igualmente: verdadeiramente. Eu e meu querido amante, amigo, parceiro, marido, divisor de vida, não queremos prêmios e honras, que nosso amor já nos premia com poéticos sorrisos, e as poéticas lágrimas que por este mundo vertemos não nos terão derrotados: estamos fortemente armados com o amor que nos une. E, se esse amor que nos une for também o amor que encarcera e pune, aceitaremos de bom grado; nossas mãos continuarão dadas, laçadas; nossos ideais de liberdade continuarão sendo o norte que pernoita em nosso sono; e velará nossa morte pelas mãos horríveis deste mundo intolerante nossa luta diligente. 48 POEMA


Guilherme Ferreira Aniceto Nascido em Itajubá-MG, Brasil, em 18 de junho de 1991, escreve desde os 15 anos e já publicou um poema em antologia pela Editora Vivara, em março de 2013. Cursa atualmente Administração de Empresas na Universidade Federal de Itajubá, e posteriormente, planeja cursar Letras. Fotografia de Felipe Stucchi

POEMA 49


POEMA de Tainá Rei 58 Ilustração Rio de Janeiro, 2014.


A REPRESENTAÇÃO DA HOMOSSEXUALIDADE NA TELENOVELA BRASILEIRA por Rulio Jordan Barros Borges

UFMA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

Atualmente a questão da homossexualidade está ganhando cada vez mais espaço no mundo midiático, principalmente na televisão. Recurso frequentemente utilizado e de grande repercussão, é quando a temática acaba sendo abordada por autores de teledramaturgia em suas novelas. Assim, o que interessa neste trabalho é analisar o modo como o tema é abordado, ou seja, como são representados os homossexuais nas novelas brasileiras, bem como a relação desses personagens com o horário de exibição da trama.

Palavras-chave Representação; Homossexualidade; Telenovela ARTIGO 51


As telenovelas brasileiras passaram a desempenhar papéis importantíssimos em relação à sociedade e nelas são tratados vários assuntos. Porém neste trabalho nos caberá analisar apenas um: a representação homossexual nas telenovelas da Rede Globo, da trajetória do estereotipado/afetado/cômico para o discreto/sério identificando a alternância e a prevalência de determinados tipos a partir de uma análise descritiva dos personagens sem deixar de levar em consideração o horário de exibição da trama que tais personagens estão presentes. Por ser a emissora que mais produz novelas e por ter consolidado o gênero no Brasil, optou-se por escolher e analisar os personagens homossexuais que tiveram mais destaques na mídia desde 1995 até os dias atuais nas telenovelas da Rede Globo, nos horários das 18h, 19h e 21h. Porém, isso não impede que sejam mencionados personagens de novelas de outras emissoras. A visibilidade homossexual na mídia para chegar onde se encontra atualmente, percorreu um longo caminho. No que tange a esse trajeto no meio televisivo, especificamente no produto telenovela, quando os primeiros personagens homossexuais foram s urgindo eles pas s avam des perc ebidos na trama, ou os telespectadores fingiam não os ver. É difícil definir uma data certa quanto ao surgimento dos primeiros personagens gays nas novelas. S egundo Pe ret (2005), que fez uma reconstituição histórica da homossexualidade nas telenovelas da Rede Globo no período de 1974 a 2005, a primeira trama da emissora a tratar o assunto foi O Rebu (1974), escrita por Bráulio Pedroso. A história girava em torno dos personagens Cauê (Buza Ferraz) e Conrad Mahler (Ziembinski). Essa telenovela merece um destaque especial por ter sido a p rime ira a me nc iona r a homos s e x ua lid a d e [ . . . ] A homossexualidade foi retratada de maneira bastante clara para época, e explorada do ponto de vista do crime passional e da relação de dependência financeira de um belo jovem por um homem mais velho. Esse fato marcou a entrada de homossexuais nas telenovelas brasileiras de uma forma considerada socialmente negativa, porém em conformidade com um dos vários estereótipos que representavam a forma como a homossexualidade era vista (PERET , 2005, p.80). No decorrer dos anos 70 e 80, novos personagens foram surgindo aos poucos na teledramaturgia, alguns sem destaque e outros, quando a visibilidade era maior, em sua maioria eram afeminados, centrando-se a narrativa no núcleo cômico para 52 ARTIGO

A REPRESENTAÇÃO DA HOMOSSEXUALIDADE


entretenimento e diversão do público, sem tratar o tema de forma relevante para que pudesse suscitar uma discussão entre os telespectadores. V ale ressaltar que não se trata de desmerecer tal abordagem, mesmo porque a visibilidade dessas personagens é um marco na conquista do espaço homossexual no meio televisivo, visto que são personagens que existem na vida real como tantos outros inseridos nas telenovelas. Fazendo- se assim necessário quebrar o estereotipo de que todo gay é feminino e que toda lésbica é masculinizada. Chega a ser impossível definir um número exato de quantos personagens homossexuais existiram. Nos estudos de Peret (2005) pode-se identificar uma vasta gama de novelas que continham personagens gays, tenham sido eles caricatos ou não, com muita ou pouca visibilidade. Porém, seus estudos vão até a exibição da novela América, escrita por Glória Perez, em 2005. Já se passaram quase oitos anos e outros personagens foram aparecendo em tramas da Rede Globo, bem como do SBT e da Rede Record. Por ser a emissora que mais produz novelas e por ter consolidado o gênero no Brasil, optou-se por escolher e analisar os personagens homossexuais exibidos desde 1995 até os dias atuais das telenovelas da Rede Globo, nos horários das 18h, 19h e 21h, o que não nos impede de mencionar personagens de novelas de outras emissoras. É na década de 90, que os personagens homossexuais vão “saindo do armário” , ganhando mais destaque na mídia. Quem não se lembra de alguns personagens marcantes como Jeferson (Lui Mendes) e Sandrinho (André Gonçalves) na novela A Próxima Vítima, escrita por Silvio de Abreu em 1995. A novela mostrou a história de dois rapazes discretos, colegas de faculdade cuja relação evolui ao longo da trama, mas sem demonstrações explícitas de afeto. No mesmo ano, na novela Explode Coração, Glória Perez no apresentou a travesti Sarita (Floriano Peixoto), que dizia ser uma mulher no corpo de um homem, sem afirmar que era um travesti, transexual ou transformista. E m 1998, o tema é abordado discretamente através do personagem bissexual e sem estereótipos, Rafael (Odilon Wagner), na novela Por Amor, de Manoel Carlos. O personagem separa-se da esposa na reta final da trama e inicia um romance com Alex (Beto Nasci). Na novela Torre de Babel, de 1998, Silvio de Abreu volta a abordar o tema através da relação bem sucedida de um casal de lésbicas sem estereótipos, Rafaela (Christiane Torloni) e Leila (Silvia Pfeiffer). Pela forma explícita como a história foi apresentada ao público, houve muita polêmica em torno das personagens e como consequência, elas RULIO BORGES

CATEGORIA 53


tiveram que ser retiradas rapidamente da novela. O autor acabou matando- as durante a explosão de um Shopping Center. “No século XXI, a Globo parece consolidar a sua trajetória de alternar personagens gays caricatos e gays sem estereótipos com a narrativa da revelação para aqueles em que pesam dúvidas sobre as suas orientações sexuais" (COLLING, 2007, p.09). Assim ocorreu na novela Mulheres Apaixonadas (2003), de Manoel Carlos, através das lésbicas, Clara (Aline Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli). Em Senhora do Destino (2005), de Aguinaldo Silva, com o casal de lésbicas, Eleonora (Mylla Christie) e Jeniffer (Bárbara Borges). E no mesmo ano, em América, de Glória Perez com o personagem sem afetações, Junior (Bruno Gagliasso) que no decorrer da trama acaba se envolvendo com Zeca (Eron Cordeiro), também sem estereótipo. Conflitos como assumir ou não homossexualidade foi um dos temas principais que giraram em torno dos personagens des s as novelas , que ac abaram revelando s ua verdadeira sexualidade no meio da trama ou na ultima semana de exibição do folhetim. [...] no entanto, a diferença está na intensidade e o espaço em que estes personagens ocupam [...] Ao que parece, é nesta década que se intensifica uma tentativa de ampliar a narrativa da revelação e de apresentar um maior número de casais gays inscritos dentro de um modelo heteronormativo. Pelo menos, nestas personagens, desaparecem por completo as afetações e vigora o desejo de casar e de adotar crianças (COLLING, 2007, p.09). O autor Manoel Carlos volta a tratar novamente o tema em 2006, na novela Páginas da Vida, com os personagens Rubinho (F ernando Eiras) e Marcelo (Thiago Picchi). A trama que envolvia os personagens só se destacou quando abordaram a questão da adoção de crianças por casais do mesmo sexo. Seguindo a mesma linha, outra trama que tratou o assunto sem grande relevância em 2007 foi Paraíso Tropical de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, através dos personagens Rodrigo (Carlos Casagrande) e Thiago (Sergio Abreu). O ponto positivo da história é que os personagens eram discretos e vistos como pessoas “normais” como qualquer outro personagem da novela. Já Aguinaldo Silva, em Duas Caras de 2007, abordou o envolvimento de Bernadinho (Thiago Mendonça) e C arlão (Lugui Palhares ). Ambos os pers onagens tinham o estereótipo de feminino e masculino, enquanto Bernadinho possuía trejeitos femininos, Carlão era visto como o “macho” da relação. Na novela Caras e Bocas, exibida às 19h, em 2009, o autor Walcy Carrasco, aborda a homossexualidade através do personagem 54 ARTIGO

A REPRESENTAÇÃO DA HOMOSSEXUALIDADE


efeminado Cássio (Marcos Pigossi). Percebe-se que “por ser um homossexual caricato, C ássio foi sucesso com a audiência, principalmente com seus bordões” (GRIJO & SOUSA , 2011, p.09). “Abominável criatura das grifes (assim se referem os demais personagens da trama quando criticam o afetado Cássio, imitandolhes os trejeitos) [...] choquei, rosa chiclete, tô bege e bofe escândalo” (S ILVA,pág.02.2010) foram os principais bordões criados pelo autor para o personagem, na tentativa de cativar à audiência através da comédia. É visível que nas tramas exibidas às19h, os autores preferem abordar e representar os homossexuais de forma afeminada, a partir da comédia. Raramente, a abordagem nesse horário, não ganha essas características. Porém, Maria Adelaide Amaral ao a da p ta r a nove la T i-ti-ti p a ra o horá rio, nã o tra tou a homos s exualidade de forma c ômic a e es tereotipada. Pelo contrario, mostrou a relação rápida entre Julinho (André Arteche) e Osmar (Gustavo Leão), que acaba morrendo no segundo capítulo após um acidente de carro. Pelo fato de os personagens terem sido bem recebidos pelo público e a história ser tratada com sutileza, mas com grande relevância, a autora resolveu inserir na trama o personagem Thales (Armando Babaioffe) para fazer par romântico com Julinho. O autor Walcyr Carrasco, em 2011, na novela Morde e Assopra, voltou a investir em personagens gays caricatos e cômicos para o horário das 19h com o personagem Áureo (André Gonçalves). Em 2011, a trama Insensato Coração, de Gilberto Braga e R ic ardo L inhares , teve o maior número de pers onagens homossexuais visto em uma novela, no total foram seis. Isto já é um avanço, pois mostrou a diversidade de gays existentes, os vários tipos e dilemas homossexuais. No mesmo ano, em Fina Estampa, Aguinaldo S ilva apresenta ao público o personagem cômico afetado Clô (Marcello Serrado). No ano seguinte, em Aquele Beijo, o autor Miguel Falabella insere em sua trama um personagem que geralmente não é abordado em novelas, a travesti Ana Girafa (Luís Salem). Por fim, vale ressaltar que em 2010, a novela Amor e Revolução, do SBT , mostrou na TV aberta o beijo gay entre duas mulheres. A cena foi protagonizada pelas atrizes Giselle Tigre e Luciana Vendramini. Esse beijo tornou-se o marco da discussão da representação homossexual nas telenovelas. Sendo este o maior desafio atualmente da visibilidade LGBT's na televisão. Pode-se dizer que os homossexuais estão sendo mostrados até certo ponto de forma fidedigna e adequados, mas a questão RULIO BORGES

ARTIGO 55


para na forma das relações amorosas desses personagens que muitas vezes nos é passado como um sujeito assexuado. Com relação aos as representações, constatamos que elas variam de acordo com cada autor e horário de exibição da trama. Os “homotemas” dependendo do horário são focados em duas tonalidades distintas: primeiro, o gay caricato, pintoso, efeminado e cômico presente na maioria das vezes nas novelas das 19h. Segundo, o gay perfeito, leia-se discreto, sem afetações, que tem dificuldades para sair do armário, que não dá pinta, que geralmente é mostrado no horário nobre, às 21h. Quanto às novelas da s 18h, da R ede G lobo, perc ebe-s e que pers ona gens homossexuais até então não foram inseridos em tramas exibidas nesse horário. Percebe-se também que personagens transexuais, travestis ou transformistas em destaque nas tramas, sendo cômicos ou não, quase não aparecem. Conclui-se então que houve uma mudança na forma de como os homossexuais são representados através de personagens das novelas. Antes eram estereotipados, afetados e cômicos, com o tempo, personagens sem estereótipos, discretos e sérios foram inseridos na teledramaturgia. É nítido que alguns autores preferem trabalhar com determinadas representações. Certos escritores sempre abordam em suas novelas gays estereotipados, já outros primam pela abordagem mais séria e por fim, alguns tentam em uma única trama mesclar e mostrar os dois tipos. Outras ramificações sobre o assunto ainda precisam ser inves tigadas , como: entender a aus ência de determinadas representações nas novelas, o porquê de o assunto não ser tratado em tramas exibidas no horário das 18h. Bem como, a negação do beijo entre personagens do mesmo sexo e a importância do assunto ser tratado nas novelas, sendo ela o produto mais consumido pelos telespectadores e com grande capacidade de influência sobre estes no que diz respeito à inserção de temas para discussão.

56 RULIO BORGES


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Rulio Jordan Borges Graduando do 8ª período do c u r s o d e Comunicação Social com habilitação em Rádio e Televisão da Universidade Federal do Maranhão. Estagiário na empresa Comunique Assessoria de Comunicação na área de monitoramento eletrônico, edição de áudio e análise de mídia.

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EU SER HUMANO, EU MULHER, EU LÉSBICA! por Anna Alchuffi

Sou o que aparento, mas também não sou apenas aparência Sou uma mulher, mas também posso ser o que EU quiser Se eu quiser você e você me querer! Amores sem fim que trago em mim, Nomes,rostos e caprichos que aceitei Alma, o que eu tanto doei! Mulheres que muito amei Que muito difamei e odiei Mas que sempre amarei


Anna Alchuffi Nascida na capital de Goiás, estudante de Pedagogia da UniAnhanguera, agitadora cultural, editora de fanzines como Goianice e Qualquer Coisa. Participa do projeto coletivo de escritores marginais Coletivo Zine e recentemente lançou pelo SESC-GO o Fanzine inbox Rascunho Urbano. Ilustrações de Tainá Rei

POEMA 59


Ilustrações de Tainá Reis Rio de Janeiro, 2014.




KATITA por Anita Costa Prado

A personagem Katita foi criada no dia 22 de março de 1995. Foram 11 anos de espera até que uma editora decidisse publicar uma personagem lésbica que aborda a diversidade sexual de maneira bem humorada, através de quadrinhos, charges e cartuns. A Marca de Fantasia, selo editorial respeitável, publicou Katita - Tiras Sem Preconceito, álbum que ganhou dois Prêmios Angelo Agostini (melhor roteirista e melhor lançamento de quadrinhos). A partir daí surgiram exposições, cartões postais da Prefeitura de SP (CADS) e utilização da personagem em materiais variados. As batalhas são gigantescas para driblar o preconceito e fazer a Katita chegar aos leitores, sem distribuidora para colocar as publicações em pontos de venda. eventos, loja colaborativa (Endossa/Augusta), venda via internet, enfim...é preciso se desdobrar para sobreviver no mercado nacional de quadrinhos. Desde 2005 é desenhada por Ronaldo Mendes, um artista talentoso que reside em Maranguape, Ceará, a partir dos roteiros da criadora, Anita Costa Prado. O primeiro álbum da personagem, Tiras Sem Preconceito, foi lançado pela editora Marca de Fantasia e venceu do Prêmio Ângelo Agostini em duas categorias (melhor lançamento e melhor roteirista). Um grande estímulo depois de anos de recusas editoriais já que uma personagem lésbica não era comum nos quadrinhos brasileiros. Atualmente a personagem tem quatro publicações e em seu currículo existem exposições e postais elaborados pela prefeitura de São Paulo (Coordenadoria de Assuntos de Diversidade Sexual). Katita continua firme e forte na tarefa de fazer as pessoas rirem e refletirem sobre diversidade sexual.

Anita Prado Paulistana, p o e t a e quadrinista. Criadora da personagem K a t i t a . Te v e suas tirinhas reunidas no livro Katita - Tiras sem preconceito (Marca de Fantasia, 2006). Também colaborou com o desenhista Márcio Baraldi no álbum Roko-Loko: Born to be Wild!, de 2007. Contato com a autora: cafofodakatita@hotmail.com Ilustrações de Ronaldo Mendes

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SPOILER por Ulisses Tavares

Como ateu, Quando penso em Deus, O imagino um belo traveco Sempre pelado Dando pra quem quiser. Afinal que adiantaria sua onipresença De enrabar a civilização Sem tesão?

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Ulisses Tavares

jovem de mais de 60 anos, escritor, poeta e professor de web marketing. Além disso, é compositor, letrista, dramaturgo, roteirista e editor de livros. Tem certeza de que não é gay, mas acha estranho quando alguém pensa que ele é, só porque aceita e admite que é normal alguns serem e outros, não. Ilustração de Tainá Rei


Sou humano, O que basta é ser feliz por Aurineide Alencar

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Quando acabei de nascer Minha mãe me batizou O meu nome ela escolheu Pois a mim não perguntou E foi como Andreia Que ela me registrou.

Às vezes eu estranhava Quando ouvia alguém gritar “Andrezinho” veio de saia E começava a vaiar Mas a mente de criança Não impedia de brincar.

Dizem que fui um bebê Daqueles muito fofinhos A carinha bochechuda Os cabelos bem loirinhos O tom da pele era claro E os olhos azuizinhos.

Comecei a jogar bola Disputar campeonato Meus pais não se importavam Até achavam um barato Porque eu driblava bem Ganhando o prêmio de fato.

Na minha primeira infância Sentia-me diferente Junto com outras meninas Eu não ficava contente Se brincava com meninos Alegrava-me de repente.

Já de 9 pra 10 anos Na puberdade entrei As mudanças no meu corpo Algumas eu não gostei Foram quando os meus seios Surgiram e eu notei.

Gostava de empinar pipa Jogar bola no recreio Subia em cima dos carros Nem achava aquilo feio Para mim era normal Como até hoje, eu creio.

Ai vem àquela história Que se tem toda mulher Ter que usar sutiã A mãe pegando no pé Mandando usar vestido Sem saber se você quer.


O pior estava por vir Foi a tal da menstruação Para quem chutava bola Veja que situação Em época de campeonato Ela deixava na mão.

Mas, contudo uma saída, Certo dia encontrei Foi quando eu percebi Por alguém me apaixonei Reuni toda a família E a realidade contei.

Além das práticas de bulling Que eu tive que enfrentar Foram tantos desafios Que é até difícil contar Só mesmo quem vivencia É que pode concordar.

Até que a minha tia Foi um tanto maleável Mas me disse qual seria A consequência provável Eu disse que para mim Tudo já era contável.

Uma fase bem difícil Que é a adolescência Na minha cabeça foi Um rio com turbulência Pois eu não me conformava Com a minha aparência.

Agora seria a vez De contar para os meus pais Que iria me transformar Esperei tempo demais Não suportava mais saias Nem vestidos sociais.

Não queria dividir Com ninguém a minha dor Pois me sentia sozinha Na Terra sem protetor Das angustias e tristezas Ou seja, lá o que for.

Os meus pais que já viviam Um do outro separado Minha mãe não me aceitou Passei sofrer um bocado Ao ser “tocado” de casa Como um bicho enxotado.

CORDEL 67


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Foi então com o meu pai Que contei neste momento A minha vida de Andreia Deixei jogada ao vento Cortei também o cabelo Pus fora quem estava dentro.

Mais do que eu já passei Ainda assim sobrevivi Foi então que para ela Sem dúvida eu respondi Tenho apenas 15 anos Mas muita coisa aprendi.

O dono daquele corpo Agora seria o André Mudei todo o guarda-roupa Pronto pra o que der e vier Pois se não me aceitassem Até mesmo em dá no pé.

Muitas pessoas no mundo Estão aqui para julgar Eu não pedi pra nascer Nem tampouco habitar Se Deus deixou ser assim Eu não consigo mudar.

Na casa dos meus avós Fui chegando de mansinho Com os primos enturmando Um tanto devagarinho Até novas amizades Fui arrumando aos pouquinhos.

É uma força maior Que está dentro de mim E qualquer dia eu te conto Como é “tim-tim” por “tim-tim” Que se faz uma garota Querer chegar ao seu fim.

A minha tia falou Que eu iria enfrentar Problemas de preconceito No lugar por onde andar E se estava disposto Qualquer coisa encarar.

Aconteceu isto comigo Lutei para suportar Encontrando obstáculos Nada assim me fez parar Certamente o meu futuro Ao Deus eu entrego seguro Recomendo-O a me julgar!


Aurineide Alencar Nasceu em Catolé do Rocha - PB. Professora Formada no curso de Letras pela UNOESTE e pósgraduada em Metodologias do Ensino Superior pela FIFASUL. Mestranda em Ciência da Educação na Universidade Americana. Autora do livro "Nas veredas do cordel", possui participação em diversas coletâneas pelas editoras Literacidade, e Big Time Editora. Já ganhou vários prêmios em concursos literários de trovas, contos, poesia e poesia popular. Ilustração de Lucas Moratelli



Ilustração de Itamara dos Santos Ribeiro Florianópolis, 2013.



Fotografia de Maria Lima Curitiba, 2014.


Meninos também amam por Rafael Guerche

M eninos também a mam também s ão sensíveis tem b ons gostos também s ão viris ainda que coloridos que alegres e amáveis

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MENINOS TAMBÉM AMAM


M eninos também d ançam se pintam se desnudam se desejam e cantam e fazem p oemas e r asgam c artas de amor e amassam m aços de cigarros e sopram fumaças e sobem n o salto e d escem d o salto e fazem t atuagens para não esquecer e quebram t aças de vinho e fazem c ena e r abiscam n as paredes

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M eninos também gritam e vão as ruas e picham o s m uros e quebram as unhas e rasgam saias alguns meninos devoram Allen Guinsberg outros comem Oscar Wilde eu trepo com Arthur Rimbaud

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MENINOS TAMBÉM AMAM


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MENINOS TAMBÉM AMAM


Os meninos não são como a novela nos querem fazer acreditar dizem eu te amo que acabou que só algumas coisas duram pra sempre sentem medo sorriem fazem baderna motins causam e passam batom e pintam os olhos se perfumam androginizam

RAFAEL GUERCHE

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MENINOS TAMBÉM AMAM


M eninos incomodam porque fazem o q ue os h omens escondem n os banheiros públicos e erotizam e “desproibem” C hamem o s meninos do que quiserem Só n ão digam que eles precisam n ão existir Não inventem c uras Não batam n os meninos Não arranquem o s seus dentes Não enfie em s eus anus n enhum o bjeto de m adeira ou ferro E n ão os m atem c ovardemente pelas r uas dos centros das cidades Não façam d os meninos u m n úmero a m ais n os n oticiários e n as r edes sociais Porque essas desmedidas n ão amenizam o s r ecalques

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Deixem o s meninos serem felizes Colorir a s r uas cinzas Fazer a mor Não censurem o s meninos Eles só querem a mar Não prendam o s meninos Por e ste crime Eles n ão m atam, não espancam Não infectam, não sujam a s cidades.

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MENINOS TAMBÉM AMAM


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MENINOS TAMBÉM AMAM


Os meninos amam e isso basta! RAFAEL GUERCHE

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Meninos também amam – um poema cênico Experimentação Artística Híbrida Teatro, Dança, Performance e Fotografia Criação A Inacabada Cia. Concepção, Direção e Poema Rafael Guerche Fotos Felipe Stucchi Performers Felipe Stucchi, Jonas Mendes, Murilo Tiago Rafael Guerche


FOI ASSIM por Deidimar Brissi

Queriam determinar uma moral única e certa para todos. Queriam controlar as liberdades individuais e a coletiva. Trabalharam para condenar os comportamentos que lhes incomodavam. Transformaram em campanha violenta o que expunha seus medos, fragilidades, inseguranças, despreparos, frustrações, invejas, orgulhos, vaidades, vergonhas, hipocrisias e contradições. Definiram o que era normal, correto, aceitável e até como deveria ser o amor. Estipularam como deveriam ser os relacionamentos, quem merecia amizade, respeito, desprezo, dor, ostracismo, expulsão, morte, excomunhão, humilhação e punição. O que não queriam ou o que não tinham coragem de fazer, disseram que era proibido, errado, pecado! Queriam saber o que as pessoas faziam entre quatro paredes e fora delas. Pregaram o ódio e incitaram a violência física e verbal. Covardes, formaram bandos e atacaram os fracos. Foram omissos e coniventes com bárbaras perseguições. Dividiram as pessoas em classes, guetos, tipos, merecimento, cores, importância e valor. Aos humanos, aos bons, seriam reservados os manjares do paraíso, aos deformados, seria reservado o inferno e todos os infortúnios que CRÔNICA 89



merecem os infiéis. Consideravam melhores que os outros, autodenominando-se salvos, escolhidos e superiores. Falaram em nome de Deus sem procuração, conhecimento, sabedoria e permissão. Queriam estipular como cada pessoa deveria usar seu pênis, pele, pelos, pés, cabelos, calcanhar, cotovelos, coxas, costas, coração, língua, vagina, dedos, mãos, braços, nariz, nádegas, olhos, orelhas, ânus, braços, dentes, joelhos, unhas, umbigo e, principalmente, o cérebro! E foi assim... Viveram enrustidos, com pensamentos maldosos, imaginação pervertida, comportamento radical e falas infelizes. Perderam tempo, mergulhados em preconceitos e entram para história como os ridículos fiscais das partes íntimas alheias!

Deidimar Brissi Nascido em Cosmorama – S P, p o s s u i Mestrado em F í s i c a e Astronomia. Atualmente leciona Física no IFSP de Birigui, e possui algumas publicações, desde artigos e textos científicos a livros de poesia. Recentemente, lançou o livro “Em busca da felicidade”. Fotografia de Mariana Silveira

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A EDUCAÇÃO DE PARES ENTRE GAYS E HSH NO PERCURSO DO ENFRENTAMENTO DA EPIDEMIA DE HIV/AIDS NO BRASIL por Raphael Ortiz

Programa de Pós-Graduação em Serviço Social - PPGSS Policlínica Piquet Carneiro Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ

Este artigo procurará problematizar a educação entre pares entre gays e HSH, considerando a trajetória histórica das diferentes concepções acerca tanto das representações sociais sobre a AIDS, quanto do direcionamento das políticas públicas quanto à população alvo ao qual se direciona as campanhas de combate à epidemia de HIV/AIDS. As mudança de paradigmas em relação à composição do perfil da população usuária HIV positiva, colocam novos atores em cena no que tange a então “exclusividade” das ações desenvolvidas por ONGs que realizam trabalhos com a educação de pares entre gays e HSH¹.

1. Fruto das reflexões empreendidas na Disciplina de Diversidade Sexual, ministrada na Faculdade de Serviço Social/UERJ, no ano de 2011, pelo professor Guilherme Almeida.

Palavras-chave Lei; Gênero; Trans

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INTRODUÇÃO² A política brasileira de combate ao HIV, tanto no que tange a prevenção, tanto no que se refere ao tratamento, é internacionalmente reconhecida. O sucesso dos programas de prevenção, o enfrentamento político-econômico para quebra de patentes para a fabricação dos anti-retrovirais, o que possibilitou o barateamento dos fármacos e sua massificação para o combate dos já infectados, foram decisivos no enfrentamento real da epidemia, o que tornou o programa de combate de HIV/AIDS brasileiro modelar para os demais países do globo. Neste artigo pretendemos discutir as ações de prevenção ao HIV/AIDS, especialmente àquelas direcionadas aos grupos específicos de gays e HSH. Procurarei recuperar a localização histórica de tais grupos no início da epidemia, nos anos de 1980, época no qual esta população era identificada como “grupo de risco” e a evolução da política de saúde pública no enfrentamento de tais questões e nas mudanças de paradigmas, passando pela noção de “comportamento de risco” até a atual compreensão de “vulnerabilidade”. Desta forma, desejo construir a trajetória da educação entre pares (gays e HSH) nos diferentes momentos do enfrentamento da política brasileira de HIV/AIDS, desde que eram encarados como “alvo exclusivo” de tais políticas até o presente momento, no qual estão localizados num quadro mais amplo de “vulnerabilidade” que tem-se revelado com outras faces: de um extremo, uma população heterossexual feminina, casada, mais de 50 anos, que acreditava-se protegida do risco de contágio; de outro uma população jovem, com menos de 20 anos, que não conheceu o quadro dramático do início da epidemia, portanto, sem o hábito da prevenção (BRASIL, 1997). 2. Por se tratar de um artigo historicamente datado, as referências aos dados estatísticos, tais como os boletins epidemiológicos podem parecer relativamente distantes, mas como o padrão verificado nos anos estudados não se alteraram significativamente as mantivemos a fim de garantir a originalidade da reflexão.

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Trajetória histórica do HIV/AIDS e suas diferentes concepções acerca da população alvo das políticas públicas Desde o princípio da epidemia da AIDS, no início dos anos de 1980, os homossexuais foram o grupo mais atingido pela síndrome, até então desconhecida na literatura médica. Não tardou em ser popularmente classificada como “peste gay”. Várias são as razões que levaram a este tipo de caracterização desse perfil epidemiológico, tais como o estilo de vida e as características comportamentais dessa população, baseadas numa maior liberdade sexual, que por sua vez, implicaram num maior risco à vulnerabilidade à infecção pelo HIV. Em contra partida, também surgiram no âmbito dos mesmos grupos de gays as primeiras iniciativas de enfrentamento ao HIV, dentre elas a educação e prevenção entre pares. Tais ações serão modelares até os dias de hoje, não só no que diz respeito a educação entre pares gays e HSH, mas também entre jovens, adolescentes, mulheres e outros grupos em vulnerabilidade à infecção pelo HIV, recebendo, inclusive apoio e financiamento de políticas públicas de saúde, tanto por parte dos governos, quanto de fundações internacionais de combate ao HIV/AIDS. No entanto, tal percurso se deu a partir da classificação/categorização, de tais grupos como alvo das políticas e ações de combate ao HIV, como veremos adiante.

Grupos de risco Este foi o primeiro conceito amplamente empregado no âmbito da medicina e das políticas de combate ao HIV para classificar os grupos potencialmente “perigosos”, ou ainda entendidos como “foco” da AIDS. O termo carregado de preconceito revela a representação social da doença na medida em que reduz uma dada orientação sexual na sua relação direta com a propensão quase que imediata à contaminação pelo HIV. É claro que tal conceito expressa também a ignorância quanto à natureza da própria doença, exigindo dos profissionais, especialmente os da saúde naquele determinado momento RAPHAEL ORTIZ

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histórico, respostas rápidas no entendimento e no enfrentamento da epidemia. É comum ouvir nos relatos de profissionais de saúde que atuaram no início da epidemia, na década de 1980, a busca de estratégias de contenção da doença, principalmente a partir do próprio espaço de trabalho, pois eram desconhecidas inclusive as formas de contaminação. Acreditava-se, até mesmo que poderia ser transmitida pelo ar. Diante deste quadro não é difícil compreender o drama social causado pelo surgimento da AIDS. Mas para além dos aspectos epidemiológico do HIV, é necessário destacar a “carga moral” trazida socialmente pela doença, tachada muitas vezes como um “castigo de Deus”, “doença de sodomitas”, ou mesmo uma “peste gay”, conforme já falado. Estes dados levaram, no imaginário popular a construir uma imagem do HIV/AIDS como uma doença exclusivamente de gays. Em certa medida tais impressões parecem ainda permanecer no senso comum da população em geral (voltaremos discutir este dado mais adiante). Não se podemos também perder de vista neste debate a dimensão do controle político do corpo e da sexualidade, que vem associado às ações do Estado, no enfrentamento do HIV. Para um debate mais aprofundado sobre o tema ver (WEEKS, 2000 e FOCAULT, 1977; 1995).

Comportamento de risco Esta nomenclatura, mais presente na década de 1990, refletiu a compreensão da caracterização de uma pandemia de HIV. O avanço da ciência médica, com o melhor conhecimento do vírus e sua transmissão deram diretividades às ações e políticas de enfrentamento ao contágio de HIV. Bem como a criação dos primeiros medicamentos de controle do vírus HIV no organismo (AZT e os primeiros “coquetéis”), possibilitando uma melhor perspectiva no enfrentamento ao controle da doença. Agora caracterizada como uma pandemia, a doença já não era exclusividade dos grupos gays, ainda que nunca tivessem sido. Um novo perfil epidemiológico passa a ser desenhado, portanto, não se trata mais ser classificado como pertencente a um “grupo de risco” para ser alvo da atenção das políticas de 96 ARTIGO

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prevenção, mas agora o desafio posto diante de um quadro generalizado e massificado da doença é o “comportamento de risco”. Neste sentido, o uso do preservativo (camisinha) é amplamente divulgado nas campanhas de prevenção, como o único método eficaz contra a infecção pelo HIV ³. 3. Apesar da ampliação do uso dos preservativos nessa época, cabe destacar que já era usado desde a década de 1970 como um método contraceptivo.

Vulnerabilidade Ao longo da década de 1990, houve uma substancial mudança do perfil da população infectada pelo HIV. O processo de heterossexualização, feminilização e pauperização da população portadora de HIV/AIDS no Brasil (BRASIL, 1999 p.7) impôs novos desafios no olhar sobre a epidemia, agora generalizada e expandida para todos os grupos, seguimentos e classes. Neste sentido as políticas públicas voltam-se a atender uma multiplicidade de determinantes e atores sociais entendidos como vulneráveis à infecção pelo HIV. Exigindo, por sua vez, um maior grau de complexidade tanto no direcionamento de tais políticas (atingir vários perfis de população alvo, das campanhas de prevenção, por exemplo). No entanto, apesar da entrada de “novos atores em cena” não invalida o trabalho desenvolvido na educação entre pares para a prevenção do HIV entre gays e HSH, já que os dados dos boletins epidemiológicos evidenciam que, apesar do crescimento da infecção em outros segmentos sociais, não fez extinguir o alto nível de notificação entre os homossexuais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

Desafios postos a educação entre pares (gays e HSH) diante do quadro atual da epidemia da AIDS 4. Pesquisa disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/equili brioesaude/1014898-para-20-dospaulistanos-so-gays-e-prostitutaspegam-aids.shtml Acesso em dezembro de 2011.

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Em pesquisa, divulgada pela A Folha, por ocasião da comemoração do dia mundial de luta contra a AIDS, informou que 20% dos paulistanos acreditam que a AIDS é uma doença exclusiva dos gays e prostitutas 4. As primeiras campanhas de prevenção e conscientização contra a AIDS criaram o termo grupo ARTIGO 97


de risco que ainda é usado no senso comum até hoje, surgindo um pensamento errôneo que se você não pertencer a nenhum dos chamados grupos citados (homossexuais, viciados em drogas injetáveis e hemofílicos) estaria livre da doença. Muitos críticos destacam o uso do verbo imperativo nas campanhas de prevenção até pouco tempo atrás, como um fator que, além de apavorante, causa – no inconsciente coletivo – um misto de rejeição e desafio. “Se mandam eu usar camisinha, é aí que eu não vou usar”, agem muitos contra os imperativos. Um perigo real com a diminuição da carga de terror em relação à doença e com os medicamentos prolongando a vida dos infectados, surge no meio gay – pois os héteros nunca estiveram no front do uso da camisinha – pessoas, grupos e “filosofias” que pregam que valeria o risco de transar sem preservativo. A prática “barebacking” se espalha pelas comunidades gays e se mostra desastrosa (SANTOS, 2004). Entretanto é possível visualizar nestes 30 de HIV/AIDS, alguns acertos: A AIDS, assim como sífilis (estigmatizada no século XVI como a AIDS no século XX), é uma doença do ser humano, não importa sua orientação sexual. Em números absolutos, hoje, existem muito mais casos entre os heterossexuais, mas proporcionalmente o número dos homossexuais ainda é muito afetado no mundo. A imprensa tem ajudado – através de divulgação de pesquisas e de textos explicativos sobre a doença a diminuir o estigma que ela própria criou de uma doença exclusiva dos gays. Retirou-se o nome grupo de risco das campanhas de prevenção e começou a se usar comportamento de risco. Se você transar sem camisinha seja com quem for, você tem um comportamento de risco. Claro que existem casais que fazem o teste do HIV e se der negativo, eles abolem o uso de preservativo. Mas isso depende da monogamia, na confiança do outro, o que nem sempre acontece. Daí a nova necessidade de identificarem-se as “vulnerabilidades” em relação ao contágio pelo HIV, com destaque para esses casos. Pesquisas mostram o crescimento de números de mulheres casadas infectadas pelos seus maridos (MAIA et al, 2008). As campanhas melhoraram, mudaram o foco imperativo, abrangem temas mais amplos, fazem uma espécie de conscientização mais subliminar. 98 ARTIGO

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5. Em observação realizada, a partir da minha inserção em estágio curricular de Serviço Social num ambulatório de atendimento a usuários portadores de HIV/AIDS no Rio de Janeiro, pude perceber o quanto ainda que o preconceito é um dado muito presente na história de cada um deles tanto por rejeições já vividas, ou pelo temor de sofrêlas.

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Outro fator positivo a ser ressaltado são os relacionados às ações e políticas públicas de combate a epidemia, que mesmo com uma forte condenação cheia de falso moralismo, desde os anos 1980 têm recebido atenção tanto de governos, ONGs e parte da população que acredita muito mais na compreensão que na intolerância. Isso torna a doença mais humana e menos estigmatizada, mas não isenta do preconceito5. Em relação à educação entre pares, diante do quadro histórico apresentado, impõem-se alguns limites que devem ser alvo de problematização. Pois, se por um lado, no início da epidemia, o quadro de preocupações acerca do HIV se voltava quase que exclusivamente para os gays (principalmente quando pensamos no aspecto do financiamento tanto das campanhas de prevenção, especificamente àquelas desenvolvidas pelas ONG's AIDS, com o através do trabalho sócio-educativo de prevenção entre pares (gays e outros HSH). Agora, no quadro do HIV/AIDS no Brasil aparece outra imagem, muito mais diversificada e complexa, exigindo, por sua vez, dos poderes públicos e das agências internacionais de financiamento, um “leque” muito maior de atenção as especificidades dos diversos grupos “vulneráveis” à infecção pelo HIV. No entanto, o que a um primeiro momento pode parecer um possível limite, pode ser uma oportunidade, na medida em que estas mesmas organizações possam se valer de dados que evidenciem a importância de tais ações de prevenção ao HIV entre pares gays e HSH, uma vez que os últimos boletins epidemiológicos não descartam a falta de atenção também a esses grupos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010). Outro fator favorável neste aspecto é a estratégia de ser voltada a atenção para os grupos de jovens gays e outros HSH (cf. CADERNOS PELA VIDA, 2006 p. 4-9), que conforme mostram os dados do boletim epidemiológico de 2010, também cresce o número de notificações nesta faixa de idade, tal qual os jovens heterossexuais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

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BIBLIOGRAFIA BASTOS, F. I. & SZWARCWALD, C.L. AIDS e Pauperização: principais conceitos e evidências empíricas. In: Cadernos de Saúde Pública, FioCruz. nº 16, p 65-76. Rio de Janeiro, 2000. BRASIL. Política nacional de DST/AIDS, programas e diretrizes/ Coordenação Nacional de DST e AIDS/ Ministério da Saúde. Brasília, 1997. _____. Plano nacional de enfrentamento da epidemia de AIDS e das DST entre gays HSH e Travestis, Brasília. 2007. CADERNOS PELA VIDA, Nº 42, p. 1-31, 2006. FOUCAULT, M. Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 1977. _____. A História da Sexualidade. Volume 1. 12ª edição. Rio de Janeiro, 1995. MAIA, Christiane [et. Tal.] Vulnerabilidade de HIV/AIDS de pessoas heterossexuais casadas ou em união estável. Brasília, 2008. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Boletim Epidemiológico do HIV/AIDS. Brasília, 2010. WEEKS, J. O Corpo e a Sexualidade. In: O corpo educado: pedagogias da sexualidade. LORO, G. L. Autêntica, Belo Horizonte, 2000. SANTOS, L. H. S. Educação e Pesquisa de Práticas Sexuais de Risco (barebacking sex). In: Homossexualidade, produção cultural, cidadania e saúde. RIOS, L. F. [et tal]. Rio de Janeiro – ABIA, 2004.

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Raphael Ortiz É assistente S o c i a l graduado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e mestrando do Programa de Pós-graduação em Serviço Social da mesma Universidade. Atualmente é Assistente Social na Policlínica Piquet Carneiro/ UERJ, atuando no âmbito do Ambulatório de Atenção os portadores de HIV/AIDS. Dedicase a vários temas de estudo, desde a saúde do trabalhador, a saúde coletiva e o Serviço Social na Saúde, até a diversidade sexual e as múltiplas configurações do mundo do trabalho na contemporaneidade.

A EDUCAÇÃO DE PARES ENTRE GAYS E HSH




AUDIOVISUAL


GENDER OBSOLESCENCE HUMAN INSTALLATION I O ritual solene apresenta uma variedade de gêneros e sua transição. Corpo e estereótipo são colocados em destaque, relacionando a questão de gênero com poesia. Uma viagem, uma travessia, uma transição. Cada indivíduo tem uma história e mudar o sexo pode ser tão doloroso quanto o nascimento.


http://vimeo.com/15224492 _________________________ País Itália Ano 2OO8 Direção Kyrahm + Julius Kaiser Videoarte e instalação 105


AMAPÔ Através de uma história de vida o filme trata de questões relacionadas aos direitos humanos, como o direito à diferença. A vida da personagem é apresentada a partir de outros, a alteridade como lógica. Este curta faz parte do projeto Marco


http://portacurtas.org.br/filme/?na me=amapo _________________________ País Brasil Ano 2OO8 Direção Kiko Goifman Documentário 107


NÃO GOSTO DOS MENINOS Inspirado no projeto “It Gets Better“, André Matarazzo e Gustavo Ferri mostram diferentes histórias de brasileiros gays, bis, trans e membros de outras siglas que tentam definir o que não precisa ser definido. Uma compilação de 40 depoimentos de homossexuais contando de suas experiências, escolhas, dilemas, desejos e fases, na intenção de mostrar que, diferente ou não, todos podem ser felizes.


http://youtu.be/yjFFbgo9Gi4 _________________________ País Brasil Ano 2O11 Produção Miranda + Gringo Documentário 109


HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO

Leonardo é um adolescente cego em busca de sua independência. Seu cotidiano, a relação com sua melhor amiga, Giovana, e sua forma de ver o mundo ganham novos contornos com a chegada de Gabriel.


http://youtu.be/lpHKXyko358 _________________________ País Brasil Ano 2O14 Direção Daniel Ribeiro Drama Com Ghilherme Lobo, Tess Amorim Fabio Audi 111


PRAIA DO FUTURO Donato trabalha como salva-vidas. Seu irmão caçula, Ayrton, tem grande admiração por ele, devido à coragem demonstrada ao se atirar no mar para resgatar desconhecidos. Um deles é Konrad, um alemão de olhos azuis que muda por completo a vida de Donato após ser salvo por ele. É quando Ayrton, querendo reencontrar o irmão, parte em sua busca na fria Berlim.


http://youtu.be/g7VNJdb2ZoA _________________________ País Brasil Ano 2O14 Direção Karim Aïnouz Drama Com Wagner Moura, Clemens Schick e Sabine Timoteo 113


TATUAGEM Brasil, 1978. A ditadura militar, ainda atuante, mostra sinais de esgotamento. Em um teatro/cabaré, a trupe Chão de Estrelas, liderada por Clécio Wanderley, provoca o poder e a moral estabelecida com seus espetáculos e interferências públicas a partir do deboche e da anarquia. A vida de Clécio muda ao conhecer o soldado Arlindo Araújo, 18 anos: um garoto do interior que presta serviço militar na capital.


http://youtu.be/UwSX2SlHpEg _________________________ País Brasil Ano 2O13 Direção Hilton Lacerda Drama Com Irandhir Santos, Jesuíta Barbosa, Rodrigo García, Sílvio Restiffe, Sylvia Prado e Ariclenes Barroso 115



AGRADECIMENTOS

Esperamos que tenha gostado desta edição! De fato, apesar dos trancos e barrancos, este trabalho tem sido muito gratificante para nós. Não apenas pelo número de visualizações, ou pelo número de acessos no blog da revista, o que é muito bom para a visibilidade da revista, sem dúvida. Mas existe algo que nos motiva bastante que é a vontade e dedicação dos autores, ilustradores e artistas que contribuem para com este espaço. Destacamos o artigo de Virginia Esparza, que trouxe a experiência argentina para o debate. Os trabalhos como sempre estão lindíssimos e cada vez mais audaciosos e com personalidade. E isso nos dá forças para correr atrás e montar cada edição com mais afinco e felicidade. Gostamos muitíssimo dessa edição sobretudo pela discussão de gênero que ficou bastante evidente nos textos que recebemos, assim como personagens transexuais nas histórias, travestis em foco, dando visibilidade a tais grupos que talvez sofram mais preconceito e violência do que gays, lésbicas e bissexuais. Que fique claro que não estamos a minimizar nenhuma luta, apenas enfatizamos a necessidade de reconhecer a luta das travestis, transexuais e transgêneros. O T também deve ser maiúsculo na sigla, tal qual o L, o G e o B. Somos humanos, somos diversos. Então #Diversifica, gente!

Um grande abraço, Equipe Diversifica


www.diversifica.info www.facebook/diversificaa


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